do arquivo - Associação Brasileira de Horticultura

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Volume 21 número 3
julho-setembro 2003
SOCIEDADE DE OLERICULTURA DO BRASIL
Journal of the Brazilian Society for Vegetable Science
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Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
ISSN 0102-0536
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Embrapa Hortaliças
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Embrapa Cerrados
Ricardo Alfredo Kluge
ESALQ
A revista Horticultura Brasileira é indexada pelo CAB, AGROBASE,
AGRIS/FAO e TROPAG.
Scientific Eletronic Library Online: http://www.scielo.br/bh
www.hortciencia.com.br
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Programa de apoio a publicações científicas
Horticultura Brasileira, v. 1 nº1, 1983 - Brasília, Sociedade de Olericultura do Brasil, 1983
Trimestral
Títulos
anteriores:
V.
V. 4-18, 1964-1981, Revista de Olericultura.
1-3,
1961-1963,
Olericultura.
Não foram publicados os v. 5, 1965; 7-9, 1967-1969.
Periodicidade até 1981: Anual.
de 1982 a 1998: Semestral
de 1999 a 2001: Quadrimestral
a partir de 2002: Trimestral
ISSN 0102-0536
1. Horticultura - Periódicos. 2. Olericultura - Periódicos. I. Sociedade de Olericultura do
Brasil.
CDD 635.05
Tiragem: 1.000 exemplares
426
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Volume 21 número 3
julho-setembro 2003
ISSN 0102-0536
SUMÁRIO/CONTENT
CARTA DO EDITOR / LETTER FOR THE EDITOR
141
PESQUISA / RESEARCH
Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants
Métodos de aplicação e dosagem de thiamethoxam no controle de tripes em tomate
C. G. Raetano; M. R. Kobayashi; W. R. Kuwahara; R. R. Vinchi
Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho
Isozimatic characterization in eight accesses of dotted Smartweed
R. C. Lopes; V. W. D. Casali; L. C. A. Barbosa; P. R. Cecon
Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético
Genotypic, phenotypic and environmental correlations among agronomic traits and the consequences for watermelon breeding
M. A. J.F. Ferreira; M. A. Queiróz; L. T. Braz; R. Vencovsky
Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds
Efeito do espaçamento entre plantas e quantidade de pólen sobre o rendimento e a qualidade de sementes de abóbora
M. S. Lima; A. I. I. Cardoso; M. F. Verdial
Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate
Effect of fertilization on the incidence of leafminer and early blight on tomato plants
G.L.D. Leite; C. A. Costa; C. I.M. Almeida; M. Picanço
Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho
Effects of nitrogen levels application and planting densities on green ears and grain yield
P. S. L. e Silva; F. H. T. Oliveira; P. I. B. Silva
Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-do-tomateiro em progênies de
Lycopersicon sculentum x L. hirsutum f. glabratum
Genetic parameters and correlation among progenies of Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum for resistance
to tomato pinworm
L. G. Neves; N. R. Leal; R. Rodrigues; N. E. Pereira
Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola
Impact of the organic fertilization on onion thrips incidence
P. A. S. Gonçalves; C. R. S. Silva
Distribuição vertical e setorial das ninfas de mosca-branca nas folhas do meloeiro
Vertical and sectorial distribution of whitefly nymphs on melon leaves
F. R. Azevedo; E. Bleicher
Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo
Tomato plants production as a function of nitrogen doses and organic fertilization for two sowing times
M. M. M. Ferreira; G. B. Ferreira; P. C. R. Fontes; J. P. Dantas
Influência da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela cultivados em ambiente protegido
Grafting effect on leaf gas exchange rates of two eggplant hybrids cultivated in greenhouse
J. U. T. Brandão Filho; R. Goto; V. F. Guimarães; G. Habermann; J. D. Rodrigues; O. Callegari1
Produtividade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três soluções nutritivas
Fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under three nutrient solutions
J.L. Andriolo; M. E. Lanzanova; M. Witter
Crescimento e produção de raízes comercializáveis de mandioquinha-salsa em resposta à aplicação de nutrientes
Production of arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft) in increasing levels of nutrients
A. Portz; C. A. C. Martins; E. Lima
Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução nutritiva drenada
Growth and development of tomato plants in substrate with re-use of drained nutrient solution
J. L. Andriolo; M. Witter; T. Dal Ross; R. S. Godói
Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo
Yield and quality of melon fruits in response to plastic mulch and soil tillage
N. O. Miranda, J. F. Medeiros, I. B. Nascimento, L. P. Alves
Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface
Liming and urban waste vermicompost effects on production and heavy metals concentration of lettuce
J. R. Mantovani; M. E. Ferreira, M. C. P. Cruz; M. K. Chiba; L. T. Braz
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
430
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489
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498
Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças
Efficacy of indoxacarb in the control of vegetable pests
S. Martinelli; M. A. Montagna; N. C. Picinato; F. M.A. Silva; O. A. Fernandes
Determinação do ponto de colheita na produção de alho
Determination of the harvest date for garlic cultivars
C. M. Oliveira; R. J. Souza; J. H. Mota; J. E. Yuri; G. M. Resende
Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro
Growth evaluation of Gypsophila paniculata during in vitro rooting
N. Bosa; E. O. Calvete; M. Suzin; L. Bordignon
Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos
Development of young plants of gypsophila in different substrates
N. Bosa; E. O. Calvete;V. A. Klein; M. Suzin
Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência
Genetic divergence in taro accesses based on the morphological characteristics of inflorescence
F. H. F. Pereira; M. Puiatti; G. V. Miranda; D. J.H. Silva; F. L. Finger
Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento
Evaluation of tomato families and commercial hybrids for processing using drip irrigation system
J. O.M. Carvalho; J. M.Q. Luz; F. C. Juliatti; L. C. Melo; R. E. F. Teodoro; L. M. L. Lima
Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno
Evaluation of Paulista Gherkin lines grown in beds with polyethylene mulching
V. A. Modolo; C. P. Costa
Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses
Tupã melon: agronomic performance, fruit quality and virus resistance
W. O. Paiva; J. A. A. Lima; L. G. P. Neto; N. F. Ramos; F. C. Vieira
Maturidade fisiológica e germinação de sementes de macela (Egletes viscosa (L.) Less.) submetidas à secagem
Physiological maturation and germination of Egletes viscosa seeds submitted to drying
A. M. E. Bezerra; S. M. Filho; J. B. S. Freitas
Avaliação da suscetibilidade a inseticidas de populações da traça-das-crucíferas de algumas áreas do Brasil
Forecasting insecticide susceptibility in Diamondback Moth populations from different areas of Brazil
M. C. Branco; F. H. França; L. A. Pontes; P. S.T. Amaral
Produção do híbrido Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio
Influence of seedling stage and grafting on tomato, Momotaro hybrid production
M. C. Lopes; R. Goto
Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade da alface americana
Effect of tray types and age of seedling on the development and yield of the crisphead lettuce
G. M. Resende; J. E. Yuri; J. H. Mota; R. J. Souza; S. A.C. Freitas; J. C. R. Junior
Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas
Response of snap beans cultivated on two plant densities under nonwowen protection in Brazil
A. V. Pereira; R. F. Otto; M. Y. Reghin
505
510
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518
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543
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553
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562
568
PÁGINA DO HORTICULTOR / GROWER'S PAGE
Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal
Evaluating the knowledge of insecticide´s label by growers from an agricultural area in Distrito Federal, Brazil
M. C. Branco
Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado
Bunching onion and parsley yield and gross income in mono-cropping and inter-cropping system
N. A. Heredia Z.; M. C. Vieira; M. Weismann; A. L.F. Lourenção
574
578
NOVA CULTIVAR / NEW CULTIVAR
Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus
‘Redenção’: a new tomato cultivar for industry resistant to tospovirus and geminivirus
E. Ferraz; L. V. Resende; G. S.A. Lima; M. C. L. Silva; J. G. E. França; D. J. Silva
582
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS
585
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
carta do editor
Neste número gostaríamos de chamar a atenção de nossos leitores para o 430 Congresso Brasileiro de Olericultura que será realizado em Recife (PE) entre 27 de julho e 01 de agosto de 2003.
A organização deste Congresso está a cargo dos técnicos e funcionários da Empresa Pernambucana
de Pesquisa Agropecuária e da Embrapa Semi-Árido. Será o terceiro congresso da SOB em Recife e o quarto no estado de Pernambuco.
Também gostaríamos de destacar nesta Carta do Editor que a Horticultura Brasileira tem
recebido um número sempre crescente de trabalhos, levando-nos a crer que esta tendência é
reflexo direto das melhorias implementadas na revista, como a trimestralidade desde o ano passado, conceito A obtido pelo Capes em 2002 e a inclusão da revista nas publicações eletrônicas da
Scielo (http://www.scielo.br/hb). No volume 20 (2002) foram publicados um total de 104 trabalhos, média de 26 trabalhos por número, além dos 730 resumos dos trabalhos apresentados no 420
CBO que foram publicados no volume 20 (suplemento).
Agradecemos a todos os nossos colegas que colaboram direta e indiretamente com nossa
revista e, principalmente, aos nossos Editores e revisores ad hoc pela dedicação com que realizam o árduo trabalho de revisão dos trabalhos técnico-científicos.
Atenciosamente,
Leonardo de B. Giordano
Presidente da Comissão Editorial
Horticultura Brasileira
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
429
pesquisa
RAETANO, C.G.; KOBAYASHI, M.R.; KUWAHARA, W.R.; VINCHI, R.R. Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato
plants. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 430-433, julho-setembro 2003.
Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on
tomato plants
Carlos Gilberto Raetano; Marco Roberto Kobayashi; Wagner Roberto Kuwahara; Rodrigo R. Vinchi
UNESP, C. Postal 237, 18603-970 Botucatu-SP; E-mail: [email protected]
ABSTRACT
RESUMO
Thrips is one of the most important vector species of the tomato
spotted wilt tospovirus (TSWV) in Brazil. Two different pesticide
application methods, drench x spray, using thiamethoxam were
compared with commonly used insecticides for thrips control in
tomato plants, Debora Plus. The experimental design consisted of a
complete randomized block design with seven treatments and four
replicates. Dosages of 150 and 200 g of a.i. per ha were used in just
one drench application and 50 g of a.i. ha-1 sprayed, at weekly
intervals, 48 days after sowing. The control efficacy of thiamethoxam
was compared to diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1), profenofos +
cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1, respectively) and methamidophos
(60 g of a.i. per hectolitre of water) in spray application. Cumulative
number of plants with tospoviruses and the F. schultzei population
from ten flowers per plot were registered. The mean cumulative
number of plants with tospoviruses among treatments was not
significantly different. No significant difference between
thiamethoxam application methods and dosages on F. schultzei
control, 24 days after application, were observed for thrips
population. One drench application of higher dosages of
thiamethoxam proved to be environmentally advantageous than the
pesticide applied at dosages of 50 g of a.i. ha-1 at weekly intervals.
The vector control efficacy of thiamethoxam varied from 93 to 95%,
independently of the application method and dosages. Diafenthiuron
and profenofos + cypermethrin showed less efficacy (78 and 88%,
respectively) but greater than those with methamidophos (71%). The
products and dosages tested did not cause phytotoxicity in tomato
leaves.
Métodos de aplicação e dosagem de thiamethoxam no
controle de tripes em tomate
Keywords: Lycopersicon esculentum, Frankliniella schultzei, drench
application, spraying, chemical control.
O tripes Frankliniella schultzei Trybom (Thysanoptera:
Thripidae) é um dos mais importantes vetores de tomato spotted
wilt tospovirus (TSWV) na cultura do tomate no Brasil. Dois métodos de aplicação do inseticida thiamethoxam foram comparados no
controle de tripes em tomate. O experimento foi conduzido em delineamento de blocos ao acaso com sete tratamentos e quatro repetições. Utilizou-se um pulverizador costal manual com lança simples
provida de ponta de pulverização com jato cônico vazio JD 14-2 ou
modificada, com aplicador tipo esguicho, em substituição à ponta
de pulverização. Dosagens de 150 e 200 g i.a. ha-1 foram usadas em
única aplicação com esguicho e 50 g i.a. ha-1 em pulverizações semanais, iniciadas aos 48 dias após a semeadura. A eficiência do inseticida em teste foi comparada com diafenthiuron (400 g i.a. ha-1),
profenofos + cypermethrin (320+32 g i.a. ha-1, respectivamente) e
methamidophos (60 g i.a. 100 L-1 de água), aplicados em pulverização. Não houve diferença estatística entre os métodos de aplicação e
doses com thiamethoxam no controle de F. schultzei aos 24 dias
após a aplicação, sendo vantajosa a realização de uma única aplicação das maiores dosagens de thiamethoxam com esguicho em comparação às aplicações semanais da menor dosagem em pulverização. A eficiência de controle do tripes com o inseticida thiamethoxam
variou de 93 a 95%, nos diferentes métodos e dosagens em teste.
Diafenthiuron e profenofos + cypermethrin apresentaram eficiência
menor (78 e 88%, respectivamente), porém foram superiores às obtidas com methamidophos (71%). Os produtos e doses utilizados
não causaram fitotoxicidade às plantas de tomate.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Frankliniella schultzei,
esguicho, pulverização, controle químico.
(Recebido para publicação em 08 de fevereiro de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
I
n Brazil, the diseases caused by
Tospovirus (type species: tomato
spotted wilt virus, TSWV) result in large
losses in several vegetable and floral
crops (Nagata et al., 1999). More than
ten species of thrips are vectors of
tospoviruses and five of them have been
detected. Among thrips species,
Frankliniella schultzei Trybom
(Thysanoptera: Thripidae) was reported
as the main species found in tomato
crops in Sao Paulo State (Pavan et al.,
430
1993) and as an important specie vector
of the TSWV (De Ávila et al., 1998).
Nagata et al. (2000) studied the
transmission specificity and efficiency
of Brazilian tospoviruses occurring on
tomato caused by four thrips species.
The results indicated that F. occidentalis
and F. schultzei are the major Tospovirus
vectors on tomato. However, Thrips
tabaci and Thrips palmi probably do not
play an important role on Tospovirus
distribution in tomato field.
Tospoviruses are transmitted by
thrips in a persistent manner (Sakimura,
1962). The virus can be acquired only
at the larval stages, and virus
transmission is due, almost exclusively,
to adult thrips. Larvae can not transmit
the virus immediately after acquisition,
but after a latent period of approximately
3 to 10 days (Wijkamp, 1995). The dark
color form of F. schultzei is able to
transmit a greater number of
tospoviruses compared to the light color
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants.
form (Wijkamp et al., 1995). Domiciano
(1995) verified that the thrips species F.
schultzei, Tospovirus vector, even at low
population levels, caused significant
reduction in tomato productivity.
Insecticide treatments (weekly) in the
first 40 days after transplant were
essential to prevent plants being infected
with the virus and causing significant
yield reduction.
The effect of thiamethoxam in
preventing transmission of Sardinian
tomato yellow leaf curl virus (TYLCV)
by Bemisia tabaci (Gennadius) was
studied in experimental transmissions to
tomato seedlings, cv. Marmande.
Dosages of 50 ppm a.i. and 7 mg a.i.
per plant were evaluated for the foliage
and drench applications, respectively.
Drench application provided a good
level of protection from TYLCV
infections in all tested conditions (from
1 to 22 days after treatment application);
foliage application resulted in a prompt
but short-lasting protection, less than 8
days (Mason et al., 2000).
In São Paulo State, during the
summer season, occurs an increase
reproduction rate of this insect. The
disease disseminates quickly, causing
complete loss (Tokeshi & Carvalho,
1980).
Generally, chemical control of F.
schultzei has been efficient with highvolume (hand knapsack sprayers) and
systemic products, for example
methamidophos (60 g of a.i. 100 L-1 of
water). High frequency insecticide
spraying using conventional methods,
three times a week, increases the
exposure of the applicators as well as
the cost of crop production, and causes
environmental hazards.
In Brazil, Bayer Crop Protection
Division developed the drench
application to control pests in tobacco
crops. This application method using
systemic products provides chemical
protection to foliage as well as to the
root system, reducing the frequency of
application.
In the present experiment were
compared two different pesticide
application methods, drench and spray
application, and the efficiency of
thiamethoxam against diafenthiuron,
profenofos + cypermethrin and
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
methamidophos insecticide spraying for
thrips control in tomato crops.
MATERIAL AND METHODS
The experiment was carried out at
an experimental farm located in São
Manoel, São Paulo State, Brazil. Debora
Plus tomato hybrid, trained vertically
and spaced 1.50 x 0.40 m was cultivated
in field conditions. The experimental
design was of complete randomized
blocks with seven treatments and four
replicates. Each experimental plot was
composed of two ten-meter lines with
25 plants, with a total of 50 plants. Of
these plants, just 40 were analyzed as
ten were on borders and could be
affected by another treatment.
One knapsack sprayer was used in
pesticide applications consisting of a
simple lance with one JD 14-2 hollow
cone type nozzle or modified lance at
the end for spray or drench application,
respectively. The treatments were
thiamethoxam in one drench application
at dosages of 150 and 200 g of a.i. ha-1,
48 days from sowing (February 28th,
1999); thiamethoxam in six spray
applications at dosages of 50 g of a.i.
ha-1 at weekly intervals; diafenthiuron
(400 g of a.i. ha -1 ), profenofos +
cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1,
respectively); methamidophos (60 g of
a.i. 100 L-1 of water) applied as the last
method of application, plus the control
(no insecticide application).
During the period of the experiment
two preventive fungicide applications
were carried out on March 15th and 24th
1999 with chlorothalonil at a dosage of
100 g of a.i. 100 L -1 of water and
tebuconazole + mancozeb at a dosage
of 25+480 g of a.i. 100 L-1 of water.
The thrips population was evaluated
before (on February 24th, 1999) and after
the initial insecticide applications on
March 03rd, 10th, 18th, 24th, 31st and on
April 6th, 1999. For the evaluation ten
flowers per plot were collected and
stored in plastic bags with 70% alcohol.
Insect counting was carried out in
laboratory conditions, using a
stereoscopic microscope.
Cumulative number of plants with
tospoviruses was registered. F. schultzei
numbers from ten flowers per plot plus
cumulative data were submitted to
variance analysis and means compared
by Tukey test at 5% probability. Data
were transformed to (x + 0.5)1/2 for
analysis.
The control efficiency of thrips was
determinate by Abbott formula (Nakano
et al., 1981) through the cumulative
number of plants with tospoviruses
symptoms.
RESULTS AND DISCUSSION
The average application volume
using knapsack sprayer varied from
1067 to 1554 L ha -1 and in drench
application was 350 L ha-1.
Little difference in the number of
thrips was registered when comparing
the plots of tomatoes exposed to the
various treatments after 3, 10 and 18
days. However, at 24 days only
thiamethoxam (150 g of a.i. ha-1) applied
in drench and profenofos +
cypermethrin (320+32 g of a.i. ha-1,
respectively) in weekly spraying
showed significantly lower numbers of
F. schultzei compared to those obtained
with diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1) on
tomato plants. No difference was
observed among the other treatments
(Table 1).
After applications, the insecticide
thiamethoxam at dosages of 150 and 200
g of a.i. ha-1 (drench application) and at
a dosage of 50 g of a.i. ha-1 (weekly
spraying application), as well as,
profenofos + cypermethrin (320+32 g
of a.i. ha-1, respectively) showed the best
results with lowest cumulative number
of plants with tospoviruses and the
greatest efficiency of thrips control
(Tables 2 and 3). Thrips control for these
insecticides were of 93; 93; 95 and 88%,
respectively, 24 days after the initial
application.
Intermediate efficiency of F.
schultzei control was obtained with
diafenthiuron (400 g of a.i. ha-1) and
methamidophos (60 g of a.i. 100 L-1 of
water) insecticides (Table 3). The values
were 78 and 71%, respectively.
The number of thrips in tomato
flowers is not a good parameter to
evaluate the efficiency of thrips control.
Frequently, tomato plants can be
infected but the vector species is not
431
C.G.Raetano, et al.
Table 1. Mean number of Frankliniella schultzei in tomato flowers after insecticide treatments applications with conventional spraying
(knapsack sprayer) and drench application on tomato crops. São Manoel, UNESP, 1999.
Original data transformed to (x + 0.5)1/2 for analysis.
1
Samples = 10. 2 Numbers in columns followed by the same letter are not significantly different at the 5% level with Tukey test.
Table 2. Mean cumulative number of tomato plants with tospoviruses after insecticide applications with conventional spraying and drench
application on tomato crops. São Manoel, UNESP, 1999.
Original data transformed to (x + 0.5)1/2 for analysis.
1
Samples = 40. 2 Numbers in columns followed by the same letter are not significantly different at the 5% level with Tukey test.
Table 3. Percentage of Frankliniella schultzei control after insecticide applications with conventional spraying and drench application on
tomato crop. São Manoel, UNESP, 19991.
1
Efficiency (%) determinate by Abbott formula.
always present. In thrips populations
many of the insects are not viruliferous.
Moreover, there is evidence that an
432
increase in virus incidence can be a
result from pesticide application,
presumably because viruliferous thrips
are dispersed during spraying and the
disease transmitted before the insect is
affected (Allen et al., 1993).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Application methods and dosages of thiamethoxam in thrips control on tomato plants.
Counting only the infected tomato
plants in the evaluation, is not enough.
The tomato plants infected by TSWV
show tospoviruses symptoms only 12 to
15 days after the virus transmission. This
occurrence can underrate or overrate the
counting of tomato plants with
symptoms of tospoviruses. The
cumulative number of plants with
symptoms in different degrees of
severity is a more appropriate parameter
for the efficiency evaluation.
Thiamethoxam insecticide in all
dosages and different application
methods provided a high control level
of F. schultzei in tomato crops. Similar
results were obtained by profenofos +
cypermethrin on thrips, despite the
mixture of two products with contact
action. Higher dosages of thiamethoxam
using drench application were
advantageous in comparison to lower
dosages (weekly spraying application)
because of reduction in the frequency
of applications.
None of the insecticides used in the
tests, at any dosage, caused
phytotoxicity in tomato crops.
ACKNOWLEDGEMENTS
We would like to thank NOVARTIS,
for providing support for the
development of this research and Janet
Delgado, for the translation.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
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Brasília, v. 21, n. 3, p. 434-439, julho-setembro 2003.
Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho1
Reginalda C. Lopes , Vicente Wagner D. Casali , Luiz Cláudio A. Barbosa, Paulo R. Cecon
UFV, Depto. Fitotecnia, 36.570-000 - Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Na caracterização de oito acessos de Polygonum punctatum Ell.,
utilizou-se a técnica de eletroforese horizontal em gel de amido a
12%. Determinaram-se os fenótipos isoenzimáticos da malato
desidrogenase (MDH), fosfatase ácida (ACP), peroxidase (PO),
glutamato desidrogenase (GDH), leucina aminopeptidase (LAP),
esterase (EST), álcool desidrogenase (ADH), glutamato oxaloacetato
transaminase (GOT), isocitrato desidrogenase (IDH) e chiquimato
desidrogenase (SKDH), utilizando extratos de folhas jovens de cada
acesso. A eletroforese foi conduzida em géis de amido de milho e
amido hidrolisado. O amido de milho mostrou resolução satisfatória
na separação das bandas isoenzimáticas da IDH, ADH e MDH. No
entanto, para os demais sistemas, o amido hidrolisado apresentou
resolução superior à do amido de milho. Todos os sistemas
enzimáticos estudados, com exceção do sistema LAP, apresentaram
elevado polimorfismo, permitindo estabelecer padrões individuais
em todos os acessos. Isso demonstrou o potencial das isoenzimas
como marcadores genéticos no gênero Polygonum.
Isozimatic characterization in eight accesses of dotted
Smartweed
Palavras-chave: Polygonum punctatum Ell., isoenzimas, diversidade genética.
Keywords: Polygonum punctatum Ell., isozymes, genetic diversity.
The technique of horizontal electrophoresis of 12% starch gel
was used to characterize eight accesses of Polygonum punctatum
Ell. The isozymatic phenotypes of the malate dehydrogenase (MDH),
acid phosphatase (ACP), peroxidase (PO), glutamate dehydrogenase
(GDH), leucine aminopeptidase (LAP), esterase (EST), alcohol
dehydrogenase (ADH), glutamate oxalacetate transaminase (GOT),
isocitrate dehydrogenase (IDH) and shikimate dehydrogenase
(SKDH) were determined using young leaves extracts of each
accession. The electrophoresis was performed in corn starch and
hydrolysed starch gels. The corn starch showed a satisfactory
resolution, for separation of the isozymics bands of IDH, ADH and
MDH. However, for the other systems, the hydrolysed starch
presented better resolution. All enzyme systems studied, except for
LAP, presented high polymorphism, allowing to establish individual
patterns in all accesses, demonstrating the potential of the isozymes
as genetic markers for the Polygonum.
(Recebido para publicação em 8 de março de 2001 e aceito em 6 de junho de 2002)
O
estudo dos padrões isoenzimáticos
tem sido amplamente utilizado na
caracterização de espécies, cultivares e
de acessos de bancos de germoplasma.
As técnicas isoenzimáticas têm sido
também de grande importância como
auxiliar
na
identificação
quimiotaxonômica de espécies, principalmente medicinais. No estudo dos
padrões isoenzimáticos de duas variedades botânicas de Ocimum nudicaule
Benth., Figueiredo-Ribeiro et al. (1986)
observaram que as diferenças encontradas confirmaram a existência das duas
variedades, anteriormente proposta segundo características químicas e
morfológicas.
A introdução da técnica de
eletroforese de isoenzimas nos estudos
de populações e de evolução também foi
de grande importância, porque além de
iniciar a era da genética molecular, forneceu um meio direto de avaliação da
variação genética (Torggler, 1995).
No Brasil, há um enorme potencial
de plantas medicinais usadas popularmente e ainda pouco estudadas pela comunidade científica. Dentro da família
Polygonaceae, destaca-se a espécie
Polygonum punctatum Ell., conhecida
popularmente como erva-de-bicho,
acataia, cataia, capiçoba, pimenta-dobrejo ou pimenta-da-água. Essa espécie
é perene e encontrada em lugares úmidos ou inundados, desenvolvendo-se
preferencialmente em solo de boa fertilidade, areno-argiloso ou argiloso e com
bom teor de matéria orgânica. É originária da Ásia e encontra-se aclimatada
no Brasil em todos os Estados, particularmente no Rio Grande do Sul, Sul e
Sudeste (Lopes et al., 2000). A planta
inteira é utilizada na medicina popular,
principalmente como antidisentérica,
antisséptica, detersiva, estomáquica,
diurética, antitérmica, anti-reumática,
vermífuga e excelente cicatrizante de
feridas e úlceras. Também é fortemente
emenagoga e abortiva, não sendo recomendada para gestantes (Morgan,
1984). Suas propriedades terapêuticas
são úteis também no combate do câncer
(Fukuyama et al., 1983), assim como
nos problemas circulatórios, pois estimula a circulação e diminui a fragilidade capilar, tendo efeito hemostático,
bastante útil no tratamento de
hemorróidas (Teske & Trentini, 1995).
Apesar de sua enorme importância
como planta medicinal, a espécie carece ainda de estudos relacionados ao seu
comportamento genotípico e fenotípico.
Assim, diante dessa falta de informações
a respeito dos aspectos genéticos desta
espécie, o presente trabalho teve como
objetivo
estabelecer
padrões
isoenzimáticos para caracterização de
oito acessos, com a finalidade de investigar polimorfismos isoenzimáticos em
¹ Parte da tese de mestrado na área de genética e melhoramento de plantas. Depto. Fitotecnia, UFV, Viçosa-MG.
434
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho
P. punctatum Ell., bem como, obter estimativas da diversidade genética entre
os acessos por meio desses padrões
isoenzimáticos.
MATERIAL E MÉTODOS
Na caracterização de oito acessos de
P. punctatum Ell. foram utilizadas mudas jovens obtidas pelo método de
mergulhia, oriundas de São Paulo (SP),
Peruíbe (SP), Viçosa (MG), Raul Soares (MG) e Canaã (MG). Os acessos
foram assim identificados: VÇA e VÇB
(Viçosa-MG), SPA (São Paulo-SP), SPB
(Peruíbe-SP), RSA, RSB e RSC (Raul
Soares-MG) e CAN (Canaã-MG).
As plantas obtidas de mudas dos
acessos originais foram cultivadas em
vasos de polietileno de 5 L, preenchidos com substrato solo/esterco/areia, na
proporção de 3:2:1, e mantidas em casa
de vegetação.
As análises isoenzimáticas foram
realizadas em laboratório na UFV. Utilizou-se a técnica de eletroforese horizontal em gel de amido a 12%, para determinar os fenótipos isoenzimáticos da
malato desidrogenase (MDH), esterase
(EST), glutamato desidrogenase (GDH),
glutamato oxaloacetato transaminase
(GOT), fosfatase ácida (ACP),
peroxidase
(PO),
leucina
aminopeptidase (LAP), álcool
desidrogenase (ADH), isocitrato
desidrogenase (IDH) e chiquimato
desidrogenase (SKDH). As amostras,
constituídas por folhas jovens situadas
na porção apical, foram maceradas em
almofariz de porcelana previamente resfriado e mantido à baixa temperatura.
O macerado foi absorvido em retângulos de papel cromatográfico Whatman
3 M e aplicados nos géis. Realizou-se
uma pré-corrida, a 4ºC, com corrente
constante a 150 V, por 30 minutos, após
a qual, retiraram-se os retângulos de
papel e ajustou-se a voltagem para 300
V, exceto para o sistema peroxidase, em
que se utilizou 200 V, permanecendo
assim até o final da corrida. A
eletroforese foi conduzida em géis de
amido de milho (Maizena) e amido
hidrolisado (SIGMA). No preparo dos
géis, empregaram-se 42 g de amido em
350 ml de solução-tampão, de acordo
com o proposto por Conkle et al. (1982).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
A revelação da maioria dos sistemas
foi realizada no escuro a aproximadamente 37ºC, com exceção da
peroxidase, que foi efetuada à temperatura de 8ºC, aproximadamente. Após a
revelação, os géis foram secados pelo
método “bastidor”, de acordo com o
procedimento descrito por Alfenas et al.
(1991). A descrição genética das bandas procedeu-se conforme metodologia
proposta por Neale et al. (1984).
Para estimar a distância genética
entre os acessos a partir de dados
isoenzimáticos,
utilizou-se
a
metodologia da análise multivariada do
índice de similaridade de Jaccard e o
agrupamento de Tocher, calculados pelo
programa GENES. O índice de Jaccard
é utilizado para fenótipos não
interpretáveis em níveis de locos e
alelos, por ser próprio para dados do tipo
presença/ausência
de
bandas
isoenzimáticas (Alfenas, 1991).
Segundo Sneath & Sokal (1973), o
índice de similaridade de Jaccard pode
ser definido pela fórmula:
a
Iii, = ————
a+b+c
em que a = número de casos em que a
banda está presente nos dois acessos, simultaneamente; b = número de casos em
que a banda está presente somente no acesso i; c= número de casos em que a banda
está presente somente no acesso i,.
Foram utilizadas somente bandas
cuja revelação era de interpretação consistente, descartando-se as bandas atribuídas a artefatos.
O método proposto por Tocher, citado por RAO (1952), requer a obtenção da matriz de dissimilaridade, em que
a dissimilaridade foi obtida pelo complemento aritmético do índice de similaridade de Jaccard, utilizando-se a seguinte expressão:
CIii, = 1 - Iii,
em queCIii, = medida de
dissimilaridade; e Iii, = índice de
Jaccard.
Por meio da matriz de
dissimilaridade, foi identificado o par de
acessos mais similar, formando-se o grupo inicial. Para inclusão de novos acessos no grupo, compararam-se o acréscimo no valor médio da distância dentro
do grupo e o nível máximo permitido
(a) para que a distância média intragrupo
fosse inferior a qualquer distância
intergrupo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Caracterização Isoenzimática dos
Acessos
O amido de milho mostrou-se eficiente na separação das bandas
isoenzimáticas da IDH, ADH e MDH,
permitindo a revelação de bandas nítidas e com fácil identificação. Esse meiosuporte foi utilizado com grande eficiência por Amaral Júnior (1994). Entretanto, para os demais sistemas, o amido
hidrolisado apresentou resolução superior à do amido de milho. Esse fato pode
ter ocorrido em razão do melhor controle de qualidade para produção de
amido hidrolisado (Shuelter, 1996).
Todos os sistemas enzimáticos estudados, com exceção do sistema LAP,
apresentaram elevado polimorfismo
com ausência e presença de bandas (Figura 1).
Com relação à MDH, foram detectadas nove bandas polimórficas, reunidas praticamente na mesma região de
atividade, resultando em quatro padrões
isoenzimáticos. Os acessos VÇA, CAN,
RSA, RSB e SPB apresentaram cinco
bandas isoenzimáticas correspondente
ao padrão 1, enquanto que os acessos
SPA (padrão 2), RSC (padrão 3) e VÇB
(padrão 4), mostraram padrão individual de bandeamento com cinco e quatro
bandas, respectivamente. Pode-se evidenciar um grau de parentesco muito
próximo dos acessos do padrão 1, uma
vez que apresentavam semelhanças.
O sistema ACP apresentou atividade anódica com a presença de 11 bandas, que, basicamente, se distribuem em
duas regiões de atividade, as quais formam cinco padrões isoenzimáticos. Na
região 1, de maior poder de migração, é
possível deduzir a existência de um loco
com dois alelos. Na região 2, supõe-se
que haja vários alelos, onde se encontram bandas de difícil interpretação genética. Na discriminação dos acessos,
segundo os padrões e as respectivas bandas eletroforéticas, observou a presença das bandas 7; 8; 9; 10 e 11 somente
nos acessos RSC (padrão 4) e VÇB (pa435
R. C. Lopes, et al.
Figura 1. Padrões isoenzimáticos da enzima MDH, ACP, PO, IDH, GOT, EST, ADH, GDH,
LAP e SKDH, obtidos do tecido foliar de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. e sua
mobilidade relativa (Mr). Viçosa, UFV, 1997.
drão 5), podendo significar a fixação dos
alelos nesse loco. O acesso VÇB apresentou padrão individual de bandeamento
com 10 bandas evidenciadas.
O sistema PO apresentou atividades
anódica e catódica, enquanto os demais
somente mostraram atividade anódica.
Foram detectadas 11 bandas, sendo sete
com migração anodal e quatro com migração catodal, distribuídas em quatro
regiões de atividade. Neste sistema, o
grande polimorfismo permitiu a separação de seis padrões isoenzimáticos. No
padrão 1 foram agrupados três acessos
(VÇA, RSA e SPB), enquanto os demais
padrões apresentaram bandeamento individual para cada acesso. Os resultados obtidos confirmaram os estudos feitos em outras espécies (McDaniel, 1970;
Smith et al., 1985), em que a peroxidase
foi efetiva em caracterizar a maioria dos
acessos. Em relação ao sistema IDH,
foram constatados três padrões
isoenzimáticos, evidenciando sete bandas, as quais apresentaram diferenças na
intensidade de coloração e espessura. Os
acessos VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e
SPA correspondem ao padrão 1, e os
acessos RSC e VÇB ao padrão 2 e 3,
respectivamente. Enquanto que, no sistema GOT foi observada a ocorrência
de duas regiões de atividade, totalizando
13 bandas e cinco padrões
436
isoenzimáticos. Na região 1 é provável
a existência de apenas um loco com três
alelos, enquanto que a região 2 mostrouse altamente polimórfica. Os padrões 1
(VÇA, RSA e RSB) e 2 (CAN e SPB)
apresentaram o mesmo bandeamento
com cinco bandas, diferindo apenas na
espessura da banda 2. Os acessos SPA
(padrão 3), RSC (padrão 4) e VÇB (padrão 5) apresentaram padrão individual
de bandeamento com oito, quatro e três
bandas, respectivamente.
O sistema EST apresentou elevado
polimorfismo, sendo observada a presença de 13 bandas, distribuídas em três
regiões de atividades. A região 1, de
maior migração, apresentou bandas em
alguns padrões, mas ausentes em outros,
bandas de mobilidade relativa muito
próximas e bandas com diferenças na
espessura e intensidade. A região 2, intermediária, e a região 3, de baixa migração, parecem conter um loco com
dois e três alelos, respectivamente. O
grande polimorfismo permitiu a separação mais precisamente dos acessos em
sete padrões isoenzimáticos. Esse
polimorfismo encontrado no sistema
esterase também foi observado em outras plantas, como Hordeum (McDaniel,
1970) e alfafa (Quiros, 1980).
A enzima ADH apresentou quatro
bandas distribuídas em apenas uma re-
gião de atividade, as quais resultaram
em quatro padrões isoenzimáticos. Foi
constatada a presença de três bandas nos
padrões 2 (VÇB) e 4 (VÇB), sendo a
intermediária mais espessa e com coloração mais intensa, o que permite supor
ser o heterozigoto de uma enzima
dimérica. Segundo Pasteur et al. (1988),
as desidrogenases são enzimas
diméricas, que podem apresentar mobilidade eletroforética muito próxima,
com moléculas nos extremos e a forma
heterozigota representada pelas bandas
intermediárias, que freqüente-mente são
mais intensamente coloridas do que as
outras bandas. Assim, pode-se admitir
que os padrões 1 (VÇA, CAN, RSA,
RSB e SPB) e 3 (RSC) representaram o
homozigoto dessa enzima dimérica.
Com base no zimograma dos padrões
isoenzimáticos para GDH, podem-se
hipotetizar três regiões de atividade, em
virtude da distância de migração entre
as bandas. O sistema apresentou baixo
polimorfismo, evidenciando quatro padrões isoenzimáticos, no padrão 1 (VÇA,
CAN, RSA, RSB e SPB) apresentou a
banda 1 de maior migração, agrupando a
maioria dos acessos. Os acessos SPA (padrão2), RSC (padrão 3) e VÇB (padrão
4) apresentaram padrão individual de
bandeamento. O sistema LAP apresentou apenas uma região de atividade, com
bandas de espessuras diferentes. Em razão do pouco polimorfismo, o método foi
ineficiente para discriminar os acessos,
possibilitando apenas a distinção de dois
padrões.
No sistema SKDH foi detectada a
presença de três padrões isoenzimáticos,
apresentando quatro bandas reunidas
praticamente em apenas uma região de
atividade. A maioria dos acessos foi
agrupado no padrão 1 (VÇA, CAN,
RSA, RSB, SPB e RSC) e os acessos
SPA (padrão 2) e VÇB (padrão 3) também apresentaram padrão individual de
bandeamento.
De modo geral, foi amplo o
polimorfismo, permitindo estabelecer
padrões individuais para todos acessos.
Pode-se supor que a utilização de vários sistemas enzimáticos contribui para
evidenciar tal polimorfismo, demonstrando o potencial das isoenzimas como
marcadores genéticos no gênero
Polygonum.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Caracterização isoenzimática de oito acessos de Erva-de-bicho
Quadro 1. Distribuição de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. nos padrões de bandeamento de ACP, IDH, PO, MDH, SKDH, EST,
ADH, GOT e GDH. Viçosa, UFV, 1997.
Quadro 2. Medidas de dissimilaridade obtidas a partir de complemento aritmético do índice de Jaccard entre os padrões de bandas
isoenzimáticas de oito acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997.
VÇA - Viçosa (MG), CAN - Canaã (MG), RSA - Raul Soares (MG), RSB - Raul Soares (MG), SPB - Peruíbe (SP), SPA - São Paulo (SP),
RSC - Raul Soares (MG) e VÇB - Viçosa (MG).
Na maioria dos sistemas enzimáticos,
houve grande variação no número, na
intensidade e na espessura das bandas.
Tal variação pode estar relacionada com
o grau de ploidia na espécie. Segundo
Gottlieb (1982), a diferença no grau de
ploidia pode ser observada no gel, pela
presença de um número maior de bandas. Por sua vez, Messina et al. (1991)
afirmaram que essa diferença pode ser
averiguada pelo aumento da intensidade
e da espessura das bandas causado pela
variação na dose de alelos presentes.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Análise da Diversidade Genética dos
Acessos por Padrões Isoenzimáticos
Alguns sistemas enzimáticos apresentaram grande número de bandas.
Assim, para visualizar melhor os sistemas, foi elaborado quadro de distribuição dos acessos e as respectivas bandas,
adotando-se os números 0 e 1 para indicar ausência e presença de bandas, respectivamente (Quadro 1).
Os sistemas isoenzimáticos ACP,
IDH, PO, MDH, SKDH, EST, ADH,
GOT e GDH apresentaram elevado
polimorfismo com presença e ausência
de bandas. A enzima LAP não foi considerada, por ter apresentado baixo
polimorfismo nos acessos estudados.
Foi verificado que os acessos VÇA,
CAN, RSA, RSB e SPB apresentaram
o mesmo padrão de bandeamento para
os sistemas IDH, MDH, SKDH, ADH,
GOT e GDH. Entretanto, nos demais
sistemas houve grande variação nos padrões (Quadro 1).
Em razão do fato de os acessos não
apresentarem padrões isoenzimáticos
437
R. C. Lopes, et al.
Quadro 3. Limite de distância intergrupo, com base nas medidas de dissimilaridade entre
pares de acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997.
Quadro 4. Agrupamento pelo método de otimização de Tocher a partir dos dados
isoenzimáticos de acessos de Polygonum punctatum Ell. Viçosa, UFV, 1997.
idênticos, procedeu-se ao estudo da similaridade genética, envolvendo a combinação dos oito acessos, tomados dois
a dois. Por meio do índice de similaridade de Jaccard, obteve-se a estimativa
da dissimilaridade entre os acessos a partir de dados isoenzimáticos (Quadro 2).
Os valores das medidas de dissimilaridade
variaram amplamente entre 0 e 0,8136. Os
acessos VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB e
SPA foram os mais similares e o par que
apresentou maior dissimilaridade foi constituído pelos acessos RSC e VÇB. Ambos
diferiram amplamente dos demais acessos (Quadro 2).
Na aplicação do método de agrupamento por otimização, considerando-se
a maior distância no conjunto das menores distâncias (a) entre cada acesso, o
valor obtido foi 0,154 (Quadro 3). Dessa forma, houve formação de três grupos (Quadro 4): o grupo I contendo seis
acessos (VÇA, CAN, RSA, RSB, SPB
e SPA) e os grupos II e III, os acessos
VÇB e RSC, respectivamente. Desta
forma, foi evidenciado o baixo grau de
diversidade genética dando suporte à
hipótese de origem comum dos acessos,
com grau muito próximo de parentesco
(Lopes, 1997). Entretanto, a variabilidade entre os padrões pode ter decorrido da forte pressão de seleção imposta
438
sobre esses sistemas, com objetivo de
favorecer determinados produtos
gênicos mais eficiente. Tal fato justifica a grande facilidade da espécie
Polygonum punctatum Ell. de adaptarse à diversas condições ambientais. Segundo Sultan & Bazzaz (1993), outras
espécies do gênero Polygonum apresentam elevado grau de plasticidade
fenotípica, sendo este o principal meio
de adaptação individual dessas plantas
ao ambiente.
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Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres
de melancia e suas implicações para o melhoramento genético
Maria Aldete J.F. Ferreira1; Manoel Abílio de Queiróz2; Leila T. Braz3; Roland Vencovsky4
1
Embrapa Roraima, C. Postal 133, 69301-970 Boa Vista-RR; E-mail: [email protected]; 2Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23,
56300-970 Petrolina-PE; E-mail: [email protected]; 3UNESP, Rod. Paulo Donato Castellane km 5, 14870-000 Jaboticabal-SP.
E-mail: [email protected]; 4ESALQ-USP, C. Postal 83, 13400-970 Piracicaba-SP; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram estimadas as correlações genotípicas, fenotípicas e de
ambiente entre os caracteres número de dias para o aparecimento da
primeira flor feminina (FF); número de frutos por planta (NF); peso
de frutos por planta (PF); cor (CP) e espessura (EP) da polpa; diâmetro longitudinal (DL) e transversal (DT) de frutos; teor de sólidos
solúveis (TS); número de sementes (NS) e peso de 100 sementes
(PS) por fruto. As populações de melancia B9, ‘Charleston Gray’,
‘Crimson Sweet’, ‘New H. Midget’, M7, P14 e B13, os 21 híbridos
F1, em dialelo, e seus recíprocos foram avaliados em campo, de acordo com o delineamento em blocos ao acaso completos, com quatro
repetições. Houve grande similaridade entre as estimativas das correlações genotípicas e fenotípicas investigadas. Foram verificadas
correlações genotípicas importantes entre os caracteres NF e PF, DL
e DT; entre PF e DL, DT, EP e TS e entre CP e FF, EP e TS. Tais
correlações indicam que o aumento no número de frutos por planta
está correlacionado com a redução do peso de frutos e do tamanho
dos frutos (função de DL e DT) e que o aumento no peso dos frutos
está associado ao aumento no tamanho dos frutos, da espessura e
teor de sólidos solúveis da polpa, assim como a polpa vermelha está
relacionada à precocidade e ao aumento na espessura e no teor de
sólidos solúveis da polpa. As associações indesejáveis entre os
caracteres, como entre número de frutos por planta e cor da polpa e
número de frutos por planta e teor de sólidos solúveis, não foram
completas, indicando, portanto, a possibilidade de se obter indivíduos recombinantes a partir de populações segregantes sintetizadas
através de intercruzamentos de populações contrastantes.
Genotypic, phenotypic and environmental correlations
among agronomic traits and the consequences for watermelon
breeding
Palavras-chave: Citrullus lanatus, correlações, caracteres, pré-melhoramento, dialelo
Genotypic, phenotypic and environmental correlations were
estimated among the following traits of watermelon: number of days
to the appearance of the first female flower (FF); number of fruits
per plant (NF); weight of fruit (PF); flesh color (CP) and thickness
(EP); longitudinal (DL) and transversal (DT) fruit diameter; sugar
content (TS); number of seeds (NS) and weight of 100 seeds (PS)
per fruit. The watermelon populations B9, Charleston Gray, Crimson
Sweet, New H. Midget, M7, P14 and B13, their 21 F1 hybrids in
diallel crosses and corresponding reciprocals were evaluated in the
field, through a randomized complete block design with four
replications. A great similarity among the estimates of genotypic
and phenotypic correlation was found. Interesting genotypic
correlations were observed between NF and PF, DL and DT; between
PF and DL, DT, EP and TS and between CP and FF, EP and TS.
Such correlations indicated that an increase in the number of fruits
per plant is correlated with a reduction in the fruit weight and fruit
size (function of DL and DT) and that an increase of fruit weight is
associated with an increase in fruit size, thickness and sugar content.
In addition, red flesh color was related with earliness and with
increments of traits thickness and sugar content. The undesirable
associations detected between number of fruits per plant and flesh
color and number of fruits per plant and sugar content, however,
was not sufficiently strong, indicating to be possible obtain
recombinant individuals in segregating populations synthesized
through crosses among contrasting populations.
Keywords: Citrullus lanatus, correlation, characters, prebreeding,
diallel.
(Recebido para publicação em 08 de março de 2002 e aceito em 22 de abri de 2002)
A
melancia (Citrullus lanatus) des
taca-se entre as principais
cucurbitáceas cultivadas no Brasil, sendo que a produtividade média é de 30 t/
ha (IBGE, 1998). Os principais estados
produtores são Maranhão, Bahia, Piauí,
São Paulo, Goiás, Santa Catarina e
Pernambuco, sendo a região Nordeste
responsável por 55,6% da produção nacional (IBGE, 1991).
No Nordeste, centro de diversidade
da melancia, esta cucurbitácea é de grande importância econômica e cultural
desde a época do Brasil Colônia, quan-
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
do foi introduzida pelos escravos africanos (Romão, 1995). Nessa região,
evidentemente, encontra-se ampla variabilidade genética, como já foi constatado em relação às principais características da planta e de frutos (Assis,
1994, 1999; Dias et al., 1996; Ferreira,
1996, 2000; Ferreira et al., 2000;
Queiróz, 1993, 1998; Queiróz et al.,
1996, 1999, 2000). Contudo, as cultivares de melancia disponíveis no mercado brasileiro são, na sua grande maioria, de origem americana e suscetíveis
a muitas doenças e pragas. Entre as cul-
tivares, a ‘Crimson Sweet’ é a que apresenta maior área cultivada, acarretando
no fornecimento de, praticamente, apenas uma cultivar para o mercado consumidor. Além desses fatos, essa cultivar
caracteriza-se por apresentar frutos
grandes, o que implica em falta de opções para os consumidores que preferem frutos menores. A preferência, tanto no Brasil quanto em outros países,
tem sido por frutos pequenos. Esta tendência pode promover oportunidades
para o mercado externo, uma vez que
os consumidores têm buscado frutos
439
M. A. J. F. Ferreira, et al.
pesando entre quatro a seis quilos, e em
casos mais extremos, como o mercado
japonês, frutos com aproximadamente
dois quilos. Além desse caráter, outros
são igualmente importantes, como a
prolificidade, a cor da polpa, o teor de
sólidos solúveis, o formato do fruto, o
número de sementes por fruto e a resistência a doenças. O consumo de frutos
de melancia sem sementes também deverá aumentar no Brasil, acompanhando a tendência do mercado externo. Nos
Estados Unidos cerca de 35% do mercado consumidor prefere melancias sem
sementes.
Diante destes fatos, fica evidente a
importância do desenvolvimento de programas de melhoramento genético nacional, que tenham como objetivo a obtenção de cultivares resistentes às principais doenças e pragas, bem como a
melhoria na qualidade dos frutos, visando suprir o mercado produtor e consumidor, os quais estão cada vez mais exigentes. A Embrapa Semi-Árido apresenta um programa amplo, cujos objetivos
abrangem desde a área de recursos genéticos até a obtenção de variedades e
híbridos com boas características de
plantas e de frutos, incluindo frutos sem
sementes.
Geralmente, os programas de melhoramento têm por finalidade obter cultivares aprimoradas para um conjunto de
caracteres. Por isso, o conhecimento da
natureza e magnitude das correlações
entre os caracteres de interesse é de fundamental importância. As relações existentes entre os caracteres são, em geral,
avaliadas por meio das correlações
genotípicas, fenotípicas e de ambiente.
A correlação fenotípica é estimada diretamente de medidas fenotípicas, sendo resultante, portanto, de causas genéticas e ambientais. Apenas a correlação
genotípica, que corresponde à porção
genética da correlação fenotípica, é
empregada para orientar programas de
melhoramento, por ser a única de natureza herdável. De acordo com Cruz et
al. (1988) e Vencovsky & Barriga
(1992), estudos dessa natureza fornecem
informações importantes para o melhoramento genético, como a possibilidade de: a) identificar a proporção da correlação fenotípica que é devida a causas genéticas; b) verificar se a seleção
440
em um caráter afeta outro; c) quantificar
ganhos indiretos devido à seleção efetuada em caracteres correlacionados e;
d) avaliar a complexidade dos
caracteres. Para exemplificar, caso dois
caracteres estejam correlacionados, é
possível obter ganho em um deles por
meio da seleção indireta do outro. Isto é
vantajoso, principalmente, quando um
caráter, de alto valor econômico, possui
baixa herdabilidade ou é de difícil avaliação, quando comparado a outro caráter que está associado a ele. Desta forma, pode-se selecionar com base naquele que apresenta alta herdabilidade ou é
de fácil avaliação visando melhorar o
outro.
No caso da melancia, a produção e
o número de frutos por planta, segundo
Ferreira (2000), apresentam, respectivamente, 20 e 53% de herdabilidade, ou
seja, são consideravelmente influenciados pelo ambiente. Contudo, estes
caracteres poderão estar correlacionados
com outros que sejam menos influenciados pelo ambiente ou de fácil avaliação, como por exemplo com o peso ou
o tamanho dos frutos ou a cor, a espessura ou o teor de sólidos solúveis da
polpa que, de acordo com Ferreira
(2000), apresentam altas herdabilidades,
variando de 74 a 86%. Por outro lado, a
correlação pode ser desfavorável. Isto
significa que a seleção de um caráter
poderá prejudicar outro, à medida que
essa seleção estiver agindo no sentido
contrário ao desejado. Em melancia,
observa-se que frutos pequenos apresentam maior quantidade de sementes em
determinada quantidade de polpa, o que
é indesejável. Nestes casos, deve-se ter
cuidado, pois às vezes é preciso o desenvolvimento de dois programas de
melhoramento, cada um visando melhorar uma determinada característica.
Poucos trabalhos sobre correlações
entre caracteres de melancia têm sido
relatados. Sachan & Tikka (1971) observaram que a produção de frutos apresentou correlação com o número de ramos primários, número de dias para o
aparecimento da primeira flor feminina
e peso de frutos. Já Sidhu & Brar (1981),
verificaram que a produção de frutos por
planta correlacionou-se positivamente
com peso de 100 sementes e peso de frutos, ao passo que sólidos solúveis totais
e número de sementes por quilo de polpa apresentaram correlação negativa
com a produção. Também foi constatada correlação positiva entre o número
de frutos por planta e a produção de frutos e correlação negativa entre o número de frutos por planta e o peso de frutos (Partap et al., 1984), bem como associação entre a cor da polpa e o teor de
sólidos solúveis (Abd El-Hafez et al.,
1985). Foram detectadas, ainda, correlações entre a produção de frutos por
planta com o comprimento do ramo,
número de ramos por planta, peso e
comprimento de frutos (Prasad et al.,
1988).
Em decorrência do exposto, este trabalho foi executado com o objetivo de
estimar as correlações genotípicas,
fenotípicas e de ambiente entre dez
caracteres de melancia, de modo que
possa contribuir na orientação de programas de melhoramento genético.
MATERIAL E MÉTODOS
Na UNESP, campus de Jaboticabal,
foram obtidas as sementes híbridas, em
casa de vegetação. As cultivares de origem americana Charleston Gray,
Crimson Sweet e New Hampshire
Midget e os acessos B9, M7, P14 e B13,
foram utilizados como genitores e cruzados em todas as combinações possíveis. Os acessos B9, B13, P14 e M7 são
populações tradicionais coletadas, respectivamente, na Bahia, em
Pernambuco e no Maranhão, sendo conservadas, ex situ, no Banco Ativo de
Germoplasma de Cucurbitáceas da
Embrapa Semi-Árido (Queiróz, 1993,
1998). Estas populações divergem para
uma série de caracteres, especialmente
relacionados ao fruto, visto que os acessos de germoplasma apresentam cor da
polpa variando de rósea a branca e baixo teor de sólidos solúveis, ao passo que
as variedades americanas apresentam
cor da polpa vermelha intensa e brix alto
(Queiróz, 1993; Queiróz et al., 1996;
Ferreira, 1996).
A avaliação em campo dos genitores,
dos híbridos F 1 e recíprocos, foi
conduzida na estação experimental da
Embrapa Semi-Árido, em Juazeiro (BA).
Foi utilizado o delineamento em blocos
ao acaso com quatro repetições e cada
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético
Tabela 1. Coeficientes de correlação genotípica (rG), fenotípica (rF) e ambiental (rE) entre dez caracteres avaliados em cruzamentos
dialélicos, entre sete genitores de melancia. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1996.
Significativo ao nível de 1% de probabilidade (**), 5% de probabilidade (*) e não significativo ao nível de 5% de probabilidade (ns), pelo
teste F.
FF = número de dias para o aparecimento da primeira flor feminina; NF = número de frutos por planta; PF = peso de frutos por planta; CP
= cor da polpa; EP = espessura da polpa; DL = diâmetro longitudinal de frutos; DT = diâmetro transversal de frutos; TS = teor de sólidos
solúveis; NS = número de sementes por fruto; PS = peso de cem sementes por fruto.
parcela foi composta por uma fileira com
seis plantas, cujo espaçamento foi de 2,5
m entre fileiras e 1,0 m entre plantas.
Foram avaliados o número de dias
para o aparecimento da primeira flor
feminina (FF); número de frutos por
planta (NF); peso de frutos por planta
(PF, em kg); cor (CP) e espessura (EP,
em cm) da polpa; diâmetro longitudinal
(DL, em cm) e transversal (DT, em cm)
de frutos; teor de sólidos solúveis (TS,
em °Brix); número de sementes (NS) e
peso de 100 sementes (PS, em g) por
fruto. A cor dos frutos foi avaliada de
acordo com a escala de notas proposta
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
neste estudo: 1 = vermelha intensa; 2 =
vermelha; 3 = vermelha clara; 4 = rósea
e 5 = branca.
As estimativas dos coeficientes de
correlação genotípica (rG), fenotípica
(rF)e de ambiente (rE) foram obtidas
mediante análises de covariâncias, combinando os dados dos dez caracteres em
todas as formas possíveis (Cruz &
Regazzi, 1994). Foi empregado o teste t
para examinar a significância estatística das estimativas ao nível de 1% e 5%
de probabilidade. As análises estatísticas foram realizadas no programa
GENES.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em relação aos coeficientes (rG) e
(rF), foi verificada uma grande similaridade entre os pares de caracteres, em
relação aos sinais, a magnitude e o nível de significância, com exceção apenas da correlação entre FF e DL, com
rG = -0,29* e rF = -0,28ns (Tabela 1).
Em decorrência dessa similaridade, bem
como pelo maior valor prático nos trabalhos de melhoramento, as correlações
genotípicas serão analisadas com maior detalhe.
441
M. A. J. F. Ferreira, et al.
Tabela 2. Médias de dez caracteres avaliados em sete populações de melancia. Petrolina, Embrapa Semi-Árido, 1996.
Médias seguidas da mesma letra, nas linhas, não diferem significativamente ao nível de 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.
1 = B9; 2 = Charleston Gray; 3 = Crimson Sweet; 4 = New Hampshire Midget; 5 = M7; 6 = P14; 7 = B13. FF = número de dias para o
aparecimento da primeira flor feminina; NF = número de frutos por planta; PF = peso de frutos por planta; CP = cor da polpa; EP = espessura
da polpa; DL = diâmetro longitudinal de frutos; DT = diâmetro transversal de frutos; TS = teor de sólidos solúveis; NS = número de
sementes por fruto; PS = peso de cem sementes por fruto.
Em 95,5% dos pares de caracteres,
as correlações genotípicas foram iguais
ou superiores às correlações fenotípicas,
assim como estas duas, em 82,2% dos
casos foram superiores às correlações de
ambiente. Verificou-se também que nas
45 combinações possíveis entre os dez
caracteres, em apenas oito a correlação
ambiental foi superior à genotípica. A
correlação de ambiente, para a maioria
dos pares de caracteres, foi reduzida, ou
seja, menor que 0,5, constatando-se que
houve maior contribuição dos fatores
genéticos em relação aos fatores
ambientais nas correlações entre os
caracteres. No entanto, o peso de fruto
apresentou correlação ambiental ao redor de 0,5 com espessura da polpa e tamanho do fruto, assim como a correlação entre espessura da polpa e diâmetro
longitudinal, indicando que estas correlações foram mais influenciadas pelo
ambiente do que as demais. A maioria
dos coeficientes de correlação
genotípica foi estatisticamente significativa a 1% e 5% de probabilidade, sendo que em 44,4% dos casos as correlações foram superiores a 0,5 (Tabela 1).
A correlação entre o número de frutos por planta e o peso de frutos foi negativa e de valor 0,75, significando que
com o aumento do número de frutos por
planta os mesmos apresentaram menor
peso, fato encontrado também por
Partap et al. (1984). Analisando-se as
442
demais correlações envolvendo o número de frutos por planta, observa-se que
este caráter correlacionou-se também
com a cor, a espessura e o teor de sólidos solúveis da polpa e com o tamanho
de frutos (em função de DL e DT) (Tabela 1). Assim, nas populações estudadas, quanto maior o número de frutos
por planta, menor será o peso, o tamanho, a espessura e o teor de sólidos solúveis da polpa, desses frutos, bem como
maior será a tendência para cor branca
da polpa. Portanto, o melhorista não
deve selecionar para características da
polpa como espessura, teor de sólidos
solúveis e cor com base no número de
frutos por planta.
As populações tradicionais do Nordeste, B9 e P14, apresentaram maior
número de frutos por planta e frutos com
menor peso e tamanho. As populações
B9, P14 e B13 também foram mais produtivas (NF x PF), pois produziram respectivamente 15,2; 14,6 e 11,9 kg por
planta, em comparação com as cultivares New H. Midget (5,1 kg/planta),
Charleston Gray (7,7 kg/planta) e
Crimson Sweet (5,1 kg/planta). Contudo, elas apresentaram cor da polpa rósea
e baixo teor de sólidos solúveis (Tabela
2). Apesar das correlações entre o número de frutos por planta e a cor e o
teor de sólidos solúveis da polpa terem
sido elevadas, existe a possibilidade de
obter plantas recombinantes que sejam
prolíficas (alta produção de frutos por
planta) e apresentem frutos pequenos,
vermelhos e doces. Esta afirmativa é
reforçada pelo fato de Ferreira (1996)
constatar que nestas populações há uma
alta freqüência de alelos favoráveis para
estes caracteres, uma vez que houve predomínio de efeitos gênicos aditivos.
Além disso, podem ser obtidas populações segregantes a partir de cruzamentos envolvendo as populações B9 e
P14 e as cultivares Charleston Gray e
Crimson Sweet, que apresentaram frutos com polpa vermelha e alto teor de
sólidos solúveis. Ferreira (2000), por
exemplo, a partir de uma população base
obtida pelo intercruzamento de
‘Crimson Sweet’ e P14, selecionou progênies maternas e autofecundadas prolíficas e que apresentavam frutos pequenos, vermelhos e doces. Tais resultados
reforçam a ampla variabilidade genética
apresentada pelas populações tradicionais do Nordeste, assim como a eficiência em se efetuar um pré-melhoramento
dessas variedades através de
intercruzamentos com outras populações.
Em relação às correlações envolvendo o peso de frutos e outras características relevantes para o melhoramento de
melancia e considerando as populações
estudadas, foi verificado que esse caráter está correlacionado também com o
tamanho do fruto e com a espessura e o
teor de sólidos solúveis da polpa, pois
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Correlações genotípicas, fenotípicas e de ambiente entre dez caracteres de melancia e suas implicações para o melhoramento genético
frutos maiores e consequentemente mais
pesados apresentaram maior espessura
e teor de sólidos solúveis da polpa e
vice-versa (Tabela 1). Estes resultados
estão em conformidade com as médias
fenotípicas dos genitores, uma vez que
‘Charleston Gray’ e ‘Crimson Sweet’
apresentaram maior PF, EP, DL, DT e
TS quando comparadas com as demais
populações (Tabela 2).
Por outro lado, precocidade, teor de
sólidos solúveis e espessura da polpa
podem ser selecionadas com base na cor
da polpa, uma vez que esta característica, segundo Ferreira (2000), apresenta
uma alta herdabilidade (0,86) e as correlações FF e CP, CP e EP e CP e TS,
dão indícios de que quanto mais vermelha a polpa do fruto, maior será o teor
de sólidos solúveis e a espessura da polpa desse fruto, assim como mais precoce será a planta.
O número de sementes por fruto
apresentou correlações significativas,
principalmente com o peso de fruto e
número de frutos por planta, entretanto
as correlações foram abaixo de 0,4 (Tabela 1), indicando que será possível a
seleção de plantas que tenham frutos
pequenos com uma quantidade menor
de sementes. Outra alternativa para reduzir a quantidade de sementes nos frutos é a produção de híbridos triplóides a
partir do cruzamento de linhas
tetraplóides com linhas diplóides (Souza et al., 1999).
Embora algumas correlações indesejáveis entre os caracteres tenham sido
altas, não se configuraram em associação completa, sendo possível obter
recombinantes que sejam promissores
para os caracteres mais importantes economicamente, como por exemplo, para
o tamanho, o peso e o número de frutos
por planta e para a espessura, o teor de
sólidos solúveis e a cor da polpa. Um
modo indicado para atingir essa meta
seria a realização de cruzamentos entre
populações contrastantes a exemplo do
realizado por Ferreira (2000). Assim,
intercruzamentos envolvendo as populações de melancia B9, B13 e P14 e as
variedades comerciais Charleston Gray
e Crimson Sweet, como já comentado,
podem originar progênies precoces, prolíficas, com frutos pequenos, vermelhos
e doces.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Uma vez obtidas as populações base
entre tipos contrastantes, principalmente
quanto à prolificidade, poderão ser usados métodos de melhoramento de populações como seleção recorrente recíproca utilizando o método do híbrido
críptico (Paterniani & Miranda Filho,
1978), a fim de se obter linhagens superiores para a síntese de híbridos ou para
a síntese de populações melhoradas que
atendam às exigências dos produtores e
consumidores.
Acredita-se também que o emprego
de marcadores moleculares seja uma
ferramenta de interesse, uma vez que
possibilita mapear e, conseqüentemente, localizar os genes que controlam os
caracteres mais importantes para o melhoramento da melancia. Dependendo
da distância cromossômica entre eles
haverá ou não a possibilidade de desfazer as associações indesejáveis.
Mapeamentos genéticos estão sendo realizados em algumas cucurbitáceas
(Navot et al., 1990; Kennard et al.,
1994; Baudracco-Arnas & Pitrat, 1996;
Lee et al., 1996), porém todos fora do
Brasil. Assim, esta área deve ser iniciada em nosso país, a fim de que genes de
melancia, nas populações disponíveis,
sejam mapeados e estudados, contribuindo com os trabalhos já existentes.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos funcionários da UNESP e da Embrapa Semi-Árido que contribuíram para a
concretização deste trabalho, assim
como pelo apoio financeiro dessas instituições e do CNPq, pela concessão da
bolsa de estudos a primeira autora.
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Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds1
Márcio S. de Lima; Antonio I. I. Cardoso; Marcelo F. Verdial
UNESP, Depto. Produção Vegetal, C. Postal 237, 18603-970, Botucatu-SP; E-mail: [email protected]
ABSTRACT
RESUMO
Squash seeds yield and quality can be improved by proper
population plant spacing and the pollen quantity, which influences
the pollination quality and fertilization. Nine experiments were
conducted as a factorial combination of three spacing between plants
(0.8 x 0.3, 0.8 x 0.6 and 0.8 x 0.9 m), two quantities of pollen (50%
of an anther and another entire one) and natural insect pollination.
Seed and fruit production parameters, and seed quality were
evaluated. A randomized complete block design, five replications,
with ten plants per plot was adopted. Larger plant spacing increased
the average number of mature fruits and seed yield per plant. Seed
yield was directly proportional to the amount of pollen used during
pollination. Higher amounts of pollen resulted in higher seed yield
per area, but the plant spacing did not affect this characteristic.
Manual pollination, using a whole anther, did not differ from natural
pollination in relation to seed yield and quality.
Efeito do espaçamento entre plantas e quantidade de pólen
sobre o rendimento e a qualidade de sementes de abóbora
Keywords: Cucurbita pepo L., pollination, germination, vigor.
Palavras-chave: Cucurbita pepo L., polinização, germinação, vigor.
O rendimento e a qualidade de sementes de abóbora podem ser
aprimorados por uma densidade populacional de plantas adequada,
além da quantidade de pólen, que influi na qualidade da polinização
e fertilização. Para este estudo, aplicaram-se nove tratamentos, que
resultaram da combinação fatorial de três espaçamentos entre plantas (0,8 x 0,3; 0,8 x 0,6 e 0,8 x 0,9 m) com duas quantidades de
pólen (50% de uma antera e uma antera inteira) e a polinização natural por insetos. Foram avaliados parâmetros de produção de frutos
e sementes, além da qualidade física e fisiológica das sementes. O
delineamento experimental adotado foi em blocos ao acaso com cinco
repetições e dez plantas úteis por amostragem. O aumento do
espaçamento entre plantas elevou o número médio de frutos maduros e a produção de sementes por planta. A produtividade de sementes foi diretamente proporcional à quantidade de pólen usada durante a polinização. Já o fator espaçamento entre plantas não afetou a
produção de sementes por área. A maior quantidade de pólen resultou em uma maior produção de sementes por planta e por área. A
polinização manual, com a utilização de uma antera inteira, não diferiu da polinização natural com insetos, tanto para rendimento como
para a qualidade de sementes.
(Recebido para publicação em 21 de março de 2001 e ceito em 24 de abril de 2003)
U
sing seeds with high physiological,
physical, sanitary and genetic
quality is a prior factor to achieve
profitability on vegetable production.
The wide use of hybrid seeds led
growers to require high quality seeds,
as long as these seeds are more
expensive than seeds obtained through
open pollination. On the other hand,
some factors that would improve seed
yield and seed quality should be
considered in order to obtain
competitive prices in the market.
On a regular crop development, the
growth of vegetative parts must precede
the reproductive ones. Heuvelink,
mentioned by Andriolo (1999), showed
that an ideal population density was
necessary for an optimized leaf area
index (LAI), so that the maximum useful
radiation for photosynthesis would be
intercepted. On high density plantings,
an optimized LAI can be reached very
early, before plants start the reproductive
phase. Thus, planting density influences
plant growth, changing the emission of
flowers and fruits and interfering on the
biomass distribution between vegetative
parts and fruits.
Obtaining optimum plant population
in seed production is one of the
hindrances to guarantee high yield. In
addition, when population is increased,
fruits and seeds per plant are reduced,
and seed size is increased (Nakagawa,
1986). However, Demattê et al. (1978)
showed that increasing competition
between squash plants (Cucurbita pepo
L.) resulted in both lower seed number
and seed weight.
To obtain a higher seed production
in C. pepo, Loy (1988) considers the
increase of plant density and fruit
number per plant a prior factor. In higher
plant densities (35,000 plants.ha-1) seed
weight and fruit number per plant were
lower; however seed yield per hectare
was higher when compared to low
densities (8,000 plants.ha-1). This author
concluded that 14,000 plants.ha-1 would
be an adequate population with a plant
spacing of 1.2 x 0.6 m. This planting
density provided 44.4 g of seeds per
plant, and a higher value (28.2%) of
“seed index” (relation between seed dry
and fruit dry weight). Using 14,000
plant.ha1 resulted in 2.1 fruits.plant-1 and
¹ Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à UNESP, Botucatu (SP).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
445
M. S. Lima, et al.
highest seed weight per fruit (21.0 g).
Edelstein et al. (1985) reported that
different population densities of
Spaghetti Vegetable squash did not
affect the seed size or germination, but
in high-density populations, the yield
was slightly lower due to a reduced
number of seeds per fruit.
The pollen amount applied to C.
pepo female flowers may influence fruit
and seed yield substantially. According
to Schlichting et al. (1987), applying
higher pollen amount resulted in bigger
fruits (376 seeds) in comparison to a
lower pollen amount application, which
resulted in smaller fruits (40 seeds).
According to Ávila et al. (1989), the
manual pollination can be as effective
as the natural one, considering the
number of fruits per plant. However, it
was less effective in yielding seeds per
plant.
In the Cucurbita genus, the use of
manual pollination with one or more
anthers per female flower is largely used
in hybrid seed production in Brazil,
being necessary to guarantee the fruit
set, seed production and genetic purity.
The natural pollination by bees (Apis
mellifera is considered the main
Cucurbita genus pollinator in Brazil) is
cheaper than manual pollination. Little
information is available regarding
Cucurbita natural pollination, but other
insect families, such as Halictidae
(Pseudougochloropis sp.), Xylocopidae
(Xylocopa sp.), and Trigona rufricus
have been researched in Cucurbita
flowers in Brazil (Couto et al., 1990).
To permit insect pollination, the
chemical spraying should be done in the
afternoon, and the pesticides should not
be toxic to bees.
An important factor for yield and
quality of hybrid seeds is the relation
between the numbers of plants or
flowers related to paternal and maternal
lines. Viggiano (1990) described that for
squash hybrid seed production,
intercalated progenitor lineage, two
lines of male genitor and four lines of
female genitor must be planted. This
plant’s relation must not be extrapolated
for male flowers related to the female
ones, as the number of male flowers in
a C. pepo cycle is usually higher than
the number of female ones.
446
The aim of this work was to verify
the influence of plant spacing and pollen
amount on yield and quality of squash
seeds.
MATERIAL AND METHODS
The experiment was carried out at
Faculdade de Ciências Agronômicas in
Botucatu, Brazil, from August to
December, 1998. The sowing of the
squash Caserta CAC Melhorada cultivar
was done in expanded polystyrene trays
(128 cells) containing the commercial
substrate Plugmix (mixture of pinus
bark, fine vermiculite and turf).
The nine treatments resulted from
the factorial combination of three plant
spacing (0.8 x 0.3 m, 0.8 x 0.6 m and
0.8 x 0.9 m) and three pollination types:
two pollen amounts (50% of an anther
and another entire one) and an insect
natural pollination. A randomized block
design, five replications and ten plants
per plot were used.
