PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DE FILOSOFIA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Constituída como pensamento há mais de 2600 anos, a Filosofia traz consigo o problema de seu ensino, desde o embate entre o pensamento de Platão e as teses dos sofistas. Naquele momento, tratava-se de compreender a relação entre o conhecimento e o papel da retórica no ensino. Platão admitia que, sem uma noção básica das técnicas de persuasão, a prática do ensino da filosofia teria efeito nulo sobre os jovens. Por outro lado, também pensava que se o ensino de filosofia se limitasse à transmissão de “técnicas” de sedução do ouvinte, por meio de discursos, o perigo seria outro: a Filosofia favoreceria posturas polêmicas, como o relativismo moral ou o uso pernicioso do conhecimento. ( PARANÁ, 2006 p. 15) De acordo com o mesmo documento optou-se pelo ensino de Filosofia partindo da divisão por conteúdos tendo em vista que esta perpassa a divisão cronológica: Filosofia Antiga, da Idade Média, Moderna e Contemporânea e a divisão geográfica: Filosofia Africana, Ocidental, Oriental, Latina Americana, entre outras. Com o passar do tempo a Filosofia foi se desligando da Teologia e ocupando-se mais com as questões antropológicas e científicas (racionalismo, empirismo). No Brasil, Filosofia como disciplina escolar começou no período da Educação Jesuítica, apoiada pelo Ratio Studiorum, e usando a razão defendia as verdades da fé. Com a Proclamação da República, a Filosofia passou a fazer parte dos currículos oficiais, até mesmo como disciplina obrigatória. Essa presença não significou, porém, um movimento de crítica à configuração social e política brasileira, que oscilou entre a democracia formal, o populismo e a ditadura. A partir de um dos documentos educacionais mais importantes de então – o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 – que pretendia reconstruir a educação no Brasil, percebe-se que os currículos escolares sofreram uma queda significativa da participação das humanidades. A nova política educacional previa o desenvolvimento da educação técnica profissional, de nível secundário e superior, como base da economia nacional, com a necessária variedade de tipos de escola. Com a Lei nº 4.024/61, a Filosofia deixava de ser obrigatória, e, sobretudo, com a Lei nº 5.692/71, em pleno regime militar, o currículo escolar não deu espaço para o ensino e estudo da Filosofia, que desapareceria dos currículos escolares do Segundo Grau durante a ditadura, sobretudo por não servir aos interesses econômicos e técnicos do momento. O pensamento crítico deveria ser reprimido, bem como as possíveis ações dele decorrentes. Dois exemplos ilustrativos dados por Corbisier (1986, p. 84): o Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), fundado em 1951, “atravessou incólume aos 15 anos de ditadura militar, sem que nada lhe acontecesse. Ao longo desses 15 anos, de opressão e repressão, de prisão, tortura e morte, nenhum diretor ou professor desse Instituto foi processado ou preso [...]” (PARANÁ, 2006 p. 11) Os professores ligados a Filosofia mantiveram as discussões sobre a necessidade do ensino da disciplina e suas contribuições para a formação de uma mentalidade crítico-reflexiva e os possíveis benefícios para a educação e a sociedade. O Conselho Nacional de Educação aprovou Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias no Ensino Médio em agosto de 2006. No Paraná tal obrigatoriedade é datada de julho de 2006. O ensino de Filosofia tem por objeto a criação de conceitos, oferecendo condições teóricas-reflexivas para que por meio de conhecimento filosófico possa alargar a consciência crítica, promover o exercício da cidadania, em detrimento da consciência ingênua. Cabe ao professor ser comprometido com a formação dos educandos, que instigue-os a reflexão através de questionamentos que confrontem a vida cotidiana com os conhecimentos adquiridos na disciplina e auxilie-os na construção das respostas, sabendo que em Filosofia não temos respostas prontas. CONTEÚDOS 1ª Série Conteúdo Estruturante Conteúdo Básico - Mito e Filosofia; - Saber mítico; - Saber filosófico; - Relação entre Mito e Filosofia; - Atualidade do mito; - O que é a filosofia? - Teoria do Conhecimento - Possibilidade do conhecimento; - Formas de conhecimento; - O problema da verdade; - A questão do método; - Conhecimento e lógica. Conteúdo Específico -características da filosofia