“Características biogenéticas e de resistência ao mercúrio em amostras de Escherichia coli isoladas de sistemas aquáticos no Rio de Janeiro” por Raquel Costa de Luca Rebello Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Pública. Orientadora principal: Prof.ª Dr.ª Adriana Hamond Regua Mangia Segundo orientador: Prof. Dr. Paulo Rubens Guimarães Barrocas Rio de Janeiro, fevereiro de 2012. Esta dissertação, intitulada “Características biogenéticas e de resistência ao mercúrio em amostras de Escherichia coli isoladas de sistemas aquáticos no Rio de Janeiro” apresentada por Raquel Costa de Luca Rebello foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof. Dr. Dennys Monteiro Girao Prof.ª Dr.ª Joseli Maria da Rocha Nogueira Prof.ª Dr.ª Adriana Hamond Regua Mangia – Orientadora principal Dissertação defendida e aprovada em 28 de fevereiro de 2012. Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública R291 Rebello, Raquel Costa de Luca Características biogenéticas e de resistência ao mercúrio em amostras de Escherichia coli isoladas de sistemas aquáticos no Rio de Janeiro. / Raquel Costa de Luca Rebello. -- 2012. xxii,121 f. : il. ; tab. ; graf. Orientador: Mangia, Adriana Hamond Regua Barrocas, Paulo Rubens Guimarães Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2012 1. Escherichia coli. 2. Mercúrio-análise. 3. Variação Genética. 4. Ambiente Aquático. 5. Virulência. I. Título. CDD - 22.ed. – 363.73098153 Este trabalho foi realizado no Departamento de Ciências Biológicas (DCB) e no Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz, com auxílio financeiro da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). iii Ao meu pai Aluizio de Luca Rebello, minha mãe Sonia Bretz Costa, e aos meus avôs maternos Edilberto Bacellar Costa e Wilma Bretz Costa in memoriam todo o meu amor e imensa saudade. iv AGRADECIMENTOS A minha orientadora da Dissertação de Mestrado Prof. Drª. Adriana Hamond Regua Mangia, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), por todos os ensinamentos durante os quatro anos de trabalho em seu laboratório, por sua confiança, incentivo, dedicação e paciência. Ao meu Segundo orientador Prof. Dr. Paulo Rubens Guimarães Barrocas, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), também por todos os seus muitos ensinamentos durante meu percurso pelo Mestrado. Aos professores do Programa de Saúde Pública Adriana Hamond Regua Mangia, André Reynaldo Santos Périssé, Antonio Nascimento Duarte, Elvira Maria Godinho de Seixas Maciel, Joseli Maria da Rocha Nogueira, Rosemere Duarte, Sonia Duarte de Azevedo Bittencourt e Valmir Laurentino Silva pelas disciplinas ministradas e pela dedicação ao compartilhar seus conhecimentos com os alunos. A todos os componentes do Departamento de Ciências Biológicas (DCB) agradeço de coração pelo acolhimento e colaboração durante esses anos. Agradeço especialmente a técnica Rose Mary Pimentel Bezerra pelos auxílios prestados durante o desenrolar da Dissertação. Ao Prof. Dr. Alexandre Soares Rosado do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMPPG/UFRJ) por ter permitido o desenvolvimento de uma parte de minha Dissertação em seu laboratório. Ao Prof. Dr. Rafael Duarte do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMPPG/UFRJ) por ter cedido gentilmente a sua aluna de doutorado Karen Gomes para me auxiliar na realização da técnica de DGGE. A doutoranda Karen Gomes do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMPPG/UFRJ) por auxiliar na realização da técnica de DGGE. Agradeço enormemente a sua paciência e dedicação. v As alunas do Dr. Paulo Rubens Guimarães Barrocas, Adriana Bezerra de Lima (Mestranda), Ana Claudia Vasconcellos (Doutoranda) e Sheila Duque (Doutoranda) pelos ensinamentos, conversas, amizade e auxílio indispensável no desenvolvimento da minha pesquisa de Mestrado. A Marcelo Sampaio dos Santos Sampaio, técnico do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP) e a Thiago Souza Figueiredo, aluno de Iniciação Científica do Prof. Dr. Paulo Rubens Guimarães Barrocas pelo auxílio prestado durante parte das coletas de campo realizadas neste trabalho. A Prof. Drª. Joseli Maria da Rocha Nogueira, Prof. Dr. Dennys Monteiro Girão, Prof. Dr. Antonio Nascimento Duarte e a Prof. Drª. Flavia Coelho Ribeiro por participarem como componentes da banca de defesa da minha dissertação. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio financeiro concedido durante o mestrado. A minha companheira de subárea que se tornou uma grande amiga Thays Araujo Gonçalves, que por muitas vezes me deu apoio nos momentos mais difíceis enfrentados para concluir a Dissertação. A minhas colegas de laboratório Fernanda Santos e Andréia Santos Silva pelos conselhos e amizade. Aos meus familiares, principalmente ao meu pai Aluizio de Luca Rebello e Sonia Bretz Costa pelo auxílio material, amoroso e de conhecimentos. A minha avó Wilma Bretz Costa in memoriam por todo seu amor por mim e pela vida, por toda a inspiração que por sua causa sempre estará presente em minha vida. Ao meu avô Edilberto Bacellar Costa in memoriam cujas memórias apesar de serem principalmente de minha infância ainda estão muito claras e vivas. As amigas Caroline Brandão, Polliana Lacerda, Isabelle Souza e Julia Rego pelos muitos momentos de descontração. Ao meu namorado Rômulo Pompeu Ferreira pela cumplicidade, companheirismo e amor dedicados a mim. vi “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original” (Albert Einstein) vii RESUMO Escherichia coli é uma bactéria com potencialidades de virulência para seres humanos tendo impacto significativo na Saúde Pública, principalmente, de países em desenvolvimento. Em alguns casos, esta bactéria pode carrear determinantes genéticos de resistência ao mercúrio, o que a torna uma alternativa promissora para processos de biorremediação. O objetivo desse estudo foi isolar amostras de E. coli a partir de ambientes aquáticos no Estado do Rio de Janeiro e investigar características biogenéticas e de resistência ao mercúrio. Para atingir a presente proposta foram realizados testes bacteriológicos para o isolamento, a análise do padrão de susceptibilidade ao mercúrio e a antimicrobianos e, ensaios moleculares de amplificação visando a investigação do potencial de enteropatogenicidade, da diversidade genética e da presença do gene merA. Foram incluídas no estudo 178 amostras de Escherichia coli isoladas de sistemas aquáticos no estado do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos revelaram a presença do gene merA em 14 amostras, cuja diversidade foi revelada por eletroforese em gel desnaturante. A filogrupagem revelou uma população bacteriana distribuída nos grupos A (91,6%), B2 (3,4%) e D (5%) e os genes de enterovirulência foram detectados em 11,2% das amostras permitindo a classificação nos patotipos ETEC, ATEC e STEC. A análise do genoma total por ensaios de amplificação randômica do DNA polimórfico revelou uma elevada diversidade genética entre as amostras de E. coli carreadoras do marcador de resistência ao mercúrio. A resistência aos antimicrobianos foi detectada em 37% das amostras e definiu 23 perfis de resistência distintos (I-XXIII) e o fenótipo de multirresistência foi observado para até 07 dos antimicrobianos testados. Concluimos que amostras de Escherichia coli com propriedades e potencialidades de virulência circulam amplamente em diferentes sistemas aquáticos no Estado do Rio de Janeiro, alertando para ações específicas na área de vigilância epidemiológica. Em função das potencialidades patogênicas nas amostras bacterianas resistentes ao Hg, análises mais precisas são requeridas visando aplicações em processos de biorremediação. Palavras-chave: Escherichia coli, mercúrio, merA, diversidade genética, ecossistemas aquáticos, virulência viii ABSTRACT Escherichia coli is a bacterial specie with virulence potential for humans impacting significantly on public health, especially in developing countries. In some cases, this bacteria carry mercury resistance genetic markers, which makes it a promising alternative for bioremediation processes. The objective of this study was to isolate Escherichia coli from aquatic environments in the state of Rio de Janeiro and to investigate biogenetic characteristics and resistance to mercury. To achieve this proposal bacteriological tests were carried out in order to isolate, to determine antimicrobial and mercury susceptibility, and to investigate the potential of enteropathogenicity, diversity and the presence of the merA gene by molecular approaches. The study included 178 strains of Escherichia coli isolated from different aquatic systems in the state of Rio de Janeiro. The results detected the presence of the merA gene in 14 samples, which diversity was analysed by denaturing gel electrophoresis methodology. Phylogenetic analysis revealed a bacterial population distributed in groups A (91.6%), B2 (3.4%) and D (5%) and enterovirulence genes were detected in 11.2% of the samples allowing classification in ETEC, ATEC, and STEC pathotypes. Random amplification of polymorphic DNA typing revealed a high genetic diversity among mercury resistant bacterial population. Antimicrobial resistance was detected in 37% of the samples and defined 23 distinct profiles (I-XXIII) and multidrug resistance phenotype was observed for up to 07 antimicrobials. The study revealed Escherichia coli strains with virulence properties and potential are circulating widely in different aquatic systems in the state of Rio de Janeiro, alerting to specific actions in the area of surveillance. Due to enteropathogenic potential of E. coli samples resistant to Hg, more accurate analysis is required aiming applications in bioremediation processes. Key-words: Escherichia coli, mercury, merA, genetic diversity, aquatic ecosystems, virulence ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 01 1.1) Contaminação microbiológica dos sistemas aquáticos 01 1.2) Escherichia coli 02 1.3) Patotipos intestinais de Escherichia coli 03 1.3.1) E. coli enteropatogênica (EPEC) e E. coli enteropatogênica atípica (ATEC) 04 1.3.2) E. coli enterotoxigênica (ETEC) 06 1.3.3) E. coli enteroinvasora (EIEC) 07 1.3.4) E. coli produtora de toxina de Shiga (STEC) e E. coli enterohemorrágica (EHEC) 09 1.3.5) E. coli enteroagregativa (EAEC) 10 1.4) Agrupamento filogenético de Escherichia coli 13 1.5) Resistência a antimicrobianos em Escherichia coli 14 1.6) Diversidade genética de populações bacterianas 15 1.7) Escherichia coli ambiental 16 1.8) Contaminação química dos sistemas aquáticos 17 1.9) Mercúrio 17 1.9.1) Toxicologia do mercúrio 18 1.10) Mecanismos de resistência bacteriana ao mercúrio 20 1.11) Co-seleção da resistência a antimicrobianos e a metais 20 1.12) Operon-mer 21 2. OBJETIVOS 24 2.1) Objetivo geral 24 2.2) Objetivos específicos 24 3. ÁREA DE ESTUDO 25 3.1) Águas de regiões de aglomerados residenciais 25 3.2) Águas de regiões industriais 25 3.3) Águas de regiões de agropecuária 25 3.4) Águas próximas a hospitais 26 3.5) Águas recreacionais 26 x 4. METODOLOGIA 28 4.1) Coleta de água 28 4.2) Isolamento e identificação de Escherichia coli 28 4.3) Estocagem das cepas de Escherichia coli 30 4.4) Avaliação da susceptibilidade ao mercúrio 30 4.4.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio 30 4.4.2) Determinação da concentração mínima inibitória (CMI) 30 4.5) Avaliação da susceptibilidade aos antimicrobianos 31 4.6) Extração do DNA bacteriano 32 4.7) PCR para amplificação do gene merA 32 4.7.1) Reação de PCR 32 4.7.2) Condições de eletroforese 32 4.8) PCR-Triplex para agrupamento filogenético de Escherichia coli 33 4.8.1) Reação de PCR 33 4.8.2) Condições de eletroforese 34 4.8.3) Agrupamento filogenético 35 4.9) PCR-Multiplex para enterovirulência de Escherichia coli (PCR-DEC) 35 4.9.1) Reação de PCR 35 4.9.2) Condições de eletroforese 36 4.10) Amplificação randômica do DNA polimórfico (RAPD-PCR) 38 4.10.1) Extração do DNA e reação de PCR 38 4.10.2) Condições de eletroforese 39 4.11) Eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE) 40 4.11.1) Extração do DNA em gel 40 4.11.2) Reação de PCR 40 4.11.3) Condições de eletroforese 41 5. RESULTADOS 43 5.1) Coleta de água, isolamento e identificação de Escherichia coli 44 5.2) Fenótipo de susceptibilidade ao mercúrio 45 5.2.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio e determinação da concentração mínima inibitória (CMI) 5.3) Fenótipo da susceptibilidade aos antimicrobianos 5.3.1) Fenótipo da susceptibilidade a antimicrobianos por área de coleta 5.4) PCR para amplificação do gene merA 45 46 48 50 xi 5.4.1) PCR-merA por área de coleta 52 5.4.2) PCR-merA e fenótipo de resistência aos antimicrobianos 52 5.5) PCR-Triplex para agrupamento filogenético de Escherichia coli 54 5.5.1) Filogrupagem por área de coleta 55 5.5.2) Filotipagem em amostras merA+ 56 5.6) PCR-Multiplex para enterovirulência de Escherichia coli (PCR-DEC) 56 5.6.1) Perfil de enterovirulência por área de coleta 58 5.6.2) Perfil de enterovirulência em amostras merA+ 62 5.6.3) Perfil de enterovirulência, fenótipo de resistência aos antimicrobianos e grupo filogenético 62 5.7) Amplificação randômica do DNA polimórfico (RAPD-PCR) 63 5.8) Eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE) 70 6. DISCUSSÃO 79 6.1) Coleta de água, isolamento e identificação de Escherichia coli 80 6.2) Fenótipo da susceptibilidade ao mercúrio 81 6.2.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio e determinação da concentração mínima inibitória (CMI) 81 6.3) Fenótipo da susceptibilidade aos antimicrobianos 83 6.4) PCR para amplificação do gene merA 87 6.5) PCR-Triplex para agrupamento filogenético de Escherichia coli 89 6.6) PCR-Multiplex para enterovirulência de Escherichia coli (PCR-DEC) 90 6.7) Amplificação randômica do DNA polimórfico (RAPD-PCR) 93 6.8) Eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) 93 6.9) Biorremediação 94 7. CONCLUSÕES 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 98 ANEXO – Soluções utilizadas para PCR 118 xii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Iniciadores de PCR para a amplificação do gene merA 33 Tabela 2. Iniciadores de PCR-triplex para agrupamento filogenético de E. coli 34 Tabela 3. Iniciadores utilizados para o PCR-multiplex para enterovirulência de E. coli 37 Tabela 4. Iniciadores para amplificação randômica do DNA polimórfico de E. coli 39 Tabela 5. Iniciadores de PCR para a amplificação do gene merA usados para o ensaio de DGGE 41 Tabela 6. Número de amostras de E. coli por área e ponto de coleta 44 Tabela 7. Número e porcentagem de amostras de E. coli HgR por área de coleta 45 Tabela 8. Número e porcentagem de amostras de E. coli HgR isoladas de águas de regiões de aglomerados residenciais 45 Tabela 9. Perfis de resistência a antimicrobianos encontrados nas amostras de E. coli por área de coleta 46 Tabela 10. Número de amostras de E. coli resistentes aos antimicrobianos separados por classe e grupo de antimicrobianos 47 Tabela 11. Perfis de amplificação resultantes dos produtos de PCR-merA 51 Tabela 12. Amostras de E. coli merA+ por área e ponto de coleta 52 Tabela 13. Resistência aos antimicrobianos nas amostras de E. coli merA+ 53 Tabela 14. Grupo e perfil filogenético das amostras de E. coli incluídas no estudo 55 Tabela 15. Grupo filogenético das amostras de E. coli por área de coleta 55 xiii Tabela 16. Perfis de enterovirulência e grupo filogenético das amostras de E. coli 57 Tabela 17. Distribuição dos marcadores genéticos de enterovirulência investigados nas amostras de E. coli por área de coleta 60 Tabela 18. Distribuição dos perfis de enterovirulência nas amostras de E. coli conforme áreas e pontos de coleta 61 Tabela 19. Características gerais de enterovirulência e resistência a antimicrobianos nas amostras de E. coli carreadoras de marcadores de enteropatogenicidade 63 Tabela 20. Representação numérica dos perfis de RAPD-PCR das amostras de E. coli merA+ a partir dos iniciadores utilizados 64 Tabela 21. Características biogenéticas das amostras de E. coli que apresentaram perfis eletroforéticos de RAPD-PCR idênticos entre si com os iniciadores 1247, 1290 e 1254 65 Tabela 22. Características fenotípicas e genotípicas investigadas nas amostras de E. coli incluídas no estudo 70 xiv LISTA DE QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS Quadros Quadro 1. Principais características de E. coli enteropatogênica típica e atípica 05 Quadro 2. Genes e fatores de virulência descritos para EAEC 12 Quadro 3. Classificação dos patotipos intestinais de E. coli com base nos marcadores genéticos investigados 38 Gráficos Gráfico 1. Porcentagem total de amostras de E. coli resistentes por antimicrobiano testado 47 Gráfico 2. Porcentagem total de amostras resistentes a antimicrobianos de acordo com a área de coleta 50 Gráfico 3. Porcentagem de amostras de E. coli merA+ por antimicrobiano testado 53 Gráfico 4. Proporção dos genes de enterovirulência nas amostras de E. coli 58 Gráfico 5. Proporção dos marcadores de enterovirulência em amostras de E. coli por área de coleta 59 Figuras Figura 1. A diversidade patogênica de E. coli 03 Figura 2. Microscopia eletrônica mostrando a lesão A/E induzida por EPEC típica 05 Figura 3. Microscopia eletrônica mostrando a expressão do BFP em EPEC típica 06 Figura 4. Padrão de aderência localizada manifestado por EPEC típica em células HEp-2 06 xv Figura 5. Padrão de aderência expresso por EAEC em células HEp-2 12 Figura 6. Esquema geral de patogenicidade descritos para os patotipos diarreiogênicos de E. coli 13 Figura 7. Diagrama esquemático do ciclo de vida de E. coli 17 Figura 8. Estrutura genética do operon mer em bactérias Gram-negativas 22 Figura 9. Mecanismo proposto de resistência bacteriana ao mercúrio de “amplo espectro” e de “espectro restrito” 22 Figura 10. Rio Faria (Esquerda) e Rio Jacaré (Direita) 27 Figura 11. Canal do Cunha (Esquerda) e Rio Iguaçú (Direita) 27 Figura 12. Canal do Mangue (Esquerda) e Lagoa Rodrigo de Freitas (Direita) 27 Figura 13. Procedimento de coleta e filtração da água coletada 28 Figura 14. Fotografia do aspecto colonial característico de E.coli em Teague 29 Figura 15. Fotografias do procedimento de isolamento e provas bioquímicas para confirmação de espécie 30 Figura 16. Teste de sensibilidade a antimicrobianos: halos de inibição exibidos pela amostra RM 95 31 Figura 17. Árvore de classificação filogenética de amostras de E. coli 35 Figura 18. Ensaio DGGE 41 Figura 19. Esquema geral de caracterização realizada para as amostras de E. coli incluídas neste estudo 42 Figura 20. Eletroforese em gel de agarose do produto de amplificação para detecção do gene merA 51 xvi Figura 21. Eletroforese em gel de agarose do produto de amplificação para detecção do gene merA 51 Figura 22. Perfis eletroforéticos dos agrupamentos filogenéticos de E. coli encontrados neste estudo 54 Figura 23. Perfis eletroforéticos obtidos a partir da amplificação simultânea dos genes de enterovirulência 57 Figura 24. Eletroforese dos produtos de PCR-DEC nas amostras de E. coli merA+ 62 Figura 25. Perfis eletroforéticos das amostras de E. coli merA+ obtidos a partir da amplificação randômica do DNA polimórfico a partir dos iniciadores A04, 1247, 1290 e 1254 65 Figura 26. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1290 66 Figura 27. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1254 67 Figura 28. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1247 68 Figura 29. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador A04 69 Figura 30. Perfis eletroforéticos das amostras de E. coli merA+ gerados por DGGE 70 xvii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA: Aggregative adherence (aderência agregativa) AAF: Aggregative adherence fimbriae (fimbria de aderência agregativa) A/E: Attaching and effacing (aderência e achatamento) aggR: Agreggative regulator (regulador agregativo) AIEC: adherent invasive Escherichia coli AL: Aderência localizada AN: Agar nutriente ATEC: Escherichia coli enteropatogênica atípica BFP: Bundle-forming pilus (pilus formador de feixe) CDEC: cell detaching Escherichia coli CFs: Colonization factors (fatores de colonização) CH: Colite hemorrágica CMI: Concentração mínima inibitória CT: Cholera toxin (toxina do Cólera) DAEC: Escherichia coli que adere difusamente DEC: Diarrhoeagenic Escherichia coli (Escherichia coli diarreiogênica) DGGE: Denaturing gradient gel electrophoresis (eletroforese em gel com gradiente desnaturante) DNA: Deoxyribonucleic acid (ácido desoxirribonucléico) dNTPs: Deoxyribonucleotide triphosphates (nucleotídeos trifosfatados) eae: EPEC attaching and effacing (EPEC aderência e achatamento) EAEC: Escherichia coli enteroagregativa xviii EAF: EPEC adherence factor (fator de aderência de EPEC) EAST1: Heat-stable enterotoxin (enterotoxina termoestável) EHEC: Escherichia coli enterohemorrágica EIEC: Escherichia coli enteroinvasora EMB: Eosin methylene blue agar (agar eosina azul de metileno) EPEC: Escherichia coli enteropatogênica Esp: EPEC secreted proteins EspFu: Escherichia coli secreted protein F-like from prophage U ETEC: Escherichia coli enterotoxigênica HeLa: Células de linhagem de carcinoma cervical (Henrietta Lacks) HEp-2: Células de linhagem de carcinoma epidermóide de laringe humana Hg: Mercúrio Hg0: Mercúrio metálico Hg2+: Íon mercúrico Hg22+: Íon mercuroso HIV: Human immunodeficiency virus (vírus da imunodeficiência humana) IL-1β: Interleucina 1 beta irp2: Iron-repressible high-molecular-weight protein 2 LEE: Locus of enterocyte effacement LT: Enterotoxina termolábil MgCl2: Cloreto de magnésio MILi: Motilidade, Indol e lisina descarboxilase xix MLEE: Multilocus enzyme electrophoresis NTEC: necrotoxigenic Escherichia coli OMPs: Outer membrane proteins (proteínas de membrana externa) pAA: Plasmid-aggregative adherence (plasmídeo de aderência agregativa) PAI: Pathogenicity islands (ilhas de patogenicidade) Pb: Pares de base PCR: Polymerase chain reaction (reação da polimerase em cadeia) pet: Plasmid-encoded toxin (toxina codificada por plasmídeo) pic: protein involved in intestinal colonization (proteína envolvida na colonização intestinal) pInv: Plasmídeo de invasão PTT: Púrpura trombocitopênica trombótica RAPD: Random amplification of polymorphic DNA (amplificação randômica do DNA polimórfico) REDUC: Refinaria de Duque de Caxias RFLP: Restriction fragment lenght polymorphism (polimorfismo dos comprimentos dos fragmentos de restrição rpm: rotações por minuto ShET1: Shigella enterotoxin 1 (enterotoxina de Shigella flexneri) SHU: Síndrome hemolítica urêmica SSTT: Sistema de secreção do tipo III ST: Enterotoxina termoestável STEC: Escherichia coli produtora de toxina Shiga xx stx: Shiga toxin (toxina Shiga) TccP: Tir cytoskeleton coupling protein Tir: Translocated intimin receptor (receptor de intimina translocado) TNF-α: Tumor necrosis factor-alpha (fator de necrose tumoral alfa) TSA: Tryptic soy agar (agar de tripticaseína de soja) TSB: Tryptic soy broth (caldo de tripticaseína de soja) UNEP: United Nations Environmental Programme UV: Ultravioleta VT: Verotoxina WHO: World Health Organization (Organização Mundial da Saúde) µL: Microlitro xxi 1. INTRODUÇÃO A poluição dos sistemas aquáticos tem grande relevância no âmbito da Saúde Pública devido ao papel fundamental que estes ecossistemas têm para o homem, sendo fornecedores de serviços essenciais como: fonte de água potável, produção de alimentos, necessidades sanitárias, recreação entre outros. A água que foi submetida a algum tipo de contaminação, microbiana ou química, tem potencial de afetar um grande número de pessoas podendo causar doenças infecciosas e também ser fonte de intoxicações resultantes da exposição a compostos químicos. Por isso, a água livre de poluentes de qualquer espécie é indispensável para a manutenção da Saúde Pública e, sendo assim, torna-se imprescindível o desenvolvimento de estudos que permitam avaliar e monitorar a qualidade da água utilizada para o consumo e atividades afins1. 1.1) Contaminação microbiológica dos sistemas aquáticos A contaminação microbiológica dos sistemas aquáticos é decorrente principalmente do despejo de material fecal humano e animal sem tratamento adequado2. O consumo desta água coloca as pessoas em grande risco de contaminação por microrganismos potencialmente patogênicos3. Em muitos países em desenvolvimento uma grande parte da população faz uso de água de rios, lagos, poços ou outras fontes não tratadas para consumo, recreação ou outros propósitos domésticos4,5. Assim, a contaminação microbiana de sistemas aquáticos tem grande relevância para a Saúde Pública, por veicular microrganismos patogênicos capazes de causar doenças das mais diversas naturezas e complexidades. Dentre as doenças veiculadas pela água, as diarréicas são reconhecidas pelo impacto negativo que exercem na saúde dos seres humanos, sendo responsáveis por altas taxas de morbimortalidade, especialmente, em crianças menores de cinco anos5,6,7. De acordo com a WHO a mortalidade associada a doenças transmitidas pela água ultrapassa os cinco milhões de pessoas por ano, sendo 50% destas mortes causadas por infecções microbianas intestinais3. Portanto, a vigilância epidemiológica realizada através de estudos que visam identificar as características fenotípicas e genotípicas dos microrganismos circulantes em ambientes aquáticos é de extrema importância para a Saúde Pública, principalmente no Brasil, onde parte considerável da população vive em condições higiênico-sanitárias insatisfatórias. 1 1.2) Escherichia coli Um grande número de microrganismos tem sido descrito como agentes das doenças diarréicas, entretanto, o papel de destaque na etiologia destas infecções é atribuído a espécie bacteriana Escherichia coli. No Brasil e em outros países em desenvolvimento infecções causadas pela E. coli são a principal causa de diarréia aguda em crianças menores de 5 anos de idade, com significantes taxas de morbidade e mortalidade8,9,10. E. coli foi primeiramente descrita pelo pediatra Theodor Escherich no século XIX após a observação do microrganismo em indivíduos saudáveis ao qual deu o nome de Bacterium coli, posteriormente renomeada em sua homenagem11. E. coli pertence à família Enterobacteriaceae, são bacilos anaeróbicos facultativos, Gramnegativos, reduzem nitrato a nitrito, fermentam a glicose (geralmente com formação de gás), são catalase positivas e oxidase negativas12. Escherichia coli coloniza o trato gastrointestinal humano dentro de poucas horas após o nascimento e coexiste em seu hospedeiro humano por décadas, geralmente em benefício mútuo13. Entretanto, existem várias cepas de E. coli que adquiriram fatores de virulência específicos que conferem maior habilidade de adaptação a novos nichos, permitindo assim, o desenvolvimento de um amplo espectro de doenças intestinais e extraintestinais como infecções do trato urinário, da corrente sanguínea e do sistema nervoso central14,15. Por ser uma espécie bacteriana encontrada no trato intestinal do homem e de outros animais homeotérmicos, a contaminação aquática normalmente é ocasionada pelo lançamento de esgoto doméstico não tratado nestes ambientes16,17. Essa espécie é versátil e diversa, exibindo uma enorme plasticidade genética18. E. coli pode ser subdividida em: (1) comensais ou não patogênicas, (2) patógenos intestinais e (3) patógenos extraintestinais. Essa classificação é baseada principalmente na presença ou ausência de fatores de virulência, codificados por determinantes genéticos, que definem patotipos particulares. Essa informação genética pode ser horizontalmente adquirida por meio de elementos genéticos móveis como plasmídeos, bacteriófagos e ilhas de patogenicidade, o que contribui para a rápida evolução de E. coli e para a criação de novas variantes patogênicas, já que esta espécie bacteriana é freqüentemente submetida a rearranjos, excisões, transferências e aquisições de DNA (Figura 1)19. 