A
week
before
seedling
transplanting, soil was fertilized with
150 g.m -2 of 4-14-8, 20 g.m -2 of
nitrocalcium and 7 L.m-2 of organic
matter. Plantlets with two or three
expanded leaves were transplanted to
the field fifteen days after sowing date.
During crop management, the area was
maintained free of weeds by manual
bewailing. Irrigation was done using a
sprinkler system. Maintenance
fertilization was done with nitrocalcium
(10 g.plant-1) twice during the crop
management.
Daily controlled pollination was
done during eighteen consecutive days,
starting 47 days after sowing. For
manual pollination, petal tips of selected
male and female flowers were tied up
in the afternoon before pollination.
Pollination was done in the next
morning in two different ways: the
anthers would be leant by the female
flowers stigma leaving all the pollen
adhered (in case an entire anther is used)
and using a razor to divide the anther in
two halves (obtaining half the pollen of
an anther). The anther was rolled around
the stigma to permit better pollination.
The male flowers were picked
randomized in the field. After
pollination the female flowers were
closed with a small “butter paper” bag
to avoid insect pollination. Out of
standard anthers (small and with little
pollen) were disposed. A small amount
(0.0134 g) of pollen per anther was
obtained and weighted in environment
hygroscope equilibrium conditions.
The fruits were harvested when the
morphological maturation stage was
reached, showing a yellow color, after
90-102 days of the sowing date or 53
days between the beginning of the
blooming and the harvesting seasons.
The fruits were left to rest for fifteen
days in a shaded place before seed
extraction (Araújo et al., 1982).
For seed extraction the fruits were
cut manually and seeds were washed
and separated by density to classify
them. These seeds were used to obtain
the weight and the number of seeds per
plant and per area. The seed moisture
content was established in 8.0%.
To obtain the fruit and seed dry
matter, fruits and seeds were placed in a
FANEM oven, model 315 SE, at 105°C,
during twenty four hours (Brasil, 1992).
The relation between the seed dry matter
weight and the fruit dry matter weight
(Seed Index - SI) was obtained (Loy,
1988).
A standard germination test (SG)
was conducted, according to Brasil
(1992). The first count was done at the
fourth day, and the final count at the
eighth day after sowing. Seeds were
considered germinated when the
cotyledon leaves were noted, i.e., when
the embryo could be seen leaving the
seed testa. The first count was
considered as a seed vigor test.
Seed vigor was also obtained
through the emergence velocity index
(EVI). The methodology to obtain
emerged seedlings was adapted from
Vieira & Carvalho (1994). Seeds were
sown in polyestirene trays with
commercial substrate. Seedling was
considered emerged when cotyledon
leaves, without a seed testa protection,
opened in ‘V’. The counting of emerged
seedlings was carried out on the 4th (first
emerged seedlings), 5th, 6th and on the
7th day after the sowing (last day with
new emerged seedlings), always at 8
a.m. Equation used to EVI calculation
was adapted from Silva & Nakagawa
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds
Table 1. Mature fruit number per plant (MFNP), seed number per plant (SNP), seed number per hectare (SNha), seed yield per plant (SYP),
seed yield per ha (SYha) and Seed Index (SI) according to plant spacing (PS) and pollen amount (PA) in Caserta squash. São Manuel,
UNESP, 1998.
Average in the same column followed by the same letter did not differ by Tukey test (5%).
(1995) to obtain the seed germination
velocity index.
Analysis of variance of evaluated
characteristics was done and means
compared by the Tukey probability test
(5%).
RESULTS AND DISCUSSION
Seed yield
The number of fruits per plant was
lower with lower plant spacing, although
just the 0.3 m spacing between the plants
was statistically lower (Table 1). The
occurrence of less fruits in low plant
spacing is mentioned by Demattê et al.
(1978). Probably the increasing
competition for place, light and nutrients
reduced fruit set, influencing the number
of fruits per plant. No statistical
difference between both natural and
manual pollination was observed in the
number of fruits per plant. This statement
confirms Ávila et al. (1989), who
mentioned that the manual pollination
was as effective as natural pollination
regarding the number of fruits per plant.
The results showed that the pollen
amount applied to squash female flowers
did not affect significantly the number
of fruits per plant.
Increasing plant spacing resulted in
higher number of seeds per plant,
independent of pollen amount (Table 1).
It was a reflex of both the increased
number of fruits per plant and the
tendency to obtain more seeds per fruit
when increasing plant spacing. Plant
spacing did not influence the number of
seeds produced per hectare, showing
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
that an increasing number of seeds per
plant in a higher plant spacing
compensated lower population. The
results pointed the plant spacing of 0.8
x 0.9 m as the most adequate. Since
fewer plants would be necessary to
obtain the desired yield in a certain area,
crop management would be easier
(manual pollination, spraying and
harvesting) and some plant diseases
would not be favored.
Considering the influence of
pollination, using 50% of an anther on
female flower stigma, results in
significant lower values of seed weight
per plant and per hectare when
compared to total anther (Table 1).
These results are according to Quesada
et al. (1996) and Schlichting et al.
(1987), who described that using low
pollen amounts, squash fruits showed
lower seed quantities in comparison to
the use of high pollen amounts. In this
work, although the pollen amount did
not influence the number of fruits per
plant, it affected the seed yield, showing
its importance on hybrid seed
production (Table 1). For seed yield,
artificial pollination can be as effective
as natural pollination, as long as a higher
pollen amount is used.
The number of seeds per plant and
per area shows the importance in the
hybrid seed production, where high seed
costs must be compensated with high
yield. A lower pollen amount decreased
the yield potential when compared to the
natural pollination and the use of a
whole anther (Table 1). That fact
indicates that in the manual
hybridization, at least one whole anther
must be used.
Free (natural) insect pollination
treatments are not controllable, varying
accordingly to climatic conditions,
surrounding vegetation and the presence
of pollinating insects. However,
generally the tendency of the natural
pollination values is identical to the
pollination using an entire anther. So,
for the conditions of this experiment, the
pollen amount placed by insects in the
C. Pepo female flower stigma is
probably higher than the amount of half
anther (Table 1).
These results allow to conclude that
pollination and/or pollen amount
showed a high economic importance on
commercial seed production, affecting
significantly the yield per area, on the
contrary of plant spacing.
Increasing plant spacing resulted in
higher seed yield per plant (Table 1).
Demattê et al. (1978) mentioned that
Caserta squash fruits obtained in high
density planting showed lower seed
yield per plant when compared to lower
planting density. Loy (1988) mentioned
that a low seed yield per plant is due to
small weight or quantity of fruits in high
density planting. High plant population
causes competition for place, light and
nutrients resulting in a lower seed
production per fruit and per plant, and
small fruits with lower weight. Ho
(1992) mentioned that the production of
growing substances in the presence of
seeds stimulates the fruit growth,
confirming the idea that higher seed
amount per fruit results in bigger fruits.
The higher the plant spacing, the
higher the SI (Table 1). SI value
447
M. S. Lima, et al.
Table 2. One hundred seeds weight (100SW) and seed germination at on first count (C1 SG), according to plant spacing (PS) and pollen
amount (PA) in Caserta squash. São Manuel, UNESP, 1998.
Average followed by the same small letter on lines and capital on columns did not differ by Tukey test (5%).
Table 3.. Seed germination (SG) and emergence velocity index (EVI), according to plant spacing (PS) and pollen amount (PA) in Caserta
squash. São Manuel, UNESP, 1998.
Average followed by the same small letter on lines and capital on columns did not differ by Tukey test (5%).
obtained in 0.8 x 0.9 m plant spacing
was 25.4%, not very different from
28.2%, considered by Loy (1988) as a
high one, although genetic differences
must be considered. SI increases as seed
weight does for the same fruit mass.
Results showed that an increase of the
plant seed production is possible without
increasing fruit weight, as long as the
pollen amount is increased or, probably,
the insect pollination amount, since an
artificial pollination was as efficient as
natural pollination for SI values.
A high weight of one hundred seeds
(100SW) was reached with a low
population density (0.8 x 0.9 m).
However, the use of whole anthers and
spacings of 0.6 m and 0.9 m resulted the
same seed weight (Table 2). The
occurrence of higher 100SW value with
increasing plant spacing, does not
confirm Dajoz’s statement, mentioned
by Demattê et al. (1978), that the
relation of increased plant competition
would result in lower number of seeds
produced per plant, but the seed weight
would be consistent. On the other hand,
Nakagawa (1986) mentioned that
increasing plant population reduces the
number of fruits and seeds per plant, as
well as increases the size. In this
experiment, the difference between the
448
employment of half an anther or a whole
one did not increase 100SW
significantly, independently of plant
spacing used. Demattê et al. (1978)
concluded that no significant difference
was obtained in the average weight of
one hundred seeds, considering perfect
fruits, using one to three plants (Caserta
squash IAC 1767) per hole in the same
spacing. Since the number of seeds per
plant was reduced as planting density
was increased (Table 1), a higher 100SW
of a 0.9 m plant spacing resulted in
greater seed yield (weight) per plant.
Certainly, the fact that seeds would be
formed first (in number) and after that
the filling process would be initiated
(weight) interferes both in seed size and
in yield per area. We could emphasize
that 100SW can be considered a
parameter both for yield and quality
analysis. First because it enables the
determination of seed weight, showing
its size significantly, and second because
the seed size may influence vigor and
germination tests due to greater energy
storage (Vieira & Carvalho, 1994).
For Caserta, the best plant spacing
was 0.8 x 0.9 m and the pollen increased
amount provided a greater seed yield.
The pollination or pollen amount
showed a great economic importance for
the seed production, because it
interfered in yield per area significantly.
Seed quality
Increasing pollen amount or using
natural pollination did not affect the first
count of germination test (Table 2) in
high planting density conditions (0.8 x
0.3 m). In a manual pollination the vigor
might be missed with reduced pollen
amount, mainly in higher plant spacing.
Quesada et al. (1996) observed that
squash hybrid seeds obtained through
application of high pollen amounts,
germinated faster, as occurred in this
experiment. For this characteristic,
manual pollination with a whole anther
did not differ from the natural one in a
high plant competition, but for the
highest plant density the performance
was better.
Concerning the emergence velocity
index (EVI), using a whole anther,
provided higher values if compared to
the use of a half anther in a 0.8 x 0.9 m
plant spacing (Table 3). Thus, as
occurred on the first SG counting, it was
observed that when a factor was not a
restriction (0.8 x 0.9 m plant spacing or
whole anther), the other factor was
important. Using a whole anther resulted
in higher EVI if compared to a half
anther in a 0.8 x 0.9 m plant spacing and,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Plant spacing and pollen quantity on yield and quality of squash seeds
in this plant spacing, there is more EVI
(compared to a lower plant spacing)
when a whole anther pollen amount is
used. When one factor was limited,
(high planting density or less pollen
amount) the other factor had no
importance in this seed quality
parameter.
The importance of searching a
higher EVI is found in the fact that with
a higher germination rate, seeds and
seedlings are less susceptible to
damping-off diseases or produce
transplants rapidly, reducing the cycle.
The use of a whole anther and natural
pollination provided better germination
percentage (final counting) when
compared to the use of a half anther in
the 0.8 x 0.3 m and 0.8 x 0.6 m plant
spacing (Table 3). In 0.8 x 0.9 m plant
spacing no influence of pollen amount
was found, what allows us to conclude
that the lower competition between
plants provided favorable conditions for
seed quality gain, compensating losses
caused by low pollen amounts.
There was no germination
difference, using the same plant spacing
and seed obtained through higher pollen
amounts and natural pollination.
Edelstein et al. (1985), mentioned that
different squash cv. Spaghetti Vegetable
population densities did not affect
germination percentage. Finally, when
using higher pollen amounts or natural
pollination, a non-reduced germination
in high density plant spacing is allowed.
This is an important fact, as long as the
germination percentage of squash seeds
is legally the most important, since its
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
value is showed on the label of
commercial packages.
Based on the results, the EVI and the
SG first counting showed similar
influence to the seed vigor. In general,
different of the first counting, one of the
factors should be restricted in the SG
final percentage so that the other factor
could be expressed showing differences.
In this case, plant spacing suffered
influence just when the pollen amount
was a restriction and when the pollen
amount was important only to show the
emphasized planting density.
Finally, the best plant spacing for the
SG final percentage was 0.8 x 0.9 m,
only when the pollen amount was half
an anther and when the pollen increase
provided a greater seed germination in
all plant spacing.
ACKNOWLEDGMENTS
This work was supported by
Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo.
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449
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tomate. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 450-453, julho-setembro 2003.
Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria
em plantas de tomate
Germano L.D. Leite1; Cândido A. da Costa1; Chrystian I.M. Almeida1; Marcelo Picanço2.
1
UFMG, C. Postal 135, 39400-006 Montes Claros-MG; E-mail: [email protected]; 2UFV, Depto. Biologia Animal, 36 571-000, Viçosa-MG.
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o efeito de quatro níveis de adubação nitrogenada e
potássica (NK) na resposta do tomateiro Lycopersicon esculentum,
c.v Santa Clara, ao ataque de mancha de alternaria (Alternaria solani),
e da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), em casa de vegetação, em
três diferentes idades da planta. O delineamento experimental foi
blocos casualizados com sete repetições, no esquema fatorial 3 x 4.
Foram avaliados a altura da planta (cm), área foliar (cm2) e o número de cachos por planta, flores por cacho, flores abortadas por cacho, frutos por cacho, frutos com mancha de alternaria por cacho,
frutos atacados por traça-do-tomateiro por cacho, peso dos frutos
por planta e minas de traça-de-tomateiro. A maior percentagem de
frutos atacados pela traça foi observado em plantas de tomate cultivadas com altas doses de N. Com o aumento do número de flores
ocorreu menor número de frutos atacados por alternaria. Tanto o
ataque de A. solani como o de traça-do-tomateiro foi concentrado
em frutos de menor peso, sendo que quanto maior o número de flores atacadas por A. solani, menor foi o ataque da traça aos frutos. O
ataque da traça aos frutos foi maior em plantas de dois meses do que
em plantas de quatro meses de idade, sendo o mesmo observado
para o número de minas da traça-do-tomateiro.
Effect of fertilization on the incidence of leafminer and early
blight on tomato plants
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, Tuta absoluta, Alternaria solani, nitrogênio, potássio.
The effect of NK fertilization on tomato plants (Lycopersicon
esculentum), cv. “Santa Clara”, over early blight (Alternaria solani)
and the leafminer (Tuta absoluta) attack in greenhouse, in different
plant ages, was evaluated. The 3 x 4 factorial experiment was
established in a randomized blocks design with seven replicates.
Plant height (cm), leaf area (cm2) and number of raceme per plant,
number of flowers per raceme, flower drop per raceme, number of
fruits per raceme, damaged fruits per raceme by early blight and
leafminer, fruit weight per plant and number of mines of leafminer
were evaluated. Greater percentage of fruits damaged by leafminer
was observed in the tomato plants grown under higher N levels.
Positive correlation between number of flowers and of fruits with A.
solani attack were observed. A. solani and T. absoluta attacks was
concentrated in fruits with smaller weight. Nevertheless, with the
increase of flowers damaged by A. solani there was observed a
decrease in the percentage of fruits attacked by T. absoluta. Tomato
plants with two months showed higher percentage of fruits damaged
by T. absoluta and number of mines of this insect than on plants
with four months old.
Keywords: Lycopersicon esculentum, Tuta absoluta, Alternaria
solani, nitrogen, potassium.
(Recebido para publicação em 14 de agosto de 2001 e aceito em 25 de março de 2003)
A
cultura do tomateiro requer cuidados especiais quanto à sua nutrição, irrigação, controle de pragas e de
doenças, colheita e armazenamento.
Dentre as pragas e doenças mais importantes desta cultura tem-se a traça-dotomateiro [Tuta absoluta (Meyrick)
(Lepidoptera: Gelechiidae)], e a mancha de alternaria (Alternaria solani), que
atacam folhas, flores e frutos (Picanço
et al., 1998). O ataque de pragas e/ou
doenças pode afetar ou ser afetado por
características morfofisiológicas das
plantas. Fery & Cuthbert (1973) observaram que a Heliothis zea (Bod.)
(Lepidoptera: Noctuidae) ataca preferencialmente frutos menores de tomate.
Leite (1997) observou que o aumento
do teor de nitrogênio (N) nas folhas de
tomateiro reduziu a mortalidade larval
de traça-do-tomateiro. Bergamin Filho
et al. (1995) notaram que característi450
cas e condições morfofisiológicas de
uma planta, tais como injúrias, estado
nutricional e estádio de desenvolvimento da planta, interferem em sua
suscetibilidade a doenças.
A adubação nitrogenada e potássica
(K) afeta as características vegetativas
e reprodutivas das plantas (Malavolta et
al., 1989; Marschner, 1995). O N
potencializa e incrementa a síntese de
proteínas e de ácidos nucléicos, além de
promover o crescimento vegetativo e a
formação de gemas floríferas e frutíferas (Marschner, 1995). O K está relacionado com a síntese de proteínas (RNA
tradutor) e de carboidratos, promove o
armazenamento de açúcares e amido,
além de estimular o crescimento
vegetativo da planta, a melhor utilização da água e a resistência a pragas e
doenças (Malavolta et al., 1989;
Marschner, 1995). A idade fisiológica
das plantas também pode apresentar
diversas reações ao estímulo do meio,
modificando a sua morfologia e rotas
metabólicas (Larcher, 1986).
Estudou-se o efeito de níveis de adubação NK na resposta do tomateiro ao
ataque de alternaria e de traça-do-tomateiro em plantas de dois, três e quatro
meses de idade.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido, em
casa de vegetação, de maio a dezembro
de 1996, na UFV, MG. As parcelas experimentais foram constituídas por vasos de polietileno de cinco Kg, com uma
planta cada. O delineamento experimental foi blocos casualizados com sete repetições, no esquema fatorial 3 x 4 (três
idades de planta x quatro níveis de adubação), totalizando 84 parcelas. AvaliouHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate
Tabela 1. Área foliar e percentagem de frutos atacados por traça-do-tomateiro em função dos níveis de adubação em plantas de tomateiro.
Viçosa, UFV, 1996.
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. C.V. =
coeficiente de variação.
Tabela 2. Percentagem de nitrogênio e de potássio na matéria seca foliar em função de níveis de adubação e idade de plantas de tomateiro.
Viçosa, UFV, 1996.
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna e minúsculas na linha não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a
5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação.
se o efeito de quatro níveis de adubação
NK no plantio [N100K0 (100mg de N.kg-1
de solo); N100K200 (100mg de N.kg-1 de
solo e 200mg de K.kg-1 de solo); N300K0
(300mg de N.kg-1 de solo); N300K200
(300mg de N.kg-1 de solo e 200mg de
K.kg-1 de solo)] na resposta do tomateiro
cv. Santa Clara, ao ataque de alternaria e
de traça-do-tomateiro em plantas de dois,
três e quatro meses após a emergência.
O solo utilizado no experimento foi
Latossolo Vermelho Amarelo Eutrófico.
No início das avaliações foram liberados 400 adultos de traça-do-tomateiro. A infestação de A. solani ocorreu
naturalmente. Avaliou-se a altura da
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
planta (cm), área foliar (cm2) utilizando
o Sistema de Medição de Área Foliar
Delta T (Bacarin, 1995) (três folhas ao
longo do dossel das plantas por tratamento) e o número de cachos por planta, flores por cacho, flores abortadas por
cacho, frutos por cacho, frutos com
mancha de alternaria por cacho, frutos
atacados por traça-do-tomateiro por cacho, peso dos frutos por planta (Picanço
et al., 1998) e minas de traça-de-tomateiro (três folhas ao longo do dossel das
plantas), semanalmente, em cada tratamento (Picanço et al., 1995).
Para avaliação dos teores de N e de
K nas folhas, quando as plantas atingi-
ram dois, três e quatro meses de idade,
foi feita a retirada de três folhas ao longo do dossel de três plantas de cada tratamento. Essas folhas foram acondicionadas em saco de papel Kraft, e levados
para estufa com circulação de ar (a
67oC), permanecendo aí por três dias.
Após secagem, as amostras foram passadas em moinho Willey, peneira 20
malhas. As análises de N e de K foram
realizadas em laboratório da UFV, seguindo metodologias propostas por
Jackson (1958).
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabili451
G. L. D. Leite, et al.
Tabela 3. Altura de plantas, número de flores e de frutos por cacho em função de níveis de adubação e idade de plantas de tomateiro. Viçosa,
UFV, 1996.
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna e minúsculas na linha não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey, a
5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação.
dade. Foi efetuada ainda análise de correlação de Pearson (Snedecor, 1970).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As folhas de tomateiro apresentaram
maiores áreas sob os níveis de adubação N300K0 e N300K200 e menores sob os
níveis N100K0 e N100K200 (Tabela 1). Este
resultado deve-se, provavelmente, à
maior concentração de N no início do
desenvolvimento das plantas (Tabela 2),
corroborando com os relatados por
Marschner (1995) e Malavolta et al.
(1989). Não se detectou efeito significativo da idade das plantas quanto à área
foliar. Aos dois meses de idade as plantas mais altas foram observadas sob o
452
nível de adubação N300K200 (Tabela 3),
devendo-se, provavelmente, aos elevados teores de N e de K (Tabela 2). Entretanto, não se observou efeito de adubação na altura das plantas aos três e
quatro meses de idade (Tabela 3).
Não se detectou efeito significativo
dos níveis de adubação sobre o número
de cachos por planta (4,89). O menor
número de flores por cacho foi observado no nível de adubação N100K200 em
plantas de dois meses de idade (Tabela
3). Não se observou efeito significativo
dos níveis de adubação sobre o número
de flores por cacho em plantas de três e
quatro meses de idade bem como da idade das plantas sobre o número de flores
por cacho. O maior número de frutos por
cacho foi observado em plantas de qua-
tro meses de idade cultivadas sob o nível de adubação N300K200, superior estatisticamente aos níveis N 100 K 0 e
N100K200. A idade das plantas e os níveis
de adubação não afetaram o peso dos
frutos (42,89 g). Em geral, o aumento
nas concentrações de NK acarretou incremento no número de flores por cacho (Tabelas 2 e 3), sendo que o N e K
estão envolvidos na formação de gemas
reprodutivas, desta forma refletindo na
produção da planta (Malavolta et
al.,1989; Marschner, 1995).
Quanto maior o número de flores por
planta, maior foi o número de cachos
por planta (r = 0,35) e,
consequentemente, o número de frutos
por planta (r=0,35). Contudo, o tomaHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeito da adubação sobre a incidência de traça-do-tomateiro e alternaria em plantas de tomate
teiro produz uma grande quantidade de
flores, ocorrendo um abortamento natural destas (r=0,38). Esse fato, possivelmente se deve à produção insuficiente de fotoassimilados em relação ao
grande número de flores (Picanço et
al.,1998).
Observou-se correlação positiva entre o número de flores e de frutos com a
incidência de A. solani (r=0,38 e r=0,40;
respectivamente), ou seja, quanto maior o número de flores e de frutos nas
plantas maior o ataque observado por
este fungo, talvez devido a uma maior
fonte de recursos. Contudo, com o aumento do número de flores ocorreu menor número de frutos atacados por esse
fungo na planta (r=-0,25). Uma possível explicação para esse fato é que quanto maior o número de flores menor seria a probabilidade dos esporos caírem
sobre os frutos, ou seja, teria ocorrido
efeito de diluição, como postulado por
Canerday et al. (1969) para H. zea em
frutos de tomate. Tanto o ataque de A.
solani como o de traça-do-tomateiro
concentrou-se em frutos de menor peso
(r=-0,26 e r=-0,20, respectivamente),
sendo que o mesmo fato foi observado
por Fery & Cuthbert (1973) para a H.
zea. As pragas em questão preferiram
atacar frutos com a mesma idade fisiológica, porém, de menor tamanho.
A maior incidência de minas de traça-do-tomateiro provocou redução no
número de cachos por planta (r=-0,54)
e, consequentemente, de frutos por planta (r=-0,54). Esse fato, provavelmente,
se deve à redução da superfície
fotossinteticamente ativa das folhas do
tomateiro, além das injúrias diretas sobre as flores. Verificou-se que quanto
maior o número de cachos e de flores
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Tabela 4. Número de cachos por planta e percentagem de frutos atacados por traça-dotomateiro em função da idade da planta de tomateiro. Viçosa, UFV, 1996.
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente, entre si, pelo teste de Tukey,
a 5% de probabilidade. C.V. = coeficiente de variação.
por planta maior foi o ataque de traçado-tomateiro ao fruto (r=0,23 e r=0,35;
respectivamente). Todavia, quanto mais
flores atacadas por A. solani menor o
ataque de traça-do-tomateiro aos frutos
(r=-0,23), provavelmente, devido a menor produção de frutos e
consequentemente, a uma menor fonte
de recursos para a traça-do-tomateiro e/
ou a rejeição deste aos frutos atacados
pelo fungo. O ataque da traça-do-tomateiro aos frutos foi maior em plantas de
dois meses do que em plantas de quatro
meses de idade (Tabela 4), sendo o mesmo observado para o número de minas
da praga (r=-0,91). A maior percentagem de frutos atacados por traça foi
observada em plantas cultivadas sob o
nível de adubação N300K0 e a menor em
N100K200 (Tabela 1). Provavelmente,
plantas cultivadas sob alta adubação
nitrogenada e baixa adubação potássica
apresentaram alta concentração foliar de
N (Tabela 2), mais favorável ao inseto
(Leite, 1997).
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Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre
os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho
Paulo Sérgio L. e Silva; Fábio Henrique T. de Oliveira; Paulo Igor B. e Silva
1
ESAM, C. Postal 137, 59625-900 Mossoró-RN; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram avaliados os efeitos da aplicação de doses de nitrogênio
(0; 40; 80 e 120 kg N ha-1) e de densidades de plantio (30; 50 e 70
mil plantas ha-1) sobre a altura de plantas e inserção de espigas, rendimentos de espigas verdes (grãos com 70 a 80% de umidade) e de
grãos e sobre os componentes da produção de grãos da cultivar de
milho Centralmex. O rendimento de espigas verdes foi avaliado pelo
número e peso de espigas comercializáveis, empalhadas e
despalhadas. Um experimento fatorial foi realizado, sob condições
de sequeiro, em Mossoró, RN. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso com cinco repetições. O aumento da dose de nitrogênio
e a redução da densidade de plantio aumentaram todas as características avaliadas, exceto o peso de 100 grãos, sobre o qual o nitrogênio não teve efeito. Houve efeito da interação doses de nitrogênio x
densidades de plantio nos números e pesos de espigas empalhadas e
despalhadas e no número de espigas maduras.
Effects of nitrogen levels application and planting densities
on green ears and grain yield
Palavras-chave: Zea mays L., milho verde, níveis de nitrogênio,
espaçamento de plantas.
The effect of nitrogen levels applications (0; 40; 80 and 120 kg
N ha-1) and planting densities (30; 50 and 70 thousand plants ha-1)
was evaluated over plant and ear heights, green ear yield (grains
with 70-80% of humidity), grain yield and components of grain
production of Centralmex maize cultivar. The experiment was set in
a factorial scheme in randomized complete blocks with five
replications and carried out under dryland conditions at Mossoró
county, Rio Grande do Norte, Brazil. Green ears yield was evaluated
by number and weight of marketable ears with husk, and number
and weight of marketable ears without husk. All evaluated traits
increased with increasing nitrogen levels and decreasing planting
densities, except 100 grains weight which was not affected by
nitrogen levels. An effect of planting densities x nitrogen levels
interaction was observed over number and weight of unhusked ears,
number and weight of husked ears, and number of mature ears.
Keywords: Zea mays L., green corn ,nitrogen levels, plant spacing.
(Recebido para publicação em 23 de agosto de 2002 e aceito em 25 de março de 2003)
N
o estado do Rio Grande do Norte,
bem como no restante da região
Nordeste do Brasil, o milho (Zea mays
L.) é cultivado para a produção de espigas verdes ou de grãos, sob condições
de sequeiro ou com irrigação. Os grãos
das espigas verdes constituem o chamado milho verde, isto é, grãos em estado
leitoso, com 70 a 80% de umidade. O
milho verde é produto bastante apreciado pelos nordestinos, sendo inclusive
utilizado em pratos típicos da região. Os
grãos secos são usados nas alimentações
humana e animal. Após a colheita das
espigas verdes e secas, a palhada é utilizada na alimentação dos rebanhos do
próprio agricultor ou comercializada. Os
preços compensadores, especialmente
na entressafra, dos três referidos produtos, têm estimulado os agricultores norte-rio-grandenses à adoção de maiores
densidades de plantio e maiores doses
de fertilizantes, especialmente do nitrogênio, visando a obtenção de maiores
rendimentos.
454
Muitos trabalhos (Bangarwa et al.,
1992; Bangarwa et al., 1993; Lencoff
& Loomis, 1994; Misra et al., 1994,
Spike & Tollefson, 1991) mostram a
influência benéfica de doses de nitrogênio e de populações de plantas sobre
o rendimento de grãos secos de milho.
No que se refere a milho verde, apenas
um trabalho (Ishimura et al., 1984) foi
encontrado na literatura tratando do assunto. Os autores constataram que as
doses de adubação não tiveram efeito
sobre o número e o peso de espigas verdes por ha. Contudo, a população de
62.500 plantas ha-1 propiciou melhores
rendimentos de espigas verdes que as
outras duas populações avaliadas
(41.667 e 50.000 plantas ha-1).
Estudos sobre doses de nitrogênio e
densidades de plantio continuam sendo
de interesse dos pesquisadores de milho por duas razões. Em primeiro lugar,
determinadas doses de nitrogênio e densidades de plantio podem contribuir para
aumentos significativos no rendimento
de grãos, como constatado por Cardwell
(1992), no período de 1930 a 1979, no
Estado de Minnesota, EUA, em que os
referidos fatores contribuíram com 19 e
21%, respectivamente, para os acréscimos no rendimento de grãos de milho.
Em segundo lugar porque o rendimento
de milho, em resposta a esses fatores,
depende de influências genotípicas
(Shanti et al., 1997; Collaud, 1997;
Chandra & Gautan, 1997) e ambientais
(Bondavalli et al., 1970).
O objetivo do presente trabalho foi
avaliar os efeitos da aplicação de doses
de nitrogênio e de densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos e outras características
da cultivar Centralmex.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na
ESAM, RN, de abril a julho/99. Segundo W.C. Thorthwaite, o clima da região
é DdAa, isto é, semi-árido e
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho
Tabela 1. Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e da densidade de plantio sobre as alturas da planta e de inserção da espiga, números
de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e despalhadas, pesos de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e despalhadas, rendimento de grãos, número de espigas maduras, número de grãos espiga-1 e peso de 100 grãos da cultivar de milho Centralmex. Mossoró,
ESAM, 1999
ns
não-significativo. *Significativo a 5% de probabilidade pelo teste t. **Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t
megatérmico. A análise do solo resultou: pH = 6,4; P = 16 cmolccm-3; K = 78
cmolccm-3; Ca2+ = 3,0 cmolccm-3; Mg =
1,3 cmolccm-3 e Al3+ = 0,0 cmolccm-3; MO
= 1,80 g kg-1.
O solo foi preparado com duas
gradagens. A semeadura foi feita em 7/
4/99, usando-se quatro sementes por
cova da cultivar Centralmex, uma variedade de polinização livre, de porte alto,
tardia e de grãos amarelos. Foram avaliadas três densidades de plantio (30; 50 e
70 mil plantas ha-1) e quatro doses de nitrogênio (0; 40; 80 e 120 kg de N ha-1).
As densidades de plantio foram obtidas
mantendo-se fixo o espaçamento (1,0 m)
entre fileiras de plantas e variando-se o
número de plantas na linha de plantio.
Um terço do nitrogênio (sulfato de
amônio), além de 60 kg de P2O5 ha-1
(superfosfato simples) e 30 kg de K2O
ha-1 (cloreto de potássio) foram aplicados como adubação de plantio, em sulcos localizados ao lado e abaixo dos sulcos de semeadura. O restante do nitrogênio foi aplicado em cobertura, aos 36 dias
após o plantio. Utilizou-se o delineamento de blocos ao acaso em esquema fatorial
completo com cinco repetições e parcelas constituídas por quatro fileiras com
6,0 m de comprimento. Considerou-se
como área útil a ocupada pelas duas fileiras centrais, eliminando-se as plantas
de uma cova em cada extremidade.
O controle da lagarta-do-cartucho
(Spodoptera frugiperda J.E. Smith) foi
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
feito com três pulverizações de
deltamethrin (250 ml ha-1), em intervalos de sete dias, sendo a primeira realizada aos sete dias após a semeadura. As
invasoras foram controladas por duas
capinas, realizadas aos 21 e 41 dias após
a semeadura. Aos 26 dias após a semeadura realizou-se o desbaste, deixandose as duas plantas mais vigorosas/cova.
Foram avaliadas as alturas das plantas e de inserção da espiga (em dez plantas tomadas ao acaso na área útil, por
ocasião da colheita das espigas maduras), o rendimento de milho verde, o
rendimento de grãos e seus componentes. O rendimento de espigas verdes foi
avaliado em uma das fileiras úteis, tomada ao acaso, e o rendimento de grãos,
na outra fileira útil. A altura da planta
foi medida do nível do solo ao ponto de
inserção da lâmina foliar mais alta. A
altura de inserção da espiga foi obtida
medindo-se a distância do nível do solo
ao nó de inserção da primeira espiga.
As espigas verdes foram colhidas em
três etapas, à medida que os grãos atingiam o chamado “ponto de milho verde”, no período de 72 a 82 dias após a
semeadura. As espigas secas foram colhidas aos 110 dias após a semeadura.
O rendimento de milho verde foi avaliado pelo número e peso de espigas verdes comercializáveis, empalhadas e
despalhadas. Como espigas verdes
empalhadas comercializáveis foram
consideradas aquelas com aparência
adequada à comercialização, isto é, sem
evidências aparentes do ataque de pragas e com comprimento superior a 23
cm. Como espigas despalhadas
comercializáveis foram consideradas
aquelas com aparência adequada à
comercialização, isto é, bem granadas,
não atacadas por pragas e com comprimento superior a 18 cm. O rendimento
de grãos foi corrigido para um teor de
umidade igual a 15,5%. O número de
espigas/ha foi estimado com base nas
espigas produzidas em uma fileira útil,
o número de grãos/espiga foi estimado
contando-se os grãos de cinco espigas,
tomadas aleatoriamente entre as espigas
colhidas na fileira útil, e o peso de 100
grãos, em cinco amostras de 100 grãos.
As análises estatísticas foram feitas de
acordo com as recomendações de Gomes (1992) e StatSoft (1995).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os efeitos das densidades de plantio
(D) e da aplicação das doses de nitrogênio (N) sobre as alturas da planta e de
inserção da espiga foram muito similares (Tabela 1). Nas duas características
os efeitos dos dois grupos de tratamentos foram independentes, isto é, não
houve efeito da interação D x N. Em
cada dose de N, a resposta da cultivar,
em termos das duas características, ao
aumento da densidade de plantio, foi linear e negativa, isto é, a resposta foi
455
P. S. L. Silva, et al.
descrita por equações do tipo y = a –
bx. Bangarwa et al. (1993) verificaram
que a altura da planta não foi alterada
pela densidade de plantio, enquanto
Merotto et al. (1997) constataram aumento da altura da planta com o aumento
da densidade de plantio. As
discordâncias quanto aos efeitos das
densidades de plantio na altura da planta devem-se, certamente, às diferentes
densidades de plantio avaliadas pelos
diferentes autores, dentre outros fatores
ambientais, mas devem-se também às
características das cultivares avaliadas.
Begna et al. (1997) demonstraram que
as cultivares não-folhosas, com menor
estatura, suportaram melhor maiores
densidades. A influência da folhosidade
na tolerância a altas densidades também
tem sido verificada por outros autores
(Sangoi & Salvador, 1998). Por outro
lado, a resposta das duas características
às doses de nitrogênio, em cada densidade de plantio, foi positiva e descrita
por equações do tipo y = a + bx – cx2.
Nas densidades testadas, os valores
máximos dos dois caracteres seriam
obtidos fora do intervalo das doses de
nitrogênio avaliadas (em torno de 130
kg de N ha-1, na altura da planta, e 142
kg de N ha-1, na altura de inserção da
espiga). Nestes casos, o que deve acontecer é que até determinadas doses de
nitrogênio a planta continua a crescer.
Depois que tais doses são atingidas, o
auto-sombreamento das plantas, bem
como o sombreamento mútuo entre
plantas deve contribuir para a redução
do crescimento destas plantas.
No número de espigas verdes
empalhadas e no número de espigas
despalhadas
(Tabela
1),
comercializáveis, por hectare, houve
efeito de densidades (D), de doses de
nitrogênio (N) e da interação D x N e
tais efeitos foram semelhantes. No número de espigas empalhadas, numa
mesma dose de nitrogênio, os efeitos das
densidades de plantio foram lineares,
mas negativos na ausência da aplicação
de nitrogênio (y = 36664 – 0,5023 D)
ou com a aplicação de apenas 40 kg de
N ha-1 (y = 31905 – 0,4956 D). Mas positivos nas outras duas doses (y = 27146
+ 0,0315 e y = 22387 + 0,2953 D, com
80 e 120 kg de N ha-1, respectivamente). No caso das espigas despalhadas, os
456
efeitos das densidades de plantio, numa
mesma dose de nitrogênio, somente foram positivos na dose mais elevada. Nas
outras doses eles foram negativos. Em
cada densidade de plantio, a resposta ao
nitrogênio foi linear e positiva, mas os
acréscimos no número de espigas
empalhadas ou despalhadas, por quilo
de nitrogênio aplicado, foram maiores
à medida que se aumentou a densidade
de plantio.
Quanto aos pesos de espigas
comercializáveis, empalhadas ou
despalhadas (Tabela 1), também houve
efeito de D, N e D x N. Em cada dose
do fertilizante, o número de espigas
empalhadas ou despalhadas decresceu
linearmente, à medida que foram aumentadas as densidades de plantio, mas
os decréscimos foram diferentes. Os
valores de b foram 0,09; 0,07; 0,05 e
0,02 kg ha-1 para as doses de 0; 40; 80 e
120 kg ha-1, respectivamente, no caso
do peso de espigas empalhadas. No caso
de espigas despalhadas, os valores respectivos de b foram 0,05; 0,04; 0,03 e
0,02 kg ha-1. Em cada densidade de
plantio, a resposta ao nitrogênio foi linear e positiva, quanto ao peso de espigas, empalhadas ou despalhadas, mas os
acréscimos foram diferentes. No peso
de espigas empalhadas, os valores de b,
nas populações de 30; 50 e 70 mil plantas ha-1, foram 36,3; 48,7 e 61,1 kg ha-1,
respectivamente. No peso de espigas
despalhadas, os valores respectivos foram de 23,0; 27,5 e 32,0 kg ha-1.
No rendimento de grãos houve efeito de densidades de plantio (D) e de
doses de nitrogênio (N), mas não da
interação D x N (Tabela 1). Em cada
dose de nitrogênio, o aumento da densidade de plantio diminuiu o rendimento de grãos de modo linear. Em cada
densidade de plantio, o nitrogênio aumentou o rendimento de grãos, linearmente.
No que se refere ao número de espigas maduras (Tabela 1) houve efeito de
D, N e D x N. A resposta da cultivar
Centralmex, quanto a esta característica foi bem semelhante à resposta quanto ao número de espigas empalhadas
comercializáveis. Isto é, nas duas menores doses de nitrogênio, a resposta ao
aumento da densidade de plantio foi linear e negativa, mas linear e positiva nas
outras duas doses (os valores de b foram -0,16; -0,03; 0,22 e 0,41 espigas ha1
, respectivamente). Em outras palavras,
o aumento do número de espigas maduras, para cada acréscimo na densidade,
aumentou à medida que se aumentou a
dose de nitrogênio. Por outro lado, em
cada densidade de plantio, a resposta foi
linear e positiva ao nitrogênio, mas os
acréscimos foram maiores, com o aumento da densidade (os valores de b para
as densidades de 30; 50 e 70 mil plantas
ha-1 foram iguais a 91,3; 185,8 e 280,4
espigas ha-1, respectivamente).
No número de grãos/espiga, houve
efeito apenas de densidades de plantio
e de doses de nitrogênio (Tabela 1). O
número de grãos/espiga aumentou linearmente com doses crescentes de nitrogênio e diminuiu linearmente com o
aumento da densidade de plantio.
Lencoff & Loomis (1994) verificaram
que a deficiência de nitrogênio reduziu
o número de grãos/espiga do milho devido a uma redução na emergência nos
estilo-estigmas, em conseqüência da
redução das divisões celulares.
O nitrogênio não teve efeito no peso
de 100 grãos, mas o aumento na densidade de plantio reduziu, linearmente,
esta característica (Tabela 1).
Constata-se que em geral a maior
densidade de plantio reduz o crescimento da planta (neste trabalho avaliado
pelas alturas da planta e de inserção da
espiga), o número (nas duas menores
doses de nitrogênio) e o peso de espigas
verdes e o rendimento de grãos (Tabela
1). Constata-se ainda que os decréscimos no rendimento de grãos são devidos a decréscimos nos três componentes da produção (número de espigas/ha,
número de grãos/espiga e peso de 100
grãos). As reduções são devidas provavelmente a uma maior competição entre plantas, à medida que se eleva o número de plantas por unidade de área.
Verifica-se também que a maior dose de
nitrogênio aumenta o crescimento da
planta e os rendimentos de espigas verdes e de grãos. Neste caso, o rendimento de grãos é aumentado apenas devido
aos aumentos no número de espigas ha1
e no número de grãos/espiga, desde que
o nitrogênio não teve efeito no peso de
100 grãos. Em algumas características
como nos números de espigas ha -1,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeitos da aplicação de doses de nitrogênio e densidades de plantio sobre os rendimentos de espigas verdes e de grãos de milho
empalhadas, despalhadas e maduras, o
efeito negativo causado pelo aumento
da densidade de plantio tende a ser parcialmente anulado pelo nitrogênio. Uma
maior disponibilidade de nitrogênio para
as plantas explicaria os efeitos positivos do nitrogênio para a quase totalidade das características avaliadas no presente trabalho. Efeitos positivos do nitrogênio foram observados nos rendimentos de espigas de milho doce
(Mullins et al., 1999) espigas verdes de
milho comum (Monteiro et al., 1989;
Silva et al., 2000), no chamado “baby
corn” ou minimilho (espigas colhidas,
em geral, imediatamente após a emergência dos estilo-estigmas) (Sahoo et
al., 1999; Thakur et al., 1998) e no rendimento de grãos (Lencoff & Loomis,
1994).
Conclui-se que o aumento da dose
de nitrogênio e a redução da densidade
de plantio aumentaram as alturas da
planta e de inserção da espiga o número
e o peso de espigas comercializáveis,
empalhadas e despalhadas, o rendimento
de grãos e seus componentes, exceto o
peso de 100 grãos, sobre o qual o nitrogênio não teve efeito.
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457
NEVES, L.G.; LEAL, N.R.; RODRIGUES, R.; PEREIRA, N.E. Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-dotomateiro em progênies de Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 458-461, julho-setembro 2003.
Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de
resistência à traça-do-tomateiro em progênies de Lycopersicon
esculentum x L. hirsutum f. glabratum
Leonarda G. Neves; Nilton R. Leal; Rosana Rodrigues; Norma Eliane Pereira1
UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, 28013-600 Campos dos Goytacazes-RJ; E-mail: [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se o comportamento de cinco progênies F3 do cruzamento entre Lycopersicon esculentum cv. IPA-6 e L. hirsutum f.
glabratum PI 134418, quanto ao ataque da traça-do-tomateiro, Tuta
absoluta (Meyrick) (Lepidoptera: Gelechiidae), com base na determinação dos parâmetros genéticos e nas correlações entre componentes de resistência. Foi avaliada a área foliar danificada por T.
absoluta, em cm2; o número de tricomas tipo VI, por mm2, nas faces
adaxial e abaxial; e o número de galerias por folíolo. As seleções
utilizando-se os parâmetros área foliar danificada, número de
tricomas tipo VI das faces adaxial e abaxial das folhas e número de
galerias de T. absoluta têm grandes possibilidades de proporcionarem ganhos genéticos futuros, por apresentarem ampla variabilidade genotípica, com valores elevados de coeficiente de determinação
genotípica e magnitude superior à unidade para o índice de variação. As correlações fenotípicas entre a área foliar consumida por T.
absoluta e as densidades de tricomas das faces adaxial e abaxial das
folhas foram negativas e significativas, assim como entre a área foliar
e o número de galerias feitas pela T. absoluta por folíolo. Também
verificaram-se correlações significativas e positivas para as densidades de tricomas nas duas faces foliares. Isso indica que a resistência está diretamente relacionada a maiores quantidades de tricomas
foliares do tipo VI, e ainda que genótipos com valores de DANO
alto possuam menor número de galerias.
Genetic parameters and correlation among progenies of
Lycopersicon esculentum x L. hirsutum f. glabratum for resistance
to tomato pinworm
The reaction to the tomato pinworm (Tuta absoluta) of five F3
progenies of the crossing between Lycopersicon esculentum cv. IPA6 and L. hirsutum f. glabratum PI 134418 was evaluated. The fouler
area injured by T. absoluta in cm2, number of fouler trichomes type
VI per mm2 on adaxial and abaxial faces and the number of galleries
per leaflet were evaluated. Injured fouler area, number of fouler
trichomes type VI of adaxial and abaxial faces and the number of
galleries of T. absoluta have great possibilities of future genetic gains,
once they present wide genotype variability, with elevated values of
determination coefficient and magnitude higher than the unit for the
variation index. The phenotypic correlation among the fouler area
consumed by T. absoluta and the trichomes densities of the adaxial
and abaxial faces of the leaves were negative and significant, as well
as between the fouler area and the number of mines of T. absoluta per
leaflet. A positive and significant correlation for trichomes densities
on both fouler faces was also verified. This suggests that the resistance
is related to a greater number of foliar trichomes type VI.
Palavras-chave: Tuta absoluta, resistência a pragas, tricomas, variabilidade genotípica.
Keywords: Tuta absoluta, pest resistance, trichomes, genotypic
variability.
(Recebido para publicação em 28 de novembro de 2001 e aceito em 22 de abril de 2003)
A
traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), inseto que se encontra nas principais áreas de cultivo, sendo considerada uma das pragas mais importantes
da cultura, tem sido controlada por meio
de inseticidas. As perdas de produção
podem chegar a níveis preocupantes,
pois elevadas populações desse inseto
podem destruir até 100% da área foliar
da planta (Maluf et al., 1997). O uso de
fontes de resistência a partir de espécies silvestres tem sido cada vez mais freqüente em programas de melhoramento do tomateiro, visando resgatar genes
perdidos no processo de domesticação.
A espécie L. hirsutum f. glabratum tem
se destacado por apresentar resistência
a diversos insetos, dentre eles a Tuta absoluta (Meyrick) (Lepidoptera:
458
Gelechiidae), e vem sendo amplamente
utilizada como fonte de resistência em
programas de melhoramento que visam
introgredir genes de resistência a insetos (Barone et al., 1989).
As metil-cetonas, 2-tridecanona e 2undecanona, que estão presentes, principalmente, no ápice da estrutura foliar
denominada tricoma glandular do tipo
VI, são abundantes na espécie L.
hirsutum f. glabratum, e têm sido o principal fator que proporciona resistência
à T. absoluta (Maluf & Barbosa, 1996).
O presente trabalho objetivou avaliar o
comportamento de cinco cultivares comerciais e cinco progênies F3 do cruzamento entre Lycopersicon esculentum
(cv. IPA-6) e L. hirsutum f. glabratum
(PI 134418), em relação à traça-do-to-
mateiro, com base em estimativas de
parâmetros genéticos e correlações entre componentes de resistência.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em casa de
vegetação, em área do convênio UENF/
PESAGRO-RIO, na Estação Experimental de Campos, em Campos dos
Goytacazes, RJ.
As famílias F 3 utilizadas foram
selecionadas com base em resultados
obtidos por Pereira (1998). Esse material genético foi originado a partir da
técnica de hibridação artificial e
interespecífica entre L. esculentum,
genitor agronomicamente comercial, e
L. hirsutum f. glabratum, genitor com
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça-do-tomateiro em progênies de Lycopersicon esculentum x L.
hirsutum f. glabratum
fonte de resistência a T. absoluta. O delineamento experimental foi blocos ao
acaso, com 12 tratamentos (genótipos)
e três repetições.
Para fornecer ovos e permitir as avaliações da resistência à traca-do-tomateiro foi instalada criação, baseando-se
nos métodos propostos por Ferrara
(1995) e Pereira (1998). A criação foi
iniciada com a coleta de folhas minadas
com larvas de Tuta absoluta em plantios comerciais no município de São João
da Barra, RJ.
Para avaliação do dano, utilizaramse de tubos de diálise, que consistem em
uma membrana de celulose transparente, de 12 cm de comprimento e 4,5 cm
de diâmetro, vedada nas extremidades
por uma espuma de 1,5 cm de espessura. Em uma das espumas foi feito um
corte de aproximadamente 1 cm em direção ao centro, para permitir a entrada
do folíolo a ser analisado. Este método
é uma adaptação dos métodos propostos por Dimock et al. (1986) e por Pereira (1998).
A avaliação do dano iniciou-se 30
dias após o transplantio. Para tanto, com
o auxílio do pincel fino foi colocada uma
larva de primeiro ínstar, recém eclodida,
sobre a face adaxial de um folíolo da
quinta folha de cada genótipo, a qual foi
imediatamente inserida em tubo de
diálise. Após 15 dias, o tubo de diálise
foi retirado. O dano foi representado
pela área foliar consumida e
quantificado por meio de paquímetro
digital (Pereira,1998).
Efetuaram-se contagens dos números
de galerias feitas pela larva no folíolo central da quinta folha de cada genótipo.
Quantificaram-se os tricomas foliares tipo
VI das faces abaxial e adaxial de folíolos
retirados do meio da 5a folha, a partir do
meristema apical, de cada genótipo estudado (Pereira, 1998). Depois de cortado,
o pecíolo foi envolvido por algodão umedecido com solução de sacarose a 10%,
coberto por papel laminado e devidamente identificado. Devido à grande destruição de tricomas na face inversa a que está
sendo avaliada, foram retirados dois
folíolos por genótipo, sendo um para contagem de tricomas da face adaxial e outro
para a abaxial.
Os folíolos foram transportados sobre gelo forrado com papel toalha dentro de embalagem térmica. Para a conHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
tagem, utilizou-se microscópio
estereoscópico Zeiss (Stereomicroscope
Stemi SV11), com um aumento de 50
vezes, e campo de visão de 4 mm2. Foram feitas três repetições de contagem
em cada face do folíolo. Os resultados
apresentados foram obtidos a partir da
média dessas três repetições.
As médias fenotípicas foram utilizadas na estimação dos seguintes
parâmetros genéticos, baseados em Cruz
& Regazzi (1997):
Variância fenotípica:
^
σf2 = QMG;
B
Variância ambiental:
^
σe2 = QMR;
Variabilidade genotípica:
^
Φg = QMG – QMR;
b
Coeficiente de determinação genotípica:
ΦG
H2 = ————;
QMG/ b
Coeficiente de variação experimental:
CVe = ————— x 100
m
Coeficiente de variação genotípica:
CVg = ———— x 100;
m
Índice de variação:
Î v = CVg / CVe
Estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica de Pearson (r), com
base nas médias de repetições, foram
obtidas por meio das expressões:
r (x,y) = Cov (x,y) /
,
onde: r (x,y) = correlação entre os
caracteres x e y;
Cov (x,y) = covariância entre os
caracteres x e y;
σ x e σ y = desvio-padrão dos
caracteres x e y, respectivamente.
A significância dos coeficientes de
correlação fenotípica foi verificada pelo
teste “t” e o coeficiente de determinação (r2) (Cruz & Regazzi, 1997).
RESUTADOS E DISCUSSÃO
As características densidade de
tricoma do tipo VI da superfície abaxial
e número de galerias feitas pela T. absoluta apresentaram ampla variabilidade
genotípica (Fg), com valores para o coeficiente de determinação genotípica (H2)
superiores a 90% e magnitudes do índice de variação (Iv) superiores à unidade.
Assim, para essas características, métodos simples de seleção seriam suficientes para se obterem ganhos satisfatórios
nas próximas gerações (Tabela 1).
Para as características área foliar
consumida por T. absoluta e densidade
de tricoma do tipo VI da superfície
adaxial os valores de H2 foram superiores a 82% e também poderão propiciar
a obtenção de ganhos genéticos. Essas
características, apesar dos menores coeficientes de determinação obtidos (Tabela 1), possuem ampla variabilidade
genética e índices de variação acima da
unidade. Por conseguinte, ganhos genéticos significativos também poderão ser
obtidos para essas características, por
meio de métodos simples de seleção.
Verificou-se correlação negativa e significativa entre os caracteres área foliar
consumida e número de galerias feitas pela
T. absoluta, indicando que quanto maior
a área foliar consumida menor foi o número de galerias produzidas, demonstrando que genótipos resistentes, como L.
hirsutum f. glabratum e determinadas famílias F3 foram capazes de restringir o
desenvolvimento da traça (Tabela 1).
Em um estudo semelhante a este por
também serem utilizadas lagartas de T.
absoluta recém eclodidas, e em
confinamento com folhas de L.
esculentum e L. hirsutum f. glabratum,
verificou-se a redução da viabilidade
pela densidade de tricoma do tipo VI da
superfície adaxial e efeitos que caracterizaram a ocorrência de antibiose relacionada a interação T. absoluta e L.
hirsutum f. glabratum PI 134417
(Giustolin e Vendramim, 1994).
459
L. G. Neves, et al.
Tabela 1. Estimativa de parâmetros genéticos e correlação entre componentes de resistência à traça do tomateiro, em seis cultivares comerciais de L. esculentum e cinco progênies F3 do cruzamento entre ‘IPA-6’ (L. esculentum) e PI 134418 (L. hirsutum). Campos dos Goytacazes,
UENF, 2000.
* * = diferença significativa ao nível de 1% pelo teste t.
1/
DN = área foliar consumida por T. absoluta em cm2 ;
TAB = densidade de tricoma foliar tipo VI/mm2 na superfície abaxial da 5a folha;
TAD = densidade de tricoma foliar tipo VI/mm2 na superfície adaxial da 5a folha; e
NG = número de galerias feita por T. absoluta no período de incubação.
Variância fenotípica: σa2 ^
Variância ambiental: σa2 ^
Variabilidade genotípica: Φ g
Coeficiente de determinação genotípica: H2
Índice de variação: Iv
Coeficiente de correlação: (r)
Coeficiente de determinação: (r2)
Eigenbrode & Trumble (1993), também
em um estudo sobre o mecanismo de
resistência por antibiose, entre L.
hirsutum f. glabratum PI 134418 e
Spodoptera exigua (Hübner), relataram
uma altíssima mortalidade da praga em
estudo. Conclui-se que o desenvolvimento, a fecundidade e a taxa de mortalidade de diversos insetos artrópodes são
restringidos, quando esses insetos são
alimentados com folhas de L. hirsutum
f. glabratum (Weston et al., 1989).
As correlações entre o caráter área
foliar consumida por T. absoluta e densidade de tricoma do tipo VI da superfície adaxial e abaxial, foram negativas e
significativas (Tabela 1), evidenciando
que os genótipos com maiores densidade de tricomas do tipo VI em ambas as
faces das folhas, terão menor área foliar
consumida. Isto indica que esse tipo de
tricoma é um fator de resistência para a
traça do tomateiro.
Farrar Jr. & Kennedy (1987)
quantificaram a mortalidade de larvas
de Heliothis zea (Baddie) (Lepdoptera:
Noctuidae), quando essas se alimentavam com L. esculentum e L. hirsutum f.
glabratum PI134417. Foram usados
folíolos desses genótipos com tricomas
do tipo VI e retirados esses tricomas. Os
autores verificaram maior mortalidade
460
de H. zea onde os tricomas não haviam
sido retirados.
Os resultados do presente estudo
também revelaram correlações positivas
e altamente significativas entre tricomas
do tipo VI, tanto da face adaxial, quanto da abaxial e o número de galerias feitas pela traça. A 2-tridecanona, contida
na ponta de tricomas do tipo VI, é tido
como o principal fator de resistência a
insetos-pragas que insidem na espécie
L. hirsutum f. glabratum, reafirmando,
dessa forma, a estrutura tricoma tipo VI
como fator de resistência (Weston et al.,
1989; Farrar Jr. & Kennedy, 1991;
Giustolin & Vendramim, 1996; Maluf,
1997; Pereira et al., 2000).
Pode-se concluir que o maior número de galerias, em vários locais distintos da folha, foi decorrência da tentativa do inseto de se alimentar, uma vez
que esse parece estar encontrando barreiras pela associação tricomaaleloquímicos.
A correlação fenotípica dos tricomas
da face adaxial e abaxial foi positiva e
significativa (Tabela 1), mostrando que
quanto maior a média de tricomas do
tipo VI para uma face da folha, também
será maior para a outra face, para os
genótipos tidos como superiores neste
estudo. Esta correlação entre os valores
de densidade de tricoma do tipo VI da
superfície adaxial e da superfície abaxial
indica que esses caracteres estão sob o
mesmo controle genético, o que caracteriza um possível efeito pleiotrópico,
ou mesmo, que os genes que controlam
os dois caracteres estariam em um mesmo cromossomo e não segregariam independentemente, o que caracterizaria
a ligação gênica (Rick & Butler, 1956).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao técnico
agrícola José Manoel de Miranda pelo
auxílio na execução do trabalho; ao técnico de nível superior Alexandre Pio
Viana, pelo auxílio na análise estatística e ao professor Messias Gonzaga Pereira, pelas sugestões.
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Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola
Paulo Antônio de S. Gonçalves1; Carlos Roberto Sousa e Silva2
1
EPAGRI, EE Ituporanga, C. Postal 121, 88400-000, Ituporanga-SC (Bolsista Embrapa); E-mail: [email protected] ; 2UFSCar,
Depto. Ecologia e Biologia Evolutiva, C. Postal 676, 13565-905, São Carlos-SP. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Analisou-se a relação entre adubação orgânica e a incidência de
Thrips tabaci Lind. em cebola (Allium cepa L), na EE de Ituporanga,
entre agosto e dezembro de 1998. Os tratamentos foram determinados de acordo com a necessidade de N para a cultura pela análise de
solo. Empregou-se como fonte orgânica diversos adubos fornecendo 75 Kg/ha de N (esterco suíno; adubo Barriga Verdeâ proveniente
de esterco de aves; composto orgânico; esterco de peru; húmus);
37,5 Kg/ha de N (metade da dose normal com esterco de suíno); as
testemunhas foram adubação mineral fornecendo 30-120-60 kg/ha
de N-P2O5-K2O e o dobro da dose (60-240-120 kg/ha de N-P2O5K2O); e testemunha sem adubação. Nenhum tratamento apresentou
incidência de T. tabaci superior à testemunha sem adubo. A adubação mineral em relação à orgânica não favoreceu significativamente
a incidência de T. tabaci . O processo de conversão do manejo do
solo da área experimental de convencional para orgânico pode ter
favorecido a infestação similar do inseto entre tratamentos. No período de maior incidência de T. tabaci, a relação com nutrientes foi
descrita por um modelo envolvendo K/Zn, B e N de maneira positiva. A correlação entre nutrientes e T. tabaci não foi linear na maioria das avaliações. A adubação orgânica pode substituir a adubação
mineral na cultura da cebola, pois foi possível atingir níveis de produtividade similares para ambos tratamentos.
Impact of the organic fertilization on onion thrips incidence
The impact of organic fertilization on the incidence of thrips
(Thrips tabaci Lind.) on onion was evaluated at Ituporanga
Experimental Station in Santa Catarina State, Brazil, from August
to December, 1998. The treatments using organic fertilization were
based on the N needs determined by previous soil analysis. Using
different organic sources were 75.0 Kg/ha of N (swine manure;
Barriga Verdeâ poultry manure; compost; turkey manure; humus);
37.5 Kg/ha of N (swine manure half regular rate); two chemically
fertilized controls with 30-120-60 Kg/ha of N-P2O5-K2O and double
rate (60-240-120 Kg/ha of N-P2O5-K2O); and finally the unfertilized
control. The incidence of thrips was similar between treatments with
fertilized and no fertilized check. Treatments with mineral
fertilization presented the same incidence of thrips when compared
to organic fertilization. During severe infestation period, the
correlation between the use of mineral nutrients and the T. tabaci
incidence was positive and was described by a model involving the
levels of K/Zn, B and N. The correlation of nutrient in the leaves
and the infestation of thrips on onion was not linear. The organic
fertilization can substitute the mineral one on onion crops, without
reducing yield.
Palavras-chave: Allium cepa, Thrips tabaci, inseto, nutriente,
agroecologia.
Keywords: Allium cepa, Thrips tabaci, insect, nutrient, agroecology.
(Recebido para publicação em 18 de março de 2002 e aceito em 04 de julho de 2003)
O
tripes (Thrips tabaci Lindeman
(Thysanoptera: Thripidae) ) é a
principal praga da cebola no Brasil
(Gallo et al., 1988). Em Santa Catarina,
o manejo fitossanitário da cultura após
o transplantio tem-se caracterizado
principalmente pela aplicação de
agrotóxicos para o seu controle. Gonçalves (1996) observou que a aplicação
de inseticidas organofosforados e
piretróides para controle de tripes tem
sido exagerada em dose e número de
aplicações com prejuízos à saúde do
agricultor e ambiente.
A redução da produtividade causada por T. tabaci em cebola pode ser além
de 50% em sistema de agricultura convencional (Saini et al., 1989). Porém,
em recentes trabalhos, tem-se observado que, em solos sob plantio direto e
altos níveis de matéria orgânica,
minimizam-se as perdas em produtivi462
dade independente do controle químico
do inseto (Gonçalves, 1998).
A fertilização de plantas apresenta
efeitos positivos e negativos na incidência de pragas e doenças (Maxwell, 1972,
citado por Bortolli & Maia, 1994;
Rodriguez, 1972, citado por Bortolli &
Maia, 1994; Primavesi, 1988; Patriquin
et al., 1993; Bortolli & Maia, 1994).
Enquanto Chaboussou (1987) e
Primavesi (1988) ressaltam a importância do equilíbrio nutricional para evitarse doenças e pragas, Maxwell (1972),
citado por Bortolli & Maia (1994) considerou que os insetos ficam com menor vigor devido à nutrição inadequada
das plantas, e consequentemente mais
vulneráveis à ação dos produtos químicos e biológicos usados no seu controle. As demais práticas de manejo de
agroecossistemas em sistema convencional tais como a aplicação de
agrotóxicos, a mecanização excessiva
do solo com máquinas, têm efeito direto e indireto no empobrecimento da
fauna de solo responsável pela ciclagem
de nutrientes (Matson et al. 1997; Altieri
& Nicholls 1999). As plantas produzidas em ambientes com excesso de
agroquímicos apresentam-se desequilibradas nutricionalmente e vulneráveis
ao ataque de doenças e pragas
(Primavesi, 1988; Altieri & Nicholls,
1999). O manejo do solo com práticas
que não agridam a biota e favoreçam a
ciclagem de nutrientes é fundamental
para obtenção de plantas saudáveis, tais
como: redução da mecanização do solo
(plantio direto ou cultivo mínimo); uso
preferencial de adubos verdes; plantas
de cobertura; estercos; compostos
(Yepsen Jr., 1977; Primavesi, 1988;
Altieri, 1991; Monegat, 1991; Patriquin
et al. 1993; Altieri, 1994; Matson et al.,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola
1997; Vandermeer, 1995; Altieri &
Nicholls, 1999).
A EPAGRI atualmente fomenta trabalhos na área de agroecologia com o
intuito de reduzir a utilização de
agroquímicos nesse estado, bem como
gerar um sistema agrícola produtivo e
sustentável. O presente trabalho foi elaborado para contribuir na geração de
informações para sedimentar a
agroecologia no estado de Santa
Catarina e para avaliar o efeito das adubações mineral e orgânica sobre a ocorrência do tripes e no impacto dos diferentes tratamentos sobre a produtividade da cultura da cebola.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Estação Experimental de Ituporanga em
um Cambissolo Húmico distrófico álico,
empregando a cultivar Crioula.
O experimento foi realizado de 28/
08 (transplante) a 16/12/1998 (colheita,
duração do ciclo de 110 dias), implantado em delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. O tamanho da
parcela foi de 2,8 x 3,0 m e espaçamento
de 40 x 10 cm, totalizando 210 plantas/
parcela. As parcelas foram distanciadas
entre si de 1 m. O preparo do solo foi
realizado sob plantio direto em palhada
de centeio (Secale cereale L.), semeado
anteriormente no mês de maio. Os tratamentos foram: 1) 15743,6 kg/ha de
esterco de suíno, 2) 7871,8 kg/ha de esterco de suíno (metade da dose recomendada pela análise de solo) , 3) 6023,6
kg/ha de esterco Barriga Verdeâ (aves),
4) 20299,9 kg/ha de composto orgânico, 5) 6393,5 kg/ha de esterco de peru,
6) 6516,4 kg/ha de húmus, 7) 600,0 kg/
ha de NPK 5-20-10, 8) 1200,0 kg/ha de
NPK 5-20-10, 9) testemunha sem adubação. Os tratamentos com fontes orgânicas forneceram a necessidade de N
para a cultura (75 kg/ha), exceto o número 2, que correspondeu à metade da
dose (37,5 kg/ha). Os tratamentos 7 e 8
corresponderam a testemunhas com
adubação mineral com fornecimento de
NPK uma e duas vezes respectivamente o recomendado para a cultura de acordo com a análise de solo. A análise de
solo apresentou : pH (água), 6,3; pH
(SMP), 6,1; P, 25,5 mg.dm -3; K, 40
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
mg.dm-3; matéria orgânica, 50 g.dm-3; Al
0,0 mmolc.dm-3; Ca, 74 mmolc.dm-3; Mg,
38 mmolc.dm-3; argila, 330 g.dm-3. Como
o nitrogênio é apontado como causador
de desequilíbrios nutricionais e favorecer a incidência de doenças e pragas
(Chaboussou, 1987; Singh & Agarwal,
1983, citados por Bortolli & Maia, 1994;
Schuch et al., 1998), a determinação da
quantidade de adubos orgânicos foi baseada na necessidade deste nutriente
para a cultura (segundo Comissão de
Fertilidade do Solo RS/SC, 1994). A
fórmula utilizada para calcular a dose
de esterco/ha foi
Quantidade de esterco/ha = (100000
x N)/(MS x NMS) x 0,5;
onde N é a quantidade de nitrogênio
em kg/ha necessário para a cultura da
cebola; MS é o teor de matéria seca do
esterco em porcentagem; NMS quantidade de nitrogênio por kg de matéria
seca do esterco; e 0,5 é o índice de liberação de nitrogênio pelo esterco (50%
no primeiro ano de aplicação, de acordo com Comissão de Fertilidade do Solo
RS/SC, 1994). A análise de nutrientes
dos adubos orgânicos foi realizada pelo
Laboratório de Fisiologia e Nutrição
Vegetal da Estação Experimental de
Caçador, SC, EPAGRI, com os seguintes resultados para matéria seca (MS, em
g.dm-3), e níveis de nutrientes em g/kg1
e mg/kg2 de MS respectivamente para
esterco de suíno, esterco Barriga Verdeâ
(aves), composto orgânico, húmus, esterco de peru: MS (27,3; 93,4; 36,4;
61,2; 79,8), N1 (34,9; 26,5; 20,3; 37,6;
29,4), P1 (23,6; 15,8; 14,7; 26,6; 20,8),
K1 (1,8; 15,0; 3,4; 7,2; 25,4), Ca1 (52,8;
64,6; 29,0; 58,0; 31,0), Mg1 (4,2; 15,6;
5,0; 6,4; 8,2), Fe 2 (3822,0; 1074,0;
8686,0; 6008,0; 7230,0), Mn2 (368,0;
636,0; 318,0; 634,0; 574,0), Zn2 (650,0;
298,0; 244,0; 990,0; 468,0), Cu2 (596,0;
108,0; 232,0; 734,0; 112,0), B2 (31,0;
53,0; 34,0; 42,0; 58,0).
O composto orgânico foi proveniente de resíduos culturais de cebola, esterco suíno, capim cameroon (Pennisetum
clandestinum Hochst. ex. Chiov). O
húmus foi obtido de esterco de suíno em
minhocário. Os adubos orgânicos foram
distribuídos manualmente e espalhados
sobre a superfície do solo, enquanto as
fontes minerais foram incorporadas com
microtrator adaptado para plantio direto.
A amostragem de tripes foi realizada a campo pela contagem semanal de
ninfas com auxílio de lupa manual (aumento de 3 x), em todas as folhas em 5
plantas/parcela escolhidas ao acaso. As
datas de avaliação foram 14/10 (47 dias
após transplante, DAT), 21/10 (54 DAT),
28/10 (61 DAT), 04/11 (68 DAT), 11/11
(75 DAT), 19/11 (83 DAT), 25/11 (89
DAT) e 02/12/1998 (96 DAT).
A análise foliar de nutrientes foi realizada em amostras de cinco plantas por
parcela, submetidas a secagem em estufa a 60°C, e posteriormente enviadas
para o Laboratório de Fisiologia e Nutrição Vegetal da EE de Caçador. As
datas de coleta de amostras e respectivos dias após transplante (DAT) foram:
14/10 (47 DAT), 11/11 (75 DAT) e 02/
12/1998 (96 DAT).
O experimento não foi submetido à
irrigação, com a finalidade de evitar-se
a influência de remoção mecânica do
inseto pela água.
A amostragem para produtividade
realizou-se pela colheita de 60 bulbos
ao acaso por parcela. Os bulbos foram
classificados pelo diâmetro de acordo
com aceitação para o mercado (classe 1
£ 3,5 cm; classe 2 > 3,5 até 5 cm; classe
3 > 5 até 7 cm; classe 4 > 7 até 9 cm,
classe 5 > 9 cm). Apenas a produtividade comercial (bulbos de classes 2 a 5)
foi considerada para avaliação.
O nível de dano econômico (NDE)
foi estabelecido de acordo com Gonçalves (1997), sendo considerado 15 ninfas/
planta antes da bullbificação e 30 ninfas/
planta após esta fase.
Os dados para análise estatística foram previamente submetidos ao teste de
Bartlett (através do programa para análise estatística INSTATâ, 1993) a fim de
verificar a homogeneidade de variâncias
e definir a aplicação de métodos
paramétricos ou não paramétricos. Após
a transformação de dados foi possível
realizar a análise de variância
paramétrica. O número médio de ninfas
de tripes foi transformado para log (x +
0,5). As médias foram comparadas pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade
(programa para análise estatística SASâ,
1996). O nível foliar de nutrientes e produtividade foram submetidos à análise
de variância sem transformação de dados. O esquema de análise de variância
463
P. A. S. Gonçalves & C. R. S Silva
Tabela 1. Número médio de ninfas de tripes, T. tabaci, produtividade comercial média e peso médio de bulbos de cebola, cultivar Crioula,
sob adubações mineral e orgânica. Ituporanga, SC, EPAGRI, 1998.
Médias na vertical, seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
para análise das variáveis número médio de ninfas de tripes e nível foliar de
nutrientes foi o de parcelas subdivididas no tempo com tratamentos como
parcelas e datas de avaliação como
subparcelas. Os coeficientes de correlação de Spearman (r) e de determinação (r2) e a análise de regressão linear
múltipla, procedimento “stepwise” do
programa estatítico SASâ (1996), foram
aplicados entre a incidência de tripes, e
nível foliar de nutrientes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O número médio de ninfas de T.
tabaci não diferiu entre os tratamentos
(Tabela 1). Portanto, como constatado
por Marzo et al. (1997), Bastos et al.
(1998), Osuna et al. (1989), Silva et al.
(1998), a utilização de adubação mineral não necessariamente favorece a maior densidade populacional de herbívoros, pois o efeito pode ser não significativo ou até mesmo inferior ao adubo
orgânico.