inicial; - condições históricas, políticas e culturais para o surgimento da Filosofia; - Etimologia do termo filosofia - filósofos pré-socráticos - Estrutura do pensamento mítico; - Características do mito; - Características do pensamento filosófico présocrático; - Diferenças e semelhanças entre o mito e a filosofia pré-socrática; - A presença do discurso mítico nos filmes e na cultura moderna; - Principais características da filosofia: racionalidade, conceito e explicitação; - Diferenças entre o relativismo de Protágoras e a perspectiva epistemológica de Platão; - Ceticismo; - Dogmatismo; - Racionalismo; - Empirismo; - Verdade como correspondência; - Verdade como revelação; - Verdade como convenção; - Diferenças entre método dedutivo e indutivo; - As regras do método cartesiano; - Silogismo; - Falácias; - Retórica; 2ª Série Conteúdo Estruturante - Ética; Conteúdo Básico - Ética e Moral; - Pluralidade ética; - Ética e Violência; - Razão, desejo e vontade; Conteúdo Específico - Origens históricas da moral ocidental; - Diferenças entre moral, ética e lei; - Diferentes concepções de ética: eudaimonia, hedonista, cristã, liberal, niilista, etc; - O problema da alteridade; - O problema das virtudes; - O conflito entre a alma racional e a alma irracional em Platão e Aristóteles; - Amizade; - Filosofia Política; - Liberdade: autonomia do sujeito e a necessidade das normas; - Relações entre comunidade e poder; - Liberdade e igualdade política; - Política e ideologia; - Esfera pública e privada; - Cidadania formal e/ou participativa. - Liberdade; - Conceitos de liberdade; - Livre-arbítrio; - Liberdade e cidadania; - Estado e violência; - Os conceitos de Virtú e fortuna em Maquiavel; - Conceito de Isonomia e Iségoria; - Liberdade e liberalidade; - Liberalismo; - Republicanismo; - Socialismo; - Marxismo; - Conceito de esfera pública; - Conceito de esfera privada; - Condições de instauração do espaço público; - A crise da representação; - A questão da legitimidade da democracia participativa; - Direitos e deveres; Conteúdo Básico Conteúdo Específico -Desafios contemporâneos; 3ª Série Conteúdo Estruturante - Filosofia da Ciência; Estética. - Concepções de ciência; - A questão do método científico; - Contribuições e limites da ciência; - Ciência e ética; - Natureza da arte; - Filosofia e arte; - Categorias estéticas; - Estética e sociedade; - O que é Ciência? - Concepção antiga e moderna de Ciência; - O método dedutivo e indutivo; - Falseabilidade empírica; - Ruptura epistemológica; - Ciência e sociedade; - Paradigmas científicos; - Alienação; - Política e ciência; - Bioética; - A ciência e as suas consequências sociais; - Ciência e senso comum; - História da arte; - Concepções de arte; - Finalidade da arte; - Baumgarten e a crítica do gosto; - Kant e a estética transcendental; - Kant e Crítica da faculdade do juízo; - Feio, belo, sublime, trágico, cômico, grotesco, gosto, etc; - O belo e as formas de arte; - Utilidade da arte; - Crítica do gosto. METODOLOGIA DA DISCIPLINA Os conteúdos de filosofia serão trabalhados em quatro etapas: mobilização para o conhecimento, problematização, investigação e criação de conceitos. A mobilização se dará através de atividades que possibilitem investigar e motivar possíveis relações entre o cotidiano do estudante e o conteúdo filosófico a ser estudado. Para isso, o ensino pode ser iniciado com a exibição de um filme ou de uma imagem, da leitura de um texto jornalístico ou literário ou da audição de uma música. A problematização ocorre por meio de levantamento de questões e identificação de problemas pertinentes ao conteúdo proposto. Após problematizar, o professor convida o estudante a analisar o problema, o qual se faz por meio da investigação, que pode ser o primeiro passo para a experiência filosófica. Desse modo, a partir da análise de problemas da atualidade, incluindo os Desafios contemporâneos: Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99); Educação Fiscal (Portaria 413/2002); Cidadania e Direitos Humanos; Enfrentamento a Violência na Escola; Educação para as Relações Étnico Raciais; Prevenção ao uso indevido de Drogas; Educação Indígena; Gênero e Diversidade Sexual; Diversidade Educacional (Inclusão Educacional, Cultura Afro Brasileira e Africana (Lei nº 10.639/03), Educação Indígena (Lei nº 11.645), Educação do Campo (DCE do Campo) e História do Paraná (Lei nº 13.381/01), por meio do estudo de textos clássicos e de sua abordagem