2 E. coli comensal LEE PAI CFAs PAI Enterotoxinas LT/ST pAA pINV Enterotoxinas Fimbrias Afa/Dr Genes stx Plasmídeo EAF (bfp) ATEC EIEC ETEC EPEC EHEC STEC EAEC DAEC Figura 1. A diversidade patogênica de E. coli. A diversidade patogênica de E. coli resulta da deleção e aquisição de genes que conferem características de virulência específicas para cada patotipo. Somente as combinações de fatores de virulência que resultarem em maior sucesso na sobrevivência e persistência da espécie definem novos patotipos (Adaptado de Williams e colaboradores20). Legenda. ATEC - Escherichia coli enteropatogênica atípica; EPEC - Escherichia coli enteropatogênica (típica); EHEC - Escherichia coli enterohemorrágica; STEC - Escherichia coli produtora de toxina Shiga; ETEC - Escherichia coli enterotoxigênica; EAEC - Escherichia coli enteroagregativa; EIEC Escherichia coli enteroinvasora e DAEC - Escherichia coli que adere difusamente. 1.3) Patotipos intestinais de Escherichia coli Os patotipos de E. coli associados a infecções intestinais, também chamados de diarreiogênicos (DEC), são diferenciados entre si de acordo com seus mecanismos específicos de virulência8. Essa especificidade determina perfis clínicos, patológicos e epidemiológicos característicos de cada um dos diferentes patotipos intestinais. Sendo assim, a detecção e caracterização de E. coli diarreiogênica tem sido realizada, principalmente, através da detecção de características associadas com a virulência deste microrganismo20. Atualmente são reconhecidas, pelo menos, seis categorias de E. coli agentes de infecção intestinal: E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli enterotoxigênica (ETEC), E. coli enteroinvasora (EIEC), E. coli produtora de toxina Shiga (STEC), E. coli enteroagregativa (EAEC) e a E. coli que adere difusamente (DAEC)15. Além destes patotipos já classicamente reconhecidos ainda existem variações que definem novos patotipos, como as E. coli enterohemorrágicas (EHEC), variantes das STEC e as E. coli enteropatogênicas atípicas (ATEC), variantes das EPEC21. Além disso, existem novos grupos sendo descritos como, por exemplo, cell detaching E. coli (CDEC), necrotoxigenic E. coli (NTEC) e adherent invasive E. coli (AIEC) que requerem estudos mais detalhados14,22,23. 3 1.3.1) E. coli enteropatogênica (EPEC) e E. coli enteropatogênica atípica (ATEC) EPEC foi o primeiro patotipo de E. coli descrito. Os primeiros estudos epidemiológicos relacionando a E. coli com a diarréia humana foram publicados na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930, porém, sua patogenicidade só foi comprovada cientificamente na Inglaterra em 1945. Neste ano o pediatra John Bray observou que um grupo de cepas de E. coli estavam relacionadas a uma doença em particular, a diarréia infantil. Apesar de ter sido a primeira categoria de E. coli identificada, seu potencial patogênico só foi amplamente aceito em 1978 através de estudos realizados por Myron Levine e colaboradores utilizando voluntários em protocolos experimentais11,15,18,24. As EPEC foram primeiramente classificadas com base nos sorotipos O e H. Atualmente esta definição se dá com base nas características patogênicas deste grupo25. Este patotipo inclui um grupo de microrganismos que aderem intimamente às células epiteliais intestinais induzindo a formação da lesão attaching/effacing (A/E) (Figura 2)14. Essa lesão é mediada pela intimina, uma adesina codificada pelo gene eae (E. coli attaching effacing), que está presente na membrana externa desta bactéria e é capaz de promover uma ligação íntima e irreversível entre a bactéria e a membrana do enterócito26. A bactéria intimamente aderida ao enterócito elimina as microvilosidades da célula intestinal exatamente no ponto de contato bactéria-enterócito e causa modificações notáveis no citoesqueleto da célula hospedeira. O acúmulo de actina polimerizada diretamente abaixo da bactéria promove a formação de estruturas em forma de pedestal ao redor do ponto de adesão. Este fenótipo é codificado por genes localizados em uma ilha de patogenicidade (PAI) conhecida como LEE (Locus of enterocyte effacement). LEE codifica um sistema de secreção tipo III (SSTT) que transloca proteínas efetoras bacterianas para dentro do citoplasma da célula hospedeira14,15. Uma destas proteínas efetoras, conhecida como Tir (Translocated intimin receptor) é inserida na membrana da célula hospedeira e funciona como um receptor para a intimina15. Além de Tir, também são secretadas por EPEC através SSTT as proteínas conhecidas pela sigla Esp (EPEC secreted proteins)24. Atualmente EPEC é subdividida nos subgrupos típica e atípica. EPEC típica é a classificação dada para as EPECs que carreiam o plasmídeo do fator de aderência (EAF) onde está localizado o operon que codifica uma fímbria do tipo IV, o BFP (Bundle forming pilus) (Figura 3), responsável por mediar a aderência entre a bactéria e a célula epitelial. Já as EPECs atípicas são destituídas do plasmídeo EAF e, portanto, não 4 expressam BFP funcional. A EPEC típica expressa o padrão de adesão localizada (AL) caracterizado pela formação de microcolônias compactas aderidas em regiões da superfície celular (Figura 4). Em contraste, as EPEC atípicas expressam um padrão similar ao AL, o padrão de adesão localizada-like (AL-like) com microcolônias mais frouxamente aderidas em relação às EPEC típicas, ou ainda apresentam os padrões de aderência agregativa ou difusa (Quadro 1)24,26. Em países desenvolvidos a E. coli enteropatogênica atípica é mais freqüentemente isolada de casos de diarréia do que as E. coli enteropatogênicas típicas. Em países em desenvolvimento a E. coli enteropatogênica atípica vem cada vez mais assumindo um papel de importância como agente etiológico das doenças diarréicas10,15. A infecção por EPEC ocorre com frequência em lactentes e é caracterizada por febre baixa, mal-estar, vômitos, diarréia aquosa e presença de muco nas fezes27. Quadro 1. Principais características de E. coli enteropatogênica típica e atípica (Adaptado de Gomes & Trabulsi24). Característica EPEC típica EPEC atípica (APEC) Padrão de adesão AL AL-like, AA, AD, NA Plasmídeo EAF (expressão do BFP) presente ausente Lesão A/E sim sim Região LEE presente presente Marcas genéticas de identificação eae, EAF, bfpA eae Reservatório ser humano ser humano, animais Legenda. AL – Aderência localizada; AA – Aderência agregativa; AD – Aderência difusa e NA – Não aderente Figura 2. Microscopia eletrônica mostrando a lesão A/E induzida por EPEC típica (Foto de Nataro & Kaper25) 5 Figura 3. Microscopia eletrônica mostrando a expressão do BFP em EPEC típica (Foto de Nataro & Kaper25). Figura 4. Padrão de aderência localizada manifestado por EPEC típica em células HEp-2 (Foto de Nataro & Kaper25). 1.3.2) E. coli enterotoxigênica (ETEC) A descoberta das ETEC teve início em Calcutá no ano de 1956. Neste ano De e colaboradores inocularam amostras de E. coli isoladas de crianças e adultos com sintomas similares aos do Cólera nas alças intestinais de coelhos e observaram uma grande quantidade de fluidos acumulados nas alças, resultado semelhante ao observado após infecção por Vibrio cholerae. Em 1968, Sack reportou o isolamento de E. coli a partir de amostras de fezes e do intestino de adultos e crianças com sintomas muito similares ao do Cólera. Esses resultados foram observados e confirmados por trabalhos posteriores utilizando voluntários humanos28. As ETEC são definidas como cepas de E. coli que produzem ao menos uma das enterotoxinas: ST (enterotoxina termoestável) e LT (enterotoxina termolábil) codificadas pelos genes ST1 e LT1 respectivamente7,29. A termolabilidade está relacionada à perda de atividade tóxica da enterotoxina após aquecimento a 100ºC durante um período de 30 minutos, enquanto que a termoestabilidade representa a manutenção da sua atividade tóxica nestas condições30. O mecanismo de patogenicidade das ETEC é caracterizado, resumidamente, pela colonização da mucosa intestinal e 6 produção de enterotoxinas, que dão início a secreção intestinal15,30. A colonização é mediada por adesinas como os fatores de colonização (CFs) que podem ser nãofimbriais, fimbriais, fibrilares ou helicoidais14. Quanto às enterotoxinas as ETEC podem expressar somente a LT, somente ST ou tanto ST quanto LT. As LT são uma classe de enterotoxinas intimamente relacionadas em termos de estrutura e função com a enterotoxina do cólera (CT)15. Essas enterotoxinas provocam alterações nas concentrações intracelulares de nucleotídeos levando à alteração do equilíbrio hidrossalino que resulta na secreção de eletrólitos e na redução de absorção de água no intestino. A presença de água nas fezes, sintoma característico da ação deste patotipo, é resultante da ação destas enterotoxinas30. A infecção por ETEC é causada pelo consumo ou uso de água ou alimentos contaminados e tem curto período de incubação (14-50h) desencadeando um processo diarréico aquoso agudo (semelhante ao causado por Vibrio cholerae), sem sangue, muco ou pus. Normalmente este processo infeccioso é autolimitante podendo levar, em alguns casos, ao quadro de desidratação devido à perda excessiva de fluidos e eletrólitos. Podem ocorrer, em algumas situações, vômitos e cólicas abdominais27,31. ETEC é reconhecida como enteropatógeno de humanos em todo o mundo, afetando principalmente crianças, viajantes e militares que visitam países onde infecções por ETEC são endêmicas31. ETEC é normalmente associada a duas síndromes: “a diarréia da criança desmamada” entre crianças nos países em desenvolvimento e a “diarréia do viajante”27. Nos países em desenvolvimento é estimado que ocorram 650 milhões de casos de infecção por ETEC resultando em aproximadamente 800 mil mortes, principalmente de crianças32. 1.3.3) E. coli enteroinvasora (EIEC) E. coli enteroinvasora foi primeiramente observada através do trabalho com voluntários conduzido por DuPont e colaboradores na década de 70. Esse patotipo é intimamente relacionado bioquimicamente, geneticamente e patogenicamente com a espécie bacteriana Shigella spp. Os dois patotipos compartilham fatores de virulência e testes bioquímicos similares, geralmente tendo resultado negativo para lisina descarboxilase, motilidade e lactose. Somente alguns poucos testes bioquímicos são capazes de diferenciá-los. Muitos pesquisadores, inclusive, afirmam que ambas são indistinguíveis taxonomicamente, mas devido à grande importância clínica de Shigella esta nomenclatura ainda é mantida15,25,33. 7 EIEC difere dos outros patotipos de E coli por ser uma bactéria intracelular e por não possuir flagelos14. O modelo patogênico de ação de EIEC ainda está por ser elucidado, entretanto estudos sugerem que a dinâmica de atuação deste microrganismo inclui: penetração da célula epitelial, lise do vacúolo endocítico, multiplicação intracelular, movimentação através do citoplasma, morte das células hospedeiras e, por conseguinte, disseminação extracelular15,25,34. Os genes necessários para o processo de invasão das EIEC são codificados em um plasmídeo de 140-MDa denominado pInv. Destacam-se entre esses genes o mxi e o spa que codificam um aparato de secreção tipo III responsável pela secreção das proteínas Ipa (IpaA-IpaD), IcsA e IpgD, indispensáveis para o desenvolvimento do papel enteropatogênico deste microrganismo. As proteínas IpaB, IpaC e IpaD são responsáveis pelo fenótipo de invasão, no qual IpaC promove a entrada de EIEC na célula eucariótica, enquanto que IpaB acredita-se que seja responsável pela lise do vacúolo endocítico e pela indução da apoptose em macrófagos. IpgD ajuda a reorganizar a morfologia célula-hospedeiro, processo que resulta num fenômeno conhecido como blebbing de membrana. IcsA é uma proteína de superfície essencial para nucleação de filamentos de actina que formam uma espécie de “cauda” que se estende a partir do pólo da bactéria e possibilita a movimentação de EIEC através do citoplasma e para as células adjacentes. Além disso, outro fator de virulência descrito para este patotipo é a enterotoxina termolábil denominada ShET2, codificada por genes cromossomais15,25,33. A capacidade de invasão e sobrevivência deste patotipo depende dos genes contidos no plasmídeo pInv, que contém todos os genes relacionados a invasão, consequentemente a perda deste plasmídeo torna as cepas de EIEC avirulentas. As infecções intestinais causadas por EIEC são mais freqüentes em crianças maiores de dois anos e em adultos. A transmissão deste enteropatógeno ocorre através da ingestão de água e alimentos contaminados33. A infecção por EIEC pode se manifestar sob a forma de diarréia aquosa, indistinguível da causada por ETEC. Em algumas pessoas é observada a evolução para o quadro de desinteria, caracterizada por febre e colite. Os sintomas da infecção por este patotipo são urgência e tenesmo e as fezes contêm sangue, muco e leucócitos27. 8 1.3.4) E. coli produtora de Toxina Shiga (STEC) e E. coli enterohemorrágica (EHEC) Konowalchuk e colaboradores no ano de 1977 reportaram após a observação de amostras bacterianas provenientes de crianças em processo diarréico uma característica que distinguia a STEC de outras categorias patogênicas de E. coli: a produção de uma toxina com efeito citotóxico irreversível em células Vero (células do rim do macaco verde africano), sendo esta posteriormente chamada de verotoxina (VT). Em 1982 pesquisadores purificaram e caracterizaram a citotoxina produzida por um dos isolados de Konowalchuk e descobriram uma similaridade estrutural e de atividade biológica com as toxinas Shiga (Stx) produzidas por Shigella dysenteriae. Sendo assim, estas amostras podem ser chamadas de E. coli produtoras de Stx e também de E. coli produtoras de VT. Apesar da associação entre E. coli produtoras de citotoxinas e a doença diarréica já ser conhecida desde 1977, a importância de STEC como patógeno humano só foi reconhecida nos anos 1980, quando foi associada a surtos epidêmicos de colite hemorrágica (CH) e de síndrome hemolítica urêmica (SHU). Surgiu então o termo E. coli enterohemorrágica (EHEC), atualmente considerado um subgrupo das STEC, e que foi utilizado inicialmente para nomear as amostras O157:H7 responsáveis pelos surtos de CH e SHU. O reconhecimento inicial das EHEC como uma classe distinta resultou de observações epidemiológicas conduzidas na década de 8035,36. Assim, atualmente o termo STEC refere-se a cepas de E. coli produtoras da toxina Shiga enquanto que o termo EHEC corresponde aos sorotipos de STEC que produzem a toxina Shiga e também causam a lesão A/E23. O modelo de patogênese que ocasiona a formação da lesão A/E proposto para EHEC é muito semelhante ao proposto para EPEC, entretanto existem algumas diferenças. Nas EHEC Tir não é fosforilado e o processo de formação do pedestal é Nck-independente, neste caso é a proteína efetora TccP (Tir-cytoskeleton coupling protein) também conhecida como EspFu (Escherichia coli secreted protein F-like from prophage U) que se liga a N-WASP estimulando a polimerização de actina e a formação do pedestal14,35. A toxina Shiga é o principal fator de virulência das STEC caracterizando, portanto, o patotipo. Esta citotoxina constitui uma família de citotoxinas estruturalmente relacionadas e com atividades biológicas muito semelhantes35. Existem dois subgrupos da toxina Shiga, Stx1 que representa um grupo mais homogêneo de toxinas praticamente idênticas à toxina Stx de S. dysenteriae e Stx2 que apresenta diversas variantes e tem menos de 60% de homologia com a toxina Stx de S. dysenteriae14,35. Os 9 determinantes genéticos para a elaboração da toxina Shiga está albergada no genoma de um bacteriófago lisogênico integrado ao cromossoma de STEC. Estudos epidemiológicos têm associado a toxina Stx2 a quadros mais graves destas infecções em humanos37. Os receptores para a toxina Stx são os Gb3s que são expressos, principalmente, em células do rim, intestino e cérebro. A subunidade B desta toxina interage com o Gb3 induzindo a invaginação da membrana para facilitar a internalização da toxina. A Stx depois de internalizada é transportada por endossomos até o Complexo de Golgi, onde a subunidade A é ativada. A subunidade A da toxina Stx possui uma N-glicosidase responsável por remover um resíduo de adenina da molécula de RNA ribossômico 28S e, consequentemente, impedindo a síntese protéica, causando necrose e levando a morte celular. Embora as células endoteliais pareçam ser o principal alvo para Stx, outras células como monócitos e plaquetas também são afetados. Após serem estimulados pela ação da Stx os monócitos produzem citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral α (TNF-α) e a interleucina-1β (IL-1β) que potencializam a ação da toxina por induzir a expressão de mais G3bs14,23,35. As EHEC são altamente infecciosas para seres humanos, estima-se que nos surtos causados pelo patotipo O157:H7, menos de 100 células bacterianas já sejam suficientes para causar doença35,37. A infecção por este patotipo é adquirida pelo consumo de alimentos ou água contaminados ou em alguns casos, no contato próximo pessoa-a-pessoa37. As manifestações clínicas da doença incluem um amplo espectro clínico podendo compreender desde quadros assintomáticos, sintomáticos com diarréia branda, até casos mais graves evoluindo para a colite hemorrágica (CH), síndrome hemolítica urêmica (SHU), púrpura trombocitopênica trombótica (PTT), apendicite, cistite hemorrágica e anormalidades neurológicas35. 1.3.5) E. coli enteroagregativa (EAEC) Dois grupos de pesquisadores examinaram na década de 80 coleções de E. coli provenientes de estudos realizados em países em desenvolvimento e observaram, através de testes de aderência, que algumas cepas não pertencentes ao grupo das EPEC, também eram capazes de aderir as células HEp-2 exibindo, porém, um padrão de aderência distinto do apresentado pelas EPEC. Este novo padrão de aderência encontrado foi mais profundamente estudado e caracterizado por Nataro e colaboradores em 1987 em um estudo sobre a etiologia da diarréia infantil no Chile. A partir deste 10 estudo os pesquisadores foram capazes de subdividir este padrão de aderência em duas categorias: agregativa e difusa. O padrão de aderência agregativa (AA) é caracterizado pela aderência das bactérias umas as outras e à superfície das células numa configuração que lembra tijolos empilhados, formando agregados heterogêneos ou também em forma de cordões (Figura 5)25,38. EAEC é considerada um patógeno intestinal emergente responsável por causar diarréia persistente e desnutrição em crianças e em pessoas infectadas pelo HIV em países em desenvolvimento. É também reconhecida como a segunda maior causa da “diarréia dos viajantes” tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento14,39. A patogênese de EAEC é complexa e as cepas componentes deste grupo são extremamente heterogêneas. Apesar disso, foi proposto um modelo de três estágios de sua patogênese. No primeiro estágio da infecção as bactérias aderem à mucosa intestinal e à camada de muco através da fimbria de aderência agregativa (AAF) e fatores de aderência, no segundo estágio as bactérias continuam se multiplicando na camada de muco e estimulam a sua hipersecreção formando um biofilme bacteriano. Por fim, o terceiro estágio é caracterizado pela produção de toxinas e pelo desenvolvimento de processo inflamatório resultando em lesões da mucosa intestinal. Os danos causados nas microvilosidades e a presença do biofilme bacteriano geram a má absorção de fluidos e solutos desencadeando a diarréia38,39. A diarréia causada por EAEC é normalmente aquosa, mas pode ser em alguns casos conter também sangue ou muco14. Muitos fatores de virulência em potencial vêm sendo identificados para EAEC (Quadro 2), porém seu mecanismo exato de patogênese ainda não é totalmente compreendido. Sabe-se que algumas cepas de EAEC são carreadoras do plasmídeo pAA de 60-65 MDa que alberga genes necessários ao fenótipo de aderência agregativa. Neste plasmídeo estão localizados genes codificadores das toxinas EAST-1 e Pet, da dispersina, genes codificadores das subunidades estruturais da fimbria de aderência agregativa aggA (AAF/I), aafA (AAF/II) e agg-3 (AAF/III), shf, além do gene regulador de genes de virulência aggR. Os genes que codificam a proteína Pic, ShET1 (enterotoxina de Shigella flexneri) e Irp2 são de localização cromossômica. A existência de fatores de virulência de EAEC em ilhas de patogenicidade vem sendo estudada, tendo sido identificadas três ilhas até o momento14,38,40. 11 Figura 5. Padrão de aderência expresso por EAEC em células HEp-2 (Foto de Nataro & Kaper25). Quadro 2. Genes e fatores de virulência descritos para EAEC (Adaptado de Huang e colaboradores39). Fator Gene Descrição Regulador global aggR Codifica a proteína reguladora dos genes de virulência Fimbrias aggA aafA agg3 Codifica AAF/I e a hemaglutinação de eritrócitos Codifica AAF/II responsável pela mediação da aderência a mucosa Codifica AAF/III astA Enterotoxinas pet Codifica a toxina agregativa termoestável EAST1 (similar a ST de ETEC) Codifica proteína que funciona como enterotoxina termolábil e citotoxina OMPs OMP Permite a aderência de EAEC e a hemaglutinação de eritrócitos Transportador de dispersina aatA Codifica uma proteína responsável pelo transporte da dispersina para fora da membrana externa de EAEC aap Proteínas de secreção pic Yersiniabactina irp2 Codifica uma dispersina responsável pela dispersão da EAEC através da mucosa intestinal Codifica uma serina protease com atividade de mucinase, resistência ao soro e de hemaglutinação de eritrócitos Codifica um sistema de captura de ferro por sideróforo 12 Resumidamente, o modelo patogênico dos diferentes patotipos diarreiogênicos de E. coli seguem os principais eventos demonstrados a seguir (Figura 6). Aderência agregativa Formação de biofilme Aderência íntima da bactéria LT e ST Citotoxinas Enterotoxinas Condensação de actina e apagamento das microvilosidades Stx Alongamento de microvilosidades Aderência inicial via BFP Aderência íntima da bactéria Condensação de actina e apagamento das microvilosidades Invasão Lise da vesícula Movimentação citoplasmática Disseminação para células adjacentes Figura 6. Esquema geral de patogenicidade descrito para os patotipos diarreiogênicos de E. coli (Adaptado de Nataro & Kaper25). 1.4) Agrupamento filogenético de Escherichia coli Os estudos filogenéticos têm contribuído com o estudo da diversidade e da virulência de cepas de E. coli isoladas de uma grande variedade de hospedeiros, ambientes e origens geográficas evidenciando que, tanto populações comensais quanto patogênicas de E. coli são divididas em quatro filogrupos designados A, B1, B2 e D41,42. Amostras de E. coli pertencentes a cada um destes quatro grupos filogenéticos diferem em importantes características relacionadas à biologia de suas populações como habilidade para explorar diferentes açúcares, perfis de resistência a antimicrobianos e taxas de crescimento de acordo com variações de temperatura41,42. Isolados clínicos agentes de doenças extra-intestinais pertencem, em sua maioria, ao grupo B2 e em menor escala ao grupo D. Amostras de E. coli comensais pertencem em sua maioria ao grupo A e em menor proporção ao grupo B1 e as agentes de doença diarréica são normalmente encontradas como membros dos grupos A, B1 e D41,42. Os grupos A e B1 são considerados grupos mais estreitamente relacionados e o grupo B2 é considerado por alguns pesquisadores como representante de uma linhagem ancestral de E. coli43. 13 Estudos filogenéticos realizados com populações de E. coli isoladas de ambientes aquáticos, apesar de ainda muito escassos, tem permitido observar que patotipos diarreiogênicos e extra-intestinais de E. coli estão distribuídos nos mais variados ecossistemas aquáticos, salientando a importância de tais estudos para a Saúde Pública44. Métodos de agrupamento filogenético podem ser realizados através de MLEE ou ribotipagem, porém ambas as técnicas são complexas, consomem muito tempo para sua conclusão e requerem uma coleção de cepas já tipadas45. Observando este fato, Clermont e colaboradores45 desenvolveram um método simples e rápido de PCR multiplex que permite que cepas de E. coli sejam classificadas em filogrupos usando uma chave dicotômica baseada na presença ou ausência de dois genes (chuA e yjaA) e de um fragmento anônimo de DNA (TSPE4.C2)41. O gene chuA é responsável pelo transporte de ferro na E. coli O157:H7 e o gene yjaA foi identificado no genoma da E. coli K-12 porém ainda não sabe-se a sua função45. 1.5) Resistência a antimicrobianos em Escherichia coli Para populações de E. coli diarreiogênicas a detecção da resistência e da multirresistência a múltiplos agentes antimicrobianos vem sendo observada em amostras clínicas provenientes de diferentes origens46,47,48,49. A co-localização de marcadores genéticos de enteropatogenicidade e de genes de resistência aos antimicrobianos sugere que a resistência desempenha um papel adicional na virulência destes microrganismos, quando associada a marcadores de enteropatogenicidade42. Considerando a elevada plasticidade genética e a ampla circulação destes microrganismos em ambientes diversos deve ser salientado o seu papel fundamental na disseminação de mecanismos genéticos de resistência entre microrganismos presentes em diferentes ambientes e hospedeiros. Grande parte dos antibióticos é lançada em ambientes aquáticos a partir de diferentes fontes, tais como efluentes domésticos, hospitalares e águas residuais de regiões de agropecuária. Quando presentes nestes ambientes os resíduos destas substâncias antimicrobianas impõem pressão seletiva em populações bacterianas circulantes nos sistemas aquáticos, resultando na prevalência de bactérias resistentes. O ambiente aquático favorece a disseminação de genes de resistência, que na maioria das vezes estão albergados em elementos genéticos móveis, entre as populações bacterianas 14 locais. Sendo assim, os ambientes aquáticos são ideais para o surgimento de novas cepas patogênicas e, também, carreadoras de mecanismos genéticos de resistência aos antimicrobianos. Portanto, o estudo das características biogenéticas de cepas bacterianas presentes nos sistemas aquáticos é indispensável para prever o risco a que a população que vive no entorno deste ambiente está submetida50,51. 1.6) Diversidade genética de populações bacterianas A E. coli apresenta um genoma bastante diversificado e uma elevada plasticidade genética. A grande diversidade do genoma de E. coli é resultado de eventos genéticos tais como deleções, substituições e adições de genes ao cromossoma bacteriano ou também da aquisição ou perda de elementos genéticos móveis através fenômenos como a transferência horizontal de genes52. Somente as combinações genéticas que obtiverem sucesso persistem e se tornam parte de patotipos específicos de E. coli20. A aquisição de plasmídeos, bacteriófagos, transposons e ilhas de patogenicidade tem importância crucial na emergência de novas espécies, subespécies e patotipos. Dentre outras espécies bacterianas, a E. coli é um ótimo modelo para o estudo da evolução do genoma bacteriano53. Nos últimos anos, o uso de técnicas moleculares de tipagem, também conhecidas como técnicas de fingerprinting, tem possibilitado analisar a diversidade e a estrutura genética de populações e sub-populações bacterianas de diversas espécies, assim como estabelecer relações de clonalidade entre elas54. Dentre os sistemas de tipagem utilizados atualmente, destaca-se a amplificação randômica do DNA polimórfico, conhecida pela sigla RAPD-PCR (Random Amplification of Polymorphic DNAPolymerase Chain Reaction). Esta metodologia é rápida, de simples execução, com reduzido custo, grande flexibilidade e sensibilidade e, por isso, tem sido amplamente utilizada para esclarecer a diversidade, as relações entre isolados e possibilitar a identificação de marcadores epidemiológicos. O potencial discriminatório desta técnica tem sido reconhecido por diversos estudos científicos conferindo ao método reconhecida contribuição em sobre a diversidade, evolução e circulação de diferentes linhagens patogênicas55,56,57,58. A técnica de RAPD emprega geralmente um único iniciador que amplifica regiões não específicas do DNA bacteriano. Em condições de baixa estringência o iniciador hibridiza, ao acaso, em múltiplas localizações do DNA iniciando a sua amplificação. O número e localização das regiões do DNA amplificadas 15 variam entre diferentes cepas e estas variações são detectadas por eletroforese em gel através da visualização de fragmentos de tamanho e em números diferentes59,60. Outra técnica molecular de fingerprinting que vem sendo muito utilizada em estudos de ecologia molecular de microrganismos é a eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE)61,62. O DGGE é utilizado para estudar variações genéticas em populações bacterianas e baseia-se na separação da fita dupla de DNA em uma matriz com gradiente de temperatura e/ou de agente desnaturante (uréia ou formamida)63. A diferença de migração no gel de poliacrilamida entre fragmentos de DNA de mesmo tamanho molecular, porém com diferentes sequências internas de ácidos nucléicos geram diferentes perfis de amplificação que refletem a diversidade das amostras ou dos genes analisados62. 