O nível de nutrientes foliares diferiu entre tratamentos apenas para N e K
(Tabela 2). O teor de N foi superior para
esterco de suíno, dose normal, em relação ao NPK dose dupla, porém estes não
diferiram dos demais tratamentos. O teor
de K no composto orgânico foi superior
ao do esterco de suíno na metade da dose
normal, porém foi semelhante aos demais. Portanto, as fontes de adubação
464
utilizadas, com dosagens de adubo entre normal até no máximo o dobro recomendado pela análise do solo, não proporcionaram diferenças significativas
nos teores de nutrientes foliares na maioria das avaliações que pudessem refletir na incidência de tripes em cebola.
Deve-se considerar, que a área experimental estava em processo de conversão para manejo orgânico (solo sob sistema de plantio direto, uso de adubos
verdes e estercos, e ausência de adubação mineral solúvel) há dois anos, o que
pode ter favorecido a incidência similar
do inseto entre tratamentos. Porém, segundo Phelan (1997), plantas cultivadas
em solos sob manejo orgânico têm uma
tendência em apresentar menores níveis
populacionais de insetos.
Os coeficientes de correlação linear
(r) e de determinação (r2 %) entre nutrientes e inseto não foram significativos
na maioria das avaliações, exceto de
maneira significativa a 1% para a ocorrência de tripes no fim do ciclo da cultura (02/12/1998) para K/Cu (r = 0,49**) e nas relações inversas de alguns nutrientes com Mn (N/Mn, r =
0,44**; P/Mn, r = 0,46**; Mg/Mn, r =
0,45**). Este resultado sugere que excesso dos nutrientes N, P e Mg em relação a Mn favoreceu a ocorrência de
tripes, enquanto o aumento de K em relação a Cu diminuiu a incidência do inseto. Convém ressaltar, que tais relações
foram verificados no período de
maturação fisiológica da cultura, quando a presença do inseto entra naturalmente em declínio e não provoca maiores danos à cultura; o nível de dano econômico (NDE), nesta fase é de 30 ninfas/
planta, segundo Gonçalves (1997). O
potássio como indutor de resistência a
insetos e patógenos foi relatado por
Chaboussou (1987), Primavesi (1988)
e Bortolli & Maia (1994); e Mn por
Chaboussou (1987). O valor de r foi significativo a 5% para os seguintes nutrientes: em 11/11 para K/Zn (r = 0,36), e
em 2/12 para K (r = -0,38), K/Mg (r = 0,34), K/B (r = -0,40), Mn/Zn (r = -0,35),
Cu (r = 0,33), N/K (r = 0,33), P/K (r =
0,38), Ca/Mn (r = 0,35). Dentre estas
relações o excesso de N em relação a K
foi citado por favorecer o desenvolvimento de afídeos em quiabeiro
(Sampaio et al. 1998a, b), e as proporções entre K/Mg, K/B, Ca/Mn, N/P/K
foram citadas como importantes na manutenção do equilíbrio nutricional de
plantas por Primavesi (1988). Convém
ressaltar, que em 11/11, na semana anterior ao pico populacional do inseto
houve relação significativa positiva para
K/Zn, o que sugere que nesta fase o excesso de K em relação a Zn favoreceu a
infestação de tripes. Os resultados significativos observados em 2/12 ocorreram na fase de maturação fisiológica da
cultura, quando a população de tripes
estava abaixo do NDE (de acordo com
Gonçalves, 1997, nesta fase o NDE é
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Impacto da adubação orgânica sobre a incidência de tripes em cebola
Tabela 2. Níveis de nutrientes em folhas de cebola sob fontes de adubação mineral e orgânica. Ituporanga, SC, EPAGRI, 1998.
Médias na vertical, seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, 1 e 2, respectivamente níveis
foliares de nutrientes em g.dm-3 e mg.dm-3.
de 30 ninfas/planta), portanto o inseto
não interferiria na produtividade.
No presente trabalho a relação entre
nutrientes e inseto geralmente não foi
linear. Este tipo de relação entre nitrogênio e artrópodos já havia sido constatada anteriormente (White, 1984; Popp
et al., 1986; Brewer et al., 1987; Rutz
et al., 1990; Bethke et al., 1998; Joern
& Behmer, 1998). Portanto, o nitrogênio de maneira isolada não apresentou
efeito significativo sobre o inseto, mas
apenas nas relações com alguns nutrientes como apontado acima.
A análise de regressão múltipla apresentou as seguintes equações para relação entre número médio de ninfas de
tripes (y) e nutrientes: para início da
infestação do inseto em 14/10 com população abaixo do NDE, considerado
como 15 ninfas/planta, de acordo com
Gonçalves (1997), y= +10,94 -0,04xP/
B, (r2 = 10,16%); em 11/11, uma semana antes do pico populacional de tripes,
com todos tratamentos acima do NDE,
y= -51,35 +0,008xK/Zn +0,89xB
+1,63xN, (r2 = 33,2%); e no declínio
populacional em 02/12, com todos tratamentos abaixo do NDE, y= +21,32 0,004xK/Cu +1,48xMn/Cu +0,059xP/
Mn -0,38xFe/B, (r2 = 53,19%).
A generalização de N como causador de desequilíbrio nutricional e favorecer a ocorrência de pragas não foi
constatada como notado por Bortolli &
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Maia (1994) e Rodriguez (1972) citados por estes autores, pois a relação isolada de N não apresentou valores significativos para incidência de tripes.
Bortolli & Maia (1994) relataram que
embora a maioria dos trabalhos apontem para o efeito positivo de N no desenvolvimento de pragas, há resultados
que indicam o contrário. O efeito negativo de N no desenvolvimento de insetos também pode ocorrer (Salas et al.,
1990; Rutz et al., 1990), bem como o
efeito não significativo (Power, 1989;
McCullough & Kulman,1991; Blua &
Toscano, 1994). Os resultados referentes ao nitrogênio contrastam com os de
Schuch et al. (1998), que constataram
que a infestação de tripes em crisântemo foi favorecida por altos níveis de
adubação nitrogenada. O efeito positivo de N para incidência de tripes foi
verificado de maneira significativa para
o nutriente apenas nas relações N/Mn e
N/K. Os resultados foram similares aos
obtidos por Vos & Frinking (1997) com
efeito não significativo de N sobre
tripes, T. parvispinus , em pimenta,
Capsicum spp., porém a relação positiva de P sobre o inseto encontrada por
estes autores não foi constatada, pois a
relação foi significativamente positiva
apenas para relação P/K em 02/12.
A produtividade comercial foi similar entre tratamentos (Tabela 1). O peso
médio de bulbos foi superior para ester-
co de peru em relação ao composto orgânico, esterco de suíno metade da dose
normal e húmus (Tabela 1). O adubo
mineral NPK em ambas dosagens também apresentou peso médio de bulbos
superior ao composto orgânico. Porém,
nenhum tratamento proporcionou incremento significativo no peso médio de
bulbos em relação a testemunha sem adubo (Tabela 1). Como os níveis de produtividade comercial e peso médio de bulbos obtidos por todas as fontes de N, com
exceção do composto orgânico, não diferiram daqueles observados pela adubação mineral, sugere-se ser possível substituir a adubação de origem mineral pela
orgânica.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Odo Primavesi (Embrapa
Instrumentação Agropecuária) e Dra.
Márcia Mondardo Spengler (EPAGRI,
EE Caçador) pelos esclarecimentos na
área de análise estatística. Ao pesquisador Clori Basso (EPAGRI, EE Caçador)
pelas análises de nutrientes. Ao técnico
agrícola Marcelo Pitz e sua equipe pelo
apoio na condução do trabalho.
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n. 3, p. 467-470, julho-setembro 2003.
Distribuição vertical e setorial das ninfas de mosca-branca nas folhas do
meloeiro
Francisco Roberto de Azevedo1; Ervino Bleicher2
1
Secretaria da Agricultura Irrigada do estado do Ceará, Centro Administrativo Gov. Virgílio Távora, Cambeba, Ed. SEAD, s/n 60839-900
Fortaleza–CE; 2 UFC, Depto. Fitotecnia, C. Postal 12168, 60356-001 Fortaleza-CE. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram realizados estudos, no campo experimental de Pacajús, da
Embrapa Agroindústria Tropical, para observar a distribuição espacial das ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemiptera:
Aleyrodidae), entre as folhas e nas folhas da rama do meloeiro. Para
estudo da distribuição entre as folhas, foram amostradas aleatoriamente, as folhas presentes no intervalo entre a quinta e a vigésima
folha. A contagem das ninfas foi realizada semanalmente aos 49; 56 e
63 dias após o plantio, retirando, com o auxílio de um vasador de
cortiça, um disco foliar de 2,8 cm2. Foi observada uma maior concentração de ninfas entre a oitava e a décima folha, contada a partir da
extremidade da rama do meloeiro, sendo, portanto, a melhor folha
para ser amostrada. O estudo da distribuição setorial nas folhas do
meloeiro foi feito amostrando-se aleatoriamente as folhas em campo
e subdividindo-as em quatro setores, delimitados pela nervura central
em esquerdo distal (ED), esquerdo proximal (EP), direito proximal
(DP) e direito distal (DD). As ninfas concentraram-se mais nos setores proximais da folha do meloeiro, quando comparados aos setores
distais, nas três avaliações efetuadas no campo. Estes insetos preferem os setores proximais da folha por estarem mais próximos do
floema, facilitando a obtenção do alimento. Do total de ninfas contadas nos setores das folhas do meloeiro, 13,08% foram encontradas no
setor ED; 35,7% no setor EP; 36,7% no setor DP e 14,25% no setor
DD. Portanto, recomenda-se efetuar a amostragem das ninfas próximo à nervura central da folha do meloeiro.
Vertical and sectorial distribution of whitefly nymphs on
melon leaves
Palavras-chave: Bemisia argentifolii, amostragem, melão.
The spatial nymphs distribution of Bemisia argentifolii Bellows
& Perring (Hemiptera: Aleyrodidae) among and within melon leaves
was observed. The vertical distribution among leaves was done,
selecting randomly leaves from node 5th through 20th. The counting
of nymphs was performed at weekly basis, at 49; 56 and 63 days
after planting, using a circular leaf disc with an area of 2.8 cm2.
Higher nymph concentration was observed from the 8th to the 10th
leaf counted from the top to the bottom of the melon plant. These
leaves were considered the best ones to be sampled. The distribution
of nymphs over the leaf sectors was performed, selecting randomly
leaves and dividing them into four sectors (distal left, proximal left,
distal right, and proximal right). The number of nymphs was similar
in both proximal sectors, however in the proximal sectors the number
of nymphs was greater than those found in distal sectors. From the
total nymphs found, 13.70% were found on distal left sector, 35.70%
on proximal left sector, 36.70 on proximal right sector and 14.25%
on distal right sector. Sampling nymphs close to the central leaf rib
is more effective.
Keywords: Bemisia argentifolii, sampling, melon.
(Recebido para publicação em 21 de dezembro de 2001 e aceito em 24 de abril de 2003)
A
mosca-branca, Bemisia argentifolii
Bellows & Perring (Hemíptera:
Aleyrodidae), tem se tornado nos últimos anos, a praga mais importante da
cultura do melão em diversos estados
brasileiros, pelas perdas que vem ocasionando à cultura. Aplicações foliares de
inseticidas têm sido pouco eficientes,
principalmente pelo fato das ninfas
(aproximadamente 96%) se localizarem
na face inferior das folhas do meloeiro
(Simmons & McCreight, 1996) e as
plantas apresentarem um crescimento
rasteiro, dificultando as pulverizações.
O desenvolvimento de um método
de amostragem eficiente é fundamental
para o estudo da dinâmica populacional
da praga e para estabelecer critérios na
implementação de um programa de
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
manejo integrado de pragas. Para a cultura do algodão, a contagem de todas as
ninfas presentes em uma folha é o método mais confiável para se determinar a
densidade populacional do inseto-praga
(Ohnesorge & Rapp, 1986). Porém, o
método é cansativo e demanda muito
tempo para ser realizado, tornando-se
mais fácil se restringido à área examinada em uma única parte da folha (setor).
As ninfas de mosca-branca, a partir
do 2o instar, são sésseis, de modo que a
localização da folha infestada e o período fisiológico de desenvolvimento da
planta hospedeira seguem uma distribuição linear, apresentando assim, um padrão definido de distribuição na planta.
A presente pesquisa foi desenvolvida
para avaliar a distribuição vertical das
ninfas de B. argentifolii entre as folhas
da rama do meloeiro e a distribuição
setorial dentro da folha, visando orientar o produtor de melão na escolha do
local da planta a ser amostrado quando
da tomada de decisão sobre o controle
ou não da praga.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo da distribuição vertical das
ninfas nas folhas da rama do meloeiro
foi realizado no campo experimental da
Embrapa Agroindústria Tropical, em
Pacajús (CE) de 10/10 a 19/12/00, em
uma área de 900 m2. O delineamento
experimental adotado foi o inteiramente casualizado, sendo os tratamentos representados por 16 folhas do meloeiro
467
F. R. Azevedo & E. Bleicher
Figura 1. Número total de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera:
Aleyrodidae) em folhas da rama do meloeiro, em três avaliações de campo. Pacajús, Embrapa
Agroindústria Tropical, 2000.
da variedade Cantaloupe (híbrido HyMark), da quinta até a vigésima folha,
distribuídos em quatro repetições, cada
uma composta de 10 folhas. Portanto,
cada tratamento consistiu de 40 folhas,
totalizando 640 folhas amostradas em
cada período amostral. De cada folha
amostrada foi retirado, com o auxílio de
um vazador de cortiça, um círculo foliar
de 2,8 cm2, colocando-o dentro de um
saquinho plástico transparente devidamente identificado. Em seguida, foram
acondicionados em uma caixa de isopor,
para não perderem a umidade e levados
ao laboratório de entomologia, onde foram contadas todas as ninfas presentes
no disco foliar, através da observação
em uma lupa de mesa. A coleta dos discos foliares foi realizada semanalmente
aos 49, 56 e 63 dias após o plantio.
O estudo da distribuição setorial das
ninfas dentro da folha do meloeiro foi
realizado no mesmo local do estudo anterior, de 28/11/00 a 30/01/01, em uma
área de 672 m2. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente
casualizado, sendo os tratamentos representados por quatro setores da folha do
468
meloeiro (híbrido Hy-Mark), delimitados pela nervura central em direito distal
(DD), direito proximal (DP), esquerdo
distal (ED) e esquerdo proximal (EP),
distribuídos em quatro repetições, cada
uma composta de 15 folhas. Portanto,
cada tratamento consistiu de 60 folhas,
totalizando 240 folhas em cada período
amostral. As folhas foram cortadas na
altura do pecíolo com um estilete e colocadas em sacos plásticos transparentes, acondicionados em uma caixa de
isopor. Contou-se o número de ninfas
em cada setor foliar, utilizando uma lupa
de mesa. Os números médios de ninfas
por disco foliar foram transformados em
para fins de cálculos estatísticos. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Student-NeumanKeul’s (P£0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A distribuição vertical das ninfas de
B. argentifolii nas folhas da rama do
meloeiro apresenta um padrão mais definido do que os adultos (Tabela 1). Aos
49 dias, de forma estatisticamente significativa, elas se distribuíram no intervalo da oitava à décima-segunda folha.
Aos 56 dias, distribuíram-se da sexta à
décima-quinta folha e aos 63 dias, diminuíram o intervalo, distribuindo-se da
sétima à décima-segunda folha. As poucas ninfas encontradas da décima-sexta
à vigésima folha nas três avaliações estavam próximas de se transformarem em
adultos e são erroneamente chamadas de
“pupas”. Verificou-se que as ninfas distribuem-se nas folhas maduras e as
“pupas”, nas folhas mais velhas.
De acordo com o número total de
ninfas encontrado nas três avaliações de
campo, verificou-se que o número aumentou progressivamente até a nona
folha. Desta folha em diante, reduziuse consideravelmente ao longo da rama,
encontrando-se um menor número na
décima-oitava, décima-nona e vigésima
folha (Figura 1). Levando-se em consideração a média geral das três avaliações, observou-se, no entanto, que de
forma estatisticamente significativa, as
ninfas distribuíram-se no intervalo da
oitava à décima folha (Tabela 1). Na
cultura do algodoeiro, Ohnesorge &
Rapp (1986) verificaram que as ninfas
de terceiro e quarto instares podem ser
amostradas entre a terceira e sétima folha, enquanto que Gerling et al. (1980)
reportaram que a posição média das folhas infestadas do algodoeiro SJ2 pelas
“pupas” altera da sexta folha em julho
para a décima primeira folha em agosto. No entanto, Melamed-Madjar et al.
(1982), observaram uma mudança da
quinta à sexta folha em junho para a sétima e oitava folha em julho. De acordo
com os resultados desses autores, podese constatar que este inseto apresenta um
comportamento ligeiramente diferente
na cultura do meloeiro. Por isso, a relação entre a localização da maioria das
folhas infestadas e o período fisiológico de desenvolvimento da planta hospedeira provavelmente segue uma distribuição linear (Von Arx et al., 1984).
Baseado nestas informações, pode-se
afirmar que a folha mais indicada para
amostrar ninfas de B. argentifolii está
entre a oitava e a décima folha, contadas a partir da extremidade da rama do
meloeiro.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Distribuição vertical e setorial das ninfas de mosca-branca nas folhas do meloeiro
Tabela 1. Número médio e média geral de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae) por disco foliar de 2,8
cm2 nas folhas do meloeiro aos 49; 56 e 63 dias após o plantio. Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 2000.
1
Dados originais transformados em
Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Student-Neuman-Keul’s (P £ 0,05).
Tabela 2. Número médio de ninfas de Bemisia argentifolii Bellows & Perring (Hemíptera: Aleyrodidae) nos setores das folhas do meloeiro
aos 49; 56 e 63 dias após o plantio. Pacajús, Embrapa Agroindústria Tropical, 2000.
1
Dados originais transformados em
Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Student-Neuman-Keul’s (P £ 0,05).
Com relação à distribuição setorial,
observou-se que as ninfas concentraram-se mais nos setores proximais (DP
e EP) da folha do meloeiro, quando comparada com os setores distais (DD e ED),
nas três avaliações efetuadas no campo
(Tabela 2). Como a mosca-branca apresenta estiletes curtos, a proximidade
com a nervura central, por onde passa a
maior parte dos fotoassimilados elaborados pela folha após a fotossíntese,
deve facilitar a captação do alimento
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
(Van Lenteren & Noldus, 1990).
Ohnesorge & Rapp (1986) afirmaram
que a contagem de todas as formas imaturas presentes em uma folha é o método mais confiável para se determinar a
densidade populacional de uma praga.
No entanto, essa metodologia é muito
cansativa e demanda muito tempo, podendo se reduzir o tempo, restringindose à área examinada em setores da folha. Von Arx et al. (1984), constataram
que nos campos sudanenses de algodão,
o local de amostragem deve ser escolhido de acordo com a idade das folhas
e que somente um setor de cada folha
pode ser examinado, sendo que o tamanho da folha é determinado de acordo
com a densidade da mosca-branca e de
um nível de precisão previamente definido. Recomendam ainda que a contagem das ninfas de terceiro e quarto instares deve ser feita somente nos setores
próximos à nervura central das folhas
de algodão, observando que, para cada
469
F. R. Azevedo & E. Bleicher
variedade, o número relativo de moscabranca em cada setor da folha deve ser
estabelecido separadamente. Naranjo &
Flint (1994), trabalhando com a mesma
cultura, observaram que as ninfas de
Bemisia tabaci se distribuem igualmente
entre os quatro setores da folha, delimitados pela nervura central, sendo esse
padrão independente da localização da
folha na planta, cultivar ou período
amostral, mudando, no entanto, ligeiramente com a data amostral. De acordo
com os autores, um disco de 3,88 cm2
da base do setor esquerdo proximal da
quinta folha é suficiente para estimar a
densidade de ninfas, as quais se distribuem de forma não aleatória em todas
as folhas do algodoeiro, agregando-se
próximas do pecíolo da folha. As vantagens da utilização da folha toda, setor
ou disco para estimar a densidade das
ninfas depende da variância dos dados
e do tempo de amostragem.
Do total de ninfas contadas nos setores das folhas do meloeiro, 13,08%
foram encontradas no setor ED; 35,7%
no setor EP; 36,7% no setor DP e
470
14,25% no setor DD, evidenciando que
as ninfas concentraram-se mais nos setores proximais das folhas do meloeiro.
Ohnesorge & Rapp (1986), constataram
também que, de todas as ninfas de terceiro e quarto instares contadas nos setores delimitados pela nervura central
na folha do algodão, 21,3% foram encontradas no setor ED; 27,2% no setor
EP; 28,5% no setor DP e 23% no setor
DD. Estes resultados assemelham-se aos
da presente pesquisa, pois as moscas
mostram uma preferência pelos setores
proximais das folhas do meloeiro.
De acordo com o comportamento de
alimentação deste inseto e das observações realizadas neste trabalho, recomenda-se efetuar a amostragem das ninfas
próximo à nervura central da folha do
meloeiro.
LITERATURA CITADA
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Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação
orgânica em duas épocas de cultivo1
Magna Maria M. Ferreira2; Gilvan B. Ferreira3; Paulo Cezar R. Fontes4; José P. Dantas5
2
UEPB-EAAC, 58117-000, Lagoa Seca-PB; 3EMBRAPA Algodão, 58107-720, Campina Grande-PB; 4UFV-Depto Fitotecnia, 36571-000,
Viçosa-MG; 5UEPB- CCT, 58109-753, Campina Grande-PB
RESUMO
ABSTRACT
A produção de frutos de tomateiro em resposta a doses de nitrogênio e à adubação orgânica foi avaliada em dois experimentos de
campo conduzidos na primavera-verão e no outono-primavera, em
1999. Os experimentos foram instalados Universidade Federal de
Viçosa, em solo da classe Argissolo Vermelho-Amarelo Câmbico.
Em ambos, as doses de N aplicadas, na forma de nitrocálcio, foram
0, 110, 220, 440 e 880 kg/ha e as doses de matéria orgânica, na
forma de esterco bovino curtido, foram 0 e 8 t/ha. Os experimentos
seguiram o delineamento em blocos ao acaso, no arranjo fatorial 5x2,
com quatro repetições. A produtividade foi influenciada pelas doses
de N, nos dois níveis de matéria orgânica, nas duas épocas. No experimento de primavera-verão, as máximas produções total, comercial e
extra foram 44,78; 25,10 e 23,52 t/ha, obtidas com as doses de 530,2;
464,2 e 434,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, sem adição de
matéria orgânica; e 45,75; 25,87 e 24,53 t/ha, obtidas com as doses de
574,2; 513,3 e 599,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, com adição de matéria orgânica. No experimento de outono-primavera, as
produções foram 99,37; 78,87 e 69,93 t/ha, obtidas com as doses de
525,4; 533,9 e 557,5 kg/ha de nitrogênio, respectivamente, sem adição de matéria orgânica; e 108,74; 87,08 e 78,09 t/ha, obtidas com as
doses de 589,6; 575,3 e 557,4 kg/ha de nitrogênio, respectivamente,
com adição de matéria orgânica. A adição de matéria orgânica ao solo
aumentou a dose do adubo nitrogenado necessária à obtenção das
máximas produções total, comercial e extra de frutos de tomate, em
ambas as épocas de plantio.
Tomato plants production as a function of nitrogen doses
and organic fertilization for two sowing times
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum L., adubação nitrogenada,
adubação orgânica, esterco bovino, produtividade, épocas de plantio.
Keywords: Lycopersicon esculentum L., nitrogen fertilization,
organic fertilization, bovine manure, yield, sowing times.
The tomato plants yield as a result of nitrogen doses and organic
fertilization was evaluated in two field experiments carried out in
spring-summer and autumn-spring, in 1999. The experiments were
installed the Federal University of Viçosa, in a Cambic Red-Yellow
Argisol. In both, the N doses applied, in the nitrocalcium form, were
0, 110, 220, 440 and 880 kg/ha and the doses of organic matter, in
the form of hardened bovine manure, were 0 and 8 t/ha. The
experimental design was of randomized blocks, in the factorial
scheme 5 x 2, with four replications. The productivity was influenced
by N doses, in the two levels of organic matter, in two times. In the
spring-summer experiment, the maximum total, commercial and
extra productions were 44.78; 25.10 and 23.52 t/ha, obtained with
the doses of 530.2; 464.2 and 434.8 kg/ha of nitrogen, respectively,
without organic matter; and 45.75; 25.87 and 24.53 t/ha, obtained
with the doses of 574.2; 513.3 and 599.8 kg/ha of nitrogen,
respectively, with organic matter. In the autumn-spring experiment,
the productions were 99.37; 78.87 and 69.93 t/ha, obtained with the
doses of 525.4; 533.9 and 557.5 kg/ha of nitrogen, respectively,
without organic matter; and 108.74; 87.08 and 78.09 t/ha, obtained
with the doses of 589.6; 575.3 and 557.4 kg/ha of nitrogen,
respectively, with organic matter. The addition of organic matter in
soil increased the nitrogen fertilizer dose necessary for obtain the
tomato plants maximum total, commercial and extra productions, in
both times sowing.
Aceito para publicação em
O
crescimento e a produção do tomateiro e de outras culturas de importância econômica dependem, além de
outros fatores, de adequado suprimento
de nutrientes pelo solo às plantas. Sendo assim, para se obter alta produção de
frutos comercializáveis é necessário
conhecer os seus requerimentos
nutricionais. Levando-se em conta os
processos fisiológicos das plantas, o N,
comparado aos outros nutrientes, tem
maior efeito sobre as taxas de crescimento e absorção de elementos, sendo,
portanto, mais importante em termos de
controle da nutrição ótima das culturas
(Huett & Dettmann, 1988).
O crescimento e a produção em resposta ao N têm sido muito pesquisados
em muitas espécies vegetais cultivadas
e algumas silvestres. No tomateiro, a
elevação no nível de N fornecido às
plantas aumenta o peso de matéria seca
das raízes, do caule, das folhas e dos frutos, a altura da planta, o número de folhas, a área foliar, o florescimento, a
frutificação e a produtividade. Sob condições de campo, a nutrição ótima dessa cultura pode ser alcançada quando a
quantidade aplicada de fertilizantes
nitrogenados é igual a alta demanda que
ocorre durante o período de crescimento dos frutos (Huett & Dettmann, 1988,
Singh & Sharma, 1999).
¹ Parte da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor a UFV, financiado pelo CNPq
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
471
M. M. M. Ferreira, et al.
As exigências nutricionais do tomateiro podem ser supridas pela adição ao solo
de fertilizante químico, de matéria orgânica ou de ambos. A produção de frutos é
possível com a prática alternativa de fertilização do solo com matéria orgânica
(Rahman et al., 1997; Hunter &
Tuivavalagi, 1998) devido à alta concentração de N normalmente presente na mesma (Atiyeh et al., 2000). A disponibilidade
de N para as plantas depende da taxa de
mineralização da matéria orgânica, que vai
depender da quantidade de N imobilizado
disponível na mesma; da temperatura, da
umidade, do pH e da aeração do solo; das
perdas do N por lixiviação e da relação
carbono:nitrogênio do material. Foi constatado que valores mais altos de produtividade são obtidos quando se adiciona N
mineral à matéria orgânica (Salek et al.,
1981; Francis & Cooper, 1998).
O tomateiro, devido à sua importância econômica, é explorado em ampla
faixa de condições climáticas. No entanto, para que os rendimentos sejam ótimos, esta cultura tem requerimentos específicos. Na região Sudeste em altitudes em torno de 600 m, as melhores produções são obtidas em épocas de precipitação e temperatura baixas, normalmente no período de outono-primavera.
A chamada “época não ótima” caracteriza-se por elevadas temperaturas, altas
umidade relativa, radiação solar e precipitação pluviométrica. Estas condições
são consideradas adversas ao cultivo do
tomateiro por favorecer o desenvolvimento de pragas e doenças, acelerar os
processos de respiração, floração e formação dos frutos (Sam & Iglesias, 1994),
causar desenvolvimento vegetativo reduzido, aumentar a taxa de abortos florais
e produzir frutos de baixa qualidade, diminuindo, desta forma, os rendimentos
econômicos (Dominí et al., 1993). É possível que nesta época do ano a quantidade de N deva ser diferente da utilizada
na época mais favorável.
Diante do exposto, o objetivo deste
trabalho foi avaliar os efeitos de doses
de nitrogênio e da adubação orgânica
sobre a produção do tomateiro em duas
épocas de plantio: primavera-verão e
outono-primavera.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos dois experimentos, na primavera-verão e no outono-pri472
mavera. Os mesmos foram instalados em
áreas localizadas na Horta do Fundão da
Universidade Federal de Viçosa.
O experimento de primavera-verão
foi conduzido no campo, a céu aberto,
de 13 de novembro de 1998 a 11 de fevereiro de 1999. O de outono-primavera
foi conduzido entre 14 de maio e 27 de
outubro de 1999. Ambos foram conduzidos em solo da classe Argissolo Vermelho-Amarelo Câmbico em duas áreas
distintas, o qual apresentou as seguintes
características químicas: N mineral (NNO3- + N-NH4+) = 39,81 kg/ha, na camada de 0-20 cm; P = 21 mg/dm3; K+ = 51
mg/dm3; Ca2+ = 0,9 cmolc/dm3; Mg2+ =
0,0 cmolc/dm3; Al3+ = 0,3 cmolc/dm3; H
+ Al = 3,3 cmolc/dm3 e pH = 4,3; no experimento de primavera/verão; e N mineral (N-NO3- + N-NH4+) = 24,62, 15,04
e 13,12 kg/ha, nas camadas de 0-20, 2040 e 40-60 cm, respectivamente; P = 86
mg/dm3; K+ = 85 mg/dm3; Ca2+ = 0,9
cmolc/dm3; Mg2+ = 0,0 cmolc/dm3; Al3+ =
0,3 cmolc/dm3; H + Al = 3,3 cmolc/dm3 e
pH = 5,8; no experimento de outono/primavera; e a seguinte granulometria (fração textural): argila = 50 e 51%, silte =
16 e 12% e areia=34 e 37%, nos experimentos de primavera/verão e outono/primavera, respectivamente.
Nos dois experimentos, os tratamentos foram constituídos de cinco doses
de nitrogênio (0, 110, 220, 440 e 880
kg/ha), em presença ou não de adubação orgânica. A fonte desse nutriente foi
o nitrocálcio. Os dois níveis de matéria
orgânica foram 0 e 8 t/ha de esterco bovino curtido, em base seca. Os tratamentos foram distribuídos no delineamento
em blocos ao acaso, com quatro repetições, perfazendo 40 parcelas.
As plantas de tomateiro cv. Santa
Clara foram conduzidas no espaçamento
de 1,0 m entre fileiras e 0,5 m entre plantas, no total de 28 plantas por parcela (4
fileiras com 7 plantas cada), sendo consideradas úteis as 10 plantas centrais da
parcela.
As doses de N foram parceladas da
seguinte maneira: 10% no momento do
transplante, nos sulcos, e 15% aos 21,
35, 49, 63, 77 e 91 dias após o transplante (DAT), em cobertura, ao lado das
plantas, em meia-lua.
Nos dois experimentos, o tomateiro
foi conduzido em haste única, com
tutoramento em cerca cruzada, tendo
sido podado três folhas acima da sexta
inflorescência. As irrigações por sulco
foram realizadas quando necessárias, em
complementação ao volume de água
precipitado pelas chuvas.
Os frutos foram colhidos quando a
coloração estava avermelhada, no experimento de primavera-verão e cor-decana, no experimento de inverno/ primavera devido ao ataque de pardais.
Nos dois experimentos, os frutos
sem defeitos foram classificados de
acordo com o diâmetro transversal (D)
em Graúdo AAA (D = 80,7), Graúdo AA
(69,7 = D < 80,7), Graúdo A (60,0 = D
< 69,7), Médio extra (54,8 = D < 60,0),
Médio especial (50,0 = D < 54,8), Pequeno (40,0 = D < 50,0) e Refugo (D <
40,0). Foi considerada como produção
de frutos extra, o somatório dos pesos
dos frutos das quatro primeiras classes
e como produção comercial o somatório
dos pesos dos frutos das seis primeiras
classes. A produção não-comercial de
frutos correspondeu ao somatório dos
pesos dos frutos com diâmetro < 40 mm
(refugo) e dos frutos desqualificados
devido a ocorrência de podridão apical,
broca, rachaduras, Alternaria solani e
outras anomalias. A produção total foi
obtida pelo somatório das produções
comercial e não-comercial.
Calculou-se também a produção
ponderada ou equivalente dos frutos
extra AA (PEAA), utilizando-se os fatores de ponderação de 1,000; 0,625 e
0,375, baseando-se nos preços das classes extra AA (US$ 4,37/cx), extra A
(US$ 2,73/cx) e extra (US$ 1,64/cx) do
tomate tipo Santa Cruz, comercializado
em caixa tipo K, obtidos no mês de junho de 2000 junto a CEASA de Belo
Horizonte (Ceasa, 2000).
Após a última colheita, em ambos
os experimentos, as plantas úteis de cada
parcela foram coletadas, cortando-se os
caules rentes ao solo, e colocadas em
sacos individuais. Cada saco foi pesado
para a determinação do peso de matéria
fresca. Posteriormente, tomou-se, da
área útil de cada parcela, uma planta ao
acaso, a qual foi seca em estufa de circulação forçada de ar a 70°C, até peso
constante, para determinação da percentagem de matéria seca. Esse valor foi
utilizado no cálculo do peso de matéria
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo
seca de todas as plantas remanescentes da
área útil e, em seguida, calculou-se o peso
médio de matéria seca de cada área útil.
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância e de regressão,
sendo que foram ajustados relacionando-se as variáveis dependentes às doses
de N aplicadas, em cada nível de matéria orgânica. Os modelos de regressão
testados foram: lineares, quadráticos e
raiz-quadráticos. Escolheu-se o modelo com base no significado biológico,
na significância dos coeficientes de regressão até 10% de probabilidade, pelo
teste t, e no maior coeficiente de determinação.
A dose de N que proporcionou a
máxima produção física equivalente a
frutos extra AA (produção de máxima
eficiência física = MEF) foi obtida
igualando-se a primeira derivada da
equação correspondente à produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) ao valor zero. A dose de N que proporcionou a
máxima eficiência econômica (máximo
retorno econômico = MEE) foi obtida
igualando-se a primeira derivada da
equação correspondente a PEAA a 0,005,
correspondente a relação entre os preços
do nitrogênio (US$ 0,92/kg) e do tomate
extra AA (US$ 198,71/t) obtidos no mês
de junho de 2000 junto a CEASA de Belo
Horizonte (Ceasa, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Experimento de primavera-verão
Produção de frutos
A produção do tomateiro aumentou
com a aplicação de N, nos dois níveis
de matéria orgânica. Sem adubação orgânica, as máximas produções total,
comercial e extra foram 44,78; 25,10 e
23,52 t/ha, obtidas com as doses 530,2;
464,2 e 434,8 kg/ha de nitrogênio, respectivamente. Com adição de matéria
orgânica ao solo, tais produções foram
45,75; 25,87 e 24,54 t/ha, obtidas com
as doses 574,2; 513,3 e 599,8 kg/ha de
nitrogênio, respectivamente (Figura 1a).
Tais produções máximas estão aquém
daquelas encontradas em condições de
campo por Silva et al. (1997), com a
mesma cultivar utilizada no presente
experimento (Santa Clara), e Guimarães
(1998), com o tomate híbrido DéboraPlus, no mesmo local e época do presenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Produções total (PT), comercial (PC) e “extra” (PE) de frutos do tomateiro em
função das doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos
de primavera-verão (a) e de outono-primavera (b). Viçosa-MG, 1999.
te experimento. Silva et al. (1997) encontraram o valor de 157,6 t/ha para a
máxima produção comercial com a aplicação de 200 kg/ha de N. Já Guimarães
(1998) encontrou os valores 62,9; 48,0 e
43,6 t/ha para as máximas produções total, comercial e extra, respectivamente,
com a aplicação de 500 kg/ha de N.
Os baixos valores das produções
máximas foram em virtude, talvez, das
condições climáticas reinantes nessa
época do ano (altas temperaturas, umidade relativa do ar e precipitações). Já
foi demonstrado, em várias espécies,
incluindo o tomateiro, que as altas temperaturas interferem negativamente no
desenvolvimento reprodutivo da planta. Em geral, temperaturas altas resultam em maior percentagem de abortos
florais (Willits & Peet, 1998). Estudo
desenvolvido por Moore & Thomas
(1952) indicou que temperaturas máximas e mínimas acima de 32 e 21°C, respectivamente, proporcionam baixa
frutificação no tomateiro devido aos
efeitos diretos sobre o pólen e outros
tecidos reprodutivos, aos baixos níveis
de carboidratos e aos desbalanços
hormonais.
As doses de N responsáveis pela
máxima produção total, nos dois níveis
de matéria orgânica, foram superiores
aos 200 kg/ha, que é a dose de N recomendada para o tomateiro estaqueado,
no estado de Minas Gerais, em condições de campo, segundo a 4a e a 5a aproximações (Comissão de Fertilidade do
Solo do Estado de Minas Gerais, 1989;
Filgueira et al., 1999), e aos 280-380 kg/
ha de N, doses recomendadas para o tomateiro estaqueado no estado de São
Paulo, em condições de campo (Instituto Agronômico e Fundação IAC, 1996).
Os elevados valores indicam baixa eficiência no uso do nitrogênio pelo tomateiro nesta época do ano, considerada
pouco propícia ao desenvolvimento da
cultura no campo. Possivelmente, as altas precipitações ocorridas durante o
desenvolvimento do tomateiro contribuíram substancialmente para a lixiviação
do N-NO3- aplicado e, conseqüentemente, para diminuição na eficiência do uso
do fertilizante nitrogenado utilizado na
adubação, conforme também constatado
por Karaman et al. (1999), trabalhando
com tomateiro nas condições da Turquia.
A produção equivalente a frutos extra AA ou ponderada possibilita melhor
avaliação dos resultados, visto que fornece noção do seu possível valor econômico (Camargos, 1998). Tais produções de máxima eficiência física ficaram abaixo do valor encontrado por
473
M. M. M. Ferreira, et al.
*, ** e *** Significativos a 5, 1 e 0,1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t.
Figura 2. Produção equivalente a frutos extra AA (PEAA) ou ponderada do tomateiro em
função das doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos
de primavera-verão (a) e de outono-primavera (b). Viçosa-MG, 1999.
*, ** e *** Significativos a 5, 1 e 0,1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t.
Figura 3. Matéria seca remanescente da parte aérea (MSPA) do tomateiro em função das
doses de nitrogênio (N) e da matéria orgânica (MO, em t/ha), dos experimentos de primavera-verão (a) e de outono-inverno (b). Viçosa-MG, 1999.
Guimarães (1998) para o híbrido de tomateiro Débora-Plus, o qual foi de 31,08
t/ha, o que se deveu a alta percentagem
de frutos não comerciais constatada no
experimento. Já as doses de N necessárias para a obtenção de tais produções
ficaram acima da encontrada por Guimarães (1998), que foi de 500 kg/ha.
Quando não se adicionou matéria
orgânica ao solo, a produção equivalente
a frutos extra AA (PEAA) de máxima eficiência física foi de 15,20 t/ha, obtida
com a dose 603,4 kg/ha de N (Figura
2a). A dose necessária para propiciar
PEAA de máxima eficiência econômica foi 355,2 kg/ha de N, sendo esta produção igual a 14,70 t/ha. Com matéria
orgânica adicionada ao solo, a PEAA de
máxima eficiência física foi 15,98 t/ha,
obtida com a dose 564,8 kg/ha de N. A
dose necessária a PEAA de máxima eficiência econômica foi 310,2 kg/ha de N,
sendo esta produção igual a 15,48 t/ha.
Vê-se claramente que, nessa época do
ano (primavera/verão), nos dois níveis
de adubação orgânica, as doses de nitrogênio que causam produção máxima
são bastante superiores àquelas do re474
torno econômico máximo, indicando
não ser economicamente viável o uso
de altas doses de fertilizantes
nitrogenados.
Nesta época, nas doses 0 e 8 t/ha de
matéria orgânica, respectivamente, seria possível atingir 90% da PEAA máxima (13,68 e 14,38 t/ha) aplicando-se
250,3 e 192,0 kg/ha de N, ou seja, 33,3
e 28,9% da dose responsável pela PEAA
máxima. Desta forma, para se obter produtividades entre 90 e 100% da PEAA
máxima (de 13,68 a 15,20, sem adição
de matéria orgânica, e de 14,38 a 15,98
t/ha, com adição) seriam necessárias
doses de N variando entre 250,3 e 709,9
e entre 192,0 e 664,5 kg/ha. Isto é, houve a amplitude de apenas 1,52 e 1,60 t/
ha na PEAA proporcionada pela amplitude de 459,6 e 472,5 kg/ha de N, sem e
com adição de matéria orgânica no solo,
respectivamente.
Matéria seca remanescente da
parte aérea
A matéria seca da parte aérea, remanescente após a última colheita de frutos, aumentou com as doses de N, atin-
gindo os valores máximos de 2118,4 e
2325,6 g/parcela (1513,1 e 1661,1 kg/
ha) com as doses 814,6 e 722,6 kg/ha
de N, sem e com adição de matéria orgânica ao solo, respectivamente (Figura 3a). As doses de N para a máxima
produção total de frutos (Figura 1a) foram inferiores àquelas para a máxima
produção de matéria seca (Figura 3a),
indicando que o fornecimento de doses
muito elevadas de N não causou aumento na produtividade de frutos, apenas na
produção de matéria seca da parte aérea.
Normalmente, os crescimentos
vegetativo e reprodutivo ocorrem simultaneamente, não competindo entre si por
nutrientes ou fotoassimilados porque os
frutos, para crescerem, utilizam os fatores de crescimento que estão sendo
absorvidos ou produzidos no momento
da sua formação. Além disto, em condições normais, o potencial fotossintético
das folhas de tomateiro parece exceder
o requerimento dos órgãos de crescimento e, desta forma, as folhas, geralmente, continuam a crescer mesmo
quando os frutos estão em crescimento
(Tanaka et al., 1974a), sendo que a taxa
fotossintética aparente correlaciona-se
positivamente com os teores de nitrogênio do solo (Tanaka et al., 1974c).
É importante ressaltar que nesta época, devido às condições climáticas, houve uma maior incidência de doenças.
Assim, ao final do curto ciclo, as plantas estavam com péssima aparência,
com intensos sintomas de doenças nas
folhas e, muitas delas, caídas ao chão.
Deste modo, não foi possível serem colhidas todas e avaliadas quanto à matéria seca remanescente da parte aérea
após a última colheita dos frutos.
Experimento de Outono-primavera
Produção de frutos
A produtividade do tomateiro aumentou com a aplicação de N, nos dois
níveis de matéria orgânica testados, concordando com os resultados obtidos por
Sainju et al. (2000). Na ausência da adubação orgânica, as máximas produções
total, comercial e extra foram: 99,37;
78,87 e 69,93 t/ha, obtidas com as doses de 525,4; 533,9 e 557,5 kg/ha de N,
respectivamente. Com adição de matéria orgânica ao solo, tais produções foram 108,74; 87,08 e 78,09 t/ha, obtidas
com as doses 589,6; 575,3 e 557,4 kg/
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produção do tomateiro em função de doses de nitrogênio e da adubação orgânica em duas épocas de cultivo
ha de N, respectivamente (Figura 1b).
As produções máximas estão acima
do dobro das de primavera-verão. Isso
ocorreu em virtude das condições climáticas na época de outono-primavera
serem mais propícias à produção do tomateiro. Os rendimentos obtidos ficaram acima daqueles encontrados por
Sampaio (1996) no mesmo local e época do presente experimento, os quais
foram 53,9 e 38,8 t/ha para as produções total e comercial da cultivar Santa
Clara, respectivamente, e por Valenzuela
& Erquiaga (1997) em cultivo comercial de tomateiro na Argentina, o qual foi
de 70,5 t/ha. Fayad (1998), trabalhando
no mesmo local e na mesma época do
presente experimento, encontrou valores de 94,8 e 88,6 t/ha para as produções total e comercial, respectivamente, com a cultivar Santa Clara. Tais valores estão próximos dos constatados no
presente experimento. Já Loures et al.
(1998), trabalhando esta cultivar em
condições de estufa, encontrou um valor de 162 t/ha para a produção comercial, ou seja, bem acima dos observados na presente pesquisa. Segundo Ali
et al. (1996), as condições climáticas,
especialmente a temperatura, exercem
papel fundamental no crescimento e na
produtividade do tomateiro. A temperatura influencia a viscosidade da água
dentro da planta, a permeabilidade das
membranas, a atividade metabólica, a
absorção, a translocação e a assimilação de nutrientes e a força dos drenos
no tomateiro. Todos esses fatores influenciam de maneira significativa as produções desta cultura.
As doses de N responsáveis pela
máxima produção total, nos dois níveis
de matéria orgânica, foram superiores à
dose de N recomendada para o tomateiro estaqueado no estado de Minas Gerais pela 4ª aproximação (Comissão de
Fertilidade do Solo do Estado de Minas
Gerais, 1989), e também pela 5ª aproximação (Filgueira et al., 1999).
Seria possível obter 90% da PEAA
máxima (38,03 e 42,77 t/ha) aplicandose 256,3 e 258,1 kg/ha de N, ou seja,
43,8 e 45,2% da dose responsável pela
PEAA máxima, nas doses 0 e 8 t/ha de
matéria orgânica, respectivamente. Desta forma, para se obter produtividades
entre 90 e 100% da PEAA máxima (de
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
38,03 a 42,26, sem adição de matéria
orgânica, e de 42,77 a 47,52 t/ha, com
adição) seriam necessárias doses de N
variando entre 256,3 e 584,8 e entre
258,1 e 571,1 kg/ha de N. Isto é, as
amplitudes de 4,23 e 4,75 t/ha na PEAA
corresponderiam às amplitudes de 328,5
e 313,0 kg/ha de N, sem e com adição
de matéria orgânica ao solo, respectivamente.
As produções equivalentes a frutos
extra AA (PEAA) ou ponderadas físicas máximas, constatadas nesta época,
foram aparentemente superiores às do
experimento de primavera/verão, porém
as doses de N necessárias para atingirem tais produções foram semelhantes
nos dois experimentos.
Quando não se adicionou matéria
orgânica ao solo, a produção equivalente
a frutos extra AA (PEAA) de máxima
eficiência física foi 42,26 t/ha, obtida
com a dose 584,8 kg/ha de N (Figura
2b). A dose para a PEAA de máxima
eficiência econômica, 42,12 t/ha, foi
525,8 kg/ha de N. Com matéria orgânica adicionada ao solo, a PEAA de máxima eficiência física foi 47,52 t/ha, com
a dose 571,1 kg/ha de N. A dose para a
PEAA de máxima eficiência econômica, 47,41 t/ha, foi 523,4 kg/ha de N. Isto
é, sem e com matéria orgânica, as doses
de nitrogênio para a máxima produção
econômica foram 90 e 92% daquelas
para a máxima produção física.
Matéria seca remanescente da
parte aérea
A matéria seca da parte aérea, remanescente após a última colheita de frutos, aumentou linearmente com as doses de N, sem e com adição de matéria
orgânica ao solo (Figura 3b). O aumento contínuo na produção de matéria seca
da parte aérea (Figura 3b) não foi acompanhado pelo aumento na produção total de frutos (Figura 1b), indicando que
o fornecimento de doses muito elevadas de N não causou aumento na produtividade, apenas na biomassa verde.
Os valores encontrados na matéria
seca remanescente da parte aérea no presente experimento (Figura 3b), em todos os tratamentos, foram, aparentemente, superiores àqueles do experimento
de primavera-verão (Figura 3a). Segundo Sam & Iglesias (1993), o desenvolvimento do tomateiro tem requerimen-
to específico de temperatura e umidade. Também, as condições climáticas do
período
de
outono-primavera
desfavoreceram a incidência de doenças. Assim, após a última colheita dos
frutos, ao contrário do que ocorreu no
experimento de primavera-verão, as
plantas apresentaram bom aspecto visual, com poucos sinais de doenças nas
folhas e reduzida abcisão das mesmas.
A adição de matéria orgânica ao solo
aumenta a dose do adubo nitrogenado
necessária à obtenção das máximas produções total, comercial e extra de frutos de tomate, independente da época de
plantio.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos funcionários da Horta do Fundão da Universidade Federal de Viçosa que viabilizaram
a execução dos experimentos de campo.
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Influência da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela
cultivados em ambiente protegido
José Usan T. Brandão Filho1; Rumy Goto2; Vandeir Francisco Guimarães3; Gustavo Habermann3; João
D. Rodrigues3; Osni Callegari1.
1
UEM, Depto. Agronomia, Av. Colombo, 5790, 87020-900 Maringá-PR; E-mail: [email protected]; 2UNESP, Depto. Produção Vegetal,
C. Postal 237, 18603-970 Botucatu–SP; 3UNESP, Depto. Botânica, C. Postal 510, 18618-000 Botucatu–SP
RESUMO
ABSTRACT
Compararam-se os efeitos da enxertia nas trocas gasosas de dois
híbridos de berinjela em pé franco e enxertado. Conduziu-se um
ensaio em ambiente protegido, na FCA/UNESP, em estrutura simples, tipo arco com 7 m de largura, 40 m de comprimento e 3 m de
pé direito, cobertos por filme plástico de 100 mm. Foram utilizados
os híbridos de berinjela Nápoli e Kokuyo, enxertados em porta-enxerto específico (híbrido Taibyo VF) para esta espécie. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos (Nápoli pé franco, Nápoli enxertada, Kokuyo pé franco e Kokuyo enxertada) e dez repetições. A assimilação líquida de
CO2 (A), transpiração (E), condutância estomática (gs) e eficiência
no uso de água (EUA), obtida pela relação (A/E), foram determinadas às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00 horas em um dia sem nebulosidade com fluxo de fótons fotossinteticamente ativos (FFFA) de 937±126
mmol m-2 s-1, com um sistema fechado portátil de fotossíntese, IRGA,
modelo LI-6200 (LI-COR). Observou-se que as plantas do híbrido
Kokuyo apresentaram maiores valores para as variáveis A, E, gs e
EUA que o híbrido Nápoli. A enxertia não afetou a capacidade
fotossintética dos híbridos, porém, esta resultou em menores valores de E e gs nos dois híbridos, levando à maior EUA, efeito este que
na prática pode resultar em menor demanda de água pelas plantas.
Grafting effect on leaf gas exchange rates of two eggplant
hybrids cultivated in greenhouse
Palavras-chave: Solanum melongena L., fotossíntese, transpiração,
híbridos.
Leaf gas exchange rates of grafted and non-grafted eggplant
hybrids were compared under greenhouse conditions. The experiment
was conducted in a plastic house (7m in width, 40 m in length and 3
m in height), covered with 100 mm plastic film. Hybrids Napoli and
Kokuyo were grafted on the Taibyo VF hybrid, a specific rootstock
for eggplant grafting. The experimental design was a completely
randomized design with four treatments (non-grafted Napoli hybrid;
grafted Napoli hybrid; non-grafted Kokuyo hybrid and grafted
Kokuyo hybrid) and ten replications. Net CO2 assimilation (A) and
transpiration (E) rates, stomatal conductance (gs) and water use
efficiency (EUA) were measured at 09:00; 12:00; 14:00 and 16:00 h
on a non-cloudy day with photosynthetic active radiation (PAR) of
937±126 mmol m-2 s-1, with a close photosynthesis system, IRGA,
LI-6200 (LI-COR). Results showed that Kokuyo hybrid presented
greater A, E, gs and EUA when compared to Napoli hybrid. None of
the hybrid’s photosynthetic capacities were affected by the grafting,
but the same caused lower E and gs on both hybrids, leading to greater
EUA, which in practice may result in less water demand.
Keywords: Solanum melongena L., photosynthesis, transpiration,
hybrid.
(Recebido para publicação em 06 de fevereiro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003)
A
produção em ambiente protegido
apresenta-se como alternativa para
o produtor, em uma economia competitiva, uma vez que permite redução de
perdas e aumento da produtividade de
diversas culturas. Entretanto vários são
os casos de insucesso, levando muitos
agricultores a abandonarem a atividade
após algum tempo. Desde o início do
cultivo protegido no Brasil, as hortaliças mais utilizadas são o pimentão, alface, tomate e pepino. Entretanto, nos
últimos anos, algumas culturas vêm ganhando destaque. Dentre estas a berinjela (Solanum melongena L.), cultura
pouco estudada sob plasticultura, vem
despertando interesse por suas propriedades nutracêuticas, existindo evidências de sua ação na redução do colesterol
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
no organismo humano (Santos et al.,
2000).
O uso intensivo do solo, seu manejo
inadequado e a utilização inadequada de
adubos, vêm resultando em solos com
sérios problemas fitossanitários
nutricionais. Uma das alternativas para
solucionar estes problemas é a possibilidade de enxertia em porta-enxertos
resistentes ou tolerantes. Segundo
Kobori (1999) esta prática vem sendo
utilizada em pimentão para obtenção de
frutos de melhor qualidade, maior produtividade e adaptação a temperaturas
adversas, além do controle de doenças
de solo. A enxertia em berinjela vem
ganhando destaque nos últimos anos,
principalmente nos países asiáticos e
europeus. Oda (1995) relatou que, em
campo aberto, 43% das berinjelas são
enxertadas e 95% no cultivo protegido,
totalizando cerca de 50% da berinjela
plantada no Japão.
Oda (1995), trabalhando com o porta-enxerto híbrido Taibyo VF para a berinjela, enumera as suas principais vantagens: controle de murcha-bacteriana
(Ralstonia solanacearum), murcha-deverticílio (Verticillium dahliae), murchade-fusário (Fusarium oxysporum), tolerância às baixas temperaturas,
nematóides e aumento do vigor da planta. Ohara et al. (1990) e Shishido et al.
(1995), relataram as vantagens do portaenxerto híbrido Taibyo VF (Solanum
integrifolium x Solanum melongena),
conseguindo resistência à murcha-deverticílio e murcha-de-fusário, tolerância
477
J. U. T Brandão Filho, et al.
a temperaturas baixas e grande vigor.
A produtividade é influenciada por
características morfológicas e fisiológicas da fonte (órgãos fotossintetizantes)
e do dreno (órgãos consumidores dos
metabólitos
fotossintetizados,
carboidratos principalmente). Toda produção de fitomassa depende da atividade fotossintética da fonte, porém a assimilação do CO2 é apenas um dos muitos fatores que influenciam o crescimento e desenvolvimento vegetal (Foyer &
Galtier, 1996). Desta forma, buscar mais
informações sobre a fisiologia da fonte
torna-se de fundamental importância, e
uma forma muito utilizada para estudála é por meio de medidas de trocas gasosas.
Kim & Hori (1989), estudando a
capacidade fotossintética das folhas de
berinjela, mostraram valores máximos
em torno de 22 mmol CO2 m-2 s-1 e que
as taxas fotossintéticas dependiam da
idade das folhas e correlacionavam diretamente com o teor de clorofila das
mesmas. Estes valores são considerados
altos, levando em consideração que a
berinjela é uma planta de ciclo C 3
(Pimentel et al., 1995). Ikeda (1981)
verificou que a taxa fotossintética de
mudas de berinjela, tomate e pepino,
também variava de acordo com o
posicionamento da folha.
Deve-se destacar que, em estudos
visando ganhos em produtividade, é
importante buscar informações sobre
assimilação de CO2, bem como sobre a
eficiência do uso da água para esta assimilação. Pouco se tem estudado sobre
trocas gasosas para esta cultura, principalmente relacionado à enxertia. Neste
contexto, o presente trabalho objetivou
comparar os efeitos da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela, em pé franco e enxertadas, cultivadas em ambiente protegido.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em
ambiente protegido, em módulo de estrutura simples, tipo arco com 7 m de
largura, 40 m de comprimento (280 m2)
e 3 m de pé direito, cobertos por filme
de polietileno de baixa densidade de 100
mm, na FCA/UNESP, campus de
Botucatu. A área experimental está em
478
altitude média de 750 metros, precipitação e temperatura média anual de 1530
mm e 21°C, respectivamente, com um
latossolo vermelho amarelo fase arenosa,
textura média e relevo suave ondulado.
O solo foi preparo com implemento
“picão canteirador 1.5 MAFES” que
permitiu incorporação uniforme da vegetação e movimentação do solo a aproximadamente 50 cm de profundidade,
em 02/08/99.
Os resultados da análise química do
solo revelaram na Estrutura 1:
6,4pHCaCl2; 13 g dm-3 matéria orgânica,
120 mg dm-3 de P; 1,1mmolcdm-3 de K;
52mmolcdm-3 de Ca; 11mmolcdm-3 de
Mg; e 11mmolcdm-3 de H + Al e V% de
86. Na Estrutura 2: 6,6 pHCaCl2; 10 g dm3
matéria orgânica, 62 mg dm-3 de P; 0,8
mmolcdm-3 de K; 35 mmolcdm-3 de Ca;
12 mmolcdm-3 de Mg; e 10 mmolcdm-3
de H + Al e V% de 82. Com base nesta
análise, foram aplicadas na área total da
estufa: 5,0 kg de sulfato de amônio; 25,0
kg de superfosfato simples; 15,0 kg de
cloreto de potássio; 0,7 kg de sulfato de
zinco; 0,35 kg de bórax e o composto
orgânico Biomix na base de 1,5 kg m-2,
sendo em seguida incorporados ao solo.
Utilizou-se no ensaio dois híbridos
de berinjela: a brasileira ‘Nápoli’
(Agroflora/Sakata) e a japonesa
‘Kokuyo’ (Sumitomo Corporation do
Brasil), enxertados e em pé franco,
totalizando-se quatro tratamentos. O
porta-enxerto utilizado foi o híbrido
Taibyo VF, que apresenta resistência à
murcha-de-verticílio e murcha-defusário, vigor e alta tolerância a baixas
temperaturas.
As mudas foram produzidas em viveiro, em bandejas de poliestireno expandido de 128 células, com o substrato
produzido no local: 150 L de terra peneirada, 50 L de húmus, 50 L de casca
de arroz carbonizada, 50 L de esterco
de curral e 1,5 kg de adubo 04-14-08.
Semeou-se o porta-enxerto em 24/07/99
e quatro dias após, foram semeados os
dois híbridos comerciais.
A escolha da técnica de enxertia foi
baseada no melhor pegamento e na
praticidade do método de enxertia de
topo (Shishido et al., 1995), sendo esta
realizada quando o porta-enxerto apresentava de 5 a 6 folhas totalmente expandidas e as plantas de berinjela com
4 a 5 folhas, em 04/11/99. Os porta-enxertos foram transplantados para copos
de 300 mL e após o pegamento, fez-se
um corte longitudinal de aproximadamente 1,0 cm na haste do porta-enxerto. Em seguida realizou-se um corte em
forma de cunha no enxerto, deixandose 2 a 3 folhas definitivas. Estes foram
fixados com clipe para enxertia, e levados para uma câmara úmida, com umidade superior a 90% e temperatura média de aproximadamente 30oC, permanecendo neste ambiente por 13 dias.
Após esse período, ficaram por mais 12
dias no viveiro de produção de mudas
para aclimatação.
Dentro do ambiente protegido, foram feitas 4 leiras espaçadas de 1,5 m,
cobertas com filme de polietileno preto
com 30 micra, no espaçamento de 0,8
m entre plantas, onde foi feito o transplante das mudas.
Utilizou-se sistema de irrigação por
gotejo (StreamLine 8 mil/Netafin, 1,49
L/h/03 mca), com duas linhas por canteiro. Devido às boas condições de desenvolvimento da cultura realizou-se
apenas adubação potássica de cobertura, a partir do 73º dia após o transplante, sendo esta realizada juntamente com
a água de irrigação. Os fertilizantes foram colocados no sistema de irrigação
por meio de uma bomba injetora proporcional de fertilizantes (modelo DP
30-2 DOSMATIC).
Os tratamentos fitossanitários foram
realizados de acordo com a ocorrência
de pragas e/ou doenças. As principais
pragas observadas foram a mosca-branca (Bemisia argentifolii) e o ácaro-dobronzeamento (Aculops lycopersici).
As determinações de trocas gasosas
foram realizadas com um sistema fechado portátil de fotossíntese, IRGA, modelo LI-6200 (LI-COR), sempre na região mediana de folhas novas, completamente expandidas, totalmente expostas à radiação solar, quando as plantas
de berinjela se apresentavam em
floração plena em um dia com ausência
de nebulosidade. Determinações de assimilação líquida de CO 2 (A),
condutância estomática (g s) e
transpiração (E), foram feitas às 11:00
h para comparação dos híbridos em pé
franco e enxertados e um acompanhamento das trocas gasosas no decorrer do
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Influência da enxertia nas trocas gasosas de dois híbridos de berinjela cultivados em ambiente protegido
dia, às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00 h,
para as plantas em pé franco. Da relação entre a quantidade de CO2 assimilado por unidade de água perdida por
transpiração obteve-se a eficiência do uso
de água (EUA). Durante as medidas, o
fluxo de fótons fotossinteticamente ativos no interior do ambiente protegido foi
de 1032±87; 1193±119, 992±209 e
529±90, às 09:00; 12:00; 14:00 e 16:00
h, respectivamente.
Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Utilizou-se também análise de regressão para o ajuste dos dados de trocas gasosas durante o dia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em determinações realizadas às 11:00
h da manhã, as plantas do híbrido Kokuyo
apresentaram maior assimilação líquida de
CO 2 quando comparadas ao híbrido
Napoli, porém, a enxertia não teve influência na capacidade fotossintética de nenhum dos híbridos. (Figura 1).
A enxertia levou à menor
condutância estomática (Figura 1b) e
transpiração (Figura 1c) nas folhas das
plantas enxertadas, sendo este efeito
estatisticamente significativo. Porém, a
capacidade fotossintética das plantas
não foi significativamente reduzida (Figura 1a). Esta resposta resultou em maior eficiência no uso de água das plantas
enxertadas, quando comparadas aos seus
respectivos pés francos, para os dois
híbridos em questão (Figura 1d). Segundo relatos de Wofe (1994) o aumento
da eficiência do uso de água por unidade de área foliar, em função de uma queda de condutância estomática, se deve
ao fluxo de vapor d’água proveniente
da folha ser relativamente mais sensível que a atividade fotossintética a um
fechamento parcial dos estômatos.
As causas desta resposta são discutíveis, podendo-se levantar a hipótese de
efeitos do porta-enxerto ou da zona de
ligação entre porta-enxerto e copa, reduzindo a condutividade hidráulica da
planta, já que respostas estomáticas à
produção de ácido abscísico (ABA) possivelmente são descartados, pois estas
são associadas a estresses por falta
d’água e salinidade. De qualquer modo,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. (a) Assimilação líquida de CO2 (A), (b) Condutância estomática (g s), (c)
Transpiração (E) e (d) Eficiência no uso de água (EUA) de dois híbridos de berinjela (Nápoli
e Kokuyo) em pé franco e enxertados sobre porta-enxerto Taibyo VF (plantas em floração
plena) (*/Letras iguais não diferem entre si pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Barras
verticais representam o desvio padrão da média de 10 repetições). Botucatu, UNESP, 2000.
Figura 2. (a) Assimilação líquida de CO2 (A), (b) condutância estomática (gs), (c) Transpiração
(E) e (d) Eficiência no uso de água (EUA) de dois híbridos de berinjela (Nápoli e Kokuyo)
em resposta a diferentes horários do dia, em ambiente protegido (plantas em floração plena)
(*/Cada ponto corresponde à média de 10 repetições. Significativo a 1% de probabilidade
pelo teste T de Student). Botucatu, UNESP, 2000.
vale ressaltar que esta resposta mostrase positiva, pois poderiam resultar em
maior economia de água pela planta.
Portanto, estudos futuros que elucidem
o efeito da enxertia na condutividade
hidráulica e/ou comportamento
estomático das plantas enxertadas tornam-se importantes.
479
J. U. T Brandão Filho, et al.
Quando foi determinado o acompanhamento das trocas gasosas durante o
dia, para os dois híbridos de berinjela
em pé franco, como apresentado na Figura 2, notou-se maior atividade
fotossintética e condutância estomática
do híbrido Kokuyo, durante todo o período de avaliação. Para a transpiração
das folhas, diferenças são verificadas
somente no período da manhã, quando
são comparados os dois híbridos de berinjela.
Os valores de assimilação líquida de
CO2 encontrados neste estudo estão de
acordo com os valores máximos determinados por Kim & Hori (1989). Estes
autores ainda comentaram que a taxa
fotossintética se correlacionou diretamente com o teor de clorofila das folhas, o que poderia ser um dos fatores
que levaram à superioridade em taxa
fotossintética do híbrido Kokuyo, pois
este apresentava folhas com verde mais
intenso. Estes valores são considerados
altos para uma planta C3, conforme discutido por Pimentel et al. (1995).
A partir das 9:00 h, a assimilação líquida de CO2 já apresentava valores
máximos para os dois híbridos, com
queda a partir das 12 h, período em que
normalmente verificam-se maiores temperaturas e menor umidade relativa do
ar. Estes fatores resultaram em queda
gradativa e linear da eficiência no uso
de água para os dois híbridos no decorrer do dia. Apesar desta queda, o híbrido Kokuyo manteve maior eficiência no
uso de água durante todo o período de
480
determinação, quando comparado ao
híbrido Nápoli. Estes resultados provavelmente são devidos a um maior controle estomático observado nas horas
mais quentes e secas do dia, com menores perdas de água por transpiração.
Os valores encontrados para a eficiência do uso da água em todas as avaliações realizadas estão de acordo com os
valores normalmente encontrados para
plantas do ciclo C3, ou seja, de 1 a 3 g
de CO2 fixado kg-1 de água transpirada,
segundo Nobel (1991), citado por
Pimentel (1998).
Pode-se concluir que o híbrido de
berinjela Kokuyo apresenta maiores taxas de assimilação de CO2 quando comparado ao híbrido Nápoli, podendo ser
esta uma característica importante na
determinação de seu potencial produtivo. A técnica de enxertia utilizada neste
ensaio resultou em maior eficiência no
uso de água para os dois híbridos em
questão, devido à redução da
condutância estomática, observada nas
folhas das plantas enxertadas. Estudos
futuros, relacionando características fisiológicas e anatômicas, serão importantes para elucidar as causas desta resposta estomática em função da técnica de
enxertia utilizada.
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Produtividade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três
soluções nutritivas
Jerônimo L. Andriolo; Mastrângello E. Lanzanova; Márcio Witter1
UFSM-CCR-Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS. E-mail: [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
Comparou-se o rendimento de frutos de meloeiro cultivado em
substrato com três soluções nutritivas, no interior de um túnel alto
de polietileno, na UFSM, RS. A semeadura foi feita em 19/07/01 em
bandejas de poliestireno e 32 dias depois as mudas foram transferidas
para sacolas de polietileno contendo 4,5 L de substrato comercial,
no espaçamento de 1,0 m entre fileiras e 0,30 m entre sacolas. Durante o ciclo da cultura, as plantas foram conduzidas verticalmente e
dois frutos foram deixados em cada planta, removendo-se os frutos
excedentes duas vezes por semana. Os tratamentos constituíram-se
de três soluções nutritivas, empregadas no cultivo comercial do meloeiro. No tratamento 1 (T1) foi utilizada a solução recomendada no
estado de São Paulo para o cultivo dessa espécie em NFT e nos
tratamentos 2 (T2) e 3 (T3) utilizaram-se as soluções recomendadas
para o cultivo da mesma espécie em substrato na França e na Espanha,
respectivamente. Em cada tratamento aplicou-se o volume de 1 L de
solução para cada planta, em intervalos semanais, via fertirrigação.
A área foliar foi estimada semanalmente a partir de medidas não
destrutivas no período entre os 35 e 63 dias após o plantio. A produtividade de frutos determinada ao final do experimento apresentou
valores mais elevados nas plantas que receberam as soluções nutritivas T2 e T3, as quais não diferiram significativamente entre si.
Fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under
three nutrient solutions
Palavras-chave: Cucumis melo, fertirrigação, cultivo fora do solo,
área foliar.
The fruit yield of muskmelon plants grown in substrate under
three nutrient solutions was obtained. The experiment was conducted
in a polyethylene tunnel at the Universidade Federal de Santa Maria,
Brazil. Sowing was done at 19th July 2001, in polystyrene trays, using
a commercial substrate. At 32 days after sowing, each plant was
transferred to a 4.5 L bag, placed inside the tunnel using 1.0 m
between rows and 0.3 m within each bag row. During the growing
period, plants were trained vertically and two fruits were kept to set
in each plant. Exceeding fruits were picked out twice a week.
Treatments consisted of three nutrient solutions, used in the
commercial production of muskmelon crops. Treatment 1 (T1) was
the nutrient solution recommended for growing this crop in NFT
system in São Paulo State and treatments 2 (T2) and 3 (T3) were
those used in substrate in France and in Spain, respectively. In all
treatments, 1 L of nutrient solution was supplied weekly to each
plant by fertigation. From 35 to 63 days after planting, plant leaf
surface was determined weekly by non destructive measurements.
Fruit yield, at the end of the experiment was significantly higher on
plants supplied with T2 and T3 nutrient solutions when compared
with T1 treatment. However, no significant difference was found
between T2 and T3 treatments.
Keywords: Cucumis melo, fertigation, soilless culture, leaf surface.
(Recebido para publicação em 08 de fevereiro de 2002 e aceito em 19 de março de 2003)
O
meloeiro (Cucumis melo L.) é uma
das cucurbitáceas mais exigentes
quanto às condições de clima e solo para
o crescimento e desenvolvimento da
planta. São necessárias temperaturas do
ar entre 20 e 30°C, do meio radicular
superiores a 15°C e umidade relativa do
ar entre 55 e 65%. O teor de nutrientes
minerais disponíveis à planta deve ser
elevado, com um correto balanceamento
entre os mesmos. As necessidades de
água são maiores nas fases iniciais de
desenvolvimento da planta e o sistema
radicular é altamente sensível à asfixia
provocada por excesso de água (CTIFL,
1998; Brandão Filho & Vasconcellos,
1998; Ramos, 1999). No Brasil, a cul-
tura do meloeiro se concentra em algumas regiões onde as condições
ambientais são mais favoráveis, como
o Rio Grande do Norte, São Paulo e
Paraná (Brandão Filho & Vasconcellos,
1998). No extremo Sul do País, a produção dessa espécie é ainda pouco expressiva e ocorre em algumas
microregiões, apenas nos meses mais
quentes do ano.
Uma das alternativas para o cultivo
do meloeiro em regiões e/ou épocas do
ano em que as variáveis do ambiente
aéreo e radicular são pouco favoráveis
ao crescimento da planta é o emprego
do cultivo protegido e fora do solo. No
Brasil, podem ser encontradas na lite-
ratura informações para o cultivo dessa
espécie em hidroponia usando o sistema NFT (Castellane & Araújo, 1994).
Entretanto, uma das dificuldades associadas com essa técnica é o controle da
temperatura do meio radicular, a qual
tende a se manter em valores próximos
da temperatura do ar. Enquanto o crescimento da parte aérea das plantas e,
principalmente a qualidade dos frutos,
respondem favoravelmente às temperaturas elevadas entre 25 e 30°C (FAO,
1990), o mesmo não ocorre com a absorção de água e nutrientes, a qual passa a decrescer quando os valores ultrapassam o limite entre 20 e 22°C
(Cornillon, 1987; FAO, 1990). Esse
¹ Bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo a Pesquisa do RS, no ano de 2001.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
481
J. L. Andriolo, et al.
decréscimo ocorre também em condições
de baixas temperaturas, quando os valores atingem limites inferiores a 15°C
(CTIFL, 1998). Nessas condições, o cultivo em substrato é mais adequado, devido a maior inércia térmica do meio
radicular quando comparado com o NFT
(Marfà & Guri, 1999). Resultados recentes de pesquisas feitas no Brasil para avaliar o cultivo do meloeiro em substrato
empregando a mesma solução nutritiva
recomendada para o cultivo em NFT,
mostraram queda no rendimento e na qualidade dos frutos (Villela et al., 2001). A
composição da solução nutritiva a ser
empregada no cultivo em substrato deve
ser determinada em função da concentração de absorção dos nutrientes pela planta e das interações entre os íons que a compõem (Cañadas, 1999; Lopez, 1998;
Lopez & Alonso, 1998; Alpi & Tognoni,
1999). Essas interações podem ocorrer
tanto entre os diferentes íons, como entre
os íons e as partículas do substrato, implicando antagonismos e/ou imobilizações
de nutrientes. No caso do meloeiro, essas
interações repercutem tanto sobre o rendimento como a qualidade dos frutos, especialmente as relações entre o N, o Ca e
o K (CTIFL, 1998). Existe, portanto, a
necessidade de determinar critérios específicos para o manejo da nutrição mineral
do meloeiro cultivado em substrato.
