I HÉLIO MOREIRA JÚNIOR AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FUNCIONAIS DO DIAFRAGMA PÉLVICO DE PACIENTES PORTADORES DE COLOPATIA CHAGÁSICA SUBMETIDOS À CIRURGIA DE DUHAMEL Tese Apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo para obtenção do Título de Doutor em Medicina Área de Concentração: Cirurgia Geral Orientador: Prof. Dr. Wilmar Artur Klug São Paulo 2011 II DEDICATÓRIA AO MEU PAI, Em um determinado momento, nossos corações batiam em compasso, e já não era possível dizer ao certo o que era meu e o que lhe pertencia. Eis que a dúvida dava lugar à segurança. Hoje, de frente ao espelho, já me ocorreu de pensar: quem é aquela pessoa que se reflete e me observa atentamente. Juro que às vezes consigo até mesmo enxergar, por detrás daqueles olhos, o trem se aproximando da estação, lançando sua fumaça, inicialmente densa, furiosa e escura de fuligem, para depois se dissipar, tênue e calmamente pelos ares gelados de uma serena manhã de Gasparlopes. E corre pelo nevoeiro o menino magricela, com o tabuleiro de bolo de fubá coberto por um pano de prato, e com a garrafa de café recém coada, firmemente laçada em uma de suas mãos. Não vejo tristeza em seus olhos, só a determinação de voar... A inspiração divina sobrepõe aos obstáculos de uma jornada, por mais árdua que ela pareça, por mais áridos que sejam os caminhos percorridos. Este sopro me alcançou vindo de você. Uma parte de ti vive plenamente dentro de mim, sem conflitos, sem rancores, sem vaidade. Compartilhamos ideais de vida, de trabalho e de integridade. Eis a minha homenagem a sua marcante presença em minha vida. III AGRADECIMENTOS A realização de um trabalho desta envergadura só é possível com a colaboração prestimosa de varias pessoas. A gratidão é a viga mestre da modéstia, sabedoria e da unidade espiritual. Agradeço aos pacientes que gentilmente concordaram em participar neste estudo, desprovidos de interesses pessoais e tão somente dispostos a servir ao desenvolvimento da ciência. Agradeço a Professora Arminda Caetano de Almeida, chefe do Serviço de Coloproctologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, em nome da qual estendo minha gratidão a todos os professores, médicos, médicos residentes e funcionários do HC/UFG, pela compreensão e desprendimento em colaborar com o desenvolvimento deste trabalho. Ao núcleo de minha família, meus pais e meus irmãos, Jose Paulo e Ana Paula, sempre fonte incentivadora nos desafios superados, sempre absolutamente comprometidos com minha felicidade. Agradeço, em especial, meu irmão, colega e amigo inseparável Dr. José Paulo Teixeira Moreira, a quem reconheço sua especial participação no desenvolvimento deste projeto, sempre encorajando e emitindo influxos positivos a esta jornada, a qual, mais uma vez, percorremos lado a lado. Agradeço ao Dr. Heitor Rosa, que no início do programa era o Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, pelo incentivo em realizar este doutorado. Agradeço ao Dr. Joffre Marcondes de Rezende, por ser fonte inesgotável de inspiração, e ter participado de forma tão generosa na elaboração final do trabalho Agradeço ao Professor Wilmar Artur Klug, e pela forma serena que nos auxiliou na execução deste trabalho, e em seu nome expresso minha gratidão à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e à Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo pela confiança depositada em nosso trabalho. Agradeço a CAPES pela concessão de bolsa escolar para a realização desta tese de doutorado, e espero ter contribuído, com este modesto trabalho, para o engrandecimento da Ciência no Brasil. Finalmente, e acima de tudo, a Deus, por ser cúmplice em tudo que sinto, tudo que penso, e tudo que faço. IV FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Moreira Júnior, Hélio Avaliação das alterações anatômicas e funcionais do diagrama pélvico de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel./ Hélio Moreira Júnior. São Paulo, 2011. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Medicina. Área de Concentração: Cirurgia Geral Orientador: Wilmar Artur Klug 1. Doenças de Chagas 2. Megacolo/cirurgia 3. Constipação intestinal 4. Canal anal 5. Procedimentos cirúrgicos do sistema digestório 6. Cuidados pré-operatórios 7. Cuidados pós-operatórios 8. Avaliação BC-FCMSCSP/19-11 V SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 1 2 – OBJETIVO ................................................................................................................................ 6 3 - MÉTODOS ................................................................................................................................ 8 3.1 - Considerações gerais ..........................................................................................................................................9 3.2 – Descrição da técnica para realização de cinedefecografia .................................................................................9 3.3 – Descrição da técnica para realização de eletromanometria anorretal ..............................................................10 3.4 – Descrição da técnica para realização de ultrassom de canal anal ....................................................................12 3.5 - Descrição da técnica cirúrgica de Duhamel .....................................................................................................12 3.6 – Questionários aplicados no pré e pós-operatório .............................................................................................15 3.7 – Análises estatísticas .........................................................................................................................................16 3.8 – Comitê de ética e consentimento informado....................................................................................................16 4 - RESULTADOS........................................................................................................................ 17 4.1 - Dados demográficos.........................................................................................................................................18 4.2 - Descrições clínicas pré e pós-operatória dos pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. ..................................................................................................................................................................18 4.3 - Ultrassonografias de canal anal realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel ...........................................................................................................................19 4.4 - Cinedefecografias realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel .................................................................................................................................................21 4.5 - Eletromanometrias anorretais realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. ..........................................................................................................................25 5 - DISCUSSÃO............................................................................................................................ 31 5.1 - Avaliações fisiológicas colorretal, do diafragma pélvico e do canal anal ........................................................32 5.2 - Obstipação intestinal e acalásia do esfíncter interno do ânus...........................................................................37 5.3 - Megacólon chagásico .......................................................................................................................................38 5.3.1 - Megacólon chagásico – tratamento cirúrgico pela técnica de Duhamel e suas modificações ...................40 5.3.2 - Mecanismos envolvidos na resposta após a cirurgia de Duhamel em pacientes portadores de colopatia chagásica...............................................................................................................................................42 6 – CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 48 7- ANEXOS................................................................................................................................... 50 7.1 - Armazenamento de dados ................................................................................................................................51 7.1.1 - Avaliação pré-operatória ...........................................................................................................................51 7.1.2 - Pontuação de continência anal pré-operatório...........................................................................................51 7.1.3 - Exames de eletromanometria anorretal (pré-operatório)...........................................................................52 7.1.4 - Exames de cinedefecografia (pré-operatório) ...........................................................................................52 7.1.5 - Avaliação ultrassonográfica no pré-operatório .........................................................................................53 7.1.6 - Avaliação pós-operatória...........................................................................................................................53 VI 7.1.7 - Avaliação funcional no pós-operatório .....................................................................................................53 7.1.8 - Pontuação de continência anal (pós-operatório)........................................................................................54 7.1.9 - Exame de eletromanometria anorretal (pós-operatório)............................................................................54 7.1.10 - Exame de cinedefecografia (pós-operatório)...........................................................................................55 7.1.11 - Avaliação ultrassom no pós-operatório...................................................................................................55 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................... 56 FONTES CONSULTADAS.......................................................................................................... 65 RESUMO ...................................................................................................................................... 67 ABSTRACT .................................................................................................................................. 70 APÊNDICES ................................................................................................................................. 72 VII ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Valores normais da eletromanometria anorretal, podem variar de acordo com a idade (Taylor BM et al, 1984). .................................................................................................11 Tabela 2 – Medidas dos esfíncteres interno e externo do ânus (feitas no quadrante lateral esquerdo do canal anal), assim como do corpo perineal, realizadas no pré e pós-operatório, pela ultrassonografia endoanal. ................................................................................................19 Tabela 3 – Observação de tempo prolongado de abertura do canal anal de pacientes portadores de colopatia chagásica, avaliados no pré e pós-operatório de cirurgia de Duhamel. ..................................................................................................................................................24 Tabela 4 – Diagnóstico de retocele observado pela cinedefecografia, observados no pré e pósoperatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. ..................................................................................................................................................24 Tabela 5 – Diagnóstico de sigmoidocele pela cinedefecografia, observados no pré e pósoperatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. ..................................................................................................................................................24 Tabela 6 - Observação de sensação de evacuação incompleta de pacientes portadores de colopatia chagásica, avaliados no pré e pós-operatório de cirurgia de Duhamel. ....................24 Tabela 7 - Valores dos ângulos anorretais, coloanais e dos descensos perineais estáticos e dinâmicos pela cinedefecografia, observados no pré e pós-operatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. .....................................................25 Tabela 8 - Avaliações eletromanométricas, realizadas no pré e pós-operatório, de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. ...................................26 VIII ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 - O gráfico ilustra as variações individuais das pressões de repouso de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório).................................................................................................27 Gráfico 2 - O gráfico ilustra as variações individuais das pressões de contração voluntária de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). ..............................................................................27 Gráfico 3 - O gráfico ilustra as variações individuais da capacidade retal de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório).................................................................................................28 Gráfico 4 - O gráfico ilustra as variações individuais da sensibilidade retal de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório).................................................................................................28 Gráfico 5 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal durante o repouso, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório).........29 Gráfico 6 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal durante o esforço evacuatório, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pósoperatório) ................................................................................................................................29 Gráfico 7 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal, no pré-operatório, com o ângulo coloanal (entre o cólon abaixado e o eixo do canal anal), ambos durante o repouso, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório).........30 Gráfico 8 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal, durante o esforço evacuatório, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pósoperatório) ................................................................................................................................30 IX ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 - Lesão parcial do esfíncter interno na hemicircunferência posterior do canal anal, justaposto ao cólon abaixado, em paciente submetido à cirurgia de Duhamel. ............. 20 Ilustração 2 - Afilamento do esfíncter interno, com formação de tecido fibrótico, na hemicircunferência posterior do canal anal, em paciente submetido à cirurgia de Duhamel. ........................................................................................................................................ 21 Ilustração 3 - Pré-operatório de paciente portador de colopatia chagásica, durante esforço evacuatório. Nota-se que apesar do relaxamento adequado do músculo puborretal, o canal anal não se abre (documentação visual da acalásia do esfíncter interno do ânus), formando uma imagem semelhante a um funil. .............................................................................. 21 Ilustrações 4 e 5 – Radiografias realizadas em paciente portadora de colopatia chagásica, no pós-operatório da cirurgia de Duhamel, durante o esforço evacuatório e pós evacuação, respectivamente. Nota-se a presença de retocele anterior volumosa nos dois momentos distintos, com esvaziamento incompleto da retocele após esforço evacuatório............. 23 1 1 – INTRODUÇÃO 2 A Doença de Chagas, apesar de ter a sua incidência diminuída, ainda é bastante comum no Brasil, principalmente na região centro-oeste, norte de Minas Gerais e Bahia. O Brasil tem entre dois a três e milhões de infectados, com grandes variações regionais de prevalência da doença (Pan American Health Organization, 1984). O Estado de Goiás ocupa a terceira colocação quanto à prevalência e o primeiro quanto à mortalidade (Silveira, Sakamoto, 1983). Em 1989, em estudo realizado por Zicker et al, foi descrito uma soropositividade de 13,1% em trabalhadores braçais urbanos na cidade de Goiânia. Estes dados comprovam o grande impacto social que esta moléstia determina nas populações de baixo nível social de nossa população (Luquetti, 1996). Cerca de 30% dos pacientes contaminados pelo tripanossoma desenvolverão alguma forma clínica da doença (Rezende, Moreira H, 1988), a saber: 1. Forma indeterminada 2. Forma cardíaca 3. Forma digestiva a. esofagopatia Chagásica. b. colopatia Chagásica. 