1.7) Escherichia coli ambiental Por ser uma espécie bacteriana encontrada no trato intestinal do homem e de outros animais homeotérmicos, a contaminação de ambientes aquáticos por E. coli é ocasionada pelo lançamento de esgotos domésticos, de efluentes de origem agropecuária, hospitalar entre outros, e por isso, a E. coli tem sido utilizada como um indicador de contaminação fecal de ambientes aquáticos. Porém, a classificação de microrganismo como um indicador de contaminação fecal depende, dentre outras características, da incapacidade do microrganismo de se multiplicar fora do hospedeiro primário64. Pesquisas recentes indicam que a E. coli sobrevive durante longos períodos após sua deposição no ambiente e também se multiplica na água, em algas e no solo em ambientes tropicais, subtropicais e temperados64,65,66,67,68,69,70,71,72. As altas temperaturas e a grande disponibilidade de nutrientes nestes ambientes parecem permitir a sobrevivência e persistência da E. coli fora do hospedeiro (Figura 7). Além disso, a habilidade desta bactéria de se aclimatar a novos nichos em razão, por exemplo, de sua grande versatilidade para a aquisição de energia, parece permitir que estes microrganismos se tornem membros de comunidades microbianas em uma grande variedade de ambientes, mesmo em condições muito diferentes do seu habitat primário (hospedeiro)20,70,73,74,75. 16 Habitat primário - aves e mamíferos Reinoculação Despejo de material fecal Habitat secundário – solo, água etc Baixas temperaturas Altas temperaturas Escassez de nutrientes Disponibilidade de Radiação solar nutrientes etc Predação etc. Populações autosustentáveis “naturalizadas” Morte Figura 7. Diagrama esquemático do ciclo de vida de E. coli. Após ser eliminada pelo seu hospedeiro a maioria das bactérias morre devido a fatores ambientais desfavoráveis. Algumas bactérias, porém, se aderem a partículas do solo, sedimento, areia ou algas e sobrevivem durante maior tempo. Nestas condições, estas cepas de E. coli podem se multiplicar e manter suas populações por tempo suficiente para se tornarem adaptadas ou “naturalizadas” ao ambiente. Esta E. coli naturalizada sobrevive e se multiplica no ambiente secundário podendo ser reintroduzida em hospedeiros que entrem em contato com a água contaminada (Adaptado de Ishii & Sadowsky70). 1.8) Contaminação química dos sistemas aquáticos Além da contaminação microbiológica, outra relevante forma de poluição de sistemas aquáticos com impactos drásticos na saúde de seres humanos, animais e do ecossistema é a causada pelo lançamento de substâncias químicas nesses ambientes. Essa contaminação tem origem a partir do lançamento de efluentes industriais ou domésticos não tratados ou tratados de forma inadequada, que podem conter substâncias químicas tóxicas, tais como os metais76,77. 1.9) Mercúrio Dentre os metais, o mercúrio destaca-se pela sua capacidade de bioacumulação e, no caso do metilmercúrio, pela capacidade de biomagnificação ao longo de cadeias tróficas. Mesmo não alcançando concentrações de mercúrio acima dos naturais em ambientes aquáticos, por exemplo, este metal pode ser bioacumulado pelos organismos circulantes nestes ambientes, atingindo concentrações não permitidas para o consumo humano. Além disso, o mercúrio não é degradado, podendo permanecer por muito tempo nestes ambientes sem perder suas características de toxicidade. A apreensão 17 acerca da contaminação ambiental por este metal se deve a sua elevada toxicidade, a amplitude global da sua contaminação, podendo ter efeitos mesmo em ambientes muito distantes das fontes de contaminação e pela magnitude dos danos, em alguns casos irreversíveis, causados à saúde de populações humanas e de ambientes expostos. Assim torna-se fundamental o desenvolvimento de estudos que visam reduzir a exposição humana e ambiental ao mercúrio78,79,80,81. O mercúrio está presente no ambiente em um grande número de formas químicas: no estado elementar, o mercúrio metálico (Hg0) ou nas formas oxidadas, o íon mercuroso (Hg22+) e o íon mercúrico (Hg2+). As espécies do mercúrio as quais se atribui maior relevância são: o mercúrio elementar, as espécies de mercúrio inorgânico e as espécies de mercúrio orgânico. As formas do mercúrio mais comumente encontradas no ambiente são o mercúrio metálico, o sulfeto de mercúrio, cloreto de mercúrio e o metilmercúrio82,83. De acordo com UNEP83 os lançamentos de mercúrio no ambiente podem ser agrupados nas seguintes categorias: (1) provenientes de fontes naturais – lançamento decorrente da mobilização natural do mercúrio presente na crosta terrestre através de erupções vulcânicas e intemperismo das rochas; (2) provenientes de ação antropogênica atual – lançamentos decorrentes da mobilização do mercúrio presente em combustíveis e em outros minerais extraídos, tratados e reciclados pelo homem; (3) Provenientes do uso atual do mercúrio em produtos e processos – lançamento do mercúrio decorrente de processos industriais, da incineração de produtos, do uso de pesticidas e fertilizantes, da mineração e de refinarias, do vazamento de produtos químicos, de ambientes hospitalares e do uso de medicamentos entre outros; (4) Remobilização de lançamentos antropogênicos antigos depositados no solo, sedimentos, ambientes aquáticos e aterros sanitários. 1.9.1) Toxicologia do mercúrio A toxicidade do mercúrio está relacionada à forma química a qual o organismo foi exposto e também, ao tempo de exposição. Os sintomas e as fontes de contaminação 18 são diferentes na exposição pelo mercúrio elementar, compostos inorgânicos ou orgânicos do mercúrio81,83. Maiores estudos são necessários para esclarecer o mecanismo de ação exato de cada uma das formas do mercúrio nos organismos, porém, tem-se descrito que os íons de mercúrio ao se ligarem aos grupos sulfidril de proteínas e enzimas alteram a estrutura e a função de ambas, resultando na sua inativação. É possível que o mercúrio também tenha efeitos no metabolismo celular através de ligações bioquímicas a grupos amina e fosforila81,84,85. A exposição ao mercúrio desencadeia uma série de efeitos no organismo exposto, dentre eles estão os neurológicos, genéticos, cardiovasculares, imunológicos, teratogênicos e em casos de exposição ocupacional ou de contato com altas doses de mercúrio tem sido descritos até efeitos genéticos, como aberrações cromossomiais81. Toxicologicamente a mais devastadora exposição a compostos mercuriais é a causada pelo metilmercúrio, responsável por causar danos irreversíveis à saúde humana, do ambiente e de outros animais. A contaminação por este composto se dá através da ingestão de alimentos ou de água que foram, em algum momento, expostos a este metal, da inalação de vapores e do contato cutâneo. Em adultos os primeiros sintomas a serem observados após a exposição ao metilmercúrio são parestesia, indisposição e visão embaçada, com o aumento da exposição passam a ser observados restrição do campo visual, surdez, disatria, ataxia, inibição motora, tremores e diminuição da sensibilidade em algumas partes do corpo. Em situações extremas, a exposição a altas doses de metilmercúrio pode levar ao coma e posteriormente à morte em cerca de 2-4 semanas após o aparecimento dos primeiros sintomas. Uma grande preocupação acerca do contato humano com este metal se deve também ao fato de que mesmo após cessar a exposição, os sintomas geralmente não desaparecem em populações expostas cronicamente ao metilmercúrio. Devido a sua grande solubilidade em lipídeos o metilmercúrio ainda é capaz de atravessar a barreira placentária causando danos severos no desenvolvimento das crianças expostas, como microencefalia, retardo mental, incoordenação, ataxia, movimentos involuntários, paresia ou paralisia muscular, perda da audição, cegueira, distúrbios na deglutição, além de outros sintomas observados também em adultos expostos81,82,83,85,86. 19 1.10) Mecanismos de resistência bacteriana ao mercúrio A resistência ao mercúrio é um dos mecanismos de resistência a metais tóxicos mais estudados80,87,88,89,90,91,92,93,94. Tem-se descrito que algumas espécies de fungos e bactérias isoladas de diferentes fontes desenvolveram mecanismos de resistência que as permitem viver em ambientes mesmo altamente contaminados pelo mercúrio95. Dentre os mecanismos bacterianos que conferem proteção a concentrações nocivas do mercúrio são descritos: (1) bombas de efluxo que removem o íon da célula bacteriana; (2) redução enzimática do metal para uma forma elementar menos tóxica; (3) quelação através da ação de polímeros enzimáticos; (4) adsorção do mercúrio às superfícies celulares; (5) precipitação de complexos inorgânicos insolúveis na superfície da célula e (6) biometilação seguida de transporte por difusão através da membrana celular. Este último mecanismo transforma o mercúrio elementar em metilmercúrio, forma mais tóxica para outros organismos96. A detoxificação enzimática do mercúrio é um dos mecanismos de resistência a metais mais estudados. Este mecanismo consiste na redução da forma iônica reativa do mercúrio (Hg2+) para uma forma elementar (Hg0), volátil e menos reativa87,92. A presença desta característica já foi observado tanto em bactérias Gram-positivas (S. aureus, Bacillus sp.) quanto Gram-negativas (E. coli, P. aeruginosa, Serratia marcescens e Thiobacillus ferrooxidans)89. Existem evidências que indicam que a resistência ao mercúrio é codificada por uma região conservada do operon mer e que este pode ser detectado em bactérias isoladas de ambientes geograficamente muito distantes. Isto porque, a localização mais frequente deste mecanismo genético está em elementos genéticos móveis, como plasmídeos (pKLH2, pDU1358, pMERPH e pPB) e transposons (Tn501, Tn5041, Tn5056 e Tn21), o que o torna mais facilmente transferível horizontalmente entre diferentes bactérias contribuindo para a sua ampla ocorrência em diferentes grupos bacterianos e ambientes92. 1.11) Co-seleção da resistência a antimicrobianos e a metais A co-ocorrência da resistência a agentes antimicrobianos e a metais em populações bacterianas ambientais e clínicas vem sendo amplamente reportada nas últimas décadas97,98,99,100. Estes mecanismos de co-seleção incluem a co-resistência, co- 20 regulação e a resistência cruzada. A primeira ocorre quando diferentes genes responsáveis pelo fenótipo de resistência estão albergados no mesmo elemento genético como plasmídeo, integron e/ou transposon. Esta mesma localização dos genes de resistência a antimicrobianos e aos metais resulta na co-seleção de ambos os genes no caso de trocas genéticas. A resposta regulatória indireta, porém compartilhada, resultante da exposição a metais ou antimicrobianos é chamada de co-regulação. A resistência cruzada é definida pela presença de um único determinante genético responsável tanto pela resistência aos metais quanto aos antimicrobianos101. Apesar de ainda existirem dúvidas sobre o assunto, alguns estudos sugerem que a exposição de populações bacterianas a metais, tais como o mercúrio, resulta na seleção de bactérias resistentes aos antimicrobianos em muitos ambientes aquáticos100. É unanimidade entre os autores a afirmação da necessidade de pesquisas ecoepidemiológicas para avaliar as implicações para a Saúde Pública da seleção indireta de bactérias resistentes aos antimicrobianos realizada pela exposição a metais. 1.12) Operon-mer Em bactérias a resistência ao mercúrio conferida pelo operon mer é bem conhecida tanto em bactérias Gram negativas quanto em Gram positivas. Este operon inclui genes essenciais e genes acessórios para a realização deste processo (Figura 8). Os genes essenciais codificam as proteínas: MerR (responsáveis pela regulação do operon), MerT/MerP (transporte do mercúrio para dentro da célula bacteriana) e MerA (redução do mercúrio iônico). Os genes acessórios – merB, merC, merD, merE, merF e merG – codificam proteínas que adicionam habilidades aos microrganismos102,103. Na maioria das vezes o operon mer se inicia com um gene regulatório, o merR cujo produto é a proteína MerR que pode atuar tanto como repressor como um ativador de trancrição. Na ausência de Hg2+, MerR atua como repressor se ligando à região operadora do operon mer e impedindo a transcrição de merTPCAD. Na presença de Hg2+, ele se liga em um dos dois sítios de ligação de MerR formando um complexo, que atua como um ativador da transcrição do operon mer1. Nos sistemas mer de bactérias Gram negativas, merR é transcrita separadamente e de forma divergente dos outros genes do operon mer permitindo um controle maior do operon em relação as bactérias Gram positivas104. A proteína periplasmática MerP se liga a Hg2+ transferindo-o para uma proteína de membrana, a MerT responsável por 21 transportar o Hg2+ para o interior da célula bacteriana. Através da ação da enzima mercúrio redutase (MerA) o Hg2+ é reduzido a Hg0 e liberado para o meio extracelular em uma forma volátil e menos tóxica (Figura 9)1. O operon-mer pode codificar ainda um gene adicional, o merB, que confere além da resistência ao mercúrio inorgânico também a resistência ao metilmercúrio, forma orgânica do mercúrio. Neste caso, a bactéria é capaz de clivar a ligação C-Hg de compostos organomercuriais através da ação da enzima organomercurial liase (MerB)95. A presença do gene acessório merB tem sido usada na classificação do operon-mer. A resistência somente a compostos de mercúrio inorgânicos é chamada de resistência de “espectro restrito” enquanto que a resistência tanto a compostos inorgânicos quanto orgânicos é chamada de resistência de “amplo estrectro”103. * * * * *genes essenciais Figura 8. Estrutura genética do operon mer em bactérias Gram-negativas (Adaptado de Lal &Lal105). Periplasma Membrana interna Citoplasma Difusão passiva Resistência de “amplo espectro” Resistência de “espectro restrito” Figura 9. Mecanismo proposto de resistência bacteriana ao mercúrio de “amplo espectro” e de “espectro restrito” (Adaptado de Osborn e colaboradores92). 22 Em bactérias Gram-negativas, inclusive as pertencentes à espécie Escherichia coli, o operon mer tem sido descrito, porém, estudos sobre os aspectos genéticos deste gene assim como características das populações microbianas carreadoras destes determinantes são escassos107,108. Na maioria dos trabalhos realizados o gene merA tem sido empregado como alvo de análise para estudos sobre a resistência ao mercúrio em populações bacterianas. A investigação dos mecanismos bacterianos envolvidos na resistência ao mercúrio tem sido de fundamental importância para subsidiar processos de biorremediação de ambientes contaminados ou a mitigação dos efeitos da poluição do mercúrio, os quais visam minimizar a exposição humana ao mercúrio e os conseqüentes efeitos danosos à saúde109,110. 23 2. OBJETIVOS 2.1) Objetivo geral Isolar amostras de E. coli a partir de ambientes aquáticos no Estado do Rio de Janeiro e investigar características biogenéticas e de resistência ao mercúrio. 2.2) Objetivos específicos Coletar amostras de água de sistemas aquáticos fluminenses com histórico de contaminação por resíduos químicos e/ou efluentes domésticos visando o isolamento de E. coli; Determinar o fenótipo de resistência e da concentração mínima inibitória (CMI) ao mercúrio, assim como o fenótipo de resistência a antimicrobianos nas amostras de E. coli isoladas; Detectar o genótipo de resistência ao mercúrio, o grupo filogenético e o potencial de enterovirulência de todas as amostras de E. coli isoladas empregando ensaios de amplificação; Avaliar a diversidade e as relações entre subpopulações bacterianas carreadoras do gene de resistência ao mercúrio assim como investigar a ocorrência de padrões eletroforéticos e/ou variantes grupo-específicos pela técnica de RAPD-PCR; Detectar a diversidade do gene merA (285pb) pela técnica da eletroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE) em amostras de E. coli carreadoras do gene de resistência ao mercúrio; Analisar comparativamente as características investigadas e sua distribuição entre as diferentes subpopulações bacterianas; 24 3. ÁREA DE ESTUDO As áreas de coleta foram agrupadas de acordo com a proximidade de possíveis fontes de contaminação do sistema aquático: 3.1) ÁGUAS DE REGIÕES DE AGLOMERADOS RESIDENCIAIS Os locais de coleta classificados como pertencentes a regiões de aglomerados residenciais foram escolhidos pela proximidade com aglomerados residenciais localizado em regiões com precárias condições higiênico-sanitárias. O esgoto doméstico pode conter compostos químicos potencialmente nocivos à saúde humana, assim como microrganismos patogênicos. Para esta categoria foram selecionados os pontos de coleta: Canal do Mangue, Rio Jacaré, Canal do Cunha, Rio Faria, Rio Irajá, Canal do Meriti, Rio Sarapuí, Lagoa Rodrigo de Freitas, Lagoa da Tijuca, Lagoa de Marapendi e Rio São João. 3.2) ÁGUAS DE REGIÕES INDUSTRIAIS Esses locais de coleta foram escolhidos pela proximidade com a Refinaria de Duque de Caxias (REDUC) que está localizada no município de Duque de Caxias (RJ). A REDUC é a segunda maior refinaria do país podendo ser responsável pelo despejo de óleos, graxas e metais nos sistemas aquáticos111. Nesta categoria foram incluídos o Rio Iguaçú, Rio Saracuruna e Rio Imbariê, todos localizados no município de Duque de Caxias nas proximidades da Refinaria de Duque de Caxias (REDUC). 3.3) ÁGUAS DE REGIÕES DE AGROPECUÁRIA Áreas próximas a regiões de agropecuária têm grande importância pelo conhecido uso de antimicrobianos como promotor de crescimento animal, com a utilização na medicina veterinária e na agricultura na prevenção de pragas112,113. Além disso, estes ambientes contribuem na contaminação dos sistemas aquáticos com fezes principalmente de origem animal, podendo disseminar diferentes tipos de microrganismos potencialmente patogênicos no ambiente aquático. Nesta categoria foram incluídos o Rio Vargem Grande e o Córrego das Pedras localizados na região serrana do Estado do Rio de Janeiro. 25 3.4) ÁGUAS PRÓXIMAS A HOSPITAIS Efluentes de origem hospitalar representam um grande problema de Saúde Pública pela possibilidade de conter substâncias radioativas, químicas e farmacêuticas além de microrganismos patogênicos114. Apesar de microrganismos multirresistentes a agentes antimicrobianos serem encontrados em diferentes sistemas aquáticos, estudos têm demonstrado que águas contaminadas por efluentes hospitalares se tornam ambientes altamente seletivos e contribuem com o lançamento de microrganismos que exibem altos índices de resistência a antimicrobianos nos sistemas aquáticos114,115. O ponto de coleta selecionado neste grupo foi selecionado pela proximidade visual a um hospital localizado na zona oeste do Estado do Rio de Janeiro. 3.5) ÁGUAS RECREACIONAIS Podem ser classificadas como águas recreacionais regiões de água doce como lagoas, riachos e lagos, salobras como lagunas ou piscinas públicas utilizadas para fim de recreação. Estes ambientes podem ser fonte de diversas doenças veiculadas pela água podendo resultar em surtos comparáveis aos causados pelo consumo de água potável contaminada1. O local de coleta escolhido para análise nesta categoria foi o Parque Ambiental da Praia de Ramos, conhecido popularmente como “Piscinão de Ramos”, pela grande quantidade de freqüentadores. O Parque Ambiental da Praia de Ramos é uma praia artificial pública de água salgada, situada na zona norte do Estado do Rio de Janeiro, no bairro de Ramos. 26 Abaixo encontram-se fotos de alguns dos pontos de coleta amostrados no presente estudo: Figura 10. Rio Faria (Esquerda) e Rio Jacaré (Direita) (Fonte: Google Earth). Figura 11. Canal do Cunha (Esquerda) e Rio Iguaçú (Direita) (Fonte: Google Earth). Figura 12. Canal do Mangue (Esquerda) e Lagoa Rodrigo de Freitas (Direita) (Fonte: Google Earth). 27 4. METODOLOGIA 4.1) COLETA DE ÁGUA O procedimento de coleta seguiu a metodologia de filtração por membrana (Figura 13) com algumas modificações16. Resumidamente, uma alíquota de 60 mL foi aspirada da camada superior da coluna d´água a uma profundidade de aproximadamente 30 centímetros com auxílio de uma seringa estéril adaptada ao suporte de filtração. O material aspirado foi filtrado em membrana de acetato celulose (Milllipore®), com porosidade de 0,22 µm e transportado em ambiente devidamente refrigerado para imediato processamento em laboratório. Figura 13. Procedimento de coleta e filtração da água coletada. Após a coleta da água com a seringa, o procedimento de filtração das células bacterianas contou com o auxílio do suporte de filtração com a membrana de acetato celulose estéril (Fotografia de: Adriana Bezerra). 4.2) ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Escherichia coli A membrana contendo as células bacterianas retidas foi incubada em 20 mL de caldo de tripticaseína de soja (TSB - Difco®) por 18-24 horas a 37ºC. Após o período de crescimento bacteriano, o caldo foi diluído em salina 0,9% (p/v) nas proporções de 1:10, 1:50 e 1:100 e, em sequência, uma alíquota de 50µL de cada uma das diluições foi utilizada para semear em agar eosina azul de metileno (EMB - Difco®), visando o isolamento de E. coli. O EMB é um meio de cultura diferencial e seletivo utilizado para o isolamento, cultivo e diferenciação de bastonetes Gram-negativos entéricos tanto de origem clínica quanto não-clínica. Este meio contém eosina amarela e corante azul de metileno que inibem, até certo ponto, o crescimento de bactérias Gram-positivas e também são indicadores diferenciais para a fermentação de lactose e/ou sacarose. O 28 aspecto morfológico característico de E. coli neste meio é de colônias grandes, negroazuladas com brilho verde metálico, podendo algumas vezes apresentar colônias com o centro púrpura e sem a produção de brilho verde metálico ou mesmo colônias rosadas lactose negativas (Manual BBL® EMB Agar, Modified, Holt-Harris and Teague, disponível em: http://www.bd.com/ds/productCenter/221354.asp). Após 18-24 horas a 37oC 10 a 15 colônias bacterianas, lactose positivas e lactose negativas, foram selecionadas com base nas características morfofisiológicas sugestivas da espécie (Figura 14). Figura 14. Fotografia do aspecto colonial característico de E.coli em Teague (Fotografia de: Raquel Rebello). Para a confirmação do gênero e da espécie, as colônias foram submetidas a provas bioquímicas utilizando-se os meios EPM, MILi e Citrato de Simmons (Probac do Brasil®) (Figura 15). O padrão bioquímico esperado para a espécie bacteriana E. coli no meio EPM é produção de gás em glicose (+), utilização da glicose (+), produção de sulfeto de hidrogênio (-), hidrólise da uréia (-) e desaminação do triptofano (-). No meio MILi os resultados esperados são motilidade (variável), produção de indol (+) e descarboxilação de lisina (variável). E. coli apresenta resultado negativo para utilização de citrato no meio Citrato de Simmons em 99% dos casos27. 29 1 2 3 Figura 15. Fotografias do procedimento de isolamento e provas bioquímicas para confirmação de espécie. Sendo: (A) Crescimento bacteriano em caldo de tripticaseína de soja com a membrana pós-coleta após incubação de 18-24hs a 37ºC; (B) Crescimento de colônias bacterianas em ágar eosina azul de metileno a partir da suspensão bacteriana em caldo de tripticaseína de soja e (C) Padrão bioquímico da espécie nos meios EPM (1), MILi (2) e Citrato de Simmons (3) (Fotografias de: Raquel Rebello) 4.3) ESTOCAGEM DAS CEPAS DE Escherichia coli As amostras bacterianas identificadas bioquimicamente como E. coli foram estocadas e congeladas à -20ºC em caldo tripticaseína de soja (TSB - Difco®) contendo glicerol a 15% (v/v) até serem utilizadas para as análises propostas. A cada teste foram avaliados o grau de pureza e a viabilidade das células bacterianas. 4.4) AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE AO MERCÚRIO 4.4.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio Para classificar a amostra bateriana como resistente ou sensível ao Hg, as mesmas foram semeadas em meio agar nutriente (AN – Difco®) contendo 5 M de solução padrão de mercúrio (Hg2+)116. A observação do crescimento bacteriano após o período de 24-48 horas a 37°C permitiu classificar a amostra como resistente ao Hg. Foram utilizadas as amostras de E. coli ATCC 35218 e ATCC 23724 como controles de resistência e sensibilidade ao Hg, respectivamente. 4.4.2) Determinação da concentração mínima inibitória (CMI) A determinação do CMI foi feita seguindo a metodologia apresentada por Andrews117 com algumas modificações. A suspensão-inóculo de cada amostra a ser testada foi preparada em solução salina 0,9% (p/v), a partir de culturas de 18-24 horas 30 em agar nutriente devendo a solução final conter 1,5 x 109 células bacterianas (escala de McFarland 0,5). Uma alíquota de 2µL desta suspensão bacteriana foi semeada na forma de spots e em duplicata em placas de agar nutriente contendo concentrações crescentes de mercúrio (10 a 40 M). Após o período de 24-48 horas a 37°C, o valor de CMI foi determinado observando-se a inibição do crescimento bacteriano em placa. Os testes foram realizados apenas com as amostras de E. coli que expressaram o fenótipo de resistência ao mercúrio na concentração de 5 M. Como controle foram utilizadas placas com o mesmo meio de cultura sem a adição do mercúrio. As etapas subseqüentes foram realizadas com todas as amostras de Escherichia coli do estudo, incluindo dessa forma, tanto as sensíveis quanto as resistentes ao mercúrio. 4.5) AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS A susceptibilidade a agentes antimicrobianos foi avaliada empregando o método de difusão em agar seguindo recomendações prévias (CLSI118) utilizando os discos impregnados com os seguintes antimicrobianos: amicacina - AMI (CECON® 30µg), ampicilina - AMP (CECON® - 10µg), cefalotina - CFL (CECON® - 30µg), cefepima - CPM (CECON® - 30µg), cefoxitina - CFO (CECON® - 30µg), ciprofloxacino - CIP (CECON® - 5µg), gentamicina - GEN (CECON® - 10µg), nitrofurantoína - NIT (CECON® - 300 µg), norfloxacino - NOR (CECON® - 10µg), sulfazotrim - SUT (CECON® - 25µg), trimetoprim - TRI (CECON® - 5µg) (Figura 16). Para os controles de qualidade dos testes de susceptibilidade foram incluídos os seguintes padrões: E. coli ATCC 23724 e E. coli ATCC 35218. Figura 16. Teste de sensibilidade a antimicrobianos: halos de inibição exibidos pela amostra RM 95 (Fotografias de: Raquel Rebello). 