O presente trabalho teve como objetivo comparar o crescimento foliar e o rendimento de frutos de meloeiro cultivado
em substrato, empregando duas soluções
recomendadas para o cultivo em substrato,
respectivamente na França (T2) e na
Espanha (T3), e como testemunha a solução nutritiva atualmente recomendada
para o cultivo em NFT no Brasil (T1).
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado no
Depto. de Fitotecnia da UFSM (latitude 29°43’S, longitude 53°42W e altitude 95 m), no interior de um túnel alto
de 180 m 2 , coberto com filme de
polietileno transparente de 10-6 m de espessura. Foi empregado o híbrido Hales
Best Jumbo, de cultivo tradicional na
região. A semeadura foi feita em 19/07/
01, em bandejas de poliestireno com 128
células, empregando substrato comercial. Aos 32 dias após a semeadura, as
482
mudas com quatro folhas definitivas
foram transferidas para sacolas de
polietileno contendo 4,5 L de substrato
comercial orgânico (Plantmax®), com
apenas uma planta por sacola (3,3 plantas m-2). As sacolas foram dispostas no
interior do túnel em fileiras, no
espaçamento de 1 m entre fileiras e 0,30
m entre sacolas, e perfuradas na base de
forma a assegurar a livre drenagem dos
volumes de água excedentes à capacidade de retenção de água do substrato.
Sobre as sacolas foi instalado um tubo
gotejador para o fornecimento de água e
nutrientes, ajustando-se um gotejador no
centro de cada sacola. O conjunto formado pelas sacolas e o tubo gotejador foi
coberto com filme de polietileno opaco
de cor preta, para reduzir a evaporação
superficial e evitar a incidência direta dos
raios solares sobre as sacolas.
As plantas foram conduzidas verticalmente com uma haste, por meio de
fitas plásticas. O desbaste foi feita deixando-se dois frutos por planta, localizados entre o 130 e 170 entrenó. Todas
as demais ramificações laterais foram
eliminadas. O túnel foi ventilado nos
dias ensolarados, por meio do
soerguimento das extremidades laterais
do filme de polietileno em até 1 m de
altura, entre as 9 e 18:00 h, aproximadamente.
Do plantio até o final da colheita dos
frutos, os nutrientes foram fornecidos às
plantas uma vez por semana, por meio
da fertirrigação. Os tratamentos foram
constituídos por três soluções nutritivas.
A testemunha (T1) foi a solução nutritiva recomendada por Castellane & Araújo (1994) para o cultivo do meloeiro
em NFT (Tabela 1). Os tratamentos T2
e T3, pelas soluções nutritivas recomendadas para o cultivo dessa espécie em
substrato na França (CTIFL, 1998) e na
Espanha (Ramos, 1999), respectivamente. O ferro foi fornecido na forma
quelatizada (5% de Fe), na proporção
de 0,13 mL L -1 , e os demais
micronutrientes através de 0,7 mL L-1
da solução padrão de micronutrientes
proposta por Jeannequin (1987), descrita
por Andriolo (1999). Foi fornecido o
volume de 1 L de solução nutritiva por
planta, em doses semanais, até o final
do experimento. No período entre duas
fertirrigações sucessivas, somente água
foi fornecida diariamente às plantas. A
freqüência das irrigações foi ajustada de
acordo com a demanda evaporativa da
atmosfera. Em cada irrigação, o fluxo
de água foi interrompido logo aos primeiros sinais de escorrimento na parte
inferior das sacolas, de forma a reduzir
ao máximo as perdas de nutrientes por
lixiviação.
A concentração da solução nutritiva
em torno das raízes foi monitorada diariamente medindo-se a condutividade
elétrica (EC) da solução drenada, em
cada um dos tratamentos. Para efetuar
essa medida, foi instalado um coletor de
volume drenado contendo cinco plantas, no interior de uma parcela, em cada
um dos tratamentos. O delineamento
experimental empregado foi o inteiramente casualizado, com três repetições
e 20 plantas por parcela. Cada um dos
tratamentos foi aplicado a uma fileira
inteira de plantas, mantendo-se as duas
fileiras laterais extremas do túnel como
bordaduras.
A área foliar das plantas foi determinada aos 35; 43; 50; 57 e 63 DAP,
quando foi feito o desponte. Em cada
tratamento, foram selecionadas três
plantas, sobre as quais foram efetuadas
medidas não destrutivas de comprimento (C) e largura (L) de cada uma das folhas existentes (comprimento >2 cm).
Semanalmente foi coletada um planta
adicional em cada uma das fileiras
bordaduras. Logo após a coleta, as folhas foram removidas, a área foliar determinada pelo método não destrutivo
(C ´ L) e 50 discos (0,5052 cm2 de área)
foram coletados de cada folha. As folhas e os discos coletados foram submetidos à secagem em estufa de circulação de ar forçado, na temperatura de
60°C, durante uma semana, para determinação da massa seca. Uma relação foi
estabelecida entre a massa seca e a área
dos discos, a qual foi empregada para
estimar a área foliar a partir da massa
seca de folhas de cada planta. Ao final
do experimento, uma segunda relação
foi ajustada entre a área foliar estimada
pelos dois métodos (AF = 0,99 (C ´ L) –
249,8, R2 = 0,99), a qual foi empregada
para converter os resultados das medidas não destrutivas feitas nas plantas de
cada tratamento, em valores equivalentes àqueles obtidos pelo método dos discos. Os frutos foram colhidos ao apresentarem sinais de rachadura em torno
do pedúnculo (CTIFL, 1998) e pesados.
Em cada coleta, as médias de área foliar
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produtividade de frutos de meloeiro cultivado em substrato com três soluções nutritivas
foram submetidas ao teste t de Student,
para determinar a significância das diferenças entre os tratamentos. Os resultados referentes à massa média dos frutos
e produtividade de frutos foram submetidos à análise da variância e a
significância das diferenças entre as médias dos tratamentos determinada pelo
teste de Duncan a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios semanais da EC
da solução drenada foram menores em
T1, seguidos por T2 e T3 (Figura 1). Os
valores mais baixos foram observados
ao final do experimento, nos três tratamentos, atribuídos à forte lixiviação
decorrente da elevada freqüência das
irrigações nesse período, que se caracterizou por altos valores de radiação
solar incidente e temperatura do ar. Os
valores médios da EC durante todo o
período experimental foram de 1,7; 2,2
e 2,9 dS m-1, respectivamente para T1,
T2 e T3.
O crescimento da área foliar da cultura foi menor nas plantas que receberam a solução T1, com diferenças significativas a partir dos 43 DAP (P <0,5),
até o final do experimento (Figura 2).
Não foram constatadas diferenças significativas para essa variável entre T2 e
T3. Situação semelhante foi observada
com relação à massa média e rendimento de frutos (Tabela 2). Os valores mais
elevados foram observados nas plantas
que receberam a solução T3, que não diferiram de T2. As plantas que receberam
a solução T1 apresentaram valores 19,1%
inferiores para essas duas variáveis.
Os valores máximos de EC da solução drenada apontados como limitantes
em culturas de meloeiro em substrato
situam-se em torno de 5,0 dS m-1 (Perez
& Lopez, 1998). Os valores máximos
observados nas três soluções nutritivas
comparadas no atual experimento situaram-se sempre abaixo desse limite, tendo sido por isso reduzidos os riscos de
toxidez por salinidade associada à solução nutritiva. Por outro lado, o valor
médio de EC de 1,7 dS m-1 da solução
T1 mostrou-se limitante ao crescimento da planta e produtividade da cultura,
confirmando os resultados de Amor et
al. (2001), que apontam o valor de 2,0
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Evolução da condutividade elétrica da solução drenada durante o experimento,
pelas três soluções nutritivas comparadas. Santa Maria, UFSM, 2001.
Figura 2. Evolução do índice de área foliar (IAF) de plantas de meloeiro cultivadas em
substrato com três soluções nutritivas. Santa Maria, UFSM, 2001.
dS m-1 como limite inferior da EC no
cultivo dessa espécie em substrato.
Tanto a massa média como a produtividade de frutos de meloeiro dependem diretamente do crescimento da área
foliar da planta, que deve preceder o
crescimento dos frutos (CTIFL, 1998;
Valantin, 1998). A acumulação e a partição da massa seca entre os órgãos
vegetativos e os frutos de plantas de hortaliças cultivadas em substrato são influenciadas pela quantidade e pela proporção entre os nutrientes fornecidos
pela solução nutritiva (Cortéz, 1999).
Esse princípio foi confirmado pelos atuais resultados. A concentração de íons
macronutrientes fornecidos pelas três
soluções empregadas, em mmol L-1, foi
de 24,78; 23,88 e 29,41, respectivamente em T1, T2 e T3. Isso significa que as
plantas cultivadas com a solução T2 receberam uma quantidade de nutrientes
3,6% inferior àquelas cultivadas com a
solução T1. Porém, mesmo recebendo
através da solução T2 uma menor quantidade semanal de nutrientes, essas plantas atingiram uma produtividade de frutos 19,9% superior àquelas de T1. Isso
483
J. L. Andriolo, et al.
Tabela 1. Composição das soluções nutritivas fornecidas às plantas de meloeiro cultivadas em substrato, pelos tratamentos T1, T2 e T3.
Santa Maria, UFSM, 2001.
Tabela 2. Massa média do fruto e rendimento de frutos de melão cultivado em substrato com três
soluções nutritivas. Santa Maria, UFSM, 2001.
*/Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Duncan a
5% de probabilidade.
pode ser atribuído à maior proporção
dos íons K+, Ca++ e Mg++ na composição da solução T2. Essas observações
sugerem que os resultados obtidos por
Villela et al. (2001) em NFT se devem
provavelmente aos baixos teores de
cátions da solução nutritiva empregada
naquele experimento.
A qualidade dos frutos de melão é
favorecida por condições de disponibilidade hídrica controlada nas fases finais do
seu crescimento e maturação. Uma das
formas de restringir a absorção de água
pela planta é a elevação da concentração
salina em torno das raízes. Por esse motivo, são recomendados valores de EC mais
elevados nessas fases, próximos ao limite
superior de 5,0 dS m-1 (Ramos, 1999). No
atual experimento, os valores de EC nos
três tratamentos mostraram decréscimo do
início para o final do experimento, indicando que o manejo da freqüência das
fertirrigações e/ou da concentração da solução nutritiva nesses períodos deve ser
melhor ajustado à demanda hídrica da
cultura, para não influenciar negativamente a qualidade dos frutos.
Os resultados obtidos indicaram que
a solução nutritiva T1 é menos adequada
que as soluções T2 e T3, para o cultivo do
meloeiro em substrato empregando materiais orgânicos com características semelhantes àquelas do atual experimento.
484
Embora a produtividade de frutos não tenha diferido significativamente entre as
plantas que receberam essas duas últimas
soluções nutritivas, não podem ser descartadas possíveis influências da composição da solução nutritiva e/ou da
condutividade elétrica sobre características visuais e/ou qualitativas dos frutos. Por
esse motivo, a opção por uma ou outra
dessas duas soluções deve ser fundamentada por critérios econômicos, levando-se
em conta a relação custo/benefício.
LITERATURA CITADA
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Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 485-488, julho-setembro 2003.
Crescimento e produção de raízes comercializáveis de mandioquinhasalsa em resposta à aplicação de nutrientes
Adriano Portz; Carla Andréia C. Martins; Eduardo Lima.
UFRRJ, Depto. Solos, BR 465, km 7, 28851-000 Seropédica-RJ; E-mail:[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A produção de mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza
Bancroft) vem aumentando marcadamente em algumas regiões do
Brasil, com uma crescente demanda nos grandes centros consumidores. O desenvolvimento e produção desta espécie no estado do
Rio de Janeiro foi avaliado, em condições de campo, em um experimento com três níveis de nitrogênio, fósforo e potássio em esquema
fatorial, num delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. Foram realizadas amostragens, da planta inteira, da parte aérea, do propágulo e da raiz, em quatro épocas ao longo do ciclo da
cultura. O maior acúmulo da massa seca na parte aérea ocorreu aos
180 dias e, em relação ao propágulo e às raízes, aos 300 dias depois
do transplante. Não foram observadas respostas significativas na produtividade de raízes comercializáveis às doses aplicadas de fósforo
e potássio e a maior produtividade foi alcançada com a dose de 60
kg.ha-1 de N.
Production of arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft)
in increasing levels of nutrients
Palavras-chave: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, nutrição, fertilizante, nitrogênio, fósforo, potássio.
Keywords: Arracacia xanthorrhiza Bancroft, plant nutrition,
fertilizing, nitrogen, phosphorus, potassium.
Arracacha production has been markedly increasing in some
regions of Brazil, with a crescent demand in the most important
consuming centers. A field experiment was conducted with the
objective of evaluating the development of this species in the State
of Rio de Janeiro. Three levels of N, P and K were tested in a
completely randomized blocks design with four repetitions in a
factorial scheme. Shoot, corm and root samples were collected four
times along the plant cycle. The highest shoot dry weight
accumulation was recorded at 180 days, for corm and roots at 300
days after planting. No Significative effects of phosphorus and
potassium levels were observed and the highest production was
reached with the level of 60 kg.ha-1 of N.
(Aceito para publicação em 25 de abril de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003)
P
ara alcançar maior produtividade na
cultura de mandioquinha-salsa é necessário avaliar o comportamento em diversos ambientes e regiões de produção.
Apesar da cultura ter sido introduzida
no País há um século na região serrana
do Estado do Rio de Janeiro, não existem referências ou relatos de experimentos conduzidos na região. O clima de altitude e de temperaturas amenas favorece a produção desta hortaliça, de origem andina, em Nova Friburgo-RJ, que
é o principal município produtor no Rio
de Janeiro.
O consumo de “batata baroa”, como
é mais conhecida no Estado, vem despertando interesse, mas a produção está
estagnada em pequenas propriedades
(com menos de 1 ha) e com produtividade abaixo da média nacional (9,2 t.ha1
) (Reghin et al., 2000). Além de não
utilizar as técnicas mais recentes de propagação como o pré-enraizamento de
mudas, os produtores necessitam de dados técnicos sobre a nutrição e fertilização da cultura na região.
Em experimento realizado em Piedade-SP, em solo do tipo massapê, SilHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
va et al. (1966) observaram efeito altamente significativo e linear do fósforo
e efeito quadrático e negativo do potássio. Para nitrogênio, o efeito foi linear e
negativo, contudo os autores atribuíram
que as baixas produtividades foram devido à seca no período da condução do
experimento. Segundo Silva & Santos
(1998), a falta de irrigação é o fator que
mais tem contribuído para as baixas produtividades nas lavouras. Câmara et al.
(1985), estudando a época de plantio e
amassamento de pecíolos na
mandioquinha-salsa, verificaram que
tratamentos que promovam aumento na
produção de raízes, também promovem
acréscimos na produção de coroas e da
parte aérea, considerando que houve
correlação linear e positiva entre produção de raízes comerciais e produção
de coroas (r = 0,77; p = 0,01) e entre
produção de raízes comerciais e peso da
parte aérea (r = 0,46; p = 0,01). Num
experimento realizado em condições de
campo, em Latossolo Vermelho amarelo distrófico (LVd), argiloso, Mesquita
Filho et al. (1996) observaram que não
houve resposta à adubação nitrogenada
na produção de raízes comercializáveis
e verificaram efeito quadrático significativo para o fósforo, quando utilizaram
quatro níveis de uréia e quatro níveis de
superfosfato triplo. Del Valle Junior et
al. (1995), trabalhando com onze combinações de nutrientes com N, P, K e
Mg, em solo denominado Ultissol, observaram que a produção mais econômica foi obtida com a dose de 135 kg.ha1
de N, quando se mantinham os demais
nutrientes em níveis fixos. Tratamentos
com diferentes níveis de P e níveis fixos para os outros nutrientes não diferiram significativamente. A mesma falta
de resposta foi observada para K e Mg.
Vieira (1995), trabalhando em solo sob
cerrado, observou que houve um aumento crescente na produtividade de raízes
comerciais à medida que aumentaram as
doses na combinação de fósforo e resíduo
orgânico. A utilização de resíduos orgânicos é recomendada pela melhoria nas condições químicas e físicas dos solos além
de promover o incremento da atividade
biológica, contribuindo para o aumento da
disponibilidade de vários nutrientes, entre eles o fósforo e o nitrogênio.
485
A. Portz, et al.
Figura 1. Acúmulo de massa seca da planta total (MSTO), massa seca da parte aérea (MSPA),
massa seca de propágulo (MSPR) e massa seca de raiz (MSR) de todos os tratamentos nas
quatro épocas de coleta da cultura de mandioquinha-salsa. Nova Friburgo, UFRRJ, 2000.
Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento e as possibilidades de aumentar
a
produtividade
da
mandioquinha-salsa no Estado do Rio
de Janeiro, aplicaram-se doses crescentes de N, P e K determinando-se a produção de raízes comercializáveis aos
300 dias do plantio das mudas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado em
Friburgo, com altitude aproximada de
1.000 m, precipitação pluviométrica
média de 1.200 mm anuais e temperatura média anual de 20oC. O solo classificado como Nitossolo, situa-se em meia
encosta suave com 12% de declividade e
na camada de 0-20 cm de profundidade,
antes do início da instalação do experimento, possuía as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5) = 6,0;
Al+3 = 0,3 cmolc.kg-1; H + Al = 18,3
cmolc.kg-1; Mg+2 = 0,9 cmolc.kg-1; Ca+2
= 1,8 cmolc.kg-1; Na+ = 0,08 cmolc.kg-1;
P = 11 mg.kg-3; K= 148 mg.kg-3; %C =
1,3; Fe = 162 mg.dm-3; Cu = 0,8 mg.dm3
; Zn = 66,0 mg.dm-3 e Mn = 11,5 mg.dm3
. Foi realizada uma calagem com 700
kg.ha-1 de calcário dolomítico, aplicando-se metade do corretivo antes da aração
e metade antes da gradagem, conforme
recomendação de aplicação do Manual
de Adubação do Estado do Rio de Janeiro (De Polli & Almeida, 1988).
As mudas de mandioquinha-salsa,
var. Amarela de Carandaí, normalmen486
te cultivada na região, foram provenientes do mesmo local do experimento.
Os rebentos para a formação das mudas
foram selecionados de touceiras adultas que já haviam terminado o ciclo
vegetativo, de onde foram destacados e
cortados em bisel, padronizando-se assim o tamanho das mudas. Estas foram
plantadas em canteiros de préenraizamento, onde permaneceram até
os 60 dias e então levadas para o local
do experimento e plantadas no local
definitivo. Neste período foi mantida a
umidade do solo (aproximadamente ¾
da capacidade de campo) sem qualquer
aplicação de defensivo agrícola ou fertilizante químico.
As doses de N (0; 60 e 120 kg.ha-1),
P2O5 (0; 150 e 300 kg.ha-1) e K2O (0; 80
e 160 kg.ha-1), usando como fontes uréia,
superfosfato simples e cloreto de potássio, foram acompanhadas de 15 kg.ha-1
de bórax (10% de B), 5 kg.ha-1 de sulfato de zinco (28% de Zn) e 5 Mg.ha-1 de
esterco de curral curtido. Os fertilizantes, assim como o esterco, foram distribuídos nas leiras e incorporados manualmente ao solo na profundidade de 010 cm. A adubação nitrogenada foi parcelada, sendo metade aplicada no plantio das mudas e outra metade, em cobertura 60 dias após o plantio. Utilizouse de sistema de irrigação por aspersão,
onde se irrigou sempre que necessário,
a fim de manter a umidade do solo próxima da capacidade de campo.
O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso com quatro repetições
e 27 tratamentos (fatorial 3x3x3), com
parcelas de 2,8 x 4,0 m e 40 plantas por
parcela com espaçamento de 0,7 x 0,4
m. Foram descartadas as linhas externas de plantas (efeito bordadura), permanecendo 18 plantas na área útil de
cada parcela. Efetuou-se quatro capinas
manuais e adicionou-se uma cobertura
morta (palhada de capim) para auxiliar
no controle de plantas invasoras e a
manutenção da umidade.
Foram realizadas quatro coletas de
material vegetal durante o ciclo (90;
150; 210 e 300 dias após o transplante),
amostrando-se quatro plantas por parcela e separando-se em planta inteira,
parte aérea, propágulo (coroa e rebentos) e raízes, nas quais avaliou-se o
acúmulo de massa seca. Na última coleta avaliou-se a produtividade de raízes
comercializáveis, considerando-se
raízes comercializáveis aquelas cujo tamanho era maior ou igual a 8 cm de
comprimento e diâmetro médio maior
ou igual a 3 cm. A avaliação dos dados
foi efetuada pelo teste F de Fisher e procedeu-se à comparação das médias pelo
teste Duncan. Quando os dados não se
acharam em homocedasticia (teste
Cochran & Bartellet), foram transformados em log x. As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico Saeg.
RESULTADO E DISCUSSÃO
O maior acúmulo de matéria seca na
parte aérea ocorreu aos 180 dias após o
plantio das mudas, com um decréscimo
sucessivo até a colheita, o que indica o
início da senescência da planta (Figura 1).
O propágulo e as raízes apresentaram
um crescimento vigoroso após a segunda coleta (150 dias), mostrando um
grande acúmulo de reservas nestes dois
órgãos da planta, conforme já mencionado por outros autores (Lima et al.,
1985; Mesquita Filho & Souza, 1996;
Ortiz et al., 1998). Quanto aos órgãos
raízes e propágulos, estes são responsáveis pela nova brotação da planta no seu
segundo ciclo vegetativo (bianual) e
servem como órgãos de reserva e propagação vegetativa, respectivamente.
Houve grande translocação de
fotoassimilados das folhas (fonte) para
o propágulo e raízes (drenos) e aparenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Crescimento e produção de raízes comercializáveis de mandioquinha-salsa em resposta à aplicação de nutrientes
Tabela 1. Médias de produção de raízes comercializáveis (kg.ha-1) em função das doses de nitrogênio, fósforo e potássio aplicadas, a um
1/
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si a 1% pelo teste de Duncan. CV=35,94%
temente não foi influenciada pelo início da senescência da parte aérea aos 180
dias de transplantio, havendo um
acúmulo crescente nestes órgãos de reserva até o final do ciclo (300 dias).
Também se observou que as raízes atuaram como drenos preferenciais dos
fotoassimilados, com o maior acúmulo
aos 300 dias.
O clima tropical de altitude, particular à região serrana do Rio de Janeiro, semelhante à região Andina onde a
espécie se originou, associado a práticas culturais mais recentes como o préenraizamento, a cobertura morta e a irrigação, juntamente com suprimento
adequado de nutrientes, oferecem condições para se obter colheita mais precoce (menor que 12 meses de ciclo),
com bons índices de produtividade. Isso
permite para o produtor uma maior flexibilidade na época de colheita e
comercialização, aumentando assim a
oferta da mandioquinha no mercado regional com melhor distribuição do produto durante o ano. Desta maneira podese diminuir a escassez do produto na
entressafra e evitar a grande oscilação
do preço desta olerícola no mercado do
Rio de Janeiro.
Foi observada correlação positiva e
significativa (r=0,45; p=0,01) entre a
massa fresca da parte aérea e produção
de raízes comercializáveis, confirmando os resultados de Câmara et al. (1985).
Contudo afirmações de que tratamentos
na cultura que melhorem o desenvolvimento da parte aérea possam, consequentemente, melhorar a produção de
raízes, ainda é assunto de investigação
e mais pesquisa. Tem como fato, a afirHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
mação de alguns produtores de que
mudas maiores resultam em coroas maiores e parte aérea exuberante, mas nem
sempre isto é acompanhado de maior
produção de raízes.
Na colheita, realizada aos 300 dias,
não foi observada resposta significativa às doses de fósforo e potássio sobre
a produtividade de raízes comercializáveis. Apesar de se observar uma tendência quadrática nas respostas de fósforo e potássio, a disponibilidade destes nutrientes no solo, somado à adição
de matéria orgânica, podem ter mascarado uma melhor diferenciação das respostas destes nutrientes. Contudo seria
recomendável aplicar uma dose intermediária de P2O5 (150 kg.ha-1) já que esta
proporcionou produtividade 10% maior que a da testemunha, o que poderia
ser vantajoso pelo alto valor comercial
que alcançam as raízes no mercado. Para
a aplicação de nitrogênio foi observada
resposta significativa sendo a dose de 60
kg N.ha-1 superior à dose de 120 kg N.ha1
, mas não diferindo da testemunha (Tabela 1). Mesquita Filho et al. (1996) observaram efeito quadrático de P2O5 na
produção de raízes comerciais e nenhuma resposta à adubação nitrogenada no
cerrado em Latossolo com semelhantes
características químicas ao Nitossolo utilizado neste experimento. No entanto, a
diferença nas respostas se devem provavelmente ao tipo de argila no solo de cerrado que sendo de baixa atividade favorece a observação de carências
nutricionais de fósforo e à diferença dos
teores de matéria orgânica entre os solos
no qual influenciam na disponibilidade
de nitrogênio. Del Valle Junior et al.
(1995) recomendam a aplicação de N
para a produção de mandioquinha-salsa,
sem comentarem o teor de matéria orgânica encontrado no solo e a disponibilidade de nitrogênio e de outros nutrientes
para a planta no solo estudado.
O manejo da matéria orgânica na cultura parece ser de fundamental importância para se alcançar boa produtividade,
indicando o seu potencial para cultivo em
sistema orgânico de produção.
A produtividade deve ter sido influenciada pela adição de matéria orgânica, que disponibilizando nutrientes ao
longo do ciclo da cultura, contribuiu
para que não se observassem diferenças significativas referentes às aplicações de fósforo e potássio e para não se
ter conseguido uma resposta definida às
doses de nitrogênio aplicadas.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos colegas de graduação de Agronomia pela ajuda nos trabalhos de campo e laboratório, ao Departamento de Solos da UFRRJ pelas
dependências e equipamentos utilizados
e a FAPERJ pelo apoio financeiro e bolsa de estudos.
LITERATURA CITADA
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Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato
com reutilização da solução nutritiva drenada
Jerônimo L. Andriolo; Marcio Witter; Tiago Dal Ross; Rodrigo dos S. Godói
UFSM-CCR, Depto. Fitotecnia, 97105-900 Santa Maria-RS; E-mail: [email protected].
RESUMO
ABSTRACT
Dois experimentos foram conduzidos em ambiente protegido
no outono e na primavera de 2001, com semeaduras em 17 de fevereiro e 3 de julho. O transplante foi feito aos 41 (10 experimento) e
36 dias (20 experimento) após a semeadura, em sacolas de polietileno
com 5,5 dm3 de substrato comercial, instaladas no interior de calhas,
com 3,3 plantas m-2. Os tratamentos constituíram-se de três soluções nutritivas, contendo o tratamento T1, em mol L-1: 0,04 de KNO3;
0,027 de Ca(NO3)2; 0,012 de MgSO4, com adição de 1,5 g L-1 de
superfosfato simples e solução de micronutientes. Em T1, forneceuse uma vez por semana o volume de 1 L de solução nutritiva por
planta, totalizando 14,9 g L-1 de macronutrientes. Os tratamentos T2
e T3 consistiram na dose duplicada e triplicada T1, totalizando, respectivamente, 29,8 e 44,7 g L-1 de macronutrientes, fornecidos também uma vez por semana. Os volumes drenados em cada irrigação
foram recolhidos e reutilizados nas fertirrigações seguintes, completando-se as quantidades de fertilizantes necessárias para atingir
as doses de cada tratamento. Os valores médios de condutividade
elétrica (CE) da solução drenada foram de 3,7; 6,8 e 8,9 dS m-1 no
primeiro e de 3,3; 5,2 e 7,4 dS m-1 no segundo experimento, respectivamente em T1, T2 e T3. Entre os 40 e 82 dias após o transplante
(DAT) no outono e os 37 e 79 DAT na primavera, foram feitas coletas de plantas para determinar o crescimento e o desenvolvimento.
Na primavera, os frutos maduros nas plantas remanescentes foram
colhidos e pesados para determinação da produtividade. Não foram
observadas diferenças significativas no número de frutos entre os
tratamentos. No outono, a massa seca total e vegetativa foi mais
baixa no tratamento T3, enquanto a massa seca de frutos foi mais
elevada nesse tratamento. Na primavera, as médias das duas primeiras variáveis foram mais baixas em T3, porém a massa seca de frutos não diferiu entre os tratamentos. A produtividade de frutos maduros decresceu com o aumento da CE. Concluiu-se que é possível
reutilizar integralmente a solução nutritiva drenada no cultivo do
tomateiro em substrato e que os efeitos negativos da CE elevada
sobre a produtividade de frutos são observados somente com valores superiores a 4,9 dS m-1.
Growth and development of tomato plants in substrate with
re-use of drained nutrient solution
Two experiments were carried out in a plastic greenhouse in
autumn and spring 2001. Sowing dates were February 17th and July
3rd, respectively. At 41 (1st experiment) and 36 days (2nd experiment)
after sowing, plantlets were transplanted to 5.5 dm3 bags placed inside
gullies, using a commercial substrate, in a plant density of 3.3 plants
m-2. Treatments consisted of three nutrient solutions. In T1 treatment,
fertilizer concentrations were, in mol. L-1: KNO3, 0.04: Ca(NO3)2,
0.027; MgSO4, 0.012. Phosphorus (P) was added by 1.5 g L-1 of
superphosphate (20% P2O5), and micronutrients by a commercial
mixture. For T1 plants, 1 L of the above nutrient solution was supplied
once a week, containing 14.9 g L-1 of macronutrients. For T2 and T3
treatments the amounts of nutrients from T1 were applied in duplicate
and triplicate, resulting in a total of macronutrient of 29.8 and 44.7 g
L-1, respectively, supplied once a week. Drained volumes from each
irrigation were collected and re-used in the next fertigations, after
correcting nutrient concentrations in order to reach the original
threshold level previously fixed for each treatment. Average electrical
conductivity (EC) values of drained nutrient solution were 3.7; 6.8
and 8,9 dS m-1 at the first and 3.3; 5.2 and 7.4 dS m-1 at the second
experiment, respectively for T1, T2 and T3. From 40 to 82 days
after planting date (DAP) in autumn and 37 to 79 DAP in spring,
plants were periodically harvested to determine growth and
development. In spring, ripe fruits on remaining plants were harvested
and weighed to determine fruit yield. No significant differences were
found for the number of fruits among treatments. In autumn, total
and vegetative dry mass were lower on T3 plants, whereas fruit dry
mass was higher. In spring, means of total and vegetative dry mass
were lower on T3 plants, but fruit dry mass did not differs among
treatments. Fruit yield decreased by effect of increasing values of
EC. Based upon these results we concluded that it is possible to reuse drained nutrient solutions, when growing the tomato crop in
substrates, and negative effects of salinity on fruit yield are observed
only for EC values up to 4.9 dS m-1.
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, fertirrigação, cultivo sem
solo, solução nutritiva.
Keywords: Lycopersicon esculentum, fertigation, soilless culture,
nutrient solution.
(Recebido para publicação em 25 de abril de 2002 e aceito em 02 de junho de 2003)
U
ma das principais limitações ao
cultivo de plantas fora do solo diz
respeito ao destino das soluções nutritivas descartadas. Na maior parte dos casos essas soluções são eliminadas no
ambiente, em quantidades que podem
atingir 2.300 m3 ha-1 de água e 4.000 kg
ha-1 de nutrientes, em culturas de hortaliças de ciclo longo como o tomateiro,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
o pepino e o meloeiro (Cortés, 1999).
Faz-se necessário reduzir ao máximo
essas quantidades, principalmente por
razões de preservação ambiental, dentro do contexto atual em que se busca a
sustentabilidade da produção agrícola a
médio e longo prazo.
No cultivo de hortaliças em
substratos, a composição da solução
nutritiva a ser empregada é determinada levando-se em conta a concentração
de absorção dos nutrientes pela planta e
as interações entre os íons que compõem
a solução nutritiva (Cañadas, 1999;
Lopez, 1998; Lopez & Alonso, 1998;
Alpi & Tognoni, 1999). Disso resulta
que uma parte dos nutrientes fornecidos
não é absorvida pela planta, a qual é
489
J. L. Andriolo, et al.
acrescentada a outros elementos químicos de pequena ou nula absorção que
estão presentes na água de irrigação,
provocando o aumento da condutividade
elétrica (CE) em torno das raízes
(Sonneveld & Welles, 1988). Um segundo fator que contribui para o aumento
da concentração salina no interior do
substrato é o fluxo de água da planta.
Esse fluxo responde principalmente aos
elementos do ambiente e ocorre de forma independente da absorção mineral.
Quanto mais intenso o fluxo de água,
mais alta a concentração salina da solução nutritiva contida no interior do
substrato. Esses dois fenômenos servem
de base para a prática da drenagem no
cultivo de hortaliças em substrato, que
deve ser ajustada de acordo com as condições ambientais a fim de manter a CE
dentro dos limites adequados para cada
cultura (Perez & Lopez, 1998).
A reutilização da água e/ou solução
nutritiva drenada nos cultivos em
substrato pode implicar um aumento na
CE da solução nutritiva fornecida. Entretanto, os valores de CE que podem
ser atingidos em resposta às flutuações
das variáveis do ambiente são difíceis
de ser previstos. Níveis de salinidade no
ambiente radicular superiores a 4,0 dS
m-1 podem provocar redução do crescimento das plantas (Stanguellini et al.,
1998; Li & Stanguellini, 2001; RomeroAranda et al., 2001), queda no rendimento de frutos (Van Ieperen, 1996; Bolarin
et al., 2001) e distúrbios fisiológicos
como a podridão apical dos frutos
(Cuartero & Férnandez-Muñoz, 2001).
Determinou-se o crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado
em substrato com valores elevados de
CE da solução nutritiva e a inferência
sobre a possibilidade de reutilização da
solução drenada no decorrer do ciclo da
cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Dois experimentos foram conduzidos na UFSM, Rio Grande do Sul (latitude 29°43' S, longitude 53°42' W e altitude 95 m), no interior de um túnel alto
de polietileno de 180 m2. Foi empregado o híbrido plurilocular Monte Carlo,
com semeaduras em 17 de fevereiro e 3
de julho de 2001, em bandejas de
490
poliestireno com 128 células, empregando substrato comercial. Aos 41 e 36 dias
após a semeadura, respectivamente no
outono e na primavera, as mudas com
cinco folhas definitivas foram
transferidas para sacolas de polietileno
contendo 5,5 dm3 de substrato comercial orgânico (Plantmax®), com uma
planta por sacola e densidade de 3,3
plantas m-2. As sacolas foram dispostas
no interior do túnel em calhas com 2%
de declividade, revestidas com
polietileno de baixa densidade de 150
mm de espessura. O espaçamento empregado foi de 1 m entre calhas e 0,30
m entre sacolas, as quais foram perfuradas na base para permitir a drenagem
dos volumes de água fornecidos pela
irrigação e que excederam a capacidade máxima de retenção de água do
substrato. Na extremidade inferior de
cada calha foi instalado um reservatório de polietileno com capacidade de 20
L, destinado a recolher diariamente os
volumes de solução nutritiva drenada.
O volume recolhido foi armazenado em
um segundo reservatório com capacidade de 100 L e posteriormente reutilizado
na preparação da solução nutritiva. Sobre cada sacola foi instalado um tubo
gotejador para o fornecimento de água
e nutrientes, ajustando-se um gotejador
no centro de cada sacola. As plantas foram conduzidas verticalmente com uma
haste, através de fitas plásticas, e as ramificações axilares eliminadas uma vez
por semana. O túnel foi ventilado nos
dias ensolarados, através do
soerguimento das extremidades laterais
do filme de polietileno em até 1,20 m
de altura, entre as 9 h e 18 h, aproximadamente.
Do plantio até o final dos experimentos, os nutrientes foram fornecidos às
plantas uma vez por semana, através da
fertirrigação. Os tratamentos foram
constituídos por três soluções nutritivas.
Foi empregada como referência a solução nutritiva recomendada por Andriolo
& Poerscke (1997), para o cultivo do
tomateiro em substrato, com a composição, em mol L-1: 0,04 de KNO3; 0,027
de Ca(NO3)2; 0,012 de MgSO4. O fósforo foi fornecido através da dissolução
de 1,5 g L-1 de superfosfato simples, eliminando-se as impurezas por decantação. O ferro foi fornecido na forma
quelatizada, na proporção de 0,13 ml L-
1
(5% de Fe), e os demais
micronutrientes através da solução proposta por Jeannequin (1987), citada por
Andriolo (1999). Foi fornecido o volume de 1 L de solução nutritiva por planta, totalizando 14,9 g L -1 de
macronutrientes, em doses semanais, até
o final do experimento. O tratamento T1
foi constituído pela dose de referência e
os tratamentos T2 e T3 foram obtidos a
partir da dose de T1, multiplicada por
dois e três, respectivamente, totalizando
29,8 e 44,7 g L-1 de macronutrientes. Em
cada fertirrigação, a solução nutritiva a
ser fornecida às plantas de cada tratamento foi preparada empregando-se a
solução drenada estocada no respectivo
reservatório. A CE dessa solução foi
medida e a quantidade de nutrientes contida no volume de 1 L foi estimada pelo
coeficiente 0,85 (Jeannequin, 1987). A
quantidade de sais a adicionar foi obtida por diferença entre a quantidade total prevista originalmente para T1, T2 e
T3 e aquela contida no volume de solução drenada a ser reutilizada. Essa quantidade foi dividida proporcionalmente
entre os diferentes fertilizantes componentes da solução, de forma a preservar
o equilíbrio eletroquímico existente na
solução de referência. A irrigação foi
feita sempre que necessária para repor
os volumes de água perdidos pela
transpiração, sendo suspensa aos primeiros sinais de escorrimento no fundo das
sacolas.
O delineamento experimental empregado foi de blocos casualizados, com
quatro repetições e 20 plantas por parcela. Quatro plantas de cada tratamento
foram coletadas aleatoriamente, uma em
cada parcela, aos 40; 47; 54; 61; 68; 75
e 82 dias após o transplante (DAT) no
outono e aos 37; 44; 51; 58; 65; 72 e 79
na primavera. Imediatamente após a
coleta, os órgãos vegetativos (folhas,
caule, pecíolos, inflorescências e
pedúnculos) e os frutos foram separados. Para estimar a área foliar da cultura, foram extraídos 100 discos de superfície igual a 0,5 cm2 de área, de folhas
representativas das diferentes partes do
dossel vegetativo. O material vegetal foi
submetido a secagem em estufa de circulação forçada, a temperatura de 60°C,
até peso constante, para determinar a
massa seca. Uma relação foi ajustada
entre a massa e a área dos discos, que
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução drenada
Tabela 1. Médias do número de folhas e frutos, índice de área foliar (IAF), massa seca vegetativa, de frutos e total nos experimentos 1 e 2.
Santa Maria, UFSM, 2001.
*/ Valores seguidos pela mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade.
foi empregada para estimar a área foliar
a partir da massa seca de folhas. No experimento de primavera, os frutos maduros foram colhidos e pesados, para
determinação da produtividade da cultura. A colheita iniciou aos 76 DAT e
foi concluída aos 117 DAT, quando o
experimento foi encerrado. As médias
foram calculadas e submetidas a análise da variância, sendo a significância das
diferenças testada pelo teste de Duncan,
em nível de probabilidade de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios da CE durante o
período de cada um dos experimentos,
obtidos a partir das medidas diárias feitas na solução drenada de cada tratamento foram 3,7; 6,8 e 8,9 dS m-1 no experimento 1, e 3,2; 5,2 e 7,4 dS m-1 no experimento 2, para T1, T2 e T3, respectivamente. As variações entre os experimentos são atribuídas à maior freqüência das
irrigações feitas na primavera, quando
é mais elevada a demanda hídrica da
cultura. Uma maior freqüência de irrigações resulta em maior perda de nutrientes por lixiviação na solução drenada
entre fertirrigações consecutivas.
O número de folhas por unidade de
área de solo no outono mostrou valores
inferiores nas plantas de T3, com diferenças significativas em relação a T2 e
T1. Os valores máximos atingidos ao
final do experimento foram de 85; 83 e
79 folhas m-2, respectivamente para T1,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
T2 e T3 (Tabela 1). Na primavera, os
valores foram similares entre os tratamentos, sem diferenças significativas,
e os valores máximos foram de 83; 85 e
78 folhas m-2, respectivamente para T1,
T2 e T3, ao final do experimento. Quanto ao número de frutos, no outono as
plantas de T2 evidenciaram valores inferiores aos outros dois tratamentos,
embora sem diferenças significativas,
totalizando ao final do experimento 43;
31 e 35 frutos m-2, respectivamente para
T1, T2 e T3 (Tabela 1). Na primavera,
as plantas de T2 apresentaram o valor
mais elevado para essa variável ao final
do experimento, de 58 frutos m-2, enquanto os valores em T1 e T2 foram de
46 e 48 frutos m-2, respectivamente, porém sem diferenças significativas (Tabela 1).
A evolução do índice de área foliar
da cultura foi similar àquela dos órgãos
vegetativos, com valores mais baixos em
T3, em ambos os experimentos (Figura
1ab). Ao final de cada período experimental, os valores estimados foram de
3,9; 3,9 e 3,3 m2 m-2, no outono e de 3,5;
3,8 e 2,8 m2 m-2 na primavera, respectivamente para T1, T2 e T3 (Tabela 1).
A massa seca dos órgãos vegetativos
apresentou valores similares nos três tratamentos até os 61 DAT no outono e os
51 DAT na primavera. Ao final do período experimental, os valores foram de
274,59; 283,07 e 209,71 g m-2, no outono e de 353,90; 375,99 e 308,19 g m-2,
na primavera, respectivamente para T1,
T2 e T3, diferindo significativamente de
T1 e T2 (Tabela 1 Figura 2ab). Quanto
a massa seca de frutos, no outono as
plantas de T2 evidenciaram valores inferiores, porém as diferenças não foram
significativas em relação a T1 (Figura
2c e Tabela 1). Na primavera, os valores foram similares entre os tratamentos, sem diferenças significativas em
cada uma das coletas efetuadas (Figura
2d). Os valores máximos dessa variável
ao final da cada experimento foram
83,88; 62,30 e 101,90 g m-2 no outono e
243,81; 247,01 e 259,95 g m-2 na primavera (Tabela 1). A produtividade de frutos maduros na primavera foi de 10,2;
11,1 e 8,6 kg m-2, respectivamente para
T1, T2 e T3. Esses dados se ajustaram a
um modelo quadrático: Y =
-0,36x2+3,45x+2,95, R2=0,99, com valor máximo obtido para uma
condutividade elétrica de 4,9 dS m-1.
Tem sido demonstrado na literatura
que a produtividade de frutos do tomateiro depende simultaneamente do número de frutos por planta e da fixação
de assimilados para sustentar o crescimento desses frutos (Bertin, 1993, 1995;
Heuvelink, 1996; Konning, 1994). Por
sua vez, a fixação de assimilados depende do número de folhas até atingir o IAF
ótimo necessário para maximizar a
intercepção de radiação solar e a
fotossíntese da cultura (Heuvelink,
1996, Challa & Baker, 1998). Resultados disponíveis na literatura mostraram
que tanto o número de folhas como de
491
J. L. Andriolo, et al.
Figura 1. Índice de área foliar (IAF) de plantas de tomateiro cultivadas em substrato com
reutilização da solução drenada em três níveis de condutividade elétrica, no outono (a) e na
primavera (b). Santa Maria, UFSM, 2001.
Figura 2. Massa seca vegetativa (a,b) e de frutos (c,d) de plantas de tomateiro cultivadas em
substrato com reutilização da solução drenada em três níveis de condutividade elétrica, no
outono (a,c) e na primavera (b,d). Santa Maria, UFSM, 2001.
frutos são reduzidos somente sob níveis
de salinidade elevados, superiores a 9 dS
m-1 (Van Ieperen 1996; Li & Stanghellini,
2001). Entretanto, esse efeito depende
também do período de tempo durante o
qual as plantas foram submetidas à
salinidade. Nos resultados de Van Ieperen
(1996) a redução ocorreu somente após
140 dias com CE de 9 dS m-1. Os dados
492
obtidos no atual experimento confirmam
essas conclusões. Indicam ainda, que nas
culturas em ambiente protegido de ciclo
curto como aquelas praticadas no Sul do
Brasil no outono e na primavera, é pouco provável que a elevação da CE pela
reutilização da solução drenada venha a
interferir no número de folhas e de frutos da cultura.
Os resultados mostrados na literatura sugerem que o efeito mais pronunciado da salinidade do meio radicular
ocorre sobre a expansão das folhas e o
crescimento dos órgãos vegetativos,
principalmente as folhas (van Ieperen,
1996; Stanguellini et al., 1998). Nos dois
experimentos que foram realizados, esse
efeito foi constatado somente nas plantas de T3, cujo valor médio da CE durante o período experimental foi de 8,86
dS m-1 no outono e 7,44 dS m-1 na primavera. No experimento de primavera,
o IAF máximo das plantas de T3 ao final do experimento foi de 2,9 m2 m-2,
abaixo do limite ótimo, que é da ordem
de 3,5 m2 m-2 (Konning, 1994). É importante salientar que aos 79 DAT, quando a coleta de plantas para a determinação da massa seca e da área foliar foi
encerrada, a colheita de frutos já havia
sido iniciada na primeira inflorescência.
Desse período em diante a área foliar
da cultura foi mantida mais ou menos
constante pela retirada das folhas basais,
como recomendado na produção comercial dessa cultura (Nuez, 1995). É surpreendente, por isso, que uma redução
de 26% no IAF não tenha afetado a acumulação de massa seca nos frutos, a qual
não diferiu entre os três tratamentos.
Esse resultado confirma as conclusões
anteriores de Andriolo & Falcão (2000),
os quais indicaram que uma parte da
área foliar das plantas de tomateiro em
ambiente protegido pode ser eliminada,
sem diminuir a produção da massa seca
de frutos da cultura.
Apesar de a massa seca de frutos não
ter sido influenciada pela CE, a produtividade de frutos foi reduzida em 22,7%
quando a CE passou de 5,25 dS m-1 em
T2, para 7,44 dS.m-1, em T3. Essa falta
de sincronia entre a acumulação de massa fresca e seca tem sido atribuída à diminuição na absorção e acumulação de
água nos frutos, especialmente na fase
de expansão celular (Cuartero &
Fernández-Muñoz, 1999; Bolarin et al.,
2001). Esse efeito seria ainda mais pronunciado em materiais genéticos de frutos grandes, como aquele empregado
nos atuais experimentos. Para minimizar
esse efeito, o uso de materiais de frutos
médios e/ou pequenos é recomendado.
Essa prática permitiria associar produtividade e qualidade dos frutos, pois a
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Crescimento e desenvolvimento do tomateiro cultivado em substrato com reutilização da solução drenada
salinidade aumenta a acidez e o teor de
sólidos solúveis dos frutos, que são características qualitativas desejáveis em
frutos de tomateiro (Cuartero &
Fernández-Muñoz, 1999).
Observando-se dados apresentados
nesse trabalho, conclui-se que é possível reutilizar a solução nutritiva drenada no cultivo do tomateiro em substrato,
segundo o procedimento adotado atualmente, que usa a fertirrigação a intervalos periódicos de tempo. No caso de essa
prática implicar elevação da CE em torno das raízes, é pouco provável que efeitos negativos sobre a produtividade de
frutos venham a ocorrer, desde que os
valores não ultrapassem a 4,9 dS m-1.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPERGS
e ao Programa PIBIC-CNPq, pela concessão de Bolsas de Iniciação Científica aos acadêmicos de Agronomia
Marcio Witter e Tiago Dal Ross, respectivamente, no ano de 2001.
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Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura
do solo com plástico preto e ao preparo do solo
Neyton O. Miranda, José F. Medeiros, Iarajane B. Nascimento, Leonardo P. Alves
ESAM, Depto. Engenharia Agrícola, C. Postal 137, 59625-900, Mossoró-RN. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Determinou-se o efeito da intensidade do preparo e da cobertura
do solo com plástico preto sobre a produção e qualidade de frutos de
melão irrigado por gotejamento. O experimento foi conduzido em
Mossoró, no delineamento blocos ao acaso em esquema fatorial com
parcela subdividida, com três repetições. Foram avaliados o tipo de
preparo do solo (área total ou em faixas) e profundidade de preparo
(20; 30; 40 e 50 cm), com parcelas divididas em com ou sem cobertura do solo. Os frutos foram classificados em tipo exportação, mercado interno e refugo para determinar peso de frutos de cada tipo,
número total de frutos e seu peso médio. Foram determinados a firmeza de polpa, o teor de sólidos solúveis totais (SST), espessura da
polpa e formato do fruto. A qualidade dos frutos de melão foi reduzida pela cobertura do solo apenas em termos de firmeza de polpa.
O preparo do solo em faixas não influenciou as características estudadas. Maiores profundidades de preparo aumentaram a produção
de frutos tipo exportação, entretanto diminuíram a produção para o
mercado interno.
Yield and quality of melon fruits in response to plastic mulch
and soil tillage
Palavras-chave: Cucumis melo L., mecanização agrícola, sólidos
solúveis totais.
Keywords: Cucumis melo L., agricultural mechanization, total
soluble solids.
The effect of black polyethylene mulch and soil tillage intensity
was determined on yield and quality of drip irrigated melon. The
field trial was carried out in Mossoró, Brazil. The experimental design
was randomized complete block in a factorial scheme with three
replications. Two soil tillage methods were evaluated (strip tillage
or tillage of the entire area) and tillage depth (20; 30; 40 and 50 cm),
with split plots with or without mulch. Fruits were classified in export
type, internal market type and rejected, to determine total yield and
the yield of each type, number of fruits and fruit mean weight. Pulp
firmness, total soluble solids, pulp thickness and fruit shape were
determined. Results showed decrease in pulp firmness with black
plastic mulch. Strip tillage did not influence any studied characteristic.
Yield of both export type and internal market melons was influenced
by tillage depth. While deep tillage increased yield of export type
melons, it reduced internal market yield.
(Recebido para publicação em 08 de maio de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003)
O
melão produzido no Nordeste brasileiro é competitivo no mercado
externo. Porém, esta competitividade
pode ser melhorada se forem adotadas
alternativas para diminuir custos de produção. Para tanto, o preparo do solo e a
irrigação são componentes importantes.
Operações de preparo são
justificadas por retorno em produtividade maior que seu custo, ou melhoria nas
condições físicas e biológicas do solo
(Siemens et al., 1993), e pelo controle
de plantas invasoras (Arndt & Rose,
1966). Porém, o solo muitas vezes é preparado excessivamente por agricultores
que preferem usar práticas e equipamentos tradicionais a correr riscos.
Existem alternativas ao preparo convencional que otimizam custos e eficiência, como operações combinadas, preparo em faixas e na profundidade necessária à produção, e variações em profundidade, largura preparada e intensidade de destorroamento, que simplificam, eliminam ou diminuem operações,
494
economizam combustíveis, equipamentos, mão-de-obra e tempo, mantendo a
produtividade (Hillel, 1982; Hunt, 1995;
McKibben & Whitaker, 1973; Unger &
McCalla,1981).
A economia de água, tempo, dinheiro e mão-de-obra justifica o preparo em
faixas nos solos cultivados em linhas
cuja compactação é definida e fácil de
eliminar (Arndt & Rose, 1966;
Oschwald, 1973). Pequenas variações
na profundidade do preparo causam
grandes variações no tempo e na quantidade de combustível gastos, no desgaste e danos aos tratores e implementos
(Unger & McCalla, 1981). O preparo
profundo (40-45 cm) chega a custar o
dobro do médio (35 cm), quatro vezes
mais que o normal (25 cm) e dez vezes
mais que o raso (15 cm) (Hillel, 1982).
Mesmo assim, a descompactação do
solo e maior infiltração e
armazenamento de água, devidos ao preparo profundo, podem aumentar a produtividade, principalmente em anos com
deficiência hídrica (McKibben &
Whitaker, 1973; Trouse Jr. & Humbert,
1959).
A cobertura do solo (‘mulch’) com
plástico na cultura do melão, comum em
vários países, teve introdução recente na
região produtora do Rio Grande do Norte. Esta prática visa aumentar a produção e qualidade dos frutos, antecipar a
colheita, reduzir a infestação de pragas
e das doenças por estas disseminadas, e
melhorar o controle de plantas invasoras. Também reduz danos e doenças nos
frutos, pois diminui seu contato com o
solo. A maior temperatura e menor amplitude térmica no solo coberto pode
aumentar a taxa de desenvolvimento das
plantas e antecipar a colheita. Em regiões semi-áridas a economia de água por
redução nas perdas por evaporação é
importante benefício da cobertura do
solo. As condições de temperatura e
umidade criadas no solo proporcionam
economia de fertilizantes pela maior
disponibilidade de nutrientes. No caso
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo
do nitrogênio, a cobertura favorece a
nitrificação e reduz perdas por
volatilização (Araújo, 2000; Ferreira,
2001; Ibarra et al., 2001).
Algumas vantagens observadas em
pesquisas com melão, atribuídas ao uso
de cobertura do solo com plástico, relacionam-se com o desenvolvimento
vegetativo, número total de frutos, número de frutos comerciais, peso médio
de frutos, produtividade total e comercial e teor de sólidos solúveis totais, logo
após a colheita de melão amarelo (Silva, 2002); firmeza de polpa (Araújo,
2000); matéria seca, área foliar e rendimento de frutos (Ibarra et al., 2001);
produção de frutos comerciais (Ferreira,
2001) e teor de sólidos solúveis totais,
peso de frutos, número de frutos por
hectare e produtividade total de melão
cantaloupe (Maiero et al., 1987).
O objetivo desse trabalho foi determinar o efeito da cobertura do solo com
plástico preto e o efeito da intensidade
do preparo do solo sobre alguns componentes da produção e qualidade dos
frutos de melão irrigado por
gotejamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi implementado no
município de Mossoró-RN, latitude
5°11’S, longitude 37°20’W e altitude de
18 m. O clima é muito quente, semi-árido, com chuvas predominando de fevereiro a maio. O solo da área é um
LUVISSOLO CRÔMICO Pálico, profundo, poroso e bem drenado, com pH
entre 7,1 e 7,3. Os teores médios de alguns elementos, na análise química do
solo da camada entre 0 e 20 cm de profundidade, foram: Ca = 8,4 cmolc dm-3;
Mg = 2,72 cmolc dm-3; K = 1,84 cmolc
dm-3; Na = 0,18 cmolc dm-3; e P = 39 mg
dm-3. As frações granulométricas do solo
da camada entre 0 e 30 cm de profundidade foram: areia grossa = 370 g kg-1;
areia fina = 190 g kg-1; silte = 120 g kg1
; e argila = 320 g kg-1. A densidade do
solo era de 1,58 Mg m-3 entre 0 e 15 cm
de profundidade; 1,48 Mg m-3 entre 15
e 30 cm e 1,55 Mg m-3 entre 30 e 45 cm.
No preparo da área usou-se grade
média com 28 discos de 0,59 m de diâmetro; escarificador de arrasto com rodas limitadoras de profundidade e hasHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
tes com pontas retangulares de 0,08 m
de largura; grade leve com 24 discos de
0,46 m de diâmetro; sulcamento; adubação no sulco (8 kg ha-1 de N e 42 kg
ha-1 de P2O5); construção de camalhões
e semeadura manual. O trator utilizado,
com potência de 106,6 kW, possuía tração dianteira auxiliar e massa aproximada de 75500 N.
O meloeiro amarelo, híbrido ‘Gold
Mine’, foi semeado em 05/11/99 com
espaçamento entre linhas de 2,0 m, com
duas plantas a cada 0,45 m espaçadas
de 0,15 m. A adubação foi feita via água
de irrigação (68 kg ha-1 de N; 120 kg ha1
de P2O5 e 264 kg ha-1 de K2O). Os tratos culturais seguiram o sistema de produção da empresa. A colheita foi realizada nos dias 4, 11 e 17/01/00.
Na irrigação foram usados
gotejadores espaçados de 0,60 m com
vazão média de 2,3 L h-1 à pressão de
100 kPa. A evapotranspiração de referência foi calculada pelo método de
Penman-Monteith com dados da Estação Climatológica da ESAM, situada a
12 km do local do experimento, e os
coeficientes de cultivo recomendados
por Allen et al. (1998). A lâmina de irrigação, até os 60 dias, foi de 222 mm
nas parcelas descobertas e 200 mm nas
cobertas.
Usou-se o delineamento experimental de blocos casualizados completos em
esquema fatorial com parcela subdividida e três repetições. As parcelas receberam combinações dos fatores: tipo de
preparo do solo (escarificação em área
total ou faixas com 1,2 m de largura) e
profundidades de escarificação (20; 30;
40 e 50 cm), e foram divididas em descobertas e cobertas com filme de
polietileno preto. As parcelas constavam
de três linhas de melão, tendo sido colhidos 10,2 m de comprimento da linha
central.
Os frutos foram classificados, por
pessoa especializada, em tipo exportação, mercado interno e refugo, segundo
critérios de tamanho, aspecto e injúrias
mecânicas, da maneira como é feito na
produção comercial de melão. Foram
determinados: peso de frutos de cada
tipo, número de frutos total e peso médio de frutos. Na primeira colheita tomaram-se quatro frutos por parcela para
determinar: firmeza de polpa através da
resistência à penetração usando
penetrômetro com “plunger” de 8 mm
de diâmetro; teor de sólidos solúveis
totais (SST) usando refratômetro digital com compensação automática de
temperatura; e espessura da polpa e formato (relação entre diâmetro longitudinal e transversal do fruto).
Os dados obtidos foram submetidos
à análise de variância e à comparação
de médias pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não se observou efeito significativo, pelo teste F a 5% de probabilidade,
dos fatores estudados sobre a espessura
da polpa, formato do fruto e teor de sólidos solúveis totais nem suas interações
(Tabela 1). Quanto à firmeza de polpa,
apenas o fator cobertura do solo revelou efeito significativo, tendo o seu uso
diminuído a firmeza dos frutos. Isto
pode ser devido à maior retenção de
umidade no solo coberto, como observado por Ferreira (2001). Porém, contraria Araújo (2000) que também observou maior umidade no solo coberto com
plástico preto e menor firmeza de polpa
no solo descoberto, que foi atribuída ao
estresse hídrico. Os frutos com maior
firmeza são mais resistentes às injúrias
mecânicas durante o transporte e
comercialização (Grangeiro, 1997). Os
teores de sólidos solúveis totais estão,
no geral, aquém dos valores esperados
para exportação. Isto se deve
(Grangeiro, 1997), ao fato de o método
de determinação de SST em laboratório
exigir a homogeneização da polpa, resultando em valores duas a três unidades menores do que o método empregado pela maioria das empresas produtoras que empregam algumas gotas do
suco extraído de uma fatia de melão. A
qualidade dos frutos de melão não foi
influenciada pelo preparo do solo, sendo recomendável, segundo Hillel
(1982), simplificar e diminuir as operações de preparo.
Dos componentes de produção de
melão avaliados (Tabela 2) foi constatado que a produção de frutos do tipo
refugo (PREF), o número total de frutos (NTOT) e o peso médio dos frutos
(PMTOT) não foram influenciados pe495
N. O. Miranda, et al.
Tabela 1. Valores médios de características de qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao tipo de
preparo do solo. Mossoró, ESAM, 2000.
1
SST - sólidos solúveis totais. *Médias seguidas por letras iguais nas colunas não
diferiram pelo teste F a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Médias de alguns componentes de produção do meloeiro em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo.
Mossoró, ESAM, 2000.
1
PNAC – produção de frutos tipo mercado interno; PEXP – produção de frutos tipo exportação;
PREF – produção de frutos refugo;
PTOT – produção total de frutos; NTOT – número total de frutos; PMTOT – peso médio total de frutos. *Médias seguidas por letras
maiúsculas iguais nas colunas não diferiram pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e letras minúsculas pelo teste F a 5% de
probabilidade.
los fatores estudados, como também
observaram Araújo (2000) e Ferreira
(2001) estudando apenas a cobertura do
solo. A profundidade de escarificação e
a interação entre tipo de preparo e profundidade influenciaram significativamente a produção de frutos para o mercado interno (PNAC). O desdobramento da interação, apresentado na Tabela
496
3, mostra que não houve diferença pelo
teste de Tukey a 5% de probabilidade
entre as profundidades no preparo total,
entretanto houve uma diminuição da
PNAC à medida que aumentou a profundidade quando o preparo foi realizado em faixas. Este fato pode ser explicado pela concentração de água e nutrientes em um menor volume de solo
quando o preparo é realizado em faixas
e a pequenas profundidades, facilitando a exploração pelas raízes. Miranda
et al. (2001), analisando os fatores de
preparo do solo, obtiveram diminuição
no consumo de combustível e tempo
com a redução na largura da faixa preparada e na profundidade de
escarificação.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produtividade e qualidade de frutos de melão em resposta à cobertura do solo com plástico preto e ao preparo do solo
Apenas a profundidade de preparo
influenciou a produção de frutos tipo
exportação (PEXP), embora Araújo
(2000) tenha observado menor produção do tipo exportação com o uso da
cobertura com plástico. Na Tabela 2 se
pode observar o aumento de PEXP com
o aumento da profundidade de
escarificação, comportamento inverso
ao de PNAC. O coeficiente de variação
elevado reflete a maneira subjetiva, e
preferencial em relação aos outros tipos,
como é feita a classificação do tipo exportação, que leva em conta menor tamanho de frutos, firmeza, coloração,
formato e ausência de injúrias mecânicas. Pequenas profundidades de preparo parecem favorecer o acúmulo de
umidade, o que foi comprovado por
Araújo (2000) e Ferreira (2001), e de
nutrientes como o nitrogênio, cujo excesso prejudica a qualidade e aparência
dos frutos. As observações desses autores são reforçadas pelas tendências observadas, não significativas estatisticamente, de aumento de PNAC (14,85%)
e diminuição de PEXP (20,71%) quando se usou cobertura plástica (Tabela 2),
e pelos valores de PMTOT, cuja tendência foi apresentar frutos maiores no preparo em faixas, com cobertura e a menores profundidades.
A produção total de frutos de melão
(PTOT) foi influenciada apenas pela
interação entre tipo de preparo e cobertura do solo, cujo desdobramento mostra que quando se preparou o solo em
área total o uso de cobertura do solo com
plástico preto não influenciou significativamente a produção total (29.384 kg
ha-1 para sem cobertura e 28.483 kg ha1
para com cobertura). Mas, quando se
preparou o solo em faixas, o uso da cobertura proporcionou uma produção total de 29.774 kg ha-1, contra 27.443 kg
ha-1 para sem cobertura. Esta diferença
foi significativa pelo teste de Tukey a
5% de probabilidade. A cobertura do
solo parece causar maior concentração
de umidade e nutrientes próximo às
raízes, o que beneficia o preparo em faixas se as raízes estiverem restritas em
sua capacidade de obtê-los. Ferreira
(2001) obteve maior produção de frutos comerciáveis quando usou cobertura, sem influência sobre a produção total. A ausência de constatação de efeito
dos fatores individuais sobre a produHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Tabela 3. Desdobramento da interação entre tipo de preparo e profundidade de preparo do
solo para produção de frutos de melão tipo mercado interno (kg ha-1). Mossoró, ESAM, 2000.
*
Médias seguidas de letras iguais nas colunas não diferiram pelo teste de Tukey a 5%
de probabilidade.
ção total indica que o meloeiro se adaptou às condições adversas sem alterações significativas na sua capacidade de
produção, mas com mudanças nas características de seus frutos.
Neste experimento, a cobertura do
solo com plástico preto influenciou a
qualidade dos frutos de melão causando redução nos valores de firmeza de
polpa. A cobertura também proporcionou aumento da produção total de melão quando o preparo do solo foi realizado em faixas. Devido às implicações
da cobertura do solo com o teor de água
e de nutrientes no solo, deve-se proceder a novas pesquisas em relação ao
manejo da irrigação e à fertilização.
Quanto ao preparo do solo, o sistema
de preparo em faixas não influenciou
individualmente as características estudadas, podendo ser recomendado para
a cultura do melão devido à economia
de tempo e combustíveis proporcionada. Já, a profundidade de preparo exerceu influência sobre a produção de frutos tipo exportação, que aumentou com
a profundidade, e sobre a produção para
o mercado interno, que diminui com o
aumento da profundidade no preparo em
faixas. A produção total de melão não
foi influenciada pelos fatores estudados,
mas alguns de seus componentes responderam diferentemente a cada fator.
Por exemplo, enquanto o tipo exportação aumentava com maiores profundidades o de mercado interno diminuía.
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Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e
nos teores de metais pesados em alface
José Ricardo Mantovani1,3, Manoel Evaristo Ferreira1, Mara Cristina Pessôa da Cruz1, Márcio Koiti
Chiba1,3, Leila Trevizan Braz2
2
UNESP, Depto. Solos e Adubos, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/nº, 14884-900 Jaboticabal-SP; 3Depto. Produção
Vegetal; 4Bolsista FAPESP; e-mail:[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Foram realizados dois experimentos em casa de vegetação para
avaliar o efeito da adição de um vermicomposto oriundo de lixo
urbano e da calagem na matéria seca e na concentração de metais
pesados na parte aérea de plantas de alface cv. Mesa 659. Em um
dos ensaios, foi usado um Latossolo Vermelho distroférrico e, em
outro, um Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico. O delineamento
experimental de cada experimento foi em blocos ao acaso, em esquema fatorial 5 x 5, com quatro repetições, combinando-se calagem
para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%, e o equivalente a 0; 25; 50; 75 e 100 t ha-1 de vermicomposto. Uma única
aplicação de vermicomposto de lixo urbano, em doses acima de 50 t
ha-1, limitou a produção de alface nos dois tipos de solos. Mesmo
estas doses que restringiram a produção da alface, não a tornaram
imprópria para consumo humano do ponto de vista da concentração
de metais pesados.
Liming and urban waste vermicompost effects on production
and heavy metals concentration of lettuce
The effect of urban waste vermicompost over dry matter and
heavy metal concentration in lettuce tops, was evaluated in two
greenhouse experiments, one with an Oxissol and another an Alfissol.
The experiments followed a completely randomized design
combining five liming levels, to elevate the degree of base saturation
to 40; 50; 60; 70 and 80%, with five vermicompost rates of 0; 25;
50; 75 and 100 t ha-1, with four replicates. The use of urban waste
vermicompost in higher rates than 50 t ha-1 limited the lettuce yield
in both soils. Even at these rates, however, the lettuce did not become
inappropriate as food from the point of view of heavy metal
contamination.
Palavras-chave: Lactuca sativa, adubação orgânica, pH.
Keywords: Lactuca sativa, organic manure, pH.
(Recebido para publicação em 08 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
O
acúmulo de metais pesados em
plantas depende de fatores como
espécie, cultivar, órgão ou parte estudada. Segundo Simeoni et al. (1984), cereais, gramíneas, legumes e olerícolas
tuberosas tendem a acumular menos
metais do que plantas folhosas de crescimento rápido, como a alface.
Algumas características químicas do
solo também influenciam na absorção de
metais pesados pelas plantas, entre as
quais, o pH desempenha papel fundamental. Albasel & Cottenie (1985) verificaram que o aumento do pH do solo,
devido à calagem, reduziu drasticamente a disponibilidade e, consequentemente,
a absorção de chumbo, níquel e zinco por
plantas de azevém e de cevada. Hooda
& Alloway (1996) observaram que a elevação do pH, pela calagem, em solos de
diferentes texturas, proporcionou decréscimo na concentração de cádmio, cobre,
níquel, chumbo e zinco em cenoura e em
espinafre.
Na reciclagem do lixo urbano, a
compostagem e depois a vermicom498
postagem da fração orgânica levam à
produção de adubos orgânicos como
composto e vermicomposto, respectivamente. O vermicomposto é um produto
de melhor qualidade, de maior aceitação e valor comercial. Segundo Berton
& Valadares (1991) e Egreja Filho
(1993), duas características desses
insumos são a ausência de microorganismos patogênicos e a presença de
quantidades variáveis de metais pesados,
como cádmio, níquel, chumbo, cobre,
ferro, manganês e zinco. Por essa última
característica, o uso agrícola de composto e de vermicomposto deve ser acompanhado, de maneira que se tenha controle das quantidades que podem ser acumuladas pelas plantas sem risco à saúde
humana.
Petruzelli et al. (1989), em ensaio
de campo, avaliaram o efeito da aplicação de 30 t ha-1 ano-1 de composto de
lixo, durante quatro anos, na cultura do
milho. Constataram que o teor de
cádmio, zinco e cobre nos grãos teve um
aumento significativo em relação à tes-
temunha apenas no terceiro e quarto
cultivos, enquanto o teor de outros metais, como o níquel e o chumbo, não
sofreram variações significativas no
transcorrer do experimento. Alves et al.
(1999), na ausência de adubação química, verificaram que, com a adição de
composto de lixo, houve aumento da
produção de matéria seca e das quantidades acumuladas de ferro, manganês e
zinco na parte aérea de plantas de sorgo.
Em relação às olerícolas, Costa et al.
(1994) verificaram que, em solos com
acidez elevada e fertilidade baixa, houve aumento da produção de matéria seca
de alface até a dose estimada de cerca
de 20 t ha-1 de composto de lixo urbano
adicionada a um solo argiloso, enquanto que em solo arenoso houve diminuição na produção. Quanto à concentração de metais, foram observados aumentos significativos nos teores de zinco,
cobre, cádmio e chumbo na parte aérea
das plantas, sendo que para o cobre, os
teores foram considerados fitotóxicos.
Num experimento de campo, em dois
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface
cultivos sucessivos de alface, Costa et
al. (2001) obtiveram aumento linear na
produção de matéria fresca da hortaliça,
aumento significativo nos teores de zinco da parte aérea e nenhum efeito nos
de cobre, níquel e chumbo, com a aplicação de composto de lixo urbano.
O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da adubação com
vermicomposto de lixo urbano e da
calagem na produção de matéria seca e
na concentração de cádmio, níquel,
chumbo, cobre, ferro, manganês e zinco da parte aérea de alface.
MATERIAL E MÉTODOS
Em casa de vegetação, foram realizados dois experimentos em vasos, empregando-se, no primeiro (abril a julho
de 1997), um solo de textura argilosa e,
no segundo (abril a julho de 1999), um
solo de textura arenosa. Os solos foram
coletados na camada arável (0-20 cm),
respectivamente, de um Latossolo Vermelho distroférrico (LVdf) e de um
Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico
(PVAe). Foi feita caracterização química de rotina e análise textural (Camargo
et al., 1986). Os resultados obtidos para
o LVdf e para o PVAe foram, respectivamente: P resina = 10 e 16 mg dm-3;
M.O. = 40 e 10 g dm-3; pH CaCl2 = 4,6 e
4,0; K+ = 1,8 e 1,5 mmolc dm-3; Ca2+ =
15 e 4 mmolc dm-3; Mg2+ = 9 e 2 mmolc
dm-3; H+Al = 58 e 28 mmolc dm-3; SB =
26 e 8 mmolc dm-3; CTC = 84 e 36 mmolc
dm-3; V% = 31 e 21; argila = 646 e 70 g
kg-1; silte = 247 e 90 g kg-1; e areia =
107 e 840 g kg-1.
O vermicomposto de lixo urbano
utilizado, proveniente da ex-Estação
Experimental da Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental
(CETESB), Novo Horizonte (SP), foi
analisado conforme descrito em Kiehl
(1985) e apresentou os seguintes teores
de metais pesados, em mg kg-1, base
seca: Cd <1; Ni = 18; Pb = 122; Cu =
197; Fe = 32000; Mn = 272 e Zn = 455.
Em cada experimento, foi empregado esquema fatorial 5 x 5, em delineamento em blocos ao acaso, com quatro
repetições. Os tratamentos consistiram
na combinação de cinco doses de corretivos da acidez e cinco doses de
vermicomposto de lixo urbano. As doHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Isolinhas para matéria seca da parte aérea de alface (g/vaso) cv. Mesa 659, em solo
argiloso em função de vermicomposto de lixo urbano e calagem. Jaboticabal, UNESP, 1997.
ses de corretivos da acidez foram estimadas para se obter índices de saturação
por bases (V%) iguais a 40; 50; 60; 70 e
80, a relação Ca:Mg empregada foi igual
a 4:1 para o solo argiloso e 2:1 para o
arenoso, e os produtos utilizados foram
CaCO3 e 4MgCO3.Mg(OH)2.5H2O p.a.