4. Forma mista (cardiodigestiva) Alguns pacientes desenvolvem somente um subtipo da forma digestiva (colopatia chagásica, por exemplo), ao passo que outros desenvolvem formas mistas da doença (colopatia e cardiopatia chagásica, por exemplo). Algumas características do próprio Tripanossoma cruzi (já foram identificadas diferentes cepas que apresentam tropismo para diferentes órgãos), assim como dos hospedeiros (estado nutricional e imunológico, sexo, grau de exposição ao triatomíneo, com possibilidade de reinfecção) determinam a ocorrência de manifestação clínica da doença (Moreira H et al, 1993; Baptista et al, 2006; Lages-Silva et al, 2006; Covarrubias et al, 2007; D’Avila et al, 2009; Espinoza et al, 2010; Roellig et al, 2010). A colopatia chagásica é uma condição comum entre pacientes chagásicos, e pode se tornar uma doença grave, caso não seja tratada adequadamente, principalmente na vigência de complicação, quer seja o vólvulo ou fecaloma volumoso. As bases fisiopatológicas da colopatia chagásica foram descritas ainda na década de 1960 (Habr-Gama, 1966; Habr-Gama et al 1970), com a identificação de duas alterações funcionais determinantes do aparecimento dos sintomas de obstipação intestinal: 3 1. Acalásia do esfíncter interno do ânus O ato evacuatório em uma pessoa sem nenhum tipo de doença que altere seu funcionamento intestinal obedece a uma sequência de eventos voluntários e involuntários (Rasmussen, 1994). O conteúdo fecal chega ao cólon direito ainda liquefeito e, ao alcançar a ampola retal, geralmente 48 horas após sua passagem pelo ceco, já se encontra com consistência pastosa ou endurecida. A distensão da ampola retal, principalmente de seu terço distal, desencadeia duas reações, as quais ocorrem quase que simultaneamente: 1. Sensação de desejo evacuatório; 2. Reflexo inibitório retoanal. Este reflexo consiste no relaxamento do esfíncter interno do ânus, o qual permanece, invariavelmente, contraído durante o repouso. Este relaxamento esfincteriano proporciona o contato do conteúdo retal com células sensoriais especializadas localizadas na extremidade distal do reto, capazes de identificar características mais específicas das fezes como temperatura e consistência. Caso a pessoa deseje evacuar, ela adota a posição o mais próximo possível da posição de cócoras (promove maior retificação do ângulo anorretal), fecha a glote e aumenta a pressão intra-abdominal. Ao mesmo tempo, há o relaxamento da musculatura pélvica, mais especificamente do puborretal. A pressão intra-abdominal é refletida na ampola retal e quando a pressão intrarretal for maior que a do canal anal ocorre a evacuação. Se, ao contrário, a pessoa deseja evitar a evacuação, a sensação do desejo evacuatório já determina, quase que por reflexo, a contração do esfíncter externo, a fim de se garantir estabilidade das pressões do canal anal, a despeito da ocorrência do reflexo inibitório retoanal. Consegue-se manter, voluntariamente, o esfíncter externo contraído por cerca de 30 segundos. Este tempo é normalmente o suficiente para que ocorra acomodação das fezes na ampola retal e, consequentemente, que se restaure o tônus do esfíncter interno, garantindo assim a continência anal. Em pacientes portadores de acalásia do esfíncter interno do ânus, devido à destruição ou ausência dos plexos de Meissner e Auerbach localizados na submucosa e muscular própria do reto, independente do aumento do gradiente de pressão intrarretal, este arco reflexo não está presente, e, por consequência, o esfíncter interno do ânus não relaxa (Pemberton, 1991; Sun, Rao, 2001). A acalásia do esfíncter interno do ânus 4 ocorre em pacientes com megacólon congênito (Osatakul et al, 1999); uma parcela de pacientes com diagnóstico de prolapso retal (Agachan et al, 1997); ou de doenças degenerativas como a esclerose múltipla (Jorge, Wexner, 1993a) e em pacientes com colopatia chagásica. 2. Incoordenação motora do cólon. Em pessoas normais, a atividade motora do cólon e reto obedece a uma sequência de contrações proximais e relaxamentos distais, a qual determina a propulsão do conteúdo fecal no sentido do cólon para o reto. A destruição dos plexos de Meissner e Auerbach na submucosa e muscular própria dos cólons e do reto, causada pela infecção com Tripanosoma cruzi, que apresenta tropismo para a musculatura lisa do tubo digestivo, determina um novo padrão de comportamento motor desta víscera (Köeberle, 1961). Desta forma, perde-se o movimento fisiológico de “onda propulsora” do cólon, o que, consequentemente, determina a estase do conteúdo fecal, com obstipação intestinal (Santos et al, 2000). O tratamento cirúrgico do megacólon chagásico é indicado nas seguintes situações: 1. Progressão e agravamento dos sintomas de obstipação intestinal. 2. Evolução para formas complicadas da doença como vólvulo e fecaloma. Uma grande variedade de técnicas cirúrgicas foi descrita para o tratamento do megacólon chagásico; muitas delas foram baseadas nos conceitos fisiopatológênicos da doença predominantes na época em que foram descritas; algumas foram abandonadas por apresentarem altos índices de recidivas, outras por apresentarem altos índices de complicações pós-operatórias. Após a comprovação científica do elo entre o megacólon e a doença de Chagas, graças aos estudos publicados por Köberle, Nador (1955) e Köberle (1956; 1957; 1958; 1959; 1963), o tratamento cirúrgico desta doença ganhou um novo impulso e credibilidade entre os cirurgiões do aparelho digestivo. A retossigmoidectomia abdominoperineal com anastomose retardada (Cutait, 1960) tornou-se muito popular na década de 1960, principalmente por seus bons resultados funcionais, com baixa incidência de deiscência da sutura anastomótica. Outras técnicas ou modificações de técnicas cirúrgicas foram acrescidas, destacando-se as de Ferreira-Santos, Carril, 1960; Paula Pinto, 1960; Simonsen et al, 5 1960; Vasconcelos, 1961; Celso, 1962; Almeida, 1962; Cardoso, 1963; Vasconcelos, 1964; Silva Prado, 1966; Ferreira-Santos, 1967; Capelhuchnik, Silva Prado, 1970. Foram Bernardes de Oliveira et al, em 1965, que realizaram, pela primeira vez, a técnica de Duhamel no tratamento cirúrgico do megacólon chagásico, utilizando-se de proposta feita pelo cirurgião francês para o tratamento cirúrgico do megacólon congênito (Duhamel, 1956). Esta técnica foi posteriormente modificada, ainda em 1965, por Haddad et al e, aos poucos, ganhou grande aceitação da comunidade médica interessada no tratamento cirúrgico desta enfermidade. O Serviço de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás adota, desde 1966, como rotina, a cirurgia de Duhamel, com algumas das várias modificações que foram incorporadas através dos anos, para o tratamento cirúrgico do megacólon chagásico (Sebba, 1971; Moreira H, 1971; 1981; 1982; Lins Neto, 1997; Moreira H, 2001). Em vista disso, faz-se mister estudo minucioso das alterações anátomofisiológicas que esta cirurgia ocasiona, a fim de verificar o porque de ocorrer melhora funcional destes pacientes operados. Como os defeitos fisiopatológicos são diversos, envolvendo o aparecimento de inércia colônica associada a uma forma de obstrução de saída, é de se esperar que esse procedimento cirúrgico deva lograr a correção de todos, ou pelo menos, de grande parte dos distúrbios identificados. Esta pesquisa visa, portanto, mostrar quais mudanças nos parâmetros avaliáveis pelos testes de fisiologia anal estaria alterado, e como poderia ser interpretada, objetivamente, a correção dos distúrbios fisiológicos. 6 2 – OBJETIVO 7 O objetivo deste estudo é avaliar as alterações anatômicas e fisiológicas do diafragma pélvico de pacientes portadores de colopatia chagásica, e as mudanças ocorridas após serem submetidos à cirurgia de Duhamel, utilizando-se como instrumentos de avaliação objetiva de dados os exames de cinedefecografia, eletromanometria anorretal e o ultrassom do canal anal. 8 3 - MÉTODOS 9 3.1 - Considerações gerais O projeto foi desenvolvido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFG, no Serviço de Coloproctologia do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da UFG. Foram selecionados para este estudo, prospectivamente, 20 pacientes, com as seguintes características demográficas, epidemiológicas e clínicas: 1. Sorologia positiva para doença de Chagas em pelo menos um teste sorológico. 2. Obstipação intestinal crônica, definida como frequência evacuatória menos de duas vezes por semana. 3. Enema opaco evidenciando a presença de megacólon e/ou eletromanometria anorretal demonstrando a presença de acalásia do esfíncter interno. Critérios de inclusão: 1. Pacientes portadores de colopatia chagásica que se apresentarem ao ambulatório de Doença de Chagas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFG. 2. Pacientes que seriam submetidos ao tratamento cirúrgico da colopatia chagásica pela técnica de Duhamel. Critérios de exclusão: 1. História de cirurgia ou trauma anorretal. 2. Distúrbio cognitivo. 3. Prolapso retal. 4. Alteração de hormônios tireoideanos. Todos os pacientes foram submetidos a exame de cinedefecografia, eletromanometria anorretal e ultrassom de canal anal no pré-operatório e a partir do terceiro mês de pós-operatório, além de responderem a um questionário no pré e pósoperatório. Estes exames foram realizados no Serviço de Coloproctologia por um único examinador, obedecendo a uma sequência de procedimentos previamente estabelecidos, descritos à seguir. 3.2 – Descrição da técnica para realização de cinedefecografia 1. Prescreve-se ao paciente realizar dois enemas evacuatórios, 4 horas e 2 horas antes do exame. 10 2. O contraste a ser injetado via retal é uma mistura de fubá de milho e suspensão de sulfato de bário de que resulta uma massa homogênea, de consistência pastosa. 3. Paciente é posicionado em decúbito lateral esquerdo em uma mesa de fluoroscopia. 4. Injeção da pasta de bário via retal é feita através de uma sonda retal até que o paciente informe o desejo de evacuar. 5. Paciente é posicionado em um assento radiotransparente. 6. Posiciona-se o tubo fluoroscópico na altura da pélvis para incidência lateral da radiação. 7. Solicita-se ao paciente que faça a contração do canal anal. 8. Solicita-se ao paciente que relaxe. 9. Solicita-se ao paciente que faça esforço evacuatório. Obs.: Para cada uma destas três fases é feita uma radiografia 10. Durante o esforço evacuatório, as imagens da movimentação do conteúdo retal são visualizadas e gravadas em um aparelho de videocassete de alta resolução para posterior análise do exame. 3.3 – Descrição da técnica para realização de eletromanometria anorretal A técnica empregada para realização da manometria anorretal foi a tração escalonada manual (tração do cateter no sentido caudal a cada um centímetro, iniciandose a seis centímetros da margem anal). Parâmetros avaliados pela eletromanometria anorretal: 1. Pressão de repouso do canal anal. Realizamos medidas de pressão dos quatro quadrantes do canal anal (anterior, lateral direito, lateral esquerdo e posterior), iniciando-se a seis centímetros da margem anal e identificamos a extensão da zona de alta pressão (ZAP) 2. Pressão de contração voluntária 3. Capacidade retal 4. Presença ou ausência do reflexo inibitório retoanal 11 Tabela 1 – Valores normais da eletromanometria anorretal, podem variar de acordo com a idade (Taylor BM et al, 1984). ________________________________________________________________ Pressão de Repouso 40-70 mmHg Pressão de Contração 100-180 mmHg Comprimento de ZAP* 2-3 cm (mulheres) 2,5-3,5 cm (homens) RIRA** Presente Sensação inicial de enchimento 10 - 30 ml Capacidade retal 100 - 250 ml ________________________________________________________________ * Zona de alta pressão; ** Reflexo inibitório retoanal; Descrição técnica para a realização da eletromanometria anorretal: 1. Paciente é submetido à limpeza retal com enema duas horas antes do exame. 2. Antes de iniciar-se o exame, o paciente é orientado sobre os objetivos do exame, assim como as manobras que serão realizadas durante o procedimento (contração esfincteriana, repouso esfincteriano e esforço evacuatório). 3. Introduz-se sonda retal que apresenta oito microcanais distribuídos radialmente, através dos quais é perfundida água destilada sob pressão constante de 17 mmHg, inicialmente posicionada a seis centímetros da margem anal. 4. Após 20 segundos, período suficiente para estabilizar os níveis pressóricos, são feitas as medidas de pressão de repouso, da pressão de contração voluntária e finalmente de esforço evacuatório. 5. A manobra descrita no item 4 é repetida a cada intervalo de um centímetro, até o último centímetro distal do canal anal. (técnica estacionária) 6. A seguir, o cateter é novamente posicionado a seis centímetros da margem anal. Segue-se então com avaliação da sensibilidade e capacidade retal. Estas medidas são realizadas com balão de látex, posicionado no reto, o qual é insuflado com água. No pós-operatório, as medidas são feitas com o balão posicionado dentro do coto retal: a. Sensibilidade retal: volume suficiente para despertar qualquer sensação intrarretal (pressão, frio, movimento, etc). b. Capacidade retal: volume máximo tolerável menos a sensação inicial. 7. Afere-se, finalmente, a presença do reflexo inibitório retoanal. O cateter é posicionado no centímetro proximal da zona de alta pressão do canal anal. O 12 volume utilizado para determinar a presença do reflexo inibitório retoanal foi o dobro do volume da sensibilidade inicial de enchimento. 3.4 – Descrição da técnica para realização de ultrassom de canal anal 1. Paciente não necessita realizar preparo intestinal. 2. Paciente é posicionado em decúbito lateral esquerdo 3. Introdução de sonda ultrassonográfica no canal anal, com varredura e captação de imagens de 360 graus. 4. Identificação dos três terços do canal anal e suas respectivas estruturas anatômicas: 1- Terço superior – músculo puborretal. Imagem em forma de “V”, de ecogenicidade mista, contornando a hemicircunferência posterior do canal anal 2- Terço médio – Esfíncteres interno e externo do ânus. O esfíncter interno é identificado como imagem hipoecogênica, ao redor de todo o canal anal. Esfíncter externo de ecogenicidade mista, também circunjacente a toda extensão do canal anal, lateral ao esfíncter interno do ânus. No terço médio é feita a medida da espessura do esfíncter interno do ânus (no quadrante lateral esquerdo) e a medida do corpo perineal de pacientes do sexo feminino. 3- Terço inferior – porção subcutânea do esfíncter externo. No terço inferior é feita a medida da espessura do esfíncter externo do ânus(no quadrante lateral esquerdo). 5. Identificação de eventuais lesões musculares do assoalho pélvico e canal anal 3.5 - Descrição da técnica cirúrgica de Duhamel A cirurgia de Duhamel é caracterizada por ter um tempo abdominal e outro tempo perineal. O procedimento inicia-se pelo tempo abdominal. O paciente é colocado em posição de litotomia, com perneiras bem baixas, a fim de facilitar a movimentação no campo operatório abdominal e de modo a permitir a realização do tempo perineal, já previamente delimitado quando da colocação dos campos esterilizados. A incisão consiste de uma laparotomia mediana, interessando desde o púbis até +/- 3 cm acima de 13 cicatriz umbilical. Aberta a cavidade abdominal, após seu completo inventário, é feito estudo minucioso do cólon esquerdo com sua vascularização. O nível de ressecção é determinado, levando em consideração principalmente a boa irrigação vascular do segmento a ser abaixado. Sempre que possível promove-se o abaixamento do próprio sigmoide, às vezes mesmo com discreta ectasia. A desnecessidade de mobilizamos o ângulo esplênico do cólon, abrevia e facilita o ato cirúrgico. Com o paciente colocado na posição de Tredenlemburg, procedemos ao afastamento das alças intestinais para o compartimento superior do abdome, utilizando compressas molhadas em soro fisiológico morno. O cólon sigmoide é apreendido com pinça de Duval e é feita a exposição do mesossigmóide pelo médico auxiliar, com manobras de tração no sentido anterior ou lateral, conforme a necessidade. Inicia-se, então, a abertura dos folhetos do mesossigmoide, inicialmente pela goteira parietocólica esquerda e posteriormente pela face medial. Após ser definida a extensão da ressecção a ser feita, o auxiliar expõe, através de transiluminação, a vascularização do cólon, de modo a facilitar a definição das ligaduras arteriovenosas a serem feitas. Esta abertura é mais ou menos ampliada no sentido caudocranial, dependendo da maior ou menor extensão de cólon a ser ressecado. É fundamental a preservação da arcada marginal até o nível da extremidade distal do cólon a ser abaixado. Embora não seja necessário reparar os ureteres, achamos importante a identificação dos mesmos, para se evitar lesioná-los. A abertura do espaço retrorretal, por onde promovemos o abaixamento do cólon, é feita antes seccionarmos o coto retal, pela facilidade de manuseio e exposição dos campos operatórios. Promovemos esta abertura até o nível do cóccix, utilizado tesoura romba ou bisturi elétrico, preservando-se as fáscias pressacral e própria do reto, com manobras delicadas, de maneira a se evitar lesionar a vascularização, principalmente dos ramos sacrais que emergem do interósseo do sacro. Secção com bisturí a porção distal do cólon sigmoide, ao nível de promontório. O coto retal remanescente é suturado com fio de Catgut “0” cromado, em dois planos de sutura, contínuas e totais. Em seguida, são dados pontos separados, também com Catgut “0” cromado interessando o peritônio visceral anterior do reto e a sua parede posterior, de modo a invaginar progressivamente aquela primeira sutura. Esta manobra tem duas finalidades importantes: primeiramente, para se evitar a formação de fístulas através deste coto e, em segundo lugar, de deixarmos, com estas manobras, o coto retal de um tamanho adequado (+/ 10 cm ou cerca de dois dedos abaixo do promontório). Definida a necessidade ou não de ressecção de um determinado segmento do cólon, promovemos o fechamento da extremidade distal do cólon a ser 14 abaixado. São feitas duas suturas, totais, no sentido de ida e volta de um ângulo