31 4.6) EXTRAÇÃO DE DNA BACTERIANO Para a extração do DNA as amostras foram semeadas em agar de tripticaseína de soja (TSA - Difco®) a 37oC por 18-24 horas. Após o período de crescimento, as células bacterianas foram ressuspensas em 60µL de tampão Tris-EDTA (Anexo, item 1.1), submetido a fervura por 5 minutos e centrifugado a 14.000 rpm por cerca de 1 minuto. O sobrenadante, cerca de 40µL, foi aspirado, transferido para outro tubo estéril e conservado a 4ºC, por até uma semana, até o momento da reação. Os produtos da extração de DNA bacteriano foram usados como fonte de DNA para as PCRs de amplificação do gene merA e de agrupamento filogenético. 4.7) PCR PARA AMPLIFICAÇÃO DO GENE merA A reação de amplificação do gene merA seguiu recomendações prévias de Chadhain e colaboradores119 com algumas modificações. 4.7.1) Reação de PCR Para a reação de PCR foi utilizado um volume final de 25 L nas reações de amplificação contendo um volume de 3 l do lisado bacteriano, 2,5 L de tampão 10X (Invitrogen®), 2mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,2mM de dNTPs (Invitrogen®), 30pmol/µL de cada iniciador (Tabela 1) e 1U/µL de Platinum Taq DNA polimerase (Invitrogen®). A reação foi realizada em termociclador Mastercycler Personal (Eppendorf®) e programada para uma desnaturação inicial de 94oC por 5 minutos seguida de 45 ciclos de 94oC por 10 segundos, 68oC por 40 segundos e 72oC por 1 minuto e extensão final de 72oC por 7 minutos. 4.7.2) Condições de eletroforese Aproximadamente 10µL dos produtos de amplificação foram adicionados a 2µL de tampão de corrida (gel loading buffer - Invitrogen®) e submetidos à eletroforese em gel de agarose na concentração de 1,3% (p/v) (Anexo, item 1.2) preparado em TrisBorato-EDTA 0,5X (Anexo, item 1.3) com voltagem constante de 70V por 3 horas e 30 minutos. Após a eletroforese o gel foi corado com solução de brometo de etídeo (Invitrogen®) a 0,5µg/mL (Anexo, item 1.4) durante um período de 15 minutos e submetido à lavagem em água destilada durante cerca de 30 minutos. O gel foi 32 inspecionado visualmente em transiluminador de luz ultravioleta (UVITec®, Cambridge, Reino Unido) e fotografados em sistema de captura de imagem digital (UVIPro silver®, Cambridge, Reino Unido). Para estimar o tamanho dos fragmentos obtidos foi utilizado o padrão de 100pb DNA ladder (Invitrogen®). Como controles de reação foram incluídas cepas bacterianas resistentes e sensíveis ao mercúrio (E. coli ATCC 35218; E. coli - ATCC 23724). Tabela 1. Iniciadores de PCR para a amplificação do gene merA (Chadhain e colaboradores119). Iniciador Sequência (5´-3´) A1s-n.F A5-n.R TCCGCAAGTNGCVACBGTNGG ACCATCGTCAGRTARGGRAAVA Gene ou fragmento alvo Tamanho do amplicon (pb) Concentração do primer (pmol/µL) merA 285 30 4.8) PCR-TRIPLEX PARA AGRUPAMENTO FILOGENÉTICO DE Escherichia coli A detecção dos genes chuA, yjaA e do fragmento TSPE4.C2 foi realizada através de ensaios de amplificação seguindo metodologia já descrita45. 4.8.1) Reação de PCR Para a reação de PCR foi utilizado um volume final de 20 L contendo 3 L do DNA bacteriano, 2 L de tampão 10X (Invitrogen®), 20pmol/µL de cada iniciador (Tabela 2), 0,16mM de dNTP (Invitrogen®), 3mM de MgCl2 (Invitrogen®) e 2,5U/µL de Taq DNA polimerase (Invitrogen®). A reação foi realizada em termociclador Mastercycler Personal (Eppendorf®) e programada para desnaturação inicial de 94oC por 4 minutos seguida de 30 ciclos de 94oC por 5 segundos e 59oC por 10 segundos seguida de uma extensão final de 72oC por 5 minutos. 33 Tabela 2. Iniciadores de PCR-triplex para agrupamento filogenético de E. coli (Clermont e colaboradores45). Gene ou fragmento alvo Tamanho do amplicon (pb) Concentração do primer (pmol/µL) GACGAACCAACGGTCAGGAT TGCCGCCAGTACCAAAGACA chuA 279 20 yjaA.1 yjaA.2 TGAAGTGTCAGGAGACGCTG ATGGAGAATGCGTTCCTCAAC yjaA 211 20 tspE4C2.1 tspE4C2.2 GAGTAATGTCGGGGCATTCA CGCGCCAACAAAGTATTACG TSPE4.C2 152 20 Iniciador Sequência (5´-3´) chuA.1 chuA.2 4.8.2) Condições de eletroforese Aproximadamente 10µL dos produtos resultantes de amplificação foram adicionados a 2µL de tampão de corrida (gel loading buffer - Invitrogen®) e submetidos à eletroforese em gel de agarose na concentração 1,2% (p/v) (Anexo, item 1.5) preparado em tampão Tris-Borato-EDTA 0,5X com voltagem constante de 100V por 3 horas e 30 minutos. Após a eletroforese o gel foi corado com solução de brometo de etídeo (Invitrogen®) a 0,5µg/mL durante um período de 15 minutos e submetido à lavagem em água destilada durante cerca de 30 minutos. O gel foi inspecionado visualmente em transiluminador de luz ultravioleta (UVITec®, Cambridge, Reino Unido) e fotografados em sistema de captura de imagem digital (UVIPro silver ®, Cambridge, Reino Unido). Para estimar o tamanho dos fragmentos obtidos foi utilizado o padrão de 100pb DNA ladder (Invitrogen®). A reprodutibilidade foi avaliada observando-se a repetição do padrão eletroforético com base em diferentes reações de amplificação e de culturas do mesmo isolado. Como controle de reação foi utilizada a amostra selvagem L75A (UPEC: chuA +, yjaA+ e TSPE4.C2+). 34 4.8.3) Agrupamento filogenético A tipagem filogenética seguiu a observação da presença ou ausência dos alvos genéticos de acordo com a árvore dicotômica proposta por Clermont e colaboradores45 e demonstrada no esquema a seguir: chuA + B2 ou D B1 ou A yjaA TSPE4.C2 + B2 D + B1 A Figura 17. Árvore de classificação filogenética de amostras de E. coli. Classificação proposta por Clermont e colaboradores45 a partir da amplificação dos genes chuA, yjaA e do fragmento TSPE4.C2 (Adaptado Clermont e colaboradores45). 4.9) PCR-MULTIPLEX PARA ENTEROVIRULÊNCIA DE Escherichia coli (PCR-DEC) A reação de PCR-DEC seguiu a metodologia utilizada por Müller e colaboradores120 para a detecção e diferenciação simultânea das sete categorias de E.coli diarreiogênicas descritas no artigo (EPEC, ATEC, ETEC, EIEC, EAEC, STEC e EHEC) (Quadro 3). 4.9.1) Reação de PCR Para a reação de PCR foi utilizado um volume final de 25 L contendo 2,5 L de tampão 10X (Invitrogen®), 0,3mM de cada dNTP (Invitrogen®), 2,1mM de MgCl2 (Invitrogen®) e 2U/µL de Taq DNA polimerase (Invitrogen®), 14mM 2-mercaptoetanol (Sigma®), 0,14% Triton X-10 (Sigma®) e as concentrações dos iniciadores listadas na tabela 3. Como fonte de DNA foi selecionada uma colônia de cada amostra proveniente 35 de crescimento recente em agar de tripticaseína de soja (TSA-Difco®). A colônia foi ressuspensa no mix de reação e a solução foi acondicionada em gelo durante 1 minuto. A reação foi realizada em termociclador Mastercycler Personal (Eppendorf®) e programada para desnaturação inicial de 94oC por 5 minutos seguida de 30 ciclos de 94oC por 30 segundos, 63oC por 30 segundos e 72ºC por 1,5 minuto seguida de uma extensão final de 72oC por 5 minutos. 4.9.2) Condições de Eletroforese Aproximadamente 10µL dos produtos de amplificação foram adicionados a 2µL de tampão de corrida (gel loading buffer - Invitrogen®) e submetidos à eletroforese em gel de agarose na concentração de 1,5% (p/v) (Anexo, item 1.6) preparado em tampão Tris-Borato-EDTA 0,5X com voltagem constante de 80V por 4 horas e 30 minutos. Após a eletroforese o gel foi corado com solução de brometo de etídeo (Invitrogen®) a 0,5µg/mL durante um período de 15 minutos e submetido à lavagem em água destilada durante cerca de 30 minutos. O gel foi inspecionado visualmente em transiluminador de luz ultravioleta (UVITec®, Cambridge, Reino Unido) e fotografados em sistema de captura de imagem digital (UVIPro silver®, Cambridge, Reino Unido). Para estimar o tamanho dos fragmentos obtidos foi utilizado o padrão de 100pb DNA ladder (Invitrogen®). Como controles de reação foram utilizadas as amostras clínicas 243IV (EPEC típica - escV, bfpB), 36IV (ETEC - lt), 245I (ETEC - st), E30138 (STEC - stx2), E40705 (STEC - stx1), 103V (EAEC - aggR) e 129III (EIEC - inv)48,58. 36 Tabela 3. Iniciadores utilizados para o PCR-multiplex para enterovirulência de E. coli (Müller e colaboradores120). Iniciador Sequência (5´-3´) Gene ou fragmento alvo Tamanho do amplicon (pb) Concentração do primer (µM) MP3-escV-F MP3-escV-R ATTCTGGCTCTCTTCTTCTTTATGGCTG CGTCCCCTTTTACAAACTTCATCGC escV 544 0.4 0.4 MP3-bfpB-F MP3-bfpB-R GACACCTCATTGCTGAAGTCG CCAGAACACCTCCGTTATGC bfpB 910 0.1 0.1 MP4-stx1A-F MP4-stx1A-R CGATGTTACGGTTTGTTACTGTGACAGC AATGCCACGCTTCCCAGAATTG stx1 244 0.2 0.2 MP3-stx2A-F MP3-stx2A-R GTTTTGACCATCTTCGTCTGATTATTGAG AGCGTAAGGCTTCTGCTGTGAC stx2 324 0.4 0.4 MP2-LT-F MP2-LT-R GAACAGGAGGTTTCTGCGTTAGGTG CTTTCAATGGCTTTTTTTTGGGAGTC elt 655 0.1 0.1 MP4-STIa-F MP4-STIa-R CCTCTTTTAGYCAGACARCTGAATCASTTG CAGGCAGGATTACAACAAAGTTCACAG estIa 157 0.4 0.4 MP2-STI-F MP2-STI-R TGTCTTTTTCACCTTTCGCTC CGGTACAAGCAGGATTACAACAC estIb 171 0.2 0.2 MP2-invE-F MP2-invE-R CGATAGATGGCGAGAAATTATATCCCG CGATCAAGAATCCCTAACAGAAGAATCAC invE 766 0.2 0.2 MP2-astA-F MP2-astA-R TGCCATCAACACAGTATATCCG ACGGCTTTGTAGTCCTTCCAT astA 102 0.4 0.4 MP2-aggr-F Mp2-aggr-R ACGCAGAGTTGCCTGATAAAG AATACAGAATCGTCAGCATCAGC aggR 400 0.2 0.2 MP2-pic-F MP2-pic-R AGCCGTTTCCGCAGAAGCC AAATGTCAGTGAACCGACGATTGG pic 1,111 0.2 0.2 MP2-uidA-F MP2-uidA-R ATGCCAGTCCAGCGTTTTTGC AAAGTGTGGGTCAATAATCAGGAAGTG uidA 1,487 0.2 0.2 37 Quadro 3. Classificação dos patotipos intestinais de E. coli com base nos marcadores genéticos investigados, segundo critério definido por Müller e colaboradores120. Patotipo Genes de enterovirulência Função dos genes EPEC escV bfpB SSTT Fímbria do tipo IV ATEC escV SSTT ETEC elt estIa estIb Toxina termolábil Toxina termoestável I Toxina termoestável II STEC stx1 stx2 Toxina citotóxica de Shiga (família 1) Toxina citotóxica de Shiga (família 2) EHEC escV stx1 stx2 Toxina citotóxica de Shiga (família 1) Toxina citotóxica de Shiga (família 2) EIEC invE Regulon EAEC astA aggR pic Enterotoxina termoestável 1 (EAST1) Regulon Proteína extracelular Marcador de espécie uidA A investigação da diversidade do genoma total e da diversidade do gene merA foram realizadas apenas com as amostras de Escherichia coli merA+. 4.10) AMPLIFICAÇÃO RANDÔMICA DO DNA POLIMÓRFICO (RAPD-PCR) A reação de RAPD-PCR foi realizada seguindo a metodologia proposta por Pacheco e colaboradores57. 4.10.1) Extração do DNA e reação de PCR O DNA bacteriano foi obtido por meio de extração térmica a partir de uma suspensão bacteriana de concentração definida conforme previamente descrito57. Para a reação de PCR foi utilizado um volume final de 30 L contendo 2 L do DNA bacteriano, 3 L de tampão 10X (Invitrogen®), 30pmol/µL de cada iniciador (Tabela 4), 250µM de cada dNTP (Invitrogen®), 3mM de MgCl2 (Invitrogen®) e 1U/µL de Taq DNA polimerase (Invitrogen®). A reação foi realizada em termociclador Mastercycler Personal (Eppendorf®) e programada uma etapa de desnaturação inicial de 94oC por 1 38 minuto seguida de 4 ciclos de 94oC por 4 minutos, 37oC por 4 minutos e 72oC por 4 minutos, 30 ciclos de 94oC por 1 minuto, 37oC por 1 minuto e 72oC por 2 minutos e extensão final de 72oC por 10 minutos. Tabela 4. Iniciadores para amplificação randômica do DNA polimórfico de E. coli. Iniciador Sequência (5´-3´) Concentração do primer (pmol/µL) Referência 1247 AAGAGCCCGT 30 Johnson e colaboradores121 1254 CCGCAGCCAA 30 Regua-Mangia e colaboradores48 1290 GTGGATGCGA 30 Regua-Mangia e colaboradores48 A04 AATCGGGCTG 30 Silva122 4.10.2) Condições de eletroforese Aproximadamente 10µL dos produtos de amplificação foram adicionados a 2µL de tampão de corrida (gel loading buffer - Invitrogen®) e submetidos à eletroforese em gel de agarose na concentração de 1,5% (p/v) preparado em tampão Tris-BoratoEDTA 0,5X com voltagem constante de 60V por 4 horas e 30 minutos. Para estimar o tamanho dos fragmentos obtidos foi utilizado o padrão de 1Kb DNA ladder (Invitrogen®). Após a eletroforese o gel foi corado com solução de brometo de etídeo (Invitrogen®) a 0,5µg/mL durante um período de 15 minutos e submetido à lavagem em água destilada durante cerca de 30 minutos. Os perfis de amplificação foram submetidos à análise visual e automatizada, com auxílio do UVI Soft Image Acquisition and Analysis Software, empregando-se o programa UVIPro bandmap versão 11.9 (UVItec®, Cambridge, Reino Unido). O critério para a definição dos perfis eletroforéticos consideram a intensidade, presença e ausência de bandas. Para estimar o tamanho dos fragmentos obtidos foi utilizado o padrão de 1Kb DNA ladder (Invitrogen®). 39 O potencial discriminatório dos iniciadores utilizados neste trabalho foi calculado através da equação da diversidade122,123. Onde N é o número total de amostras, S é o número total de perfis gerados e nj é o número de amostras pertencentes a um perfil. 4.11) ELETROFORESE EM GEL COM GRADIENTE DESNATURANTE (DGGE) O procedimento realizado no presente estudo incluiu: 1) extração do DNA das amostras de E. coli carreadoras do gene merA; 2) nova reação PCR e corrida de eletroforese para a detecção do gene merA; 3) purificação do fragmento esperado através de Kit de extração de DNA em gel e 4) Separação dos produtos de PCR pelo DGGE. 4.11.1) Extração do DNA em gel A extração do DNA em gel realizada empregando o kit AxyPrepTM DNA Gel Extraction Kit (Axygen Biosciences®) foi utilizada para possibilitar a purificação do fragmento de DNA alvo da reação de PCR-merA (285pb) (item 4.7). O produto purificado foi utilizado como fonte de DNA. 4.11.2) Reação de PCR Para a reação de DGGE-PCR foi utilizado um volume final de 25 L nas reações de amplificação contendo um volume de 3 l do DNA purificado, 2,5 L de tampão 10X (Invitrogen®), 2mM de MgCl2 (Invitrogen®), 0,2mM de dNTPs (Invitrogen®), 30pmol/µL de cada iniciador (Tabela 5), formamida 1% (Anexo, item 1.7) e 1U/µL de Platinum Taq DNA polimerase (Invitrogen®). A reação foi realizada em termociclador Mastercycler Personal (Eppendorf®) e programada para uma desnaturação inicial de 94oC por 5 minutos seguida de 45 ciclos de 94oC por 10 segundos, 68oC por 40 segundos e 72oC por 1 minuto e extensão final de 72oC por 7 minutos. 40 Tabela 5. Iniciadores de PCR para a amplificação do gene merA usados para o ensaio de DGGE. Iniciador Sequência (5´-3´) A1s-n.F* TCCGCAAGTNGCVACBGTNGG CGCCCGCCGCGCGCGGCGGGCGGGGCGGGGGCAC GGGGGG A5-n.R Gene ou fragmento alvo Tamanho do amplicon (pb) Concentração do primer (pmol/µL) merA 285 30 ACCATCGTCAGRTARGGRAAVA *Iniciador adicionado do grampo CG, referência Muyzer e colaboradores124 4.11.3) Condições de eletroforese Aproximadamente 25µL do produto de amplificação foram adicionados a 15µL de corante para eletroforese de DNA (Anexo, item 1.8) e aplicados em gel de poliacrilamida com gradiente linear de desnaturantes de 55%-80% (Anexo, itens 1.91.12), formados a partir de soluções estoque de poliacrilamida (8%), uma com 0% e outra contendo 100% dos agentes desnaturantes (Anexo, itens 1.13-1.15). A eletroforese foi realizada no equipamento DcodeTM Universal Mutation System (BIO-Rad®) (Figura 18) e conduzida na voltagem constante de 100V a 60°C por 6 horas em Tris-acetato 0,5X (Anexo, item 1.16). Após a corrida o gel foi corado em Sybr Green (Molecular Probes®, Oregon, EUA) (Anexo, item 1.17) por 30 minutos e visualizados em transiluminador UV. Figura 18. Ensaio DGGE. Sendo: (A) Formação do gradiente desnaturante e (B) Sistema de eletroforese DcodeTM (Fotografias de: Raquel Rebello). 41 O esquema geral da caracterização realizada para as amostras do estudo estão resumidas na figura abaixo (Figura 19): Membrana de acetato celulose-Millipore pós-coleta Caldo de Tripticaseína de soja Diluição seriada em ágar eosina azul de metileno (Teague) IDENTIFICAÇÃO BIOQUÍMICA EPM, MILi e citrato de simmons ESTOQUE TSB glicerol MÉTODOS GENOTÍPICOS MÉTODOS FENOTÍPICOS Determinação da resistência ao Hg* Avaliação da susceptibilidade aos antimicrobianos** PCR merA* Gene merA+ HgR PCR-Triplex Filogenia** PCR-Multiplex Enterovirulência** *Método relacionado resistência ao Hg à ** Método relacionado à virulência em E. coli Determinação da CMI ao Hg* PCR-RAPD* DGGE do gene merA* Figura 19. Esquema geral de caracterização realizada para as amostras de E. coli incluídas neste estudo. 42 5. RESULTADOS Os resultados obtidos no presente estudo foram parcialmente apresentados nos seguintes eventos científicos: XLVII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. RN, 2011. “Potencial de uropatogenicidade e enteropatogenicidade em amostras de Escherichia coli isoladas de diferentes sistemas aquáticos”. 26º Congresso Brasileiro de Microbiologia. PR, 2011. “Caracterização fenotípica da resistência a antimicrobianos e ao mercúrio em amostras de Escherichia coli isoladas de sistemas aquáticos fluminenses”. 43 5.1) COLETA DE ÁGUA, ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Escherichia coli Foram obtidas amostras de E. coli em todos os 18 diferentes pontos de coleta situados no Estado do Rio de Janeiro. As amostras foram agrupadas em áreas de coleta de acordo com a proximidade de possíveis fontes de contaminação do sistema aquático (Tabela 6; Tabela 22). Tabela 6. Número de amostras de E. coli isoladas por área e ponto de coleta. Área de coleta Ponto de coleta Número de amostras Total de amostras (%*) Águas de regiões de aglomerados residenciais Canal do Mangue Rio Jacaré Canal do Cunha Rio Faria Rio Irajá Canal do Meriti Rio Sarapuí Lagoa Rodrigo de Freitas Lagoa da Tijuca Lagoa de Marapendi Rio São João 05 01 03 03 13 04 01 18 08 07 12 75 (42,1%) Águas de regiões industriais Rio Saracuruna Rio Imbariê Rio Iguaçú 04 02 03 09 (5%) Águas de regiões de agropecuária Rio Vargem Grande Córrego das Pedras 06 20 26 (14,6%) Águas próximas a hospitais Canal Cândido Portinari 29 29 (16,3%) Águas recreacionais Parque Nacional da Praia de Ramos 39 39 (22%) Total 18 178 178 * O valor da porcentagem foi calculado de acordo com a população total (n=178) 44 MÉTODOS FENOTÍPICOS 5.2) FENÓTIPO DE SUSCEPTIBILIDADE AO MERCÚRIO 5.2.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio e determinação da concentração mínima inibitória (CMI) Do total de 178 amostras de E. coli isoladas neste estudo, 164 (92,1%) foram classificadas como resistentes ao Hg (HgR) pois cresceram em placas de agar nutriente contendo 5 M de mercúrio (Tabela 7). Todas essas 164 amostras que exibiram resistência a 5 M de Hg apresentaram o valor de CMI igual a 10µM de Hg (Tabela 22). Tabela 7. Número e porcentagem de amostras de E. coli HgR por área de coleta. Área de coleta Isolados de E. coli (nº) Resistência a 5µM de Hg (%) Águas de regiões de aglomerados residenciais Águas de regiões industriais Águas de regiões de agropecuária Águas recreacionais Águas próximas a hospitais Total 75 9 26 39 29 178 (100%) 60 (80%) 9 (100%) 26 (100%) 39 (100%) 29 (100%) 164 (92,1%) Tabela 8. Número e porcentagem de amostras de E. coli HgR isoladas de ÁGUAS DE REGIÕES DE AGLOMERADOS RESIDENCIAIS. Ponto de Coleta Amostras de E. coli (nº) Resistência a 5µM de Hg (%) Canal do Mangue Rio Jacaré Canal do Cunha Rio Faria Rio Irajá Canal do Meriti Rio Sarapuí Lagoa Rodrigo de Freitas Lagoa da Tijuca Lagoa de Marapendi Rio São João Total 05 01 03 03 13 04 01 18 08 07 12 75 (100%) 04 (80%) 01 (100%) 03 (100%) 01 (33,3%) 10 (76,9%) 02 (50%) 01 (100%) 11 (61,1%) 08 (100%) 07 (100%) 12 (100%) 60 (80%) 45 5.3) FENÓTIPO DA SUSCEPTIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS Os testes de difusão em agar revelaram que 18,5% (n=33) da população bacteriana foi sensível a todos os antimicrobianos testados. O fenótipo de resistência foi detectado em 37% (n=66) dos isolados definindo 23 perfis de resistência distintos (IXXIII) (Tabela 9). Desses perfis, quatro corresponderam a padrões de resistência isolada para amicacina, cefalotina, gentamicina e nitrofurantoína e 19 a padrões de multirresistência, ou seja, resistência a mais de um agente antimicrobiano (V-XXIII). A resistência aos antimicrobianos testados na população total (n=178) foi de: 24,7% CFL (n=44), 12,4% AMI (n=22), 9% AMP (n=16), 5,6% GEN (n=10), 3,4% CIP (n=06), 3,4% NOR (n=06), 3,4% TRI (n=06), 2,8% CFO (n=05), 2,8% NIT (n=05) e 0,6% CPM (n=01) (Gráfico 1). A multirresistência para até 07 antimicrobianos foi detectada em 16,8% (n=30) das amostras e a resistência intermediária em 62,3% (n=118). Tabela 9. Perfis de resistência a antimicrobianos encontrados nas amostras de E. coli por área de coleta. Perfil de resistência I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII Total Nº de amostras por área de coleta Antimicrobiano AMI CFL GEN NIT AMP, CFL AMI, GEN AMI, CFL CFO, CPM CFL, TRI CIP, NOR TRI, SUT AMP, TRI, SUT AMI, GEN, CFO AMI, GEN, CFL CFL, NOR, NIT AMP, AMI, GEN, CFO AMP, AMI, GEN, CFL AMP, CFO, CFL, NIT AMP, CFL, CIP, NOR CIP, TRI, SUT, NOR AMP, AMI, GEN, CFL, NIT AMP, AMI, CFL, TRI, SUT AMP, AMI, GEN, CFO, CFL, CIP, NIT A B C D E 3 2 1 0 1 1 1 1 1 0 0 1 1 1 0 0 0 0 3 0 0 0 0 17 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 02 3 6 0 0 1 0 1 0 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 15 1 16 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 22 3 0 0 1 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0 0 10 Total de amostras 10 24 1 1 6 2 2 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 3 1 1 1 1 66 Legenda. A - Águas de regiões de aglomerados residenciais; B - Águas de regiões industriais; C - Águas de regiões de agropecuária; D - Águas recreacionais e E - Águas próximas a hospitais. 46 24,7 12,4 9 2,8 5,6 3,4 0,6 2,8 3,4 3,4 Gráfico 1. Porcentagem total de amostras de E. coli resistentes por antimicrobiano testado (n=178). Códigos referentes aos antimicrobianos: AMI (amicacina), AMP (ampicilina), CFL (cefalotina), CFO (cefoxitina), CIP (ciprofloxacino), CPM (cefepima), GEN (gentamicina), NIT (nitrofurantoína), NOR (norfloxacino), SUT (sulfazotrim) e TRI (trimetoprim). Tabela 10. Número de amostras de E. coli resistentes aos antimicrobianos separados por classe e grupo de antimicrobianos. Classe Grupo Antimicrobiano Nº de amostras Aminopenicilinas Ampicilina 16 Cefamicinas Cefalotina (1ª geração) Cefepima (4ª geração) Cefoxitina 44 05 01 Aminoglicosídeos - Amicacina Gentamicina 22 10 Quinolonas Fluoroquinolonas Ciprofloxacino Norfloxacino 06 06 Inibidores da via folato - Sulfonamidas Trimetoprim 05 06 Nitrofuranos - Nitrofurantoína 05 Β-lactâmicos cefalosporinas 47 5.3.1) Fenótipo da susceptibilidade a antimicrobianos por área de coleta No grupo das amostras isoladas de águas de regiões de aglomerados residenciais a resistência foi detectada em 22,7% (n=17) das amostras representando índices de 12% CFL (n=09), 9,3% AMI (n=07), 6,7% AMP (n=05), 5,3% GEN (n=04), 4% NOR (n=03), 4% CIP (n=03), 2,7% CFO (n=02), 2,7% TRI (n=02), 1,3% SUT (n=01) e 1,3% CPM (n=01). Nenhuma amostra apresentou resistência à nitrofurantoína. O fenótipo de resistência nesta área de coleta definiu 12 perfis de resistência distintos sendo 03 correspondentes a padrões de resistência isolada para amicacina, cefalotina e gentamicina e 09 a padrões de multirresistência. A resistência intermediária foi detectada para ampicilina, amicacina, gentamicina, cefoxitina, cefalotina, ciprofloxacino, trimetoprim, sulfazotrim e nitrofurantoína. A multirresistência foi observada para até 04 antimicrobianos e detectada em 14,6% (n=11) das amostras. No grupo das amostras isoladas de águas de regiões industriais a resistência foi detectada em 22,2% (n=02) das amostras representando índice de 11,1% (n=01) para os antimicrobianos AMP, AMI, CFL, CIP, TRI, SUT e NOR. Nenhuma amostra apresentou resistência à gentamicina, cefoxitina, cefepima e nitrofurantoína. O fenótipo de resistência nesta área de coleta definiu 02 perfis de resistência sendo um correspondente a um padrão de multirresistência para ciprofloxacino e norfloxacino e o outro correspondende a um padrão de multiresistência para ampicilina, amicacina, cefalotina, trimetoprim e sulfazotrim. A resistência intermediária foi detectada para amicacina, gentamicina e cefalotina. A multirresistência foi observada para até 05 antimicrobianos e detectada em 22,2% (n=02) das amostras. No grupo das amostras isoladas de águas de regiões de agropecuária a resistência foi detectada em 57,7% (n=15) das amostras representando índices de 34,6% CFL (n=09), 15,4% AMI (n=04), 11,5% TRI (n=03), 11,5% SUT (n=03), 7,7% NOR (n=02), 3,8% AMP (n=01), 3,8% CIP (n=01), e 3,8% NIT (n=01). Nenhuma amostra apresentou resistência à gentamicina, cefoxitina e cefepima. O fenótipo de resistência nesta área de coleta definiu 07 perfis de resistência distintos sendo 02 correspondentes a padrões de resistência isolada para amicacina e cefalotina e 05 a padrões de multirresistência. A resistência intermediária foi detectada para amicacina, gentamicina, cefoxitina, cefalotina, ciprofloxacino e norfloxacino. A multirresistência foi observada para até 04 antimicrobianos e detectada em 23% (n=06) das amostras. 48 No grupo das amostras isoladas de águas recreacionais a resistência foi detectada em 56,4% (n=22) das amostras representando índices de 53,9% CFL (n=21), 10,2% AMP (n=04), 10,2% AMI (n=04), 7,7% GEN (n=03), 2,6% CFO (n=01), 2,6% CIP (n=01) e 2,6% NIT (n=01). Nenhuma amostra apresentou resistência à cefepima, trimetoprim, sulfazotrim e norfloxacino. O fenótipo de resistência nesta área de coleta definiu 06 perfis de resistência distintos sendo 02 correspondentes a padrões de resistência isolada para amicacina e cefalotina e 04 a padrões de multirresistência. A resistência intermediária foi detectada para ampicilina, amicacina, gentamicina, cefalotina, ciprofloxacino e norfloxacino. A multirresistência foi observada para até 07 antimicrobianos e detectada em 12,8% (n=05) das amostras. No grupo das amostras isoladas de águas próximas a hospitais a resistência foi detectada em 34,5% (n=10) das amostras representando índices de 20,7% AMI (n=06), 17,2% AMP (n=05), 13,8% CFL (n=04), 10,3% NIT (n=03), 10,3% GEN (n=03) e 6,9% CFO (n=02). Nenhuma amostra apresentou resistência à cefepima, ciprofloxacino, trimetoprim, sulfazotrim e norfloxacino. O fenótipo de resistência nesta área de coleta definiu 07 perfis de resistência distintos sendo 02 correspondentes a padrões de resistência isolada para amicacina e nitrofurantoína e 05 a padrões de multirresistência. A resistência intermediária foi detectada para ampicilina, amicacina, gentamicina, cefoxitina, cefepima, cefalotina, ciprofloxacino, trimetoprim e norfloxacino. A multirresistência foi observada para até cinco antimicrobianos e detectada em 20,7% (n=06) das amostras. 49 57,7 56,4 34,5 22,7 22,2 Gráfico 2. Porcentagem total de amostras resistentes a antimicrobianos de acordo com a área de coleta (n=178). Códigos referentes às áreas de coleta: (A) Águas de regiões de aglomerados residenciais, (B) Águas de regiões industriais, (C) Águas recreacionais, (D) Águas próximas a hospitais e (E) Águas de regiões de agropecuária. MÉTODOS GENOTÍPICOS 5.4) PCR PARA AMPLIFICAÇÃO DO GENE merA Do total de amostras de E. coli analisadas neste estudo foram detectados produtos de amplificação estáveis e reprodutíveis dentro das condições experimentais empregadas em 46% (n=82) das amostras. Com base na presença ou ausência dos fragmentos de 285pb e 720pb foram definindos três perfis eletroforéticos (Tabela 11; Tabela 22). O fragmento de 285pb foi detectado em 14 amostras sendo que 12 destas também apresentaram amplificação do fragmento de aproximadamente 720pb (Figura 20). Definindo o terceiro perfil eletroforético 68 amostras amplificaram somente o fragmento de 720pb (Figura 21). Foram consideradas amostras merA+ aquelas pertencentes aos perfis I e II (n=14), que apresentaram amplificação do gene alvo específico da resistência ao mercúrio (merA – 285pb) descrito por Chadhain e colaboradores119. 50 2072pb 1500pb 600pb 285pb 100pb 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Figura 20. Eletroforese em gel de agarose do produto de amplificação para detecção do gene merA. Colunas: (1) padrão de peso molecular 100pb; (2) RM 1; (3) RM 7; (4) RM 8; (5) RM 9; (6) RM 17; (7) RM 20; (8) RM 31; (9) RM 37; (10) RM 44; (11) RM 45 e (12) RM 46. Nota: A seta indica a amplificação do fragmento esperado. 