Volume 21 número 3 julho-setembro 2003 SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL Journal of the Brazilian Society for Vegetable Science UNESP – FCA C. Postal 237 - 18.603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203 Fax: (0xx14) 6802 3438 E-mail: [email protected] Presidente/President Rumy Goto UNESP-Botucatu Vice-Presidente/Vice-President Carlos Alberto Simões do Carmo INCAPER 1º Secretário / 1st Secretary Arlete Marchi T. de Melo IAC 2º Secretário / 2nd Secretary Ingrid B. I. Barros UFRGS-Porto Alegre 1º Tesoureiro / 1st Treasurer Marcelo Pavan UNESP-Botucatu 2º Tesoureiro / 2nd Treasurer Osmar Alves Carrijo Embrapa Hortaliças COMISSÃO EDITORIAL DA HORTICULTURA BRASILEIRA Editorial Committee C. Postal 190 - 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9088 / 385 9051 / 385 9073 / 385 9000 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Presidente / President Leonardo de Britto Giordano Embrapa Hortaliças Coordenação Executiva e Editorial / Executive and Editorial Coordination Sieglinde Brune Embrapa Hortaliças Editores / Editors André Luiz Lourenção IAC Antônio Evaldo Klar UNESP Antônio T. Amaral Jr. UENF-CCTA Arthur Bernardes Cecilio Filho Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. ISSN 0102-0536 UNESP Carlos Alberto Lopes Embrapa Hortaliças Celso Luiz Moretti Embrapa Hortaliças César Augusto B. P. Pinto UFLA Cláudio Brondani Embrapa Arroz e Feijão Cláudio José da S. Freire Embrapa Clima Temperado Clementino Marcos Batista de Farias Embrapa Semi-Árido Daniel J.Cantliffe University of Florida Djalma Rogério Guimarães Instituto CEPA Eduardo S. G. Mizubuti UFV Eunice Oliveira Calvete UFP Francisco Bezerra Neto ESAM Jerônimo Luiz Andriolo UFSM José Magno Q. Luz UFU Marcelo Mancuso da Cunha IICA-MI Maria Aparecida N. Sediyama EPAMIG Maria do Carmo Vieira UFMS - CEUD - DCA Marie Yamamoto Reghin UEPG Marilene L. A. Bovi IAC Paulo César R. Fontes UFV Paulo César Tavares de Melo ESALQ Paulo Espíndola Trani IAC Renato Fernando Amabile Embrapa Cerrados Ricardo Alfredo Kluge ESALQ A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE, AGRIS/FAO e TROPAG. Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/bh www.hortciencia.com.br www.sobhortalica.com.br Programa de apoio a publicações científicas Horticultura Brasileira, v. 1 nº1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983 Trimestral Títulos anteriores: V. V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura. 1-3, 1961-1963, Olericultura. Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969. Periodicidade até 1981: Anual. de 1982 a 1998: Semestral de 1999 a 2001: Quadrimestral a partir de 2002: Trimestral ISSN 0102-0536 1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Sociedade de Olericultura do Brasil. CDD 635.05 Tiragem: 1.000 exemplares 426 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Volume 21 número 3 julho-setembro 2003 ISSN 0102-0536 SUMÁRIO/CONTENT CARTA DO EDITOR / LETTER FOR THE EDITOR 141 PESQUISA / RESEARCH Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants Métodos de aplicação e dosagem de thiamethoxam no controle de tripes em tomate C. G. Raetano; M. R. Kobayashi; W. R. Kuwahara; R. R. Vinchi Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho Isozimatic characterization in eight accesses of dotted Smartweed R. C. Lopes; V. W. D. Casali; L. C. A. Barbosa; P. R. Cecon Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético Genotypic, phenotypic and environmental correlations among agronomic traits and the consequences for watermelon breeding M. A. J.F. Ferreira; M. A. Queiróz; L. T. Braz; R. Vencovsky Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds Efeito do espaçamento entre plantas e quantidade de pólen sobre o rendimento e a qualidade de sementes de abóbora M. S. Lima; A. I. I. Cardoso; M. F. Verdial Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate Effect of fertilization on the incidence of leafminer and early blight on tomato plants G.L.D. Leite; C. A. Costa; C. I.M. Almeida; M. Picanço Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho Effects of nitrogen levels application and planting densities on green ears and grain yield P. S. L. e Silva; F. H. T. Oliveira; P. I. B. Silva Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-do-tomateiro em progênies de Lycopersicon sculentum x L. hirsutum f. glabratum Genetic parameters and correlation among progenies of Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum for resistance to tomato pinworm L. G. Neves; N. R. Leal; R. Rodrigues; N. E. Pereira Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola Impact of the organic fertilization on onion thrips incidence P. A. S. Gonçalves; C. R. S. Silva Distribuição vertical e setorial das ninfas de mosca-branca nas folhas do meloeiro Vertical and sectorial distribution of whitefly nymphs on melon leaves F. R. Azevedo; E. Bleicher Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo Tomato plants production as a function of nitrogen doses and organic fertilization for two sowing times M. M. M. Ferreira; G. B. Ferreira; P. C. R. Fontes; J. P. Dantas Influência da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela cultivados em ambiente protegido Grafting effect on leaf gas exchange rates of two eggplant hybrids cultivated in greenhouse J. U. T. Brandão Filho; R. Goto; V. F. Guimarães; G. Habermann; J. D. Rodrigues; O. Callegari1 Produtividade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três soluções nutritivas Fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under three nutrient solutions J.L. Andriolo; M. E. Lanzanova; M. Witter Crescimento e produção de raízes comercializáveis de mandioquinha-salsa em resposta à aplicação de nutrientes Production of arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) in increasing levels of nutrients A. Portz; C. A. C. Martins; E. Lima Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução nutritiva drenada Growth and development of tomato plants in substrate with re-use of drained nutrient solution J. L. Andriolo; M. Witter; T. Dal Ross; R. S. Godói Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo Yield and quality of melon fruits in response to plastic mulch and soil tillage N. O. Miranda, J. F. Medeiros, I. B. Nascimento, L. P. Alves Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface Liming and urban waste vermicompost effects on production and heavy metals concentration of lettuce J. R. Mantovani; M. E. Ferreira, M. C. P. Cruz; M. K. Chiba; L. T. Braz Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 430 434 439 445 450 454 458 462 467 471 477 481 485 489 494 498 Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças Efficacy of indoxacarb in the control of vegetable pests S. Martinelli; M. A. Montagna; N. C. Picinato; F. M.A. Silva; O. A. Fernandes Determinação do ponto de colheita na produção de alho Determination of the harvest date for garlic cultivars C. M. Oliveira; R. J. Souza; J. H. Mota; J. E. Yuri; G. M. Resende Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro Growth evaluation of Gypsophila paniculata during in vitro rooting N. Bosa; E. O. Calvete; M. Suzin; L. Bordignon Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos Development of young plants of gypsophila in different substrates N. Bosa; E. O. Calvete;V. A. Klein; M. Suzin Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência Genetic divergence in taro accesses based on the morphological characteristics of inflorescence F. H. F. Pereira; M. Puiatti; G. V. Miranda; D. J.H. Silva; F. L. Finger Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento Evaluation of tomato families and commercial hybrids for processing using drip irrigation system J. O.M. Carvalho; J. M.Q. Luz; F. C. Juliatti; L. C. Melo; R. E. F. Teodoro; L. M. L. Lima Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno Evaluation of Paulista Gherkin lines grown in beds with polyethylene mulching V. A. Modolo; C. P. Costa Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses Tupã melon: agronomic performance, fruit quality and virus resistance W. O. Paiva; J. A. A. Lima; L. G. P. Neto; N. F. Ramos; F. C. Vieira Maturidade fisiológica e germinação de sementes de macela (Egletes viscosa (L.) Less.) submetidas à secagem Physiological maturation and germination of Egletes viscosa seeds submitted to drying A. M. E. Bezerra; S. M. Filho; J. B. S. Freitas Avaliação da suscetibilidade a inseticidas de populações da traça-das-crucíferas de algumas áreas do Brasil Forecasting insecticide susceptibility in Diamondback Moth populations from different areas of Brazil M. C. Branco; F. H. França; L. A. Pontes; P. S.T. Amaral Produção do híbrido Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio Influence of seedling stage and grafting on tomato, Momotaro hybrid production M. C. Lopes; R. Goto Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade da alface americana Effect of tray types and age of seedling on the development and yield of the crisphead lettuce G. M. Resende; J. E. Yuri; J. H. Mota; R. J. Souza; S. A.C. Freitas; J. C. R. Junior Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas Response of snap beans cultivated on two plant densities under nonwowen protection in Brazil A. V. Pereira; R. F. Otto; M. Y. Reghin 505 510 514 518 524 529 538 543 549 553 557 562 568 PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal Evaluating the knowledge of insecticide´s label by growers from an agricultural area in Distrito Federal, Brazil M. C. Branco Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado Bunching onion and parsley yield and gross income in mono-cropping and inter-cropping system N. A. Heredia Z.; M. C. Vieira; M. Weismann; A. L.F. Lourenção 574 578 NOVA CULTIVAR / NEW CULTIVAR Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus ‘Redenção’: a new tomato cultivar for industry resistant to tospovirus and geminivirus E. Ferraz; L. V. Resende; G. S.A. Lima; M. C. L. Silva; J. G. E. França; D. J. Silva 582 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS 585 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. carta do editor Neste número gostaríamos de chamar a atenção de nossos leitores para o 430 Congresso Brasileiro de Olericultura que será realizado em Recife (PE) entre 27 de julho e 01 de agosto de 2003. A organização deste Congresso está a cargo dos técnicos e funcionários da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária e da Embrapa Semi-Árido. Será o terceiro congresso da SOB em Recife e o quarto no estado de Pernambuco. Também gostaríamos de destacar nesta Carta do Editor que a Horticultura Brasileira tem recebido um número sempre crescente de trabalhos, levando-nos a crer que esta tendência é reflexo direto das melhorias implementadas na revista, como a trimestralidade desde o ano passado, conceito A obtido pelo Capes em 2002 e a inclusão da revista nas publicações eletrônicas da Scielo (http://www.scielo.br/hb). No volume 20 (2002) foram publicados um total de 104 trabalhos, média de 26 trabalhos por número, além dos 730 resumos dos trabalhos apresentados no 420 CBO que foram publicados no volume 20 (suplemento). Agradecemos a todos os nossos colegas que colaboram direta e indiretamente com nossa revista e, principalmente, aos nossos Editores e revisores ad hoc pela dedicação com que realizam o árduo trabalho de revisão dos trabalhos técnico-científicos. Atenciosamente, Leonardo de B. Giordano Presidente da Comissão Editorial Horticultura Brasileira Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 429 pesquisa RAETANO, C.G.; KOBAYASHI, M.R.; KUWAHARA, W.R.; VINCHI, R.R. Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 430-433, julho-setembro 2003. Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants Carlos Gilberto Raetano; Marco Roberto Kobayashi; Wagner Roberto Kuwahara; Rodrigo R. Vinchi UNESP, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected] ABSTRACT RESUMO Thrips is one of the most important vector species of the tomato spotted wilt tospovirus (TSWV) in Brazil. Two different pesticide application methods, drench x spray, using thiamethoxam were compared with commonly used insecticides for thrips control in tomato plants, Debora Plus. The experimental design consisted of a complete randomized block design with seven treatments and four replicates. Dosages of 150 and 200 g of a.i. per ha were used in just one drench application and 50 g of a.i. ha-1 sprayed, at weekly intervals, 48 days after sowing. The control efficacy of thiamethoxam was compared to diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1), profenofos + cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1, respectively) and methamidophos (60 g of a.i. per hectolitre of water) in spray application. Cumulative number of plants with tospoviruses and the F. schultzei population from ten flowers per plot were registered. The mean cumulative number of plants with tospoviruses among treatments was not significantly different. No significant difference between thiamethoxam application methods and dosages on F. schultzei control, 24 days after application, were observed for thrips population. One drench application of higher dosages of thiamethoxam proved to be environmentally advantageous than the pesticide applied at dosages of 50 g of a.i. ha-1 at weekly intervals. The vector control efficacy of thiamethoxam varied from 93 to 95%, independently of the application method and dosages. Diafenthiuron and profenofos + cypermethrin showed less efficacy (78 and 88%, respectively) but greater than those with methamidophos (71%). The products and dosages tested did not cause phytotoxicity in tomato leaves. Métodos de aplicação e dosagem de thiamethoxam no controle de tripes em tomate Keywords: Lycopersicon esculentum, Frankliniella schultzei, drench application, spraying, chemical control. O tripes Frankliniella schultzei Trybom (Thysanoptera: Thripidae) é um dos mais importantes vetores de tomato spotted wilt tospovirus (TSWV) na cultura do tomate no Brasil. Dois métodos de aplicação do inseticida thiamethoxam foram comparados no controle de tripes em tomate. O experimento foi conduzido em delineamento de blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições. Utilizou-se um pulverizador costal manual com lança simples provida de ponta de pulverização com jato cônico vazio JD 14-2 ou modificada, com aplicador tipo esguicho, em substituição à ponta de pulverização. Dosagens de 150 e 200 g i.a. ha-1 foram usadas em única aplicação com esguicho e 50 g i.a. ha-1 em pulverizações semanais, iniciadas aos 48 dias após a semeadura. A eficiência do inseticida em teste foi comparada com diafenthiuron (400 g i.a. ha-1), profenofos + cypermethrin (320+32 g i.a. ha-1, respectivamente) e methamidophos (60 g i.a. 100 L-1 de água), aplicados em pulverização. Não houve diferença estatística entre os métodos de aplicação e doses com thiamethoxam no controle de F. schultzei aos 24 dias após a aplicação, sendo vantajosa a realização de uma única aplicação das maiores dosagens de thiamethoxam com esguicho em comparação às aplicações semanais da menor dosagem em pulverização. A eficiência de controle do tripes com o inseticida thiamethoxam variou de 93 a 95%, nos diferentes métodos e dosagens em teste. Diafenthiuron e profenofos + cypermethrin apresentaram eficiência menor (78 e 88%, respectivamente), porém foram superiores às obtidas com methamidophos (71%). Os produtos e doses utilizados não causaram fitotoxicidade às plantas de tomate. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Frankliniella schultzei, esguicho, pulverização, controle químico. (Recebido para publicação em 08 de fevereiro de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) I n Brazil, the diseases caused by Tospovirus (type species: tomato spotted wilt virus, TSWV) result in large losses in several vegetable and floral crops (Nagata et al., 1999). More than ten species of thrips are vectors of tospoviruses and five of them have been detected. Among thrips species, Frankliniella schultzei Trybom (Thysanoptera: Thripidae) was reported as the main species found in tomato crops in Sao Paulo State (Pavan et al., 430 1993) and as an important specie vector of the TSWV (De Ávila et al., 1998). Nagata et al. (2000) studied the transmission specificity and efficiency of Brazilian tospoviruses occurring on tomato caused by four thrips species. The results indicated that F. occidentalis and F. schultzei are the major Tospovirus vectors on tomato. However, Thrips tabaci and Thrips palmi probably do not play an important role on Tospovirus distribution in tomato field. Tospoviruses are transmitted by thrips in a persistent manner (Sakimura, 1962). The virus can be acquired only at the larval stages, and virus transmission is due, almost exclusively, to adult thrips. Larvae can not transmit the virus immediately after acquisition, but after a latent period of approximately 3 to 10 days (Wijkamp, 1995). The dark color form of F. schultzei is able to transmit a greater number of tospoviruses compared to the light color Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants. form (Wijkamp et al., 1995). Domiciano (1995) verified that the thrips species F. schultzei, Tospovirus vector, even at low population levels, caused significant reduction in tomato productivity. Insecticide treatments (weekly) in the first 40 days after transplant were essential to prevent plants being infected with the virus and causing significant yield reduction. The effect of thiamethoxam in preventing transmission of Sardinian tomato yellow leaf curl virus (TYLCV) by Bemisia tabaci (Gennadius) was studied in experimental transmissions to tomato seedlings, cv. Marmande. Dosages of 50 ppm a.i. and 7 mg a.i. per plant were evaluated for the foliage and drench applications, respectively. Drench application provided a good level of protection from TYLCV infections in all tested conditions (from 1 to 22 days after treatment application); foliage application resulted in a prompt but short-lasting protection, less than 8 days (Mason et al., 2000). In São Paulo State, during the summer season, occurs an increase reproduction rate of this insect. The disease disseminates quickly, causing complete loss (Tokeshi & Carvalho, 1980). Generally, chemical control of F. schultzei has been efficient with highvolume (hand knapsack sprayers) and systemic products, for example methamidophos (60 g of a.i. 100 L-1 of water). High frequency insecticide spraying using conventional methods, three times a week, increases the exposure of the applicators as well as the cost of crop production, and causes environmental hazards. In Brazil, Bayer Crop Protection Division developed the drench application to control pests in tobacco crops. This application method using systemic products provides chemical protection to foliage as well as to the root system, reducing the frequency of application. In the present experiment were compared two different pesticide application methods, drench and spray application, and the efficiency of thiamethoxam against diafenthiuron, profenofos + cypermethrin and Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. methamidophos insecticide spraying for thrips control in tomato crops. MATERIAL AND METHODS The experiment was carried out at an experimental farm located in São Manoel, São Paulo State, Brazil. Debora Plus tomato hybrid, trained vertically and spaced 1.50 x 0.40 m was cultivated in field conditions. The experimental design was of complete randomized blocks with seven treatments and four replicates. Each experimental plot was composed of two ten-meter lines with 25 plants, with a total of 50 plants. Of these plants, just 40 were analyzed as ten were on borders and could be affected by another treatment. One knapsack sprayer was used in pesticide applications consisting of a simple lance with one JD 14-2 hollow cone type nozzle or modified lance at the end for spray or drench application, respectively. The treatments were thiamethoxam in one drench application at dosages of 150 and 200 g of a.i. ha-1, 48 days from sowing (February 28th, 1999); thiamethoxam in six spray applications at dosages of 50 g of a.i. ha-1 at weekly intervals; diafenthiuron (400 g of a.i. ha -1 ), profenofos + cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1, respectively); methamidophos (60 g of a.i. 100 L-1 of water) applied as the last method of application, plus the control (no insecticide application). During the period of the experiment two preventive fungicide applications were carried out on March 15th and 24th 1999 with chlorothalonil at a dosage of 100 g of a.i. 100 L -1 of water and tebuconazole + mancozeb at a dosage of 25+480 g of a.i. 100 L-1 of water. The thrips population was evaluated before (on February 24th, 1999) and after the initial insecticide applications on March 03rd, 10th, 18th, 24th, 31st and on April 6th, 1999. For the evaluation ten flowers per plot were collected and stored in plastic bags with 70% alcohol. Insect counting was carried out in laboratory conditions, using a stereoscopic microscope. Cumulative number of plants with tospoviruses was registered. F. schultzei numbers from ten flowers per plot plus cumulative data were submitted to variance analysis and means compared by Tukey test at 5% probability. Data were transformed to (x + 0.5)1/2 for analysis. The control efficiency of thrips was determinate by Abbott formula (Nakano et al., 1981) through the cumulative number of plants with tospoviruses symptoms. RESULTS AND DISCUSSION The average application volume using knapsack sprayer varied from 1067 to 1554 L ha -1 and in drench application was 350 L ha-1. Little difference in the number of thrips was registered when comparing the plots of tomatoes exposed to the various treatments after 3, 10 and 18 days. However, at 24 days only thiamethoxam (150 g of a.i. ha-1) applied in drench and profenofos + cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1, respectively) in weekly spraying showed significantly lower numbers of F. schultzei compared to those obtained with diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1) on tomato plants. No difference was observed among the other treatments (Table 1). After applications, the insecticide thiamethoxam at dosages of 150 and 200 g of a.i. ha-1 (drench application) and at a dosage of 50 g of a.i. ha-1 (weekly spraying application), as well as, profenofos + cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1, respectively) showed the best results with lowest cumulative number of plants with tospoviruses and the greatest efficiency of thrips control (Tables 2 and 3). Thrips control for these insecticides were of 93; 93; 95 and 88%, respectively, 24 days after the initial application. Intermediate efficiency of F. schultzei control was obtained with diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1) and methamidophos (60 g of a.i. 100 L-1 of water) insecticides (Table 3). The values were 78 and 71%, respectively. The number of thrips in tomato flowers is not a good parameter to evaluate the efficiency of thrips control. Frequently, tomato plants can be infected but the vector species is not 431 C.G.Raetano, et al. Table 1. Mean number of Frankliniella schultzei in tomato flowers after insecticide treatments applications with conventional spraying (knapsack sprayer) and drench application on tomato crops. São Manoel, UNESP, 1999. Original data transformed to (x + 0.5)1/2 for analysis. 1 Samples = 10. 2 Numbers in columns followed by the same letter are not significantly different at the 5% level with Tukey test. Table 2. Mean cumulative number of tomato plants with tospoviruses after insecticide applications with conventional spraying and drench application on tomato crops. São Manoel, UNESP, 1999. Original data transformed to (x + 0.5)1/2 for analysis. 1 Samples = 40. 2 Numbers in columns followed by the same letter are not significantly different at the 5% level with Tukey test. Table 3. Percentage of Frankliniella schultzei control after insecticide applications with conventional spraying and drench application on tomato crop. São Manoel, UNESP, 19991. 1 Efficiency (%) determinate by Abbott formula. always present. In thrips populations many of the insects are not viruliferous. Moreover, there is evidence that an 432 increase in virus incidence can be a result from pesticide application, presumably because viruliferous thrips are dispersed during spraying and the disease transmitted before the insect is affected (Allen et al., 1993). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants. Counting only the infected tomato plants in the evaluation, is not enough. The tomato plants infected by TSWV show tospoviruses symptoms only 12 to 15 days after the virus transmission. This occurrence can underrate or overrate the counting of tomato plants with symptoms of tospoviruses. The cumulative number of plants with symptoms in different degrees of severity is a more appropriate parameter for the efficiency evaluation. Thiamethoxam insecticide in all dosages and different application methods provided a high control level of F. schultzei in tomato crops. Similar results were obtained by profenofos + cypermethrin on thrips, despite the mixture of two products with contact action. Higher dosages of thiamethoxam using drench application were advantageous in comparison to lower dosages (weekly spraying application) because of reduction in the frequency of applications. None of the insecticides used in the tests, at any dosage, caused phytotoxicity in tomato crops. ACKNOWLEDGEMENTS We would like to thank NOVARTIS, for providing support for the development of this research and Janet Delgado, for the translation. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. CITED LITERATURE ALLEN, W.R.; TEHRANI, B.; LUFT, R. Effect of horticultural oil, insecticidal soap, and filmforming products on the western flower thrips and the tomato spotted wilt virus. Plant Disease, v. 77, n. 9, p. 915-918, 1993. De ÁVILA, A.; POZZER, L.; BEZERRA, I.; KORMELINK, R.; PRINS, M.; PETERS, D.; NAGATA, D.; KITAJIMA, T.; RESENDE, R. Diversity of tospoviruses in Brazil. In: PETERS, D.; GOLDBACH, R. (Eds.) Recent progress in tospovirus and thrips research. Fourth International Symposium on Tospoviruses and Thrips in Floral and Vegetable Crops - May 1998. Wageningen, The Netherlands, 1998. p. 32-34. DOMICIANO, N.L. Influência de diferentes períodos de proteção inseticida na prevenção da tospovirose “vira-cabeça” do tomateiro. 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Determinaram-se os fenótipos isoenzimáticos da malato desidrogenase (MDH), fosfatase ácida (ACP), peroxidase (PO), glutamato desidrogenase (GDH), leucina aminopeptidase (LAP), esterase (EST), álcool desidrogenase (ADH), glutamato oxaloacetato transaminase (GOT), isocitrato desidrogenase (IDH) e chiquimato desidrogenase (SKDH), utilizando extratos de folhas jovens de cada acesso. A eletroforese foi conduzida em géis de amido de milho e amido hidrolisado. O amido de milho mostrou resolução satisfatória na separação das bandas isoenzimáticas da IDH, ADH e MDH. No entanto, para os demais sistemas, o amido hidrolisado apresentou resolução superior à do amido de milho. Todos os sistemas enzimáticos estudados, com exceção do sistema LAP, apresentaram elevado polimorfismo, permitindo estabelecer padrões individuais em todos os acessos. Isso demonstrou o potencial das isoenzimas como marcadores genéticos no gênero Polygonum. Isozimatic characterization in eight accesses of dotted Smartweed Palavras-chave: Polygonum punctatum Ell., isoenzimas, diversidade genética. Keywords: Polygonum punctatum Ell., isozymes, genetic diversity. The technique of horizontal electrophoresis of 12% starch gel was used to characterize eight accesses of Polygonum punctatum Ell. The isozymatic phenotypes of the malate dehydrogenase (MDH), acid phosphatase (ACP), peroxidase (PO), glutamate dehydrogenase (GDH), leucine aminopeptidase (LAP), esterase (EST), alcohol dehydrogenase (ADH), glutamate oxalacetate transaminase (GOT), isocitrate dehydrogenase (IDH) and shikimate dehydrogenase (SKDH) were determined using young leaves extracts of each accession. The electrophoresis was performed in corn starch and hydrolysed starch gels. The corn starch showed a satisfactory resolution, for separation of the isozymics bands of IDH, ADH and MDH. However, for the other systems, the hydrolysed starch presented better resolution. All enzyme systems studied, except for LAP, presented high polymorphism, allowing to establish individual patterns in all accesses, demonstrating the potential of the isozymes as genetic markers for the Polygonum. (Recebido para publicação em 8 de março de 2001 e aceito em 6 de junho de 2002) O estudo dos padrões isoenzimáticos tem sido amplamente utilizado na caracterização de espécies, cultivares e de acessos de bancos de germoplasma. As técnicas isoenzimáticas têm sido também de grande importância como auxiliar na identificação quimiotaxonômica de espécies, principalmente medicinais. No estudo dos padrões isoenzimáticos de duas variedades botânicas de Ocimum nudicaule Benth., Figueiredo-Ribeiro et al. (1986) observaram que as diferenças encontradas confirmaram a existência das duas variedades, anteriormente proposta segundo características químicas e morfológicas. A introdução da técnica de eletroforese de isoenzimas nos estudos de populações e de evolução também foi de grande importância, porque além de iniciar a era da genética molecular, forneceu um meio direto de avaliação da variação genética (Torggler, 1995). No Brasil, há um enorme potencial de plantas medicinais usadas popularmente e ainda pouco estudadas pela comunidade científica. Dentro da família Polygonaceae, destaca-se a espécie Polygonum punctatum Ell., conhecida popularmente como erva-de-bicho, acataia, cataia, capiçoba, pimenta-dobrejo ou pimenta-da-água. Essa espécie é perene e encontrada em lugares úmidos ou inundados, desenvolvendo-se preferencialmente em solo de boa fertilidade, areno-argiloso ou argiloso e com bom teor de matéria orgânica. É originária da Ásia e encontra-se aclimatada no Brasil em todos os Estados, particularmente no Rio Grande do Sul, Sul e Sudeste (Lopes et al., 2000). A planta inteira é utilizada na medicina popular, principalmente como antidisentérica, antisséptica, detersiva, estomáquica, diurética, antitérmica, anti-reumática, vermífuga e excelente cicatrizante de feridas e úlceras. Também é fortemente emenagoga e abortiva, não sendo recomendada para gestantes (Morgan, 1984). Suas propriedades terapêuticas são úteis também no combate do câncer (Fukuyama et al., 1983), assim como nos problemas circulatórios, pois estimula a circulação e diminui a fragilidade capilar, tendo efeito hemostático, bastante útil no tratamento de hemorróidas (Teske & Trentini, 1995). Apesar de sua enorme importância como planta medicinal, a espécie carece ainda de estudos relacionados ao seu comportamento genotípico e fenotípico. Assim, diante dessa falta de informações a respeito dos aspectos genéticos desta espécie, o presente trabalho teve como objetivo estabelecer padrões isoenzimáticos para caracterização de oito acessos, com a finalidade de investigar polimorfismos isoenzimáticos em ¹ Parte da tese de mestrado na área de genética e melhoramento de plantas. Depto. Fitotecnia, UFV, Viçosa-MG. 434 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho P. punctatum Ell., bem como, obter estimativas da diversidade genética entre os acessos por meio desses padrões isoenzimáticos. MATERIAL E MÉTODOS Na caracterização de oito acessos de P. punctatum Ell. foram utilizadas mudas jovens obtidas pelo método de mergulhia, oriundas de São Paulo (SP), Peruíbe (SP), Viçosa (MG), Raul Soares (MG) e Canaã (MG). Os acessos foram assim identificados: VÇA e VÇB (Viçosa-MG), SPA (São Paulo-SP), SPB (Peruíbe-SP), RSA, RSB e RSC (Raul Soares-MG) e CAN (Canaã-MG). As plantas obtidas de mudas dos acessos originais foram cultivadas em vasos de polietileno de 5 L, preenchidos com substrato solo/esterco/areia, na proporção de 3:2:1, e mantidas em casa de vegetação. As análises isoenzimáticas foram realizadas em laboratório na UFV. Utilizou-se a técnica de eletroforese horizontal em gel de amido a 12%, para determinar os fenótipos isoenzimáticos da malato desidrogenase (MDH), esterase (EST), glutamato desidrogenase (GDH), glutamato oxaloacetato transaminase (GOT), fosfatase ácida (ACP), peroxidase (PO), leucina aminopeptidase (LAP), álcool desidrogenase (ADH), isocitrato desidrogenase (IDH) e chiquimato desidrogenase (SKDH). As amostras, constituídas por folhas jovens situadas na porção apical, foram maceradas em almofariz de porcelana previamente resfriado e mantido à baixa temperatura. O macerado foi absorvido em retângulos de papel cromatográfico Whatman 3 M e aplicados nos géis. Realizou-se uma pré-corrida, a 4ºC, com corrente constante a 150 V, por 30 minutos, após a qual, retiraram-se os retângulos de papel e ajustou-se a voltagem para 300 V, exceto para o sistema peroxidase, em que se utilizou 200 V, permanecendo assim até o final da corrida. A eletroforese foi conduzida em géis de amido de milho (Maizena) e amido hidrolisado (SIGMA). No preparo dos géis, empregaram-se 42 g de amido em 350 ml de solução-tampão, de acordo com o proposto por Conkle et al. (1982). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. A revelação da maioria dos sistemas foi realizada no escuro a aproximadamente 37ºC, com exceção da peroxidase, que foi efetuada à temperatura de 8ºC, aproximadamente. Após a revelação, os géis foram secados pelo método “bastidor”, de acordo com o procedimento descrito por Alfenas et al. (1991). A descrição genética das bandas procedeu-se conforme metodologia proposta por Neale et al. (1984). Para estimar a distância genética entre os acessos a partir de dados isoenzimáticos, utilizou-se a metodologia da análise multivariada do índice de similaridade de Jaccard e o agrupamento de Tocher, calculados pelo programa GENES. O índice de Jaccard é utilizado para fenótipos não interpretáveis em níveis de locos e alelos, por ser próprio para dados do tipo presença/ausência de bandas isoenzimáticas (Alfenas, 1991). Segundo Sneath & Sokal (1973), o índice de similaridade de Jaccard pode ser definido pela fórmula: a Iii, = ———— a+b+c em que a = número de casos em que a banda está presente nos dois acessos, simultaneamente; b = número de casos em que a banda está presente somente no acesso i; c= número de casos em que a banda está presente somente no acesso i,. Foram utilizadas somente bandas cuja revelação era de interpretação consistente, descartando-se as bandas atribuídas a artefatos. O método proposto por Tocher, citado por RAO (1952), requer a obtenção da matriz de dissimilaridade, em que a dissimilaridade foi obtida pelo complemento aritmético do índice de similaridade de Jaccard, utilizando-se a seguinte expressão: CIii, = 1 - Iii, em queCIii, = medida de dissimilaridade; e Iii, = índice de Jaccard. Por meio da matriz de dissimilaridade, foi identificado o par de acessos mais similar, formando-se o grupo inicial. Para inclusão de novos acessos no grupo, compararam-se o acréscimo no valor médio da distância dentro do grupo e o nível máximo permitido (a) para que a distância média intragrupo fosse inferior a qualquer distância intergrupo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização Isoenzimática dos Acessos O amido de milho mostrou-se eficiente na separação das bandas isoenzimáticas da IDH, ADH e MDH, permitindo a revelação de bandas nítidas e com fácil identificação. Esse meiosuporte foi utilizado com grande eficiência por Amaral Júnior (1994). Entretanto, para os demais sistemas, o amido hidrolisado apresentou resolução superior à do amido de milho. Esse fato pode ter ocorrido em razão do melhor controle de qualidade para produção de amido hidrolisado (Shuelter, 1996). Todos os sistemas enzimáticos estudados, com exceção do sistema LAP, apresentaram elevado polimorfismo com ausência e presença de bandas (Figura 1). Com relação à MDH, foram detectadas nove bandas polimórficas, reunidas praticamente na mesma região de atividade, resultando em quatro padrões isoenzimáticos. Os acessos VÇA, CAN, RSA, RSB e SPB apresentaram cinco bandas isoenzimáticas correspondente ao padrão 1, enquanto que os acessos SPA (padrão 2), RSC (padrão 3) e VÇB (padrão 4), mostraram padrão individual de bandeamento com cinco e quatro bandas, respectivamente. Pode-se evidenciar um grau de parentesco muito próximo dos acessos do padrão 1, uma vez que apresentavam semelhanças. O sistema ACP apresentou atividade anódica com a presença de 11 bandas, que, basicamente, se distribuem em duas regiões de atividade, as quais formam cinco padrões isoenzimáticos. Na região 1, de maior poder de migração, é possível deduzir a existência de um loco com dois alelos. Na região 2, supõe-se que haja vários alelos, onde se encontram bandas de difícil interpretação genética. Na discriminação dos acessos, segundo os padrões e as respectivas bandas eletroforéticas, observou a presença das bandas 7; 8; 9; 10 e 11 somente nos acessos RSC (padrão 4) e VÇB (pa435 R. C. Lopes, et al. Figura 1. Padrões isoenzimáticos da enzima MDH, ACP, PO, IDH, GOT, EST, ADH, GDH, LAP e SKDH, obtidos do tecido foliar de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. e sua mobilidade relativa (Mr). Viçosa, UFV, 1997. drão 5), podendo significar a fixação dos alelos nesse loco. O acesso VÇB apresentou padrão individual de bandeamento com 10 bandas evidenciadas. O sistema PO apresentou atividades anódica e catódica, enquanto os demais somente mostraram atividade anódica. Foram detectadas 11 bandas, sendo sete com migração anodal e quatro com migração catodal, distribuídas em quatro regiões de atividade. Neste sistema, o grande polimorfismo permitiu a separação de seis padrões isoenzimáticos. No padrão 1 foram agrupados três acessos (VÇA, RSA e SPB), enquanto os demais padrões apresentaram bandeamento individual para cada acesso. Os resultados obtidos confirmaram os estudos feitos em outras espécies (McDaniel, 1970; Smith et al., 1985), em que a peroxidase foi efetiva em caracterizar a maioria dos acessos. Em relação ao sistema IDH, foram constatados três padrões isoenzimáticos, evidenciando sete bandas, as quais apresentaram diferenças na intensidade de coloração e espessura. Os acessos VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e SPA correspondem ao padrão 1, e os acessos RSC e VÇB ao padrão 2 e 3, respectivamente. Enquanto que, no sistema GOT foi observada a ocorrência de duas regiões de atividade, totalizando 13 bandas e cinco padrões 436 isoenzimáticos. Na região 1 é provável a existência de apenas um loco com três alelos, enquanto que a região 2 mostrouse altamente polimórfica. Os padrões 1 (VÇA, RSA e RSB) e 2 (CAN e SPB) apresentaram o mesmo bandeamento com cinco bandas, diferindo apenas na espessura da banda 2. Os acessos SPA (padrão 3), RSC (padrão 4) e VÇB (padrão 5) apresentaram padrão individual de bandeamento com oito, quatro e três bandas, respectivamente. O sistema EST apresentou elevado polimorfismo, sendo observada a presença de 13 bandas, distribuídas em três regiões de atividades. A região 1, de maior migração, apresentou bandas em alguns padrões, mas ausentes em outros, bandas de mobilidade relativa muito próximas e bandas com diferenças na espessura e intensidade. A região 2, intermediária, e a região 3, de baixa migração, parecem conter um loco com dois e três alelos, respectivamente. O grande polimorfismo permitiu a separação mais precisamente dos acessos em sete padrões isoenzimáticos. Esse polimorfismo encontrado no sistema esterase também foi observado em outras plantas, como Hordeum (McDaniel, 1970) e alfafa (Quiros, 1980). A enzima ADH apresentou quatro bandas distribuídas em apenas uma re- gião de atividade, as quais resultaram em quatro padrões isoenzimáticos. Foi constatada a presença de três bandas nos padrões 2 (VÇB) e 4 (VÇB), sendo a intermediária mais espessa e com coloração mais intensa, o que permite supor ser o heterozigoto de uma enzima dimérica. Segundo Pasteur et al. (1988), as desidrogenases são enzimas diméricas, que podem apresentar mobilidade eletroforética muito próxima, com moléculas nos extremos e a forma heterozigota representada pelas bandas intermediárias, que freqüente-mente são mais intensamente coloridas do que as outras bandas. Assim, pode-se admitir que os padrões 1 (VÇA, CAN, RSA, RSB e SPB) e 3 (RSC) representaram o homozigoto dessa enzima dimérica. Com base no zimograma dos padrões isoenzimáticos para GDH, podem-se hipotetizar três regiões de atividade, em virtude da distância de migração entre as bandas. O sistema apresentou baixo polimorfismo, evidenciando quatro padrões isoenzimáticos, no padrão 1 (VÇA, CAN, RSA, RSB e SPB) apresentou a banda 1 de maior migração, agrupando a maioria dos acessos. Os acessos SPA (padrão2), RSC (padrão 3) e VÇB (padrão 4) apresentaram padrão individual de bandeamento. O sistema LAP apresentou apenas uma região de atividade, com bandas de espessuras diferentes. Em razão do pouco polimorfismo, o método foi ineficiente para discriminar os acessos, possibilitando apenas a distinção de dois padrões. No sistema SKDH foi detectada a presença de três padrões isoenzimáticos, apresentando quatro bandas reunidas praticamente em apenas uma região de atividade. A maioria dos acessos foi agrupado no padrão 1 (VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e RSC) e os acessos SPA (padrão 2) e VÇB (padrão 3) também apresentaram padrão individual de bandeamento. De modo geral, foi amplo o polimorfismo, permitindo estabelecer padrões individuais para todos acessos. Pode-se supor que a utilização de vários sistemas enzimáticos contribui para evidenciar tal polimorfismo, demonstrando o potencial das isoenzimas como marcadores genéticos no gênero Polygonum. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho Quadro 1. Distribuição de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. nos padrões de bandeamento de ACP, IDH, PO, MDH, SKDH, EST, ADH, GOT e GDH. Viçosa, UFV, 1997. Quadro 2. Medidas de dissimilaridade obtidas a partir de complemento aritmético do índice de Jaccard entre os padrões de bandas isoenzimáticas de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997. VÇA - Viçosa (MG), CAN - Canaã (MG), RSA - Raul Soares (MG), RSB - Raul Soares (MG), SPB - Peruíbe (SP), SPA - São Paulo (SP), RSC - Raul Soares (MG) e VÇB - Viçosa (MG). Na maioria dos sistemas enzimáticos, houve grande variação no número, na intensidade e na espessura das bandas. Tal variação pode estar relacionada com o grau de ploidia na espécie. Segundo Gottlieb (1982), a diferença no grau de ploidia pode ser observada no gel, pela presença de um número maior de bandas. Por sua vez, Messina et al. (1991) afirmaram que essa diferença pode ser averiguada pelo aumento da intensidade e da espessura das bandas causado pela variação na dose de alelos presentes. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Análise da Diversidade Genética dos Acessos por Padrões Isoenzimáticos Alguns sistemas enzimáticos apresentaram grande número de bandas. Assim, para visualizar melhor os sistemas, foi elaborado quadro de distribuição dos acessos e as respectivas bandas, adotando-se os números 0 e 1 para indicar ausência e presença de bandas, respectivamente (Quadro 1). Os sistemas isoenzimáticos ACP, IDH, PO, MDH, SKDH, EST, ADH, GOT e GDH apresentaram elevado polimorfismo com presença e ausência de bandas. A enzima LAP não foi considerada, por ter apresentado baixo polimorfismo nos acessos estudados. Foi verificado que os acessos VÇA, CAN, RSA, RSB e SPB apresentaram o mesmo padrão de bandeamento para os sistemas IDH, MDH, SKDH, ADH, GOT e GDH. Entretanto, nos demais sistemas houve grande variação nos padrões (Quadro 1). Em razão do fato de os acessos não apresentarem padrões isoenzimáticos 437 R. C. Lopes, et al. Quadro 3. Limite de distância intergrupo, com base nas medidas de dissimilaridade entre pares de acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997. Quadro 4. Agrupamento pelo método de otimização de Tocher a partir dos dados isoenzimáticos de acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997. idênticos, procedeu-se ao estudo da similaridade genética, envolvendo a combinação dos oito acessos, tomados dois a dois. Por meio do índice de similaridade de Jaccard, obteve-se a estimativa da dissimilaridade entre os acessos a partir de dados isoenzimáticos (Quadro 2). Os valores das medidas de dissimilaridade variaram amplamente entre 0 e 0,8136. Os acessos VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e SPA foram os mais similares e o par que apresentou maior dissimilaridade foi constituído pelos acessos RSC e VÇB. Ambos diferiram amplamente dos demais acessos (Quadro 2). Na aplicação do método de agrupamento por otimização, considerando-se a maior distância no conjunto das menores distâncias (a) entre cada acesso, o valor obtido foi 0,154 (Quadro 3). Dessa forma, houve formação de três grupos (Quadro 4): o grupo I contendo seis acessos (VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e SPA) e os grupos II e III, os acessos VÇB e RSC, respectivamente. Desta forma, foi evidenciado o baixo grau de diversidade genética dando suporte à hipótese de origem comum dos acessos, com grau muito próximo de parentesco (Lopes, 1997). Entretanto, a variabilidade entre os padrões pode ter decorrido da forte pressão de seleção imposta 438 sobre esses sistemas, com objetivo de favorecer determinados produtos gênicos mais eficiente. Tal fato justifica a grande facilidade da espécie Polygonum punctatum Ell. de adaptarse à diversas condições ambientais. 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Postal 83, 13400-970 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Foram estimadas as correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre os caracteres número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina (FF); número de frutos por planta (NF); peso de frutos por planta (PF); cor (CP) e espessura (EP) da polpa; diâmetro longitudinal (DL) e transversal (DT) de frutos; teor de sólidos solúveis (TS); número de sementes (NS) e peso de 100 sementes (PS) por fruto. As populações de melancia B9, ‘Charleston Gray’, ‘Crimson Sweet’, ‘New H. Midget’, M7, P14 e B13, os 21 híbridos F1, em dialelo, e seus recíprocos foram avaliados em campo, de acordo com o delineamento em blocos ao acaso completos, com quatro repetições. Houve grande similaridade entre as estimativas das correlações genotípicas e fenotípicas investigadas. Foram verificadas correlações genotípicas importantes entre os caracteres NF e PF, DL e DT; entre PF e DL, DT, EP e TS e entre CP e FF, EP e TS. Tais correlações indicam que o aumento no número de frutos por planta está correlacionado com a redução do peso de frutos e do tamanho dos frutos (função de DL e DT) e que o aumento no peso dos frutos está associado ao aumento no tamanho dos frutos, da espessura e teor de sólidos solúveis da polpa, assim como a polpa vermelha está relacionada à precocidade e ao aumento na espessura e no teor de sólidos solúveis da polpa. As associações indesejáveis entre os caracteres, como entre número de frutos por planta e cor da polpa e número de frutos por planta e teor de sólidos solúveis, não foram completas, indicando, portanto, a possibilidade de se obter indivíduos recombinantes a partir de populações segregantes sintetizadas através de intercruzamentos de populações contrastantes. Genotypic, phenotypic and environmental correlations among agronomic traits and the consequences for watermelon breeding Palavras-chave: Citrullus lanatus, correlações, caracteres, pré-melhoramento, dialelo Genotypic, phenotypic and environmental correlations were estimated among the following traits of watermelon: number of days to the appearance of the first female flower (FF); number of fruits per plant (NF); weight of fruit (PF); flesh color (CP) and thickness (EP); longitudinal (DL) and transversal (DT) fruit diameter; sugar content (TS); number of seeds (NS) and weight of 100 seeds (PS) per fruit. The watermelon populations B9, Charleston Gray, Crimson Sweet, New H. Midget, M7, P14 and B13, their 21 F1 hybrids in diallel crosses and corresponding reciprocals were evaluated in the field, through a randomized complete block design with four replications. A great similarity among the estimates of genotypic and phenotypic correlation was found. Interesting genotypic correlations were observed between NF and PF, DL and DT; between PF and DL, DT, EP and TS and between CP and FF, EP and TS. Such correlations indicated that an increase in the number of fruits per plant is correlated with a reduction in the fruit weight and fruit size (function of DL and DT) and that an increase of fruit weight is associated with an increase in fruit size, thickness and sugar content. In addition, red flesh color was related with earliness and with increments of traits thickness and sugar content. The undesirable associations detected between number of fruits per plant and flesh color and number of fruits per plant and sugar content, however, was not sufficiently strong, indicating to be possible obtain recombinant individuals in segregating populations synthesized through crosses among contrasting populations. Keywords: Citrullus lanatus, correlation, characters, prebreeding, diallel. (Recebido para publicação em 08 de março de 2002 e aceito em 22 de abri de 2002) A melancia (Citrullus lanatus) des taca-se entre as principais cucurbitáceas cultivadas no Brasil, sendo que a produtividade média é de 30 t/ ha (IBGE, 1998). Os principais estados produtores são Maranhão, Bahia, Piauí, São Paulo, Goiás, Santa Catarina e Pernambuco, sendo a região Nordeste responsável por 55,6% da produção nacional (IBGE, 1991). No Nordeste, centro de diversidade da melancia, esta cucurbitácea é de grande importância econômica e cultural desde a época do Brasil Colônia, quan- Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. do foi introduzida pelos escravos africanos (Romão, 1995). Nessa região, evidentemente, encontra-se ampla variabilidade genética, como já foi constatado em relação às principais características da planta e de frutos (Assis, 1994, 1999; Dias et al., 1996; Ferreira, 1996, 2000; Ferreira et al., 2000; Queiróz, 1993, 1998; Queiróz et al., 1996, 1999, 2000). Contudo, as cultivares de melancia disponíveis no mercado brasileiro são, na sua grande maioria, de origem americana e suscetíveis a muitas doenças e pragas. Entre as cul- tivares, a ‘Crimson Sweet’ é a que apresenta maior área cultivada, acarretando no fornecimento de, praticamente, apenas uma cultivar para o mercado consumidor. Além desses fatos, essa cultivar caracteriza-se por apresentar frutos grandes, o que implica em falta de opções para os consumidores que preferem frutos menores. A preferência, tanto no Brasil quanto em outros países, tem sido por frutos pequenos. Esta tendência pode promover oportunidades para o mercado externo, uma vez que os consumidores têm buscado frutos 439 M. A. J. F. Ferreira, et al. pesando entre quatro a seis quilos, e em casos mais extremos, como o mercado japonês, frutos com aproximadamente dois quilos. Além desse caráter, outros são igualmente importantes, como a prolificidade, a cor da polpa, o teor de sólidos solúveis, o formato do fruto, o número de sementes por fruto e a resistência a doenças. O consumo de frutos de melancia sem sementes também deverá aumentar no Brasil, acompanhando a tendência do mercado externo. Nos Estados Unidos cerca de 35% do mercado consumidor prefere melancias sem sementes. Diante destes fatos, fica evidente a importância do desenvolvimento de programas de melhoramento genético nacional, que tenham como objetivo a obtenção de cultivares resistentes às principais doenças e pragas, bem como a melhoria na qualidade dos frutos, visando suprir o mercado produtor e consumidor, os quais estão cada vez mais exigentes. A Embrapa Semi-Árido apresenta um programa amplo, cujos objetivos abrangem desde a área de recursos genéticos até a obtenção de variedades e híbridos com boas características de plantas e de frutos, incluindo frutos sem sementes. Geralmente, os programas de melhoramento têm por finalidade obter cultivares aprimoradas para um conjunto de caracteres. Por isso, o conhecimento da natureza e magnitude das correlações entre os caracteres de interesse é de fundamental importância. As relações existentes entre os caracteres são, em geral, avaliadas por meio das correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente. A correlação fenotípica é estimada diretamente de medidas fenotípicas, sendo resultante, portanto, de causas genéticas e ambientais. Apenas a correlação genotípica, que corresponde à porção genética da correlação fenotípica, é empregada para orientar programas de melhoramento, por ser a única de natureza herdável. De acordo com Cruz et al. (1988) e Vencovsky & Barriga (1992), estudos dessa natureza fornecem informações importantes para o melhoramento genético, como a possibilidade de: a) identificar a proporção da correlação fenotípica que é devida a causas genéticas; b) verificar se a seleção 440 em um caráter afeta outro; c) quantificar ganhos indiretos devido à seleção efetuada em caracteres correlacionados e; d) avaliar a complexidade dos caracteres. Para exemplificar, caso dois caracteres estejam correlacionados, é possível obter ganho em um deles por meio da seleção indireta do outro. Isto é vantajoso, principalmente, quando um caráter, de alto valor econômico, possui baixa herdabilidade ou é de difícil avaliação, quando comparado a outro caráter que está associado a ele. Desta forma, pode-se selecionar com base naquele que apresenta alta herdabilidade ou é de fácil avaliação visando melhorar o outro. No caso da melancia, a produção e o número de frutos por planta, segundo Ferreira (2000), apresentam, respectivamente, 20 e 53% de herdabilidade, ou seja, são consideravelmente influenciados pelo ambiente. Contudo, estes caracteres poderão estar correlacionados com outros que sejam menos influenciados pelo ambiente ou de fácil avaliação, como por exemplo com o peso ou o tamanho dos frutos ou a cor, a espessura ou o teor de sólidos solúveis da polpa que, de acordo com Ferreira (2000), apresentam altas herdabilidades, variando de 74 a 86%. Por outro lado, a correlação pode ser desfavorável. Isto significa que a seleção de um caráter poderá prejudicar outro, à medida que essa seleção estiver agindo no sentido contrário ao desejado. Em melancia, observa-se que frutos pequenos apresentam maior quantidade de sementes em determinada quantidade de polpa, o que é indesejável. Nestes casos, deve-se ter cuidado, pois às vezes é preciso o desenvolvimento de dois programas de melhoramento, cada um visando melhorar uma determinada característica. Poucos trabalhos sobre correlações entre caracteres de melancia têm sido relatados. Sachan & Tikka (1971) observaram que a produção de frutos apresentou correlação com o número de ramos primários, número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina e peso de frutos. Já Sidhu & Brar (1981), verificaram que a produção de frutos por planta correlacionou-se positivamente com peso de 100 sementes e peso de frutos, ao passo que sólidos solúveis totais e número de sementes por quilo de polpa apresentaram correlação negativa com a produção. Também foi constatada correlação positiva entre o número de frutos por planta e a produção de frutos e correlação negativa entre o número de frutos por planta e o peso de frutos (Partap et al., 1984), bem como associação entre a cor da polpa e o teor de sólidos solúveis (Abd El-Hafez et al., 1985). Foram detectadas, ainda, correlações entre a produção de frutos por planta com o comprimento do ramo, número de ramos por planta, peso e comprimento de frutos (Prasad et al., 1988). Em decorrência do exposto, este trabalho foi executado com o objetivo de estimar as correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia, de modo que possa contribuir na orientação de programas de melhoramento genético. MATERIAL E MÉTODOS Na UNESP, campus de Jaboticabal, foram obtidas as sementes híbridas, em casa de vegetação. As cultivares de origem americana Charleston Gray, Crimson Sweet e New Hampshire Midget e os acessos B9, M7, P14 e B13, foram utilizados como genitores e cruzados em todas as combinações possíveis. Os acessos B9, B13, P14 e M7 são populações tradicionais coletadas, respectivamente, na Bahia, em Pernambuco e no Maranhão, sendo conservadas, ex situ, no Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas da Embrapa Semi-Árido (Queiróz, 1993, 1998). Estas populações divergem para uma série de caracteres, especialmente relacionados ao fruto, visto que os acessos de germoplasma apresentam cor da polpa variando de rósea a branca e baixo teor de sólidos solúveis, ao passo que as variedades americanas apresentam cor da polpa vermelha intensa e brix alto (Queiróz, 1993; Queiróz et al., 1996; Ferreira, 1996). A avaliação em campo dos genitores, dos híbridos F 1 e recíprocos, foi conduzida na estação experimental da Embrapa Semi-Árido, em Juazeiro (BA). Foi utilizado o delineamento em blocos ao acaso com quatro repetições e cada Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético Tabela 1. Coeficientes de correlação genotípica (rG), fenotípica (rF) e ambiental (rE) entre dez caracteres avaliados em cruzamentos dialélicos, entre sete genitores de melancia. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1996. Significativo ao nível de 1% de probabilidade (**), 5% de probabilidade (*) e não significativo ao nível de 5% de probabilidade (ns), pelo teste F. FF = número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina; NF = número de frutos por planta; PF = peso de frutos por planta; CP = cor da polpa; EP = espessura da polpa; DL = diâmetro longitudinal de frutos; DT = diâmetro transversal de frutos; TS = teor de sólidos solúveis; NS = número de sementes por fruto; PS = peso de cem sementes por fruto. parcela foi composta por uma fileira com seis plantas, cujo espaçamento foi de 2,5 m entre fileiras e 1,0 m entre plantas. Foram avaliados o número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina (FF); número de frutos por planta (NF); peso de frutos por planta (PF, em kg); cor (CP) e espessura (EP, em cm) da polpa; diâmetro longitudinal (DL, em cm) e transversal (DT, em cm) de frutos; teor de sólidos solúveis (TS, em °Brix); número de sementes (NS) e peso de 100 sementes (PS, em g) por fruto. A cor dos frutos foi avaliada de acordo com a escala de notas proposta Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. neste estudo: 1 = vermelha intensa; 2 = vermelha; 3 = vermelha clara; 4 = rósea e 5 = branca. As estimativas dos coeficientes de correlação genotípica (rG), fenotípica (rF)e de ambiente (rE) foram obtidas mediante análises de covariâncias, combinando os dados dos dez caracteres em todas as formas possíveis (Cruz & Regazzi, 1994). Foi empregado o teste t para examinar a significância estatística das estimativas ao nível de 1% e 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas no programa GENES. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação aos coeficientes (rG) e (rF), foi verificada uma grande similaridade entre os pares de caracteres, em relação aos sinais, a magnitude e o nível de significância, com exceção apenas da correlação entre FF e DL, com rG = -0,29* e rF = -0,28ns (Tabela 1). Em decorrência dessa similaridade, bem como pelo maior valor prático nos trabalhos de melhoramento, as correlações genotípicas serão analisadas com maior detalhe. 441 M. A. J. F. Ferreira, et al. Tabela 2. Médias de dez caracteres avaliados em sete populações de melancia. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1996. Médias seguidas da mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey. 1 = B9; 2 = Charleston Gray; 3 = Crimson Sweet; 4 = New Hampshire Midget; 5 = M7; 6 = P14; 7 = B13. FF = número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina; NF = número de frutos por planta; PF = peso de frutos por planta; CP = cor da polpa; EP = espessura da polpa; DL = diâmetro longitudinal de frutos; DT = diâmetro transversal de frutos; TS = teor de sólidos solúveis; NS = número de sementes por fruto; PS = peso de cem sementes por fruto. Em 95,5% dos pares de caracteres, as correlações genotípicas foram iguais ou superiores às correlações fenotípicas, assim como estas duas, em 82,2% dos casos foram superiores às correlações de ambiente. Verificou-se também que nas 45 combinações possíveis entre os dez caracteres, em apenas oito a correlação ambiental foi superior à genotípica. A correlação de ambiente, para a maioria dos pares de caracteres, foi reduzida, ou seja, menor que 0,5, constatando-se que houve maior contribuição dos fatores genéticos em relação aos fatores ambientais nas correlações entre os caracteres. No entanto, o peso de fruto apresentou correlação ambiental ao redor de 0,5 com espessura da polpa e tamanho do fruto, assim como a correlação entre espessura da polpa e diâmetro longitudinal, indicando que estas correlações foram mais influenciadas pelo ambiente do que as demais. A maioria dos coeficientes de correlação genotípica foi estatisticamente significativa a 1% e 5% de probabilidade, sendo que em 44,4% dos casos as correlações foram superiores a 0,5 (Tabela 1). A correlação entre o número de frutos por planta e o peso de frutos foi negativa e de valor 0,75, significando que com o aumento do número de frutos por planta os mesmos apresentaram menor peso, fato encontrado também por Partap et al. (1984). Analisando-se as 442 demais correlações envolvendo o número de frutos por planta, observa-se que este caráter correlacionou-se também com a cor, a espessura e o teor de sólidos solúveis da polpa e com o tamanho de frutos (em função de DL e DT) (Tabela 1). Assim, nas populações estudadas, quanto maior o número de frutos por planta, menor será o peso, o tamanho, a espessura e o teor de sólidos solúveis da polpa, desses frutos, bem como maior será a tendência para cor branca da polpa. Portanto, o melhorista não deve selecionar para características da polpa como espessura, teor de sólidos solúveis e cor com base no número de frutos por planta. As populações tradicionais do Nordeste, B9 e P14, apresentaram maior número de frutos por planta e frutos com menor peso e tamanho. As populações B9, P14 e B13 também foram mais produtivas (NF x PF), pois produziram respectivamente 15,2; 14,6 e 11,9 kg por planta, em comparação com as cultivares New H. Midget (5,1 kg/planta), Charleston Gray (7,7 kg/planta) e Crimson Sweet (5,1 kg/planta). Contudo, elas apresentaram cor da polpa rósea e baixo teor de sólidos solúveis (Tabela 2). Apesar das correlações entre o número de frutos por planta e a cor e o teor de sólidos solúveis da polpa terem sido elevadas, existe a possibilidade de obter plantas recombinantes que sejam prolíficas (alta produção de frutos por planta) e apresentem frutos pequenos, vermelhos e doces. Esta afirmativa é reforçada pelo fato de Ferreira (1996) constatar que nestas populações há uma alta freqüência de alelos favoráveis para estes caracteres, uma vez que houve predomínio de efeitos gênicos aditivos. Além disso, podem ser obtidas populações segregantes a partir de cruzamentos envolvendo as populações B9 e P14 e as cultivares Charleston Gray e Crimson Sweet, que apresentaram frutos com polpa vermelha e alto teor de sólidos solúveis. Ferreira (2000), por exemplo, a partir de uma população base obtida pelo intercruzamento de ‘Crimson Sweet’ e P14, selecionou progênies maternas e autofecundadas prolíficas e que apresentavam frutos pequenos, vermelhos e doces. Tais resultados reforçam a ampla variabilidade genética apresentada pelas populações tradicionais do Nordeste, assim como a eficiência em se efetuar um pré-melhoramento dessas variedades através de intercruzamentos com outras populações. Em relação às correlações envolvendo o peso de frutos e outras características relevantes para o melhoramento de melancia e considerando as populações estudadas, foi verificado que esse caráter está correlacionado também com o tamanho do fruto e com a espessura e o teor de sólidos solúveis da polpa, pois Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético frutos maiores e consequentemente mais pesados apresentaram maior espessura e teor de sólidos solúveis da polpa e vice-versa (Tabela 1). Estes resultados estão em conformidade com as médias fenotípicas dos genitores, uma vez que ‘Charleston Gray’ e ‘Crimson Sweet’ apresentaram maior PF, EP, DL, DT e TS quando comparadas com as demais populações (Tabela 2). Por outro lado, precocidade, teor de sólidos solúveis e espessura da polpa podem ser selecionadas com base na cor da polpa, uma vez que esta característica, segundo Ferreira (2000), apresenta uma alta herdabilidade (0,86) e as correlações FF e CP, CP e EP e CP e TS, dão indícios de que quanto mais vermelha a polpa do fruto, maior será o teor de sólidos solúveis e a espessura da polpa desse fruto, assim como mais precoce será a planta. O número de sementes por fruto apresentou correlações significativas, principalmente com o peso de fruto e número de frutos por planta, entretanto as correlações foram abaixo de 0,4 (Tabela 1), indicando que será possível a seleção de plantas que tenham frutos pequenos com uma quantidade menor de sementes. Outra alternativa para reduzir a quantidade de sementes nos frutos é a produção de híbridos triplóides a partir do cruzamento de linhas tetraplóides com linhas diplóides (Souza et al., 1999). Embora algumas correlações indesejáveis entre os caracteres tenham sido altas, não se configuraram em associação completa, sendo possível obter recombinantes que sejam promissores para os caracteres mais importantes economicamente, como por exemplo, para o tamanho, o peso e o número de frutos por planta e para a espessura, o teor de sólidos solúveis e a cor da polpa. Um modo indicado para atingir essa meta seria a realização de cruzamentos entre populações contrastantes a exemplo do realizado por Ferreira (2000). Assim, intercruzamentos envolvendo as populações de melancia B9, B13 e P14 e as variedades comerciais Charleston Gray e Crimson Sweet, como já comentado, podem originar progênies precoces, prolíficas, com frutos pequenos, vermelhos e doces. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Uma vez obtidas as populações base entre tipos contrastantes, principalmente quanto à prolificidade, poderão ser usados métodos de melhoramento de populações como seleção recorrente recíproca utilizando o método do híbrido críptico (Paterniani & Miranda Filho, 1978), a fim de se obter linhagens superiores para a síntese de híbridos ou para a síntese de populações melhoradas que atendam às exigências dos produtores e consumidores. Acredita-se também que o emprego de marcadores moleculares seja uma ferramenta de interesse, uma vez que possibilita mapear e, conseqüentemente, localizar os genes que controlam os caracteres mais importantes para o melhoramento da melancia. Dependendo da distância cromossômica entre eles haverá ou não a possibilidade de desfazer as associações indesejáveis. Mapeamentos genéticos estão sendo realizados em algumas cucurbitáceas (Navot et al., 1990; Kennard et al., 1994; Baudracco-Arnas & Pitrat, 1996; Lee et al., 1996), porém todos fora do Brasil. Assim, esta área deve ser iniciada em nosso país, a fim de que genes de melancia, nas populações disponíveis, sejam mapeados e estudados, contribuindo com os trabalhos já existentes. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos funcionários da UNESP e da Embrapa Semi-Árido que contribuíram para a concretização deste trabalho, assim como pelo apoio financeiro dessas instituições e do CNPq, pela concessão da bolsa de estudos a primeira autora. LITERATURA CITADA ABD EL-HAFEZ, A.A.; GAAFER, A.K.; ALLAM, A.M.M. Inheritance of flesh colour, seed coat cracks and total soluble solids in vatermelon and their genetic relations II. Quantitative characters and the association between various characters. Acta Agronomica Scientiarum Hungaricae, v. 34, n. 112, p. 84-89,1985. ASSIS, J.G.A. Caracterização isoenzimática e variabilidade genética de populações de melancia (Citrullus lanatus) do nordeste brasileiro. Piracicaba: ESALQ, 1999. 76 p. (Tese doutorado). ASSIS, J.G.A. 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Nine experiments were conducted as a factorial combination of three spacing between plants (0.8 x 0.3, 0.8 x 0.6 and 0.8 x 0.9 m), two quantities of pollen (50% of an anther and another entire one) and natural insect pollination. Seed and fruit production parameters, and seed quality were evaluated. A randomized complete block design, five replications, with ten plants per plot was adopted. Larger plant spacing increased the average number of mature fruits and seed yield per plant. Seed yield was directly proportional to the amount of pollen used during pollination. Higher amounts of pollen resulted in higher seed yield per area, but the plant spacing did not affect this characteristic. Manual pollination, using a whole anther, did not differ from natural pollination in relation to seed yield and quality. Efeito do espaçamento entre plantas e quantidade de pólen sobre o rendimento e a qualidade de sementes de abóbora Keywords: Cucurbita pepo L., pollination, germination, vigor. Palavras-chave: Cucurbita pepo L., polinização, germinação, vigor. O rendimento e a qualidade de sementes de abóbora podem ser aprimorados por uma densidade populacional de plantas adequada, além da quantidade de pólen, que influi na qualidade da polinização e fertilização. Para este estudo, aplicaram-se nove tratamentos, que resultaram da combinação fatorial de três espaçamentos entre plantas (0,8 x 0,3; 0,8 x 0,6 e 0,8 x 0,9 m) com duas quantidades de pólen (50% de uma antera e uma antera inteira) e a polinização natural por insetos. Foram avaliados parâmetros de produção de frutos e sementes, além da qualidade física e fisiológica das sementes. O delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso com cinco repetições e dez plantas úteis por amostragem. O aumento do espaçamento entre plantas elevou o número médio de frutos maduros e a produção de sementes por planta. A produtividade de sementes foi diretamente proporcional à quantidade de pólen usada durante a polinização. Já o fator espaçamento entre plantas não afetou a produção de sementes por área. A maior quantidade de pólen resultou em uma maior produção de sementes por planta e por área. A polinização manual, com a utilização de uma antera inteira, não diferiu da polinização natural com insetos, tanto para rendimento como para a qualidade de sementes. (Recebido para publicação em 21 de março de 2001 e ceito em 24 de abril de 2003) U sing seeds with high physiological, physical, sanitary and genetic quality is a prior factor to achieve profitability on vegetable production. The wide use of hybrid seeds led growers to require high quality seeds, as long as these seeds are more expensive than seeds obtained through open pollination. On the other hand, some factors that would improve seed yield and seed quality should be considered in order to obtain competitive prices in the market. On a regular crop development, the growth of vegetative parts must precede the reproductive ones. Heuvelink, mentioned by Andriolo (1999), showed that an ideal population density was necessary for an optimized leaf area index (LAI), so that the maximum useful radiation for photosynthesis would be intercepted. On high density plantings, an optimized LAI can be reached very early, before plants start the reproductive phase. Thus, planting density influences plant growth, changing the emission of flowers and fruits and interfering on the biomass distribution between vegetative parts and fruits. Obtaining optimum plant population in seed production is one of the hindrances to guarantee high yield. In addition, when population is increased, fruits and seeds per plant are reduced, and seed size is increased (Nakagawa, 1986). However, Demattê et al. (1978) showed that increasing competition between squash plants (Cucurbita pepo L.) resulted in both lower seed number and seed weight. To obtain a higher seed production in C. pepo, Loy (1988) considers the increase of plant density and fruit number per plant a prior factor. In higher plant densities (35,000 plants.ha-1) seed weight and fruit number per plant were lower; however seed yield per hectare was higher when compared to low densities (8,000 plants.ha-1). This author concluded that 14,000 plants.ha-1 would be an adequate population with a plant spacing of 1.2 x 0.6 m. This planting density provided 44.4 g of seeds per plant, and a higher value (28.2%) of “seed index” (relation between seed dry and fruit dry weight). Using 14,000 plant.ha1 resulted in 2.1 fruits.plant-1 and ¹ Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à UNESP, Botucatu (SP). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 445 M. S. Lima, et al. highest seed weight per fruit (21.0 g). Edelstein et al. (1985) reported that different population densities of Spaghetti Vegetable squash did not affect the seed size or germination, but in high-density populations, the yield was slightly lower due to a reduced number of seeds per fruit. The pollen amount applied to C. pepo female flowers may influence fruit and seed yield substantially. According to Schlichting et al. (1987), applying higher pollen amount resulted in bigger fruits (376 seeds) in comparison to a lower pollen amount application, which resulted in smaller fruits (40 seeds). According to Ávila et al. (1989), the manual pollination can be as effective as the natural one, considering the number of fruits per plant. However, it was less effective in yielding seeds per plant. In the Cucurbita genus, the use of manual pollination with one or more anthers per female flower is largely used in hybrid seed production in Brazil, being necessary to guarantee the fruit set, seed production and genetic purity. The natural pollination by bees (Apis mellifera is considered the main Cucurbita genus pollinator in Brazil) is cheaper than manual pollination. Little information is available regarding Cucurbita natural pollination, but other insect families, such as Halictidae (Pseudougochloropis sp.), Xylocopidae (Xylocopa sp.), and Trigona rufricus have been researched in Cucurbita flowers in Brazil (Couto et al., 1990). To permit insect pollination, the chemical spraying should be done in the afternoon, and the pesticides should not be toxic to bees. An important factor for yield and quality of hybrid seeds is the relation between the numbers of plants or flowers related to paternal and maternal lines. Viggiano (1990) described that for squash hybrid seed production, intercalated progenitor lineage, two lines of male genitor and four lines of female genitor must be planted. This plant’s relation must not be extrapolated for male flowers related to the female ones, as the number of male flowers in a C. pepo cycle is usually higher than the number of female ones. 446 The aim of this work was to verify the influence of plant spacing and pollen amount on yield and quality of squash seeds. MATERIAL AND METHODS The experiment was carried out at Faculdade de Ciências Agronômicas in Botucatu, Brazil, from August to December, 1998. The sowing of the squash Caserta CAC Melhorada cultivar was done in expanded polystyrene trays (128 cells) containing the commercial substrate Plugmix (mixture of pinus bark, fine vermiculite and turf). The nine treatments resulted from the factorial combination of three plant spacing (0.8 x 0.3 m, 0.8 x 0.6 m and 0.8 x 0.9 m) and three pollination types: two pollen amounts (50% of an anther and another entire one) and an insect natural pollination. A randomized block design, five replications and ten plants per plot were used. A week before seedling transplanting, soil was fertilized with 150 g.m -2 of 4-14-8, 20 g.m -2 of nitrocalcium and 7 L.m-2 of organic matter. Plantlets with two or three expanded leaves were transplanted to the field fifteen days after sowing date. During crop management, the area was maintained free of weeds by manual bewailing. Irrigation was done using a sprinkler system. Maintenance fertilization was done with nitrocalcium (10 g.plant-1) twice during the crop management. Daily controlled pollination was done during eighteen consecutive days, starting 47 days after sowing. For manual pollination, petal tips of selected male and female flowers were tied up in the afternoon before pollination. Pollination was done in the next morning in two different ways: the anthers would be leant by the female flowers stigma leaving all the pollen adhered (in case an entire anther is used) and using a razor to divide the anther in two halves (obtaining half the pollen of an anther). The anther was rolled around the stigma to permit better pollination. The male flowers were picked randomized in the field. After pollination the female flowers were closed with a small “butter paper” bag to avoid insect pollination. Out of standard anthers (small and with little pollen) were disposed. A small amount (0.0134 g) of pollen per anther was obtained and weighted in environment hygroscope equilibrium conditions. The fruits were harvested when the morphological maturation stage was reached, showing a yellow color, after 90-102 days of the sowing date or 53 days between the beginning of the blooming and the harvesting seasons. The fruits were left to rest for fifteen days in a shaded place before seed extraction (Araújo et al., 1982). For seed extraction the fruits were cut manually and seeds were washed and separated by density to classify them. These seeds were used to obtain the weight and the number of seeds per plant and per area. The seed moisture content was established in 8.0%. To obtain the fruit and seed dry matter, fruits and seeds were placed in a FANEM oven, model 315 SE, at 105°C, during twenty four hours (Brasil, 1992). The relation between the seed dry matter weight and the fruit dry matter weight (Seed Index - SI) was obtained (Loy, 1988). A standard germination test (SG) was conducted, according to Brasil (1992). The first count was done at the fourth day, and the final count at the eighth day after sowing. Seeds were considered germinated when the cotyledon leaves were noted, i.e., when the embryo could be seen leaving the seed testa. The first count was considered as a seed vigor test. Seed vigor was also obtained through the emergence velocity index (EVI). The methodology to obtain emerged seedlings was adapted from Vieira & Carvalho (1994). Seeds were sown in polyestirene trays with commercial substrate. Seedling was considered emerged when cotyledon leaves, without a seed testa protection, opened in ‘V’. The counting of emerged seedlings was carried out on the 4th (first emerged seedlings), 5th, 6th and on the 7th day after the sowing (last day with new emerged seedlings), always at 8 a.m. Equation used to EVI calculation was adapted from Silva & Nakagawa Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds Table 1. Mature fruit number per plant (MFNP), seed number per plant (SNP), seed number per hectare (SNha), seed yield per plant (SYP), seed yield per ha (SYha) and Seed Index (SI) according to plant spacing (PS) and pollen amount (PA) in Caserta squash. São Manuel, UNESP, 1998. Average in the same column followed by the same letter did not differ by Tukey test (5%). (1995) to obtain the seed germination velocity index. Analysis of variance of evaluated characteristics was done and means compared by the Tukey probability test (5%). RESULTS AND DISCUSSION Seed yield The number of fruits per plant was lower with lower plant spacing, although just the 0.3 m spacing between the plants was statistically lower (Table 1). The occurrence of less fruits in low plant spacing is mentioned by Demattê et al. (1978). Probably the increasing competition for place, light and nutrients reduced fruit set, influencing the number of fruits per plant. No statistical difference between both natural and manual pollination was observed in the number of fruits per plant. This statement confirms Ávila et al. (1989), who mentioned that the manual pollination was as effective as natural pollination regarding the number of fruits per plant. The results showed that the pollen amount applied to squash female flowers did not affect significantly the number of fruits per plant. Increasing plant spacing resulted in higher number of seeds per plant, independent of pollen amount (Table 1). It was a reflex of both the increased number of fruits per plant and the tendency to obtain more seeds per fruit when increasing plant spacing. Plant spacing did not influence the number of seeds produced per hectare, showing Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. that an increasing number of seeds per plant in a higher plant spacing compensated lower population. The results pointed the plant spacing of 0.8 x 0.9 m as the most adequate. Since fewer plants would be necessary to obtain the desired yield in a certain area, crop management would be easier (manual pollination, spraying and harvesting) and some plant diseases would not be favored. Considering the influence of pollination, using 50% of an anther on female flower stigma, results in significant lower values of seed weight per plant and per hectare when compared to total anther (Table 1). These results are according to Quesada et al. (1996) and Schlichting et al. (1987), who described that using low pollen amounts, squash fruits showed lower seed quantities in comparison to the use of high pollen amounts. In this work, although the pollen amount did not influence the number of fruits per plant, it affected the seed yield, showing its importance on hybrid seed production (Table 1). For seed yield, artificial pollination can be as effective as natural pollination, as long as a higher pollen amount is used. The number of seeds per plant and per area shows the importance in the hybrid seed production, where high seed costs must be compensated with high yield. A lower pollen amount decreased the yield potential when compared to the natural pollination and the use of a whole anther (Table 1). That fact indicates that in the manual hybridization, at least one whole anther must be used. Free (natural) insect pollination treatments are not controllable, varying accordingly to climatic conditions, surrounding vegetation and the presence of pollinating insects. However, generally the tendency of the natural pollination values is identical to the pollination using an entire anther. So, for the conditions of this experiment, the pollen amount placed by insects in the C. Pepo female flower stigma is probably higher than the amount of half anther (Table 1). These results allow to conclude that pollination and/or pollen amount showed a high economic importance on commercial seed production, affecting significantly the yield per area, on the contrary of plant spacing. Increasing plant spacing resulted in higher seed yield per plant (Table 1). Demattê et al. (1978) mentioned that Caserta squash fruits obtained in high density planting showed lower seed yield per plant when compared to lower planting density. Loy (1988) mentioned that a low seed yield per plant is due to small weight or quantity of fruits in high density planting. High plant population causes competition for place, light and nutrients resulting in a lower seed production per fruit and per plant, and small fruits with lower weight. Ho (1992) mentioned that the production of growing substances in the presence of seeds stimulates the fruit growth, confirming the idea that higher seed amount per fruit results in bigger fruits. The higher the plant spacing, the higher the SI (Table 1). SI value 447 M. S. Lima, et al. Table 2. One hundred seeds weight (100SW) and seed germination at on first count (C1 SG), according to plant spacing (PS) and pollen amount (PA) in Caserta squash. São Manuel, UNESP, 1998. Average followed by the same small letter on lines and capital on columns did not differ by Tukey test (5%). Table 3.. Seed germination (SG) and emergence velocity index (EVI), according to plant spacing (PS) and pollen amount (PA) in Caserta squash. São Manuel, UNESP, 1998. Average followed by the same small letter on lines and capital on columns did not differ by Tukey test (5%). obtained in 0.8 x 0.9 m plant spacing was 25.4%, not very different from 28.2%, considered by Loy (1988) as a high one, although genetic differences must be considered. SI increases as seed weight does for the same fruit mass. Results showed that an increase of the plant seed production is possible without increasing fruit weight, as long as the pollen amount is increased or, probably, the insect pollination amount, since an artificial pollination was as efficient as natural pollination for SI values. A high weight of one hundred seeds (100SW) was reached with a low population density (0.8 x 0.9 m). However, the use of whole anthers and spacings of 0.6 m and 0.9 m resulted the same seed weight (Table 2). The occurrence of higher 100SW value with increasing plant spacing, does not confirm Dajoz’s statement, mentioned by Demattê et al. (1978), that the relation of increased plant competition would result in lower number of seeds produced per plant, but the seed weight would be consistent. On the other hand, Nakagawa (1986) mentioned that increasing plant population reduces the number of fruits and seeds per plant, as well as increases the size. In this experiment, the difference between the 448 employment of half an anther or a whole one did not increase 100SW significantly, independently of plant spacing used. Demattê et al. (1978) concluded that no significant difference was obtained in the average weight of one hundred seeds, considering perfect fruits, using one to three plants (Caserta squash IAC 1767) per hole in the same spacing. Since the number of seeds per plant was reduced as planting density was increased (Table 1), a higher 100SW of a 0.9 m plant spacing resulted in greater seed yield (weight) per plant. Certainly, the fact that seeds would be formed first (in number) and after that the filling process would be initiated (weight) interferes both in seed size and in yield per area. We could emphasize that 100SW can be considered a parameter both for yield and quality analysis. First because it enables the determination of seed weight, showing its size significantly, and second because the seed size may influence vigor and germination tests due to greater energy storage (Vieira & Carvalho, 1994). For Caserta, the best plant spacing was 0.8 x 0.9 m and the pollen increased amount provided a greater seed yield. The pollination or pollen amount showed a great economic importance for the seed production, because it interfered in yield per area significantly. Seed quality Increasing pollen amount or using natural pollination did not affect the first count of germination test (Table 2) in high planting density conditions (0.8 x 0.3 m). In a manual pollination the vigor might be missed with reduced pollen amount, mainly in higher plant spacing. Quesada et al. (1996) observed that squash hybrid seeds obtained through application of high pollen amounts, germinated faster, as occurred in this experiment. For this characteristic, manual pollination with a whole anther did not differ from the natural one in a high plant competition, but for the highest plant density the performance was better. Concerning the emergence velocity index (EVI), using a whole anther, provided higher values if compared to the use of a half anther in a 0.8 x 0.9 m plant spacing (Table 3). Thus, as occurred on the first SG counting, it was observed that when a factor was not a restriction (0.8 x 0.9 m plant spacing or whole anther), the other factor was important. Using a whole anther resulted in higher EVI if compared to a half anther in a 0.8 x 0.9 m plant spacing and, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds in this plant spacing, there is more EVI (compared to a lower plant spacing) when a whole anther pollen amount is used. When one factor was limited, (high planting density or less pollen amount) the other factor had no importance in this seed quality parameter. The importance of searching a higher EVI is found in the fact that with a higher germination rate, seeds and seedlings are less susceptible to damping-off diseases or produce transplants rapidly, reducing the cycle. The use of a whole anther and natural pollination provided better germination percentage (final counting) when compared to the use of a half anther in the 0.8 x 0.3 m and 0.8 x 0.6 m plant spacing (Table 3). In 0.8 x 0.9 m plant spacing no influence of pollen amount was found, what allows us to conclude that the lower competition between plants provided favorable conditions for seed quality gain, compensating losses caused by low pollen amounts. There was no germination difference, using the same plant spacing and seed obtained through higher pollen amounts and natural pollination. Edelstein et al. (1985), mentioned that different squash cv. Spaghetti Vegetable population densities did not affect germination percentage. Finally, when using higher pollen amounts or natural pollination, a non-reduced germination in high density plant spacing is allowed. This is an important fact, as long as the germination percentage of squash seeds is legally the most important, since its Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. value is showed on the label of commercial packages. Based on the results, the EVI and the SG first counting showed similar influence to the seed vigor. In general, different of the first counting, one of the factors should be restricted in the SG final percentage so that the other factor could be expressed showing differences. In this case, plant spacing suffered influence just when the pollen amount was a restriction and when the pollen amount was important only to show the emphasized planting density. Finally, the best plant spacing for the SG final percentage was 0.8 x 0.9 m, only when the pollen amount was half an anther and when the pollen increase provided a greater seed germination in all plant spacing. ACKNOWLEDGMENTS This work was supported by Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. CITED LITERATURE ANDRIOLO, J.L. Fluxo de carbono da planta. In: Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria: Editora UFSM, 1999. p. 13-46. ARAÚJO, E.F., MANTOVANI, E.C., SILVA, R.F. Influência da idade e armazenamento dos frutos na qualidade de sementes de abóbora. 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RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o efeito de quatro níveis de adubação nitrogenada e potássica (NK) na resposta do tomateiro Lycopersicon esculentum, c.v Santa Clara, ao ataque de mancha de alternaria (Alternaria solani), e da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), em casa de vegetação, em três diferentes idades da planta. O delineamento experimental foi blocos casualizados com sete repetições, no esquema fatorial 3 x 4. Foram avaliados a altura da planta (cm), área foliar (cm2) e o número de cachos por planta, flores por cacho, flores abortadas por cacho, frutos por cacho, frutos com mancha de alternaria por cacho, frutos atacados por traça-do-tomateiro por cacho, peso dos frutos por planta e minas de traça-de-tomateiro. A maior percentagem de frutos atacados pela traça foi observado em plantas de tomate cultivadas com altas doses de N. Com o aumento do número de flores ocorreu menor número de frutos atacados por alternaria. Tanto o ataque de A. solani como o de traça-do-tomateiro foi concentrado em frutos de menor peso, sendo que quanto maior o número de flores atacadas por A. solani, menor foi o ataque da traça aos frutos. O ataque da traça aos frutos foi maior em plantas de dois meses do que em plantas de quatro meses de idade, sendo o mesmo observado para o número de minas da traça-do-tomateiro. Effect of fertilization on the incidence of leafminer and early blight on tomato plants Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Tuta absoluta, Alternaria solani, nitrogênio, potássio. The effect of NK fertilization on tomato plants (Lycopersicon esculentum), cv. “Santa Clara”, over early blight (Alternaria solani) and the leafminer (Tuta absoluta) attack in greenhouse, in different plant ages, was evaluated. The 3 x 4 factorial experiment was established in a randomized blocks design with seven replicates. Plant height (cm), leaf area (cm2) and number of raceme per plant, number of flowers per raceme, flower drop per raceme, number of fruits per raceme, damaged fruits per raceme by early blight and leafminer, fruit weight per plant and number of mines of leafminer were evaluated. Greater percentage of fruits damaged by leafminer was observed in the tomato plants grown under higher N levels. Positive correlation between number of flowers and of fruits with A. solani attack were observed. A. solani and T. absoluta attacks was concentrated in fruits with smaller weight. Nevertheless, with the increase of flowers damaged by A. solani there was observed a decrease in the percentage of fruits attacked by T. absoluta. Tomato plants with two months showed higher percentage of fruits damaged by T. absoluta and number of mines of this insect than on plants with four months old. Keywords: Lycopersicon esculentum, Tuta absoluta, Alternaria solani, nitrogen, potassium. (Recebido para publicação em 14 de agosto de 2001 e aceito em 25 de março de 2003) A cultura do tomateiro requer cuidados especiais quanto à sua nutrição, irrigação, controle de pragas e de doenças, colheita e armazenamento. Dentre as pragas e doenças mais importantes desta cultura tem-se a traça-dotomateiro [Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae)], e a mancha de alternaria (Alternaria solani), que atacam folhas, flores e frutos (Picanço et al., 1998). O ataque de pragas e/ou doenças pode afetar ou ser afetado por características morfofisiológicas das plantas. Fery & Cuthbert (1973) observaram que a Heliothis zea (Bod.) (Lepidoptera: Noctuidae) ataca preferencialmente frutos menores de tomate. Leite (1997) observou que o aumento do teor de nitrogênio (N) nas folhas de tomateiro reduziu a mortalidade larval de traça-do-tomateiro. Bergamin Filho et al. (1995) notaram que característi450 cas e condições morfofisiológicas de uma planta, tais como injúrias, estado nutricional e estádio de desenvolvimento da planta, interferem em sua suscetibilidade a doenças. A adubação nitrogenada e potássica (K) afeta as características vegetativas e reprodutivas das plantas (Malavolta et al., 1989; Marschner, 1995). O N potencializa e incrementa a síntese de proteínas e de ácidos nucléicos, além de promover o crescimento vegetativo e a formação de gemas floríferas e frutíferas (Marschner, 1995). O K está relacionado com a síntese de proteínas (RNA tradutor) e de carboidratos, promove o armazenamento de açúcares e amido, além de estimular o crescimento vegetativo da planta, a melhor utilização da água e a resistência a pragas e doenças (Malavolta et al., 1989; Marschner, 1995). A idade fisiológica das plantas também pode apresentar diversas reações ao estímulo do meio, modificando a sua morfologia e rotas metabólicas (Larcher, 1986). Estudou-se o efeito de níveis de adubação NK na resposta do tomateiro ao ataque de alternaria e de traça-do-tomateiro em plantas de dois, três e quatro meses de idade. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido, em casa de vegetação, de maio a dezembro de 1996, na UFV, MG. As parcelas experimentais foram constituídas por vasos de polietileno de cinco Kg, com uma planta cada. O delineamento experimental foi blocos casualizados com sete repetições, no esquema fatorial 3 x 4 (três idades de planta x quatro níveis de adubação), totalizando 84 parcelas. AvaliouHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate Tabela 1. Área foliar e percentagem de frutos atacados por traça-do-tomateiro em função dos níveis de adubação em plantas de tomateiro. Viçosa, UFV, 1996. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação. Tabela 2. Percentagem de nitrogênio e de potássio na matéria seca foliar em função de níveis de adubação e idade de plantas de tomateiro. Viçosa, UFV, 1996. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna e minúsculas na linha não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação. se o efeito de quatro níveis de adubação NK no plantio [N100K0 (100mg de N.kg-1 de solo); N100K200 (100mg de N.kg-1 de solo e 200mg de K.kg-1 de solo); N300K0 (300mg de N.kg-1 de solo); N300K200 (300mg de N.kg-1 de solo e 200mg de K.kg-1 de solo)] na resposta do tomateiro cv. Santa Clara, ao ataque de alternaria e de traça-do-tomateiro em plantas de dois, três e quatro meses após a emergência. O solo utilizado no experimento foi Latossolo Vermelho Amarelo Eutrófico. No início das avaliações foram liberados 400 adultos de traça-do-tomateiro. A infestação de A. solani ocorreu naturalmente. Avaliou-se a altura da Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. planta (cm), área foliar (cm2) utilizando o Sistema de Medição de Área Foliar Delta T (Bacarin, 1995) (três folhas ao longo do dossel das plantas por tratamento) e o número de cachos por planta, flores por cacho, flores abortadas por cacho, frutos por cacho, frutos com mancha de alternaria por cacho, frutos atacados por traça-do-tomateiro por cacho, peso dos frutos por planta (Picanço et al., 1998) e minas de traça-de-tomateiro (três folhas ao longo do dossel das plantas), semanalmente, em cada tratamento (Picanço et al., 1995). Para avaliação dos teores de N e de K nas folhas, quando as plantas atingi- ram dois, três e quatro meses de idade, foi feita a retirada de três folhas ao longo do dossel de três plantas de cada tratamento. Essas folhas foram acondicionadas em saco de papel Kraft, e levados para estufa com circulação de ar (a 67oC), permanecendo aí por três dias. Após secagem, as amostras foram passadas em moinho Willey, peneira 20 malhas. As análises de N e de K foram realizadas em laboratório da UFV, seguindo metodologias propostas por Jackson (1958). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabili451 G. L. D. Leite, et al. Tabela 3. Altura de plantas, número de flores e de frutos por cacho em função de níveis de adubação e idade de plantas de tomateiro. Viçosa, UFV, 1996. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna e minúsculas na linha não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação. dade. Foi efetuada ainda análise de correlação de Pearson (Snedecor, 1970). RESULTADOS E DISCUSSÃO As folhas de tomateiro apresentaram maiores áreas sob os níveis de adubação N300K0 e N300K200 e menores sob os níveis N100K0 e N100K200 (Tabela 1). Este resultado deve-se, provavelmente, à maior concentração de N no início do desenvolvimento das plantas (Tabela 2), corroborando com os relatados por Marschner (1995) e Malavolta et al. (1989). Não se detectou efeito significativo da idade das plantas quanto à área foliar. Aos dois meses de idade as plantas mais altas foram observadas sob o 452 nível de adubação N300K200 (Tabela 3), devendo-se, provavelmente, aos elevados teores de N e de K (Tabela 2). Entretanto, não se observou efeito de adubação na altura das plantas aos três e quatro meses de idade (Tabela 3). Não se detectou efeito significativo dos níveis de adubação sobre o número de cachos por planta (4,89). O menor número de flores por cacho foi observado no nível de adubação N100K200 em plantas de dois meses de idade (Tabela 3). Não se observou efeito significativo dos níveis de adubação sobre o número de flores por cacho em plantas de três e quatro meses de idade bem como da idade das plantas sobre o número de flores por cacho. O maior número de frutos por cacho foi observado em plantas de qua- tro meses de idade cultivadas sob o nível de adubação N300K200, superior estatisticamente aos níveis N 100 K 0 e N100K200. A idade das plantas e os níveis de adubação não afetaram o peso dos frutos (42,89 g). Em geral, o aumento nas concentrações de NK acarretou incremento no número de flores por cacho (Tabelas 2 e 3), sendo que o N e K estão envolvidos na formação de gemas reprodutivas, desta forma refletindo na produção da planta (Malavolta et al.,1989; Marschner, 1995). Quanto maior o número de flores por planta, maior foi o número de cachos por planta (r = 0,35) e, consequentemente, o número de frutos por planta (r=0,35). Contudo, o tomaHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate teiro produz uma grande quantidade de flores, ocorrendo um abortamento natural destas (r=0,38). Esse fato, possivelmente se deve à produção insuficiente de fotoassimilados em relação ao grande número de flores (Picanço et al.,1998). Observou-se correlação positiva entre o número de flores e de frutos com a incidência de A. solani (r=0,38 e r=0,40; respectivamente), ou seja, quanto maior o número de flores e de frutos nas plantas maior o ataque observado por este fungo, talvez devido a uma maior fonte de recursos. Contudo, com o aumento do número de flores ocorreu menor número de frutos atacados por esse fungo na planta (r=-0,25). Uma possível explicação para esse fato é que quanto maior o número de flores menor seria a probabilidade dos esporos caírem sobre os frutos, ou seja, teria ocorrido efeito de diluição, como postulado por Canerday et al. (1969) para H. zea em frutos de tomate. Tanto o ataque de A. solani como o de traça-do-tomateiro concentrou-se em frutos de menor peso (r=-0,26 e r=-0,20, respectivamente), sendo que o mesmo fato foi observado por Fery & Cuthbert (1973) para a H. zea. As pragas em questão preferiram atacar frutos com a mesma idade fisiológica, porém, de menor tamanho. A maior incidência de minas de traça-do-tomateiro provocou redução no número de cachos por planta (r=-0,54) e, consequentemente, de frutos por planta (r=-0,54). Esse fato, provavelmente, se deve à redução da superfície fotossinteticamente ativa das folhas do tomateiro, além das injúrias diretas sobre as flores. Verificou-se que quanto maior o número de cachos e de flores Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Tabela 4. Número de cachos por planta e percentagem de frutos atacados por traça-dotomateiro em função da idade da planta de tomateiro. Viçosa, UFV, 1996. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação. por planta maior foi o ataque de traçado-tomateiro ao fruto (r=0,23 e r=0,35; respectivamente). Todavia, quanto mais flores atacadas por A. solani menor o ataque de traça-do-tomateiro aos frutos (r=-0,23), provavelmente, devido a menor produção de frutos e consequentemente, a uma menor fonte de recursos para a traça-do-tomateiro e/ ou a rejeição deste aos frutos atacados pelo fungo. O ataque da traça-do-tomateiro aos frutos foi maior em plantas de dois meses do que em plantas de quatro meses de idade (Tabela 4), sendo o mesmo observado para o número de minas da praga (r=-0,91). A maior percentagem de frutos atacados por traça foi observada em plantas cultivadas sob o nível de adubação N300K0 e a menor em N100K200 (Tabela 1). Provavelmente, plantas cultivadas sob alta adubação nitrogenada e baixa adubação potássica apresentaram alta concentração foliar de N (Tabela 2), mais favorável ao inseto (Leite, 1997). LITERATURA CITADA BACARIN, M.A. Fotossíntese, partição de biomassa e fixação de dinitrogênio em relação a produção do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). 1995. 71 p. (Tese doutorado), UFV, Viçosa. BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de Fitopatologia: Princípios e conceitos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995. V. 1, 919 p. CANERDAY, T.D.; TODD, J.W.; DILBECK, J.D. Evaluation of tomatoes for fruitworm resistance. Journal of Georgia Entomological Society, v. 4, p. 51-54, 1969. FERY, R.L.; CUTHBERT JR, F.P. Factors Affecting Evaluation of Fruitworm Resistence in the Tomato. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 98, n. 5, p. 457-459, 1973. JACKSON, M.L. Soil chemical analysis. New Jersey: Prentice Hall, 1958. 498 p. LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. São Paulo: 319p. E.P.U., 1986. LEITE, G.L.D. Efeito da idade, parte do dossel e níveis de adubação na resistência de Lycopersicon hirsutum f. glabratum à Tuta absoluta. 1997 40 p. (Tese mestrado), UFV, Viçosa. MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; DE OLIVEIRA, S. Avaliação do estado nutricional das Plantas: Princípios e aplicações. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1989. 201 p. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. San Diego: Academic Press, 1995. 889 p. PICANÇO, M.; SILVA, D.J.H.; LEITE, G.L.D.; MATA, A.C.; JHAM, G.N. Intensidade de ataque de Scrobipalpula absoluta (Meyrick, 1917) (Lepidoptera: Gelechiidae) ao dossel de três espécies de tomateiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 30, n. 4, p. 429-433,1995. PICANÇO, M.; LEITE, G.L.D.: GUEDES, R.N.C.; SILVA, E.A. Yield loss in trellised tomato affected by insecticidal sprays and plant spacing. Crop Protection, v. 17, n. 5, p. 447-452,1998. SNEDECOR, G.W. Métodos estadisticos aplicados a la investigacíon agrícola y biológica. México: Compañia Editorial Continental, 1970. 626 p. 453 SILVA, P.S.L.; OLIVEIRA, F.H.T.; SILVA, P.I.B. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 454-457, julho-agosto 2003. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho Paulo Sérgio L. e Silva; Fábio Henrique T. de Oliveira; Paulo Igor B. e Silva 1 ESAM, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Foram avaliados os efeitos da aplicação de doses de nitrogênio (0; 40; 80 e 120 kg N ha-1) e de densidades de plantio (30; 50 e 70 mil plantas ha-1) sobre a altura de plantas e inserção de espigas, rendimentos de espigas verdes (grãos com 70 a 80% de umidade) e de grãos e sobre os componentes da produção de grãos da cultivar de milho Centralmex. O rendimento de espigas verdes foi avaliado pelo número e peso de espigas comercializáveis, empalhadas e despalhadas. Um experimento fatorial foi realizado, sob condições de sequeiro, em Mossoró, RN. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso com cinco repetições. O aumento da dose de nitrogênio e a redução da densidade de plantio aumentaram todas as características avaliadas, exceto o peso de 100 grãos, sobre o qual o nitrogênio não teve efeito. Houve efeito da interação doses de nitrogênio x densidades de plantio nos números e pesos de espigas empalhadas e despalhadas e no número de espigas maduras. Effects of nitrogen levels application and planting densities on green ears and grain yield Palavras-chave: Zea mays L., milho verde, níveis de nitrogênio, espaçamento de plantas. The effect of nitrogen levels applications (0; 40; 80 and 120 kg N ha-1) and planting densities (30; 50 and 70 thousand plants ha-1) was evaluated over plant and ear heights, green ear yield (grains with 70-80% of humidity), grain yield and components of grain production of Centralmex maize cultivar. The experiment was set in a factorial scheme in randomized complete blocks with five replications and carried out under dryland conditions at Mossoró county, Rio Grande do Norte, Brazil. Green ears yield was evaluated by number and weight of marketable ears with husk, and number and weight of marketable ears without husk. All evaluated traits increased with increasing nitrogen levels and decreasing planting densities, except 100 grains weight which was not affected by nitrogen levels. An effect of planting densities x nitrogen levels interaction was observed over number and weight of unhusked ears, number and weight of husked ears, and number of mature ears. Keywords: Zea mays L., green corn ,nitrogen levels, plant spacing. (Recebido para publicação em 23 de agosto de 2002 e aceito em 25 de março de 2003) N o estado do Rio Grande do Norte, bem como no restante da região Nordeste do Brasil, o milho (Zea mays L.) é cultivado para a produção de espigas verdes ou de grãos, sob condições de sequeiro ou com irrigação. Os grãos das espigas verdes constituem o chamado milho verde, isto é, grãos em estado leitoso, com 70 a 80% de umidade. O milho verde é produto bastante apreciado pelos nordestinos, sendo inclusive utilizado em pratos típicos da região. Os grãos secos são usados nas alimentações humana e animal. Após a colheita das espigas verdes e secas, a palhada é utilizada na alimentação dos rebanhos do próprio agricultor ou comercializada. Os preços compensadores, especialmente na entressafra, dos três referidos produtos, têm estimulado os agricultores norte-rio-grandenses à adoção de maiores densidades de plantio e maiores doses de fertilizantes, especialmente do nitrogênio, visando a obtenção de maiores rendimentos. 454 Muitos trabalhos (Bangarwa et al., 1992; Bangarwa et al., 1993; Lencoff & Loomis, 1994; Misra et al., 1994, Spike & Tollefson, 1991) mostram a influência benéfica de doses de nitrogênio e de populações de plantas sobre o rendimento de grãos secos de milho. No que se refere a milho verde, apenas um trabalho (Ishimura et al., 1984) foi encontrado na literatura tratando do assunto. Os autores constataram que as doses de adubação não tiveram efeito sobre o número e o peso de espigas verdes por ha. Contudo, a população de 62.500 plantas ha-1 propiciou melhores rendimentos de espigas verdes que as outras duas populações avaliadas (41.667 e 50.000 plantas ha-1). Estudos sobre doses de nitrogênio e densidades de plantio continuam sendo de interesse dos pesquisadores de milho por duas razões. Em primeiro lugar, determinadas doses de nitrogênio e densidades de plantio podem contribuir para aumentos significativos no rendimento de grãos, como constatado por Cardwell (1992), no período de 1930 a 1979, no Estado de Minnesota, EUA, em que os referidos fatores contribuíram com 19 e 21%, respectivamente, para os acréscimos no rendimento de grãos de milho. Em segundo lugar porque o rendimento de milho, em resposta a esses fatores, depende de influências genotípicas (Shanti et al., 1997; Collaud, 1997; Chandra & Gautan, 1997) e ambientais (Bondavalli et al., 1970). O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e de densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos e outras características da cultivar Centralmex. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado na ESAM, RN, de abril a julho/99. Segundo W.C. Thorthwaite, o clima da região é DdAa, isto é, semi-árido e Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho Tabela 1. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e da densidade de plantio sobre as alturas da planta e de inserção da espiga, números de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e despalhadas, pesos de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e despalhadas, rendimento de grãos, número de espigas maduras, número de grãos espiga-1 e peso de 100 grãos da cultivar de milho Centralmex. Mossoró, ESAM, 1999 ns não-significativo. *Significativo a 5% de probabilidade pelo teste t. **Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t megatérmico. A análise do solo resultou: pH = 6,4; P = 16 cmolccm-3; K = 78 cmolccm-3; Ca2+ = 3,0 cmolccm-3; Mg = 1,3 cmolccm-3 e Al3+ = 0,0 cmolccm-3; MO = 1,80 g kg-1. O solo foi preparado com duas gradagens. A semeadura foi feita em 7/ 4/99, usando-se quatro sementes por cova da cultivar Centralmex, uma variedade de polinização livre, de porte alto, tardia e de grãos amarelos. Foram avaliadas três densidades de plantio (30; 50 e 70 mil plantas ha-1) e quatro doses de nitrogênio (0; 40; 80 e 120 kg de N ha-1). As densidades de plantio foram obtidas mantendo-se fixo o espaçamento (1,0 m) entre fileiras de plantas e variando-se o número de plantas na linha de plantio. Um terço do nitrogênio (sulfato de amônio), além de 60 kg de P2O5 ha-1 (superfosfato simples) e 30 kg de K2O ha-1 (cloreto de potássio) foram aplicados como adubação de plantio, em sulcos localizados ao lado e abaixo dos sulcos de semeadura. O restante do nitrogênio foi aplicado em cobertura, aos 36 dias após o plantio. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso em esquema fatorial completo com cinco repetições e parcelas constituídas por quatro fileiras com 6,0 m de comprimento. Considerou-se como área útil a ocupada pelas duas fileiras centrais, eliminando-se as plantas de uma cova em cada extremidade. O controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda J.E. Smith) foi Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. feito com três pulverizações de deltamethrin (250 ml ha-1), em intervalos de sete dias, sendo a primeira realizada aos sete dias após a semeadura. As invasoras foram controladas por duas capinas, realizadas aos 21 e 41 dias após a semeadura. Aos 26 dias após a semeadura realizou-se o desbaste, deixandose as duas plantas mais vigorosas/cova. Foram avaliadas as alturas das plantas e de inserção da espiga (em dez plantas tomadas ao acaso na área útil, por ocasião da colheita das espigas maduras), o rendimento de milho verde, o rendimento de grãos e seus componentes. O rendimento de espigas verdes foi avaliado em uma das fileiras úteis, tomada ao acaso, e o rendimento de grãos, na outra fileira útil. A altura da planta foi medida do nível do solo ao ponto de inserção da lâmina foliar mais alta. A altura de inserção da espiga foi obtida medindo-se a distância do nível do solo ao nó de inserção da primeira espiga. As espigas verdes foram colhidas em três etapas, à medida que os grãos atingiam o chamado “ponto de milho verde”, no período de 72 a 82 dias após a semeadura. As espigas secas foram colhidas aos 110 dias após a semeadura. O rendimento de milho verde foi avaliado pelo número e peso de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e despalhadas. Como espigas verdes empalhadas comercializáveis foram consideradas aquelas com aparência adequada à comercialização, isto é, sem evidências aparentes do ataque de pragas e com comprimento superior a 23 cm. Como espigas despalhadas comercializáveis foram consideradas aquelas com aparência adequada à comercialização, isto é, bem granadas, não atacadas por pragas e com comprimento superior a 18 cm. O rendimento de grãos foi corrigido para um teor de umidade igual a 15,5%. O número de espigas/ha foi estimado com base nas espigas produzidas em uma fileira útil, o número de grãos/espiga foi estimado contando-se os grãos de cinco espigas, tomadas aleatoriamente entre as espigas colhidas na fileira útil, e o peso de 100 grãos, em cinco amostras de 100 grãos. As análises estatísticas foram feitas de acordo com as recomendações de Gomes (1992) e StatSoft (1995). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os efeitos das densidades de plantio (D) e da aplicação das doses de nitrogênio (N) sobre as alturas da planta e de inserção da espiga foram muito similares (Tabela 1). Nas duas características os efeitos dos dois grupos de tratamentos foram independentes, isto é, não houve efeito da interação D x N. Em cada dose de N, a resposta da cultivar, em termos das duas características, ao aumento da densidade de plantio, foi linear e negativa, isto é, a resposta foi 455 P. S. L. Silva, et al. descrita por equações do tipo y = a – bx. Bangarwa et al. (1993) verificaram que a altura da planta não foi alterada pela densidade de plantio, enquanto Merotto et al. (1997) constataram aumento da altura da planta com o aumento da densidade de plantio. As discordâncias quanto aos efeitos das densidades de plantio na altura da planta devem-se, certamente, às diferentes densidades de plantio avaliadas pelos diferentes autores, dentre outros fatores ambientais, mas devem-se também às características das cultivares avaliadas. Begna et al. (1997) demonstraram que as cultivares não-folhosas, com menor estatura, suportaram melhor maiores densidades. A influência da folhosidade na tolerância a altas densidades também tem sido verificada por outros autores (Sangoi & Salvador, 1998). Por outro lado, a resposta das duas características às doses de nitrogênio, em cada densidade de plantio, foi positiva e descrita por equações do tipo y = a + bx – cx2. Nas densidades testadas, os valores máximos dos dois caracteres seriam obtidos fora do intervalo das doses de nitrogênio avaliadas (em torno de 130 kg de N ha-1, na altura da planta, e 142 kg de N ha-1, na altura de inserção da espiga). Nestes casos, o que deve acontecer é que até determinadas doses de nitrogênio a planta continua a crescer. Depois que tais doses são atingidas, o auto-sombreamento das plantas, bem como o sombreamento mútuo entre plantas deve contribuir para a redução do crescimento destas plantas. No número de espigas verdes empalhadas e no número de espigas despalhadas (Tabela 1), comercializáveis, por hectare, houve efeito de densidades (D), de doses de nitrogênio (N) e da interação D x N e tais efeitos foram semelhantes. No número de espigas empalhadas, numa mesma dose de nitrogênio, os efeitos das densidades de plantio foram lineares, mas negativos na ausência da aplicação de nitrogênio (y = 36664 – 0,5023 D) ou com a aplicação de apenas 40 kg de N ha-1 (y = 31905 – 0,4956 D). Mas positivos nas outras duas doses (y = 27146 + 0,0315 e y = 22387 + 0,2953 D, com 80 e 120 kg de N ha-1, respectivamente). No caso das espigas despalhadas, os 456 efeitos das densidades de plantio, numa mesma dose de nitrogênio, somente foram positivos na dose mais elevada. Nas outras doses eles foram negativos. Em cada densidade de plantio, a resposta ao nitrogênio foi linear e positiva, mas os acréscimos no número de espigas empalhadas ou despalhadas, por quilo de nitrogênio aplicado, foram maiores à medida que se aumentou a densidade de plantio. Quanto aos pesos de espigas comercializáveis, empalhadas ou despalhadas (Tabela 1), também houve efeito de D, N e D x N. Em cada dose do fertilizante, o número de espigas empalhadas ou despalhadas decresceu linearmente, à medida que foram aumentadas as densidades de plantio, mas os decréscimos foram diferentes. Os valores de b foram 0,09; 0,07; 0,05 e 0,02 kg ha-1 para as doses de 0; 40; 80 e 120 kg ha-1, respectivamente, no caso do peso de espigas empalhadas. No caso de espigas despalhadas, os valores respectivos de b foram 0,05; 0,04; 0,03 e 0,02 kg ha-1. Em cada densidade de plantio, a resposta ao nitrogênio foi linear e positiva, quanto ao peso de espigas, empalhadas ou despalhadas, mas os acréscimos foram diferentes. No peso de espigas empalhadas, os valores de b, nas populações de 30; 50 e 70 mil plantas ha-1, foram 36,3; 48,7 e 61,1 kg ha-1, respectivamente. No peso de espigas despalhadas, os valores respectivos foram de 23,0; 27,5 e 32,0 kg ha-1. No rendimento de grãos houve efeito de densidades de plantio (D) e de doses de nitrogênio (N), mas não da interação D x N (Tabela 1). Em cada dose de nitrogênio, o aumento da densidade de plantio diminuiu o rendimento de grãos de modo linear. Em cada densidade de plantio, o nitrogênio aumentou o rendimento de grãos, linearmente. No que se refere ao número de espigas maduras (Tabela 1) houve efeito de D, N e D x N. A resposta da cultivar Centralmex, quanto a esta característica foi bem semelhante à resposta quanto ao número de espigas empalhadas comercializáveis. Isto é, nas duas menores doses de nitrogênio, a resposta ao aumento da densidade de plantio foi linear e negativa, mas linear e positiva nas outras duas doses (os valores de b foram -0,16; -0,03; 0,22 e 0,41 espigas ha1 , respectivamente). Em outras palavras, o aumento do número de espigas maduras, para cada acréscimo na densidade, aumentou à medida que se aumentou a dose de nitrogênio. Por outro lado, em cada densidade de plantio, a resposta foi linear e positiva ao nitrogênio, mas os acréscimos foram maiores, com o aumento da densidade (os valores de b para as densidades de 30; 50 e 70 mil plantas ha-1 foram iguais a 91,3; 185,8 e 280,4 espigas ha-1, respectivamente). No número de grãos/espiga, houve efeito apenas de densidades de plantio e de doses de nitrogênio (Tabela 1). O número de grãos/espiga aumentou linearmente com doses crescentes de nitrogênio e diminuiu linearmente com o aumento da densidade de plantio. Lencoff & Loomis (1994) verificaram que a deficiência de nitrogênio reduziu o número de grãos/espiga do milho devido a uma redução na emergência nos estilo-estigmas, em conseqüência da redução das divisões celulares. O nitrogênio não teve efeito no peso de 100 grãos, mas o aumento na densidade de plantio reduziu, linearmente, esta característica (Tabela 1). Constata-se que em geral a maior densidade de plantio reduz o crescimento da planta (neste trabalho avaliado pelas alturas da planta e de inserção da espiga), o número (nas duas menores doses de nitrogênio) e o peso de espigas verdes e o rendimento de grãos (Tabela 1). Constata-se ainda que os decréscimos no rendimento de grãos são devidos a decréscimos nos três componentes da produção (número de espigas/ha, número de grãos/espiga e peso de 100 grãos). As reduções são devidas provavelmente a uma maior competição entre plantas, à medida que se eleva o número de plantas por unidade de área. Verifica-se também que a maior dose de nitrogênio aumenta o crescimento da planta e os rendimentos de espigas verdes e de grãos. Neste caso, o rendimento de grãos é aumentado apenas devido aos aumentos no número de espigas ha1 e no número de grãos/espiga, desde que o nitrogênio não teve efeito no peso de 100 grãos. Em algumas características como nos números de espigas ha -1, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho empalhadas, despalhadas e maduras, o efeito negativo causado pelo aumento da densidade de plantio tende a ser parcialmente anulado pelo nitrogênio. Uma maior disponibilidade de nitrogênio para as plantas explicaria os efeitos positivos do nitrogênio para a quase totalidade das características avaliadas no presente trabalho. Efeitos positivos do nitrogênio foram observados nos rendimentos de espigas de milho doce (Mullins et al., 1999) espigas verdes de milho comum (Monteiro et al., 1989; Silva et al., 2000), no chamado “baby corn” ou minimilho (espigas colhidas, em geral, imediatamente após a emergência dos estilo-estigmas) (Sahoo et al., 1999; Thakur et al., 1998) e no rendimento de grãos (Lencoff & Loomis, 1994). Conclui-se que o aumento da dose de nitrogênio e a redução da densidade de plantio aumentaram as alturas da planta e de inserção da espiga o número e o peso de espigas comercializáveis, empalhadas e despalhadas, o rendimento de grãos e seus componentes, exceto o peso de 100 grãos, sobre o qual o nitrogênio não teve efeito. LITERATURA CITADA BANGARWA, A.S.; SING, K.P.; KAIRON, M.S. Effect of plant density and N fertilization on grain yield and N use efficiency in winter maize (Zea mays L.). Haryana Journal of Agronomy, v. 8, n. 2, p. 88-92, 1992. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. BANGARWA, A.S.; KAIRON, M.S.; MOR, B.S. Effect of plant density and levels of nitrogen on the growth analysis of winter maize (Zea mays L.). Crop Research, v. 6, n. 1, p. 5-16, 1993. BEGNA, S.H.; HAMILTON, R.I.; DWYER, L.M.; STEWART, D.W.; SMITH, D.L. Effects of population density and planting pattern on the yield and yield components of leafy reducedstature maize in a short-season area. Journal of Agronomy and Crop Science, v. 179, n. 1, p. 9-17, 1997. BONDAVALLI, B.; COLYER, D.; KROTH, E.M. Effects of weather, nitrogen and population on corn yield response. Agronomy Journal, v. 62, n. 5, p. 669-672, 1970. CARDWELL, V.B. Fifty years of Minnesota corn production: sources of yield increase. Agronomy Journal, v. 74, n. 6, p. 984-995, 1992. CHANDRA, D.; GAUTAN, R.C. Performance of maize varieties at varying plant densities. Annals of Agricultural Research, v. 18, n. 3, p. 375-376, 1997. COLLAUD, J.F. Semis de maiis à hautes densités. 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Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-do-tomateiro em progênies de Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum Leonarda G. Neves; Nilton R. Leal; Rosana Rodrigues; Norma Eliane Pereira1 UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-600 Campos dos Goytacazes-RJ; E-mail: [email protected]. RESUMO ABSTRACT Avaliou-se o comportamento de cinco progênies F3 do cruzamento entre Lycopersicon esculentum cv. IPA-6 e L. hirsutum f. glabratum PI 134418, quanto ao ataque da traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), com base na determinação dos parâmetros genéticos e nas correlações entre componentes de resistência. Foi avaliada a área foliar danificada por T. absoluta, em cm2; o número de tricomas tipo VI, por mm2, nas faces adaxial e abaxial; e o número de galerias por folíolo. As seleções utilizando-se os parâmetros área foliar danificada, número de tricomas tipo VI das faces adaxial e abaxial das folhas e número de galerias de T. absoluta têm grandes possibilidades de proporcionarem ganhos genéticos futuros, por apresentarem ampla variabilidade genotípica, com valores elevados de coeficiente de determinação genotípica e magnitude superior à unidade para o índice de variação. As correlações fenotípicas entre a área foliar consumida por T. absoluta e as densidades de tricomas das faces adaxial e abaxial das folhas foram negativas e significativas, assim como entre a área foliar e o número de galerias feitas pela T. absoluta por folíolo. Também verificaram-se correlações significativas e positivas para as densidades de tricomas nas duas faces foliares. Isso indica que a resistência está diretamente relacionada a maiores quantidades de tricomas foliares do tipo VI, e ainda que genótipos com valores de DANO alto possuam menor número de galerias. Genetic parameters and correlation among progenies of Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum for resistance to tomato pinworm The reaction to the tomato pinworm (Tuta absoluta) of five F3 progenies of the crossing between Lycopersicon esculentum cv. IPA6 and L. hirsutum f. glabratum PI 134418 was evaluated. The fouler area injured by T. absoluta in cm2, number of fouler trichomes type VI per mm2 on adaxial and abaxial faces and the number of galleries per leaflet were evaluated. Injured fouler area, number of fouler trichomes type VI of adaxial and abaxial faces and the number of galleries of T. absoluta have great possibilities of future genetic gains, once they present wide genotype variability, with elevated values of determination coefficient and magnitude higher than the unit for the variation index. The phenotypic correlation among the fouler area consumed by T. absoluta and the trichomes densities of the adaxial and abaxial faces of the leaves were negative and significant, as well as between the fouler area and the number of mines of T. absoluta per leaflet. A positive and significant correlation for trichomes densities on both fouler faces was also verified. This suggests that the resistance is related to a greater number of foliar trichomes type VI. Palavras-chave: Tuta absoluta, resistência a pragas, tricomas, variabilidade genotípica. Keywords: Tuta absoluta, pest resistance, trichomes, genotypic variability. (Recebido para publicação em 28 de novembro de 2001 e aceito em 22 de abril de 2003) A traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), inseto que se encontra nas principais áreas de cultivo, sendo considerada uma das pragas mais importantes da cultura, tem sido controlada por meio de inseticidas. As perdas de produção podem chegar a níveis preocupantes, pois elevadas populações desse inseto podem destruir até 100% da área foliar da planta (Maluf et al., 1997). O uso de fontes de resistência a partir de espécies silvestres tem sido cada vez mais freqüente em programas de melhoramento do tomateiro, visando resgatar genes perdidos no processo de domesticação. A espécie L. hirsutum f. glabratum tem se destacado por apresentar resistência a diversos insetos, dentre eles a Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: 458 Gelechiidae), e vem sendo amplamente utilizada como fonte de resistência em programas de melhoramento que visam introgredir genes de resistência a insetos (Barone et al., 1989). As metil-cetonas, 2-tridecanona e 2undecanona, que estão presentes, principalmente, no ápice da estrutura foliar denominada tricoma glandular do tipo VI, são abundantes na espécie L. hirsutum f. glabratum, e têm sido o principal fator que proporciona resistência à T. absoluta (Maluf & Barbosa, 1996). O presente trabalho objetivou avaliar o comportamento de cinco cultivares comerciais e cinco progênies F3 do cruzamento entre Lycopersicon esculentum (cv. IPA-6) e L. hirsutum f. glabratum (PI 134418), em relação à traça-do-to- mateiro, com base em estimativas de parâmetros genéticos e correlações entre componentes de resistência. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em casa de vegetação, em área do convênio UENF/ PESAGRO-RIO, na Estação Experimental de Campos, em Campos dos Goytacazes, RJ. As famílias F 3 utilizadas foram selecionadas com base em resultados obtidos por Pereira (1998). Esse material genético foi originado a partir da técnica de hibridação artificial e interespecífica entre L. esculentum, genitor agronomicamente comercial, e L. hirsutum f. glabratum, genitor com Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-do-tomateiro em progênies de Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum fonte de resistência a T. absoluta. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com 12 tratamentos (genótipos) e três repetições. Para fornecer ovos e permitir as avaliações da resistência à traca-do-tomateiro foi instalada criação, baseando-se nos métodos propostos por Ferrara (1995) e Pereira (1998). A criação foi iniciada com a coleta de folhas minadas com larvas de Tuta absoluta em plantios comerciais no município de São João da Barra, RJ. Para avaliação do dano, utilizaramse de tubos de diálise, que consistem em uma membrana de celulose transparente, de 12 cm de comprimento e 4,5 cm de diâmetro, vedada nas extremidades por uma espuma de 1,5 cm de espessura. Em uma das espumas foi feito um corte de aproximadamente 1 cm em direção ao centro, para permitir a entrada do folíolo a ser analisado. Este método é uma adaptação dos métodos propostos por Dimock et al. (1986) e por Pereira (1998). A avaliação do dano iniciou-se 30 dias após o transplantio. Para tanto, com o auxílio do pincel fino foi colocada uma larva de primeiro ínstar, recém eclodida, sobre a face adaxial de um folíolo da quinta folha de cada genótipo, a qual foi imediatamente inserida em tubo de diálise. Após 15 dias, o tubo de diálise foi retirado. O dano foi representado pela área foliar consumida e quantificado por meio de paquímetro digital (Pereira,1998). Efetuaram-se contagens dos números de galerias feitas pela larva no folíolo central da quinta folha de cada genótipo. Quantificaram-se os tricomas foliares tipo VI das faces abaxial e adaxial de folíolos retirados do meio da 5a folha, a partir do meristema apical, de cada genótipo estudado (Pereira, 1998). Depois de cortado, o pecíolo foi envolvido por algodão umedecido com solução de sacarose a 10%, coberto por papel laminado e devidamente identificado. Devido à grande destruição de tricomas na face inversa a que está sendo avaliada, foram retirados dois folíolos por genótipo, sendo um para contagem de tricomas da face adaxial e outro para a abaxial. Os folíolos foram transportados sobre gelo forrado com papel toalha dentro de embalagem térmica. Para a conHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. tagem, utilizou-se microscópio estereoscópico Zeiss (Stereomicroscope Stemi SV11), com um aumento de 50 vezes, e campo de visão de 4 mm2. Foram feitas três repetições de contagem em cada face do folíolo. Os resultados apresentados foram obtidos a partir da média dessas três repetições. As médias fenotípicas foram utilizadas na estimação dos seguintes parâmetros genéticos, baseados em Cruz & Regazzi (1997): Variância fenotípica: ^ σf2 = QMG; B Variância ambiental: ^ σe2 = QMR; Variabilidade genotípica: ^ Φg = QMG – QMR; b Coeficiente de determinação genotípica: ΦG H2 = ————; QMG/ b Coeficiente de variação experimental: CVe = ————— x 100 m Coeficiente de variação genotípica: CVg = ———— x 100; m Índice de variação: Î v = CVg / CVe Estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica de Pearson (r), com base nas médias de repetições, foram obtidas por meio das expressões: r (x,y) = Cov (x,y) / , onde: r (x,y) = correlação entre os caracteres x e y; Cov (x,y) = covariância entre os caracteres x e y; σ x e σ y = desvio-padrão dos caracteres x e y, respectivamente. A significância dos coeficientes de correlação fenotípica foi verificada pelo teste “t” e o coeficiente de determinação (r2) (Cruz & Regazzi, 1997). RESUTADOS E DISCUSSÃO As características densidade de tricoma do tipo VI da superfície abaxial e número de galerias feitas pela T. absoluta apresentaram ampla variabilidade genotípica (Fg), com valores para o coeficiente de determinação genotípica (H2) superiores a 90% e magnitudes do índice de variação (Iv) superiores à unidade. Assim, para essas características, métodos simples de seleção seriam suficientes para se obterem ganhos satisfatórios nas próximas gerações (Tabela 1). Para as características área foliar consumida por T. absoluta e densidade de tricoma do tipo VI da superfície adaxial os valores de H2 foram superiores a 82% e também poderão propiciar a obtenção de ganhos genéticos. Essas características, apesar dos menores coeficientes de determinação obtidos (Tabela 1), possuem ampla variabilidade genética e índices de variação acima da unidade. Por conseguinte, ganhos genéticos significativos também poderão ser obtidos para essas características, por meio de métodos simples de seleção. Verificou-se correlação negativa e significativa entre os caracteres área foliar consumida e número de galerias feitas pela T. absoluta, indicando que quanto maior a área foliar consumida menor foi o número de galerias produzidas, demonstrando que genótipos resistentes, como L. hirsutum f. glabratum e determinadas famílias F3 foram capazes de restringir o desenvolvimento da traça (Tabela 1). Em um estudo semelhante a este por também serem utilizadas lagartas de T. absoluta recém eclodidas, e em confinamento com folhas de L. esculentum e L. hirsutum f. glabratum, verificou-se a redução da viabilidade pela densidade de tricoma do tipo VI da superfície adaxial e efeitos que caracterizaram a ocorrência de antibiose relacionada a interação T. absoluta e L. hirsutum f. glabratum PI 134417 (Giustolin e Vendramim, 1994). 459 L. G. Neves, et al. Tabela 1. Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça do tomateiro, em seis cultivares comerciais de L. esculentum e cinco progênies F3 do cruzamento entre ‘IPA-6’ (L. esculentum) e PI 134418 (L. hirsutum). Campos dos Goytacazes, UENF, 2000. * * = diferença significativa ao nível de 1% pelo teste t. 1/ DN = área foliar consumida por T. absoluta em cm2 ; TAB = densidade de tricoma foliar tipo VI/mm2 na superfície abaxial da 5a folha; TAD = densidade de tricoma foliar tipo VI/mm2 na superfície adaxial da 5a folha; e NG = número de galerias feita por T. absoluta no período de incubação. Variância fenotípica: σa2 ^ Variância ambiental: σa2 ^ Variabilidade genotípica: Φ g Coeficiente de determinação genotípica: H2 Índice de variação: Iv Coeficiente de correlação: (r) Coeficiente de determinação: (r2) Eigenbrode & Trumble (1993), também em um estudo sobre o mecanismo de resistência por antibiose, entre L. hirsutum f. glabratum PI 134418 e Spodoptera exigua (Hübner), relataram uma altíssima mortalidade da praga em estudo. Conclui-se que o desenvolvimento, a fecundidade e a taxa de mortalidade de diversos insetos artrópodes são restringidos, quando esses insetos são alimentados com folhas de L. hirsutum f. glabratum (Weston et al., 1989). As correlações entre o caráter área foliar consumida por T. absoluta e densidade de tricoma do tipo VI da superfície adaxial e abaxial, foram negativas e significativas (Tabela 1), evidenciando que os genótipos com maiores densidade de tricomas do tipo VI em ambas as faces das folhas, terão menor área foliar consumida. Isto indica que esse tipo de tricoma é um fator de resistência para a traça do tomateiro. Farrar Jr. & Kennedy (1987) quantificaram a mortalidade de larvas de Heliothis zea (Baddie) (Lepdoptera: Noctuidae), quando essas se alimentavam com L. esculentum e L. hirsutum f. glabratum PI134417. Foram usados folíolos desses genótipos com tricomas do tipo VI e retirados esses tricomas. Os autores verificaram maior mortalidade 460 de H. zea onde os tricomas não haviam sido retirados. Os resultados do presente estudo também revelaram correlações positivas e altamente significativas entre tricomas do tipo VI, tanto da face adaxial, quanto da abaxial e o número de galerias feitas pela traça. A 2-tridecanona, contida na ponta de tricomas do tipo VI, é tido como o principal fator de resistência a insetos-pragas que insidem na espécie L. hirsutum f. glabratum, reafirmando, dessa forma, a estrutura tricoma tipo VI como fator de resistência (Weston et al., 1989; Farrar Jr. & Kennedy, 1991; Giustolin & Vendramim, 1996; Maluf, 1997; Pereira et al., 2000). Pode-se concluir que o maior número de galerias, em vários locais distintos da folha, foi decorrência da tentativa do inseto de se alimentar, uma vez que esse parece estar encontrando barreiras pela associação tricomaaleloquímicos. A correlação fenotípica dos tricomas da face adaxial e abaxial foi positiva e significativa (Tabela 1), mostrando que quanto maior a média de tricomas do tipo VI para uma face da folha, também será maior para a outra face, para os genótipos tidos como superiores neste estudo. Esta correlação entre os valores de densidade de tricoma do tipo VI da superfície adaxial e da superfície abaxial indica que esses caracteres estão sob o mesmo controle genético, o que caracteriza um possível efeito pleiotrópico, ou mesmo, que os genes que controlam os dois caracteres estariam em um mesmo cromossomo e não segregariam independentemente, o que caracterizaria a ligação gênica (Rick & Butler, 1956). AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao técnico agrícola José Manoel de Miranda pelo auxílio na execução do trabalho; ao técnico de nível superior Alexandre Pio Viana, pelo auxílio na análise estatística e ao professor Messias Gonzaga Pereira, pelas sugestões. 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Ecologia e Biologia Evolutiva, C. Postal 676, 13565-905, São Carlos-SP. E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Analisou-se a relação entre adubação orgânica e a incidência de Thrips tabaci Lind. em cebola (Allium cepa L), na EE de Ituporanga, entre agosto e dezembro de 1998. Os tratamentos foram determinados de acordo com a necessidade de N para a cultura pela análise de solo. Empregou-se como fonte orgânica diversos adubos fornecendo 75 Kg/ha de N (esterco suíno; adubo Barriga Verdeâ proveniente de esterco de aves; composto orgânico; esterco de peru; húmus); 37,5 Kg/ha de N (metade da dose normal com esterco de suíno); as testemunhas foram adubação mineral fornecendo 30-120-60 kg/ha de N-P2O5-K2O e o dobro da dose (60-240-120 kg/ha de N-P2O5K2O); e testemunha sem adubação. Nenhum tratamento apresentou incidência de T. tabaci superior à testemunha sem adubo. A adubação mineral em relação à orgânica não favoreceu significativamente a incidência de T. tabaci . O processo de conversão do manejo do solo da área experimental de convencional para orgânico pode ter favorecido a infestação similar do inseto entre tratamentos. No período de maior incidência de T. tabaci, a relação com nutrientes foi descrita por um modelo envolvendo K/Zn, B e N de maneira positiva. A correlação entre nutrientes e T. tabaci não foi linear na maioria das avaliações. A adubação orgânica pode substituir a adubação mineral na cultura da cebola, pois foi possível atingir níveis de produtividade similares para ambos tratamentos. Impact of the organic fertilization on onion thrips incidence The impact of organic fertilization on the incidence of thrips (Thrips tabaci Lind.) on onion was evaluated at Ituporanga Experimental Station in Santa Catarina State, Brazil, from August to December, 1998. The treatments using organic fertilization were based on the N needs determined by previous soil analysis. Using different organic sources were 75.0 Kg/ha of N (swine manure; Barriga Verdeâ poultry manure; compost; turkey manure; humus); 37.5 Kg/ha of N (swine manure half regular rate); two chemically fertilized controls with 30-120-60 Kg/ha of N-P2O5-K2O and double rate (60-240-120 Kg/ha of N-P2O5-K2O); and finally the unfertilized control. The incidence of thrips was similar between treatments with fertilized and no fertilized check. Treatments with mineral fertilization presented the same incidence of thrips when compared to organic fertilization. During severe infestation period, the correlation between the use of mineral nutrients and the T. tabaci incidence was positive and was described by a model involving the levels of K/Zn, B and N. The correlation of nutrient in the leaves and the infestation of thrips on onion was not linear. The organic fertilization can substitute the mineral one on onion crops, without reducing yield. Palavras-chave: Allium cepa, Thrips tabaci, inseto, nutriente, agroecologia. Keywords: Allium cepa, Thrips tabaci, insect, nutrient, agroecology. (Recebido para publicação em 18 de março de 2002 e aceito em 04 de julho de 2003) O tripes (Thrips tabaci Lindeman (Thysanoptera: Thripidae) ) é a principal praga da cebola no Brasil (Gallo et al., 1988). Em Santa Catarina, o manejo fitossanitário da cultura após o transplantio tem-se caracterizado principalmente pela aplicação de agrotóxicos para o seu controle. Gonçalves (1996) observou que a aplicação de inseticidas organofosforados e piretróides para controle de tripes tem sido exagerada em dose e número de aplicações com prejuízos à saúde do agricultor e ambiente. A redução da produtividade causada por T. tabaci em cebola pode ser além de 50% em sistema de agricultura convencional (Saini et al., 1989). Porém, em recentes trabalhos, tem-se observado que, em solos sob plantio direto e altos níveis de matéria orgânica, minimizam-se as perdas em produtivi462 dade independente do controle químico do inseto (Gonçalves, 1998). A fertilização de plantas apresenta efeitos positivos e negativos na incidência de pragas e doenças (Maxwell, 1972, citado por Bortolli & Maia, 1994; Rodriguez, 1972, citado por Bortolli & Maia, 1994; Primavesi, 1988; Patriquin et al., 1993; Bortolli & Maia, 1994). Enquanto Chaboussou (1987) e Primavesi (1988) ressaltam a importância do equilíbrio nutricional para evitarse doenças e pragas, Maxwell (1972), citado por Bortolli & Maia (1994) considerou que os insetos ficam com menor vigor devido à nutrição inadequada das plantas, e consequentemente mais vulneráveis à ação dos produtos químicos e biológicos usados no seu controle. As demais práticas de manejo de agroecossistemas em sistema convencional tais como a aplicação de agrotóxicos, a mecanização excessiva do solo com máquinas, têm efeito direto e indireto no empobrecimento da fauna de solo responsável pela ciclagem de nutrientes (Matson et al. 1997; Altieri & Nicholls 1999). As plantas produzidas em ambientes com excesso de agroquímicos apresentam-se desequilibradas nutricionalmente e vulneráveis ao ataque de doenças e pragas (Primavesi, 1988; Altieri & Nicholls, 1999). O manejo do solo com práticas que não agridam a biota e favoreçam a ciclagem de nutrientes é fundamental para obtenção de plantas saudáveis, tais como: redução da mecanização do solo (plantio direto ou cultivo mínimo); uso preferencial de adubos verdes; plantas de cobertura; estercos; compostos (Yepsen Jr., 1977; Primavesi, 1988; Altieri, 1991; Monegat, 1991; Patriquin et al. 1993; Altieri, 1994; Matson et al., Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola 1997; Vandermeer, 1995; Altieri & Nicholls, 1999). A EPAGRI atualmente fomenta trabalhos na área de agroecologia com o intuito de reduzir a utilização de agroquímicos nesse estado, bem como gerar um sistema agrícola produtivo e sustentável. O presente trabalho foi elaborado para contribuir na geração de informações para sedimentar a agroecologia no estado de Santa Catarina e para avaliar o efeito das adubações mineral e orgânica sobre a ocorrência do tripes e no impacto dos diferentes tratamentos sobre a produtividade da cultura da cebola. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Ituporanga em um Cambissolo Húmico distrófico álico, empregando a cultivar Crioula. O experimento foi realizado de 28/ 08 (transplante) a 16/12/1998 (colheita, duração do ciclo de 110 dias), implantado em delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. O tamanho da parcela foi de 2,8 x 3,0 m e espaçamento de 40 x 10 cm, totalizando 210 plantas/ parcela. As parcelas foram distanciadas entre si de 1 m. O preparo do solo foi realizado sob plantio direto em palhada de centeio (Secale cereale L.), semeado anteriormente no mês de maio. Os tratamentos foram: 1) 15743,6 kg/ha de esterco de suíno, 2) 7871,8 kg/ha de esterco de suíno (metade da dose recomendada pela análise de solo) , 3) 6023,6 kg/ha de esterco Barriga Verdeâ (aves), 4) 20299,9 kg/ha de composto orgânico, 5) 6393,5 kg/ha de esterco de peru, 6) 6516,4 kg/ha de húmus, 7) 600,0 kg/ ha de NPK 5-20-10, 8) 1200,0 kg/ha de NPK 5-20-10, 9) testemunha sem adubação. Os tratamentos com fontes orgânicas forneceram a necessidade de N para a cultura (75 kg/ha), exceto o número 2, que correspondeu à metade da dose (37,5 kg/ha). Os tratamentos 7 e 8 corresponderam a testemunhas com adubação mineral com fornecimento de NPK uma e duas vezes respectivamente o recomendado para a cultura de acordo com a análise de solo. A análise de solo apresentou : pH (água), 6,3; pH (SMP), 6,1; P, 25,5 mg.dm -3; K, 40 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. mg.dm-3; matéria orgânica, 50 g.dm-3; Al 0,0 mmolc.dm-3; Ca, 74 mmolc.dm-3; Mg, 38 mmolc.dm-3; argila, 330 g.dm-3. Como o nitrogênio é apontado como causador de desequilíbrios nutricionais e favorecer a incidência de doenças e pragas (Chaboussou, 1987; Singh & Agarwal, 1983, citados por Bortolli & Maia, 1994; Schuch et al., 1998), a determinação da quantidade de adubos orgânicos foi baseada na necessidade deste nutriente para a cultura (segundo Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC, 1994). A fórmula utilizada para calcular a dose de esterco/ha foi Quantidade de esterco/ha = (100000 x N)/(MS x NMS) x 0,5; onde N é a quantidade de nitrogênio em kg/ha necessário para a cultura da cebola; MS é o teor de matéria seca do esterco em porcentagem; NMS quantidade de nitrogênio por kg de matéria seca do esterco; e 0,5 é o índice de liberação de nitrogênio pelo esterco (50% no primeiro ano de aplicação, de acordo com Comissão de Fertilidade do Solo RS/SC, 1994). A análise de nutrientes dos adubos orgânicos foi realizada pelo Laboratório de Fisiologia e Nutrição Vegetal da Estação Experimental de Caçador, SC, EPAGRI, com os seguintes resultados para matéria seca (MS, em g.dm-3), e níveis de nutrientes em g/kg1 e mg/kg2 de MS respectivamente para esterco de suíno, esterco Barriga Verdeâ (aves), composto orgânico, húmus, esterco de peru: MS (27,3; 93,4; 36,4; 61,2; 79,8), N1 (34,9; 26,5; 20,3; 37,6; 29,4), P1 (23,6; 15,8; 14,7; 26,6; 20,8), K1 (1,8; 15,0; 3,4; 7,2; 25,4), Ca1 (52,8; 64,6; 29,0; 58,0; 31,0), Mg1 (4,2; 15,6; 5,0; 6,4; 8,2), Fe 2 (3822,0; 1074,0; 8686,0; 6008,0; 7230,0), Mn2 (368,0; 636,0; 318,0; 634,0; 574,0), Zn2 (650,0; 298,0; 244,0; 990,0; 468,0), Cu2 (596,0; 108,0; 232,0; 734,0; 112,0), B2 (31,0; 53,0; 34,0; 42,0; 58,0). O composto orgânico foi proveniente de resíduos culturais de cebola, esterco suíno, capim cameroon (Pennisetum clandestinum Hochst. ex. Chiov). O húmus foi obtido de esterco de suíno em minhocário. Os adubos orgânicos foram distribuídos manualmente e espalhados sobre a superfície do solo, enquanto as fontes minerais foram incorporadas com microtrator adaptado para plantio direto. A amostragem de tripes foi realizada a campo pela contagem semanal de ninfas com auxílio de lupa manual (aumento de 3 x), em todas as folhas em 5 plantas/parcela escolhidas ao acaso. As datas de avaliação foram 14/10 (47 dias após transplante, DAT), 21/10 (54 DAT), 28/10 (61 DAT), 04/11 (68 DAT), 11/11 (75 DAT), 19/11 (83 DAT), 25/11 (89 DAT) e 02/12/1998 (96 DAT). A análise foliar de nutrientes foi realizada em amostras de cinco plantas por parcela, submetidas a secagem em estufa a 60°C, e posteriormente enviadas para o Laboratório de Fisiologia e Nutrição Vegetal da EE de Caçador. As datas de coleta de amostras e respectivos dias após transplante (DAT) foram: 14/10 (47 DAT), 11/11 (75 DAT) e 02/ 12/1998 (96 DAT). O experimento não foi submetido à irrigação, com a finalidade de evitar-se a influência de remoção mecânica do inseto pela água. A amostragem para produtividade realizou-se pela colheita de 60 bulbos ao acaso por parcela. Os bulbos foram classificados pelo diâmetro de acordo com aceitação para o mercado (classe 1 £ 3,5 cm; classe 2 > 3,5 até 5 cm; classe 3 > 5 até 7 cm; classe 4 > 7 até 9 cm, classe 5 > 9 cm). Apenas a produtividade comercial (bulbos de classes 2 a 5) foi considerada para avaliação. O nível de dano econômico (NDE) foi estabelecido de acordo com Gonçalves (1997), sendo considerado 15 ninfas/ planta antes da bullbificação e 30 ninfas/ planta após esta fase. Os dados para análise estatística foram previamente submetidos ao teste de Bartlett (através do programa para análise estatística INSTATâ, 1993) a fim de verificar a homogeneidade de variâncias e definir a aplicação de métodos paramétricos ou não paramétricos. Após a transformação de dados foi possível realizar a análise de variância paramétrica. O número médio de ninfas de tripes foi transformado para log (x + 0,5). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade (programa para análise estatística SASâ, 1996). O nível foliar de nutrientes e produtividade foram submetidos à análise de variância sem transformação de dados. O esquema de análise de variância 463 P. A. S. Gonçalves & C. R. S Silva Tabela 1. Número médio de ninfas de tripes, T. tabaci, produtividade comercial média e peso médio de bulbos de cebola, cultivar Crioula, sob adubações mineral e orgânica. Ituporanga, SC, EPAGRI, 1998. Médias na vertical, seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. para análise das variáveis número médio de ninfas de tripes e nível foliar de nutrientes foi o de parcelas subdivididas no tempo com tratamentos como parcelas e datas de avaliação como subparcelas. Os coeficientes de correlação de Spearman (r) e de determinação (r2) e a análise de regressão linear múltipla, procedimento “stepwise” do programa estatítico SASâ (1996), foram aplicados entre a incidência de tripes, e nível foliar de nutrientes. RESULTADOS E DISCUSSÃO O número médio de ninfas de T. tabaci não diferiu entre os tratamentos (Tabela 1). Portanto, como constatado por Marzo et al. (1997), Bastos et al. (1998), Osuna et al. (1989), Silva et al. (1998), a utilização de adubação mineral não necessariamente favorece a maior densidade populacional de herbívoros, pois o efeito pode ser não significativo ou até mesmo inferior ao adubo orgânico. O nível de nutrientes foliares diferiu entre tratamentos apenas para N e K (Tabela 2). O teor de N foi superior para esterco de suíno, dose normal, em relação ao NPK dose dupla, porém estes não diferiram dos demais tratamentos. O teor de K no composto orgânico foi superior ao do esterco de suíno na metade da dose normal, porém foi semelhante aos demais. Portanto, as fontes de adubação 464 utilizadas, com dosagens de adubo entre normal até no máximo o dobro recomendado pela análise do solo, não proporcionaram diferenças significativas nos teores de nutrientes foliares na maioria das avaliações que pudessem refletir na incidência de tripes em cebola. Deve-se considerar, que a área experimental estava em processo de conversão para manejo orgânico (solo sob sistema de plantio direto, uso de adubos verdes e estercos, e ausência de adubação mineral solúvel) há dois anos, o que pode ter favorecido a incidência similar do inseto entre tratamentos. Porém, segundo Phelan (1997), plantas cultivadas em solos sob manejo orgânico têm uma tendência em apresentar menores níveis populacionais de insetos. Os coeficientes de correlação linear (r) e de determinação (r2 %) entre nutrientes e inseto não foram significativos na maioria das avaliações, exceto de maneira significativa a 1% para a ocorrência de tripes no fim do ciclo da cultura (02/12/1998) para K/Cu (r = 0,49**) e nas relações inversas de alguns nutrientes com Mn (N/Mn, r = 0,44**; P/Mn, r = 0,46**; Mg/Mn, r = 0,45**). Este resultado sugere que excesso dos nutrientes N, P e Mg em relação a Mn favoreceu a ocorrência de tripes, enquanto o aumento de K em relação a Cu diminuiu a incidência do inseto. Convém ressaltar, que tais relações foram verificados no período de maturação fisiológica da cultura, quando a presença do inseto entra naturalmente em declínio e não provoca maiores danos à cultura; o nível de dano econômico (NDE), nesta fase é de 30 ninfas/ planta, segundo Gonçalves (1997). O potássio como indutor de resistência a insetos e patógenos foi relatado por Chaboussou (1987), Primavesi (1988) e Bortolli & Maia (1994); e Mn por Chaboussou (1987). O valor de r foi significativo a 5% para os seguintes nutrientes: em 11/11 para K/Zn (r = 0,36), e em 2/12 para K (r = -0,38), K/Mg (r = 0,34), K/B (r = -0,40), Mn/Zn (r = -0,35), Cu (r = 0,33), N/K (r = 0,33), P/K (r = 0,38), Ca/Mn (r = 0,35). Dentre estas relações o excesso de N em relação a K foi citado por favorecer o desenvolvimento de afídeos em quiabeiro (Sampaio et al. 1998a, b), e as proporções entre K/Mg, K/B, Ca/Mn, N/P/K foram citadas como importantes na manutenção do equilíbrio nutricional de plantas por Primavesi (1988). Convém ressaltar, que em 11/11, na semana anterior ao pico populacional do inseto houve relação significativa positiva para K/Zn, o que sugere que nesta fase o excesso de K em relação a Zn favoreceu a infestação de tripes. Os resultados significativos observados em 2/12 ocorreram na fase de maturação fisiológica da cultura, quando a população de tripes estava abaixo do NDE (de acordo com Gonçalves, 1997, nesta fase o NDE é Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola Tabela 2. Níveis de nutrientes em folhas de cebola sob fontes de adubação mineral e orgânica. Ituporanga, SC, EPAGRI, 1998. Médias na vertical, seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, 1 e 2, respectivamente níveis foliares de nutrientes em g.dm-3 e mg.dm-3. de 30 ninfas/planta), portanto o inseto não interferiria na produtividade. No presente trabalho a relação entre nutrientes e inseto geralmente não foi linear. Este tipo de relação entre nitrogênio e artrópodos já havia sido constatada anteriormente (White, 1984; Popp et al., 1986; Brewer et al., 1987; Rutz et al., 1990; Bethke et al., 1998; Joern & Behmer, 1998). Portanto, o nitrogênio de maneira isolada não apresentou efeito significativo sobre o inseto, mas apenas nas relações com alguns nutrientes como apontado acima. A análise de regressão múltipla apresentou as seguintes equações para relação entre número médio de ninfas de tripes (y) e nutrientes: para início da infestação do inseto em 14/10 com população abaixo do NDE, considerado como 15 ninfas/planta, de acordo com Gonçalves (1997), y= +10,94 -0,04xP/ B, (r2 = 10,16%); em 11/11, uma semana antes do pico populacional de tripes, com todos tratamentos acima do NDE, y= -51,35 +0,008xK/Zn +0,89xB +1,63xN, (r2 = 33,2%); e no declínio populacional em 02/12, com todos tratamentos abaixo do NDE, y= +21,32 0,004xK/Cu +1,48xMn/Cu +0,059xP/ Mn -0,38xFe/B, (r2 = 53,19%). A generalização de N como causador de desequilíbrio nutricional e favorecer a ocorrência de pragas não foi constatada como notado por Bortolli & Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Maia (1994) e Rodriguez (1972) citados por estes autores, pois a relação isolada de N não apresentou valores significativos para incidência de tripes. Bortolli & Maia (1994) relataram que embora a maioria dos trabalhos apontem para o efeito positivo de N no desenvolvimento de pragas, há resultados que indicam o contrário. O efeito negativo de N no desenvolvimento de insetos também pode ocorrer (Salas et al., 1990; Rutz et al., 1990), bem como o efeito não significativo (Power, 1989; McCullough & Kulman,1991; Blua & Toscano, 1994). Os resultados referentes ao nitrogênio contrastam com os de Schuch et al. (1998), que constataram que a infestação de tripes em crisântemo foi favorecida por altos níveis de adubação nitrogenada. O efeito positivo de N para incidência de tripes foi verificado de maneira significativa para o nutriente apenas nas relações N/Mn e N/K. Os resultados foram similares aos obtidos por Vos & Frinking (1997) com efeito não significativo de N sobre tripes, T. parvispinus , em pimenta, Capsicum spp., porém a relação positiva de P sobre o inseto encontrada por estes autores não foi constatada, pois a relação foi significativamente positiva apenas para relação P/K em 02/12. A produtividade comercial foi similar entre tratamentos (Tabela 1). O peso médio de bulbos foi superior para ester- co de peru em relação ao composto orgânico, esterco de suíno metade da dose normal e húmus (Tabela 1). O adubo mineral NPK em ambas dosagens também apresentou peso médio de bulbos superior ao composto orgânico. Porém, nenhum tratamento proporcionou incremento significativo no peso médio de bulbos em relação a testemunha sem adubo (Tabela 1). Como os níveis de produtividade comercial e peso médio de bulbos obtidos por todas as fontes de N, com exceção do composto orgânico, não diferiram daqueles observados pela adubação mineral, sugere-se ser possível substituir a adubação de origem mineral pela orgânica. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Odo Primavesi (Embrapa Instrumentação Agropecuária) e Dra. Márcia Mondardo Spengler (EPAGRI, EE Caçador) pelos esclarecimentos na área de análise estatística. Ao pesquisador Clori Basso (EPAGRI, EE Caçador) pelas análises de nutrientes. Ao técnico agrícola Marcelo Pitz e sua equipe pelo apoio na condução do trabalho. LITERATURA CITADA ALTIERI, M.A. How best can we use biodiversity in agroecosystems? Outlook on Agriculture, v. 20, n. 1, p. 15-23, 1991. 465 P. A. S. Gonçalves & C. R. S Silva ALTIERI, M.A. Bases agroecologicas para una producción agricola sustentable. Agricultura Tecnica, v. 54, n. 4, p. 371-386, 1994. ALTIERI, M.A.;NICHOLLS, C.I. 