ao outro na “boca” deste cólon. Em seguida, utilizando várias pequenas compressas molhadas, promovemos com manobras de compressões das mesmas sobre a linha de sutura e limpeza mecânica desta boca que foi suturada. Existe já previamente estabelecido material separado para tempo perineal da operação. O cirurgião e o auxiliar que descem para tempo perineal não voltam mais para o campo abdominal, a fim de se evitar contaminação. Inicialmente, utilizando gazes embebidas em soro fisiológico, depois com povidine tópico, é promovida uma boa limpeza do coto retal a fim de diminuir a incidência de supurações dentro da ampola. Realiza-se ainda boa assepsia de toda a região perineal, com colocação de novos campos operatórios, se tiver havido contaminação durante a limpeza do coto retal. Colocam-se pinças de Allis nos dois ângulos laterais do ânus. Feita incisão semicircular posterior, de uma pinça de Allis a outra, interessando a junção mucocutânea da margem anal. Repara-se o bordo epitelial com pinças hemostáticas. Faz-se o pinçamento da borda de mucosa com pinça de Duval; injeta-se ar por baixo da mucosa, utilizando seringa de 10 ml; esta manobra tem a finalidade de afastar a mucosa e facilitar o seu descolamento, que é feito com tesoura delicada. À medida que vamos progredindo com este descolamento, o músculo esfíncter interno do ânus vai sendo exposto posteriormente a mucosa dissecada. Ao nível de aproximadamente 5 cm de profundidade, que corresponde ao limite superior do músculo puborretal, a parede posterior do reto é perfurada pelo dedo indicador do cirurgião, quando então atingiremos o espaço retrorretal, que havia sido previamente descolado no tempo abdominal. Eventualmente é feita a introdução através desta abertura de uma espátula, de +/- 5 cm de largura, expondo melhor o espaço pré-sacro, facilitando o abaixamento do cólon sem tensão alguma até ser exposto no períneo. Este abaixamento é feito com introdução de uma pinça hemostática longa através da abertura do reto, sempre sob a supervisão do cirurgião que permanecer no abdome. Com esta pinça é feita apreensão da extremidade distal do cólon a ser abaixado, o qual é tracionado delicadamente, até ser exposto no períneo. A mucosa posterior do reto que foi apreendida pela pinça de Duval, é fixada com pontos separados à serosa anterior do cólon abaixado e a margem posterior do canal anal, de modo a facilitar a cicatrização entre estas estruturas. Promove-se a abertura do cólon abaixado, verificando-se o sangramento em toda a circunferência, demonstrando então a sua viabilidade vascular. O fechamento da cavidade abdominal é feito em monobloco, com sutura contínua de fio de Nylon “0” 15 duplo. A anastomose entre o coto retal e o cólon abaixado, através da secção do septo retocólico, pode ser feita imediatamente ao abaixamento do cólon ou programada para um segundo tempo. A decisão por um ou dois tempos de cirurgia depende de aspectos intra-operatórios (se houve intercorrências intra-operatórias que justifiquem maior conservadorismo cirúrgico optando-se pela colostomia perineal), inerentes ao paciente (co-morbidades de maior gravidade) e principalmente da experiência da equipe cirúrgica. Com o propósito de homogenizar a amostra, todos os pacientes desta casuística foram submetidos a dois tempos cirúrgicos. Neste caso, o segundo procedimento cirúrgico ocorreu a partir do 7º dia do primeiro tempo cirúrgico. Durante este intervalo entre o 1º e 2º tempo da cirurgia, faz-se o toque retal diariamente, com delicadeza, afim de facilitar a drenagem de secreções. A alimentação oral é iniciada o mais precocemente possível, normalmente nas primeiras 24 horas de pós-operatório. Sempre que possível estimularmos o paciente a deambular, orientando-o no sentido de se levantar da cama assumindo inicialmente a posição de decúbito ventral e descendo da cama sem se sentar na colostomia. A colostomia perineal é sempre envolvida em compressas molhadas, trocadas regularmente para facilitar a higiene local. A partir das primeiras 24 horas de pós-operatório são feitos curativos diários, tanto da ferida abdominal como na região perineal. Na realização deste segundo tempo, o paciente é colocado na posição de litotomia. Promove-se a desinfecção do períneo, da colostomia e do coto retal com povidine tópico. Colocam-se campos operatórios da maneira apropriada. Faz-se exame da região com manobras da palpação no sentido de verificarmos a presença de pus, tanto na região pressacral como no coto retal. É feita a apreenção colostomia com duas pinças de Allis e com bisturi elétrico abre-se esta colostomia no sentido longitudinal até alcançarmos o canal anal; a este nível promovemos a secção circular da colostomia, com ligadura dos vasos do mesocólon correspondente ao segmento ressecado. São feitos, então, pontos separados com Catgut cromado “O” fixando o bordo posterior do cólon abaixado à circunferência anal posterior, de modo a favorecer ainda mais a fixação do cólon. Finalmente a cirurgia é concluída com a confecção de anastomose colorretal laterolateral com grampeador linear 75 mm. 3.6 – Questionários aplicados no pré e pós-operatório 16 Todos os pacientes responderam a um questionário específico para avaliação de dados demográficos, presença e gravidade de sintomas de obstipação intestinal, associação com outras formas clínicas da doença de Chagas e resultados funcionais no pós-operatório – ver ANEXO. A avaliação de sintomas de incontinência anal no pré e pós-operatório foi quantificada utilizando-se a pontuação de continência anal proposta por Jorge JM e Wexner SD (1993d), no qual os pacientes podem obter entre 0 e 20 pontos, sendo 0 perfeita continência anal e 20 incontinência absoluta. 3.7 – Análises estatísticas Cálculos estatísticos consensuais demonstram que com uma amostragem homogênea de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica, avaliados em dois momentos distintos, no qual os casos controle e pós-tratamento correspondem ao mesmo grupo de pacientes, é suficiente para avaliar, quando se utilizam os exames propostos, as mudanças anatomofuncionais decorrentes da cirurgia de Duhamel. As variáveis qualitativas são apresentadas em tabelas contendo frequências absolutas e relativas. Para as variáveis quantitativas, apresentamos resumo de algumas medidas e construímos gráficos de perfil individual e de médias. A comparação das variáveis qualitativas observadas no pré e pós-operatório foi feita por meio do teste Mc Nemar. Para comparar as variáveis quantitativas utilizamos o teste t-Student para amostras pareadas ou o teste de Wilcoxon. O nível de significância adotado é de 5%. As análises estatísticas foram feitas utilizando o programa de computador SPSS v 13 for Windows (Statistical Package for the Social Sciences) 3.8 – Comitê de ética e consentimento informado O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Todos os pacientes que participaram deste estudo foram esclarecidos do propósito dos exames realizados e deveriam, antes de ser incluído no estudo, assinar um termo de consentimento informado – ver APÊNDICE 17 4 - RESULTADOS 18 Foram incluídos até Junho de 2008 os 20 casos de pacientes portadores de colopatia chagásica que obedeciam aos critérios de inclusão do presente estudo. Todos realizaram os três exames de avaliação anatômica e funcional do diafragma pélvico (eletromanometria anorretal, ultrassom de canal anal e cinedefecografia) e foram operados. Os pacientes completaram também os mesmos estudos no pós-operatório, em um tempo médio de três meses e meio após a cirurgia. Para fins didáticos, os resultados serão descritos a partir de parâmetros demográficos, descrição clínica pré e pósoperatória e finalmente os resultados pré e pós-operatórios de cada um dos exames de fisiologia anorretal realizados nos dois períodos distintos. 4.1 - Dados demográficos A média de idade dos pacientes foi de 53,2 anos. A grande maioria dos pacientes era do sexo feminino, perfazendo um total de 75% dos casos. 4.2 - Descrições clínicas pré e pós-operatória dos pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. O tempo médio de aparecimento dos sintomas dos pacientes foi de 16 anos. O tempo médio sem evacuar foi de 10,3 dias. Dezesseis pacientes faziam uso contínuo de laxativos. Quatorze pacientes queixavam-se de dor e distensão abdominal. A grande maioria (17 casos) referia sensação de evacuação incompleta. Sete pacientes referiam antecedente de fecaloma. Um apresentou no passado história clínica de vólvulo da sigmoide, sendo tratado de forma conservadora, pela distorção endoscópica. Metade dos pacientes era portadora de cardiopatia chagásica. Sete pacientes eram portadores de esofagopatia chagásica (cinco do grupo II e dois do grupo III). Cinco pacientes apresentavam as três formas clínicas da doença (colopatia, esofagopatia e a cardiopatia chagásica). Três pacientes apresentavam sintomas de incontinência anal. Em dois casos, a incontinência era para gases, com uma frequência de ocorrência de um episódio a cada 15 dias (Pontuação de incontinência=2). Outro paciente apresentava queixa de incontinência para gases e fezes líquidas (após uso de lavagens), a cada 20 dias e para fezes sólidas a cada 30 dias (Pontuação de incontinência =5). Nenhum paciente relatou que estes sintomas de incontinência anal interferiam em suas atividades habituais. A frequência evacuatória, no pós-operatório foi, na mediana, de uma evacuação diária, variando entre três vezes ao dia até a cada quatro dias. Apenas um paciente fazia 19 uso intermitente de laxativos (uma vez a cada 15 dias, em média). Duas pacientes persistiram com dor e distensão abdominal, porém de menor intensidade e frequência. Sete pacientes referiam ter evacuação por etapas, sendo necessário ir ao toalete por pelo menos duas vezes, a segunda quase que imediatamente após a primeira evacuação. No pós-operatório, nenhum caso de fecaloma foi observado nesta casuística, tampouco de vólvulo do sigmoide. Interessante constatar que entre os sete pacientes portadores de esofagopatia chagásica (5 do grupo II e 2 do grupo III), quatro referiram melhora da disfagia após tratamento cirúrgico do megacólon. Quatro pacientes apresentavam sintomas de incontinência anal pós-operatória, sendo que três destes pacientes já apresentavam os sintomas no pré-operatório. Houve uma piora da incontinência anal em duas destas pacientes, que referiam incontinência para gases quase que diariamente e raramente para fezes líquidas (Pontuação de incontinência =5). A outra paciente referia que a incontinência para gases passou a ser semanal (Pontuação de incontinência =3). A terceira paciente, a qual tinha um escore para incontinência pré-operatória de 5, referiu melhora dos sintomas após a interrupção do uso de lavagens; referia ainda ter escape involuntário de gases diariamente, sem perda de fezes formadas ou líquidas(Pontuação de incontinência =4). Em nenhum paciente foi relatado que estes sintomas de incontinência anal interferiam em suas atividades habituais. 4.3 - Ultrassonografias de canal anal realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel A ultrassonografia de canal anal se revelou normal em 90% dos pacientes (à exceção de dois casos de pacientes do sexo feminino que apresentavam, no préoperatório, lesão anterior do esfíncter externo, no terço médio do canal anal). A média de espessura do esfíncter interno foi de 3,4 mm e a do esfíncter externo foi de 6,68 mm. A medida do corpo perineal foi realizada nas pacientes do sexo feminino, sendo observada uma média de 13,04 mm ( vide tabela 2). Tabela 2 – Medidas dos esfíncteres interno e externo do ânus (feitas no quadrante lateral esquerdo do canal anal), assim como do corpo perineal, realizadas no pré e pósoperatório, pela ultrassonografia endoanal. 20 Variável Espessura Esfincter interno(mm) Espessura Esfincter externo(mm) Momento avaliação de de Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo pré-op 3,4 1,9 1,9 3 6,9 pós-op 3,4 1,15 2 3,35 6,8 pré-op 6,68 2,11 4,3 6,13 11,9 pós-op 6,55 1,7 3,34 6,7 9,75 0,745 13,04 12,6 2,64 2,54 8,6 7,9 12,4 12,2 17 16,4 0,326 Medida do corpo pré-op perineal (mm) * pós-op • da P 0,97 Medidas realizadas somente em pacientes do sexo feminino. A ultrassonografia de canal anal pós-operatória revelou alguma anormalidade em 75% dos pacientes. Em 3 pacientes foram evidenciadas lesões parciais com ou sem tecido fibrótico no esfíncter interno na hemicircunferência posterior do canal anal, justaposto ao cólon abaixado (vide foto 1). Em outros 12 pacientes encontramos um afilamento do esfíncter interno, com ou sem tecido cicatricial, na hemicircunferência posterior do canal anal (vide foto 2). Apenas cinco pacientes permaneciam com a anatomia esfincteriana intacta. Dois pacientes apresentavam lesão de esfíncter externo já no pré-operatório. Não foram observadas mudanças significativas da medida do corpo perineal de pacientes do sexo feminino (media de 13,04 no pré-operatório e 12,6 mm no pós-operatório). Ilustração 1 - Lesão parcial do esfíncter interno na hemicircunferência posterior do canal anal, justaposto ao cólon abaixado, em paciente submetido à cirurgia de Duhamel. 21 Ilustração 2 - Afilamento do esfíncter interno, com formação de tecido fibrótico, na hemicircunferência posterior do canal anal, em paciente submetido à cirurgia de Duhamel. 4.4 - Cinedefecografias realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel A cinedefecografia constatou, em 95% dos pacientes, um tempo prolongado de abertura do canal anal apesar do relaxamento adequado do músculo puborretal, durante o esforço evacuatório - vide tabela 3. Somente quando a pressão abdominal era intensa o suficiente para elevar a pressão intrarretal além das pressões de repouso do canal anal, era que o paciente conseguia eliminar parte do contraste retal, delineando um aspecto radiográfico semelhante à de um funil, na porção proximal do canal anal (foto 3). Consideramos este evento como sendo a documentação dinâmica da acalásia do esfíncter interno. Ilustração 3 - Pré-operatório de paciente portador de colopatia chagásica, durante esforço evacuatório. Nota-se que apesar do relaxamento adequado do músculo 22 puborretal, o canal anal não se abre (documentação visual da acalásia do esfíncter interno do ânus), formando uma imagem semelhante a um funil. Oito pacientes, todas do sexo feminino, apresentavam retocele. Em apenas duas delas a retocele foi considerada significativa (maior que 3 cm e que se esvaziava parcialmente após esforço evacuatório), sendo que uma destas necessitava de manobras digitais para conseguir a evacuação. Quatro pacientes eram portadoras de sigmoidocele (1º e 2º grau, de acordo com a classificação de Jorge JM et al, 1994), sem, entretanto, serem estes achados causadores de obstrução à saída do conteúdo retal durante o esforço evacuatório (tabelas 4 e 5). Uma paciente (5%) apresentava relaxamento parcial do músculo puborretal durante esforço evacuatório. O descenso perineal estático estava presente em 35% dos pacientes; dois pacientes (10%) apresentavam concomitantemente o descenso perineal estático e dinâmico e outros 15% apresentavam exclusivamente o descenso dinâmico. Oitenta e cinco por cento dos pacientes, no pré-operatório, apresentaram sensação de evacuação incompleta do conteúdo retal a despeito de grande esforço evacuatório (tabela 6). Os dados objetivos, com suas respectivas médias e desvio padrão observados pela cinedefecografia no pré-operatório estão resumidos na tabela 7. O esvaziamento da ampola retal, observado durante a cinedefecografia pósoperatória, se processou de forma mais rápida e com menor esforço quando comparado com os achados pré-operatórios (tabela 3). O aspecto de funil da porção proximal do canal anal, durante o esforço evacuatório, persistiu em apenas 2 pacientes, sem, entretanto, haver repercussão clínica (ambos apresentavam frequencia evacuatória diária no pós-operatório, sem esforço). Duas das oito pacientes que apresentavam retocele no pré-operatório, não foram diagnosticadas com este mesmo problema no pós-operatório. A retocele permaneceu significativa no pós-operatório nas mesmas duas pacientes diagnosticadas já no préoperatório (maior que 3 cm e que se esvaziava parcialmente após esforço evacuatório) – (fotos 4 e 5). Ambas persistiam com sintomas de sensação de evacuação incompleta, sendo que uma delas fazia, eventualmente, o uso de manobras digitais para conseguir evacuar com sucesso, tanto no pré como no pós-operatório. 23 Ilustrações 4 e 5 – Radiografias realizadas em paciente portadora de colopatia chagásica, no pós-operatório da cirurgia de Duhamel, durante o esforço evacuatório e pós evacuação, respectivamente. Nota-se a presença de retocele anterior volumosa nos dois momentos distintos, com esvaziamento incompleto da retocele após esforço evacuatório. Quatro pacientes eram portadoras de sigmoidocele no pós-operatório, sendo três de 1º grau e uma de 2º grau, sem serem estes achados causadores de obstrução à saída do conteúdo retal durante o ato evacuatório. Apenas 25 por cento dos pacientes, no pósoperatório, apresentaram sensação de evacuação incompleta do conteúdo retal, sendo um deles portador de retocele significativa. Um paciente apresentou relaxamento parcial do músculo puborretal durante o esforço evacuatório. Outro paciente, a despeito da presença de resíduo evacuatório no coto retal, não se queixava de sensação de evacuação incompleta. Observamos uma mudança significativa do ângulo anorretal no pós-operatório, com acentuação da angulação anorretal, que se tornou, portanto, mais obtusa, tanto durante o repouso como durante o esforço evacuatório (tabela 7 e gráficos 5 e 6). O mesmo não foi observado quando se comparava o ângulo anorretal do pré-operatório com o ângulo formado entre o cólon abaixado e o canal anal (gráficos 7 e 8). Quanto ao descenso perineal, pudemos observar uma diminuição dos valores médios dos descensos estático e dinâmico, sendo, entretanto, somente significativo para o descenso estático – vide tabela 7. 