2072pb 1500pb ≈ 720pb 600pb 285pb 100pb 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Figura 21. Eletroforese em gel de agarose do produto de amplificação para detecção do gene merA. Colunas: (1) padrão de peso molecular 100pb; (2) RM 57; (3) RM 61; (4) RM 71; (5) RM 72; (6) RM 103; (7) RM 118; (8) RM 150; (9) RM 165; (10) padrão de peso molecular 100pb. Nota: A seta indica a amplificação do fragmento esperado (285pb) e o fragmento detectado em grande parte das amostras (aproximadamente 720pb). Tabela 11. Perfis de amplificação resultantes dos produtos de PCR-merA. Perfil do genótipo de R ao Hg Marcador genético Número de amostras* I 285pb 2 II III Total 285pb e 720pb 720pb 12 68 82 *Foram excluídas desta tabela 96 amostras que não tiveram nenhum produto de amplificação estável e reprodutível. 51 5.4.1) PCR-merA por área de coleta Foram detectadas amostras de E. coli merA+ nas águas de regiões de aglomerados residenciais, de regiões industriais e próximas a hospitais (Tabela 12). As amostras merA+ corresponderam a 13,3% (n=10) do total de amostras isolados de áreas de aglomerados residenciais (n=75), 11,1% (n=1) do total de amostras isolados de águas de regiões industriais (n=09) e 6,9% (n=2) do total de amostras isolados de águas próximas a hospitais (n=29). Tabela 12. Amostras de E. coli merA+ por área e ponto de coleta. Amostras Área de coleta Ponto de coleta RM 1 Canal do Mangue RM 7 RM 8 RM 9 Canal do Cunha RM 17 RM 20 Águas de regiões de aglomerados residenciais Rio Irajá RM 37 RM 44 RM 45 RM 46 Lagoa Rodrigo de Freitas RM 61 Lagoa de Marapendi RM 31 Águas de regiões industriais Rio Iguaçú RM 150 RM 165 Águas próximas a hospitais Canal Cândido Portinari 5.4.2) PCR-merA e fenótipo de resistência aos antimicrobianos Dentre as amostras de E. coli merA+ (n=14) incluídas neste estudo, 42,9% (n=06) apresentaram perfil de multirresistência aos agentes antimicrobianos testados (Tabela 13). Os maiores índices de resistência foram observados para os antimicrobianos cefalotina 42,9% (n=06), ampicilina 35,7% (n=05), ciprofloxacino e norfloxacino 21,4% (n=03) e trimetoprim 14,3% (n=02) (Gráfico 3). 52 Tabela 13. Resistência aos antimicrobianos nas amostras de E. coli merA+. Antimicrobianos Amostras AMP AMI GEN CFO CPM CFL CIP TRI SUT NOR NIT RM 1 I S S S S R S R S S S RM 7 RM 8 RM 9 RM 17 RM 20 RM 31 RM 37 RM 44 RM 45 RM 46 RM 61 RM 150 RM 165 S S S S S R R R S R S S R I S I S S R S S I S S I S S S S S S I S I I I S S S S S S S S S S S S S S S R S S S S S S S S S S S S I S S S I S R R R S R S S R S S S S S S R R I R S S S S S S S S R S S S S S S S S S S S S R I S S S S S S S S S S S S R R S R S S I S S S S S S S S S S S S R Legenda. AMI (amicacina), AMP (ampicilina), CFL (cefalotina), CFO (cefoxitina), CIP (ciprofloxacino), CPM (cefepima), GEN (gentamicina), NIT (nitrofurantoína), NOR (norfloxacino), SUT (sulfazotrim) e TRI (trimetoprim). R (resistente), I (resistência intermediária) e S (sensível). 42,9 35,7 21,4 21,4 14,3 7,1 7,1 7,1 7,1 Gráfico 3. Porcentagem de amostras de E. coli merA+ por antimicrobiano testado (n=14). Códigos referentes aos antimicrobianos: AMI (amicacina), AMP (ampicilina), CFL (cefalotina), CFO (cefoxitina), CIP (ciprofloxacino), CPM (cefepima), GEN (gentamicina), NIT (nitrofurantoína), NOR (norfloxacino), SUT (sulfazotrim) e TRI (trimetoprim). 53 5.5) PCR-TRIPLEX PARA AGRUPAMENTO FILOGENÉTICO DE Escherichia coli Os resultados da filogrupagem revelaram que as amostras de E. coli analisadas neste estudo se encontram distribuídas em três dos quatro grupos filogenéticos descritos por Clermont e colaboradores45 (Tabela 14; Tabela 22). Os isolados de E. coli foram encontrados principalmente no grupo A (91,6%) seguindo-se os grupos B2 (5%) e D (3,4%). Nenhuma amostra foi classificada como pertencente ao grupo filogenético B1 (Figura 22). 1500pb 600pb A D B2 D A0 3 4 5 6 7 chuA yjaA TSPE4.C2 100pb 1 2 8 Figura 22. Perfis eletroforéticos dos agrupamentos filogenéticos de E. coli encontrados neste estudo. Colunas: (1) padrão de peso molecular 100pb; (2) L75A (chuA, yjaA e TSPE4.C2); (3) RM 14 (yjaA); (4) RM 5 (chuA); (5) RM 151(chuA, yjaA e TSPE4.C2); (6) RM 22 (chuA e TSPE4.C2); (7) RM 88 e (8) padrão de peso molecular 100pb. De acordo com as análises de filotipagem detectamos a presença de cinco diferentes perfis filogenéticos com base nas diferentes combinações das sequências genéticas chuA, yjaA e do fragmento de DNA TSPE4.C2. Para o filogrupo A foram detectados os genótipos -,-,- e -,+,- representado 70,2% (n=125) e 20,7% (n=37) do total de amostras respectivamente. O filogrupo D teve como representantes os genótipos +,,+ e +,-,- correspondendo a 2,8% (n=5) e 2,2% (n=4) do total de amostras respectivamente. Já o grupo filogenético B2 apresentou somente um genótipo, +,+,+ representando 3,4% (n=6) do total de amostras (Tabela 14). 54 Tabela 14. Grupo e perfil filogenético das amostras de E. coli incluídas no estudo. Grupo filogenético Perfil filogenético Nº de amostras (%) chuA yjaA TSPE4.C2 A0* A - + - 125 37 163 (91,6%) B2 + + + + + 0 6 6 (3,4%) + - + 5 + - - 4 D 9 (5%) Total 178 (100%) *Foram chamadas de A0 as amostras que não apresentaram amplificação de nenhum gene ou fragmento alvo 5.5.1) Filogrupagem por área de coleta O grupo filogenético A foi representado por 100% das amostras de E. coli isoladas de águas de regiões industriais. Este filogrupo também representou a maioria das amostras obtidas de águas de regiões de aglomerados residenciais (89,3%), águas de regiões de agropecuária (92,3%), em águas próximas a hospitais (89,7%) e em águas recreacionais (94,9%). O grupo filogenético B2 só foi encontrado em amostras obtidas de águas de regiões de aglomerados residenciais e em águas próximas a hospitais, representado 4% e 10,3% das amostras respectivamente. Já o filogrupo D foi representado por amostras pertencentes a águas de regiões de aglomerados residenciais (6,7%), águas de regiões de agropecuária (7,7%) e de águas recreacionais (5,1%) (Tabela 15). Tabela 15. Grupo filogenético das amostras de E. coli por área de coleta. Grupo filogenético (%) Área de coleta Águas de regiões de aglomerados residenciais Águas de regiões industriais Águas de regiões de agropecuária Águas próximas a hospitais Águas recreacionais Total A B2 D 67 (89,3%) 9 (100%) 24 (92,3%) 37 (94,9%) 26 (89,7%) 163 3 (4%) 3 (10,3%) 6 5 (6,7%) 2 (7,7%) 2 (5,1%) 9 Total de amostras 75 9 26 39 29 178 55 5.5.2) Filotipagem em amostras merA+ Todas as amostras de E. coli merA+ foram incluídas no grupo filogenético A. Dentre estas amostras foram detectados os genótipos -,-,- e -,+,- representando 57,1% (n=08) e 42,9% (n=6) do total de amostras merA+ respectivamente. 5.6) PCR-MULTIPLEX PARA ENTEROVIRULÊNCIA DE Escherichia coli (PCR-DEC) Foram detectados genes de enterovirulência em 20 amostras de E. coli incluídas neste estudo, correspondendo portanto, a 11,2% do total (n=178) e definindo cinco perfis de enterovirulência (Tabela 16). As análises revelaram que dessas 20 amostras, apenas sete apresentaram características de patotipos já bem definidos sendo, quatro pertencentes ao patotipo ATEC (escV) e 3 ao patotipo STEC (stx1). As amostras RM 11 (estIa e astA), RM 71 (stx1 e astA) e RM 73 (stx1 e astA) foram consideradas como pertencentes aos patotipos ETEC, STEC e STEC respectivamente por possuírem determinantes genéticos particulares destes grupos patogênicos apesar de também possuírem o gene astA, um marcador não específico de grupo patogênico. Por fim, as 10 amostras restantes não puderam ser classificadas em nenhum patotipo. Isto porque, estas amostras foram consideradas positivas apenas para o gene específico de espécie (uidA) e para astA. Para serem consideradas como pertencentes ao patotipo das EAEC, de acordo com a metodologia empregada neste estudo, estas amostras deveriam ser positivas para o gene aggR ou para uma combinação de pelo menos dois dos três marcadores deste patotipo (aggR, astA e pic). Dentre os genes de enterovirulência pesquisados neste estudo o mais encontrado foi o astA presente em 7,3% (n=13) das amostras incluídas no estudo (n=178). Seguiram-se então os genes stx1 presente em 2,8% (n=5), escV presente em 2,2% (n=4) e estIa presente em 0,6% (n=1) do total de amostras (n=178). Considerando as amostras que apresentaram amplificação de, pelo menos, um gene de enterovirulência (n=20) o percentual de ocorrência desses genes seria de 65% para astA, 25% para stx1, 20% para escV e 5% para estIa (Gráfico 4). O marcador genético de espécie uidA esteve presente em 100% das amostras incluídas neste estudo (n=178) (Figura 23). 56 2072pb 1500pb uidA 600pb escV 100pb stx1 estIa astA 1 2 3 4 5 6 7 Figura 23. Perfis eletroforéticos obtidos a partir da amplificação simultânea dos genes de enterovirulência. Colunas: (1) padrão de peso molecular 100pb; (2) RM 2 (uidA e astA); (3) RM 11 (uidA, estIa e astA); (4) RM 25 (uidA e escV); (5) RM 73 (uidA, stx1 e astA); (6) RM 74 (uidA e stx1) e (7) padrão de peso molecular 100pb. Tabela 16. Perfis de enterovirulência e grupo filogenético das amostras de E. coli. Perfil de virulência Marcadores genéticos de enterovirulência Grupo filogenético (n) Número de amostras I astA A0 (1), A (7) e D (2) 10 II III IV V Total escV stx1 stx1, astA estIa, astA A0 (2) e B2 (2) A0 (3) A0 (2) D (1) 4 3 2 1 20 57 65% 25% 20% 7,3% 2,2% 5% 0,6% 2,8% Gráfico 4. Proporção dos genes de enterovirulência nas amostras de E. coli. Legenda. 1- percentual de amostras carreadoras de, pelo menos, um gene de enterovirulência (n=20) e 2. Percentual do gene em questão considerando a população bacteriana total do estudo (n=178). Observação: Foram excluídas deste gráfico as amostras que não tiveram amplificação de nenhum dos genes de enterovirulência estudados. 5.6.1) Perfil de enterovirulência por área de coleta No grupo das amostras isoladas de águas de regiões de aglomerados residenciais foram detectados genes de enterovirulência em 22,7% (n=17) do total de amostras isoladas desta área de estudo (n=75) (Tabela 17; Gráfico 5). Dentre as amostras que apresentaram amplificação de, pelo menos, um gene de enterovirulência (n=20) as isoladas desta área coleta corresponderam a 85% do total. Esta área teve representação de todos os perfis de enterovirulência encontrados: I (n=8), II (n=4), III (n=3), IV (n=2) e V (n=1). As análises revelaram que dessas 17 amostras, 06 representaran características de patotipos intestinais sendo, 03 pertencentes ao patotipo ATEC (uidA e escV) e 03 ao patotipo STEC (uidA e stx1) (Tabela 17; Tabela 18). Nesta área de coleta foram isoladas as amostras RM 11 (uidA, estIa e astA), RM 71 (uidA, stx1 e astA) e RM 73 (uidA, stx1 e astA) consideradas como pertencentes aos patotipos ETEC, STEC e STEC respectivamente. Além desses marcadores, essas amostras foram também carreadoras do gene astA. As 08 amostras restantes não puderam ser classificadas em nenhum patotipo, por possuírem apenas o gene astA além do marcador de espécie uidA. No grupo das amostras isoladas de águas de regiões industriais foram detectados genes de enterovirulência em 11,1% (n=1) do total de amostras isoladas desta área de estudo (n=9). Dentre as amostras que apresentaram amplificação de, pelo menos, um 58 gene de enterovirulência (n=20) as isoladas desta área de coleta corresponderam a 5% do total. Esta área teve representação somente do perfil de enterovirulência II (n=1). As análises revelaram que esta única amostra carreadora de genes de enterovirulência foi considerada como pertencente ao patotipo ATEC. No grupo das amostras isoladas de águas recreacionais foram detectados genes de enterovirulência em 5,1% (n=2) do total de amostras isoladas desta área de estudo (n=39). Dentre as amostras que apresentaram amplificação de, pelo menos, um gene de enterovirulência (n=20) as isoladas desta área de coleta corresponderam a 10% do total. Esta área teve representação somente do perfil de enterovirulência I (n=2). Ambas as amostras não puderam ser classificadas em nenhum patotipo, por possuírem apenas o gene astA além do marcador de espécie uidA. Tanto no grupo dos isolados de água próximas a regiões de agropecuária quanto das isoladas próximas a hospitais não foram encontradas amostras carreadoras de marcadores genéticos de enteropatogenicidade. 85% 22,7% 11,1% 5% 10% 5,1% Gráfico 5. Proporção dos marcadores de enterovirulência em amostras de E. coli por área de coleta. Códigos referentes as áreas de coleta: (A) Águas de regiões de aglomerados residenciais, (B) Águas de regiões industriais, (C) Águas de regiões de agropecuária, (D) Águas recreacionais e (E) Águas próximas a hospitais. Legenda. 1- proporção dos genes de virulência na população que teve amplificação de pelo menos um gene de virulência (n=20) e 2. Proporção de genes de virulência na população total isolada da referente área de coleta: A (n=75), B (n=9), C (n=26), D (n=39) e E (n=29). 59 Tabela 17. Distribuição de marcadores genéticos de enterovirulência investigados nas amostras de E. coli por área de coleta. Marcadores genéticos de enterovirulência Amostra Área de coleta Patotipo uidA escV bfpB stx1 stx2 elt RM 2 + - - - - RM 11 RM 12 RM 24 RM 25 RM 39 RM 43 RM 48 RM 69 RM 70 RM 71 RM 72 RM 73 RM 74 RM 75 RM 76 RM 77 + + + + + + + + + + + + + + + + + + + - - + + + + + - - Águas de regiões de aglomerados residenciais estIa estIb invE astA aggR pic - - - - + - - ND* - + - - - + + + + + + + + + + - - ETEC ATEC ATEC ATEC ND* ND* ND* ND* ND* STEC STEC STEC STEC STEC ND* ND* RM 31 Águas de regiões industriais + + - - - - - - - - - - ATEC RM 118 RM 119 Águas recreacionais + + - - - - - - - - + + - - ND* ND* 20 4 - 5 - - 1 - - 13 - - Total Legenda. ATEC (Escherichia coli enteropatogênica atípica), ETEC (Escherichia coli enterotoxigênica) e STEC (Escherichia coli produtora de Shiga). ND* - patotipo não determinado pelos marcadores investigados. 60 Tabela 18. Distribuição dos perfis de enterovirulência nas amostras de E. coli conforme áreas e pontos de coleta. Ponto de coleta Patotipo Perfil de enterovirulência RM 2 Canal do Mangue ND* I RM 11 RM 12 RM 24 RM 25 RM 39 RM 43 RM 48 RM 69 RM 70 RM 71 RM 72 RM 73 RM 74 RM 75 RM 76 RM 77 Rio Faria Rio Faria Rio Irajá Rio Irajá Lagoa Rodrigo de Freitas Lagoa Rodrigo de Freitas Lagoa Rodrigo de Freitas Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João Rio São João ETEC ATEC ATEC ATEC ND* ND* ND* ND* ND* STEC STEC STEC STEC STEC ND* ND* V II II II I I I I I IV III IV III III I I Amotra Área de coleta Águas de regiões de aglomerados residenciais RM 31 Águas de regiões industriais Rio Iguaçú ATEC II RM 118 RM 119 Águas recreacionais Parque Nacional da Praia de Ramos Parque Nacional da Praia de Ramos ND* ND* I I Legenda. ATEC (Escherichia coli enteropatogênica atípica), ETEC (Escherichia coli enterotoxigênica) e STEC (Escherichia coli produtora de Shiga). ND* - patotipo não determinado pelos marcadores investigados. 61 5.6.2) Perfil de enterovirulência em amostras merA+ Todas as amostras de E. coli merA+ apresentaram amplificação do gene específico de espécie (uidA). Apenas a amostra RM 31 apresentou amplificação de um gene de enterovirulência característico de um patotipo intestinal, sendo positiva para escV e, portanto, classificada como pertencente ao patotipo ATEC (Figura 24). 2072pb 1500pb uidA 600pb escV 100pb 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Figura 24. Eletroforese dos produtos de PCR-DEC nas amostras de E. coli merA+. Colunas: (1) padrão de peso molecular 1Kb; (2) RM 1; (3) RM 7; (4) RM 8; (5) RM 9; (6) RM 17; (7) RM 20; (8) RM 31; (9) RM 37; (10) RM 44; (11) RM 45; (12) RM 46; (13) RM61; (14) RM150; (15) RM165 e (16) padrão de peso molecular 1Kb. 5.6.3) Perfil de enterovirulência, fenótipo de resistência aos antimicrobianos e grupo filogenético Amostras carreadoras de marcadores genéticos de enterovirulência foram identificadas como pertencentes aos grupos filogenéticos A, B2 e D e associados com padrões diversos de resistência a antimicrobianos (Tabela 19). Apesar do grupo B2 ser tradicionalmente mais associado com microrganismos agentes de doenças extraintestinais, neste estudo foram carreadoras do gene escV da variante de patotipo intestinal, ATEC. 62 Tabela 19. Características gerais de enterovirulência e resistência a antimicrobianos nas amostras de E. coli carreadoras de marcadores de enteropatogenicidade. Amostra Patotipo Perfil de enterovirulência Antimicrobianos R RI Grupo filogenético RM 2 ND* I - CFL, SUT A0 RM 39 RM 43 RM 48 RM 69 RM 70 RM 76 RM 77 RM 118 RM 119 ND* ND* ND* ND* ND* ND* ND* ND* ND* I I I I I I I I I AMI CFL CFL GEN GEN, CFL AMI AMI A A A A A A A D D RM 12 RM 24 RM 25 ATEC ATEC ATEC II II II CFL AMI, GEN, CFL - A0 B2 B2 RM 31 ATEC II AMP, AMI, CFL, TRI e SUT GEN A0 RM 72 RM 74 RM 75 STEC STEC STEC III III III - CFL CFL CFL A0 A0 A0 RM 71 RM 73 STEC STEC IV IV - AMI, GEN, CFL A0 A0 RM 11 ETEC V AMI CFL D Legenda. AMI (amicacina), AMP (ampicilina), CFL (cefalotina), CFO (cefoxitina), CIP (ciprofloxacino), CPM (cefepima), GEN (gentamicina), NIT (nitrofurantoína), NOR (norfloxacino), SUT (sulfazotrim), TRI (trimetoprim), ATEC (Escherichia coli enteropatogênica atípica), ETEC (Escherichia coli enterotoxigênica), STEC (Escherichia coli produtora de Toxina Shiga), R (resistência) e RI (resistência intermediária) ND* - patotipo não determinado. 5.7) AMPLIFICAÇÃO RANDÔMICA DO DNA POLIMÓRFICO (RAPD-PCR) A diversidade nas amostras de E. coli merA+ foi investigada pelo RAPD-PCR. Os perfis de RAPD-PCR foram determinados empregando os iniciadores A04, 1247, 1290 e 1254 (Figura 25). As reações de amplificação geraram perfis polimórficos compostos por 5 a 9 bandas (A04), 4 a 11 bandas (1247), 5 a 10 bandas (1290) e 8 a 12 bandas (1254) variando entre 600-4.100 pb, 200-5.600 pb, 450-8.000 pb e 250-9.000 pb, respectivamente. Reações que empregaram os iniciadores 1247, 1290 e 1254 resultaram em 10 diferentes perfis eletroforéticos reprodutíveis, enquanto o iniciador A04, 11 perfis eletroforéticos (Tabela 20). O poder discriminatório dos iniciadores foi 63 calculado através da equação de diversidade, sendo encontrados os seguintes índices: 88% para o iniciador A04 e 80% para os iniciadores 1247, 1290 e 1254. Os resultados obtidos revelaram uma população geneticamente diversa. Perfis idênticos foram observados entre amostras de mesma origem de isolamento e exibindo as mesmas características biogenéticas (Tabela 21). Todas as amostras que apresentaram perfis RAPD idênticos entre si foram isoladas de águas de regiões de aglomerados residenciais, sendo as amostras RM 7, RM 8 e RM 9 provenientes do Canal do Cunha e as amostras RM 37, RM 44 e RM 46 da Lagoa Rodrigo de Freitas. A análise dos dendrogramas derivados dos perfis eletroforéticos gerados por RAPD-PCR revelou uma população bacteriana geneticamente diversa formada por pequenos grupos clonais, com índices de similaridade variando de 6-65%, 18-69%, 650% e 6-65% para os iniciadores 1290, 1254, 1247 e A04 respectivamente (Figuras 26, 27, 28 e 29). De um modo geral, a relação de identidade genética observada a partir dos diferentes iniciadores foi concordante para todas as amostras incluídas nesta análise. Tabela 20. Representação numérica dos perfis de RAPD-PCR das amostras de E. coli merA+ a partir dos iniciadores utilizados. Perfil RAPD Amostras A04 1247 1290 1254 RM 1 1 1 1 1 RM 7 RM 8 RM 9 RM 17 RM 20 RM 31 RM 37 RM 44 RM 45 RM 46 RM 61 RM 150 RM 165 2 2 2 3 4 5 6 6 7 8 9 10 11 2 2 2 3 4 5 6 6 7 6 8 9 10 2 2 2 3 4 5 6 6 7 6 8 9 10 2 2 2 3 4 5 6 6 7 6 8 9 10 64 Tabela 21. Características biogenéticas das amostras de E. coli que apresentaram perfis eletroforéticos de RAPD-PCR idênticos entre si com os iniciadores 1247, 1290 e 1254. Amostras Ponto de coleta R/S Hg MIC Hg Perfil de R a antimicrobianos Perfil merA Grupo filogenético Patotipo Perfil RAPD RM 7 RM 8 RM 9 Canal do Cunha R 10µM - II A - 2 RM 37 RM 44 RM 46 Lagoa Rodrigo de Freitas R 10µM XIX III A0 - 6 A04 1247 PM (pb) 3054 1636 1018 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 1290 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 1254 PM (pb) 3054 1636 1018 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Figura 25. Perfis eletroforéticos das amostras de E. coli merA+ obtidos a partir da amplificação randômica do DNA polimórfico a partir dos iniciadores A04, 1247, 1290 e 1254. Colunas: (1) padrão de peso molecular 1Kb; (2) RM 1; (3) RM 7; (4) RM 8; (5) RM 9; (6) RM 17; (7) RM 20; (8) RM 31; (9) RM 37; (10) RM 44; (11) RM 45; (12) RM 46; (13) RM61; (14) RM150; (15) RM165 e (16) padrão de peso molecular 1Kb. 65 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Amostra Perfil RAPD GF PV RM 20 RM 165 RM 150 RM 61 RM 46 RM 44 RM 37 RM 31 RM 45 RM 17 RM 9 RM 8 RM 7 RM 1 4 10 9 8 6 6 6 5 7 3 2 2 2 1 A A0 A0 A A0 A0 A0 A0 A A0 A A A A0 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 100% Coeficiente Dice de similaridade Figura 26. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1290. Legenda. GF (grupo filogenético) e PV (perfil de virulência). 66 66 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Amostra Perfil RAPD GF PV RM 46 RM 44 RM 37 RM 45 RM 31 RM 150 RM 165 RM 61 RM 17 RM 20 RM 9 RM 8 RM 7 RM 1 6 6 6 7 5 9 10 8 3 4 2 2 2 1 A0 A0 A0 A A0 A0 A0 A A0 A A A A A0 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100% Coeficiente Dice de similaridade Figura 27. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1254. Legenda. GF (grupo filogenético) e PV (perfil de virulência). 67 67 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Amostra Perfil RAPD GF PV RM 165 RM 150 RM 61 RM 45 RM 46 RM 44 RM 37 RM 31 RM 20 RM 17 RM 9 RM 8 RM 7 RM 1 10 9 8 7 6 6 6 5 4 3 2 2 2 1 A0 A0 A A A0 A0 A0 A0 A A0 A A A A0 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 100% Coeficiente Dice de similaridade Figura 28. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador 1247. Legenda. GF (grupo filogenético) e PV (perfil de virulência). 68 68 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Amostra Perfil RAPD GF PV RM 165 RM 150 RM 61 RM 45 RM 46 RM 44 RM 37 RM 31 RM 20 RM 17 RM 9 RM 8 RM 7 RM 1 11 10 9 7 8 6 6 5 4 3 2 2 2 1 A0 A0 A A A0 A0 A0 A0 A A0 A A A A0 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 100% Coeficiente Dice de similaridade Figura 29. Dendrograma gerado a partir da técnica de RAPD-PCR utilizando o iniciador A04. Legenda. GF (grupo filogenético) e PV (perfil de virulência). 69 69 5.8) ELETROFORESE EM GEL DE GRADIENTE DESNATURANTE (DGGE) No presente estudo, a resolução dos produtos de amplificação de tamanhos similares foi possível sem haver a necessidade da utilização do CG clump no iniciador A1s-n.F. A técnica de eletroforese em gel com gradiente desnaturante permitiu detectar uma diversidade genética no fragmento de 285pb associado com a resistência ao mercúrio (merA). Em concordância com os resultados obtidos a partir do RAPD-PCR as amostras RM 7, RM 8 e RM 9 também apresentaram padrão DGGE idêntico entre si (Figura 30). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Figura 30. Perfis eletroforéticos das amostras de E. coli merA+ gerados por DGGE. Colunas: (1) RM 1; (2) RM 7; (3) RM 8; (4) RM 9; (5) RM 17; (6) RM 20; (7) RM 31; (8) RM 37; (9) RM 44; (10) RM 45; (11) RM 46; (12) RM 61; (13) RM 150 e (14) RM 165. 70 Tabela 22. Características fenotípicas e genotípicas investigadas nas amostras de E. coli incluídas no estudo. 70 Amostra Classificação do sistema aquático R/S a 5µM Hg CMI Hg Perfil de resistência a antimicrobianos Gene merA Grupo filogenético Patotipo RM 1 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM IX I A0 - RM 2 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A0 I RM 3 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 4 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 5 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III D - RM 6 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 7 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A - RM 8 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A - RM 9 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A - RM 10 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A0 - RM 11 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M I III D V RM 12 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 II RM 13 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III D - RM 14 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 15 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 16 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A - RM 17 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A0 - RM 18 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 19 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 20 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A - 71 RM 21 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 22 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM II III D - RM 23 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III B2 - RM 24 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III B2 II RM 25 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III B2 II RM 26 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 27 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 28 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A0 - RM 29 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M VII III A0 - RM 30 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM V III A0 - RM 31 Águas de regiões industriais R 10µM XXII II A0 II RM 32 Águas de regiões industriais R 10µM - III A - RM 33 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 34 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M II III A - RM 35 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 36 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM I III A - RM 37 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM XIX III A0 - RM 38 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 39 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - - A I RM 40 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 41 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A - RM 42 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A - RM 43 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A I RM 44 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM XIX II A0 - RM 45 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - II A - 71 72 RM 46 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM XIX II A0 - RM 47 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM III III A - RM 48 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M I III A I RM 49 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M - III A - RM 50 Águas de regiões de aglomerados residenciais S ≤5 M XII III A0 - RM 51 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 52 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 53 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM XIV III A0 - RM 54 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 55 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM VI III A0 - RM 56 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 57 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM XIII III A0 - RM 58 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - III A0 - RM 59 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A - RM 60 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - D - RM 61 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - I A - RM 62 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 63 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM VIII - A - RM 64 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A - RM 65 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 66 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 67 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 68 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 - RM 69 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A I RM 70 