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E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Foram realizados estudos, no campo experimental de Pacajús, da Embrapa Agroindústria Tropical, para observar a distribuição espacial das ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemiptera: Aleyrodidae), entre as folhas e nas folhas da rama do meloeiro. Para estudo da distribuição entre as folhas, foram amostradas aleatoriamente, as folhas presentes no intervalo entre a quinta e a vigésima folha. A contagem das ninfas foi realizada semanalmente aos 49; 56 e 63 dias após o plantio, retirando, com o auxílio de um vasador de cortiça, um disco foliar de 2,8 cm2. Foi observada uma maior concentração de ninfas entre a oitava e a décima folha, contada a partir da extremidade da rama do meloeiro, sendo, portanto, a melhor folha para ser amostrada. O estudo da distribuição setorial nas folhas do meloeiro foi feito amostrando-se aleatoriamente as folhas em campo e subdividindo-as em quatro setores, delimitados pela nervura central em esquerdo distal (ED), esquerdo proximal (EP), direito proximal (DP) e direito distal (DD). As ninfas concentraram-se mais nos setores proximais da folha do meloeiro, quando comparados aos setores distais, nas três avaliações efetuadas no campo. Estes insetos preferem os setores proximais da folha por estarem mais próximos do floema, facilitando a obtenção do alimento. Do total de ninfas contadas nos setores das folhas do meloeiro, 13,08% foram encontradas no setor ED; 35,7% no setor EP; 36,7% no setor DP e 14,25% no setor DD. Portanto, recomenda-se efetuar a amostragem das ninfas próximo à nervura central da folha do meloeiro. Vertical and sectorial distribution of whitefly nymphs on melon leaves Palavras-chave: Bemisia argentifolii, amostragem, melão. The spatial nymphs distribution of Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemiptera: Aleyrodidae) among and within melon leaves was observed. The vertical distribution among leaves was done, selecting randomly leaves from node 5th through 20th. The counting of nymphs was performed at weekly basis, at 49; 56 and 63 days after planting, using a circular leaf disc with an area of 2.8 cm2. Higher nymph concentration was observed from the 8th to the 10th leaf counted from the top to the bottom of the melon plant. These leaves were considered the best ones to be sampled. The distribution of nymphs over the leaf sectors was performed, selecting randomly leaves and dividing them into four sectors (distal left, proximal left, distal right, and proximal right). The number of nymphs was similar in both proximal sectors, however in the proximal sectors the number of nymphs was greater than those found in distal sectors. From the total nymphs found, 13.70% were found on distal left sector, 35.70% on proximal left sector, 36.70 on proximal right sector and 14.25% on distal right sector. Sampling nymphs close to the central leaf rib is more effective. Keywords: Bemisia argentifolii, sampling, melon. (Recebido para publicação em 21 de dezembro de 2001 e aceito em 24 de abril de 2003) A mosca-branca, Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae), tem se tornado nos últimos anos, a praga mais importante da cultura do melão em diversos estados brasileiros, pelas perdas que vem ocasionando à cultura. Aplicações foliares de inseticidas têm sido pouco eficientes, principalmente pelo fato das ninfas (aproximadamente 96%) se localizarem na face inferior das folhas do meloeiro (Simmons & McCreight, 1996) e as plantas apresentarem um crescimento rasteiro, dificultando as pulverizações. O desenvolvimento de um método de amostragem eficiente é fundamental para o estudo da dinâmica populacional da praga e para estabelecer critérios na implementação de um programa de Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. manejo integrado de pragas. Para a cultura do algodão, a contagem de todas as ninfas presentes em uma folha é o método mais confiável para se determinar a densidade populacional do inseto-praga (Ohnesorge & Rapp, 1986). Porém, o método é cansativo e demanda muito tempo para ser realizado, tornando-se mais fácil se restringido à área examinada em uma única parte da folha (setor). As ninfas de mosca-branca, a partir do 2o instar, são sésseis, de modo que a localização da folha infestada e o período fisiológico de desenvolvimento da planta hospedeira seguem uma distribuição linear, apresentando assim, um padrão definido de distribuição na planta. A presente pesquisa foi desenvolvida para avaliar a distribuição vertical das ninfas de B. argentifolii entre as folhas da rama do meloeiro e a distribuição setorial dentro da folha, visando orientar o produtor de melão na escolha do local da planta a ser amostrado quando da tomada de decisão sobre o controle ou não da praga. MATERIAL E MÉTODOS O estudo da distribuição vertical das ninfas nas folhas da rama do meloeiro foi realizado no campo experimental da Embrapa Agroindústria Tropical, em Pacajús (CE) de 10/10 a 19/12/00, em uma área de 900 m2. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, sendo os tratamentos representados por 16 folhas do meloeiro 467 F. R. Azevedo & E. Bleicher Figura 1. Número total de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae) em folhas da rama do meloeiro, em três avaliações de campo. Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 2000. da variedade Cantaloupe (híbrido HyMark), da quinta até a vigésima folha, distribuídos em quatro repetições, cada uma composta de 10 folhas. Portanto, cada tratamento consistiu de 40 folhas, totalizando 640 folhas amostradas em cada período amostral. De cada folha amostrada foi retirado, com o auxílio de um vazador de cortiça, um círculo foliar de 2,8 cm2, colocando-o dentro de um saquinho plástico transparente devidamente identificado. Em seguida, foram acondicionados em uma caixa de isopor, para não perderem a umidade e levados ao laboratório de entomologia, onde foram contadas todas as ninfas presentes no disco foliar, através da observação em uma lupa de mesa. A coleta dos discos foliares foi realizada semanalmente aos 49, 56 e 63 dias após o plantio. O estudo da distribuição setorial das ninfas dentro da folha do meloeiro foi realizado no mesmo local do estudo anterior, de 28/11/00 a 30/01/01, em uma área de 672 m2. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, sendo os tratamentos representados por quatro setores da folha do 468 meloeiro (híbrido Hy-Mark), delimitados pela nervura central em direito distal (DD), direito proximal (DP), esquerdo distal (ED) e esquerdo proximal (EP), distribuídos em quatro repetições, cada uma composta de 15 folhas. Portanto, cada tratamento consistiu de 60 folhas, totalizando 240 folhas em cada período amostral. As folhas foram cortadas na altura do pecíolo com um estilete e colocadas em sacos plásticos transparentes, acondicionados em uma caixa de isopor. Contou-se o número de ninfas em cada setor foliar, utilizando uma lupa de mesa. Os números médios de ninfas por disco foliar foram transformados em para fins de cálculos estatísticos. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Student-NeumanKeul’s (P£0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO A distribuição vertical das ninfas de B. argentifolii nas folhas da rama do meloeiro apresenta um padrão mais definido do que os adultos (Tabela 1). Aos 49 dias, de forma estatisticamente significativa, elas se distribuíram no intervalo da oitava à décima-segunda folha. Aos 56 dias, distribuíram-se da sexta à décima-quinta folha e aos 63 dias, diminuíram o intervalo, distribuindo-se da sétima à décima-segunda folha. As poucas ninfas encontradas da décima-sexta à vigésima folha nas três avaliações estavam próximas de se transformarem em adultos e são erroneamente chamadas de “pupas”. Verificou-se que as ninfas distribuem-se nas folhas maduras e as “pupas”, nas folhas mais velhas. De acordo com o número total de ninfas encontrado nas três avaliações de campo, verificou-se que o número aumentou progressivamente até a nona folha. Desta folha em diante, reduziuse consideravelmente ao longo da rama, encontrando-se um menor número na décima-oitava, décima-nona e vigésima folha (Figura 1). Levando-se em consideração a média geral das três avaliações, observou-se, no entanto, que de forma estatisticamente significativa, as ninfas distribuíram-se no intervalo da oitava à décima folha (Tabela 1). Na cultura do algodoeiro, Ohnesorge & Rapp (1986) verificaram que as ninfas de terceiro e quarto instares podem ser amostradas entre a terceira e sétima folha, enquanto que Gerling et al. (1980) reportaram que a posição média das folhas infestadas do algodoeiro SJ2 pelas “pupas” altera da sexta folha em julho para a décima primeira folha em agosto. No entanto, Melamed-Madjar et al. (1982), observaram uma mudança da quinta à sexta folha em junho para a sétima e oitava folha em julho. De acordo com os resultados desses autores, podese constatar que este inseto apresenta um comportamento ligeiramente diferente na cultura do meloeiro. Por isso, a relação entre a localização da maioria das folhas infestadas e o período fisiológico de desenvolvimento da planta hospedeira provavelmente segue uma distribuição linear (Von Arx et al., 1984). Baseado nestas informações, pode-se afirmar que a folha mais indicada para amostrar ninfas de B. argentifolii está entre a oitava e a décima folha, contadas a partir da extremidade da rama do meloeiro. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Distribuição vertical e setorial das ninfas de mosca-branca nas folhas do meloeiro Tabela 1. Número médio e média geral de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae) por disco foliar de 2,8 cm2 nas folhas do meloeiro aos 49; 56 e 63 dias após o plantio. Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 2000. 1 Dados originais transformados em Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Student-Neuman-Keul’s (P £ 0,05). Tabela 2. Número médio de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae) nos setores das folhas do meloeiro aos 49; 56 e 63 dias após o plantio. Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 2000. 1 Dados originais transformados em Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Student-Neuman-Keul’s (P £ 0,05). Com relação à distribuição setorial, observou-se que as ninfas concentraram-se mais nos setores proximais (DP e EP) da folha do meloeiro, quando comparada com os setores distais (DD e ED), nas três avaliações efetuadas no campo (Tabela 2). Como a mosca-branca apresenta estiletes curtos, a proximidade com a nervura central, por onde passa a maior parte dos fotoassimilados elaborados pela folha após a fotossíntese, deve facilitar a captação do alimento Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. (Van Lenteren & Noldus, 1990). Ohnesorge & Rapp (1986) afirmaram que a contagem de todas as formas imaturas presentes em uma folha é o método mais confiável para se determinar a densidade populacional de uma praga. No entanto, essa metodologia é muito cansativa e demanda muito tempo, podendo se reduzir o tempo, restringindose à área examinada em setores da folha. Von Arx et al. (1984), constataram que nos campos sudanenses de algodão, o local de amostragem deve ser escolhido de acordo com a idade das folhas e que somente um setor de cada folha pode ser examinado, sendo que o tamanho da folha é determinado de acordo com a densidade da mosca-branca e de um nível de precisão previamente definido. Recomendam ainda que a contagem das ninfas de terceiro e quarto instares deve ser feita somente nos setores próximos à nervura central das folhas de algodão, observando que, para cada 469 F. R. Azevedo & E. Bleicher variedade, o número relativo de moscabranca em cada setor da folha deve ser estabelecido separadamente. Naranjo & Flint (1994), trabalhando com a mesma cultura, observaram que as ninfas de Bemisia tabaci se distribuem igualmente entre os quatro setores da folha, delimitados pela nervura central, sendo esse padrão independente da localização da folha na planta, cultivar ou período amostral, mudando, no entanto, ligeiramente com a data amostral. De acordo com os autores, um disco de 3,88 cm2 da base do setor esquerdo proximal da quinta folha é suficiente para estimar a densidade de ninfas, as quais se distribuem de forma não aleatória em todas as folhas do algodoeiro, agregando-se próximas do pecíolo da folha. As vantagens da utilização da folha toda, setor ou disco para estimar a densidade das ninfas depende da variância dos dados e do tempo de amostragem. Do total de ninfas contadas nos setores das folhas do meloeiro, 13,08% foram encontradas no setor ED; 35,7% no setor EP; 36,7% no setor DP e 470 14,25% no setor DD, evidenciando que as ninfas concentraram-se mais nos setores proximais das folhas do meloeiro. Ohnesorge & Rapp (1986), constataram também que, de todas as ninfas de terceiro e quarto instares contadas nos setores delimitados pela nervura central na folha do algodão, 21,3% foram encontradas no setor ED; 27,2% no setor EP; 28,5% no setor DP e 23% no setor DD. Estes resultados assemelham-se aos da presente pesquisa, pois as moscas mostram uma preferência pelos setores proximais das folhas do meloeiro. De acordo com o comportamento de alimentação deste inseto e das observações realizadas neste trabalho, recomenda-se efetuar a amostragem das ninfas próximo à nervura central da folha do meloeiro. LITERATURA CITADA GERLING, D.; MOTRO, U.; HOROWITZ, A.R. Dynamics of Bemisia tabaci (Gennadius) (Homoptera: Aleyrodidae) attacking cotton in the Coastal plain of Israel. Bulletin of Entomological Research, v. 70, p. 213-219, 1980. MELAMED-MADJAR, V.; COHEN, S.; CHEN, M.; TAM, S.; ROSILIO, D. A method for monitoring Bemisia tabaci Gennadius and timing splay applications against the pest in cotton field in Israel. Phytoparasitica, v. 10, p. 85-91, 1982. NARANJO, S.E.; FLINT, H.M. Spatial distribution of preimaginal Bemisia tabaci (Homoptera:Aleyrodidae) in cotton and development of fixed-precision sequential sampling plans. Environmental Entomology, v. 23, n. 2, p. 254-266, 1994. OHNESORGE, B.; RAPP, G.M. Methods for estimating the density of whitefly nymphs (Bemisia tabaci Genn.) in cotton. 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Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo1 Magna Maria M. Ferreira2; Gilvan B. Ferreira3; Paulo Cezar R. Fontes4; José P. Dantas5 2 UEPB-EAAC, 58117-000, Lagoa Seca-PB; 3EMBRAPA Algodão, 58107-720, Campina Grande-PB; 4UFV-Depto Fitotecnia, 36571-000, Viçosa-MG; 5UEPB- CCT, 58109-753, Campina Grande-PB RESUMO ABSTRACT A produção de frutos de tomateiro em resposta a doses de nitrogênio e à adubação orgânica foi avaliada em dois experimentos de campo conduzidos na primavera-verão e no outono-primavera, em 1999. Os experimentos foram instalados Universidade Federal de Viçosa, em solo da classe Argissolo Vermelho-Amarelo Câmbico. Em ambos, as doses de N aplicadas, na forma de nitrocálcio, foram 0, 110, 220, 440 e 880 kg/ha e as doses de matéria orgânica, na forma de esterco bovino curtido, foram 0 e 8 t/ha. Os experimentos seguiram o delineamento em blocos ao acaso, no arranjo fatorial 5x2, com quatro repetições. A produtividade foi influenciada pelas doses de N, nos dois níveis de matéria orgânica, nas duas épocas. No experimento de primavera-verão, as máximas produções total, comercial e extra foram 44,78; 25,10 e 23,52 t/ha, obtidas com as doses de 530,2; 464,2 e 434,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, sem adição de matéria orgânica; e 45,75; 25,87 e 24,53 t/ha, obtidas com as doses de 574,2; 513,3 e 599,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, com adição de matéria orgânica. No experimento de outono-primavera, as produções foram 99,37; 78,87 e 69,93 t/ha, obtidas com as doses de 525,4; 533,9 e 557,5 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, sem adição de matéria orgânica; e 108,74; 87,08 e 78,09 t/ha, obtidas com as doses de 589,6; 575,3 e 557,4 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, com adição de matéria orgânica. A adição de matéria orgânica ao solo aumentou a dose do adubo nitrogenado necessária à obtenção das máximas produções total, comercial e extra de frutos de tomate, em ambas as épocas de plantio. Tomato plants production as a function of nitrogen doses and organic fertilization for two sowing times Palavras-chave: Lycopersicon esculentum L., adubação nitrogenada, adubação orgânica, esterco bovino, produtividade, épocas de plantio. Keywords: Lycopersicon esculentum L., nitrogen fertilization, organic fertilization, bovine manure, yield, sowing times. The tomato plants yield as a result of nitrogen doses and organic fertilization was evaluated in two field experiments carried out in spring-summer and autumn-spring, in 1999. The experiments were installed the Federal University of Viçosa, in a Cambic Red-Yellow Argisol. In both, the N doses applied, in the nitrocalcium form, were 0, 110, 220, 440 and 880 kg/ha and the doses of organic matter, in the form of hardened bovine manure, were 0 and 8 t/ha. The experimental design was of randomized blocks, in the factorial scheme 5 x 2, with four replications. The productivity was influenced by N doses, in the two levels of organic matter, in two times. In the spring-summer experiment, the maximum total, commercial and extra productions were 44.78; 25.10 and 23.52 t/ha, obtained with the doses of 530.2; 464.2 and 434.8 kg/ha of nitrogen, respectively, without organic matter; and 45.75; 25.87 and 24.53 t/ha, obtained with the doses of 574.2; 513.3 and 599.8 kg/ha of nitrogen, respectively, with organic matter. In the autumn-spring experiment, the productions were 99.37; 78.87 and 69.93 t/ha, obtained with the doses of 525.4; 533.9 and 557.5 kg/ha of nitrogen, respectively, without organic matter; and 108.74; 87.08 and 78.09 t/ha, obtained with the doses of 589.6; 575.3 and 557.4 kg/ha of nitrogen, respectively, with organic matter. The addition of organic matter in soil increased the nitrogen fertilizer dose necessary for obtain the tomato plants maximum total, commercial and extra productions, in both times sowing. Aceito para publicação em O crescimento e a produção do tomateiro e de outras culturas de importância econômica dependem, além de outros fatores, de adequado suprimento de nutrientes pelo solo às plantas. Sendo assim, para se obter alta produção de frutos comercializáveis é necessário conhecer os seus requerimentos nutricionais. Levando-se em conta os processos fisiológicos das plantas, o N, comparado aos outros nutrientes, tem maior efeito sobre as taxas de crescimento e absorção de elementos, sendo, portanto, mais importante em termos de controle da nutrição ótima das culturas (Huett & Dettmann, 1988). O crescimento e a produção em resposta ao N têm sido muito pesquisados em muitas espécies vegetais cultivadas e algumas silvestres. No tomateiro, a elevação no nível de N fornecido às plantas aumenta o peso de matéria seca das raízes, do caule, das folhas e dos frutos, a altura da planta, o número de folhas, a área foliar, o florescimento, a frutificação e a produtividade. Sob condições de campo, a nutrição ótima dessa cultura pode ser alcançada quando a quantidade aplicada de fertilizantes nitrogenados é igual a alta demanda que ocorre durante o período de crescimento dos frutos (Huett & Dettmann, 1988, Singh & Sharma, 1999). ¹ Parte da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor a UFV, financiado pelo CNPq Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 471 M. M. M. Ferreira, et al. As exigências nutricionais do tomateiro podem ser supridas pela adição ao solo de fertilizante químico, de matéria orgânica ou de ambos. A produção de frutos é possível com a prática alternativa de fertilização do solo com matéria orgânica (Rahman et al., 1997; Hunter & Tuivavalagi, 1998) devido à alta concentração de N normalmente presente na mesma (Atiyeh et al., 2000). A disponibilidade de N para as plantas depende da taxa de mineralização da matéria orgânica, que vai depender da quantidade de N imobilizado disponível na mesma; da temperatura, da umidade, do pH e da aeração do solo; das perdas do N por lixiviação e da relação carbono:nitrogênio do material. Foi constatado que valores mais altos de produtividade são obtidos quando se adiciona N mineral à matéria orgânica (Salek et al., 1981; Francis & Cooper, 1998). O tomateiro, devido à sua importância econômica, é explorado em ampla faixa de condições climáticas. No entanto, para que os rendimentos sejam ótimos, esta cultura tem requerimentos específicos. Na região Sudeste em altitudes em torno de 600 m, as melhores produções são obtidas em épocas de precipitação e temperatura baixas, normalmente no período de outono-primavera. A chamada “época não ótima” caracteriza-se por elevadas temperaturas, altas umidade relativa, radiação solar e precipitação pluviométrica. Estas condições são consideradas adversas ao cultivo do tomateiro por favorecer o desenvolvimento de pragas e doenças, acelerar os processos de respiração, floração e formação dos frutos (Sam & Iglesias, 1994), causar desenvolvimento vegetativo reduzido, aumentar a taxa de abortos florais e produzir frutos de baixa qualidade, diminuindo, desta forma, os rendimentos econômicos (Dominí et al., 1993). É possível que nesta época do ano a quantidade de N deva ser diferente da utilizada na época mais favorável. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de doses de nitrogênio e da adubação orgânica sobre a produção do tomateiro em duas épocas de plantio: primavera-verão e outono-primavera. MATERIAL E MÉTODOS Foram conduzidos dois experimentos, na primavera-verão e no outono-pri472 mavera. Os mesmos foram instalados em áreas localizadas na Horta do Fundão da Universidade Federal de Viçosa. O experimento de primavera-verão foi conduzido no campo, a céu aberto, de 13 de novembro de 1998 a 11 de fevereiro de 1999. O de outono-primavera foi conduzido entre 14 de maio e 27 de outubro de 1999. Ambos foram conduzidos em solo da classe Argissolo Vermelho-Amarelo Câmbico em duas áreas distintas, o qual apresentou as seguintes características químicas: N mineral (NNO3- + N-NH4+) = 39,81 kg/ha, na camada de 0-20 cm; P = 21 mg/dm3; K+ = 51 mg/dm3; Ca2+ = 0,9 cmolc/dm3; Mg2+ = 0,0 cmolc/dm3; Al3+ = 0,3 cmolc/dm3; H + Al = 3,3 cmolc/dm3 e pH = 4,3; no experimento de primavera/verão; e N mineral (N-NO3- + N-NH4+) = 24,62, 15,04 e 13,12 kg/ha, nas camadas de 0-20, 2040 e 40-60 cm, respectivamente; P = 86 mg/dm3; K+ = 85 mg/dm3; Ca2+ = 0,9 cmolc/dm3; Mg2+ = 0,0 cmolc/dm3; Al3+ = 0,3 cmolc/dm3; H + Al = 3,3 cmolc/dm3 e pH = 5,8; no experimento de outono/primavera; e a seguinte granulometria (fração textural): argila = 50 e 51%, silte = 16 e 12% e areia=34 e 37%, nos experimentos de primavera/verão e outono/primavera, respectivamente. Nos dois experimentos, os tratamentos foram constituídos de cinco doses de nitrogênio (0, 110, 220, 440 e 880 kg/ha), em presença ou não de adubação orgânica. A fonte desse nutriente foi o nitrocálcio. Os dois níveis de matéria orgânica foram 0 e 8 t/ha de esterco bovino curtido, em base seca. Os tratamentos foram distribuídos no delineamento em blocos ao acaso, com quatro repetições, perfazendo 40 parcelas. As plantas de tomateiro cv. Santa Clara foram conduzidas no espaçamento de 1,0 m entre fileiras e 0,5 m entre plantas, no total de 28 plantas por parcela (4 fileiras com 7 plantas cada), sendo consideradas úteis as 10 plantas centrais da parcela. As doses de N foram parceladas da seguinte maneira: 10% no momento do transplante, nos sulcos, e 15% aos 21, 35, 49, 63, 77 e 91 dias após o transplante (DAT), em cobertura, ao lado das plantas, em meia-lua. Nos dois experimentos, o tomateiro foi conduzido em haste única, com tutoramento em cerca cruzada, tendo sido podado três folhas acima da sexta inflorescência. As irrigações por sulco foram realizadas quando necessárias, em complementação ao volume de água precipitado pelas chuvas. Os frutos foram colhidos quando a coloração estava avermelhada, no experimento de primavera-verão e cor-decana, no experimento de inverno/ primavera devido ao ataque de pardais. Nos dois experimentos, os frutos sem defeitos foram classificados de acordo com o diâmetro transversal (D) em Graúdo AAA (D = 80,7), Graúdo AA (69,7 = D < 80,7), Graúdo A (60,0 = D < 69,7), Médio extra (54,8 = D < 60,0), Médio especial (50,0 = D < 54,8), Pequeno (40,0 = D < 50,0) e Refugo (D < 40,0). Foi considerada como produção de frutos extra, o somatório dos pesos dos frutos das quatro primeiras classes e como produção comercial o somatório dos pesos dos frutos das seis primeiras classes. A produção não-comercial de frutos correspondeu ao somatório dos pesos dos frutos com diâmetro < 40 mm (refugo) e dos frutos desqualificados devido a ocorrência de podridão apical, broca, rachaduras, Alternaria solani e outras anomalias. A produção total foi obtida pelo somatório das produções comercial e não-comercial. Calculou-se também a produção ponderada ou equivalente dos frutos extra AA (PEAA), utilizando-se os fatores de ponderação de 1,000; 0,625 e 0,375, baseando-se nos preços das classes extra AA (US$ 4,37/cx), extra A (US$ 2,73/cx) e extra (US$ 1,64/cx) do tomate tipo Santa Cruz, comercializado em caixa tipo K, obtidos no mês de junho de 2000 junto a CEASA de Belo Horizonte (Ceasa, 2000). Após a última colheita, em ambos os experimentos, as plantas úteis de cada parcela foram coletadas, cortando-se os caules rentes ao solo, e colocadas em sacos individuais. Cada saco foi pesado para a determinação do peso de matéria fresca. Posteriormente, tomou-se, da área útil de cada parcela, uma planta ao acaso, a qual foi seca em estufa de circulação forçada de ar a 70°C, até peso constante, para determinação da percentagem de matéria seca. Esse valor foi utilizado no cálculo do peso de matéria Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo seca de todas as plantas remanescentes da área útil e, em seguida, calculou-se o peso médio de matéria seca de cada área útil. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e de regressão, sendo que foram ajustados relacionando-se as variáveis dependentes às doses de N aplicadas, em cada nível de matéria orgânica. Os modelos de regressão testados foram: lineares, quadráticos e raiz-quadráticos. Escolheu-se o modelo com base no significado biológico, na significância dos coeficientes de regressão até 10% de probabilidade, pelo teste t, e no maior coeficiente de determinação. A dose de N que proporcionou a máxima produção física equivalente a frutos extra AA (produção de máxima eficiência física = MEF) foi obtida igualando-se a primeira derivada da equação correspondente à produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) ao valor zero. A dose de N que proporcionou a máxima eficiência econômica (máximo retorno econômico = MEE) foi obtida igualando-se a primeira derivada da equação correspondente a PEAA a 0,005, correspondente a relação entre os preços do nitrogênio (US$ 0,92/kg) e do tomate extra AA (US$ 198,71/t) obtidos no mês de junho de 2000 junto a CEASA de Belo Horizonte (Ceasa, 2000). RESULTADOS E DISCUSSÃO Experimento de primavera-verão Produção de frutos A produção do tomateiro aumentou com a aplicação de N, nos dois níveis de matéria orgânica. Sem adubação orgânica, as máximas produções total, comercial e extra foram 44,78; 25,10 e 23,52 t/ha, obtidas com as doses 530,2; 464,2 e 434,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente. Com adição de matéria orgânica ao solo, tais produções foram 45,75; 25,87 e 24,54 t/ha, obtidas com as doses 574,2; 513,3 e 599,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente (Figura 1a). Tais produções máximas estão aquém daquelas encontradas em condições de campo por Silva et al. (1997), com a mesma cultivar utilizada no presente experimento (Santa Clara), e Guimarães (1998), com o tomate híbrido DéboraPlus, no mesmo local e época do presenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Produções total (PT), comercial (PC) e “extra” (PE) de frutos do tomateiro em função das doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos de primavera-verão (a) e de outono-primavera (b). Viçosa-MG, 1999. te experimento. Silva et al. (1997) encontraram o valor de 157,6 t/ha para a máxima produção comercial com a aplicação de 200 kg/ha de N. Já Guimarães (1998) encontrou os valores 62,9; 48,0 e 43,6 t/ha para as máximas produções total, comercial e extra, respectivamente, com a aplicação de 500 kg/ha de N. Os baixos valores das produções máximas foram em virtude, talvez, das condições climáticas reinantes nessa época do ano (altas temperaturas, umidade relativa do ar e precipitações). Já foi demonstrado, em várias espécies, incluindo o tomateiro, que as altas temperaturas interferem negativamente no desenvolvimento reprodutivo da planta. Em geral, temperaturas altas resultam em maior percentagem de abortos florais (Willits & Peet, 1998). Estudo desenvolvido por Moore & Thomas (1952) indicou que temperaturas máximas e mínimas acima de 32 e 21°C, respectivamente, proporcionam baixa frutificação no tomateiro devido aos efeitos diretos sobre o pólen e outros tecidos reprodutivos, aos baixos níveis de carboidratos e aos desbalanços hormonais. As doses de N responsáveis pela máxima produção total, nos dois níveis de matéria orgânica, foram superiores aos 200 kg/ha, que é a dose de N recomendada para o tomateiro estaqueado, no estado de Minas Gerais, em condições de campo, segundo a 4a e a 5a aproximações (Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1989; Filgueira et al., 1999), e aos 280-380 kg/ ha de N, doses recomendadas para o tomateiro estaqueado no estado de São Paulo, em condições de campo (Instituto Agronômico e Fundação IAC, 1996). Os elevados valores indicam baixa eficiência no uso do nitrogênio pelo tomateiro nesta época do ano, considerada pouco propícia ao desenvolvimento da cultura no campo. Possivelmente, as altas precipitações ocorridas durante o desenvolvimento do tomateiro contribuíram substancialmente para a lixiviação do N-NO3- aplicado e, conseqüentemente, para diminuição na eficiência do uso do fertilizante nitrogenado utilizado na adubação, conforme também constatado por Karaman et al. (1999), trabalhando com tomateiro nas condições da Turquia. A produção equivalente a frutos extra AA ou ponderada possibilita melhor avaliação dos resultados, visto que fornece noção do seu possível valor econômico (Camargos, 1998). Tais produções de máxima eficiência física ficaram abaixo do valor encontrado por 473 M. M. M. Ferreira, et al. *, ** e *** Significativos a 5, 1 e 0,1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t. Figura 2. Produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) ou ponderada do tomateiro em função das doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos de primavera-verão (a) e de outono-primavera (b). Viçosa-MG, 1999. *, ** e *** Significativos a 5, 1 e 0,1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t. Figura 3. Matéria seca remanescente da parte aérea (MSPA) do tomateiro em função das doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos de primavera-verão (a) e de outono-inverno (b). Viçosa-MG, 1999. Guimarães (1998) para o híbrido de tomateiro Débora-Plus, o qual foi de 31,08 t/ha, o que se deveu a alta percentagem de frutos não comerciais constatada no experimento. Já as doses de N necessárias para a obtenção de tais produções ficaram acima da encontrada por Guimarães (1998), que foi de 500 kg/ha. Quando não se adicionou matéria orgânica ao solo, a produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) de máxima eficiência física foi de 15,20 t/ha, obtida com a dose 603,4 kg/ha de N (Figura 2a). A dose necessária para propiciar PEAA de máxima eficiência econômica foi 355,2 kg/ha de N, sendo esta produção igual a 14,70 t/ha. Com matéria orgânica adicionada ao solo, a PEAA de máxima eficiência física foi 15,98 t/ha, obtida com a dose 564,8 kg/ha de N. A dose necessária a PEAA de máxima eficiência econômica foi 310,2 kg/ha de N, sendo esta produção igual a 15,48 t/ha. Vê-se claramente que, nessa época do ano (primavera/verão), nos dois níveis de adubação orgânica, as doses de nitrogênio que causam produção máxima são bastante superiores àquelas do re474 torno econômico máximo, indicando não ser economicamente viável o uso de altas doses de fertilizantes nitrogenados. Nesta época, nas doses 0 e 8 t/ha de matéria orgânica, respectivamente, seria possível atingir 90% da PEAA máxima (13,68 e 14,38 t/ha) aplicando-se 250,3 e 192,0 kg/ha de N, ou seja, 33,3 e 28,9% da dose responsável pela PEAA máxima. Desta forma, para se obter produtividades entre 90 e 100% da PEAA máxima (de 13,68 a 15,20, sem adição de matéria orgânica, e de 14,38 a 15,98 t/ha, com adição) seriam necessárias doses de N variando entre 250,3 e 709,9 e entre 192,0 e 664,5 kg/ha. Isto é, houve a amplitude de apenas 1,52 e 1,60 t/ ha na PEAA proporcionada pela amplitude de 459,6 e 472,5 kg/ha de N, sem e com adição de matéria orgânica no solo, respectivamente. Matéria seca remanescente da parte aérea A matéria seca da parte aérea, remanescente após a última colheita de frutos, aumentou com as doses de N, atin- gindo os valores máximos de 2118,4 e 2325,6 g/parcela (1513,1 e 1661,1 kg/ ha) com as doses 814,6 e 722,6 kg/ha de N, sem e com adição de matéria orgânica ao solo, respectivamente (Figura 3a). As doses de N para a máxima produção total de frutos (Figura 1a) foram inferiores àquelas para a máxima produção de matéria seca (Figura 3a), indicando que o fornecimento de doses muito elevadas de N não causou aumento na produtividade de frutos, apenas na produção de matéria seca da parte aérea. Normalmente, os crescimentos vegetativo e reprodutivo ocorrem simultaneamente, não competindo entre si por nutrientes ou fotoassimilados porque os frutos, para crescerem, utilizam os fatores de crescimento que estão sendo absorvidos ou produzidos no momento da sua formação. Além disto, em condições normais, o potencial fotossintético das folhas de tomateiro parece exceder o requerimento dos órgãos de crescimento e, desta forma, as folhas, geralmente, continuam a crescer mesmo quando os frutos estão em crescimento (Tanaka et al., 1974a), sendo que a taxa fotossintética aparente correlaciona-se positivamente com os teores de nitrogênio do solo (Tanaka et al., 1974c). É importante ressaltar que nesta época, devido às condições climáticas, houve uma maior incidência de doenças. Assim, ao final do curto ciclo, as plantas estavam com péssima aparência, com intensos sintomas de doenças nas folhas e, muitas delas, caídas ao chão. Deste modo, não foi possível serem colhidas todas e avaliadas quanto à matéria seca remanescente da parte aérea após a última colheita dos frutos. Experimento de Outono-primavera Produção de frutos A produtividade do tomateiro aumentou com a aplicação de N, nos dois níveis de matéria orgânica testados, concordando com os resultados obtidos por Sainju et al. (2000). Na ausência da adubação orgânica, as máximas produções total, comercial e extra foram: 99,37; 78,87 e 69,93 t/ha, obtidas com as doses de 525,4; 533,9 e 557,5 kg/ha de N, respectivamente. Com adição de matéria orgânica ao solo, tais produções foram 108,74; 87,08 e 78,09 t/ha, obtidas com as doses 589,6; 575,3 e 557,4 kg/ Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo ha de N, respectivamente (Figura 1b). As produções máximas estão acima do dobro das de primavera-verão. Isso ocorreu em virtude das condições climáticas na época de outono-primavera serem mais propícias à produção do tomateiro. Os rendimentos obtidos ficaram acima daqueles encontrados por Sampaio (1996) no mesmo local e época do presente experimento, os quais foram 53,9 e 38,8 t/ha para as produções total e comercial da cultivar Santa Clara, respectivamente, e por Valenzuela & Erquiaga (1997) em cultivo comercial de tomateiro na Argentina, o qual foi de 70,5 t/ha. Fayad (1998), trabalhando no mesmo local e na mesma época do presente experimento, encontrou valores de 94,8 e 88,6 t/ha para as produções total e comercial, respectivamente, com a cultivar Santa Clara. Tais valores estão próximos dos constatados no presente experimento. Já Loures et al. (1998), trabalhando esta cultivar em condições de estufa, encontrou um valor de 162 t/ha para a produção comercial, ou seja, bem acima dos observados na presente pesquisa. Segundo Ali et al. (1996), as condições climáticas, especialmente a temperatura, exercem papel fundamental no crescimento e na produtividade do tomateiro. A temperatura influencia a viscosidade da água dentro da planta, a permeabilidade das membranas, a atividade metabólica, a absorção, a translocação e a assimilação de nutrientes e a força dos drenos no tomateiro. Todos esses fatores influenciam de maneira significativa as produções desta cultura. As doses de N responsáveis pela máxima produção total, nos dois níveis de matéria orgânica, foram superiores à dose de N recomendada para o tomateiro estaqueado no estado de Minas Gerais pela 4ª aproximação (Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1989), e também pela 5ª aproximação (Filgueira et al., 1999). Seria possível obter 90% da PEAA máxima (38,03 e 42,77 t/ha) aplicandose 256,3 e 258,1 kg/ha de N, ou seja, 43,8 e 45,2% da dose responsável pela PEAA máxima, nas doses 0 e 8 t/ha de matéria orgânica, respectivamente. Desta forma, para se obter produtividades entre 90 e 100% da PEAA máxima (de Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 38,03 a 42,26, sem adição de matéria orgânica, e de 42,77 a 47,52 t/ha, com adição) seriam necessárias doses de N variando entre 256,3 e 584,8 e entre 258,1 e 571,1 kg/ha de N. Isto é, as amplitudes de 4,23 e 4,75 t/ha na PEAA corresponderiam às amplitudes de 328,5 e 313,0 kg/ha de N, sem e com adição de matéria orgânica ao solo, respectivamente. As produções equivalentes a frutos extra AA (PEAA) ou ponderadas físicas máximas, constatadas nesta época, foram aparentemente superiores às do experimento de primavera/verão, porém as doses de N necessárias para atingirem tais produções foram semelhantes nos dois experimentos. Quando não se adicionou matéria orgânica ao solo, a produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) de máxima eficiência física foi 42,26 t/ha, obtida com a dose 584,8 kg/ha de N (Figura 2b). A dose para a PEAA de máxima eficiência econômica, 42,12 t/ha, foi 525,8 kg/ha de N. Com matéria orgânica adicionada ao solo, a PEAA de máxima eficiência física foi 47,52 t/ha, com a dose 571,1 kg/ha de N. A dose para a PEAA de máxima eficiência econômica, 47,41 t/ha, foi 523,4 kg/ha de N. Isto é, sem e com matéria orgânica, as doses de nitrogênio para a máxima produção econômica foram 90 e 92% daquelas para a máxima produção física. Matéria seca remanescente da parte aérea A matéria seca da parte aérea, remanescente após a última colheita de frutos, aumentou linearmente com as doses de N, sem e com adição de matéria orgânica ao solo (Figura 3b). O aumento contínuo na produção de matéria seca da parte aérea (Figura 3b) não foi acompanhado pelo aumento na produção total de frutos (Figura 1b), indicando que o fornecimento de doses muito elevadas de N não causou aumento na produtividade, apenas na biomassa verde. Os valores encontrados na matéria seca remanescente da parte aérea no presente experimento (Figura 3b), em todos os tratamentos, foram, aparentemente, superiores àqueles do experimento de primavera-verão (Figura 3a). Segundo Sam & Iglesias (1993), o desenvolvimento do tomateiro tem requerimen- to específico de temperatura e umidade. Também, as condições climáticas do período de outono-primavera desfavoreceram a incidência de doenças. Assim, após a última colheita dos frutos, ao contrário do que ocorreu no experimento de primavera-verão, as plantas apresentaram bom aspecto visual, com poucos sinais de doenças nas folhas e reduzida abcisão das mesmas. A adição de matéria orgânica ao solo aumenta a dose do adubo nitrogenado necessária à obtenção das máximas produções total, comercial e extra de frutos de tomate, independente da época de plantio. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem aos funcionários da Horta do Fundão da Universidade Federal de Viçosa que viabilizaram a execução dos experimentos de campo. LITERATURA CITADA ALI, I.A., KAFKAFI, U., YAMAGUCHI, I., SUGIMOTO, Y., INAGA, S. Effects of low root temperature on sap flow rate, soluble carbohydrates, nitrate contents and on cytokinin and gibberellin levels in root xylem exudate of sand-grown tomato. Journal of Plant Nutrition, v.19, n.3&4, p.619-634, 1996. ATIYEH, R.M., ARACON, N., EDWARDS, C.A., METZGER, J.D. Influence of earthwormprocessed pig manure on the growth and yield of greenhouse tomatoes. Bioresource Technology, v.75, n.3, p.175-180, 2000. CAMARGOS, M.I. de. Produção e qualidade de tomate longa vida em estufa, em função do espaçamento e do número de cachos por planta. 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Postal 237, 18603-970 Botucatu–SP; 3UNESP, Depto. Botânica, C. Postal 510, 18618-000 Botucatu–SP RESUMO ABSTRACT Compararam-se os efeitos da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela em pé franco e enxertado. Conduziu-se um ensaio em ambiente protegido, na FCA/UNESP, em estrutura simples, tipo arco com 7 m de largura, 40 m de comprimento e 3 m de pé direito, cobertos por filme plástico de 100 mm. Foram utilizados os híbridos de berinjela Nápoli e Kokuyo, enxertados em porta-enxerto específico (híbrido Taibyo VF) para esta espécie. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (Nápoli pé franco, Nápoli enxertada, Kokuyo pé franco e Kokuyo enxertada) e dez repetições. A assimilação líquida de CO2 (A), transpiração (E), condutância estomática (gs) e eficiência no uso de água (EUA), obtida pela relação (A/E), foram determinadas às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00 horas em um dia sem nebulosidade com fluxo de fótons fotossinteticamente ativos (FFFA) de 937±126 mmol m-2 s-1, com um sistema fechado portátil de fotossíntese, IRGA, modelo LI-6200 (LI-COR). Observou-se que as plantas do híbrido Kokuyo apresentaram maiores valores para as variáveis A, E, gs e EUA que o híbrido Nápoli. A enxertia não afetou a capacidade fotossintética dos híbridos, porém, esta resultou em menores valores de E e gs nos dois híbridos, levando à maior EUA, efeito este que na prática pode resultar em menor demanda de água pelas plantas. Grafting effect on leaf gas exchange rates of two eggplant hybrids cultivated in greenhouse Palavras-chave: Solanum melongena L., fotossíntese, transpiração, híbridos. Leaf gas exchange rates of grafted and non-grafted eggplant hybrids were compared under greenhouse conditions. The experiment was conducted in a plastic house (7m in width, 40 m in length and 3 m in height), covered with 100 mm plastic film. Hybrids Napoli and Kokuyo were grafted on the Taibyo VF hybrid, a specific rootstock for eggplant grafting. The experimental design was a completely randomized design with four treatments (non-grafted Napoli hybrid; grafted Napoli hybrid; non-grafted Kokuyo hybrid and grafted Kokuyo hybrid) and ten replications. Net CO2 assimilation (A) and transpiration (E) rates, stomatal conductance (gs) and water use efficiency (EUA) were measured at 09:00; 12:00; 14:00 and 16:00 h on a non-cloudy day with photosynthetic active radiation (PAR) of 937±126 mmol m-2 s-1, with a close photosynthesis system, IRGA, LI-6200 (LI-COR). Results showed that Kokuyo hybrid presented greater A, E, gs and EUA when compared to Napoli hybrid. None of the hybrid’s photosynthetic capacities were affected by the grafting, but the same caused lower E and gs on both hybrids, leading to greater EUA, which in practice may result in less water demand. Keywords: Solanum melongena L., photosynthesis, transpiration, hybrid. (Recebido para publicação em 06 de fevereiro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003) A produção em ambiente protegido apresenta-se como alternativa para o produtor, em uma economia competitiva, uma vez que permite redução de perdas e aumento da produtividade de diversas culturas. Entretanto vários são os casos de insucesso, levando muitos agricultores a abandonarem a atividade após algum tempo. Desde o início do cultivo protegido no Brasil, as hortaliças mais utilizadas são o pimentão, alface, tomate e pepino. Entretanto, nos últimos anos, algumas culturas vêm ganhando destaque. Dentre estas a berinjela (Solanum melongena L.), cultura pouco estudada sob plasticultura, vem despertando interesse por suas propriedades nutracêuticas, existindo evidências de sua ação na redução do colesterol Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. no organismo humano (Santos et al., 2000). O uso intensivo do solo, seu manejo inadequado e a utilização inadequada de adubos, vêm resultando em solos com sérios problemas fitossanitários nutricionais. Uma das alternativas para solucionar estes problemas é a possibilidade de enxertia em porta-enxertos resistentes ou tolerantes. Segundo Kobori (1999) esta prática vem sendo utilizada em pimentão para obtenção de frutos de melhor qualidade, maior produtividade e adaptação a temperaturas adversas, além do controle de doenças de solo. A enxertia em berinjela vem ganhando destaque nos últimos anos, principalmente nos países asiáticos e europeus. Oda (1995) relatou que, em campo aberto, 43% das berinjelas são enxertadas e 95% no cultivo protegido, totalizando cerca de 50% da berinjela plantada no Japão. Oda (1995), trabalhando com o porta-enxerto híbrido Taibyo VF para a berinjela, enumera as suas principais vantagens: controle de murcha-bacteriana (Ralstonia solanacearum), murcha-deverticílio (Verticillium dahliae), murchade-fusário (Fusarium oxysporum), tolerância às baixas temperaturas, nematóides e aumento do vigor da planta. Ohara et al. (1990) e Shishido et al. (1995), relataram as vantagens do portaenxerto híbrido Taibyo VF (Solanum integrifolium x Solanum melongena), conseguindo resistência à murcha-deverticílio e murcha-de-fusário, tolerância 477 J. U. T Brandão Filho, et al. a temperaturas baixas e grande vigor. A produtividade é influenciada por características morfológicas e fisiológicas da fonte (órgãos fotossintetizantes) e do dreno (órgãos consumidores dos metabólitos fotossintetizados, carboidratos principalmente). Toda produção de fitomassa depende da atividade fotossintética da fonte, porém a assimilação do CO2 é apenas um dos muitos fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento vegetal (Foyer & Galtier, 1996). Desta forma, buscar mais informações sobre a fisiologia da fonte torna-se de fundamental importância, e uma forma muito utilizada para estudála é por meio de medidas de trocas gasosas. Kim & Hori (1989), estudando a capacidade fotossintética das folhas de berinjela, mostraram valores máximos em torno de 22 mmol CO2 m-2 s-1 e que as taxas fotossintéticas dependiam da idade das folhas e correlacionavam diretamente com o teor de clorofila das mesmas. Estes valores são considerados altos, levando em consideração que a berinjela é uma planta de ciclo C 3 (Pimentel et al., 1995). Ikeda (1981) verificou que a taxa fotossintética de mudas de berinjela, tomate e pepino, também variava de acordo com o posicionamento da folha. Deve-se destacar que, em estudos visando ganhos em produtividade, é importante buscar informações sobre assimilação de CO2, bem como sobre a eficiência do uso da água para esta assimilação. Pouco se tem estudado sobre trocas gasosas para esta cultura, principalmente relacionado à enxertia. Neste contexto, o presente trabalho objetivou comparar os efeitos da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela, em pé franco e enxertadas, cultivadas em ambiente protegido. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em ambiente protegido, em módulo de estrutura simples, tipo arco com 7 m de largura, 40 m de comprimento (280 m2) e 3 m de pé direito, cobertos por filme de polietileno de baixa densidade de 100 mm, na FCA/UNESP, campus de Botucatu. A área experimental está em 478 altitude média de 750 metros, precipitação e temperatura média anual de 1530 mm e 21°C, respectivamente, com um latossolo vermelho amarelo fase arenosa, textura média e relevo suave ondulado. O solo foi preparo com implemento “picão canteirador 1.5 MAFES” que permitiu incorporação uniforme da vegetação e movimentação do solo a aproximadamente 50 cm de profundidade, em 02/08/99. Os resultados da análise química do solo revelaram na Estrutura 1: 6,4pHCaCl2; 13 g dm-3 matéria orgânica, 120 mg dm-3 de P; 1,1mmolcdm-3 de K; 52mmolcdm-3 de Ca; 11mmolcdm-3 de Mg; e 11mmolcdm-3 de H + Al e V% de 86. Na Estrutura 2: 6,6 pHCaCl2; 10 g dm3 matéria orgânica, 62 mg dm-3 de P; 0,8 mmolcdm-3 de K; 35 mmolcdm-3 de Ca; 12 mmolcdm-3 de Mg; e 10 mmolcdm-3 de H + Al e V% de 82. Com base nesta análise, foram aplicadas na área total da estufa: 5,0 kg de sulfato de amônio; 25,0 kg de superfosfato simples; 15,0 kg de cloreto de potássio; 0,7 kg de sulfato de zinco; 0,35 kg de bórax e o composto orgânico Biomix na base de 1,5 kg m-2, sendo em seguida incorporados ao solo. Utilizou-se no ensaio dois híbridos de berinjela: a brasileira ‘Nápoli’ (Agroflora/Sakata) e a japonesa ‘Kokuyo’ (Sumitomo Corporation do Brasil), enxertados e em pé franco, totalizando-se quatro tratamentos. O porta-enxerto utilizado foi o híbrido Taibyo VF, que apresenta resistência à murcha-de-verticílio e murcha-defusário, vigor e alta tolerância a baixas temperaturas. As mudas foram produzidas em viveiro, em bandejas de poliestireno expandido de 128 células, com o substrato produzido no local: 150 L de terra peneirada, 50 L de húmus, 50 L de casca de arroz carbonizada, 50 L de esterco de curral e 1,5 kg de adubo 04-14-08. Semeou-se o porta-enxerto em 24/07/99 e quatro dias após, foram semeados os dois híbridos comerciais. A escolha da técnica de enxertia foi baseada no melhor pegamento e na praticidade do método de enxertia de topo (Shishido et al., 1995), sendo esta realizada quando o porta-enxerto apresentava de 5 a 6 folhas totalmente expandidas e as plantas de berinjela com 4 a 5 folhas, em 04/11/99. Os porta-enxertos foram transplantados para copos de 300 mL e após o pegamento, fez-se um corte longitudinal de aproximadamente 1,0 cm na haste do porta-enxerto. Em seguida realizou-se um corte em forma de cunha no enxerto, deixandose 2 a 3 folhas definitivas. Estes foram fixados com clipe para enxertia, e levados para uma câmara úmida, com umidade superior a 90% e temperatura média de aproximadamente 30oC, permanecendo neste ambiente por 13 dias. Após esse período, ficaram por mais 12 dias no viveiro de produção de mudas para aclimatação. Dentro do ambiente protegido, foram feitas 4 leiras espaçadas de 1,5 m, cobertas com filme de polietileno preto com 30 micra, no espaçamento de 0,8 m entre plantas, onde foi feito o transplante das mudas. Utilizou-se sistema de irrigação por gotejo (StreamLine 8 mil/Netafin, 1,49 L/h/03 mca), com duas linhas por canteiro. Devido às boas condições de desenvolvimento da cultura realizou-se apenas adubação potássica de cobertura, a partir do 73º dia após o transplante, sendo esta realizada juntamente com a água de irrigação. Os fertilizantes foram colocados no sistema de irrigação por meio de uma bomba injetora proporcional de fertilizantes (modelo DP 30-2 DOSMATIC). Os tratamentos fitossanitários foram realizados de acordo com a ocorrência de pragas e/ou doenças. As principais pragas observadas foram a mosca-branca (Bemisia argentifolii) e o ácaro-dobronzeamento (Aculops lycopersici). As determinações de trocas gasosas foram realizadas com um sistema fechado portátil de fotossíntese, IRGA, modelo LI-6200 (LI-COR), sempre na região mediana de folhas novas, completamente expandidas, totalmente expostas à radiação solar, quando as plantas de berinjela se apresentavam em floração plena em um dia com ausência de nebulosidade. Determinações de assimilação líquida de CO 2 (A), condutância estomática (g s) e transpiração (E), foram feitas às 11:00 h para comparação dos híbridos em pé franco e enxertados e um acompanhamento das trocas gasosas no decorrer do Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Influência da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela cultivados em ambiente protegido dia, às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00 h, para as plantas em pé franco. Da relação entre a quantidade de CO2 assimilado por unidade de água perdida por transpiração obteve-se a eficiência do uso de água (EUA). Durante as medidas, o fluxo de fótons fotossinteticamente ativos no interior do ambiente protegido foi de 1032±87; 1193±119, 992±209 e 529±90, às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00 h, respectivamente. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Utilizou-se também análise de regressão para o ajuste dos dados de trocas gasosas durante o dia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em determinações realizadas às 11:00 h da manhã, as plantas do híbrido Kokuyo apresentaram maior assimilação líquida de CO 2 quando comparadas ao híbrido Napoli, porém, a enxertia não teve influência na capacidade fotossintética de nenhum dos híbridos. (Figura 1). A enxertia levou à menor condutância estomática (Figura 1b) e transpiração (Figura 1c) nas folhas das plantas enxertadas, sendo este efeito estatisticamente significativo. Porém, a capacidade fotossintética das plantas não foi significativamente reduzida (Figura 1a). Esta resposta resultou em maior eficiência no uso de água das plantas enxertadas, quando comparadas aos seus respectivos pés francos, para os dois híbridos em questão (Figura 1d). Segundo relatos de Wofe (1994) o aumento da eficiência do uso de água por unidade de área foliar, em função de uma queda de condutância estomática, se deve ao fluxo de vapor d’água proveniente da folha ser relativamente mais sensível que a atividade fotossintética a um fechamento parcial dos estômatos. As causas desta resposta são discutíveis, podendo-se levantar a hipótese de efeitos do porta-enxerto ou da zona de ligação entre porta-enxerto e copa, reduzindo a condutividade hidráulica da planta, já que respostas estomáticas à produção de ácido abscísico (ABA) possivelmente são descartados, pois estas são associadas a estresses por falta d’água e salinidade. De qualquer modo, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. (a) Assimilação líquida de CO2 (A), (b) Condutância estomática (g s), (c) Transpiração (E) e (d) Eficiência no uso de água (EUA) de dois híbridos de berinjela (Nápoli e Kokuyo) em pé franco e enxertados sobre porta-enxerto Taibyo VF (plantas em floração plena) (*/Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Barras verticais representam o desvio padrão da média de 10 repetições). Botucatu, UNESP, 2000. Figura 2. (a) Assimilação líquida de CO2 (A), (b) condutância estomática (gs), (c) Transpiração (E) e (d) Eficiência no uso de água (EUA) de dois híbridos de berinjela (Nápoli e Kokuyo) em resposta a diferentes horários do dia, em ambiente protegido (plantas em floração plena) (*/Cada ponto corresponde à média de 10 repetições. Significativo a 1% de probabilidade pelo teste T de Student). Botucatu, UNESP, 2000. vale ressaltar que esta resposta mostrase positiva, pois poderiam resultar em maior economia de água pela planta. Portanto, estudos futuros que elucidem o efeito da enxertia na condutividade hidráulica e/ou comportamento estomático das plantas enxertadas tornam-se importantes. 479 J. U. T Brandão Filho, et al. Quando foi determinado o acompanhamento das trocas gasosas durante o dia, para os dois híbridos de berinjela em pé franco, como apresentado na Figura 2, notou-se maior atividade fotossintética e condutância estomática do híbrido Kokuyo, durante todo o período de avaliação. Para a transpiração das folhas, diferenças são verificadas somente no período da manhã, quando são comparados os dois híbridos de berinjela. Os valores de assimilação líquida de CO2 encontrados neste estudo estão de acordo com os valores máximos determinados por Kim & Hori (1989). Estes autores ainda comentaram que a taxa fotossintética se correlacionou diretamente com o teor de clorofila das folhas, o que poderia ser um dos fatores que levaram à superioridade em taxa fotossintética do híbrido Kokuyo, pois este apresentava folhas com verde mais intenso. Estes valores são considerados altos para uma planta C3, conforme discutido por Pimentel et al. (1995). A partir das 9:00 h, a assimilação líquida de CO2 já apresentava valores máximos para os dois híbridos, com queda a partir das 12 h, período em que normalmente verificam-se maiores temperaturas e menor umidade relativa do ar. Estes fatores resultaram em queda gradativa e linear da eficiência no uso de água para os dois híbridos no decorrer do dia. Apesar desta queda, o híbrido Kokuyo manteve maior eficiência no uso de água durante todo o período de 480 determinação, quando comparado ao híbrido Nápoli. Estes resultados provavelmente são devidos a um maior controle estomático observado nas horas mais quentes e secas do dia, com menores perdas de água por transpiração. Os valores encontrados para a eficiência do uso da água em todas as avaliações realizadas estão de acordo com os valores normalmente encontrados para plantas do ciclo C3, ou seja, de 1 a 3 g de CO2 fixado kg-1 de água transpirada, segundo Nobel (1991), citado por Pimentel (1998). Pode-se concluir que o híbrido de berinjela Kokuyo apresenta maiores taxas de assimilação de CO2 quando comparado ao híbrido Nápoli, podendo ser esta uma característica importante na determinação de seu potencial produtivo. A técnica de enxertia utilizada neste ensaio resultou em maior eficiência no uso de água para os dois híbridos em questão, devido à redução da condutância estomática, observada nas folhas das plantas enxertadas. Estudos futuros, relacionando características fisiológicas e anatômicas, serão importantes para elucidar as causas desta resposta estomática em função da técnica de enxertia utilizada. LITERATURA CITADA IKEDA, K. Effect of light intensity on the photosynthesis of vegetable crops at the seedling stage. 1. Measurement of photosynthesis and effect of leaf position and growth stage on photosynthetic rate. Journal of Agricultural Science, v. 23, n. 2, p. 118-128, 1981. KIM, J.H.; HORI, Y. Studies on growth and photosynthetic capacity of aubergine (Solanum melongena) leaves. Journal of the Japanese Society for Horticultural Science, v. 54, n. 3, p. 371-378, 1989. KOBORI, R.F. Controle da Murcha de Fitóftora (Phytophthora capsici) em pimentão (Capsicum annuum L.) através da enxertia. 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RESUMO ABSTRACT Comparou-se o rendimento de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três soluções nutritivas, no interior de um túnel alto de polietileno, na UFSM, RS. A semeadura foi feita em 19/07/01 em bandejas de poliestireno e 32 dias depois as mudas foram transferidas para sacolas de polietileno contendo 4,5 L de substrato comercial, no espaçamento de 1,0 m entre fileiras e 0,30 m entre sacolas. Durante o ciclo da cultura, as plantas foram conduzidas verticalmente e dois frutos foram deixados em cada planta, removendo-se os frutos excedentes duas vezes por semana. Os tratamentos constituíram-se de três soluções nutritivas, empregadas no cultivo comercial do meloeiro. No tratamento 1 (T1) foi utilizada a solução recomendada no estado de São Paulo para o cultivo dessa espécie em NFT e nos tratamentos 2 (T2) e 3 (T3) utilizaram-se as soluções recomendadas para o cultivo da mesma espécie em substrato na França e na Espanha, respectivamente. Em cada tratamento aplicou-se o volume de 1 L de solução para cada planta, em intervalos semanais, via fertirrigação. A área foliar foi estimada semanalmente a partir de medidas não destrutivas no período entre os 35 e 63 dias após o plantio. A produtividade de frutos determinada ao final do experimento apresentou valores mais elevados nas plantas que receberam as soluções nutritivas T2 e T3, as quais não diferiram significativamente entre si. Fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under three nutrient solutions Palavras-chave: Cucumis melo, fertirrigação, cultivo fora do solo, área foliar. The fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under three nutrient solutions was obtained. The experiment was conducted in a polyethylene tunnel at the Universidade Federal de Santa Maria, Brazil. Sowing was done at 19th July 2001, in polystyrene trays, using a commercial substrate. At 32 days after sowing, each plant was transferred to a 4.5 L bag, placed inside the tunnel using 1.0 m between rows and 0.3 m within each bag row. During the growing period, plants were trained vertically and two fruits were kept to set in each plant. Exceeding fruits were picked out twice a week. Treatments consisted of three nutrient solutions, used in the commercial production of muskmelon crops. Treatment 1 (T1) was the nutrient solution recommended for growing this crop in NFT system in São Paulo State and treatments 2 (T2) and 3 (T3) were those used in substrate in France and in Spain, respectively. In all treatments, 1 L of nutrient solution was supplied weekly to each plant by fertigation. From 35 to 63 days after planting, plant leaf surface was determined weekly by non destructive measurements. Fruit yield, at the end of the experiment was significantly higher on plants supplied with T2 and T3 nutrient solutions when compared with T1 treatment. However, no significant difference was found between T2 and T3 treatments. Keywords: Cucumis melo, fertigation, soilless culture, leaf surface. (Recebido para publicação em 08 de fevereiro de 2002 e aceito em 19 de março de 2003) O meloeiro (Cucumis melo L.) é uma das cucurbitáceas mais exigentes quanto às condições de clima e solo para o crescimento e desenvolvimento da planta. São necessárias temperaturas do ar entre 20 e 30°C, do meio radicular superiores a 15°C e umidade relativa do ar entre 55 e 65%. O teor de nutrientes minerais disponíveis à planta deve ser elevado, com um correto balanceamento entre os mesmos. As necessidades de água são maiores nas fases iniciais de desenvolvimento da planta e o sistema radicular é altamente sensível à asfixia provocada por excesso de água (CTIFL, 1998; Brandão Filho & Vasconcellos, 1998; Ramos, 1999). No Brasil, a cul- tura do meloeiro se concentra em algumas regiões onde as condições ambientais são mais favoráveis, como o Rio Grande do Norte, São Paulo e Paraná (Brandão Filho & Vasconcellos, 1998). No extremo Sul do País, a produção dessa espécie é ainda pouco expressiva e ocorre em algumas microregiões, apenas nos meses mais quentes do ano. Uma das alternativas para o cultivo do meloeiro em regiões e/ou épocas do ano em que as variáveis do ambiente aéreo e radicular são pouco favoráveis ao crescimento da planta é o emprego do cultivo protegido e fora do solo. No Brasil, podem ser encontradas na lite- ratura informações para o cultivo dessa espécie em hidroponia usando o sistema NFT (Castellane & Araújo, 1994). Entretanto, uma das dificuldades associadas com essa técnica é o controle da temperatura do meio radicular, a qual tende a se manter em valores próximos da temperatura do ar. Enquanto o crescimento da parte aérea das plantas e, principalmente a qualidade dos frutos, respondem favoravelmente às temperaturas elevadas entre 25 e 30°C (FAO, 1990), o mesmo não ocorre com a absorção de água e nutrientes, a qual passa a decrescer quando os valores ultrapassam o limite entre 20 e 22°C (Cornillon, 1987; FAO, 1990). Esse ¹ Bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo a Pesquisa do RS, no ano de 2001. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 481 J. L. Andriolo, et al. decréscimo ocorre também em condições de baixas temperaturas, quando os valores atingem limites inferiores a 15°C (CTIFL, 1998). Nessas condições, o cultivo em substrato é mais adequado, devido a maior inércia térmica do meio radicular quando comparado com o NFT (Marfà & Guri, 1999). Resultados recentes de pesquisas feitas no Brasil para avaliar o cultivo do meloeiro em substrato empregando a mesma solução nutritiva recomendada para o cultivo em NFT, mostraram queda no rendimento e na qualidade dos frutos (Villela et al., 2001). A composição da solução nutritiva a ser empregada no cultivo em substrato deve ser determinada em função da concentração de absorção dos nutrientes pela planta e das interações entre os íons que a compõem (Cañadas, 1999; Lopez, 1998; Lopez & Alonso, 1998; Alpi & Tognoni, 1999). Essas interações podem ocorrer tanto entre os diferentes íons, como entre os íons e as partículas do substrato, implicando antagonismos e/ou imobilizações de nutrientes. No caso do meloeiro, essas interações repercutem tanto sobre o rendimento como a qualidade dos frutos, especialmente as relações entre o N, o Ca e o K (CTIFL, 1998). Existe, portanto, a necessidade de determinar critérios específicos para o manejo da nutrição mineral do meloeiro cultivado em substrato. O presente trabalho teve como objetivo comparar o crescimento foliar e o rendimento de frutos de meloeiro cultivado em substrato, empregando duas soluções recomendadas para o cultivo em substrato, respectivamente na França (T2) e na Espanha (T3), e como testemunha a solução nutritiva atualmente recomendada para o cultivo em NFT no Brasil (T1). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no Depto. de Fitotecnia da UFSM (latitude 29°43’S, longitude 53°42W e altitude 95 m), no interior de um túnel alto de 180 m 2 , coberto com filme de polietileno transparente de 10-6 m de espessura. Foi empregado o híbrido Hales Best Jumbo, de cultivo tradicional na região. A semeadura foi feita em 19/07/ 01, em bandejas de poliestireno com 128 células, empregando substrato comercial. Aos 32 dias após a semeadura, as 482 mudas com quatro folhas definitivas foram transferidas para sacolas de polietileno contendo 4,5 L de substrato comercial orgânico (Plantmax®), com apenas uma planta por sacola (3,3 plantas m-2). As sacolas foram dispostas no interior do túnel em fileiras, no espaçamento de 1 m entre fileiras e 0,30 m entre sacolas, e perfuradas na base de forma a assegurar a livre drenagem dos volumes de água excedentes à capacidade de retenção de água do substrato. Sobre as sacolas foi instalado um tubo gotejador para o fornecimento de água e nutrientes, ajustando-se um gotejador no centro de cada sacola. O conjunto formado pelas sacolas e o tubo gotejador foi coberto com filme de polietileno opaco de cor preta, para reduzir a evaporação superficial e evitar a incidência direta dos raios solares sobre as sacolas. As plantas foram conduzidas verticalmente com uma haste, por meio de fitas plásticas. O desbaste foi feita deixando-se dois frutos por planta, localizados entre o 130 e 170 entrenó. Todas as demais ramificações laterais foram eliminadas. O túnel foi ventilado nos dias ensolarados, por meio do soerguimento das extremidades laterais do filme de polietileno em até 1 m de altura, entre as 9 e 18:00 h, aproximadamente. Do plantio até o final da colheita dos frutos, os nutrientes foram fornecidos às plantas uma vez por semana, por meio da fertirrigação. Os tratamentos foram constituídos por três soluções nutritivas. A testemunha (T1) foi a solução nutritiva recomendada por Castellane & Araújo (1994) para o cultivo do meloeiro em NFT (Tabela 1). Os tratamentos T2 e T3, pelas soluções nutritivas recomendadas para o cultivo dessa espécie em substrato na França (CTIFL, 1998) e na Espanha (Ramos, 1999), respectivamente. O ferro foi fornecido na forma quelatizada (5% de Fe), na proporção de 0,13 mL L -1 , e os demais micronutrientes através de 0,7 mL L-1 da solução padrão de micronutrientes proposta por Jeannequin (1987), descrita por Andriolo (1999). Foi fornecido o volume de 1 L de solução nutritiva por planta, em doses semanais, até o final do experimento. No período entre duas fertirrigações sucessivas, somente água foi fornecida diariamente às plantas. A freqüência das irrigações foi ajustada de acordo com a demanda evaporativa da atmosfera. Em cada irrigação, o fluxo de água foi interrompido logo aos primeiros sinais de escorrimento na parte inferior das sacolas, de forma a reduzir ao máximo as perdas de nutrientes por lixiviação. A concentração da solução nutritiva em torno das raízes foi monitorada diariamente medindo-se a condutividade elétrica (EC) da solução drenada, em cada um dos tratamentos. Para efetuar essa medida, foi instalado um coletor de volume drenado contendo cinco plantas, no interior de uma parcela, em cada um dos tratamentos. O delineamento experimental empregado foi o inteiramente casualizado, com três repetições e 20 plantas por parcela. Cada um dos tratamentos foi aplicado a uma fileira inteira de plantas, mantendo-se as duas fileiras laterais extremas do túnel como bordaduras. A área foliar das plantas foi determinada aos 35; 43; 50; 57 e 63 DAP, quando foi feito o desponte. Em cada tratamento, foram selecionadas três plantas, sobre as quais foram efetuadas medidas não destrutivas de comprimento (C) e largura (L) de cada uma das folhas existentes (comprimento >2 cm). Semanalmente foi coletada um planta adicional em cada uma das fileiras bordaduras. Logo após a coleta, as folhas foram removidas, a área foliar determinada pelo método não destrutivo (C ´ L) e 50 discos (0,5052 cm2 de área) foram coletados de cada folha. As folhas e os discos coletados foram submetidos à secagem em estufa de circulação de ar forçado, na temperatura de 60°C, durante uma semana, para determinação da massa seca. Uma relação foi estabelecida entre a massa seca e a área dos discos, a qual foi empregada para estimar a área foliar a partir da massa seca de folhas de cada planta. Ao final do experimento, uma segunda relação foi ajustada entre a área foliar estimada pelos dois métodos (AF = 0,99 (C ´ L) – 249,8, R2 = 0,99), a qual foi empregada para converter os resultados das medidas não destrutivas feitas nas plantas de cada tratamento, em valores equivalentes àqueles obtidos pelo método dos discos. Os frutos foram colhidos ao apresentarem sinais de rachadura em torno do pedúnculo (CTIFL, 1998) e pesados. Em cada coleta, as médias de área foliar Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produtividade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três soluções nutritivas foram submetidas ao teste t de Student, para determinar a significância das diferenças entre os tratamentos. Os resultados referentes à massa média dos frutos e produtividade de frutos foram submetidos à análise da variância e a significância das diferenças entre as médias dos tratamentos determinada pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios semanais da EC da solução drenada foram menores em T1, seguidos por T2 e T3 (Figura 1). Os valores mais baixos foram observados ao final do experimento, nos três tratamentos, atribuídos à forte lixiviação decorrente da elevada freqüência das irrigações nesse período, que se caracterizou por altos valores de radiação solar incidente e temperatura do ar. Os valores médios da EC durante todo o período experimental foram de 1,7; 2,2 e 2,9 dS m-1, respectivamente para T1, T2 e T3. O crescimento da área foliar da cultura foi menor nas plantas que receberam a solução T1, com diferenças significativas a partir dos 43 DAP (P <0,5), até o final do experimento (Figura 2). Não foram constatadas diferenças significativas para essa variável entre T2 e T3. Situação semelhante foi observada com relação à massa média e rendimento de frutos (Tabela 2). Os valores mais elevados foram observados nas plantas que receberam a solução T3, que não diferiram de T2. As plantas que receberam a solução T1 apresentaram valores 19,1% inferiores para essas duas variáveis. Os valores máximos de EC da solução drenada apontados como limitantes em culturas de meloeiro em substrato situam-se em torno de 5,0 dS m-1 (Perez & Lopez, 1998). Os valores máximos observados nas três soluções nutritivas comparadas no atual experimento situaram-se sempre abaixo desse limite, tendo sido por isso reduzidos os riscos de toxidez por salinidade associada à solução nutritiva. Por outro lado, o valor médio de EC de 1,7 dS m-1 da solução T1 mostrou-se limitante ao crescimento da planta e produtividade da cultura, confirmando os resultados de Amor et al. (2001), que apontam o valor de 2,0 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Evolução da condutividade elétrica da solução drenada durante o experimento, pelas três soluções nutritivas comparadas. Santa Maria, UFSM, 2001. Figura 2. Evolução do índice de área foliar (IAF) de plantas de meloeiro cultivadas em substrato com três soluções nutritivas. Santa Maria, UFSM, 2001. dS m-1 como limite inferior da EC no cultivo dessa espécie em substrato. Tanto a massa média como a produtividade de frutos de meloeiro dependem diretamente do crescimento da área foliar da planta, que deve preceder o crescimento dos frutos (CTIFL, 1998; Valantin, 1998). A acumulação e a partição da massa seca entre os órgãos vegetativos e os frutos de plantas de hortaliças cultivadas em substrato são influenciadas pela quantidade e pela proporção entre os nutrientes fornecidos pela solução nutritiva (Cortéz, 1999). Esse princípio foi confirmado pelos atuais resultados. A concentração de íons macronutrientes fornecidos pelas três soluções empregadas, em mmol L-1, foi de 24,78; 23,88 e 29,41, respectivamente em T1, T2 e T3. Isso significa que as plantas cultivadas com a solução T2 receberam uma quantidade de nutrientes 3,6% inferior àquelas cultivadas com a solução T1. Porém, mesmo recebendo através da solução T2 uma menor quantidade semanal de nutrientes, essas plantas atingiram uma produtividade de frutos 19,9% superior àquelas de T1. Isso 483 J. L. Andriolo, et al. Tabela 1. Composição das soluções nutritivas fornecidas às plantas de meloeiro cultivadas em substrato, pelos tratamentos T1, T2 e T3. Santa Maria, UFSM, 2001. Tabela 2. Massa média do fruto e rendimento de frutos de melão cultivado em substrato com três soluções nutritivas. Santa Maria, UFSM, 2001. */Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. pode ser atribuído à maior proporção dos íons K+, Ca++ e Mg++ na composição da solução T2. Essas observações sugerem que os resultados obtidos por Villela et al. (2001) em NFT se devem provavelmente aos baixos teores de cátions da solução nutritiva empregada naquele experimento. A qualidade dos frutos de melão é favorecida por condições de disponibilidade hídrica controlada nas fases finais do seu crescimento e maturação. Uma das formas de restringir a absorção de água pela planta é a elevação da concentração salina em torno das raízes. Por esse motivo, são recomendados valores de EC mais elevados nessas fases, próximos ao limite superior de 5,0 dS m-1 (Ramos, 1999). No atual experimento, os valores de EC nos três tratamentos mostraram decréscimo do início para o final do experimento, indicando que o manejo da freqüência das fertirrigações e/ou da concentração da solução nutritiva nesses períodos deve ser melhor ajustado à demanda hídrica da cultura, para não influenciar negativamente a qualidade dos frutos. Os resultados obtidos indicaram que a solução nutritiva T1 é menos adequada que as soluções T2 e T3, para o cultivo do meloeiro em substrato empregando materiais orgânicos com características semelhantes àquelas do atual experimento. 484 Embora a produtividade de frutos não tenha diferido significativamente entre as plantas que receberam essas duas últimas soluções nutritivas, não podem ser descartadas possíveis influências da composição da solução nutritiva e/ou da condutividade elétrica sobre características visuais e/ou qualitativas dos frutos. Por esse motivo, a opção por uma ou outra dessas duas soluções deve ser fundamentada por critérios econômicos, levando-se em conta a relação custo/benefício. LITERATURA CITADA ALPI, A.; TOGNONI, F. Cultivo en invernadero. Madrid: Mundi-Prensa, 3 ed. 1999. 347 p. AMOR, F.M.; FLORES, P.; CARVAJAL, M.; MARTÍNEZ, J.M.; NAVARRO, J.M.; CERDÁ, A. Yield responses of soilless melon and tomato to different irrigation water qualities. Acta Horticulturae, v. 559, p. 333-338, 2001. ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria, Editora da UFSM, 1999. 142 p. BRANDÃO FILHO, J.U.T.; VASCONCELLOS, M.A.S. A cultura do meloeiro. In: GOTO, R.; TIVELLI, S.W. (eds.). Produção de hortaliças em ambiente protegido: condições subtropicais. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. p. 161-193. CAÑADAS, J.J.M. Sistemas de cultivo en substrato: a solución perdida y com recirculación del lixiviado. In: MILAGROS, M.F.; GÓMEZ, I.M.C. (ed.). Cultivos sin suelo II. Curso Superior de Especialización. 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Solos, BR 465, km 7, 28851-000 Seropédica-RJ; E-mail:[email protected] RESUMO ABSTRACT A produção de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) vem aumentando marcadamente em algumas regiões do Brasil, com uma crescente demanda nos grandes centros consumidores. O desenvolvimento e produção desta espécie no estado do Rio de Janeiro foi avaliado, em condições de campo, em um experimento com três níveis de nitrogênio, fósforo e potássio em esquema fatorial, num delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. Foram realizadas amostragens, da planta inteira, da parte aérea, do propágulo e da raiz, em quatro épocas ao longo do ciclo da cultura. O maior acúmulo da massa seca na parte aérea ocorreu aos 180 dias e, em relação ao propágulo e às raízes, aos 300 dias depois do transplante. Não foram observadas respostas significativas na produtividade de raízes comercializáveis às doses aplicadas de fósforo e potássio e a maior produtividade foi alcançada com a dose de 60 kg.ha-1 de N. Production of arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) in increasing levels of nutrients Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, nutrição, fertilizante, nitrogênio, fósforo, potássio. Keywords: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, plant nutrition, fertilizing, nitrogen, phosphorus, potassium. Arracacha production has been markedly increasing in some regions of Brazil, with a crescent demand in the most important consuming centers. A field experiment was conducted with the objective of evaluating the development of this species in the State of Rio de Janeiro. Three levels of N, P and K were tested in a completely randomized blocks design with four repetitions in a factorial scheme. Shoot, corm and root samples were collected four times along the plant cycle. The highest shoot dry weight accumulation was recorded at 180 days, for corm and roots at 300 days after planting. No Significative effects of phosphorus and potassium levels were observed and the highest production was reached with the level of 60 kg.ha-1 of N. (Aceito para publicação em 25 de abril de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003) P ara alcançar maior produtividade na cultura de mandioquinha-salsa é necessário avaliar o comportamento em diversos ambientes e regiões de produção. Apesar da cultura ter sido introduzida no País há um século na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, não existem referências ou relatos de experimentos conduzidos na região. O clima de altitude e de temperaturas amenas favorece a produção desta hortaliça, de origem andina, em Nova Friburgo-RJ, que é o principal município produtor no Rio de Janeiro. O consumo de “batata baroa”, como é mais conhecida no Estado, vem despertando interesse, mas a produção está estagnada em pequenas propriedades (com menos de 1 ha) e com produtividade abaixo da média nacional (9,2 t.ha1 ) (Reghin et al., 2000). Além de não utilizar as técnicas mais recentes de propagação como o pré-enraizamento de mudas, os produtores necessitam de dados técnicos sobre a nutrição e fertilização da cultura na região. Em experimento realizado em Piedade-SP, em solo do tipo massapê, SilHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. va et al. (1966) observaram efeito altamente significativo e linear do fósforo e efeito quadrático e negativo do potássio. Para nitrogênio, o efeito foi linear e negativo, contudo os autores atribuíram que as baixas produtividades foram devido à seca no período da condução do experimento. Segundo Silva & Santos (1998), a falta de irrigação é o fator que mais tem contribuído para as baixas produtividades nas lavouras. Câmara et al. (1985), estudando a época de plantio e amassamento de pecíolos na mandioquinha-salsa, verificaram que tratamentos que promovam aumento na produção de raízes, também promovem acréscimos na produção de coroas e da parte aérea, considerando que houve correlação linear e positiva entre produção de raízes comerciais e produção de coroas (r = 0,77; p = 0,01) e entre produção de raízes comerciais e peso da parte aérea (r = 0,46; p = 0,01). Num experimento realizado em condições de campo, em Latossolo Vermelho amarelo distrófico (LVd), argiloso, Mesquita Filho et al. (1996) observaram que não houve resposta à adubação nitrogenada na produção de raízes comercializáveis e verificaram efeito quadrático significativo para o fósforo, quando utilizaram quatro níveis de uréia e quatro níveis de superfosfato triplo. Del Valle Junior et al. (1995), trabalhando com onze combinações de nutrientes com N, P, K e Mg, em solo denominado Ultissol, observaram que a produção mais econômica foi obtida com a dose de 135 kg.ha1 de N, quando se mantinham os demais nutrientes em níveis fixos. Tratamentos com diferentes níveis de P e níveis fixos para os outros nutrientes não diferiram significativamente. A mesma falta de resposta foi observada para K e Mg. Vieira (1995), trabalhando em solo sob cerrado, observou que houve um aumento crescente na produtividade de raízes comerciais à medida que aumentaram as doses na combinação de fósforo e resíduo orgânico. A utilização de resíduos orgânicos é recomendada pela melhoria nas condições químicas e físicas dos solos além de promover o incremento da atividade biológica, contribuindo para o aumento da disponibilidade de vários nutrientes, entre eles o fósforo e o nitrogênio. 485 A. Portz, et al. Figura 1. Acúmulo de massa seca da planta total (MSTO), massa seca da parte aérea (MSPA), massa seca de propágulo (MSPR) e massa seca de raiz (MSR) de todos os tratamentos nas quatro épocas de coleta da cultura de mandioquinha-salsa. Nova Friburgo, UFRRJ, 2000. Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento e as possibilidades de aumentar a produtividade da mandioquinha-salsa no Estado do Rio de Janeiro, aplicaram-se doses crescentes de N, P e K determinando-se a produção de raízes comercializáveis aos 300 dias do plantio das mudas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em Friburgo, com altitude aproximada de 1.000 m, precipitação pluviométrica média de 1.200 mm anuais e temperatura média anual de 20oC. O solo classificado como Nitossolo, situa-se em meia encosta suave com 12% de declividade e na camada de 0-20 cm de profundidade, antes do início da instalação do experimento, possuía as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5) = 6,0; Al+3 = 0,3 cmolc.kg-1; H + Al = 18,3 cmolc.kg-1; Mg+2 = 0,9 cmolc.kg-1; Ca+2 = 1,8 cmolc.kg-1; Na+ = 0,08 cmolc.kg-1; P = 11 mg.kg-3; K= 148 mg.kg-3; %C = 1,3; Fe = 162 mg.dm-3; Cu = 0,8 mg.dm3 ; Zn = 66,0 mg.dm-3 e Mn = 11,5 mg.dm3 . Foi realizada uma calagem com 700 kg.ha-1 de calcário dolomítico, aplicando-se metade do corretivo antes da aração e metade antes da gradagem, conforme recomendação de aplicação do Manual de Adubação do Estado do Rio de Janeiro (De Polli & Almeida, 1988). As mudas de mandioquinha-salsa, var. Amarela de Carandaí, normalmen486 te cultivada na região, foram provenientes do mesmo local do experimento. Os rebentos para a formação das mudas foram selecionados de touceiras adultas que já haviam terminado o ciclo vegetativo, de onde foram destacados e cortados em bisel, padronizando-se assim o tamanho das mudas. Estas foram plantadas em canteiros de préenraizamento, onde permaneceram até os 60 dias e então levadas para o local do experimento e plantadas no local definitivo. Neste período foi mantida a umidade do solo (aproximadamente ¾ da capacidade de campo) sem qualquer aplicação de defensivo agrícola ou fertilizante químico. As doses de N (0; 60 e 120 kg.ha-1), P2O5 (0; 150 e 300 kg.ha-1) e K2O (0; 80 e 160 kg.ha-1), usando como fontes uréia, superfosfato simples e cloreto de potássio, foram acompanhadas de 15 kg.ha-1 de bórax (10% de B), 5 kg.ha-1 de sulfato de zinco (28% de Zn) e 5 Mg.ha-1 de esterco de curral curtido. Os fertilizantes, assim como o esterco, foram distribuídos nas leiras e incorporados manualmente ao solo na profundidade de 010 cm. A adubação nitrogenada foi parcelada, sendo metade aplicada no plantio das mudas e outra metade, em cobertura 60 dias após o plantio. Utilizouse de sistema de irrigação por aspersão, onde se irrigou sempre que necessário, a fim de manter a umidade do solo próxima da capacidade de campo. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições e 27 tratamentos (fatorial 3x3x3), com parcelas de 2,8 x 4,0 m e 40 plantas por parcela com espaçamento de 0,7 x 0,4 m. Foram descartadas as linhas externas de plantas (efeito bordadura), permanecendo 18 plantas na área útil de cada parcela. Efetuou-se quatro capinas manuais e adicionou-se uma cobertura morta (palhada de capim) para auxiliar no controle de plantas invasoras e a manutenção da umidade. Foram realizadas quatro coletas de material vegetal durante o ciclo (90; 150; 210 e 300 dias após o transplante), amostrando-se quatro plantas por parcela e separando-se em planta inteira, parte aérea, propágulo (coroa e rebentos) e raízes, nas quais avaliou-se o acúmulo de massa seca. Na última coleta avaliou-se a produtividade de raízes comercializáveis, considerando-se raízes comercializáveis aquelas cujo tamanho era maior ou igual a 8 cm de comprimento e diâmetro médio maior ou igual a 3 cm. A avaliação dos dados foi efetuada pelo teste F de Fisher e procedeu-se à comparação das médias pelo teste Duncan. Quando os dados não se acharam em homocedasticia (teste Cochran & Bartellet), foram transformados em log x. As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico Saeg. RESULTADO E DISCUSSÃO O maior acúmulo de matéria seca na parte aérea ocorreu aos 180 dias após o plantio das mudas, com um decréscimo sucessivo até a colheita, o que indica o início da senescência da planta (Figura 1). O propágulo e as raízes apresentaram um crescimento vigoroso após a segunda coleta (150 dias), mostrando um grande acúmulo de reservas nestes dois órgãos da planta, conforme já mencionado por outros autores (Lima et al., 1985; Mesquita Filho & Souza, 1996; Ortiz et al., 1998). Quanto aos órgãos raízes e propágulos, estes são responsáveis pela nova brotação da planta no seu segundo ciclo vegetativo (bianual) e servem como órgãos de reserva e propagação vegetativa, respectivamente. Houve grande translocação de fotoassimilados das folhas (fonte) para o propágulo e raízes (drenos) e aparenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Crescimento e produção de raízes comercializáveis de mandioquinha-salsa em resposta à aplicação de nutrientes Tabela 1. Médias de produção de raízes comercializáveis (kg.ha-1) em função das doses de nitrogênio, fósforo e potássio aplicadas, a um 1/ Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si a 1% pelo teste de Duncan. CV=35,94% temente não foi influenciada pelo início da senescência da parte aérea aos 180 dias de transplantio, havendo um acúmulo crescente nestes órgãos de reserva até o final do ciclo (300 dias). Também se observou que as raízes atuaram como drenos preferenciais dos fotoassimilados, com o maior acúmulo aos 300 dias. O clima tropical de altitude, particular à região serrana do Rio de Janeiro, semelhante à região Andina onde a espécie se originou, associado a práticas culturais mais recentes como o préenraizamento, a cobertura morta e a irrigação, juntamente com suprimento adequado de nutrientes, oferecem condições para se obter colheita mais precoce (menor que 12 meses de ciclo), com bons índices de produtividade. Isso permite para o produtor uma maior flexibilidade na época de colheita e comercialização, aumentando assim a oferta da mandioquinha no mercado regional com melhor distribuição do produto durante o ano. Desta maneira podese diminuir a escassez do produto na entressafra e evitar a grande oscilação do preço desta olerícola no mercado do Rio de Janeiro. Foi observada correlação positiva e significativa (r=0,45; p=0,01) entre a massa fresca da parte aérea e produção de raízes comercializáveis, confirmando os resultados de Câmara et al. (1985). Contudo afirmações de que tratamentos na cultura que melhorem o desenvolvimento da parte aérea possam, consequentemente, melhorar a produção de raízes, ainda é assunto de investigação e mais pesquisa. Tem como fato, a afirHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. mação de alguns produtores de que mudas maiores resultam em coroas maiores e parte aérea exuberante, mas nem sempre isto é acompanhado de maior produção de raízes. Na colheita, realizada aos 300 dias, não foi observada resposta significativa às doses de fósforo e potássio sobre a produtividade de raízes comercializáveis. Apesar de se observar uma tendência quadrática nas respostas de fósforo e potássio, a disponibilidade destes nutrientes no solo, somado à adição de matéria orgânica, podem ter mascarado uma melhor diferenciação das respostas destes nutrientes. Contudo seria recomendável aplicar uma dose intermediária de P2O5 (150 kg.ha-1) já que esta proporcionou produtividade 10% maior que a da testemunha, o que poderia ser vantajoso pelo alto valor comercial que alcançam as raízes no mercado. Para a aplicação de nitrogênio foi observada resposta significativa sendo a dose de 60 kg N.ha-1 superior à dose de 120 kg N.ha1 , mas não diferindo da testemunha (Tabela 1). Mesquita Filho et al. (1996) observaram efeito quadrático de P2O5 na produção de raízes comerciais e nenhuma resposta à adubação nitrogenada no cerrado em Latossolo com semelhantes características químicas ao Nitossolo utilizado neste experimento. No entanto, a diferença nas respostas se devem provavelmente ao tipo de argila no solo de cerrado que sendo de baixa atividade favorece a observação de carências nutricionais de fósforo e à diferença dos teores de matéria orgânica entre os solos no qual influenciam na disponibilidade de nitrogênio. Del Valle Junior et al. (1995) recomendam a aplicação de N para a produção de mandioquinha-salsa, sem comentarem o teor de matéria orgânica encontrado no solo e a disponibilidade de nitrogênio e de outros nutrientes para a planta no solo estudado. O manejo da matéria orgânica na cultura parece ser de fundamental importância para se alcançar boa produtividade, indicando o seu potencial para cultivo em sistema orgânico de produção. A produtividade deve ter sido influenciada pela adição de matéria orgânica, que disponibilizando nutrientes ao longo do ciclo da cultura, contribuiu para que não se observassem diferenças significativas referentes às aplicações de fósforo e potássio e para não se ter conseguido uma resposta definida às doses de nitrogênio aplicadas. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos colegas de graduação de Agronomia pela ajuda nos trabalhos de campo e laboratório, ao Departamento de Solos da UFRRJ pelas dependências e equipamentos utilizados e a FAPERJ pelo apoio financeiro e bolsa de estudos. LITERATURA CITADA CÂMARA, F.L..A.; CASALI, V.W.D.; THIÉBAUT, J.T.L.; MEDINA, P.V.L. Época de plantio, ciclo e amassamento dos pecíolos da mandioquinha-salsa. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 3, n. 2, p. 25-28, 1985. DEL VALLE JUNIOR, R.; ORTIZ, C.E.; SANTIAGO-CORDOVA, M.A. Fertilization of arracacha in na Ultisol. Rio Pedras, v. 79, n. 3-4, p. 183-185, 1995. Research Note. 487 A. Portz, et al. DE-POLLI, H.; ALMEIDA, D.L. Manual de adubação para o Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRRJ, 1988. 179 p. LIMA, L.A.; ZANIN, A.C.W.; MISCHAN, M.M. Acúmulo de matéria seca e de nutrientes por plantas de mandioquinha-salsa colhida dos nove aos doze meses de plantio. In: CONGRESO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 25., 1985, Blumenau. Resumos...: Brasília, Horticultura Brasileira, Brasília, 1985. p. 76. MESQUITA FILHO, M.V.; SOUZA, A.F. Acúmulo de matéria seca e de nutrientes na cultura de mandioquinha-salsa em solo de cerrado. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DE SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 22., 1996, Manaus. Resumos... Manaus: SBCS, 1996. p. 431-432. 488 MESQUITA FILHO M.V.; SOUZA, A.F.; SILVA, H.R.; SANTOS, F.F.; OLIVEIRA, S.A. Adubação nitrogenada e fosfatada para a produção comercializável de mandioquinha-salsa em Latossolo vermelho-amarelo. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 14, n. 2, p. 211-215, 1996. ORTIZ, C.A.; ORENGO-SANTIAGO, E.; ACÍN, N.M. 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Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução drenada. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 489-493, julho-setembro 2003. Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução nutritiva drenada Jerônimo L. Andriolo; Marcio Witter; Tiago Dal Ross; Rodrigo dos S. Godói UFSM-CCR, Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS; E-mail: [email protected]. RESUMO ABSTRACT Dois experimentos foram conduzidos em ambiente protegido no outono e na primavera de 2001, com semeaduras em 17 de fevereiro e 3 de julho. O transplante foi feito aos 41 (10 experimento) e 36 dias (20 experimento) após a semeadura, em sacolas de polietileno com 5,5 dm3 de substrato comercial, instaladas no interior de calhas, com 3,3 plantas m-2. Os tratamentos constituíram-se de três soluções nutritivas, contendo o tratamento T1, em mol L-1: 0,04 de KNO3; 0,027 de Ca(NO3)2; 0,012 de MgSO4, com adição de 1,5 g L-1 de superfosfato simples e solução de micronutientes. Em T1, forneceuse uma vez por semana o volume de 1 L de solução nutritiva por planta, totalizando 14,9 g L-1 de macronutrientes. Os tratamentos T2 e T3 consistiram na dose duplicada e triplicada T1, totalizando, respectivamente, 29,8 e 44,7 g L-1 de macronutrientes, fornecidos também uma vez por semana. Os volumes drenados em cada irrigação foram recolhidos e reutilizados nas fertirrigações seguintes, completando-se as quantidades de fertilizantes necessárias para atingir as doses de cada tratamento. Os valores médios de condutividade elétrica (CE) da solução drenada foram de 3,7; 6,8 e 8,9 dS m-1 no primeiro e de 3,3; 5,2 e 7,4 dS m-1 no segundo experimento, respectivamente em T1, T2 e T3. Entre os 40 e 82 dias após o transplante (DAT) no outono e os 37 e 79 DAT na primavera, foram feitas coletas de plantas para determinar o crescimento e o desenvolvimento. Na primavera, os frutos maduros nas plantas remanescentes foram colhidos e pesados para determinação da produtividade. Não foram observadas diferenças significativas no número de frutos entre os tratamentos. No outono, a massa seca total e vegetativa foi mais baixa no tratamento T3, enquanto a massa seca de frutos foi mais elevada nesse tratamento. Na primavera, as médias das duas primeiras variáveis foram mais baixas em T3, porém a massa seca de frutos não diferiu entre os tratamentos. A produtividade de frutos maduros decresceu com o aumento da CE. Concluiu-se que é possível reutilizar integralmente a solução nutritiva drenada no cultivo do tomateiro em substrato e que os efeitos negativos da CE elevada sobre a produtividade de frutos são observados somente com valores superiores a 4,9 dS m-1. Growth and development of tomato plants in substrate with re-use of drained nutrient solution Two experiments were carried out in a plastic greenhouse in autumn and spring 2001. Sowing dates were February 17th and July 3rd, respectively. At 41 (1st experiment) and 36 days (2nd experiment) after sowing, plantlets were transplanted to 5.5 dm3 bags placed inside gullies, using a commercial substrate, in a plant density of 3.3 plants m-2. Treatments consisted of three nutrient solutions. In T1 treatment, fertilizer concentrations were, in mol. L-1: KNO3, 0.04: Ca(NO3)2, 0.027; MgSO4, 0.012. Phosphorus (P) was added by 1.5 g L-1 of superphosphate (20% P2O5), and micronutrients by a commercial mixture. For T1 plants, 1 L of the above nutrient solution was supplied once a week, containing 14.9 g L-1 of macronutrients. For T2 and T3 treatments the amounts of nutrients from T1 were applied in duplicate and triplicate, resulting in a total of macronutrient of 29.8 and 44.7 g L-1, respectively, supplied once a week. Drained volumes from each irrigation were collected and re-used in the next fertigations, after correcting nutrient concentrations in order to reach the original threshold level previously fixed for each treatment. Average electrical conductivity (EC) values of drained nutrient solution were 3.7; 6.8 and 8,9 dS m-1 at the first and 3.3; 5.2 and 7.4 dS m-1 at the second experiment, respectively for T1, T2 and T3. From 40 to 82 days after planting date (DAP) in autumn and 37 to 79 DAP in spring, plants were periodically harvested to determine growth and development. In spring, ripe fruits on remaining plants were harvested and weighed to determine fruit yield. No significant differences were found for the number of fruits among treatments. In autumn, total and vegetative dry mass were lower on T3 plants, whereas fruit dry mass was higher. In spring, means of total and vegetative dry mass were lower on T3 plants, but fruit dry mass did not differs among treatments. Fruit yield decreased by effect of increasing values of EC. Based upon these results we concluded that it is possible to reuse drained nutrient solutions, when growing the tomato crop in substrates, and negative effects of salinity on fruit yield are observed only for EC values up to 4.9 dS m-1. Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, fertirrigação, cultivo sem solo, solução nutritiva. Keywords: Lycopersicon esculentum, fertigation, soilless culture, nutrient solution. (Recebido para publicação em 25 de abril de 2002 e aceito em 02 de junho de 2003) U ma das principais limitações ao cultivo de plantas fora do solo diz respeito ao destino das soluções nutritivas descartadas. Na maior parte dos casos essas soluções são eliminadas no ambiente, em quantidades que podem atingir 2.300 m3 ha-1 de água e 4.000 kg ha-1 de nutrientes, em culturas de hortaliças de ciclo longo como o tomateiro, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. o pepino e o meloeiro (Cortés, 1999). Faz-se necessário reduzir ao máximo essas quantidades, principalmente por razões de preservação ambiental, dentro do contexto atual em que se busca a sustentabilidade da produção agrícola a médio e longo prazo. No cultivo de hortaliças em substratos, a composição da solução nutritiva a ser empregada é determinada levando-se em conta a concentração de absorção dos nutrientes pela planta e as interações entre os íons que compõem a solução nutritiva (Cañadas, 1999; Lopez, 1998; Lopez & Alonso, 1998; Alpi & Tognoni, 1999). Disso resulta que uma parte dos nutrientes fornecidos não é absorvida pela planta, a qual é 489 J. L. Andriolo, et al. acrescentada a outros elementos químicos de pequena ou nula absorção que estão presentes na água de irrigação, provocando o aumento da condutividade elétrica (CE) em torno das raízes (Sonneveld & Welles, 1988). Um segundo fator que contribui para o aumento da concentração salina no interior do substrato é o fluxo de água da planta. Esse fluxo responde principalmente aos elementos do ambiente e ocorre de forma independente da absorção mineral. Quanto mais intenso o fluxo de água, mais alta a concentração salina da solução nutritiva contida no interior do substrato. Esses dois fenômenos servem de base para a prática da drenagem no cultivo de hortaliças em substrato, que deve ser ajustada de acordo com as condições ambientais a fim de manter a CE dentro dos limites adequados para cada cultura (Perez & Lopez, 1998). A reutilização da água e/ou solução nutritiva drenada nos cultivos em substrato pode implicar um aumento na CE da solução nutritiva fornecida. Entretanto, os valores de CE que podem ser atingidos em resposta às flutuações das variáveis do ambiente são difíceis de ser previstos. Níveis de salinidade no ambiente radicular superiores a 4,0 dS m-1 podem provocar redução do crescimento das plantas (Stanguellini et al., 1998; Li & Stanguellini, 2001; RomeroAranda et al., 2001), queda no rendimento de frutos (Van Ieperen, 1996; Bolarin et al., 2001) e distúrbios fisiológicos como a podridão apical dos frutos (Cuartero & Férnandez-Muñoz, 2001). Determinou-se o crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com valores elevados de CE da solução nutritiva e a inferência sobre a possibilidade de reutilização da solução drenada no decorrer do ciclo da cultura. MATERIAL E MÉTODOS Dois experimentos foram conduzidos na UFSM, Rio Grande do Sul (latitude 29°43' S, longitude 53°42' W e altitude 95 m), no interior de um túnel alto de polietileno de 180 m2. Foi empregado o híbrido plurilocular Monte Carlo, com semeaduras em 17 de fevereiro e 3 de julho de 2001, em bandejas de 490 poliestireno com 128 células, empregando substrato comercial. Aos 41 e 36 dias após a semeadura, respectivamente no outono e na primavera, as mudas com cinco folhas definitivas foram transferidas para sacolas de polietileno contendo 5,5 dm3 de substrato comercial orgânico (Plantmax®), com uma planta por sacola e densidade de 3,3 plantas m-2. As sacolas foram dispostas no interior do túnel em calhas com 2% de declividade, revestidas com polietileno de baixa densidade de 150 mm de espessura. O espaçamento empregado foi de 1 m entre calhas e 0,30 m entre sacolas, as quais foram perfuradas na base para permitir a drenagem dos volumes de água fornecidos pela irrigação e que excederam a capacidade máxima de retenção de água do substrato. Na extremidade inferior de cada calha foi instalado um reservatório de polietileno com capacidade de 20 L, destinado a recolher diariamente os volumes de solução nutritiva drenada. O volume recolhido foi armazenado em um segundo reservatório com capacidade de 100 L e posteriormente reutilizado na preparação da solução nutritiva. Sobre cada sacola foi instalado um tubo gotejador para o fornecimento de água e nutrientes, ajustando-se um gotejador no centro de cada sacola. As plantas foram conduzidas verticalmente com uma haste, através de fitas plásticas, e as ramificações axilares eliminadas uma vez por semana. O túnel foi ventilado nos dias ensolarados, através do soerguimento das extremidades laterais do filme de polietileno em até 1,20 m de altura, entre as 9 h e 18 h, aproximadamente. Do plantio até o final dos experimentos, os nutrientes foram fornecidos às plantas uma vez por semana, através da fertirrigação. Os tratamentos foram constituídos por três soluções nutritivas. Foi empregada como referência a solução nutritiva recomendada por Andriolo & Poerscke (1997), para o cultivo do tomateiro em substrato, com a composição, em mol L-1: 0,04 de KNO3; 0,027 de Ca(NO3)2; 0,012 de MgSO4. O fósforo foi fornecido através da dissolução de 1,5 g L-1 de superfosfato simples, eliminando-se as impurezas por decantação. O ferro foi fornecido na forma quelatizada, na proporção de 0,13 ml L- 1 (5% de Fe), e os demais micronutrientes através da solução proposta por Jeannequin (1987), citada por Andriolo (1999). Foi fornecido o volume de 1 L de solução nutritiva por planta, totalizando 14,9 g L -1 de macronutrientes, em doses semanais, até o final do experimento. O tratamento T1 foi constituído pela dose de referência e os tratamentos T2 e T3 foram obtidos a partir da dose de T1, multiplicada por dois e três, respectivamente, totalizando 29,8 e 44,7 g L-1 de macronutrientes. Em cada fertirrigação, a solução nutritiva a ser fornecida às plantas de cada tratamento foi preparada empregando-se a solução drenada estocada no respectivo reservatório. A CE dessa solução foi medida e a quantidade de nutrientes contida no volume de 1 L foi estimada pelo coeficiente 0,85 (Jeannequin, 1987). A quantidade de sais a adicionar foi obtida por diferença entre a quantidade total prevista originalmente para T1, T2 e T3 e aquela contida no volume de solução drenada a ser reutilizada. Essa quantidade foi dividida proporcionalmente entre os diferentes fertilizantes componentes da solução, de forma a preservar o equilíbrio eletroquímico existente na solução de referência. A irrigação foi feita sempre que necessária para repor os volumes de água perdidos pela transpiração, sendo suspensa aos primeiros sinais de escorrimento no fundo das sacolas. O delineamento experimental empregado foi de blocos casualizados, com quatro repetições e 20 plantas por parcela. Quatro plantas de cada tratamento foram coletadas aleatoriamente, uma em cada parcela, aos 40; 47; 54; 61; 68; 75 e 82 dias após o transplante (DAT) no outono e aos 37; 44; 51; 58; 65; 72 e 79 na primavera. Imediatamente após a coleta, os órgãos vegetativos (folhas, caule, pecíolos, inflorescências e pedúnculos) e os frutos foram separados. Para estimar a área foliar da cultura, foram extraídos 100 discos de superfície igual a 0,5 cm2 de área, de folhas representativas das diferentes partes do dossel vegetativo. O material vegetal foi submetido a secagem em estufa de circulação forçada, a temperatura de 60°C, até peso constante, para determinar a massa seca. Uma relação foi ajustada entre a massa e a área dos discos, que Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução drenada Tabela 1. Médias do número de folhas e frutos, índice de área foliar (IAF), massa seca vegetativa, de frutos e total nos experimentos 1 e 2. Santa Maria, UFSM, 2001. */ Valores seguidos pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade. foi empregada para estimar a área foliar a partir da massa seca de folhas. No experimento de primavera, os frutos maduros foram colhidos e pesados, para determinação da produtividade da cultura. A colheita iniciou aos 76 DAT e foi concluída aos 117 DAT, quando o experimento foi encerrado. As médias foram calculadas e submetidas a análise da variância, sendo a significância das diferenças testada pelo teste de Duncan, em nível de probabilidade de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios da CE durante o período de cada um dos experimentos, obtidos a partir das medidas diárias feitas na solução drenada de cada tratamento foram 3,7; 6,8 e 8,9 dS m-1 no experimento 1, e 3,2; 5,2 e 7,4 dS m-1 no experimento 2, para T1, T2 e T3, respectivamente. As variações entre os experimentos são atribuídas à maior freqüência das irrigações feitas na primavera, quando é mais elevada a demanda hídrica da cultura. Uma maior freqüência de irrigações resulta em maior perda de nutrientes por lixiviação na solução drenada entre fertirrigações consecutivas. O número de folhas por unidade de área de solo no outono mostrou valores inferiores nas plantas de T3, com diferenças significativas em relação a T2 e T1. Os valores máximos atingidos ao final do experimento foram de 85; 83 e 79 folhas m-2, respectivamente para T1, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. T2 e T3 (Tabela 1). Na primavera, os valores foram similares entre os tratamentos, sem diferenças significativas, e os valores máximos foram de 83; 85 e 78 folhas m-2, respectivamente para T1, T2 e T3, ao final do experimento. Quanto ao número de frutos, no outono as plantas de T2 evidenciaram valores inferiores aos outros dois tratamentos, embora sem diferenças significativas, totalizando ao final do experimento 43; 31 e 35 frutos m-2, respectivamente para T1, T2 e T3 (Tabela 1). Na primavera, as plantas de T2 apresentaram o valor mais elevado para essa variável ao final do experimento, de 58 frutos m-2, enquanto os valores em T1 e T2 foram de 46 e 48 frutos m-2, respectivamente, porém sem diferenças significativas (Tabela 1). A evolução do índice de área foliar da cultura foi similar àquela dos órgãos vegetativos, com valores mais baixos em T3, em ambos os experimentos (Figura 1ab). Ao final de cada período experimental, os valores estimados foram de 3,9; 3,9 e 3,3 m2 m-2, no outono e de 3,5; 3,8 e 2,8 m2 m-2 na primavera, respectivamente para T1, T2 e T3 (Tabela 1). A massa seca dos órgãos vegetativos apresentou valores similares nos três tratamentos até os 61 DAT no outono e os 51 DAT na primavera. Ao final do período experimental, os valores foram de 274,59; 283,07 e 209,71 g m-2, no outono e de 353,90; 375,99 e 308,19 g m-2, na primavera, respectivamente para T1, T2 e T3, diferindo significativamente de T1 e T2 (Tabela 1 Figura 2ab). Quanto a massa seca de frutos, no outono as plantas de T2 evidenciaram valores inferiores, porém as diferenças não foram significativas em relação a T1 (Figura 2c e Tabela 1). Na primavera, os valores foram similares entre os tratamentos, sem diferenças significativas em cada uma das coletas efetuadas (Figura 2d). Os valores máximos dessa variável ao final da cada experimento foram 83,88; 62,30 e 101,90 g m-2 no outono e 243,81; 247,01 e 259,95 g m-2 na primavera (Tabela 1). A produtividade de frutos maduros na primavera foi de 10,2; 11,1 e 8,6 kg m-2, respectivamente para T1, T2 e T3. Esses dados se ajustaram a um modelo quadrático: Y = -0,36x2+3,45x+2,95, R2=0,99, com valor máximo obtido para uma condutividade elétrica de 4,9 dS m-1. Tem sido demonstrado na literatura que a produtividade de frutos do tomateiro depende simultaneamente do número de frutos por planta e da fixação de assimilados para sustentar o crescimento desses frutos (Bertin, 1993, 1995; Heuvelink, 1996; Konning, 1994). Por sua vez, a fixação de assimilados depende do número de folhas até atingir o IAF ótimo necessário para maximizar a intercepção de radiação solar e a fotossíntese da cultura (Heuvelink, 1996, Challa & Baker, 1998). Resultados disponíveis na literatura mostraram que tanto o número de folhas como de 491 J. L. Andriolo, et al. Figura 1. Índice de área foliar (IAF) de plantas de tomateiro cultivadas em substrato com reutilização da solução drenada em três níveis de condutividade elétrica, no outono (a) e na primavera (b). Santa Maria, UFSM, 2001. Figura 2. Massa seca vegetativa (a,b) e de frutos (c,d) de plantas de tomateiro cultivadas em substrato com reutilização da solução drenada em três níveis de condutividade elétrica, no outono (a,c) e na primavera (b,d). Santa Maria, UFSM, 2001. frutos são reduzidos somente sob níveis de salinidade elevados, superiores a 9 dS m-1 (Van Ieperen 1996; Li & Stanghellini, 2001). Entretanto, esse efeito depende também do período de tempo durante o qual as plantas foram submetidas à salinidade. Nos resultados de Van Ieperen (1996) a redução ocorreu somente após 140 dias com CE de 9 dS m-1. Os dados 492 obtidos no atual experimento confirmam essas conclusões. Indicam ainda, que nas culturas em ambiente protegido de ciclo curto como aquelas praticadas no Sul do Brasil no outono e na primavera, é pouco provável que a elevação da CE pela reutilização da solução drenada venha a interferir no número de folhas e de frutos da cultura. Os resultados mostrados na literatura sugerem que o efeito mais pronunciado da salinidade do meio radicular ocorre sobre a expansão das folhas e o crescimento dos órgãos vegetativos, principalmente as folhas (van Ieperen, 1996; Stanguellini et al., 1998). Nos dois experimentos que foram realizados, esse efeito foi constatado somente nas plantas de T3, cujo valor médio da CE durante o período experimental foi de 8,86 dS m-1 no outono e 7,44 dS m-1 na primavera. No experimento de primavera, o IAF máximo das plantas de T3 ao final do experimento foi de 2,9 m2 m-2, abaixo do limite ótimo, que é da ordem de 3,5 m2 m-2 (Konning, 1994). É importante salientar que aos 79 DAT, quando a coleta de plantas para a determinação da massa seca e da área foliar foi encerrada, a colheita de frutos já havia sido iniciada na primeira inflorescência. Desse período em diante a área foliar da cultura foi mantida mais ou menos constante pela retirada das folhas basais, como recomendado na produção comercial dessa cultura (Nuez, 1995). É surpreendente, por isso, que uma redução de 26% no IAF não tenha afetado a acumulação de massa seca nos frutos, a qual não diferiu entre os três tratamentos. Esse resultado confirma as conclusões anteriores de Andriolo & Falcão (2000), os quais indicaram que uma parte da área foliar das plantas de tomateiro em ambiente protegido pode ser eliminada, sem diminuir a produção da massa seca de frutos da cultura. Apesar de a massa seca de frutos não ter sido influenciada pela CE, a produtividade de frutos foi reduzida em 22,7% quando a CE passou de 5,25 dS m-1 em T2, para 7,44 dS.m-1, em T3. Essa falta de sincronia entre a acumulação de massa fresca e seca tem sido atribuída à diminuição na absorção e acumulação de água nos frutos, especialmente na fase de expansão celular (Cuartero & Fernández-Muñoz, 1999; Bolarin et al., 2001). Esse efeito seria ainda mais pronunciado em materiais genéticos de frutos grandes, como aquele empregado nos atuais experimentos. Para minimizar esse efeito, o uso de materiais de frutos médios e/ou pequenos é recomendado. Essa prática permitiria associar produtividade e qualidade dos frutos, pois a Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução drenada salinidade aumenta a acidez e o teor de sólidos solúveis dos frutos, que são características qualitativas desejáveis em frutos de tomateiro (Cuartero & Fernández-Muñoz, 1999). Observando-se dados apresentados nesse trabalho, conclui-se que é possível reutilizar a solução nutritiva drenada no cultivo do tomateiro em substrato, segundo o procedimento adotado atualmente, que usa a fertirrigação a intervalos periódicos de tempo. No caso de essa prática implicar elevação da CE em torno das raízes, é pouco provável que efeitos negativos sobre a produtividade de frutos venham a ocorrer, desde que os valores não ultrapassem a 4,9 dS m-1. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a FAPERGS e ao Programa PIBIC-CNPq, pela concessão de Bolsas de Iniciação Científica aos acadêmicos de Agronomia Marcio Witter e Tiago Dal Ross, respectivamente, no ano de 2001. LITERATURA CITADA ALPI, A.; TOGNONI, F. Cultivo en invernadero. Madrid: Mundi-Prensa, 3 ed. 1999. 347 p. AMOR, F.M.; FLORES, P.; CARVAJAL, M.; MARTÍNEZ, J.M.; NAVARRO, J.M.; CERDÁ, A. Yield responses of soilless melon and tomato to different irrigation water qualities. Acta Horticulturae, n. 559, p. 333-338, 2001. 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Foram avaliados o tipo de preparo do solo (área total ou em faixas) e profundidade de preparo (20; 30; 40 e 50 cm), com parcelas divididas em com ou sem cobertura do solo. Os frutos foram classificados em tipo exportação, mercado interno e refugo para determinar peso de frutos de cada tipo, número total de frutos e seu peso médio. Foram determinados a firmeza de polpa, o teor de sólidos solúveis totais (SST), espessura da polpa e formato do fruto. A qualidade dos frutos de melão foi reduzida pela cobertura do solo apenas em termos de firmeza de polpa. O preparo do solo em faixas não influenciou as características estudadas. Maiores profundidades de preparo aumentaram a produção de frutos tipo exportação, entretanto diminuíram a produção para o mercado interno. Yield and quality of melon fruits in response to plastic mulch and soil tillage Palavras-chave: Cucumis melo L., mecanização agrícola, sólidos solúveis totais. Keywords: Cucumis melo L., agricultural mechanization, total soluble solids. The effect of black polyethylene mulch and soil tillage intensity was determined on yield and quality of drip irrigated melon. The field trial was carried out in Mossoró, Brazil. The experimental design was randomized complete block in a factorial scheme with three replications. Two soil tillage methods were evaluated (strip tillage or tillage of the entire area) and tillage depth (20; 30; 40 and 50 cm), with split plots with or without mulch. Fruits were classified in export type, internal market type and rejected, to determine total yield and the yield of each type, number of fruits and fruit mean weight. Pulp firmness, total soluble solids, pulp thickness and fruit shape were determined. Results showed decrease in pulp firmness with black plastic mulch. Strip tillage did not influence any studied characteristic. Yield of both export type and internal market melons was influenced by tillage depth. While deep tillage increased yield of export type melons, it reduced internal market yield. (Recebido para publicação em 08 de maio de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003) O melão produzido no Nordeste brasileiro é competitivo no mercado externo. Porém, esta competitividade pode ser melhorada se forem adotadas alternativas para diminuir custos de produção. Para tanto, o preparo do solo e a irrigação são componentes importantes. Operações de preparo são justificadas por retorno em produtividade maior que seu custo, ou melhoria nas condições físicas e biológicas do solo (Siemens et al., 1993), e pelo controle de plantas invasoras (Arndt & Rose, 1966). Porém, o solo muitas vezes é preparado excessivamente por agricultores que preferem usar práticas e equipamentos tradicionais a correr riscos. Existem alternativas ao preparo convencional que otimizam custos e eficiência, como operações combinadas, preparo em faixas e na profundidade necessária à produção, e variações em profundidade, largura preparada e intensidade de destorroamento, que simplificam, eliminam ou diminuem operações, 494 economizam combustíveis, equipamentos, mão-de-obra e tempo, mantendo a produtividade (Hillel, 1982; Hunt, 1995; McKibben & Whitaker, 1973; Unger & McCalla,1981). A economia de água, tempo, dinheiro e mão-de-obra justifica o preparo em faixas nos solos cultivados em linhas cuja compactação é definida e fácil de eliminar (Arndt & Rose, 1966; Oschwald, 1973). Pequenas variações na profundidade do preparo causam grandes variações no tempo e na quantidade de combustível gastos, no desgaste e danos aos tratores e implementos (Unger & McCalla, 1981). O preparo profundo (40-45 cm) chega a custar o dobro do médio (35 cm), quatro vezes mais que o normal (25 cm) e dez vezes mais que o raso (15 cm) (Hillel, 1982). Mesmo assim, a descompactação do solo e maior infiltração e armazenamento de água, devidos ao preparo profundo, podem aumentar a produtividade, principalmente em anos com deficiência hídrica (McKibben & Whitaker, 1973; Trouse Jr. & Humbert, 1959). A cobertura do solo (‘mulch’) com plástico na cultura do melão, comum em vários países, teve introdução recente na região produtora do Rio Grande do Norte. Esta prática visa aumentar a produção e qualidade dos frutos, antecipar a colheita, reduzir a infestação de pragas e das doenças por estas disseminadas, e melhorar o controle de plantas invasoras. Também reduz danos e doenças nos frutos, pois diminui seu contato com o solo. A maior temperatura e menor amplitude térmica no solo coberto pode aumentar a taxa de desenvolvimento das plantas e antecipar a colheita. Em regiões semi-áridas a economia de água por redução nas perdas por evaporação é importante benefício da cobertura do solo. As condições de temperatura e umidade criadas no solo proporcionam economia de fertilizantes pela maior disponibilidade de nutrientes. No caso Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo do nitrogênio, a cobertura favorece a nitrificação e reduz perdas por volatilização (Araújo, 2000; Ferreira, 2001; Ibarra et al., 2001). Algumas vantagens observadas em pesquisas com melão, atribuídas ao uso de cobertura do solo com plástico, relacionam-se com o desenvolvimento vegetativo, número total de frutos, número de frutos comerciais, peso médio de frutos, produtividade total e comercial e teor de sólidos solúveis totais, logo após a colheita de melão amarelo (Silva, 2002); firmeza de polpa (Araújo, 2000); matéria seca, área foliar e rendimento de frutos (Ibarra et al., 2001); produção de frutos comerciais (Ferreira, 2001) e teor de sólidos solúveis totais, peso de frutos, número de frutos por hectare e produtividade total de melão cantaloupe (Maiero et al., 1987). O objetivo desse trabalho foi determinar o efeito da cobertura do solo com plástico preto e o efeito da intensidade do preparo do solo sobre alguns componentes da produção e qualidade dos frutos de melão irrigado por gotejamento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implementado no município de Mossoró-RN, latitude 5°11’S, longitude 37°20’W e altitude de 18 m. O clima é muito quente, semi-árido, com chuvas predominando de fevereiro a maio. O solo da área é um LUVISSOLO CRÔMICO Pálico, profundo, poroso e bem drenado, com pH entre 7,1 e 7,3. Os teores médios de alguns elementos, na análise química do solo da camada entre 0 e 20 cm de profundidade, foram: Ca = 8,4 cmolc dm-3; Mg = 2,72 cmolc dm-3; K = 1,84 cmolc dm-3; Na = 0,18 cmolc dm-3; e P = 39 mg dm-3. As frações granulométricas do solo da camada entre 0 e 30 cm de profundidade foram: areia grossa = 370 g kg-1; areia fina = 190 g kg-1; silte = 120 g kg1 ; e argila = 320 g kg-1. A densidade do solo era de 1,58 Mg m-3 entre 0 e 15 cm de profundidade; 1,48 Mg m-3 entre 15 e 30 cm e 1,55 Mg m-3 entre 30 e 45 cm. No preparo da área usou-se grade média com 28 discos de 0,59 m de diâmetro; escarificador de arrasto com rodas limitadoras de profundidade e hasHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. tes com pontas retangulares de 0,08 m de largura; grade leve com 24 discos de 0,46 m de diâmetro; sulcamento; adubação no sulco (8 kg ha-1 de N e 42 kg ha-1 de P2O5); construção de camalhões e semeadura manual. O trator utilizado, com potência de 106,6 kW, possuía tração dianteira auxiliar e massa aproximada de 75500 N. O meloeiro amarelo, híbrido ‘Gold Mine’, foi semeado em 05/11/99 com espaçamento entre linhas de 2,0 m, com duas plantas a cada 0,45 m espaçadas de 0,15 m. A adubação foi feita via água de irrigação (68 kg ha-1 de N; 120 kg ha1 de P2O5 e 264 kg ha-1 de K2O). Os tratos culturais seguiram o sistema de produção da empresa. A colheita foi realizada nos dias 4, 11 e 17/01/00. Na irrigação foram usados gotejadores espaçados de 0,60 m com vazão média de 2,3 L h-1 à pressão de 100 kPa. A evapotranspiração de referência foi calculada pelo método de Penman-Monteith com dados da Estação Climatológica da ESAM, situada a 12 km do local do experimento, e os coeficientes de cultivo recomendados por Allen et al. (1998). A lâmina de irrigação, até os 60 dias, foi de 222 mm nas parcelas descobertas e 200 mm nas cobertas. Usou-se o delineamento experimental de blocos casualizados completos em esquema fatorial com parcela subdividida e três repetições. As parcelas receberam combinações dos fatores: tipo de preparo do solo (escarificação em área total ou faixas com 1,2 m de largura) e profundidades de escarificação (20; 30; 40 e 50 cm), e foram divididas em descobertas e cobertas com filme de polietileno preto. As parcelas constavam de três linhas de melão, tendo sido colhidos 10,2 m de comprimento da linha central. Os frutos foram classificados, por pessoa especializada, em tipo exportação, mercado interno e refugo, segundo critérios de tamanho, aspecto e injúrias mecânicas, da maneira como é feito na produção comercial de melão. Foram determinados: peso de frutos de cada tipo, número de frutos total e peso médio de frutos. Na primeira colheita tomaram-se quatro frutos por parcela para determinar: firmeza de polpa através da resistência à penetração usando penetrômetro com “plunger” de 8 mm de diâmetro; teor de sólidos solúveis totais (SST) usando refratômetro digital com compensação automática de temperatura; e espessura da polpa e formato (relação entre diâmetro longitudinal e transversal do fruto). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e à comparação de médias pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não se observou efeito significativo, pelo teste F a 5% de probabilidade, dos fatores estudados sobre a espessura da polpa, formato do fruto e teor de sólidos solúveis totais nem suas interações (Tabela 1). Quanto à firmeza de polpa, apenas o fator cobertura do solo revelou efeito significativo, tendo o seu uso diminuído a firmeza dos frutos. Isto pode ser devido à maior retenção de umidade no solo coberto, como observado por Ferreira (2001). Porém, contraria Araújo (2000) que também observou maior umidade no solo coberto com plástico preto e menor firmeza de polpa no solo descoberto, que foi atribuída ao estresse hídrico. Os frutos com maior firmeza são mais resistentes às injúrias mecânicas durante o transporte e comercialização (Grangeiro, 1997). Os teores de sólidos solúveis totais estão, no geral, aquém dos valores esperados para exportação. Isto se deve (Grangeiro, 1997), ao fato de o método de determinação de SST em laboratório exigir a homogeneização da polpa, resultando em valores duas a três unidades menores do que o método empregado pela maioria das empresas produtoras que empregam algumas gotas do suco extraído de uma fatia de melão. A qualidade dos frutos de melão não foi influenciada pelo preparo do solo, sendo recomendável, segundo Hillel (1982), simplificar e diminuir as operações de preparo. Dos componentes de produção de melão avaliados (Tabela 2) foi constatado que a produção de frutos do tipo refugo (PREF), o número total de frutos (NTOT) e o peso médio dos frutos (PMTOT) não foram influenciados pe495 N. O. Miranda, et al. Tabela 1. Valores médios de características de qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao tipo de preparo do solo. Mossoró, ESAM, 2000. 1 SST - sólidos solúveis totais. *Médias seguidas por letras iguais nas colunas não diferiram pelo teste F a 5% de probabilidade. Tabela 2. Médias de alguns componentes de produção do meloeiro em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo. Mossoró, ESAM, 2000. 1 PNAC – produção de frutos tipo mercado interno; PEXP – produção de frutos tipo exportação; PREF – produção de frutos refugo; PTOT – produção total de frutos; NTOT – número total de frutos; PMTOT – peso médio total de frutos. *Médias seguidas por letras maiúsculas iguais nas colunas não diferiram pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e letras minúsculas pelo teste F a 5% de probabilidade. los fatores estudados, como também observaram Araújo (2000) e Ferreira (2001) estudando apenas a cobertura do solo. A profundidade de escarificação e a interação entre tipo de preparo e profundidade influenciaram significativamente a produção de frutos para o mercado interno (PNAC). O desdobramento da interação, apresentado na Tabela 496 3, mostra que não houve diferença pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade entre as profundidades no preparo total, entretanto houve uma diminuição da PNAC à medida que aumentou a profundidade quando o preparo foi realizado em faixas. Este fato pode ser explicado pela concentração de água e nutrientes em um menor volume de solo quando o preparo é realizado em faixas e a pequenas profundidades, facilitando a exploração pelas raízes. Miranda et al. (2001), analisando os fatores de preparo do solo, obtiveram diminuição no consumo de combustível e tempo com a redução na largura da faixa preparada e na profundidade de escarificação. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo Apenas a profundidade de preparo influenciou a produção de frutos tipo exportação (PEXP), embora Araújo (2000) tenha observado menor produção do tipo exportação com o uso da cobertura com plástico. Na Tabela 2 se pode observar o aumento de PEXP com o aumento da profundidade de escarificação, comportamento inverso ao de PNAC. O coeficiente de variação elevado reflete a maneira subjetiva, e preferencial em relação aos outros tipos, como é feita a classificação do tipo exportação, que leva em conta menor tamanho de frutos, firmeza, coloração, formato e ausência de injúrias mecânicas. Pequenas profundidades de preparo parecem favorecer o acúmulo de umidade, o que foi comprovado por Araújo (2000) e Ferreira (2001), e de nutrientes como o nitrogênio, cujo excesso prejudica a qualidade e aparência dos frutos. As observações desses autores são reforçadas pelas tendências observadas, não significativas estatisticamente, de aumento de PNAC (14,85%) e diminuição de PEXP (20,71%) quando se usou cobertura plástica (Tabela 2), e pelos valores de PMTOT, cuja tendência foi apresentar frutos maiores no preparo em faixas, com cobertura e a menores profundidades. A produção total de frutos de melão (PTOT) foi influenciada apenas pela interação entre tipo de preparo e cobertura do solo, cujo desdobramento mostra que quando se preparou o solo em área total o uso de cobertura do solo com plástico preto não influenciou significativamente a produção total (29.384 kg ha-1 para sem cobertura e 28.483 kg ha1 para com cobertura). Mas, quando se preparou o solo em faixas, o uso da cobertura proporcionou uma produção total de 29.774 kg ha-1, contra 27.443 kg ha-1 para sem cobertura. Esta diferença foi significativa pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. A cobertura do solo parece causar maior concentração de umidade e nutrientes próximo às raízes, o que beneficia o preparo em faixas se as raízes estiverem restritas em sua capacidade de obtê-los. Ferreira (2001) obteve maior produção de frutos comerciáveis quando usou cobertura, sem influência sobre a produção total. A ausência de constatação de efeito dos fatores individuais sobre a produHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Tabela 3. Desdobramento da interação entre tipo de preparo e profundidade de preparo do solo para produção de frutos de melão tipo mercado interno (kg ha-1). Mossoró, ESAM, 2000. * Médias seguidas de letras iguais nas colunas não diferiram pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. ção total indica que o meloeiro se adaptou às condições adversas sem alterações significativas na sua capacidade de produção, mas com mudanças nas características de seus frutos. Neste experimento, a cobertura do solo com plástico preto influenciou a qualidade dos frutos de melão causando redução nos valores de firmeza de polpa. A cobertura também proporcionou aumento da produção total de melão quando o preparo do solo foi realizado em faixas. Devido às implicações da cobertura do solo com o teor de água e de nutrientes no solo, deve-se proceder a novas pesquisas em relação ao manejo da irrigação e à fertilização. Quanto ao preparo do solo, o sistema de preparo em faixas não influenciou individualmente as características estudadas, podendo ser recomendado para a cultura do melão devido à economia de tempo e combustíveis proporcionada. Já, a profundidade de preparo exerceu influência sobre a produção de frutos tipo exportação, que aumentou com a profundidade, e sobre a produção para o mercado interno, que diminui com o aumento da profundidade no preparo em faixas. A produção total de melão não foi influenciada pelos fatores estudados, mas alguns de seus componentes responderam diferentemente a cada fator. Por exemplo, enquanto o tipo exportação aumentava com maiores profundidades o de mercado interno diminuía. LITERATURA CITADA ALLEN, R.G.; PEREIRA, L.S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration. Rome: FAO, 1998. 297 p. ARAÚJO, A.P. Cobertura do solo e métodos de plantio no cultivo de melão amarelo. Mossoró: ESAM, 2000. 49 p. (Dissertação mestrado). ARNDT, W.; ROSE, C.W. Traffic compaction and tillage requirements. Journal of Agricultural Engeneering Research, v. 11, n. 3, p. 170-187, 1966. FERRREIRA, R.L.F. Produção e qualidade de melão cultivado sob condições climáticas resultantes de diferentes coberturas de solo e métodos de plantio. Mossoró: ESAM, 2001. 63 p. (Dissertação mestrado). GRANGEIRO, L.C. Densidade de plantio em híbridos de melão amarelo. Mossoró: ESAM, 1997. 48 p. (Dissertação mestrado). HILLEL, D. 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Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 498-504, julho-setembro 2003. Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface José Ricardo Mantovani1,3, Manoel Evaristo Ferreira1, Mara Cristina Pessôa da Cruz1, Márcio Koiti Chiba1,3, Leila Trevizan Braz2 2 UNESP, Depto. Solos e Adubos, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/nº, 14884-900 Jaboticabal-SP; 3Depto. Produção Vegetal; 4Bolsista FAPESP; e-mail:[email protected] RESUMO ABSTRACT Foram realizados dois experimentos em casa de vegetação para avaliar o efeito da adição de um vermicomposto oriundo de lixo urbano e da calagem na matéria seca e na concentração de metais pesados na parte aérea de plantas de alface cv. Mesa 659. Em um dos ensaios, foi usado um Latossolo Vermelho distroférrico e, em outro, um Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico. O delineamento experimental de cada experimento foi em blocos ao acaso, em esquema fatorial 5 x 5, com quatro repetições, combinando-se calagem para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%, e o equivalente a 0; 25; 50; 75 e 100 t ha-1 de vermicomposto. Uma única aplicação de vermicomposto de lixo urbano, em doses acima de 50 t ha-1, limitou a produção de alface nos dois tipos de solos. Mesmo estas doses que restringiram a produção da alface, não a tornaram imprópria para consumo humano do ponto de vista da concentração de metais pesados. Liming and urban waste vermicompost effects on production and heavy metals concentration of lettuce The effect of urban waste vermicompost over dry matter and heavy metal concentration in lettuce tops, was evaluated in two greenhouse experiments, one with an Oxissol and another an Alfissol. The experiments followed a completely randomized design combining five liming levels, to elevate the degree of base saturation to 40; 50; 60; 70 and 80%, with five vermicompost rates of 0; 25; 50; 75 and 100 t ha-1, with four replicates. The use of urban waste vermicompost in higher rates than 50 t ha-1 limited the lettuce yield in both soils. Even at these rates, however, the lettuce did not become inappropriate as food from the point of view of heavy metal contamination. Palavras-chave: Lactuca sativa, adubação orgânica, pH. Keywords: Lactuca sativa, organic manure, pH. (Recebido para publicação em 08 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) O acúmulo de metais pesados em plantas depende de fatores como espécie, cultivar, órgão ou parte estudada. Segundo Simeoni et al. (1984), cereais, gramíneas, legumes e olerícolas tuberosas tendem a acumular menos metais do que plantas folhosas de crescimento rápido, como a alface. Algumas características químicas do solo também influenciam na absorção de metais pesados pelas plantas, entre as quais, o pH desempenha papel fundamental. Albasel & Cottenie (1985) verificaram que o aumento do pH do solo, devido à calagem, reduziu drasticamente a disponibilidade e, consequentemente, a absorção de chumbo, níquel e zinco por plantas de azevém e de cevada. Hooda & Alloway (1996) observaram que a elevação do pH, pela calagem, em solos de diferentes texturas, proporcionou decréscimo na concentração de cádmio, cobre, níquel, chumbo e zinco em cenoura e em espinafre. Na reciclagem do lixo urbano, a compostagem e depois a vermicom498 postagem da fração orgânica levam à produção de adubos orgânicos como composto e vermicomposto, respectivamente. O vermicomposto é um produto de melhor qualidade, de maior aceitação e valor comercial. Segundo Berton & Valadares (1991) e Egreja Filho (1993), duas características desses insumos são a ausência de microorganismos patogênicos e a presença de quantidades variáveis de metais pesados, como cádmio, níquel, chumbo, cobre, ferro, manganês e zinco. Por essa última característica, o uso agrícola de composto e de vermicomposto deve ser acompanhado, de maneira que se tenha controle das quantidades que podem ser acumuladas pelas plantas sem risco à saúde humana. Petruzelli et al. (1989), em ensaio de campo, avaliaram o efeito da aplicação de 30 t ha-1 ano-1 de composto de lixo, durante quatro anos, na cultura do milho. Constataram que o teor de cádmio, zinco e cobre nos grãos teve um aumento significativo em relação à tes- temunha apenas no terceiro e quarto cultivos, enquanto o teor de outros metais, como o níquel e o chumbo, não sofreram variações significativas no transcorrer do experimento. Alves et al. (1999), na ausência de adubação química, verificaram que, com a adição de composto de lixo, houve aumento da produção de matéria seca e das quantidades acumuladas de ferro, manganês e zinco na parte aérea de plantas de sorgo. Em relação às olerícolas, Costa et al. (1994) verificaram que, em solos com acidez elevada e fertilidade baixa, houve aumento da produção de matéria seca de alface até a dose estimada de cerca de 20 t ha-1 de composto de lixo urbano adicionada a um solo argiloso, enquanto que em solo arenoso houve diminuição na produção. Quanto à concentração de metais, foram observados aumentos significativos nos teores de zinco, cobre, cádmio e chumbo na parte aérea das plantas, sendo que para o cobre, os teores foram considerados fitotóxicos. Num experimento de campo, em dois Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface cultivos sucessivos de alface, Costa et al. (2001) obtiveram aumento linear na produção de matéria fresca da hortaliça, aumento significativo nos teores de zinco da parte aérea e nenhum efeito nos de cobre, níquel e chumbo, com a aplicação de composto de lixo urbano. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da adubação com vermicomposto de lixo urbano e da calagem na produção de matéria seca e na concentração de cádmio, níquel, chumbo, cobre, ferro, manganês e zinco da parte aérea de alface. MATERIAL E MÉTODOS Em casa de vegetação, foram realizados dois experimentos em vasos, empregando-se, no primeiro (abril a julho de 1997), um solo de textura argilosa e, no segundo (abril a julho de 1999), um solo de textura arenosa. Os solos foram coletados na camada arável (0-20 cm), respectivamente, de um Latossolo Vermelho distroférrico (LVdf) e de um Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico (PVAe). Foi feita caracterização química de rotina e análise textural (Camargo et al., 1986). Os resultados obtidos para o LVdf e para o PVAe foram, respectivamente: P resina = 10 e 16 mg dm-3; M.O. = 40 e 10 g dm-3; pH CaCl2 = 4,6 e 4,0; K+ = 1,8 e 1,5 mmolc dm-3; Ca2+ = 15 e 4 mmolc dm-3; Mg2+ = 9 e 2 mmolc dm-3; H+Al = 58 e 28 mmolc dm-3; SB = 26 e 8 mmolc dm-3; CTC = 84 e 36 mmolc dm-3; V% = 31 e 21; argila = 646 e 70 g kg-1; silte = 247 e 90 g kg-1; e areia = 107 e 840 g kg-1. O vermicomposto de lixo urbano utilizado, proveniente da ex-Estação Experimental da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), Novo Horizonte (SP), foi analisado conforme descrito em Kiehl (1985) e apresentou os seguintes teores de metais pesados, em mg kg-1, base seca: Cd <1; Ni = 18; Pb = 122; Cu = 197; Fe = 32000; Mn = 272 e Zn = 455. Em cada experimento, foi empregado esquema fatorial 5 x 5, em delineamento em blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram na combinação de cinco doses de corretivos da acidez e cinco doses de vermicomposto de lixo urbano. As doHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Isolinhas para matéria seca da parte aérea de alface (g/vaso) cv. Mesa 659, em solo argiloso em função de vermicomposto de lixo urbano e calagem. Jaboticabal, UNESP, 1997. ses de corretivos da acidez foram estimadas para se obter índices de saturação por bases (V%) iguais a 40; 50; 60; 70 e 80, a relação Ca:Mg empregada foi igual a 4:1 para o solo argiloso e 2:1 para o arenoso, e os produtos utilizados foram CaCO3 e 4MgCO3.Mg(OH)2.5H2O p.a. As doses de vermicomposto adicionadas foram correspondentes a 0; 25; 50; 75 e 100 t ha-1, com base no peso seco. Os corretivos e o vermicomposto foram misturados, a seco, a porções de 5,5 dm3 de solo, de acordo com cada tratamento, as quais foram transferidas para vasos de alumínio com capacidade para 5,8 L. O solo foi umedecido com água deionizada a 60% da capacidade de retenção e submetido a incubação por 40 dias. Aos 30 dias de incubação, foi feita adubação mineral de maneira a se ter, em mg dm-3: 120 de P; 20 de S; 0,5 de B; 1,25 de Cu; 3,0 de Mn; 0,02 de Mo; e 2,5 de Zn, em ambos os solos, além de 36 de N e 150 de K no solo argiloso, e de 80 de N e 50 de K no solo arenoso. Foram usadas soluções preparadas a partir dos sais (p.a.): NH4H2PO4; KNO 3 ; KH 2 PO 4 ; K 2 SO 4 ; H 3 BO 3 ; CuSO 4 .5H 2 O; MnCl 2 .4H 2 O; (NH4)6Mo7O24.4H2O; ZnSO4.7H2O. Ao término da incubação, o solo foi seco ao ar e amostrado. Porções de 5 dm3 de solo foram devolvidas para os vasos e reumedecidas a 60% da capacidade de retenção. Em seguida, transplantou-se para cada vaso uma muda de alface (Lactuca sativa L.) do grupo americana, cultivar Mesa 659. Foram feitas quatro adubações de cobertura de 15 mg dm-3 de N, como NH4NO3, no solo argiloso, e de 18 mg dm-3 de N mais 50 mg dm-3 de K, como KNO3, no solo arenoso. A colheita foi realizada 47 dias após o transplantio, cortando-se as plantas rente à superfície do solo de cada vaso. Avaliou-se a matéria seca e, em extrato de digestão nítrico-perclórica, determinaram-se os teores de cádmio, níquel, chumbo, cobre, ferro, manganês e zinco por espectrofotometria de absorção atômica (Bataglia et al., 1983). Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo Teste F, e o efeito de doses foi avaliado por meio de regressão polinomial. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produção de matéria seca O vermicomposto e a calagem afetaram significativamente a produção de matéria seca de alface em ambos os solos, com efeito da interação dos dois fatores apenas no LVdf (Tabelas 1 e 2). No LVdf verificou-se que, para valores 499 J. R. Mantovani, et al. Tabela 1. Matéria seca e teor de metais pesados na parte aérea de alface cv. Mesa 659 cultivada em solo argiloso, LVdf. Média de quatro repetições. Jaboticabal, UNESP, 1997. (1) em que: VM0, VM1, VM2, VM3 e VM4 correspondem, respectivamente, a 0; 25; 50; 75 e 100 t/ha de vermicomposto e C0, C1, C2, C3 e C4, a adição de corretivos para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%. (2) ns, * e ** : não significativo e significativo à 5% e 1% de probabilidade, respectivamente. de saturação por bases desejados menores do que 60%, houve aumento de produção de matéria seca com aplicação de até cerca de 50 t ha-1 de vermicomposto de lixo urbano (Figura 1). Para valores de V% maiores do que 70, ocorreu decréscimo de produção com a adição de doses maiores do que 75 t ha -1 do vermicomposto. Estima-se que a máxima produção poderá ser obtida combinando-se doses de vermicomposto en500 tre 15 e 75 t ha-1 e saturação por bases desejada entre 50 e 70%. No PVAe, houve efeito quadrático do vermicomposto (x) na produção de matéria seca de alface (y), ocorrendo decréscimo na produção em doses de vermicomposto acima de 55 t ha-1 (y = 0,0013x 2 + 0,1435x + 29,044, R 2 = 0,918**). Essa diminuição de produção, de 33,00 para 30,39 g/vaso (8%), foi menor do que a ocorrida no LVdf, no qual foi de 25,46 para 19,86 g/vaso (22%). A máxima produção de matéria seca da parte aérea de alface no PVAe, estimada para as condições do experimento, seria obtida com a adição de 55 t ha-1 de vermicomposto de lixo. Costa et al. (1994) e Santos (1995), em solo argiloso, também observaram diminuição na produção de matéria seca de alface, com a aplicação de doses de composto de lixo maiores do que 60 t ha-1 e Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface Tabela 2. Matéria seca e teor de metais pesados na parte aérea de alface cv. Mesa 659 cultivada em solo arenoso, PVAe. Média de quatro repetições. Jaboticabal, UNESP, 1997. (1) em que: VM0, VM1, VM2, VM3 e VM4 correspondem, respectivamente, a 0; 25; 50; 75 e 100 t/ha de vermicomposto e C0, C1, C2, C3 e C4, a adição de corretivos para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%. (2) ns, * e **: não significativo e significativo à 5% e 1% de probabilidade, respectivamente. 35 t ha-1, respectivamente. Estes autores acreditam que o aumento da condutividade elétrica no solo pode ter sido uma das causas de redução de produção. A calagem teve efeito quadrático na produção de matéria seca da parte aérea das plantas de alface no PVAe (Tabela 3), tendo a produção aumentado ao se efetuar calagem para elevar o V% a até cerca de 65%. Ainda, observou-se que Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. a produção de matéria seca de alface no PVAe foi maior do que no LVdf. Essa diferença de produção, provavelmente, foi devida à variação na temperatura, nos dois anos de condução dos ensaios, pois os valores médios de temperatura mínima, média e máxima em Jaboticabal, durante a condução dos experimentos em 1997 e em 1999, foram de 12,8; 18,5 e 26,2ºC e, 13,6; 19,5 e 27,7ºC, respectivamente. A equação de regressão múltipla mostra que a produção de matéria seca (y) no LVdf foi afetada pelos teores de cobre e de manganês (y = 40,529 1,839Cu - 0,077Mn, R2 = 0,62**, FCu = 1,70, FMn = 34,89) e, no PVAe, pelos de ferro e de manganês (y = 41,735 0,129Fe - 0,012Mn, R2 = 0,63**, FFe = 23,08, FMn = 15,05). No solo argiloso, como indica o maior valor do teste F para manganês, a concentração desse 501 J. R. Mantovani, et al. Tabela 3. Equações de regressão expressando o efeito do vermicomposto (VM), da saturação por bases (V%) e de ambos, na matéria seca (M.S.) e nos teores de cádmio, níquel, cobre, chumbo, ferro, zinco e manganês, em alface cv. Mesa 659. Jaboticaba, UNESP, 1997. elemento na parte aérea das plantas teve maior influência na produção do que a de cobre. No solo arenoso, porém, o ferro e o manganês influenciaram a produção das plantas aproximadamente na mesma intensidade. Esses metais afetaram a produção das plantas nos dois tipos de solos, de forma linear e negativa. Dessa maneira, considerando-se os elementos em análise, o aumento de produção de matéria seca de 14,44 para 24,88 g/vaso (72%), do tratamento VM0C0 para o VM4C0, no LVdf (Tabela 1), deve ter sido devido, especialmente, ao decréscimo da concentração de manganês na parte aérea das plantas. Teores de metais pesados nas plantas: efeitos dos tratamentos Os teores de quase todos os metais pesados nas plantas de alface sofreram mudanças significativas com os tratamentos aplicados (Tabelas 1 e 2). Os teores de chumbo nas plantas cultivadas no LVdf, entretanto, ficaram abaixo do limite de detecção, calculado, no caso, em 0,21 mg kg-1, de acordo com Tedesco et al. (1999), e por isso não estão sendo apresentados. 502 a) no solo argiloso, LVdf Observou-se efeito significativo do vermicomposto e da calagem nas concentrações de cádmio, níquel, cobre, manganês e zinco na parte aérea de alface, e a interação dos fatores foi significativa para manganês e zinco (Tabela 1). Nos casos em que houve efeito significativo de interação, foram feitos estudos por meio de regressões múltiplas. Vermicomposto e calagem não afetaram significativamente a concentração de ferro na parte aérea das plantas. Os teores de cádmio, níquel, cobre e zinco na parte aérea de alface aumentaram significativamente em função das doses de vermicomposto de lixo urbano (Tabela 3), tendo sido observado maior incremento para o zinco. Costa et al. (1994) e Costa et al. (1997) também observaram aumentos na concentração de cobre e zinco, em alface e em cenoura, com a adição de composto de lixo. Em relação ao manganês, verificouse diminuição dos teores desse elemento na parte aérea de alface com o aumento das doses de vermicomposto de lixo urbano, sendo essa tendência mais acentuada para valores de saturação por bases inferiores a 50% (Tabela 3). Apesar de o vermicomposto ser fornecedor de manganês, ele também provoca aumento de pH, o que provavelmente levou à diminuição da disponibilidade desse micronutriente no solo e, consequentemente, ao decréscimo de sua absorção pelas plantas de alface. Alves et al. (1999), também verificaram decréscimo dos teores de manganês extraídos com DTPA no solo, com aplicação de composto de lixo. O aumento da saturação por bases acarretou redução dos teores de zinco e de manganês na matéria seca de alface (Tabela 3). Para o manganês, tal efeito foi mais pronunciado em doses de vermicomposto menores do que 50 t ha-1. Observou-se decréscimo linear da concentração de cádmio em alface, com a elevação do V% (Tabela 3). Para os demais elementos, cobre, níquel e ferro, não foi verificada tendência definida com a calagem. b) no solo arenoso, PVAe No solo arenoso, o vermicomposto afetou significativamente a concentraHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface ção de cádmio, cobre e manganês em alface (Tabela 2). A calagem, por outro lado, afetou as concentrações de cádmio, níquel, chumbo, ferro, manganês e zinco, mas observou-se interação apenas para manganês. Não foi observado efeito significativo do vermicomposto nos teores de níquel, chumbo, ferro e zinco nas plantas. Para esses elementos, com exceção do níquel, também não foram constatadas tendências definidas com a aplicação desse adubo orgânico. Para o níquel, houve decréscimo de concentração com o aumento das doses de vermicomposto (Tabela 3). A aplicação de vermicomposto de lixo urbano acarretou aumento significativo nos teores de cádmio e cobre, na parte aérea de alface (Tabela 3). Em contrapartida, a concentração de manganês diminuiu com a adição desse insumo, especialmente nos tratamentos que receberam calagem para elevar o V% a valores inferiores a 50 (Tabela 3). Verifica-se, ainda, com as equações de regressão apresentadas na Tabela 3, decréscimo dos teores de cádmio, níquel, chumbo, ferro e zinco na parte aérea das plantas com a elevação da saturação por bases. Esse decréscimo, também, foi verificado para manganês quando se aplicaram doses de vermicomposto menores do que 50 t ha1 (Tabela 3). Resultados similares foram obtidos por Hooda & Alloway (1996), que verificaram decréscimo na concentração de metais pesados em cenoura e em espinafre com o aumento do pH. Os teores de cádmio, chumbo, manganês e zinco na parte aérea de alface, em solo arenoso (PVAe), foram maiores do que os encontrados naquelas cultivadas no LVdf. As concentrações dos demais elementos, níquel, cobre e ferro, foram, de maneira geral, similares na parte aérea das plantas de alface cultivadas nos dois tipos de solos. Teores de metais pesados nas plantas: fitotoxicidade e adequação para consumo Trani & Raij (1997) definem os teores de cobre, ferro, manganês e zinco entre: 7-20; 50-150; 30-150; e 30-100 mg kg-1, respectivamente, como adequados para folhas de alface recém-desenvolvidas, coletadas na metade do ciclo. As concentrações destes metais obserHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. vadas na parte aérea da alface cultivada no LVdf (Tabela 1) variaram de 5-8; de 53-89; de 46-216; e de 24-59 mg kg-1; para Cu, Fe, Mn e Zn, respectivamente. Na alface cultivada no PVAe (Tabela 2), variaram de 4-7; de 56-93; de 90-632; e de 47-79 mg kg-1, respectivamente. Pelo exposto, a maioria dos teores desses elementos situa-se dentro dos limites apresentados por Trani & Raij (1997). Gupta & Gupta (1998) relatam como fitotóxicos, para a maioria das plantas, teores de cobre, manganês e zinco, entre 10-70; 400-7000; e 95-340 mg kg-1, respectivamente; portanto, muito acima dos observados nesse experimento. Os teores de níquel ficaram bem abaixo da faixa considerada fitotóxica por Macnicol & Beckett (1985), em folhas de alface, que é de 20-45 mg kg-1 de Ni. Quanto ao chumbo, Boon & Soltanpour (1992) observaram que teores de até 45 mg kg-1 de Pb na parte aérea de alface não provocaram quaisquer efeitos negativos na produção. De acordo com Mesquita Filho et al. (2001), a legislação brasileira de alimentos especifica teores máximos, na matéria fresca, de 50; 30 e 1,0 mg kg-1 de zinco, cobre e cádmio, respectivamente. Rodella & Alcarde (2001) relatam que essa mesma legislação estabelece, para hortaliças in natura, teores de até 0,5 mg kg-1 de Pb. Com base na informação de Furlani et al. (1978), de que a parte aérea de alface do tipo americana possui 950 g kg-1 de água, podem-se converter os dados das Tabelas 1 e 2 expressos em matéria seca, para matéria fresca. Desta forma, observa-se uma variação, em mg kg-1 de matéria fresca, de 1,2-4,0 para zinco, de 0,2-0,4 para cobre, de 0,003-0,02 para cádmio e de 0,002-0,11 para o chumbo, teores bem abaixo dos citados por Mesquita Filho et al. (2001) e por Rodella & Alcarde (2001). De acordo com os resultados obtidos, infere-se que a adubação com uma única aplicação de vermicomposto de lixo urbano, em doses acima de 50 t ha1 , limitou a produção de alface nos dois tipos de solos. Mesmo estas doses que restringiram a produção da alface, não a tornaram imprópria para consumo humano do ponto de vista da concentração de metais pesados. AGRADECIMENTOS Agradecemos à FAPESP pelo financiamento e ao CNPq pela bolsas de pesquisa e de iniciação científica que tornaram possível a execução do presente projeto. 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Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças Samuel Martinelli1; Marco Aurélio Montagna2; Nilton César Picinato3; Fábio M.A. Silva3; Odair Aparecido Fernandes4 1/ ESALQ/USP, 13418-900 Piracicaba-SP; 2/ Ecolab, R. Alvorada, 48, 04550-000 São Paulo-SP; 3/Du Pont do Brasil S.A., C. Postal 09, 13140-000 Paulínia-SP; 4/FCAV/UNESP, Rod. Prof. Paulo D. Castellane km 5, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT A eficiência do indoxacarb foi avaliada no controle dos lepidópteros-pragas em hortaliças: Plutella xylostella (Lepidoptera: Yponeumatidae), Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae), Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae) e Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae). Os experimentos foram conduzidos em três locais diferentes nas culturas do repolho e tomate. Os inseticidas utilizados foram indoxacarb (no tomate de 2,4 a 6,0 g i.a./100 L e no repolho de 19 a 42 g i.a./ha), esfenvalerate (apenas no tomate de 1,75 g i.a./100 L), metomil (no tomate na dose de 21,5 g i.a./100 L e no repolho a 172 g i.a./ha), deltametrina (apenas no repolho na dose de 6 g i.a./ha) e triflumuron (apenas no tomate na dose de 15 g i.a./100 L). Adotou-se o delineamento estatístico em blocos ao acaso com quatro repetições em todos os experimentos. Todas as doses avaliadas do produto indoxacarb apresentaram excelente desempenho no controle de P. xylostella e T. ni. Assim, a menor dose avaliada (18 g i.a./ha) pode ser recomendada para o controle dessas pragas. Todos os produtos avaliados alcançaram níveis de eficiência maiores que 80% no controle de H. zea na cultura do tomate. Indoxacarb foi tão eficiente quanto o produto padrão adotado (triflumuron). N. elegantalis foi eficientemente controlada pelos inseticidas avaliados após nove aplicações, sendo que indoxacarb pode ser recomendado na menor dose utilizada (2,4 g i.a./100 L). Efficacy of indoxacarb in the control of vegetable pests The efficacy of indoxacarb was evaluated for controlling lepidopterous pests on vegetables: Plutella xylostella (Lepidoptera: Yponeumatidae), Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae), Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae), Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae). The experiments were carried out at three different sites on cabbage and tomato crops. The utilized insecticides were indoxacarb (for tomato from 2.4 to 6.0 g a.i./100 L and for cabbage from 18 to 42 g i.a./ha), esfenvalerate (only for tomato at 1.75 g a.i./100 L), methomyl (for tomato at 21.5 g a.i./100 L and for cabbage at 172 g a.i./ha), deltamethrin (only for cabbage at 6 g a.i./ ha) and triflumuron (only for tomato at 15 g a.i./100 L). The experiments were designed as randomized blocks with four replications. The results showed that all doses of indoxacarb presented excellent performance controlling P. xylostella and T. ni on cabbage. Therefore, the lowest tested dose should be used (18 g a.i./100 L). All products reached levels of efficacy higher than 80% for controlling H. zea on tomato crop. Indoxacarb was as efficient as the standard product triflumuron. N. elegantalis was efficiently controlled by the tested insecticides after nine applications and indoxacarb could be recommended at the lowest utilized dose (2.4 g a.i./100 L). Palavras-chave: Plutella xylostella, Trichoplusia ni, Neoleucinodes elegantalis, Helicoverpa zea, controle químico, hortaliças. Keywords: Plutella xylostella, Trichoplusia ni, Neoleucinodes elegantalis, Helicoverpa zea, chemical control, vegetables. (Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) A produção brasileira de olerícolas encontra-se em pleno crescimento, estimulada pela mudança no hábito alimentar do consumidor, que passou a consumir hortaliças com maior freqüência e a exigir produtos de melhor qualidade. Os sinais de tal crescimento podem ser notados devido ao aumento do consumo de hortaliças in natura e préprocessados (AGRIANUAL, 2000). A incidência de pragas em campos de produção de hortaliças contribui para a menor produtividade e conseqüente queda, que pode superar em 60% da produção total em casos como tomate e repolho (Barbosa & França, 1980; Castelo Branco & Guimarães, 1990). Assim, as hortaliças apresentam grande demanda pela aplicação de defensivos agrícolas (Nakano, 1999), pois o controle quíHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. mico é a principal (ou a única) tática de controle de pragas adotada. Entretanto, o controle pode ser comprometido devido aos efeitos colaterais causados pelo uso exclusivo de inseticidas. A descoberta e utilização de inseticidas que apresentem novos modos de ação podem contribuir consideravelmente para a substituição de produtos tradicionalmente utilizados (Wing et al., 2000) e favorecer o manejo da resistência de insetos a inseticidas por meio da rotação de compostos dentro de um programa de manejo integrado de pragas em hortaliças. Visando o controle da traçadas-crucíferas, Plutella xylostella. França & Medeiros (1998) verificaram que a combinação dos produtos deltametrina + abamectina resultou em maior quantidade de cabeças comercializáveis de repolho, superando os resultados obtidos com o tratamento padrão adotado (Bacillus thuringiensis). Por outro lado, Monnerat et al. (2000) observaram que tanto abamectina (Vertimec®) como o inseticida biológico à base de B. thuringiensis (Biobit®) causaram redução da população da traça-dascrucíferas, sendo que os tratamentos apresentaram índices semelhantes de produção de cabeças comercializáveis de repolho. De acordo com Reis & Souza (1996), os inseticidas abamectina e triflumuron foram tão eficientes quanto o padrão adotado (permetrina) no controle da broca-pequena, Neoleucinodes elegantalis, em tomate estaqueado. O produto indoxacarb, novo inseticida do grupo químico das oxidiazinas, apresenta atividade sobre insetos da or505 S. Martinelli, et al. dem Lepidoptera, cuja alimentação é inibida após o tratamento (Pluschkell et al., 1998; Wing et al., 1998). Indoxacarb é compatível ambientalmente e seguro para organismos não alvos do controle químico, como o parasitóide Aphidius rhipalisiphi (Hymenoptera: Aphididae), o ácaro predador Typhlodromus pyri (Acari: Phitoseiidae) e o predador Episyrphus balteatus (Diptera: Syrphidae) (Harder et al., 1996; Wing et al., 1998). Além da baixa toxicidade aos organismos não-alvo, o indoxacarb apresenta taxas de dissipação ambiental muito favoráveis ao seu uso como inseticida na agricultura (McCann et al. 2001). O efeito inseticida ocorre após a bioativação do indoxacarb através da ação de enzimas (provavelmente esterases/amidases) presentes no inseto e que resultam na formação do metabólito JT333 (N-decarbomethoxyllated) que causa bloqueio dos canais de sódio. A metabolização do indoxacarb em JT333 relaciona-se com o surgimento de sintomas de neurointoxicação, os quais compreendem desde pequenas convulsões até a paralisia do inseto seguida de morte (Wing et al., 2000). O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência do indoxacarb no controle das principais pragas de hortaliças: a traça-das-crucíferas, P. xylostella (Lepidoptera: Yponomeutidae); a lagarta mede-palmo, Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae); a broca-pequena, N. elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae) e a broca-grande, Helicoverpa zea (Lepidopteta: Noctuidae). MATERIAL E MÉTODOS Experimento 1 O estudo foi desenvolvido na cultura de repolho, híbrido Kenzan, cultivado no espaçamento de 90 cm entre ruas e 50 cm entre plantas, em São João da Boa Vista, SP. Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com oito tratamentos (indoxacarb [18; 24; 30; 36 e 42 g i.a./ha], deltametrina [6 g i.a./ha], esfenvalerate [172 g i.a./ ha] e testemunha sem aplicação de inseticidas) e quatro repetições, com cada parcela medindo 4,5 x 5,0 m de área total. As aplicações dos produtos inicia506 ram-se trinta dias após o transplante das mudas, quando a cultura apresentava infestação natural da traça-dascrucíferas. Os produtos foram aplicados em intervalos semanais de 11/03 a 10/ 04/1997, perfazendo um total de cinco aplicações. A pulverização dos produtos foi realizada com o auxílio de pulverizador costal (CO2) dotado de barra de aplicação (2,5 m de comprimento) com cinco bicos XR 110-04 (pressão de trabalho de 60 lb/pol2), calibrado para o consumo de 800 litros de calda/ha. Adicionou-se espalhante adesivo (Agral®) à calda de pulverização (30 mL/100 L) em todos os tratamentos. As avaliações, num total de quatro, constituíram-se na observação de dez plantas tomadas ao acaso na porção central de cada parcela e aferição dos parâmetros: número de lagartas da traça-das-crucíferas por planta e nota de dano foliar decorrente da presença da lagarta nas plantas. As notas de dano basearam-se na escala: nota 0,5 = planta não apresentando danos nas folhas laterais da cabeça; nota 5 = planta apresentando folhas laterais raspadas ou com pequenos furos; nota 10 = planta apresentando folhas laterais furadas; nota 20 = planta apresentando folhas laterais furadas e cabeça com pequenos furos; nota 30 = planta apresentando folhas laterais com furos grandes e cabeça com pequenos furos; nota 40 = planta apresentando folhas laterais com furos grandes e cabeça começando a apresentar furos grandes; nota 50 = planta apresentando folhas laterais e cabeça com vários furos pequenos e grandes; nota 70 = planta apresentando folhas laterais e cabeça com vários furos grandes; nota 90 = planta apresentando folhas laterais e cabeça com folhas praticamente destruídas; nota 100 = planta apresentando-se totalmente destruída. As três primeiras avaliações foram realizadas sete dias após a 3a, 4a e 5a aplicação. Na 3a avaliação realizou-se apenas a observação dos danos causados. Por ocasião da 4a avaliação realizou-se a colheita de dez plantas e observou-se a presença de lagartas nas mesmas. Ainda, atribuiu-se nota de dano causado pela traça-dascrucíferas às partes superior e inferior das cabeças de repolho separadamente. Nesta ocasião (4a avaliação) observou- se e registrou-se a presença de lagartas de T. ni, as quais até então não haviam sido detectadas. Realizou-se a análise de variância dos dados e as médias dos tratamentos foram comparadas através do teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se PROC GLM (SAS Institute, Cary, NC, USA). Experimento II Foi realizado em área de plantio de tomate estaqueado em Mogi-Guaçu, SP. No plantio utilizaram-se plantas do híbrido Santa Clara, seguindo-se o espaçamento de 1 m entre linhas e 0,70 m entre plantas. O plano experimental adotado foi em blocos casualizados com sete tratamentos e quatro repetições, sendo cada parcela constituída de 20 plantas (duas linhas de dez plantas). Os tratamentos adotados para controle da broca-pequena foram indoxacarb nas doses de 2,4; 3,6; 4,8 e 6,0 g i.a./100 L, esfenvalerate na dose de 1,75 g i.a./100 L, metomil na dose de 21,5 g i.a./100 L e a testemunha sem aplicação de inseticidas. Essas doses foram baseadas no uso de 1.000 litros de calda/ha. Os tratamentos foram aplicados inicialmente quando as plantas encontravam-se no estágio de florescimento e, portanto, foram realizados preventivamente. Os tratamentos foram aplicados com o auxílio de pulverizador costal (CO2), dotado de barra de aplicação de lança com 3 bicos (Yamaro D6), pressão de trabalho de 50 a 90 lb/pol2, calibrado para o consumo de 1.000 L de calda/ha. As aplicações foram realizadas em intervalos semanais de 20/03 a 16/05/97. As avaliações foram realizadas cinco dias após a 5a aplicação e quatro dias após a 9a aplicação. Foi observada a presença de danos de N. elegantalis em cinco frutos de cada uma das cinco plantas amostradas aleatoriamente na porção central de cada parcela, totalizando 25 frutos por parcela. Posteriormente, calculou-se a porcentagem de frutos brocados por parcela e a eficiência de controle de cada tratamento utilizando-se a fórmula de Abbott (Abbott, 1925). Realizou-se a análise de variância dos dados e as médias obtidas foram comparadas através do teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade utilizando-se PROC GLM (SAS Institute, Cary, NC, USA). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças Tabela 1. Número médio de lagartas de traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (Lepidoptera: Yponomeutidae) e lagarta-mede-palmo, Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae) e nota média de dano causado pela traça-das crucíferas, em dez plantas de repolho, submetidas a diferentes tratamentos inseticidas. São João da Boa Vista (SP), ESALQ, 1997. 1/ Dados originais; 2/ Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística foi realizada com os dados transformados em 3/ 7 DA3aA =sete dias após a 3a aplicação; 4/ 7 DA4aA =sete dias após a 4a aplicação; 5/ 6 DA5aA =seis dias após a 5a aplicação; 6/ 13 DA5aA =treze dias após a 5a aplicação. Experimento III A eficiência do uso do indoxacarb no controle da broca-grande foi obtida em plantio de tomate estaqueado em Indianópolis, MG, adotando-se a mesma variedade e o mesmo espaçamento mencionados no experimento II. Do mesmo modo, adotou-se o delineamento em blocos casualizados com sete tratamentos e quatro repetições. A parcela também foi mantida com 20 plantas (duas linhas de dez plantas). As doses do inseticida indoxacarb foram as mesmas utilizadas no experimento II. Os demais tratamentos foram esfenvalerate na dose de 21,5 g i.a./100 L, triflumuron na dose de 15,0 g i.a./100 L e a testemunha, sem aplicação de inseticida. Essas doses foram baseadas no consumo de 1.000 litros de calda/ha. Foram realizadas quatro aplicações em intervalos semanais de 10/02 a 10/03/97. A tecnologia de aplicação dos tratamentos foi idêntica à mencionada no experimento II. As avaliações para a broca-grande foram realizadas um e sete dias após a última aplicação. Observou-se a presença de danos de H. zea em cinco frutos de cada uma das cinco plantas amostradas aleatoriamente na porção central de cada parcela, totalizando 25 frutos por parcela, e determinou-se a Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. porcentagem de frutos sadios (não brocados) por parcela. O cálculo da eficiência de controle de cada tratamento utilizado, bem como os procedimentos estatísticos realizados foram os mesmos mencionados no experimento II. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se, a partir dos resultados obtidos com a testemunha, que a infestação da traça-das-crucíferas aumentou durante o período de condução do ensaio (Tabela 1). O tratamento à base de deltametrina (adotado como padrão) apresentou diferença estatística em relação à testemunha apenas na última avaliação (13 dias após o término das aplicações). A falha no controle observada com este produto está de acordo com resultados de França & Medeiros (1998). Tal falha pode estar relacionada ao aumento dos alelos que conferem a resistência a esse produto na população de insetos (Castelo Branco & Gatehouse, 1997), uma vez que se trata de um inseticida de uso amplamente difundido no controle de pragas de hortaliças. As plantas tratadas com esfenvalerate, apesar de apresentarem um número médio de lagartas inferior à testemunha, não diferiram do tratamento à base de deltametrina nas avaliações realizadas sete dias após as 3a e 4a aplicações. Todas as plantas tratadas com o produto indoxacarb apresentaram infestação de lagartas (traça-dascrucíferas e lagarta-mede-palmo) significativamente inferior àquela apresentada pela testemunha (P<0,05), não havendo, contudo, diferenças entre as doses testadas desse produto. Apesar da ocorrência da lagarta-mede-palmo ter sido restrita apenas à última avaliação, o produto indoxacarb nas doses testadas mostrou-se eficiente no controle desse inseto. Testes em situações de maior pressão dessa praga devem ser conduzidos para comprovar o efeito inseticida sobre T. ni. No entanto, Liu et al. (2002) também verificaram que o inseticida indoxacarb foi eficiente no controle da lagarta-mede-palmo em repolho; porém utilizando dose maior (50 g i.a./ha). Em relação ao dano causado pela traça-das-crucíferas (Tabela 1), nota-se que todas as doses do produto indoxacarb foram eficientes para reduzir o nível de desfolha causado pela praga. Ainda, esses tratamentos foram mais eficientes do que os produtos deltametrina e esfenvalerate, que apresentaram comportamento semelhante entre si. Em duas avaliações, sete dias após a 3a aplicação e seis dias após a 5a 507 S. Martinelli, et al. Tabela 2. Avaliação da eficiência do indoxacarb em diferentes doses no controle da broca-pequena, Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae). Mogi-Guaçu (SP), ESALQ, 1997. 1/ Dados originais (em porcentagem); 2/ Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística foi realizada com os dados transformados em arc sen 3/ 5 DA5aAP= cinco dias após a 5a aplicação; 4/ 4 DA9aAP= quatro dias após a 9a aplicação. Tabela 3. Avaliação da eficiência do indoxacarb em diferentes doses no controle da broca-grande (Helicoverpa zea, Lepidoptera: Noctuidae). Indianópolis (MG), ESALQ, 1997. 1/ Dados originais (em porcentagem); 2/ Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística foi realizada com os dados transformados em arc sen 3/ 1 DAUA=um dia após a última aplicação; 4/ 7 DAUA=sete dias após a última avaliação. aplicação, as plantas tratadas com deltametrina apresentaram níveis de dano que não diferiram dos da testemunha. Esse resultado traduz a falha no controle do inseto com deltametrina pois as plantas neste tratamento foram tão atacadas pela praga quanto as da testemunha que não receberam qualquer tratamento com inseticida. O aumento da infestação da traças-das-crucíferas durante o experimento (Tabela 1) é acom508 panhado pela elevação das notas de dano causado pela praga na testemunha. Pode-se observar ainda que todos os tratamentos à base de indoxacarb apresentaram nota média de dano próxima a zero, ou seja, as plantas praticamente não apresentaram dano. Por outro lado, as plantas tratadas com deltametrina e esfenvalerate assim como as da testemunha, apresentaram dano médio próximo ou superior a 10, principalmente nas duas últimas avaliações, ou seja, folhas laterais furadas e algumas cabeças já apresentando furos. Assim, com base nos resultados de infestação das pragas e dos danos causados por P. xylostella, a dose de 18 g i.a./ha pode ser utilizada no controle da traça-dascrucíferas e da lagarta-mede-palmo. Na primeira avaliação, realizada cinco dias após a 5a aplicação, não se observou diferença estatística (P>0,05) Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças entre os tratamentos com relação à porcentagem de frutos danificados pela broca-pequena (Tabela 2). Entretanto, na segunda avaliação, todos os tratamentos inseticidas apresentaram diferença significativa em relação à testemunha (P<0,05), com relação a esse parâmetro. Observa-se que houve aumento na infestação pela praga, comprovado pelo aumento na porcentagem de frutos brocados na testemunha. Na última avaliação, com exceção do tratamento à base de esfenvalerate, todos os tratamentos inseticidas apresentaram eficiência superior a 80% na redução dos danos causados pela praga, sendo, portanto, eficientes no seu controle. Assim, o produto indoxacarb pode ser utilizado para o controle da broca-pequena do tomateiro, podendo ser recomendada a menor dose avaliada (2,4 g i.a./100 L), que também demonstrou eficiência no controle da praga. Com exceção apenas do produto indoxacarb aplicado na dose de 2,4 g i.a./100 L, na avaliação realizada sete dias após a última aplicação, todos os demais produtos e dosagens testadas apresentaram eficiência de controle superior a 80% para H. zea (Tabela 3). Não foi observado qualquer sintoma de fitotoxicidade causada pelo produto indoxacarb nas culturas de repolho e tomate. Assim, de acordo com os resul- Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. tados obtidos, pode-se concluir que o inseticida indoxacarb é eficiente no controle das pragas de hortaliças alvos deste trabalho nas doses testadas, podendo ser utilizado no controle químico dessas pragas. LITERATURA CITADA ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology. v. 18, p. 265-267, 1925. AGRIANUAL, São Paulo, FNP, 94 p., 2000. BARBOSA, S.; FRANÇA, F.H. As pragas do tomateiro e seu controle. Informativo Agropecuário, Belo Horizonte, v. 6, p. 37-40, 1980. CASTELO BRANCO, M.; GUIMARÃES, A.L. Controle da traça-das-crucíferas em repolho, 1989. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 8, n. 1, p. 2425,1990. CASTELO BRANCO, M.; GATEHOUSE, A.G. Insecticide resistance in Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Yponomeutidae) in Federal District, Brazil. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v. 26, p. 75-79, 1997. 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Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT O ponto de colheita de cultivares de alho tropical foi obtido através de um experimento conduzido na UFLA (MG), no delineamento de blocos casualizados, em esquema fatorial 4 x 5, com quatro repetições, avaliando quatro cultivares (Gigante Curitibanos, Gravatá, Gigante Lavínia e Gigante Roxo) e cinco épocas de colheita (134, 141, 148, 155 e 162 dias após o plantio). Avaliou-se a produtividade total de plantas, produtividade total de bulbos e características físico-químicas (teor de sólidos solúveis, acidez titulável e índice de pH). Os resultados obtidos permitiram verificar que as épocas de colheita influenciaram significativamente a produção e as características físico-químicas. A máxima produtividade foi obtida aos 148 e 156 dias após plantio, períodos em que se observou também aumento nas concentrações de sólidos solúveis e ácidos orgânicos no suco do alho. Determination of the harvest date for garlic cultivars The harvest point for tropical garlic cultivars was determined through an experiment carried out in the Universidade Federal de Lavras, Brazil, with randomized block design, in a 4 x 5 factorial scheme, four replications, testing four cultivars: Gigante Curitibanos, Gravatá, Gigante Lavínia and Gigante Roxo and five harvesting dates: 134, 141, 148, 155 and 162 days after planting. The total yield of plant, total yield of garlic bulbs and physical-chemical characteristics (soluble acids content, titrable acidity and pH indices) were determined. The harvest date influenced significantly the yield and physical-chemical characteristics: Maximum yield, soluble solids concentration, and organic acids in garlic juice were obtained when harvesting at 148 and 156 days after planting date. Palavras-chaves: Allium sativum L., épocas de colheita, produtividade, pH,sólidos solúveis. Keywords: Allium sativum L., harvesting time, yield, pH, soluble solids. (Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) O Brasil é um dos países que mais consome alho no mundo, a maior parte comercializada no mercado in natura, ainda que o consumo de pastas e outros produtos processados de alho venha crescendo gradativamente. Nos grande centros o abastecimento até a década de 1970 era feito mediante alho importado, principalmente da Argentina e Espanha. Com a adoção das pesquisas e de tecnologias o alho nacional passou a competir em condições de igualdade (tipicação) com os alhos importados (Boeing & Seben, 1995). Entre os fatores que contribuíam para essa importação era o fato da Argentina ser, país com boa logística, condições edafoclimáticas bem mais favoráveis que o Brasil, além de o custo de produção ser menor que o brasileiro. Para contornar essa situação, os produtores brasileiros abdicam da qualidade final, antecipando a colheita para fugir do período de safra e garantir preços satisfatórios para o alho produzido. O ponto de colheita é fator importante em todo processo agrícola, sendo que a determinação do melhor período de colheita permite o máximo aprovei510 tamento pós-colheita do produto vegetal por apresentar melhor qualidade e o mínimo de perdas. A qualidade pós-colheita relaciona-se ao conjunto de atributos ou propriedades que tornam produtos agrícolas apreciados como alimento. Esses atributos, por sua vez, dependem do mercado de destino, como comercialização após colheita, armazenamento, consumo in natura ou processamento (Chitarra, 1994). Muitas vezes a decisão da colheita ocorre em função do preço do produto, desconsiderando que características fisiológicas, como acumulação de matéria seca, são importantes na conservação posterior do produto. As maiores acumulações de matéria seca em plantas de alho podem significar bulbos fisiologicamente mais desenvolvidos e com menores teores de umidade, melhorando a sua capacidade de conservação (Saturnino, 1978; Chitarra & Chitarra, 1990). Uma das conseqüências mais graves da colheita do alho imaturo é o estouro de disco (rachamento simples em uma só fenda, ou duplo em cruz, do disco ou prato de inserção das raízes). Este de- feito é grave e merece especial consideração nas especificações de padronização, classificação e comercialização do alho (Saturnino, 1978). Segundo Muller (1982) empiricamente, o ponto de colheita do alho baseia-se na senescência da parte aérea da planta e varia de cultivar para cultivar. Entretanto, faltam informações com base científica que possam confirmar a época ideal para a colheita e seu reflexo na conservação pós-colheita, sendo este o objetivo do trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na UFLA (MG), a 918 m de altitude, latitude 21º 14’ S e longiitude 45º 00’ W GRW. O clima da região é do tipo Cwa com características de Cwb, apresentando duas estações definidas: seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março), segundo a classificação climática de Köppen. O experimento foi instalado em um solo classificado como Latossolo Roxo Distrofico, com as características químicas: pH em água: 5,7; matéria orgânica: 3,7%; P: 23 mg dm-3; k: 171 mg Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Determinação do ponto de colheita na produção de alho. dm -3; Ca: 6,6 mmol c dm -3; Mg: 1,9 mmolc dm-3; V: 67%. O plantio dos bulbos foi realizado em 15/04/98, utilizando o delineamento experimental em blocos casualizados com 4 repetições, em esquema fatorial 5x4, com cinco épocas de colheita (134, 141, 148, 155 e 162 dias após a semeadura), e quatro cultivares tropicais: Gigante Curitibanos, Gravatá, Gigante Lavínia e Gigante Roxo, totalizando 20 tratamentos. A primeira época de colheita, aos 134 dias, foi pré-estabelecida como o início das avaliações baseadas na prática corriqueira dos produtores da região de Ouro Fino, MG. Com esta idade, as plantas de alho ainda estão completamente verdes. A colheita prosseguiu a cada 7 dias até a última colheita, quando as plantas apresentavam ciclo de 162 dias e completamente secas. Cada parcela foi constituída de 40 plantas, distribuídas em 4 linhas de plantio e 10 plantas por linha, apresentando uma área útil e total de 1,50 m2 (1,0 m de comprimento x 1,5 m de largura). A adubação de base foi feita seguindo critérios da Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais: 150 kg ha-1 P2O5; 40 kg ha-1 de K2O; 15 kg ha-1 borax e 10 kg ha-1 de sulfato de zinco. Foram utilizados 80 kg ha-1 de N como fonte uréia sendo parcelados 1/3 no plantio, 1/3 aos 45 dias e 1/3 aos 70 dias após o plantio. Os tratos culturais foram realizados de acordo com as necessidades da cultura e a irrigação por aspersão foi realizada de acordo com Filgueira (2000), mantendo sempre o solo próximo da capacidade de campo. Colheu-se 20 plantas por parcela, de acordo com os tratamentos e estas foram pesadas com todas as partes da planta para avaliar a produção total de plantas. Para todas as colheitas, as plantas foram submetidas a uma pré-cura ao sol, por cinco dias. Posteriormente foram pesadas sem a parte aérea e raízes (toalete) para avaliar a produção total de bulbos. Após as avaliações de campo, os bulbos foram enviados para o laboratório, com a finalidade de se realizar análises físico-químicas. Para tal, com o auxílio de um triturador, os bulbilhos debulhados e descascados foram moídos até chegarem a uma consistência Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Produtividade total (Y1) e produtividade total de bulbos (Y2) em função dos pontos de colheita (dias após o plantio). Lavras, UFLA, 1999. pastosa e homogênea. Este homogenato foi filtrado em gaze, retirando-se o suco para a realização das análises de sólidos solúveis, utilizando-se o refratômetro. Para a análise da acidez total titulável, o suco de alho foi titulado em uma solução de hidróxido de sódio 0,1 N e multiplicado pelo fator do ácido predominante no alho (ácido pirúvico), resultando em valores de acidez contidos em cada parcela analisada, segundo técnica preconizada pela AOAC (1970). Para a análise do pH, mergulhou-se o eletrodo de um pHmetro. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeitos significativos independentes para cultivares e/ou épocas de colheita, não mostrando efeitos de interação entre estes fatores, variando com as características avaliadas. A produção total de plantas aumentou à medida que a colheita foi efetuada com bulbos apresentando ciclos vegetativos maiores (Figura 1). Na primeira colheita, observou-se uma produtividade total de plantas média de 12,69 t ha-1 aumentando até chegar ao ponto de máxima produtividade (14,00 t ha-1), aos 148 dias após o plantio. A partir deste ponto observou-se uma queda de produção, verificada quando se colhe bulbos com ciclo vegetativo de 155 dias, sendo mais acentuado quando a colheita é feita aos 162 dias (13,23 t ha-1). Entre as cultivares, pôde-se observar diferenças significativas em relação à produtividade total de plantas (Tabela 1). As cultivares que apresentaram os maiores valores para produção total de plantas foram Gigante Roxo, Gigante Lavínia e Gigante Curitibanos, com produções totais de plantas 14,41 t ha-1, 14,20 t ha-1e 14,14 t ha-1, respectivamente. Somente a cultivar Gravatá diferiu estatisticamente das demais, com o menor valor em produção total de plantas (11,13 t ha-1). Entretanto, bem superior ao resultado obtido por Trindade (1985), que obteve produtividade da cultivar Gravatá em 4,50 t ha-1 e por Costa et al. (2001), que em experimento conduzido em Jaboticabal, SP, obteve com a cultivar Gigante Roxo, uma produtividade de 11,7 t ha-1. Com relação à produtividade total de bulbos, por ocasião da colheita os alhos se apresentavam fisiologicamente verdes aos 134 dias após o plantio, com produtividade média de 7,92 t ha-1 (Figura 1). Quando se colheu bulbos em um estádio mais avançado de maturação, respectivamente aos 155 e aos 162 dias após o plantio, a produtividade elevou-se consideravelmente, chegando ao máximo de 11,42 t ha-1, aos 156 dias após o plantio. A partir deste ponto, ob511 C. M. Oliveira, et al. TABELA 1. Produção total, produção total de bulbos, sólidos solúveis, acidez titulável e pH em função das cultivares de alho. Lavras, UFLA, 1999. Médias seguidas por letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de TUKEY a 5% de probabilidade. TABELA 2. Equações de regressão para porcentagem de sólidos solúveis, acidez total titulável e pH em função dos pontos de colheita (dias após o plantio). Lavras, UFLA, 1999. servou-se um decréscimo na produtividade, sendo a produção total de bulbos obtida na última colheita (aos 162 dias após o plantio), de 11,36 t ha-1. Deste modo, observa-se que em condições avançada de maturação, os resultados desse trabalho foram superiores aos apresentados por Konkel (1991) e Resende (1993), que obtiveram valores médios máximos de 8,7 e 9,5 t ha-1, respectivamente. Um aspecto que pode induzir o produtor de alho a considerar vantajosa a colheita do alho verde, seria o fato do aumento da produtividade já que a parte aérea das plantas apresenta-se com alto teor de água, o que juntamente com o bulbo verde (produtividade total de plantas) daria esta interpretação errônea. Este fato pode ser observado ao se comparar à máxima produção total de plantas com a colheita sendo efetuada aos 148 dias com a máxima produção de bulbos, com o alho colhido aproximadamente aos 157 dias após o plantio. Para a produtividade total de bulbos, observa-se que as cultivares Gigante Curitibanos, Gigante Lavínia e Gigante Roxo, com produções totais de bulbos de 11,19; 11,11 e 10,94 t ha-1, respectivamente não diferiram estatisticamente, enquanto que a cultivar Gravatá diferiu e apresentou produção inferior 512 (7,57 t ha-1). Apesar da cultivar Gravatá apresentar a menor produção total de bulbos entre as cultivares testadas, a produtividade conseguida foi superior à média de produção em Minas Gerais, que é de 4,43 t ha-1 (Agrianual 1997). A época de colheita interferiu de forma significativa no teor de sólidos solúveis. Verificou-se um aumento linear nos teores para a colheita de bulbos de alho em estádio mais avançado (Tabela 2). Observou-se menor concentração de sólidos solúveis para a colheita efetuada aos 134 dias após o plantio, com média de 28,83%. O maior teor foi conseguido na última colheita (162 dias), quando os bulbos apresentavam características de maturação mais avançada, com média de 38,45%. Este aumento no teor de sólidos solúveis à medida que a colheita foi atrasada mostra que pode haver uma relação entre os resultados apresentados para os teores de sólidos e a conservação pós-colheita. A cultivar Gigante Roxo foi a que apresentou maior teor de sólidos solúveis, com média de 35,96%, sendo que o menor teor de sólidos solúveis foi verificado para a cultivar Gigante de Lavínia (31,41%). Penoni (1993) observou em bulbos, em estádio avançado de maturação, porcentagem de sólidos solúveis da ordem de 30,38 e 32,75% para as cultivares Gi- gante Inconfidentes e Gigante Roxo, respectivamente. Já Mascarenhas (1978a, 1978b) encontrou valores para sólidos solúveis inferiores aos observados no presente trabalho, variando de 18,65% para a cultivar Caturra e 24,06% para a cultivar Roxão, cultivadas em Sete Lagoas, MG. Quanto à acidez total titulável e pH, não se verificaram diferenças estatisticas entre as cultivares estudadas. Diferenças significativas para estas características foram observadas somente entre os pontos de colheita. A partir dos 134 dias, os teores de acidez total titulável se elevaram até a data da última colheita, aos 162 dias após o plantio (Tabela 2). Estes resultados foram semelhantes aos encontrados por Penoni (1993), que encontrou porcentagens de acidez titulável de 0,63% e 0,49% respectivamente, nas cultivares Gigante Inconfidentes e Gigante Roxo. No entanto, os resultados encontrados neste trabalho foram discordantes aos obtidos por Carvalho (1991) que, avaliando o tempo de armazenamento e qualidade de alho com a cultivar Amarante, relatou teores de acidez titulável de 1,08% logo após a colheita. Para os valores de pH em função dos pontos de colheita, observou-se uma tendência linear decrescente na medida em que se prorrogou o ponto de colheita (Tabela 2). Os resultados foram semelhantes aos descritos por Chitarra & Chitarra (1990), que verificaram uma relação inversa entre o pH e a acidez titulável total (pH reduz à medida que aumentam os teores de acidez titulável total). Em função dos resultados obtidos, nas condições em que se realizou o experimento, conclui-se que as cultivares Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Determinação do ponto de colheita na produção de alho. Gigante Curitibanos e Gigante Roxo foram as de maior produtividade de bulbos; o ponto ideal para a colheita do alho situa-se a partir da maturidade do bulbo e varia de acordo com a cultivar, estando entre 148 a 156 dias após o plantio, para as cultivares avaliadas; e que a colheita do alho verde não reflete em ganho de produtividade, além de afetar as características de qualidade e apresentar menor teor de sólidos solúveis. LITERATURA CITADA ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL CHEMISTS. Official methods of analysis. 11 ed. Washington, 1970. 1015 p. AGRIANUAL. 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Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 514-517, julho-setembro 2003. Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro 1 Nair Bosa2 ; Eunice Oliveira Calvete3 ; Marilei Suzin3; Lucrécia Bordignon3 2/ EAFS, C. Postal 21, 99170-000 Sertão-RS; 3/FAMV-UPF, C. Postal 611, 99001-070 Passo Fundo-RS; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Gypsophila paniculata é uma flor de corte que pertence à família Caryophyllaceae. Conhecida popularmente por “mosquitinho”, é comercializada para a confecção de arranjos e buquês. A propagação sexuada dessa espécie resulta em plantas desuniformes por ser geneticamente segregante. Por outro lado, a propagação vegetativa possibilita a disseminação de doenças, quando utiliza-se plantas infectadas. Assim, mediante a técnica de micropropagação, obtêmse mudas em escala comercial, com manutenção da heterose e livre de patógenos. Com o objetivo de analisar o crescimento de plantas de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro em diferentes períodos de cultivo, avaliou-se a matéria fresca e seca da parte aérea e da raiz aos 4; 8; 12; 16; 20 e 24 dias. O delineamento experimental foi de blocos casualizados com seis repetições. Cada parcela constou de cinco plantas/frasco. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão. Concluiu-se que o crescimento da parte aérea e da raiz foi progressivo ao longo do período de enraizamento. O surgimento dos primórdios da raiz ocorreu a partir dos oito dias de permanência no meio de enraizamento in vitro. Growth evaluation of Gypsophila paniculata during in vitro rooting Palavras-chave: Gypsophila paniculata, micropropagação, ápices caulinares, crescimento. Gypsophila paniculata is a cutting flower that belongs to the Caryophyllaceae family. Known popularly as ‘mosquitinho’ it is marketed for making arrangements and bouquets. The sexual propagation results in disuniform plants because of the genetic segregation. On the other hand, the vegetative propagation allows dissemination of plant pathogens when infected plants are used. Through the micropropagation technique it is possible to obtained the heterose fixation and pathogen free young plants in a commercial scale. In vitro rooting was analyzed in Gypsophila paniculata plants at different periods of cultivation. Fresh and dry aerial and rooting matter were evaluated at 4; 8; 12; 16; 20 and 24 days. The experimental units were arranged according to a randomized block design with six replicates, each replicate being a pot with five plants. The data were submitted to variance and regression analysis. The results allowed to conclude that both shoot and root growth were progressive along the rooting days. Root primordial appeared after eight days in the rooting media. Keywords: Gypsophila paniculata, micropropagation, caulinar apexes, growth. (Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) G ypsophila paniculata é uma angiosperma que pertence à família Caryophyllaceae. Conhecida popularmente como “mosquitinho”, suas inflorescências são formadas por flores pequenas e brancas as quais são comercializadas para serem utilizadas na confecção de arranjos e buquês (Lorenzi & Souza, 1995). Dados de produção e comercialização citam a Gypsophila paniculata como uma das principais flores de corte, sendo apontada como o terceiro produto mais comercializado na CEAGESP e um dos dez mais vendidos no Veiling da Holambra-SP (Castro, 1998). A reprodução sexuada desta espécie é antieconômica pelo alto custo das sementes e indesejável porque gera plantas geneticamente segregantes, reduzin- do a qualidade e o valor comercial (Castro,1993). A propagação pelo método vegetativo é lenta e inviabiliza grandes produções. Nesse sentido, Grattapaglia & Machado (1998), citam que a micropropagação, traz como vantagens a manutenção da heterose, a multiplicação rápida em períodos de tempo e espaço físico reduzidos e a geração de mudas livres de patógenos em escala comercial. A multiplicação é uma etapa da micropropagação na qual o objetivo principal visa obter um maior número de hastes através de sucessivos subcultivos (Debergh & Read, 1990). Castro et al. (1996), pesquisando propagação de Gypsophila paniculata em três diferentes meios de cultivo, não obtiveram diferença significativa para proliferação de brotos. Após 60 dias de cultivo, obtiveram 4,2; 4,7 e 4,8 brotos por explante, nos meios analisados. Também Zuker et al. (1997) realizaram estudos visando testar a capacidade de regeneração de brotos adventícios para seis cultivares de Gypsophila paniculata. A resposta foi positiva, com regeneração eficiente para todas as cultivares. A fase de enraizamento caracterizase pela formação de raízes adventícias nas partes aéreas do caule provenientes da multiplicação. A rizogênese ocorre de uma a três semanas e segundo Hartmann & Kester (1990), divide-se em iniciação e elongação das raízes. Experimentos com enraizamento in vitro foram realizados por Teo & Chan (1994), com microestacas de Carica ¹ Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor, realizada na FAMV/UPF. 514 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro papaya L., após três a quatro dias de tratamento com AIB, a extremidade basal da microestaca apresentou aparência de calo e deste tecido surgiram indicações de raiz. Entretanto, o processo de enraizamento foi verificado entre sete e oito dias. Silva et al. (1995) estudaram o efeito da idade das raízes emergidas in vitro, substratos e espécies (pau-santo, mandioca, batata-doce e amora preta) na capacidade de aclimatização ex vitro. Os resultados demonstraram que o maior índice de sobrevivência está ligado à espécie, não sofrendo influência de nenhum substrato e nem da idade da raíz. A obtenção de uma planta com um sistema radicular bem desenvolvido é de grande importância para sua sobrevivência e crescimento nas novas condições ambientais. O tipo do sistema de raízes, obtido no enraizamento in vitro , também determina o sucesso do transplante, sendo as raízes mais curtas as mais adequadas, uma vez que apresentam-se na fase de crescimento ativo, facilitando a pega da planta (Grattaplagia & Machado, 1990). Para Debergh (1991), o processo de enraizamento é muito complexo incluindo fatores fisiológicos, bioquímicos e biológicos que interagem com os fatores ambientais. Além disso, a complexidade é aumentada pela multiplicidade de espécies e cultivares acompanhadas pela variabilidade biológica. Segundo Benincasa (1988), a partir dos dados de crescimento pode-se estimar, as causas de crescimento entre plantas geneticamente diferentes ou entre plantas crescendo em ambientes diferentes. O crescimento de uma planta pode ser estudado através de medidas de diferentes tipos: lineares (altura, comprimento entre outros), superfície (área foliar), peso e unidades estruturais. O presente trabalho teve como objetivo analisar o crescimento de plantas de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro em diferentes épocas de cultivo. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no laboratório FAMV/UPF, de agosto de 2000 a janeiro de 2001. O experimento foi conduzido com plantas de Gypsophila Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. paniculata, cultivar Bristol Fairy, oriundas do viveiro da FAMV/UPF. Das hastes coletadas foram retiradas as folhas. As hastes foram lavadas com água e desinfestadas com álcool 70%, por cinco segundos. Posteriormente, foram transferidas para uma solução de 1,5% de hipoclorito de sódio, acrescido de três gotas de tween-20 (1 gota para cada 100ml), durante dez minutos, e em seguida, foram feitas quatro lavagens com água destilada e esterilizada. Os ápices caulinares (1 mm) foram excisados em capela de fluxo laminar com auxílio de lupa estereomicroscópica, bisturi, pinças e placas de Petri, previamente esterilizados. Os ápices foram transferidos para tubos de ensaio (25 x 150 mm) contendo meio de isolamento estéril (15 ml), composto por macro e micronutrientes e vitaminas do meio básico MS (Murashige & Skoog, 1962), suplementado com 1,0 mg.L -1 de benzinoaminopurina (BAP), 0,01 mg.L1 de ácido naftalenoacético (ANA) e 0,1 mg.L-1 de ácido giberélico (GA3), 6 g.L1 de ágar e 30 g.L-1 de sacarose. O pH do meio de cultura foi ajustado em 5,9 com NaOH. Foi esterilizado em autoclave (1 atm) a 120°C, por vinte minutos. Posteriormente, os explantes em tubos de ensaio foram transferidos para um ambiente escuro por três dias em sala de cultura. Transcorrido esse período, foram colocados em uma sala de crescimento com luz (lâmpadas fluorescentes e temperatura controladas (12 h luz/dia a 25°C±2°C e luminância de ±25 mmol. m-2 . s-1). Os explantes permaneceram nestas condições por um período de 60 dias, quando foi feito o primeiro subcultivo. Os propágulos (2 cm) obtidos por subcultivos, foram transferidos para frascos com capacidade de 300 ml, contendo aproximadamente 50 ml de meio MS, suplementado com 0,4 mg.L-1 de Tiamina-HCl, 100 mg.L -1 de mioinositol, 0,05 mg.L-1 de ANA, 1,0 mg.L1 de BAP, 40 g.L-1 de sacarose e 7 g.L-1 de ágar, o qual se constituiu no meio de multiplicação. As mudas multiplicadas na etapa anterior foram repicadas para meio de enraizamento MS acrescido de 0,5 mg.L-1 de ácido indolbutírico (AIB), 30 g.L-1 de sacarose e 6 g.L-1 de ágar, onde permaneceram por 4; 8; 12; 16; 20 e 24 dias, os quais se constituíram nos tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados com seis repetições. Cada parcela constou de um frasco com cinco explantes. Em cada data de avaliação, foram analisadas matéria fresca e seca da raiz (MFR e MSR) e parte aérea (MFA e MSA). A massa da matéria seca foi obtida via secagem em estufa a 65°C até peso constante. A matéria fresca e seca da parte aérea e das raízes das plantas de Gypsophila paniculata foi determinada em uma balança digital analítica. Os resultados foram submetidos à análise de variância e de regressão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se resposta positiva para todas as variáveis estudadas no que se refere às diferentes datas em que as mudas de Gypsophila paniculata foram colocadas para enraizar in vitro. O crescimento da matéria fresca e seca da parte aérea apresentou um comportamento linear (Figura 1), indicando aumento no crescimento da muda ao longo do período testado. Calcula-se o aumento de 21,68 mg de matéria fresca da parte aérea para cada dia que as mudas permaneceram no meio de enraizamento in vitro (R2 = 0,95). Entretanto, para a formação da matéria seca da parte aérea, foi imprimido um crescimento de 2,45 mg, com um R2 equivalente a 0,98. Resultados semelhantes foram encontrados por Silva et al. (1995) ao trabalharem com plantas de Ipomea batatas e Manihot esculenta. Estes autores obtiveram resposta linear positiva no crescimento de matéria da folha no período de enraizamento in vitro. Com relação à matéria fresca e seca das raízes de brotações de Gypsophila paniculata, nas diferentes datas em que foram enraizadas, verificou-se também um comportamento linear (Figura 2). Estima-se um aumento de 6,34 mg de matéria fresca de raiz a cada dia em que as mudas permaneceram no meio de enraizamento in vitro, apresentando um coeficiente de correlação de 0,87. Por outro lado, cada dia no meio de enraizamento promoveu acréscimo de 515 N. Bosa, et al. Figura 1. Matéria fresca e seca da parte aérea no período de enraizamento in vitro. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001. balho foi observado o aparecimento de primórdios da raiz aos oito dias de permanência no meio de enraizamento. Em relação ao crescimento das raízes, resultados semelhantes foram encontrados por Pereira et al. (1999), os quais obtiveram crescimento linear em relação ao número de raízes formadas ao longo de 32 dias de cultivo in vitro para duas cultivares de morangueiro Hofla e Tangi. Também Hoffmann et al. (2001) obtiveram para a variável porcentagem de enraizamento um crescimento linear ao longo do tempo, ao estudarem o enraizamento in vitro de dois porta-enxertos de macieira (Marubakaido e M-26), em sete diferentes períodos (7-49 dias). Portanto, o crescimento da parte aérea e da raiz das mudas de Gypsophila paniculata cultivar Bristol Fairy foi progressivo ao longo dos dias de enraizamento, com surgimento dos primórdios da raiz a partir dos oito dias de permanência no meio de cultivo in vitro. AGRADECIMENTOS Figura 2: Matéria fresca e seca de raiz no enraizamento in vitro. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001. 0,30 mg na matéria seca por crescimento diário com R2= 0,86. Observou-se que o surgimento das raízes adventícias ocorreu, aproximadamente, oito dias após os propágulos terem sido transferidos para o meio de enraizamento. Nessa data, os valores de matéria fresca e seca da raiz foram de 0,33 e 0,003 mg, respectivamente. Aos doze dias, verificou-se que a MFR passou a 12,14 mg e a MSR a 0,64 mg. Hartmann & Kester (1990) descrevem o surgimento das raízes ocorrendo em dois períodos básicos: o primeiro caracteriza-se pelo período de iniciação com duração de 4-8 dias, que se subdivide em formação do meristema com intensa atividade de auxina e início da formação das raízes sem necessidade deste regulador; um segundo período caracteriza-se pela elongação radicular, no qual os tecidos que darão origem ao 516 primórdio se desenvolvem, rompem os tecidos internos e emergem na epiderme. Teo & Chan (1994) observaram início no enraizamento de Carica papaya L. após três a quatro dias de permanência no meio de cultivo; a extremidade basal da microestaca apresentou aparência de calo e deste tecido surgiram primórdios de raiz. Entretanto, registraram-se as primeiras ocorrências entre sete e oito dias. Resultados semelhantes foram verificados por Castro & Andrade (1995), ao detectarem em batata doce o surgimento de raízes in vitro , em torno do sétimo dia de cultivo. Da mesma forma, Hilare et al. (1996), ao estudarem anatomicamente o desenvolvimento de raízes adventícias in vitro com Mussaenda erythrophylla L., observaram atividade meristemática no quarto dia e o surgimento de raízes primordiais no sexto dia. No presente tra- Os autores agradecem à Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de mestrado e à Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) pela bolsa de Iniciação Científica. LITERATURA CITADA BENINCASA, M.M.P. Análise de crescimento de plantas (noções básicas). Jaboticabal: FUNEP, 1988. 42 p. CASTRO, C.E.F.; SILVEIRA,R.B.A.; PEREIRA, I.T.D.M. Propagação de Plantas Ornamentais: Cultura de Tecidos. In: CASTRO, C.E.F. (Ed.).Manual de Floricultura, Maringá: UEM,1993. p. 74-79. CASTRO, O.F.A.; ANDRADE, A.G. 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Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos 1 Nair Bosa2 ; Eunice Oliveira Calvete3 ;Vilson Antônio Klein 3; Marilei Suzin3 2/ EAFS, C. Postal 21, 99170-000 Sertão-RS; 3/FAMV-UPF,C. Postal 611, 99001-070 Passo Fundo-RS; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Dentro da horticultura um dos ramos que tem se expandido nos últimos anos é a floricultura, em função de sua rentabilidade. Neste sentido, o estudo e uso dos substratos para produção de mudas torna-se de grande importância, pois da qualidade da muda depende o resultado do produto final. Considerando que a qualidade de um substrato é o resultado de suas propriedades químicas e físicas, efetuou-se a caracterização dos mesmos. Este experimento foi realizado com o objetivo de avaliar o crescimento de plantas de Gypsophila paniculata cv. Bristol Fairy em diferentes substratos. Os tratamentos (seis substratos) foram dispostos em delineamento de blocos casualizados, com parcelas subdivididas no tempo, com quatro repetições. Cada parcela constou de 22 plantas, totalizando 588 mudas. Nos substratos, foram efetuadas as análises físico-químicas: densidade seca, porosidade total, espaço de aeração, água disponível, água facilmente disponível, pH, condutividade elétrica e capacidade de troca de cátions. As avaliações nas plantas foram realizadas semanalmente (7-35 dias) e constituíram-se da taxa de sobrevivência, volume de raízes, massa fresca e seca da parte aérea e da raiz. Os resultados indicaram que a característica disponibilidade de água otimiza a aclimatização de Gypsophila paniculata. Os melhores resultados para produção de mudas foram obtidos com os substratos FE1 (perlita + turfa) e FE4 (casca de pinus + perlita + turfa). Development of young plants of gypsophila in different substrates Palavras-chave: Gypsophila paniculata, propagação, in vitro, aclimatização. Keywords: Gypsophila paniculata, propagation, in vitro, acclimatisation. Floriculture is one of the branches in the horticulture that has expanded in the last years as a function of its profitability. The study and the use of substrates for producing young plants are important, once the gypsophila production depends on young plants quality. Considering that the quality of a substrate is the result of its chemical and physical properties, the characterisation of these properties was made. This trial was carried out to evaluate the growth of Gypsophila paniculala cv. Bristol Fairy plants in different substrates. The experimental design was a randomised complete blocking split-plot scheme with six treatments (substrates) and four replicates. Each plot consisted of 22 plants, totalizing 588 young plants. The following physical chemical analyses were performed: dry density, total porosity, aeration space, available water, water easily available, pH, electric conductivity and cations capacity change. Plant development was evaluated at weekly basis and the following parameters were measured: survival rate, root volume, fresh and dry matter of aerial part and root. Substrates with higher levels of water easily available optimised the Gypsophila paniculata acclimatization. The best results for young plants production were obtained with the substrates FE1(perlite + peat) and FE4 (pine of husks + perlite + peat). (Recebido para publicação em 20 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) N o Brasil, a Gypsophila paniculata é considerada uma das principais flores de corte, sendo apontada como o terceiro produto mais comercializado na CEAGESP e um dos dez mais vendidos no Veiling da Holambra (Castro, 1998). Os estados brasileiros maiores produtores dessa cultura são Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que São Paulo movimenta 70% da produção nacional de flores (IBRAFLOR, 2001). A propagação dessa espécie pode ser feita por estacas, utilizando-se regulador de crescimento (Kusey & Weiler, 1980; Arteaga & Amesquita, 1990; Blanco & Barrera, 1992) e por sementes, que resulta em plantas com desuniformidade e de custo elevado, pela dependência da importação (Hartmann & Kester,1990). A técnica mais vantajosa é a micropropagação (Kusey et al., 1980; Grattapaglia & Machado, 1998) a qual permite produção de mudas em escala comercial, livres de pragas e doenças em curto espaço de tempo. Os substratos assumem cada vez maior importância na área de Horticultura, desempenhando principalmente a função como suporte ao sistema de raízes de plantas. O desenvolvimento de raízes em um vaso é diferente daquele do campo (Kämpf, 2000). Assim, cultivos em recipientes alteram as condições entre as raízes e o substrato em razão do volume e espaços reduzidos (Bunt, 1961). Afim de compensar essas características, Bellé & Kämpf (1993) relatam que os substratos hortícolas devem apresentar elevado espaço de aeração, elevada capacidade de retenção de água, alta capacidade de troca de cátions (CTC) e baixo teor de sais solúveis (TTSS), entre outros itens. Segundo Verdonck et al.(1981), as propriedades físicas e químicas dos substratos podem variar muito; por isso, é importante conhecê-las para adaptálas às diferentes condições de uso. Entre as características físicas importantes na determinação da qualidade de um substrato, destacam-se densidade, porosidade total, espaço de aeração e retenção de água. Existem variações entre os valores considerados ideais para cultivo em substrato, que vão desde 170-1000 Kg.m-3, para a característica densidade; de 0,80-0,90 m3.m-3, para porosidade total; de 0,10-0,40 ¹ Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor, realizada na FAMV/UPF. 518 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos m3.m-3, para espaço de aeração e de 0,200,80 m3.m-3, para retenção de água no substrato (Grolli, 1991). Entre as características químicas mais importantes, encontram-se o valor de pH, o teor de sais solúveis e a capacidade de troca de cátions. Os valores de pH recomendados para o cultivo de plantas ornamentais, variam de 5,0-5,8 de acordo com Penningsfeld & Kurzmann (apud Fermino & Bellé, 2000); entre 5,5-6,5 para Lucas & Davis (apud Fermino & Bellé, 2000) e, entre 5,0-6,5 segundo Lopes & Alonso (apud Rodrigues & Medeiros, 2000). Os valores para teor total de sais solúveis, medidos por meio da condutividade elétrica (CE), são apresentados por Ballester-Olmos (1993) através da classificação: 0,75 mS.cm-1 muito baixo; 0,75-2,0 mS.cm-1 ideal para sementeiras e mudas em bandejas; 2,03,5 mS.cm-1 apropriado para a maioria das plantas e acima de 3,5 mS.cm-1 muito alto. Com relação à CTC, Conover (1967) considera satisfatórios valores entre 10-30 cmol c. L -1 de matéria seca.Verdonck et al. (1981) estabeleceram como ideal substrato com CTC superior a 12 cmol c.L-1. Existem poucos trabalhos que relatam o estudo do substrato na fase de transplante da planta desenvolvida in vitro para as condições ex vitro. Plantas de Telopea speciosissima não enraizadas in vitro foram aclimatizadas em condições de alta umidade, sob três diferentes substratos: areia, areia + turfa (1:1v/ v) e turfa + perlita (1:1 v/v). A mistura com turfa + perlita apresentou o maior número de explantes enraizados ex vitro (Offord & Campbell,1992). Por outro lado, Fior & Kämpf (1999) apontam o substrato composto por 50% de casca de arroz carbonizada e 50% de turfa como o de melhores aptidões para aclimatização de Limonium platyphyllum. Schneider (2000), ao pesquisar aclimatização da mesma espécie, concluiu que em bandejas de 242 células, com cinco cm de altura, as plantas têm maior desenvolvimento em substratos com 14% de espaço de aeração, 7% de água facilmente disponível e 47% de água disponível. Já, Calvete et al. (2000), observando as peculiaridades de cada espécie e as exigências diferenciadas da planta em cada fase de crescimento ex vitro, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. pesquisaram diferentes misturas durante a aclimatização de mudas de morangueiro da cv. Campinas e obtiveram plantas mais desenvolvidas, quando utilizaram casca de arroz queimada e turfa preta (mineralizada). Esses substratos apresentaram maior retenção de água e menor espaço de aeração e proporcionaram maior sobrevivência, crescimento e qualidade nas mudas. No enraizamento de estacas in vivo de crisântemos, rosas e cravos, os floricultores utilizam apenas o composto de casca de arroz carbonizada, em razão do elevado volume de aeração que esse material apresenta (Bellé & Kämpf, 1994). Observam-se respostas diferenciadas entre espécies em relação ao substrato selecionado. Assim, este experimento teve como objetivo analisar o crescimento de mudas de Gypsophila paniculata, em diferentes substratos durante a aclimatização, visando selecionar aquela que apresenta uma melhor resposta para a produção comercial de mudas. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado na FAMV/UPF, de maio a dezembro/01. Para a fase in vitro, utilizaram-se ápices caulinares (explantes) retirados de hastes de Gypsophila paniculata cultivar Bristol Fairy, multiplicados por três subcultivos sucessivos até atingir o número necessário de mudas. Para o enraizamento, as mudas foram colocadas em meio de cultura MS (Murashige & Skoog, 1962), acrescido de 0,5 mg L1 de AIB, 30 g L-1 de sacarose e 6,0 g L1 de ágar, sendo utilizadas cinco mudas/ frasco. Os explantes foram mantidos em frascos com capacidade de 300 cm3, cobertos com filme de PVC transparente, sob fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 27±2°C. Aos 25 dias de enraizamento in vitro, selecionou-se as plantas com comprimento médio de 2,5 cm, as quais foram retiradas dos frascos, lavadas e transferidas para bandejas de poliestireno expandido com 72 células de 110 cm3 cada uma, preenchidas previamente por diferentes substratos, que constituíram os tratamentos casca de arroz carbonizada (CAC) e cinco substratos comerciais da Empresa Turfa Fértil-SC denominados de Horta (casca de pinus + turfa), Jardim (casca de pinus + turfa), Ornamental (casca de pinus + turfa + sílica), FE 1 (perlita + turfa) e FE 4 (casca de pinus + perlita + turfa). Para descrever as características físico-químicas dessas misturas foram feitas várias análises. Na caracterização química, efetuou-se o pH, teor total de sais solúveis (TTSS) expresso em condutividade elétrica (CE) e capacidade de troca de cátions (CTC), no Laboratório de Solos da FAMV/UPF. Para a caracterização física, efetuaram-se densidade do substrato (DS), porosidade total (PT), espaço de aeração (EA), água facilmente disponível (AFD) e água disponível (AD), no Laboratório de Física do Solo da FAMV/UPF, obtidas através da curva de retenção de água pelo método do funil de placa porosa, a partir das sucções de 0; 10; 50 e 100 cm (0; 1; 5 e 10 Kpa), fundamentado por De Boodt & Verdock, (1972) e Libardi, (1995) e descrito por Calvete (1998). A aclimatização foi feita em estufa plástica sob sistema de nebulização intermitente, regulado por timer automático, sendo que a cada doze minutos as plantas recebiam irrigação de seis segundos, em forma de névoa. No decorrer deste trabalho, foram registradas alterações na temperatura e na umidade relativa do ar em termo-higrógrafo de registro semanal, instalado no interior da estufa. Três aplicações de nutrientes e duas de fungicidas (Metalaxyl na dosagem de 3 g.L-1) foram efetuadas durante o período em que as mudas permaneceram nos substratos. A solução nutritiva foi preparada à base dos componentes da solução estoque do meio MS citado por Caldas et al. (1998) nas quantidades de 1 ml.L-1 das soluções E, F e G; 2ml.L-1 das soluções D e H; 4 ml.L-1 da solução A e 5 ml.L-1das soluções B e C. Antes da aplicação, diluiu-se esta solução na proporção de 1:5 (solução: água). Os tratamentos (seis substratos) foram dispostos em blocos ao acaso, com parcelas subdivididas no tempo em quatro repetições. Cada parcela constou de 22 plantas, com uma planta/célula, totalizando 528 plantas. 519 N. Bosa, et al. Tabela 1. Características químicas e físicas dos substratos. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001. Médias de valores considerados ideais de acordo com: pH Fermino & Bellé (2000); CE Ballester-Olmos (1993); CTC Verdonck et al. (1981); DS Kämpf (2000); PT, EA, AFD e AD De Boodt & Verdonck (1972). Durante a execução do experimento, foram avaliadas semanalmente (até 35 dias) as características de sobrevivência (%), volume de raiz (cm3), matéria fresca e seca da raiz (MFR e MSR) e aérea (MFA e MSA) em miligramas. A taxa de sobrevivência foi determinada semanalmente, através da contagem das plantas sobreviventes. Para a avaliação das demais variáveis, utilizaram-se três plantas/parcela. O volume foi determinado segundo metodologia descrita por Basso (1999). O procedimento consiste em colocar as raízes em proveta graduada, contendo um volume conhecido de água. Pela diferença de volume obtémse a resposta direta por equivalência de unidades (1ml = 1cm3). O peso da matéria seca foi obtido pela de secagem em estufa a 65°C até peso constante. A matéria da parte aérea e das raízes foi determinada em uma balança digital analítica (Sartorius). Obteve-se o grau de associação entre os dados de crescimento e as características físicas e químicas dos substratos, efetuando-se a análise de correlação. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão. O cálculo da equação quadrática foi efetuado, utilizando-se os valores da equação e aplicando-se a fórmula (-b/2c). RESULTADOS E DISCUSSÃO Observa-se com relação às características químicas, que apenas o substrato CAC apresentou-se fora dos limites considerados ideais (Tabela 1). Os 520 substratos comerciais apresentaram-se dentro das faixas indicadas para o cultivo de plantas ornamentais (Fermino & Bellé, 2000; Ballester-Olmos, 1993; Verdonck et al.,1981). Enquanto o pH variou entre 5,1 para o substrato Horta e 5,7 para o substrato FE1, a CAC apresentou o valor de 7,1. Puchalski & Kämpf (2000) encontraram valor semelhante em estudos de substratos com hibiscos. Estes autores concluíram que este pH não limitou o enraizamento desta espécie. Com relação à condutividade elétrica, os substratos comerciais apresentaram valores ideais (0,75-2,0 mS.cm-1) para mudas em bandejas segundo Ballester-Olmos (1993), compreendidos entre 0,96-1,36 mS.cm-1 para os substratos FE4 e Ornamental, respectivamente. A CAC encontra-se abaixo da faixa ideal, com o valor de 0,30 mS.cm1 . No entanto, Kämpf (2000) salienta que a CAC é um material de baixa salinidade, o que a torna imprópria para o cultivo de plantas, sendo a mesma recomendada para enraizamento de estacas. Verdonck et al.(1981) consideraram satisfatória a CTC acima de 12 cmol c.L1 . A CTC dos substratos comerciais apresentou uma amplitude entre 41,8 cmol L-1 (substrato FE4) e 51,4 cmol c.L-1 c. (substrato Jardim). O substrato CAC ficou abaixo dessa recomendação (6,8 cmol c.L-1). Do ponto de vista das características físicas, a densidade seca dos substratos comerciais apresentou uma amplitude de 0,22 Kg.m-3 no substrato FE1 e 0,51 Kg.m-3 no substrato Ornamental; por outro lado, a CAC apresen- tou 0,15 Kg.m-3. Os materiais FE1, FE4 e CAC apresentam valores considerados satisfatórios para propagação em células e bandejas (0,10-0,30 Kgm-3), ao passo que Ornamental foi o substrato com maior densidade (0,51 Kg.m-3), o que pode ter afetado o crescimento das raízes. Com relação à porosidade total, apenas a CAC foi superior ao volume recomendado (0,85 m3.m-3), apresentando valor de 0,88 m3.m-3. No entanto, os materiais FE1 e FE4 apresentam-se muito próximos ao ideal. Observa-se que a maioria dos substratos apresentaram espaço de aeração abaixo da faixa considerada ideal por De Boodt & Verdonck (1972), de 0,20-0,30 m3m-3. Apenas o material CAC apresentou valor superior, com 0,62 m3.m-3. Bellé & Kämpf (1993) encontraram o valor 0,42 m3.m-3 para essa característica. Esse material é utilizado para o enraizamento de estacas de espécies ornamentais, pois destaca-se pelo elevado volume de aeração e por resistir à decomposição, mantendo a estabilidade do material. Quanto à capacidade de retenção de água, somente os substratos FE1 e FE4 apresentamse dentro dos valores ideais, com 0,25 e 0,27 m3.m-3. Esses materiais, provavelmente, apresentam alta macroporosidade. Entretanto, os substratos Horta e Jardim ficaram muito próximos à faixa considerada ideal. Por outro lado, os materiais Ornamental e CAC apresentam valores abaixo do limite ideal, revelando uma marcante macroporosidade. Observou-se efeito positivo da aclimatização sobre as mudas de Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos Gypsophila paniculata cv. Bristol Fairy, produzidas em diferentes substratos. A sobrevivência das plantas apresentou-se de forma diferenciada (p=0,0002) no decorrer da realização do experimento. Plantas desenvolvidas no substrato à base de CAC demonstraram superioridade com a maior taxa de sobrevivência (99%), seguidas das plantas do material FE 4 (97%). Entretanto, no substrato Horta houve a menor taxa de sobrevivência (95%). Embora, no geral, as taxas de sobrevivência tenham sido altas, observa-se um leve declínio ao longo do período. Resultados contrários foram observados por Silva et al. (1995), pesquisando Ipomea batatas e Manihot esculenta, quando, a partir dos dez dias após a emissão das raízes, as plantas elevaram o índice de sobrevivência, embora a última espécie tenha demonstrado maiores dificuldades para aclimatizar-se. Independentemente do substrato utilizado, para a produção de mudas de Gypsophila paniculata, o volume de raízes durante a aclimatização variou, apresentando um comportamento semelhante para cinco dos seis substratos (Figura 1). Apenas o substrato FE4 mostrou um comportamento quadrático apresentando o maior volume de raízes entre os materiais estudados aos trinta dias de enraizamento ex vitro. Provavelmente, isso tenha ocorrido devido a limitação do espaço físico das células da bandeja, as quais se encontravam completamente ocupadas pelas raízes por ocasião da última avaliação. De acordo com Reis, apud Nicoloso et al. (2000), a restrição do crescimento de raízes provocada pelo volume do recipiente pode promover o desequilíbrio na razão entre raízes e parte aérea, alterando as respostas fisiológicas da planta. Observa-se que o volume das raízes desenvolvidas nos substratos FE1 e CAC apresentou um aumento diário de 0,011 e 0,008 cm3, respectivamente, durante o período de aclimatização. Entretanto, o volume das raízes que se desenvolveram nos substratos Horta, Jardim e Ornamental, foi o mais reduzido. A variação na massa seca das raízes durante a aclimatização foi semelhante em todos os tratamentos, porém com intensidade variada, comportando-se Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Volume das raízes de Gypsophila paniculata em diferentes substratos, durante o período de aclimatização. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001. Figura 2. Matéria seca de raízes de Gypsophila paniculata em diferentes tipos de substratos, durante o período de aclimatização. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001. com um aumento linear ao longo das datas de avaliação para todos os substratos (Figura 2). Observa-se, inicialmente, a superioridade do acúmulo de massa seca de raízes na mudas que se desenvolveram no substrato com CAC até aproximadamente o 16º dia de enraizamento ex vitro. Essa superioridade inicial das raízes em CAC deve ter ocorrido por ocasião da elevação da umidade relativa do ar (71%) e redução da temperatura (21°C) verificada nesse período, pois esse material apresenta elevado volume de aeração, proporcionando maior drenagem. Em vista disso, essas condições ambientais provavelmente devem ter proporcionado menor evapotranspiração na planta e, com isso, o substrato permaneceu mais úmido. Após o 16° dia, observa-se maior biomassa nas plantas desenvolvidas no substrato FE4, mantendo-se até o final do período. Estes resultados devem ter sido favorecidos, provavelmente, pela capacidade de retenção de água deste substrato. Os dados são contrários aos encontrados por Bellé & Kämpf (1993), quando os substratos contendo CAC promoveram grande ramificação das raízes de plantas de maracujá in vivo, pois atingiram volume, comprimento e superfície duas vezes superiores aos demais substratos testados, porém concordam com Calvete et al.(2000) e Schneider (2000). Por outro lado, Kämpf (2000) cita o uso de CAC, para enraizamento de estacas de crisântemos e roseiras, em função das baixas densi521 N. Bosa, et al. dades e capacidade de retenção de água, boa aeração e drenagem rápida. Com relação à matéria de raiz fresca, apenas o substrato FE4 apresentou um comportamento quadrático; os demais obtiveram um crescimento linear ao longo do tempo. As plantas desenvolvidas no material FE4 apresentaram um desempenho superior. Por outro lado, as mudas obtidas no substrato Jardim apresentaram o menor desenvolvimento, com um crescimento diário de raiz de 5,6 mg. Possivelmente, o resultado positivo das plantas no substrato FE4 tenha ocorrido em função da boa capacidade de retenção de água deste material. Resultados semelhantes foram encontrados por Kusey & Weiler (1980), os quais encontraram superioridade no enraizamento de Gypsophila paniculata (cv.Bristol Fairy) em substratos com maior retenção de água. Também Castro et al. (1996), ao testarem areia pura e areia + turfa no enraizamento de Gypsophila, obtiveram melhor resposta em plantas obtidas na mistura. Possivelmente, o acréscimo da turfa tenha melhorado a reserva hídrica, entretanto, resultados contrários foram obtidos por Offord & Campbell (1992), no enraizamento de Telopea speciosissima. Com relação à parte aérea, as respostas do crescimento de Gypsophila paniculata para matéria fresca e seca apresentaram um comportamento linear ao longo do tempo em todos os substratos. As plantas cultivadas no substrato FE4 obtiveram um ganho superior de massa fresca, apresentando um incremento diário de 26,64 mg, com um R2 de 0.79, seguido daquelas do FE1 (24,65mg), até o final do período. Estes dois materiais apresentam boa capacidade de retenção de água e baixa aeração. Plantas produzidas nos substratos FE4 mostraram-se superiores em todas as características avaliadas, seguido pelo material FE1. Por outro lado, as mudas obtidas nos materiais CAC, Horta, Jardim e Ornamental apresentaram resultados inferiores. Os dados aqui encontrados sugerem que a resposta positiva das plantas aos substratos com maior retenção de água durante a aclimatização pode ser resultado de uma característica específica da planta. Resultados semelhantes foram encontrados 522 por Calvete et al. (2000) e Schneider (2000), entretanto, são contrários aos encontrados por Aldrufeu (1987), Kämpf & Jung (1991). Nestes estudos, o maior enraizamento ex vitro ocorreu em substratos com alto espaço de aeração. A análise do grau de associação realizada, mostrou efeito positivo apenas entre a disponibilidade de água (AFD) e a matéria fresca da parte aérea (MFA), com um grau de associação de 83%. Os substratos FE4 (casca de pinus + perlita + turfa) e FE1 (perlita + turfa) apresentam maior retenção de água e menor espaço de aeração comparados com a faixa ideal (0,20-0,30 m3.m-3), proporcionando maior crescimento nas mudas de Gypsophila paniculata cv. Bristol Fairy. Das características químicas e físicas analisadas, apenas a água disponível (AFD) tem relação com a parte aérea. Desta forma, para propagar gipsofila deve-se utilizar os substratos FE 4 e FE 1 , pois otimizam a aclimatização. AGRADECIMENTOS O primeiro autor agradece à Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de mestrado. À Empresa Turfa-Fértil-SC, na pessoa do Eng. Agr. Amilcar Seus Ferreira, pela cedência dos substratos comerciais. LITERATURA CITADA ARTEAGA, A.D.; AMEZQUITA, M.O. Efecto de la localización del esqueje en la planta madre, sobre el enraizamiento de Gypsophila paniculata L. Agronomia Colombiana, v. 7, p. 47-53, 1990. ALDRUFEU, A. 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Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 524-528, julho-setembro 2003. Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência Francisco Hevilásio F. Pereira1; Mário Puiatti1; Glauco V. Miranda1; Derly J.H. da Silva1; Fernando L. Finger1 1/ UFV, Depto. Fitotecnia, 36570-000, Viçosa-MG; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a divergência genética de acessos de taro pertencentes ao Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV por meio dos caracteres morfo-qualitativos de inflorescências. O experimento foi conduzido a campo em Viçosa, de setembro/2000 a julho/2001. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com cinco repetições e 36 tratamentos (clones), dos quais apenas 11 acessos (BGH 5920, BGH 5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 6136, BGH 6306 e BGH 6606) apresentaram florescimento espontâneo, passíveis de serem avaliados. A proporção entre o apêndice estéril e porção masculina foi em média de 1,02, variando de 0,4 (BGH 6136) a 1,4 (BGH 6087). A inflorescência é circundada por uma espata cuja coloração da parte superior (CL) varia do amarelo claro, com ou sem a presença de manchas vermelhas, ao amarelo alaranjado. A cor da porção inferior da espata, contendo as flores femininas (tubo da inflorescência), varia do verde, com ou sem raias ou manchas escuras a púrpura. A espata, na antese, apresenta-se na forma aplanada (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6306) ou encapuchada (BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6136 e BGH 6606), com a porção masculina exposta ou envolta, respectivamente. A cor da haste das inflorescências (pedúnculo) variou do verde claro ao púrpuro, com proporção entre comprimentos do pedúnculo e da inflorescência (PCPI) média de 1,8, variando de 1,1 (BGH 5927) a 2,3 (BGH 6089). As inflorescências saem em número de 1 a 5 por axila foliar (NIAF) e apresentam de 1 a 2 ramalhetes florais por planta (NRFP). Os acessos de taro, agrupados pelo método de Tocher, formaram quatro grupos: I (BGH 5920, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 5926, BGH 6606 e BGH 6087), II (BGH 6089 e BGH 6306), III (BGH 6136) e IV (BGH 5927). Com base na dispersão dos últimos componentes principais, as variáveis NRFP, CL, PCPI e NIAF, demonstraram ser de pouca importância para a descrição da variabilidade de inflorescências de taro. Genetic divergence in taro accesses based on the morphological characteristics of inflorescence Palavras-chave: Colocasia esculenta, florescimento, clone, descritores. Keywords: Colocasia esculenta, flowering, clone, descriptors. The genetic diversity of taro of the Germoplasm Bank of the Universidade Federal de Viçosa, Brazil, was evaluated, by analyzing morphological and quality characteristics of the inflorescence. Plants were grown from 19/09/00 to 13/07/01. Field plots were arranged in a randomized block design with five replicates containing 36 treatments (clones), in which only 11 accesses (BGH 5920, BGH 5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6093, BGH 6094, BGH 6136, BGH 6306 and BGH 6606) flowered spontaneously. The ratio between sterile appendage and male portion was in average 1.02, varying from 0.4 (BGH 6136) to 1.4 (BGH 6087). The inflorescence is surrounded by a spathe with ligth yellow color at the upper part (LC), with or without spots of red, or yellow-orange color. The botton portion of the spathe which contains the female flowers (inflorescence tube) varied from green, containing or not strips or spots dark to purple color. At anthesis, the spathe shows flat format (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 and BGH 6306) or hooded (BGH 5927, BGH 5987, BGH 6089, BGH 6136 and BGH 6606), with the male portion exposed or enclosed, respectively. The color of flower stalk varied from pale green to purplish, and ratio between total and inflorescence stalk length (LSLIR) average was 1.8, varying from 1.1 (BGH 5927) to 2.3 (BGH 6089). Number of inflorescences (NI) ranged from 1 to 5 per leaf axis, composing 1 to 2 floral clusters per plant (NFCP). Based on flower morphology the accesses formed four groups by Tocher method: I (BGH 5920, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 5926, BGH 6626 and BGH 6087), II (BGH 6089, BGH 6306), III (BGH 6136) and (BGH 5927). Based on dispersion analysis from the last main components, the variables LC, LSLIR, NI and NFCP, showed little influence on the variability description of the inflorescence. (Recebido para publicação em 20 de maio de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003) O taro, Colocasia esculenta (L.) Schott, também conhecido popularmente como inhame no centro-sul do Brasil, é a principal hortaliça da família Araceae (Pedralli et al., 2002). É uma importante olerácea do grupo “hortaliças de raízes, tubérculos e rizomas”, cuja importância social e econômica vem crescendo nos trópicos e subtrópicos úmidos. No Brasil, os clones de taro existentes apresentam grande variabilidade morfológica 524 (Puiatti, 2002), o que permite supor a existência de acentuada diversidade genética. Acredita-se que as novas formas de taro originam-se de mutações de estruturas vegetativas, pois, na natureza, raramente ocorrem sementes férteis, devido à incapacidade de autopolinizar-se e à falta de polinizadores reconhecidamente eficientes (Ivancic, 1995). O pouco conhecimento sobre a floração do taro tem restringido o me- lhoramento genético da cultura aos métodos de coleta e de avaliação de clones existentes. Recentemente, a exploração intensiva dessa espécie tem demandado cultivares mais produtivas. A hibridação artificial é a principal fonte de variação nos programas de melhoramento tradicional. Entretanto, em taro, o principal fator que limita a clássica hibridação intraespecífica é a irregularidade do florescimento e as anormaliHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência dades de estruturas florais, que se intensificam com a aplicação de indutores do florescimento (Ivancic, 1995). O taro não floresce naturalmente em todas as condições ambientais e épocas de cultivo. As inflorescências desenvolvem somente quando as condições básicas, ambientais e fisiológicas, são satisfeitas plenamente. Em Viçosa, sob condições de calor e umidade elevados, temse observado que alguns acessos de taro pertencentes ao Banco de Germoplasma de Hortaliças florescem espontânea e esporadicamente (Puiatti, 2002). A caracterização de acessos de taro possibilita a identificação dos clones, o intercâmbio de germoplasma, a determinação da divergência genética e a possível utilização em programas de melhoramento. Várias metodologias que utilizam análises multivariadas podem ser utilizadas para determinação de divergência genética. A maioria dessas metodologias é direcionada para análise de caracteres quantitativos ou caracteres qualitativos binários (ausência e presença). Entretanto, na caracterização de acessos em bancos de germoplasma, geralmente, avaliam-se descritores qualitativos que apresentam várias classes, ou seja, multicategóricos. Em taro, omo exemplo temos a cor da lâmina (parte superior da espata) nas inflorescências que pode variar de amarelo-clara, amarelo-alaranjada ou amarela com manchas vermelhas. Segundo Coimbra et al. (2001), uma das alternativas de análise seria a transformação dessa característica em binária, considerando-se a classe com maior freqüência como presença e as demais como ausência (amarela e não amarela, por exemplo). Entretanto, pode-se observar que existe perda de informações neste tipo de análise. Outra alternativa é a utilização de matrizes de dissimilaridade a partir de dados multicategóricos com posterior análise de agrupamento para se avaliar divergência genética (Coimbra et al., 2001). O presente trabalho teve como objetivo caracterizar e avaliar a divergência genética do germoplasma de taro do Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV, por meio de caracteres morfológicos de inflorescências. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. MATERIAL E MÉTODOS O experimento, para a caracterização morfológica de inflorescências de acessos de taro do Banco de Germoplasma de Hortaliças/UFV, foi conduzido na Horta de Pesquisa/UFV, Viçosa-MG, no período de 19/09/00 a 13/07/01. As condições climáticas, durante esse período, foram: temperatura mínima de 11,70 a 19,52, média de 16,84 a 24,49 e máxima de 24,39 a 32,43ºC; umidade relativa de 73,86 a 87,60%; Insolação média de 3,07 a 8,61 h dia-1; e precipitação pluvial de 0,20 a 229,0 mm mês-1. Os tratamentos foram constituídos dos 36 acessos de taro pertencentes ao BGH/UFV (BGH 5913, BGH 5914, BGH 5915, BGH 5916, BGH 5917, BGH 5918, BGH 5920, BGH 5921, BGH 5925, BGH 5926, BGH 5927, BGH 5928, BGH 5929, BGH 5931, BGH 6086, BGH 6087, BGH 6088, BGH 6089, BGH 6091, BGH 6092, BGH 6093, BGH 6094, BGH 6095, BGH 6132, BGH 6136, BGH 6137, BGH 6298, BGH 6306, BGH 6307, BGH 6308, BGH 6315, BGH 6606, BGH 6607, BGH 6708, BGH 6730 e BGH 7006), dos quais somente 11 acessos (BGH 5920, BGH 5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 6136, BGH 6306 e BGH 6606) apresentaram florescimento espontâneo, portanto, passíveis de serem avaliados. Os tratamentos foram distribuídos em blocos casualisados, com cinco repetições. As parcelas foram compostas de quatro fileiras de 4 m de comprimento, espaçadas de 1,0 x 0,5 m, contendo 32 plantas. As parcelas foram distanciadas, umas das outras, de 2 m nas laterais e de 1 m nas extremidades. As medidas, para caracterização morfológica e avaliação da divergência genética, via inflorescências, foram realizadas na antese considerando-se todas as plantas da parcela. A avaliação morfológica foi realizada com base nos descritores para Colocasia (IPGRI, 1999) e os principais caracteres considerados foram: Proporção entre o apêndice estéril e a porção masculina (PAEPM): avaliada por meio de notas, tomando-se as respectivas dimensões longitudinais, em que: 1<0,2; 2 = 0,2-0,5; 3 = 0,6-1,0; 4 = 1,1-1,5; e 5>1,5. Cor da lâmina, referente à parte superior da espata (CL): escala de 1 a 7, observada na parte externa e superior da espata em que: 1 = amarelo claro; 2 = amarelo alaranjado; 3 = amarelo com manchas verdes ou verde púrpura; 4 = amarelo com manchas vermelho ou vermelho purpúreo; 5 = laranja avermelhado; 6 = vermelho; e 7 = púrpura ou púrpura azulada. Cor do tubo da inflorescência, referente à porção inferior da espata (CTI): escala de 1 a 6, observada na parte inferior da espata que envolve as flores femininas em que: 1 = verde; 2 = verde com raias ou listas ou manchas claras (amarelas); 3 = verde com raias ou manchas escuras (vermelha, púrpura ou castanho); 4 = vermelho; 5 = púrpura; e 6 = amarronzado. Forma da espata na porção masculina (FE): escala de 1 a 8, em que: 1 = encapuchada (forma de capuz); 2 = carenada; 3 = aplanada; 4 = Completamente aberta e inclinada; 5 = enrolada para trás; 6 = sinuosa ou torcida; 7 = enrolada e sinuosa ou torcida; e 8 = cerrada e sinuosa ou torcida. Porção masculina da inflorescência (PMI): escala de 1 a 2 em que: 1 = envolta e 2 = exposta. Cor da haste da inflorescência (CHI): escala de 1 a 8 em que: 1 = esbranquiçada (transparente); 2 = amarela; 3 = alaranjada; 4 = verde claro; 5 = verde; 6 = vermelha; 7 = marrom; e 8 = púrpura. Proporção entre os comprimentos do pedúnculo e da inflorescência (PCPI): escala de 1 a 5, tomando as respectivas dimensões longitudinais, em que: 1<0,2; 2 = 0,2-0,5; 3 = 0,6-1,0; 4 = 1,1-1,5; e 5>1,5. Número de inflorescências por axila foliar (NIAF): escala de 1 a 5 em que: 1 = uma; 2 = duas; 3 = três; 4 = quatro; e 5 = cinco ou mais inflorescências. Número de ramalhetes florais por planta (NRFP): escala de 1 a 5 em que: 1 = 1; 2 = 2-3; 3 = 4-6; 4 = 7-10; e 5> 10. A divergência genética (grupos de similaridade genética) foi calculada pela 525 F. H. F. Pereira, et al. Figura 1. Corte longitudinal da inflorescência de taro mostrando aspectos externos e internos das partes constituintes da espádice: A pedúnculo, B - flores femininas, C - área de constrição estéril, D - flores masculinas, E ápice estéril, F- lâmina da espata e G tubo da espata-. Viçosa, UFV, 2000-01. análise de agrupamento baseada no Método de Otimização de Tocher, sendo as medidas de dissimilaridade utilizadas obtidas pelo procedimento para dados multicategóricos do programa GENES (Cruz, 2001). Esta metodologia consiste na obtenção de um índice, em que são considerados vários caracteres simultaneamente, sendo que cada caráter pode apresentar várias classes. O índice leva em consideração a ocorrência e concordâncias de valores. Por exemplo, ao se considerar um caractere com cinco classes, concordâncias entre dois genótipos são: 11, 22, 33, 44 e 55, sendo discordâncias: 12, 13, 14, 15, 21, 23, ..., 54. A distância entre os genótipos i e j, não importando o número de caracteres ou classes envolvidas, é dada pela fórmula: Dij = (1 - C)/(C + D), em que: C = Concordância de valores; D = Discordância de valores. A análise de agrupamento baseada no Método de Otimização de Tocher, tem por objetivo a formação de grupos em que os valores das distâncias intragrupos sejam inferiores a quaisquer distâncias intergrupos. Os grupos formados com a utilização desse método, baseado em descritores qualitativos, apresentam como medida de dissimilaridade variáveis multicategóricas. 