24 Tabela 3 – Observação de tempo prolongado de abertura do canal anal de pacientes portadores de colopatia chagásica, avaliados no pré e pós-operatório de cirurgia de Duhamel. Tempo prolongado para abertura do CA pré-op Total Sim n(%) Tempo prolongado para abertura do CA pós-op Sim Não 3(15) 16(80) Total Não n(%) 0(0) 1(5) 1(5) n(%) 3(15) 17(85) 20(100) p<0,001 19(95) CA = canal anal Tabela 4 – Diagnóstico de retocele observado pela cinedefecografia, observados no pré e pós-operatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. retocele pós-op Sim retocele pré-op Sim Não Total Não Total n(%) 6(30) n(%) 0(0) 2(10) 8(40) 12(60) 12(60) n(%) 6(30) 14(70) 20(100) p=0,5 Tabela 5 – Diagnóstico de sigmoidocele pela cinedefecografia, observados no pré e pósoperatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. sigmoidocele pós-op Sim Não sigmoidocele pré-op Sim Não Total Total n(%) 2 (10) n(%) 2 (10) 2 (10) 4 (20) 14(70) 16 (80) n(%) 4 (20) 16 (80) 20 (100) p =1 Tabela 6 - Observação de sensação de evacuação incompleta de pacientes portadores de colopatia chagásica, avaliados no pré e pós-operatório de cirurgia de Duhamel. Sensação de evacuação incompleta pós-op Total Sim Não Sensação de Sim evacuação incompleta pré-op Não n(%) 3(15) 14(70) 17(85) n(%) 2(10) 1(5) 3(15) Total n(%) 5(25) 15(75) 20(100) p<0,004 25 Tabela 7 - Valores dos ângulos anorretais, coloanais e dos descensos perineais estáticos e dinâmicos pela cinedefecografia, observados no pré e pós-operatório de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. Variável Ângulo anorretal repouso Ãngulo coloanal repouso Ângulo anorretal contração Ãngulo coloanal contração Ângulo anorretal esforço evacuatório Ãngulo coloanal esforço evacuatório Descenso perineal estático Descenso perineal dinâmico Momento da avaliação Média Desvio padrão Mínimo Mediana Máximo p pré-op pós-op 103,3 136,6 20,5 12,1 58 110 103 137,5 135 160 <0,001 pós-op pré-op pós-op 103,3 81 120 20,1 21,5 11,4 62 42 95 100 76,5 121 143 120 145 0,975 pós-op pré-op 84,7 119 19,7 16,1 51 94 80 119 135 145 0,411 pós-op 141 15,9 100 140,5 170 <0,001 pós-op pré-op pós-op pré-op pós-op 125,7 6,7 4,4 2,8 2,3 22,1 4,9 2,3 2,1 2,2 90 1,8 2 0 0 125 5,7 3,5 3 1,75 165 19,5 11 6 8 0,091 <0,001 0,031 0,389 4.5 - Eletromanometrias anorretais realizadas no pré e pós-operatório de pacientes com colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. À eletromanometria anorretal, observamos uma média de pressão de repouso e de contração voluntária do canal anal de 60,88 mmHg e 146,56 mmHg, respectivamente. A média de comprimento do canal anal funcional foi de 2,15 cm e a capacidade retal teve média de 244 ml (tabela 8). 26 Tabela 8 - Avaliações eletromanométricas, realizadas no pré e pós-operatório, de pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel. Variável Momento Eletromanometria da Anorretal avaliação Desvio Média padrão Mínimo Mediana Máximo Pressões de pré-op 60,88 22 26,66 59 101,87 repouso(mmHg) pós-op 37,2 10,75 21,9 36,67 66,46 Pressões de pré-op 146,56 50,7 61 144,82 245 122,2 42 56,7 120,94 211 contração(mmHg) pós-op Canal anal pré-op 2,15 0,68 1 2 4 funcional(cm) pós-op 2,05 0,51 1 2 3 Sensibilidade pré-op 34,75 18,88 10 34,5 80 retal(ml) pós-op 30,25 10,19 15 30 50 Capacidade pré-op 244,3 179,12 90 175 660 retal(ml) pós-op 161,25 83,53 55 130 360 P <0,001 <0,004 0,608 0,229 0,011 No pós-operatório, evidenciou-se uma queda da média de pressão de repouso e de contração voluntária do canal anal de 60,88 mmHg para 37,2mmHg, e de 146,56 mmHg para 122,2 mmHg, respectivamente, sendo estas diminuições estatisticamente significativas (gráficos 1 e 2). A média de comprimento do canal anal funcional não apresentou mudanças significativas quando comparados no pré e pós-operatório (2,15 para 2,05 cm, respectivamente, com p=0,608). O valor médio da capacidade retal diminuiu significativamente no pós-operatório (244 ml para 161 ml, p=0,01) – (gráfico 3). Entretanto, ambos os valores se encontram dentro dos limites da normalidade. Não foi observada diferença significante da sensibilidade retal (sensação de enchimento retal inicial) entre os períodos pré e pós-operatório (gráfico 4). 27 Gráfico 1 - O gráfico ilustra as variações individuais das pressões de repouso de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). Eletromanometria - Pressões de repouso do canal anal 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Pré-operatório Pós-operatório p<0,001 Gráfico 2 - O gráfico ilustra as variações individuais das pressões de contração voluntária de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). Eletromanometria - Pressões de contração do canal anal 275 250 225 200 175 150 125 100 75 50 25 0 Pré-operatório Pós-operatório p<0,004 28 Gráfico 3 - O gráfico ilustra as variações individuais da capacidade retal de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). Eletromanometria - Capacidade retal 800 750 700 650 600 550 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Pré-operatório Pós-operatório p<0,011 Gráfico 4 - O gráfico ilustra as variações individuais da sensibilidade retal de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). Eletromanometria -Sensibilidade retal 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Pré-operatório Pós-operatório p=0,229 29 Gráfico 5 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal durante o repouso, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pósoperatório). Cinedefecografia - Ângulo anorretal durante o repouso 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Pré-operatório Pós-operatório p<0,001 Gráfico 6 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal durante o esforço evacuatório, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório) Cinedefecografia - Ângulo anorretal durante o esforço evacuatório 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Pré-operatório Pós-operatório p<0,001 30 Gráfico 7 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal, no préoperatório, com o ângulo coloanal (entre o cólon abaixado e o eixo do canal anal), ambos durante o repouso, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório). Ângulo anorretal e ângulo coloanal durante o repouso 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Pré-operatório Pós-operatório p=0,975 Gráfico 8 - O gráfico ilustra as variações individuais do ângulo anorretal, durante o esforço evacuatório, observadas pela cinedefecografia, de 20 pacientes portadores de colopatia chagásica submetidos à cirurgia de Duhamel, em dois momentos distintos (pré e pós-operatório) Ângulo coloanal durante o esforço evacuatório 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Pré-operatório Pós-operatório p=0,091 31 5 - DISCUSSÃO 32 5.1 - Avaliações fisiológicas colorretal, do diafragma pélvico e do canal anal O advento de novas tecnologias e modalidades de estudo anatômico e fisiológico colorretal e do diafragma pélvico trouxeram uma nova perspectiva para a avaliação de alterações funcionais relacionadas a estes órgãos. Podemos distinguir, utilizando-se estes novos exames, dois grupos distintos de pacientes obstipados, de acordo com a possível causa do sintoma: 1. Obstrução de saída: Existe um grupo de pacientes nos quais a obstipação intestinal é causada por alterações anatômicas ou funcionais do assoalho pélvico, as quais determinam a dificuldade de expulsar o conteúdo fecal. As principais alterações que provocam a obstrução de saída são: contração paradoxal do puborretal (Kuijpers et al,1986; Jorge et al 1993c); retocele (Porter et al, 1999); sigmoidocele (Jorge et al, 1994); intussuscepção retoanal (Wallden, 1952); descenso perineal (Berkelmans et al, 1995) e acalásia do esfíncter interno do ânus (Kara et al, 2003; Moreira Jr, Oliveira, 2010). 2. Inércia colônica: A obstipação intestinal é devida à alteração da motricidade do cólon cuja causa ainda é motivo de grande controvérsia (Deveaux, Galandiux, 2006). O seu diagnóstico deve ser estabelecido após excluírem-se outros mecanismos de obstrução de saída. O emprego de exames para avaliação da anatomia e fisiologia do assoalho pélvico, incluindo dentre eles a eletromanometria anorretal, cinedefecografia, e a ultrassonografia do canal anal, tornou-se uma rotina nos ambulatórios de coloproctologia. Estes exames podem trazer melhor compreensão dos mecanismos envolvidos no aparecimento da obstipação intestinal em pacientes chagásicos, considerando-se que mecanismos de obstrução de saída predominam na gênese dos sintomas. Podem também identificar as modificações anatômicas e funcionais do diafragma pélvico que surgem após a cirurgia de Duhamel, igualmente co-responsáveis pela melhoria dos sintomas no pós-operatório. Apesar de serem descritos há bastante tempo (Denny-Brown, Robertson, 1935; Mahieu et al, 1984a, Mahieu et al 1984; Bartram et al, 1988; Felt-Bersma et al, 1988), a difusão dos exames do estudo da fisiologia anorretal ocorreu somente a partir da década de 1990 (Enck et al, 1991; Eckardt, Elmer, 1991; Pezim et al, 1993; Vaizey, Kamn, 2000). Atualmente, o seu emprego tornou-se indispensável na avaliação de pacientes com diferentes distúrbios funcionais do trato digestivo e do assoalho pélvico (Karulf et 33 al, 1991; Jorge, Wexner, 1993b; Moreira Jr, Wexner, 1998). Recentemente estudamos retrospectivamente 300 consecutivas eletromanometrias realizadas no laboratório de fisiologia anorretal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás para avaliarmos o impacto clínico que este exame exerceu na conduta terapêutica dos pacientes. Concluímos que cerca de 75% dos pacientes se beneficiaram das informações obtidas, o que demonstra de forma bastante clara a importância do emprego de exames de avaliação da fisiologia anorretal na elucidação diagnóstica de pacientes com distúrbios funcionais (Bessa et al, 2007). Entretanto, deve-se ressaltar que a avaliação isolada de cada um destes exames leva-nos a correr o risco de incorrermos em erros de diagnóstico. Observamos que a análise do resultado de um destes testes de estudo da fisiologia colorretal obriga-nos com frequência a indicar outros exames, por serem estudos complementares um do outro. Os primeiros relatos de utilização de exame contrastado para avaliação dos mecanismos evacuatórios pélvicos surgiram na década de 1950 (Wallden et al, 1952). Entretanto, o interesse pelo exame aumentou a partir do final da década de 1960, quando se tornaram possíveis a visualização e gravação de imagens da dinâmica evacuatória por intermédio de equipamentos de fluoroscopia (Broden, Snellman, 1968). O exame consiste na visualização de uma simulação do ato evacuatório; para tanto, o reto é preenchido por um conteúdo pastoso radiopaco, que dá os contornos deste órgão durante todo o procedimento. O paciente é em seguida colocado sentado em assento radiotransparente e, seguindo as orientações do examinador, permanece em repouso (estado de relaxamento, sem fazer contrações da musculatura pélvica ou esforço evacuatório), seguido da contração voluntária da musculatura anorretal e, finalmente, executa o esforço evacuatório do contraste retal. Para cada uma das três fases do exame (repouso, contração e esforço evacuatório), realiza-se uma radiografia com incidência lateral da pélvis, para posterior análise. A eletromanometria utiliza cateteres de plástico flexíveis com microcanais distribuídos radialmente, através dos quais perfunde-se água destilada a uma velocidade constante de 0,3ml/microcanal/minuto. A pressão de água necessária para superar a resistência oferecida pela parede do canal anal é registrada continuamente por um polígrafo que converte esta pressão mecânica em sinais elétricos. Com o auxílio de um programa de computador obtém-se o registro de gráficos quantificados em mmHg de 34 cada um dos quadrantes do canal anal. Durante a realização do exame o ambiente da sala deve ser calmo, de temperatura agradável e com pouca luz. O paciente deve sempre ser orientado em linguagem adequada, sobre as expectativas das suas respostas às perguntas que eram feitas durante o exame, a fim de se obterem resultados mais fidedignos. O toque retal prévio deve ser evitado, uma vez que esta manobra pode alterar a sensibilidade e as pressões do canal anal. A técnica estacionária, com tração manual do cateter, apresenta a vantagem de se obterem os valores pressóricos somente após a estabilização das pressões a cada centímetro analisado do canal anal. A medida da pressão de repouso corresponde basicamente à pressão exercida pelo esfíncter interno do ânus, correspondendo aproximadamente a 80% dos valores pressóricos registrados (Duthie, Watts, 1965; Hancock, Smith, 1975; Lestar et al, 1989). Em pessoas portadoras de doença hemorroidária volumosa, acredita-se que a participação do esfíncter interno do ânus na pressão de repouso do canal anal caia para aproximadamente 70% dos valores pressóricos registrados (Lestar et al, 1989). Os valores normais de pressão de repouso variam de acordo com a metodologia empregada para realização do exame, com o sexo e com a idade do paciente (Loenning-Anuras, 1985; Bannister et al, 1987; McHugh, Diamant,1987; Enck et al, 1989; Laurberg, Swash, 1989; Rao et al, 1999). Consideramos como valores normais de pressão de repouso uma variação entre 40 a 70 mmHg (Taylor et al, 1984). A zona de alta pressão corresponde ao segmento do canal anal onde se observa uma elevação significativa dos níveis pressóricos. Normalmente tem um comprimento maior em homens quando comparado com as mulheres – vide tabela 1 (Sun, Read, 1989). A sua identificação é feita após a medida dos níveis pressóricos de toda a extensão do canal anal. Objetivamente, definiu-se como o início e o fim da zona de alta pressão um aumento (limite cranial da ZAP) ou diminuição (limite distal da ZAP) de pelo menos 20 mmHg dos níveis pressóricos registrados em pelo menos 50% dos quadrantes avaliados. Pacientes que apresentam pressões extremas (muito altas ou muito baixas) no canal anal dificultam a interpretação do início e final da zona de alta pressão e por isto devem ser analisadas de forma individualizada. Logo após a medida das pressões de repouso, avaliam-se as pressões de contração voluntária a cada centímetro do canal anal. Estas pressões refletem a contração do músculo esfíncter externo do ânus e na porção proximal, do músculo puborretal. O limite anatômico das pressões a serem analisadas corresponde à zona de alta pressão do canal anal, tendo sido considerados como normais pressões entre 100 a 180 mmHg. Para medir-se a capacidade retal é necessário um balão 35 de borracha preso à ponta do cateter. A determinação desta medição depende diretamente da participação do paciente examinado, uma vez que os valores são obtidos levando-se em consideração as informações das sensações por ele sentidas, conforme descrito nas fórmulas a seguir: Capacidade retal = Capacidade máxima tolerável– Sensação de enchimento inicial O reflexo inibitório retoanal é um evento fisiológico do mecanismo de evacuação de pessoas sadias. A distensão da parede do reto distal determina, através de um arco reflexo, o relaxamento do esfíncter interno do ânus. Ao mesmo tempo em que isto acontece (relaxamento do esfíncter interno do ânus) a sensação torna-se consciente, e a pessoa contrai voluntariamente o esfíncter externo para a manutenção da continência fecal (Gowers, 1877; Miller et al, 1988). O tempo médio de contração do esfíncter externo é de 40 segundos a 1 minuto, tempo suficiente para que ocorra uma acomodação do conteúdo fecal na ampola retal, e, consequentemente, restauração do tônus de repouso do esfíncter interno do ânus, garantindo, assim, a continência anal. A ausência de relaxamento do esfíncter interno do ânus após a distensão da parede do reto distal é denominada de acalásia. A definição da presença do reflexo inibitório retoanal durante a eletromanometria é consensualmente feita quando se registra a queda de pelo menos 25% da pressão basal em resposta à insuflação rápida de um balão intrarretal, em pelo menos 50% dos canais, seguida do retorno das pressões basais (Lowry et al, 2001). O ultrassom endoanal permite a visualização de todas as estruturas anatômicas circunjacentes ao canal anal, incluindo os músculos esfíncteres interno, externo e puborretal. Quaisquer lesões destes músculos são facilmente identificadas, graças a capacidade de gerar imagens em tempo real com 360 graus de varredura, com frequência de 7 a 10 mHz. Fang et al (1998) relataram um estudo no qual foram analisados 29 pacientes com megacólon chagásico avançado. O reflexo inibitório retoanal estava ausente em 79% dos pacientes, sendo necessário um volume que variou entre 50 ml a 180 ml para a indução do reflexo. Os mesmos pacientes foram submetidos à cinedefecografia ficando evidenciado um tempo mais prolongado que o normal para exoneração do conteúdo retal, quando comparados com pessoas assintomáticas. Os autores concluíram que, para que haja a eliminação fecal, é necessário grande esforço evacuatório, o suficiente para que a pressão retal supere a pressão de repouso do canal anal, como mecanismo de 36 adaptação à acalásia do esfíncter interno do ânus. Estes achados de cinedefecografia foram semelhantes aos observados em nosso estudo. A despeito do relaxamento adequado