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A I RM 71 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 IV 72 73 73 RM 72 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 III RM 73 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 IV RM 74 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 III RM 75 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A0 III RM 76 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A I RM 77 Águas de regiões de aglomerados residenciais R 10µM - - A I RM 78 Águas de regiões industriais R 10µM X - A0 - RM 79 Águas de regiões industriais R 10µM - - A - RM 80 Águas de regiões industriais R 10µM - III A0 - RM 81 Águas de regiões industriais R 10µM - - A0 - RM 82 Águas de regiões industriais R 10µM - - A0 - RM 83 Águas de regiões industriais R 10µM - - A - RM 84 Águas de regiões industriais R 10µM - - A0 - RM 85 Águas de regiões de agropecuária R 10µM XI - A - RM 86 Águas de regiões de agropecuária R 10µM XI - A - RM 87 Águas de regiões de agropecuária R 10µM XX - A - RM 88 Águas de regiões de agropecuária R 10µM V - A0 - RM 89 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 90 Águas de regiões de agropecuária R 10µM XV - A0 - RM 91 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 92 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 93 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 94 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 95 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - A0 - RM 96 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - A0 - RM 97 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 74 74 RM 98 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - A0 - RM 99 Águas de regiões de agropecuária R 10µM I - A0 - RM 100 Águas de regiões de agropecuária R 10µM I - A0 - RM 101 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 102 Águas de regiões de agropecuária R 10µM I - A0 - RM 103 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 104 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 105 Águas de regiões de agropecuária R 10µM VII III D - RM 106 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - A0 - RM 107 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 108 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - A0 - RM 109 Águas de regiões de agropecuária R 10µM II - D - RM 110 Águas de regiões de agropecuária R 10µM - - A0 - RM 111 Águas recreacionais R 10µM II III A0 - RM 112 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 113 Águas recreacionais R 10µM II III A0 - RM 114 Águas recreacionais R 10µM - III A0 - RM 115 Águas recreacionais R 10µM II III A0 - RM 116 Águas recreacionais R 10µM - III A0 - RM 117 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 118 Águas recreacionais R 10µM II III D I RM 119 Águas recreacionais R 10µM II III D I RM 120 Águas recreacionais R 10µM XIV III A0 - RM 121 Águas recreacionais R 10µM - III A0 - RM 122 Águas recreacionais R 10µM - III A0 - RM 123 Águas recreacionais R 10µM II - A0 75 75 RM 124 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 125 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 126 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 127 Águas recreacionais R 10µM - III A0 - RM 128 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 129 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 130 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 131 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 132 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 133 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 134 Águas recreacionais R 10µM XXIII - A0 - RM 135 Águas recreacionais R 10µM XVII - A0 - RM 136 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 137 Águas recreacionais R 10µM II III A0 - RM 138 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 139 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 140 Águas recreacionais R 10µM I - A0 - RM 141 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 142 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 143 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 144 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 145 Águas recreacionais R 10µM V III A0 - RM 146 Águas recreacionais R 10µM V - A0 - RM 147 Águas recreacionais R 10µM II - A0 - RM 148 Águas recreacionais R 10µM - - A0 - RM 149 Águas recreacionais R 10µM - - A0 76 76 RM 150 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 151 Águas próximas a hospitais R 10µM - - B2 - RM 152 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 153 Águas próximas a hospitais R 10µM - - B2 - RM 154 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 156 Águas próximas a hospitais R 10µM V - A - RM 157 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 158 Águas próximas a hospitais R 10µM - - B2 - RM 159 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A - RM 160 Águas próximas a hospitais R 10µM I - A0 - RM 161 Águas próximas a hospitais R 10µM XVI - A0 - RM 162 Águas próximas a hospitais R 10µM IV - A0 - RM 163 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 164 Águas próximas a hospitais R 10µM V - A0 - RM 165 Águas próximas a hospitais R 10µM XVIII II A0 - RM 166 Águas próximas a hospitais R 10µM I III A0 - RM 167 Águas próximas a hospitais R 10µM XXI III A0 - RM 168 Águas próximas a hospitais R 10µM - III A0 - RM 169 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 170 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 171 Águas próximas a hospitais R 10µM - III A0 - RM 172 Águas próximas a hospitais R 10µM - III A0 - RM 173 Águas próximas a hospitais R 10µM - III A0 - RM 174 Águas próximas a hospitais R 10µM I III A0 - RM 175 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 176 Águas próximas a hospitais R 10µM VI - A0 77 RM 177 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - RM 178 Águas próximas a hospitais R 10µM - III A0 - RM 179 Águas próximas a hospitais R 10µM - - A0 - 77 78 6. DISCUSSÃO A água é essencial para todas as formas de vida, sendo necessária para hidratação, produção de alimentos, necessidades sanitárias, recreação, utilização como solvente, nos diversos segmentos da indústria dentre outros. O tratamento inadequado ou o não tratamento da água utilizada para consumo tem impacto significativo sobre a Saúde Pública resultando todos os anos na morte de cerca de cinco milhões de pessoas, principalmente em países em desenvolvimento. Metade destas mortes, segundo a WHO, é causada por infecções microbianas intestinais veiculadas pela água3,125. A contaminação microbiológica dos sistemas aquáticos pode veicular microrganismos patogênicos responsáveis por causar doenças de diferentes naturezas e complexidades. Dentre as doenças veiculadas pela água, as diarréicas são reconhecidas pelo impacto negativo que exercem sobre a saúde dos seres humanos, sendo responsáveis por altas taxas de morbimortalidade5,6,7. Um grande número de microrganismos tem sido descrito como agentes das doenças diarréicas, entretanto, o papel de destaque na etiologia destas infecções é atribuído a espécie bacteriana Escherichia coli, principalmente, em países em desenvolvimento8,9,10. Por ser encontrada no trato intestinal do homem e de outros animais homeotérmicos, a contaminação de ambientes aquáticos por este microrganismo é ocasionada, principalmente, pelo lançamento de esgoto doméstico sem tratamento adequado, sobretudo em localidades com condições higiênico-sanitárias insatisfatórias16,17. Além da contaminação microbiológica, outra importante forma de poluição de sistemas aquáticos, com impactos drásticos na saúde de seres humanos e do ecossistema é a causada pelo lançamento de substâncias químicas de diversas naturezas nesses ambientes. Essa contaminação tem origem a partir do lançamento de efluentes industriais ou domésticos não tratados ou tratados de forma inadequada, que podem conter substâncias químicas tóxicas, tais como os metais76,77. Dentre os metais, o mercúrio destaca-se pela sua capacidade de bioacumulação e, no caso do metilmercúrio pela capacidade de biomagnificação ao longo das cadeias tróficas, pela sua elevada toxicidade, pela amplitude global da sua contaminação, podendo ter efeitos mesmo em ambientes muito distantes das fontes de contaminação e pela magnitude dos danos, em alguns casos irreversíveis, causados à saúde de populações humanas e de ambientes expostos81. 79 A sobrevivência microbiana em ambientes contaminados pelo mercúrio depende de propriedades bioquímicas e estruturais intrínsecas, adaptações fisiológicas e/ou genéticas77. Microrganismos desenvolveram vários tipos de mecanismos de resistência em resposta aos metais tóxicos125. Esses mecanismos podem ser codificados por genes cromossomais, porém é mais frequente que estejam localizados em elementos genéticos móveis como plasmídeos e transposons77,127. A resistência bacteriana ao mercúrio é um dos mecanismos de resistência a metais tóxicos mais estudados. Em bactérias Gramnegativas, inclusive as pertencentes à espécie Escherichia coli, a presença de determinantes genéticos de resistência ao mercúrio vem sendo descritos, o que a torna uma alternativa promissora para processos de biorremediação. Em E. coli esta abordagem ainda é muito recente e o estudo com populações bacterianas é restrito e de um modo geral, limitado a regiões com características geoeconômicas e culturais distintas da nossa107,108. A partir destas observações o presente estudo visou isolar amostras de E. coli a partir de ambientes aquáticos no Estado do Rio de Janeiro e investigar características biogenéticas e de resistência ao mercúrio. Para tal foram realizados ensaios de amplificação para caracterização quanto à presença e a diversidade do gene merA, para a avaliação da diversidade genética das amostras carreadoras do gene de resistência ao mercúrio e a detecção de genes específicos do agrupamento filogenético e de enteropatogenicidade, assim como testes bacteriológicos visando a análise do padrão de susceptibilidade ao mercúrio e aos antimicrobianos. 6.1) COLETA DE ÁGUA, ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Escherichia coli Foram obtidas 178 amostras de E. coli a partir de 18 diferentes pontos de coleta situados em sistemas aquáticos localizados no Estado do Rio de Janeiro. As amostras foram agrupadas em 5 principais áreas de coleta de acordo com a proximidade de possíveis fontes de contaminação do sistema aquático: águas de regiões de aglomerados residenciais, águas de regiões industriais, águas de regiões de agropecuária, águas recreacionais e águas próximas a hospitais. O isolamento de E. coli nos diferentes pontos de coleta escolhidos para este estudo já era esperado dado as possíveis fontes de contaminação e a capacidade de 80 persistência e multiplicação deste microrganismo em ambientes aquáticos aliados à precariedade do saneamento básico em algumas regiões do Estado do Rio de Janeiro. Apesar da contagem de E. coli em sistemas aquáticos ser normalmente associada a qualidade da água é válido lembrar que este estudo utilizou técnicas seletivas de isolamento de E. coli, e portanto, os microrganismos isolados por ponto de coleta não refletem a qualidade da água no ponto de coleta analisado podendo subestimar a contaminação microbiológica real. A grande quantidade de amostras isoladas do Parque Ambiental da Praia de Ramos (n=39) e a facilidade de isolamento podem ser justificadas considerando o alto grau de contaminação microbiana deste ambiente durante o período da coleta. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (SMAC) através do monitoramento da qualidade das areias das praias classificou a areia da praia do Parque Ambiental da Praia de Ramos durante o período em que foi realizada a coleta como “não recomendada” apresentando índices acima de 30.000 coliformes fecais (NMP/100g) e contagem de E. coli superior a 3.800 (NMP/100g) na areia. 6.2) FENÓTIPO DE SUSCEPTIBILIDADE AO MERCÚRIO 6.2.1) Determinação do fenótipo de resistência ao mercúrio e determinação da concentração mínima inibitória (CMI) Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de determinar a resistência ao mercúrio em bactérias ambientais através da realização do teste de concentração inibitória mínima (CMI)99,128,129,130,131,132,133,134. Entretanto, não existe um protocolo padrão para ser utilizado na determinação da CMI dos metais pesados, ao contrário do que é observado, por exemplo, nos testes de antibiograma. São utilizados meios de cultura líquidos a sólidos, com diferentes composições químicas, diferentes concentrações dos metais em diferentes composições químicas. A própria metodologia pode oferecer alguns obstáculos que se não minimizados antes sua aplicação podem influenciar no resultado obtido como, por exemplo, a adsorção do metal utilizado às paredes dos frascos utilizados, precipitação e volatilização da solução, formação de complexos do metal com os componentes do meio de cultura entre outros116,129. Portanto, é muito difícil comparar resultados obtidos neste estudo com trabalhos prévios 81 devido à grande diversidade entre os valores de CMI encontrados especialmente se considerarmos a espécie bacteriana e as diferentes regiões geográficas envolvidas. Além dos possíveis problemas metodológicos existem controvérsias sobre a definição do significado do termo “resistência” aos metais. Vasconcellos135 empregou o termo “tolerância” para cepas bacterianas capazes de crescer em meios seletivos contendo mercúrio em qualquer concentração e o termo “resistência” apenas para cepas em que se confirmou a presença de componentes genéticos relacionados à resistência ao mercúrio, neste caso o gene merA. Entretanto, no atual estudo preferimos utilizar apenas o termo geral resistência e sensibilidade, conforme reconhecido para os testes de susceptibilidade aos antimicrobianos. O termo “tolerância” é utilizado na Microbiologia para caracterizar cepas bacterianas incapazes de se multiplicar em determinada concentração inibitória mínima (CMI) do agente antimicrobiano, porém capazes de permanecerem viáveis na presença da droga, não sofrendo ação da concentração bactericida mínima (CBM) habitual136. Assume-se que a propriedade de “resistência” pode ser tanto de origem genética quanto não-genética como a proporcionada por biofilmes. No atual estudo adotamos como referência para a classificação de bactérias resistentes e sensíveis ao mercúrio o valor de CMI de 5µM de Hg baseado em estudos prévios que utilizaram cepas padrão E. coli ATCC 23724 (sensível ao Hg) e E. coli ATCC 35218 (resistente ao Hg)116. Apesar de bactérias HgR já terem sido isoladas de ambientes considerados “não contaminados” pelo mercúrio, a presença desses microrganismos é relacionada ao nível de contaminação no ambiente pelo metal. A resistência bacteriana ao mercúrio presente no meio ambiente é considerada um dos muitos exemplos de adaptação genética e fisiológica de comunidades microbianas expostas a contaminantes. A seleção de comunidades microbianas expostas a níveis tóxicos deste metal reflete no aumento da circulação dessas bactérias resistentes137,138. Apesar de não ter sido realizada nenhuma medição da contaminação por mercúrio nos pontos de coleta do estudo, é possível que as amostras analisadas tenham tido, em algum momento, contato prévio com concentrações do metal ou com microrganismos carreadores de genes de resistência aos antimicrobianos que podem estar co-localizados com marcadores de resistência ao Hg em elementos genéticos móveis. Isto porque, o fenótipo da resistência ao Hg foi amplamente detectado, sendo observado em 92,1% das amostras. Este resultado 82 corrobora estudos que apontam a ubiqüidade da resistência bacteriana ao mercúrio mesmo em ambientes não contaminados por este metal92. Todas as 164 amostras que apresentaram o fenótipo HgR exibiram o mesmo valor de CMI de 10µM de Hg. Hassen e colaboradores129 apontaram o mercúrio (HgSO4) como o metal mais tóxico dentre os testados, uma das cepas bacterianas utilizadas neste trabalho foi a Escherichia coli K12 que teve valor de CMI em meio líquido igual a 0,05mM. O valor de CMI encontrado foi superior ao observado mesmo nas cepas mais resistentes ao mercúrio no atual estudo, entretanto, as condições envolvidas no protocolo experimental foram distintas das do presente estudo. Narita e colaboradores131 analisaram 30 amostras de Bacillus isoladas de sedimentos da baía de Minamata localizada no Japão, região onde ocorreu um grande desastre ambiental decorrente do lançamento de metilmercúrio nesta baía. Os valores de CMI para HgCl2 encontrados pelos autores variaram de 40 até 320µM. Neste caso, além da espécie bacteriana estudada ser outra, o meio utilizado para a realização do CMI foi o caldo LB. Segundo Chang e colaboradores139 o mercúrio forma complexos com a triptona e o extrato de levedura presentes no meio LB diminuindo a disponibilidade de mercúrio no meio. Outra dificuldade encontrada para a comparação com outros resultados consiste da falta de informações sobre como foi o procedimento metodológico ou mesmo lacunas de informação na apresentação dos resultados. 6.3) FENÓTIPO DA SUSCEPTIBILIDADE A ANTIMICROBIANOS Durante os últimos anos a utilização de antimicrobianos tem aumentado de forma exponencial na medicina humana para tratar e prevenir doenças, na medicina veterinária, como promotores de crescimento na criação de animais, na aqüicultura, na agricultura entre outros140. Em conseqüência da utilização excessiva e não controlada dos antimicrobianos, principalmente nos países em desenvolvimento, observa-se o surgimento de novos mecanismos de resistência e a rápida disseminação dos mecanismos já existentes. A disseminação destes mecanismos de resistência bacteriana a múltiplos agentes antimicrobianos é responsável pelas altas taxas de falha nos tratamentos de infecções em todo o mundo e é considerado um dos maiores desafios em Saúde Pública do mundo moderno112,141,142,143,144. Por este motivo, a resistência a antimicrobianos detectada em diferentes espécies bacterianas embora não esteja diretamente associada à virulência, tem sido descrita como um fenômeno de grande 83 importância, cuja evolução vem sendo observada e acredita-se contribuir com as altas taxas de morbimortalidade associadas a este tipo de infecção em humanos42. Nas últimas décadas passou a haver uma maior preocupação acerca dos efeitos adversos para a saúde do homem e do ambiente resultante da utilização não controlada de antimicrobianos nos diversos setores da saúde e da economia. Muitos estudos têm sido realizados visando à pesquisa de características de resistência em microrganismos no ambiente hospitalar. Entretanto, pesquisas sobre a estrutura de comunidades bacterianas e sobre as características de resistência aos antimicrobianos em microrganismos circulantes nos sistemas aquáticos ainda são escassas. Muito pouco se sabe sobre o destino de antimicrobianos nos sistemas aquáticos e os efeitos causados em microrganismos presentes neste ambiente140,141,144. A presença de bactérias patogênicas em ambientes aquáticos pode ser fonte de doenças quando a água é usada para consumo, recreação ou irrigação. Este risco é potencializado se as bactérias presentes nos ambientes aquáticos além de causarem doença também são carreadoras de características de resistência a antimicrobianos diversos dificultando então o tratamento de doenças infecciosas. Além disso, estas bactérias podem ser capazes de transmitir, através da transferência lateral de genes, os determinantes de resistência aos antimicrobianos que estão albergados em elementos genéticos móveis para outras bactérias autóctones, resultando na disseminação da resistência bacteriana140. O fenômeno da resistência aos antimicrobianos na espécie bacteriana E. coli isolada de sistemas aquáticos tem sido observado em diversas partes do mundo, sendo objeto de diversos trabalhos científicos51,140,144,145,146,147. No presente estudo a resistência a, no mínimo, um dos antimicrobianos testados foi detectada em 37% das amostras de E. coli, sendo 16,8% destas multirresistentes. O grande percentual de amostras resistentes e multirresistentes aos antimicrobianos detectado neste estudo é motivo de preocupação. Isto porque, as conseqüências para a saúde associadas com infecções causadas por E. coli diarreiogênica são agravadas pela emergência de cepas de E. coli multirresistentes a diferentes agentes antimicrobianos. O fenômeno crescente de detecção de cepas bacterianas de diferentes espécies carreadoras de características de resistência e multirresistência a um amplo espectro de antimicrobianos tem sido considerado um dos grandes desafios do século XXI para a ciência e para a medicina. Além disso, a resistência intermediária foi detectada em 84 62,3% do total de amostras isoladas neste estudo. A existência de cepas de E. coli isoladas de sistemas aquáticos que exibem características de resistência intermediária aos antimicrobianos tem sido crescentemente detectada por outros autores em diferentes partes do mundo5. Esta emergência e disseminação de cepas que apresentam resistência intermediária a um amplo espectro de agentes antimicrobianos é motivo de preocupação por indicar que caminhamos para a diminuição na disponibilidade de alternativas terapêuticas efetivas para o tratamento de um grande número de doenças causadas por microrganismos de importância médica5. A ocorrência de E. coli no ambiente aquático e os seus perfis de susceptibilidade aos antimicrobianos mostram variações geográficas significantes assim como entre populações e ambientes113. Portanto, há uma grande variação de percentuais de resistência e de multirresistência detectados por diferentes autores. Servais & Passerat140 isolaram suas amostras de ambientes classificados em áreas similares as áreas de coleta incluídas em nosso estudo e detectaram a resistência a antimicrobianos em 42% de suas amostras isoladas de rios, entrada e saída de estações de tratamento de esgoto doméstico, efluentes hospitalares, áreas de agricultura e regiões de floresta na França. Não foram encontrados estudos realizados no Brasil sobre resistência aos antimicrobianos em E. coli isolados de áreas similares as incluídas no atual estudo, geralmente os estudos encontrados incluíam áreas de coleta com características muito particulares. No presente estudo, o fenótipo de resistência foi detectado para a cefalotina em 24,7% do total de amostras, seguido por amicacina com 12,4%, ampicilina com 9%, gentamicina com 5,6%, ciprofloxacino, norfloxacino e trimetoprim com 3,4%, cefoxitina e nitrofurantoína com 2,8% e cefepima com 0,6%. Amostras de E. coli que apresentaram resistência a ciprofloxacina foram resistentes a múltiplos agentes antimicrobianos, fato já observado em diversos estudos5. Em E. coli normalmente os índices de resistência são altos para as penicilinas de amplo espectro e para o trimetoprim e baixas para cefalosporinas de terceira geração e nitrofurantoína113. O percentual encontrado de amostras resistentes a cefalotina (cefalosporina de 1ª geração) e ampicilina (aminopenicilina) já era esperado dado que as penicilinas e cefalosporinas de 1ª geração são utilizadas há décadas na clínica. Enquanto que as quinolonas e em especial as fluoroquinolonas e os aminoglicosídeos passaram a ser usados recentemente125,140. Apesar disso, na Europa central vem sendo observado desde 1998 85 um crescente aumento em isolados resistentes fluoroquinolonas. O surgimento da resistência a fluoroquinolonas e a produção de β-lactamases de amplo espectro (ESBL) por cepas de E. coli multirresistentes tem causado apreensão pelo efeito que possuem na limitação de alternativas terapêuticas em infecções causadas por estas cepas113. Houve uma variação considerável nas freqüências de amostras de E. coli que exibiram padrões de resistência e multirresistência entre as diferentes áreas de coleta incluídas neste estudo. O percentual de amostras de E. coli resistentes a antimicrobianos isoladas de águas recreacionais detectado neste estudo, representando a área de coleta com segundo maior percentual de resistência, é bem maior do que o relatado por outros autores. Segundo o trabalho realizado por Hamelin e colaboradores146 em lagos recreacionais no Canadá, apenas 14% das amostras de E. coli incluídas no estudo apresentaram resistência a pelo menos um antimicrobiano. O grande percentual de bactérias resistentes em águas recreacionais no Rio de Janeiro se deve possivelmente ao uso indiscriminado de antimicrobianos pela população. A presença destas cepas de E. coli que exibem padrões de resistência e multirresistência a antimicrobianos em águas recreacionais é motivo de preocupação pelo alto risco de contaminação a que as pessoas que entram em contato com este ambiente estão submetidas. O isolamento de bactérias resistentes a antimicrobianos em amostras provenientes águas de regiões de agropecuária pode estar relacionada ao uso de antimicrobianos em concentrações subterapêuticas como promotor de crescimento animal, com a utilização na medicina veterinária e na agricultura na prevenção de pragas112,113. Esta hipóstese é apoiada por alguns autores que afirmam que a utilização sem restrições de antimicrobianos na agropecuária tem influência na prevalência de genes de resistência em cepas bacterianas encontradas em sistemas aquáticos148. O atual estudo demonstra a importância desta área de coleta na qual foi encontrado o maior percentual de resistência bacteriana aos antimicrobianos. A elevada prevalência de bactérias resistentes isoladas de águas próximas a hospitais tem sido observado em diversos outros trabalhos114,149 e, portanto, já era esperado no presente estudo. Ambientes aquáticos que sofrem este tipo de contaminação são altamente seletivos e contribuem com altos índices de bactérias resistentes e multirresistentes lançadas no ambiente114. Estudos mostram que apesar de altas doses de antimicrobianos serem consumidos em hospitais a maioria dos antibióticos consumidos na medicina humana, entretanto, é consumida fora do ambiente hospitalar113. A automedicação e o uso 86 indiscriminado de antimicrobianos pela população humana, contribuindo para a presença de bactérias resistentes encontradas em águas de regiões de aglomerados residenciais. 6.4) PCR PARA A AMPLIFICAÇÃO DO GENE merA A resistência ao mercúrio é um dos mecanismos de resistência a metais tóxicos mais estudados. Pesquisas que visam a detecção dos elementos genéticos que conferem resistência a este metal, dentre eles o gene merA, têm sido amplamente desenvolvidos103,119. A diversidade destes determinantes genéticos de resistência ao mercúrio, principalmente em bactérias Gram-negativas, tem sido constatada por diversos trabalhos científicos92,103,131,137,150,151,152,153. Observando este fato Chadhain e colaboradores119 desenvolveram iniciadores degenerados para mostrar a grande diversidade das sequências do gene merA nas bactérias Gram-negativas. Com esta modificação os autores permitiram a detecção de 37 variantes genéticas adicionais se comparadas com as encontradas por outras metodologias descritas por Liebert e colaboradores103 e Felske e colaboradores154,119. A partir destes iniciadores degenerados descritos por Chadhain e colaboradores119 fomos capazes de detectar produtos de amplificação estáveis e reprodutíveis em 46% das amostras, definindo três perfis eletroforéticos. Os autores do artigo utilizado como referência para esta metodologia atribuem a presença de produtos de amplificação diferentes do fragmento esperado (285pb) como resultado da menor especificidade da reação de PCR em determinados grupos bacterianos. Porém no atual estudo preferimos também incluir nos resultados o produto de amplificação de 720pb que se manteve estável e reprodutível. Supomos que a ocorrência de modificações internas na sequência do gene merA nas amostras analisadas como conseqüência de eventos genéticos tais como adições ou deleções podem ter contribuído para a diversidade do gene resultando em amplificações de fragmentos não esperados. Porém, como o fragmento alvo esperado pelos autores era o de 285pb e como não foi realizado nenhum estudo acerca da estrutura genética do outro fragmento amplificado, os ensaios de RAPD-PCR e DGGE foram realizados somente com as 14 amostras pertencentes aos perfis I e II, que apresentaram amplificação do fragmento esperado. 