As doses de vermicomposto adicionadas
foram correspondentes a 0; 25; 50; 75 e
100 t ha-1, com base no peso seco.
Os corretivos e o vermicomposto
foram misturados, a seco, a porções de
5,5 dm3 de solo, de acordo com cada tratamento, as quais foram transferidas
para vasos de alumínio com capacidade
para 5,8 L. O solo foi umedecido com
água deionizada a 60% da capacidade
de retenção e submetido a incubação por
40 dias. Aos 30 dias de incubação, foi
feita adubação mineral de maneira a se
ter, em mg dm-3: 120 de P; 20 de S; 0,5
de B; 1,25 de Cu; 3,0 de Mn; 0,02 de
Mo; e 2,5 de Zn, em ambos os solos,
além de 36 de N e 150 de K no solo
argiloso, e de 80 de N e 50 de K no solo
arenoso. Foram usadas soluções preparadas a partir dos sais (p.a.): NH4H2PO4;
KNO 3 ; KH 2 PO 4 ; K 2 SO 4 ; H 3 BO 3 ;
CuSO 4 .5H 2 O;
MnCl 2 .4H 2 O;
(NH4)6Mo7O24.4H2O; ZnSO4.7H2O.
Ao término da incubação, o solo foi
seco ao ar e amostrado. Porções de 5
dm3 de solo foram devolvidas para os
vasos e reumedecidas a 60% da capacidade de retenção. Em seguida, transplantou-se para cada vaso uma muda de
alface (Lactuca sativa L.) do grupo
americana, cultivar Mesa 659.
Foram feitas quatro adubações de
cobertura de 15 mg dm-3 de N, como
NH4NO3, no solo argiloso, e de 18 mg
dm-3 de N mais 50 mg dm-3 de K, como
KNO3, no solo arenoso.
A colheita foi realizada 47 dias após
o transplantio, cortando-se as plantas
rente à superfície do solo de cada vaso.
Avaliou-se a matéria seca e, em extrato
de digestão nítrico-perclórica, determinaram-se os teores de cádmio, níquel,
chumbo, cobre, ferro, manganês e zinco por espectrofotometria de absorção
atômica (Bataglia et al., 1983).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo Teste
F, e o efeito de doses foi avaliado por
meio de regressão polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção de matéria seca
O vermicomposto e a calagem afetaram significativamente a produção de
matéria seca de alface em ambos os solos, com efeito da interação dos dois
fatores apenas no LVdf (Tabelas 1 e 2).
No LVdf verificou-se que, para valores
499
J. R. Mantovani, et al.
Tabela 1. Matéria seca e teor de metais pesados na parte aérea de alface cv. Mesa 659 cultivada em solo argiloso, LVdf. Média de quatro
repetições. Jaboticabal, UNESP, 1997.
(1)
em que: VM0, VM1, VM2, VM3 e VM4 correspondem, respectivamente, a 0; 25; 50; 75 e 100 t/ha de vermicomposto e C0, C1, C2, C3 e C4,
a adição de corretivos para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%.
(2)
ns, * e ** : não significativo e significativo à 5% e 1% de probabilidade, respectivamente.
de saturação por bases desejados menores do que 60%, houve aumento de produção de matéria seca com aplicação de
até cerca de 50 t ha-1 de vermicomposto
de lixo urbano (Figura 1). Para valores
de V% maiores do que 70, ocorreu decréscimo de produção com a adição de
doses maiores do que 75 t ha -1 do
vermicomposto. Estima-se que a máxima produção poderá ser obtida combinando-se doses de vermicomposto en500
tre 15 e 75 t ha-1 e saturação por bases
desejada entre 50 e 70%.
No PVAe, houve efeito quadrático
do vermicomposto (x) na produção de
matéria seca de alface (y), ocorrendo
decréscimo na produção em doses de
vermicomposto acima de 55 t ha-1 (y = 0,0013x 2 + 0,1435x + 29,044, R 2 =
0,918**). Essa diminuição de produção,
de 33,00 para 30,39 g/vaso (8%), foi
menor do que a ocorrida no LVdf, no
qual foi de 25,46 para 19,86 g/vaso
(22%). A máxima produção de matéria
seca da parte aérea de alface no PVAe,
estimada para as condições do experimento, seria obtida com a adição de 55
t ha-1 de vermicomposto de lixo. Costa
et al. (1994) e Santos (1995), em solo
argiloso, também observaram diminuição na produção de matéria seca de alface, com a aplicação de doses de composto de lixo maiores do que 60 t ha-1 e
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface
Tabela 2. Matéria seca e teor de metais pesados na parte aérea de alface cv. Mesa 659 cultivada em solo arenoso, PVAe. Média de quatro
repetições. Jaboticabal, UNESP, 1997.
(1)
em que: VM0, VM1, VM2, VM3 e VM4 correspondem, respectivamente, a 0; 25; 50; 75 e 100 t/ha de vermicomposto e C0, C1, C2, C3 e C4,
a adição de corretivos para elevar a saturação por bases a 40; 50; 60; 70 e 80%.
(2)
ns, * e **: não significativo e significativo à 5% e 1% de probabilidade, respectivamente.
35 t ha-1, respectivamente. Estes autores acreditam que o aumento da
condutividade elétrica no solo pode ter
sido uma das causas de redução de produção.
A calagem teve efeito quadrático na
produção de matéria seca da parte aérea
das plantas de alface no PVAe (Tabela
3), tendo a produção aumentado ao se
efetuar calagem para elevar o V% a até
cerca de 65%. Ainda, observou-se que
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
a produção de matéria seca de alface no
PVAe foi maior do que no LVdf. Essa
diferença de produção, provavelmente,
foi devida à variação na temperatura,
nos dois anos de condução dos ensaios,
pois os valores médios de temperatura
mínima, média e máxima em
Jaboticabal, durante a condução dos
experimentos em 1997 e em 1999, foram de 12,8; 18,5 e 26,2ºC e, 13,6; 19,5
e 27,7ºC, respectivamente.
A equação de regressão múltipla
mostra que a produção de matéria seca
(y) no LVdf foi afetada pelos teores de
cobre e de manganês (y = 40,529 1,839Cu - 0,077Mn, R2 = 0,62**, FCu =
1,70, FMn = 34,89) e, no PVAe, pelos de
ferro e de manganês (y = 41,735 0,129Fe - 0,012Mn, R2 = 0,63**, FFe =
23,08, FMn = 15,05). No solo argiloso,
como indica o maior valor do teste F
para manganês, a concentração desse
501
J. R. Mantovani, et al.
Tabela 3. Equações de regressão expressando o efeito do vermicomposto (VM), da saturação por bases (V%) e de ambos, na matéria seca
(M.S.) e nos teores de cádmio, níquel, cobre, chumbo, ferro, zinco e manganês, em alface cv. Mesa 659. Jaboticaba, UNESP, 1997.
elemento na parte aérea das plantas teve
maior influência na produção do que a
de cobre. No solo arenoso, porém, o ferro e o manganês influenciaram a produção das plantas aproximadamente na
mesma intensidade. Esses metais afetaram a produção das plantas nos dois tipos de solos, de forma linear e negativa. Dessa maneira, considerando-se os
elementos em análise, o aumento de produção de matéria seca de 14,44 para
24,88 g/vaso (72%), do tratamento
VM0C0 para o VM4C0, no LVdf (Tabela
1), deve ter sido devido, especialmente,
ao decréscimo da concentração de
manganês na parte aérea das plantas.
Teores de metais pesados nas plantas: efeitos dos tratamentos
Os teores de quase todos os metais
pesados nas plantas de alface sofreram
mudanças significativas com os tratamentos aplicados (Tabelas 1 e 2). Os
teores de chumbo nas plantas cultivadas no LVdf, entretanto, ficaram abaixo
do limite de detecção, calculado, no
caso, em 0,21 mg kg-1, de acordo com
Tedesco et al. (1999), e por isso não estão sendo apresentados.
502
a) no solo argiloso, LVdf
Observou-se efeito significativo do
vermicomposto e da calagem nas concentrações de cádmio, níquel, cobre,
manganês e zinco na parte aérea de alface, e a interação dos fatores foi significativa para manganês e zinco (Tabela
1). Nos casos em que houve efeito significativo de interação, foram feitos estudos por meio de regressões múltiplas.
Vermicomposto e calagem não afetaram
significativamente a concentração de
ferro na parte aérea das plantas. Os teores de cádmio, níquel, cobre e zinco na
parte aérea de alface aumentaram significativamente em função das doses de
vermicomposto de lixo urbano (Tabela
3), tendo sido observado maior incremento para o zinco. Costa et al. (1994)
e Costa et al. (1997) também observaram aumentos na concentração de cobre e zinco, em alface e em cenoura, com
a adição de composto de lixo.
Em relação ao manganês, verificouse diminuição dos teores desse elemento na parte aérea de alface com o aumento das doses de vermicomposto de
lixo urbano, sendo essa tendência mais
acentuada para valores de saturação por
bases inferiores a 50% (Tabela 3). Apesar de o vermicomposto ser fornecedor
de manganês, ele também provoca aumento de pH, o que provavelmente levou à diminuição da disponibilidade
desse micronutriente no solo e,
consequentemente, ao decréscimo de
sua absorção pelas plantas de alface.
Alves et al. (1999), também verificaram
decréscimo dos teores de manganês extraídos com DTPA no solo, com aplicação de composto de lixo.
O aumento da saturação por bases
acarretou redução dos teores de zinco e
de manganês na matéria seca de alface
(Tabela 3). Para o manganês, tal efeito foi
mais pronunciado em doses de
vermicomposto menores do que 50 t ha-1.
Observou-se decréscimo linear da
concentração de cádmio em alface, com
a elevação do V% (Tabela 3). Para os
demais elementos, cobre, níquel e ferro, não foi verificada tendência definida com a calagem.
b) no solo arenoso, PVAe
No solo arenoso, o vermicomposto
afetou significativamente a concentraHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Calagem e adubação com vermicomposto de lixo urbano na produção e nos teores de metais pesados em alface
ção de cádmio, cobre e manganês em
alface (Tabela 2). A calagem, por outro
lado, afetou as concentrações de cádmio,
níquel, chumbo, ferro, manganês e zinco, mas observou-se interação apenas
para manganês. Não foi observado efeito significativo do vermicomposto nos
teores de níquel, chumbo, ferro e zinco
nas plantas. Para esses elementos, com
exceção do níquel, também não foram
constatadas tendências definidas com a
aplicação desse adubo orgânico. Para o
níquel, houve decréscimo de concentração com o aumento das doses de
vermicomposto (Tabela 3). A aplicação
de vermicomposto de lixo urbano acarretou aumento significativo nos teores
de cádmio e cobre, na parte aérea de alface (Tabela 3). Em contrapartida, a concentração de manganês diminuiu com a
adição desse insumo, especialmente nos
tratamentos que receberam calagem
para elevar o V% a valores inferiores a
50 (Tabela 3).
Verifica-se, ainda, com as equações
de regressão apresentadas na Tabela 3,
decréscimo dos teores de cádmio, níquel, chumbo, ferro e zinco na parte
aérea das plantas com a elevação da saturação por bases. Esse decréscimo,
também, foi verificado para manganês
quando se aplicaram doses de
vermicomposto menores do que 50 t ha1
(Tabela 3). Resultados similares foram
obtidos por Hooda & Alloway (1996),
que verificaram decréscimo na concentração de metais pesados em cenoura e
em espinafre com o aumento do pH. Os
teores de cádmio, chumbo, manganês e
zinco na parte aérea de alface, em solo
arenoso (PVAe), foram maiores do que
os encontrados naquelas cultivadas no
LVdf. As concentrações dos demais elementos, níquel, cobre e ferro, foram, de
maneira geral, similares na parte aérea
das plantas de alface cultivadas nos dois
tipos de solos.
Teores de metais pesados nas plantas: fitotoxicidade e adequação para
consumo
Trani & Raij (1997) definem os teores de cobre, ferro, manganês e zinco
entre: 7-20; 50-150; 30-150; e 30-100
mg kg-1, respectivamente, como adequados para folhas de alface recém-desenvolvidas, coletadas na metade do ciclo.
As concentrações destes metais obserHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
vadas na parte aérea da alface cultivada
no LVdf (Tabela 1) variaram de 5-8; de
53-89; de 46-216; e de 24-59 mg kg-1;
para Cu, Fe, Mn e Zn, respectivamente.
Na alface cultivada no PVAe (Tabela 2),
variaram de 4-7; de 56-93; de 90-632; e
de 47-79 mg kg-1, respectivamente. Pelo
exposto, a maioria dos teores desses elementos situa-se dentro dos limites apresentados por Trani & Raij (1997). Gupta
& Gupta (1998) relatam como
fitotóxicos, para a maioria das plantas,
teores de cobre, manganês e zinco, entre 10-70; 400-7000; e 95-340 mg kg-1,
respectivamente; portanto, muito acima
dos observados nesse experimento. Os
teores de níquel ficaram bem abaixo da
faixa considerada fitotóxica por
Macnicol & Beckett (1985), em folhas
de alface, que é de 20-45 mg kg-1 de Ni.
Quanto ao chumbo, Boon & Soltanpour
(1992) observaram que teores de até 45
mg kg-1 de Pb na parte aérea de alface
não provocaram quaisquer efeitos negativos na produção.
De acordo com Mesquita Filho et al.
(2001), a legislação brasileira de alimentos especifica teores máximos, na matéria fresca, de 50; 30 e 1,0 mg kg-1 de
zinco, cobre e cádmio, respectivamente. Rodella & Alcarde (2001) relatam
que essa mesma legislação estabelece,
para hortaliças in natura, teores de até
0,5 mg kg-1 de Pb. Com base na informação de Furlani et al. (1978), de que a
parte aérea de alface do tipo americana
possui 950 g kg-1 de água, podem-se
converter os dados das Tabelas 1 e 2
expressos em matéria seca, para matéria fresca. Desta forma, observa-se uma
variação, em mg kg-1 de matéria fresca,
de 1,2-4,0 para zinco, de 0,2-0,4 para
cobre, de 0,003-0,02 para cádmio e de
0,002-0,11 para o chumbo, teores bem
abaixo dos citados por Mesquita Filho
et al. (2001) e por Rodella & Alcarde
(2001).
De acordo com os resultados obtidos, infere-se que a adubação com uma
única aplicação de vermicomposto de
lixo urbano, em doses acima de 50 t ha1
, limitou a produção de alface nos dois
tipos de solos. Mesmo estas doses que
restringiram a produção da alface, não
a tornaram imprópria para consumo
humano do ponto de vista da concentração de metais pesados.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à FAPESP pelo financiamento e ao CNPq pela bolsas de pesquisa e de iniciação científica que tornaram possível a execução do presente
projeto.
LITERATURA CITADA
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Samuel Martinelli1; Marco Aurélio Montagna2; Nilton César Picinato3; Fábio M.A. Silva3; Odair Aparecido Fernandes4
1/
ESALQ/USP, 13418-900 Piracicaba-SP; 2/ Ecolab, R. Alvorada, 48, 04550-000 São Paulo-SP; 3/Du Pont do Brasil S.A., C. Postal 09,
13140-000 Paulínia-SP; 4/FCAV/UNESP, Rod. Prof. Paulo D. Castellane km 5, 14884-900 Jaboticabal-SP; E-mail:
[email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A eficiência do indoxacarb foi avaliada no controle dos
lepidópteros-pragas em hortaliças: Plutella xylostella (Lepidoptera:
Yponeumatidae), Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae),
Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae) e Helicoverpa
zea (Lepidoptera: Noctuidae). Os experimentos foram conduzidos
em três locais diferentes nas culturas do repolho e tomate. Os inseticidas utilizados foram indoxacarb (no tomate de 2,4 a 6,0 g i.a./100
L e no repolho de 19 a 42 g i.a./ha), esfenvalerate (apenas no tomate
de 1,75 g i.a./100 L), metomil (no tomate na dose de 21,5 g i.a./100
L e no repolho a 172 g i.a./ha), deltametrina (apenas no repolho na
dose de 6 g i.a./ha) e triflumuron (apenas no tomate na dose de 15 g
i.a./100 L). Adotou-se o delineamento estatístico em blocos ao acaso com quatro repetições em todos os experimentos. Todas as doses
avaliadas do produto indoxacarb apresentaram excelente desempenho no controle de P. xylostella e T. ni. Assim, a menor dose avaliada (18 g i.a./ha) pode ser recomendada para o controle dessas pragas. Todos os produtos avaliados alcançaram níveis de eficiência
maiores que 80% no controle de H. zea na cultura do tomate.
Indoxacarb foi tão eficiente quanto o produto padrão adotado
(triflumuron). N. elegantalis foi eficientemente controlada pelos inseticidas avaliados após nove aplicações, sendo que indoxacarb pode
ser recomendado na menor dose utilizada (2,4 g i.a./100 L).
Efficacy of indoxacarb in the control of vegetable pests
The efficacy of indoxacarb was evaluated for controlling
lepidopterous pests on vegetables: Plutella xylostella (Lepidoptera:
Yponeumatidae), Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae),
Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera: Pyralidae), Helicoverpa zea
(Lepidoptera: Noctuidae). The experiments were carried out at three
different sites on cabbage and tomato crops. The utilized insecticides
were indoxacarb (for tomato from 2.4 to 6.0 g a.i./100 L and for
cabbage from 18 to 42 g i.a./ha), esfenvalerate (only for tomato at
1.75 g a.i./100 L), methomyl (for tomato at 21.5 g a.i./100 L and for
cabbage at 172 g a.i./ha), deltamethrin (only for cabbage at 6 g a.i./
ha) and triflumuron (only for tomato at 15 g a.i./100 L). The
experiments were designed as randomized blocks with four
replications. The results showed that all doses of indoxacarb
presented excellent performance controlling P. xylostella and T. ni
on cabbage. Therefore, the lowest tested dose should be used (18 g
a.i./100 L). All products reached levels of efficacy higher than 80%
for controlling H. zea on tomato crop. Indoxacarb was as efficient
as the standard product triflumuron. N. elegantalis was efficiently
controlled by the tested insecticides after nine applications and
indoxacarb could be recommended at the lowest utilized dose (2.4 g
a.i./100 L).
Palavras-chave: Plutella xylostella, Trichoplusia ni, Neoleucinodes
elegantalis, Helicoverpa zea, controle químico, hortaliças.
Keywords: Plutella xylostella, Trichoplusia ni, Neoleucinodes
elegantalis, Helicoverpa zea, chemical control, vegetables.
(Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
A
produção brasileira de olerícolas
encontra-se em pleno crescimento,
estimulada pela mudança no hábito alimentar do consumidor, que passou a
consumir hortaliças com maior freqüência e a exigir produtos de melhor qualidade. Os sinais de tal crescimento podem ser notados devido ao aumento do
consumo de hortaliças in natura e préprocessados (AGRIANUAL, 2000).
A incidência de pragas em campos
de produção de hortaliças contribui para
a menor produtividade e conseqüente
queda, que pode superar em 60% da produção total em casos como tomate e repolho (Barbosa & França, 1980; Castelo Branco & Guimarães, 1990). Assim,
as hortaliças apresentam grande demanda pela aplicação de defensivos agrícolas (Nakano, 1999), pois o controle quíHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
mico é a principal (ou a única) tática de
controle de pragas adotada. Entretanto,
o controle pode ser comprometido devido aos efeitos colaterais causados pelo
uso exclusivo de inseticidas. A descoberta e utilização de inseticidas que apresentem novos modos de ação podem
contribuir consideravelmente para a
substituição de produtos tradicionalmente utilizados (Wing et al., 2000) e
favorecer o manejo da resistência de
insetos a inseticidas por meio da rotação de compostos dentro de um programa de manejo integrado de pragas em
hortaliças. Visando o controle da traçadas-crucíferas, Plutella xylostella. França & Medeiros (1998) verificaram que
a combinação dos produtos deltametrina
+ abamectina resultou em maior quantidade de cabeças comercializáveis de
repolho, superando os resultados obtidos com o tratamento padrão adotado
(Bacillus thuringiensis). Por outro lado,
Monnerat et al. (2000) observaram que
tanto abamectina (Vertimec®) como o
inseticida biológico à base de B.
thuringiensis (Biobit®) causaram redução da população da traça-dascrucíferas, sendo que os tratamentos
apresentaram índices semelhantes de
produção de cabeças comercializáveis
de repolho. De acordo com Reis & Souza (1996), os inseticidas abamectina e
triflumuron foram tão eficientes quanto
o padrão adotado (permetrina) no controle da broca-pequena, Neoleucinodes
elegantalis, em tomate estaqueado.
O produto indoxacarb, novo inseticida do grupo químico das oxidiazinas,
apresenta atividade sobre insetos da or505
S. Martinelli, et al.
dem Lepidoptera, cuja alimentação é
inibida após o tratamento (Pluschkell et
al., 1998; Wing et al., 1998). Indoxacarb
é compatível ambientalmente e seguro
para organismos não alvos do controle
químico, como o parasitóide Aphidius
rhipalisiphi (Hymenoptera: Aphididae),
o ácaro predador Typhlodromus pyri
(Acari: Phitoseiidae) e o predador
Episyrphus balteatus (Diptera:
Syrphidae) (Harder et al., 1996; Wing
et al., 1998). Além da baixa toxicidade
aos organismos não-alvo, o indoxacarb
apresenta taxas de dissipação ambiental
muito favoráveis ao seu uso como inseticida na agricultura (McCann et al.
2001). O efeito inseticida ocorre após a
bioativação do indoxacarb através da
ação de enzimas (provavelmente esterases/amidases) presentes no inseto e que
resultam na formação do metabólito
JT333 (N-decarbomethoxyllated) que
causa bloqueio dos canais de sódio. A
metabolização do indoxacarb em JT333
relaciona-se com o surgimento de sintomas de neurointoxicação, os quais
compreendem desde pequenas convulsões até a paralisia do inseto seguida de
morte (Wing et al., 2000).
O objetivo deste trabalho foi avaliar
a eficiência do indoxacarb no controle
das principais pragas de hortaliças: a traça-das-crucíferas, P. xylostella
(Lepidoptera: Yponomeutidae); a lagarta
mede-palmo,
Trichoplusia
ni
(Lepidoptera: Noctuidae); a broca-pequena, N. elegantalis (Lepidoptera:
Pyralidae) e a broca-grande,
Helicoverpa zea (Lepidopteta:
Noctuidae).
MATERIAL E MÉTODOS
Experimento 1
O estudo foi desenvolvido na cultura de repolho, híbrido Kenzan, cultivado no espaçamento de 90 cm entre ruas
e 50 cm entre plantas, em São João da
Boa Vista, SP. Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados
com oito tratamentos (indoxacarb [18;
24; 30; 36 e 42 g i.a./ha], deltametrina
[6 g i.a./ha], esfenvalerate [172 g i.a./
ha] e testemunha sem aplicação de inseticidas) e quatro repetições, com cada
parcela medindo 4,5 x 5,0 m de área total. As aplicações dos produtos inicia506
ram-se trinta dias após o transplante das
mudas, quando a cultura apresentava
infestação natural da traça-dascrucíferas. Os produtos foram aplicados
em intervalos semanais de 11/03 a 10/
04/1997, perfazendo um total de cinco
aplicações. A pulverização dos produtos foi realizada com o auxílio de pulverizador costal (CO2) dotado de barra
de aplicação (2,5 m de comprimento)
com cinco bicos XR 110-04 (pressão de
trabalho de 60 lb/pol2), calibrado para o
consumo de 800 litros de calda/ha. Adicionou-se espalhante adesivo (Agral®)
à calda de pulverização (30 mL/100 L)
em todos os tratamentos.
As avaliações, num total de quatro,
constituíram-se na observação de dez
plantas tomadas ao acaso na porção central de cada parcela e aferição dos
parâmetros: número de lagartas da traça-das-crucíferas por planta e nota de
dano foliar decorrente da presença da
lagarta nas plantas. As notas de dano
basearam-se na escala: nota 0,5 = planta não apresentando danos nas folhas
laterais da cabeça; nota 5 = planta apresentando folhas laterais raspadas ou com
pequenos furos; nota 10 = planta apresentando folhas laterais furadas; nota 20
= planta apresentando folhas laterais
furadas e cabeça com pequenos furos;
nota 30 = planta apresentando folhas
laterais com furos grandes e cabeça com
pequenos furos; nota 40 = planta apresentando folhas laterais com furos grandes e cabeça começando a apresentar
furos grandes; nota 50 = planta apresentando folhas laterais e cabeça com vários furos pequenos e grandes; nota 70 =
planta apresentando folhas laterais e
cabeça com vários furos grandes; nota
90 = planta apresentando folhas laterais
e cabeça com folhas praticamente
destruídas; nota 100 = planta apresentando-se totalmente destruída. As três
primeiras avaliações foram realizadas
sete dias após a 3a, 4a e 5a aplicação. Na
3a avaliação realizou-se apenas a observação dos danos causados. Por ocasião
da 4a avaliação realizou-se a colheita de
dez plantas e observou-se a presença de
lagartas nas mesmas. Ainda, atribuiu-se
nota de dano causado pela traça-dascrucíferas às partes superior e inferior
das cabeças de repolho separadamente.
Nesta ocasião (4a avaliação) observou-
se e registrou-se a presença de lagartas
de T. ni, as quais até então não haviam
sido detectadas. Realizou-se a análise de
variância dos dados e as médias dos tratamentos foram comparadas através do
teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se PROC GLM
(SAS Institute, Cary, NC, USA).
Experimento II
Foi realizado em área de plantio de
tomate estaqueado em Mogi-Guaçu, SP.
No plantio utilizaram-se plantas do híbrido Santa Clara, seguindo-se o
espaçamento de 1 m entre linhas e 0,70
m entre plantas. O plano experimental
adotado foi em blocos casualizados com
sete tratamentos e quatro repetições,
sendo cada parcela constituída de 20
plantas (duas linhas de dez plantas). Os
tratamentos adotados para controle da
broca-pequena foram indoxacarb nas
doses de 2,4; 3,6; 4,8 e 6,0 g i.a./100 L,
esfenvalerate na dose de 1,75 g i.a./100
L, metomil na dose de 21,5 g i.a./100 L
e a testemunha sem aplicação de inseticidas. Essas doses foram baseadas no
uso de 1.000 litros de calda/ha.
Os tratamentos foram aplicados inicialmente quando as plantas encontravam-se no estágio de florescimento e,
portanto, foram realizados preventivamente. Os tratamentos foram aplicados
com o auxílio de pulverizador costal
(CO2), dotado de barra de aplicação de
lança com 3 bicos (Yamaro D6), pressão de trabalho de 50 a 90 lb/pol2, calibrado para o consumo de 1.000 L de
calda/ha. As aplicações foram realizadas em intervalos semanais de 20/03 a
16/05/97.
As avaliações foram realizadas cinco dias após a 5a aplicação e quatro dias
após a 9a aplicação. Foi observada a presença de danos de N. elegantalis em cinco frutos de cada uma das cinco plantas
amostradas aleatoriamente na porção
central de cada parcela, totalizando 25
frutos por parcela. Posteriormente, calculou-se a porcentagem de frutos brocados por parcela e a eficiência de controle
de cada tratamento utilizando-se a fórmula de Abbott (Abbott, 1925). Realizou-se a análise de variância dos dados e
as médias obtidas foram comparadas
através do teste de Tukey ao nível de 5%
de probabilidade utilizando-se PROC
GLM (SAS Institute, Cary, NC, USA).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças
Tabela 1. Número médio de lagartas de traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (Lepidoptera: Yponomeutidae) e lagarta-mede-palmo,
Trichoplusia ni (Lepidoptera: Noctuidae) e nota média de dano causado pela traça-das crucíferas, em dez plantas de repolho, submetidas a
diferentes tratamentos inseticidas. São João da Boa Vista (SP), ESALQ, 1997.
1/ Dados originais;
2/ Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística
foi realizada com os dados transformados em
3/ 7 DA3aA =sete dias após a 3a aplicação; 4/ 7 DA4aA =sete dias após a 4a aplicação; 5/ 6 DA5aA =seis dias após a 5a aplicação;
6/ 13 DA5aA =treze dias após a 5a aplicação.
Experimento III
A eficiência do uso do indoxacarb
no controle da broca-grande foi obtida
em plantio de tomate estaqueado em
Indianópolis, MG, adotando-se a mesma variedade e o mesmo espaçamento
mencionados no experimento II. Do
mesmo modo, adotou-se o delineamento em blocos casualizados com sete tratamentos e quatro repetições. A parcela
também foi mantida com 20 plantas
(duas linhas de dez plantas). As doses
do inseticida indoxacarb foram as mesmas utilizadas no experimento II. Os
demais tratamentos foram esfenvalerate
na dose de 21,5 g i.a./100 L, triflumuron
na dose de 15,0 g i.a./100 L e a testemunha, sem aplicação de inseticida. Essas
doses foram baseadas no consumo de
1.000 litros de calda/ha. Foram realizadas quatro aplicações em intervalos semanais de 10/02 a 10/03/97. A
tecnologia de aplicação dos tratamentos foi idêntica à mencionada no experimento II.
As avaliações para a broca-grande
foram realizadas um e sete dias após a
última aplicação. Observou-se a presença de danos de H. zea em cinco frutos
de cada uma das cinco plantas
amostradas aleatoriamente na porção
central de cada parcela, totalizando 25
frutos por parcela, e determinou-se a
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
porcentagem de frutos sadios (não brocados) por parcela. O cálculo da eficiência de controle de cada tratamento
utilizado, bem como os procedimentos
estatísticos realizados foram os mesmos
mencionados no experimento II.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se, a partir dos resultados
obtidos com a testemunha, que a
infestação da traça-das-crucíferas aumentou durante o período de condução
do ensaio (Tabela 1). O tratamento à
base de deltametrina (adotado como
padrão) apresentou diferença estatística em relação à testemunha apenas na
última avaliação (13 dias após o término das aplicações). A falha no controle
observada com este produto está de acordo com resultados de França & Medeiros
(1998). Tal falha pode estar relacionada
ao aumento dos alelos que conferem a
resistência a esse produto na população
de insetos (Castelo Branco & Gatehouse,
1997), uma vez que se trata de um inseticida de uso amplamente difundido no
controle de pragas de hortaliças.
As plantas tratadas com
esfenvalerate, apesar de apresentarem
um número médio de lagartas inferior à
testemunha, não diferiram do tratamento à base de deltametrina nas avaliações
realizadas sete dias após as 3a e 4a aplicações. Todas as plantas tratadas com o
produto indoxacarb apresentaram
infestação de lagartas (traça-dascrucíferas e lagarta-mede-palmo) significativamente inferior àquela apresentada pela testemunha (P<0,05), não havendo, contudo, diferenças entre as doses testadas desse produto. Apesar da
ocorrência da lagarta-mede-palmo ter
sido restrita apenas à última avaliação,
o produto indoxacarb nas doses testadas mostrou-se eficiente no controle
desse inseto. Testes em situações de
maior pressão dessa praga devem ser
conduzidos para comprovar o efeito inseticida sobre T. ni. No entanto, Liu et
al. (2002) também verificaram que o
inseticida indoxacarb foi eficiente no
controle da lagarta-mede-palmo em repolho; porém utilizando dose maior (50
g i.a./ha).
Em relação ao dano causado pela
traça-das-crucíferas (Tabela 1), nota-se
que todas as doses do produto
indoxacarb foram eficientes para reduzir o nível de desfolha causado pela praga. Ainda, esses tratamentos foram mais
eficientes do que os produtos
deltametrina e esfenvalerate, que apresentaram comportamento semelhante
entre si. Em duas avaliações, sete dias
após a 3a aplicação e seis dias após a 5a
507
S. Martinelli, et al.
Tabela 2. Avaliação da eficiência do indoxacarb em diferentes doses no controle da broca-pequena, Neoleucinodes elegantalis (Lepidoptera:
Pyralidae). Mogi-Guaçu (SP), ESALQ, 1997.
1/ Dados originais (em porcentagem);
2/ Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística foi
realizada com os dados transformados em arc sen
3/ 5 DA5aAP= cinco dias após a 5a aplicação;
4/ 4 DA9aAP= quatro dias após a 9a aplicação.
Tabela 3. Avaliação da eficiência do indoxacarb em diferentes doses no controle da broca-grande (Helicoverpa zea, Lepidoptera: Noctuidae).
Indianópolis (MG), ESALQ, 1997.
1/ Dados originais (em porcentagem);
2/ Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. A análise estatística foi
realizada com os dados transformados em arc sen
3/ 1 DAUA=um dia após a última aplicação;
4/ 7 DAUA=sete dias após a última avaliação.
aplicação, as plantas tratadas com
deltametrina apresentaram níveis de
dano que não diferiram dos da testemunha. Esse resultado traduz a falha no
controle do inseto com deltametrina pois
as plantas neste tratamento foram tão
atacadas pela praga quanto as da testemunha que não receberam qualquer tratamento com inseticida. O aumento da
infestação da traças-das-crucíferas durante o experimento (Tabela 1) é acom508
panhado pela elevação das notas de dano
causado pela praga na testemunha.
Pode-se observar ainda que todos os tratamentos à base de indoxacarb apresentaram nota média de dano próxima a
zero, ou seja, as plantas praticamente
não apresentaram dano. Por outro lado,
as plantas tratadas com deltametrina e
esfenvalerate assim como as da testemunha, apresentaram dano médio próximo ou superior a 10, principalmente
nas duas últimas avaliações, ou seja,
folhas laterais furadas e algumas cabeças já apresentando furos. Assim, com
base nos resultados de infestação das
pragas e dos danos causados por P.
xylostella, a dose de 18 g i.a./ha pode
ser utilizada no controle da traça-dascrucíferas e da lagarta-mede-palmo.
Na primeira avaliação, realizada cinco dias após a 5a aplicação, não se observou diferença estatística (P>0,05)
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Eficácia do indoxacarb para o controle de pragas em hortaliças
entre os tratamentos com relação à porcentagem de frutos danificados pela broca-pequena (Tabela 2). Entretanto, na
segunda avaliação, todos os tratamentos inseticidas apresentaram diferença
significativa em relação à testemunha
(P<0,05), com relação a esse parâmetro.
Observa-se que houve aumento na
infestação pela praga, comprovado pelo
aumento na porcentagem de frutos brocados na testemunha. Na última avaliação, com exceção do tratamento à base
de esfenvalerate, todos os tratamentos
inseticidas apresentaram eficiência superior a 80% na redução dos danos causados pela praga, sendo, portanto, eficientes no seu controle. Assim, o produto indoxacarb pode ser utilizado para o
controle da broca-pequena do tomateiro, podendo ser recomendada a menor
dose avaliada (2,4 g i.a./100 L), que também demonstrou eficiência no controle
da praga.
Com exceção apenas do produto
indoxacarb aplicado na dose de 2,4 g
i.a./100 L, na avaliação realizada sete
dias após a última aplicação, todos os
demais produtos e dosagens testadas
apresentaram eficiência de controle superior a 80% para H. zea (Tabela 3). Não
foi observado qualquer sintoma de
fitotoxicidade causada pelo produto
indoxacarb nas culturas de repolho e
tomate. Assim, de acordo com os resul-
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
tados obtidos, pode-se concluir que o
inseticida indoxacarb é eficiente no controle das pragas de hortaliças alvos deste trabalho nas doses testadas, podendo
ser utilizado no controle químico dessas pragas.
LITERATURA CITADA
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Determinação do ponto de colheita na produção de alho
Carlos Manoel de Oliveira; Rovilson J. de Souza; José Hortêncio Mota; Jony Eishi Yuri; Geraldo M. de
Resende
UFLA, C. Postal 37, 37200-000 Lavras-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
O ponto de colheita de cultivares de alho tropical foi obtido através de um experimento conduzido na UFLA (MG), no delineamento de blocos casualizados, em esquema fatorial 4 x 5, com quatro
repetições, avaliando quatro cultivares (Gigante Curitibanos, Gravatá,
Gigante Lavínia e Gigante Roxo) e cinco épocas de colheita (134,
141, 148, 155 e 162 dias após o plantio). Avaliou-se a produtividade
total de plantas, produtividade total de bulbos e características físico-químicas (teor de sólidos solúveis, acidez titulável e índice de
pH). Os resultados obtidos permitiram verificar que as épocas de
colheita influenciaram significativamente a produção e as características físico-químicas. A máxima produtividade foi obtida aos 148
e 156 dias após plantio, períodos em que se observou também aumento nas concentrações de sólidos solúveis e ácidos orgânicos no
suco do alho.
Determination of the harvest date for garlic cultivars
The harvest point for tropical garlic cultivars was determined
through an experiment carried out in the Universidade Federal de
Lavras, Brazil, with randomized block design, in a 4 x 5 factorial
scheme, four replications, testing four cultivars: Gigante Curitibanos,
Gravatá, Gigante Lavínia and Gigante Roxo and five harvesting
dates: 134, 141, 148, 155 and 162 days after planting. The total yield
of plant, total yield of garlic bulbs and physical-chemical
characteristics (soluble acids content, titrable acidity and pH indices)
were determined. The harvest date influenced significantly the yield
and physical-chemical characteristics: Maximum yield, soluble solids
concentration, and organic acids in garlic juice were obtained when
harvesting at 148 and 156 days after planting date.
Palavras-chaves: Allium sativum L., épocas de colheita, produtividade, pH,sólidos solúveis.
Keywords: Allium sativum L., harvesting time, yield, pH, soluble
solids.
(Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
O
Brasil é um dos países que mais
consome alho no mundo, a maior
parte comercializada no mercado in
natura, ainda que o consumo de pastas
e outros produtos processados de alho
venha crescendo gradativamente. Nos
grande centros o abastecimento até a
década de 1970 era feito mediante alho
importado, principalmente da Argentina e Espanha. Com a adoção das pesquisas e de tecnologias o alho nacional
passou a competir em condições de
igualdade (tipicação) com os alhos importados (Boeing & Seben, 1995). Entre os fatores que contribuíam para essa
importação era o fato da Argentina ser,
país com boa logística, condições
edafoclimáticas bem mais favoráveis
que o Brasil, além de o custo de produção ser menor que o brasileiro. Para contornar essa situação, os produtores brasileiros abdicam da qualidade final, antecipando a colheita para fugir do período de safra e garantir preços
satisfatórios para o alho produzido.
O ponto de colheita é fator importante em todo processo agrícola, sendo
que a determinação do melhor período
de colheita permite o máximo aprovei510
tamento pós-colheita do produto vegetal por apresentar melhor qualidade e o
mínimo de perdas. A qualidade pós-colheita relaciona-se ao conjunto de atributos ou propriedades que tornam produtos agrícolas apreciados como alimento. Esses atributos, por sua vez, dependem do mercado de destino, como
comercialização após colheita,
armazenamento, consumo in natura ou
processamento (Chitarra, 1994). Muitas
vezes a decisão da colheita ocorre em
função do preço do produto,
desconsiderando que características fisiológicas, como acumulação de matéria seca, são importantes na conservação posterior do produto. As maiores
acumulações de matéria seca em plantas de alho podem significar bulbos fisiologicamente mais desenvolvidos e
com menores teores de umidade, melhorando a sua capacidade de conservação (Saturnino, 1978; Chitarra &
Chitarra, 1990).
Uma das conseqüências mais graves
da colheita do alho imaturo é o estouro
de disco (rachamento simples em uma
só fenda, ou duplo em cruz, do disco ou
prato de inserção das raízes). Este de-
feito é grave e merece especial consideração nas especificações de padronização, classificação e comercialização do
alho (Saturnino, 1978).
Segundo Muller (1982) empiricamente, o ponto de colheita do alho baseia-se na senescência da parte aérea da
planta e varia de cultivar para cultivar.
Entretanto, faltam informações com
base científica que possam confirmar a
época ideal para a colheita e seu reflexo
na conservação pós-colheita, sendo este
o objetivo do trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
UFLA (MG), a 918 m de altitude, latitude 21º 14’ S e longiitude 45º 00’ W
GRW. O clima da região é do tipo Cwa
com características de Cwb, apresentando duas estações definidas: seca (abril a
setembro) e chuvosa (outubro a março),
segundo a classificação climática de
Köppen. O experimento foi instalado em
um solo classificado como Latossolo
Roxo Distrofico, com as características
químicas: pH em água: 5,7; matéria orgânica: 3,7%; P: 23 mg dm-3; k: 171 mg
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Determinação do ponto de colheita na produção de alho.
dm -3; Ca: 6,6 mmol c dm -3; Mg: 1,9
mmolc dm-3; V: 67%.
O plantio dos bulbos foi realizado
em 15/04/98, utilizando o delineamento experimental em blocos casualizados
com 4 repetições, em esquema fatorial
5x4, com cinco épocas de colheita (134,
141, 148, 155 e 162 dias após a semeadura), e quatro cultivares tropicais: Gigante Curitibanos, Gravatá, Gigante
Lavínia e Gigante Roxo, totalizando 20
tratamentos. A primeira época de colheita, aos 134 dias, foi pré-estabelecida
como o início das avaliações baseadas
na prática corriqueira dos produtores da
região de Ouro Fino, MG. Com esta idade, as plantas de alho ainda estão completamente verdes. A colheita prosseguiu a cada 7 dias até a última colheita,
quando as plantas apresentavam ciclo de
162 dias e completamente secas. Cada
parcela foi constituída de 40 plantas,
distribuídas em 4 linhas de plantio e 10
plantas por linha, apresentando uma área
útil e total de 1,50 m2 (1,0 m de comprimento x 1,5 m de largura).
A adubação de base foi feita seguindo critérios da Comissão de Fertilidade
do Solo do Estado de Minas Gerais: 150
kg ha-1 P2O5; 40 kg ha-1 de K2O; 15 kg
ha-1 borax e 10 kg ha-1 de sulfato de zinco. Foram utilizados 80 kg ha-1 de N
como fonte uréia sendo parcelados 1/3
no plantio, 1/3 aos 45 dias e 1/3 aos 70
dias após o plantio. Os tratos culturais
foram realizados de acordo com as necessidades da cultura e a irrigação por
aspersão foi realizada de acordo com
Filgueira (2000), mantendo sempre o
solo próximo da capacidade de campo.
Colheu-se 20 plantas por parcela, de
acordo com os tratamentos e estas foram pesadas com todas as partes da planta para avaliar a produção total de plantas. Para todas as colheitas, as plantas
foram submetidas a uma pré-cura ao sol,
por cinco dias. Posteriormente foram
pesadas sem a parte aérea e raízes (toalete) para avaliar a produção total de
bulbos.
Após as avaliações de campo, os
bulbos foram enviados para o laboratório, com a finalidade de se realizar análises físico-químicas. Para tal, com o
auxílio de um triturador, os bulbilhos
debulhados e descascados foram moídos até chegarem a uma consistência
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Produtividade total (Y1) e produtividade total de bulbos (Y2) em função dos pontos de colheita (dias após o plantio). Lavras, UFLA, 1999.
pastosa e homogênea. Este homogenato
foi filtrado em gaze, retirando-se o suco
para a realização das análises de sólidos solúveis, utilizando-se o refratômetro. Para a análise da acidez total
titulável, o suco de alho foi titulado em
uma solução de hidróxido de sódio 0,1
N e multiplicado pelo fator do ácido
predominante no alho (ácido pirúvico),
resultando em valores de acidez contidos em cada parcela analisada, segundo
técnica preconizada pela AOAC (1970).
Para a análise do pH, mergulhou-se o
eletrodo de um pHmetro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeitos significativos independentes para cultivares e/ou épocas de
colheita, não mostrando efeitos de
interação entre estes fatores, variando
com as características avaliadas.
A produção total de plantas aumentou à medida que a colheita foi efetuada
com bulbos apresentando ciclos
vegetativos maiores (Figura 1). Na primeira colheita, observou-se uma produtividade total de plantas média de 12,69
t ha-1 aumentando até chegar ao ponto
de máxima produtividade (14,00 t ha-1),
aos 148 dias após o plantio. A partir deste ponto observou-se uma queda de produção, verificada quando se colhe bulbos com ciclo vegetativo de 155 dias,
sendo mais acentuado quando a colheita é feita aos 162 dias (13,23 t ha-1).
Entre as cultivares, pôde-se observar diferenças significativas em relação
à produtividade total de plantas (Tabela
1). As cultivares que apresentaram os
maiores valores para produção total de
plantas foram Gigante Roxo, Gigante
Lavínia e Gigante Curitibanos, com produções totais de plantas 14,41 t ha-1,
14,20 t ha-1e 14,14 t ha-1, respectivamente. Somente a cultivar Gravatá diferiu
estatisticamente das demais, com o menor valor em produção total de plantas
(11,13 t ha-1). Entretanto, bem superior
ao resultado obtido por Trindade (1985),
que obteve produtividade da cultivar
Gravatá em 4,50 t ha-1 e por Costa et al.
(2001), que em experimento conduzido
em Jaboticabal, SP, obteve com a cultivar Gigante Roxo, uma produtividade
de 11,7 t ha-1.
Com relação à produtividade total de
bulbos, por ocasião da colheita os alhos
se apresentavam fisiologicamente verdes aos 134 dias após o plantio, com
produtividade média de 7,92 t ha-1 (Figura 1). Quando se colheu bulbos em
um estádio mais avançado de maturação, respectivamente aos 155 e aos 162
dias após o plantio, a produtividade elevou-se consideravelmente, chegando ao
máximo de 11,42 t ha-1, aos 156 dias
após o plantio. A partir deste ponto, ob511
C. M. Oliveira, et al.
TABELA 1. Produção total, produção total de bulbos, sólidos solúveis, acidez titulável e pH em função das cultivares de alho. Lavras,
UFLA, 1999.
Médias seguidas por letras iguais nas colunas não diferem entre si pelo teste de TUKEY a 5% de probabilidade.
TABELA 2. Equações de regressão para porcentagem de sólidos solúveis, acidez total
titulável e pH em função dos pontos de colheita (dias após o plantio). Lavras, UFLA, 1999.
servou-se um decréscimo na produtividade, sendo a produção total de bulbos
obtida na última colheita (aos 162 dias
após o plantio), de 11,36 t ha-1. Deste
modo, observa-se que em condições
avançada de maturação, os resultados
desse trabalho foram superiores aos
apresentados por Konkel (1991) e
Resende (1993), que obtiveram valores
médios máximos de 8,7 e 9,5 t ha-1, respectivamente.
Um aspecto que pode induzir o produtor de alho a considerar vantajosa a
colheita do alho verde, seria o fato do
aumento da produtividade já que a parte aérea das plantas apresenta-se com
alto teor de água, o que juntamente com
o bulbo verde (produtividade total de
plantas) daria esta interpretação errônea.
Este fato pode ser observado ao se comparar à máxima produção total de plantas com a colheita sendo efetuada aos
148 dias com a máxima produção de
bulbos, com o alho colhido aproximadamente aos 157 dias após o plantio.
Para a produtividade total de bulbos,
observa-se que as cultivares Gigante
Curitibanos, Gigante Lavínia e Gigante
Roxo, com produções totais de bulbos
de 11,19; 11,11 e 10,94 t ha-1, respectivamente não diferiram estatisticamente, enquanto que a cultivar Gravatá diferiu e apresentou produção inferior
512
(7,57 t ha-1). Apesar da cultivar Gravatá
apresentar a menor produção total de
bulbos entre as cultivares testadas, a
produtividade conseguida foi superior
à média de produção em Minas Gerais,
que é de 4,43 t ha-1 (Agrianual 1997).
A época de colheita interferiu de forma significativa no teor de sólidos solúveis. Verificou-se um aumento linear
nos teores para a colheita de bulbos de
alho em estádio mais avançado (Tabela
2). Observou-se menor concentração de
sólidos solúveis para a colheita efetuada aos 134 dias após o plantio, com
média de 28,83%. O maior teor foi conseguido na última colheita (162 dias),
quando os bulbos apresentavam características de maturação mais avançada,
com média de 38,45%. Este aumento no
teor de sólidos solúveis à medida que a
colheita foi atrasada mostra que pode
haver uma relação entre os resultados
apresentados para os teores de sólidos e
a conservação pós-colheita. A cultivar
Gigante Roxo foi a que apresentou maior teor de sólidos solúveis, com média
de 35,96%, sendo que o menor teor de
sólidos solúveis foi verificado para a
cultivar Gigante de Lavínia (31,41%).
Penoni (1993) observou em bulbos, em
estádio avançado de maturação, porcentagem de sólidos solúveis da ordem de
30,38 e 32,75% para as cultivares Gi-
gante Inconfidentes e Gigante Roxo,
respectivamente. Já Mascarenhas
(1978a, 1978b) encontrou valores para
sólidos solúveis inferiores aos observados no presente trabalho, variando de
18,65% para a cultivar Caturra e 24,06%
para a cultivar Roxão, cultivadas em
Sete Lagoas, MG.
Quanto à acidez total titulável e pH,
não se verificaram diferenças estatisticas
entre as cultivares estudadas. Diferenças significativas para estas características foram observadas somente entre os
pontos de colheita. A partir dos 134 dias,
os teores de acidez total titulável se elevaram até a data da última colheita, aos
162 dias após o plantio (Tabela 2). Estes resultados foram semelhantes aos
encontrados por Penoni (1993), que encontrou porcentagens de acidez titulável
de 0,63% e 0,49% respectivamente, nas
cultivares Gigante Inconfidentes e Gigante Roxo. No entanto, os resultados
encontrados neste trabalho foram discordantes aos obtidos por Carvalho (1991)
que, avaliando o tempo de armazenamento
e qualidade de alho com a cultivar
Amarante, relatou teores de acidez
titulável de 1,08% logo após a colheita.
Para os valores de pH em função dos pontos de colheita, observou-se uma tendência linear decrescente na medida em que
se prorrogou o ponto de colheita (Tabela
2). Os resultados foram semelhantes aos
descritos por Chitarra & Chitarra (1990),
que verificaram uma relação inversa entre o pH e a acidez titulável total (pH reduz à medida que aumentam os teores de
acidez titulável total).
Em função dos resultados obtidos,
nas condições em que se realizou o experimento, conclui-se que as cultivares
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Determinação do ponto de colheita na produção de alho.
Gigante Curitibanos e Gigante Roxo
foram as de maior produtividade de bulbos; o ponto ideal para a colheita do alho
situa-se a partir da maturidade do bulbo
e varia de acordo com a cultivar, estando entre 148 a 156 dias após o plantio,
para as cultivares avaliadas; e que a colheita do alho verde não reflete em ganho de produtividade, além de afetar as
características de qualidade e apresentar menor teor de sólidos solúveis.
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513
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Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 514-517, julho-setembro 2003.
Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o
enraizamento in vitro 1
Nair Bosa2 ; Eunice Oliveira Calvete3 ; Marilei Suzin3; Lucrécia Bordignon3
2/
EAFS, C. Postal 21, 99170-000 Sertão-RS; 3/FAMV-UPF, C. Postal 611, 99001-070 Passo Fundo-RS; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Gypsophila paniculata é uma flor de corte que pertence à família Caryophyllaceae. Conhecida popularmente por “mosquitinho”,
é comercializada para a confecção de arranjos e buquês. A propagação sexuada dessa espécie resulta em plantas desuniformes por ser
geneticamente segregante. Por outro lado, a propagação vegetativa
possibilita a disseminação de doenças, quando utiliza-se plantas
infectadas. Assim, mediante a técnica de micropropagação, obtêmse mudas em escala comercial, com manutenção da heterose e livre
de patógenos. Com o objetivo de analisar o crescimento de plantas
de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro em diferentes períodos de cultivo, avaliou-se a matéria fresca e seca da parte aérea e da raiz aos 4; 8; 12; 16; 20 e 24 dias. O delineamento
experimental foi de blocos casualizados com seis repetições. Cada
parcela constou de cinco plantas/frasco. Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão. Concluiu-se que o crescimento da parte aérea e da raiz foi progressivo ao longo do período
de enraizamento. O surgimento dos primórdios da raiz ocorreu a
partir dos oito dias de permanência no meio de enraizamento in vitro.
Growth evaluation of Gypsophila paniculata during in vitro
rooting
Palavras-chave: Gypsophila paniculata, micropropagação, ápices
caulinares, crescimento.
Gypsophila paniculata is a cutting flower that belongs to the
Caryophyllaceae family. Known popularly as ‘mosquitinho’ it is
marketed for making arrangements and bouquets. The sexual
propagation results in disuniform plants because of the genetic
segregation. On the other hand, the vegetative propagation allows
dissemination of plant pathogens when infected plants are used.
Through the micropropagation technique it is possible to obtained
the heterose fixation and pathogen free young plants in a commercial
scale. In vitro rooting was analyzed in Gypsophila paniculata plants
at different periods of cultivation. Fresh and dry aerial and rooting
matter were evaluated at 4; 8; 12; 16; 20 and 24 days. The
experimental units were arranged according to a randomized block
design with six replicates, each replicate being a pot with five plants.
The data were submitted to variance and regression analysis. The
results allowed to conclude that both shoot and root growth were
progressive along the rooting days. Root primordial appeared after
eight days in the rooting media.
Keywords: Gypsophila paniculata, micropropagation, caulinar
apexes, growth.
(Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
G
ypsophila paniculata é uma
angiosperma que pertence à família Caryophyllaceae. Conhecida popularmente como “mosquitinho”, suas
inflorescências são formadas por flores
pequenas e brancas as quais são
comercializadas para serem utilizadas
na confecção de arranjos e buquês
(Lorenzi & Souza, 1995).
Dados de produção e comercialização
citam a Gypsophila paniculata como uma
das principais flores de corte, sendo apontada como o terceiro produto mais
comercializado na CEAGESP e um dos
dez mais vendidos no Veiling da
Holambra-SP (Castro, 1998).
A reprodução sexuada desta espécie
é antieconômica pelo alto custo das sementes e indesejável porque gera plantas geneticamente segregantes, reduzin-
do a qualidade e o valor comercial (Castro,1993). A propagação pelo método
vegetativo é lenta e inviabiliza grandes
produções. Nesse sentido, Grattapaglia
& Machado (1998), citam que a
micropropagação, traz como vantagens
a manutenção da heterose, a multiplicação rápida em períodos de tempo e
espaço físico reduzidos e a geração de
mudas livres de patógenos em escala
comercial.
A multiplicação é uma etapa da
micropropagação na qual o objetivo
principal visa obter um maior número
de hastes através de sucessivos
subcultivos (Debergh & Read, 1990).
Castro et al. (1996), pesquisando propagação de Gypsophila paniculata em
três diferentes meios de cultivo, não
obtiveram diferença significativa para
proliferação de brotos. Após 60 dias de
cultivo, obtiveram 4,2; 4,7 e 4,8 brotos
por explante, nos meios analisados.
Também Zuker et al. (1997) realizaram
estudos visando testar a capacidade de
regeneração de brotos adventícios para
seis cultivares de Gypsophila
paniculata. A resposta foi positiva, com
regeneração eficiente para todas as cultivares.
A fase de enraizamento caracterizase pela formação de raízes adventícias
nas partes aéreas do caule provenientes
da multiplicação. A rizogênese ocorre
de uma a três semanas e segundo
Hartmann & Kester (1990), divide-se
em iniciação e elongação das raízes.
Experimentos com enraizamento in
vitro foram realizados por Teo & Chan
(1994), com microestacas de Carica
¹ Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor, realizada na FAMV/UPF.
514
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação do crescimento de Gypsophila paniculata durante o enraizamento in vitro
papaya L., após três a quatro dias de tratamento com AIB, a extremidade basal
da microestaca apresentou aparência de
calo e deste tecido surgiram indicações
de raiz. Entretanto, o processo de
enraizamento foi verificado entre sete e
oito dias.
Silva et al. (1995) estudaram o efeito da idade das raízes emergidas in vitro,
substratos e espécies (pau-santo, mandioca, batata-doce e amora preta) na
capacidade de aclimatização ex vitro. Os
resultados demonstraram que o maior
índice de sobrevivência está ligado à
espécie, não sofrendo influência de nenhum substrato e nem da idade da raíz.
A obtenção de uma planta com um
sistema radicular bem desenvolvido é de
grande importância para sua sobrevivência e crescimento nas novas condições
ambientais. O tipo do sistema de raízes,
obtido no enraizamento in vitro , também determina o sucesso do transplante, sendo as raízes mais curtas as mais
adequadas, uma vez que apresentam-se
na fase de crescimento ativo, facilitando
a pega da planta (Grattaplagia & Machado, 1990). Para Debergh (1991), o processo de enraizamento é muito complexo
incluindo fatores fisiológicos, bioquímicos
e biológicos que interagem com os fatores ambientais. Além disso, a complexidade é aumentada pela multiplicidade de
espécies e cultivares acompanhadas pela
variabilidade biológica.
Segundo Benincasa (1988), a partir
dos dados de crescimento pode-se estimar, as causas de crescimento entre
plantas geneticamente diferentes ou entre plantas crescendo em ambientes diferentes. O crescimento de uma planta
pode ser estudado através de medidas
de diferentes tipos: lineares (altura, comprimento entre outros), superfície (área
foliar), peso e unidades estruturais. O
presente trabalho teve como objetivo
analisar o crescimento de plantas de
Gypsophila paniculata durante o
enraizamento in vitro em diferentes épocas de cultivo.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido no laboratório FAMV/UPF, de agosto de 2000 a
janeiro de 2001. O experimento foi conduzido com plantas de Gypsophila
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
paniculata, cultivar Bristol Fairy, oriundas do viveiro da FAMV/UPF.
Das hastes coletadas foram retiradas
as folhas. As hastes foram lavadas com
água e desinfestadas com álcool 70%,
por cinco segundos. Posteriormente,
foram transferidas para uma solução de
1,5% de hipoclorito de sódio, acrescido
de três gotas de tween-20 (1 gota para
cada 100ml), durante dez minutos, e em
seguida, foram feitas quatro lavagens
com água destilada e esterilizada. Os
ápices caulinares (1 mm) foram
excisados em capela de fluxo laminar
com
auxílio
de
lupa
estereomicroscópica, bisturi, pinças e
placas de Petri, previamente esterilizados. Os ápices foram transferidos para
tubos de ensaio (25 x 150 mm) contendo meio de isolamento estéril (15 ml),
composto por macro e micronutrientes
e vitaminas do meio básico MS
(Murashige & Skoog, 1962),
suplementado com 1,0 mg.L -1 de
benzinoaminopurina (BAP), 0,01 mg.L1
de ácido naftalenoacético (ANA) e 0,1
mg.L-1 de ácido giberélico (GA3), 6 g.L1
de ágar e 30 g.L-1 de sacarose. O pH
do meio de cultura foi ajustado em 5,9
com NaOH. Foi esterilizado em
autoclave (1 atm) a 120°C, por vinte
minutos. Posteriormente, os explantes
em tubos de ensaio foram transferidos
para um ambiente escuro por três dias
em sala de cultura. Transcorrido esse
período, foram colocados em uma sala
de crescimento com luz (lâmpadas fluorescentes e temperatura controladas
(12 h luz/dia a 25°C±2°C e luminância
de ±25 mmol. m-2 . s-1). Os explantes
permaneceram nestas condições por um
período de 60 dias, quando foi feito o
primeiro subcultivo.
Os propágulos (2 cm) obtidos por
subcultivos, foram transferidos para
frascos com capacidade de 300 ml, contendo aproximadamente 50 ml de meio
MS, suplementado com 0,4 mg.L-1 de
Tiamina-HCl, 100 mg.L -1 de mioinositol, 0,05 mg.L-1 de ANA, 1,0 mg.L1
de BAP, 40 g.L-1 de sacarose e 7 g.L-1
de ágar, o qual se constituiu no meio de
multiplicação.
As mudas multiplicadas na etapa
anterior foram repicadas para meio de
enraizamento MS acrescido de 0,5
mg.L-1 de ácido indolbutírico (AIB), 30
g.L-1 de sacarose e 6 g.L-1 de ágar, onde
permaneceram por 4; 8; 12; 16; 20 e 24
dias, os quais se constituíram nos tratamentos. O delineamento experimental
utilizado foi de blocos casualizados com
seis repetições. Cada parcela constou de
um frasco com cinco explantes. Em cada
data de avaliação, foram analisadas
matéria fresca e seca da raiz (MFR e
MSR) e parte aérea (MFA e MSA).
A massa da matéria seca foi obtida
via secagem em estufa a 65°C até peso
constante. A matéria fresca e seca da
parte aérea e das raízes das plantas de
Gypsophila paniculata foi determinada
em uma balança digital analítica. Os
resultados foram submetidos à análise
de variância e de regressão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se resposta positiva para
todas as variáveis estudadas no que se
refere às diferentes datas em que as
mudas de Gypsophila paniculata foram
colocadas para enraizar in vitro.
O crescimento da matéria fresca e
seca da parte aérea apresentou um
comportamento linear (Figura 1), indicando aumento no crescimento da muda
ao longo do período testado. Calcula-se
o aumento de 21,68 mg de matéria fresca da parte aérea para cada dia que as
mudas permaneceram no meio de
enraizamento in vitro (R2 = 0,95). Entretanto, para a formação da matéria seca
da parte aérea, foi imprimido um crescimento de 2,45 mg, com um R2 equivalente a 0,98.
Resultados semelhantes foram encontrados por Silva et al. (1995) ao trabalharem com plantas de Ipomea batatas e Manihot esculenta. Estes autores
obtiveram resposta linear positiva no
crescimento de matéria da folha no período de enraizamento in vitro.
Com relação à matéria fresca e seca
das raízes de brotações de Gypsophila
paniculata, nas diferentes datas em que
foram enraizadas, verificou-se também
um comportamento linear (Figura 2).
Estima-se um aumento de 6,34 mg de
matéria fresca de raiz a cada dia em que
as mudas permaneceram no meio de
enraizamento in vitro, apresentando um
coeficiente de correlação de 0,87. Por
outro lado, cada dia no meio de
enraizamento promoveu acréscimo de
515
N. Bosa, et al.
Figura 1. Matéria fresca e seca da parte aérea no período de enraizamento in vitro. Passo
Fundo, FAMV/UPF, 2001.
balho foi observado o aparecimento de
primórdios da raiz aos oito dias de permanência no meio de enraizamento.
Em relação ao crescimento das
raízes, resultados semelhantes foram
encontrados por Pereira et al. (1999), os
quais obtiveram crescimento linear em
relação ao número de raízes formadas
ao longo de 32 dias de cultivo in vitro
para duas cultivares de morangueiro
Hofla e Tangi. Também Hoffmann et al.
(2001) obtiveram para a variável porcentagem de enraizamento um crescimento linear ao longo do tempo, ao estudarem o enraizamento in vitro de dois
porta-enxertos
de
macieira
(Marubakaido e M-26), em sete diferentes períodos (7-49 dias). Portanto, o
crescimento da parte aérea e da raiz das
mudas de Gypsophila paniculata cultivar Bristol Fairy foi progressivo ao longo dos dias de enraizamento, com
surgimento dos primórdios da raiz a
partir dos oito dias de permanência no
meio de cultivo in vitro.
AGRADECIMENTOS
Figura 2: Matéria fresca e seca de raiz no enraizamento in vitro. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001.
0,30 mg na matéria seca por crescimento diário com R2= 0,86.
Observou-se que o surgimento das
raízes adventícias ocorreu, aproximadamente, oito dias após os propágulos terem sido transferidos para o meio de
enraizamento. Nessa data, os valores de
matéria fresca e seca da raiz foram de
0,33 e 0,003 mg, respectivamente. Aos
doze dias, verificou-se que a MFR passou a 12,14 mg e a MSR a 0,64 mg.
Hartmann & Kester (1990) descrevem
o surgimento das raízes ocorrendo em
dois períodos básicos: o primeiro caracteriza-se pelo período de iniciação com
duração de 4-8 dias, que se subdivide
em formação do meristema com intensa atividade de auxina e início da formação das raízes sem necessidade deste regulador; um segundo período caracteriza-se pela elongação radicular, no
qual os tecidos que darão origem ao
516
primórdio se desenvolvem, rompem os
tecidos internos e emergem na epiderme.
Teo & Chan (1994) observaram início no enraizamento de Carica papaya
L. após três a quatro dias de permanência no meio de cultivo; a extremidade
basal da microestaca apresentou aparência de calo e deste tecido surgiram
primórdios de raiz. Entretanto, registraram-se as primeiras ocorrências entre
sete e oito dias. Resultados semelhantes foram verificados por Castro &
Andrade (1995), ao detectarem em batata doce o surgimento de raízes in vitro
, em torno do sétimo dia de cultivo. Da
mesma forma, Hilare et al. (1996), ao
estudarem anatomicamente o desenvolvimento de raízes adventícias in vitro
com Mussaenda erythrophylla L., observaram atividade meristemática no
quarto dia e o surgimento de raízes primordiais no sexto dia. No presente tra-
Os autores agradecem à Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de mestrado e à Fundação
de Amparo a Pesquisa do Rio Grande
do Sul (FAPERGS) pela bolsa de Iniciação Científica.
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Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos 1
Nair Bosa2 ; Eunice Oliveira Calvete3 ;Vilson Antônio Klein 3; Marilei Suzin3
2/
EAFS, C. Postal 21, 99170-000 Sertão-RS; 3/FAMV-UPF,C. Postal 611, 99001-070 Passo Fundo-RS; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Dentro da horticultura um dos ramos que tem se expandido nos
últimos anos é a floricultura, em função de sua rentabilidade. Neste
sentido, o estudo e uso dos substratos para produção de mudas torna-se de grande importância, pois da qualidade da muda depende o
resultado do produto final. Considerando que a qualidade de um
substrato é o resultado de suas propriedades químicas e físicas, efetuou-se a caracterização dos mesmos. Este experimento foi realizado com o objetivo de avaliar o crescimento de plantas de Gypsophila
paniculata cv. Bristol Fairy em diferentes substratos. Os tratamentos (seis substratos) foram dispostos em delineamento de blocos
casualizados, com parcelas subdivididas no tempo, com quatro repetições. Cada parcela constou de 22 plantas, totalizando 588 mudas.
Nos substratos, foram efetuadas as análises físico-químicas: densidade seca, porosidade total, espaço de aeração, água disponível, água
facilmente disponível, pH, condutividade elétrica e capacidade de troca
de cátions. As avaliações nas plantas foram realizadas semanalmente
(7-35 dias) e constituíram-se da taxa de sobrevivência, volume de
raízes, massa fresca e seca da parte aérea e da raiz. Os resultados
indicaram que a característica disponibilidade de água otimiza a
aclimatização de Gypsophila paniculata. Os melhores resultados para
produção de mudas foram obtidos com os substratos FE1 (perlita +
turfa) e FE4 (casca de pinus + perlita + turfa).
Development of young plants of gypsophila in different
substrates
Palavras-chave: Gypsophila paniculata, propagação, in vitro,
aclimatização.
Keywords: Gypsophila paniculata, propagation, in vitro,
acclimatisation.
Floriculture is one of the branches in the horticulture that has
expanded in the last years as a function of its profitability. The study
and the use of substrates for producing young plants are important,
once the gypsophila production depends on young plants quality.
Considering that the quality of a substrate is the result of its chemical
and physical properties, the characterisation of these properties was
made. This trial was carried out to evaluate the growth of Gypsophila
paniculala cv. Bristol Fairy plants in different substrates. The
experimental design was a randomised complete blocking split-plot
scheme with six treatments (substrates) and four replicates. Each
plot consisted of 22 plants, totalizing 588 young plants. The following
physical chemical analyses were performed: dry density, total
porosity, aeration space, available water, water easily available, pH,
electric conductivity and cations capacity change. Plant development
was evaluated at weekly basis and the following parameters were
measured: survival rate, root volume, fresh and dry matter of aerial
part and root. Substrates with higher levels of water easily available
optimised the Gypsophila paniculata acclimatization. The best results
for young plants production were obtained with the substrates
FE1(perlite + peat) and FE4 (pine of husks + perlite + peat).
(Recebido para publicação em 20 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
N
o Brasil, a Gypsophila paniculata
é considerada uma das principais
flores de corte, sendo apontada como o
terceiro produto mais comercializado na
CEAGESP e um dos dez mais vendidos
no Veiling da Holambra (Castro, 1998).
Os estados brasileiros maiores produtores dessa cultura são Minas Gerais, Rio
de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que
São Paulo movimenta 70% da produção nacional de flores (IBRAFLOR,
2001). A propagação dessa espécie pode
ser feita por estacas, utilizando-se regulador de crescimento (Kusey & Weiler,
1980; Arteaga & Amesquita, 1990;
Blanco & Barrera, 1992) e por sementes, que resulta em plantas com
desuniformidade e de custo elevado,
pela dependência da importação
(Hartmann & Kester,1990). A técnica
mais vantajosa é a micropropagação
(Kusey et al., 1980; Grattapaglia &
Machado, 1998) a qual permite produção de mudas em escala comercial, livres de pragas e doenças em curto espaço de tempo.
Os substratos assumem cada vez
maior importância na área de
Horticultura, desempenhando principalmente a função como suporte ao sistema de raízes de plantas. O desenvolvimento de raízes em um vaso é diferente
daquele do campo (Kämpf, 2000). Assim, cultivos em recipientes alteram as
condições entre as raízes e o substrato
em razão do volume e espaços reduzidos (Bunt, 1961). Afim de compensar
essas características, Bellé & Kämpf
(1993) relatam que os substratos
hortícolas devem apresentar elevado
espaço de aeração, elevada capacidade
de retenção de água, alta capacidade de
troca de cátions (CTC) e baixo teor de
sais solúveis (TTSS), entre outros itens.
Segundo Verdonck et al.(1981), as propriedades físicas e químicas dos
substratos podem variar muito; por isso,
é importante conhecê-las para adaptálas às diferentes condições de uso.
Entre as características físicas importantes na determinação da qualidade de um substrato, destacam-se densidade, porosidade total, espaço de
aeração e retenção de água. Existem
variações entre os valores considerados
ideais para cultivo em substrato, que vão
desde 170-1000 Kg.m-3, para a característica densidade; de 0,80-0,90 m3.m-3,
para porosidade total; de 0,10-0,40
¹ Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor, realizada na FAMV/UPF.
518
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos
m3.m-3, para espaço de aeração e de 0,200,80 m3.m-3, para retenção de água no
substrato (Grolli, 1991). Entre as características químicas mais importantes,
encontram-se o valor de pH, o teor de
sais solúveis e a capacidade de troca de
cátions. Os valores de pH recomendados para o cultivo de plantas ornamentais, variam de 5,0-5,8 de acordo com
Penningsfeld & Kurzmann (apud
Fermino & Bellé, 2000); entre 5,5-6,5
para Lucas & Davis (apud Fermino &
Bellé, 2000) e, entre 5,0-6,5 segundo
Lopes & Alonso (apud Rodrigues &
Medeiros, 2000). Os valores para teor
total de sais solúveis, medidos por meio
da condutividade elétrica (CE), são apresentados por Ballester-Olmos (1993)
através da classificação: 0,75 mS.cm-1
muito baixo; 0,75-2,0 mS.cm-1 ideal para
sementeiras e mudas em bandejas; 2,03,5 mS.cm-1 apropriado para a maioria
das plantas e acima de 3,5 mS.cm-1 muito alto. Com relação à CTC, Conover
(1967) considera satisfatórios valores
entre 10-30 cmol c. L -1 de matéria
seca.Verdonck et al. (1981) estabeleceram como ideal substrato com CTC
superior a 12 cmol c.L-1.