do músculo puborretal durante o esforço evacuatório, o canal anal não se abria adequadamente, dificultando a eliminação do conteúdo retal. Somente após grande esforço, com aumento da pressão abdominal e consequentemente da pressão intrarrretal, era que a eliminação do conteúdo retal ocorria, corroborando a teoria proposta por Fang et al (1998), de que a evacuação ocorre devido à diferença de gradiente da pressão intrarrretal vs pressão de repouso do canal anal. No momento de maior esforço evacuatório, pudemos observar uma característica cinedefecográfica muito interessante, que consistia na formação de uma imagem semelhante a um funil na porção superior do anel anorretal. Esta imagem representa, em nosso entender, a demonstração dinâmica da acalásia do esfíncter interno do ânus. Cavenaghi et al (2008), em uma série de 39 pacientes portadores de megacólon chagásico, descreveram que o RIRA nem sempre é evidente nos pacientes chagásicos devido à utilização de volumes insuficientes de insuflação de ar, ao exame eletromanométrico. Nesse estudo, o reflexo inibitório retoanal esteve presente em 43% dos casos com volumes sequenciais de até 300 ml com uma média de aproximadamente 196 ml. Os autores acreditam na possibilidade de indução do RIRA em pacientes com megacólon, quando utilizados volumes crescentes de insuflação de ar no balão. Durante o nosso estudo de eletromanometria anorretal, caracterizamos, inicialmente, os valores em mililitros necessários para que o paciente perceba o enchimento do balão intrarretal e, posteriormente, o volume de capacidade retal máxima. Só então, de posse destes valores, é que avaliamos a presença do reflexo inibitório retoanal, com insuflação de até uma vez e meia do volume necessário para desencadear a sensação inicial de enchimento retal. A média do volume utilizado para avaliar o reflexo foi de 90 ml e 60 ml para o grupo de pacientes com mega e sem mega, respectivamente. Estes valores são bem inferiores aos relatados por Cavenaghi et al (2008), e poderia ser decorrente de discordância da metodologia empregada em nosso Serviço. Diversos autores demonstraram que em pessoas normais, a insuflação do balão intrarretal com até 2/3 do volume de limiar de sensibilidade retal seria o suficiente para evidenciar o reflexo inibitório retoanal (Coller, 1987; Stein, Roberts, 1995). Aumentamos este volume para uma vez e meia ao valor da sensibilidade inicial de enchimento retal, com o objetivo de diminuir a possibilidade de eventuais dificuldades de interpretação do exame pelo paciente (identificar o momento em que a instilação de água no interior do 37 balão intrarretal produz alguma sensação); consequentemente, a possibilidade de falso negativo é remota. Acreditamos que a indução do reflexo com volumes muito grandes não consubstancia um estado fisiológico normal, e pode, conforme relatado por Fang et al (1998), ser a evidência eletromanométrica da abertura do canal anal ocasionada pelo aumento importante da pressão intrarretal. Na sequência desta discussão, serão apresentados e analisados os resultados obtidos, explicados e comparados, quando existentes, com outros referidos na literatura. 5.2 - Obstipação intestinal e acalásia do esfíncter interno do ânus A eletromanometria anorretal tem um papel importante no diagnóstico diferencial de diversas condições clínicas que desencadeiam o sintoma de obstipação intestinal consequente a causas pélvicas obstrutivas à saída do conteúdo fecal (Kuypers, 1982). O megacólon congênito ou doença de Hirschsprung pode ser diagnosticado de forma definitiva com a demonstração, pela eletromanometria, da ausência do reflexo inibitório retoanal, devido à agenesia dos plexos nervosos submucosos responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos que desencadeiam o relaxamento do esfíncter interno do ânus. Este evento é denominado de acalásia do esfíncter interno do ânus (Davies et al, 1981). Entretanto, não é somente no megacólon congênito que podemos encontrar a acalásia do esfíncter interno do ânus; outras condições clínicas, incluindo a esclerodermia, dermatomiosite e diabetes avançado podem cursar com ausência do reflexo inibitório retoanal (Caruana et al, 1991; Jorge, Wexner, 1993a). Um falso resultado negativo pode ser observado em algumas outras situações clínicas, incluindo pacientes com prolapso retal e com incontinência anal (Ihre, 1974). Agachan et al (1997) demonstraram em estudo clínico que após a correção cirúrgica do prolapso retal, o reflexo inibitório retoanal é restaurado em alguns casos, assim como podemos observar melhora dos níveis pressóricos de repouso e de sensibilidade retal. Ainda não existe uma explicação para a ausência do reflexo inibitório retoanal neste grupo de pacientes. Acredita-se que a protrusão do reto através do canal anal, desencadearia um estímulo contínuo ao relaxamento do esfíncter interno do ânus, tornando-se, portanto, impossível observar durante a eletromanometria anorretal a presença do reflexo inibitório retoanal. Farouk et al (1992) observaram, em uma série de pacientes com prolapso retal que, após o tratamento cirúrgico, a maioria dos pacientes apresentou um 38 aumento do tônus de repouso do canal anal. Estes dados corroboram a teoria descrita acima, uma vez que, corrigido o prolapso, o tônus do esfíncter interno deveria se restaurar. Entre os pacientes com incontinência anal, deve-se ressaltar que a presença de níveis pressóricos do canal anal muito baixo, por si só, dificultariam a demonstração do reflexo inibitório retoanal. 5.3 - Megacólon chagásico A colopatia chagásica tem grande prevalência em nossa região, cuja manifestação clínica característica é a obstipação intestinal crônica que piora de maneira progressiva até se tornar resistente a tratamentos clínicos conservadores. Todo paciente portador de megaesôfago, cardiopatia chagásica, ou que seja procedente de zona endêmica para doença de Chagas, com história clínica de obstipação intestinal com piora progressiva, deveria ser considerado como provável portador de colopatia chagásica. Alguns aspectos da fisiopatogenia desta enfermidade foram descritos por Habr-Gama, 1966 e Habr-Gama et al, 1970. Estes autores descreveram duas alterações funcionais básicas que explicariam o aparecimento da obstipação intestinal, ambas decorrentes da destruição dos plexos de Meissner e Auerbach da parede intestinal: a acalásia do esfíncter interno do ânus e a incoordenação motora do cólon. Em nosso meio, devemos ressaltar a importância da eletromanometria anorretal no diagnóstico da colopatia chagásica, pela possibilidade de avaliar a presença ou ausência do reflexo inibitório retoanal (Rezende, Moreira H, 1978). Não raramente nos deparamos com pacientes com queixa de obstipação intestinal crônica, provenientes de área endêmica para doença de Chagas, com sorologia positiva, porém, com enema opaco sem evidência de megacólon ou megarreto. A chance de pessoas infectadas pelo Tripanossoma cruzi de desenvolverem sintomas é de aproximadamente 30% (Rezende, Moreira H, 1988). Portanto, temos outros 70% de pessoas infectadas, que permanecem assintomáticas, mas que poderiam, por outras causas, desenvolver os sintomas de obstipação intestinal crônica. Nessas situações a eletromanometria anorretal tem hoje um papel importante no diagnóstico da colopatia chagásica, pois, por intermédio deste exame, podemos comprovar a presença ou ausência do reflexo inibitório retoanal. Fizemos recentemente um levantamento de dados da casuística de nosso Serviço de Coloproctologia, no qual cerca de metade dos pacientes chagásicos que foram submetidos à eletromanometria não apresentavam acalásia do esfíncter interno do ânus, aumentando assim a probabilidade de que outras 39 causas de obstipação possam estar envolvidas no aparecimento deste sintoma. Entretanto, ainda não se pode concluir, definitivamente, se a ausência da acalásia do esfíncter interno do ânus exclua a possibilidade de ser este paciente portador de colopatia chagásica. Deve-se considerar, ainda, a possibilidade de existirem pacientes com diferentes gradações da colopatia chagásica, ocasionadas por distintas variáveis como: 1. Grau de destruição nervosa intramural que ocorreu apos a infecção pelo Tripanossoma cruzi; 2. Observação de um estádio ainda precoce da evolução crônica e progressiva da doença, a qual não teve tempo suficiente de apresentar dilatação do cólon, assim como a acalásia do esfíncter interno do ânus. Moreira H1 sugere que, na evolução clínica de pacientes portadores de colopatia chagásica, ao contrário do megaesôfago, observamos inicialmente o alongamento intestinal para posteriormente dilatar-se. (comunicação pessoal)* Em um levantamento de pacientes feito em nosso Serviço (Bessa et al, 2007), subdividimos aqueles obstipados com sorologia positiva para Doença de Chagas, em dois grupos: 1. Pacientes com megacólon ou megarreto, sendo este último parâmetro determinado pelo exame radiológico ( enema opaco) ou pela eletromanometria anorretal; 2. Pacientes sem megavíscera radiológica ou com aumento da capacidade retal evidenciada pela eletromanometria. A análise destes grupos evidenciou que a acalásia do esfíncter interno do ânus era mais comum no subgrupo de pacientes com megacólon ou megarreto (72% e 53% dos casos). Estes achados sugerem uma de duas possibilidades: a) Pacientes obstipados, com sorologia positiva para doença de Chagas, com dilatação do cólon e/ou reto têm alta probabilidade de serem portadores de colopatia chagásica pela maior frequência de acalásia do esfíncter interno do ânus; b) A menor frequência de acalásia do esfíncter interno do ânus em pacientes obstipados, com sorologia positiva para doença de Chagas, refletiria apenas um estádio mais precoce da evolução clínica da colopatia 1 Moreira H. [Comunicação pessoal] 1986. 40 chagásica; considerando esta última possibilidade como verdadeira, deveríamos observar, se pudéssemos acompanhar estes pacientes, a evolução do quadro clínico com dilatação do cólon e reto e maior frequência da acalásia do esfíncter interno do ânus. Estes resultados reforçam a necessidade de estudar, detalhadamente, pacientes obstipados, com sorologia positiva para doença de Chagas. Neste presente estudo, a fim de eliminar qualquer dúvida sobre o diagnóstico de colopatia chagásica, somente incluímos aqueles pacientes que apresentavam acalásia do esfíncter interno do ânus observada pelo exame de eletromanometria anorretal. 5.3.1 - Megacólon chagásico – tratamento cirúrgico pela técnica de Duhamel e suas modificações A explicação para a grande quantidade de técnicas cirúrgicas propostas para o tratamento cirúrgico do megacólon chagásico, talvez se deva à falta de melhor conhecimento sobre a fisiopatologia da doença, bem como a possível presença de outras alterações fisiopatológicas, decorrentes da desenervação dos plexos intramurais do tubo digestivo, particularmente do cólon, reto e estojo esfincteriano ainda não esclarecidas. Acredita-se que a técnica cirúrgica mais adequada para o tratamento do megacólon chagásico seja aquela que, pelo menos em parte, responda às alterações fisiopatológicas até hoje descritas para o megacólon chagásico, com aceitáveis índices de morbidez e mortalidade. Apesar de avanços no conhecimento da fisiopatogenia da colopatia chagásica, permanecem ainda dúvidas sobre a importância de cada um destes mecanismos (acalásia do esfíncter interno do ânus e incoordenação motora colorretal) no surgimento e agravamento dos sintomas de obstipação intestinal. Estas dúvidas persistem graças a algumas observações clínicas destes pacientes, as quais serão discutidas a seguir: • Pacientes chagásicos submetidos a tratamento cirúrgico de emergência e que foram submetidos à cirurgia de Hartmann. Considerando-se os dois mecanismos fisiopatológicos descritos acima, nesses pacientes, portadores de colostomia terminal de cólon descendente ou sigmóide, a presença de acalásia do esfíncter interno do ânus não interfere no trânsito intestinal. A incoordenação motora dos cólons passaria, então, a ser 41 o único mecanismo que determinaria uma alteração da frequência evacuatória. Entretanto, o ritmo intestinal destes pacientes colostomizados é semelhante ao dos de pacientes não portadores de colopatia chagásica, diminuído assim a importância que a incoordenação motora resultante da colopatia chagásica teria sobre o trânsito intestinal. • Diante do descrito acima, poderíamos concluir que a acalásia seria, então, entre os dois mecanismos fisiopatogênicos, o mais importante e determinante do aparecimento de sintomas de obstipação intestinal. Entretanto, trabalhos publicados demonstram uma realidade no mínimo intrigante: pacientes portadores de colopatia chagásica, submetidos a tratamento cirúrgico, permaneciam com a acalásia do esfíncter interno em todos dos casos, a despeito da normalização do ritmo intestinal (Moreira H, 1972; Matos et al 1981; Matos et al, 1985; Moreira JPT, 2001). • Recidivas de sintomas, apesar de serem exceções, ocorrem em pacientes portadores de colopatia chagásica, que foram submetidos a tratamento cirúrgico pela técnica de Duhamel e suas modificações, as quais consideramos tecnicamente adequadas, sem apresentar nenhuma complicação pós-operatória, e mesmo assim permanecem obstipados. A cirurgia de Duhamel foi proposta no ano de 1956, pelo cirurgião francês Bernard Duhamel, para o tratamento do megacólon congênito ou Doença de Hirschsprung. A cirurgia consiste na realização de laparotomia, mobilização do cólon sigmóide e descendente (eventualmente com liberação do ângulo esplênico do cólon), e dissecção do espaço retrorretal até a extremidade distal do cóccix. Em seguida é feita a secção do reto superior ao nível do promontório, com sepultamento do coto retal. A cirurgia segue com a realização do tempo perineal. A margem anal posterior é incisada em toda a hemicircunferência posterior, seguida pela dissecção do espaço submucoso do canal anal até ao nível da extremidade distal do cóccix. Com o auxílio de um cirurgião posicionado no campo cirúrgico abdominal, é feita a comunicação entre o espaço submucoso e o espaço retrorretal. O cólon sigmóide, já hermeticamente fechado na sua extremidade distal, é abaixado através deste espaço e dissecado até a sua exteriorização na região perianal. Duhamel propunha ainda a secção do cólon excedente, fixando-o à margem anal posterior, seguido da colocação de 2 pinças coprostáticas, em forma de “V”, apreendendo a parede do coto retal e do cólon abaixado, com o objetivo de realizar uma anastomose colorretal retardada por isquemia dos segmentos colônico e retal. Apesar dos bons resultados funcionais, obviamente 42 esta técnica apresentava alguns inconvenientes, como o desconforto para o paciente ter que permanecer um período prolongado no pós-operatório com pinças endoanais, e o risco de se realizar uma anastomose com um cólon abaixado isquêmico (Duhamel, 1956). Esta técnica cirúrgica, considerando-se as semelhanças fisiopatogênicas entre o megacólon congênito, passou a ser empregada em nosso meio para o tratamento do megacólon chagásico (Moreira H, 1971; Sebba, 1971). Em 1965, Haddad et al propuseram uma modificação à técnica de Duhamel. A cirurgia era realizada semelhantemente àquela descrita por Duhamel, sem, entretanto, deixar pinças coprostáticas na região perianal. O cólon abaixado era seccionado parcialmente, deixando exteriorizado cerca de 10 cm como se fora uma colostomia perineal. Sete a dez dias mais tarde, quando os espaços perirretais e perianais já haviam iniciado o processo cicatricial e o cólon abaixado já se encontrava parcialmente aderido ao coto retal, a anastomose colorretal, látero-lateral era realizada primariamente, após a secção dos 10 cm do cólon abaixado, rente à margem anal. Os resultados funcionais pós-operatórios da cirurgia de Duhamel a médio e longo prazo são bastante satisfatórios, sendo o risco de recidiva dos sintomas de obstipação uma exceção à regra (Moreira H et al, 1985; Moreira H, Rezende, 1993; Moreira H et al, 2001). E mesmo naqueles pacientes que se queixam deste sintoma no pós-operatório, a intensidade do problema é significativamente menor quando comparado ao seu estado pré-operatório. Deve-se, entretanto, ressaltar o risco de desenvolver sintomas de incontinência anal no pós-operatório. Normalmente estes sintomas aparecem no pós-operatório imediato, e melhoram com o passar do tempo. Entretanto, uma minoria de pacientes pode apresentar sintomas refratários de incontinência anal, com impacto na sua qualidade de vida. 5.3.2 - Mecanismos envolvidos na resposta após a cirurgia de Duhamel em pacientes portadores de colopatia chagásica Os mecanismos envolvidos para que ocorra uma boa resposta funcional após a cirurgia de Duhamel estão parcialmente esclarecidos. Vários estudos demonstraram que a acalásia do esfíncter interno do ânus persiste no pós-operatório da cirurgia de Duhamel. Moreira H (1972) observou que a incoordenação motora entre cólon e reto volta a ter um padrão motor semelhante a de pessoas normais, ou seja, a contração do 43 cólon abaixado é seguida pelo relaxamento do reto. Especula-se que esta volta aos padrões motores normais entre o cólon e reto ocorreria devido à anastomose entre o colo e o reto ser feita na parede lateral de cada segmento ao invés de realizar-se uma anastomose término-terminal. Entretanto, outros aspectos anatomofuncionais resultantes da cirurgia devem influenciar nos resultados pós-operatórios, considerando que pacientes portadores de colopatia chagásica, os quais eventualmente necessitam de ser submetidos a uma colostomia, passam a apresentar ritmo intestinal regular, a despeito