87 A detecção do gene de resistência ao mercúrio em amostras isoladas de diferentes pontos de coleta distantes entre si corrobora a afirmação de que tais mecanismos genéticos estão amplamente distribuídos em populações microbianas circulantes em ambientes extremamente diversos incluindo desde solos e sedimentos 119,131,137,138,155,156,157 , águas95,157, animais103 e isolados clínicos129. Tal fato se deve a localização mais frequente deste mecanismo genético em elementos extracromossomicos que podem ser facilmente transferidos horizontalmente inclusive entre bactérias pertencentes a espécies distintas, o que justificaria a sua distribuição e ambientes geograficamente distantes. A co-ocorrência da resistência a agentes antimicrobianos e a metais em populações bacterianas ambientais e clínicas vem sendo reportada nas últimas décadas97,98,99. Esta co-ocorrência se dá porque genes que codificam a resistência a metais estão normalmente associados a genes que conferem resistência a antimicrobianos em um mesmo plasmídeo e/ou transposon87. Os resultados obtidos nos nossos estudos estão em concordância com estas afirmações mostrando elevados percentuais de resistência, particularmente para cefalotina e ampicilina entre as cepas carreadoras do gene merA. Em adição, uma fração significante das cepas carreadoras do gene de resistência ao mercúrio, cerca de 40%, foi considerada multirresistente aos agentes antimicrobianos testados. A resistência a ampicilina tem sido muito correlacionada com a resistência ao mercúrio em diversos trabalhos científicos95,116,134. Algumas das associações específicas de resistência aos antimicrobianos e a metais já foram descritas como, por exemplo, a que concerne à resistência ao mercúrio e a ampicilina. Gosh e colaboradores 158 ao retirarem um plasmídeo específico de cepas bacterianas do gênero Salmonella perceberam que estas perderam suas características pré-detectadas de resistência a ampicilina e a metais, incluindo o mercúrio. Uma explicação para essa associação seria a utilização do mercúrio como desinfetante e antimicrobiano em ambientes hospitalares no passado, fato que possivelmente exerceu uma pressão seletiva nas bactérias semelhante a causada pela utilização dos antibióticos150. 88 6.5) PCR-TRIPLEX PARA AGRUPAMENTO FILOGENÉTICO DE Escherichia coli De acordo com a literatura, linhagens patogênicas de E. coli agentes de doenças extra-intestinais têm sido classificadas como pertencentes, em sua maioria ao grupo B2 e em menor escala ao grupo D, as comensais pertencem em sua maioria ao grupo A e em menor proporção ao grupo B1 e as agentes de doença diarréica são encontradas como membros dos grupos A, B1 e D42. Nossos resultados permitiram classificar as amostras de E. coli incluídas no estudo em três dos quatro filogrupos genéticos descritos por Clermont e colaboradores45. As amostras foram classificadas principalmente no grupo A (91,6%) seguindo-se os grupos B2 (5%) e D (3,4%). Nenhuma amostra foi classificada como pertencente ao grupo filogenético B1. A presença majoritária do filogrupo A corrobora resultados encontrados em diversos estudos realizados com amostras isoladas de sistemas aquáticos17,71,147,159,160 e indica a presença de cepas comensais ou agentes de doença diarréica. Tal distribuição possivelmente se deve ao fato de que as amostras de água tenham sido coletadas de regiões com histórico prévio de contaminação fecal147. É importante salientar a importância de medidas de vigilância após terem sido encontradas neste estudo amostras pertencentes aos filogrupos B2 e D possíveis agentes de doenças extraintestinais e, no caso do filogrupo D também agente de doenças diarréicas17,161. É unanimidade entre os autores o reconhecimento da importância que o estudo e identificação dos grupos filogenéticos possuem para o aumento do conhecimento e entendimento da diversidade e virulência bacteriana em diferentes sistemas ambientais. Estudos filogenéticos realizados com populações de E. coli isoladas destes ambientes, apesar de ainda muito limitados, tem permitido identificar que patotipos diarreiogênicos e extra-intestinais de E. coli estão amplamente distribuídos nos mais variados ecossistemas aquáticos, salientando a importância de tais estudos no âmbito da Saúde Pública e alertando para a elaboração de estratégias de prevenção de doenças infecciosas44. Os estudos realizados com amostras ambientais ainda são escassos, principalmente no Brasil, dificultando a comparação com outros estudos. Apesar disso, alguns estudos foram realizados no estado de São Paulo por Orsi e colaboradores17,160 em Guarapiranga e no reservatório Billings no primeiro estudo e no Rio Jaguari e no 89 Rio Sorocaba no segundo estudo. A distribuição dos filogrupos em ambos os trabalhos foi muito similar apresentando a distribuição dos filogrupos em ordem decrescente de ocorrência dos filogrupos A, B1, D e B2. O filogrupo A é apontado como mais prevalente nos dois estudos. 6.6) PCR-MULTIPLEX PARA ENTEROVIRULÊNCIA DE Escherichia coli (PCR-DEC) Muitas revisões foram publicadas sobre a patogenia, o diagnóstico e a origem de E. coli enteropatogênica, principalmente utilizando como exemplos amostras clínicas14,15,18,25,28,34,36,37,39,40,162,163,164,165,166,167,168. Entretanto, estudos realizados para esclarecer características de distribuição, patogênese e persistência de E. coli ambientais são menos numerosos. Em alguns trabalhos têm sido relatada, em geral, uma alta freqüência de cepas carreadoras de genes de enterovirulência as pertencentes aos patogrupos EAEC, ETEC, STEC, EIEC e ATEC5,7,146,160,169. Recentemente tem sido reportado que o gene astA está presente não só em amostras de EAEC, mas também em outros patotipos de E. coli diarreiogênica incluindo ETEC, EPEC e EHEC120,170. Os resultados do nosso estudo corroboram esta observação visto que o gene astA esteve presente em grande parte das amostras que exibiram marcadores de patogenicidade, cerca de 65%. Por exemplo, as amostras isoladas RM 11 (uidA, estIa e astA), RM 71 (uidA, stx1 e astA) e RM 73 (uidA, stx1 e astA) foram classificadas nos grupos patogênicos ETEC (estIa), STEC (stx1) e STEC (stx1) respectivamente, apesar de também carrearem o gene astA. A co-ocorrência de genes de enterovirulência pertencentes a diferentes patotipos em uma mesma cepa bacteriana pode ser motivo de confusão. Como exemplo, após a eletroforese do produto de PCR-DEC descobriu-se que a amostra RM 11 (uidA, estIa e astA) apresentou os mesmos marcadores genéticos de enterovirulência da amostra 037355 (uidA, estIa e astA) do artigo utilizado como base para a realização desta metodologia. No presente estudo a amostra RM 11 foi categorizada como pertencente ao grupo patogênico ETEC e no artigo base a amostra 03-7355, após ter seu padrão de aderência agregativa constatado, foi categorizada no grupo das EAEC, porém com a adição de um fator de virulência da toxina ST (característica de ETEC). Este é um ponto bastante controverso e torna-se evidente a necessidade de mais estudos para descobrir a 90 propriedade patogênica destas cepas para que se possa definir exatamente a qual grupo estão inseridas ou se há a possibilidade da criação de novos patotipos para a sua classificação dado que estas já são circulantes em sistemas aquáticos. Deve se considerar também que a plena expressão do potencial de virulência pode, em certos casos, requerer a atuação de características genéticas de regulação localizadas em outros elementos genéticos. Este resultado evidencia o fato de que os perfis de virulência em E. coli não são estáticos e estas variações podem ser explicadas pela grande plasticidade genômica característica desta espécie bacteriana. Esta plasticidade existe como resultado de adição, rearranjos, excisões e transferência horizontal de genes de virulência que, na maioria das vezes estão albergados em elementos genéticos móveis tais como plasmídeos, bacteriófagos e ilhas de patogenicidade. A situação é amplificada pelo fato de que ilhas de patogenicidade são instáveis a temperaturas mais baixas que 21ºC e, sendo assim, podem ser deletadas do genoma bacteriano quando submetidas a esta condição ambiental. A recombinação destes fatores genéticos contribui para a rápida evolução de cepas de E. coli e para a formação de novas combinações genéticas de fatores de virulência que podem conduzir ao surgimento de novos patotipos. Estas modificações genéticas complementam o perfil de virulência destas cepas provavelmente aumentando a sua capacidade de adaptação aos mais diferentes ambientes44,120,146,171. Metade das amostras que tiveram amplificação de algum gene de virulência carreavam somente o gene astA. Müller e colaboradores120 realizaram testes de padrão de aderência com células em cultura, “padrão-ouro” na classificação de EAEC, nas cepas que foram positivas para determinantes deste patotipo com o objetivo de confirmar se estas seriam mesmo pertencentes ao grupo. Como resultado ele observou que os 15% falso-positivos obtidos pelo PCR carreavam somente o marcador astA ou pic. Portanto no atual estudo, no qual não foi realizado o teste de padrão de aderência, classificamos as 10 amostras positivas apenas para o gene astA como pertencentes a um grupo de patotipo ainda não determinado. Existe um consenso entre diversos estudos de que bactérias comensais podem em algum momento carrear genes de virulência para auxiliar na sua sobrevivência e ampliar o sucesso na colonização de seu hospedeiro146. 91 As amostras isoladas de águas de regiões de aglomerados residenciais foram as que exibiram maior quantidade de genes de virulência pesquisados, correspondendo a 85% das amostras que apresentaram amplificação dos genes de enterovirulência investigados. Cerca de 20% das amostras isoladas desta área de coleta foram carreadoras de genes de enterovirulência, o que indica o grande potencial destes microrganismos como fonte de contaminação desses sistemas aquáticos. A presença de cepas bacterianas carreadoras de marcadores de virulência indica o grande o risco de contaminação para a população que vive ao redor destes locais. As amostras isoladas desta área de estudo e pertencentes à patotipos definidos estavam incluídas no grupo das ETEC, STEC e ATEC e foram isoladas de pontos de coleta como o Rio Faria, Rio Irajá e Rio São João que são rodeados por residências de baixa renda que vivem em condições de saneamento e hábitos de higiene precários, muitas vezes utilizando a água destes rios como fonte de consumo e recreação. Especialmente para as STEC era esperado o isolamento em regiões agropastoris, onde são encontrados bovinos, reservatórios tradicionais deste microrganismo, resultado que não foi observado no presente estudo172. A pesquisa de genes de virulência em E. coli isoladas de sistemas aquáticos que podem em algum momento ser utilizados como fonte de água ou de recreação é uma importante ferramenta diagnóstica com potencial de subsidiar estratégias de proteção a saúde da população. Em termos de Saúde Pública, a presença de patotipos intestinais responsáveis por diferentes quadros da doença diarréica, podendo levar, em alguns casos, até a morte é motivo de alerta e demonstra a necessidade de um melhor monitoramento da qualidade da água. Dentre as amostras merA+, apenas uma apresentou amplificação de genes de enterovirulência. O gene detectado foi o escV, classificando esta amostra como pertencente ao grupo das ATEC. Apesar da baixa prevalência de amostras com potencial de enteropatogenicidade entre os isolados de E. coli merA+, deve ser considerado a elevada plasticidade e intercâmbio genético da espécie, possibilitando a emergência de cepas altamente patogênicas. Assim sendo, a utilização de amostras bacterianas pertencentes a esta espécie em processos de biorremediação, requer prévia e cautelosa análise genética. 92 6.7) AMPLIFICAÇÃO RANDÔMICA DO DNA POLIMÓRFICO (RAPD-PCR) O ensaio de amplificação randômica do DNA polimórfico (RAPD) tem sido amplamente utilizado como método de tipagem molecular devido a sua simplicidade, sensibilidade, flexibilidade e relativo baixo custo. Esta técnica foi utilizada com êxito por Pacheco e colaboradores57 e Regua-Mangia e colaboradores48 para o estudo da diversidade entre amostras de E.coli provenientes de diferentes origens. No presente estudo, a análise do agrupamento obtido a partir do RAPD-PCR permitiu detectar que a população de E. coli carreadora do gene de resistência ao mercúrio é geneticamente diversa, porém, uma relação mais estreita foi observada entre os isolados que compartilham origem de isolamento e as demais características biogenéticas investigadas, possivelmente pertencendo também ao mesmo sorotipo. Perfis eletroforéticos idênticos de RAPD-PCR foram observados entre amostras do Canal do Cunha e entre amostras da Lagoa Rodrigo de Freitas, ambos localizados em águas de regiões de aglomerados residenciais. Além de estas amostras terem sido isoladas de um mesmo ponto de coleta também apresentaram o mesmo genótipo que codifica a resistência ao mercúrio, o mesmo perfil de resistência a antimicrobianos, mesmo CMI para o mercúrio, mesmo grupo filogenético e patotipo. 6.8) ELETROFORESE EM GEL DE GRADIENTE DESNATURANTE (DGGE) O DGGE é uma técnica de fingerprinting genético muito utilizada em estudos de ecologia molecular de microrganismos. Desde o seu primeiro uso em trabalhos científicos sobre a complexidade de comunidades bacterianas em 1993 esta metodologia tem sido empregada no estudo da diversidade de genes e de comunidades bacterianas presentes em diferentes ambientes62. Esta técnica é utilizada no estudo da diversidade de genes para detectar mutações pontuais nas sequências de mesmo tamanho, porém com diferentes sequências de ácidos nucléicos173. A diversidade do gene merA já descrita por outros trabalhos tanto em bactérias Gram-negativas quanto Gram-positivas tem sido detectada utilizando principalmente a técnica de RFLP (restriction fragment lenght polymorphism) que emprega enzimas de restrição131,137,151,152. Entretanto para ensaios de RFLP é necessário que os sítios de variabilidade correspondam aos sítios de reconhecimento da enzima para que sejam detectados. No atual estudo utilizando a técnica de DGGE também observamos 93 variações genéticas entre as amostras de E. coli carreadoras do gene merA. A técnica de DGGE não requer conhecimento de suas sequências para que seja possível detectar a variabilidade, o que confere grande vantagem e sensibilidade ao método. Amostras que apresentaram o mesmo padrão de amplificação na técnica de RAPD-PCR também apresentaram o mesmo padrão de amplificação na técnica de DGGE. Este resultado indica que as amostras são pertencentes a um mesmo grupo clonal circulante no ambiente aquático de onde foram isoladas. 6.9) BIORREMEDIAÇÃO A descontaminação de ambientes poluídos é um dos principais desafios para o desenvolvimento sustentável132. Dentre os contaminantes ambientais o mercúrio destaca-se entre os de maior relevância devido aos danos irreversíveis que pode causar ao ambiente, aos animais e aos seres humanos. Normalmente áreas contaminadas por metais são tratadas com métodos químicos, físicos e térmicos tradicionais que tem alto custo e causam perturbações ambientais174. Em contraste, processos de biorremediação são muito mais atrativos para a remoção de metais por terem custo mais baixo e maior eficiência a baixas concentrações175. Wagner-Dobler e colaboradores176 demonstraram com sucesso a eficiência e aplicabilidade da técnica de biorremediação através do uso de uma população de bactérias do gênero Pseudomonas capazes de reduzir o Hg+2 em Hg0 com o objetivo de remover o mercúrio inorgânico dos efluentes de uma indústria de cloro-soda. Este processo resultou na remoção de até 99 % do Hg+2 presentes nos efluentes desta indústria em um período de 56 horas. Esta técnica é considerada uma aliada ambiental, pois, além de remover o mercúrio de efluentes, requer pouca energia, trabalha em temperatura ambiente, tem baixo custo e não utiliza substâncias químicas extras176. O uso do operon mer para remoção do Hg+2 é uma promissora tecnologia de biorremediação que está sendo desenvolvida durante os últimos anos e que tem grande potencial para diminuir a exposição ambiental e humana a este metal tóxico. Com relação ao potencial de utilização da espécie bacteriana Escherichia coli em processos de biorremediação de águas contaminadas pelo mercúrio poucos estudos foram realizados. Devido à grande importância do mercúrio como poluente global e o sucesso de empreitadas anteriores para a biorremediação de áreas impactadas, estudos 94 que visam esclarecer os mecanismos bacterianos envolvidos na resistência ao mercúrio têm fundamental importância para minimizar a exposição humana e ambiental ao mercúrio. 95 7. CONCLUSÕES Amostras bacterianas pertencentes a espécie Escherichia coli com propriedades e potencialidades de virulência circulam amplamente em diferentes sistemas aquáticos no Estado do Rio de Janeiro; A identificação da prevalência do grupo filogenético A e a detecção de marcadores genéticos de enteropatogenicidade, característicos de patotipos intestinais associados com quadros clínicos severos em humanos indica a circulação, nesses ambientes, de microrganismos de grande relevância para a Saúde Pública e alerta para ações específicas na área de vigilância epidemiológica; O perfil de susceptibilidade a antimicrobianos detectada nas amostras do estudo corrobora padrões observados em amostras bacterianas isoladas de comunidade. Entretanto, o fenótipo de resistência e multirresistência assim como os padrões de resistência intermediária, possivelmente refletem as peculiaridades das regiões geográficas envolvidas e o uso indiscriminado de antimicrobianos; A ampla circulação de amostras bacterianas resistentes ao mercúrio é um processo decorrente da seleção de populações microbianas e reforça estudos prévios que demonstram a ocorrência natural do metal nos mais diversos ambientes, em um grande número de formas químicas; A diversidade detectada no gene merA possivelmente é decorrente de eventos simples de mobilidade genética como mutações, deleções, inserções e substituições. A co-ocorrência de determinantes de resistência ao Hg com propriedades de resistência a antimicrobianos vem reforçar a observação sobre a co-localização genética destas características; A análise do genoma total revelou uma elevada diversidade genética nas amostras carreadoras dos marcadores de resistência ao mercúrio. Entretanto, foi observada a ocorrência de genótipos merA-específicos em microrganismos geneticamente mais relacionados, sugerindo uma circulação clonal-específica; 96 Em função das potencialidades patogênicas nas amostras bacterianas resistentes ao Hg, análises mais precisas são requeridas visando aplicações em processos de biorremediação. 97 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Madigan MT, Martinko JM, Dunlap PV, Clark DP. Microbiologia de Brock. 12ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 1160 p. 2. Servais P, Prats J, Passerat J, Garcia-Armisen T. Abundance of culturable Escherichia coli in freshwater. Canadian Journal of Microbiology. 2009; 55: 905-909. 3. Cabral JPS. Water microbiology - Bacterial pathogens and water. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2010; 7: 3657-3703. 4. Ashbolt NJ. Microbial contamination of drinking water and disease outcomes in developing countries. Toxicology. 2004; 198: 229-238. 5. Ram S, Vajpayee P, Tripathi U, Singh RL, Seth PK, Shanker, R. Determination of antimicrobial resistance and virulence gene signatures in surface water isolates of Escherichia coli. Journal of Applied Microbiology. 2008; 105: 1899-1908. 6. O’Brien SJ & Halder SLS. Epidemiology: infection epidemiology and acute gastrointestinal infections. Alimentary Pharmacology & Therapeutics. 2007; 25: 669– 674. 7. Singh G, Vajpayee P, Ram S, Shanker R. Environmental reservoirs for enterotoxigenic Escherichia coli in South Asian Gangetic Riverine System. Environmental Science & Technology. 2010; 44: 6475-6480. 8. Clarke SC, Haigh RD, Freestone PPE, Williams PH. Virulence of enteropathogenic Escherichia coli, a global pathogen. Clinical Microbiology Reviews. 2003; 16: 365-378. 9. Guth BEC, Picheth CF, Gomes TAT. Escherichia coli situation in Brazil. In: Torres AG, editor. Pathogenic Escherichia coli in Latin America. Bentham Science e-books; 2010. p. 162-178. 10. Regua-Mangia AH, Gomes TAT, Vieira MAM, Andrade JRC, Irino K, Teixeira LM. Frequency and characteristics of diarrhoeagenic Escherichia coli strains isolated 98 from children with and without diarrhoea in Rio de Janeiro. Brazilian Journal of Infection. 2004; 48: 161-167. 11. Kaper JB. Pathogenic Escherichia coli. International Journal of Medical Microbiology. 2005; 295: 355-356. 12. Martinez MB & Trabulsi LR. Enterobacteriaceae. In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 271-279. 13. Houdt RV & Michiels CW. Role of bacterial cell surface structures in Escherichia coli biofilm formation. Research in Microbiology. 2005; 156: 626-633. 14. Croxen MA & Finlay BB. Molecular mechanisms of Escherichia coli pathogenicity. Nature Reviews in Microbiology. 2010; 8: 26-38. 15. Kaper JB, Nataro JP, Mobley HLT. Pathogenic Escherichia coli. Nature Reviews in Microbiology. 2004; 2: 123-140. 16. American Public Health Association. Standard methods for the examination of water and wastewater 19ª ed. Washington: American Public Health Association, 1995. 17. Orsi RH, Stoppe NC, Sato MIZ, Prado PI, Ottoboni LMM. Phylogenetic group distribution among Escherichia coli isolated from rivers in São Paulo State, Brazil. World Journal of Microbiology & Biotechnology. 2008; 24: 1573-1577. 18. Schmidt MA. LEEways: tales of EPEC, ATEC and EHEC. Cellular Microbiology. 2010; 12(11): 1544-1552. 19. Dobrindt, U. (Patho-)Genomics of Escherichia coli. International Journal of Medical Microbiology. 2005; 295: 357-371. 20. Williams ND, Torres AG, Lloyd SJ. Evolution and epidemiology of diarrheagenic Escherichia coli. In: Torres AG, editor. Pathogenic Escherichia coli in Latin America. Bentham Science e-books; 2010. p. 8-24. 99 21. Santos ACM. Presença de determinantes genéticos de virulência de Escherichia coli patogênica extraintestinal (ExPEC) em enterobactérias isoladas de bacteremia humana: relação entre a prevalência destes determinantes e a filogenia nas amostras de E. coli estudadas [dissertação de mestrado]. [São Paulo]: Universidade Federal de São Paulo; 2008. 154 p. 22. Clarke SC. Diarrhoeagenic Escherichia coli – na emerging problem? Diagnostic Microbiology & Infectious Diseases. 2001; 41: 83-98. 23. Lozer DM. Patotipos de Escherichia coli diarreiogênica em crianças quilombolas com e sem diarréia, do norte do Espírito Santo [dissertação de mestrado]. [Espírito Santo]: Universidade Federal do Espírito Santo; 2011. 123 p. 24. Gomes TAT & Trabulsi LR. Escherichia coli Enteropatogênica (EPEC). In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 281-287. 25. Nataro JP & Kaper JB. Diarrheagenic Escherichia coli. Clinical Microbiology Reviews. 1998; 11(1): 142-201. 26. Girão DM, Girão VBC, Irino K, Gomes TAT. Classifying Escherichia coli. Emerging Infectious Diseases. 2006; 12(8): 1297-1298. 27. Koneman EW, Allen SD, Dowell VR, Sommers HM. Diagnóstico microbiológico: texto e atlas colorido. 6ª ed. São Paulo: Medicina panamericana editora do Brasil ltda; 2008. 1565 p. 28. Qadri F, Svennerholm A, Faruque ASG, Sack RB. Enterotoxigenic Escherichia coli in developing countries: epidemiology, microbiology, clinical features, treatment and prevention. Clinical Microbiology Reviews. 2005; 18(3): 465-483. 29. Levine MM. Escherichia coli that cause diarrhea: enterotoxigenic, enteropathogenic, enteroinvasive, enterohemorrhagic, and enteroadherent. Journal of Infectious Diseases. 1987; 155: 377-389. 100 30. Guth BEC. Escherichia coli Enterotoxigênica (ETEC). In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 301-305. 31. Turner SM, Scott-Tucker A, Cooper LM, Henderson IR. Weapons of mass destruction: virulence factors of the global killer enterotoxigenic Escherichia coli. FEMS Microbiology Letters. 2006; 263: 10-20. 32. World Health Organization. The world health report 1999: making a difference. Disponível em: http://www.who.int/whr/1999/en/index.html. Acesso em: 10/01/2012. 33. Martinez, MB. Escherichia coli Enteroinvasora (EIEC). In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 307-309. 34. Garcia MI & Bouguénec CL. Role of adhesion in pathogenicity of human uropathogenic and diarrheogenic Escherichia coli. Bulletin de I´Institut Pasteur. 1996; 94: 201-236. 35. Guth BEC. Escherichia coli Produtora de Toxina Shiga (STEC). In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 289-293. 36. Paton JC & Paton AW. Pathogenesis and diagnosis of Shiga toxin-producing Escherichia coli infections. Clinical Microbiology Reviews. 1998; 11(3): 450-479. 37. Caprioli A, Morabito S, Brugère H, Oswald E. Enterohaemorrhagic Escherichia coli: emerging issues on virulence and modes of transmission. Veterinary Research. 2005; 36: 289-311. 38. Elias WP Jr & Gomes TAT. Escherichia coli Enteroagregativa (EAEC). In: Trabulsi LR & Alterthum F, editores. Microbiologia. 5ª ed. São Paulo: Atheneu; 2008. p. 295299. 39. Huang DB, Mohanty A, Dupont HL, Okhuysen PC, Chiang T. A review of an emerging enteric pathogen: enteroaggregative Escherichia coli. Journal of Medical Microbiology. 2006; 55: 1303-1311. 101 40. Weintraub A. Enteroaggregative Escherichia coli: epidemiology, virulence and detection. Journal of Medical Microbiology. 2007; 56: 4-8. 41. Gordon DM, Clermont O, Tolley H, Denamour E. Assigning Escherichia coli strains to phylogenetic groups: multi-locus sequence typing versus the PCR triplex method. Environmental Microbiology. 2008; 10(10): 2484-2496. 42. Regua-Mangia A H, Bezerra RMP, Esparis CM, Teixeira LM. Escherichia coli enteroagregativa (EAEC): filotipagem e resistência a antimicrobianos em um enteropatógeno emergente. Revista de Patologia Tropical. 2009; 38: 27-34. 43. Lecointre G, Rachdi L, Darlu P, Denamur E. Escherichia coli molecular phylogeny using the incongruence length difference test. Molecular Biology Evolution. 1998; 15: 1685–1695. 44. Hamelin K, Bruant G, El-Shaarawi A, Hill S, Edge TA, Fairbrother J, Harel J, Maynard C, Masson L, Brousseau R. Occurrence of virulence and antimicrobial resistance genes in Escherichia coli isolates from different aquatic ecosystems within the St. Clair River and Detroit River areas. Applied and Environmental Microbiology. 2007; 73(2): 477-484. 45. Clermont O, Bonacorsi S, Bingen E. Rapid and simple determination of the Escherichia coli phylogenetic group. Applied Environmental Microbiology. 2000; 66: 4555-4558. 46. Aslani MM, Ahrabi SS, Alikhani YM, Jafari F, Zali RM, Mani M. Molecular detection and antimicrobial resistance of diarrheagenic Escherichia coli strains isolated from diarrheal cases. Saudi Medical Journal. 2008; 29: 388-392. 47. Chomvarin C, Ratchtrachenchai OA, Chantarasuk Y, Srigulbuthtr S, Chaicumpar K, Nanwat W, Kotimanusvanij D. Characterization of diarrheagenic Escherichia coli isolated from food in Khon Kaen, Thailand. The Southeast Asian Journal of Tropical Medicine and Public Health. 2005; 36: 931-999. 48. Regua-Mangia AH, Gomes TAT, Vieira MAM, Irino K, Teixeira LM. Molecular typing and virulence of enteroaggregative Escherichia coli strains isolated from children 102 with and without diarrhoea in Rio de Janeiro city, Brazil. Journal of Medical Microbiology. 