contemporânea, o estudante pode formular conceitos e construir seu próprio discurso filosófico. AVALIAÇÃO A avaliação em todas as séries serão contínuas, de valor (10,0). Visando contribuir com o ensino-aprendizagem, sua efetivação dar-se-á por meio do acompanhamento do aluno em sala de aula e através de seminários sobre as correntes filosóficas, trabalhos individuais e em grupo, júri simulado, entrevistas, pesquisas, provas e debates sobre o conhecimento filosófico e suas relações com as experiências cotidianas. Depois de efetivada a avaliação será realizada a revisão da prova. Para os alunos que não atingirem a média (6,0) será oportunizada uma recuperação paralela ao tema proposto. Critérios gerais: Diagnosticar a aprendizagem dos alunos, são eles:1º qualidade da produção escrita e oral do aluno, 2º capacidade de desencadeamento lógico e organização de conceitos expressa por meio de reflexão e produção teórica de determinados conteúdos.3º auto-organização, uso adequado do vocabulário nos trabalhos orais e escritos, aprofundamento teórico nas pesquisas e coesão e coerência nas produções textuais. Critérios específicos: 1º Série MITO E FILOSOFIA compreender fundamentalmente oque é mito e oque é filosofia, a relação que existe entre esses dois âmbitos; Conhecer como se deu e quais foram as condições que permitiram a passagem do mito à filosofia ; Compreender a diferença entre mito e filosofia e como ocorreu o nascimento da filosofia pela superação dos mitos. Perceber que os mesmos conflitos entre mito e razão, vividos pelos gregos, são problemas presentes, ainda hoje,em nossa sociedade; TEORIA DO CONHECIMENTO Qual a importância da teoria do conhecimento para a história da filosofia; Compreender historicamente que o surgimento do pensamento racional, conceitual , entre os os gregos, foi decisivo no desenvolvimento da cultura da civilização ocidental; Conhecer o contexto histórico e político do surgimento da filosofia; Compreender as questões sobre a origem, essência e certeza do conhecimento humano; As diferentes formas de conhecimentos, suas metodologias e o problema da verdade. 2º Série ÉTICA Compreender os fundamentos e a finalidade da Ética bem como a sua relação com a política; Entender a relação entre o sujeito e a norma. Verificar o entendimento dos alunos sobre a ética e moral, bem como as diferenças éticas existentes na sociedade; Ser capaz de perceber que o agir fundamentado propícia consequências melhores e mais racionais que o agir sem razões ou justificativas. FILOSOFIA POLÍTICA Compreender as relações de poder e os mecanismos que estruturam e legitimam os diversos sistemas políticos; Problematizar conceitos como o de cidadania, democracia, soberania, justiça, dentre outros; Analisar a compreensão dos alunos sobre a realidade politica, seu entendimento das relações de poder existentes, das ideologias, desenvolvendo o senso critico sobre as formas de governo e politicas existentes na sociedade contemporânea; 3º Série FILOSOFIA DA CIÊNCIA Compreender o que é ciência, suas condições e possibilidades, sua intenção; Refletir criticamente o conhecimento cientifico; Entender que o conhecimento cientifico é provisório, jamais acabado ou definitivo, sempre tributário, de fundo ideológico, religioso, econômico, político e histórico; Verificar os avanços científicos no campo da bioética e suas implicações éticopoliticas e sociais; ESTÉTICA Compreender o fundamentos da Estética enquanto reflexão sobre a beleza, a sensibilidade e a arte. Compreender a apreensão da realidade pela via da sensibilidade, percebendo que o conhecimento não é apenas resultado da atividade intelectual, mas fruto também da imaginação, da intuição e da fruição; O entendimento dos educandos para a realidade estética, verificando como esta pode estar a serviço de interesses econômicos, religiosos, sociais, políticos etc, ao longo da história. Os diferentes padrões de beleza e a relação belo e o grotesco. REFERÊNCIAS APPEL, E. Filosofia nos Vestibulares e no Ensino Médio, Cadernos PET – Filosofia 2, Departamento de Filosofia da UFPR, Curitiba, 1999. ASPIS, R. O Professor de Filosofia: O Ensino da Filosofia no Ensino Médio como experiência Filosófica. In: Cadernos Cedes, nº 64. A Filosofia e seu ensino. São Paulo: Cortez; Campinas, Cedes 2004. BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares do ensino médio. Brasília: MEC/SEB, 2006. BRASIL. 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