da persistência da incoordenação motora do cólon. Moreira JPT (2001), em sua tese de mestrado, observou que pacientes portadores de megacólon chagásico, após serem submetidos à cirurgia de Duhamel, apresentavam uma diminuição significativa das pressões de repouso do canal anal, bem como da capacidade retal, além de melhorar o limiar de sensibilidade retal. Tais achados são semelhantes aos observados neste estudo. O exame de ultrassom de canal anal traz uma explicação para a ocorrência desta alteração funcional: cerca de 60% dos pacientes no pós-operatório, apresentavam diminuição do espessamento do esfíncter interno na margem posterior do canal anal, e 15% evidenciaram lesões parciais deste músculo na porção por onde o cólon fora abaixado. Cinquenta por cento apresentava fibrose localizada do esfíncter interno. Apenas 25% dos pacientes operados apresentavam anatomia esfincteriana intacta. Em outras palavras, a cirurgia de Duhamel promove uma diminuição das pressões de repouso devido à fibrose cicatricial, lesão parcial ou total do esfíncter interno, na sua porção posterior do canal anal. A cinedefecografia é um exame que reproduz o ato evacuatório do paciente próximo daquele que acontece no seu cotidiano. Entretanto, devemos considerar que fatores externos podem interferir no resultado do exame, principalmente quando há suspeita do diagnóstico do Anismus (Turnbull et al, 1988; Jorge et al, 1992). O fato de expor o paciente a um ambiente diferente do habitual e solicitar que ele evacue diante de pessoas estranhas pode por si só ser motivo de alterar a sua dinâmica evacuatória. È possível adotar medidas que atenuam a influencia destes fatores no resultado do exame. O paciente deve ser minuciosamente esclarecido sobre o procedimento e as solicitações que serão feitas durante o exame. Deve-se proporcionar um ambiente calmo, com luz atenuada, temperatura agradável e com o mínimo de pessoas dentro do recinto. Por vezes é necessário questionar ao paciente se há uma reprodução dos sintomas durante o exame. Quando há dúvidas sobre a dificuldade de eliminar o contraste retal, solicita-se ao paciente que se dirija ao toalete, e, estando então em ambiente de completa 44 privacidade, solicita-se que tente, mais uma vez, evacuar o contraste. Caso esta segunda tentativa seja bem sucedida, fica claro que o constrangimento ao qual ele havia sido submetido fora o motivo maior de não ter evacuado de maneira satisfatória durante o exame. Em nosso trabalho, a cinedefecografia revelou aspectos bastante interessantes. A maioria absoluta dos pacientes, no pré-operatório, apresentou um tempo prolongado para abrir o canal anal, a despeito do relaxamento do músculo puborretal. Por tratar-se de um achado comum, e que reproduzia a dificuldade evacuatória já anteriormente descrita por eles, consideramos ser esta característica a demonstração dinâmica da acalásia do esfíncter interno do ânus. Outro aspecto bastante interessante observado no pré-operatório de pacientes do sexo feminino foi a presença de outros mecanismos de obstrução de saída que corroboravam os sintomas. Refiro-me especificamente a presença de retoceles; quando maiores que 4 cm e não se esvaziavam após o esforço evacuatório, eram notadamente fatores co-adjuvantes na gênese dos sintomas obstrutivos. A comprovação definitiva deste fato foi a permanência destas retoceles volumosas no pós-operatório da cirurgia de Duhamel a que as pacientes foram submetidas, sendo ainda causa de sensação de evacuação incompleta e necessidade do uso de manobras digitais para conseguir com sucesso esvaziar completamente o reto. Finalmente, deve-se ressaltar a mudança do ângulo anorretal ocorrida após a cirurgia de Duhamel. O abaixamento do cólon pelo espaço retrorretal desvia o eixo do coto retal no sentido anterior, acentuando-se desta forma o ângulo anorretal. Sabe-se que após esta cirurgia, o trânsito intestinal segue um trajeto no qual inclui o coto retal como último segmento a armazenar o conteúdo fecal (Almeida, 1996). Portanto a maior angulação entre o coto retal e o canal anal se torna mais um fator facilitador para o ato evacuatório no pós-operatório de paciente submetido à cirurgia de Duhamel. Com estas evidências fisiopatogênicas, associadas à história clínica dos pacientes, podemos definir de forma mais clara a história natural da colopatia chagásica: 1. Infecção das pessoas pelo Tripanosoma cruzi através da contaminação pelo triatomíneo, transfusão sanguínea e mais raramente transmissão pelo aleitamento materno (Chagas, 1909; Chagas, 1916). 2. Tropismo do Tripanosoma cruzi para musculatura lisa do trato digestivo e/ou para musculatura (esquelética) estriada do coração (Manoel-Caetano, Silva, 2007). Esse tropismo parece estar relacionado com diferentes cepas existentes 45 do protozoário, sendo relativamente mais comum em nosso meio a combinação das formas digestivas. 3. Lesão por inflamação dos plexos intramurais e submucosos de Meisner e Auerbach (Köberle, 1959; Andrade, Andrade, 1966). A destruição destes plexos pode ocorrer em maior ou menor escala, determinando alterações fisiológicas de gravidade variada. Os fatores que determinam uma maior gravidade do processo inflamatório incluem: subgrupo da cepa do Tripanosoma cruzi, reinfecção e estado imunológico do paciente (ManoelCaetano, Silva, 2007). 4. As alterações básicas colorretais resultantes deste processo inflamatório são a incoordenação motora colorretal e a acalásia do esfíncter interno do ânus (Habr-Gama, 1966; Habr-Gama et al, 1970). 5. Diante deste quadro, o paciente passa a apresentar maior dificuldade para evacuar, visto que isto só é possível quando a pressão intrarretal supera a pressão de repouso do canal anal. Com o passar do tempo, esta obstipação crônica determina, gradativamente, o aparecimento de dolicocólon, megarreto e megassigmoide, corroborada pela estase fecal. 6. O aumento da capacidade retal e do sigmóide, por sua vez, dificulta o ato evacuatório, considerando-se que a presença de uma megavíscera possibilita uma acomodação do conteúdo fecal com mínima alteração da pressão intraluminal. Consequentemente, alcançar pressões intrarretais superiores a do canal anal passa a exigir: a. Maior volume fecal b. Aumento do tempo para enchimento da ampola retal. c. Esforço evacuatório maior. 7. A necessidade de um conteúdo fecal volumoso só é possível através de duas possibilidades: a. Aumento da dieta rica em fibras b. Acumulo de resíduo fecal por alguns dias 8. Em estádios mais avançados da doença este acúmulo progressivo de fezes na ampola retal promove a sua desidratação e consequentemente o aparecimento de fecalomas, antes que a pressão intrarretal aumente o suficiente para conseguir superar a pressão do canal anal. O uso de laxativos nesta fase da doença auxilia o ato evacuatório por acelerar o trânsito intestinal, e 46 consequentemente promover um aumento da pressão intrarrretal antes que ocorra o ressecamento das fezes. 9. Esta sequência de acontecimentos corrobora a história clínica dos pacientes portadores de megacólon chagásico. O quadro de obstipação intestinal tem evolução crônica, com piora progressiva dos sintomas, dependência de laxativos e em estádios mais avançados da doença a formação de fecalomas (Moreira H, 1974; Rezende, 1981; Rezende, Luquetti, 1994) . As alterações fisiológicas que a cirurgia de Duhamel determina respondem às alterações fisiopatológicas da colopatia chagásica. Observamos, neste estudo, que outras mudanças fundamentais, além do retorno do assincronismo motor entre o cólon abaixado e o coto retal, conforme descrito por Moreira H (1972) ocorre após esta cirurgia, e estão relacionadas às alterações nas pressões intrarrretais e do canal anal, corroboradas pela mudança de angulação anorretal. Vejamos individualmente cada uma destas alterações: 1. A anastomose laterolateral baixa entre cólon abaixado e coto retal. Trabalho publicado por Moreira H (1972) já demonstrara que, após a cirurgia de Duhamel, o cólon abaixado e coto retal voltam a apresentar uma coordenação motora propulsiva, ou seja, a contração da parede do cólon é acompanhada de relaxamento da parede do reto. Este fenômeno determina a progressão natural do conteúdo colônico para o coto retal. 2. A pressão de repouso do canal anal diminui apos a cirurgia de abaixamento. Trata-se de uma constatação eletromanométrica. E tem implicações importantes para o esvaziamento da ampola retal. Com a diminuição das pressões de repouso, a pressão intrarretal necessária para vencer o obstáculo “da acalásia do esfíncter interno do ânus” também será menor. Esta diminuição, conforme descrevemos acima, é consequência de lesão parcial ou afilamento do esfíncter interno do ânus, associado a processo cicatricial e fibrótico, na hemicircunferência posterior do canal anal, coincidente com o local por onde o cólon foi abaixado. 3. O sepultamento do coto retal cria uma câmara fechada, a qual apresenta maior facilidade de elevação da pressão intrarretal, mesmo com volumes menores de conteúdo intrarretal, quando comparadas à anatomia normal do reto (Em situações normais, a contiguidade da ampola retal com o sigmóide determina a distribuição cranial do conteúdo retal; consequentemente, as 47 variações de pressão intrarretal só aumentam com volumes intraluminais muito altos). Nos exames de cinedefecografia, realizados no pós-operatório, pudemos observar que, por se tratar de anastomose colorretal baixa, o esporão anastomótico pode funcionar como uma válvula de contenção do conteúdo retal, que se fecha à medida que o coto retal se enche de conteúdo fecal, facilitando o aumento da pressão intrarretal. Em outros pacientes, observamos que ocorreu esvaziamento simultâneo da pasta de contraste radiopaco do coto retal e do cólon abaixado durante o esforço evacuatório. Por conseguinte, a pessoa não necessita de grandes esforços para aumentar a pressão intrarretal, o suficiente para vencer a barreira da acalásia do esfíncter interno do ânus. Estas alterações contribuem em última análise, para a normalização do ritmo intestinal. 4. Mudança do ângulo anorretal. Para o abaixamento do cólon, é necessário que seja criado um espaço retrorretal, endoanal. Consequentemente, o eixo do coto retal remanescente é desviado anteriormente, determinando uma maior abertura do ângulo anorretal. Durante o esforço evacuatório, existe quase que uma retificação completa (próxima de 180º) entre o eixo do canal anal e o do coto retal remanescente, facilitando o esvaziamento da ampola retal. 48 6 – CONCLUSÕES 49 1. Ao avaliar os pacientes portadores de colopatia chagásica no pré e pós-operatório da cirurgia de Duhamel, observamos que ocorreram alterações funcionais e anatômicas significativas identificadas pelos exames de eletromanometria anorretal, ultrassom de canal anal e cinedefecografia, que em conjunto determinaram uma melhora significativa dos sintomas de constipação intestinal. Destacam-se as seguintes alterações no pós-operatório: a. Diminuição significativa das pressões de repouso e de contração voluntária do canal anal após a cirurgia de Duhamel, assim como diminuição da capacidade e aumento da sensibilidade retal; b. Detecção, por intermédio do ultrassom de canal anal, em 75% dos casos estudados, de lesões inadvertidas do músculo esfíncter interno do ânus, como fibroses perimusculares, lesões parciais ou totais desta musculatura, sempre localizadas na hemicircunferência posterior do canal anal, por onde o cólon era abaixado; c. Maior facilidade de esvaziamento retal durante o esforço evacuatório e uma mudança significativa do ângulo anorretal durante o repouso e esforço evacuatório (tornaram-se, no pós-operatório, mais obtusos) identificadas pela cinedefecografia; 2. Fatores secundários na gênese da obstipação intestinal podem estar presentes em alguns pacientes portadores de colopatia chagásica (retocele, anismus e descenso perineal). 50 7- ANEXOS 51 7.1 - Armazenamento de dados 7.1.1 - Avaliação pré-operatória Prontuário médico: ___________________________ Nome: ______________________________________________________________ Sexo: _____ Data nasc. __/___/____ Idade: _____ Endereço:_____________________________________________________________ Setor: ___________________________ Cidade: _________________ Estado: ____ CEP: __________ Tels.: ______________________________________________________ Sorologia para D. Chagas ( ) Positiva ( ) Negativa Tempo de obstipação intestinal_________ anos. Frequência evacuatória: ___________________________________ Uso de laxativos ( ) Sim ( ) Não Distensão abdominal ( ) Sim ( ) Não Dor abdominal ( ) Sim ( ) Não Sensação de evacuação incompleta ( ) Sim ( ) Não Antecedente de fecaloma ( ) Sim ( ) Não Antecedente de volvo do sigmóide ( ) Sim ( ) Não Cardiopatia Chagásica ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ Esofagopatia ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ Antecedente de cirurgia pélvica ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ Antecedente de cirurgia orificial ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ Co-morbidades ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ Uso de medicações ( ) Sim ( ) Não _____________________________________________________________________ Hipotireoidismo ( ) Sim ( ) Não Dieta rica em fibras ( ) Sim ( ) Não Ingestão hídrica adequada ( ) Sim ( ) Não 7.1.2 - Pontuação de continência anal pré-operatório (Cleveland Clinic Florida Fecal Incontinence Scoring System) 52 Tipo de incontinência Nunca Raro Às vezes Comumente Sempre Sólido 0 1 2 3 4 Líquido 0 1 2 3 4 Gás 0 1 2 3 4 Usa protetor 0 1 2 3 4 Alteração social 0 1 2 3 4 Notas: Raro - <1/mês Às vezes - < 1/semana >1/mês Comumente - <1/dia > 1/semana Sempre – diariamente 0 = continência perfeita; 20 = incontinência absoluta 7.1.3 - Exames de eletromanometria anorretal (pré-operatório) Média de pressão de repouso _________________________ Média de pressão de contração ________________________ As médias de pressão de repouso e de contração serão calculadas pela média aritmética dos valores pressóricos obtidos na zona de alta pressão do canal anal. Comprimento do canal anal funcional __________________ Será definida como limites do canal anal funcional a queda de 20 mmHg de pelo menos 50% dos canais medidores de pressão de toda a circunferência do canal anal. Capacidade retal ___________ ml (será calculado subtraindo-se o volume máximo tolerado pelo paciente do volume de sensação inicial de enchimento do balão intrarrretal) Reflexo inibitório reto anal presente ( ) Sim. ( ) Não. 7.1.4 - Exames de cinedefecografia (pré-operatório) REPOUSO CONTRAÇÃO ESFORÇO EVACUATÓRIO Medida do ângulo anorretal Medida do puborretal Medida do descenso perineal Presença de retocele ( ) Sim ________cm. ( ) Não. Presença de intussuscepção reto anal ( ) Sim ( ) Não. Presença de sigmoidocele ( ) Sim _______ grau. ( ) Não. Perda involuntária do contraste ( ) Sim ( ) Não. Presença de “anismus” ( ) Sim ( ) Não. Sensação de evacuação incompleta ( ) Sim ( ) Não. 53 Esvaziamento incompleto do reto ( ) Sim ( ) Não. Evacuação completa no toalete ( ) Sim ( ) Não. Manobra digital ( ) Sim ( ) Não. 7.1.5 - Avaliação ultrassonográfica no pré-operatório 1/3 superior Integridade do músculo puborretal ( ) sim ( ) não 1/3 médio Integridade de esfíncter interno ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Integridade de esfíncter externo ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Medida do corpo perineal:_____________________ Medida do esfíncter interno:___________________ 1/3 inferior Integridade de esfíncter externo ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Medida do esfíncter externo:__________________ Obs:_________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 7.1.6 - Avaliação pós-operatória Data da cirurgia ____________________. Cirurgia realizada_________________________________________________ Complicação intra-operatória:_______________________________________ _______________________________________________________________ Complicação pós-operatória: _______________________________________ _______________________________________________________________ Alta hospitalar _________dia de pós-operatório. 7.1.7 - Avaliação funcional no pós-operatório Ritmo intestinal _______x/semana Uso de suplemento de fibras ( ) Sim ( ) Não. Uso de laxativos ( ) Sim ( ) Não. 54 Uso de lavagem via retal ( ) Sim ( ) Não. 7.1.8 - Pontuação de continência anal (pós-operatório) (Cleveland Clinic Florida Fecal Incontinence Scoring System) Tipo de incontinência Nunca Raro Às vezes Comumente Sempre Sólido 0 1 2 3 4 Líquido 0 1 2 3 4 Gás 0 1 2 3 4 Usa protetor 0 1 2 3 4 Alteração social 0 1 2 3 4 Notas: Raro - <1/mês Às vezes - < 1/semana >1/mês Comumente - <1/dia > 1/semana Sempre – diariamente 0 = continência perfeita 20 = incontinência absoluta 7.1.9 - Exame de eletromanometria anorretal (pós-operatório) Média de pressão de repouso _________________________ Média de pressão de contração ________________________ As médias de pressão de repouso e de contração serão calculadas pela média aritmética dos valores pressóricos obtidos na zona de alta pressão do canal anal. Comprimento do canal anal funcional __________________ Será definida como limites do canal anal funcional a queda de 20 mmHg de pelo menos 50% dos canais medidores de pressão ao redor do canal anal. Capacidade retal ___________ ml (será calculado subtraindo-se o volume máximo tolerado pelo paciente do volume de sensação inicial de enchimento do balão intrarretal) Reflexo inibitório retoanal presente ( ) Sim ( ) Não. 55 7.1.10 - Exame de cinedefecografia (pós-operatório) REPOUSO CONTRAÇÃO ESFORÇO EVACUATÓRIO Medida do ângulo ano-retal Medida do puborretal Medida do descenso perineal Presença de retocele ( ) Sim ________cm. ( ) Não. Presença de intussuscepção retoanal ( ) Sim ( ) Não. Presença de sigmoidocele ( ) Sim _______grau. ( ) Não. Perda involuntária do contraste ( ) Sim ( ) Não. Presença de “anismus” ( ) Sim ( ) Não. Sensação de evacuação incompleta ( ) Sim ( ) Não. Esvaziamento incompleto do reto ( ) Sim ( ) Não. Evacuação completa no toalete ( ) Sim ( ) Não. Manobra digital ( ) Sim ( ) Não. 7.1.11 - Avaliação ultrassom no pós-operatório 1/3 superior Integridade do músculo puborretal ( ) sim ( ) não 1/3 médio Integridade de esfíncter interno ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Integridade de esfíncter externo ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Medida do corpo perineal:_____________________ Medida do esfíncter interno:___________________ 1/3 inferior Integridade de esfíncter externo ( ) sim ( ) não Localização: _____________ Medida do esfíncter externo:__________________ Obs:_________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 56 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 57 Agachan F, Pfeifer J, Reissman P, Weiss EG, Wexner SD. Anorrectal physiology in the rectal prolapse patient. Tech Coloproctol. 