2009; 58, 414–422. 49. Vila J, Vargas M, Casals C, Urassa H, Mshinda H, Schellemberg D, Joaquim G Antimicrobial Resistance of Diarrheagenic Escherichia coli Isolated from Children under the Age of 5 Years from Ifakara, Tanzânia. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. 1999; 43: 3022-3024. 50. Garcia-Aljaro C, Moreno E, Andreu A, Prats G, Blanch AR. Phylogroups, virulence determinants and antimicrobial resistance in stx2 gene-carrying Escherichia coli isolated from aquatic environments. Research in Microbiology. 2009; 160: 585-591. 51. Hoa PTP, Managaki S, Nakada N, Takada H, Shimizu A, Ahn DH, Viet PH, Suzuki S. Antibiotic contamination and occurrence of antibiotic-resistant bacteria in aquatic environments of northern Vietnam. Science of the Total Environment. 2011; 409: 28942901. 52. Foxman B & Riley L. Molecular epidemiology: focus on infection. American Journal of Epidemiology. 2001; 153(2): 1135-1141. 53. Dobrindt U, Agerer F, Michaelis K, Janka A, Buchrieser C, Samuelson M, Svanborg C, Gottschalk G, Karch H, Hacker J. Analysis of genome plasticity in pathogenic and commensal Escherichia coli isolates by use of DNA microarrays. Journal of Bacteriology. 2002; 185(6): 1831-1840. 54. Belkum AV, Struelens M, Visser A, Verbrugh H, Tibayrenc M. Role of genomic typing in taxonomy, evolutionary genetics and microbial epidemiology. Clinical Microbiology Reviews. 2001; 14(3): 547-560. 55. Bando SY, Trabulsi LR, Moreira-Filho CA. Genetic relationship of diarrheagenic Escherichia coli pathotypes among the enteropathogenic Escherichia coli O serogroup. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. 2007; 102(2): 169-174. 56. Irino K, Medeiros MIC, Kato MAMF, Gomes TAT, Vieira MAM, Vaz TMI, Guth BEC. Serotype diversity as a drawback in the surveillance of Shiga toxin-producing 103 Escherichia coli infections in Brazil. Journal of Medical Microbiology. 2007; 56: 565567. 57. Pacheco ABF, Guth BEC, Soares KCC, Nishimura L, Almeida DF, Ferreira LCS. Random amplification of polymorphic DNA reveals serotype-specific clonal clusters among enterotoxigenic Escherichia coli strains isolated from humans. Journal of Clinical Microbiology. 1997; 35: 1521-1525. 58. Regua-Mangia AH, Guth BEC, Andrade JRC, Irino K, Pacheco ABF, Ferreira LCS, Zahner V, Teixeira LM. Genotypic and phenotypic characterization of enterotoxigenic Escherichia coli (ETEC) strains isolated in Rio de Janeiro city, Brazil. FEMS Immunology & Medical Microbiology. 2004; 40: 155-162. 59. Tenover FC, Arbeit RD, Goering RV. How to select and interpret molecular strain typing methods for epidemiological studies of bacterial infections: a review for healthcare epidemiologists. Infection Control and Hospital Epidemiology. 1997; 426: 720. 60. Arbeit RD. Laboratory procedures for the epidemiologic analysis of microorganisms. In: Murray PR, Baron EJ, Pfaller MA, Tenover FC, Yolken RH, editors. Manual of clinical microbiology. 6ª ed. Washington: American Society for Microbiology; 1995: 190-208. 61. Aboin MC, Barbosa JC, Coutinho HLC, Rosado AS. Avaliação de diversidade microbiana em amostras de solo: técnica do PCR/DGGE (Protocolo laboratorial). 21ª ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2004. 31 p. 62. Sanz JL & Köchling T. Molecular biology techniques used in wastewater treatment: an overview. Process Biochemistry. 2007; 42: 119-133. 63. Short SM & Suttle CA. Denaturing gradient gel electrophoresis resolves virus sequences amplified with degenerate primers. Biotechniques. 2000; 28: 20-26. 64. Brennan FP, Abram F, Chinalia FA, Richards KG, O´Flaherty V. Characterization of environmentally persistent Escherichia coli isolates leached from an Irish soil. Applied and Environmental Microbiology. 2010; 76(7): 2175-2180. 104 65. Byappanahalli MN & Fujioka RS. Evidence that tropical soil environment can support the growth of Escherichia coli. Water, Science and Technology. 1998; 38: 171174. 66. Byappanahalli MN, Whitman RL, Shively DA, Sadowsky MJ, Ishii S. Population structure, persistence and seasonality of autochthonous Escherichia coli in temperate, coastal forest soil from a Great Lake watershed. Environmental Microbiology. 2006; 8(3): 504-513. 67. Desmarais TR, Solo-Gabriele HM, Palmer CJ. Influence of soil on fecal indicator organisms in a tidally influenced subtropical environment. Applied and Environmental Microbiology. 2002; 68: 1165-1172. 68. Fremaux B, Prigent-Combaret C, Vernozy-Rozand C. Long-term survival of Shiga toxin-producing Escherichia coli in cattle effluents and environment: an updated review. Veterinary Microbiology. 2008; 132: 1-18. 69. Ishii S, Ksoll WB, Hicks RE, Sadowsky MJ. Presence and growth of naturalized Escherichia coli in temperate soils from Lake Superior watersheds. Applied and Environmental Microbiology. 2006; 72: 612-621. 70. Ishii S & Sadowsky MJ. Escherichia coli in the environment: implications for water quality and human health. Microbes and Environments. 2008; 23(2): 101-108. 71. Power ML, Littlefield-Wyer J, Gordon DM, Veal DA, Slade MB. Phenotypic and genotypic characterization of encapsulated Escherichia coli isolated from blooms in two Australian lakes. Environmental Microbiology. 2005; 7(5): 631-640. 72. Solo-Gabriele HM, Wolfert MA, Desmarais TR, Palmer CJ. Sources of Escherichia coli in a coastal subtropical environment. Applied and Environmental Microbiology. 2000; 66(1): 230-237. 73. Aranda I, Irizar A, Seco C, Muela A, Fernandez-Astorga A, Barcina I. Gfp cells as a useful tool to study the survival of Escherichia coli in the presence of the river microbial community. Microbiology Ecology. 2003; 45: 29-38. 105 74. Jones T, Gill CO, McMullen LM. The behaviour of log phase Escherichia coli at temperatures that fluctuate about the minimum for growth. Letters in Applied Microbiology. 2004; 39: 296-300. 75. Sinton LW, Hall CH, Lynch PA, Davies-Colley RJ. Sunlight inactivation of fecal indicator bacteria and bacteriophages from waste stabilization Pound effluent in fresh and saline waters. Applied Environmental Microbiology. 2002; 68: 1122-1131. 76. SANTANA, GP. Poluição aquática. Disponível em: http://www.cq.ufam.edu.br/Artigos/poluicao_aquatica/poluicao_aquatica.html. Acesso em 17/12/2010. 77. Wuertz S & Mergeay M. The impact of heavy metals on soil microbial communities and their activities. In: Van Elsas JD, Wellington EMH, Trevors JT, editores. Modern Soil Microbiology. Nova Iorque: Marcel Dekker; 1997. p. 1-20. 78. Câmara VM, Silva AP, Cancio JA. Notas para a constituição de um programa de vigilância ambiental dos riscos e efeitos da exposição do mercúrio metálico em áreas de produção de ouro. IESUS. 1998; 2: 35-44. 79. Mason RP, Reinfelder JR, Morel FMM. Uptake, toxicity and trophic transfer of mercury in a coastal diatom. Environmental Science & Technology. 1996; 30: 18351845. 80. Morel FMM, Kraepiel AML, Amyot M. The chemical cycle and bioaccumulation of mercury. Annual Review of Ecology, Evolution and Systematics. 1998; 29: 543-566. 81. Barrocas PRG. Geoquímica do mercúrio nos sedimentos do Rio São João de Meriti: sistema da Baía de Guanabara [Dissertação de mestrado]. [Rio de Janeiro]: Universidade Federal Fluminense; 1994. 132 p. 82. Azevedo F.A. Toxicologia do mercúrio. 1ª ed. São Paulo: Editora Rima; 2003. 272 p. 106 83. United Nations Environmental Programme. Global mercury assessment. Disponível em: http://www.chem.unep.ch/mercury/report/final%20assessment%20report.htm. Acesso em: 10/09/2011. 84. Horn JM, Brunke M, Deckwer, WD, Timmis, KN. Pseudomonas putida strains which constitutively overexpress mercury resistance for biodetoxification of organomercurial pollutants. Applied and Environmental Microbiology. 1994; 60(1): 357-362. 85. Jan AT, Murtaza I, Ali A, Mohd Q, Haq R. Mercury pollution: an emerging problem and potential bacterial remediation strategies. World Journal of Microbiology & Biotechnology. 2009; 25: 1529-1537. 86. Järup L. Hazards of heavy metal contamination. British Medical Bulletin. 2003; 68: 167-182. 87. Barkay T, Miller SM, Summers AO. Bacterial Mercury resistance: from atoms to ecossystems. FEMS Microbiology Reviews. 2003; 27: 355-384. 88. Brown NL, Stoyanov JV, Kidd SP, Hodman JL. The MerR family of transcriptional regulators. FEMS Microbiology Reviews. 2003; 27: 145-163. 89. Misra TK. Bacterial resistances to inorganic mercury salts and organomercurials. Plasmid. 1992; 27: 4-16. 90. Misra TK. Heavy metal bacterial resistance. Encyclopedia of Microbial. 2000; 2: 618-629. 91. Nies DH. Microbial heavy-metal resistance. Applied Microbiology and Biotechnology. 1999; 51: 730-750. 92. Osborn AM, Bruce KD, Strike P, Ritchie DA. Distribution, diversity and evolution of the bacterial mercury resistance (mer) operon. FEMS Microbiology Reviews. 1997; 19: 239-262. 107 93. Silver S. Bacterial heavy metal resistance: new surprises. Annual Review of Microbiology. 1996; 50: 753-789. 94. Summers AO. Untwist and Shout: a heavy metal responsive transcriptional regulator. Journal of Bacteriology. 1992; 174(10): 3097-3101. 95. Ball MM, Carrero P, Castro D, Yarzábal LA. Mercury resistance in bacterial strains isolated from tailing ponds in a gold mining area near El Callao (Bolívar State, Venezuela). Current Microbiology. 2007; 54: 149-154. 96. Boenig DW. Ecological effects, transport, and fate of mercury: a general review. Chemosphere. 2000; 40: 1335-1351. 97. Matyar F, Kaya A, Dinçer S. Antibacterial agents and heavy metal resistance in Gram-negative bacteria isolated from seawater, shrimp and sediment in Iskenderun Bay, Turkey. Science of the Total Environment. 2008; 407: 279-285. 98. Murtaza I, Dutt A, Ali A. Relationship between the persistence of mer operon sequences in Escherichia coli and their resistance to mercury. Current Microbiology. 2002; 44: 178-183. 99. Skurnik D, Ruimy R, Ready D, Ruppe E, Bernède-Bauduin C, Djossou F, Guillemot D, Pier GB, Andremont A. Is exposure to mercury a driving force for the carriage of antibiotic resistance genes? Journal of Medical Microbiology. 2010; 59: 804-807. 100. Stepanauskas R, Glenn TC, Jagoe CH, Tuckfield RC, Lindell AH, King CJ, McArthur JV. Coselection for microbial resistance to metals and antibiotics in freshwater microcosms. Environmental Microbiology. 2006; 8(9): 1510-1514. 101. Baker-Austin C, Wright MS, Stepanauskas R, McArthur JV. Co-selection of antibiotic and metal resistance. TRENDS in Microbiology. 2006; 14(4): 176-182. 102. Caslake LF, Harris SS, Williams C, Waters NM. Mercury-resistant bacteria associated with macrophytes from a polluted lake. Water, air and soil. 2006; 174: 93105. 108 103. Liebert CA, Wireman J, Smith T, Summers AO. Phylogeny of Mercury resistance (mer) operons of gram-negative bacteria isolated from the fecal flora of primates. Applied and Environmental Microbiology. 1997; 63(3): 1066-1076. 104. Brown NL, Stoyanov JV, Kidd SP, Hobman JL. The MerR family of transcriptional regulators. FEMS Microbiology Reviews. 2003; 27: 145-163. 105. Lal D & Lal R. Evolution of mercuric reductase (merA) gene: a case of horizontal gene transfer. Microbiology. 2010; 79(4): 500-508. 106. Bruins MR, Kapil S, Oehme FW. Microbial resistance to metals in the environment. Ecotoxicology and Environmental Safety. 2000; 45: 198-207. 107. Vetriani C, Chew YS, Miller SM, Yagi J, Coombs J, Lutz RA, Barkay T. Mercury adaptation among bacteria from a deep-sea hydrothermal vent. Applied and Environmental Microbiology. 2005; 71(1): 220-226. 108. Zeyaullah M, Nabi G, Malla R, Ali A. Molecular studies of E. coli mercuric reductase gene (merA) and its impact on human health. Nepal Medical College Jounal. 2007; 9(3): 182-185. 109. Babich H & Stotzky G. Heavy metal toxicity to microbe-mediated ecologic processes: a review and potential application to regulatory policies. Environmental Research. 1985; 36(1): 111-137. 110. Barkay T, Turner R, Saouter E, Horn J. Mercury biotransformations and their potential for remediation of Mercury contamination. Biodegradation. 1992; 3: 147-159. 111. Camaz FR & Amaral SP. Aspectos e impactos do fechamento do sistema de refrigeração de uma refinaria. Disponível em: http://www.latec.uff.br/cneg/documentos/anais_cneg4/T7_0040_0427.pdf. Acesso em: 27/03/2011. 112. Levy SB & Marshall B. Antibacterial resistance worldwide: causes, challenges and responses. Nature Medicine Supplement. 2004; 10(12): S122-S129. 109 113. Baum HV & Marre R. Antimicrobial resistance of Escherichia coli and therapeutic implications. International Journal of Medical Microbiology. 2005; 295: 503-511. 114. Fuentefria DB, Ferreira AE, Corção G. Antibiotic-resistant Pseudomonas aeruginosa from hospital wastewater and superficial water: are they genetically related? Journal of Environmental Management. 2011; 92: 250-255. 115. Lienert J, Koller M, Konrad J, McArdell CS, Schuwirth N. Multiple-criteria decision analysis reveals high stakeholder preference to remove pharmaceuticals from hospital wastewater. Environmental Science & Technology. 2011; 45: 3848-3857. 116. Vasconcellos ACS. Avaliação da resistência bacteriana ao mercúrio através da quantificação da redução do Hg(II) ao estado elementar [dissertação de mestrado]. [Rio de Janeiro]: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2010. 117. Andrews JM. Determination of minimum inhibitory concentrations. Journal of Antimicrobial Chemotherapy. 2001; 48: S5-S16. 118. Clinical and Laboratory Standards Institute. Enterobacteriaceae. In: Performance standards for antimicrobial susceptibility testing; twentieth informational supplement. 2010; 30(1): 40-44. 119. Chadhain SM, Schaefer JK, Crane S, Zylstra GJ, Barkay T. Analysis of mercuric reductase (merA) gene diversity in an anaerobic mercury-contaminated sediment enrichment. Environmental Microbiology. 2006; 8(10): 1746-1752. 120. Müller D, Greune L, Heusipp G, Karch H, Fruth A, Tschäpe H, Schmidt MA. Identification of unconventional intestinal pathogenic Escherichia coli isolates expressing intermediate virulence factor profiles by using a novel single-step multiplex PCR. Applied and Environmental Microbiology. 2007; 73(10): 3380-3390. 121. Johnson JR, Owens K, Mangues AR, Riley LW. Rapid and specific detection of Escherichia coli clonal group A by gene-specific PCR. Journal of Clinical Microbiology. 2004; 42(6): 2618-2622. 110 122. Silva, AS. Virulência e diversidade em amostras uropatogênicas de Escherichia coli isoladas de pacientes HTLV-I+ [dissertação de Mestrado]. [Rio de Janeiro]: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2011. 81 p. 123. Nath G, Maurya P, Gulati AK. Eric PCR and RAPD based fingerprinting of Salmonella typhi strains isolated over a period of two decades. Infection, Genetics and Evolution. 2010; 10: 530-536. 124. Muyzer G, De Waal EC, Uitterlinden AG. Profiling of complex microbial populations by denaturing gradient gel electrophoresis analysis of polymerase chain reaction-amplified genes coding for 16S rRNA. Applied and Environmental Microbiology. 1993; 59: 695-700. 125. Olaniran AO, Naicker K, Pillay B. Antibiotic resistance profiles of Escherichia coli isolates from river sources in Durban, South Africa. World Journal of Microbiology & Biotechnology. 2009. 126. Nies DH. Efflux-mediated heavy metal resistance in prokaryotes. FEMS in Microbiology. 2003; 27: 313-339. 127. Cervantes C & Gutierrez-Corona F. Copper resistance mechanisms in bacteria and fungi. FEMS in Microbiology. 1994; 14: 121-138. 128. Abou-Shanab RAI, Berkum PV, Angle JS. Heavy metal resistance and genotypic analysis of metal resistance genes in Gram-positive and Gram-negative bacteria present in Ni-rich serpentine soil and the rhizosphere of Alyssum murale. Chemosphere. 2007; 68: 360-367. 129. Hassen A, Saidi N, Cherif M, Boudabous A. Resistance of environmental bacteria to heavy metals. Bioresource Technology. 1998; 64: 7-15. 130. Møller AK, Barkay T, Al-Soud WA, Sørensen SJ, Skov H, Kroer N. Diversity and characterization of mercury-resistant bacteria in snow, freshwater and sea-ice brine from the high Artic. FEMS Microbiology Ecology. 2011; 75: 390-401. 111 131. Narita M, Chiba K, Nishizawa H, Ishii H, Huang C, Kawabata Z, Silver S, Endo G. Diversity of Mercury resistance determinants among Bacillus strains isolated from sediment of Minamata Bay. FEMS Microbiology Letters. 2003; 223: 73-82. 132. Rojas LA, Yáñez C, González M, Lobos S, Smalla K, Seeger M. Characterization of the metabolically modified heavy metal-resistant Cupriavidus metallidurans strain MSR33 generated for mercury bioremediation. PLoS ONE. 2011; 6(3): 1-10. 133. Sadhukhan PC, Gosh S, Chaudhuri J, Gosh DK, Mandal, A. Mercury and organomercurial resistance in bacteria isolated from freshwater fish of wetland fisheries around Calcutta. Environmental Pollution. 1997; 97(12): 71-78. 134. Zeyaullah M, Islam B, Ali A. Isolation, identification and PCR amplification of merA gene from highly mercury polluted Yamuna river. African Journal of Biotechnology. 2010; 9(24): 3510-3514. 135. Vasconcellos ACS. Identificação e caracterização de bactérias resistentes ao mercúrio em sistemas aquáticos brasileiros [Monografia de graduação]. [Rio de Janeiro]: [Universidade Federal Fluminense]; 2006. 136. Oliveira GA, Okada SS, Guenta RS, Mamizuka, EM. Avaliação da tolerância à vancomicina em 395 cepas hospitalares de Staphylococcus aureus resistentes à oxacilina. Jornal Brasileiro de Patologia. 2001; 37(4): 239-245. 137. Hart MC, Elliot GN, Osborn AM, Ritchie DA, Strike P. Diversity amongst Bacillus merA genes amplified from mercury resistant isolates and directly from mercury polluted soil. FEMS Microbiology Ecology. 1998; 27: 73-84. 138. Ramond JB, Berthe T, Duran R, Petit F. Comparative effects of mercury contamination and wastewater effluent input on Gram-negative merA gene abundance in mudflats of an anthropized estuary (Seine, France): a microcosm approach. Research in Microbiology. 2008; 160: 10-18. 139. Chang JS, Hong J, Ogunseitan OA, Olson BH. Interaction of mercuric íons with the bacterial growth medium and its effects on enzymatic reduction of mercury. Biotechnology Progress. 1993; 9: 526-532. 112 140. Servais P & Passerat J. Antimicrobial resistance of fecal bacteria in waters of the Seine river watershed (France). Science of the Total Environment. 2009; 408: 365-372. 141. Kümmerer K, Alexy R, Hütting J, Schöll A. Standardized tests fail to assess the effects of antibiotics on environmental bacteria. Water Research. 2004; 38: 2111-2116. 142. Kümmerer K. Antibiotics in the aquatic environment – A review – Part I. Chemosphere. 2009a; 75: 417-434. 143. Kümmerer K. Antibiotics in the aquatic environment – A review – Part II. Chemosphere. 2009b; 75: 435-441. 144. Pontes DS, Pinheiro FA, Lima-Bittencourt CI, Guedes RLM, Cursino M, Barbosa F, Santos FR, Chartone-Souza E, Nascimento AMA. Multiple antimicrobial resistance of Gram-negative bacteria from natural oligotrophic lakes under distinct anthropogenic influence in a Tropical region. Microbial Ecology. 2009; 58: 762-772. 145. Garcia-Armisen T, Vercammen K, Passerat J, Triest D, Servais P, Cornelis P. Antimicrobial resistance of heterotrophic bacteria in sewage-contaminated rivers. Water Research. 2011; 45: 788-796. 146. Hamelin K, Bruant G, El-Shaarawi A, Hill S, Edge TA, Bekal S, Fairbrother JM, Harel J, Maynard C, Masson L, Brousseau R. A virulence and antimicrobial resistance DNA microarray detects a high frequency of virulence genes in Escherichia coli isolates from Great Lakes recreational waters. Applied and Environmental Microbiology. 2006; 72(6): 4200-4206. 147. Sabaté M, Prats G, Moreno E, Ballesté E, Blanch AR, Andreu A. Virulence and antimicrobial resistance profiles among Escherichia coli strains isolated from human and animal wastewater. Research in Microbiology. 2008; 159: 288-293. 148. Walk ST, Alm EW, Calhoun LM, Mladonicky JM, Whittam TS. Genetic diversity and population structure of Escherichia coli isolated from freshwater beaches. Environmental Microbiology. 2007; 9(9): 2274-2288. 113 149. Fuentefria DB, Ferreira AE, Gräf T, Corção G. Pseudomonas aeruginosa: disseminação de resistência antimicrobiana em efluente hospitalar e água superficial. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2008; 41(5): 470-473. 150. Hobman J & Brown N. Bacterial mercury resistance genes. Metal ions in biological systems. 1997; 34: 527-568. 151. Osborn AM, Bruce KD, Strike P, Ritchie DA. Polymerase chain reactionrestriction fragment length polymosphism analysis shows divergence among mer determinants from Gram-negative soil bacteria indistinguishable by DNA-DNA hybridization. Applied and Environmental Microbiology. 1993; 59: 4024-4030. 152. Bruce KD, Osborn AM, Pearson AJ, Strike P, Ritchie DA. Genetic diversity within mer genes directly amplified from communities of noncultivated soil and sediment bacteria. Molecular Ecology. 1995; 4: 605-612. 153. Bruce KD. Analysis of mer gene subclasses within bacterial communities in soils and sediments resolved by fluorescent-PCR-restriction fragment length polymorphism profiling. Applied and Environmental Microbiology. 1997; 63: 4914-4919. 154. Felske ADM, Fehr W, Pauling BV, von Canstein H, Wagner-Döbler I. Functional profiling mercuric reductase (merA) genes in biobilm communities of a technical scale biocatalyzer. BMC Microbiology. 2003; 3: 22. 155. Bafana A. Mercury resistance in Sporosarcina sp. G3. Biometals. 2011; 24: 301309. 156. Lipthay JR, Rasmussen LD, Oregaard G, Simonsen K, Bahl MI, Kroer N, Sørensen SJ. Acclimation of subsurface microbial communities to mercury. FEMS Microbiology and Ecology. 2008; 65: 145-155. 157. Malik A & Aleem A. Incidence of metal and antibiotic resistance in Pseudomonas spp. from the river water, agricultural soil irrigated with wastewater and groundwater. Environmental Monitoring and Assessment. 2011; 178: 293-308. 114 158. Gosh A, Singh A, Ramteke PW, Singh VP. Characterization of large plasmids encoding resistance to toxic heavy metals in Salmonella abortus equi. Biochemical and Biophysical Research Communications. 2000; 272(1): 6-11. 159. Higgins J, Hohn C, Hornor S, Frana M, Denver M, Joerger R. Genotyping of Escherichia coli from environmental and animal samples. Journal of Microbiological Methods. 2007; 70: 227-235. 160. Orsi RH, Stoppe NC, Sato MIZ, Gomes TAT, Prado PI, Manfio GP, Ottoboni LMM. Genetic variability and pathogenicity potential of Escherichia coli isolated from recreational water reservoirs. Research in Microbiology. 2007; 158: 420-427. 161. Escobar-Páramo P, Sabbagh A, Darlu P, Pradillon O, Vaury C, Denamur E, Lecointre G. Decreasing the effects of horizontal gene transfer on bacterial phylogeny: the Escherichia coli case study. Molecular Phylogenetics and Evolution. 2004; 30: 243250. 162. Bouguénec CL. Adhesins and invasions of pathogenic Escherichia coli. International Journal of Medical Microbiology. 2005; 295: 471-478. 163. Fleckenstein JM, Hardwidge PR, Munson GP, Rasko DA, Sommerfelt H, Steinsland H. Molecular mechanisms of enterotoxigenic Escherichia coli infection. 2010; 12: 89-98. 164. Garmendia J, Frankel G, Crepin VF. Enteropathogenic and enterohaemorrhagic Escherichia coli infections: translocation, translocation, translocation. 2005; 73(5): 2573-2585. 165. Hacker J & Kaper JB. Pathogenicity islands and the evolution of microbes. Annual Reviews of Microbiology. 2000; 54: 641-679. 166. Johnson TJ & Nolan LK. Pathogenomics of the virulence plasmids of Escherichia coli. Microbiology and Molecular Biology Reviews. 2009; 73(4): 750-774. 167. Law D. Virulence factors of Escherichia coli O157 and other Shiga toxinproducing E. coli. Journal of Applied Microbiology. 2000; 88: 729-745. 115 168. Spears KJ, Roe AJ, Gally DL. A comparison of enteropathogenic and enterohaemorrhagic Escherichia coli pathogenesis. FEMS Microbiology Letters. 2006; 255: 187-202. 169. Ohno A, Marui A, Castrol ES, Reyes AA, Elio-Calvo D, Kasitani H, Ishii Y, Yamagushi K. Enteropathogenic bactéria in the La Paz River of Bolivia. The American Journal o Tropical Medicine and Hygiene. 1997; 57: 438-444. 170. Osek J. Identification of the astA gene in enterotoxigenic Escherichia coli strains responsible for diarrhea in pigs. Bulletin of the Veterinary Institute in Pulawy. 2003; 47: 9-15. 171. Bekal S, Brousseau R, Masson L, Prefontaine G, Fairbrother J, Harel J. Rapid identification of Escherichia coli pathotypes by virulence gene detection with DNA microarrays. Journal of Clinical Microbiology. 2003; 41(5): 2113-2125. 172. Regua-Mangia AH, Gonzalez AGM, Cerqueira AMF, Andrade JRC. Molecular characterization of Escherichia coli O157:H7 strains isolated from different sources and geographic regions. Journal of Veterinary Science, 2012; 13(1). 173. Wood GS, Tung RM, Haeffner AC, Crooks CF, Liao S, Orozco R, Veelken H, Kadin ME, Koh H, Heald P, Barnhill RL, Sklar J. Detection of clonal T-Cell receptor γ gene rearrangements in early mycosis fungoides/Sezary Syndrome by polymerase chain reaction and denaturing gradient gel electrophoresis. The Journal of Investigative Dermatology. 1994; 103(1): 34-41. 174. Singh JS, Abhilash PC, Singh HB, Singh RP, Singh DP. Genetically engineered bacteria: an emerging tool for environmental remediation and future research perspectives. Gene. 2011; 480: 1-9. 175. White C, Wilkinson SC, Gadd GM. The role of microorganisms in biosorption of toxic metals and radionuclides. International Biodeterioration & Biodegradation. 1995: 17-40. 116 176. Wagner-Döbler I, Canstein HV, Li Y, Timmis KN, Deckwer WD. Removal of mercury from chemical wastewater by microorganisms in technical scale. Environmental Science & Technology. 2000; 34: 4628-4634. 117 ANEXO – SSoolluuççõõeess uuttiilliizzaaddaass ppaarraa PPC CR R 1) Reagentes e soluções utilizadas nos ensaios de PCR 1.1) Solução tampão Tris-EDTA (TE), pH 7.5 Tris-HCl (LGC Biotecnologia®) 10Mm EDTA (LGC Biotecnologia®) 0,1mM 1.2) Gel de agarose 1,3% (p/v) UltraPure Agarose (Invitrogen®) 1,3% TBE 0,5X q.s.p. 100mL 1.3) Solução tampão Tris-Borato-EDTA (TBE) 5X, pH 8.4 Tris-HCl (LGC Biotecnologia®) 0,89M Ácido bórico (Merck®) 0,89M EDTA (LGC Biotecnologia®) 0,024M 1.4) Solução de brometo de etídeo (0,5µg/mL) Brometo de etídio (10mg/mL) (Invitrogen®) 10µL Água destilada 200mL 1.5) Gel de agarose 1,2% (p/v) UltraPure Agarose (Invitrogen®) 1,2% TBE 0,5X q.s.p. 100mL 1.6) Gel de agarose 1,5% (p/v) UltraPure Agarose (Invitrogen®) 1,5% TBE 0,5X q.s.p. 100mL 118 1.7) Formamida deionizada 100% Formamida P.A. 100mL Resina deionizante 5g 1.8) Corante para eletroforese de DNA Azul de bromofenol 0,005g Xilenocianol 0,005g Glicerol P.A. 7mL Água deionizada 3mL 1.9) Solução de Persulfato de Amônio 10% (APS) Persulfato de amônio 0,1g Água deionizada 1mL 1.10) Solução 80% desnaturante (Solução High) Solução 0% desnaturante 1,4mL Solução 100% desnaturante 12,6mL APS 10% 60µL TEMED 30µL Dcode Dye Solution 30µL 1.11) Solução 55% desnaturante (Solução Low) Solução 0% desnaturante 4,9mL Solução 100% desnaturante 9,1mL APS 10% 60µL TEMED 30µL 119 1.12) Solução para vedar as placas (Solução Stak) Solução 0% desnaturante 4mL APS 10% 30µL TEMED 15µL 1.13) Solução de acrilamida 40% Acrilamida 38,93g Bis-acrilamida 1,07g Água deionizada q.s.p. 100mL 1.14) Solução 0% desnaturante (gel a 8% de acrilamida) Solução de acrilamida 40% 20mL Solução tampão TAE 50X 2mL Água Mili-Q q.s.p. 100mL 1.15) Solução 100% desnaturante (gel 8% de acrilamida) Solução de acrilamida 40% 20mL Solução tampão TAE 50X 2mL Formamida deionizada 40mL Uréia 42g Água Mili-Q q.s.p. 100mL 1.16) Tris-acetato 1X (TAE 1X) Tris-acetato, pH 7.4 20mM Acetato de sódio 10mM EDTA 0,5mM Água Milli-Q q.s.p. 250mL 120 1.17) Solução de Sybr Green® Diluir o Sybr Green® em água deionizada na proporção de 1:10.000. Esta solução deve ser preparada somente no dia do uso, na ausência de luz ou em frasco âmbar. 121