Existem poucos trabalhos que relatam o estudo do substrato na fase de
transplante da planta desenvolvida in
vitro para as condições ex vitro. Plantas
de Telopea speciosissima não enraizadas
in vitro foram aclimatizadas em condições de alta umidade, sob três diferentes substratos: areia, areia + turfa (1:1v/
v) e turfa + perlita (1:1 v/v). A mistura
com turfa + perlita apresentou o maior
número de explantes enraizados ex vitro
(Offord & Campbell,1992). Por outro
lado, Fior & Kämpf (1999) apontam o
substrato composto por 50% de casca
de arroz carbonizada e 50% de turfa
como o de melhores aptidões para
aclimatização
de
Limonium
platyphyllum. Schneider (2000), ao
pesquisar aclimatização da mesma espécie, concluiu que em bandejas de 242
células, com cinco cm de altura, as plantas têm maior desenvolvimento em
substratos com 14% de espaço de
aeração, 7% de água facilmente disponível e 47% de água disponível. Já,
Calvete et al. (2000), observando as
peculiaridades de cada espécie e as exigências diferenciadas da planta em cada
fase de crescimento ex vitro,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
pesquisaram diferentes misturas durante a aclimatização de mudas de morangueiro da cv. Campinas e obtiveram plantas mais desenvolvidas, quando utilizaram casca de arroz queimada e turfa preta (mineralizada). Esses substratos apresentaram maior retenção de água e menor espaço de aeração e proporcionaram
maior sobrevivência, crescimento e qualidade nas mudas. No enraizamento de
estacas in vivo de crisântemos, rosas e
cravos, os floricultores utilizam apenas
o composto de casca de arroz carbonizada, em razão do elevado volume de
aeração que esse material apresenta
(Bellé & Kämpf, 1994).
Observam-se respostas diferenciadas entre espécies em relação ao
substrato selecionado. Assim, este experimento teve como objetivo analisar
o crescimento de mudas de Gypsophila
paniculata, em diferentes substratos
durante a aclimatização, visando selecionar aquela que apresenta uma melhor
resposta para a produção comercial de
mudas.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na
FAMV/UPF, de maio a dezembro/01.
Para a fase in vitro, utilizaram-se
ápices caulinares (explantes) retirados
de hastes de Gypsophila paniculata cultivar Bristol Fairy, multiplicados por três
subcultivos sucessivos até atingir o número necessário de mudas. Para o
enraizamento, as mudas foram colocadas em meio de cultura MS (Murashige
& Skoog, 1962), acrescido de 0,5 mg L1
de AIB, 30 g L-1 de sacarose e 6,0 g L1
de ágar, sendo utilizadas cinco mudas/
frasco. Os explantes foram mantidos em
frascos com capacidade de 300 cm3,
cobertos com filme de PVC transparente, sob fotoperíodo de 12 horas e temperatura de 27±2°C.
Aos 25 dias de enraizamento in vitro,
selecionou-se as plantas com comprimento médio de 2,5 cm, as quais foram
retiradas dos frascos, lavadas e
transferidas para bandejas de
poliestireno expandido com 72 células
de 110 cm3 cada uma, preenchidas previamente por diferentes substratos, que
constituíram os tratamentos casca de
arroz carbonizada (CAC) e cinco
substratos comerciais da Empresa Turfa Fértil-SC denominados de Horta (casca de pinus + turfa), Jardim (casca de
pinus + turfa), Ornamental (casca de
pinus + turfa + sílica), FE 1 (perlita +
turfa) e FE 4 (casca de pinus + perlita +
turfa).
Para descrever as características físico-químicas dessas misturas foram
feitas várias análises. Na caracterização
química, efetuou-se o pH, teor total de
sais solúveis (TTSS) expresso em
condutividade elétrica (CE) e capacidade de troca de cátions (CTC), no Laboratório de Solos da FAMV/UPF. Para a
caracterização física, efetuaram-se densidade do substrato (DS), porosidade
total (PT), espaço de aeração (EA), água
facilmente disponível (AFD) e água disponível (AD), no Laboratório de Física
do Solo da FAMV/UPF, obtidas através
da curva de retenção de água pelo método do funil de placa porosa, a partir
das sucções de 0; 10; 50 e 100 cm (0; 1;
5 e 10 Kpa), fundamentado por De
Boodt & Verdock, (1972) e Libardi,
(1995) e descrito por Calvete (1998).
A aclimatização foi feita em estufa
plástica sob sistema de nebulização intermitente, regulado por timer automático, sendo que a cada doze minutos as
plantas recebiam irrigação de seis segundos, em forma de névoa. No decorrer deste trabalho, foram registradas alterações na temperatura e na umidade
relativa do ar em termo-higrógrafo de
registro semanal, instalado no interior
da estufa.
Três aplicações de nutrientes e duas
de fungicidas (Metalaxyl na dosagem de
3 g.L-1) foram efetuadas durante o período em que as mudas permaneceram nos
substratos. A solução nutritiva foi preparada à base dos componentes da solução estoque do meio MS citado por
Caldas et al. (1998) nas quantidades de
1 ml.L-1 das soluções E, F e G; 2ml.L-1
das soluções D e H; 4 ml.L-1 da solução
A e 5 ml.L-1das soluções B e C. Antes
da aplicação, diluiu-se esta solução na
proporção de 1:5 (solução: água). Os
tratamentos (seis substratos) foram dispostos em blocos ao acaso, com parcelas subdivididas no tempo em quatro
repetições. Cada parcela constou de 22
plantas, com uma planta/célula,
totalizando 528 plantas.
519
N. Bosa, et al.
Tabela 1. Características químicas e físicas dos substratos. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001.
Médias de valores considerados ideais de acordo com: pH Fermino & Bellé (2000); CE Ballester-Olmos (1993); CTC Verdonck et al.
(1981); DS Kämpf (2000); PT, EA, AFD e AD De Boodt & Verdonck (1972).
Durante a execução do experimento, foram avaliadas semanalmente (até
35 dias) as características de sobrevivência (%), volume de raiz (cm3), matéria
fresca e seca da raiz (MFR e MSR) e
aérea (MFA e MSA) em miligramas. A
taxa de sobrevivência foi determinada
semanalmente, através da contagem das
plantas sobreviventes. Para a avaliação
das demais variáveis, utilizaram-se três
plantas/parcela. O volume foi determinado segundo metodologia descrita por
Basso (1999). O procedimento consiste
em colocar as raízes em proveta graduada, contendo um volume conhecido de
água. Pela diferença de volume obtémse a resposta direta por equivalência de
unidades (1ml = 1cm3). O peso da matéria seca foi obtido pela de secagem em
estufa a 65°C até peso constante. A matéria da parte aérea e das raízes foi determinada em uma balança digital analítica (Sartorius).
Obteve-se o grau de associação entre os dados de crescimento e as características físicas e químicas dos
substratos, efetuando-se a análise de
correlação.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão. O cálculo da equação quadrática foi efetuado,
utilizando-se os valores da equação e
aplicando-se a fórmula (-b/2c).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observa-se com relação às características químicas, que apenas o substrato
CAC apresentou-se fora dos limites considerados ideais (Tabela 1). Os
520
substratos comerciais apresentaram-se
dentro das faixas indicadas para o cultivo de plantas ornamentais (Fermino &
Bellé, 2000; Ballester-Olmos, 1993;
Verdonck et al.,1981). Enquanto o pH
variou entre 5,1 para o substrato Horta
e 5,7 para o substrato FE1, a CAC apresentou o valor de 7,1. Puchalski &
Kämpf (2000) encontraram valor semelhante em estudos de substratos com
hibiscos. Estes autores concluíram que
este pH não limitou o enraizamento desta espécie. Com relação à condutividade
elétrica, os substratos comerciais apresentaram valores ideais (0,75-2,0
mS.cm-1) para mudas em bandejas segundo Ballester-Olmos (1993), compreendidos entre 0,96-1,36 mS.cm-1 para os
substratos FE4 e Ornamental, respectivamente. A CAC encontra-se abaixo da
faixa ideal, com o valor de 0,30 mS.cm1
. No entanto, Kämpf (2000) salienta que
a CAC é um material de baixa
salinidade, o que a torna imprópria para
o cultivo de plantas, sendo a mesma recomendada para enraizamento de estacas. Verdonck et al.(1981) consideraram
satisfatória a CTC acima de 12 cmol c.L1
. A CTC dos substratos comerciais apresentou uma amplitude entre 41,8 cmol
L-1 (substrato FE4) e 51,4 cmol c.L-1
c.
(substrato Jardim). O substrato CAC ficou abaixo dessa recomendação (6,8
cmol c.L-1).
Do ponto de vista das características físicas, a densidade seca dos
substratos comerciais apresentou uma
amplitude de 0,22 Kg.m-3 no substrato
FE1 e 0,51 Kg.m-3 no substrato Ornamental; por outro lado, a CAC apresen-
tou 0,15 Kg.m-3. Os materiais FE1, FE4
e CAC apresentam valores considerados satisfatórios para propagação em
células e bandejas (0,10-0,30 Kgm-3), ao
passo que Ornamental foi o substrato
com maior densidade (0,51 Kg.m-3), o
que pode ter afetado o crescimento das
raízes. Com relação à porosidade total,
apenas a CAC foi superior ao volume
recomendado (0,85 m3.m-3), apresentando valor de 0,88 m3.m-3. No entanto, os
materiais FE1 e FE4 apresentam-se muito
próximos ao ideal. Observa-se que a
maioria dos substratos apresentaram
espaço de aeração abaixo da faixa considerada ideal por De Boodt & Verdonck
(1972), de 0,20-0,30 m3m-3. Apenas o
material CAC apresentou valor superior, com 0,62 m3.m-3. Bellé & Kämpf
(1993) encontraram o valor 0,42 m3.m-3
para essa característica. Esse material é
utilizado para o enraizamento de estacas de espécies ornamentais, pois destaca-se pelo elevado volume de aeração
e por resistir à decomposição, mantendo a estabilidade do material. Quanto à
capacidade de retenção de água, somente os substratos FE1 e FE4 apresentamse dentro dos valores ideais, com 0,25 e
0,27 m3.m-3. Esses materiais, provavelmente,
apresentam
alta
macroporosidade. Entretanto, os
substratos Horta e Jardim ficaram muito próximos à faixa considerada ideal.
Por outro lado, os materiais Ornamental e CAC apresentam valores abaixo do
limite ideal, revelando uma marcante
macroporosidade.
Observou-se efeito positivo da
aclimatização sobre as mudas de
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Crescimento de mudas de gipsofila em diferentes substratos
Gypsophila paniculata cv. Bristol Fairy,
produzidas em diferentes substratos. A
sobrevivência das plantas apresentou-se
de forma diferenciada (p=0,0002) no
decorrer da realização do experimento.
Plantas desenvolvidas no substrato à
base de CAC demonstraram superioridade com a maior taxa de sobrevivência (99%), seguidas das plantas do material FE 4 (97%). Entretanto, no
substrato Horta houve a menor taxa de
sobrevivência (95%). Embora, no geral,
as taxas de sobrevivência tenham sido
altas, observa-se um leve declínio ao
longo do período. Resultados contrários foram observados por Silva et al.
(1995), pesquisando Ipomea batatas e
Manihot esculenta, quando, a partir dos
dez dias após a emissão das raízes, as
plantas elevaram o índice de sobrevivência, embora a última espécie tenha demonstrado maiores dificuldades para
aclimatizar-se.
Independentemente do substrato utilizado, para a produção de mudas de
Gypsophila paniculata, o volume de
raízes durante a aclimatização variou,
apresentando um comportamento semelhante para cinco dos seis substratos
(Figura 1). Apenas o substrato FE4 mostrou um comportamento quadrático
apresentando o maior volume de raízes
entre os materiais estudados aos trinta
dias de enraizamento ex vitro. Provavelmente, isso tenha ocorrido devido a limitação do espaço físico das células da
bandeja, as quais se encontravam completamente ocupadas pelas raízes por
ocasião da última avaliação. De acordo
com Reis, apud Nicoloso et al. (2000),
a restrição do crescimento de raízes
provocada pelo volume do recipiente
pode promover o desequilíbrio na razão
entre raízes e parte aérea, alterando as
respostas fisiológicas da planta. Observa-se que o volume das raízes desenvolvidas nos substratos FE1 e CAC apresentou um aumento diário de 0,011 e
0,008 cm3, respectivamente, durante o
período de aclimatização. Entretanto, o
volume das raízes que se desenvolveram nos substratos Horta, Jardim e Ornamental, foi o mais reduzido.
A variação na massa seca das raízes
durante a aclimatização foi semelhante
em todos os tratamentos, porém com
intensidade variada, comportando-se
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Volume das raízes de Gypsophila paniculata em diferentes substratos, durante o
período de aclimatização. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001.
Figura 2. Matéria seca de raízes de Gypsophila paniculata em diferentes tipos de substratos,
durante o período de aclimatização. Passo Fundo, FAMV/UPF, 2001.
com um aumento linear ao longo das
datas de avaliação para todos os
substratos (Figura 2). Observa-se, inicialmente, a superioridade do acúmulo
de massa seca de raízes na mudas que
se desenvolveram no substrato com
CAC até aproximadamente o 16º dia de
enraizamento ex vitro. Essa superioridade inicial das raízes em CAC deve ter
ocorrido por ocasião da elevação da
umidade relativa do ar (71%) e redução
da temperatura (21°C) verificada nesse
período, pois esse material apresenta
elevado volume de aeração, proporcionando maior drenagem. Em vista disso,
essas condições ambientais provavelmente devem ter proporcionado menor
evapotranspiração na planta e, com isso,
o substrato permaneceu mais úmido.
Após o 16° dia, observa-se maior
biomassa nas plantas desenvolvidas no
substrato FE4, mantendo-se até o final
do período. Estes resultados devem ter
sido favorecidos, provavelmente, pela
capacidade de retenção de água deste
substrato. Os dados são contrários aos
encontrados por Bellé & Kämpf (1993),
quando os substratos contendo CAC
promoveram grande ramificação das
raízes de plantas de maracujá in vivo,
pois atingiram volume, comprimento e
superfície duas vezes superiores aos
demais substratos testados, porém concordam com Calvete et al.(2000) e
Schneider (2000). Por outro lado,
Kämpf (2000) cita o uso de CAC, para
enraizamento de estacas de crisântemos
e roseiras, em função das baixas densi521
N. Bosa, et al.
dades e capacidade de retenção de água,
boa aeração e drenagem rápida.
Com relação à matéria de raiz fresca, apenas o substrato FE4 apresentou
um comportamento quadrático; os demais obtiveram um crescimento linear
ao longo do tempo. As plantas desenvolvidas no material FE4 apresentaram
um desempenho superior. Por outro
lado, as mudas obtidas no substrato Jardim apresentaram o menor desenvolvimento, com um crescimento diário de
raiz de 5,6 mg. Possivelmente, o resultado positivo das plantas no substrato
FE4 tenha ocorrido em função da boa
capacidade de retenção de água deste
material. Resultados semelhantes foram
encontrados por Kusey & Weiler (1980),
os quais encontraram superioridade no
enraizamento de Gypsophila paniculata
(cv.Bristol Fairy) em substratos com
maior retenção de água. Também Castro et al. (1996), ao testarem areia pura
e areia + turfa no enraizamento de
Gypsophila, obtiveram melhor resposta em plantas obtidas na mistura. Possivelmente, o acréscimo da turfa tenha
melhorado a reserva hídrica, entretanto, resultados contrários foram obtidos
por Offord & Campbell (1992), no
enraizamento de Telopea speciosissima.
Com relação à parte aérea, as respostas do crescimento de Gypsophila
paniculata para matéria fresca e seca
apresentaram um comportamento linear
ao longo do tempo em todos os
substratos. As plantas cultivadas no
substrato FE4 obtiveram um ganho superior de massa fresca, apresentando um
incremento diário de 26,64 mg, com um
R2 de 0.79, seguido daquelas do FE1
(24,65mg), até o final do período. Estes
dois materiais apresentam boa capacidade de retenção de água e baixa aeração.
Plantas produzidas nos substratos
FE4 mostraram-se superiores em todas
as características avaliadas, seguido pelo
material FE1. Por outro lado, as mudas
obtidas nos materiais CAC, Horta, Jardim e Ornamental apresentaram resultados inferiores. Os dados aqui encontrados sugerem que a resposta positiva
das plantas aos substratos com maior
retenção de água durante a
aclimatização pode ser resultado de uma
característica específica da planta. Resultados semelhantes foram encontrados
522
por Calvete et al. (2000) e Schneider
(2000), entretanto, são contrários aos
encontrados por Aldrufeu (1987), Kämpf
& Jung (1991). Nestes estudos, o maior
enraizamento ex vitro ocorreu em
substratos com alto espaço de aeração.
A análise do grau de associação realizada, mostrou efeito positivo apenas
entre a disponibilidade de água (AFD)
e a matéria fresca da parte aérea (MFA),
com um grau de associação de 83%. Os
substratos FE4 (casca de pinus + perlita
+ turfa) e FE1 (perlita + turfa) apresentam maior retenção de água e menor
espaço de aeração comparados com a
faixa ideal (0,20-0,30 m3.m-3), proporcionando maior crescimento nas mudas
de Gypsophila paniculata cv. Bristol
Fairy. Das características químicas e físicas analisadas, apenas a água disponível (AFD) tem relação com a parte aérea. Desta forma, para propagar
gipsofila deve-se utilizar os substratos
FE 4 e FE 1 , pois otimizam a
aclimatização.
AGRADECIMENTOS
O primeiro autor agradece à Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de mestrado. À Empresa Turfa-Fértil-SC, na pessoa do Eng.
Agr. Amilcar Seus Ferreira, pela
cedência dos substratos comerciais.
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Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres
morfo-qualitativos de inflorescência
Francisco Hevilásio F. Pereira1; Mário Puiatti1; Glauco V. Miranda1; Derly J.H. da Silva1; Fernando L.
Finger1
1/
UFV, Depto. Fitotecnia, 36570-000, Viçosa-MG; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a divergência genética de acessos de taro pertencentes ao Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFV por meio dos
caracteres morfo-qualitativos de inflorescências. O experimento foi
conduzido a campo em Viçosa, de setembro/2000 a julho/2001. Utilizou-se o delineamento experimental de blocos casualizados, com
cinco repetições e 36 tratamentos (clones), dos quais apenas 11 acessos (BGH 5920, BGH 5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089,
BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 6136, BGH 6306 e BGH
6606) apresentaram florescimento espontâneo, passíveis de serem
avaliados. A proporção entre o apêndice estéril e porção masculina
foi em média de 1,02, variando de 0,4 (BGH 6136) a 1,4 (BGH
6087). A inflorescência é circundada por uma espata cuja coloração
da parte superior (CL) varia do amarelo claro, com ou sem a presença de manchas vermelhas, ao amarelo alaranjado. A cor da porção
inferior da espata, contendo as flores femininas (tubo da
inflorescência), varia do verde, com ou sem raias ou manchas escuras a púrpura. A espata, na antese, apresenta-se na forma aplanada
(BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH
6306) ou encapuchada (BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH
6136 e BGH 6606), com a porção masculina exposta ou envolta,
respectivamente. A cor da haste das inflorescências (pedúnculo) variou do verde claro ao púrpuro, com proporção entre comprimentos
do pedúnculo e da inflorescência (PCPI) média de 1,8, variando de
1,1 (BGH 5927) a 2,3 (BGH 6089). As inflorescências saem em
número de 1 a 5 por axila foliar (NIAF) e apresentam de 1 a 2 ramalhetes florais por planta (NRFP). Os acessos de taro, agrupados pelo
método de Tocher, formaram quatro grupos: I (BGH 5920, BGH
6091, BGH 6093, BGH 6094, BGH 5926, BGH 6606 e BGH 6087),
II (BGH 6089 e BGH 6306), III (BGH 6136) e IV (BGH 5927).
Com base na dispersão dos últimos componentes principais, as variáveis NRFP, CL, PCPI e NIAF, demonstraram ser de pouca importância para a descrição da variabilidade de inflorescências de taro.
Genetic divergence in taro accesses based on the
morphological characteristics of inflorescence
Palavras-chave: Colocasia esculenta, florescimento, clone,
descritores.
Keywords: Colocasia esculenta, flowering, clone, descriptors.
The genetic diversity of taro of the Germoplasm Bank of the
Universidade Federal de Viçosa, Brazil, was evaluated, by analyzing
morphological and quality characteristics of the inflorescence. Plants
were grown from 19/09/00 to 13/07/01. Field plots were arranged in
a randomized block design with five replicates containing 36
treatments (clones), in which only 11 accesses (BGH 5920, BGH
5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6093, BGH 6094,
BGH 6136, BGH 6306 and BGH 6606) flowered spontaneously.
The ratio between sterile appendage and male portion was in average
1.02, varying from 0.4 (BGH 6136) to 1.4 (BGH 6087). The
inflorescence is surrounded by a spathe with ligth yellow color at
the upper part (LC), with or without spots of red, or yellow-orange
color. The botton portion of the spathe which contains the female
flowers (inflorescence tube) varied from green, containing or not
strips or spots dark to purple color. At anthesis, the spathe shows flat
format (BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094
and BGH 6306) or hooded (BGH 5927, BGH 5987, BGH 6089,
BGH 6136 and BGH 6606), with the male portion exposed or
enclosed, respectively. The color of flower stalk varied from pale
green to purplish, and ratio between total and inflorescence stalk
length (LSLIR) average was 1.8, varying from 1.1 (BGH 5927) to
2.3 (BGH 6089). Number of inflorescences (NI) ranged from 1 to 5
per leaf axis, composing 1 to 2 floral clusters per plant (NFCP).
Based on flower morphology the accesses formed four groups by
Tocher method: I (BGH 5920, BGH 6091, BGH 6093, BGH 6094,
BGH 5926, BGH 6626 and BGH 6087), II (BGH 6089, BGH 6306),
III (BGH 6136) and (BGH 5927). Based on dispersion analysis from
the last main components, the variables LC, LSLIR, NI and NFCP,
showed little influence on the variability description of the
inflorescence.
(Recebido para publicação em 20 de maio de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003)
O
taro, Colocasia esculenta (L.)
Schott, também conhecido popularmente como inhame no centro-sul do Brasil, é a principal hortaliça da família
Araceae (Pedralli et al., 2002). É uma importante olerácea do grupo “hortaliças de
raízes, tubérculos e rizomas”, cuja importância social e econômica vem crescendo
nos trópicos e subtrópicos úmidos. No
Brasil, os clones de taro existentes apresentam grande variabilidade morfológica
524
(Puiatti, 2002), o que permite supor a existência de acentuada diversidade genética.
Acredita-se que as novas formas de taro
originam-se de mutações de estruturas
vegetativas, pois, na natureza, raramente
ocorrem sementes férteis, devido à incapacidade de autopolinizar-se e à falta de
polinizadores reconhecidamente eficientes (Ivancic, 1995).
O pouco conhecimento sobre a
floração do taro tem restringido o me-
lhoramento genético da cultura aos métodos de coleta e de avaliação de clones
existentes. Recentemente, a exploração
intensiva dessa espécie tem demandado cultivares mais produtivas. A
hibridação artificial é a principal fonte
de variação nos programas de melhoramento tradicional. Entretanto, em taro,
o principal fator que limita a clássica
hibridação intraespecífica é a irregularidade do florescimento e as anormaliHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência
dades de estruturas florais, que se intensificam com a aplicação de indutores do
florescimento (Ivancic, 1995).
O taro não floresce naturalmente em
todas as condições ambientais e épocas
de cultivo. As inflorescências desenvolvem somente quando as condições básicas, ambientais e fisiológicas, são satisfeitas plenamente. Em Viçosa, sob condições de calor e umidade elevados, temse observado que alguns acessos de taro
pertencentes ao Banco de Germoplasma
de Hortaliças florescem espontânea e
esporadicamente (Puiatti, 2002).
A caracterização de acessos de taro
possibilita a identificação dos clones, o
intercâmbio de germoplasma, a determinação da divergência genética e a
possível utilização em programas de
melhoramento. Várias metodologias que
utilizam análises multivariadas podem
ser utilizadas para determinação de divergência genética. A maioria dessas
metodologias é direcionada para análise de caracteres quantitativos ou
caracteres qualitativos binários (ausência e presença). Entretanto, na caracterização de acessos em bancos de
germoplasma, geralmente, avaliam-se
descritores qualitativos que apresentam
várias classes, ou seja, multicategóricos.
Em taro, omo exemplo temos a cor da
lâmina (parte superior da espata) nas
inflorescências que pode variar de amarelo-clara, amarelo-alaranjada ou amarela com manchas vermelhas.
Segundo Coimbra et al. (2001), uma
das alternativas de análise seria a transformação dessa característica em binária, considerando-se a classe com maior freqüência como presença e as demais como ausência (amarela e não
amarela, por exemplo). Entretanto,
pode-se observar que existe perda de
informações neste tipo de análise. Outra alternativa é a utilização de matrizes
de dissimilaridade a partir de dados
multicategóricos com posterior análise
de agrupamento para se avaliar divergência genética (Coimbra et al., 2001).
O presente trabalho teve como objetivo caracterizar e avaliar a divergência genética do germoplasma de taro do
Banco de Germoplasma de Hortaliças
da UFV, por meio de caracteres
morfológicos de inflorescências.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento, para a caracterização morfológica de inflorescências de
acessos de taro do Banco de
Germoplasma de Hortaliças/UFV, foi
conduzido na Horta de Pesquisa/UFV,
Viçosa-MG, no período de 19/09/00 a
13/07/01. As condições climáticas, durante esse período, foram: temperatura
mínima de 11,70 a 19,52, média de
16,84 a 24,49 e máxima de 24,39 a
32,43ºC; umidade relativa de 73,86 a
87,60%; Insolação média de 3,07 a 8,61
h dia-1; e precipitação pluvial de 0,20 a
229,0 mm mês-1. Os tratamentos foram
constituídos dos 36 acessos de taro pertencentes ao BGH/UFV (BGH 5913,
BGH 5914, BGH 5915, BGH 5916,
BGH 5917, BGH 5918, BGH 5920,
BGH 5921, BGH 5925, BGH 5926,
BGH 5927, BGH 5928, BGH 5929,
BGH 5931, BGH 6086, BGH 6087,
BGH 6088, BGH 6089, BGH 6091,
BGH 6092, BGH 6093, BGH 6094,
BGH 6095, BGH 6132, BGH 6136,
BGH 6137, BGH 6298, BGH 6306,
BGH 6307, BGH 6308, BGH 6315,
BGH 6606, BGH 6607, BGH 6708,
BGH 6730 e BGH 7006), dos quais somente 11 acessos (BGH 5920, BGH
5926, BGH 5927, BGH 6087, BGH
6089, BGH 6091, BGH 6093, BGH
6094, BGH 6136, BGH 6306 e BGH
6606) apresentaram florescimento espontâneo, portanto, passíveis de serem
avaliados.
Os tratamentos foram distribuídos
em blocos casualisados, com cinco repetições. As parcelas foram compostas
de quatro fileiras de 4 m de comprimento, espaçadas de 1,0 x 0,5 m, contendo
32 plantas. As parcelas foram distanciadas, umas das outras, de 2 m nas laterais e de 1 m nas extremidades. As medidas, para caracterização morfológica
e avaliação da divergência genética, via
inflorescências, foram realizadas na
antese considerando-se todas as plantas
da parcela. A avaliação morfológica foi
realizada com base nos descritores para
Colocasia (IPGRI, 1999) e os principais
caracteres considerados foram:
Proporção entre o apêndice estéril e a porção masculina (PAEPM):
avaliada por meio de notas, tomando-se
as respectivas dimensões longitudinais,
em que: 1<0,2; 2 = 0,2-0,5; 3 = 0,6-1,0;
4 = 1,1-1,5; e 5>1,5.
Cor da lâmina, referente à parte
superior da espata (CL): escala de 1 a
7, observada na parte externa e superior
da espata em que: 1 = amarelo claro; 2
= amarelo alaranjado; 3 = amarelo com
manchas verdes ou verde púrpura; 4 =
amarelo com manchas vermelho ou vermelho purpúreo; 5 = laranja
avermelhado; 6 = vermelho; e 7 = púrpura ou púrpura azulada.
Cor do tubo da inflorescência, referente à porção inferior da espata
(CTI): escala de 1 a 6, observada na
parte inferior da espata que envolve as
flores femininas em que: 1 = verde; 2 =
verde com raias ou listas ou manchas
claras (amarelas); 3 = verde com raias
ou manchas escuras (vermelha, púrpura ou castanho); 4 = vermelho; 5 = púrpura; e 6 = amarronzado.
Forma da espata na porção masculina (FE): escala de 1 a 8, em que: 1
= encapuchada (forma de capuz); 2 =
carenada; 3 = aplanada; 4 = Completamente aberta e inclinada; 5 = enrolada
para trás; 6 = sinuosa ou torcida; 7 =
enrolada e sinuosa ou torcida; e 8 = cerrada e sinuosa ou torcida.
Porção
masculina
da
inflorescência (PMI): escala de 1 a 2
em que: 1 = envolta e 2 = exposta.
Cor da haste da inflorescência
(CHI): escala de 1 a 8 em que: 1 =
esbranquiçada (transparente); 2 = amarela; 3 = alaranjada; 4 = verde claro; 5 =
verde; 6 = vermelha; 7 = marrom; e 8 =
púrpura.
Proporção entre os comprimentos
do pedúnculo e da inflorescência
(PCPI): escala de 1 a 5, tomando as respectivas dimensões longitudinais, em
que: 1<0,2; 2 = 0,2-0,5; 3 = 0,6-1,0; 4 =
1,1-1,5; e 5>1,5.
Número de inflorescências por
axila foliar (NIAF): escala de 1 a 5 em
que: 1 = uma; 2 = duas; 3 = três; 4 =
quatro; e 5 = cinco ou mais
inflorescências.
Número de ramalhetes florais por
planta (NRFP): escala de 1 a 5 em que:
1 = 1; 2 = 2-3; 3 = 4-6; 4 = 7-10; e 5> 10.
A divergência genética (grupos de
similaridade genética) foi calculada pela
525
F. H. F. Pereira, et al.
Figura 1. Corte longitudinal da inflorescência
de taro mostrando aspectos externos e internos das partes constituintes da espádice: A pedúnculo, B - flores femininas, C - área de
constrição estéril, D - flores masculinas, E ápice estéril, F- lâmina da espata e G tubo da
espata-. Viçosa, UFV, 2000-01.
análise de agrupamento baseada no
Método de Otimização de Tocher, sendo as medidas de dissimilaridade utilizadas obtidas pelo procedimento para
dados multicategóricos do programa
GENES (Cruz, 2001). Esta metodologia
consiste na obtenção de um índice, em
que são considerados vários caracteres
simultaneamente, sendo que cada caráter pode apresentar várias classes. O índice leva em consideração a ocorrência
e concordâncias de valores. Por exemplo, ao se considerar um caractere com
cinco classes, concordâncias entre dois
genótipos são: 11, 22, 33, 44 e 55, sendo discordâncias: 12, 13, 14, 15, 21, 23,
..., 54.
A distância entre os genótipos i e j,
não importando o número de caracteres
ou classes envolvidas, é dada pela fórmula:
Dij = (1 - C)/(C + D), em que:
C = Concordância de valores; D =
Discordância de valores.
A análise de agrupamento baseada
no Método de Otimização de Tocher,
tem por objetivo a formação de grupos
em que os valores das distâncias
intragrupos sejam inferiores a quaisquer
distâncias intergrupos. Os grupos formados com a utilização desse método, baseado em descritores qualitativos, apresentam como medida de dissimilaridade
variáveis multicategóricas.
526
Figura 2. Formato da espata na antese masculina: encapuchada (BGH 6606) e aplanada
(BGH 6306). Viçosa, UFV, 2000-01.
Foi realizada a análise de componentes principais a partir de dados padronizados. Para a realização da análise, considera-se que xij é a média padronizada
do j-ésimo caráter (variável) (j = 1,2,...,
v) avaliado no i-ésimo genótipo (i = 1,
2, ..., g) e R a matriz de covariâncias ou
de correlação entre esses caracteres (ou
matriz de correlação fenotípica entre os
caracteres utilizando-se os dados originais). A técnica dos componentes principais consiste em transformar o conjunto de v variáveis em novo conjunto,
que são funções lineares dos xi’s e independentes entre si.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O início do florescimento ocorreu
em 21/01/01, aos 120 dias após o plantio. Dos 11 acessos que floresceram, 10
tiveram o período de florescimento de 97
dias (até 28/04/01) e um acesso (BGH
5927) de 119 dias (20/05/01). Esses resultados foram semelhantes ao encontrados por Pimenta et al. (1994), em dois
experimentos com indução hormonal do
florescimento de taro conduzidos em casa
de vegetação, os quais obtiveram valores de 128 e de 99 dias do plantio ao início da floração e de 150 e 85 dias no período de emissão de flores.
O florescimento foi superior a 10%
nos clones BGH 5920, BGH 5926, BGH
6091, BGH 6093, BGH 6094 e BGH
6306; inferiores a 10% nos clones BGH
5927, BGH 6087, BGH 6089, BGH 6136
e BGH 6606 e ausente nos demais clones.
A inflorescência do taro é em
espádice, típica das aráceas, com flores
masculinas no ápice e femininas na base,
separadas por uma constrição transversa no meio, apresentando apêndice estéril no ápice, em todos os acessos avaliados (Figuras 1 e 2).
A proporção entre o apêndice estéril
e porção masculina foi em média de
1,02, variando de 0,4 (BGH 6136) a 1,4
(BGH 6087). Os acessos BGH 5920 e
BGH 6606 apresentaram proporção entre o apêndice estéril e porção masculina, em média, de 1,2; os acessos BGH
6089 e BGH 6306 apresentaram em
média 0,7; BGH 6091, BGH 6093 e
BGH 6094 apresentaram, em média,
1,1; o acesso BGH 5927 apresentou em
média 1,3 e o acesso BGH 5926 apresentou em média 1,0.
A inflorescência apresenta-se circundada por uma espata cuja coloração da
parte superior varia do amarelo-claro,
com ou sem a presença de manchas vermelhas, ao amarelo-alaranjado. A cor da
porção inferior da espata contendo as
flores femininas (tubo da inflorescência)
varia de verde, com ou sem raias ou
manchas escuras, a púrpura. A cor da
haste das inflorescências (pedúnculo)
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Divergência genética entre acessos de taro utilizando em caracteres morfo-qualitativos de inflorescência
Tabela 1. Caracterização morfológica de acessos de taro do BGH/UFV, com base nas características proporção entre apêndice estéril e
porção masculina (PAEPM), cor da lâmina (CL), cor do tubo da inflorescência (CTI), forma da espata (FE), porção masculina da inflorescência
(PMI), cor da haste da inflorescência (CHI), proporção entre comprimentos do pedúnculo e da inflorescência (PCPI), número de inflorescências/
axila foliar (NIAF) e número de ramalhetes florais/planta (NRFP). Viçosa, UFV, 2000-01.
*N – nota; C – característica; V - valor médio; AC - amarelo claro; ACMV - amarelo claro com manchas vermelhas; AA - amarelo
alaranjado; Ve - verde; VME - verde com manchas escuras; PU - púrpura; AP - aplanada; ENC - encapuchada; EXP - exposta; ENV envolta; VC - verde claro.
variou de verde-claro a púrpura. Os
acessos BGH 5920, BGH 5926, BGH
5927, BGH 6087, BGH 6091, BGH
6093, BGH 6094 e BGH 6606 apresentam cor da extremidade da
inflorescência (parte superior da espata)
amarela-clara, cor do tubo da
inflorescência verde e cor da haste da
inflorescência verde-clara. Os acessos
BGH 6089 e BGH 6306 apresentam cor
da extremidade da inflorescência (parte
superior da espata) amarela com manchas vermelhas, cor do tubo da
inflorescência verde com raias ou manchas escuras e cor da haste da
inflorescência púrpura. O acesso BGH
6136 apresenta cor da extremidade da
inflorescência (parte superior da espata)
amarela-alaranjada, cor do tubo da
inflorescência púrpura e cor da haste da
inflorescência púrpura. A espata, na
antese, apresenta-se na forma aplanada
(BGH 5920, BGH 5926, BGH 6091,
BGH 6093, BGH 6094 e BGH 6306)
ou encapuchada (BGH 5927, BGH
6087, BGH 6089, BGH 6136 e BGH
6606), com porção masculina exposta
ou envolta, respectivamente (Figura 2).
A proporção entre o comprimento do
pedúnculo e comprimento da
inflorescência foi, em média, de 1,8,
variando de 1,1 (BGH 5927) a 2,3 (BGH
6089). Os acessos BGH 5920 e BGH
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
6606 apresentaram a proporção entre o
comprimento do pedúnculo, em média,
de 1,6; os acessos BGH 5926 e BGH
6094 apresentaram, em média, de 1,7;
os acessos BGH 6093 e BGH 6136 apresentaram, em média, de 1,9; os acesso
BGH 6087; BGH 6091 e BGH 6306
apresentaram, em média, 1,5; 2,1 e 1,8,
respectivamente. As inflorescências
saem em número de um (BGH 6136) a
5 (BGH 6087, BGH 6089 e BGH 6094)
por axila foliar e apresentam de 1 (BGH
5920, BGH 5926, BGH 6087, BGH
6089, BGH 6091, BGH 6094, BGH
6136, BGH 6306 e BGH 6606) a dois
(BGH 5927 e BGH 6093) ramalhetes
florais por planta.
Os acessos de taro, com base nos
caracteres morfológicos qualitativos,
foram agrupados utilizando-se o método de Tocher, a partir da matriz de distâncias entre variáveis multicategóricas,
em quatro grupos: I (BGH 5920, BGH
5926, BGH 6087, BGH 6091, BGH
6093, BGH 6094 e BGH 6606), II (BGH
6089 e BGH 6306), III (BGH 6136) e
IV (BGH 5927). A dispersão gráfica em
relação aos três primeiros componentes
principais, que explicam 85,33% da variação total entre os acessos, foi concordante com os grupos formados pelo
método de Tocher. Estes resultados confirmam Cruz & Regazzi (1997), que re-
comendam que os componentes principais devem representar um mínimo de
80% da variação total, para que seja viável o estudo da divergência genética
por meio das distâncias geométricas
entre genitores em gráficos de dispersão, cujas coordenadas são escores relativos aos primeiros componentes principais. Além de permitir o estudo da divergência genética por meio das distâncias geométricas entre progenitores em
gráficos de dispersão, os componentes
principais permitem o descarte daquelas características que contribuíram pouco para a variabilidade genética apresentada entre os acessos. Dessa forma,
são descartadas aquelas características
que apresentaram o maior coeficiente de
ponderação nos componentes principais
menos importantes (CP 04; 05; 06; 07;
08 e 09), já que juntos contribuíram apenas com 14,67% da variação total. Com
base nesse critério as variáveis NRFP,
CL, PCPI e NIAF, podem ser eliminadas, por serem pouco importantes para
a descrição da variabilidade da
inflorescência dos acessos analisados.
Os acessos com inflorescências do
tipo aplanada apresentam maior exposição da espádice, fato que pode favorecer a polinização cruzada pela ação de
polinizadores, enquanto que o tipo
encapuchada
é
passível
de
527
F. H. F. Pereira, et al.
autopolinização. Entretanto, ambos os
tipos de inflorescências apresentaram
constrição na espata, entre a parte masculina e feminina, o que pode ter impedido a polinização e, conseqüentemente,
a fecundação e formação de sementes.
Além das barreiras físicas à polinização,
mencionadas na literatura e aqui também
observadas, Pimenta et al. (1990) verificaram, em teste de germinação de grãos
de pólen (2% de sacarose + 0,02% ácido
bórico) taxa de germinação menor que
1% e a viabilidade (carmim acético a 1%)
entre 30 a 40% em pólen obtido de plantas que foram induzidas ao florescimento
por ácido giberélico exógeno. Todavia,
segundo Ivancic (1995), anormalidades
de estruturas florais em taro se intensificam com aplicação de indutores do
florescimento.
Verificou-se a formação de frutos em
todos os acessos que floresceram; entretanto ocorreu a decomposicão dos
mesmos antes de atingirem a maturação,
o que pode estar relacionado, além da
elevada precipitação pluvial e temperatura durante o período de florescimento,
à não polinização e, conseqüentemente,
fecundação das flores femininas e formação de sementes. Dentre os acessos
que floresceram, os que apresentaram
528
maior produtividade de rizomas
comerciáveis foram BGH 6089 (16,07),
BGH 6093 (16,34) e BGH 6136 (15,18),
sendo que o número de rizomas/planta
apresentou-se mais efetivo na estimativa do rendimento, do que propriamente
o peso médio (dados não mostrados).
Apesar de apenas 11 acessos, dentre
os 36, terem florescido espontaneamente, observou-se grande variabilidade
fenotípica de inflorescências dentre esses, indicando ou sugerindo existir variabilidade genética nos clones existentes no BGH/UFV.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com
o apoio do CNPq, referente à bolsa de
mestrado concedida ao primeiro autor.
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Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para
processamento industrial com irrigação por gotejamento1
José O.M. Carvalho2; José M.Q. Luz3; Fernando C. Juliatti3; Leonardo C. Melo4; Reges E.F. Teodoro3;
Lais M.L. Lima5
2
Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900-970 Porto Velho-RO; E-mail: [email protected]; 3UFU, ICIAG, C. Postal 593,
38400-902 Uberlândia-MG; 4Embrapa Arroz e Feijão, C. Postal 179, 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO; 5Faculdade São Lucas,
78916-450 Porto Velho-RO
RESUMO
ABSTRACT
Foram avaliadas e selecionadas as famílias provenientes do programa de melhoramento do tomateiro da UFU, com potencial para
processamento industrial e comparar seus desempenhos com os híbridos mais utilizados pelos produtores na região de Patos de Minas.
O ensaio foi conduzido na EE Fazenda Barreiro da Unilever Bestfoods
Brasil, em Patos de Minas. Utilizaram-se 30 famílias de tomateiro e
os híbridos Heinz 9553, Heinz 7155N2 e Hypeel 108. As Parcelas
constituíram-se de linhas duplas espaçadas 0,5 m entre si, com 10 m
de comprimento, irrigadas por gotejamento. O espaçamento entre as
linhas duplas foi de 1,3 m e a população de 27 mil plantas por hectare.
O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. A semeadura foi realizada em 19/05/01. O rendimento de
polpa mostrou correlações fenotípicas e genotípicas positivas com a
produção total, produção de frutos comerciais, % de sólidos solúveis
totais, coloração do suco, número de frutos maduros por planta e pH
e negativa com acidez total titulável. Destacaram-se a família UFU
06 e os três híbridos comerciais.
Evaluation of tomato families and commercial hybrids for
processing using drip irrigation system
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, cultivares,
processamento, melhoramento, correlação.
Keywords: Lycopersicon esculentum, cultivars, processing,
breeding, correlation.
Tomato families originated from the processing tomato breeding
program of the Universidade Federal de Uberlandia were evaluated
and selected and compared the performance with the most planted
hybrids in Patos de Minas, Brazil. The experiment was conducted in
the Estação Experimental do Barreiro, Unilever Bestfoods, in Patos
de Minas. Thirty tomato families and the hybrids Heinz 9553, Heinz
7155N2 and Hypeel 108 were used. Experimental plots consisted of
two lines, each one 10 m long, spaced 0,5 m from each other and
irrigated with drip irrigation. The space between each double row
was 1,3 m and the population of 27 thousand plants per hectare. The
experimental design was a randomised complete block with four
repetitions, installed on 05/19/01. The paste yield showed positive
phenotypic and genotypic correlation with total fruit yield,
commercial fruit yield, percentage of total soluble solids, juice
coloration, number of mature fruits per plant and pH and negative
correlation with the total titled acidity. Best results were observed in
the family UFU 06 and in the commercial hybrids.
(Recebido Para publicação em 18 de junho de 2002 e aceito em 22 de abril de 2003)
O
tomate não é uma das hortaliças
mais ricas em vitaminas e sais minerais, especialmente por conter, em
média, 94% de água no fruto ao natural.
No entanto, por ser consumido em maior quantidade, com maior frequência em
relação a outras hortaliças e seu consumo ser feito em grande parte sem a cocção, o tomate torna-se uma importante
fonte de vitaminas e sais minerais na
dieta do brasileiro, como, por exemplo,
de vitamina C, cujo teor varia de 11,2 a
21,6 mg/100 g de frutos e das vitaminas
A, B1, B2, P e K. O tomate contém outras substâncias, em doses mínimas,
porém muito importantes, a começar
pelas substâncias corantes licopeno (vermelho) e caroteno (amarelo). Folhas e
frutos ainda verdes também possuem
uma substância levemente tóxica, o
alcalóide tomatina, que parece eficaz
contra fungos de micoses da pele humana (Filgueira, 2000).
A cultura do tomateiro possui grande importância econômica pelo volume
e valor da produção. O mercado brasileiro de tomate industrial de cultivo rasteiro, destinado à produção de purês,
molhos prontos, extratos, sucos, etc., é
avaliado em US$ 445 milhões anuais
(Nakamae & Pastrello, 1999). O consumo nacional de polpa tem aumentado
com o crescimento das redes de “fastfood” e o ingresso de novas indústrias
de molhos prontos. O consumo de polpa de tomate passou de 95 mil t, em
1994, para 140 mil t em 1998 (Nakamae
& Pastrello, 2000). No Brasil, a produção de tomate para processamento industrial, no último quinquênio, girou em
torno de 1 milhão de t/ano, com a marca recorde de 1,29 milhão de toneladas
alcançada na safra de 1999 (Melo,
2001). A região do Cerrado transformou-se na mais importante zona de produção de tomate para processamento
industrial do país, com 77% da área
plantada, seguida do estado de São Paulo com 14% e da região Nordeste, com
apenas 9% (Melo, 2001).
Nos últimos dez anos, a maioria das
plantações
de
tomate
para
processamento industrial tem sido
irrigada por aspersão, especialmente por
¹ Extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor (Carvalho, 2002), realizada com apoio da CAPES.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
529
J. O. M. Carvalho, et al.
pivô central, tendo alcançado produtividades acima de 75 t/ha. Em decorrência da falta de um bom manejo de água,
falta de rotação de culturas e ocorrência
severa de doenças, os produtores vêm
procurando sistemas de irrigação alternativos. Trabalhos experimentais têm
mostrado que a irrigação por
gotejamento, também poderá ser uma
opção (Silva & Marouelli, 1995). O
grande interesse atual por gotejamento
na tomaticultura industrial foi despertado principalmente pelos excelentes
resultados de economia de água e energia, aliados a um substancial aumento
de produtividade e melhoria da qualidade da matéria-prima. Phene (1999)
relatou que, em pesquisas com tomate
para processamento (Var. UC-82B) na
Califórnia, foram alcançadas produtividades total acima de 200 t/ha e comercial acima de 145 t/ha.
Segundo Zahara (1970), Rick (1978)
e Melo (2001), em trabalhos de melhoramento de tomateiros visando
processamento industrial deve-se buscar a obtenção de plantas compactas,
pequenas, com maturação concentrada
dos frutos visando colheita mecanizada, produtivas e resistentes às doenças.
A agroindústria exige um tipo especial
de tomate, obrigatoriamente produzido
em cultura rasteira, sem tratos culturais
sofisticados, objetivando baixo custo de
obtenção da matéria-prima (Filgueira,
2000). Desta forma, durante o processo
de seleção de genótipos para colheita
mecanizada devem ser avaliados
prioritariamente: a concentração de
maturação, o potencial produtivo, o tamanho da rama que deve ser mediano,
a cobertura dos frutos, a capacidade de
permanência dos frutos na planta, a firmeza que permita o transporte dos frutos a granel e o índice de retenção de
pedúnculo. Outras características inerentes às cultivares que se destinam ao
processamento industrial como o teor de
sólidos solúveis (°Brix acima de 5,0),
coloração vermelha intensa (externa e
interna), pericarpo espesso, inserção
peduncular pequena, ausência de defeitos (ombro amarelo, coração negro,
“zippering”, “split setting”) e resistência às doenças que causam prejuízo à
cultura, entre outras, devem ser cuidadosamente avaliadas durante o processo de seleção (Melo, 2001).
530
Neste sentido, a UFU, com apoio do
CNPq e da CAPES, vem desenvolvendo, desde 1995, o Programa de Melhoramento Genético do Tomateiro, a partir de cruzamentos entre os parentais
BHRS-2-3, Jumbo, Nemadoro, Stevens
e TOM-556. O programa obteve famílias com resistência múltipla a
tospovírus, murcha de fusarium,
geminivírus e nematóides das galhas e
com características agronômicas superiores às cultivares Nemadoro e Malinta
(Juliatti et al., 2001).
Em se tratando de tomate para
processamento, torna-se necessária,
além da avaliação do comportamento
das famílias na fase de campo, a determinação do seu rendimento industrial.
Desta forma, este trabalho foi conduzido para caracterizar e selecionar agronômica e industrialmente as melhores
famílias provenientes deste programa,
e comparar seus desempenhos com os
híbridos mais utilizados pelos produtores na região de Patos de Minas, no sistema de produção com irrigação por
gotejamento.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram conduzidos na
Estação Experimental Fazenda Barreiro,
pertencente a Unilever Bestfoods Brasil, situada no município de Patos de
Minas (46º51’ Oeste e 18º57’ Sul, 1100
m de altitude, temperatura média anual
de 22,3 ºC).
Utilizaram-se 30 famílias de tomateiro, provenientes do Programa de
Melhoramento do Tomateiro da UFU,
obtidas por meio do método genealógico
(Ramalho et al., 1993), e os híbridos
comerciais Heinz 9553, Heinz 7155N2
e Hypeel 108, como testemunhas. O
delineamento experimental adotado foi
o de blocos casualizados, com 4 repetições. Foram usadas parcelas com linhas
duplas de 10 m de comprimento, espaçadas 0,5 m. O espaçamento entre linhas
duplas foi de 1,3 m e a população foi de
27 mil plantas por hectare. A semeadura foi realizada em 19/05/01, em bandejas de polipropileno expandido. O
transplantio para o campo ocorreu quando as mudas completaram 32 dias após
a semeadura, com uma muda por cova.
O solo da área experimental pertence à
classe textural argiloso, possuindo
52,3% de argila, 23,6% de silte e 24,1%
de areia, com densidades aparente e real
de 1,0 e 2,7 respectivamente e fertilidade alta.
O solo foi preparado com uma
aração a 25cm de profundidade e gradeado. A seguir aplicou-se, em pré-plantio-incorporado, os herbicidas
Trifluralina concentrado emulsionável
445 g/l (1,3 L/ha) e Metribuzin suspensão concentrada 480 g/l (0,9 L/ha). Na
adubação de plantio utilizou-se de 1500
kg/ha de 04-30-16 + 0,5% Zn + 0,02%
B. No sulco de adubação aplicaram-se
30 kg/ha de Carbofuran granulado 50
g/kg. A adubação de cobertura foi realizada com 80 kg/ha de N, 62 kg/ha de
P2O5 e 100 kg/ha de K2O parcelados por
meio de fertirrigação. A irrigação por
gotejamento foi feita via subsuperfície
utilizando-se fita Netafinâ com 120 m
de comprimento, 1,65 L/h de vazão por
gotejador e 0,4 m de distância entre
gotejadores, enterrada a 20 cm abaixo
da superfície do solo. A umidade do
solo foi monitorada por meio de
tensiômetros instalados a 20 e a 40 cm
de profundidade.
Procurou-se iniciar a aplicação das
lâminas de irrigação sempre que a tensão de água no solo na profundidade de
20 cm alcançava 0,25-0,35 KPA. A evaporação real no período entre duas irrigações subsequentes foi determinada
pela evaporação da água medida em tanque classe “A” menos a precipitação
pluviométrica no período. A lâmina real
a ser aplicada foi calculada multiplicando-se a evaporação real por uma constante que variou conforme o estádio de
desenvolvimento da cultura (Giordano
et al., 2000). A partir de aproximadamente 100 dias do transplantio foi
suspensa a irrigação no experimento.
Mas, devido ao experimento ter sido
conduzido no final da estação de cultivo (plantio tardio), a ocorrência de chuvas no final do ciclo limitou bastante o
estresse hídrico que pretendia-se aplicar à cultura neste estádio. Os tratamentos fitossanitários foram feitos de acordo com o monitoramento das áreas experimentais, em função dos patógenos,
pragas e plantas daninhas presentes. A
colheita foi realizada aos 132 dias após
o transplantio.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento
Avaliou-se visualmente, em uma das
repetições do ensaio, as características
de hábito de crescimento (determinado
ou indeterminado), porte (comprimento das hastes principais), uniformidade
na parcela (cobertura foliar e porte de
planta), formato do fruto (caqui, pêra,
bloco, redondo, oval), firmeza (capacidade de resistência do fruto à compressão feita com a ponta dos dedos), cor
externa [excelente (todos frutos da parcela com coloração vermelha)], frutos
completos (ausência de vazios), teor de
água (obtido amassando-se as metades
de três frutos por parcela com a palma
das mãos), quantidade de sementes
(através da escala comparativa variando de muito poucas a muitas sementes),
retenção de pedúnculo [fenótipos
“jointless” (ausência de joelho) e
“jointed” (presença de joelho)], incidência de podridão apical e rachaduras longitudinais e/ou concêntricas
A produção total de frutos (PT) foi
obtida pela soma das produções de frutos maduros, coloridos, verdes e podres.
Considerou-se como produção de frutos comerciais (FC) aqueles frutos que
se apresentaram maduros no dia da colheita. A porcentagem de frutos
refugados para o processamento (FR) foi
obtida pela soma das produções de frutos coloridos, verdes e podres dividida
pela produção total. A partir de uma
amostra de 20 frutos maduros coletados
ao acaso dentro das parcelas foi obtido
o peso médio dos frutos maduros
(PMFM) no dia da colheita. Obteve-se
o número de frutos maduros por planta
(NFMP), fazendo-se a seguinte relação:
NFMP = FC/(PMFM*NPH), onde NPH
é o número de plantas por hectare e FC
(t/ha) é a produção de frutos maduros
por hectare.
Para determinação das características industriais coletou-se, ao acaso, 20
frutos de tomate maduros, de cada parcela, no dia da colheita. As amostras
foram imediatamente transportadas para
o laboratório de tecnologia de alimentos na unidade industrial de
processamento da Unilever Bestfoods
Brasil, no município de Patos de Minas.
Os frutos foram lavados e processados
em liquidificador para obtenção do suco
utilizado nas análises a seguir. A porcentagem de sólidos solúveis totais da
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
amostra (ºBrix) foi obtida em um
refratômetro
marca
Bellingham+Stanley, modelo RFM320.
Para determinar a acidez total titulável
utilizou-se o equipamento marca
Metrohm modelo 712S Titrino. Para a
determinação do pH utilizou-se equipamento PerpHecT pH, marca Orion,
modelo 310 com um eletrodo tipo Ross
Sureflow, modelo 8172. A relação a/b é
composta pelo valor de a, que mede a
quantidade de vermelho (licopeno) presente na amostra quando positivo e pelo
valor de b, que mede a quantidade de
amarelo (beta-caroteno) presente na
amostra quando positivo (Fonseca,
1982). Para obtenção da relação a/b
(COR), utilizou-se colorímetro marca
HunterLab, modelo ColorQUEST.
O rendimento industrial de polpa foi
obtido utilizando-se a fórmula: REND
(t de polpa/ha) = [(FC (t/ha) x 0,95) x
ºBrix do suco ]/28. Onde REND é o rendimento industrial de polpa concentrada a 28 ºBrix e FC (t/ha) é a produção
de frutos maduros (Giordano et al.,
2000).
As análises de variância [teste F,
modelo Yijk = m+Gi+Bk+Eik (Gomes,
1990)], comparações entre médias [teste de Scott-Knott (Scott & Knott, 1974,
Ferreira et al., 1999)], estimativas das
variâncias fenotípicas, genotípicas e
ambientais (Ramalho et al., 1993) e os
coeficientes de correlação fenotípicos,
genotípicos e ambientais (Cruz &
Ragazzi, 1997) foram processadas no
Programa Computacional Genes, rotina blocos ao acaso com testemunhas
adicionais (Cruz, 1997). A significância
dos coeficientes de correlação
fenotípica, genotípica e ambiental foram
avaliadas pelo teste t, em 5% de
significância (Steel & Torrie, 1980).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação visual dos genótipos,
os três híbridos comerciais obtiveram
posição de destaque, pois mostraram-se
adequados para o tipo industrial por
apresentarem hábito de crescimento determinado, porte de planta pequeno,
excelente uniformidade de plantas dentro da parcela, frutos firmes, com boa
coloração, cheios ou bem preenchidos
internamente, com teor de água exce-
lente, quantidade de sementes normal,
fenótipo “jointless” e ausência de podridão apical e rachaduras (Tabela 1).
O mesmo ocorreu com as famílias UFU
06, UFU 15 e UFU 29. Porém, nestas
famílias foi constatado porte de planta
médio. As famílias UFU 29 e UFU 15
apresentaram cor externa dos frutos apenas regular, e a família UFU 29 apresentou também frutos com rachaduras
e firmeza regular. Apesar de ter a maioria das características adequadas para o
cultivo industrial, a família UFU 02
apresentou plantas com fenótipo
“jointed”, o que não é desejável. Segundo Giordano et al. (2000), a ausência de
joelho no pedúnculo do fruto (fenótipo
“jointless”) faz com que este fique aderido à planta, facilitando a operação tanto de colheita manual como mecânica,
e evitando o trabalho de remoção dos
pedúnculos na linha de processamento.
A família UFU 27 apresentou boas características visuais, porém tem formato de fruto tipo caqui. O formato de fruto similar aos frutos do grupo Santa Cruz
(quadrado) são os preferidos para a indústria (Filgueira, 2000).
A análise de variância revelou diferenças significativas pelo teste F em 1%
de probabilidade entre os genótipos e
entre as famílias para todas as características avaliadas. O coeficiente de variação experimental (CV %) foi inferior a 25% para todos os caracteres de
campo e a 10% para os caracteres de
laboratório, o que revela bom nível de
precisão neste ensaio.
Os genótipos com maior PT foram:
UFU 10, UFU 06, Heinz 7155 N2 e UFU
01 (Tabela 2).Para FC, os genótipos que
se destacaram dos demais foram: Heinz
7155 N2, UFU 06, Heinz 9553 e Hypeel
108 (Tabela 2). Os genótipos com menor FR foram os híbridos Heinz 9553,
Heinz 7155N2 e Hypeel 108 (Tabela 2),
formando um grupo à parte dos demais.
As melhores famílias, todas com desempenho inferior aos híbridos, foram: UFU
02, UFU 11, UFU 27, UFU 06, UFU 09,
UFU 25, UFU 24, UFU 29, UFU 15 e
UFU 05, com valores variando de
14,96% a 20,70%. Num experimento irrigado e com diversas variedades e híbridos, feito por três anos consecutivos
em duas regiões da Espanha, Macua et
al. (1999) também observaram a média
531
J. O. M. Carvalho, et al.
Tabela 1. Características das plantas e dos frutos dos genótipos de tomateiro para processamento no sistema de produção irrigado via
gotejamento. Patos de Minas, UFU, 2002.
1
I (Indeterminado); D (determinado); G (grande); M (médio); Pq (pequeno); C (comPActo); E (excelente); B (bom); R (regular); Ru (ruim);
Bl (bloco); O (oval); A (alongado); Rd (redondo); Ca (caqui); Pe (pêra); F (firme); N (normal); Ch (cheio); Oc (ocado); MS (muito seco); P
(poucas); MP (muito poucas); Js (jointless); Jd (jointed); Au (ausente); Bx (baixa); At (alta)
2
Plantas segregando para a característica dentro da parcela
3
Características da Planta: Hábito de crescimento (HAB), Porte (POR), Uniformidade (UNI); Características do Fruto: Formato do fruto
(FOR), Firmeza do fruto (FIR), Cor Externa (CE), Preenchimento interno (PRE), Teor de Água (TA), Quantidade de Sementes (QS),
Facilidade de Colheita (PA), Podridão Apical (PA), Rachaduras (RA).
de 20% de frutos inadequados, o que coloca estas famílias dentro do padrão aceitável para a tomaticultura industrial.
532
Existe uma tendência de se preferir,
para a indústria, genótipos que produzam frutos menores, com peso médio
variando entre 50 e 100 g, com formato
próximo ao do grupo Santa Cruz, que
conferem maior resistência ao transporte
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento
Tabela 2. Médias dos genótipos para produção total (PT), produção de frutos adequados ao processamento (FC), produção de frutos
inadequados ao processamento (FR), peso médio do fruto maduro (PMFM), número de frutos maduros por planta (NFMP). Patos de Minas,
UFU, 2002.
Letras iguais, nas colunas, indicam médias iguais pelo teste de agrupamento de médias de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade.
(Filgueira, 2000). Mas, de acordo com
Giordano et al. (2000), o fruto não deve
possuir diâmetro inferior a 3 cm, o que
acarretaria diminuição do rendimento no
processo de colheita. Resende & Costa
(2000) obtiveram frutos do híbrido Hypeel
108 com 101,54 g/fruto, mas observaram
que as cultivares mais produtivas produziram frutos com baixo peso médio e maiHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
or número de frutos por planta. Prieto et
al. (1999) obtiveram valores para peso
médio de frutos menores com irrigação
por gotejamento, quando comparados aos
valores para irrigação por aspersão, mas
essa diferença foi compensada pelo maior número de frutos sob irrigação por
gotejamento. Então, decidiu-se selecionar
como melhores para PMFM, os genótipos
Heinz 9553, UFU 30, UFU 06, UFU 02,
Heinz 7155N2, UFU 09, UFU 10, UFU
23, UFU 24, UFU 12 e Hypeel 108, com
pesos médios de fruto variando de 82,50
g a 139,38 g (Tabela 2), por apresentarem
os frutos com menores pesos médios.
O híbrido Heinz 9553 mostrou
NMFP superior aos demais genótipos,
sendo seguido pelo híbrido Heinz
533
J. O. M. Carvalho, et al.
Tabela 3. Médias dos genótipos para coloração do suco (Cor), ºbrix (% sólidos solúveis totais), pH, acidez total titulável (mg ác. cítrico/
100g suco) e rendimento industrial (t polpa 28ºbrix/ha). Patos de Minas, UFU, 2002.
1
3
e 2 indicam médias diferentes de 4,5 e de 350 mg de ácido cítrico/100g, respectivamente, pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade;
Letras iguais, nas colunas, indicam médias iguais pelo teste de agrupamento de médias de Scott-Knott, ao nível de 5% de probabilidade.
7155N2 e pela família UFU 06, num
segundo grupo (Tabela 2).
Segundo Conceição (1981), para que
o suco de tomate seja classificado no mais
alto grau, deve apresentar porcentagem
de vermelho acima de 65%. Porcentagens
de vermelho abaixo de 53% indicam tomate abaixo do padrão. Os genótipos com
534
maior valor para relação a/b (COR) foram: UFU 20, UFU 01, UFU 04, UFU
05, UFU 24, UFU 06, UFU 28, Heinz
9553, UFU 09, UFU 10, UFU 03 e UFU
22 (Tabela 3). Os genótipos agrupados
pelo teste de Scott-Knott na letra “b” também apresentaram valores da COR adequados para o processamento.
Os genótipos que apresentaram maiores médias para ºBrix (Tabela 3) foram:
UFU 16, UFU 01, UFU 07, UFU 04,
UFU 28, UFU 10, UFU 17, UFU 30,
UFU 20, UFU 12 e UFU 24. Segundo
Silva et al. (1994), a matéria-prima recebida pelas indústrias no Brasil tem
tido baixa porcentagem de sólidos soHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Desempenho de famílias e híbridos comerciais de tomateiro para processamento industrial com irrigação por gotejamento
Tabela 4. Médias das famílias, variâncias fenotípica média (s-2F), genotípica média (s-2G) e ambiental média (s-2A) e herdabilidade baseada na
média de família (h2) das famílias de tomateiro. Patos de Minas, UFU, 2002.
1
Rend.: rendimento industrial (t polpa 28ºbrix/ha), PT: produção total (kg/ha), PA: produção de frutos adequados ao processamento (kg/ha),
PI: produção de frutos inadequados ao processamento (%), PMFM: peso médio do fruto maduro (g), NFMP: número de frutos maduros por
planta, Cor: coloração do suco (a/b), ºBrix: % sólidos solúveis totais, e Acid.: acidez total titulável (mg ác. cítrico/100g suco).
lúveis totais (4,5ºBrix), apesar de existirem cultivares que apresentaram valores próximos de 6,0. Em experimento
realizado com 28 genótipos comerciais,
dentre os quais estavam os híbridos
Hypeel 108 (3,58ºBrix) e Heinz 9553
(3,14ºBrix), Cintra et al. (2000) não
observaram valores médios de sólidos
solúveis totais superiores a 4,0ºBrix, o
que poderia estar relacionado com o
período chuvoso ocorrido por ocasião
das colheitas. Já Resende & Costa
(2000) observaram que a cultivar de
polinização aberta IPA-5 apresentou o
mais baixo brix (4,3ºBrix) apesar de ter
sido a mais produtiva do ensaio, enquanto que o híbrido Hypeel 108, um dos
genótipos menos produtivos, apresentou
concentração de sólidos solúveis de
5,4ºBrix. Por outro lado, Cerne &
Resnik (1994) constataram maior ºBrix
médio para as cultivares de polinização
aberta (4,6ºBrix) em relação às cultivares híbridas (4,1ºBrix).
Indiretamente, o pH pode afetar a cor
do produto final, pois se muito alto, exigirá maiores temperaturas e tempo para
a esterilização, especialmente para a eliminação
do
microorganismo
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Clostridium botulinum (Giordano et al.,
2000). A FDA Regulations on Thermal
Processing of Food aponta o pH = 4,6
como o máximo permitido, para o suco
do tomate fresco com destinação industrial. No presente ensaio, as famílias
UFU 04 e UFU 20 e o híbrido Hypeel
108 (Tabela 3) foram os únicos
genótipos a mostrarem valores de pH
acima do máximo recomendado.
A acidez total titulável também influencia o sabor, pois mede a quantidade de ácidos orgânicos e indica a
adstringência do fruto. Além disso, frutos apresentando valores de ácido cítrico abaixo de 350 mg/100g de peso fresco requerem aumento no tempo e na
temperatura de processamento, para
evitar
a
proliferação
de
microorganismos nos produtos processados (Giordano et al., 2000). Entre todos, 22 genótipos apresentaram valores
para ACID menores que 350 mg/100g
(Tabela 3). Entre esses genótipos estavam os híbridos Hypeel 108, Heinz 9553
e Heinz 7155N2 e as famílias UFU 06,
UFU 02 e UFU 15. Cintra et al. (2000),
em experimento realizado em
Jaboticabal, de junho a dezembro/99,
com 28 genótipos comerciais de tomate
para processamento (híbridos e linhagens), também não encontraram nenhum genótipo com acidez superior a
0,35% de ácido cítrico no suco.
Para REND que, segundo Conceição (1981), é determinado em função do
conjunto das características agronômicas e industriais das cultivares, os melhores genótipos foram: UFU 01, UFU
06, UFU 10, Heinz 7155N2, UFU 12,
Heinz 9553, Hypeel 108, UFU 24 e UFU
13 (Tabela 3).
Os caracteres avaliados que apresentaram maiores variâncias fenotípicas
foram PT, FR, PMFM, e ACID. As
variâncias genotípicas foram análogas
às superiores fenotípicas para todos os
caracteres (Tabela 4).
Com exceção do °Brix e do NFMP,
a variável ACID apresentou correlações
fenotípica e genotípica negativas com
as demais características avaliadas (Tabela 5). Desta forma o aumento da acidez não pode ser buscado indiretamente por meio da seleção para outras características, sendo favorecido, entretanto, pelas mesmas condições ambientais
535
J. O. M. Carvalho, et al.
Tabela 5. Estimativa dos coeficientes de correlação fenotípica (acima da diagonal), genotípica (acima da diagonal, entre parênteses) e de
ambiente (abaixo da diagonal) entre variáveis do tomateiro. Patos de Minas, UFU, 2002.
1
Rendimento industrial (Rend), Produção total (PT), Produção de frutos adequados ao processamento (FC), Porcentagem de frutos inadequados ao processamento (FR), % sólidos solúveis totais (ºBrix), Cor do suco (Cor), Peso médio do fruto maduro (PMFM), Número de
frutos maduros por planta (NFMP), pH e Acidez (Acid)
* indica significância pelo teste t ao nível de 5% de probabilidade.
que promovem aumento na COR, como
revela a existência de correlação ambiental
positiva entre as duas variáveis. Mas, a
ocorrência de altas variâncias fenotípica
e genotípica (Tabela 4) indicam a possibilidade de bons ganhos genéticos entre as
famílias, para esta variável.
O °Brix apresentou correlação
fenotípica e genotípica positiva com
REND, PI, COR, PMFM e Ph e negativa com PT (somente fenotípica), FC e
NFMP. Estes valores revelam uma pequena tendência de diminuição da porcentagem de sólidos solúveis com o aumento da produtividade do tomateiro.
Assim, torna-se mais complicada a seleção de materiais que atendam de forma superior as duas características.
Para Conceição (1981), as porcentagens de sólidos solúveis totais podem
sofrer grandes variações de acordo com
cultivares, características do solo e especialmente pelas chuvas ocorridas durante o desenvolvimento das plantas, sobretudo no período de maturação de frutos.
Stevens & Rick (1986) também relatam
que obter sucesso numa seleção de progênies em uma população segregante é
difícil, por causa do impacto ambiental
no conteúdo de sólidos, sendo que, muitas vezes a seleção em populações
segregantes não é efetiva porque as variações na irrigação, textura do solo, resistência a doenças, podem ter grandes efeitos sobre o conteúdo de sólidos. Neste
536
sentido, Prieto et al. (1999) obtiveram
resultado que indica que o uso de estratégias de irrigação produzindo um moderado déficit hídrico, durante o período
final de maturação dos frutos, melhorou
o valor do brix, principalmente quando
utilizou-se irrigação por gotejamento.
Silva et al. (1999) obtiveram alta concentração de sólidos solúveis (de 4,97 a
5,71%) testando 6 cultivares de tomate
para processamento, em Brasília, sob irrigação por gotejamento subsuperficial,
e creditaram esses valores ao correto manejo da irrigação, principalmente durante a maturação dos frutos. Mas, no presente experimento, os genótipos com as
melhores FC, apresentaram os menores
°Brix (Tabelas 2, 3 e 5). Neste sentido,
Amaral Jr. et al. (1997) relatam que ganhos genéticos simultâneos poderiam ser
alcançados de forma mais efetiva entre
número total de frutos e teor de sólidos
solúveis, já que essas duas características
foram
mais
fortemente
correlacionadas genotipicamente, com
valor de 64,74%. Entretanto, Cruz &
Regazzi (1997) alertam para o fato de que
correlações genotípicas são próprias de
cada caráter e população, não sendo recomendada a extrapolação, o que talvez
explique o fato de, neste ensaio, ter-se
obtido correlações fenotípica e genética
negativas entre essas duas variáveis.
Para REND, as correlações fenotípica
e genotípica foram positivas com PT, FC,
°Brix, COR, NFMP e pH e negativa somente com ACID. Desta forma, com base
nos resultados desse ensaio, pode-se inferir que seria interessante selecionar as
famílias baseando-se, principalmente, na
variável rendimento industrial, pois não
haveria prejuízo para as demais características desejadas, com exceção à acidez.
Não seria interessante a utilização da
variável FC por esta apresentar correlações fenotípica e genética negativas com
o °Brix.
Com base nos critérios acima descritos conclui-se que os genótipos que
apresentaram melhor desempenho nas
condições deste experimento foram
UFU 06, Heinz 7155N2, Heinz 9553 e
Hypeel 108.
AGRADECIMENTOS
Ao pesquisador Leonardo Fontes,
Unilever Bestfoods, por fornecer a área
experimental, materiais, equipamentos
e a mão-de-obra necessários para a realização deste trabalho.
LITERATURA CITADA
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Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com
cobertura de polietileno
Valéria A. Modolo; Cyro Paulino da Costa
ESALQ/USP, C. Postal 9, 13418-900 Piracicaba-SP. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
A partir do cruzamento de Cucumis anguria x Cucumis longipes
obtiveram-se, com ciclos de seleção massal intercalados a ciclos de
endogamia, linhagens de maxixe que diferem do tipo comum pelas
suas características de ausência de espiculosidade, tamanho de fruto
e formato de folha não lobulada, semelhante ao pepino. Dez dessas
linhagens, eleitas como elites e denominadas maxixe paulista, foram avaliadas quanto ao comportamento e produção de frutos, no
sistema de cultivo com cobertura de polietileno e fertirrigação. O
maxixe comum foi utilizado como testemunha. As mudas foram
obtidas em bandejas de polipropileno expandido e depois transplantadas para linha central de canteiros cobertos com polietileno preto,
adotando-se espaçamento de 1,0 m entre plantas. As plantas foram
conduzidas de modo rasteiro, com fertirrigação por gotejamento. O
delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições e parcela de seis plantas. As linhagens de maxixe paulista apresentaram peso médio de fruto de 66,20 g, sendo, em média, 80%
maior que o tipo comum, que apresentou peso de 36,68 g. O cultivo
em canteiros com cobertura de polietileno e fertirrigação por
gotejamento proporcionou produtividade estimada de 51,89 t ha-1
para o maxixe comum, sendo que não houve diferença entre as linhagens e o comum em termos de produtividade.