1997; 5:1-5. Almeida AC. Resultados funcionais da operação de Duhamel-Haddad no tratamento do megacólon chagásico. [Tese - Mestrado] Goiânia: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás; 1996. Almeida AD. Sigmoidectomia abdominal no tratamento do megacolo. Rev Paul Med. 1963; 62: 349-60. Andrade SG, Andrade ZA. Doença de Chagas e alterações neuronais no plexo de Auerback. (Estudo experimental em camundongos). Rev Inst Med Trop São Paulo. 1966; 8:219-24. Bannister JJ, Abouzecky L, Read NW. Effect of aging on anorectal function. Gut. 1987; 28: 353-7. Baptista CS, Vêncio RZ, Abdala S, Carranza JC, Westenberger SJ, Silva MN, et al. Differential transcription profiles in Trypanosoma cruzi associated with clinical forms of Chagas disease: Maxicircle NADH dehydrogenase subunit 7 gene truncation in asymptomatic patient isolates. Mol Biochem Parasitol. 2006; 150:236-48. Bartram CI, Turnbull GK, Lennard-Jones JE. Evacuation proctography: An investigation of rectal expulsion in XX subjects without defecatory disturbances. Gastrointest Radiol. 1988; 13:72-80. Berkelmans I, Heresbach D, Leroi AM, Touchais JY, Martin PA, Weber J, et al. Perineal descent at defecography in women with straining at stool: a lack of specificity or predictive value for future anal incontinence? Eur J Gastroenterol Hepatol. 1995; 7:75-9. Bernardes de Oliveira A, Oliveira C, Goldenberg S. A anastomose ano-reto-cólica no tratamento cirúrgico do megacólon (operação de Duhamel). An Paul Med Cir. 1965; 89:45-61; 83-94; 103-18. Bessa MO, Moreira Jr H, Azevedo IF, Neves T, Guerra MLSR, Silva AG, et al. Impacto da eletromanometria anorretal na avaliação de 150 pacientes consecutivos encaminhados ao ambulatório de fisiologia anorretal. Rev Bras Coloproctol. 2007; 27:25-6. Broden B, Snellman B. Procidentia of the rectum studied with cineradiography: a contribution to the discussion of causative mechanism. Dis Colon Rectum. 1968; 11:330-47. Capelhuchnik P, Silva Prado W. Hemicolectomia esquerda no tratamento do megacólon-resultado em 57 casos. In: Congresso da International Society of University Colon and Rectal Surgeons. [Anais] São Paulo; 1970. Cardoso AA. Modificação na técnica de anastomose cólon-retal na cirurgia do megacólon chagásico. Rev Bras Cir. 1963; 15:16-22. 58 Caruana BJ, Wald A, Hinds JP, Eidelman BH. Anorectal sensory and motor function in neurogenic fecal incontinence. Comparisson between multiple sclerosis and diabetes mellitus. Gastroenterology. 1991; 100:465-70. Cavenaghi S, Felicio OC, Ronchi LS, Cunrath GS, Melo MM, Netinho JG. Prevalence of rectoanal inhibitory reflex in chagasic megacolon. Arq Gastroenterol.. 2008; 45:128-31. Celso NM. Tratamento do megacolo adquirido pela anorretomiectomia. Rev Assoc Med Minas Gerais. 1962;13:139-46. Chagas C. Nova tripanossomíase humana. Estudos sobre a morfologia e o ciclo evolutivo do Schyzotrypanum cruzi n. gen., n. sp., agente etiológico de nova entidade mórbida do homem. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 1909; 1:159-218. Chagas C. Tripanosomíase americana, forma aguda da moléstia. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 1916; 8:37-60. Coller JA. Clinical application of anorrectal manometry. Gastroenterol Clin North Am. 1987; 16:17-33. Covarrubias C, Cortez M, Ferreira D, Yoshida N. Interaction with host factors exacerbates cell invasion capacity upon oral infection. Int J Parasitol. 2007; 37:160916. Cutait DE. Megacolo. Nova técnica de retossigmoidectomia abdômino- perineal sem colostomia. In: 1º Congresso Latino-Americano, 11º Internacional e 10º Brasileiro de Proctologia. [Anais]. São Paulo. 1960; 2:831-46. Davies MR, Cywes S, Rode H. The manometric evaluation of the rectosphincteric reflex in total colonic aganglionosis. J Pediatr. Surg. 1981; 16:660-3. D’Avila DA, Macedo AM, Valadares HM, Gontijo ED, de Castro AM, Machado CR, et al. Probing population dynamics of Trypanosoma cruzi during progression of the chronic phase in chagasic patients. J Clin Microbiol.. 2009; 47:1718-25. Denny-Brown D, Robertson EG. An investigation of the nervous control of defecation. Brain. 1935; 58:256-307. Deveaux PJ, Galandiuk S. Etiology of acquired colorectal disease: constipation. In: Wexner SD, Duthie GS. (Eds). Constipation: etiology, evaluation, and management 2nd ed. London: Springer; 2006. p.15-24 Duhamel B. Une nouvelle operation pour le megacólon congenital: L’abaissement retro-rectal et trans-anal du cólon et son aplicattion possible au traitment de quelques autres malformations. Presse Med. 1956; 64:2249-50. Duthie HL, Watts JM. Contribution of the external anal sphincter to the pressure zone in the anal canal. Gut. 1965; 6:64-8. 59 Eckardt VF, Elmer T. Reliability of anal pressure measurements. Dis Colon Rectum. 1991; 34:72-7. Enck P, Kuhlbusch R, Lübke H, Frieling T, Erckenbrecht JF. Age and sex and anorrectal manometry in incontinence. Dis Colon Rectum. 1989; 32:1026-30. Enck P, Eggers E, Koletzko S, Erckenbrecht JF. Spontaneous variation of anal “resting” pressure in healthy humans. Am J Physiol. 1991; 261:G823-6. Espinoza B, Rico T, Sosa S, Oaxaca E, Vizcaino-Castillo A, Caballero ML, et al. Mexican Trypanosoma cruzi T. cruzi I strains with different degrees of virulence induce diverse humoral and cellular immune responses in a murine experimental infection model.J Biomed Biotechnol. 2010; 2010: 890672. Fang CB, Klug WA, Aguida HASC, Ortiz JÁ, Capelhunik P. Avaliação das pressões anais em doentes com o megacólon chagásico. Rev Bras Colo-Proctol. 1998; 18:173-7. Farouk R, Duthie GC, Bartolo DC, MacGregor AB. Restoration of continence following rectopexy for rectal prolapse and recovery of the internal anal sphicter electromyogram. Br. J. Surg. 1992; 79:439-40. Felt-Bersma RJ, Klinkenberg-Knol EC, Meuwissen SG. Investigation of anorectal function. Br J Surg. 1988; 75:53-5. Ferreira-Santos R. Simpósio sobre tratamento cirúrgico do megacólon. In: Congresso da Associação Medica de Minas Gerais, 1967. Ferreira-Santos R, Carril CF. Megacólon chagásico – Análise de 36 casos tratados cirurgicamente. 1º Congresso Latino Americano, 2º Internacional e 10º Brasileiro de Proctologia. [Anais] São Paulo. 1960; 2:863-5. Gowers WR. The automatic action of the sphincter ani. Proc R Soc London. 1877; 26:77-84. Habr-Gama A. Motilidade do cólon sigmóide e do reto. Contribuição à fisiopatologia do megacólon chagásico. [Tese - Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1966. Habr-Gama A, Costa Curta L, Raia A. Anatomia e fisiologia do esfíncter interno do ânus. Rev Soc Bras Proctol. 1970; 3:21-30. Haddad J, Raia A, Corrêa-Neto A. Abaixamento retro-retal do cólon com colostomia perineal no tratamento do megacólon adquirido. Rev Assoc Med Bras. 1965; 11:83-8. Hancock BD, Smith K. The internal sphincter and Lord´s procedure for haemorrhoids. Br J Surg. 1975; 62:833-6. Ihre T. Studies on anal function in continent and incontinent patients. Gastroenterol Suppl. 1974; 25:1-64. Scand J 60 Jorge JMN, Wexner SD, Machetti F, Rosato GO, Sullivan ML, Jagelman DG. How reliable are currently available methods of measuring the anorectal angle? Dis Colon Rectum. 1992; 35:332-8. Jorge JMN, Wexner SD. Anorectal manometry: techniques and clinical applications. South Med J. 1993a; 86:924-31. Jorge JMN, Wexner SD. A practical guide to basic anorectal physiology investigations. Contemp Surg. 1993b; 43:214-24. Jorge JMN, Wexner SD, Ger GC, Salanga VD, Nogueras JJ, Jagelmann DG. Cinedefecography and electromyography in the diagnosis of nonrelaxing puborectalis syndrome. Dis Colon Rectum. 1993c; 36:668-76. Jorge JM, Wexner SD. Etiology and management of fecal incontinence. Dis Colon Rectum 1993d; 36:77-97 Jorge JMN, Yang YK, Wexner SD. Incidence and clinical significance of sigmoidoceles as determined by a new classification system. Dis Colon Rectum. 1994; 37:1112-7. Kara S, Istek D, Okandan M. Low cost instrumentation for the diagnoses of Hirschsprung´s disease. J Med Syst. 2003; 27:157-62. Karulf RE, Coller JA, Bartolo DC, Bowden DO, Roberts PL, Murray JJ, et al. Anorectal physiology testing. A survey of availability and use. Dis Colon Rectum. 1991; 34:464-8. Köberle F, Nador E. Etiologia e patogenia do megaesôfago no Brasil. Rev Paul Med. 1955; 47:643-61. Köberle F. Patogênese dos megas. Rev Goiana Med. 1956; 2:101-10. Köberle F. Patogenia da moléstia de Chagas. Estudos dos órgãos musculares ôcos. Rev Goiana de Med. 1957; 3:155-80. Köberle F. Megacólon. J Trop Med Hyg. 1958; 61:21-4. Köberle F. Aperistalcis chagásica do intestino grosso. Estudo quantitativo dos neurônios do plexo de Auerback. [Comunicação]. Congresso Internacional sobre Doença de Chagas. Rio de Janeiro, 5 a 11 de julho de 1959. Köeberle F. Patologia y anatomia patológica de la enfermedad de Chagas. Bol Oficina Sanit Panam. 1961; 51:404-28. Köberle F. Enteromegaly and cardiomegaly in Chagas’s disease. Gut. 1963; 4:399-405. 61 Kuijpers HC, Bleijenberg G, De Morree H. The spastic pelvic floor syndrome. Large bowel outlet obstruction caused by pelvic floor disfuntion: A radiological study. Int J Colorectal Dis. 1986; 1:44-8. Kuypers JH. Anal manometry, its applications and indications. Neth J Surg. 1982; 34: 153-8. Lages-Silva E, Ramirez LE, Pedrosa AL, Crema E, da Cunha Galvão LM, Junho Pena SD, et al. Variability of kinetoplast DNA gene signatures of Trypanosoma cruzi II strains from patients with different clinical forms of Chagas' disease in Brazil. J Clin Microbiol. 2006; 44:2167-71. Laurberg S, Swash M. Effects of aging on the aorectal sphincters and their inervation. Dis Colon Rectum. 1989; 32:737-42. Lestar B, Penninckx F, Kerremans R. The composition of anal basal pressures. Int J Colorectal Dis. 1989; 89:118-22. Lins Neto MAF. Operação de Duhamel modificada com anastomose colorretal imediata para o tratamento do megacólon chagásico. [Tese - Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1997. Loening-Baucke V, Anuras S. Effects of age and sex on anorectal manometry. Am J Gastroenterol. 1985; 80:50-3. Lowry AC, Simmang CL, Boulos P, Farmer KC, Kinan PJ, Hyman N, et al. Consensus statement of definitions for anorectal physiology and rectal cancer. Colorectal Dis. 2001; 3:272-5. Luquetti AO. Chagas disease and national social security. The main cause of incapacity for work among infectious and parasitic diseases in Goiás state. In: 31º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Goiânia, 3-7 março,1996. Mahieu P, Pringot J, Bodart P. Defecography: I. Description of a new procedure and results in normal patients. Gastrointest Radiol.1984a; 9:247-51. Mahieu P, Pringot J, Bodart P. Defecography: II. Contribution to diagnosis of defecation disorders. Gastrointest Radiol. 1984b; 9:253-61. Manoel-Caetano FS, Silva AE. Implications of genetic variability of Trypanosoma cruzi for the pathogenesis of Chagas disease. Cad Saude Publica. 2007; 23: 2263-74. Matos D, Oliveira E, Chacon JP. Eletromanometria ano-retal: Sua avaliação nos pessoas normais e naqueles portadores de megacólon chagásico. Rev Col Bras Cir. 1981; 8:140-5. Matos D, Barone B, Chacon JP. Avaliação clínica e eletromanométrico em pacientes portadores de megacólon chagásico submetidos à sigmoidectomia associada à anorretomiectomia. Rev Bras Colo-Proctol. 1985; 5:22-4. 62 McHugh SM, Diamant NE. Effect of age, gender, and parity on anal canal pressures. Contribution of impaired anal sphincter function to fecal incontinence. Dig Dis Sci. 1987; 32:726-32. Miller R, Lewis GT, Bartoo DC, Cervero F, Mortensen NJ. Sensory discrimination and dynamic activity in the anorectum: evidence using a new ambulatory technique. Br J Surg. 1988; 75: 1003-7. Moreira H. Tratamento do megacólon chagásico pela técnica de Duhamel-Haddad. Experiência pessoal. Arq Gastroenterol. 1971; 8:185-90. Moreira H. Estudo eletromanométrico da atividade motora do coto retal e do cólon descendente em pacientes chagásicos submetidos às cirurgias de Hartmann e de Duhamel. [Tese - Mestrado]. Goiânia: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás; 1972. Moreira H. Contribuição ao estudo da fisiopatologia no tratamento cirúrgico do megacólon chagásico. In: Manzione A. (Ed.). Patologia colo-retal. São Paulo: Kronos; 1974. p.243-50. Moreira H. Megacólon chagásico. In: Speranzini M, Ramos M. Manual do residente de cirurgia. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1981. p.286-92. Moreira H. Tratamento cirúrgico do megacolo chagásico pela técnica de DuhamelHaddad. Aspectos técnicos. In. Pinotti HW. Atualização cirúrgica. São Paulo: Robe; 1982. v. 7, p.161-82. Moreira H, Rezende JM, Sebba F, Azevedo IF, Leite ACA, Soares EP. Chagasic megacólon. Coloproctology. 1985; 5:260-6. Moreira H, Rezende JM. Megacólon chagásico: clínica, diagnóstico e tratamento. In: Moreira H. (Ed.) Coloproctologia: conceitos. Goiânia: Escaleno; 1993. p.15-60. Moreira H, Oliveira EC, Teixeira Moreira JP, Moreira Jr H, Leite AC, Luquetti AO. Megacólon e megaesôfago chagásicos, influência do sexo nas diferentes formas de doença. Rev Soc Bras Med Trop. 1993; 26(supl.II):122. Moreira H. Megacólon chagásico. In: Cordeiro F, Meneghelli U, Resende JM (Eds). Federação Brasileira de Gastroenterologia. A gastroenterologia no Brasil: subsídios para sua história até o ano 2000. Rio de Janeiro: Revinter; 2001. p.377-407. Moreira H, Moreira JPT, Moreira Jr H. Avaliação crítica do tratamento cirúrgico de megacólon chagásico. Castro LP, Savassi-Rocha PR, Lacerda Filho A, Conceição AS, (Eds) Tópicos em Gastroenterologia 11 - Avanços em coloproctologia. Rio de Janeiro: Medsi; 2001. p.403-13. Moreira JPT. Avaliação eletromanométrica no pré e no pós operatório de pacientes portadores de megacolon chagásico submetidos á cirurgia de Duhamel. [Tese Mestrado] Goiânia: Instituto de Patologia Tropical -Universidade Federal de Goiás; 2001. 63 Moreira Jr H, Wexner SD. Anorectal physiologic testing. In: Beck DE, Wexner SD. (Eds) Fundamentals of anorectal surgery. 2nd ed. London: WB Saunders; 1998. p.3753. Moreira Jr H, Oliveira TS. Avaliação eletromanometrica na colopatia chagásica. In: Castro LC. (Ed). Fisiologia anoretal. Rio de Janeiro: Rúbio; 2010. p. 215-24. Osatakul S, Patrapinyokul S, Osatakul N. The diagnostic value of anorectal manometry as a screening test for Hirschsprung`s disease. J Med AssocThai. 1999; 82:1100-5. Pan Américan Health Organization. Status of Chagas´s disease in the region of the Americas. Epidemiol Bull. 1984; 5:5-9. Paula Pinto E. Tratamento cirúrgico do megacólon adquirido.1º Congresso Latino Americano, 2º Internacional e 10º Brasileiro de Proctologia. [Anais] São Paulo. 1960; 1:294-5. Pemberton JH. Anatomy and physiology of the anus and rectum. In: Zuidema GD. Shackelford’s surgery of the alimentary tract. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 1991. p.242-74. Pezim ME, Pemberton JH, Levin KE, Lichy WJ, Philips SF. Parameters of anorectal and colonic motility in health and in severe constipation. Dis Colon Rectum. 1993; 36:484-91. Porter WE, Steele A, Walsh P, Hohli N, Karram MN. The anatomic and functional outcomes of defect specific rectocele repairs. Am J Obstet Gynecol. 1999; 181:1353-8. Rao SS, Hatfield R, Soffer E, Rao S, Beaty J, Conklin JL Manometric tests of anorectal function in healthy humans. Am J Gastroenterol. 1999; 94:773-83. Rasmussen OO. Anorectal function. Dis Colon Rectum. 1994; 37:386-403. Rezende JM, Moreira H. Megacolo Chagásico. In: Porto JAF. Clínica das doenças intestinais. Rio de Janeiro: Atheneu; 1978. p. 451-74 Rezende JM. Manifestações digestivas da Doença de Chagas. In: Dani R, Castro L. Gastroenterologia Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1981. p.1142-68. Rezende JM, Moreira H. Chagasic megaesophagus and megacolon: historical review and present consepts. Arq Gastroenterol. 1988; 25(special issue):32-43. Rezende JM, Luqueti AO. Chagasic megavisceras. In: Pan American Health Organization (Ed.) Chagas' disease and the nervous system. Washington: PAHO/WHO; 1994. p.149-71. (Scientific Publication No. 547) Roellig DM, McMillan K, Ellis AE, Vanderberg JL, Champagne DE, Yabsley MJ. Experimental infection of two South American reservoirs with four distinct strains of Trypanosoma cruzi. Parasitology. 2010; 137:959-66. 