526 Figura 2. Formato da espata na antese masculina: encapuchada (BGH 6606) e aplanada (BGH 6306). Viçosa, UFV, 2000-01. Foi realizada a análise de componentes principais a partir de dados padronizados. Para a realização da análise, considera-se que xij é a média padronizada do j-ésimo caráter (variável) (j = 1,2,..., v) avaliado no i-ésimo genótipo (i = 1, 2, ..., g) e R a matriz de covariâncias ou de correlação entre esses caracteres (ou matriz de correlação fenotípica entre os caracteres utilizando-se os dados originais). A técnica dos componentes principais consiste em transformar o conjunto de v variáveis em novo conjunto, que são funções lineares dos xi’s e independentes entre si. RESULTADOS E DISCUSSÃO O início do florescimento ocorreu em 21/01/01, aos 120 dias após o plantio. Dos 11 acessos que floresceram, 10 tiveram o período de florescimento de 97 dias (até 28/04/01) e um acesso (BGH 5927) de 119 dias (20/05/01). Esses resultados foram semelhantes ao encontrados por Pimenta et al. (1994), em dois experimentos com indução hormonal do florescimento de taro conduzidos em casa de vegetação, os quais obtiveram valores de 128 e de 99 dias do plantio ao início da floração e de 150 e 85 dias no período de emissão de flores. O florescimento foi superior a 10% nos clones BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6306; inferiores a 10% nos clones BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6136 e BGH 6606 e ausente nos demais clones. A inflorescência do taro é em espádice, típica das aráceas, com flores masculinas no ápice e femininas na base, separadas por uma constrição transversa no meio, apresentando apêndice estéril no ápice, em todos os acessos avaliados (Figuras 1 e 2). A proporção entre o apêndice estéril e porção masculina foi em média de 1,02, variando de 0,4 (BGH 6136) a 1,4 (BGH 6087). Os acessos BGH 5920 e BGH 6606 apresentaram proporção entre o apêndice estéril e porção masculina, em média, de 1,2; os acessos BGH 6089 e BGH 6306 apresentaram em média 0,7; BGH 6091, BGH 6093 e BGH 6094 apresentaram, em média, 1,1; o acesso BGH 5927 apresentou em média 1,3 e o acesso BGH 5926 apresentou em média 1,0. A inflorescência apresenta-se circundada por uma espata cuja coloração da parte superior varia do amarelo-claro, com ou sem a presença de manchas vermelhas, ao amarelo-alaranjado. A cor da porção inferior da espata contendo as flores femininas (tubo da inflorescência) varia de verde, com ou sem raias ou manchas escuras, a púrpura. A cor da haste das inflorescências (pedúnculo) Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência Tabela 1. Caracterização morfológica de acessos de taro do BGH/UFV, com base nas características proporção entre apêndice estéril e porção masculina (PAEPM), cor da lâmina (CL), cor do tubo da inflorescência (CTI), forma da espata (FE), porção masculina da inflorescência (PMI), cor da haste da inflorescência (CHI), proporção entre comprimentos do pedúnculo e da inflorescência (PCPI), número de inflorescências/ axila foliar (NIAF) e número de ramalhetes florais/planta (NRFP). Viçosa, UFV, 2000-01. *N – nota; C – característica; V - valor médio; AC - amarelo claro; ACMV - amarelo claro com manchas vermelhas; AA - amarelo alaranjado; Ve - verde; VME - verde com manchas escuras; PU - púrpura; AP - aplanada; ENC - encapuchada; EXP - exposta; ENV envolta; VC - verde claro. variou de verde-claro a púrpura. Os acessos BGH 5920, BGH 5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6606 apresentam cor da extremidade da inflorescência (parte superior da espata) amarela-clara, cor do tubo da inflorescência verde e cor da haste da inflorescência verde-clara. Os acessos BGH 6089 e BGH 6306 apresentam cor da extremidade da inflorescência (parte superior da espata) amarela com manchas vermelhas, cor do tubo da inflorescência verde com raias ou manchas escuras e cor da haste da inflorescência púrpura. O acesso BGH 6136 apresenta cor da extremidade da inflorescência (parte superior da espata) amarela-alaranjada, cor do tubo da inflorescência púrpura e cor da haste da inflorescência púrpura. A espata, na antese, apresenta-se na forma aplanada (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6306) ou encapuchada (BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6136 e BGH 6606), com porção masculina exposta ou envolta, respectivamente (Figura 2). A proporção entre o comprimento do pedúnculo e comprimento da inflorescência foi, em média, de 1,8, variando de 1,1 (BGH 5927) a 2,3 (BGH 6089). Os acessos BGH 5920 e BGH Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 6606 apresentaram a proporção entre o comprimento do pedúnculo, em média, de 1,6; os acessos BGH 5926 e BGH 6094 apresentaram, em média, de 1,7; os acessos BGH 6093 e BGH 6136 apresentaram, em média, de 1,9; os acesso BGH 6087; BGH 6091 e BGH 6306 apresentaram, em média, 1,5; 2,1 e 1,8, respectivamente. As inflorescências saem em número de um (BGH 6136) a 5 (BGH 6087, BGH 6089 e BGH 6094) por axila foliar e apresentam de 1 (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6091, BGH 6094, BGH 6136, BGH 6306 e BGH 6606) a dois (BGH 5927 e BGH 6093) ramalhetes florais por planta. Os acessos de taro, com base nos caracteres morfológicos qualitativos, foram agrupados utilizando-se o método de Tocher, a partir da matriz de distâncias entre variáveis multicategóricas, em quatro grupos: I (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6087, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6606), II (BGH 6089 e BGH 6306), III (BGH 6136) e IV (BGH 5927). A dispersão gráfica em relação aos três primeiros componentes principais, que explicam 85,33% da variação total entre os acessos, foi concordante com os grupos formados pelo método de Tocher. Estes resultados confirmam Cruz & Regazzi (1997), que re- comendam que os componentes principais devem representar um mínimo de 80% da variação total, para que seja viável o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre genitores em gráficos de dispersão, cujas coordenadas são escores relativos aos primeiros componentes principais. Além de permitir o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre progenitores em gráficos de dispersão, os componentes principais permitem o descarte daquelas características que contribuíram pouco para a variabilidade genética apresentada entre os acessos. Dessa forma, são descartadas aquelas características que apresentaram o maior coeficiente de ponderação nos componentes principais menos importantes (CP 04; 05; 06; 07; 08 e 09), já que juntos contribuíram apenas com 14,67% da variação total. Com base nesse critério as variáveis NRFP, CL, PCPI e NIAF, podem ser eliminadas, por serem pouco importantes para a descrição da variabilidade da inflorescência dos acessos analisados. Os acessos com inflorescências do tipo aplanada apresentam maior exposição da espádice, fato que pode favorecer a polinização cruzada pela ação de polinizadores, enquanto que o tipo encapuchada é passível de 527 F. H. F. Pereira, et al. autopolinização. Entretanto, ambos os tipos de inflorescências apresentaram constrição na espata, entre a parte masculina e feminina, o que pode ter impedido a polinização e, conseqüentemente, a fecundação e formação de sementes. Além das barreiras físicas à polinização, mencionadas na literatura e aqui também observadas, Pimenta et al. (1990) verificaram, em teste de germinação de grãos de pólen (2% de sacarose + 0,02% ácido bórico) taxa de germinação menor que 1% e a viabilidade (carmim acético a 1%) entre 30 a 40% em pólen obtido de plantas que foram induzidas ao florescimento por ácido giberélico exógeno. Todavia, segundo Ivancic (1995), anormalidades de estruturas florais em taro se intensificam com aplicação de indutores do florescimento. Verificou-se a formação de frutos em todos os acessos que floresceram; entretanto ocorreu a decomposicão dos mesmos antes de atingirem a maturação, o que pode estar relacionado, além da elevada precipitação pluvial e temperatura durante o período de florescimento, à não polinização e, conseqüentemente, fecundação das flores femininas e formação de sementes. Dentre os acessos que floresceram, os que apresentaram 528 maior produtividade de rizomas comerciáveis foram BGH 6089 (16,07), BGH 6093 (16,34) e BGH 6136 (15,18), sendo que o número de rizomas/planta apresentou-se mais efetivo na estimativa do rendimento, do que propriamente o peso médio (dados não mostrados). Apesar de apenas 11 acessos, dentre os 36, terem florescido espontaneamente, observou-se grande variabilidade fenotípica de inflorescências dentre esses, indicando ou sugerindo existir variabilidade genética nos clones existentes no BGH/UFV. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do CNPq, referente à bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor. LITERATURA CITADA COIMBRA, R.R.; MIRANDA, G.V.; MOREIRA, G.R.; SILVA, D.J.H.; CRUZ, C.D.; CARNEIRO, P.C.S.; SOUZA, L.V.; GUIMARÃES, L.J.M.; MARCASSO, R.C.; CANIATO, F.F. Divergência genética de cultivares de milho baseada em descritores qualitativos. 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Luz3; Fernando C. Juliatti3; Leonardo C. Melo4; Reges E.F. Teodoro3; Lais M.L. Lima5 2 Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900-970 Porto Velho-RO; E-mail: [email protected]; 3UFU, ICIAG, C. Postal 593, 38400-902 Uberlândia-MG; 4Embrapa Arroz e Feijão, C. Postal 179, 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO; 5Faculdade São Lucas, 78916-450 Porto Velho-RO RESUMO ABSTRACT Foram avaliadas e selecionadas as famílias provenientes do programa de melhoramento do tomateiro da UFU, com potencial para processamento industrial e comparar seus desempenhos com os híbridos mais utilizados pelos produtores na região de Patos de Minas. O ensaio foi conduzido na EE Fazenda Barreiro da Unilever Bestfoods Brasil, em Patos de Minas. Utilizaram-se 30 famílias de tomateiro e os híbridos Heinz 9553, Heinz 7155N2 e Hypeel 108. As Parcelas constituíram-se de linhas duplas espaçadas 0,5 m entre si, com 10 m de comprimento, irrigadas por gotejamento. O espaçamento entre as linhas duplas foi de 1,3 m e a população de 27 mil plantas por hectare. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. A semeadura foi realizada em 19/05/01. O rendimento de polpa mostrou correlações fenotípicas e genotípicas positivas com a produção total, produção de frutos comerciais, % de sólidos solúveis totais, coloração do suco, número de frutos maduros por planta e pH e negativa com acidez total titulável. Destacaram-se a família UFU 06 e os três híbridos comerciais. Evaluation of tomato families and commercial hybrids for processing using drip irrigation system Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, cultivares, processamento, melhoramento, correlação. Keywords: Lycopersicon esculentum, cultivars, processing, breeding, correlation. Tomato families originated from the processing tomato breeding program of the Universidade Federal de Uberlandia were evaluated and selected and compared the performance with the most planted hybrids in Patos de Minas, Brazil. The experiment was conducted in the Estação Experimental do Barreiro, Unilever Bestfoods, in Patos de Minas. Thirty tomato families and the hybrids Heinz 9553, Heinz 7155N2 and Hypeel 108 were used. Experimental plots consisted of two lines, each one 10 m long, spaced 0,5 m from each other and irrigated with drip irrigation. The space between each double row was 1,3 m and the population of 27 thousand plants per hectare. The experimental design was a randomised complete block with four repetitions, installed on 05/19/01. The paste yield showed positive phenotypic and genotypic correlation with total fruit yield, commercial fruit yield, percentage of total soluble solids, juice coloration, number of mature fruits per plant and pH and negative correlation with the total titled acidity. Best results were observed in the family UFU 06 and in the commercial hybrids. (Recebido Para publicação em 18 de junho de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003) O tomate não é uma das hortaliças mais ricas em vitaminas e sais minerais, especialmente por conter, em média, 94% de água no fruto ao natural. No entanto, por ser consumido em maior quantidade, com maior frequência em relação a outras hortaliças e seu consumo ser feito em grande parte sem a cocção, o tomate torna-se uma importante fonte de vitaminas e sais minerais na dieta do brasileiro, como, por exemplo, de vitamina C, cujo teor varia de 11,2 a 21,6 mg/100 g de frutos e das vitaminas A, B1, B2, P e K. O tomate contém outras substâncias, em doses mínimas, porém muito importantes, a começar pelas substâncias corantes licopeno (vermelho) e caroteno (amarelo). Folhas e frutos ainda verdes também possuem uma substância levemente tóxica, o alcalóide tomatina, que parece eficaz contra fungos de micoses da pele humana (Filgueira, 2000). A cultura do tomateiro possui grande importância econômica pelo volume e valor da produção. O mercado brasileiro de tomate industrial de cultivo rasteiro, destinado à produção de purês, molhos prontos, extratos, sucos, etc., é avaliado em US$ 445 milhões anuais (Nakamae & Pastrello, 1999). O consumo nacional de polpa tem aumentado com o crescimento das redes de “fastfood” e o ingresso de novas indústrias de molhos prontos. O consumo de polpa de tomate passou de 95 mil t, em 1994, para 140 mil t em 1998 (Nakamae & Pastrello, 2000). No Brasil, a produção de tomate para processamento industrial, no último quinquênio, girou em torno de 1 milhão de t/ano, com a marca recorde de 1,29 milhão de toneladas alcançada na safra de 1999 (Melo, 2001). A região do Cerrado transformou-se na mais importante zona de produção de tomate para processamento industrial do país, com 77% da área plantada, seguida do estado de São Paulo com 14% e da região Nordeste, com apenas 9% (Melo, 2001). Nos últimos dez anos, a maioria das plantações de tomate para processamento industrial tem sido irrigada por aspersão, especialmente por ¹ Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor (Carvalho, 2002), realizada com apoio da CAPES. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. 529 J. O. M. Carvalho, et al. pivô central, tendo alcançado produtividades acima de 75 t/ha. Em decorrência da falta de um bom manejo de água, falta de rotação de culturas e ocorrência severa de doenças, os produtores vêm procurando sistemas de irrigação alternativos. Trabalhos experimentais têm mostrado que a irrigação por gotejamento, também poderá ser uma opção (Silva & Marouelli, 1995). O grande interesse atual por gotejamento na tomaticultura industrial foi despertado principalmente pelos excelentes resultados de economia de água e energia, aliados a um substancial aumento de produtividade e melhoria da qualidade da matéria-prima. Phene (1999) relatou que, em pesquisas com tomate para processamento (Var. UC-82B) na Califórnia, foram alcançadas produtividades total acima de 200 t/ha e comercial acima de 145 t/ha. Segundo Zahara (1970), Rick (1978) e Melo (2001), em trabalhos de melhoramento de tomateiros visando processamento industrial deve-se buscar a obtenção de plantas compactas, pequenas, com maturação concentrada dos frutos visando colheita mecanizada, produtivas e resistentes às doenças. A agroindústria exige um tipo especial de tomate, obrigatoriamente produzido em cultura rasteira, sem tratos culturais sofisticados, objetivando baixo custo de obtenção da matéria-prima (Filgueira, 2000). Desta forma, durante o processo de seleção de genótipos para colheita mecanizada devem ser avaliados prioritariamente: a concentração de maturação, o potencial produtivo, o tamanho da rama que deve ser mediano, a cobertura dos frutos, a capacidade de permanência dos frutos na planta, a firmeza que permita o transporte dos frutos a granel e o índice de retenção de pedúnculo. Outras características inerentes às cultivares que se destinam ao processamento industrial como o teor de sólidos solúveis (°Brix acima de 5,0), coloração vermelha intensa (externa e interna), pericarpo espesso, inserção peduncular pequena, ausência de defeitos (ombro amarelo, coração negro, “zippering”, “split setting”) e resistência às doenças que causam prejuízo à cultura, entre outras, devem ser cuidadosamente avaliadas durante o processo de seleção (Melo, 2001). 530 Neste sentido, a UFU, com apoio do CNPq e da CAPES, vem desenvolvendo, desde 1995, o Programa de Melhoramento Genético do Tomateiro, a partir de cruzamentos entre os parentais BHRS-2-3, Jumbo, Nemadoro, Stevens e TOM-556. O programa obteve famílias com resistência múltipla a tospovírus, murcha de fusarium, geminivírus e nematóides das galhas e com características agronômicas superiores às cultivares Nemadoro e Malinta (Juliatti et al., 2001). Em se tratando de tomate para processamento, torna-se necessária, além da avaliação do comportamento das famílias na fase de campo, a determinação do seu rendimento industrial. Desta forma, este trabalho foi conduzido para caracterizar e selecionar agronômica e industrialmente as melhores famílias provenientes deste programa, e comparar seus desempenhos com os híbridos mais utilizados pelos produtores na região de Patos de Minas, no sistema de produção com irrigação por gotejamento. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram conduzidos na Estação Experimental Fazenda Barreiro, pertencente a Unilever Bestfoods Brasil, situada no município de Patos de Minas (46º51’ Oeste e 18º57’ Sul, 1100 m de altitude, temperatura média anual de 22,3 ºC). Utilizaram-se 30 famílias de tomateiro, provenientes do Programa de Melhoramento do Tomateiro da UFU, obtidas por meio do método genealógico (Ramalho et al., 1993), e os híbridos comerciais Heinz 9553, Heinz 7155N2 e Hypeel 108, como testemunhas. O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, com 4 repetições. Foram usadas parcelas com linhas duplas de 10 m de comprimento, espaçadas 0,5 m. O espaçamento entre linhas duplas foi de 1,3 m e a população foi de 27 mil plantas por hectare. A semeadura foi realizada em 19/05/01, em bandejas de polipropileno expandido. O transplantio para o campo ocorreu quando as mudas completaram 32 dias após a semeadura, com uma muda por cova. O solo da área experimental pertence à classe textural argiloso, possuindo 52,3% de argila, 23,6% de silte e 24,1% de areia, com densidades aparente e real de 1,0 e 2,7 respectivamente e fertilidade alta. O solo foi preparado com uma aração a 25cm de profundidade e gradeado. A seguir aplicou-se, em pré-plantio-incorporado, os herbicidas Trifluralina concentrado emulsionável 445 g/l (1,3 L/ha) e Metribuzin suspensão concentrada 480 g/l (0,9 L/ha). Na adubação de plantio utilizou-se de 1500 kg/ha de 04-30-16 + 0,5% Zn + 0,02% B. No sulco de adubação aplicaram-se 30 kg/ha de Carbofuran granulado 50 g/kg. A adubação de cobertura foi realizada com 80 kg/ha de N, 62 kg/ha de P2O5 e 100 kg/ha de K2O parcelados por meio de fertirrigação. A irrigação por gotejamento foi feita via subsuperfície utilizando-se fita Netafinâ com 120 m de comprimento, 1,65 L/h de vazão por gotejador e 0,4 m de distância entre gotejadores, enterrada a 20 cm abaixo da superfície do solo. A umidade do solo foi monitorada por meio de tensiômetros instalados a 20 e a 40 cm de profundidade. Procurou-se iniciar a aplicação das lâminas de irrigação sempre que a tensão de água no solo na profundidade de 20 cm alcançava 0,25-0,35 KPA. A evaporação real no período entre duas irrigações subsequentes foi determinada pela evaporação da água medida em tanque classe “A” menos a precipitação pluviométrica no período. A lâmina real a ser aplicada foi calculada multiplicando-se a evaporação real por uma constante que variou conforme o estádio de desenvolvimento da cultura (Giordano et al., 2000). A partir de aproximadamente 100 dias do transplantio foi suspensa a irrigação no experimento. Mas, devido ao experimento ter sido conduzido no final da estação de cultivo (plantio tardio), a ocorrência de chuvas no final do ciclo limitou bastante o estresse hídrico que pretendia-se aplicar à cultura neste estádio. Os tratamentos fitossanitários foram feitos de acordo com o monitoramento das áreas experimentais, em função dos patógenos, pragas e plantas daninhas presentes. A colheita foi realizada aos 132 dias após o transplantio. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento Avaliou-se visualmente, em uma das repetições do ensaio, as características de hábito de crescimento (determinado ou indeterminado), porte (comprimento das hastes principais), uniformidade na parcela (cobertura foliar e porte de planta), formato do fruto (caqui, pêra, bloco, redondo, oval), firmeza (capacidade de resistência do fruto à compressão feita com a ponta dos dedos), cor externa [excelente (todos frutos da parcela com coloração vermelha)], frutos completos (ausência de vazios), teor de água (obtido amassando-se as metades de três frutos por parcela com a palma das mãos), quantidade de sementes (através da escala comparativa variando de muito poucas a muitas sementes), retenção de pedúnculo [fenótipos “jointless” (ausência de joelho) e “jointed” (presença de joelho)], incidência de podridão apical e rachaduras longitudinais e/ou concêntricas A produção total de frutos (PT) foi obtida pela soma das produções de frutos maduros, coloridos, verdes e podres. Considerou-se como produção de frutos comerciais (FC) aqueles frutos que se apresentaram maduros no dia da colheita. A porcentagem de frutos refugados para o processamento (FR) foi obtida pela soma das produções de frutos coloridos, verdes e podres dividida pela produção total. A partir de uma amostra de 20 frutos maduros coletados ao acaso dentro das parcelas foi obtido o peso médio dos frutos maduros (PMFM) no dia da colheita. Obteve-se o número de frutos maduros por planta (NFMP), fazendo-se a seguinte relação: NFMP = FC/(PMFM*NPH), onde NPH é o número de plantas por hectare e FC (t/ha) é a produção de frutos maduros por hectare. Para determinação das características industriais coletou-se, ao acaso, 20 frutos de tomate maduros, de cada parcela, no dia da colheita. As amostras foram imediatamente transportadas para o laboratório de tecnologia de alimentos na unidade industrial de processamento da Unilever Bestfoods Brasil, no município de Patos de Minas. Os frutos foram lavados e processados em liquidificador para obtenção do suco utilizado nas análises a seguir. A porcentagem de sólidos solúveis totais da Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. amostra (ºBrix) foi obtida em um refratômetro marca Bellingham+Stanley, modelo RFM320. Para determinar a acidez total titulável utilizou-se o equipamento marca Metrohm modelo 712S Titrino. Para a determinação do pH utilizou-se equipamento PerpHecT pH, marca Orion, modelo 310 com um eletrodo tipo Ross Sureflow, modelo 8172. A relação a/b é composta pelo valor de a, que mede a quantidade de vermelho (licopeno) presente na amostra quando positivo e pelo valor de b, que mede a quantidade de amarelo (beta-caroteno) presente na amostra quando positivo (Fonseca, 1982). Para obtenção da relação a/b (COR), utilizou-se colorímetro marca HunterLab, modelo ColorQUEST. O rendimento industrial de polpa foi obtido utilizando-se a fórmula: REND (t de polpa/ha) = [(FC (t/ha) x 0,95) x ºBrix do suco ]/28. Onde REND é o rendimento industrial de polpa concentrada a 28 ºBrix e FC (t/ha) é a produção de frutos maduros (Giordano et al., 2000). As análises de variância [teste F, modelo Yijk = m+Gi+Bk+Eik (Gomes, 1990)], comparações entre médias [teste de Scott-Knott (Scott & Knott, 1974, Ferreira et al., 1999)], estimativas das variâncias fenotípicas, genotípicas e ambientais (Ramalho et al., 1993) e os coeficientes de correlação fenotípicos, genotípicos e ambientais (Cruz & Ragazzi, 1997) foram processadas no Programa Computacional Genes, rotina blocos ao acaso com testemunhas adicionais (Cruz, 1997). A significância dos coeficientes de correlação fenotípica, genotípica e ambiental foram avaliadas pelo teste t, em 5% de significância (Steel & Torrie, 1980). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação visual dos genótipos, os três híbridos comerciais obtiveram posição de destaque, pois mostraram-se adequados para o tipo industrial por apresentarem hábito de crescimento determinado, porte de planta pequeno, excelente uniformidade de plantas dentro da parcela, frutos firmes, com boa coloração, cheios ou bem preenchidos internamente, com teor de água exce- lente, quantidade de sementes normal, fenótipo “jointless” e ausência de podridão apical e rachaduras (Tabela 1). O mesmo ocorreu com as famílias UFU 06, UFU 15 e UFU 29. Porém, nestas famílias foi constatado porte de planta médio. As famílias UFU 29 e UFU 15 apresentaram cor externa dos frutos apenas regular, e a família UFU 29 apresentou também frutos com rachaduras e firmeza regular. Apesar de ter a maioria das características adequadas para o cultivo industrial, a família UFU 02 apresentou plantas com fenótipo “jointed”, o que não é desejável. Segundo Giordano et al. (2000), a ausência de joelho no pedúnculo do fruto (fenótipo “jointless”) faz com que este fique aderido à planta, facilitando a operação tanto de colheita manual como mecânica, e evitando o trabalho de remoção dos pedúnculos na linha de processamento. A família UFU 27 apresentou boas características visuais, porém tem formato de fruto tipo caqui. O formato de fruto similar aos frutos do grupo Santa Cruz (quadrado) são os preferidos para a indústria (Filgueira, 2000). A análise de variância revelou diferenças significativas pelo teste F em 1% de probabilidade entre os genótipos e entre as famílias para todas as características avaliadas. O coeficiente de variação experimental (CV %) foi inferior a 25% para todos os caracteres de campo e a 10% para os caracteres de laboratório, o que revela bom nível de precisão neste ensaio. Os genótipos com maior PT foram: UFU 10, UFU 06, Heinz 7155 N2 e UFU 01 (Tabela 2).Para FC, os genótipos que se destacaram dos demais foram: Heinz 7155 N2, UFU 06, Heinz 9553 e Hypeel 108 (Tabela 2). Os genótipos com menor FR foram os híbridos Heinz 9553, Heinz 7155N2 e Hypeel 108 (Tabela 2), formando um grupo à parte dos demais. As melhores famílias, todas com desempenho inferior aos híbridos, foram: UFU 02, UFU 11, UFU 27, UFU 06, UFU 09, UFU 25, UFU 24, UFU 29, UFU 15 e UFU 05, com valores variando de 14,96% a 20,70%. Num experimento irrigado e com diversas variedades e híbridos, feito por três anos consecutivos em duas regiões da Espanha, Macua et al. (1999) também observaram a média 531 J. O. M. Carvalho, et al. Tabela 1. Características das plantas e dos frutos dos genótipos de tomateiro para processamento no sistema de produção irrigado via gotejamento. Patos de Minas, UFU, 2002. 1 I (Indeterminado); D (determinado); G (grande); M (médio); Pq (pequeno); C (comPActo); E (excelente); B (bom); R (regular); Ru (ruim); Bl (bloco); O (oval); A (alongado); Rd (redondo); Ca (caqui); Pe (pêra); F (firme); N (normal); Ch (cheio); Oc (ocado); MS (muito seco); P (poucas); MP (muito poucas); Js (jointless); Jd (jointed); Au (ausente); Bx (baixa); At (alta) 2 Plantas segregando para a característica dentro da parcela 3 Características da Planta: Hábito de crescimento (HAB), Porte (POR), Uniformidade (UNI); Características do Fruto: Formato do fruto (FOR), Firmeza do fruto (FIR), Cor Externa (CE), Preenchimento interno (PRE), Teor de Água (TA), Quantidade de Sementes (QS), Facilidade de Colheita (PA), Podridão Apical (PA), Rachaduras (RA). de 20% de frutos inadequados, o que coloca estas famílias dentro do padrão aceitável para a tomaticultura industrial. 532 Existe uma tendência de se preferir, para a indústria, genótipos que produzam frutos menores, com peso médio variando entre 50 e 100 g, com formato próximo ao do grupo Santa Cruz, que conferem maior resistência ao transporte Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento Tabela 2. Médias dos genótipos para produção total (PT), produção de frutos adequados ao processamento (FC), produção de frutos inadequados ao processamento (FR), peso médio do fruto maduro (PMFM), número de frutos maduros por planta (NFMP). Patos de Minas, UFU, 2002. Letras iguais, nas colunas, indicam médias iguais pelo teste de agrupamento de médias de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade. (Filgueira, 2000). Mas, de acordo com Giordano et al. (2000), o fruto não deve possuir diâmetro inferior a 3 cm, o que acarretaria diminuição do rendimento no processo de colheita. Resende & Costa (2000) obtiveram frutos do híbrido Hypeel 108 com 101,54 g/fruto, mas observaram que as cultivares mais produtivas produziram frutos com baixo peso médio e maiHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. or número de frutos por planta. Prieto et al. (1999) obtiveram valores para peso médio de frutos menores com irrigação por gotejamento, quando comparados aos valores para irrigação por aspersão, mas essa diferença foi compensada pelo maior número de frutos sob irrigação por gotejamento. Então, decidiu-se selecionar como melhores para PMFM, os genótipos Heinz 9553, UFU 30, UFU 06, UFU 02, Heinz 7155N2, UFU 09, UFU 10, UFU 23, UFU 24, UFU 12 e Hypeel 108, com pesos médios de fruto variando de 82,50 g a 139,38 g (Tabela 2), por apresentarem os frutos com menores pesos médios. O híbrido Heinz 9553 mostrou NMFP superior aos demais genótipos, sendo seguido pelo híbrido Heinz 533 J. O. M. Carvalho, et al. Tabela 3. Médias dos genótipos para coloração do suco (Cor), ºbrix (% sólidos solúveis totais), pH, acidez total titulável (mg ác. cítrico/ 100g suco) e rendimento industrial (t polpa 28ºbrix/ha). Patos de Minas, UFU, 2002. 1 3 e 2 indicam médias diferentes de 4,5 e de 350 mg de ácido cítrico/100g, respectivamente, pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade; Letras iguais, nas colunas, indicam médias iguais pelo teste de agrupamento de médias de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade. 7155N2 e pela família UFU 06, num segundo grupo (Tabela 2). Segundo Conceição (1981), para que o suco de tomate seja classificado no mais alto grau, deve apresentar porcentagem de vermelho acima de 65%. Porcentagens de vermelho abaixo de 53% indicam tomate abaixo do padrão. Os genótipos com 534 maior valor para relação a/b (COR) foram: UFU 20, UFU 01, UFU 04, UFU 05, UFU 24, UFU 06, UFU 28, Heinz 9553, UFU 09, UFU 10, UFU 03 e UFU 22 (Tabela 3). Os genótipos agrupados pelo teste de Scott-Knott na letra “b” também apresentaram valores da COR adequados para o processamento. Os genótipos que apresentaram maiores médias para ºBrix (Tabela 3) foram: UFU 16, UFU 01, UFU 07, UFU 04, UFU 28, UFU 10, UFU 17, UFU 30, UFU 20, UFU 12 e UFU 24. Segundo Silva et al. (1994), a matéria-prima recebida pelas indústrias no Brasil tem tido baixa porcentagem de sólidos soHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento Tabela 4. Médias das famílias, variâncias fenotípica média (s-2F), genotípica média (s-2G) e ambiental média (s-2A) e herdabilidade baseada na média de família (h2) das famílias de tomateiro. Patos de Minas, UFU, 2002. 1 Rend.: rendimento industrial (t polpa 28ºbrix/ha), PT: produção total (kg/ha), PA: produção de frutos adequados ao processamento (kg/ha), PI: produção de frutos inadequados ao processamento (%), PMFM: peso médio do fruto maduro (g), NFMP: número de frutos maduros por planta, Cor: coloração do suco (a/b), ºBrix: % sólidos solúveis totais, e Acid.: acidez total titulável (mg ác. cítrico/100g suco). lúveis totais (4,5ºBrix), apesar de existirem cultivares que apresentaram valores próximos de 6,0. Em experimento realizado com 28 genótipos comerciais, dentre os quais estavam os híbridos Hypeel 108 (3,58ºBrix) e Heinz 9553 (3,14ºBrix), Cintra et al. (2000) não observaram valores médios de sólidos solúveis totais superiores a 4,0ºBrix, o que poderia estar relacionado com o período chuvoso ocorrido por ocasião das colheitas. Já Resende & Costa (2000) observaram que a cultivar de polinização aberta IPA-5 apresentou o mais baixo brix (4,3ºBrix) apesar de ter sido a mais produtiva do ensaio, enquanto que o híbrido Hypeel 108, um dos genótipos menos produtivos, apresentou concentração de sólidos solúveis de 5,4ºBrix. Por outro lado, Cerne & Resnik (1994) constataram maior ºBrix médio para as cultivares de polinização aberta (4,6ºBrix) em relação às cultivares híbridas (4,1ºBrix). Indiretamente, o pH pode afetar a cor do produto final, pois se muito alto, exigirá maiores temperaturas e tempo para a esterilização, especialmente para a eliminação do microorganismo Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Clostridium botulinum (Giordano et al., 2000). A FDA Regulations on Thermal Processing of Food aponta o pH = 4,6 como o máximo permitido, para o suco do tomate fresco com destinação industrial. No presente ensaio, as famílias UFU 04 e UFU 20 e o híbrido Hypeel 108 (Tabela 3) foram os únicos genótipos a mostrarem valores de pH acima do máximo recomendado. A acidez total titulável também influencia o sabor, pois mede a quantidade de ácidos orgânicos e indica a adstringência do fruto. Além disso, frutos apresentando valores de ácido cítrico abaixo de 350 mg/100g de peso fresco requerem aumento no tempo e na temperatura de processamento, para evitar a proliferação de microorganismos nos produtos processados (Giordano et al., 2000). Entre todos, 22 genótipos apresentaram valores para ACID menores que 350 mg/100g (Tabela 3). Entre esses genótipos estavam os híbridos Hypeel 108, Heinz 9553 e Heinz 7155N2 e as famílias UFU 06, UFU 02 e UFU 15. Cintra et al. (2000), em experimento realizado em Jaboticabal, de junho a dezembro/99, com 28 genótipos comerciais de tomate para processamento (híbridos e linhagens), também não encontraram nenhum genótipo com acidez superior a 0,35% de ácido cítrico no suco. Para REND que, segundo Conceição (1981), é determinado em função do conjunto das características agronômicas e industriais das cultivares, os melhores genótipos foram: UFU 01, UFU 06, UFU 10, Heinz 7155N2, UFU 12, Heinz 9553, Hypeel 108, UFU 24 e UFU 13 (Tabela 3). Os caracteres avaliados que apresentaram maiores variâncias fenotípicas foram PT, FR, PMFM, e ACID. As variâncias genotípicas foram análogas às superiores fenotípicas para todos os caracteres (Tabela 4). Com exceção do °Brix e do NFMP, a variável ACID apresentou correlações fenotípica e genotípica negativas com as demais características avaliadas (Tabela 5). Desta forma o aumento da acidez não pode ser buscado indiretamente por meio da seleção para outras características, sendo favorecido, entretanto, pelas mesmas condições ambientais 535 J. O. M. Carvalho, et al. Tabela 5. Estimativa dos coeficientes de correlação fenotípica (acima da diagonal), genotípica (acima da diagonal, entre parênteses) e de ambiente (abaixo da diagonal) entre variáveis do tomateiro. Patos de Minas, UFU, 2002. 1 Rendimento industrial (Rend), Produção total (PT), Produção de frutos adequados ao processamento (FC), Porcentagem de frutos inadequados ao processamento (FR), % sólidos solúveis totais (ºBrix), Cor do suco (Cor), Peso médio do fruto maduro (PMFM), Número de frutos maduros por planta (NFMP), pH e Acidez (Acid) * indica significância pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade. que promovem aumento na COR, como revela a existência de correlação ambiental positiva entre as duas variáveis. Mas, a ocorrência de altas variâncias fenotípica e genotípica (Tabela 4) indicam a possibilidade de bons ganhos genéticos entre as famílias, para esta variável. O °Brix apresentou correlação fenotípica e genotípica positiva com REND, PI, COR, PMFM e Ph e negativa com PT (somente fenotípica), FC e NFMP. Estes valores revelam uma pequena tendência de diminuição da porcentagem de sólidos solúveis com o aumento da produtividade do tomateiro. Assim, torna-se mais complicada a seleção de materiais que atendam de forma superior as duas características. Para Conceição (1981), as porcentagens de sólidos solúveis totais podem sofrer grandes variações de acordo com cultivares, características do solo e especialmente pelas chuvas ocorridas durante o desenvolvimento das plantas, sobretudo no período de maturação de frutos. Stevens & Rick (1986) também relatam que obter sucesso numa seleção de progênies em uma população segregante é difícil, por causa do impacto ambiental no conteúdo de sólidos, sendo que, muitas vezes a seleção em populações segregantes não é efetiva porque as variações na irrigação, textura do solo, resistência a doenças, podem ter grandes efeitos sobre o conteúdo de sólidos. Neste 536 sentido, Prieto et al. (1999) obtiveram resultado que indica que o uso de estratégias de irrigação produzindo um moderado déficit hídrico, durante o período final de maturação dos frutos, melhorou o valor do brix, principalmente quando utilizou-se irrigação por gotejamento. Silva et al. (1999) obtiveram alta concentração de sólidos solúveis (de 4,97 a 5,71%) testando 6 cultivares de tomate para processamento, em Brasília, sob irrigação por gotejamento subsuperficial, e creditaram esses valores ao correto manejo da irrigação, principalmente durante a maturação dos frutos. Mas, no presente experimento, os genótipos com as melhores FC, apresentaram os menores °Brix (Tabelas 2, 3 e 5). Neste sentido, Amaral Jr. et al. (1997) relatam que ganhos genéticos simultâneos poderiam ser alcançados de forma mais efetiva entre número total de frutos e teor de sólidos solúveis, já que essas duas características foram mais fortemente correlacionadas genotipicamente, com valor de 64,74%. Entretanto, Cruz & Regazzi (1997) alertam para o fato de que correlações genotípicas são próprias de cada caráter e população, não sendo recomendada a extrapolação, o que talvez explique o fato de, neste ensaio, ter-se obtido correlações fenotípica e genética negativas entre essas duas variáveis. Para REND, as correlações fenotípica e genotípica foram positivas com PT, FC, °Brix, COR, NFMP e pH e negativa somente com ACID. Desta forma, com base nos resultados desse ensaio, pode-se inferir que seria interessante selecionar as famílias baseando-se, principalmente, na variável rendimento industrial, pois não haveria prejuízo para as demais características desejadas, com exceção à acidez. Não seria interessante a utilização da variável FC por esta apresentar correlações fenotípica e genética negativas com o °Brix. Com base nos critérios acima descritos conclui-se que os genótipos que apresentaram melhor desempenho nas condições deste experimento foram UFU 06, Heinz 7155N2, Heinz 9553 e Hypeel 108. AGRADECIMENTOS Ao pesquisador Leonardo Fontes, Unilever Bestfoods, por fornecer a área experimental, materiais, equipamentos e a mão-de-obra necessários para a realização deste trabalho. LITERATURA CITADA AMARAL JÚNIOR, A.T.; CASALI, V.W.D.; CRUZ, C.D.; FINGER, F.L. Correlações simples e canônicas entre caracteres morfológicos, agronômicos e de qualidade em frutos de tomateiro. 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E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT A partir do cruzamento de Cucumis anguria x Cucumis longipes obtiveram-se, com ciclos de seleção massal intercalados a ciclos de endogamia, linhagens de maxixe que diferem do tipo comum pelas suas características de ausência de espiculosidade, tamanho de fruto e formato de folha não lobulada, semelhante ao pepino. Dez dessas linhagens, eleitas como elites e denominadas maxixe paulista, foram avaliadas quanto ao comportamento e produção de frutos, no sistema de cultivo com cobertura de polietileno e fertirrigação. O maxixe comum foi utilizado como testemunha. As mudas foram obtidas em bandejas de polipropileno expandido e depois transplantadas para linha central de canteiros cobertos com polietileno preto, adotando-se espaçamento de 1,0 m entre plantas. As plantas foram conduzidas de modo rasteiro, com fertirrigação por gotejamento. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições e parcela de seis plantas. As linhagens de maxixe paulista apresentaram peso médio de fruto de 66,20 g, sendo, em média, 80% maior que o tipo comum, que apresentou peso de 36,68 g. O cultivo em canteiros com cobertura de polietileno e fertirrigação por gotejamento proporcionou produtividade estimada de 51,89 t ha-1 para o maxixe comum, sendo que não houve diferença entre as linhagens e o comum em termos de produtividade. Evaluation of Paulista Gherkin lines grown in beds with polyethylene mulching Palavras-chave: Cucumis anguria L., produção, irrigação por gotejo. New gherkin lines were derived from Cucumis anguria x Cucumis longipes crossing by mass selection cycles intercalated with inbreeding cycles. The new lines differ from the common type by their prickles absence, greater fruit size and non-lobular shaped leaves, similar to cucumber ones. Ten of such lines, selected as elite ones and named as Paulista Gherkin, were evaluated for fruit production, under polyethylene covering and fertigation growing system. The common gherkin was used as check. Seedlings were produced in expanded polypropylene trays and transplanted to bed center covered with black polyethylene. Plants were spaced out 1.0 m apart from each other and conducted in a prostrate habit, under drip fertigation. A randomized block experimental design with four replicates and six plants per plot was used. Paulista Gherkin had 66.2 g fruits in average, 80% higher than the common gherkin. The common gherkin had 36.68 g fruits in average. Gherkins grown in bed with polyethylene mulching plus drip fertigation promoted an estimated yield of 51.89 t ha-1. There was no yield difference beetwen Elite Paulista Gherkins compared with the common one. Keywords: Cucumis anguria L.; gherkin, mulching, drip irrigation, yield. (Recebido para publicação em 27 de junho de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) O maxixe (Cucumis anguria L.) é uma cultura de origem africana, bastante cultivada no norte e nordeste do Brasil. As populações brasileiras caracterizam-se pela produção de frutos sem sabor amargo e com variações quanto à espiculosidade e ao tamanho, geralmente com peso médio de 30 g (Pimentel, 1985). Sua forma de consumo está associada à culinária tradicional do nordeste, onde o fruto maduro é cozido com outros ingredientes, originando o prato típico denominado “maxixada”. Apesar de não ser habitual, essa hortaliça também pode ser consumida in natura na forma de salada, substituindo com vantagem o pepino por ser menos indigesta. Sua maior potencialidade seria para o segmento de consumo em conserva na forma de picles (Baird & Thieret, 1988; Koch & Costa, 1991; Robinson & DeckerWalters, 1997). 538 A partir do cruzamento interespecífico entre Cucumis longipes e cultivares de Cucumis anguria, Koch & Costa (1991) iniciaram um programa de melhoramento de maxixe conseguindo, entre outras características, quadruplicar o peso do fruto. Após alguns ciclos de seleção massal foram obtidas várias dezenas de linhagens de maxixe que diferem do tipo comum pela ausência de espiculosidade, maior tamanho de fruto e formato de folha não lobulada, semelhante ao pepino. Essas linhagens foram avaliadas (Modolo et al., 1999) e selecionadas, dando origem a um novo tipo que foi denominado maxixe paulista. O sistema de cultivo do maxixe comum é na sua maioria obsoleto, sendo raramente submetido ao cultivo convencional. É predominantemente coletado a partir de populações sub-espontâneas em roçados ou em plantios de subsistência (Paiva, 1984). Porém, o desenvolvimento e a promoção de um novo produto, como o maxixe paulista, destinado a outros segmentos de mercado, tanto na forma de salada como para conserva, implica modernização de sua tecnologia de produção. Algumas técnicas de cultivo podem ser empregadas para promover aumento de produtividade e melhoria de qualidade de uma hortaliça. Dentre elas pode-se destacar o cultivo em canteiros com cobertura e uso de fertirrigação, como já vem sendo feito no cultivo do morango há mais de trinta anos. Atualmente, devido às vantagens que esse sistema oferece, a adesão dos produtores a essa tecnologia de produção é total (Goto & Duarte Filho, 1999). Os efeitos da cobertura de canteiros para as diversas hortaliças são praticamente os Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno mesmos: influencia o metabolismo das plantas, acelerando a absorção radicular de água e nutrientes; protege o solo da erosão causada pelo excesso de água de irrigação ou de chuva; aumenta a temperatura do solo nos primeiros 10 cm de profundidade, favorecendo o desenvolvimento da planta; aumenta o teor de umidade do solo na região radicular; controla algumas espécies de plantas daninhas; aumenta a produção dos cultivos além melhorar a qualidade do produto obtido (Paiva, 1998). Nem sempre esses efeitos são simultâneos e na maioria das vezes é necessário verificar as interações entre a prática olerícola e sua ação no desenvolvimento da planta. No cultivo convencional do maxixeiro existem variações quanto à produtividade, dependendo da época e do local de cultivo. Na Amazônia, no período de menor pluviosidade, porém, com irrigação e espaçamento de 3,00 x 2,00 m entre plantas, as cultivares maxixe liso e maxixe com espículos produziram 110 e 165 frutos/cova, com peso médio de 37 e 38 g/fruto, respectivamente (Pimentel, 1985). No Maranhão, a produtividade média é de 16 t ha-1, porém no período chuvoso é reduzida para aproximadamente 8-10 t ha-1 (Martins, 1986). Em São Paulo, a produtividade é de 12 t.ha-1 sendo cultivado preferencialmente de setembro a fevereiro (Melo & Trani, 1998). Filgueira (2000) relata que a produtividade da cultura do maxixe se situa em torno de 4-5 t.ha-1. Não foi encontrada nenhuma referência sobre cultivo de maxixe utilizando cobertura de canteiros com polietileno. No entanto, Leal et al. (2000) verificaram aumento da produtividade da cultura quando utilizou-se palha de palmeira como cobertura de canteiros. Neste sistema, esses autores verificaram produtividade de 17,78 t ha1 contrastando com 15,15 t ha-1 no sistema convencional. Para o maxixe paulista, o uso de plástico como cobertura de canteiros associado à fertirrigação poderia constituir um eficiente manejo para aumento da produção, qualidade de frutos e controle de ervas daninhas. Outro fator favorável seria a introdução desse cultivo como alternativa de rotação nas regiões proHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. dutoras de morango, onde os produtores aproveitariam a infra-estrutura existente para plantio de maxixe paulista, na época de entressafra. O objetivo desta pesquisa foi verificar o comportamento e avaliar a produção de dez linhagens de Maxixe Paulista com relação ao manejo de cultivo em campo, utilizando filme de polietileno para cobertura de canteiros e fertirrigação. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado e conduzido de agosto a dezembro de 1999, no campo experimental da ESALQ, em Piracicaba. As coordenadas geográficas do local são 220 42' S, 470 38' W e altitude de 575 m. O clima da região é Cwa, subtropical úmido, conforme classificação de Köppen. As mudas das linhagens designadas como L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42, L55 e L60 de maxixe paulista e do maxixe comum foram obtidas em bandejas de polipropileno expandido preenchidas com substrato GII, da empresa Gioplanta. Após 20 dias, as mudas foram transplantadas para bandejas de 72 células, preenchidas com o mesmo substrato. O transplante para o campo ocorreu 47 dias após a semeadura, sendo as mudas dispostas no centro de canteiros com 1,20 m de largura, com espaçamento de 1,0 m entre plantas. Antes do transplante foi realizado o preparo do solo constando de uma aração, duas gradagens e encanteiramento. Os canteiros foram cobertos com filme de polietileno preto de baixa densidade. O sistema de irrigação utilizado foi do tipo gotejo e a fertirrigação foi feita com o adubo Krystalon, conforme recomendação do fabricante para cultura do pepino. Na fase de estabelecimento da cultura (primeiros 15 dias) foi aplicado 0,3 g L-1 de Kirstalon amarelo (13-40-13); na fase de crescimento (16-30 dias), 0,2 g L-1 de Kristalon branco (15-05-15), 0,1 g L-1 de nitrato de cálcio e 0,15 g L-1 de nitrato de magnésio líquido; até o aparecimento do primeiro fruto (31-45 dias), 0,3 g L-1 de Kristalon branco (1505-15), 0,2 g L-1 de nitrato de cálcio e 0,15 g L-1 de nitrato de magnésio líquido e finalmente, durante a fase de pro- dução, utilizou-se 0,4 g L-1 de Kristalon laranja (06-12-06), 0,3 g L-1 de nitrato de cálcio e 0,9 g L-1 de Kristalon vermelho (12-12-36). As plantas foram conduzidas de modo rasteiro. Quando as ramas laterais apresentavam cerca de 1,0 m de comprimento foi feita a poda apical da haste principal, para estimular a frutificação nas ramas laterais. O tratamento fitossanitário foi realizado de forma preventiva. Realizaram-se 2 aplicações do inseticida Aplaud (250 g kg-1 de buprofezin), na fase de produção de mudas, com intervalo de 10 dias entre aplicações e dosagem de 100 g 100L-1, para o controle de mosca branca (Bemisia sp). Após o transplante das mudas fez-se aplicações preventivas com Dithane (800 g kg-1 de mancozeb), na dosagem de 200g 100L-1, quando as condições eram propícias ao desenvolvimento de míldio (Pseudoperonospora cubensis). A colheita dos frutos iniciouse 80 dias após a semeadura, sendo realizada durante dois meses, com intervalo de cinco dias, num total de 12 etapas. Colheram-se frutos parcialmente imaturos, quando a sementes ainda não estavam totalmente desenvolvidas, por volta de 20 dias após a antese. A produção foi expressa em número total de frutos/parcela e peso total de frutos/parcela, em quilograma. Posteriormente foi calculado o peso médio de fruto (gramas), e a produtividade por área (t ha-1). Como o experimento foi conduzido em canteiros, para o cálculo de produtividade considerou-se a área ocupada por cada planta de 1,55 m2 (1,00 x 1,55 m), resultando-se em uma população aproximada de 6500 plantas ha-1. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições e parcela de seis plantas. Os resultados obtidos para número de frutos foram transformados segundo raiz quadrada de (x + 0,5), para realização da análise de variância e comparação das médias nas etapas de colheita pelo teste de Dunnet. Posteriormente as médias sem transformação foram comparadas pelo Teste Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferença entre as linhagens e o tipo comum para peso de fru539 V. A. Modolo & C. P. Costa Tabela 1. Peso de frutos por planta, em kg, de linhagens de maxixe paulista L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42, L55 e L60 e do tipo comum (A), nas seis etapas iniciais de colheita. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999. Dentro da coluna, médias seguidas por (*) são significativamente diferente da testemunha (A) pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade. Tabela 2. Número de frutos por planta, em kg, de linhagens de maxixe paulista L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42, L55 e L60 e do tipo comum (A), nas seis etapas iniciais de colheita. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999. Dentro da coluna, médias seguidas por (*) são significativamente diferente da testemunha (A) pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade. tos por planta, na maioria das colheitas (Tabela 1). Nas três primeiras colheitas, as linhagens L4 e L5 apresentaram comportamento similar, com produção quatro a nove vezes inferior ao tipo comum. Na décima colheita houve um pico de produção do tipo comum, sendo somente a linhagem L3 tão produtiva quanto ele. Com relação ao número de frutos/ planta observou-se que, de maneira geral, nas quatro primeiras colheitas o comum produziu significativamente maior número de frutos que as linhagens, exceto L2, L3 e L6 (Tabela 2). Na sexta e sétima colheita, esse comportamento 540 não se manteve, pois as linhagens do paulista foram equivalentes ao comum. Na quinta, nona e principalmente na décima colheita, o maxixe comum mostrou ser altamente prolífico, sendo que nessa última sua produção em número de frutos foi 3,5 vezes maior que a linhagem mais prolífica L6 e 9 vezes maior que a menos prolífica, L60. Segundo Yokoyama & Silva Júnior (1988), o ponto máximo de crescimento do fruto do maxixe comum ocorre em torno do décimo primeiro e décimo segundo dia após a antese. Neste ponto o fruto estaria parcialmente maduro e pronto para o consumo na forma tradicional, onde ele é cozido. Para o maxixe paulista este estágio de maturação ocorre aos vinte e cinco dias após a antese, dado que este apresenta uma formação lenta de sementes (Modolo & Costa, 2000). Neste experimento, como os frutos tanto das linhagens como do tipo comum foram colhidos na mesma época, houve diferentes picos de produção devido às diferenças de desenvolvimento de fruto entre o comum e as linhagens. Considerando-se o número de frutos produzidos em todas as etapas de colheita, verificou-se que as linhagens Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno Tabela 3. Número total (NTF), peso total (PTF) e peso médio (PM) de frutos por planta de maxixe paulista L1; L2; L3; L4; L5; L6; L8; L42; L55 e L60 e do tipo comum (A), após 12 colheitas. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999. Dentro da coluna, médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. foram equivalentes entre si e menos prolíficas que o comum. Apenas as linhagens L3, L6, L8 e L55 foram semelhantes em termos de prolificidade ao tipo comum (Tabela 3). Essa equivalência quanto a menor prolificidade das linhagens elite de maxixe pode ser explicada pelo processo seletivo que as originou. Similarmente como ocorre em pepino, se no processo de seleção para obtenção de linhagens for priorizado maior peso médio de fruto, consequentemente o número total de frutos produzidos tenderá a diminuir, porém sem redução na produção total (Simmonds, 1979). Da mesma forma, plantas de pepino com maior número de frutos tendem a produzir frutos com menor peso médio e comprimento (Ramalho, 1973). O mesmo pode ter ocorrido com as linhagens de maxixe paulista, pois o critério mais importante no processo foi o peso médio de fruto maduro, podendo ter proporcionado diminuição na produção total em número total de frutos, porém sem interferir na produção total por área. Considerando-se uma população de 6.500 plantas ha-1, estima-se neste experimento uma produtividade para o maxixe comum de 51,89 t ha-1. A média de produtividade para o estado de São Paulo em condições convencionais para uma população de 13.000 plantas ha-1 tem sido de 12 t ha-1 (Melo & Trani, 1998). Para as diferentes regiões produtoras de maxixe, a produtividade vaHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. ria de 4 a 16 t ha-1 (Pimentel, 1985; Martins, 1986; Filgueira, 2000). Isso mostra ganhos em produtividade total no sistema de manejo com cobertura plástica de canteiros e fertirrigação por gotejamento, no qual foi obtida produtividade três a treze vezes maior que a descrita na literatura para cultivo convencional. O parâmetro que melhor caracteriza as diferenças entre o maxixe comum e o paulista é o peso médio do fruto. O maxixe comum apresenta peso médio variando de 14,57 a 45,70 g dependendo da cultivar, da época de plantio e da região produtora (Pimentel, 1985; Resende, 1998). Isso concorda com o encontrado neste experimento onde a média de peso/fruto foi de 36,68 g. As linhagens de maxixe paulista apresentaram peso médio de fruto de 66,20 g, sendo, em média, 80% maior que o tipo comum (Tabela 3). Entre as linhagens não houve diferença neste aspecto podendo qualquer uma delas ser utilizada como nova variedade. Torna-se importante ressaltar que o sistema de comercialização de hortaliças no atacado é baseado em volume de frutos, enquanto no varejo é feito com base no peso do produto. No Brasil, a embalagem mais utilizada na comercialização do maxixe comum é a caixa tipo “K”, com 20 kg do produto (Filgueira, 2000). Considerando-se um peso médio de fruto maior, seria neces- sário menor número de frutos para completar o mesmo volume de comercialização, o que traria economia de mão de obra, tanto na colheita, quanto na embalagem do produto. Outra vantagem do aumento do peso médio do fruto seria a inserção desse novo produto no consumo in natura, na forma de salada. Tradicionalmente, para o preparo do maxixe comum, os frutos são raspados para retirada dos espinhos e da casca e, devido ao seu tamanho, estes são colocados inteiros para o cozimento com outros ingredientes. No maxixe paulista, além do uso na forma cozida, os frutos com casca lisa e dimensões maiores facilitariam o corte em fatias, como é feito com o pepino, para o consumo em saladas. Algumas considerações podem ser feitas quanto ao comportamento do cultivo do maxixe no manejo adotado. O espaçamento de 1,0 m entre plantas mostrou ser competitivo, com ampla cobertura do solo, o que dificultou o manuseio das plantas na fase final das etapas de colheita. O hábito de crescimento prostrado e a intensa ramificação secundária e terciária fizeram com que as ramas crescessem para fora da cobertura de polietileno. Como conseqüência houve pisoteio com danos às ramificações ao longo dos espaços entre os canteiros, nas etapas finais de colheita. Com isso, as vantagens diretas na qualidade dos frutos oferecidas pelo uso da cober541 V. A. Modolo & C. P. Costa tura de solo foram restritas somente às primeiras etapas de colheita. Se considerarmos o cultivo de maxixe como alternativa para produtores de morango, como cultura de entressafra, maiores estudos deveriam ser realizados para que a produção dos frutos pudesse ser concentrada sobre a cobertura. LITERATURA CITADA BAIRD, J.R.; THIERET, J.W. The bur gherkin (Cucumis anguria var. anguria, Cucurbitaceae). Economy Botany, v. 42, n. 3, p. 447-451, 1988. GOTO, R.; DUARTE FILHO, J. Utilização de plástico na cultura do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20, n. 198, p. 59-64, 1999. FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de Olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. Viçosa: UFV, 2000. 402 p. KOCK, P.S.; COSTA, C.P. Herança de caracteres de planta e fruto em maxixe. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 9, n. 2, p. 73-77, 1991. 542 LEAL, F.R.; SANTOS, V.B.; SALVIANO, A.A.C. Sistemas de condução e aplicação de cal extinta na cultura do maxixe. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, Suplemento, p. 542-543, 2000. 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Horticultura Brasileira, Brasília, v 21, n. 3, p. 543-548, julho-setembro 2003. Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses Waldelice Oliveira de Paiva1; José Albérsio de Araújo Lima2; Luis G. Pinheiro Neto1; Najara Frota Ramos2;Flávia Campos Vieira1. 1/ Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60511-110 Fortaleza-CE; E-mail [email protected] 2)UFC, C. Postal 6046. Fortaleza-CE. E-mail [email protected] RESUMO ABSTRACT Progênies de melão (Cucumis melo L.) cv. Tupã, um tipo que associa as características favoráveis do fruto do melão Amarelo e do melão Cantaloupe, foram submetidas à inoculação artificial com cinco vírus [Watermerlon mosaic virus (WMV-2), Papaya ringspot virus (PRSV-w), Zucchini yelow mosaic virus (ZYMV), Squash mosaic virus (SqMV) e Cucumber mosaic virus (CMV)], em casa de vegetação. A produção e a qualidade do fruto foram avaliadas em campo. Progênies de três famílias mostraram resistência ao PRSV-w e ao ZYMV, algumas manifestaram resistência também ao WMV-2. Cerca de 63,15% apresentaram resistência somente ao PRSV-w e 52,63% somente ao ZYMV. A resistência para a combinação do PRSV-w e ZYMV ocorreu em 42,10% das progênies e a resistência tripla a PRSV-w, ZYMV e WMV-2 em 36,84%. Uma progênie foi resistente aos quatro vírus (PRSV-w, ZYMV, WMV-2 e CMV). Para o caráter concentração de colheita o comportamento das progênies foi muito variável, observando-se progênies onde a metade dos frutos foram colhidos até os 80 dias, e outras onde até os 70 dias nenhum fruto havia sido colhido. Em relação ao tipo Amarelo, foram muito tardias para a maturação dos frutos, mas mostraram semelhanças com o fruto para peso médio, formato, diâmetro interno e espessura da polpa. A firmeza da polpa variou de 7,78 N a 35,6 N, sendo que em 20% das progênies a firmeza da polpa foi superior a 20 N, muito semelhante aos melões do tipo Cantaloupe. Tupã melon: agronomic performance, fruit quality and virus resistance Palavras-chave: Cucumis melo L., resistência, vírus, produção, qualidade do fruto. Progenies of melon (Cucumis melo L.) cv. Tupã, that associate the favorable fruit characteristics of yellow casaba cantaloupe types, were submitted to artificial inoculation with five virus: Watermerlon mosaic virus (WMV-2), Papaya ringspot virus (PRSV-W), Zucchini yellow mosaic virus (ZYMV), Squash mosaic virus (SqMV) and Cucumber mosaic virus (CMV), in greenhouse. Yield and the fruit quality were evaluated in the field. Progenies of three families showed marked resistance to PRSV-W and to ZYMV, also some manifested resistance to WMV-2. More than 50% showed isolated resistance to PRSV-W (63,15%) and to ZYMV (52,63%). The resistance to both PRSV-W and ZYMV occurred in 42,10% of the progenies and the triple resistance to PRSV-W, ZYMV and to WMV-2 was detected in 36,84%. One progeny was resistant to four viruses (PRSV-W, ZYMV, WMV-2 and CMV). The progenies were very variable in harvesting date, some being very dispersed for harvest, others with no fruits harvested before 80 days, and others presenting a highly concentrated harvest period. In comparison to the yellow casaba melon, the progenies were very late in fruit maturation, but similar for fruit weight, fruit shape, flesh thickness and internal diameter cavity. Flesh firmness varied from 7,78 N to 35,6 N, and 20% of these progenies presented the firmness superior to 20 N, very similar to cantaloupe melon type. Keywords: Cucumis melo L., virus resistance, yield, fruit quality. (Recebido para publicação em 12 de julho de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) O conceito de qualidade em frutas e hortaliças varia para produtores, distribuidores e consumidores. No caso específico do melão, para o produtor, a qualidade refere-se à precocidade, robustez (resistência às doenças) e produtividade, enquanto que o distribuidor entende por qualidade a resistência do fruto ao manuseio e à longa vida de prateleira. Por outro lado, o consumidor considera a qualidade primeiramente pela aparência ou apresentação externa (formato, textura cor da casca), quando escolhe o fruto e, mais tarde, pela aparência interna (cor, textura e sabor da polpa), quando vai consumir o produto. Dessa forma, uma cultivar de melão para ter plena aceitação precisa aliar as características de produção, as caracterís- Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. ticas inerentes à polpa (coloração, espessura da polpa, teores de açúcares e sabor) com aquelas que conferem maior conservação do fruto (McCreight et al.1993). Os produtores enfatizam que, para ter lucratividade, o melão precisa superar a faixa de 25 toneladas/ha. Alguns híbridos superam 40 toneladas. Entretanto, existem dificuldades na indicação de um mesmo híbrido para cultivo em toda essa região, dada a alta interação dos genótipos com o ambiente (Gurgel, 2000). Por outro lado, essa produtividade é comprometida caso ocorram viroses, cujo controle químico é pouco eficiente. De acordo com RubiesAntonell et al. (1996), o vírus do zucchini amarelo se disseminou com muita rapidez na Itália e em dois anos já era responsável por 30% das infecções no melão. Embora as plantas não sejam destruídas pelos vírus, os cultivos infectados têm o processo de produção severamente interrompido, produzindo frutos anormais e/ou deixando de produzir (Clough 1995). De acordo com Lima et al. (1996) sete vírus já foram constatados em cucurbitáceas no Brasil, entre eles o vírus-2 do mosaico da melancia (WMV-2), o vírus da mancha anelar do mamoeiro (PRSV-w), vírus do mosaico amarelo do zucchini (ZYMV), o vírus do mosaico do pepino (CMV) e o vírus do mosaico da abóbora (SqMV). O cultivo de genótipos resistentes tem sido indicado como a melhor forma de con543 W. O. Paiva, et al. trole, o que deve ser considerado durante o processo seletivo do meloeiro. O melão preferido pelos produtores no Nordeste é do tipo Amarelo, dado o longo período de conservação pós-colheita, podendo ser oferecido em mercados distantes sem uso de cadeia de frio. Este melão, entretanto, passa por uma fase de queda de consumo, tanto no mercado internacional quanto no local. Os motivos alegados são o sabor fraco (baixo teor de sólidos solúveis) e a dificuldade de constatar se o fruto está completamente maduro. Por este motivo, no mercado interno, os supermercadistas passaram a aumentar a oferta de melão Cantaloupe, o qual permite identificar o ponto de consumo pelo aroma. Entretanto, por ser mais perecível que o melão amarelo, não tem conservação suficiente para permitir o transporte marítimo, reduzindo assim as possibilidades de exportação para o hemisfério norte. Para aliar os atributos de produção e de qualidade de fruto em um único genótipo que atenda ao mercado, foi desenvolvido o melão Tupã, um tipo que associa características do melão Amarelo e do Cantaloupe (Paiva et al., 2000b; 2001), com frutos com a casca amarelo ouro, enrugada e polpa salmão. Neste tipo ocorrem variações no formato do fruto, coloração da casca e da polpa (Paiva et al. 2000b). Esse germoplasma está sendo objeto de melhoramento e o presente trabalho avalia progênies para as características relacionadas à resistência as doenças viróticas, produção e a qualidade do fruto. MATERIAL E MÉTODOS O comportamento de 24 progênies de melão Tupã aos principais vírus que infectam as cucurbitáceas no Nordeste brasileiro (PRSV-w, WMV-2, ZYMV, CMV e SqMV) foi avaliado em casa de vegetação. As progênies S1 de melão Tupã (Paiva et al., 2000b), obtidas pela autofecundação de cinco plantas selecionadas dentro do tipo Tupã. Cada planta foi considerada uma família, e as descendentes, originaram as progênies S1. Sementes de cada progênie foram semeadas em vasos em solo esterilizado, constituído por uma parte de ester544 co e duas de terra. Após o desbaste, deixou-se quatro plantas por vaso. Quatro plantas de cada progênie foram inoculadas artificialmente com cada vírus, e quatro plantas serviram de testemunhas. A primeira inoculação foi realizada 10 dias após a germinação, usando-se como inóculo extrato de plantas sistematicamente infetadas pelos respectivos potyvírus. Uma segunda inoculação foi efetuada somente nas plantas que não apresentaram sintomas decorridos 10 dias após a primeira inoculação. Todas as plantas foram mantidas em casa de vegetação por aproximadamente 30 dias para a observação de reações sintomatológicas e realização de testes sorológicos contra anti-soros para os respectivos vírus. Para avaliação das características relacionadas à produção foram cultivadas 29 progênies S1 no Campus Experimental de Pacajus, da EmbrapaAgroindústria Tropical, de 05/01 a 06/ 04/01. O experimento foi instalado sob delineamento de blocos ao acaso, com quatro repetições e cinco plantas por parcela. A irrigação e o manejo do experimento seguiram as práticas locais recomendadas para o cultivo comercial. As progênies foram avaliadas quanto a concentração da colheita (CC), referente à porcentagem de frutos colhidos do total de frutos produzidos aos 80 dias após a semeadura. Para dados de maturidade (MATUR), avaliou-se o número de dias da abertura e polinização da flor feminina até a completa maturação do fruto. Para obtenção da produtividade (PRODU), obteve-se o peso total de frutos na parcela, estimando a produção por hectare. Para obter as características relacionadas à qualidade dos frutos, os mesmos foram pesados e medidos no diâmetro longitudinal (COMP), diâmetro transversal externo (DE), e diâmetro transversal interno (DI). Com esses valores foram calculados o índice de formato (IF) pela relação COMP/DE, e a espessura da polpa (EP), pela fórmula DE-DI/2. A firmeza do fruto foi medida em amostras dos frutos partidos longitudinalmente e em cada parte medida a resistência com um penetrômetro com pluger de ponta cônica de 8 mm de diâmetro, na região mediana comestível, eqüidistantes em relação ao comprimento e à espessura da polpa. Os resultados da leitura no aparelho foram convertidos em Newton (N) onde cada 1 Newton corresponde a 1 libra X 4,45. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o Programa Genes (Cruz, 1997) sendo que os dados, em porcentagem, sofreram transformação para log X, antes da análise estatística. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base nas reações sintomatológicas e nos resultados sorológicos (Tabela 1), verificou-se que os vírus em estudo, quando inoculados isoladamente causam danos desde mosaico leve a mosaico severo, com deformações foliares, sendo as progênies classificadas em resistentes e suscetíveis aos cinco vírus estudados. As famílias 1, 2 e 5 apresentam progênies que manifestam resistência, principalmente ao PRSV-w e ZYMV, sendo que algumas manifestam também resistência ao WMV-2. Quando a reação é avaliada isoladamente ou em combinação, a distribuição dos genótipos, de acordo com seu comportamento aos cinco vírus, mostra que doze progênies (63,15%) apresentaram resistência isolada ao PRSV-w, e dez (52,63%) ao ZYMV. Para estes dois vírus as progênies apresentaram os maiores índices de resistência, seguido pelo CMV, com 36,84% das progênies manifestando resistência. A ocorrência de resistência dupla é verificada principalmente para a combinação de PRSV-w e ZYMV, quando oito progênies (42,10%) mostraram resistência. Enquanto que, a resistência tripla ocorre com maior freqüência (36,84%) para PRSV-w, ZYMV e WMV-2 e apenas uma progênie (progênie 22), manifesta resistência a quatro viroses, PRSV-w, ZYMV, WMV-2 e CMV. Os resultados corroboram com os obtidos por Oliveira (2000), quando avaliou 69 híbridos de melão e encontrou oito com resistência a três potyvirus (WMV-2, ZYMV e PRSV). É importante ressaltar que esses híbridos são provenientes de linhagens, obtidas no mesmo material base de onde foi obtido o tipo Tupã; produto da recombinação de diferentes genótipos, muitos dos quais, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses Tabela 1. Comportamento de melão Tupã ao Cucumber mosaic virus (CMV), Papaya ringspot virus, tipo watermelon (PRSV-w), Watermelon mosaic virus-2 (WMV-2), Zucchini yelow mosaic virus (ZYMV) e Squash mosaic virus (SqMV), em casa de vegetação. Fortaleza, UFC, 2001. • Sintomas: B- bolhosidade; DF- deformação foliar; EF- enrolamento foliar; M- mosaico; ML-Mosaico leve; MS- mosaico severo; NT- não testada; SS- sem sintomas. ** (+) Resultado positivo; (-) resultado negativo. com comprovada resistência ao WMV2, como Eldorado 300 (Dusi, 1992) e W6 (Tomas e Webb, 1981) e ao vírus do mosaico do zucchini amarelo (ZYMV), relatado em PI 414 723 (Gilbert et al., 1994). Esses resultados indicam a possibilidade de serem obtidas linhagens de Tupã com resistência a essas viroses e que a combinação dessas linhagens pode gerar híbridos manifestando resistência múltipla. As 29 progênies avaliadas para produção e qualidade do fruto apresentaram diferenças significativas (P>0,01 e P>0,05) para todas características, com exceção para a produção (PRODU) (Tabela 2). O efeito das famílias nas progênies, estudado pelo desdobramento dos Quadrados Médios, indicou que para a Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. concentração da colheita (CC), ocorreram diferenças significativas na família 1 e na família 6; para maturação (MATUR) as diferenças foram verificadas na família 6 e 8; para o peso médio (PMF), as diferenças significativas foram nas famílias 1, 2 e 3; para o índice de formato (IF), em todas as famílias; para o tamanho da cavidade da semente (DI), nas famílias 1, 5 e 6; para espessura da polpa (EP), nas famílias 1, 2, 5, e 6 e para a firmeza da polpa nas famílias 1, 2 e 8. Para CC, mais da metade dos frutos foram produzidos até os 80 dias. Mas as médias entre as famílias não diferem entre si. A família 1 é muito variável e tem progênie muito precoce (progênie 16) e muito tardia (progênie 15), que aos 70 dias os frutos ainda não havia sido colhidos. A concentração da colheita é uma característica importante em melão, mas ainda pouco avaliada. Cultivos usando linhagens homogêneas mostraram colheitas menos concentradas, com médias de 41,4% do total dos frutos colhidos aos 70 dias (Paiva et al. 2000a). Quanto à maturação dos frutos, as famílias 5 e 8 mostram progênies com frutos de maturação precoce. Nas progênies 66 e 85, os frutos atingem a maturação aos 33,8 dias enquanto que a progênie 63 é tardia, com a maturação dos frutos ocorrendo aos 48 dias. Os frutos de melão Amarelo “Eldorado 300” demoram 34,2 dias para atingir a maturação enquanto que os melões do tipo Cantaloupe (Hy Mark) maturam aos 33,1 dias (Paiva et 545 W. O. Paiva, et al. Tabela 2. Médias de concentração da colheita (CC); expresso em porcentagem do total de frutos colhidos até aos 70 dias; maturidade (MATUR), em dias entre a polinização até a maturação do fruto e produção de frutos (PRODU) , em toneladas por hectare em progênies S1 de melão Tupã. Pacajus, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. 1\ Médias seguida por mesma letra minúscula (na coluna) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey 2\ Médias seguida por mesma letra maiúscula (na linha) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey al, 2000a). Dessa forma, a cultivar Tupã pode ser considerada de maturação tardia dos frutos. Os caracteres de maior importância econômica no melão estão diretamente relacionados ao fruto. As médias na Ta546 bela 3 indicam que as famílias 6 e 8 mostram pouca variação no peso dos frutos. Para o índice de formato variam desde redondos (família 1, com IF=1,02) a levemente oblongos, (família 2, com IF= 1,21), destacando-se a progênie 55, com frutos com formato oval (IF=1,45). Conforme Gurgel (2000), no tipo Amarelo os frutos não devem ultrapassar o peso de 1.800 gramas, que comporta o tamanho exigido pelos mercados dos países europeus e o índice de formato Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses Tabela 3. Médias de peso médio do fruto (PMF), índice do formato (IF), diâmetro interno (DI), espessura da polpa (EP) e firmeza da polpa (FP) em frutos de progênies de melão Tupã. Pacajus, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001. 1\ Médias seguida por mesma letra minúscula (na coluna) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey 2\ Médias seguida por mesma letra maiúscula (na linha) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey entre 1,1 e 1,7, característica de frutos oblongos. Esse último parâmetro é importante quando se considera a embalagem, o transporte e a comercialização (Granjeiro et al., 1999). Observa-se que as progênies atendem a exigência no que concerne ao formato e ao peso médio Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. de fruto, com semelhanças ao melão tipo Amarelo. As características internas do fruto, tamanho da cavidade da semente (DI), espessura da polpa (EP) e firmeza da polpa (FP), conferem o diferencial para aumentar a qualidade e a maior resis- tência ao transporte e armazenamento. A avaliação para estas características mostrou grande variação. Para DI, as diferenças foram observadas entre as médias das famílias: a família 5 apresenta os frutos com o menor DI (5,23 cm) e a família 3, frutos com maior EP 547 W. O. Paiva, et al. (5,0 cm). O melão Eldorado 300 produz frutos com a EP de 3,5 cm e o DI 5,80 cm (Paiva et al., 2000a). Em outros genótipos de melão Amarelo essa variação foi de 3,1 cm a 4,8 cm para a espessura da polpa e de 4,0 cm a 7,3 cm para DI (Medeiros et al., 2000). Os frutos de ‘Tupã’ podem ser considerados como tendo EP espessa e DI reduzida. Os resultados mostram que, pelas características internas do fruto ocorrem semelhanças ao melão Amarelo (polpa espessa, ou alto EP) e ao melão Cantaloupe (pequena cavidade, ou baixo DI). A textura ou firmeza da polpa (FP), apesar de ser um parâmetro físico está relacionada com a solubilização de substâncias pécticas, as quais, segundo Chitarra & Chitarra (1990), quando em grande quantidade, conferem textura frágil aos frutos. Melões considerados com boa conservação, como os Amarelos, apresentam valores elevados para FP. Essa característica parece sofrer grande influência ambiental, com valores muito variáveis, mesmo no melão Amarelo. No híbrido “Gold Mine” já foram citados valores de 21,22 N (Granjeiro et al. 1999), 32,9 N (Gurgel, 2000) e até de 37,1 N (Sena et al., 2000). Por outro lado, nos melões Cantaloupe a FP se situa ao redor de 23,56 N (Vale, 2000). Especificamente, no híbrido “Hy Mark” existem citações de 20,35 N (Santos Júnior, 2002), e de 30,17 N a 34,20 N (Almeida, 2002) As progênies de ‘Tupã’ mostraram FP variando de 7,78 N a 35,6 N, com 20% mostrando valores superiores a 20,0 N, valores próximos aos encontrados nos melões Cantaloupe. Verifica-se portanto, que além da coloração da pol- 548 pa salmão o melão Tupã tem a FP igual ao melão Cantaloupe. A progênie 82, apresentou FP de 35,1 N, mais próxima dos valores de FP dos melões tipo amarelo. Esta progênie tem a polpa dos frutos de coloração verde. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada do Nordeste (PADFIN) e ao Programa Avança Brasil pelo financiamento da Pesquisa. 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Bezerra1; Sebastião Medeiros Filho2; João Batista S. Freitas2 1 UFPI, Depto. Planejam. e Política Agrícola, 60450-000 Teresina-PI; E-mail: [email protected]. 2UFC, Depto. Fitotecnia, C. Postal 12.168, 60356-001 Fortaleza-CE; E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Determinou-se o ponto de maturidade fisiológica e o efeito da secagem em sementes de macela. Foram realizadas colheitas aos 93; 100; 107; 114; 121; 128 e 135 dias após o transplante (DAT). Após cada colheita, uma amostra foi levada ao secador (40ºC/72 h) e a outra foi embalada em saco plástico, em uma câmara (20ºC) pelo mesmo período. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x7, correspondendo aos dois níveis de secagem (sem e com) e sete épocas de colheita, com quatro repetições. As sementes atingiram a maturidade fisiológica de 121-128 dias após o transplante; e a secagem não influenciou a qualidade fisiológica das sementes de macela. Physiological maturation and germination of Egletes viscosa seeds submitted to drying Palavras-chave: Asteraceae, planta medicinal, sementes, colheita, maturação. Keywords: Asteraceae, medicinal plant, harvesting date, germination. The influence of harvesting date and the effects of drying on the physiological quality of macela seeds was evaluated. The harvesting dates of 93; 100; 107; 114; 121; 128 and 135 days after transplanting (DAT) were evaluated. Half volume of the harvested seeds was taken to a dryer (40ºC for 72 h), while the other half was packed in plastic bags and stored in a cold room (20ºC) during the same period. A complete randomized design in a 2 x 7 factorial, with four repetitions, was used. The seeds reached the physiological maturity about 121128 DAT. The drying process had no influence on the macela seeds physiologic quality. (Recebido para publicação em 06 de setembro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003) A macela (Egletes viscosa (L.) Less.), da família Asteraceae, é um vegetal silvestre, anual, e freqüente nas margens de lagoas, açudes, cursos de água do sertão e do litoral nordestino do Brasil, no início da estação seca, após o baixar das águas (Matos, 2000). Os capítulos florais são obtidos de forma extrativista e comercializados para uso no tratamento caseiro de problemas digestivos e intestinais, cólicas, gases, azia, má digestão, diarréia e enxaqueca, bem como nos casos de irregularidades menstruais (Lorenzi & Matos, 2002). A maturação da semente, definida por Hartmann et al. (1997), compreende as mudanças morfológicas e fisiológicas que ocorrem entre a fertilização e o momento em que as sementes, tornando-se independentes da planta-mãe, apresentam os máximos peso de matéria seca, germinação e vigor. A colheita, que deveria ser realizada no ponto de maturidade fisiológica, torna-se impraticável em espécies de crescimento indeterminado (Carvalho & Nakagawa, 2000). Popinigis (1996) enfatiza que a obtenção de qualidade fisiológica adequada é dificultada em espécies caracHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. terizadas pela desuniformidade na maturação. Nesse sentido, Bezerra et al. (1995a) verificaram em coentro que as umbelas nos estádios de antese, verdes, maduras e secas ocorrem, respectivamente, nos intervalos de 55-75; 55-80; 70-95 e 85-100 dias após a emergência, tendo sido observado aos 95 dias valores máximos para germinação e acúmulo de matéria seca nas sementes. Em macela (Egletes viscosa L), Bezerra et al. (2002) constataram que ao longo da fase reprodutiva há produção simultânea de capítulos em diferentes estágios de desenvolvimento (botão floral, capítulos verdes, maduros e secos), caracterizando-se como uma espécie de maturação desuniforme. A maioria das espécies requerem condições específicas para germinação. Assim, Ikuta & Barros (1996) recomendam, para marcela (Achyrocline satureioides), temperaturas de 20 a 25ºC e semeadura superficial no substrato. Freitas et al. (2000) constataram que a pré-embebição dos aquênios em água destilada (24 ou 48 h) e o umedecimento do substrato com soluções aquosas de GA3 (100 ou 300ppm) foram eficientes para a germinação de sementes de macela em temperatura alternada de 2030ºC. Bezerra et al. (2001) afirmam que a qualidade fisiológica de sementes de macela oriundas de plantas cultivadas é superior à das silvestres apesar do tempo médio de germinação (21 dias após a semeadura) não ser diferente entre ambas. A tecnologia de produção de sementes das plantas medicinais brasileiras carece de estudos. Dessa forma, a pesquisa objetivou estudar a época de colheita e a secagem das sementes de macela. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na UFC em Fortaleza, de outubro/00 a março/01. Sementes, previamente embebidas em água por 16 dias, foram semeadas a lanço em substrato comercial Plantagro®, mantido em casa de vegetação sob nebulização intermitente. Aos 16 dias após a semeadura, foi realizada a repicagem para bandejas com células, contendo o mesmo substrato, de modo que cada célula recebesse uma planta. 549 A. M. E. Bezerra, et al. Figura 1. Peso da matéria seca das sementes procedentes de sete épocas de colheita, sem (Y1) e com (Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001. saco de polietileno e manutenção a 20ºC/72 h), obtendo-se as sementes mediante extração (maceração dos capítulos em um mini pilão de madeira) e beneficiamento (peneiração e ventilação). Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x7 (2 secagens e 7 épocas de colheita) para as seguintes determinações: peso da matéria seca das sementes [quatro repetições de 100 sementes foram postas em estufa a 105ºC por 24 h, em seguida pesou-se em balança de precisão para décimos de miligrama, conforme Carvalho & Nakagawa (2000)]; germinação [quatro repetições de 50 sementes colocadas em placas de Petri, sobre duas folhas de papel filtro, previamente umedecidas com água destilada, e mantidas sob alternâncias de temperatura e de luz (20-30ºC e 8h luz/ 16h escuro)]. A contagem foi feita aos 31 dias após a semeadura, considerando-se as plântulas que apresentavam a radícula e a plúmula visíveis e sem anormalidades; índice de velocidade de germinação [realizado conjuntamente com a germinação, considerando as contagens diárias de acordo com a metodologia recomendada por Maguire (1962)]; As variáveis respostas foram submetidas à análise de variância, conforme Ferreira (1996), sendo as médias apresentadas por meio de regressão polinomial. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2. Germinação de sementes procedentes de sete épocas de colheita sem (Y1) e com (Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001. Aos 23 dias após a repicagem, efetuou-se o transplante das mudas, no espaçamento de 1,0 x 0,5 m, para um canteiro, previamente desinfestado com brometo de metila, cujo leito, antes da adubação orgânica, apresentava as características físico-químicas: pH=7,00, A l 3+= 0 , 0 c m o l c/ d m 3, Ca 2++Mg 2+=3,7cmol c /dm 3, K=92mg/ dm3, P=174mg/dm3, Na+=51mg/dm3, areia grossa= 460g/kg; areia fina= 430g/ kg, silte= 60g/kg e argila= 50g/kg. Anteriormente ao transplantio, foi efetua550 da adubação com húmus de minhoca na dosagem de 2,5 kg/m2. O canteiro foi coberto com palha de coqueiro durante cinco dias após o transplante e, em seguida, foi aplicada cobertura morta. Os tratos culturais consistiram de capinas manuais e regas por microaspersão. Foram realizadas colheitas aos 93; 100; 107; 114; 121; 128 e 135 dias após o transplante (DAT), de fevereiro a março de 2001. As plantas colhidas foram submetidas à secagem (40ºC/72 h) e ausência dessa operação (embalada em Independentemente da realização da secagem, o peso da matéria seca das sementes (Figura 1) apresentou acumulação inicialmente lenta (93-107 DAT), sucedida por período de aceleração (114-128 DAT) com valores máximos no período de 121-128 DAT. As variações detectadas estão em consonância com o descrito por Carvalho & Nakagawa (2000), e com as observações realizadas por Bezerra et al. (1995b), Mattos et al. (1995) e Chaves (1996) em Coriandrum sativum, por Guimarães et al. (1998) em Zinia elegans, por Oliveira et al. (1999) em Capsicum annuum cv. All Big e por Nakagawa et al. (1999) em Lolium multiflorum. As sementes que não foram submetidas à secagem (Figura 2) apresentaram Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Maturidade fisiológica e germinação de sementes de macela (Egletes viscosa (L.) Less.) submetidas à secagem germinação crescente entre 100-114 DAT, atingido o valor máximo aos 114 DAT, tendendo a decrescer em processo similar ao verificado por Mattos et al. (1995) em Coriandrum sativum. Este comportamento deve-se, provavelmente, à desuniformidade entre a maturação dos capítulos, conforme documentou Bezerra et al. (2002). Nas sementes secadas, a germinação aumentou a partir de 93 DAT e atingiu o máximo em 121 DAT, em comportamento similar ao verificado por Lago et al. (1994), em Sesamum indicum cv. IAC-Ouro e por Chaves (1996), em Coriandrum sativum. Em agrião-do-brejo (Eclipta alba), Verdelho & Assunção (1997) observaram que apenas a germinação não se constitui em indicador seguro para determinação da época ideal de colheita desta espécie, pois, o fato de se obter altos índices germinativos não implicou, necessariamente, em dizer que as sementes são vigorosas. Os valores máximos de germinação observados (Figura 2) foram superiores aos obtidos por Freitas et al. (2000) e por Bezerra et al. (2001) com a mesma espécie. A velocidade de germinação das sementes sem secagem, expressa pelo índice de velocidade de germinação (Figura 3), exibiu um crescimento contínuo entre 93 e 114 DAT, quando atingiu o valor máximo, estabilizando-se próximo desse valor até 128 DAT. Este modelo de variação está de acordo com o observado por Verdelho & Assunção (1997), em Eclipta alba e difere dos obtidos por Mattos et al. (1995) em coentro, por Guimarães et al. (1998) em zínia e por Corvello et al. (1999) em cedro. Na Figura 3 verifica-se que o índice de velocidade de germinação nas sementes submetidas à secagem, mostrou uma tendência crescente ao longo das épocas de colheita, estabilizando-se em torno do valor máximo no intervalo compreendido entre 121 e 135 DAT. Portanto, o máximo vigor nas sementes, sem e com secagem, ocorreram nas épocas de colheita realizadas aos 114128 e 121-135 DAT, respectivamente, sugerindo, assim, que o provável ponto de maturidade fisiológica encontra-se nesses intervalos, conforme preceituam Hartmann et al. (1997) e Carvalho & Nakagawa (2000). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes procedentes de sete épocas de colheita, sem (Y1) e com (Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001. Pode-se concluir, que as sementes atingiram a maturidade fisiológica por volta de 121-128 dias após o transplante e que a secagem não influenciou a qualidade fisiológica das sementes de macela. LITERATURA CITADA BEZERRA, A.M.E.; CHAVES, F.C.M.; ASSUNÇÃO, M.V. Aspectos da fase reprodutiva e qualidade dos frutos sementes de coentro provenientes de diferentes colheitas. In: REUNIÃO DE PESQUISA DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, 4., 1995, Teresina. Anais... 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Isto acontece porque, em muitos casos, são empregados inseticidas ineficientes, para os quais a praga já apresenta resistência. Trabalhos anteriores demonstraram ser possível determinar os inseticidas ineficazes para o controle da TDC em testes de laboratório, através do uso da dosagem recomendada. Neste trabalho foram coletadas larvas e pupas do inseto nos estados do Ceará (Tianguá), Minas Gerais (Barroso), Bahia (Mucugê), Mato Grosso (Sinop) e no Distrito Federal (Brazlândia e Embrapa Hortaliças). As populações foram criadas em laboratório e, dependendo do número de larvas de primeira geração, estas foram tratadas com as dosagens recomendadas de abamectin, acefato, B. thuringiensis, cartap, clorfluazuron, deltametrina e spinosad. Foi previamente assumido que um inseticida eficiente seria aquele que causasse a mortalidade de mais de 90% das larvas. Os resultados mostraram que a eficiência dos inseticidas variou entre as diferentes áreas. Spinosad causou a mortalidade de l00% das larvas em todos os locais. Foram ineficientes acefato, B. thuringiensis e cartap em Tianguá; abamectin em Brazlândia e clorfluazuron em Mucugê. Deltametrina não foi eficiente no controle das populações da praga coletadas em nenhuma das áreas geográficas amostradas. Conclui-se que as populações de traça-das-crucíferas brasileiras são resistentes a um ou mais ingredientes ativos e programas de manejo de resistência a inseticidas em TDC devem ser implementados. Forecasting insecticide susceptibility in Diamondback Moth populations from different areas of Brazil The Diamondback Moth (DBM) is an important brassica pest and is controlled by several types of insecticides. In some occasions, the fields are sprayed two-four times per week without success. Sometimes this occurs because ineffective insecticides are used. Works showed that laboratory tests using the recommended field rate of insecticides can detect the ineffective ones. Here, we collected DBM larvae and pupae from the States of Ceará (Tianguá), Minas Gerais (Barroso), Bahia (Mucugê), Mato Grosso (Sinop) and the Federal District (Brazlândia and Embrapa Hortaliças). We reared the populations in the laboratory and larvae of the first laboratory generation were treated with the recommended field rate of abamectin, acephate, B. thuringiensis, cartap, chlorfluazuron, deltamethrin, and spinosad. We previously determined that an effective insecticide should cause more than 90% larval mortality. Insecticide effectiveness was different from field to field. Spinosad killed 100% of larvae; acephate, B. thuringiensis and cartap killed less than 90% of the larvae in Tianguá; abamectin and chlorfluazuron did not control the insect in Brazlândia and Mucugê respectively. Deltamethrin was inneffective in all areas tested. Diamondback Moth populations were resistant to one or more active ingredients and programmes to manage insecticide resistance must be implemented in Brazil. Palavras-chave: Plutella xylostella, repolho, controle químico, resistência a inseticidas. Keywords: Plutella xylostella, cabbage, chemical control, insecticide resistance. (Recebido para publicação em 09 de setembro de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) A experiência do Distrito Federal tem demonstrado que em épocas de temperatura elevada e ausência de precipitação ocorrem os maiores problemas em lavouras de repolho devido aos danos da traça-das-crucíferas (TDC) (França et al., 1985). Além dos fatores ambientais que favorecem o rápido crescimento das populações do inseto (Barrantes & Rodriguez, 1996), as práticas culturais utilizadas (plantios sucessivos e não eliminação de restos culturais) aumentam o potencial de dano da praga, devido à possibilidade de sua multiplicação contínua. Para reduzir os prejuízos, muitos produtores têm optado pelo método que, aparentemente, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. pode produzir os melhores resultados: aplicações intensivas de inseticidas para controle da TDC. No entanto, esta prática, ao longo do tempo, tem se mostrado inefetiva já que aplicações de inseticidas até três vezes por semana não reduziram os danos do inseto (Castelo Branco et al., 2001). Nas demais regiões produtoras de repolho do país, foi também observado que as perdas ocorrem nos períodos secos e quentes do ano; além do mais, a aplicação intensiva de inseticidas e as práticas culturais destes locais não se diferenciam das utilizadas no DF. Tendo em vista os sérios problemas econômicos ocasionados pela TDC, é necessário que mudanças no sistema de produção de repolho sejam implementadas. Entre as principais podemos citar: eliminação de restos de cultura e intervalo entre os plantios visando reduzir a população local de TDC; uso de irrigação por aspersão para redução do número de larvas sobre as plantas (Oliveira et al., 2000), redução do número de aplicações de inseticidas, através do uso do nível de dano econômico (Carballo & Hruska, 1989; Castelo Branco et al., 1996); utilização, quando necessário, de inseticidas eficientes. Para identificação dos produtos eficientes para controle da TDC, Zhao & Grafius (1993) e Zhao et al. (1995) re553 M. Castelo Branco, et al. Tabela 1. Inseticidas utilizados em áreas agrícolas de cinco estados brasileiros para controle da traça-das crucíferas.1999 a 2001. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002. 1/ Regulador de crescimento; 2/ Inseticidas usados em mistura; comendaram a realização de testes de laboratório onde larvas do inseto se alimentam com folhas de repolho tratadas com a dosagem recomendada do inseticida. Sannaveerappanavar & Viraktamath (1997), Castelo Branco (1998) e Castelo Branco & França (2000) empregaram este método e constataram que os inseticidas eficientes em laboratório foram eficientes também no campo. Desse modo, levando-se em conta que este procedimento pode ajudar agricultores e extensionistas a selecionarem os inseticidas apropriados para sua região, este trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência da dosagem comercial de diversos inseticidas para o controle de populações da TDC coletadas em diferentes regiões brasileiras. MATERIAL E MÉTODOS Populações de TDC foram coletadas em 1999 em Tianguá (CE) e Barroso (MG), em 2000 em Brazlândia (DF), Embrapa Hortaliças (DF) e Mucugê (BA) e em 2001 em Sinop (MT). Os produtores informaram os inseticidas utilizados (Tabela 1) e o número de aplicações destes produtos variou de uma (Tianguá, Brazlândia e Sinop) a duas por semana (Barroso e Mucugê). Não foram utilizados inseticidas na área da Embrapa Hortaliças. 554 3/ Inseticidas alternados semanalmente As populações foram trazidas para o laboratório de Entomologia da Embrapa Hortaliças e criadas sobre folhas de repolho. Larvas de segundo estádio da primeira geração foram utilizadas nos testes de laboratório. O número de inseticidas avaliados para cada população dependeu do número de larvas disponíveis. Para cada teste, discos de folha de repolho com 4 cm de diâmetro foram tratados com as dosagens recomendadas dos inseticidas (g.i.a./ha): abamectin (9), acefato (562,5), Bacillus thuringiensis (18), cartap (300), clorfluazuron (25), deltametrina (6), spinosad (38,4). Os inseticidas foram diluídos tomando-se como padrão um volume de calda de 400 L/ha. Espalhante adesivo (Agral® 2mL/L) foi adicionado a todos os tratamentos. Em todos os experimentos foi utilizada uma testemunha tratada com água e espalhante. Após o preparo das soluções, os discos de folha de repolho foram imersos nas soluções por cerca de 10 s e após a eliminação do excesso de umidade, estes foram colocados em placas de Petri de 9 cm de diâmetro e sobre cada disco foram colocadas 10 larvas. Foram utilizadas quatro repetições por tratamento. A mortalidade de larvas foi avaliada após 48 h para acefato e deltametrina; após 72 h para abamectin, B. thuringiensis e spinosad, porque estes inseticidas apresentam uma ação mais lenta sobre as larvas. Para clorfluazuron a mortalidade foi avaliada até que as pupas estivessem formadas, já que estes inseticidas atuam sobre os vários estágios do inseto (França & Castelo Branco, 1996). Todos os experimentos foram realizados a temperatura de 20ºC e fotofase de 13 h e umidade de 7080%.Os dados da percentagem de mortalidade foram corrigidos pela fórmula de Abbott (Abbott, 1925) e submetidos a análise de variância. Foi utilizado o teste da diferença mínima significativa (DMS) a 5% de probabilidade para a separação de médias. Foram considerados eficientes os produtos onde a mortalidade de larvas foi superior a 90%. RESULTADOS E DISCUSSÃO O piretróide deltametrina não controlou a traça-das-crucíferas de nenhuma das regiões, já que a mortalidade de larvas variou de 2 a 41% (Tabela 2). Este inseticida começou a ser utilizado no Brasil no início da década de 80 e até o início dos anos 90, o produto apresentava eficiência (França et al., 1985; Silva et al., 1993; Villas Bôas et al., 1990). Em alguns locais esta eficiência foi atribuída à descontinuidade de seu uso, possibilitando a sobrevivência de individuos suscetíveis ao inseticida (Villas Bôas et al., 1990). No entanto, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação da suscetibilidade a inseticidas de populações de traça-das-crucíferas de algumas áreas do Brasil Tabela 2. Mortalidade de larvas de traça-das-crucíferas provenientes de cinco estados brasileiros em função da dosagem comercial de inseticidas1. T=20ºC, fotofase 14 h, UR=70-80%. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002. Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste DMS (p>0,05) 1/ Testes realizados com larvas da primeira geração obtidas em criação de laboratório no final dos anos 90, populações resistentes a deltametrina foram encontradas no DF. Para a população mais resistente ao inseticida, a dosagem que causava a mortalidade de 50% da população era de 73 g i.a./ha, ou seja, 12 vezes a dose recomendada de 6 g i.a./ha (Castelo Branco & Gatehouse, 1997). Os resultados indicaram que, após o uso intensivo de deltametrina, o inseticida já não é eficente em diversos locais do país (Tabela 2), sugerindo que, pela mortalidade obtida, o nível de resistência destas populações é bastante elevado. Assim, seria conveniente que deltametrina tivesse o seu uso restringido. Ainda com relação a deltametrina, é sabido que os mecanismos que fazem com que o inseto sobreviva às aplicações deste piretróide, são os mesmos que permitem a sobrevivência da TDC a outros produtos do mesmo grupo químico (Cheng, 1986). Desse modo, piretróides como fenvalerato, permetrina ou cipermetrina devem ter também o seu uso restringido. Com relação aos demais inseticidas, foi observado que, em Mucugê, apenas o regulador de crescimento clorfluazuron foi ineficiente, em Brazlândia, apenas abamectin e em Tianguá, o fosforado acefato (Tabela 2). Neste locais, os produtos, ou outros do mesmo grupo químico como o fosforado metamidofós em Tianguá, já vinham sendo utilizados há mais de seis meses, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. o que indica que indivíduos capazes de sobreviver à dosagem recomendada dos inseticidas devem ter sido selecionados ao longo do período de utilização dos produtos. Em Tianguá, onde B. thuringiensis e Cartap não eram utilizados, foi observado que os produtos não eram eficientes para o controle da TDC (Tabela 2). Uma das hipóteses para explicar esses resultados poderia ser a imigração e multiplicação de indivíduos capazes de sobreviver à dosagem comercial dos produtos, provenientes de áreas próximas ou distantes e o lento declínio da resistência em ausência de aplicações de inseticidas. A movimentação da TDC entre diferentes áreas de cultivo foi observada por Honda et al. (1992) e Saito et al. (1998). Caprio & Tabashnik (1992) verificaram que, quando insetos resistentes migram para áreas de cultivo, e a resistência é dominante, o nível de resistência das populações que recebem estes imigrantes aumenta. Já foi constatado que a resistência a cartap e B. thuringiensis é dominante (Liu & Tabashnik, 1997, Cheng et al., 1999, Sayyed & Wright, 2001). Aliado a isto, Hama (1990), Hama et al. (1992) e Murai et al. (1992) verificaram que ocorre lento declínio no nível de resistência a estes dois inseticidas em populações não submetidas a aplicações do produto. Spinosad, um inseticida recém-lançado no mercado, foi eficiente para controle da TDC, causando a mortalidade de 100% das larvas tratadas (Tabela 2). Na China, larvas tratadas com a dosagem recomendada do inseticida também apresentaram o mesmo percentual de mortalidade, indicando eficiência do produto (Zhang et al., 2001). Testes preliminares de laboratório para avaliar a susceptibilidade de uma população coletada na Embrapa Hortaliças em uma área onde Spinosad nunca havia sido usado, mostraram que a população era altamente suscetível ao produto; a dosagem equivalente a 3,8 g i.a./ha (10 vezes menos que a dosagem comercial), ocasionava a mortalidade de 100% da população (Castelo Branco, dados não publicados). Os resultados aqui obtidos confirmam que bioensaios de laboratório podem ser de grande utilidade para identificação de inseticidas eficientes para o controle da TDC (Sannaveerappanavar & Viraktamath, 1997; Castelo Branco, 1998; Castelo Branco & França, 2000), e podem contribuir, aliado a outras práticas, para reduzir as perdas econômicas dos agricultores e os problemas de poluição ambiental decorrentes do uso indiscriminado destes produtos. Por fim, vale ressaltar que o método aqui empregado, avaliação da eficiência da dosagem recomendada de um inseticida, identifica os inseticidas que ti555 M. Castelo Branco, et al. veram a sua eficiência reduzida após uso prolongado, ou seja, aqueles para os quais as populações resistentes já foram selecionadas (Sereda et al., 1997). Isto traz prejuízos econômicos para as indústrias que comercializam estes produtos e limita os agrotóxicos disponíveis para os agricultores. Por isso, é necessária a implementação de programas de manejo de resistência a inseticidas em brássicas nas diversas regiões brasileiras. Estes programas devem incluir redução do número de aplicações de inseticidas, onde os produtos deve ser empregados apenas quando a praga atingir o nível de dano econômico e também promover a rotação de inseticidas (Castelo Branco & França, 2000). AGRADECIMENTOS Aos Drs. Geni L. Villas Bôas e Maria Alice de Medeiros pela revisão do manuscrito. A Hozanan P. Chaves pelo auxílio nos trabalhos de campo. LITERATURA CITADA ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology, v. 18, p. 265-267, 1925. BARRANTES, A.J.A.; RODRIGUEZ, V.C.L. Abundancia estacional y dano de Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae) y el cultivo de repollo, durante la epoca seca en Alfaro Ruiz, Alajuela, Costa Rica. Manejo Integrado de Plagas, v. 39 , p. 17-24, 1996. CAPRIO, M.A.; TABASHNIK, B.E. 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Produção do híbrido Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio Mário César Lopes1; Rumy Goto2 1UNIOESTE, C. Postal 91, 85960-000 Marechal Cândido Rondon-PR, E-mail: [email protected]; 2UNESP, C. Postal 237, 18603970 Botucatu-SP. RESUMO ABSTRACT O experimento desenvolveu-se em ambiente protegido, de outubro de 1997 a julho de 1998, na Fazenda São Manuel da UNESP, Campus de Botucatu. O solo no local foi classificado como Latossolo Vermelho Amarelo fase arenosa. O tomateiro, híbrido Momotaro T93, foi cultivado em pé franco e sobre dois porta-enxertos (híbridos Anchor T e Kaguemusha), com objetivo de determinar o desenvolvimento da muda para o transplante, no estádio de 5 a 6 folhas definitivas, de plena floração e de início da frutificação. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial de 3 x 3, num total de 9 tratamentos e 4 repetições. Foram avaliados o peso médio, diâmetro e produção total em kg por planta de frutos. O estádio de desenvolvimento de mudas de pé franco, transplantadas com 5 a 6 folhas definitivas, apresentou as melhores médias para produção, diâmetro e peso médio de frutos. Para mudas enxertadas não houve diferença na produtividade e qualidade final, do estádio de desenvolvimento de 5 a 6 folhas definitivas até o estádio de plena floração, sendo os melhores desempenhos obtidos pelo porta-enxerto 'Anchor T'. Influence of seedling stage and grafting on tomato, Momotaro hybrid production Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill., cultivo protegido, qualidade, estádio de transplante. Keywords: Lycopersicon esculentum Mill, protected cultivation, quality, transplanting stage. Plants of tomato hybrid Momotaro T-93, grafted on two rootstocks (Anchor T and Kaguemusha hybrids) and ungrafted, utilized as control, were compared for development, nutrient uptake, fruit yield and quality after being transplanted at three growth stages (5 to 6 leaves, early flowering and early fruiting). The experiment was set under protected cultivation conditions in the Universidade do Estado de São Paulo, Brazil, from October 1997 to July 1998. The experimental design was a randomized in factorial scheme with four replications and nine treatments. The evaluated characteristics were fruit yield and quality, fruit weight and diameter. Fruit yield, diameter and weight were highest for ungrafted plants transplanted at 5 to 6 leaves stage. Fruit yield, weight and diameter for grafted plants were not affected by transplanting at 5 to 6 leaves or early flowering stages. Grafting and transplanting stages did not affect fruit quality. (Recebido para publicação em 20 de setembro de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) O tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.), uma das hortaliças de maior destaque pelo consumo de frutos, apresenta vários problemas, principalmente no que se refere a doenças. Há demanda de médio a longo prazo na obtenção de materiais resistentes e com características agronômicas exigidas pelo mercado, sendo esta uma eficiente alternativa de controle, ainda que a cultivar resistente nem sempre permaneça eficiente por muito tempo, principalmente quando essa resistência é monogênica para cada raça fisiológica de fungo. Em cultivos intensivos, sob condições de ambiente protegido, têm ocorrido doenças causadas por patógenos presentes no solo, principalmente em hortaliças frutos, basicamente em solanáceas e cucurbitáceas. Para contornar o problema, em muitos países como na Espanha, Holanda e no Japão, onde há muito mais tempo se cultiva hortali- Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. ças neste sistema, tem se utilizado da enxertia nestas culturas, como alternativa de controle das doenças em curto prazo e em alguns casos, com menores custos. No Japão cerca de 31,5% em tomateiros, 50% na cultura da berinjela, 95% na cultura da melancia, 71,7% na cultura do pepino e na cultura do melão 43%, são enxertadas, (Kawaide, 1985 e Oda, 1995). A enxertia além de controlar as doenças, melhorar a qualidade e a produção como observado no trabalho de Piróg (1986), em que se estudou a enxertia de tomateiros sobre o portaenxertos KNVF, acarretou aumento de 30 a 50% na produção de tomate quando comparada com plantas não enxertadas da mesma cultivar utilizada como enxerto. As plantas enxertadas apresentam também maior peso de matéria fresca da parte aérea e do sistema radicular. Para se proceder a enxertia no tomateiro, a idade das mudas é muito impor- tante, pois é necessário observar a relação da parte aérea com a parte radical. De acordo com Yoshioka (1986) as cinco primeiras folhas verdadeiras são importantes para o desenvolvimento da parte radical, comprovando o sucesso que o Kogure (1979) no Japão, obteve trabalhando com o porta-enxerto de tomateiro KNVF utilizando a enxertia do tipo fenda cheia quando o porta-enxerto apresentava em média 5 a 6 folhas verdadeiras e o enxerto de 1,5 a 2 folhas verdadeiras. O estádio de desenvolvimento das mudas para efeito de transplante, tem merecido atenção, pois um dos principais problemas que se tem no Brasil, na cultura do tomateiro é a ocorrência de viroses, principalmente nos 60 dias após o transplante. Uma das formas de se preservar as plantas deste problema é retardar o processo de transplante, mantendo as mudas por mais tempo no sistema de produção (ambiente protegido 557 M. C. Lopes & R. Goto para a produção de mudas) em condições ideais, levando-as ao campo num período de menor risco. Assim, garante-se plantas mais sadias e com maior capacidade de produção com qualidade. Por outro lado tomate do tipo Momotaro não tolera transplante muito precoce, de acordo com recomendações da empresa produtora de semente. Com objetivo de atender os produtores, Ginoux et al., (1987) estudaram três estádios de desenvolvimento das mudas:(a) antes do aparecimento das primeiras flores, (b) em pré-floração ou (c) no início do florescimento datas de transplante e observaram quanto à precocidade, produtividade e qualidade de frutos em tomateiros enxertados e seus resultados econômicos, principalmente para reduzir energia e custo de aquecimento em cultivo protegido levando as mudas mais velhas, para menor ocupação do ambiente. Os resultados foram discutidos considerando os preços de mercado e observou que o plantio em pré-floração (b) estimulou a precocidade sem reduzir produtividade ou peso de frutos. Da mesma forma, Leskovar & Cantliffe (1990) estudaram o efeito da idade de transplante realizado com 2 a 6 semanas na primavera e no outono de 1989 e concluíram que na primavera, o crescimento foi similar para os transplantes com 4-5 e 6 semanas de idade, ocorrendo a melhor produção precoce de frutos grandes e as de 4 semanas de idade resultaram na melhor produtividade de frutos grandes totais. No outono, as produções foram similares nos transplantes com 2 a 5 semanas de idade. Vavrina (1991), em Immokalee, no outono de 1990 também estudou efeito da idade de transplante na produtividade de tomateiros do híbrido Sunny e concluiu que as idades de transplante (3; 5; 7; 9 ou 11 semanas) não foram associadas com nenhuma diferença na produção precoce ou com as categorias de tamanho de fruto. No entanto, após 2 colheitas, a produtividade total foi reduzida nos enxertos de 3 e 11 semanas de idade de transplante. Vavrina & Orzolek (1993) revisaram algumas pesquisas feitas desde 1929, visando determinar a idade para o transplante do tomateiro e concluíram que os transplantes, variando de 2 a 13 semanas de ida558 de, podem resultar em produtividades semelhantes, dependendo entretanto de muitos fatores envolvidos na produção comercial. Em outro sistema de plantio, Sasaki et al., (1992) trabalhou com o híbrido Momotaro, concluindo que a semeadura direta acelerou a 1a colheita de frutos em uma semana, quando comparado com os transplantados, porém as mudas que foram transplantadas antes da abertura dos botões florais resultaram em melhor crescimento e maior produtividade. O presente estudo teve como objetivo avaliar diferentes estádios de desenvolvimento das mudas de tomateiro, híbrido Momotaro, tanto de pé franco como enxertado sobre dois porta-enxertos, estudando o comportamento dos mesmos em relação à produção e à qualidade dos frutos. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido na Fazenda São Manuel da UNESP em Botucatu cujas coordenadas geográficas aproximadas são de 22o 44'S e 48 o34'W Gr, com altitude em torno de 750 metros. O clima da região é do tipo mesotérmico Cwa, subtropical úmido com estiagem no período de inverno. Quanto ao solo, foi classificado como Latossolo Vermelho Amarelo fase arenosa. A precipitação média anual é de 1534 mm sendo a temperatura média anual de 21oC, temperatura do mês mais quente 23,8oC e do mês mais frio 17,5oC. A semeadura foi escalonada de forma a representar os estádios de desenvolvimento determinados para o experimento nas seguintes datas a) Transplante das mudas com início de frutificação: mudas enxertadas, semeadura em 07/10 e emergência em 16/10; mudas de pé franco, semeadura em 16/ 10 e emergência em 24/10; b) Transplante com mudas em plena floração: mudas enxertadas, semeadura em 24/10 e emergência em 31/10; mudas de pé franco, semeadura em 03/11 e emergência em 10/11; c) Transplante das mudas com 5 a 6 folhas definitivas: mudas enxertadas, semeadura em 25/11 e emergência em 01/12; mudas de pé franco, semeadura em 05/12 e emergência em 12/12. As semeaduras foram realizadas utilizando-se as bandejas de poliestireno expandido, modelo CM 128/62, sendo que em cada célula foi colocada 1 semente. As enxertias foram feitas de acordo com Yoshioka et al. (1985), utilizando o método da fenda simples mantendose de 1 a 3 folhas verdadeiras no portaenxerto e 3 a 4 folhas no enxerto e em seguida fixada pelo grampo de enxertia recomendado para o tomateiro. A enxertia apresentou em média 91,33% de pegamento para o porta-enxerto 'Anchor T' e 99,33% para o portaenxerto 'Kaguemusha', onde as mudas que se perderam foram mais em função da doença do que propriamente do processo de enxertia. As mudas após a enxertia foram transplantadas para vasos com capacidade de 0,8 L preenchidos com o condicionador de solo, apresentando 83% de matéria orgânica; 1% de nitrogênio; 1% de magnésio e 0,4% de cálcio; pH de 7,2; CTC de 182,0 meq 100m-1 CRA de 225%; MEA de 585 kg m-3 e CE de 0,58 mS cm-1, sendo que este produto não é substituto de fertilizantes e sim aditivo de fertilizantes que são adicionados de acordo com as necessidades das mudas. Após transplantadas para os vasos, as mudas foram colocadas sob câmara úmida de 50 cm de altura e cobertas por filme de plástico preto durante três dias e mais dois dias por filme de plástico transparente e, quando necessário, por tela de coloração prateada, mantendose a umidade relativa sempre próxima a 100% e fazendo a troca de ar, ou seja, abertura do plástico de 4 a 5 vezes por dia, em seguida deixadas nas condições ambientes conferidas pelo viveiro conforme descrito anteriormente. No viveiro onde as mudas foram enxertadas e permaneceram após a enxertia, foi instalado um sistema de irrigação por nebulização com duas linhas espaçadas de 3,0 metros, onde foram colocados 4 bicos nebulizadores em cada ponto distanciados também de 3,0 metros, com o objetivo de cobrir toda a área do mesmo. O funcionamento da nebulização é controlado por folha mágica regulada para manter a umidade durante o dia próxima de 100%. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio Durante a fase de pós-pegamento da enxertia de todas as fases, foram realizadas, suplementações nutricionais quando necessárias, com a fórmula 1515-45 + micronutrientes (produto comercial "plantafol") na dosagem de 2 gL-1 na forma de rega. Quando necessárias foram feitas as desbrotas e as mudas tutoradas com um palito de bambu colocado dentro do vaso e fixado por alceador, que é um equipamento semelhante a um grampeador dotado de fitas plásticas e grampos, utilizado para amarrar ramos de videira, tanto nas mudas de pé franco como, nas enxertadas. Em função dos danos promovidos pela desbrota foi feita uma aplicação de oxicloreto de cobre a 1 g L-1 para prevenir possíveis contaminações com patógenos e mesmo porque o cobre apresenta certo efeito cicatrizante. A primeira fase da enxertia para as mudas a serem transplantadas com início de frutificação, foi realizada no dia 27/11/97; a segunda fase de enxertia para mudas a serem transplantadas com plena floração foi realizada no dia 15/ 12/97. A enxertia para a terceira e última fase para as mudas a serem transplantadas com 5 folhas definitivas foi realizada em 06/01/98, tendo a instalação do experimento ocorrido no dia 18/ 01/98, na área definitiva em ambiente protegido. A análise de solo foi realizada em julho de 1997. A coleta foi feita em duas profundidades, 0-30 e 30-60 cm, com cinco pontos designados aleatoriamente, como manda a metodologia de análise de solo. Os resultados foram: pH CaCl2 = 5,1 e 4,5; P disponível = 9 e 2 mg dm-3 ; K = 0,9 e 1,3 mmolc dm-3; H+Al = 14 e 16 mmolc dm-3 ; Ca + Mg = 14 e 11 mmolc dm-3; matéria orgânica = 7 e 7 g dm-3; CTC = 29 e 29; V% = 52 e 43. A calagem foi realizada em agosto de 1997. A necessidade de calagem (N.C.) para a área foi calculada pela porcentagem de saturação de bases de acordo com o resultado da análise de solo para atingir aproximadamente 80%. A fonte de calcário utilizada foi o minercal, com P.R.N.T. (Poder Real de Neutralização Total) de 96%. Nesse momento, aproveitou-se para fazer também a incorporação de composto orgâHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. nico, na proporção de 4,0 L m-2. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, em esquema fatorial de 3 x 3, num total de 9 tratamentos e 4 repetições, onde os fatores empregados foram 3 épocas (estádios de desenvolvimento das mudas a serem transplantadas (1o com 5 a 6 folhas definitivas; 2o plena floração e 3º início de frutificação) e 3 tipos de mudas (dois tipos de porta-enxertos e plantas obtidas de pé franco), sendo utilizada como copa e pé franco o 'Momotaro T-93' assim descritos: Porta-enxerto 'Kaguemusha' transplantado no início da frutificação (T1); Porta-enxerto 'Anchor T' transplantado no início da frutificação (T2); pé franco 'Momotaro T-93' transplantado no início da frutificação (T3); Porta-enxerto 'Kaguemusha' transplantado com plena floração (T4); Portaenxerto 'Anchor T' transplantado com plena floração (T5); pé franco 'Momotaro T-93' transplantado com plena floração (T6); Porta-enxerto 'Kaguemusha' transplantado com 5 a 6 folhas definitivas (T7); Porta-enxerto 'Anchor T' transplantado com 5 a 6 folhas definitivas (T8); pé franco 'Momotaro T-93' transplantado com 5 a 6 folhas definitivas (T9). Ficam aqui definidos os estádios de plena floração como a abertura total das flores do primeiro racemo e como inicio de frutificação, os frutos do primeiro cacho com diâmetros de 2 a 3 cm. Foram avaliados: classificação dos frutos em massa média, diâmetro e produção total em kg por planta até o 8º cacho. Cada parcela (7,2 metros quadrados) constou de 10 plantas, sendo utilizadas 5 para efeito das avaliações. O experimento foi conduzido em ambiente protegido, contendo dois módulos de 7,0 m de largura por 49,5 m de comprimento. Em cada módulo foram instaladas 5 linhas espaçadas de 1,2 m X 0,6 m, mantendo-se duas linhas laterais de bordadura na extremidade de cada. Foi realizada a adubação química de base com 150 g m-2 de termofosfato (Yoorin BZ) + 150 g m-2 superfosfato simples e o restante das aplicações via fertirrigação, em cobertura e foliar. As fertirrigações ocorreram geralmente uma vez por semana, utilizando apenas 50% do tempo de irrigação para a aplicação dos fertilizantes. Os fertilizantes foram colocados no sistema de irrigação por uma bomba injetora proporcional de fertilizantes (modelo DP 30-2 DOSMATIC). Foram utilizados os fertilizantes nitrato de cálcio hidrossolúvel (14,5% de N nítrico, 1,0% de N amoniacal e 19% de Ca) e duas fórmulas para fertirrigação, a 5-15-45 + 0,04 B e a 155-30 + 2 Mg com micronutrientes. Além desses adubos, utilizou-se também uma aplicação de bórax e 3 aplicações foliares de sulfato de zinco a 0,3%. O sistema de irrigação por gotejamento foi utilizado o tempo todo, sendo a lâmina de água calculada pelo método do balanço de água no solo, onde são consideradas as evaporações de um tanque classe A mais o coeficiente da cultura (Kc) em cada estádio de desenvolvimento (Marouelli et al., 1994). Foram colocadas duas linhas de gotejadores para cada linha da cultura, principalmente devido a textura arenosa do solo. O sistema de condução utilizado foi o de linha vertical simples com uma planta por cova em haste única, sustentada por três linhas horizontais de arame de aço e a planta conduzida por sistema de fitas e cabides denominado "tutortec" e fixadas pelo alceador. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve interação entre os fatores porta-enxertos e idade da muda. A melhor produção por planta foi para plantas oriundas de mudas com 5 a 6 folhas definitivas que superou aquelas oriundas de mudas com início de frutificação. Estes resultados diferem daqueles obtidos por Leskovar & Cantliffe (1990), Vavrina (1991) e Vavrina & Orzolek (1993), em que a idade de transplante, não interferiu de maneira significativa na produção do tomateiro (Tabela 1). As plantas enxertadas (Tabela 1), independentes do estádio das mudas, foram semelhantes entre si e apresentaram maior produção que o pé franco. Apesar de ter havido ganho de produção nas plantas enxertadas, não se atingiu os mesmos níveis relatados por 559 M. C. Lopes & R. Goto Tabela 1. Produtividade (kg planta-1; t ha-1) e diâmetro médio de frutos (mm). São Manuel, UNESP, 1998. Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo Teste de Tukey, no nível de 5% de probabilidade. Tabela 2. Massa média total (g) dos frutos. São Manuel, UNESP, 1998. Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna ou maiúscula na linha, não diferem pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade. Piróg (1986), onde obteve-se aumento de 30 a 50% na produção quando comparada com plantas não enxertadas da mesma cultivar utilizada como enxerto. Vale salientar que pelo fato do experimento não ter tido maiores dificuldades no que se refere principalmente a ocorrência de patógenos, os porta-enxertos não puderam expressar todo seu potencial produtivo. Para diâmetro médio dos frutos (mm), a melhor resposta foi quando as mudas foram transplantadas com 5-6 folhas definitivas, enquanto que os outros estádios não apresentaram diferença significativa. O porta-enxerto 'Anchor T' proporcionou o melhor desempenho (Tabela 1). Houve efeito significativo dos estádios de desenvolvimento das mudas sobre a massa média dos frutos, apenas no tratamento pé franco, em que mudas 560 com 5 a 6 folhas definitivas proporcionaram a produção de frutos com maior massa. Por outro lado o tratamento pé franco superou o de enxertia sobre o 'Kaguemusha' ( Tabela 2). Foi realizada uma observação quanto a precocidade de produção e se constatou que não houve uma diferença consistente. Isso se deve ao fato de que mesmo havendo uma diferença em média de dez dias entre as semeaduras das plantas enxertadas e as de pé franco, no campo essa diferença se manteve, iniciando-se as colheitas pelo estádio de inicio de frutificação, seguida de plena floração e por último de 5 a 6 folhas definitivas, não apresentando diferença entre os porta-enxertos e o pé franco. Os resultados obtidos nos permitem concluir que o estádio de desenvolvimento de mudas de pé franco, transplantado com 5 a 6 folhas definitivas, é o que apresenta as melhores médias para produção, diâmetro e massa média de frutos. Para mudas enxertadas, do estádio de desenvolvimento de 5 a 6 folhas definitivas até o estádio de plena floração, não houve diferença na produtividade e qualidade final, sendo os melhores desempenhos obtidos pelo porta-enxerto 'Anchor T'. LITERATURA CITADA GINOUX, G., DAUPLÉ, P., JULLIAN, P. Effect of the date of planting on the earliness, yield and quality of fruits of grafted tomatoes, and economic results. Revue de Horticulture, n. 277, p. 25-33, 1987. KAWAIDE, T. Utilization of rooststocks in cucurbis produciton in Japan. Japanese Agricicultural Research Q., v. 18, p. 284-9, 1985. KOGURE, K. Studies on the grafiting of tomatoes. I. Effects of cultural practices in the grafting of KNVF. In: Horticultural Abstracts, v. 49, p. 656, 1979 (Abstract 7644). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio LESKOVAR, D.I., CANTLIFFE, D.J. Does the initial condition of the transplants affect tomato growth and development? Proceedings of the Florida State Horticultural Society, n. 103, p. 14853, 1990. MAROUELLI, W.A., SILVA, W.L.C., SILVA, H.R. Manejo da irrigação em hortaliças. Brasília: CNPH/EMBRAPA, 1994. 60 p. ODA, M. Growth and yield of tomato plants grafted using instrument for plugs. 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E-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Avaliou-se a influência de tipos de bandeja e idade de transplantio das mudas de alface (Lactuca sativa L.) tipo americana em ensaio, realizado de março a junho de 2002 no município de Três Pontas, MG. Utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso em esquema fatorial 3 x 5, compreendendo três tipos de bandejas (128; 200 e 288 células), cinco idades de transplantio (22; 26; 30; 34 e 38 dias após a semeadura) e 3 repetições. Mudas produzidas em bandejas de poliestireno expandido com 128 células e transplantadas com 38 dias de idade apresentaram maior massa fresca e seca, número de folhas e altura de plantas. A maior produtividade comercial foi obtida com as mudas produzidas em bandejas de 128 células, seguida da bandeja com 200 células, sendo o pior desempenho apresentado pelas mudas produzidas em bandejas com 288 células. A idade de transplantio das mudas variou em função do tipo de bandeja utilizado, podendo as mudas serem transplantadas de 22-38 dias da semeadura quando são utilizadas as bandejas com 128 e 200 células, com preferência para os períodos menores (22-30 dias). Para a bandeja com 288 células, as mudas devem ser transplantadas mais tardiamente, aos 38 dias da semeadura. Effect of tray types and age of seedling on the development and yield of the crisphead lettuce Palavras-chave: Lactuca sativa L., tipos de recipientes, crescimento, rendimento. Keywords: Lactuca sativa L., recipients type, growth. This study was carried out from March to July, 2002 at Três Pontas, Brazil, to evaluate the influence of tray types and transplanting age of seedlings over the development of crisphead lettuce (Lactuca sativa L.). Three types of tray (128; 200, and 288 cells) and five transplanting ages (22; 26; 30; 34 and 38 days after the sowing) were evaluated in a randomized complete block experimental design (3 x 5 factorial), with three replications. The 128 cells tray and the transplantation at 38 days after sowing date showed the highest fresh mass, driest weight, highest leaf number and highest plant height. The highest commercial yield was obtained with 128 cells tray, followed by that one with 200 cells. The lowest yield was obtained with the 288 cells tray. The transplanting age varied from 22 to 38 days after sowing date depending on the use of the 128 or 200 cells tray, with preference for the smaller periods (22 to 30 days). Using the tray with 288 cells, the seedlings should be transplanted at 38 days after sowing date. (Recebido para publicação em 09 de outubro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003) A cultura da alface (Lactuca sativa L.) é largamente difundida no Brasil, sendo considerada a hortaliça folhosa mais consumida no país, destacando-se como cultura de grande importância econômica e alimentar. Atualmente, com o aumento do número de redes de lanchonetes do tipo “fast-food”, vem se sobressaindo o grupo de alface denominado “crisphead lettuce” ou tipo “americana”. Segundo dados da a CEAGESP (2001), do total de 25.558 t da alface comercializada em 2001, 29,6% foi do tipo americana. A alface do tipo americana se diferencia dos demais grupos, por apresentar folhas externas de coloração verdeescura, folhas internas de coloração amarela ou branca, imbricadas, semelhantes ao repolho e crocantes, apresentar maior vida pós-colheita, possibilitando o transporte a longas distâncias 562 (Decoteau et al., 1995), e elevados teores de vitaminas e sais minerais, além de baixo teor calórico (Katayama, 1993). Na produção de mudas de alface era comum, até meados da década de 80, o transplantio de mudas formadas em canteiros. Com a introdução em 1984, do sistema de bandejas de isopor, ocorreu uma modernização no sistema de produção de mudas e, consequentemente, melhoria da qualidade das mudas de hortaliças (Minami, 1995). A utilização de bandejas para a produção de mudas aumenta o rendimento operacional; reduz quantidade de sementes; uniformiza as mudas, facilita o manuseio no campo, melhora o controle fitossanitário e permite a colheita mais precoce (Borne, 1999; Filgueira, 2000). Para a produção de mudas de alface são recomendadas bandejas com 200 células (Goto, 1998), até 288 células (Filgueira, 2000). Cati (1997) recomenda as bandejas de 200 e 288 células com transplante em períodos variáveis de 21 a 28 dias. Para as condições de Campo Grande, a cultivar Verônica, transplantada aos 30 dias da semeadura, produziu massas frescas de 1,62; 0,98 e 0,76 g.planta-1 respectivamente, para as bandejas de 128, 200 e 288 células (Cesconetto et al., 2001). Existem no mercado diversos tipos de bandejas de poliestireno expandido, apresentando variações de 128; 200; 242; 284 e 288 células. Na prática, entre os produtores de alface americana, tem se observado uma preferência por bandejas de 200 células, embora existam produtores que utilizam as de 128 ou 288 células, entretanto, as utilizando sem base cientifica. Outro fator importante na formação de mudas é a grande Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade de alface americana variação entre os produtores com relação à idade de transplantio das mudas, verificando-se transplantios desde 17 dias até 35 dias após a semeadura. Yuri et al. (2002), informa ser este período de 20 a 30 dias, dependendo da época do ano. Diante destas constatações, das controvérsias e da carência de estudos científicos, o presente trabalho teve como objetivo avaliar diferentes tipos de bandejas e idades de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade da alface americana. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no município de Três Pontas, à latitude de 21º22’00’’ S, longitude de 45º30’45'’ W e altitude de 855 m. O clima da região é do tipo Cwa com características de Cwb, apresentando duas estações definidas: seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março), segundo a classificação climática de Köppen. O tipo de solo predominante na área é classificado como Latossolo Vermelho Distrófico (LVd.). O delineamento utilizado foi de blocos casualizados, em esquema fatorial 3 x 5, sendo 3 tipos de bandejas de poliestireno expandido (128; 200 e 288 células) e 5 idades de transplantio (22; 26; 30; 34 e 38 dias após a semeadura), com 3 repetições. Produziu-se as mudas de alface cultivar Raider utilizando-se substrato comercial (Plantmax) para o preenchimento das células e semeou-se 2 a 3 sementes por célula. No desbaste das mudas deixou-se uma planta (mais vigorosa) por célula. As semeaduras foram realizadas entre os dias 19/03 e 04/ 04/2002, em intervalos de 4 dias e o transplantio efetuado no dia 26/04/2002. As bandejas permaneceram em viveiro de mudas, recebendo os tratos culturais, que consistiam de irrigações diárias e pulverizações regulares com produtos à base de mancozeb e piretróides, até o momento de transplante. A área experimental foi demarcada nos canteiros centrais da área de produção, e as parcelas experimentais constituídas de quatro linhas de 2,1 m de comprimento, espaçadas a cada 0,35 m e 0,30 m entre plantas, sendo consideradas como área útil as duas linhas cenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. trais, eliminando-se duas plantas em cada extremidade. Essa área foi previamente corrigida com calcário dolomítico, elevando a saturação por base para 70% de acordo com as recomendações de Raij et al. (1996), e adubada com 65 kg de N.ha-1, 600 kg de P2O5.ha-1 e 256 kg de K2O.ha1 , utilizando como fontes o adubo formulado 04-30-6 e superfosfato simples. Após os adubos serem incorporados ao solo, instalou-se em cada canteiro duas linhas de tubo gotejador, com emissores espaçados a cada 30 cm e com vazão de 1,5 L.h-1. Foi instalada, em toda a área, uma estrutura de proteção, constituída de túneis altos com 2 m de altura, cobrindo dois canteiros por túnel, constituído de tubos de ferro galvanizados, coberta com filme plástico transparente de baixa densidade, aditivado com anti-UV, de 100 micras de espessura, sendo os canteiros revestidos com filme plástico preto “mulching”, de 4 m de largura e 35 micras de espessura. Após o transplantio, irrigou-se a área por aspersão, diariamente, durante 7 dias, até o pegamento uniforme das plantas. Posteriormente a irrigação foi realizada por gotejamento. Juntamente com a irrigação, realizaram-se as adubações de cobertura (fertirrigação) diariamente, totalizando 40 kg de N.ha-1 e 85 kg de K2O.ha-1, utilizando-se como fontes uréia e cloreto de potássio. Quanto ao controle fitossanitário, adotou-se o método padrão utilizado pelo produtor, com pulverizações semanais com produtos à base de oxicloreto de cobre, iprodione, procimidone e piretróides. As avaliações foram realizadas em duas etapas: por ocasião do transplantio, quando se retirou aleatoriamente três plantas por parcela e se avaliou a massa fresca e seca, número de folhas e altura de planta; a segunda avaliação foi em campo por ocasião da colheita (22/06/ 2002), onde avaliou-se produtividade total e comercial (g/planta), produtividade comercial ajustada (t/ha), circunferência da cabeça comercial e comprimento do caule (cm). Para produtividade comercial, foram pesadas somente as cabeças comerciais, retirando-se as folhas externas. A produtividade comercial ajustada (t/ha) foi feita extrapolando-se os resultados de produtividade comercial (g/planta) para uma população de 60.000 plantas.ha-1 obtendo-se a produtividade comercial em toneladas e subtraindo-se o custo total da muda em reais transformado para t/ha. Para o cálculo do custo de formação de mudas, efetuou-se a soma entre as despesas proveniente da aquisição de bandejas e o gasto com substrato. Quanto às bandejas, pela possibilidade de reutilização, que de acordo com Filgueira (2000), pode ser superior a 20 vezes, estabeleceu-se como critério a divisão do custo da bandeja por 20. O custo total da muda foi expresso em reais e posteriormente dividido pelo seu valor em função do preço recebido por kg do produto comercial, que em julho de 2002 situou-se em R$ 0,49, verificando-se também a quantidade necessária do produto em toneladas/ha para pagar o custo de cada tipo de muda avaliada. Os dados foram submetidos à análise de variância, seguindo esquema sugerido por Pimentel Gomes (1990), sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para a produção de mudas em estufa observou-se efeito significativo da interação entre o tipo de bandeja e a idade das mudas para todas as características avaliadas. Pelo desdobramento da interação verificou-se para a bandeja com 128 células que a maior massa fresca e seca, número de folhas e altura de plantas foi alcançada quando o transplantio foi realizado com 38 dias de idade. Resultados similares foram constatados para as bandejas de 200 e 288 células, à exceção da massa seca para a bandeja de 288 células, que não mostrou diferenças significativas quando as mudas foram transplantadas com 34 dias de idade. No entanto, salientase que os valores para todas as características avaliadas foram sempre superiores para a bandeja com 128 células, seguidas pelas bandejas de 200 e 288 células, em função da maior quantidade de nutrientes disponível para este tipo de bandeja, permitindo um maior desenvolvimento da muda. Estes resultados 563 G. M. Resende, et al. Tabela 1. Massa fresca e seca, número de folhas e altura de planta de alface americana em função dos tipos de bandejas e idades de transplantio. Três Pontas, UFLA, 2002. Médias seguidas de mesma letra minúscula e maiúsculas nas colunas não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. * Número de células por bandeja podem ser facilmente visualizados pela média obtida para as diferentes características em função das idades das mudas (Tabela 1). Comparando os resultados obtidos pelas mudas com 30 dias para massa fresca (3,50; 2,23 e 1,76 g.planta-1 para as bandejas de 128; 200 e 288, respectivamente), verifica-se valores superiores aos obtidos por Cesconetto et al. (2001) que, nas condições de Campo Grande, com a alface cultivar Verônica, aos 30 dias obtiveram massas frescas de 1,62; 0,98 e 0,76 g.planta-1, para as bandejas de 128; 200 e 288 células, respectivamente. Ao contrário, Vitória et al. (2002), relatam um maior ganho de massa fresca e seca independentemente das cultivares utilizadas, para bandejas de 450 células, apesar de não terem encontrado diferenças significativas entre as bandejas com 200 e 288 células. Em relação ao número de folhas, para o transplantio aos 30 dias de idade 564 para bandejas de 200 e 288 células verificou-se 4,6 e 4,2 folhas.planta-1, valores estes superiores aos registrados por Vitória et al. (2002), que alcançaram 3,3 e 4,0 folhas.planta-1 para a cultivar Lucy Brown, na mesma idade de muda. Pelos resultados apresentados em termos de produção de mudas pode-se inferir, em função das diferentes características analisadas, que a bandeja que proporciona a melhor muda é a com 128 células, seguidas das bandejas com 200 e 288 células e que a idade das mudas mais recomendável para transplantio deve ser de 38 dias. Neste contexto, estes resultados concordam em parte com os obtidos por Cesconeto et al. (2001), que verificaram que mudas produzidas com 30 dias de idade apresentam melhor desempenho em bandejas de 128 e 200 células quando comparadas a bandejas com 288 células. Assim como alicerça a indicação de Goto (1998) e contradiz a recomendação de Filgueira (2000) de utilização de bandejas de 288 células. Todavia, torna-se necessário verificar o retorno em termos de produtividade comercial de cabeça e os custos de produção das mudas, para se poder afirmar estes resultados com certeza. Nas avaliações de campo por ocasião da colheita observou-se interação entre os tipos de bandeja e a idade de transplantio de mudas, apenas nas características peso total e comercial, enquanto que para as características comprimento de caule e circunferência da cabeça comercial, houve efeito significativo independentemente dos fatores estudados. No desdobramento da interação, para a produtividade total, nota-se que não ocorreram diferenças significativas entre as diferentes idades de transplantio das mudas para as bandejas de 128 e 200 células. Para a bandeja de 288 células observou-se maior produtividade para as mudas transplantadas aos 38 e 34 Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade de alface americana Tabela 2. Produtividade total e comercial de alface americana em função de diferentes idades das mudas e tipos de bandejas. Três Pontas, UFLA, 2002. Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na coluna e maiúsculas nas linhas não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. * Número de células por bandeja dias, com 857,5 e 766,7 g.planta-1, respectivamente, sem diferirem entre si (Tabela 2). Para a produtividade comercial, os resultados da interação foram semelhantes aos observados na produtividade total, não se verificando diferenças em termos de idade de mudas para as bandejas de 128 e 200 células, sendo a maior produtividade comercial (513,3 g.planta1 ) nas bandejas de 288 células alcançada aos 38 dias de idade (Tabela 2). Analisando-se as bandejas, verificase que a de 128 células foi a que apresentou o maior peso comercial, com 500,1 g.planta-1, sendo estatisticamente superior às bandejas de 200 e 288 células com 452,2 e 421,9 g. planta-1 respectivamente (Tabela 2). O comprimento de caule, uma característica importante na cultura da alface americana, principalmente quando é destinada à indústria de beneficiamento, deve ser bastante reduzido, proporcionando menores perdas durante o processamento. Neste ensaio, constatou-se uma diferença significativa entre os tipos de bandeja e idade de transplantio. A bandeja de 128 células apresentou comprimento maior, com 2,8 cm, sendo estatisticamente diferenciado das outras duas que apresentaram 2,52 e 2,54 cm, respectivamente, para 200 e 288 células, embora este comprimento não seja prejudicial ao processamento estando abaixo dos observados por Mota et al. (2002a) e Yuri (2000), que verificaram comprimentos Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. de 4,4 e 3,3 cm em seus respectivos trabalhos. Para as idades de mudas para o transplantio, praticamente não se observou diferenças entre as mudas, verificando-se uma variação de 2,37 a 2,78 cm; ocorrendo maior comprimento com 38 dias (2,78 cm). Em relação à circunferência de cabeça comercial, não se observou diferença estatística significativa entre bandejas que oscilou entre 41,4 aa 42,3 cm e entre as idades de mudas que apresentaram uma variação de 41,6 a 42,5 cm. No entanto, todos os tratamentos apresentaram valores adequados para a comercialização, com resultados superiores aos observados por Mota et al. (2002b), que para a mesma cultivar, obtiveram uma circunferência de cabeça de 38,7 cm. A tabela 3 mostra a produtividade comercial ajustada em função do custo da muda de cada tipo de bandeja. Para a bandeja com 128 células a produtividade comercial ajustada não mostrou diferenças significativas em função das diferentes idades das mudas. No entanto, observa-se maiores valores quando as mudas são transplantadas com as menores idades, o que sugere ser a quantidade de substrato suficiente para um bom desenvolvimento inicial das mudas em menor espaço de tempo e de uma maior exigência nutricional, com melhor resposta ao nível de campo. A bandeja com 200 células, apresentou resultados similares a 128 células não havendo diferenças estatísticas entre as diferentes idades de transplantio. Para a bandeja com 288 células verificou-se que a maior produtividade foi alcançada quando se transplantou as mudas com 38 dias de idade, seguida por 30, 34 e 26 dias, que não mostraram diferenças significativas entre si. Na comparação dos diferentes tipos de bandejas, em função das diferentes idades de mudas, verifica-se que a maior produtividade ajustada em função do preço da muda foi obtida pela bandeja com 128 células com 29,0 t/ha, seguida das bandejas com 200 e 288 células com 26,1 e 24,3 t/ha. Ao contrário, economicamente, a bandeja com 288 células proporcionou o menor custo das mudas por hectare (R$ 139,50), seguida pelas bandejas de 200 (R$ 212,23) e 128 células (R$ 505,93), no entanto, não propiciou um maior retorno ao produtor em termos de produtividade comercial. Estes resultados em parte concordam com as recomendações de Goto (1999) de que a melhor forma de produção de mudas de alface é em bandejas de 200 células, e que bandejas com maior número de células poderão ser mais vantajosas economicamente, havendo, no entanto, prejuízos na produção final. Os resultados obtidos nas diferentes características avaliadas em estufa e campo evidenciam ser a bandeja com 128 células a que promove o maior desenvolvimento e produtividade comercial da alface americana, seguida da bandeja com 200 células, sendo o pior desempenho apresentado pela bandeja com 288 células. A idade de transplantio 565 G. M. Resende, et al. Tabela 3. Produtividade comercial ajustada e custos de produção de mudas de alface americana em função de tipos de bandejas e idades das mudas. Três Pontas, UFLA, 2002. * Produtividade comercial ajustada (t/ha) = produtividade comercial (t/ha) - custo total da muda (t/ha). 1 Custo (t/ha) = custo total (R$) / valor do produto (R$/kg). 2 Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. das mudas varia em função do tipo de bandeja utilizado. Assim as mudas podem ser transplantadas entre 22 e 38 dias utilizando-se bandejas com 128 e 200 células, com preferência para períodos menores de 22 a 30 dias em função da menor permanência na estufa e menor custo. Para a bandeja com 288 células as mudas devem ser transplantadas mais tardiamente aos 38 dias da semeadura. Salienta-se, no entanto, a necessidade de se realizarem pesquisas no período de verão, que apresenta condições de tem566 peraturas bem distintas das ocorridas durante o presente experimento. LITERATURA CITADA BORNE, H.R. Produção de mudas de hortaliças. Guaíba: Agropecuária, 1999. 189 p. CATI. Manual técnico das culturas. Campinas: CATI, Tomo II, 1997, 234 p. (CATI, Manual, 08). CESCONETTO, A.O.; LAURA, V.A.; FAVERO, S. Tamanho de bandeja para a produção de mudas de alface cv Verônica em Campo Grande-MS. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 19, n. 2, Suplemento, 2001. 3 p. (CD-ROM). CEAGESP. Conjuntura de produtos por agência. Boletim Mensal. São Paulo. jan./dez. 2001. DECOTEAU, D.R.; RANWALA, D.; McMAHON, M.J.; WILSON, S.B. The lettuce growing handbook: botany, field procedures, growing problems, and postharvest handling. Illinois: Oak Brook, 1995. 60 p. FILGUEIRA, F.A.R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 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Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2x2 (cultivares x proteção x densidade), com 4 repetições. As cultivares utilizadas foram Turmalina e Coralina, semeadas em março de 2000 (outono) em duas densidades de plantas (6,6 e 3,3 pl m-1), sob proteção com agrotêxtil (PP) e em ambiente natural (AN). Avaliou-se a produção precoce, a produtividade, o número de vagens por planta e o peso médio das vagens. Como parâmetro climático, determinou-se a amplitude das modificações das temperaturas do ar (Tar) e do solo (Ts) sob PP e AN. A proteção das plantas com agrotêxtil e a variação de densidades não influenciaram na precocidade da colheita. Entretanto, o uso do agrotêxtil resultou em aumento da produtividade para 'Turmalina' devido ao maior número de vagens por planta comparado ao AN. Para a cultivar Coralina não houve diferença na produtividade entre os cultivos em AN e PP. A densidade de plantas não apresentou diferença na produtividade para 'Turmalina'. Por outro lado, a cultivar 'Coralina' foi mais produtiva quando cultivada em densidade de 3,3 pl m-1, em relação à densidade de 6,6 pl m-1. Quando cultivadas com 3,3 pl m-1, a 'Coralina' foi mais produtiva que a 'Turmalina', porém em densidade de 6,6 pl m-1 não houve diferença entre as cultivares. As temperaturas do ar e do solo foram maiores sob PP em relação ao AN, durante todo o ciclo da cultura, com diferenças médias entre ambientes de 2,63 e 1,97ºC, respectivamente para Tar e Ts. Os valores da diferença entre PP e AN, para Tar e Ts, foram maiores na fase inicial da cultura, diminuindo com o crescimento do feijão-vagem. Response of snap beans cultivated on two plant densities under nonwowen protection in Brazil Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L.; cultivo protegido; 'não tecido' de polipropileno. Keywords: Phaseolus vulgaris L., protected cultivation, nonwoven polypropylene. The effect of nonwowen polypropylene protection condition and plant density on the yield of two cultivars of snap beans was evaluated. The current work was carried out at an experimental area of the Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná State, Brazil. The experimental design was a completely randomized in split plots 2x2x2 (cultivars x protection x plant density), with four replications. The cultivars Turmalina and Coralina were sown in March (autumn), 2000, in two plant densities (6.6 and 3.3 pl m-1) under nonwowen protection (PP) and natural environment (AN). Early yield, total yield, number and weight of pods were evaluated. The air (Tar) and soil temperature amplitudes (Ts) under PP and AN were also evaluated. Nonwoven protection and plant density did not influence the early yield. However, the use of nonwoven protection increased yield of 'Turmalina' as a result of higher number of pods per plant, compared with AN. There was no difference between PP and AN on yield of 'Coralina'. The plant density did not influence yield response of 'Turmalina'. In another hand, 'Coralina' was more productive when cultivated under plant density of 3,3 pl m-1, when compared to 6,6 pl m-1. 'Coralina' was more productive than 'Turmalina' when cultivated under 3,3 pl m-1, however without differences between cultivars under 6,6 pl m-1. Air and soil temperature were higher under PP compared to AN, during the whole cycle of the culture, with medium differences between PP and AN of 2,63 and 1,97ºC, respectively for Tar and Ts. The difference between PP and AN, for Tar and Ts, was higher at the beginning of plant growing and decreased with the development of snap bean. (Recebido para publicação em 11 de dezembro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003) D entre as hortaliças com maior vo lume de comercialização na CEASA-PR, encontra-se o feijão-vagem, que atinge cerca de 6000 toneladas por ano. A comercialização é feita durante todos os meses do ano, sendo julho, agosto, setembro e outubro os meses de menor oferta do produto. A produção destina-se ao consumo in natura, sendo pequeno o volume industrializado. O feijão-vagem (Phaseolus vulgaris) pertence à mesma família e espécie botânica do feijão comum, diferindo por ser uma hortaliça que fornece vagens 568 imaturas (Filgueira, 2000). Apesar de não ser rica em proteínas e calorias como os grãos secos, é rica em vitaminas e sais mineras, que faltam na maioria dos alimentos (Jassen, 1992, citado por Peixoto et al., 1997). As cultivares de crescimento determinado, embora menos produtivas que as de hábito trepador, têm a vantagem de não necessitar de tutoramento e possibilitar a mecanização da lavoura, condições que podem aumentar a rentabilidade do produtor (Peixoto et al., 1997). Outra vantagem é a possibilidade de se efetuar uma única colheita, com o arranquio das plantas no campo e a posterior separação das vagens (Peixoto et al., 1997; Filgueira, 2000). Da mesma forma que o feijoeiro comum, o feijão-vagem é cultura de ampla adaptação a climas quentes e amenos, dentro de uma faixa térmica de 18 a 30oC (Filgueira, 2000), no entanto, é intolerante a fatores extremos do ambiente. Temperaturas elevadas ocasionam significativa redução da produtividade na fase vegetativa inicial, podendo causar morte das plântulas e, conseqüentemente, redução do estande. Na fase de intenso crescimento vegetativo, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas o calor excessivo aumenta a fotorespiração, reduzindo a taxa de crescimento das plantas (Mariot, 2000). Durante a fase reprodutiva, altas temperaturas exercem influência sobre o aborto de flores, vingamento e retenção final das vagens (Portes, 1988 citado por Andrade, 1998). No período entre a diferenciação dos botões florais até o enchimento dos grãos nas vagens, as altas temperaturas reduzem o número de vagens por planta, devido à esterilização do grão de pólen e, conseqüentemente, a queda das flores (Mariot, 2000). Assim como para temperaturas excessivas, o feijão-vagem é uma das hortaliças mais intolerantes ao frio e a geadas (Filgueira, 2000). As baixas temperaturas, quando ocorrem logo após a semeadura, podem impedir, reduzir ou atrasar a germinação das sementes e a emergência das plântulas, resultando em baixa população e baixa produtividade. Durante o crescimento vegetativo reduzem a altura das plantas e ramos, diminuindo a produção de vagens por planta (Portes, 1996 citado por Andrade 1998). Temperaturas inferiores a 15oC inviabilizam o funcionamento normal dos órgãos reprodutivos. Na faixa de 2 a 10oC, as plantas reduzem a produção de biomassa e retardam o desenvolvimento, devido às alterações metabólicas provocadas pelo esfriamento. O esfriamento do solo também pode facilitar o apodrecimento das sementes promovendo queda no estande (Filgueira, 2000). A ocorrência de geadas causa injúrias por congelamento nos tecidos, sendo prejudicial em qualquer estádio de desenvolvimento das plantas (Mariot, 2000). Em localidades onde as condições climáticas não permitem o plantio de feijão-vagem durante o ano todo em condições naturais de campo, o cultivo é realizado sob proteção. Na região sul do Brasil, além das estufas plásticas não climatizadas, está sendo utilizado o agrotêxtil que, em alguns países da Europa já é usado na agricultura para proteção de plantas desde o início dos anos 80. No Brasil, os trabalhos de pesquisa com agrotêxtil iniciaram-se no final da década de 90, na região dos Campos Gerais, no estado do Paraná, onde hoje é utilizado por produtores de hortaliças para proteção de cultivos. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Algumas das vantagens da utilização do agrotêxtil em cultivo protegido é a possibilidade de sua colocação e retirada em qualquer fase de desenvolvimento da cultura e a possibilidade de ser colocado diretamente sobre as plantas ou solo sem a necessidade de estruturas de sustentação. Para culturas como alface (Fuello et al., 1993; Otto et al., 2001), mandioquinha salsa (Reghin et al., 2000), morango (Otto et al., 2000a; Otto et al., 2000b), pimentão (Pereira et al., 2001), beterraba, espinafre (Otto et al., 2000c) e couve-chinesa (Otto et al., 2000c; Colturato et al., 2001), a utilização do agrotêxtil como proteção de plantas tem apresentado bons resultados, mostrando como vantagens de sua utilização, a precocidade de colheita, aumento da produção, barreira física contra geadas, melhoria da qualidade do produto final, melhora da sanidade, manutenção da umidade do solo, precocidade e qualidade na produção de mudas, entre outras. Como em qualquer sistema utilizado no cultivo protegido, o uso do agrotêxtil também modifica o ambiente sob proteção. As variações das temperaturas do ar e do solo constituem dois componentes importantes do balanço de energia formado sob o agrotêxtil (Otto et al, 2000c). Mourão (1997) encontrou aumento da temperatura média do ar embaixo da proteção com agrotêxtil de 1 a 2ºC e do solo a 10 cm de profundidade, de 2 a 3ºC. Faouzi et al. (1993) observaram aumento na temperatura do ar sob o polipropileno de 1,4 a 4,3ºC e Mansour & Hemphil (1987) obtiveram valores em torno de 2ºC em relação ao ambiente natural. Além das condições climáticas, a produtividade da cultura do feijão pode aumentar com o uso de algumas práticas culturais, como população de plantas (Drake & Silbernagel, 1982). A distribuição adequada de plantas tem efeito sobre a incidência de plantas daninhas e pode representar estratégia importante para a utilização mais eficiente de alguns fatores de produção, como radiação, nutrientes (Silva, 1996) e água. Durante a fase reprodutiva, a radiação é um dos principais fatores de competição entre as plantas, período em que a planta atinge o máximo de área foliar (Brandes, 1971, citado por Araújo, 1998). O aumento demasiado do número de plantas pode reduzir a intensidade da cor e a uniformidade das vagens, resultando em redução na qualidade sensorial (Drake & Silbernagel, 1982). Ademais, tende a ocorrer mais acamamento, fazendo com que as vagens toquem o solo, depreciando-as e, conseqüentemente, reduzindo o valor comercial. A alta população de plantas também favorece a ocorrência de doenças e pragas, devido ao microclima propício formado nesta situação (Lollato, 2000). A escolha da população deverá levar em consideração informações como época de semeadura, região (altitude e latitude), histórico de doenças na área (principalmente fungos do gênero Fusarium, Rhizoctonia e Sclerotinia), hábito de crescimento (Dourado Neto & Fancelli, 2000), cultivar e fertilidade do solo (Almeida & Canéchio Filho, 1974). Os espaçamentos recomendados para o cultivo do feijão-vagem anão encontram-se numa faixa de 7 a 30 cm entre plantas e 45 a 90 cm entre linhas. De acordo com Adsule et al. (1998), o espaçamento a ser recomendado é 7,7 a 10 cm entre plantas por 45 a 90 cm entre linhas, porém alguns produtores utilizam 20 a 30 cm por 60 a 95 cm. Para Filgueira (2000), o espaçamento ideal é 15 x 50 cm entre plantas e linhas. No entanto, para cada cultivar existe uma faixa ótima de população onde as plantas aproveitam o máximo de radiação, água e nutrientes, proporcionando aumento da produtividade, sendo que tal produtividade deve estar associada à facilidade de execução dos tratos culturais, colheita e economia de insumos (Lollato, 2000). O presente trabalho objetivou estudar o efeito do agrotêxtil sobre a produção de duas cultivares de feijão-vagem de crescimento determinado, cultivadas em duas densidades de plantas e monitorar as modificações microclimáticas da proteção com agrotêxtil na região de Ponta Grossa. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no ano de 2000, em campo da UEPG, situada 569 A. V. Pereira, et al. Tabela 1. Produtividade (t ha-1), número de vagens por planta e peso médio das vagens (g) de duas cultivares de feijão-vagem cultivadas sob proteção com agrotêxtil e em ambiente natural (AN). Ponta Grossa, UEPG, 2000. *médias seguidas da mesma letra maiúscula em linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. (%) – Coeficiente de variação. na latitude 25º05' Sul e longitude 05º33' Oeste e altitude média de 950 m. O solo foi classificado como CAMBISSOLO HÁPLICO Distrófico de textura argilosa. O clima do município de Ponta Grossa é classificado, segundo o Sistema de Köppen, como Cfb ou temperado propriamente dito; com temperatura média do mês mais frio abaixo de 18ºC (mesotérmico), com verão fresco, temperatura média do mês mais quente abaixo de 22ºC e sem estação seca definida. A precipitação e temperatura média anual são 1700 mm e 20ºC, respectivamente. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, distribuído em esquema fatorial 2x2x2 (cultivares x sistemas de proteção x espaçamentos) com 4 repetições. As cultivares de feijão-vagem utilizadas foram Turmalina e Coralina, com cultivo em ambiente natural (AN) e sob agrotêxtil (PP) e densidade de 3,3 e 6,6 pl m-1. As cultivares Turmalina e Coralina são de porte determinado e com ciclo médio de 35 a 50 dias da semeadura à floração, e de 55 a 70 dias da semeadura ao início da colheita. O número de colheitas varia de duas a quatro, com três a cinco dias de intervalo, apresentando produtividade total de 8 a 15 t ha-1 de vagens, no ponto comercial (EMATER,1997). Possuem teor de fibra em torno de 1,17 e 1,37% para 'Coralina' e 'Turmalina', respectivamente (Oliveira et al., 2001). A semeadura foi realizada manualmente em 18/03/00 em sulcos distanciados de 0,50 m. Os espaçamentos entre plantas foram 15 e 30 cm, correspondendo às densidades de 6,6 e 3,3 pl m-1, respectivamente. Cada unidade experimental era composta de 3 linhas com 10 plantas por linha, perfazen570 do um total de 30 plantas por parcela. O agrotêxtil de cor branca com gramatura de 20 g m-2 foi colocado 10 dias após a semeadura (DAS) e fixado lateralmente com pedras para os tratamentos com cultivo protegido. As plantas permaneceram protegidas com agrotêxtil durante todo período em que a cultura ficou a campo, sendo retirado apenas para realização de tratos culturais. A adubação química foi realizada no momento da semeadura com 300 kg ha1 de 4-14-8, incorporado no sulco de plantio. Realizou-se adubação nitrogenada em cobertura com uréia a 100 kg ha-1 aos 27 DAS e adubação via foliar com magnésio (1 L ha-1) aos 35 DAS. As irrigações foram realizadas por aspersão e as capinas feitas aos 15; 27 e 33 DAS para evitar a competição das plantas daninhas com a cultura. Aos 65 DAS aplicou-se Thiametoxan (200g em 100L) quando os danos de vaquinha (Diabrotica speciosa) atingiram o nível de controle. Nesta data também aplicouse Propiconazole na proporção de 40 g em 100 L de água, para o controle de oídio (Oidium sp.). Aos 72 DAS fez-se outra aplicação de fungicida para controle de oídio, ferrugem (Uromyces sp.) e antracnose (Colletotricum sp.), com Tebuconazole (0,5 L ha-1) e Fentin hydroxyde (0,3 L ha-1). As aplicações foram realizadas com pulverizador costal com bico tipo leque. Em cada parcela, colheu-se as 8 plantas centrais da linha central, aos 62; 68; 75; 84 e 94 DAS. Avaliou-se a produção precoce através do peso total das vagens colhidas entre 62 e 68 DAS, a produtividade, o número de vagens por planta e o peso médio das vagens. Para a coleta dos dados microclimáticos instalou-se sensores de temperatura do ar e do solo, aos 13 DAS. Os sensores de temperatura do ar e do solo foram colocados a 15 cm acima da superfície do solo e a 10 cm de profundidade, sob proteção com agrotêxtil e em ambiente natural. Todos os sensores foram conectados ao Datalloger CR 23X - Campbell Scientific, programado para realizar leituras a cada minuto e médias a cada hora, durante todo o ciclo da cultura. Os dados obtidos no ensaio foram submetidos à análise de variância, utilizando-se para comparação de médias o teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produção A colheita das plantas iniciou-se aos 62 DAS, não ocorrendo diferença entre os tratamentos avaliados para precocidade. Não houve interação significativa entre proteção x densidade de plantas e proteção x densidade de plantas x cultivares. Para a produção total de vagens frescas ocorreu interação entre cultivares x proteção e cultivares x densidade. Na combinação cultivares x proteção, a 'Turmalina' produziu 39% a mais quando cultivada sob proteção com agrotêxtil comparada à produção em ambiente natural (Tabela 1). No entanto, a 'Coralina' não apresentou diferença entre os dois sistemas de cultivo. Não houve diferença na produção entre as cultivares quando cultivadas sob agrotêxtil. Em ambiente natural, a 'Coralina' superou em 29% a produção da 'Turmalina' (Tabela 1), que por sua vez teve produHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. A. V. Pereira, et al. Tabela 2. Produtividade (t ha-1), número de vagens por planta e peso médio das vagens (g) de duas cultivares de feijão-vagem cultivadas em duas densidades de plantas (6,6 e 3,3 pl m-1). Ponta Grossa, UEPG, 2000. *médias seguidas da mesma letra maiúscula em linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. C.V. (%) – Coeficiente de variação. tividade abaixo da média nacional (13 t ha-1), segundo Peixoto et al. (1997). A redução da produtividade da 'Turmalina' cultivada a campo, deve-se possivelmente à época de plantio (outono), pois as temperaturas tendem a diminuir com o passar dos dias afetando o metabolismo das plantas que não são adaptadas a essa região, como é o caso da 'Turmalina'. A maior produção da 'Turmalina' sob agrotêxtil é explicada pelo número de vagens por planta (Tabela 1). As plantas da 'Turmalina', quando protegidas, apresentaram 7 vagens por planta a mais que em ambiente natural. Para 'Coralina', as plantas protegidas com agrotêxtil não diferiram quanto ao número de vagens das plantas cultivadas em ambiente natural (Tabela 1). As cultivares também não diferiram entre si quanto ao número de vagens por planta, quando cultivadas sob proteção. Por outro lado, em ambiente natural, as plantas da 'Coralina' formaram 4 vagens por planta a mais que a 'Turmalina' (Tabela 1). Estes resultados indicam que a 'Turmalina', devido a sua sensibilidade às baixas temperaturas, responde melhor à proteção com agrotêxtil quando comparada à 'Coralina', uma vez que a 'Turmalina' foi mais produtiva sob agrotêxtil, devido ao maior número de vagens formadas. Este resultado pode estar relacionado ao microclima formado sob a proteção, que propiciou a emissão de maior número de flores por planta ou, possivelmente, a proteção reduziu a taxa de abscisão dos órgãos reprodutivos. Poderia ser possível que o incremento na produtividade da 'Turmalina' sob agrotêxtil em relação ao cultivo em ambiente natural estivesse relacionado ao maior peso médio das vagens. Porém, a diferença Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. em relação a esta característica não foi significativa entre os tratamentos (Tabela 1). Entre as cultivares, a 'Turmalina', conforme esperado, apresentou vagens com maior peso em relação à 'Coralina', sendo esta uma característica genética da cultivar. Para a combinação entre cultivar e densidade de plantas, a produtividade da 'Turmalina' não diferiu entre as densidades, entretanto, a 'Coralina' produziu mais quando cultivada em densidade de 3,3 pl m-1 em relação a 6,6 pl m-1 (Tabela 2). Quando as cultivares foram semeadas em baixa densidade (3,3 pl m1), a 'Coralina' foi mais produtiva que a 'Turmalina', porém em alta densidade (6,6 pl m-1) não houve diferença entre as cultivares (Tabela 2). Isto demonstra que a cultivar Coralina se adapta melhor a baixas densidades. Apesar do menor número de plantas por área em densidade de 3,3 pl m-1 (66.666 pl ha-1) comparado à densidade de 6,6 pl m-1 (133.333 pl ha-1), a produtividade não diferiu para a 'Turmalina' e aumentou para a 'Coralina'. Estes resultados mostraram que ambas cultivares apresentaram efeito compensador. De acordo com Lollato (2000), o feijoeiro apresenta grande capacidade de ocupação dos espaços laterais disponíveis, podendo compensar parcialmente eventuais excessos de espaçamento ou redução de densidade de plantas. Ademais, a produtividade de ambas cultivares, quando semeadas em densidade de 6,6 pl m-1 ficou abaixo da média nacional para cultivares de porte determinado (13 t ha-1). A densidade de 3,3 pl m-1 resultou em maior número e peso médio de vagens por planta, comparado à densidade de 6,6 pl m-1 (Tabela 2). O aumento no número e peso de vagens compensou o menor número de plantas por hectare igualando e aumentando a produção, dentro das densidades, para 'Turmalina' e 'Coralina', respectivamente. Os resultados de número e peso médio de vagens por planta para interação cultivar x densidade (Tabela 02) concordam com alguns autores. De acordo com Ramalho et al. (1978), citados por Araújo (1998), o número de vagens por planta e peso médio das vagens são os principais componentes da produção afetados pela densidade de plantas, (devido à competição por radiação, água e nutrientes) que, conseqüentemente, irão influir na produtividade. Os autores citados enfatizam que o número de vagens é o componente de produção mais afetado pela população de plantas. Modificações Microclimáticas A temperatura do ar sob agrotêxtil foi maior que em ambiente natural durante todo o ciclo da cultura. Os valores da diferença entre as temperaturas dos tratamentos diminuíram com o desenvolvimento da cultura (Figura 01). A diferença entre temperatura do ar sob agrotêxtil e em ambiente natural foi de 4,85ºC aos 25 DAS, diminuindo para 3,50ºC aos 35 DAS, fase em que iniciou o florescimento das plantas, de 1,53ºC aos 55 DAS (enchimento das vagens) e de 1,37ºC aos 85 DAS, fase final de produção. Em média, a temperatura do ar sob proteção com agrotêxtil foi 2,6ºC maior que em ambiente natural, oscilando entre 0,20 e 7,31ºC. De acordo com Otto et al. (2000c), a intensidade dessas modificações depende da época do ano, do desenvolvimento da cultura e da espécie cultivada. O plantio foi realizado no início do outono e 571 A. V. Pereira, et al. Figura 1. Temperatura média do ar (15 cm de altura do solo) para os tratamentos sob agrotêxtil (TarPP) e em ambiente natural (TarAN), durante todo o ciclo da cultura do feijão-vagem. Ponta Grossa, UEPG, 2000. (Das = dias após a semeadura) Figura 02. Temperatura média do solo (10 cm de profundidade) para os tratamentos sob agrotêxtil (TsPP) e em ambiente natural (TsAN), durante todo o ciclo da cultura do feijãovagem. Ponta Grossa, UEPG, 2000. (Das = dias após a semeadura) com o passar dos dias a temperatura do ar diminuiu naturalmente. A menor temperatura registrada sob agrotêxtil durante o ciclo da cultura foi 12,26ºC e em ambiente natural de 8,12ºC. A maior temperatura sob agrotêxtil e em ambiente natural foi 28 e 21ºC, respectivamente. Com isso, a integral térmica diária ao longo de todo o ciclo, no ambiente protegido foi mais favorável ao crescimento e desenvolvimento do feijão-vagem, em especial, para 'Turmalina'. Esses resultados concordam com Mansour & Hemphil (1987); Faouzi et al. (1993); Mermier et al. (1995), Mourão (1997) 572 e Otto et al. (2000c). Para temperatura do solo, os valores sob agrotêxtil foram maiores que em ambiente natural durante todo o ciclo da cultura. De semelhante modo ao ocorrido com a temperatura do ar, os valores da diferença entre as temperaturas do solo dos tratamentos diminuíram com o desenvolvimento da cultura (Figura 02). A proteção com agrotêxtil reduziu a perda de calor para o meio externo. A diferença máxima entre PP e AN foi de 3,3ºC aos 24 DAS e a mínima foi de 0,58ºC aos 94 DAS. O aumento médio da temperatura do solo a 10 cm de pro- fundidade foi de 1,97ºC com o uso do agrotêxtil, sendo coerente com os resultados encontrados por Mourão (1997) e Otto et al. (2000c). Essas modificações na temperatura do solo e ar, decorrentes do uso da proteção, favoreceram o desenvolvimento das plantas de feijão-vagem cultivadas durante o outono na região de Ponta Grossa. De acordo com Filgueira (2000), a faixa de temperatura do ar considerada ótima para a cultura do feijãovagem é de 18-30ºC. A temperatura média registrada em ambiente natural durante o ciclo da cultura foi 16ºC, (abaixo da referida faixa) e sob proteção foi de 19ºC. Desta forma, entende-se que a 'Coralina' apresenta maior amplitude de adaptação térmica que a 'Turmalina'. Quando cultivada em ambiente natural (temperatura média abaixo de 18ºC), a 'Coralina' não diferiu da produção em cultivo sob agrotêxtil. Por outro lado, a 'Turmalina', quando em temperaturas abaixo da citada por Filgueira (2000), não manifestou seu potencial produtivo. Esta apresentou aumento da produtividade quando cultivada sob agrotêxtil, devido possivelmente à exigência em temperaturas mais elevadas para crescimento e desenvolvimento. A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que, visando a produção de vagens do tipo macarrão na região de Ponta Grossa durante o outono, a 'Coralina' é uma ótima opção por se adaptar às condições climáticas da região, não necessitando do uso de proteção. Por outro lado, quando se deseja a produção de vagens do tipo manteiga na mesma região, utilizando-se a 'Turmalina', o uso do agrotêxtil é excelente alternativa, pois essa cultivar apresentou consideráveis aumentos de produtividade neste tipo de cultivo, comparado-se com a produção em ambiente natural. Isto pode estar relacionado com o aumento da temperatura do solo e do ar sob o agrotêxtil em relação às condições naturais de cultivo. Para as cultivares Turmalina e Coralina, o uso de baixa densidade de plantas (3,3 pl m-1) é mais viável economicamente, pois possibilita redução na quantidade de sementes e insumos, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas além de facilitar os tratos culturais. LITERATURA CITADA ADSULE, R.N.; DESHPANDE, S.S.; SATHE, S.K. French bean. In: KADAM, S.S.; SALUNKHE, D.K. (editores). Handbook of vegetable science and technology: Production, composition, storage and processing. New York, 1998. p. 457-469. ALMEIDA, T.C.; CANÉCHIO FILHO, V. Exigências climáticas. In: IAC. Principais culturas. 2 ed. Campinas, SP, 1974. p. 33-40. ANDRADE, M.J.B. Clima e solo. In: VIEIRA, C.; PAULA JUNIOR, T.J.; BORÉM, A. Feijão: Aspectos gerais e cultura no estado de Minas. 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Para a eficiência deste manejo, é fundamental que os agricultores compreendam os rótulos dos inseticidas. Para verificar se isto ocorria, agricultores de uma área rural do Distrito Federal foram entrevistados. Os resultados mostraram que 23% não compreendiam o significado da faixa vermelha (inseticida muito perigoso) dos rótulos. Os termos “ingrediente ativo” ou “grupo químico” eram desconhecidos por todos. Oitenta por cento não sabia se havia diferenças entre Tamaron® e Hamidop®. Com isso, vêse que são necessários programas para aumentar a compreensão dos rótulos dos inseticidas pelos agricultores, antes que programas de manejo de resistência sejam implementados. Evaluating the knowledge of insecticide´s label by growers from an agricultural area in Distrito Federal, Brazil Palavras-chave: controle químico, manejo de resistência a inseticidas. Keywords: chemical control, insecticide resistance management. Several programs of insecticide resistance management are being proposed by chemical and agricultural research companies. But, to manage insecticides it is fundamental that growers understand the label of those products. In order to verify if that occurr, growers from a rural area in the Distrito Federal were interviewed. The results showed that the red line on the label that means “dangerous insecticide” was unknown by 23% of them. No one knew the meaning of the terms “active ingredient” or “chemical group”. Also, 80% of the growers didn´t know if there was a difference between Tamaron® and Hamidop®. With those results, it was clearly shown that it is necessary to increase the knowledge of insecticide´s label in the area before the development of programs of insecticide resistance management. (Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003) O Brasil possui uma ampla legisla ção que deve ser cumprida antes que os agrotóxicos possam chegar aos agricultores (Ministério da Agricultura, 1998). Os rótulos trazem as informações necessárias para que os produtos sejam utilizados adequadamente a fim de evitar intoxicações [equipamentos de proteção individual (EPI) a serem utilizados, grau de periculosidade do inseticida]. No entanto, já foi verificado em alguns dos locais do país que alguns produtores, ao empregarem os inseticidas, não utilizam os EPI necessários, o que gera intoxicações (Araújo et al., 2000). Os rótulos dos produtos trazem também informações a respeito do grupo químico e ingrediente ativo do produto. Estas informações facilitam a implementação de programas de manejo de resistência a inseticidas, onde é recomendada a rotação de produtos que pertençam a grupos químicos diferentes (Castelo Branco & França, 2000). Desse modo, estudos visando avali574 ar o grau de compreensão dos rótulos dos inseticidas por parte de agricultores são importantes para que diretrizes possam ser traçadas a fim de viabilizar programas de manejo de resistência a inseticidas, bem como viabilizar programas visando a redução de intoxicações. Neste trabalho, através de entrevistas com agricultores do Núcleo Rural da Vargem Bonita, localizado no Distrito Federal (DF), foi avaliado o nível de conhecimento dos rótulos dos inseticidas por estes agricultores, bem como avaliadas as condições sob as quais estes produtos eram empregados na região. MATERIAL E MÉTODOS O Núcleo Rural da Vargem Bonita, localizado a cerca de 20 km de Brasília, é uma área de produção intensiva de hortaliças, que abastece parte do mercado consumidor do DF. Os agricultores deste Núcleo, à semelhança de outras áreas produtoras de hortaliças da região, praticam uma agricultura intensiva, onde máquinas agrícolas, adubação química, agrotóxicos e trabalho assalariado são empregados. O Núcleo Rural da Vargem Bonita é constituído por 67 propriedades rurais, sendo 43 com áreas de 2 a 5 ha e 24 com área de 5 a 20 ha. Em fevereiro de 2002, foram sorteadas, através de uma tabela de número aleatórios, 30% das propriedades onde os agricultores responsáveis pelas aplicações de inseticidas deveriam ser entrevistados. Este grupo foi chamado de grupo principal e, nestes locais, se houvesse cultivo de hortaliças com aplicação de inseticidas, o agricultor deveria ser entrevistado. Em seguida, foram também sorteadas pelo mesmo processo, mais 30% das propriedades que formaram o chamado grupo secundário. Neste caso, se o responsável pelas pulverizações de inseticidas de uma propriedade do grupo principal não estivesse presente no dia da entrevista, o responsável da primeira propriedade do Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal grupo secundário seria entrevistado. Para a obtenção das informações deste trabalho, rótulos de inseticidas, de diferentes grupos químicos, com diferentes cores de faixas (clorfluazuron, regulador de crescimento, faixa vermelha; metamidofós, produtos comerciais Tamaron® e Hamidop®, organofosforado faixa amarela; deltametrina, piretróide, faixa azul; imidacloprid, neonicotinóide, faixa verde) foram apresentados aos agricultores. Nesta ocasião, eles deveriam informar se conheciam os termos ingrediente ativo, grupo químico e se sabiam se havia diferença entre os inseticidas Hamidop® e Tamaron®. Os entrevistados forneceram ainda informações sobre hortaliças cultivadas, pragas principais, uso de EPI para aplicação de inseticidas, nível de escolaridade e nível salarial. Os dados obtidos das entrevistas foram tabulados e foi utilizada a estatística descritiva para análise. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram visitadas 22 propriedades. Duas não apresentavam qualquer tipo de cultivo; uma cultivava mandioca, outra batata-baroa e outra cogumelos, todas elas sem aplicações de inseticidas. As demais 17 propriedades cultivavam hortaliças e empregavam agrotóxicos. Portanto, os agricultores destes últimos estabelecimentos (25% do total da região), foram os que forneceram as informações para este trabalho. A maioria dos responsáveis pelas aplicações de inseticidas eram trabalhadores rurais com carteira assinada (58%) e sem este documento (18%), seguidos de arrendatários (12%) e meeiros (12%). O nível educacional da população entrevistada era baixo. Entre os arrendatários e meeiros, 50% tinham até quatro anos de estudo e 50% até oito. Entre os trabalhadores, 10% eram analfabetos, 40% tinham até quatro anos de estudo e 50% até oito. O salário dos trabalhadores rurais da região variava de R$ 180,00 a R$ 400,00, ou seja, de um a 2,2 salários-mínimos. Foi verificado que as hortaliças cultivadas eram conduzidas em sistemas de policultivo, com no mínimo três produtos diferentes em uma propriedade. A Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Figura 1. Cultivos encontrados no Núcleo Rural da Vargem Bonita, DF. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002. alface era a mais cultivada (Figura 1). Do ponto de vista econômico, a diversificação de culturas é vantajosa pois como os preços das hortaliças variam no decorrer do ano (Castor & Silva, 1986; Kurihara et al., 1993), os riscos de perdas econômicas são diminuídos. Do ponto de vista do controle de pragas, o policultivo também é vantajoso, pois os riscos de perdas por danos de insetos é também diminuído (Altieri, 1994). As pragas relacionadas pelos entrevistados como capazes de causar perdas as lavouras eram em pequeno número. As mais importantes eram a vaquinha (Diabrotica speciosa) e a traçadas-crucíferas (Plutella xylostella), vindo em seguida lagarta-rosca (Agrotis ipsilon) e pulgões (Figura 2). Para o controle de pulgões, um agricultor utilizava pirimicarb, inseticida específico para esta praga. Para o controle das demais pragas, um agricultor utilizava o organofosforado acefato, outro o piretróide lambdacialotrina, outro o inibidor de quitina metoxifenozide e outro o produto biológico Bacillus thuringiensis; nove produtores usavam o piretróide deltametrina e onze o organofosforado metamidofós, produto mais comumente usado. Em locais como Viçosa (MG) e São Luís (MA), metamidofós também foi o agrotóxico mais utilizado (Moreira, 1995; Araújo et al., 2001). Alguns fatores podem contribuir para a grande popularidade deste organofosforado classe II altamente tóxico, entre eles o baixo custo quando comparado a outros produtos disponíveis no mercado e a tradição do uso do produto pelos agricultores. Vale ressaltar ainda que metamidofós era utilizado em todas as culturas da região e aplicado no início do ciclo para o controle da vaquinha, embora não seja registrado para muitas das culturas em que era pulverizado. No que se refere às informações contidas nos rótulos dos inseticidas, 12% dos produtores informaram que nunca liam os rótulos. Dos 88% dos agricultores de Vargem Bonita que liam os rótulos dos inseticidas, a(s) seguinte(s) informação(ões) era(m) buscada(s): pragas controladas (6%), período de carência (18%), dosagem do produto (29%) e EPI necessários para aplicação do inseticida (41%). Neste último caso, todos os entrevistados apontavam para os EPI que apareciam desenhados sobre a faixa do inseticida. Para esta observação, o mais apropriado seria dizer que os agricultores não “liam” os rótulos propriamente ditos, mas compreendiam as instruções através das figuras. Ainda que a maioria dos agricultores buscassem informações sobre os EPI 575 M. Castelo Branco Figura 2. Pragas mais comuns de hortaliças segundo produtores rurais. Núcleo Rural da Vargem Bonita, DF. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002. necessários para aplicação de inseticidas, foi observado que entre os oito trabalhadores que aplicavam metamidofós, apenas um (13%), embora sentisse muito calor, utilizava o equipamento completo (bota, luva, máscara, calça comprida, camisa de manga comprida, capa plástica). Os outros sete trabalhadores (87%) utilizavam equipamento de proteção incompleto (apenas bota; bota, calça comprida e camisa de manga comprida; luva, bota, bermuda e camisa de manga comprida; luva, bota, capa, bermuda e camisa de manga comprida; um capa, bermuda e camisa de manga comprida; bota, máscara, capa, calção e camisa de manga comprida). Desse modo, observa-se uma aparente contradição entre os resultados obtidos. Os trabalhadores liam o rótulo, identificavam os EPI que deveriam utilizar, mas não os utilizavam. Muitos disseram que não usavam “porque não tinham” ou “não usavam máscara porque ela estava quebrada” ou “não usavam porque era muito quente”. O problema da falta de uso de EPI não é atual, nem tampouco restrito a Vargem Bonita. Na década de 80, foi observado no Paraná que 91% dos aplicadores não utilizavam os equipamentos; em Nova Friburgo (RJ) este 576 número era de 98% (Bull & Hathaway, 1986). Em 1998, na região de Pelotas (RS), 27% dos agricultores não usavam EPI (Aggostinetto et al., 1998); em 2001, em São Luís esse número era de 65% dos trabalhadores (Araújo et al., 2001). A falta do uso de equipamento de proteção pelos agricultores da Vargem Bonita certamente deve levar a intoxicação dos mesmos, já que muitos usam bermudas e muitos não usam botas, o que faz com que os aplicadores entrem em contato com os inseticidas. Esta inferência está de acordo com o trabalho de Chaim et al. (2001), que observaram que mais de 70% da deposição dos agrotóxicos no corpo dos aplicadores concentra-se nas coxas, pernas e tornozelos. Além do mais, em São Paulo, foi constatado que mais de 80% das intoxicações ocorriam devido a penetração de pesticidas através da pele (Camargo Filho, 1986). A intoxicação por metamidofós foi sugerida por cinco (62,5%) dos oito trabalhadores que aplicavam o produto em Vargem Bonita. Eles revelaram que logo após a aplicação do inseticida, e por cerca de 24 h após esta, sentiam dores de cabeça, tontura e enjôo. Estas mesmas queixas foram reveladas por agriculto- res de Nova Friburgo (Bulll & Hathway, 1986) e do Vale do São Francisco e Pernambuco (Araújo et al., 2000) e, segundo Camargo Filho (1986) e Souza Cruz (1998), estes são alguns dos sintomas de intoxicação por organofosforados, que causam a inibição da colinesterase. Os trabalhadores de Vargem Bonita revelaram ainda que já haviam feito, até o ano 2001, exame de sangue anual ou bi-anual na EMATER-DF, dentro do programa de monitoramento de intoxicações desta instituição. Apenas um trabalhador apresentou resultado positivo no exame. Na tentativa de compreender o porquê destes resultados, uma consulta ao LACEN (Laboratório Central do DF) indicou que os exames toxicológicos realizados utilizavam o método BChE que mede a quantidade de enzimas butirilcolinesterase no plasma. Estas enzimas, produzidas no tecido hepático, são continuamente exportadas para a corrente sanguínea, o que faz com que o método, que permite examinar um grande número de agricultores, apresente uma resposta rápida para intoxicações recentes (Silva et al., 2001). Além destes testes, o programa do LACEN empregava também exames clínicos, onde, em caso de suspeita de intoxicação, novos exames eram realizados. Estudo realizado por Silva et al. (2001) comparou o método BChE com o método AchE que mede a quantidade da enzima acetilcolinesterase na membrana dos eritrócitos. Esta enzima apresenta baixa taxa de renovação sanguínea. Os autores verificaram que com o método BChE, apenas 3,6% dos indivíduos avaliados apresentaram intoxicação; já com o método AChE, o número de intoxicados subiu para 41,8%. Os autores sugeriram que este método, ainda que mais caro e mais demorado, era mais eficiente para detectar intoxicações para trabalhadores expostos à baixa dosagem de inseticidas por longos períodos de tempo. Desse modo, os resultados de campo e as observações de Silva et al. (2001), poderiam explicar, em parte, o baixo percentual de trabalhadores encontrados com contaminação de organofosforados em Vargem Bonita. No que se refere ao conhecimento das faixas dos rótulos dos produtos utiHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal lizados nas lavouras, 64% dos entrevistados indicou que estas significavam perigo, sendo que os produtos de faixa vermelha e amarela eram os que causavam maiores receios. A associação feita pela maioria dos agricultores entre a cor da faixa e a toxicidade dos inseticidas está de acordo com a legislação, onde faixa vermelha indica produto altamente tóxico e verde produtos pouco tóxicos (Ministério da Agricultura e do Abastecimento, 1998). Na avaliação do conhecimento dos termos técnicos presentes nos rótulos dos inseticidas, nenhum dos entrevistados conhecia o significado dos termos “organofosforado e piretróide”, que indicam a classe do inseticida ou “deltametrina, metamidofós, imidacloprid”, que indicam o ingrediente ativo do produto. Para a pergunta “o Sr. acha que os inseticidas Tamaronâ e Hamidopâ são iguais?”, 18% disseram que eram iguais, sendo que isto ocorria porque tinham o mesmo cheiro, 35% disseram que eram diferentes e 47% não sabiam. O conhecimento da classe de um inseticida e do ingrediente ativo é importante para que: a) os agricultores possam entender as publicações a ele dirigidas ou os testes de inseticidas, onde os inseticidas são referidos pelo ingrediente ativo (Bortoli & Castellane, 1994; Villas Bôas et al., 1997); b) no caso onde existam dois ou mais produtos de marcas comerciais diferentes, porém com o mesmo ingrediente ativo, os agricultores possam escolher aquele que apresente melhor preço; c) possam ser executados programas de manejo de resistência a inseticidas, onde é recomendado o uso em rotação de inseticidas de classes diferentes (IRAC-BR, s.d.). O manejo de resistência a inseticidas é hoje uma das maiores preocupações das indústrias que comercializam este produtos. Por isso foi criado em maio de 1997, no Brasil, o IRAC-BR (Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas), compostos de profissionais da área fitossanitária de 11 empresas, dois consultores e representantes do Ministério da Agricultura. Este grupo foi criado para “ajudar os agricultores a manejar problemas de resistência de pragas a inseticidas”. Para isto, Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. um dos principais procedimentos, quando se faz múltiplas aplicações por ano, é alternar produtos de classe diferente (IRAC-BR, s.d.). Esta proposta de manejo de resistência de inseticidas também está presente em diversas publicações científicas ou publicações que visam atender os produtores (Castelo Branco, 2000; França et al., 2000; Villas Bôas et al., 1997) e, em alguns casos, há até exemplos de rotações que podem ser utilizadas tomando como base a classe de inseticidas e/ou ingredientes ativos (Castelo Branco & França, 2000). Como as pessoas que lidam diretamente com inseticidas no Núcleo Rural da Vargem Bonita desconhecem o que seja “classe de inseticida” ou “ingrediente ativo”, é bem provável que estas indicações não possam ser utilizadas por elas. Programas de racionalização de uso de inseticidas em hortaliças ou publicações contendo informações sobre controle químico ou manejo de resistência a inseticidas em hortaliças visando atingir agricultores desta região, e talvez de outras, para serem realmente efetivos, deverão incorporar um treinamento prévio, adequado ao nível educacional da população, para que seja viabilizado o entendimento das informações contidas nos rótulos dos inseticidas por parte dos usuários. LITERATURA CITADA AGGOSTINETTO, D.; PUCHALSKI, L.E.A.; AZEVEDO, R.; STORCH, G.; BEZERRA, A.J.A.; GRÜTZMACHER, A.D. Utilização de equipamentos de proteção individual e intoxicações por agrotóxicos entre fumicultores do município de Pelotas-RS. 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Postal 533, 79804-970 Dourados-MS, E-mail: nheredia @ceud.ufms.br; 1Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. 2 Alunos da UFMS RESUMO ABSTRACT Foram estudadas a cebolinha ‘Todo Ano’ e a salsa ‘Lisa’, em cultivos solteiro e consorciado, arranjadas no delineamento experimental de blocos casualizados, com três tratamentos e oito repetições. A propagação da cebolinha foi por mudas e a da salsa por sementes. Na colheita, feita aos 90 dias após o início da propagação, nas duas espécies, foram avaliadas a altura das plantas, diâmetro das touceiras e produções de massas fresca e seca das plantas. Também foram avaliados diâmetro e número de perfilhos das plantas de cebolinha e a altura do corte das plantas de salsa. As médias de altura das plantas da cebolinha (33,50 cm) e da salsa (27,11 cm), do diâmetro dos perfilhos da cebolinha (0,42 cm) e da altura do corte nas plantas da salsa (6,41 cm) não apresentaram efeito dos tratamentos. As maiores médias do diâmetro das touceiras foram obtidas nas plantas sob cultivo solteiro, com diferenças de 6,13 cm na cebolinha e de 2,85 cm na salsa, em relação àquelas sob consórcio. As plantas da cebolinha consorciadas com a salsa tiveram aumento significativo de 0,54 milhões de perfilhos ha-1 em relação àquelas sob cultivo solteiro. As produções médias das plantas da cebolinha e da salsa sob cultivo solteiro tiveram, respectivamente, mais 1,32 e 2,42 t ha-1 de massa fresca e 0,20 e 0,24 t ha-1 de massa seca em relação àquelas sob consórcio. As razões de área equivalente para o consórcio cebolinha e salsa foram de 1,41 e 1,50 ao considerar as produtividades de massas frescas e secas, respectivamente. A renda bruta total mostrou que o consórcio cebolinha-salsa foi melhor, com aumentos por hectare de 25,06% (R$ 7.830,00) e de 74,93% (R$ 16.740,00), quando relacionado com a renda da cebolinha ou da salsa em cultivo solteiro, respectivamente. Bunching onion and parsley yield and gross income in monocropping and inter-cropping system Palavras-chave: Allium fistulosum, Petroselinum crispum, arranjo de plantas, produtividade, retorno econômico. ‘Todo ano’ bunching onion and ‘Lisa’ parsley were studied in mono and inter-cropping system arranged in a randomized complete block experimental design with three treatments and eight replications. Bunching onion was propagated by cuttings and parsley by seeds. Both crops were harvested 90 days after the beginning of propagation. Plant height, copse diameter and dried and fresh mass yield were evaluated. Also diameter and number of shoots of bunching onion plants and height of parsley plants were evaluated. Averages of bunching onion (33.50 cm) and parsley (27.11 cm) height, of bunching onion shoot diameters (0.42 cm) and of cut height of parsley (6.41 cm) plants were not affected by treatments. The greatest average of copse diameter was obtained in plants under mono-cropping system, with differences of 6.13 cm for bunching onion and 2.85 cm for parsley in relation to those under inter-cropping system. Bunching onion plants inter-cropped with parsley had significant increase of 0.54 millions of shoots ha-1 in relation to those under mono-cropping system. Average yield of bunching onion and parsley plants under mono-cropping system presented an increase of 1.32 and 2.42 t ha-1 of fresh mass and of 0.20 and 0.24 t ha-1 of dried mass, respectively, in relation to those in inter-cropping system. Land equivalent ratios for bunching onion and parsley inter-cropping system were 1.41 and 1.50 considering dried and fresh mass yield, respectively. Total gross income showed that bunching onion intercropped was better with increases of 25.06% (R$ 7,830.00) and 74.93% (R$ 16.740.00) per hectare when related with gross income of bunching onion or parsley in mono-cropping system, respectively. Keywords: Allium fistulosum, Petroselinum crispum, plant arrangements, yield, income. (Recebido para publicação em 17 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) A cebolinha comum (Allium fistulosum, L.), originária da Sibéria, e a cebolinha (Allium schoenoprasum), originária da Europa continental, são condimentos, muito apreciados pela população e cultivadas em quase todos os lares brasileiros. A planta é considerada perene, apresenta folhas cilíndricas e fistulosas, com 0,30 a 0,50 m de altura, coloração verde-escura, tendendo para o glauco em A. fistulosum; produz pequeno bulbo cônico, envolvido por uma película rósea, com perfilhamento e formação de 578 touceira. As cultivares mais conhecidas são Todo Ano, Futonegui e Hossonegui (Embrater, 1980; Cotia, 1987; Ferreira et al., 1993; Makishima, 1993; Filgueira, 2000). Embora a planta de cebolinha suporte frios prolongados e existam cultivares que resistam bem ao calor, tendo poucas restrições para o seu plantio em qualquer época do ano, a faixa de temperatura ideal para o cultivo fica entre 8 e 22oC, ou seja, em condições amenas. Portanto, o perfilhamento é maior nos plantios de fevereiro a julho nas regiões produtoras do Brasil (Cotia, 1987; Makishima, 1993; Filgueira, 2000). A colheita da cebolinha inicia-se entre 55 e 60 dias após o plantio ou entre 85 e 100 dias após a semeadura, quando as folhas atingem de 0,20 a 0,40 m de altura. A salsa (Petroselinum crispum) é uma das espécies de hortaliças que não atinge sua importância pelo volume ou valor de comercialização mas pela utilização comercial como condimento. A planta produz mais em solos areno-argilosos, com alto teor de matéria orgânica, boa fertilidade e pH entre 5,8 e 6,8. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado A primeira colheita é feita entre 50 e 90 dias após a semeadura, quando as plantas atingirem cerca de 10 a 15 cm de altura. Tanto na cebolinha como na salsa, o rebrotamento é aproveitado para novos cortes, podendo um cultivo ser explorado por dois a três anos, principalmente quando são conduzidos em condições de clima ameno. Na comercialização para consumo ao natural, elas aparecem sós ou formando um conjunto popularmente chamado de cheiro-verde. Nos últimos anos, a cebolinha tem sido cultivada para o abastecimento de agroindústrias de conserva (Ferreira et al., 1993). A associação/consorciação de culturas é um sistema de cultivo utilizado há séculos pelos agricultores (Müeller et al., 1998) e é praticado amplamente nas regiões tropicais (Srinivasan & Ahlawat, 1990), sobretudo por pequenos agricultores. Isto porque, ao utilizarem nível tecnológico mais baixo, procuram maximizar os lucros (Vieira, 1989), buscando melhor aproveitamento dos insumos e da mão-de-obra, geralmente da própria família, em capinas, aplicações de defensivos e outros tratos culturais (Vieira, 1989; Caetano et al., 1999). Paschoal (1994) cita que o cultivo intercalar de salsão com repolho tem ajudado a repelir borboletas cujas lagartas danificam as folhas. O aumento da produtividade por unidade de área é uma das razões mais importantes para se cultivar duas ou mais culturas no sistema de consorciação, que no caso de ser feito com hortaliças permite melhor aproveitamento da terra e de outros recursos disponíveis, resultando em maior rendimento econômico (Silva, 1983; Sullivan, 1998). Em estudo realizado por Tolentino Júnior (2001), em Dourados, sobre a produção da mandioquinhasalsa ‘Amarela de Carandaí’ consorciada com alface ‘Grand Rapids’ e beterraba ‘Tal Top Early Wonder’, concluiuse que as plantas das três espécies apresentaram produtividade superior em monocultivo, em todos os componentes avaliados. Considerando-se a produção total de raízes e a de raízes comercializáveis respectivamente, a razão de área equivalente para o consórHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. cio mandioquinha-beterraba foi de 1,07 e 0,87 e para mandioquinha-alface foi 1,3 e 1,1. Na literatura não foram encontrados relatos sobre o consórcio cebolinha e salsa. Com o presente trabalho estudouse a produtividade e o retorno econômico da cebolinha e da salsa, conduzidas em cultivo solteiro ou consorciadas. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na horta da UFMS, em Dourados, entre 29/8/01 e 27/11/01, em Latossolo Vermelho distroférrico, de textura argilosa, com as seguintes características químicas: 5,5 de pH em CaCl2; 34,0 g dm-3 de M.O; 36,0 mg dm-3 de P; 6,6; 56,0 e 22,6 mmolc dm3 de K, Ca e Mg, respectivamente. O clima da região, segundo a classificação de Köppen (Mato Grosso do Sul, 1990) é Mesotérmico Úmido; do tipo Cwa, com temperaturas e precipitações médias anuais variando de 20 a 24oC e 1250 a 1500 mm, respectivamente. Foram estudadas a cebolinha Todo Ano e a salsa Lisa, cada uma em cultivo solteiro e consorciado, compondo três tratamentos, arranjados no delineamento experimental de blocos casualizados, com oito repetições. A análise estatística foi realizada isoladamente para cada espécie, utilizando dois tratamentos (cultivo solteiro e consorciado) e oito repetições. As parcelas tiveram área total de 3,0 m2 (1,5 m de largura x 2,0 m de comprimento) e a área útil de 2,16 m2 (1,08 m de largura x 2,0 m de comprimento). A parcela da cebolinha, tanto em cultivo solteiro como no consorciado, tinha cinco linhas (21,6 cm entre linhas) com vinte plantas por linha (10 cm entre plantas), perfazendo população de 330.000 plantas ha-1. A parcela da salsa tinha quatro linhas, tanto em cultivo solteiro (27 cm entre linhas) como no consorciado (21,6 cm entre linhas), com 40 plantas por linha (5 cm entre plantas), perfazendo população de 528.000 plantas ha-1. No cultivo consorciado, as cinco linhas da cebolinha foram alternadas com as quatro linhas da salsa. A propagação da cebolinha foi por mudas e a da salsa por sementes. As mudas foram preparadas no dia anteri- or ao do plantio. Posteriormente, foram separados os perfilhos e feita a toilette do material propagativo com a separação e eliminação das raízes. Também foram realizados cortes na parte foliar, para deixar aproximadamente 5 cm de pseudocaule e eliminação das bainhas secas. O plantio consistiu no enterrio vertical das mudas, deixando-se ao descoberto aproximadamente 3 cm do pseudocaule. As irrigações foram feitas por aspersão com o intuito de manter o solo “sempre úmido” (após observações subjetivas) e que induziu a turnos de rega a cada dois dias. O controle das plantas infestantes foi feito com auxílio de enxadas nas entrelinhas e com arranquio manual dentro das linhas. Na colheita, feita aos 90 dias após o início da propagação, mediante o corte das touceiras das plantas, rente ao solo para a cebolinha e imediatamente acima das brotações novas para a salsa, foram avaliadas a altura das plantas, diâmetro das touceiras e produções de massas frescas e secas das plantas. Também foram avaliados diâmetro e número de perfilhos das plantas de cebolinha e a altura do corte das plantas de salsa. Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando o teste F a 5% de probabilidade. O consórcio foi avaliado utilizando a expressão da razão de área equivalente (RAE) proposto por Caetano (1999), a saber: RAE = Cc. Cs-1 + Sc. Ss-1, onde, respectivamente, Cc e Sc correspondem a produções da cebolinha e da salsa em consorciação e Cs e Ss correspondem a produções da cebolinha e da salsa em cultivo solteiro. A validação do consórcio foi realizada mediante a determinação da renda bruta. Para isso, foram comprados cinco maços de cebolinha e de salsa, em dois locais de venda no varejo, e determinadas as massas frescas (variação de 56,1 a 81,0 g e média de 63,6 g para a cebolinha e de 63,1 a 67,4 g e média de 64,9 g para a salsa). Os custos dos maços no varejo variaram de R$ 0,40 a R$ 0,50 mas, segundo os vendedores, o preço pago aos produtores foi de R$ 0,25 por maço de cebolinha ou de salsa. Posteriormente, efetuaram-se as conversões por hectare para número de maços e renda bruta, por cultivo e total, para o produtor. 579 N. A. Herediaz, et al. Tabela 1. Produção da cebolinha Todo Ano em cultivo solteiro e consorciado com salsa. Dourados, UFMS, 2001. Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade. Tabela 2. Produção da salsa Lisa em cultivo solteiro e consorciado com cebolinha. Dourados, UFMS, 2001. Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade. Tabela 3. Renda bruta do produtor, considerando a produção de massa fresca da cebolinha Todo Ano e da salsa Lisa em cultivo solteiro e consorciado. Dourados, UFMS, 2001. * Divisão da massa obtida no trabalho pelas médias de massa dos maços, sendo 63,6 g para cebolinha e 64,9 g para salsa. ** Considerouse R$ 0,25 o preço pago ao produtor por maço de cebolinha ou de salsa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferença significativa para as médias de altura das plantas de cebolinha (33,50 cm) e de salsa (27,11 cm), do diâmetro dos perfilhos de cebolinha (0,42 cm) e da altura do corte nas plantas de salsa (6,41 cm) (Tabelas 1 e 2). Isso indica que as plantas apresentam taxas de crescimento e morfologia bem características, com padrão de resposta dependente do componente genético (Heredia Z., 1988). Os resultados obtidos para altura de plantas indica que, provavelmente, não se utilizaram as populações máximas combinadas que poderiam ter interferido na expressão desse caráter, por isso, não houve efeito da competição interespecífica no consórcio. Por outro 580 lado, as médias do diâmetro das touceiras de cebolinha e de salsa foram influenciadas significativamente pelo tipo de cultivo. As maiores médias foram obtidas nas plantas sob cultivo solteiro, com diferenças de 6,13 cm na cebolinha e de 2,85 cm na salsa, em relação àquelas sob consórcio. Esses resultados mostram relação com a hipótese de Larcher (2000), sobre os sistemas ecológicos terem capacidade de auto-regulação, com base no equilíbrio das relações de interferência, ou seja, as plantas de uma comunidade vegetal formada por espécies diferentes estão sujeitas a diversos tipos de interações. Na maioria dos casos, a interação é notada pela redução da produtividade das culturas (Silva, 1983). As plantas de cebolinha consorciadas com a salsa tiveram aumento signi- ficativo de 0,54 milhões de perfilhos ha1 em relação àquelas sob cultivo solteiro (Tabela 1). Isso pode ter relação com a forma de interação em cultivos associados que pode promover aumentos na produtividade, apesar de ser pouco comum, e que talvez seja causada pela excreção de hormônios estimuladores de crescimento; no entanto, esse estímulo foi citado apenas para algumas variedades de arroz intercultivadas (Whatley & Whatley, 1982). As produções médias das plantas de cebolinha e de salsa sob cultivo solteiro tiveram, respectivamente, mais 1,32 e 2,42 t ha-1 de massa fresca e 0,20 e 0,24 t ha-1 de massa seca em relação àquelas sob consórcio (Tabelas 1 e 2). Esses resultados vêm de encontro com a hipótese de que a partição dos fotoassimilados, sobretudo, é função do genótipo e das Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado relações fonte-dreno, onde a eficiência de conversão fotossintética, dentre outros fatores, pode ser alterada pelas condições de solo, clima e estádio fisiológico da cultura (EMBRAPA,1996; Fancelli & Dourado Neto, 1996). Também podem indicar que as plantas solteiras tiveram melhor adaptabilidade, normalmente relacionadas com a manutenção da eficiência na absorção ou no uso da água, dos nutrientes e do CO2. A menor produção das plantas de cebolinha sob consórcio deve ter relação com a presença das plantas de salsa, que podem ter induzido perda da capacidade produtiva devido à competição entre as raízes, que exploravam o solo à mesma profundidade (Silva, 1983), ou porque as folhas responderam diferencialmente à competição por luz (Whatley & Whatley, 1982). A RAE para o consórcio cebolinha e salsa, considerando as produtividades de massa fresca das culturas, foi de 1,41 (RAE = Cc/Cs + Sc/Ss = 6,63/7,95 + 3,38/5,8 = 1,41) e ao considerar a massa seca, a RAE foi de 1,5. Esses resultados mostram que o consórcio foi efetivo. Ao relacionar a renda bruta (Tabela 3), observou-se que para o produtor o consórcio cebolinha-salsa foi melhor, por ter induzido incrementos monetários por hectare de 25,06% (R$ 7830,00) ou de 74,93% (R$ 16.740,00), quando relacionado com a renda da cebolinha ou da salsa em cultivo solteiro, respectivamente. Os valores obtidos para RAE e para a renda bruta concordam com Silva (1983) e Sullivan (1998), quando citam que o aumento da produtividade por unidade de área é uma das razões mais importantes para se cultivar duas Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. ou mais culturas no sistema de consorciação, porque permite melhor aproveitamento do uso da terra e de outros recursos disponíveis, resultando em maior rendimento econômico. AGRADECIMENTOS Ao CNPq, pelas bolsas concedidas e à FUNDECT-MS, pelo apoio financeiro. LITERATURA CITADA CAETANO, L.C.S.; FERREIRA, J.M.; ARAÚJO, M. Produtividade da alface e cenoura em sistema de consorciação. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 17, n. 2, p. 143-146, 1999. COOPERATIVA AGRÍCOLA DE COTIA. Manual de cultivo das principais hortaliças. Cotia: Cooperativa Central, Departamento de Sementes e Mudas, 1987. 104 p. EMPRESA BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Manual técnico de Olericultura. Rio de Janeiro, Brasília, 1980. 98 p. 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Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 582-584, julho-setembro 2003. Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus Edinardo Ferraz1; Luciane V. Resende1,2#; Gaus S.A. Lima1,3; Maria Cristina L. Silva1; José Geraldo Eugênio de França1; Deusdete José da Silva1 1 IPA. Av. Gal. San Martin, 1371, Bongi, 50761-000 Recife-PE; 2UFRPE, Av. Dom. Manoel de Medeiros S/N, Dois Irmãos, 52171-900 Recife-PE; 3CNPq/IPA. E-mail [email protected], [email protected]; #Autor para correspondência. RESUMO ABSTRACT ‘Redenção’ é uma cultivar de tomate para processamento industrial, resistente a geminivírus e tospovírus. Foi selecionada por seis ciclos de seleção, a partir do cruzamento entre o acesso “LA 3473” e a cultivar Viradoro. O acesso “LA 3473” é portador do gene TY-1 que confere tolerância ao Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV). A cultivar Viradoro, contendo em sua genealogia IPA-5, possui o gene Sw-5, oriundo da linhagem TSW-10, que confere resistência a tospovírus. ‘Redenção’ foi selecionada empregando-se os métodos bulk e seleção de plantas individuais com controle do pedigree. Apresenta formato de frutos alongados, com peso médio de 110 g, boa firmeza, coloração de polpa vermelho intenso e uniforme. Em avaliações de campo apresentou produtividade média de 88,9 t/ha, valor equivalente a híbridos e cultivares do mercado. Espera-se que com essa nova cultivar, consolide-se a revitalização da cadeia agroprocessadora do tomate na região do Sub-Médio São Francisco, considerada por suas características edafo-climáticas, como uma das melhores regiões para cultivo do tomateiro no Brasil. ‘Redenção’: a new tomato cultivar for industry resistant to tospovirus and geminivirus Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, melhoramento genético, viroses, resistência. Keywords: Lycopersicon esculentum, plant breeding, resistance, viruses. Redenção is a tomato cultivar for processing, resistant to tospovirus and geminivirus. It is a result of a six cycle selection from the cross between access LA 3473 and the cv. Viradoro. The access LA 3473 has the gene TY-1 that confers tolerance to the Tomato yellow leaf curly virus (TYLCV). The cultivar Viradoro is a cultivar with IPA-5 background and has the Sw-5 gene that confers resistance to tospovirus. Redenção was selected using the bulk and pedigree selection method. It has elongated fruits, red intense color, firm and uniform, with an average weight of 110 g. Under field exposition showed an average yield of 88.9 t/ha equivalent to local hybrids and commercial cultivars. The authors expect that this new cultivar consolidate the revitalization of the tomato processing chain in the Sub medium São Francisco River Region which is considered, due to the climatic conditions, one of the most proper areas for tomato cultivation in Brazil. (Recebido para publicação em 8 de janeiro de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003) D rásticas mudanças têm ocorrido na cadeia agroindustrial do tomate em Pernambuco, em decorrência de problemas estruturais nos setores de produção e industrialização. A partir do início da década de 90, observou-se uma acentuada redução da área cultivada, provocada pela maior oferta de polpa no mercado e por problemas fitossanitários como a traça-do-tomateiro, tospovírus, e ultimamente, mosca branca e geminivírus (Silva & Giordano, 2000; Melo, 2001). Dentre os patógenos, o “vira-cabeça do tomateiro”, causado por tospovírus, apresentava um quadro epidemiológico bastante severo. Em 1997 as projeções de perdas foram da ordem de 30% o que correspondia a 84.000 toneladas de frutos que, ao custo médio de US$ 60,00 a tonelada, atin582 gia o montante de perdas na ordem de US$ 5.000.000. Em parceria com a Embrapa-Hortaliças, em 1998, o IPA lançou a cultivar Viradoro resistente ao “vira-cabeça”. Os geminivírus, transmitidos pela mosca branca (Bemisia tabaci e B. argentifolii), tornaram-se, então, os principais fatores limitantes na produção de tomate na região, acarretando, em algumas áreas, perdas de até 100% (Bezerra et al., 1997). Para os produtores tornou-se necessário o aumento do número de aplicações de defensivos agrícolas, provocando a elevação nos custos de produção e uma maior contaminação ambiental. Ações que reduzem a população do vetor, por tratamento químico ou controle biológico, ou que decrescem a eficiência da transmissão, têm sido usadas no controle desses patógenos. Entretanto, o uso de cultivares tolerantes ou resistentes é o mais promissor método de controle dessas viroses. Para contribuir com a recuperação desse setor, de grande importância sócio-econômico, foi necessário um redirecionamento do programa de melhoramento genético do IPA. A partir de 1997, foram feitas várias introduções, com o objetivo de se identificar fontes de resistência a isolados de geminivírus de ocorrência no estado de Pernambuco. Os primeiros estudos permitiram identificar doze genótipos promissores (Resende et al., 1998). Alguns desses genótipos foram selecionados como fonte de resistência e passaram a ser utilizados em programas de melhoramento. Após cinco anos de pesquisa obteve-se Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus Tabela 1. Incidência de plantas infectadas por geminivírus e tospovírus e produtividade de genótipos de tomateiro.Belém de São Francisco, IPA, 2002. 1 dat – Dias após o transplantio. 2As Plantas foram inoculadas mecanicamente com um isolado de TSWV e com um isolado de GRSV. 3DNA extraído de plantas cultivadas no campo, sob inoculação natural, foi utilizado como molde em reações de PCR contendo um par de oligonucleotídeos específico para geminivírus. uma cultivar para processamento industrial com resistência a geminivírus e tospovírus. Origem A cultivar Redenção foi obtida após seis ciclos de seleção, a partir do cruzamento entre o acesso LA 3473 e a cultivar Viradoro. Os métodos de melhoramento adotados no programa foram o bulk e a seleção de plantas individuais com controle de pedigree. As gerações foram avançadas no período de 1999 a 2001, efetuando-se, paralelamente, a seleção de materiais promissores, em relação à resistência e a características agronômicas. A cultivar Viradoro é oriunda do cruzamento entre a linhagem TSW-10 e a cultivar IPA-5 (Giordano et al., 2000). “Viradoro” apresenta o gene dominante Sw-5, que conferem resistência ao tospovírus. O acesso LA 3473 consiste numa seleção dentro de populações, proveniente do cruzamento entre L. chilense e L. esculentum com posterior retrocruzamento para L. esculentum. Esse acesso é portador do gene TY-1 que confere tolerância ao Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV) (Zamir, 1994) e foi cedido pelo “Rick Tomato Genetics Resource Center”, da Universidade da Califórnia, Davis. O gene TY-1 também confere tolerância a isolados bipartidos de geminivírus presentes no Brasil (Santana et al., 2000). O processo de avaliação para resistência ao geminivírus e tospovírus ocorreu, inicialmente, mediante infecção natural em condições de campo e, posteriormente, por meio de inoculação artificial em Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. casa de vegetação, para tospovírus. Nessa avaliação, o material foi testado para as duas espécies de tospovírus de maior ocorrência no estado de Pernambuco: Tomato Spotted Wilt Virus (TSWV) e Groundnut Ring Spot Virus (GRSV) (Lima et al., 2000). Para geminivírus, a constatação da presença ou ausência de partículas virais no último ciclo de seleção, se deu por PCR, utilizando-se um par de oligonucleotídeos, universais, capaz de direcionar a amplificação de uma região específica do genoma dos geminivírus (Rojas et al., 1994). Em ensaios de campo, realizados nos municípios de Belém de São Francisco, Ibimirim e Petrolina, em duas épocas de plantio, a cultivar Redenção apresentou produtividade média de 88,9 e 84,5 t/ha; 74,5 e 73,7 t/ha e 88,2 e 85,7 t/ha respectivamente. Essas magnitudes de produtividade são bastante significativas quando comparadas à produtividade alcançada nas mesmas condições por outras cultivares, inclusive híbridos (FERRAZ, E. comunicação pessoal em 2002) Descrição ‘Redenção’ é cultivar de crescimento determinado, desenvolvida para processamento industrial. Apresenta frutos com formato alongado, peso médio de 110 g e número de lóculos variando entre dois e três. Os frutos possuem boa firmeza e coloração externa e polpa vermelha intensa e uniforme. A colheita inicia-se em média de 100 a 110 dias após a semeadura. ‘Redenção’ possui resistência a geminivírus e tospovírus (Tabela 1). A maturação de frutos é uniforme, possibilitando toda a colheita de uma única vez. Com a oferta desta nova cultivar esperase que a tomaticultura no estado de Pernambuco, tenha um novo impulso, pois beneficiará, sobretudo, pequenos produtores, para os quais é inviável a aquisição de sementes híbridas de alto custo. Com isso a indústria terá matéria prima para processamento, vez que a oferta maior do tomate para processamento provém de pequenos produtores. Diante do exposto, verifica-se que para a consolidação da revitalização da cadeia agroprocessadora do tomate no Vale do São Francisco, considerada pela configuração dos seus recursos naturais, como uma das melhores regiões de cultivo do tomateiro no Brasil, há necessidade de uma maior integração entre os setores agrícola e industrial, que permita a rápida e eficiente difusão da tecnologia capaz de elevar a produtividade em bases sustentáveis, melhorar a qualidade da matéria-prima e reduzir custos. Disponibilidade de sementes Pequenas quantidades de sementes poderão ser solicitadas à Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA) em Recife (PE) mediante solicitação pessoal, carta, fax ou e-mail. Quantidades maiores poderão ser adquiridas em breve em lojas especializadas na comercialização de sementes ou produtos agropecuários. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Banco do Nordeste/Fundeci, pelos recursos finan583 E. Ferraz, et al. ceiros, ao “Rick Tomato Genetics Resource Center”, ao Departamento de Agricultura da província de Múrcia, Espanha, na pessoa do Dr. José Luiz Cenis, ao Dr. Wilson Roberto Maluf da UFLA, ao IAC e à Embrapa Hortaliças pela cessão de algumas fontes de resistência testadas na fase inicial do projeto. LITERATURA CITADA BEZERRA, I.C.; LIMA, M.F.; RIBEIRO, S.G.; GIORDANO, L.B.; ÁVILA, A.C. Occurrence of geminivírus in tomate producing areas in submedio São Francisco. Fitopatologia Brasileira. 22 (Suplemento): p. 331, 1997. GIORDANO, L.B.; ÁVILA, A.C; CHARCHAR, J.M.; BOITEUX, L.S.; FERRAZ, E. ‘Viradoro: a tospovirus-resistant processing tomato cultivar adapted to tropical environments. Hort Science, v. 35, p. 1368-1370, 2000. 584 LIMA, M.F.; ÁVILA, A.C.; RESENDE, R.O.; NAGATA, T. Levantamento e identificação de espécies de tospovírus em tomateiro e pimentão no Submédio do Vale do São Francisco e no Distrito Federal. Summa Phytopatologica, v. 26, p. 205-210, 2000. MELO, P.C.T. A cadeia agroindustrial do tomate no Brasil: retrospectiva da década de 90 e cenários para o futuro. Horticultura Brasileira, Brasília, v.19. Suplemento, palestras, julho 2001. RESENDE, L.V.; FRANÇA, J.G.E. SILVA, A.A. Tomato acession evaluation to geminivírus isolates collected at the São Francisco Valley and the Agreste regions in State of Pernambuco in Brasil. In: WORLDWIDE CONGRESS ON THE PROCESSING TOMATO, 3, 1998, PamplonaNavarra. Proceedings… Pamplona, 1998. p. 115. ROJAS, M.R.; GILBERTSON, R.L.; RUSSELL, D.R.; MAXWELL, D.P. Use of degenerate primers in the polimerase chain reaction to detect Whitefly-transmitted geminivirus. Plant Disease, v. 77, p. 340-347, 1993 SANTANA, F.M.; RIBEIRO, S.G.; MOITA, A.W.; MOREIRA JÚNIOR, D.J.; GIORDANO, L.B. 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HB destina-se à publicação de artigos técnico-científicos que descrevem trabalhos originais sobre hortaliças, plantas medicinais e ornamentais que venham contribuir, significativamente, para o desenvolvimento destes setores. A Comissão Editorial necessita da anuência de todos autores do(s) trabalho(s), que devem assinar a carta de encaminhamento ou a primeira página do trabalho original. Caso um ou mais autores não possa(m) assinar, a razão deve ser mencionada na carta de encaminhamento. Neste caso, o autor correspondente deverá se responsabilizar pela anuência do(s) faltante(s). Os artigos submetidos são revisados por dois consultores ad hocs, sendo ainda analisados pelo Editor Associado especializado da área a que se refere o artigo. Cabe à Comissão Editorial tomar a decisão final de aceite, alteração ou rejeição do trabalho. Alterações só serão realizadas com a anuência do(s) autor(es). O autor correspondente receberá a versão gráfica do trabalho para análise e eventual correção. Nesta fase não serão aceitas modificações de conteúdo ou estilo. A HB não adota política de distribuição de separatas. A HB aceita artigos técnico-científicos escritos em português, inglês ou espanhol. É composto das seguintes seções: 1. Artigo Convidado; 1, Carta ao Editor; 3. Pesquisa; 4. Economia e Extensão Rural; 5. Página do Horticultor; 6. Insumos e Cultivares em Teste; 7. Nova Cultivar; e 8. Comunicações. 1. ARTIGO CONVIDADO: tópico de interesse atual, a convite da Comissão Editorial; 2. CARTA AO EDITOR: assunto de interesse geral. Será publicada a critério da Comissão Editorial; 3. PESQUISA: artigo relatando um trabalho original, referente a resultados de pesquisa cuja reprodução é claramente demonstrada; 4. ECONOMIA E EXTENSÃO RURAL: trabalho na área de economia aplicada ou extensão rural; 5. PÁGINA DO HORTICULTOR: comunicação ou nota científica contendo dados e/ou informações passíveis de utilização imediata pelo horticultor; 6. INSUMOS E CULTIVARES EM TESTE: comunicação ou nota científica relatando ensaio com agrotóxicos, fertilizantes ou cultivares; 7. NOVA CULTIVAR: manuscrito relatando o registro de novas cultivares e germoplasma, sua descrição e disponibilidade, com dados comparativos; 8. COMUNICAÇÕES: seção destinada à comunicação entre leitores e a Comissão Editorial e vice-versa, na forma de breves avisos, sugestões e críticas. O texto não deve exceder 300 palavras, ou 1.200 caracteres, e deve ser enviado em duas cópias devidamente assinadas, acompanhadas de disquete e indicação de que o texto se destina à seção Comunicações. Por questões de espaço, nem todas as comunicações recebidas poderão ser publicadas e algumas poderão ser publicadas apenas parcialmente. Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. GUIDELINES FOR THE PREPARATION AND SUBMISSION OF MANUSCRIPTS Subject Matter Horticultura Brasileira (HB) is the official journal published quarterly by the Brazilian Society for Horticultural Science. HB publishes original papers which contribute to the scientific and technologic development of horticultural crops. The journal covers basic and applied researches on vegetable crops, medicinal herbs and ornamental plants. The Editorial Board requires the signature of all authors on the first page of the original paper or on the submission letter. If one or more authors could not sign, the submission letter must contain the reason(s). In this case, the corresponding author will take the responsibility for the submitted paper. The manuscripts are examined by two reviewers of the specific research area. The Editorial Board makes the final decision on acceptance, changes or rejection. No changes will be made without the approval of the author(s). The corresponding author will receive the galley proof which should be corrected and returned to the publisher; changes in content and style should not be made. No offprint will be supplied. Horticultura Brasileira (HB) is dedicated to publishing technical and scientific articles written in Portuguese, English or Spanish. HB has the following sections: 1. Invited Article; 2. Letter to the Editor; 3. Research; 4. Economy and Rural Extension; 5. Grower’s Page; 6. Pesticides and Fertilizers in Test; 7. New Cultivar; and 8. Communications. 1. INVITED ARTICLE: deals with topics that arouse interest. Only invited articles are accepted in this section; 2. LETTER TO THE EDITOR: a subject of general interest. It will be accepted for publication after being submitted to a preliminary evaluation by the Editorial Board; 3. RESEARCH: manuscript describing a complete and original study in which the replication of the results has clearly been established; 4. ECONOMY AND RURAL EXTENSION: manuscript dealing with applied economy and rural extension; 5. GROWER’S PAGE: communications or short notes with information that could be quickly usable by farmers; 6. PESTICIDES AND FERTILIZERS IN TEST: communications or scientific notes describing tests with pesticides, fertilizers and cultivars; 7. NEW CULTIVAR: this section contains recent releases of new cultivars and germplasm and includes information on origin, description, avaliability, and comparative data; 8. COMMUNICATIONS: these have the objective of promoting communication among readers and the Editorial Board as short communications, suggestions and criticism, in a more informal way. They should be concise, not exceeding 300 words or 1,200 characters. These should be signed by author(s) and submitted in duplicate (original and one copy), along with a diskette that contains a copy of the text. 585 O periódico HB é publicado a cada três meses, de acordo com a quantidade de trabalhos aceitos. Os trabalhos enviados para a HB devem ser originais, ainda não relatados ou submetidos simultaneamente à publicação em outro periódico ou veículo de divulgação. Está também implícito que, no desenvolvimento do trabalho, os aspectos éticos e respeito à legislação vigente do copyright foram também observados. Manuscritos submetidos em desacordo com as normas não serão considerados. Após aceitação do manuscrito para publicação, a HB adquire o direito exclusivo de copyright para todas as línguas e países. Não é permitida a reprodução parcial ou total dos trabalhos publicados sem a devida autorização por escrito da Comissão Editorial da Horticultura Brasileira. Para publicar na HB, é necessário que o primeiro autor do trabalho seja membro da Sociedade de Olericultura do Brasil e esteja em dia com o pagamento da anuidade. Cada artigo submetido deverá ser acompanhado da anuência à publicação de todos os autores, e será avaliado pela Comissão Editorial, Editores Associados e/ou Assessores ad hoc, de acordo com a seção a que se destina. Submissão dos trabalhos Os originais deverão ser submetidos em três vias, em programa Word 6.0 ou versão superior, em espaço dois, fonte arial tamanho doze. O disquete contendo o arquivo deverá ser incluído. Todas as fotos deverão ser enviadas no original. Figuras e/ou quadros deverão ser de boa qualidade. Devido aos altos custos de impressão gráfica da revista, solicita-se aos autores que sejam sucintos na redação, utilizando o mínimo de trabelas, figuras e citações bibliográficas. Os artigos serão iniciados com o título do trabalho, que não deve incluir nomes científicos, a menos que não haja nome comum no idioma em que foi redigido. Ao título deve seguir o nome, endereço postal e eletrônico completo dos autores (veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes da Horticultura Brasileira). A estrutura dos artigos obedecerá ao seguinte roteiro: 1. Resumo em Português ou Espanhol com palavras-chave ao final. As palavras-chave devem ser sempre iniciadas com o(s) nome(s) científico(s) da(s) espécie(s) em questão e nunca devem repetir termos para indexação que já estejam no título; 2. Abstract, em Inglês, acompanhado de título e keywords. O abstract, o título em Inglês e keywords devem ser versões perfeitas de seus similares em Português ou Espanhol; 3. Introdução; 4. Material e Métodos; 5. Resultados e Discussão; 6. Agradecimentos; 7. Literatura Citada; 8. Figuras e Tabelas. Este roteiro deverá ser utilizado para a seção Pesquisa. Para as demais seções veja padrão de apresentação nos artigos publicados nos últimos volumes da Horticultura Brasileira. Para maior detalhamento consultar a home page da SOB: www.hortciencia.com.br ou www.sobhortalica.com.br As citações de artigos no texto deverão ser feitas conforme os exemplos: Esaú & Hoeffert (1970) ou (Esaú & Hoeffert, 1970). Quando houver mais de dois autores, utilize a expressão latina et alli, de forma abreviada (et al.), sempre em itálico, como segue: De Duve et al. (1951) ou (De Duve et al., 1951). Quando houver mais de um artigo do(s) mesmo(s) autor(es), no mesmo ano, indicar por uma letra minúscula, logo após a data de publicação do trabalho, como segue: 1997a, 1997b. 586 The journal HB is issued every three months, depending on the amount of material accepted for publication. HB publishes original manuscripts that have not been submitted elsewhere. With the acceptance of a manuscript for publication, the publishers acquire full and exclusive copyright for all languages and countries. Unless special permission has been granted by the publishers, no photographic reproductions, microform and other reproduction of a similar nature may be made of the journal, of individual contributions contained therein or of extracts therefrom. Membership in the Sociedade de Olericultura do Brasil is required for publication. For the paper to be eligible for publication the first author must be a Society member and the manuscripts should be accompanied by the agreement for publication signed by the authors. All manuscripts will be evaluated by the Editorial Board, Associated Editors and/or ad hoc consultants in accordance with their respective sections. Manuscript submission Manuscripts should be submitted in triplicate (original and two copies) typed double-spaced (everything must be double spaced) and printed. Use of the “Arial” font, size 12, is required. Include a copy of the manuscript on computer diskette at submission. The Editorial Board will only accept 3.5 inch diskette which have the files copied on them using the program Word 6.0 or superior. The title page should include: title of the paper (scientific names should be avoided); name(s) of author(s) and address(es). Please refer to a recent issue of HB for format. The structure of the manuscript should include: 1. Abstract and Keywords. Keywords should start with scientific names and it should not repeat words that are already in the title; 2. Summary in Portuguese (a translation of the abstract will be provided by the Journal for nonPortuguese-speaking authors) and Keywords (Palavras-chave). 3.Introduction; 4. Material and Methods; 5. Results and Discussion; 6.Acknowledgements; 7. Cited Literature and 8. Figures and Tables. This structure will be used for the Research section. For other sections please refer to a recent issue of HB for format. You can also visit Hotr.Bras home page in the following addresses: www.hortciencia.com.br or www.sobhortalica.com.br. Bibliographic references within the text should have the following format: Esaú & Hoeffert (1970) or (Esaú & Hoeffert, 1970). When there are more than two authors, use a reduced form, like the following: De Duve et al. (1951) or (De Duve et al., 1951). References to studies done by the same author in the same year should be noted in the text and in the list of the Cited Literature by the letters a, b, c, etc., as follows: 1997a, 1997b. In the Cited Literature, references from the text should be listed in alphabetical order by last name, without numbering them. Papers that have two or more authors should be listed in chronological order, following all the papers of the first Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Na seção de Literatura Citada deverão ser listados apenas os trabalhos mencionados no texto, em ordem alfabética do sobrenome, pelo primeiro autor. Trabalhos com dois ou mais autores devem ser listados na ordem cronológica, depois de todos os trabalhos do primeiro autor. As referências bibliográficas deverão obedecer as normas da ABNT (NBR 6023, de 2002) Exemplos: a) Periódico: VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat production of vegetables during refrigerated storage. Journal of the American Society for Horticulture Science, v. 97, n. 3, p. 431-432, Mar.1972. b) Livro: ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New York: John Willey, 1979. 632 p. c) Capítulo de livro: ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. (Ed.) Corn and corn improvement. New York: Academic Press, 1955. cap.3, p. 465-536. d) Tese: SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 p. Tese (Mestrado em Fitopatologia), ESALQ, USP, Piracicaba. e) Trabalhos apresentados em congressos (quando não incluídos em periódicos): HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.; FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO, J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364. f) Trabalhos apresentados em congresso, publicados em revista/CD-ROM: REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20, n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002. g) Trabalhos apresentados em meio eletrônico: g1) Periódico: KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online journalism. HPS News Online, Los Angeles, nov. 1996. DIsponível em <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>. Acesso em 25 nov. 1998. g2) Trabalhos apresentados em congresso: SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em <http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso em 21 jan. 1997. Uma cópia da prova tipográfica do manuscrito será enviada eletronicamente para o autor principal, que deverá fazer as possíveis e necessárias correções e devolvê-la em 48 horas. Correções extensivas do texto do manuscrito, cujo formato e conteúdo já foram aprovados para publicação, não são aceitáveis. Alterações, adições, deleções e edições implicarão novo exame do manuscrito pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes no texto da prova tipográfica corrigido e devolvido à Comissão Editorial são de inteira responsabilidade do(s) autor(es). Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. author, second author and so on. Please refer to a recent issue of HB for more details. The bibliographic references should be done accordingly to the ABNT norms (NBR 6023, from 2002). a) Journal: VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat production of vegetables during refrigerated storage. Journal of the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3, p. 431-432, Mar. 1972. b) Book: ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New York: John Willey, 1979. 632 p. c) Chapter: ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J., (Ed.) Corn and corn improvement. New York: Academic Press, 1955. p. 465-536. d) Thesis: SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 p. Tesis (master in phytopathology), ESALQ, USP, Piracicaba. e) Articles from Scientific Events (when not published in journals): HIROCE, R; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.; FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO, J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977, Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364. f) Articles from scientific events, publised in refered jornals: REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20, n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002. g) Articles publised by eletronic means: g1) Journal: REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20, n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002. g2) Articles from scientific events: SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em <http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso em 21 jan. 1997. A copy of the galley proof of the manuscript will be sent to the first author who should make any necessary corrections and send it back within 48 hours. Extensive corrections of the text of the manuscript, whose format and content have already been approved for publication, will not be accepted. Alterations, additions, deletions and editing implies that a new examination of the manuscript must be made by the Editorial Board. Errors and omissions which are present in the text of the corrected galley proof that has been returned to the Editorial Board are entirely the responsability of the author. 587 Em caso de dúvidas, consulte a Comissão Editorial ou verifique os padrões de publicação dos últimos volumes da Horticultura Brasileira. Os originais devem ser enviados para: Horticultura Brasileira C. Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9051 / 385 9073 / 385 9088 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Assuntos relacionados a mudanças de endereço, filiação à Sociedade de Olericultura do Brasil, pagamento de anuidade, devem ser encaminhados à Diretoria da Sociedade de Olericultura, no seguinte endereço: Sociedade de Olericultura do Brasil UNESP – FCA C. Postal 237 18.603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203 Fax: (0xx14) 6802 3438 E-mail: [email protected] 588 Orientation about any situations not foreseen in this list will be given by the Editorial Board or refer to a recent issue of Hoticultura Brasileira. Manuscripts should be addressed to: Horticultura Brasileira C. Postal 190 70.359-970 Brasília – DF Tel.: (0xx61) 385 9051 / 385 9073 / 385 9088 Fax: (0xx61) 556 5744 E-mail: [email protected] Change in address, membership in the Society and payment of fees should be addressed to: Sociedade de Olericultura do Brasil UNESP – FCA C. Postal 237 18.603-970 Botucatu – SP Tel.: (0xx14) 6802 7172 / 6802 7203 Fax: (0xx14) 6802 3438 E-mail: [email protected] Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003. Simplesmente Gypsophila Gypsophila paniculata, herbácea perene ornamental, produz inflorescências em forma de panícula, com numerosas flores pequenas, cujo conjunto aparenta delicada transparência e notável leveza. Os ramos floridos são usados isoladamente ou como componente em arranjos florais. A planta, originária da Ásia e Europa, pertence à família Cariophyllaceae. O gênero Gypsophila inclui cerca de 125 espécies, sendo a espécie G. paniculata a mais cultivada e comercializada como flor de corte anual. Para uso em paisagismo, recomenda-se as espécies G. pacifica, G. elegans (de portes maiores), G. muralis e G. repens (rasteiras). Destas, somente a G. elegans (flores brancas) e a G. pacifica (flores rosas) são espécies anuais, reproduzidas por sementes. As outras são perenes, rasteiras e extremamente rústicas. G. muralis, considerada invasora de solos arenosos e úmidos na Europa, tem as pétalas rosas com estrias avermelhadas. G. repens, com flores rosadas e porte mais baixo (<25 cm), é flor de altas altitudes, nativa dos Alpes e Pireneus e utilizada na composição de jardins rochosos. G. paniculata, de 60-90 cm de altura, é altamente ramificada com folhas lineares de cor verde acinzentado. Bristol Fairy é a mais cultivada e comercializada no Brasil como flor de corte, possu flor branca de diâmetro pequeno (5-7 mm) e pétalas duplas. Outras cultivares: Perfecta (pétalas duplas brancas grandes, 10-13 mm), Flamingo, Pink Fairy e Red Sea (as três com pétalas róseas), Golan, Gilboa, Arbel e Tavor (as quatro com flores brancas de tamanhos diferentes). A produção de flores de Gypsophila é afetada pela conjugação dos fatores ambientais: comprimento do dia, temperatura e intensidade luminosa. É planta de dia longo e necessita de mais que 13 h de luz. No outono e inverno pode-se aumentar artificialmente o comprimento do dia com lâmpadas de 150-200 W a cada 3 m linear, durante até 8 horas adicionais de forma intermitente 1:2 (10 minutos de “luz” para 20 minutos de “escuro”) até o surgimento da cor nos botões florais. Temperatura média superior a 15°C e alta intensidade luminosa contribuem em maior crescimento e maior produção de flores. Uma combinação adequada de temperatura e fotoperíodo é necessária para o crescimento vegetativo, indução floral, elongação da haste floral e iniciação floral e formação floral e florescimento propriamente dito. Pode ser produzido em qualquer época do ano se não ocorrer baixa temperatura. Temperatura alta conjugadas com fotoperíodo de dia longo podem antecipar o ciclo, mas as flores não terão boa qualidade na apresentação. Como a temperatura ótima para o desenvolvimento situa-se entre 15 e 20ºC, temperaturas inferiores a 10ºC (e dias curtos) favorecem a permanência das plantas em estado vegetativo. Entretanto, as respostas são varietais: ‘Golan’, ‘Gilboa’, ‘Arbel’ e ‘Tavor’ respondem a dias mais curtos que ‘Perfecta’ e ‘Bristol Fairy,’ sendo também mais resistentes ao cultivo a céu aberto. Durante um ano, com as mesmas plantas, pode-se obter de 2 a 3 ciclos de produção de hastes florais, sendo o primeiro obtido três meses após o plantio, com rendimento em torno de 5 a 8 pacotes/ m²/ciclo. Em regiões sem problema de temperatura baixa a duração do ciclo é menor e poderá ser cultivado a céu aberto. A planta prefere solos bem drenados e alcalinos, com pH entre 6,5-7,0. Essa preferência por solos alcalinos deu origem ao seu nome (Gypse significa rocha sedimentar com presença de sulfato de cálcio hidratado ou “pedra de gesso”). As mudas podem ser obtidas por estacas, utilizando-se reguladores de crescimento e/ou por sementes. A produção por sementes resulta em plantas com alta desuniformidade e de custo elevado, pela dependência da importação. A técnica da micropropagação é mais vantajosa e permite a produção de mudas em escala comercial, livres de doenças e pragas em curto espaço de tempo. Podem ser obtidas por aprox. U$ 0,20/unidade, conforme a região. No manejo póscolheita recomenda-se o uso de soluções conservativas e armazenagem sob temperatura amena (câmaras frias), já que a durabilidade máxima da flor fresca é de duas semanas. A produção de flores constitui grande potencial em relação ao agribusiness brasileiro, graças à biodiversidade e à amplitude de tipos de solo e de clima do Brasil, possibilitando boa diversificação de espécies. O mercado mundial de flores e plantas ornamentais encontra-se em plena expansão. A Holanda é o maior produtor dominando as exportações; comercializou em torno de U$ 1,7 bilhões em 1997 apresentando um crescimento anual de cerca de 5%. A União Européia é ao mesmo tempo, a maior produtora e a maior consumidora de produtos deste setor. Em 1999, o grupo de flores de corte continuava sendo o mais comercializado (46,8% do total), seguido pelas plantas vivas (39%), as folhagens (7,8%) e os bulbos (6,4%). Esses dados referem-se às importações, onde Kênia participou com 25%, Israel com 20%, Colômbia com 17%, Equador com 11%, Zimbawe com 9% e outros países com 18%. As exportações européias desses grupos de plantas ornamentais seguem esta mesma tendência, sendo que a Holanda é responsável por 89% do total exportado e seu maior cliente é a própria União Européia (com 83%). Neste contexto, a Gypsophila paniculata garante 2,5-3,0% desse total. Em 1999, ela encontrava-se em 9° lugar no ranking das 10 flores mais vendidas (com 43,6 mil Euros ou 2,88% do total) e em 2000, caiu para a 10a posição (42,5 mil Euros e 2,54% do total) tendo sido ultrapassada pela alstroemeria. Como o forte mercado europeu sugere as tendências atuais mundiais, mostrase interessante acompanhar a flutuação das espécies comercializadas. Entretanto, mesmo se os europeus buscam novidades constantemente, a Gypsophila continua tendo sua participação garantida como uma espécie “reserva de capital” pois não é de cultivo tão exigente (comparada com outras espécies) e supera modismos pela possibilidade de integrar-se perfeitamente em qualquer composição floral. No Brasil, a Gypsophila é considerada uma das principais flores de corte, sendo apontada como o terceiro produto mais comercializado na CEAGESP e continua na lista dos dez mais vendidos no Veiling da Holambra. De acordo com dados da IBRAFLOR os Estados brasileiros maiores produtores são Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que São Paulo movimenta cerca de 70% da produção nacional de flores. No Rio Grande do Sul, nos meses com datas de elevado consumo como o Dia das Mães, dos Namorados e Finados, alguns autores relatam que chegam ao Estado mais de quinhentas toneladas de rosas e mosquitinhos. Levantamento feitos no Estado apontam que a área cultivada com flores passou de 304 ha em 1996 para 609 em 2000. A produção estadual abastece 40% da demanda sendo o Estado auto-suficiente apenas em culturas como begônia, amor perfeito e forração de jardins. Existem 561 produtores localizados em municípios como Santa Cruz do Sul, Litoral Norte e Vale do Caí (Pareci Novo, Portão, São Sebastião e Capela de Santana). Para 32% dos produtores a floricultura é a única fonte de renda num setor que gera empregos para 2,4 mil pessoas. Especificamente em Passo Fundo, no Planalto Médio Gaúcho, as floriculturas importam flores, sobretudo de São Paulo, pois os produtores locais não atendem à demanda, acarretando um aumento do custo final do produto ao consumidor. Como todo Rio Grande do Sul, os produtores desta região, interessados na cultura da Gypsophila, ressentem as maiores dificuldades no cultivo e produção desta espécie principalmente pelo difícil acesso a mudas de boa qualidade. Em função dessa demanda, visando atender às necessidades regionais, o Laboratório de Biotecnologia Vegetal da Universidade de Passo Fundo iniciou em 1996 um programa de produção de mudas através da micropropagação. Atualmente, este laboratório regional está produzindo em escala comercial cerca de 4.000 mudas/ano, implicando em redução do custo ao produtor e evitando a entrada de mudas infestadas na região. Neste número da Horticultura Brasileira temos a oportunidade de publicar um artigo científico sobre a produção de mudas de Gypsophila paniculata cv. Bristol Fairy por meio da técnica de micropropagação, onde o leitor poderá obter outras informações sobre esta cultura tão interessante. (Eunice O. Calvete & Cláudia Petry; FAMV da Universidade de Passo Fundo, RS; E-mail: [email protected]; [email protected]).