Evaluation of Paulista Gherkin lines grown in beds with
polyethylene mulching
Palavras-chave: Cucumis anguria L., produção, irrigação por gotejo.
New gherkin lines were derived from Cucumis anguria x
Cucumis longipes crossing by mass selection cycles intercalated with
inbreeding cycles. The new lines differ from the common type by
their prickles absence, greater fruit size and non-lobular shaped
leaves, similar to cucumber ones. Ten of such lines, selected as elite
ones and named as Paulista Gherkin, were evaluated for fruit
production, under polyethylene covering and fertigation growing
system. The common gherkin was used as check. Seedlings were
produced in expanded polypropylene trays and transplanted to bed
center covered with black polyethylene. Plants were spaced out 1.0
m apart from each other and conducted in a prostrate habit, under
drip fertigation. A randomized block experimental design with four
replicates and six plants per plot was used. Paulista Gherkin had
66.2 g fruits in average, 80% higher than the common gherkin. The
common gherkin had 36.68 g fruits in average. Gherkins grown in
bed with polyethylene mulching plus drip fertigation promoted an
estimated yield of 51.89 t ha-1. There was no yield difference beetwen
Elite Paulista Gherkins compared with the common one.
Keywords: Cucumis anguria L.; gherkin, mulching, drip irrigation,
yield.
(Recebido para publicação em 27 de junho de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
O
maxixe (Cucumis anguria L.) é
uma cultura de origem africana,
bastante cultivada no norte e nordeste do
Brasil. As populações brasileiras caracterizam-se pela produção de frutos sem
sabor amargo e com variações quanto à
espiculosidade e ao tamanho, geralmente com peso médio de 30 g (Pimentel,
1985). Sua forma de consumo está associada à culinária tradicional do nordeste,
onde o fruto maduro é cozido com outros ingredientes, originando o prato típico denominado “maxixada”. Apesar de
não ser habitual, essa hortaliça também
pode ser consumida in natura na forma
de salada, substituindo com vantagem o
pepino por ser menos indigesta. Sua maior potencialidade seria para o segmento
de consumo em conserva na forma de picles (Baird & Thieret, 1988; Koch &
Costa, 1991; Robinson & DeckerWalters, 1997).
538
A
partir
do
cruzamento
interespecífico entre Cucumis longipes
e cultivares de Cucumis anguria, Koch
& Costa (1991) iniciaram um programa
de melhoramento de maxixe conseguindo, entre outras características, quadruplicar o peso do fruto. Após alguns ciclos de seleção massal foram obtidas
várias dezenas de linhagens de maxixe
que diferem do tipo comum pela ausência de espiculosidade, maior tamanho de
fruto e formato de folha não lobulada,
semelhante ao pepino. Essas linhagens
foram avaliadas (Modolo et al., 1999) e
selecionadas, dando origem a um novo
tipo que foi denominado maxixe
paulista.
O sistema de cultivo do maxixe comum é na sua maioria obsoleto, sendo
raramente submetido ao cultivo convencional. É predominantemente coletado
a partir de populações sub-espontâneas
em roçados ou em plantios de subsistência (Paiva, 1984). Porém, o desenvolvimento e a promoção de um novo
produto, como o maxixe paulista, destinado a outros segmentos de mercado,
tanto na forma de salada como para conserva, implica modernização de sua
tecnologia de produção.
Algumas técnicas de cultivo podem
ser empregadas para promover aumento de produtividade e melhoria de qualidade de uma hortaliça. Dentre elas
pode-se destacar o cultivo em canteiros
com cobertura e uso de fertirrigação,
como já vem sendo feito no cultivo do
morango há mais de trinta anos. Atualmente, devido às vantagens que esse sistema oferece, a adesão dos produtores a
essa tecnologia de produção é total
(Goto & Duarte Filho, 1999). Os efeitos da cobertura de canteiros para as diversas hortaliças são praticamente os
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno
mesmos: influencia o metabolismo das
plantas, acelerando a absorção radicular
de água e nutrientes; protege o solo da
erosão causada pelo excesso de água de
irrigação ou de chuva; aumenta a temperatura do solo nos primeiros 10 cm
de profundidade, favorecendo o desenvolvimento da planta; aumenta o teor de
umidade do solo na região radicular;
controla algumas espécies de plantas
daninhas; aumenta a produção dos cultivos além melhorar a qualidade do produto obtido (Paiva, 1998). Nem sempre
esses efeitos são simultâneos e na maioria das vezes é necessário verificar as
interações entre a prática olerícola e sua
ação no desenvolvimento da planta.
No cultivo convencional do
maxixeiro existem variações quanto à
produtividade, dependendo da época e
do local de cultivo. Na Amazônia, no
período de menor pluviosidade, porém,
com irrigação e espaçamento de 3,00 x
2,00 m entre plantas, as cultivares maxixe liso e maxixe com espículos produziram 110 e 165 frutos/cova, com
peso médio de 37 e 38 g/fruto, respectivamente (Pimentel, 1985). No
Maranhão, a produtividade média é de
16 t ha-1, porém no período chuvoso é
reduzida para aproximadamente 8-10 t
ha-1 (Martins, 1986). Em São Paulo, a
produtividade é de 12 t.ha-1 sendo cultivado preferencialmente de setembro a
fevereiro (Melo & Trani, 1998).
Filgueira (2000) relata que a produtividade da cultura do maxixe se situa em
torno de 4-5 t.ha-1.
Não foi encontrada nenhuma referência sobre cultivo de maxixe utilizando cobertura de canteiros com
polietileno. No entanto, Leal et al.
(2000) verificaram aumento da produtividade da cultura quando utilizou-se
palha de palmeira como cobertura de
canteiros. Neste sistema, esses autores
verificaram produtividade de 17,78 t ha1
contrastando com 15,15 t ha-1 no sistema convencional. Para o maxixe
paulista, o uso de plástico como cobertura de canteiros associado à
fertirrigação poderia constituir um eficiente manejo para aumento da produção, qualidade de frutos e controle de
ervas daninhas. Outro fator favorável
seria a introdução desse cultivo como
alternativa de rotação nas regiões proHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
dutoras de morango, onde os produtores aproveitariam a infra-estrutura existente para plantio de maxixe paulista,
na época de entressafra.
O objetivo desta pesquisa foi verificar o comportamento e avaliar a produção de dez linhagens de Maxixe Paulista
com relação ao manejo de cultivo em
campo, utilizando filme de polietileno
para cobertura de canteiros e
fertirrigação.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi instalado e conduzido de agosto a dezembro de 1999,
no campo experimental da ESALQ, em
Piracicaba. As coordenadas geográficas
do local são 220 42' S, 470 38' W e altitude de 575 m. O clima da região é Cwa,
subtropical úmido, conforme classificação de Köppen.
As mudas das linhagens designadas
como L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42,
L55 e L60 de maxixe paulista e do maxixe comum foram obtidas em bandejas de polipropileno expandido preenchidas com substrato GII, da empresa
Gioplanta. Após 20 dias, as mudas foram transplantadas para bandejas de 72
células, preenchidas com o mesmo
substrato. O transplante para o campo
ocorreu 47 dias após a semeadura, sendo as mudas dispostas no centro de canteiros com 1,20 m de largura, com
espaçamento de 1,0 m entre plantas.
Antes do transplante foi realizado o preparo do solo constando de uma aração,
duas gradagens e encanteiramento. Os
canteiros foram cobertos com filme de
polietileno preto de baixa densidade. O
sistema de irrigação utilizado foi do tipo
gotejo e a fertirrigação foi feita com o
adubo Krystalon, conforme recomendação do fabricante para cultura do pepino. Na fase de estabelecimento da cultura (primeiros 15 dias) foi aplicado 0,3
g L-1 de Kirstalon amarelo (13-40-13);
na fase de crescimento (16-30 dias), 0,2
g L-1 de Kristalon branco (15-05-15), 0,1
g L-1 de nitrato de cálcio e 0,15 g L-1 de
nitrato de magnésio líquido; até o aparecimento do primeiro fruto (31-45
dias), 0,3 g L-1 de Kristalon branco (1505-15), 0,2 g L-1 de nitrato de cálcio e
0,15 g L-1 de nitrato de magnésio líquido e finalmente, durante a fase de pro-
dução, utilizou-se 0,4 g L-1 de Kristalon
laranja (06-12-06), 0,3 g L-1 de nitrato
de cálcio e 0,9 g L-1 de Kristalon vermelho (12-12-36).
As plantas foram conduzidas de
modo rasteiro. Quando as ramas laterais apresentavam cerca de 1,0 m de
comprimento foi feita a poda apical da
haste principal, para estimular a
frutificação nas ramas laterais. O tratamento fitossanitário foi realizado de forma preventiva. Realizaram-se 2 aplicações do inseticida Aplaud (250 g kg-1 de
buprofezin), na fase de produção de
mudas, com intervalo de 10 dias entre
aplicações e dosagem de 100 g 100L-1,
para o controle de mosca branca
(Bemisia sp). Após o transplante das
mudas fez-se aplicações preventivas
com Dithane (800 g kg-1 de mancozeb),
na dosagem de 200g 100L-1, quando as
condições eram propícias ao desenvolvimento de míldio (Pseudoperonospora
cubensis). A colheita dos frutos iniciouse 80 dias após a semeadura, sendo realizada durante dois meses, com intervalo de cinco dias, num total de 12 etapas. Colheram-se frutos parcialmente
imaturos, quando a sementes ainda não
estavam totalmente desenvolvidas, por
volta de 20 dias após a antese. A produção foi expressa em número total de frutos/parcela e peso total de frutos/parcela, em quilograma. Posteriormente foi
calculado o peso médio de fruto (gramas),
e a produtividade por área (t ha-1). Como
o experimento foi conduzido em canteiros, para o cálculo de produtividade considerou-se a área ocupada por cada planta de 1,55 m2 (1,00 x 1,55 m), resultando-se em uma população aproximada de
6500 plantas ha-1. O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro
repetições e parcela de seis plantas. Os
resultados obtidos para número de frutos foram transformados segundo raiz
quadrada de (x + 0,5), para realização da
análise de variância e comparação das
médias nas etapas de colheita pelo teste
de Dunnet. Posteriormente as médias sem
transformação foram comparadas pelo
Teste Tukey a 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença entre as linhagens e o tipo comum para peso de fru539
V. A. Modolo & C. P. Costa
Tabela 1. Peso de frutos por planta, em kg, de linhagens de maxixe paulista L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42, L55 e L60 e do tipo comum
(A), nas seis etapas iniciais de colheita. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999.
Dentro da coluna, médias seguidas por (*) são significativamente diferente da testemunha (A) pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Número de frutos por planta, em kg, de linhagens de maxixe paulista L1, L2, L3, L4, L5, L6, L8, L42, L55 e L60 e do tipo comum
(A), nas seis etapas iniciais de colheita. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999.
Dentro da coluna, médias seguidas por (*) são significativamente diferente da testemunha (A) pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade.
tos por planta, na maioria das colheitas
(Tabela 1). Nas três primeiras colheitas,
as linhagens L4 e L5 apresentaram comportamento similar, com produção quatro
a nove vezes inferior ao tipo comum. Na
décima colheita houve um pico de produção do tipo comum, sendo somente a linhagem L3 tão produtiva quanto ele.
Com relação ao número de frutos/
planta observou-se que, de maneira geral, nas quatro primeiras colheitas o comum produziu significativamente maior número de frutos que as linhagens,
exceto L2, L3 e L6 (Tabela 2). Na sexta
e sétima colheita, esse comportamento
540
não se manteve, pois as linhagens do
paulista foram equivalentes ao comum.
Na quinta, nona e principalmente na
décima colheita, o maxixe comum mostrou ser altamente prolífico, sendo que
nessa última sua produção em número
de frutos foi 3,5 vezes maior que a linhagem mais prolífica L6 e 9 vezes
maior que a menos prolífica, L60. Segundo Yokoyama & Silva Júnior (1988),
o ponto máximo de crescimento do fruto do maxixe comum ocorre em torno
do décimo primeiro e décimo segundo
dia após a antese. Neste ponto o fruto
estaria parcialmente maduro e pronto
para o consumo na forma tradicional,
onde ele é cozido. Para o maxixe
paulista este estágio de maturação ocorre aos vinte e cinco dias após a antese,
dado que este apresenta uma formação
lenta de sementes (Modolo & Costa,
2000). Neste experimento, como os frutos tanto das linhagens como do tipo comum foram colhidos na mesma época,
houve diferentes picos de produção devido às diferenças de desenvolvimento
de fruto entre o comum e as linhagens.
Considerando-se o número de frutos produzidos em todas as etapas de
colheita, verificou-se que as linhagens
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação de linhagens de maxixe paulista cultivadas em canteiros com cobertura de polietileno
Tabela 3. Número total (NTF), peso total (PTF) e peso médio (PM) de frutos por planta de maxixe paulista L1; L2; L3; L4; L5; L6; L8; L42;
L55 e L60 e do tipo comum (A), após 12 colheitas. Piracicaba, ESALQ/USP, 1999.
Dentro da coluna, médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade.
foram equivalentes entre si e menos prolíficas que o comum. Apenas as linhagens L3, L6, L8 e L55 foram semelhantes em termos de prolificidade ao tipo
comum (Tabela 3). Essa equivalência
quanto a menor prolificidade das linhagens elite de maxixe pode ser explicada
pelo processo seletivo que as originou.
Similarmente como ocorre em pepino,
se no processo de seleção para obtenção de linhagens for priorizado maior
peso médio de fruto, consequentemente
o número total de frutos produzidos tenderá a diminuir, porém sem redução na
produção total (Simmonds, 1979). Da
mesma forma, plantas de pepino com
maior número de frutos tendem a produzir frutos com menor peso médio e
comprimento (Ramalho, 1973). O mesmo pode ter ocorrido com as linhagens
de maxixe paulista, pois o critério mais
importante no processo foi o peso médio de fruto maduro, podendo ter proporcionado diminuição na produção total em número total de frutos, porém sem
interferir na produção total por área.
Considerando-se uma população de
6.500 plantas ha-1, estima-se neste experimento uma produtividade para o
maxixe comum de 51,89 t ha-1. A média
de produtividade para o estado de São
Paulo em condições convencionais para
uma população de 13.000 plantas ha-1
tem sido de 12 t ha-1 (Melo & Trani,
1998). Para as diferentes regiões produtoras de maxixe, a produtividade vaHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
ria de 4 a 16 t ha-1 (Pimentel, 1985;
Martins, 1986; Filgueira, 2000). Isso
mostra ganhos em produtividade total
no sistema de manejo com cobertura
plástica de canteiros e fertirrigação por
gotejamento, no qual foi obtida produtividade três a treze vezes maior que a
descrita na literatura para cultivo convencional.
O parâmetro que melhor caracteriza
as diferenças entre o maxixe comum e
o paulista é o peso médio do fruto. O
maxixe comum apresenta peso médio
variando de 14,57 a 45,70 g dependendo da cultivar, da época de plantio e da
região produtora (Pimentel, 1985;
Resende, 1998). Isso concorda com o
encontrado neste experimento onde a
média de peso/fruto foi de 36,68 g. As
linhagens de maxixe paulista apresentaram peso médio de fruto de 66,20 g,
sendo, em média, 80% maior que o tipo
comum (Tabela 3). Entre as linhagens
não houve diferença neste aspecto podendo qualquer uma delas ser utilizada
como nova variedade.
Torna-se importante ressaltar que o
sistema de comercialização de hortaliças no atacado é baseado em volume de
frutos, enquanto no varejo é feito com
base no peso do produto. No Brasil, a
embalagem mais utilizada na
comercialização do maxixe comum é a
caixa tipo “K”, com 20 kg do produto
(Filgueira, 2000). Considerando-se um
peso médio de fruto maior, seria neces-
sário menor número de frutos para completar o mesmo volume de
comercialização, o que traria economia
de mão de obra, tanto na colheita, quanto na embalagem do produto. Outra vantagem do aumento do peso médio do
fruto seria a inserção desse novo produto no consumo in natura, na forma de
salada. Tradicionalmente, para o preparo do maxixe comum, os frutos são raspados para retirada dos espinhos e da
casca e, devido ao seu tamanho, estes
são colocados inteiros para o cozimento
com outros ingredientes. No maxixe
paulista, além do uso na forma cozida,
os frutos com casca lisa e dimensões
maiores facilitariam o corte em fatias,
como é feito com o pepino, para o consumo em saladas.
Algumas considerações podem ser
feitas quanto ao comportamento do cultivo do maxixe no manejo adotado. O
espaçamento de 1,0 m entre plantas
mostrou ser competitivo, com ampla
cobertura do solo, o que dificultou o
manuseio das plantas na fase final das
etapas de colheita. O hábito de crescimento prostrado e a intensa ramificação
secundária e terciária fizeram com que
as ramas crescessem para fora da cobertura de polietileno. Como conseqüência
houve pisoteio com danos às ramificações ao longo dos espaços entre os canteiros, nas etapas finais de colheita. Com
isso, as vantagens diretas na qualidade
dos frutos oferecidas pelo uso da cober541
V. A. Modolo & C. P. Costa
tura de solo foram restritas somente às
primeiras etapas de colheita. Se considerarmos o cultivo de maxixe como alternativa para produtores de morango,
como cultura de entressafra, maiores
estudos deveriam ser realizados para que
a produção dos frutos pudesse ser concentrada sobre a cobertura.
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Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses
Waldelice Oliveira de Paiva1; José Albérsio de Araújo Lima2; Luis G. Pinheiro Neto1; Najara Frota
Ramos2;Flávia Campos Vieira1.
1/
Embrapa Agroindústria Tropical, C. Postal 3761, 60511-110 Fortaleza-CE; E-mail [email protected] 2)UFC, C. Postal 6046.
Fortaleza-CE. E-mail [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Progênies de melão (Cucumis melo L.) cv. Tupã, um tipo que
associa as características favoráveis do fruto do melão Amarelo e do
melão Cantaloupe, foram submetidas à inoculação artificial com cinco vírus [Watermerlon mosaic virus (WMV-2), Papaya ringspot virus
(PRSV-w), Zucchini yelow mosaic virus (ZYMV), Squash mosaic
virus (SqMV) e Cucumber mosaic virus (CMV)], em casa de vegetação. A produção e a qualidade do fruto foram avaliadas em campo.
Progênies de três famílias mostraram resistência ao PRSV-w e ao
ZYMV, algumas manifestaram resistência também ao WMV-2. Cerca
de 63,15% apresentaram resistência somente ao PRSV-w e 52,63%
somente ao ZYMV. A resistência para a combinação do PRSV-w e
ZYMV ocorreu em 42,10% das progênies e a resistência tripla a
PRSV-w, ZYMV e WMV-2 em 36,84%. Uma progênie foi resistente aos quatro vírus (PRSV-w, ZYMV, WMV-2 e CMV). Para o caráter concentração de colheita o comportamento das progênies foi muito
variável, observando-se progênies onde a metade dos frutos foram
colhidos até os 80 dias, e outras onde até os 70 dias nenhum fruto
havia sido colhido. Em relação ao tipo Amarelo, foram muito tardias para a maturação dos frutos, mas mostraram semelhanças com o
fruto para peso médio, formato, diâmetro interno e espessura da polpa.
A firmeza da polpa variou de 7,78 N a 35,6 N, sendo que em 20%
das progênies a firmeza da polpa foi superior a 20 N, muito semelhante aos melões do tipo Cantaloupe.
Tupã melon: agronomic performance, fruit quality and virus
resistance
Palavras-chave: Cucumis melo L., resistência, vírus, produção,
qualidade do fruto.
Progenies of melon (Cucumis melo L.) cv. Tupã, that associate
the favorable fruit characteristics of yellow casaba cantaloupe types,
were submitted to artificial inoculation with five virus: Watermerlon
mosaic virus (WMV-2), Papaya ringspot virus (PRSV-W), Zucchini
yellow mosaic virus (ZYMV), Squash mosaic virus (SqMV) and
Cucumber mosaic virus (CMV), in greenhouse. Yield and the fruit
quality were evaluated in the field. Progenies of three families showed
marked resistance to PRSV-W and to ZYMV, also some manifested
resistance to WMV-2. More than 50% showed isolated resistance to
PRSV-W (63,15%) and to ZYMV (52,63%). The resistance to both
PRSV-W and ZYMV occurred in 42,10% of the progenies and the
triple resistance to PRSV-W, ZYMV and to WMV-2 was detected in
36,84%. One progeny was resistant to four viruses (PRSV-W, ZYMV,
WMV-2 and CMV). The progenies were very variable in harvesting
date, some being very dispersed for harvest, others with no fruits
harvested before 80 days, and others presenting a highly concentrated
harvest period. In comparison to the yellow casaba melon, the
progenies were very late in fruit maturation, but similar for fruit
weight, fruit shape, flesh thickness and internal diameter cavity. Flesh
firmness varied from 7,78 N to 35,6 N, and 20% of these progenies
presented the firmness superior to 20 N, very similar to cantaloupe
melon type.
Keywords: Cucumis melo L., virus resistance, yield, fruit quality.
(Recebido para publicação em 12 de julho de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
O
conceito de qualidade em frutas e
hortaliças varia para produtores,
distribuidores e consumidores. No caso
específico do melão, para o produtor, a
qualidade refere-se à precocidade,
robustez (resistência às doenças) e produtividade, enquanto que o distribuidor
entende por qualidade a resistência do
fruto ao manuseio e à longa vida de prateleira. Por outro lado, o consumidor
considera a qualidade primeiramente
pela aparência ou apresentação externa
(formato, textura cor da casca), quando
escolhe o fruto e, mais tarde, pela aparência interna (cor, textura e sabor da
polpa), quando vai consumir o produto.
Dessa forma, uma cultivar de melão para
ter plena aceitação precisa aliar as características de produção, as caracterís-
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
ticas inerentes à polpa (coloração, espessura da polpa, teores de açúcares e
sabor) com aquelas que conferem maior conservação do fruto (McCreight et
al.1993).
Os produtores enfatizam que, para
ter lucratividade, o melão precisa superar a faixa de 25 toneladas/ha. Alguns
híbridos superam 40 toneladas. Entretanto, existem dificuldades na indicação
de um mesmo híbrido para cultivo em
toda essa região, dada a alta interação
dos genótipos com o ambiente (Gurgel,
2000). Por outro lado, essa produtividade é comprometida caso ocorram viroses, cujo controle químico é pouco
eficiente. De acordo com RubiesAntonell et al. (1996), o vírus do
zucchini amarelo se disseminou com
muita rapidez na Itália e em dois anos
já era responsável por 30% das infecções no melão.
Embora as plantas não sejam
destruídas pelos vírus, os cultivos
infectados têm o processo de produção
severamente interrompido, produzindo
frutos anormais e/ou deixando de produzir (Clough 1995). De acordo com
Lima et al. (1996) sete vírus já foram
constatados em cucurbitáceas no Brasil, entre eles o vírus-2 do mosaico da
melancia (WMV-2), o vírus da mancha
anelar do mamoeiro (PRSV-w), vírus do
mosaico amarelo do zucchini (ZYMV),
o vírus do mosaico do pepino (CMV) e o
vírus do mosaico da abóbora (SqMV). O
cultivo de genótipos resistentes tem sido
indicado como a melhor forma de con543
W. O. Paiva, et al.
trole, o que deve ser considerado durante o processo seletivo do meloeiro.
O melão preferido pelos produtores
no Nordeste é do tipo Amarelo, dado o
longo período de conservação pós-colheita, podendo ser oferecido em mercados distantes sem uso de cadeia de
frio. Este melão, entretanto, passa por
uma fase de queda de consumo, tanto
no mercado internacional quanto no local. Os motivos alegados são o sabor
fraco (baixo teor de sólidos solúveis) e
a dificuldade de constatar se o fruto está
completamente maduro. Por este motivo, no mercado interno, os
supermercadistas passaram a aumentar
a oferta de melão Cantaloupe, o qual
permite identificar o ponto de consumo
pelo aroma. Entretanto, por ser mais
perecível que o melão amarelo, não tem
conservação suficiente para permitir o
transporte marítimo, reduzindo assim as
possibilidades de exportação para o hemisfério norte.
Para aliar os atributos de produção
e de qualidade de fruto em um único
genótipo que atenda ao mercado, foi
desenvolvido o melão Tupã, um tipo que
associa características do melão Amarelo e do Cantaloupe (Paiva et al.,
2000b; 2001), com frutos com a casca
amarelo ouro, enrugada e polpa salmão.
Neste tipo ocorrem variações no formato
do fruto, coloração da casca e da polpa
(Paiva et al. 2000b). Esse germoplasma
está sendo objeto de melhoramento e o
presente trabalho avalia progênies para
as características relacionadas à resistência as doenças viróticas, produção e
a qualidade do fruto.
MATERIAL E MÉTODOS
O comportamento de 24 progênies
de melão Tupã aos principais vírus que
infectam as cucurbitáceas no Nordeste
brasileiro (PRSV-w, WMV-2, ZYMV,
CMV e SqMV) foi avaliado em casa de
vegetação. As progênies S1 de melão
Tupã (Paiva et al., 2000b), obtidas pela
autofecundação de cinco plantas
selecionadas dentro do tipo Tupã. Cada
planta foi considerada uma família, e as
descendentes, originaram as progênies S1.
Sementes de cada progênie foram
semeadas em vasos em solo esterilizado, constituído por uma parte de ester544
co e duas de terra. Após o desbaste, deixou-se quatro plantas por vaso. Quatro
plantas de cada progênie foram inoculadas artificialmente com cada vírus, e
quatro plantas serviram de testemunhas.
A primeira inoculação foi realizada
10 dias após a germinação, usando-se
como inóculo extrato de plantas sistematicamente infetadas pelos respectivos
potyvírus. Uma segunda inoculação foi
efetuada somente nas plantas que não
apresentaram sintomas decorridos 10
dias após a primeira inoculação. Todas
as plantas foram mantidas em casa de
vegetação por aproximadamente 30 dias
para a observação de reações
sintomatológicas e realização de testes
sorológicos contra anti-soros para os
respectivos vírus.
Para avaliação das características
relacionadas à produção foram cultivadas 29 progênies S1 no Campus Experimental de Pacajus, da EmbrapaAgroindústria Tropical, de 05/01 a 06/
04/01. O experimento foi instalado sob
delineamento de blocos ao acaso, com
quatro repetições e cinco plantas por parcela. A irrigação e o manejo do experimento seguiram as práticas locais recomendadas para o cultivo comercial.
As progênies foram avaliadas quanto a concentração da colheita (CC), referente à porcentagem de frutos colhidos do total de frutos produzidos aos 80
dias após a semeadura. Para dados de
maturidade (MATUR), avaliou-se o número de dias da abertura e polinização
da flor feminina até a completa
maturação do fruto. Para obtenção da
produtividade (PRODU), obteve-se o
peso total de frutos na parcela, estimando a produção por hectare.
Para obter as características relacionadas à qualidade dos frutos, os mesmos foram pesados e medidos no diâmetro longitudinal (COMP), diâmetro
transversal externo (DE), e diâmetro
transversal interno (DI). Com esses valores foram calculados o índice de formato (IF) pela relação COMP/DE, e a
espessura da polpa (EP), pela fórmula
DE-DI/2. A firmeza do fruto foi medida
em amostras dos frutos partidos longitudinalmente e em cada parte medida a
resistência com um penetrômetro com
pluger de ponta cônica de 8 mm de diâmetro, na região mediana comestível,
eqüidistantes em relação ao comprimento e à espessura da polpa. Os resultados
da leitura no aparelho foram convertidos em Newton (N) onde cada 1 Newton
corresponde a 1 libra X 4,45.
As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o Programa Genes
(Cruz, 1997) sendo que os dados, em
porcentagem, sofreram transformação
para log X, antes da análise estatística.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com
base
nas
reações
sintomatológicas e nos resultados
sorológicos (Tabela 1), verificou-se que
os vírus em estudo, quando inoculados
isoladamente causam danos desde mosaico leve a mosaico severo, com deformações foliares, sendo as progênies
classificadas em resistentes e suscetíveis
aos cinco vírus estudados. As famílias
1, 2 e 5 apresentam progênies que manifestam resistência, principalmente ao
PRSV-w e ZYMV, sendo que algumas
manifestam também resistência ao
WMV-2.
Quando a reação é avaliada isoladamente ou em combinação, a distribuição dos genótipos, de acordo com seu
comportamento aos cinco vírus, mostra
que doze progênies (63,15%) apresentaram resistência isolada ao PRSV-w, e
dez (52,63%) ao ZYMV. Para estes dois
vírus as progênies apresentaram os maiores índices de resistência, seguido pelo
CMV, com 36,84% das progênies manifestando resistência. A ocorrência de
resistência dupla é verificada principalmente para a combinação de PRSV-w e
ZYMV, quando oito progênies (42,10%)
mostraram resistência. Enquanto que, a
resistência tripla ocorre com maior freqüência (36,84%) para PRSV-w, ZYMV
e WMV-2 e apenas uma progênie (progênie 22), manifesta resistência a quatro viroses, PRSV-w, ZYMV, WMV-2 e
CMV. Os resultados corroboram com os
obtidos por Oliveira (2000), quando
avaliou 69 híbridos de melão e encontrou oito com resistência a três potyvirus
(WMV-2, ZYMV e PRSV). É importante ressaltar que esses híbridos são provenientes de linhagens, obtidas no mesmo material base de onde foi obtido o
tipo Tupã; produto da recombinação de
diferentes genótipos, muitos dos quais,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses
Tabela 1. Comportamento de melão Tupã ao Cucumber mosaic virus (CMV), Papaya ringspot virus, tipo watermelon (PRSV-w), Watermelon
mosaic virus-2 (WMV-2), Zucchini yelow mosaic virus (ZYMV) e Squash mosaic virus (SqMV), em casa de vegetação. Fortaleza, UFC, 2001.
• Sintomas: B- bolhosidade; DF- deformação foliar; EF- enrolamento foliar; M- mosaico; ML-Mosaico leve; MS- mosaico severo; NT- não
testada; SS- sem sintomas.
** (+) Resultado positivo; (-) resultado negativo.
com comprovada resistência ao WMV2, como Eldorado 300 (Dusi, 1992) e
W6 (Tomas e Webb, 1981) e ao vírus
do mosaico do zucchini amarelo
(ZYMV), relatado em PI 414 723
(Gilbert et al., 1994). Esses resultados
indicam a possibilidade de serem obtidas linhagens de Tupã com resistência
a essas viroses e que a combinação dessas linhagens pode gerar híbridos manifestando resistência múltipla.
As 29 progênies avaliadas para produção e qualidade do fruto apresentaram diferenças significativas (P>0,01 e
P>0,05) para todas características, com
exceção para a produção (PRODU) (Tabela 2). O efeito das famílias nas progênies, estudado pelo desdobramento dos
Quadrados Médios, indicou que para a
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
concentração da colheita (CC), ocorreram diferenças significativas na família
1 e na família 6; para maturação
(MATUR) as diferenças foram
verificadas na família 6 e 8; para o peso
médio (PMF), as diferenças significativas foram nas famílias 1, 2 e 3; para o
índice de formato (IF), em todas as famílias; para o tamanho da cavidade da
semente (DI), nas famílias 1, 5 e 6; para
espessura da polpa (EP), nas famílias 1,
2, 5, e 6 e para a firmeza da polpa nas
famílias 1, 2 e 8. Para CC, mais da metade dos frutos foram produzidos até os
80 dias. Mas as médias entre as famílias não diferem entre si. A família 1 é
muito variável e tem progênie muito
precoce (progênie 16) e muito tardia
(progênie 15), que aos 70 dias os frutos
ainda não havia sido colhidos. A concentração da colheita é uma característica importante em melão, mas ainda
pouco avaliada. Cultivos usando linhagens homogêneas mostraram colheitas
menos concentradas, com médias de
41,4% do total dos frutos colhidos aos
70 dias (Paiva et al. 2000a). Quanto à
maturação dos frutos, as famílias 5 e 8
mostram progênies com frutos de
maturação precoce. Nas progênies 66 e
85, os frutos atingem a maturação aos
33,8 dias enquanto que a progênie 63 é
tardia, com a maturação dos frutos ocorrendo aos 48 dias. Os frutos de melão
Amarelo “Eldorado 300” demoram 34,2
dias para atingir a maturação enquanto
que os melões do tipo Cantaloupe (Hy
Mark) maturam aos 33,1 dias (Paiva et
545
W. O. Paiva, et al.
Tabela 2. Médias de concentração da colheita (CC); expresso em porcentagem do total de frutos colhidos até aos 70 dias; maturidade
(MATUR), em dias entre a polinização até a maturação do fruto e produção de frutos (PRODU) , em toneladas por hectare em progênies S1
de melão Tupã. Pacajus, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
1\ Médias seguida por mesma letra minúscula (na coluna) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey
2\ Médias seguida por mesma letra maiúscula (na linha) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey
al, 2000a). Dessa forma, a cultivar Tupã
pode ser considerada de maturação tardia dos frutos.
Os caracteres de maior importância
econômica no melão estão diretamente
relacionados ao fruto. As médias na Ta546
bela 3 indicam que as famílias 6 e 8
mostram pouca variação no peso dos
frutos. Para o índice de formato variam
desde redondos (família 1, com IF=1,02)
a levemente oblongos, (família 2, com
IF= 1,21), destacando-se a progênie 55,
com frutos com formato oval (IF=1,45).
Conforme Gurgel (2000), no tipo Amarelo os frutos não devem ultrapassar o
peso de 1.800 gramas, que comporta o
tamanho exigido pelos mercados dos
países europeus e o índice de formato
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Melão Tupã: produtividade, qualidade do fruto e resistência a viroses
Tabela 3. Médias de peso médio do fruto (PMF), índice do formato (IF), diâmetro interno (DI), espessura da polpa (EP) e firmeza da polpa
(FP) em frutos de progênies de melão Tupã. Pacajus, Embrapa Agroindústria Tropical, 2001.
1\ Médias seguida por mesma letra minúscula (na coluna) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey
2\ Médias seguida por mesma letra maiúscula (na linha) não diferem entre si (p> 0,01) pelo Teste de Tukey
entre 1,1 e 1,7, característica de frutos
oblongos. Esse último parâmetro é importante quando se considera a embalagem, o transporte e a comercialização
(Granjeiro et al., 1999). Observa-se que
as progênies atendem a exigência no que
concerne ao formato e ao peso médio
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
de fruto, com semelhanças ao melão tipo
Amarelo.
As características internas do fruto,
tamanho da cavidade da semente (DI),
espessura da polpa (EP) e firmeza da
polpa (FP), conferem o diferencial para
aumentar a qualidade e a maior resis-
tência ao transporte e armazenamento.
A avaliação para estas características
mostrou grande variação. Para DI, as
diferenças foram observadas entre as
médias das famílias: a família 5 apresenta os frutos com o menor DI (5,23
cm) e a família 3, frutos com maior EP
547
W. O. Paiva, et al.
(5,0 cm). O melão Eldorado 300 produz frutos com a EP de 3,5 cm e o DI
5,80 cm (Paiva et al., 2000a). Em outros genótipos de melão Amarelo essa
variação foi de 3,1 cm a 4,8 cm para a
espessura da polpa e de 4,0 cm a 7,3 cm
para DI (Medeiros et al., 2000). Os frutos de ‘Tupã’ podem ser considerados
como tendo EP espessa e DI reduzida.
Os resultados mostram que, pelas características internas do fruto ocorrem semelhanças ao melão Amarelo (polpa
espessa, ou alto EP) e ao melão
Cantaloupe (pequena cavidade, ou baixo DI).
A textura ou firmeza da polpa (FP),
apesar de ser um parâmetro físico está
relacionada com a solubilização de substâncias pécticas, as quais, segundo
Chitarra & Chitarra (1990), quando em
grande quantidade, conferem textura
frágil aos frutos. Melões considerados
com boa conservação, como os Amarelos, apresentam valores elevados para
FP. Essa característica parece sofrer
grande influência ambiental, com valores muito variáveis, mesmo no melão
Amarelo. No híbrido “Gold Mine” já
foram citados valores de 21,22 N
(Granjeiro et al. 1999), 32,9 N (Gurgel,
2000) e até de 37,1 N (Sena et al., 2000).
Por outro lado, nos melões Cantaloupe
a FP se situa ao redor de 23,56 N (Vale,
2000). Especificamente, no híbrido “Hy
Mark” existem citações de 20,35 N
(Santos Júnior, 2002), e de 30,17 N a
34,20 N (Almeida, 2002)
As progênies de ‘Tupã’ mostraram
FP variando de 7,78 N a 35,6 N, com
20% mostrando valores superiores a
20,0 N, valores próximos aos encontrados nos melões Cantaloupe. Verifica-se
portanto, que além da coloração da pol-
548
pa salmão o melão Tupã tem a FP igual
ao melão Cantaloupe. A progênie 82,
apresentou FP de 35,1 N, mais próxima
dos valores de FP dos melões tipo amarelo. Esta progênie tem a polpa dos frutos de coloração verde.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, Programa de Apoio ao
Desenvolvimento da Fruticultura
Irrigada do Nordeste (PADFIN) e ao
Programa Avança Brasil pelo financiamento da Pesquisa.
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Maturidade fisiológica e germinação de sementes de macela (Egletes
viscosa (L.) Less.) submetidas à secagem
Antonio Marcos E. Bezerra1; Sebastião Medeiros Filho2; João Batista S. Freitas2
1
UFPI, Depto. Planejam. e Política Agrícola, 60450-000 Teresina-PI; E-mail: [email protected]. 2UFC, Depto. Fitotecnia,
C. Postal 12.168, 60356-001 Fortaleza-CE; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Determinou-se o ponto de maturidade fisiológica e o efeito da
secagem em sementes de macela. Foram realizadas colheitas aos
93; 100; 107; 114; 121; 128 e 135 dias após o transplante (DAT).
Após cada colheita, uma amostra foi levada ao secador (40ºC/72 h)
e a outra foi embalada em saco plástico, em uma câmara (20ºC) pelo
mesmo período. Utilizou-se delineamento inteiramente casualizado
em esquema fatorial 2x7, correspondendo aos dois níveis de secagem (sem e com) e sete épocas de colheita, com quatro repetições.
As sementes atingiram a maturidade fisiológica de 121-128 dias após
o transplante; e a secagem não influenciou a qualidade fisiológica
das sementes de macela.
Physiological maturation and germination of Egletes viscosa
seeds submitted to drying
Palavras-chave: Asteraceae, planta medicinal, sementes, colheita,
maturação.
Keywords: Asteraceae, medicinal plant, harvesting date,
germination.
The influence of harvesting date and the effects of drying on the
physiological quality of macela seeds was evaluated. The harvesting
dates of 93; 100; 107; 114; 121; 128 and 135 days after transplanting
(DAT) were evaluated. Half volume of the harvested seeds was taken
to a dryer (40ºC for 72 h), while the other half was packed in plastic
bags and stored in a cold room (20ºC) during the same period. A
complete randomized design in a 2 x 7 factorial, with four repetitions,
was used. The seeds reached the physiological maturity about 121128 DAT. The drying process had no influence on the macela seeds
physiologic quality.
(Recebido para publicação em 06 de setembro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003)
A
macela (Egletes viscosa (L.)
Less.), da família Asteraceae, é um
vegetal silvestre, anual, e freqüente nas
margens de lagoas, açudes, cursos de
água do sertão e do litoral nordestino
do Brasil, no início da estação seca, após
o baixar das águas (Matos, 2000). Os
capítulos florais são obtidos de forma
extrativista e comercializados para uso
no tratamento caseiro de problemas digestivos e intestinais, cólicas, gases,
azia, má digestão, diarréia e enxaqueca,
bem como nos casos de irregularidades
menstruais (Lorenzi & Matos, 2002).
A maturação da semente, definida
por Hartmann et al. (1997), compreende as mudanças morfológicas e fisiológicas que ocorrem entre a fertilização e
o momento em que as sementes, tornando-se independentes da planta-mãe,
apresentam os máximos peso de matéria seca, germinação e vigor. A colheita, que deveria ser realizada no ponto
de maturidade fisiológica, torna-se impraticável em espécies de crescimento
indeterminado (Carvalho & Nakagawa,
2000). Popinigis (1996) enfatiza que a
obtenção de qualidade fisiológica adequada é dificultada em espécies caracHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
terizadas pela desuniformidade na
maturação. Nesse sentido, Bezerra et al.
(1995a) verificaram em coentro que as
umbelas nos estádios de antese, verdes,
maduras e secas ocorrem, respectivamente, nos intervalos de 55-75; 55-80;
70-95 e 85-100 dias após a emergência,
tendo sido observado aos 95 dias valores máximos para germinação e acúmulo
de matéria seca nas sementes. Em
macela (Egletes viscosa L), Bezerra et
al. (2002) constataram que ao longo da
fase reprodutiva há produção simultânea de capítulos em diferentes estágios
de desenvolvimento (botão floral, capítulos verdes, maduros e secos), caracterizando-se como uma espécie de
maturação desuniforme.
A maioria das espécies requerem
condições específicas para germinação.
Assim, Ikuta & Barros (1996) recomendam, para marcela (Achyrocline
satureioides), temperaturas de 20 a 25ºC
e semeadura superficial no substrato.
Freitas et al. (2000) constataram que a
pré-embebição dos aquênios em água
destilada (24 ou 48 h) e o umedecimento
do substrato com soluções aquosas de
GA3 (100 ou 300ppm) foram eficientes
para a germinação de sementes de
macela em temperatura alternada de 2030ºC. Bezerra et al. (2001) afirmam que
a qualidade fisiológica de sementes de
macela oriundas de plantas cultivadas é
superior à das silvestres apesar do tempo médio de germinação (21 dias após
a semeadura) não ser diferente entre
ambas.
A tecnologia de produção de sementes das plantas medicinais brasileiras
carece de estudos. Dessa forma, a pesquisa objetivou estudar a época de colheita e a secagem das sementes de
macela.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado na UFC em
Fortaleza, de outubro/00 a março/01.
Sementes, previamente embebidas em
água por 16 dias, foram semeadas a lanço em substrato comercial Plantagro®,
mantido em casa de vegetação sob
nebulização intermitente. Aos 16 dias
após a semeadura, foi realizada a
repicagem para bandejas com células,
contendo o mesmo substrato, de modo
que cada célula recebesse uma planta.
549
A. M. E. Bezerra, et al.
Figura 1. Peso da matéria seca das sementes procedentes de sete épocas de colheita, sem
(Y1) e com (Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001.
saco de polietileno e manutenção a
20ºC/72 h), obtendo-se as sementes
mediante extração (maceração dos capítulos em um mini pilão de madeira) e
beneficiamento (peneiração e ventilação). Foi utilizado delineamento inteiramente casualizado em esquema
fatorial 2x7 (2 secagens e 7 épocas de
colheita) para as seguintes determinações: peso da matéria seca das sementes [quatro repetições de 100 sementes
foram postas em estufa a 105ºC por 24
h, em seguida pesou-se em balança de
precisão para décimos de miligrama,
conforme Carvalho & Nakagawa
(2000)]; germinação [quatro repetições
de 50 sementes colocadas em placas de
Petri, sobre duas folhas de papel filtro,
previamente umedecidas com água destilada, e mantidas sob alternâncias de
temperatura e de luz (20-30ºC e 8h luz/
16h escuro)]. A contagem foi feita aos
31 dias após a semeadura, considerando-se as plântulas que apresentavam a
radícula e a plúmula visíveis e sem anormalidades; índice de velocidade de germinação [realizado conjuntamente com
a germinação, considerando as contagens
diárias de acordo com a metodologia recomendada por Maguire (1962)];
As variáveis respostas foram submetidas à análise de variância, conforme
Ferreira (1996), sendo as médias apresentadas por meio de regressão
polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Germinação de sementes procedentes de sete épocas de colheita sem (Y1) e com
(Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001.
Aos 23 dias após a repicagem, efetuou-se o transplante das mudas, no
espaçamento de 1,0 x 0,5 m, para um
canteiro, previamente desinfestado com
brometo de metila, cujo leito, antes da
adubação orgânica, apresentava as características físico-químicas: pH=7,00,
A l 3+= 0 , 0 c m o l c/ d m 3,
Ca 2++Mg 2+=3,7cmol c /dm 3, K=92mg/
dm3, P=174mg/dm3, Na+=51mg/dm3,
areia grossa= 460g/kg; areia fina= 430g/
kg, silte= 60g/kg e argila= 50g/kg. Anteriormente ao transplantio, foi efetua550
da adubação com húmus de minhoca na
dosagem de 2,5 kg/m2. O canteiro foi
coberto com palha de coqueiro durante
cinco dias após o transplante e, em seguida, foi aplicada cobertura morta. Os
tratos culturais consistiram de capinas
manuais e regas por microaspersão.
Foram realizadas colheitas aos 93;
100; 107; 114; 121; 128 e 135 dias após
o transplante (DAT), de fevereiro a março de 2001. As plantas colhidas foram
submetidas à secagem (40ºC/72 h) e
ausência dessa operação (embalada em
Independentemente da realização da
secagem, o peso da matéria seca das
sementes (Figura 1) apresentou acumulação inicialmente lenta (93-107 DAT),
sucedida por período de aceleração
(114-128 DAT) com valores máximos
no período de 121-128 DAT. As variações detectadas estão em consonância
com o descrito por Carvalho &
Nakagawa (2000), e com as observações
realizadas por Bezerra et al. (1995b),
Mattos et al. (1995) e Chaves (1996) em
Coriandrum sativum, por Guimarães et
al. (1998) em Zinia elegans, por Oliveira
et al. (1999) em Capsicum annuum cv.
All Big e por Nakagawa et al. (1999)
em Lolium multiflorum.
As sementes que não foram submetidas à secagem (Figura 2) apresentaram
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Maturidade fisiológica e germinação de sementes de macela (Egletes viscosa (L.) Less.) submetidas à secagem
germinação crescente entre 100-114
DAT, atingido o valor máximo aos 114
DAT, tendendo a decrescer em processo similar ao verificado por Mattos et
al. (1995) em Coriandrum sativum. Este
comportamento deve-se, provavelmente, à desuniformidade entre a maturação
dos capítulos, conforme documentou
Bezerra et al. (2002). Nas sementes
secadas, a germinação aumentou a partir de 93 DAT e atingiu o máximo em
121 DAT, em comportamento similar ao
verificado por Lago et al. (1994), em
Sesamum indicum cv. IAC-Ouro e por
Chaves (1996), em Coriandrum
sativum. Em agrião-do-brejo (Eclipta
alba), Verdelho & Assunção (1997) observaram que apenas a germinação não
se constitui em indicador seguro para
determinação da época ideal de colheita desta espécie, pois, o fato de se obter
altos índices germinativos não implicou,
necessariamente, em dizer que as sementes são vigorosas. Os valores máximos de germinação observados (Figura
2) foram superiores aos obtidos por
Freitas et al. (2000) e por Bezerra et al.
(2001) com a mesma espécie.
A velocidade de germinação das sementes sem secagem, expressa pelo índice de velocidade de germinação (Figura 3), exibiu um crescimento contínuo entre 93 e 114 DAT, quando atingiu
o valor máximo, estabilizando-se próximo desse valor até 128 DAT. Este
modelo de variação está de acordo com
o observado por Verdelho & Assunção
(1997), em Eclipta alba e difere dos
obtidos por Mattos et al. (1995) em
coentro, por Guimarães et al. (1998) em
zínia e por Corvello et al. (1999) em
cedro. Na Figura 3 verifica-se que o índice de velocidade de germinação nas
sementes submetidas à secagem, mostrou uma tendência crescente ao longo
das épocas de colheita, estabilizando-se
em torno do valor máximo no intervalo
compreendido entre 121 e 135 DAT.
Portanto, o máximo vigor nas sementes, sem e com secagem, ocorreram nas
épocas de colheita realizadas aos 114128 e 121-135 DAT, respectivamente,
sugerindo, assim, que o provável ponto
de maturidade fisiológica encontra-se
nesses intervalos, conforme preceituam
Hartmann et al. (1997) e Carvalho &
Nakagawa (2000).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 3. Índice de velocidade de germinação de sementes procedentes de sete épocas de
colheita, sem (Y1) e com (Y2) realização de secagem. Fortaleza, UFC, 2001.
Pode-se concluir, que as sementes
atingiram a maturidade fisiológica por
volta de 121-128 dias após o transplante e que a secagem não influenciou a
qualidade fisiológica das sementes de
macela.
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Avaliação da suscetibilidade a inseticidas de populações da traça-dascrucíferas de algumas áreas do Brasil
Marina Castelo Branco1; Félix H. França1; Ludmilla A. Pontes2; Pablo S.T. Amaral2
1
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF E-mail: [email protected]; 2Estudantes de Graduação, Univ. Católica
de Brasília. Estagiários Embrapa Hortaliças
RESUMO
ABSTRACT
A traça-das-crucíferas (TDC) é a praga mais importante do repolho, sendo basicamente controlada por inseticidas. Em alguns casos, as lavouras são pulverizadas duas a quatro vezes por semana,
sem sucesso. Isto acontece porque, em muitos casos, são empregados inseticidas ineficientes, para os quais a praga já apresenta resistência. Trabalhos anteriores demonstraram ser possível determinar
os inseticidas ineficazes para o controle da TDC em testes de laboratório, através do uso da dosagem recomendada. Neste trabalho
foram coletadas larvas e pupas do inseto nos estados do Ceará
(Tianguá), Minas Gerais (Barroso), Bahia (Mucugê), Mato Grosso
(Sinop) e no Distrito Federal (Brazlândia e Embrapa Hortaliças). As
populações foram criadas em laboratório e, dependendo do número
de larvas de primeira geração, estas foram tratadas com as dosagens
recomendadas de abamectin, acefato, B. thuringiensis, cartap,
clorfluazuron, deltametrina e spinosad. Foi previamente assumido
que um inseticida eficiente seria aquele que causasse a mortalidade
de mais de 90% das larvas. Os resultados mostraram que a eficiência dos inseticidas variou entre as diferentes áreas. Spinosad causou
a mortalidade de l00% das larvas em todos os locais. Foram
ineficientes acefato, B. thuringiensis e cartap em Tianguá; abamectin
em Brazlândia e clorfluazuron em Mucugê. Deltametrina não foi
eficiente no controle das populações da praga coletadas em nenhuma das áreas geográficas amostradas. Conclui-se que as populações
de traça-das-crucíferas brasileiras são resistentes a um ou mais ingredientes ativos e programas de manejo de resistência a inseticidas
em TDC devem ser implementados.
Forecasting insecticide susceptibility in Diamondback Moth
populations from different areas of Brazil
The Diamondback Moth (DBM) is an important brassica pest
and is controlled by several types of insecticides. In some occasions,
the fields are sprayed two-four times per week without success.
Sometimes this occurs because ineffective insecticides are used.
Works showed that laboratory tests using the recommended field
rate of insecticides can detect the ineffective ones. Here, we collected
DBM larvae and pupae from the States of Ceará (Tianguá), Minas
Gerais (Barroso), Bahia (Mucugê), Mato Grosso (Sinop) and the
Federal District (Brazlândia and Embrapa Hortaliças). We reared
the populations in the laboratory and larvae of the first laboratory
generation were treated with the recommended field rate of
abamectin, acephate, B. thuringiensis, cartap, chlorfluazuron,
deltamethrin, and spinosad. We previously determined that an
effective insecticide should cause more than 90% larval mortality.
Insecticide effectiveness was different from field to field. Spinosad
killed 100% of larvae; acephate, B. thuringiensis and cartap killed
less than 90% of the larvae in Tianguá; abamectin and chlorfluazuron
did not control the insect in Brazlândia and Mucugê respectively.
Deltamethrin was inneffective in all areas tested. Diamondback Moth
populations were resistant to one or more active ingredients and
programmes to manage insecticide resistance must be implemented
in Brazil.
Palavras-chave: Plutella xylostella, repolho, controle químico, resistência a inseticidas.
Keywords: Plutella xylostella, cabbage, chemical control, insecticide
resistance.
(Recebido para publicação em 09 de setembro de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
A
experiência do Distrito Federal
tem demonstrado que em épocas
de temperatura elevada e ausência de
precipitação ocorrem os maiores problemas em lavouras de repolho devido aos
danos da traça-das-crucíferas (TDC)
(França et al., 1985). Além dos fatores
ambientais que favorecem o rápido crescimento das populações do inseto
(Barrantes & Rodriguez, 1996), as práticas culturais utilizadas (plantios sucessivos e não eliminação de restos culturais) aumentam o potencial de dano da
praga, devido à possibilidade de sua
multiplicação contínua. Para reduzir os
prejuízos, muitos produtores têm optado pelo método que, aparentemente,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
pode produzir os melhores resultados:
aplicações intensivas de inseticidas para
controle da TDC. No entanto, esta prática, ao longo do tempo, tem se mostrado inefetiva já que aplicações de inseticidas até três vezes por semana não reduziram os danos do inseto (Castelo
Branco et al., 2001). Nas demais regiões produtoras de repolho do país, foi
também observado que as perdas ocorrem nos períodos secos e quentes do
ano; além do mais, a aplicação intensiva de inseticidas e as práticas culturais
destes locais não se diferenciam das utilizadas no DF.
Tendo em vista os sérios problemas
econômicos ocasionados pela TDC, é
necessário que mudanças no sistema de
produção de repolho sejam
implementadas. Entre as principais podemos citar: eliminação de restos de
cultura e intervalo entre os plantios visando reduzir a população local de TDC;
uso de irrigação por aspersão para redução do número de larvas sobre as
plantas (Oliveira et al., 2000), redução
do número de aplicações de inseticidas,
através do uso do nível de dano econômico (Carballo & Hruska, 1989; Castelo Branco et al., 1996); utilização, quando necessário, de inseticidas eficientes.
Para identificação dos produtos eficientes para controle da TDC, Zhao &
Grafius (1993) e Zhao et al. (1995) re553
M. Castelo Branco, et al.
Tabela 1. Inseticidas utilizados em áreas agrícolas de cinco estados brasileiros para controle da traça-das crucíferas.1999 a 2001. Brasília,
Embrapa Hortaliças, 2002.
1/
Regulador de crescimento;
2/
Inseticidas usados em mistura;
comendaram a realização de testes de
laboratório onde larvas do inseto se alimentam com folhas de repolho tratadas
com a dosagem recomendada do inseticida.
Sannaveerappanavar
&
Viraktamath (1997), Castelo Branco
(1998) e Castelo Branco & França
(2000) empregaram este método e constataram que os inseticidas eficientes em
laboratório foram eficientes também no
campo.
Desse modo, levando-se em conta
que este procedimento pode ajudar agricultores e extensionistas a selecionarem
os inseticidas apropriados para sua região, este trabalho teve como objetivo
avaliar a eficiência da dosagem comercial de diversos inseticidas para o controle de populações da TDC coletadas
em diferentes regiões brasileiras.
MATERIAL E MÉTODOS
Populações de TDC foram coletadas
em 1999 em Tianguá (CE) e Barroso
(MG), em 2000 em Brazlândia (DF),
Embrapa Hortaliças (DF) e Mucugê
(BA) e em 2001 em Sinop (MT). Os
produtores informaram os inseticidas
utilizados (Tabela 1) e o número de aplicações destes produtos variou de uma
(Tianguá, Brazlândia e Sinop) a duas por
semana (Barroso e Mucugê). Não foram
utilizados inseticidas na área da
Embrapa Hortaliças.
554
3/
Inseticidas alternados semanalmente
As populações foram trazidas para
o laboratório de Entomologia da
Embrapa Hortaliças e criadas sobre folhas de repolho. Larvas de segundo estádio da primeira geração foram utilizadas nos testes de laboratório. O número de inseticidas avaliados para cada
população dependeu do número de larvas disponíveis. Para cada teste, discos
de folha de repolho com 4 cm de diâmetro foram tratados com as dosagens
recomendadas dos inseticidas (g.i.a./ha):
abamectin (9), acefato (562,5), Bacillus
thuringiensis (18), cartap (300),
clorfluazuron (25), deltametrina (6),
spinosad (38,4). Os inseticidas foram
diluídos tomando-se como padrão um
volume de calda de 400 L/ha.
Espalhante adesivo (Agral® 2mL/L) foi
adicionado a todos os tratamentos. Em
todos os experimentos foi utilizada uma
testemunha tratada com água e
espalhante.
Após o preparo das soluções, os discos de folha de repolho foram imersos
nas soluções por cerca de 10 s e após a
eliminação do excesso de umidade, estes foram colocados em placas de Petri
de 9 cm de diâmetro e sobre cada disco
foram colocadas 10 larvas. Foram utilizadas quatro repetições por tratamento.
A mortalidade de larvas foi avaliada
após 48 h para acefato e deltametrina;
após 72 h para abamectin, B.
thuringiensis e spinosad, porque estes
inseticidas apresentam uma ação mais
lenta sobre as larvas. Para clorfluazuron
a mortalidade foi avaliada até que as
pupas estivessem formadas, já que estes inseticidas atuam sobre os vários
estágios do inseto (França & Castelo
Branco, 1996). Todos os experimentos
foram realizados a temperatura de 20ºC
e fotofase de 13 h e umidade de 7080%.Os dados da percentagem de mortalidade foram corrigidos pela fórmula
de Abbott (Abbott, 1925) e submetidos
a análise de variância. Foi utilizado o
teste da diferença mínima significativa
(DMS) a 5% de probabilidade para a
separação de médias. Foram considerados eficientes os produtos onde a mortalidade de larvas foi superior a 90%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O piretróide deltametrina não controlou a traça-das-crucíferas de nenhuma das regiões, já que a mortalidade de
larvas variou de 2 a 41% (Tabela 2). Este
inseticida começou a ser utilizado no
Brasil no início da década de 80 e até o
início dos anos 90, o produto apresentava eficiência (França et al., 1985; Silva et al., 1993; Villas Bôas et al., 1990).
Em alguns locais esta eficiência foi atribuída à descontinuidade de seu uso,
possibilitando a sobrevivência de
individuos suscetíveis ao inseticida
(Villas Bôas et al., 1990). No entanto,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação da suscetibilidade a inseticidas de populações de traça-das-crucíferas de algumas áreas do Brasil
Tabela 2. Mortalidade de larvas de traça-das-crucíferas provenientes de cinco estados brasileiros em função da dosagem comercial de
inseticidas1. T=20ºC, fotofase 14 h, UR=70-80%. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002.
Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo teste DMS (p>0,05)
1/
Testes realizados com larvas da primeira geração obtidas em criação de laboratório
no final dos anos 90, populações resistentes a deltametrina foram encontradas
no DF. Para a população mais resistente
ao inseticida, a dosagem que causava a
mortalidade de 50% da população era
de 73 g i.a./ha, ou seja, 12 vezes a dose
recomendada de 6 g i.a./ha (Castelo
Branco & Gatehouse, 1997). Os resultados indicaram que, após o uso intensivo de deltametrina, o inseticida já não
é eficente em diversos locais do país
(Tabela 2), sugerindo que, pela mortalidade obtida, o nível de resistência destas populações é bastante elevado. Assim, seria conveniente que deltametrina
tivesse o seu uso restringido.
Ainda com relação a deltametrina, é
sabido que os mecanismos que fazem
com que o inseto sobreviva às aplicações deste piretróide, são os mesmos que
permitem a sobrevivência da TDC a
outros produtos do mesmo grupo químico (Cheng, 1986). Desse modo,
piretróides como fenvalerato,
permetrina ou cipermetrina devem ter
também o seu uso restringido.
Com relação aos demais inseticidas,
foi observado que, em Mucugê, apenas
o regulador de crescimento
clorfluazuron foi ineficiente, em
Brazlândia, apenas abamectin e em
Tianguá, o fosforado acefato (Tabela 2).
Neste locais, os produtos, ou outros do
mesmo grupo químico como o fosforado
metamidofós em Tianguá, já vinham
sendo utilizados há mais de seis meses,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
o que indica que indivíduos capazes de
sobreviver à dosagem recomendada dos
inseticidas devem ter sido selecionados
ao longo do período de utilização dos
produtos.
Em Tianguá, onde B. thuringiensis
e Cartap não eram utilizados, foi observado que os produtos não eram eficientes para o controle da TDC (Tabela 2).
Uma das hipóteses para explicar esses
resultados poderia ser a imigração e
multiplicação de indivíduos capazes de
sobreviver à dosagem comercial dos
produtos, provenientes de áreas próximas ou distantes e o lento declínio da
resistência em ausência de aplicações de
inseticidas.
A movimentação da TDC entre diferentes áreas de cultivo foi observada
por Honda et al. (1992) e Saito et al.
(1998). Caprio & Tabashnik (1992) verificaram que, quando insetos resistentes migram para áreas de cultivo, e a
resistência é dominante, o nível de resistência das populações que recebem
estes imigrantes aumenta. Já foi constatado que a resistência a cartap e B.
thuringiensis é dominante (Liu &
Tabashnik, 1997, Cheng et al., 1999,
Sayyed & Wright, 2001). Aliado a isto,
Hama (1990), Hama et al. (1992) e
Murai et al. (1992) verificaram que
ocorre lento declínio no nível de resistência a estes dois inseticidas em populações não submetidas a aplicações do
produto.
Spinosad, um inseticida recém-lançado no mercado, foi eficiente para controle da TDC, causando a mortalidade
de 100% das larvas tratadas (Tabela 2).
Na China, larvas tratadas com a dosagem recomendada do inseticida também
apresentaram o mesmo percentual de
mortalidade, indicando eficiência do
produto (Zhang et al., 2001). Testes preliminares de laboratório para avaliar a
susceptibilidade de uma população coletada na Embrapa Hortaliças em uma
área onde Spinosad nunca havia sido
usado, mostraram que a população era
altamente suscetível ao produto; a dosagem equivalente a 3,8 g i.a./ha (10
vezes menos que a dosagem comercial), ocasionava a mortalidade de 100%
da população (Castelo Branco, dados
não publicados).
Os resultados aqui obtidos confirmam que bioensaios de laboratório podem ser de grande utilidade para identificação de inseticidas eficientes para o
controle da TDC (Sannaveerappanavar
& Viraktamath, 1997; Castelo Branco,
1998; Castelo Branco & França, 2000),
e podem contribuir, aliado a outras práticas, para reduzir as perdas econômicas dos agricultores e os problemas de
poluição ambiental decorrentes do uso
indiscriminado destes produtos.
Por fim, vale ressaltar que o método
aqui empregado, avaliação da eficiência da dosagem recomendada de um inseticida, identifica os inseticidas que ti555
M. Castelo Branco, et al.
veram a sua eficiência reduzida após uso
prolongado, ou seja, aqueles para os
quais as populações resistentes já foram
selecionadas (Sereda et al., 1997). Isto
traz prejuízos econômicos para as indústrias que comercializam estes produtos
e limita os agrotóxicos disponíveis para
os agricultores. Por isso, é necessária a
implementação de programas de manejo de resistência a inseticidas em
brássicas nas diversas regiões brasileiras. Estes programas devem incluir redução do número de aplicações de inseticidas, onde os produtos deve ser empregados apenas quando a praga atingir
o nível de dano econômico e também
promover a rotação de inseticidas (Castelo Branco & França, 2000).
AGRADECIMENTOS
Aos Drs. Geni L. Villas Bôas e Maria Alice de Medeiros pela revisão do
manuscrito. A Hozanan P. Chaves pelo
auxílio nos trabalhos de campo.
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Produção do híbrido Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e
do estádio das mudas no plantio
Mário César Lopes1; Rumy Goto2
1UNIOESTE, C. Postal 91, 85960-000 Marechal Cândido Rondon-PR, E-mail: [email protected]; 2UNESP, C. Postal 237, 18603970 Botucatu-SP.
RESUMO
ABSTRACT
O experimento desenvolveu-se em ambiente protegido, de outubro de 1997 a julho de 1998, na Fazenda São Manuel da UNESP,
Campus de Botucatu. O solo no local foi classificado como Latossolo
Vermelho Amarelo fase arenosa. O tomateiro, híbrido Momotaro T93, foi cultivado em pé franco e sobre dois porta-enxertos (híbridos
Anchor T e Kaguemusha), com objetivo de determinar o desenvolvimento da muda para o transplante, no estádio de 5 a 6 folhas definitivas, de plena floração e de início da frutificação. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial de 3 x
3, num total de 9 tratamentos e 4 repetições. Foram avaliados o peso
médio, diâmetro e produção total em kg por planta de frutos. O estádio de desenvolvimento de mudas de pé franco, transplantadas com
5 a 6 folhas definitivas, apresentou as melhores médias para produção, diâmetro e peso médio de frutos. Para mudas enxertadas não
houve diferença na produtividade e qualidade final, do estádio de
desenvolvimento de 5 a 6 folhas definitivas até o estádio de plena
floração, sendo os melhores desempenhos obtidos pelo porta-enxerto 'Anchor T'.
Influence of seedling stage and grafting on tomato, Momotaro
hybrid production
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum Mill., cultivo protegido, qualidade, estádio de transplante.
Keywords: Lycopersicon esculentum Mill, protected cultivation,
quality, transplanting stage.
Plants of tomato hybrid Momotaro T-93, grafted on two
rootstocks (Anchor T and Kaguemusha hybrids) and ungrafted,
utilized as control, were compared for development, nutrient uptake,
fruit yield and quality after being transplanted at three growth stages
(5 to 6 leaves, early flowering and early fruiting). The experiment
was set under protected cultivation conditions in the Universidade
do Estado de São Paulo, Brazil, from October 1997 to July 1998.
The experimental design was a randomized in factorial scheme with
four replications and nine treatments. The evaluated characteristics
were fruit yield and quality, fruit weight and diameter. Fruit yield,
diameter and weight were highest for ungrafted plants transplanted
at 5 to 6 leaves stage. Fruit yield, weight and diameter for grafted
plants were not affected by transplanting at 5 to 6 leaves or early
flowering stages. Grafting and transplanting stages did not affect
fruit quality.
(Recebido para publicação em 20 de setembro de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
O
tomateiro (Lycopersicon
esculentum Mill.), uma das hortaliças de maior destaque pelo consumo
de frutos, apresenta vários problemas,
principalmente no que se refere a doenças. Há demanda de médio a longo prazo na obtenção de materiais resistentes
e com características agronômicas
exigidas pelo mercado, sendo esta uma
eficiente alternativa de controle, ainda
que a cultivar resistente nem sempre
permaneça eficiente por muito tempo,
principalmente quando essa resistência
é monogênica para cada raça fisiológica de fungo.
Em cultivos intensivos, sob condições de ambiente protegido, têm ocorrido doenças causadas por patógenos
presentes no solo, principalmente em
hortaliças frutos, basicamente em
solanáceas e cucurbitáceas. Para contornar o problema, em muitos países como
na Espanha, Holanda e no Japão, onde
há muito mais tempo se cultiva hortali-
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
ças neste sistema, tem se utilizado da
enxertia nestas culturas, como alternativa de controle das doenças em curto
prazo e em alguns casos, com menores
custos. No Japão cerca de 31,5% em
tomateiros, 50% na cultura da berinjela, 95% na cultura da melancia, 71,7%
na cultura do pepino e na cultura do
melão 43%, são enxertadas, (Kawaide,
1985 e Oda, 1995).
A enxertia além de controlar as doenças, melhorar a qualidade e a produção como observado no trabalho de
Piróg (1986), em que se estudou a
enxertia de tomateiros sobre o portaenxertos KNVF, acarretou aumento de
30 a 50% na produção de tomate quando comparada com plantas não enxertadas da mesma cultivar utilizada como
enxerto. As plantas enxertadas apresentam também maior peso de matéria fresca da parte aérea e do sistema radicular.
Para se proceder a enxertia no tomateiro, a idade das mudas é muito impor-
tante, pois é necessário observar a relação da parte aérea com a parte radical.
De acordo com Yoshioka (1986) as cinco primeiras folhas verdadeiras são importantes para o desenvolvimento da
parte radical, comprovando o sucesso
que o Kogure (1979) no Japão, obteve
trabalhando com o porta-enxerto de tomateiro KNVF utilizando a enxertia do
tipo fenda cheia quando o porta-enxerto apresentava em média 5 a 6 folhas
verdadeiras e o enxerto de 1,5 a 2 folhas verdadeiras.
O estádio de desenvolvimento das
mudas para efeito de transplante, tem
merecido atenção, pois um dos principais problemas que se tem no Brasil, na
cultura do tomateiro é a ocorrência de
viroses, principalmente nos 60 dias após
o transplante. Uma das formas de se preservar as plantas deste problema é retardar o processo de transplante, mantendo as mudas por mais tempo no sistema de produção (ambiente protegido
557
M. C. Lopes & R. Goto
para a produção de mudas) em condições ideais, levando-as ao campo num
período de menor risco. Assim, garante-se plantas mais sadias e com maior
capacidade de produção com qualidade. Por outro lado tomate do tipo
Momotaro não tolera transplante muito
precoce, de acordo com recomendações
da empresa produtora de semente.
Com objetivo de atender os produtores, Ginoux et al., (1987) estudaram três
estádios de desenvolvimento das
mudas:(a) antes do aparecimento das primeiras flores, (b) em pré-floração ou (c)
no início do florescimento datas de transplante e observaram quanto à precocidade, produtividade e qualidade de frutos
em tomateiros enxertados e seus resultados econômicos, principalmente para reduzir energia e custo de aquecimento em
cultivo protegido levando as mudas mais
velhas, para menor ocupação do ambiente. Os resultados foram discutidos considerando os preços de mercado e observou que o plantio em pré-floração (b)
estimulou a precocidade sem reduzir produtividade ou peso de frutos.
Da mesma forma, Leskovar &
Cantliffe (1990) estudaram o efeito da
idade de transplante realizado com 2 a
6 semanas na primavera e no outono de
1989 e concluíram que na primavera, o
crescimento foi similar para os transplantes com 4-5 e 6 semanas de idade,
ocorrendo a melhor produção precoce
de frutos grandes e as de 4 semanas de
idade resultaram na melhor produtividade de frutos grandes totais. No outono, as produções foram similares nos
transplantes com 2 a 5 semanas de idade. Vavrina (1991), em Immokalee, no
outono de 1990 também estudou efeito
da idade de transplante na produtividade de tomateiros do híbrido Sunny e
concluiu que as idades de transplante (3;
5; 7; 9 ou 11 semanas) não foram associadas com nenhuma diferença na produção precoce ou com as categorias de
tamanho de fruto. No entanto, após 2
colheitas, a produtividade total foi reduzida nos enxertos de 3 e 11 semanas
de idade de transplante. Vavrina &
Orzolek (1993) revisaram algumas pesquisas feitas desde 1929, visando determinar a idade para o transplante do tomateiro e concluíram que os transplantes, variando de 2 a 13 semanas de ida558
de, podem resultar em produtividades
semelhantes, dependendo entretanto de
muitos fatores envolvidos na produção
comercial.
Em outro sistema de plantio, Sasaki
et al., (1992) trabalhou com o híbrido
Momotaro, concluindo que a semeadura direta acelerou a 1a colheita de frutos em uma semana, quando comparado com os transplantados, porém as
mudas que foram transplantadas antes
da abertura dos botões florais resultaram em melhor crescimento e maior produtividade.
O presente estudo teve como objetivo avaliar diferentes estádios de desenvolvimento das mudas de tomateiro, híbrido Momotaro, tanto de pé franco
como enxertado sobre dois porta-enxertos, estudando o comportamento dos
mesmos em relação à produção e à qualidade dos frutos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido na
Fazenda São Manuel da UNESP em
Botucatu cujas coordenadas geográficas
aproximadas são de 22o 44'S e 48 o34'W
Gr, com altitude em torno de 750 metros.
O clima da região é do tipo mesotérmico
Cwa, subtropical úmido com estiagem
no período de inverno. Quanto ao solo,
foi classificado como Latossolo Vermelho Amarelo fase arenosa. A precipitação média anual é de 1534 mm sendo a
temperatura média anual de 21oC, temperatura do mês mais quente 23,8oC e
do mês mais frio 17,5oC.