64 Santos, SL, Barcelos IK, Mesquita MA. Total and segmental colonic transit time in constipated patients with Chaga’s disease without megaesophagus or megacólon. Braz J Med Biol Res. 2000; 33:43-9. Sebba F. Tratamento cirúrgico do megacólon chagásico pela operação Duhamel, com contribuição de nova conduta cirúrgica no volvo da sigmóide. [Tese – Livre Docência]. Goiânia: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás; 1971. Silva Prado, W. Estado atual do tratamento cirúrgico do megacólon. Simpósio. In: 16º Congresso Brasileiro de Proctologia, São Paulo, 1966. Silveira CA, Sakamoto T. Importância médico-social da doença de Chagas no Brasil e de seu controle. Rev Bras Malariol DoençasTrop.. 1983; 35:127-34. Simonsen O, Habr-Gama A, Gazal P. Retossigmoidectomia endoanal com ressecção da mucosa retal. Rev Paul Med. 1960; 57:116-7. Stein BL, Roberts PL. Manometry and the rectoanal inhibitory reflex. In: Wexner SD, Bartolo DCC. (Eds). Constipation: Etiology, evaluation and management. Oxford: Butterworth Heineman; 1995. p 63-76. Sun WM, Rao SS. Manometric assessment of anorectal function. Gastroenterol Clin. North Am. 2001; 30:15-32. Sun WM, Read NW. Anorectal function in normal human subjects: effect of gender. Int J Colorectal Dis. 1989; 4:188-96. Taylor BM, Beart RW Jr, Phillips SF. Longitudinal and radial variations of pressure in the human anal sphincter. Gastroenterology. 1984; 86:693-7. Turnbull GK, Bartram CI, Lennard-Jones JE. Radiology studies of rectal evacuation in adults with idiopathic constipation. Dis Colon Rectum. 1988; 31:190-7 Vaizey CJ, Kamn MA. Prospective assessment of the clinical value of anorectal investigation. Digestion. 2000; 61:207-14. Vasconcelos E. Nova técnica de abaixamento do cólon sem suturas, no megacólon. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo. 1961; 16:355-62. Vasconcelos E. Colectomia sub-total e anastomose ceco-retal no tratamento do megacólon do adulto. Rev Hosp Clin Fac Med São Paulo. 1964; 19:332-7. Wallden L. Defecation block in cases of deep rectogenital pouch. Acta Chir Scand. 1952; 103: 236-8. Zicker F, Oliveira RM, Luquetti AO, Oliveira OS, Smith PG. Seroprevalence of Trypanosoma cruzi infection among unskilled urban workers in central Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1989; 83:511-3. 65 FONTES CONSULTADAS 66 Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR-6023: Informação e documentação, referências-elaboração. Rio de Janeiro; 2000. Cunha AC. Estrutura e Apresentação de Dissertações e teses. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1991. 48p. Guedes MLS; Guedes JS. Descrição da amostra: Tabelas e gráficos. In: Guedes MLS; Guedes JS Bioestatística para profissionais de saúde. Rio de Janeiro: Ao livro técnico; 1988. p.43-58. International Commitee of Medical Journal Editors. Uniform Requerimets for manuscripts Submitted to Biomedical Journals. N Eng J Méd. 1997; 336(4): 309-16. Rother ET, Braga MER. Como elaborar sua tese: estrutura e referências. São Paulo, 2001.85p. Walker JR. MLA. Style citations of electronic sources. [online]. Available from: <http://www.cas.usf.edu/english/walker/mla.html> 67 RESUMO 68 A cirurgia de Duhamel é uma das técnicas mais difundidas para o tratamento do megacólon chagásico. O objetivo deste estudo é avaliar as alterações anatômicas e fisiológicas do diafragma pélvico de pacientes portadores de colopatia chagásica, e as mudanças ocorridas após serem submetidos à cirurgia de Duhamel, utilizando-se como instrumentos de avaliação os exames de cinedefecografia(CD), eletromanometria anorretal(EMN) e o ultrassom do canal anal(US). Foram estudados 20 pacientes, sendo 16 mulheres, com média de idade de 53,2 anos. Observou-se melhora clínica significativa dos pacientes após a cirurgia (ritmo intestinal mudou de uma evacuação a cada 10 dias para uma evacuação diária; no pré-operatório, 16 pacientes faziam uso de laxantes e somente um o fazia, intermitentemente, no pós-operatório). Todos os pacientes apresentavam acalásia do esfíncter interno do ânus, e assim permaneceram no pós-operatório. A EMN evidenciou ainda uma diminuição significativa das pressões anais de repouso(PR), contração voluntária(PCV), e da capacidade retal(CR) - (PR = 60,88 vs 37,2 mmHg, com p<0,001; PCV= 146,56 vs 122,2 mmHg, p<0,004 e CR= 244,3 vs161,25 ml, p=0,01). A US evidenciou, no pós-operatório, que em 75% dos casos estudados há alterações anatômicas do esfíncter interno na porção posterior do canal anal, que coincide com o local de abaixamento do cólon ( 3 lesões parciais, 12 afilamentos do esfíncter interno e presença de fibrose tecidual perimuscular). A CD constatou, durante o esforço evacuatório no pré-operatório, um tempo prolongado de abertura do canal anal apesar do relaxamento adequado do puborretal, em 95% dos pacientes. Oitenta e cinco por cento dos pacientes, no pré-operatório, apresentaram sensação de evacuação incompleta a despeito de grande esforço evacuatório. O esvaziamento da ampola retal, observado durante a cinedefecografia pós-operatória, se processou mais rapidamente e com menor esforço quando comparado com os achados pré-operatórios. As médias do descenso perineal estático e dinâmico, no pós-operatório, diminuíram quando comparadas com os valores observados no pré-operatório, entretanto, sem diferença estatisticamente significante. Apenas 25 por cento dos pacientes, no pós-operatório, apresentaram sensação de evacuação incompleta do conteúdo retal, sendo um deles portador de retocele significativa. Observamos uma mudança significativa do ângulo anorretal no pós-operatório, com abertura do ângulo anorretal, tanto durante o repouso como durante o esforço evacuatório. Concluímos que as alterações anatômicas e funcionais do diafragma pélvico são significativas após a cirurgia de Duhamel e que ela determina, em conjunto, a melhoria clínica dos pacientes. 69 Palavras-chave: Doença de Chagas, Megacolon/cirurgia, Constipação intestinal, Canal anal, Procedimentos cirúrgicos do sistema digestório, Cuidados pré-operatórios, Cuidados pós-operatórios, Avaliação 70 ABSTRACT 71 The physiopathology basis for chagasic megacolon includes interna sphincter achalasia and recto-colic motor incoordenation. Duhamel´s surgery is one of the most popular technique used for the treatment of such condition. The aim of this study was to evaluate anatomical and functional changes of the pelvic floor in patients with chagasic megacolon who underwent Duhamel´s surgery, using physiologic test in the pre and post operative time. We studied 20 patients, 16 females, with a mean age of 53,2 years old. We observed a significant improvement in symptoms after surgery ( a change in bowel frequency from once every 10 days to a daily bowel movement; 16 vs 1 patients had to use laxatives in the pre ad pos operative period, respectively). All patients had achalasia of the internal anal sphincter in both periods of observation (pre and post-operative time). Anal manometry showed as well a significant decrease of the resting a squeeze anal pressures in the post operative time ( 60,88 mmHg to 37,2 mmHg, p<0,001; 146,56 mmHg to 122,2 mmHg, p<0,004, respectively) Rectal capacity also decreased significantly in the post operative time ( 244,3 ml to 161,25 ml, p=0,01). Anal ultrasound showed, in the post-operative, that 75% of the cases had some anatomical abnormalities in the posterior hemicircunference of the anal canal (3 partial lesions, 12 thinner internal sphincter, and fibrotic tissue surrounding the muscle fibers). Cinedefecography demonstrated that, in the preoperative period, a prolonged time is needed to open the anal canal, despite of an adequate relaxation of the puborretalis muscle, in 95% of the cases. Moreover, 85% also presented sensation of incomplete evacuation despite of a tremendous straining maneuver. After surgery, rectal emptiness processed in a faster and easier way. The mean static and dynamic perineal descent diminished in the post-operative period, however with no statistical significance. Only 25% of the patients, in the post-operative period, reported sensation of incomplete evacuation, including one patient with a large rectocele. There was a significant change in the anorretal angle in the post-operative time, which has become more obtuse during resting as pushing phase, facilitating rectal empting. We concluded that anatomical and functional changes of the pelvic floor are significant after Duhamel´s surgical procedure, and they play an important role in the clinical improvement of the patients in the post-operative time. Key words: Chagas Disease, Megacolon, Constipation, Anal canal, Digestive system surgical procedures, Preoperative care, Postoperative care 72 APÊNDICES 73 Termo de consentimento livre e esclarecido Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Meu nome é Hélio Moreira Júnior, sou o pesquisador responsável e minha especialidade médica é Coloproctologia, ou seja, tratamento de doenças do intestino. Após ler com atenção este documento e ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o pesquisador responsável, Dr. Hélio Moreira Júnior no telefone: 3225 93 00. Em caso de dúvidas sobre os seus direitos como participante nesta pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, nos telefones: 3269 83 38 – 3269 84 26. Informações importantes sobre a pesquisa AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES ANATOMOFUNCIONAIS DO ASSOALHO PÉLVICO DE PACIENTES PORTADORES DE COLOPATIA CHAGÁSICA SUBMETIDOS À CIRURGIA DE DUHAMEL POR INTERMÉDIO DA CINEDEFECOGRAFIA, DO ULTRASSOM DE CANAL ANAL E DA ELETROMANOMETRIA ANORRETAL. • INFORMAÇÕES SOBRE QUEM ESTÁ APLICANDO O TERMO DE CONSENTIMENTO: Dr. Hélio Moreira Júnior, sou médico coloproctologista, fiz pós-graduação na Cleveland Clinic Florida – Estados Unidos, mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo, atualmente cursando doutorado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Sou atualmente professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás e coordenador do curso de especialização em Coloproctologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina – Universidade Federal de Goiás. • OBJETIVOS DA PESQUISA: A Doença de Chagas, apesar da diminuição de sua frequência na população, ainda é uma doença bastante comum no Brasil, principalmente na região centro-oeste, norte de Minas Gerais e Bahia. O Brasil tem entre três a quatro milhões de pacientes chagásicos, com grandes variações regionais no número de casos da doença. Cerca de 60% dos pacientes contaminados pela doença de Chagas desenvolverão alguma manifestação clínica da doença, que pode ser dividida em dois grupos principais: 1- Sintomas cardíacos 2- Sintomas digestivos a. Dificuldade para engolir – doença no esôfago ou megaesôfago chagásico. b. Intestino preso – doença no intestino ou megacólon chagásico. Uma grande variedade de cirurgias é descrita para o tratamento do megacólon chagásico. Algumas técnicas foram abandonadas porque os pacientes apresentaram retorno dos sintomas de prisão de ventre, outras por apresentarem complicações decorrentes da cirurgia realizada. A explicação para existir esta enorme quantidade de técnicas cirúrgicas propostas para o tratamento cirúrgico do megacólon chagásico se deve a falta de um conhecimento preciso sobre o tipo de 74 alterações provocadas no intestino pela doença. O Serviço de Coloproctologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, desde 1966 realiza como rotina, a cirurgia de Duhamel, para o tratamento cirúrgico do megacólon chagásico. Apesar de resultados pósoperatórios satisfatórios, permanecemos ainda sem compreender o porquê de uma pequena parte de pacientes não apresentam um resultado satisfatório após o tratamento cirúrgico. Portanto, o objetivo deste estudo é o de avaliar as possíveis alterações que a doença de Chagas provoca no intestino determinando o aparecimento de sintomas de prisão de ventre, através de três exames a serem realizados antes e depois da cirurgia: Cinedefecografia, Eletromanometria anorretal, e Ultrassom de canal anal. DETALHAMENTO DOS PROCEDIMENTOS: CINEDEFECOGRAFIA: 1. Paciente realizará uma lavagem intestinal, 3h antes da realização do exame. 2. Paciente será posicionado deitado, em uma mesa de radiografia. 3. Cerca de 80 g (o suficiente para o paciente ter a sensação de que quer evacuar) de uma mistura de fubá de milho e suspensão de sulfato de bário (contraste), tendo como resultado uma massa de consistência pastosa, será injetado no reto do paciente através de uma sonda de plástico de 1 cm de diâmetro, macia e descartável. 4. Paciente ficará sentado em um recipiente parecido com o vaso sanitário 5. Serão a seguir realizadas radiografias durante a evacuação do contraste. 6. O tempo médio deste exame é de 15 minutos. ELETROMANOMETRIA ANORRETAL: 1. Paciente realiza uma lavagem intestinal 2 horas antes do exame 2. Antes de iniciar-se o exame, o paciente é orientado sobre os seus objetivos, assim como as manobras a serem realizadas durante o procedimento (contração do canal anal, repouso e esforço evacuatório). 3. É introduzida pelo reto sonda de 0,3 cm de diâmetro. 4. São feitas as medidas de pressão do canal anal durante o repouso, contração voluntária (solicitase ao paciente para apertar o canal anal como se fosse evitar a evacuação) e finalmente de esforço evacuatório (solicita-se ao paciente para fazer esforço para evacuar). 5. O tempo médio deste exame é de 10 minutos. ULTRASSOM DE CANAL ANAL: 1. Não é necessário preparo intestinal. 2. O paciente fica deitado, de lado, durante o exame. 3. O exame é realizado com a introdução de uma sonda de 1,5 cm de diâmetro pelo reto. 4. O tempo de duração deste exame é de cerca de 6 minutos. 75 OBS: Os três exames causam mínimo desconforto para o paciente. Durante os exames, será proibida a entrada ao ambiente de trabalho de pessoas que não pertençam à equipe médica, diminuindo o constrangimento do paciente. Os exames acima citados são eventualmente realizados na avaliação pré e pós-operatória de pacientes portadores de megacólon chagásico submetidos ao tratamento cirúrgico. Entretanto, neste estudo, aqueles pacientes que participarem serão submetidos aos três exames no pré-operatório e três meses após a cirurgia. Possuímos no nosso Serviço de Coloproctologia, ambulatório específico para o atendimento de paciente portador de megacólon chagásico. Após a cirurgia, você será acompanhado pela equipe médica da coloproctologia do HC/UFG a curto, médio e longo prazo, dependendo dos resultados obtidos com o tratamento proposto. Os três exames a serem realizados, tanto no pré como no pós-operatório, apresentam pouco risco a sua saúde. Entretanto, eventualidades, mesmo sendo raras, podem acontecer. O bário, contraste que será utilizado durante o exame de cinedefecografia, é uma substância que não é absorvida pelo intestino, e, portanto não causa mal a saúde. Entretanto, caso ocorra perfuração do intestino (situação muito rara de acontecer), pode causar infecção. O exame não causa dor e é bem tolerado. Todo material introduzido pelo canal anal é devidamente estéril ou descartável, eliminando o risco de infecção devido à contaminação. A eletromanometria e ultrassom do canal anal não apresentam nenhum risco a sua saúde. Não se utiliza contraste, e todo material introduzido pelo canal anal é estéril ou descartável. O desconforto é mínimo (não irá sentir dor) por tratar-se de uma sonda macia e de pequeno calibre. Não haverá nenhuma forma de pagamento pela sua participação neste referido estudo. Entretanto, a realização destes exames poderá evidenciar alterações causadas pela doença de Chagas no seu intestino até o momento desconhecidas pela medicina, e consequentemente, no futuro, determinar formas alternativas de tratamento. Os dados coletados pelo presente estudo se referem ao período antes da sua cirurgia e 3 meses após o tratamento cirúrgico. Sua inclusão neste estudo tem garantida a confidencialidade (segredo médico) e privacidade (seu nome será mantido em segredo, não sendo possível sua identificação) às informações coletadas, mesmo quando da sua divulgação. Você poderá suspender este tratamento a qualquer momento, sem que este fato implique em qualquer forma de constrangimento entre você e o médico, que se dispõe a continuar tratá-lo em quaisquer circunstâncias. _______________________________________________________________ Dr. Hélio Moreira Júnior. 76 CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA PESQUISA Eu, _____________________________________________________________________________ , RG _____________________________ CPF _________________________________ Nº. de prontuário ___________________ abaixo assinado, concordo em participar do estudo AVALIAÇÃO DA OBSTRUÇÃO DE SAÍDA EM PACIENTES PORTADORES DE COLOPATIA CHAGÁSICA ATRAVÉS DA CINEDEFECOGRAFIA E ELETROMANOMETRIA ANORRETAL, sob a responsabilidade do Dr. Hélio Moreira Júnior, como sujeito voluntário. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador _______________________________________________ sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/ assistência/ tratamento. Local e data _____/_______/___________. Nome e Assinatura do paciente: ______________________________________________________________________________ Assinatura Dactiloscópica: Nome e assinatura do Pesquisador Responsável: ________________________________________________________________ Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimento sobre a pesquisa e aceite do sujeito em participar. Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores): Nome: ________________________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________________ Nome: ________________________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________________ 77 Aprovação do Comitê de Ética Médica