A semeadura foi escalonada de forma a representar os estádios de desenvolvimento determinados para o experimento nas seguintes datas a) Transplante das mudas com início de
frutificação: mudas enxertadas, semeadura em 07/10 e emergência em 16/10;
mudas de pé franco, semeadura em 16/
10 e emergência em 24/10; b) Transplante com mudas em plena floração: mudas enxertadas, semeadura em 24/10 e
emergência em 31/10; mudas de pé franco, semeadura em 03/11 e emergência
em 10/11; c) Transplante das mudas com
5 a 6 folhas definitivas: mudas enxertadas, semeadura em 25/11 e emergência
em 01/12; mudas de pé franco, semeadura em 05/12 e emergência em 12/12.
As semeaduras foram realizadas utilizando-se as bandejas de poliestireno
expandido, modelo CM 128/62, sendo
que em cada célula foi colocada 1 semente.
As enxertias foram feitas de acordo
com Yoshioka et al. (1985), utilizando
o método da fenda simples mantendose de 1 a 3 folhas verdadeiras no portaenxerto e 3 a 4 folhas no enxerto e em
seguida fixada pelo grampo de enxertia
recomendado para o tomateiro.
A enxertia apresentou em média
91,33% de pegamento para o porta-enxerto 'Anchor T' e 99,33% para o portaenxerto 'Kaguemusha', onde as mudas
que se perderam foram mais em função
da doença do que propriamente do processo de enxertia.
As mudas após a enxertia foram
transplantadas para vasos com capacidade de 0,8 L preenchidos com o condicionador de solo, apresentando 83% de
matéria orgânica; 1% de nitrogênio; 1%
de magnésio e 0,4% de cálcio; pH de
7,2; CTC de 182,0 meq 100m-1 CRA
de 225%; MEA de 585 kg m-3 e CE de
0,58 mS cm-1, sendo que este produto
não é substituto de fertilizantes e sim
aditivo de fertilizantes que são adicionados de acordo com as necessidades
das mudas.
Após transplantadas para os vasos,
as mudas foram colocadas sob câmara
úmida de 50 cm de altura e cobertas por
filme de plástico preto durante três dias
e mais dois dias por filme de plástico
transparente e, quando necessário, por
tela de coloração prateada, mantendose a umidade relativa sempre próxima a
100% e fazendo a troca de ar, ou seja,
abertura do plástico de 4 a 5 vezes por
dia, em seguida deixadas nas condições
ambientes conferidas pelo viveiro conforme descrito anteriormente.
No viveiro onde as mudas foram
enxertadas e permaneceram após a
enxertia, foi instalado um sistema de irrigação por nebulização com duas linhas
espaçadas de 3,0 metros, onde foram
colocados 4 bicos nebulizadores em
cada ponto distanciados também de 3,0
metros, com o objetivo de cobrir toda a
área do mesmo. O funcionamento da
nebulização é controlado por folha mágica regulada para manter a umidade
durante o dia próxima de 100%.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Momotaro de tomateiro, em função da enxertia e do estádio das mudas no plantio
Durante a fase de pós-pegamento da
enxertia de todas as fases, foram realizadas, suplementações nutricionais
quando necessárias, com a fórmula 1515-45 + micronutrientes (produto comercial "plantafol") na dosagem de 2
gL-1 na forma de rega.
Quando necessárias foram feitas as
desbrotas e as mudas tutoradas com um
palito de bambu colocado dentro do vaso
e fixado por alceador, que é um equipamento semelhante a um grampeador
dotado de fitas plásticas e grampos, utilizado para amarrar ramos de videira,
tanto nas mudas de pé franco como, nas
enxertadas. Em função dos danos promovidos pela desbrota foi feita uma aplicação de oxicloreto de cobre a 1 g L-1
para prevenir possíveis contaminações
com patógenos e mesmo porque o cobre apresenta certo efeito cicatrizante.
A primeira fase da enxertia para as
mudas a serem transplantadas com início de frutificação, foi realizada no dia
27/11/97; a segunda fase de enxertia
para mudas a serem transplantadas com
plena floração foi realizada no dia 15/
12/97. A enxertia para a terceira e última fase para as mudas a serem transplantadas com 5 folhas definitivas foi
realizada em 06/01/98, tendo a instalação do experimento ocorrido no dia 18/
01/98, na área definitiva em ambiente
protegido.
A análise de solo foi realizada em
julho de 1997. A coleta foi feita em duas
profundidades, 0-30 e 30-60 cm, com
cinco pontos designados aleatoriamente, como manda a metodologia de análise de solo. Os resultados foram: pH
CaCl2 = 5,1 e 4,5; P disponível = 9 e 2
mg dm-3 ; K = 0,9 e 1,3 mmolc dm-3;
H+Al = 14 e 16 mmolc dm-3 ; Ca + Mg
= 14 e 11 mmolc dm-3; matéria orgânica = 7 e 7 g dm-3; CTC = 29 e 29; V% =
52 e 43.
A calagem foi realizada em agosto
de 1997. A necessidade de calagem
(N.C.) para a área foi calculada pela
porcentagem de saturação de bases de
acordo com o resultado da análise de
solo para atingir aproximadamente 80%.
A fonte de calcário utilizada foi o
minercal, com P.R.N.T. (Poder Real de
Neutralização Total) de 96%. Nesse
momento, aproveitou-se para fazer também a incorporação de composto orgâHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
nico, na proporção de 4,0 L m-2.
O delineamento experimental foi de
blocos ao acaso, em esquema fatorial de
3 x 3, num total de 9 tratamentos e 4
repetições, onde os fatores empregados
foram 3 épocas (estádios de desenvolvimento das mudas a serem transplantadas (1o com 5 a 6 folhas definitivas;
2o plena floração e 3º início de
frutificação) e 3 tipos de mudas (dois
tipos de porta-enxertos e plantas obtidas de pé franco), sendo utilizada como
copa e pé franco o 'Momotaro T-93' assim
descritos:
Porta-enxerto
'Kaguemusha' transplantado no início da
frutificação (T1); Porta-enxerto 'Anchor
T' transplantado no início da frutificação
(T2); pé franco 'Momotaro T-93' transplantado no início da frutificação (T3);
Porta-enxerto 'Kaguemusha' transplantado com plena floração (T4); Portaenxerto 'Anchor T' transplantado com
plena floração (T5); pé franco
'Momotaro T-93' transplantado com plena floração (T6); Porta-enxerto
'Kaguemusha' transplantado com 5 a 6
folhas definitivas (T7); Porta-enxerto
'Anchor T' transplantado com 5 a 6 folhas definitivas (T8); pé franco
'Momotaro T-93' transplantado com 5 a
6 folhas definitivas (T9).
Ficam aqui definidos os estádios de
plena floração como a abertura total das
flores do primeiro racemo e como inicio de frutificação, os frutos do primeiro cacho com diâmetros de 2 a 3 cm.
Foram avaliados: classificação dos
frutos em massa média, diâmetro e produção total em kg por planta até o 8º
cacho. Cada parcela (7,2 metros quadrados) constou de 10 plantas, sendo utilizadas 5 para efeito das avaliações.
O experimento foi conduzido em
ambiente protegido, contendo dois
módulos de 7,0 m de largura por 49,5 m
de comprimento. Em cada módulo foram instaladas 5 linhas espaçadas de 1,2
m X 0,6 m, mantendo-se duas linhas
laterais de bordadura na extremidade de
cada.
Foi realizada a adubação química de
base com 150 g m-2 de termofosfato
(Yoorin BZ) + 150 g m-2 superfosfato
simples e o restante das aplicações via
fertirrigação, em cobertura e foliar.
As fertirrigações ocorreram geralmente uma vez por semana, utilizando
apenas 50% do tempo de irrigação para
a aplicação dos fertilizantes. Os fertilizantes foram colocados no sistema de
irrigação por uma bomba injetora proporcional de fertilizantes (modelo DP
30-2 DOSMATIC).
Foram utilizados os fertilizantes nitrato de cálcio hidrossolúvel (14,5% de
N nítrico, 1,0% de N amoniacal e 19%
de Ca) e duas fórmulas para
fertirrigação, a 5-15-45 + 0,04 B e a 155-30 + 2 Mg com micronutrientes. Além
desses adubos, utilizou-se também uma
aplicação de bórax e 3 aplicações
foliares de sulfato de zinco a 0,3%.
O sistema de irrigação por
gotejamento foi utilizado o tempo todo,
sendo a lâmina de água calculada pelo
método do balanço de água no solo,
onde são consideradas as evaporações
de um tanque classe A mais o coeficiente da cultura (Kc) em cada estádio de
desenvolvimento (Marouelli et al.,
1994). Foram colocadas duas linhas de
gotejadores para cada linha da cultura,
principalmente devido a textura arenosa do solo.
O sistema de condução utilizado foi
o de linha vertical simples com uma
planta por cova em haste única, sustentada por três linhas horizontais de arame de aço e a planta conduzida por sistema de fitas e cabides denominado
"tutortec" e fixadas pelo alceador.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve interação entre os fatores porta-enxertos e idade da muda. A
melhor produção por planta foi para
plantas oriundas de mudas com 5 a 6
folhas definitivas que superou aquelas
oriundas de mudas com início de
frutificação. Estes resultados diferem
daqueles obtidos por Leskovar &
Cantliffe (1990), Vavrina (1991) e
Vavrina & Orzolek (1993), em que a
idade de transplante, não interferiu de
maneira significativa na produção do
tomateiro (Tabela 1).
As plantas enxertadas (Tabela 1),
independentes do estádio das mudas,
foram semelhantes entre si e apresentaram maior produção que o pé franco.
Apesar de ter havido ganho de produção nas plantas enxertadas, não se atingiu os mesmos níveis relatados por
559
M. C. Lopes & R. Goto
Tabela 1. Produtividade (kg planta-1; t ha-1) e diâmetro médio de frutos (mm). São Manuel, UNESP, 1998.
Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem entre si pelo Teste de Tukey, no nível de 5% de probabilidade.
Tabela 2. Massa média total (g) dos frutos. São Manuel, UNESP, 1998.
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna ou maiúscula na linha, não diferem pelo teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade.
Piróg (1986), onde obteve-se aumento
de 30 a 50% na produção quando comparada com plantas não enxertadas da
mesma cultivar utilizada como enxerto.
Vale salientar que pelo fato do experimento não ter tido maiores dificuldades
no que se refere principalmente a ocorrência de patógenos, os porta-enxertos
não puderam expressar todo seu potencial produtivo.
Para diâmetro médio dos frutos
(mm), a melhor resposta foi quando as
mudas foram transplantadas com 5-6
folhas definitivas, enquanto que os outros estádios não apresentaram diferença significativa. O porta-enxerto
'Anchor T' proporcionou o melhor desempenho (Tabela 1).
Houve efeito significativo dos estádios de desenvolvimento das mudas sobre a massa média dos frutos, apenas no
tratamento pé franco, em que mudas
560
com 5 a 6 folhas definitivas proporcionaram a produção de frutos com maior
massa. Por outro lado o tratamento pé
franco superou o de enxertia sobre o
'Kaguemusha' ( Tabela 2).
Foi realizada uma observação quanto a precocidade de produção e se constatou que não houve uma diferença consistente. Isso se deve ao fato de que
mesmo havendo uma diferença em média de dez dias entre as semeaduras das
plantas enxertadas e as de pé franco, no
campo essa diferença se manteve, iniciando-se as colheitas pelo estádio de
inicio de frutificação, seguida de plena
floração e por último de 5 a 6 folhas
definitivas, não apresentando diferença
entre os porta-enxertos e o pé franco.
Os resultados obtidos nos permitem
concluir que o estádio de desenvolvimento de mudas de pé franco, transplantado com 5 a 6 folhas definitivas, é o
que apresenta as melhores médias para
produção, diâmetro e massa média de
frutos. Para mudas enxertadas, do estádio de desenvolvimento de 5 a 6 folhas
definitivas até o estádio de plena
floração, não houve diferença na produtividade e qualidade final, sendo os
melhores desempenhos obtidos pelo
porta-enxerto 'Anchor T'.
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Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o
desenvolvimento e produtividade da alface americana
Geraldo M. de Resende1; Jony E. Yuri2; José H. Mota2; Rovilson J. de Souza2; Silvio A.C. de Freitas3;
Juarez C. Rodrigues Junior3
1
Embrapa Semi-Árido, C. Postal 23, 56300-000 Petrolina-PE; 2UFLA, C. Postal 037, 37200-000 Lavras-MG; 3REFRICON, Rod. Regis
Bittencourt s/n km 294, 06850-000 Itapecerica da Serra-SP. E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Avaliou-se a influência de tipos de bandeja e idade de transplantio
das mudas de alface (Lactuca sativa L.) tipo americana em ensaio,
realizado de março a junho de 2002 no município de Três Pontas,
MG. Utilizou-se o delineamento experimental em blocos ao acaso
em esquema fatorial 3 x 5, compreendendo três tipos de bandejas
(128; 200 e 288 células), cinco idades de transplantio (22; 26; 30; 34
e 38 dias após a semeadura) e 3 repetições. Mudas produzidas em
bandejas de poliestireno expandido com 128 células e transplantadas com 38 dias de idade apresentaram maior massa fresca e seca,
número de folhas e altura de plantas. A maior produtividade comercial foi obtida com as mudas produzidas em bandejas de 128 células, seguida da bandeja com 200 células, sendo o pior desempenho
apresentado pelas mudas produzidas em bandejas com 288 células.
A idade de transplantio das mudas variou em função do tipo de bandeja utilizado, podendo as mudas serem transplantadas de 22-38 dias
da semeadura quando são utilizadas as bandejas com 128 e 200 células, com preferência para os períodos menores (22-30 dias). Para
a bandeja com 288 células, as mudas devem ser transplantadas mais
tardiamente, aos 38 dias da semeadura.
Effect of tray types and age of seedling on the development
and yield of the crisphead lettuce
Palavras-chave: Lactuca sativa L., tipos de recipientes, crescimento, rendimento.
Keywords: Lactuca sativa L., recipients type, growth.
This study was carried out from March to July, 2002 at Três
Pontas, Brazil, to evaluate the influence of tray types and
transplanting age of seedlings over the development of crisphead
lettuce (Lactuca sativa L.). Three types of tray (128; 200, and 288
cells) and five transplanting ages (22; 26; 30; 34 and 38 days after
the sowing) were evaluated in a randomized complete block
experimental design (3 x 5 factorial), with three replications. The
128 cells tray and the transplantation at 38 days after sowing date
showed the highest fresh mass, driest weight, highest leaf number
and highest plant height. The highest commercial yield was obtained
with 128 cells tray, followed by that one with 200 cells. The lowest
yield was obtained with the 288 cells tray. The transplanting age
varied from 22 to 38 days after sowing date depending on the use of
the 128 or 200 cells tray, with preference for the smaller periods (22
to 30 days). Using the tray with 288 cells, the seedlings should be
transplanted at 38 days after sowing date.
(Recebido para publicação em 09 de outubro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003)
A
cultura da alface (Lactuca sativa
L.) é largamente difundida no Brasil, sendo considerada a hortaliça
folhosa mais consumida no país, destacando-se como cultura de grande importância econômica e alimentar. Atualmente, com o aumento do número de
redes de lanchonetes do tipo “fast-food”,
vem se sobressaindo o grupo de alface
denominado “crisphead lettuce” ou tipo
“americana”. Segundo dados da a
CEAGESP (2001), do total de 25.558 t
da alface comercializada em 2001,
29,6% foi do tipo americana.
A alface do tipo americana se diferencia dos demais grupos, por apresentar folhas externas de coloração verdeescura, folhas internas de coloração
amarela ou branca, imbricadas, semelhantes ao repolho e crocantes, apresentar maior vida pós-colheita, possibilitando o transporte a longas distâncias
562
(Decoteau et al., 1995), e elevados teores de vitaminas e sais minerais, além
de baixo teor calórico (Katayama,
1993).
Na produção de mudas de alface era
comum, até meados da década de 80, o
transplantio de mudas formadas em canteiros. Com a introdução em 1984, do
sistema de bandejas de isopor, ocorreu
uma modernização no sistema de produção de mudas e, consequentemente,
melhoria da qualidade das mudas de
hortaliças (Minami, 1995). A utilização
de bandejas para a produção de mudas
aumenta o rendimento operacional; reduz quantidade de sementes; uniformiza as mudas, facilita o manuseio no campo, melhora o controle fitossanitário e
permite a colheita mais precoce (Borne,
1999; Filgueira, 2000).
Para a produção de mudas de alface
são recomendadas bandejas com 200
células (Goto, 1998), até 288 células
(Filgueira, 2000). Cati (1997) recomenda as bandejas de 200 e 288 células com
transplante em períodos variáveis de 21
a 28 dias. Para as condições de Campo
Grande, a cultivar Verônica, transplantada aos 30 dias da semeadura, produziu massas frescas de 1,62; 0,98 e 0,76
g.planta-1 respectivamente, para as bandejas de 128, 200 e 288 células
(Cesconetto et al., 2001).
Existem no mercado diversos tipos
de bandejas de poliestireno expandido,
apresentando variações de 128; 200;
242; 284 e 288 células. Na prática, entre os produtores de alface americana,
tem se observado uma preferência por
bandejas de 200 células, embora existam produtores que utilizam as de 128
ou 288 células, entretanto, as utilizando
sem base cientifica. Outro fator importante na formação de mudas é a grande
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade de alface americana
variação entre os produtores com relação à idade de transplantio das mudas,
verificando-se transplantios desde 17
dias até 35 dias após a semeadura. Yuri
et al. (2002), informa ser este período
de 20 a 30 dias, dependendo da época
do ano.
Diante destas constatações, das controvérsias e da carência de estudos científicos, o presente trabalho teve como
objetivo avaliar diferentes tipos de bandejas e idades de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade da alface
americana.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no
município de Três Pontas, à latitude de
21º22’00’’ S, longitude de 45º30’45'’ W
e altitude de 855 m. O clima da região é
do tipo Cwa com características de Cwb,
apresentando duas estações definidas:
seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março), segundo a classificação
climática de Köppen. O tipo de solo predominante na área é classificado como
Latossolo Vermelho Distrófico (LVd.).
O delineamento utilizado foi de blocos casualizados, em esquema fatorial
3 x 5, sendo 3 tipos de bandejas de
poliestireno expandido (128; 200 e 288
células) e 5 idades de transplantio (22;
26; 30; 34 e 38 dias após a semeadura),
com 3 repetições. Produziu-se as mudas de alface cultivar Raider utilizando-se substrato comercial (Plantmax) para
o preenchimento das células e semeou-se
2 a 3 sementes por célula. No desbaste
das mudas deixou-se uma planta (mais
vigorosa) por célula. As semeaduras foram realizadas entre os dias 19/03 e 04/
04/2002, em intervalos de 4 dias e o
transplantio efetuado no dia 26/04/2002.
As bandejas permaneceram em viveiro de
mudas, recebendo os tratos culturais, que
consistiam de irrigações diárias e pulverizações regulares com produtos à base de
mancozeb e piretróides, até o momento
de transplante.
A área experimental foi demarcada
nos canteiros centrais da área de produção, e as parcelas experimentais constituídas de quatro linhas de 2,1 m de comprimento, espaçadas a cada 0,35 m e
0,30 m entre plantas, sendo consideradas como área útil as duas linhas cenHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
trais, eliminando-se duas plantas em
cada extremidade.
Essa área foi previamente corrigida
com calcário dolomítico, elevando a
saturação por base para 70% de acordo
com as recomendações de Raij et al.
(1996), e adubada com 65 kg de N.ha-1,
600 kg de P2O5.ha-1 e 256 kg de K2O.ha1
, utilizando como fontes o adubo formulado 04-30-6 e superfosfato simples.
Após os adubos serem incorporados ao
solo, instalou-se em cada canteiro duas
linhas de tubo gotejador, com emissores espaçados a cada 30 cm e com vazão de 1,5 L.h-1. Foi instalada, em toda
a área, uma estrutura de proteção, constituída de túneis altos com 2 m de altura, cobrindo dois canteiros por túnel,
constituído de tubos de ferro galvanizados, coberta com filme plástico transparente de baixa densidade, aditivado
com anti-UV, de 100 micras de espessura, sendo os canteiros revestidos com
filme plástico preto “mulching”, de 4 m
de largura e 35 micras de espessura.
Após o transplantio, irrigou-se a área
por aspersão, diariamente, durante 7
dias, até o pegamento uniforme das
plantas. Posteriormente a irrigação foi
realizada por gotejamento. Juntamente
com a irrigação, realizaram-se as adubações de cobertura (fertirrigação) diariamente, totalizando 40 kg de N.ha-1 e
85 kg de K2O.ha-1, utilizando-se como
fontes uréia e cloreto de potássio.
Quanto ao controle fitossanitário,
adotou-se o método padrão utilizado
pelo produtor, com pulverizações semanais com produtos à base de oxicloreto
de cobre, iprodione, procimidone e
piretróides.
As avaliações foram realizadas em
duas etapas: por ocasião do transplantio,
quando se retirou aleatoriamente três
plantas por parcela e se avaliou a massa
fresca e seca, número de folhas e altura
de planta; a segunda avaliação foi em
campo por ocasião da colheita (22/06/
2002), onde avaliou-se produtividade
total e comercial (g/planta), produtividade comercial ajustada (t/ha), circunferência da cabeça comercial e comprimento do caule (cm). Para produtividade comercial, foram pesadas somente as
cabeças comerciais, retirando-se as folhas externas. A produtividade comercial ajustada (t/ha) foi feita
extrapolando-se os resultados de produtividade comercial (g/planta) para uma
população de 60.000 plantas.ha-1 obtendo-se a produtividade comercial em toneladas e subtraindo-se o custo total da
muda em reais transformado para t/ha.
Para o cálculo do custo de formação de
mudas, efetuou-se a soma entre as despesas proveniente da aquisição de bandejas e o gasto com substrato. Quanto
às bandejas, pela possibilidade de
reutilização, que de acordo com
Filgueira (2000), pode ser superior a 20
vezes, estabeleceu-se como critério a
divisão do custo da bandeja por 20. O
custo total da muda foi expresso em reais e posteriormente dividido pelo seu
valor em função do preço recebido por
kg do produto comercial, que em julho
de 2002 situou-se em R$ 0,49, verificando-se também a quantidade necessária do produto em toneladas/ha para
pagar o custo de cada tipo de muda avaliada.
Os dados foram submetidos à análise de variância, seguindo esquema sugerido por Pimentel Gomes (1990), sendo
as médias comparadas pelo teste de
Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a produção de mudas em estufa observou-se efeito significativo da
interação entre o tipo de bandeja e a idade das mudas para todas as características avaliadas. Pelo desdobramento da
interação verificou-se para a bandeja
com 128 células que a maior massa fresca e seca, número de folhas e altura de
plantas foi alcançada quando o
transplantio foi realizado com 38 dias
de idade. Resultados similares foram
constatados para as bandejas de 200 e
288 células, à exceção da massa seca
para a bandeja de 288 células, que não
mostrou diferenças significativas quando as mudas foram transplantadas com
34 dias de idade. No entanto, salientase que os valores para todas as características avaliadas foram sempre superiores para a bandeja com 128 células,
seguidas pelas bandejas de 200 e 288
células, em função da maior quantidade
de nutrientes disponível para este tipo
de bandeja, permitindo um maior desenvolvimento da muda. Estes resultados
563
G. M. Resende, et al.
Tabela 1. Massa fresca e seca, número de folhas e altura de planta de alface americana em função dos tipos de bandejas e idades de
transplantio. Três Pontas, UFLA, 2002.
Médias seguidas de mesma letra minúscula e maiúsculas nas colunas não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
* Número de células por bandeja
podem ser facilmente visualizados pela
média obtida para as diferentes características em função das idades das mudas (Tabela 1).
Comparando os resultados obtidos
pelas mudas com 30 dias para massa
fresca (3,50; 2,23 e 1,76 g.planta-1 para
as bandejas de 128; 200 e 288, respectivamente), verifica-se valores superiores
aos obtidos por Cesconetto et al. (2001)
que, nas condições de Campo Grande,
com a alface cultivar Verônica, aos 30
dias obtiveram massas frescas de 1,62;
0,98 e 0,76 g.planta-1, para as bandejas
de 128; 200 e 288 células, respectivamente. Ao contrário, Vitória et al. (2002), relatam um maior ganho de massa fresca e
seca independentemente das cultivares
utilizadas, para bandejas de 450 células,
apesar de não terem encontrado diferenças significativas entre as bandejas com
200 e 288 células.
Em relação ao número de folhas,
para o transplantio aos 30 dias de idade
564
para bandejas de 200 e 288 células verificou-se 4,6 e 4,2 folhas.planta-1, valores estes superiores aos registrados por
Vitória et al. (2002), que alcançaram 3,3
e 4,0 folhas.planta-1 para a cultivar Lucy
Brown, na mesma idade de muda.
Pelos resultados apresentados em
termos de produção de mudas pode-se
inferir, em função das diferentes características analisadas, que a bandeja que
proporciona a melhor muda é a com 128
células, seguidas das bandejas com 200
e 288 células e que a idade das mudas
mais recomendável para transplantio
deve ser de 38 dias. Neste contexto, estes resultados concordam em parte com
os obtidos por Cesconeto et al. (2001),
que verificaram que mudas produzidas
com 30 dias de idade apresentam melhor
desempenho em bandejas de 128 e 200
células quando comparadas a bandejas
com 288 células. Assim como alicerça a
indicação de Goto (1998) e contradiz a
recomendação de Filgueira (2000) de
utilização de bandejas de 288 células.
Todavia, torna-se necessário verificar o
retorno em termos de produtividade comercial de cabeça e os custos de produção das mudas, para se poder afirmar estes resultados com certeza.
Nas avaliações de campo por ocasião da colheita observou-se interação
entre os tipos de bandeja e a idade de
transplantio de mudas, apenas nas características peso total e comercial, enquanto que para as características comprimento de caule e circunferência da
cabeça comercial, houve efeito significativo independentemente dos fatores
estudados.
No desdobramento da interação,
para a produtividade total, nota-se que
não ocorreram diferenças significativas
entre as diferentes idades de transplantio
das mudas para as bandejas de 128 e 200
células. Para a bandeja de 288 células
observou-se maior produtividade para
as mudas transplantadas aos 38 e 34
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Efeitos de tipos de bandejas e idade de transplantio de mudas sobre o desenvolvimento e produtividade de alface americana
Tabela 2. Produtividade total e comercial de alface americana em função de diferentes idades das mudas e tipos de bandejas. Três Pontas,
UFLA, 2002.
Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas na coluna e maiúsculas nas linhas não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey.
* Número de células por bandeja
dias, com 857,5 e 766,7 g.planta-1, respectivamente, sem diferirem entre si
(Tabela 2).
Para a produtividade comercial, os
resultados da interação foram semelhantes aos observados na produtividade total, não se verificando diferenças em
termos de idade de mudas para as bandejas de 128 e 200 células, sendo a maior
produtividade comercial (513,3 g.planta1
) nas bandejas de 288 células alcançada
aos 38 dias de idade (Tabela 2).
Analisando-se as bandejas, verificase que a de 128 células foi a que apresentou o maior peso comercial, com
500,1 g.planta-1, sendo estatisticamente
superior às bandejas de 200 e 288 células com 452,2 e 421,9 g. planta-1 respectivamente (Tabela 2).
O comprimento de caule, uma característica importante na cultura da alface americana, principalmente quando
é destinada à indústria de
beneficiamento, deve ser bastante reduzido, proporcionando menores perdas
durante o processamento. Neste ensaio,
constatou-se uma diferença significativa entre os tipos de bandeja e idade de
transplantio. A bandeja de 128 células
apresentou comprimento maior, com 2,8
cm, sendo estatisticamente diferenciado das outras duas que apresentaram
2,52 e 2,54 cm, respectivamente, para
200 e 288 células, embora este comprimento não seja prejudicial ao
processamento estando abaixo dos observados por Mota et al. (2002a) e Yuri
(2000), que verificaram comprimentos
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
de 4,4 e 3,3 cm em seus respectivos trabalhos. Para as idades de mudas para o
transplantio, praticamente não se observou diferenças entre as mudas, verificando-se uma variação de 2,37 a 2,78
cm; ocorrendo maior comprimento com
38 dias (2,78 cm).
Em relação à circunferência de cabeça comercial, não se observou diferença
estatística significativa entre bandejas que
oscilou entre 41,4 aa 42,3 cm e entre as
idades de mudas que apresentaram uma
variação de 41,6 a 42,5 cm. No entanto,
todos os tratamentos apresentaram valores adequados para a comercialização,
com resultados superiores aos observados
por Mota et al. (2002b), que para a mesma cultivar, obtiveram uma circunferência de cabeça de 38,7 cm.
A tabela 3 mostra a produtividade
comercial ajustada em função do custo
da muda de cada tipo de bandeja. Para a
bandeja com 128 células a produtividade comercial ajustada não mostrou diferenças significativas em função das
diferentes idades das mudas. No entanto, observa-se maiores valores quando
as mudas são transplantadas com as
menores idades, o que sugere ser a quantidade de substrato suficiente para um
bom desenvolvimento inicial das mudas
em menor espaço de tempo e de uma
maior exigência nutricional, com melhor
resposta ao nível de campo.
A bandeja com 200 células, apresentou resultados similares a 128 células
não havendo diferenças estatísticas entre as diferentes idades de transplantio.
Para a bandeja com 288 células verificou-se que a maior produtividade foi
alcançada quando se transplantou as
mudas com 38 dias de idade, seguida
por 30, 34 e 26 dias, que não mostraram
diferenças significativas entre si. Na
comparação dos diferentes tipos de bandejas, em função das diferentes idades
de mudas, verifica-se que a maior produtividade ajustada em função do preço da muda foi obtida pela bandeja com
128 células com 29,0 t/ha, seguida das
bandejas com 200 e 288 células com
26,1 e 24,3 t/ha. Ao contrário, economicamente, a bandeja com 288 células
proporcionou o menor custo das mudas
por hectare (R$ 139,50), seguida pelas
bandejas de 200 (R$ 212,23) e 128 células (R$ 505,93), no entanto, não propiciou um maior retorno ao produtor em
termos de produtividade comercial. Estes resultados em parte concordam com
as recomendações de Goto (1999) de
que a melhor forma de produção de
mudas de alface é em bandejas de 200
células, e que bandejas com maior número de células poderão ser mais vantajosas economicamente, havendo, no
entanto, prejuízos na produção final.
Os resultados obtidos nas diferentes
características avaliadas em estufa e
campo evidenciam ser a bandeja com
128 células a que promove o maior desenvolvimento e produtividade comercial da alface americana, seguida da
bandeja com 200 células, sendo o pior
desempenho apresentado pela bandeja
com 288 células. A idade de transplantio
565
G. M. Resende, et al.
Tabela 3. Produtividade comercial ajustada e custos de produção de mudas de alface americana em função de tipos de bandejas e idades das
mudas. Três Pontas, UFLA, 2002.
* Produtividade comercial ajustada (t/ha) = produtividade comercial (t/ha) - custo total da muda (t/ha).
1
Custo (t/ha) = custo total (R$) / valor do produto (R$/kg).
2
Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas nas linhas e maiúsculas nas colunas não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade
pelo teste de Tukey.
das mudas varia em função do tipo de
bandeja utilizado. Assim as mudas podem ser transplantadas entre 22 e 38 dias
utilizando-se bandejas com 128 e 200
células, com preferência para períodos
menores de 22 a 30 dias em função da
menor permanência na estufa e menor
custo. Para a bandeja com 288 células
as mudas devem ser transplantadas mais
tardiamente aos 38 dias da semeadura.
Salienta-se, no entanto, a necessidade de
se realizarem pesquisas no período de
verão, que apresenta condições de tem566
peraturas bem distintas das ocorridas
durante o presente experimento.
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567
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Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em
duas densidades de plantas
Adalberto Vitor Pereira; Rosana F. Otto; Marie Y. Reghin.
UEPG, Depto. Fitotecnia e Fitossanidade, Praça Santos Andrade s/n, 84010-790 Ponta Grossa-PR; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Estudou-se o efeito da proteção com agrotêxtil e densidades de
plantas sobre a produtividade de duas cultivares de feijão-vagem de
porte determinado. O ensaio foi conduzido na área experimental da
UEPG, Ponta Grossa. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado em esquema fatorial 2x2x2 (cultivares x proteção x densidade), com 4 repetições. As cultivares utilizadas foram
Turmalina e Coralina, semeadas em março de 2000 (outono) em
duas densidades de plantas (6,6 e 3,3 pl m-1), sob proteção com
agrotêxtil (PP) e em ambiente natural (AN). Avaliou-se a produção
precoce, a produtividade, o número de vagens por planta e o peso
médio das vagens. Como parâmetro climático, determinou-se a amplitude das modificações das temperaturas do ar (Tar) e do solo (Ts)
sob PP e AN. A proteção das plantas com agrotêxtil e a variação de
densidades não influenciaram na precocidade da colheita. Entretanto, o uso do agrotêxtil resultou em aumento da produtividade para
'Turmalina' devido ao maior número de vagens por planta comparado ao AN. Para a cultivar Coralina não houve diferença na produtividade entre os cultivos em AN e PP. A densidade de plantas não
apresentou diferença na produtividade para 'Turmalina'. Por outro
lado, a cultivar 'Coralina' foi mais produtiva quando cultivada em
densidade de 3,3 pl m-1, em relação à densidade de 6,6 pl m-1. Quando cultivadas com 3,3 pl m-1, a 'Coralina' foi mais produtiva que a
'Turmalina', porém em densidade de 6,6 pl m-1 não houve diferença
entre as cultivares. As temperaturas do ar e do solo foram maiores
sob PP em relação ao AN, durante todo o ciclo da cultura, com diferenças médias entre ambientes de 2,63 e 1,97ºC, respectivamente
para Tar e Ts. Os valores da diferença entre PP e AN, para Tar e Ts,
foram maiores na fase inicial da cultura, diminuindo com o crescimento do feijão-vagem.
Response of snap beans cultivated on two plant densities
under nonwowen protection in Brazil
Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L.; cultivo protegido; 'não tecido' de polipropileno.
Keywords: Phaseolus vulgaris L., protected cultivation, nonwoven
polypropylene.
The effect of nonwowen polypropylene protection condition and
plant density on the yield of two cultivars of snap beans was
evaluated. The current work was carried out at an experimental area
of the Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná State, Brazil.
The experimental design was a completely randomized in split plots
2x2x2 (cultivars x protection x plant density), with four replications.
The cultivars Turmalina and Coralina were sown in March (autumn),
2000, in two plant densities (6.6 and 3.3 pl m-1) under nonwowen
protection (PP) and natural environment (AN). Early yield, total yield,
number and weight of pods were evaluated. The air (Tar) and soil
temperature amplitudes (Ts) under PP and AN were also evaluated.
Nonwoven protection and plant density did not influence the early
yield. However, the use of nonwoven protection increased yield of
'Turmalina' as a result of higher number of pods per plant, compared
with AN. There was no difference between PP and AN on yield of
'Coralina'. The plant density did not influence yield response of
'Turmalina'. In another hand, 'Coralina' was more productive when
cultivated under plant density of 3,3 pl m-1, when compared to 6,6
pl m-1. 'Coralina' was more productive than 'Turmalina' when
cultivated under 3,3 pl m-1, however without differences between
cultivars under 6,6 pl m-1. Air and soil temperature were higher
under PP compared to AN, during the whole cycle of the culture,
with medium differences between PP and AN of 2,63 and 1,97ºC,
respectively for Tar and Ts. The difference between PP and AN, for
Tar and Ts, was higher at the beginning of plant growing and
decreased with the development of snap bean.
(Recebido para publicação em 11 de dezembro de 2002 e aceito em 18 de junho de 2003)
D
entre as hortaliças com maior vo
lume de comercialização na
CEASA-PR, encontra-se o feijão-vagem, que atinge cerca de 6000 toneladas por ano. A comercialização é feita
durante todos os meses do ano, sendo
julho, agosto, setembro e outubro os
meses de menor oferta do produto. A
produção destina-se ao consumo in
natura, sendo pequeno o volume industrializado.
O feijão-vagem (Phaseolus vulgaris)
pertence à mesma família e espécie botânica do feijão comum, diferindo por
ser uma hortaliça que fornece vagens
568
imaturas (Filgueira, 2000). Apesar de
não ser rica em proteínas e calorias como
os grãos secos, é rica em vitaminas e
sais mineras, que faltam na maioria dos
alimentos (Jassen, 1992, citado por Peixoto et al., 1997).
As cultivares de crescimento determinado, embora menos produtivas que
as de hábito trepador, têm a vantagem
de não necessitar de tutoramento e possibilitar a mecanização da lavoura, condições que podem aumentar a rentabilidade do produtor (Peixoto et al., 1997).
Outra vantagem é a possibilidade de se
efetuar uma única colheita, com o
arranquio das plantas no campo e a posterior separação das vagens (Peixoto et
al., 1997; Filgueira, 2000).
Da mesma forma que o feijoeiro
comum, o feijão-vagem é cultura de
ampla adaptação a climas quentes e
amenos, dentro de uma faixa térmica de
18 a 30oC (Filgueira, 2000), no entanto, é intolerante a fatores extremos do
ambiente. Temperaturas elevadas ocasionam significativa redução da produtividade na fase vegetativa inicial, podendo causar morte das plântulas e, conseqüentemente, redução do estande. Na
fase de intenso crescimento vegetativo,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas
o calor excessivo aumenta a
fotorespiração, reduzindo a taxa de crescimento das plantas (Mariot, 2000).
Durante a fase reprodutiva, altas temperaturas exercem influência sobre o
aborto de flores, vingamento e retenção
final das vagens (Portes, 1988 citado por
Andrade, 1998). No período entre a diferenciação dos botões florais até o enchimento dos grãos nas vagens, as altas
temperaturas reduzem o número de vagens por planta, devido à esterilização
do grão de pólen e, conseqüentemente,
a queda das flores (Mariot, 2000). Assim como para temperaturas excessivas,
o feijão-vagem é uma das hortaliças
mais intolerantes ao frio e a geadas
(Filgueira, 2000). As baixas temperaturas, quando ocorrem logo após a semeadura, podem impedir, reduzir ou atrasar a germinação das sementes e a emergência das plântulas, resultando em baixa população e baixa produtividade.
Durante o crescimento vegetativo reduzem a altura das plantas e ramos, diminuindo a produção de vagens por planta
(Portes, 1996 citado por Andrade 1998).
Temperaturas inferiores a 15oC
inviabilizam o funcionamento normal
dos órgãos reprodutivos. Na faixa de 2
a 10oC, as plantas reduzem a produção
de biomassa e retardam o desenvolvimento, devido às alterações metabólicas provocadas pelo esfriamento. O
esfriamento do solo também pode facilitar o apodrecimento das sementes promovendo queda no estande (Filgueira,
2000). A ocorrência de geadas causa
injúrias por congelamento nos tecidos,
sendo prejudicial em qualquer estádio
de desenvolvimento das plantas (Mariot,
2000). Em localidades onde as condições climáticas não permitem o plantio
de feijão-vagem durante o ano todo em
condições naturais de campo, o cultivo
é realizado sob proteção. Na região sul
do Brasil, além das estufas plásticas não
climatizadas, está sendo utilizado o
agrotêxtil que, em alguns países da Europa já é usado na agricultura para proteção de plantas desde o início dos anos
80. No Brasil, os trabalhos de pesquisa
com agrotêxtil iniciaram-se no final da
década de 90, na região dos Campos
Gerais, no estado do Paraná, onde hoje
é utilizado por produtores de hortaliças
para proteção de cultivos.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Algumas das vantagens da utilização do agrotêxtil em cultivo protegido
é a possibilidade de sua colocação e retirada em qualquer fase de desenvolvimento da cultura e a possibilidade de
ser colocado diretamente sobre as plantas ou solo sem a necessidade de estruturas de sustentação.
Para culturas como alface (Fuello et
al., 1993; Otto et al., 2001),
mandioquinha salsa (Reghin et al.,
2000), morango (Otto et al., 2000a; Otto
et al., 2000b), pimentão (Pereira et al.,
2001), beterraba, espinafre (Otto et al.,
2000c) e couve-chinesa (Otto et al.,
2000c; Colturato et al., 2001), a utilização do agrotêxtil como proteção de plantas tem apresentado bons resultados,
mostrando como vantagens de sua utilização, a precocidade de colheita, aumento da produção, barreira física contra geadas, melhoria da qualidade do
produto final, melhora da sanidade,
manutenção da umidade do solo, precocidade e qualidade na produção de
mudas, entre outras.
Como em qualquer sistema utilizado no cultivo protegido, o uso do
agrotêxtil também modifica o ambiente
sob proteção. As variações das temperaturas do ar e do solo constituem dois
componentes importantes do balanço de
energia formado sob o agrotêxtil (Otto
et al, 2000c). Mourão (1997) encontrou
aumento da temperatura média do ar
embaixo da proteção com agrotêxtil de
1 a 2ºC e do solo a 10 cm de profundidade, de 2 a 3ºC. Faouzi et al. (1993)
observaram aumento na temperatura do
ar sob o polipropileno de 1,4 a 4,3ºC e
Mansour & Hemphil (1987) obtiveram
valores em torno de 2ºC em relação ao
ambiente natural.
Além das condições climáticas, a
produtividade da cultura do feijão pode
aumentar com o uso de algumas práticas culturais, como população de plantas (Drake & Silbernagel, 1982). A distribuição adequada de plantas tem efeito sobre a incidência de plantas daninhas e pode representar estratégia importante para a utilização mais eficiente de alguns fatores de produção, como
radiação, nutrientes (Silva, 1996) e água.
Durante a fase reprodutiva, a radiação é
um dos principais fatores de competição entre as plantas, período em que a
planta atinge o máximo de área foliar
(Brandes, 1971, citado por Araújo,
1998). O aumento demasiado do número de plantas pode reduzir a intensidade
da cor e a uniformidade das vagens, resultando em redução na qualidade sensorial (Drake & Silbernagel, 1982). Ademais, tende a ocorrer mais acamamento,
fazendo com que as vagens toquem o
solo, depreciando-as e, conseqüentemente, reduzindo o valor comercial. A alta
população de plantas também favorece a
ocorrência de doenças e pragas, devido
ao microclima propício formado nesta
situação (Lollato, 2000).
A escolha da população deverá levar em consideração informações como
época de semeadura, região (altitude e
latitude), histórico de doenças na área
(principalmente fungos do gênero
Fusarium, Rhizoctonia e Sclerotinia),
hábito de crescimento (Dourado Neto &
Fancelli, 2000), cultivar e fertilidade do
solo (Almeida & Canéchio Filho, 1974).
Os espaçamentos recomendados
para o cultivo do feijão-vagem anão
encontram-se numa faixa de 7 a 30 cm
entre plantas e 45 a 90 cm entre linhas.
De acordo com Adsule et al. (1998), o
espaçamento a ser recomendado é 7,7 a
10 cm entre plantas por 45 a 90 cm entre linhas, porém alguns produtores utilizam 20 a 30 cm por 60 a 95 cm. Para
Filgueira (2000), o espaçamento ideal é
15 x 50 cm entre plantas e linhas. No
entanto, para cada cultivar existe uma
faixa ótima de população onde as plantas aproveitam o máximo de radiação,
água e nutrientes, proporcionando aumento da produtividade, sendo que tal
produtividade deve estar associada à
facilidade de execução dos tratos culturais, colheita e economia de insumos
(Lollato, 2000).
O presente trabalho objetivou estudar o efeito do agrotêxtil sobre a produção de duas cultivares de feijão-vagem
de crescimento determinado, cultivadas
em duas densidades de plantas e
monitorar
as
modificações
microclimáticas da proteção com
agrotêxtil na região de Ponta Grossa.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no ano
de 2000, em campo da UEPG, situada
569
A. V. Pereira, et al.
Tabela 1. Produtividade (t ha-1), número de vagens por planta e peso médio das vagens (g) de duas cultivares de feijão-vagem cultivadas sob
proteção com agrotêxtil e em ambiente natural (AN). Ponta Grossa, UEPG, 2000.
*médias seguidas da mesma letra maiúscula em linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
C.V. (%) – Coeficiente de variação.
na latitude 25º05' Sul e longitude 05º33'
Oeste e altitude média de 950 m. O solo
foi classificado como CAMBISSOLO
HÁPLICO Distrófico de textura argilosa. O clima do município de Ponta Grossa é classificado, segundo o Sistema de
Köppen, como Cfb ou temperado propriamente dito; com temperatura média do
mês mais frio abaixo de 18ºC
(mesotérmico), com verão fresco, temperatura média do mês mais quente abaixo
de 22ºC e sem estação seca definida. A
precipitação e temperatura média anual
são 1700 mm e 20ºC, respectivamente.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, distribuído em esquema fatorial 2x2x2 (cultivares x sistemas de proteção x espaçamentos) com
4 repetições. As cultivares de feijão-vagem utilizadas foram Turmalina e
Coralina, com cultivo em ambiente natural (AN) e sob agrotêxtil (PP) e densidade de 3,3 e 6,6 pl m-1.
As cultivares Turmalina e Coralina
são de porte determinado e com ciclo
médio de 35 a 50 dias da semeadura à
floração, e de 55 a 70 dias da semeadura ao início da colheita. O número de
colheitas varia de duas a quatro, com três
a cinco dias de intervalo, apresentando
produtividade total de 8 a 15 t ha-1 de
vagens, no ponto comercial
(EMATER,1997). Possuem teor de fibra em torno de 1,17 e 1,37% para
'Coralina' e 'Turmalina', respectivamente
(Oliveira et al., 2001).
A semeadura foi realizada manualmente em 18/03/00 em sulcos distanciados de 0,50 m. Os espaçamentos entre
plantas foram 15 e 30 cm,
correspondendo às densidades de 6,6 e
3,3 pl m-1, respectivamente. Cada unidade experimental era composta de 3 linhas com 10 plantas por linha, perfazen570
do um total de 30 plantas por parcela.
O agrotêxtil de cor branca com
gramatura de 20 g m-2 foi colocado 10
dias após a semeadura (DAS) e fixado
lateralmente com pedras para os tratamentos com cultivo protegido. As plantas permaneceram protegidas com
agrotêxtil durante todo período em que a
cultura ficou a campo, sendo retirado
apenas para realização de tratos culturais.
A adubação química foi realizada no
momento da semeadura com 300 kg ha1 de 4-14-8, incorporado no sulco de
plantio. Realizou-se adubação
nitrogenada em cobertura com uréia a
100 kg ha-1 aos 27 DAS e adubação via
foliar com magnésio (1 L ha-1) aos 35
DAS.
As irrigações foram realizadas por
aspersão e as capinas feitas aos 15; 27 e
33 DAS para evitar a competição das
plantas daninhas com a cultura. Aos 65
DAS aplicou-se Thiametoxan (200g em
100L) quando os danos de vaquinha
(Diabrotica speciosa) atingiram o nível
de controle. Nesta data também aplicouse Propiconazole na proporção de 40 g
em 100 L de água, para o controle de
oídio (Oidium sp.). Aos 72 DAS fez-se
outra aplicação de fungicida para controle de oídio, ferrugem (Uromyces sp.)
e antracnose (Colletotricum sp.), com
Tebuconazole (0,5 L ha-1) e Fentin
hydroxyde (0,3 L ha-1). As aplicações
foram realizadas com pulverizador
costal com bico tipo leque.
Em cada parcela, colheu-se as 8
plantas centrais da linha central, aos 62;
68; 75; 84 e 94 DAS. Avaliou-se a produção precoce através do peso total das
vagens colhidas entre 62 e 68 DAS, a
produtividade, o número de vagens por
planta e o peso médio das vagens.
Para a coleta dos dados
microclimáticos instalou-se sensores de
temperatura do ar e do solo, aos 13 DAS.
Os sensores de temperatura do ar e do
solo foram colocados a 15 cm acima da
superfície do solo e a 10 cm de profundidade, sob proteção com agrotêxtil e
em ambiente natural. Todos os sensores
foram conectados ao Datalloger CR 23X
- Campbell Scientific, programado para
realizar leituras a cada minuto e médias
a cada hora, durante todo o ciclo da cultura. Os dados obtidos no ensaio foram
submetidos à análise de variância, utilizando-se para comparação de médias o
teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Produção
A colheita das plantas iniciou-se aos
62 DAS, não ocorrendo diferença entre
os tratamentos avaliados para precocidade. Não houve interação significativa entre proteção x densidade de plantas e proteção x densidade de plantas x
cultivares.
Para a produção total de vagens frescas ocorreu interação entre cultivares x
proteção e cultivares x densidade. Na
combinação cultivares x proteção, a
'Turmalina' produziu 39% a mais quando cultivada sob proteção com agrotêxtil
comparada à produção em ambiente
natural (Tabela 1). No entanto, a
'Coralina' não apresentou diferença entre os dois sistemas de cultivo. Não houve diferença na produção entre as cultivares quando cultivadas sob agrotêxtil.
Em ambiente natural, a 'Coralina' superou em 29% a produção da 'Turmalina'
(Tabela 1), que por sua vez teve produHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
A. V. Pereira, et al.
Tabela 2. Produtividade (t ha-1), número de vagens por planta e peso médio das vagens (g) de duas cultivares de feijão-vagem cultivadas em
duas densidades de plantas (6,6 e 3,3 pl m-1). Ponta Grossa, UEPG, 2000.
*médias seguidas da mesma letra maiúscula em linha e minúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
C.V. (%) – Coeficiente de variação.
tividade abaixo da média nacional (13 t
ha-1), segundo Peixoto et al. (1997). A
redução da produtividade da 'Turmalina'
cultivada a campo, deve-se possivelmente à época de plantio (outono), pois
as temperaturas tendem a diminuir com
o passar dos dias afetando o metabolismo das plantas que não são adaptadas a
essa região, como é o caso da
'Turmalina'.
A maior produção da 'Turmalina' sob
agrotêxtil é explicada pelo número de
vagens por planta (Tabela 1). As plantas da 'Turmalina', quando protegidas,
apresentaram 7 vagens por planta a mais
que em ambiente natural. Para 'Coralina',
as plantas protegidas com agrotêxtil não
diferiram quanto ao número de vagens
das plantas cultivadas em ambiente natural (Tabela 1). As cultivares também
não diferiram entre si quanto ao número
de vagens por planta, quando cultivadas
sob proteção. Por outro lado, em ambiente natural, as plantas da 'Coralina' formaram 4 vagens por planta a mais que a
'Turmalina' (Tabela 1). Estes resultados
indicam que a 'Turmalina', devido a sua
sensibilidade às baixas temperaturas,
responde melhor à proteção com
agrotêxtil quando comparada à
'Coralina', uma vez que a 'Turmalina' foi
mais produtiva sob agrotêxtil, devido ao
maior número de vagens formadas. Este
resultado pode estar relacionado ao
microclima formado sob a proteção, que
propiciou a emissão de maior número
de flores por planta ou, possivelmente,
a proteção reduziu a taxa de abscisão
dos órgãos reprodutivos. Poderia ser
possível que o incremento na produtividade da 'Turmalina' sob agrotêxtil em
relação ao cultivo em ambiente natural
estivesse relacionado ao maior peso
médio das vagens. Porém, a diferença
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
em relação a esta característica não foi
significativa entre os tratamentos (Tabela 1). Entre as cultivares, a
'Turmalina', conforme esperado, apresentou vagens com maior peso em relação à 'Coralina', sendo esta uma característica genética da cultivar.
Para a combinação entre cultivar e
densidade de plantas, a produtividade da
'Turmalina' não diferiu entre as densidades, entretanto, a 'Coralina' produziu
mais quando cultivada em densidade de
3,3 pl m-1 em relação a 6,6 pl m-1 (Tabela 2). Quando as cultivares foram
semeadas em baixa densidade (3,3 pl m1), a 'Coralina' foi mais produtiva que a
'Turmalina', porém em alta densidade
(6,6 pl m-1) não houve diferença entre
as cultivares (Tabela 2). Isto demonstra
que a cultivar Coralina se adapta melhor a baixas densidades.
Apesar do menor número de plantas
por área em densidade de 3,3 pl m-1
(66.666 pl ha-1) comparado à densidade de 6,6 pl m-1 (133.333 pl ha-1), a
produtividade não diferiu para a
'Turmalina' e aumentou para a 'Coralina'.
Estes resultados mostraram que ambas
cultivares apresentaram efeito
compensador. De acordo com Lollato
(2000), o feijoeiro apresenta grande capacidade de ocupação dos espaços laterais disponíveis, podendo compensar
parcialmente eventuais excessos de
espaçamento ou redução de densidade
de plantas. Ademais, a produtividade de
ambas cultivares, quando semeadas em
densidade de 6,6 pl m-1 ficou abaixo da
média nacional para cultivares de porte
determinado (13 t ha-1).
A densidade de 3,3 pl m-1 resultou
em maior número e peso médio de vagens por planta, comparado à densidade
de 6,6 pl m-1 (Tabela 2). O aumento no
número e peso de vagens compensou o
menor número de plantas por hectare
igualando e aumentando a produção, dentro das densidades, para 'Turmalina' e
'Coralina', respectivamente.
Os resultados de número e peso
médio de vagens por planta para
interação cultivar x densidade (Tabela
02) concordam com alguns autores. De
acordo com Ramalho et al. (1978), citados por Araújo (1998), o número de vagens por planta e peso médio das vagens são os principais componentes da
produção afetados pela densidade de
plantas, (devido à competição por radiação, água e nutrientes) que, conseqüentemente, irão influir na produtividade.
Os autores citados enfatizam que o número de vagens é o componente de produção mais afetado pela população de
plantas.
Modificações Microclimáticas
A temperatura do ar sob agrotêxtil
foi maior que em ambiente natural durante todo o ciclo da cultura. Os valores
da diferença entre as temperaturas dos
tratamentos diminuíram com o desenvolvimento da cultura (Figura 01). A
diferença entre temperatura do ar sob
agrotêxtil e em ambiente natural foi de
4,85ºC aos 25 DAS, diminuindo para
3,50ºC aos 35 DAS, fase em que iniciou o florescimento das plantas, de
1,53ºC aos 55 DAS (enchimento das
vagens) e de 1,37ºC aos 85 DAS, fase
final de produção. Em média, a temperatura do ar sob proteção com agrotêxtil
foi 2,6ºC maior que em ambiente natural, oscilando entre 0,20 e 7,31ºC. De
acordo com Otto et al. (2000c), a intensidade dessas modificações depende da
época do ano, do desenvolvimento da
cultura e da espécie cultivada. O plantio foi realizado no início do outono e
571
A. V. Pereira, et al.
Figura 1. Temperatura média do ar (15 cm de altura do solo) para os tratamentos sob agrotêxtil
(TarPP) e em ambiente natural (TarAN), durante todo o ciclo da cultura do feijão-vagem.
Ponta Grossa, UEPG, 2000.
(Das = dias após a semeadura)
Figura 02. Temperatura média do solo (10 cm de profundidade) para os tratamentos sob
agrotêxtil (TsPP) e em ambiente natural (TsAN), durante todo o ciclo da cultura do feijãovagem. Ponta Grossa, UEPG, 2000.
(Das = dias após a semeadura)
com o passar dos dias a temperatura
do ar diminuiu naturalmente. A menor temperatura registrada sob
agrotêxtil durante o ciclo da cultura
foi 12,26ºC e em ambiente natural de
8,12ºC. A maior temperatura sob
agrotêxtil e em ambiente natural foi
28 e 21ºC, respectivamente. Com isso,
a integral térmica diária ao longo de
todo o ciclo, no ambiente protegido foi
mais favorável ao crescimento e desenvolvimento do feijão-vagem, em
especial, para 'Turmalina'. Esses resultados concordam com Mansour &
Hemphil (1987); Faouzi et al. (1993);
Mermier et al. (1995), Mourão (1997)
572
e Otto et al. (2000c).
Para temperatura do solo, os valores sob agrotêxtil foram maiores que em
ambiente natural durante todo o ciclo da
cultura. De semelhante modo ao ocorrido com a temperatura do ar, os valores da diferença entre as temperaturas
do solo dos tratamentos diminuíram com
o desenvolvimento da cultura (Figura
02).
A proteção com agrotêxtil reduziu a
perda de calor para o meio externo. A
diferença máxima entre PP e AN foi de
3,3ºC aos 24 DAS e a mínima foi de
0,58ºC aos 94 DAS. O aumento médio
da temperatura do solo a 10 cm de pro-
fundidade foi de 1,97ºC com o uso do
agrotêxtil, sendo coerente com os resultados encontrados por Mourão (1997) e
Otto et al. (2000c).
Essas modificações na temperatura
do solo e ar, decorrentes do uso da proteção, favoreceram o desenvolvimento
das plantas de feijão-vagem cultivadas
durante o outono na região de Ponta
Grossa. De acordo com Filgueira
(2000), a faixa de temperatura do ar considerada ótima para a cultura do feijãovagem é de 18-30ºC. A temperatura
média registrada em ambiente natural
durante o ciclo da cultura foi 16ºC,
(abaixo da referida faixa) e sob proteção foi de 19ºC.
Desta forma, entende-se que a
'Coralina' apresenta maior amplitude de
adaptação térmica que a 'Turmalina'.
Quando cultivada em ambiente natural (temperatura média abaixo de
18ºC), a 'Coralina' não diferiu da produção em cultivo sob agrotêxtil. Por
outro lado, a 'Turmalina', quando em
temperaturas abaixo da citada por
Filgueira (2000), não manifestou seu
potencial produtivo. Esta apresentou
aumento da produtividade quando cultivada sob agrotêxtil, devido possivelmente à exigência em temperaturas
mais elevadas para crescimento e desenvolvimento.
A partir dos resultados obtidos,
pode-se concluir que, visando a produção de vagens do tipo macarrão na região de Ponta Grossa durante o outono,
a 'Coralina' é uma ótima opção por se
adaptar às condições climáticas da região, não necessitando do uso de proteção. Por outro lado, quando se deseja a
produção de vagens do tipo manteiga na
mesma região, utilizando-se a
'Turmalina', o uso do agrotêxtil é excelente alternativa, pois essa cultivar apresentou consideráveis aumentos de produtividade neste tipo de cultivo, comparado-se com a produção em ambiente natural. Isto pode estar relacionado
com o aumento da temperatura do solo
e do ar sob o agrotêxtil em relação às
condições naturais de cultivo.
Para as cultivares Turmalina e
Coralina, o uso de baixa densidade de
plantas (3,3 pl m-1) é mais viável economicamente, pois possibilita redução
na quantidade de sementes e insumos,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Respostas do feijão-vagem cultivado sob proteção com agrotêxtil em duas densidades de plantas
além de facilitar os tratos culturais.
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573
página do horticultor
CASTELO BRANCO, M. Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal Horticultura
Brasileira, Brasília, v. 21, n. 3, p. 574-577, julho-setembro 2003.
Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em
uma área agrícola do Distrito Federal
Marina Castelo Branco1
1
Embrapa Hortaliças, C. Postal 218, 70359-970 Brasília-DF; E-mail: [email protected]
RESUMO
ABSTRACT
Diversos programas de manejo de resistência a inseticidas estão
sendo propostos por indústrias, que comercializam estes produtos, e
por empresas de pesquisa. Para a eficiência deste manejo, é fundamental que os agricultores compreendam os rótulos dos inseticidas.
Para verificar se isto ocorria, agricultores de uma área rural do Distrito Federal foram entrevistados. Os resultados mostraram que 23%
não compreendiam o significado da faixa vermelha (inseticida muito perigoso) dos rótulos. Os termos “ingrediente ativo” ou “grupo
químico” eram desconhecidos por todos. Oitenta por cento não sabia se havia diferenças entre Tamaron® e Hamidop®. Com isso, vêse que são necessários programas para aumentar a compreensão dos
rótulos dos inseticidas pelos agricultores, antes que programas de
manejo de resistência sejam implementados.
Evaluating the knowledge of insecticide´s label by growers
from an agricultural area in Distrito Federal, Brazil
Palavras-chave: controle químico, manejo de resistência a inseticidas.
Keywords: chemical control, insecticide resistance management.
Several programs of insecticide resistance management are being
proposed by chemical and agricultural research companies. But, to
manage insecticides it is fundamental that growers understand the
label of those products. In order to verify if that occurr, growers
from a rural area in the Distrito Federal were interviewed. The results
showed that the red line on the label that means “dangerous
insecticide” was unknown by 23% of them. No one knew the meaning
of the terms “active ingredient” or “chemical group”. Also, 80% of
the growers didn´t know if there was a difference between Tamaron®
and Hamidop®. With those results, it was clearly shown that it is
necessary to increase the knowledge of insecticide´s label in the area
before the development of programs of insecticide resistance
management.
(Recebido para publicação em 15 de maio de 2002 e aceito em 30 de abril de 2003)
O
Brasil possui uma ampla legisla
ção que deve ser cumprida antes
que os agrotóxicos possam chegar aos
agricultores (Ministério da Agricultura,
1998). Os rótulos trazem as informações
necessárias para que os produtos sejam
utilizados adequadamente a fim de evitar intoxicações [equipamentos de proteção individual (EPI) a serem utilizados, grau de periculosidade do inseticida]. No entanto, já foi verificado em alguns dos locais do país que alguns produtores, ao empregarem os inseticidas,
não utilizam os EPI necessários, o que
gera intoxicações (Araújo et al., 2000).
Os rótulos dos produtos trazem também informações a respeito do grupo
químico e ingrediente ativo do produto.
Estas informações facilitam a
implementação de programas de manejo de resistência a inseticidas, onde é
recomendada a rotação de produtos que
pertençam a grupos químicos diferentes (Castelo Branco & França, 2000).
Desse modo, estudos visando avali574
ar o grau de compreensão dos rótulos
dos inseticidas por parte de agricultores
são importantes para que diretrizes possam ser traçadas a fim de viabilizar programas de manejo de resistência a inseticidas, bem como viabilizar programas
visando a redução de intoxicações. Neste trabalho, através de entrevistas com
agricultores do Núcleo Rural da Vargem
Bonita, localizado no Distrito Federal
(DF), foi avaliado o nível de conhecimento dos rótulos dos inseticidas por
estes agricultores, bem como avaliadas
as condições sob as quais estes produtos eram empregados na região.
MATERIAL E MÉTODOS
O Núcleo Rural da Vargem Bonita,
localizado a cerca de 20 km de Brasília,
é uma área de produção intensiva de
hortaliças, que abastece parte do mercado consumidor do DF. Os agricultores deste Núcleo, à semelhança de outras áreas produtoras de hortaliças da
região, praticam uma agricultura intensiva, onde máquinas agrícolas, adubação química, agrotóxicos e trabalho assalariado são empregados. O Núcleo
Rural da Vargem Bonita é constituído
por 67 propriedades rurais, sendo 43
com áreas de 2 a 5 ha e 24 com área de
5 a 20 ha. Em fevereiro de 2002, foram
sorteadas, através de uma tabela de número aleatórios, 30% das propriedades
onde os agricultores responsáveis pelas
aplicações de inseticidas deveriam ser
entrevistados. Este grupo foi chamado
de grupo principal e, nestes locais, se
houvesse cultivo de hortaliças com aplicação de inseticidas, o agricultor deveria ser entrevistado. Em seguida, foram
também sorteadas pelo mesmo processo, mais 30% das propriedades que formaram o chamado grupo secundário.
Neste caso, se o responsável pelas pulverizações de inseticidas de uma propriedade do grupo principal não estivesse presente no dia da entrevista, o responsável da primeira propriedade do
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal
grupo secundário seria entrevistado.
Para a obtenção das informações deste
trabalho, rótulos de inseticidas, de diferentes grupos químicos, com diferentes
cores de faixas (clorfluazuron, regulador de crescimento, faixa vermelha;
metamidofós, produtos comerciais
Tamaron®
e
Hamidop®,
organofosforado faixa amarela;
deltametrina, piretróide, faixa azul;
imidacloprid, neonicotinóide, faixa verde) foram apresentados aos agricultores.
Nesta ocasião, eles deveriam informar
se conheciam os termos ingrediente ativo, grupo químico e se sabiam se havia
diferença entre os inseticidas
Hamidop® e Tamaron®. Os entrevistados forneceram ainda informações sobre hortaliças cultivadas, pragas principais, uso de EPI para aplicação de inseticidas, nível de escolaridade e nível
salarial. Os dados obtidos das entrevistas foram tabulados e foi utilizada a estatística descritiva para análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram visitadas 22 propriedades.
Duas não apresentavam qualquer tipo de
cultivo; uma cultivava mandioca, outra
batata-baroa e outra cogumelos, todas
elas sem aplicações de inseticidas. As
demais 17 propriedades cultivavam hortaliças e empregavam agrotóxicos. Portanto, os agricultores destes últimos estabelecimentos (25% do total da região),
foram os que forneceram as informações
para este trabalho.
A maioria dos responsáveis pelas
aplicações de inseticidas eram trabalhadores rurais com carteira assinada (58%)
e sem este documento (18%), seguidos
de arrendatários (12%) e meeiros (12%).
O nível educacional da população entrevistada era baixo. Entre os arrendatários e meeiros, 50% tinham até quatro
anos de estudo e 50% até oito. Entre os
trabalhadores, 10% eram analfabetos,
40% tinham até quatro anos de estudo e
50% até oito. O salário dos trabalhadores rurais da região variava de R$ 180,00
a R$ 400,00, ou seja, de um a 2,2 salários-mínimos.
Foi verificado que as hortaliças cultivadas eram conduzidas em sistemas de
policultivo, com no mínimo três produtos diferentes em uma propriedade. A
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Figura 1. Cultivos encontrados no Núcleo Rural da Vargem Bonita, DF. Brasília, Embrapa
Hortaliças, 2002.
alface era a mais cultivada (Figura 1).
Do ponto de vista econômico, a diversificação de culturas é vantajosa pois
como os preços das hortaliças variam
no decorrer do ano (Castor & Silva,
1986; Kurihara et al., 1993), os riscos de
perdas econômicas são diminuídos. Do
ponto de vista do controle de pragas, o
policultivo também é vantajoso, pois os
riscos de perdas por danos de insetos é
também diminuído (Altieri, 1994).
As pragas relacionadas pelos entrevistados como capazes de causar perdas as lavouras eram em pequeno número. As mais importantes eram a vaquinha (Diabrotica speciosa) e a traçadas-crucíferas (Plutella xylostella), vindo em seguida lagarta-rosca (Agrotis
ipsilon) e pulgões (Figura 2). Para o
controle de pulgões, um agricultor utilizava pirimicarb, inseticida específico
para esta praga. Para o controle das demais pragas, um agricultor utilizava o
organofosforado acefato, outro o
piretróide lambdacialotrina, outro o
inibidor de quitina metoxifenozide e
outro o produto biológico Bacillus
thuringiensis; nove produtores usavam
o piretróide deltametrina e onze o
organofosforado metamidofós, produto
mais comumente usado. Em locais como
Viçosa (MG) e São Luís (MA),
metamidofós também foi o agrotóxico
mais utilizado (Moreira, 1995; Araújo
et al., 2001). Alguns fatores podem contribuir para a grande popularidade deste organofosforado classe II altamente
tóxico, entre eles o baixo custo quando
comparado a outros produtos disponíveis no mercado e a tradição do uso do
produto pelos agricultores. Vale ressaltar ainda que metamidofós era utilizado
em todas as culturas da região e aplicado no início do ciclo para o controle da
vaquinha, embora não seja registrado
para muitas das culturas em que era pulverizado.
No que se refere às informações contidas nos rótulos dos inseticidas, 12%
dos produtores informaram que nunca
liam os rótulos. Dos 88% dos agricultores de Vargem Bonita que liam os rótulos dos inseticidas, a(s) seguinte(s)
informação(ões) era(m) buscada(s): pragas controladas (6%), período de carência (18%), dosagem do produto (29%)
e EPI necessários para aplicação do inseticida (41%). Neste último caso, todos os entrevistados apontavam para os
EPI que apareciam desenhados sobre a
faixa do inseticida. Para esta observação, o mais apropriado seria dizer que
os agricultores não “liam” os rótulos
propriamente ditos, mas compreendiam
as instruções através das figuras.
Ainda que a maioria dos agricultores buscassem informações sobre os EPI
575
M. Castelo Branco
Figura 2. Pragas mais comuns de hortaliças segundo produtores rurais. Núcleo Rural da
Vargem Bonita, DF. Brasília, Embrapa Hortaliças, 2002.
necessários para aplicação de inseticidas, foi observado que entre os oito trabalhadores que aplicavam metamidofós,
apenas um (13%), embora sentisse muito calor, utilizava o equipamento completo (bota, luva, máscara, calça comprida, camisa de manga comprida, capa
plástica). Os outros sete trabalhadores
(87%) utilizavam equipamento de proteção incompleto (apenas bota; bota,
calça comprida e camisa de manga comprida; luva, bota, bermuda e camisa de
manga comprida; luva, bota, capa, bermuda e camisa de manga comprida; um
capa, bermuda e camisa de manga comprida; bota, máscara, capa, calção e camisa de manga comprida). Desse modo,
observa-se uma aparente contradição
entre os resultados obtidos. Os trabalhadores liam o rótulo, identificavam os
EPI que deveriam utilizar, mas não os
utilizavam. Muitos disseram que não
usavam “porque não tinham” ou “não
usavam máscara porque ela estava quebrada” ou “não usavam porque era muito quente”.
O problema da falta de uso de EPI
não é atual, nem tampouco restrito a
Vargem Bonita. Na década de 80, foi
observado no Paraná que 91% dos
aplicadores não utilizavam os equipamentos; em Nova Friburgo (RJ) este
576
número era de 98% (Bull & Hathaway,
1986). Em 1998, na região de Pelotas
(RS), 27% dos agricultores não usavam
EPI (Aggostinetto et al., 1998); em
2001, em São Luís esse número era de
65% dos trabalhadores (Araújo et al.,
2001).
A falta do uso de equipamento de
proteção pelos agricultores da Vargem
Bonita certamente deve levar a intoxicação dos mesmos, já que muitos usam
bermudas e muitos não usam botas, o
que faz com que os aplicadores entrem
em contato com os inseticidas. Esta
inferência está de acordo com o trabalho de Chaim et al. (2001), que observaram que mais de 70% da deposição
dos agrotóxicos no corpo dos
aplicadores concentra-se nas coxas, pernas e tornozelos. Além do mais, em São
Paulo, foi constatado que mais de 80%
das intoxicações ocorriam devido a penetração de pesticidas através da pele
(Camargo Filho, 1986).
A intoxicação por metamidofós foi
sugerida por cinco (62,5%) dos oito trabalhadores que aplicavam o produto em
Vargem Bonita. Eles revelaram que logo
após a aplicação do inseticida, e por cerca de 24 h após esta, sentiam dores de
cabeça, tontura e enjôo. Estas mesmas
queixas foram reveladas por agriculto-
res de Nova Friburgo (Bulll & Hathway,
1986) e do Vale do São Francisco e
Pernambuco (Araújo et al., 2000) e, segundo Camargo Filho (1986) e Souza
Cruz (1998), estes são alguns dos sintomas
de
intoxicação
por
organofosforados, que causam a inibição da colinesterase. Os trabalhadores
de Vargem Bonita revelaram ainda que
já haviam feito, até o ano 2001, exame
de sangue anual ou bi-anual na
EMATER-DF, dentro do programa de
monitoramento de intoxicações desta
instituição. Apenas um trabalhador apresentou resultado positivo no exame.
Na tentativa de compreender o porquê destes resultados, uma consulta ao
LACEN (Laboratório Central do DF)
indicou que os exames toxicológicos
realizados utilizavam o método BChE
que mede a quantidade de enzimas
butirilcolinesterase no plasma. Estas
enzimas, produzidas no tecido hepático, são continuamente exportadas para
a corrente sanguínea, o que faz com que
o método, que permite examinar um
grande número de agricultores, apresente uma resposta rápida para intoxicações
recentes (Silva et al., 2001). Além destes testes, o programa do LACEN empregava também exames clínicos, onde,
em caso de suspeita de intoxicação, novos exames eram realizados.
Estudo realizado por Silva et al.
(2001) comparou o método BChE com
o método AchE que mede a quantidade
da enzima acetilcolinesterase na membrana dos eritrócitos. Esta enzima apresenta baixa taxa de renovação sanguínea. Os autores verificaram que com o
método BChE, apenas 3,6% dos indivíduos avaliados apresentaram intoxicação; já com o método AChE, o número
de intoxicados subiu para 41,8%. Os
autores sugeriram que este método, ainda que mais caro e mais demorado, era
mais eficiente para detectar intoxicações
para trabalhadores expostos à baixa dosagem de inseticidas por longos períodos de tempo. Desse modo, os resultados de campo e as observações de Silva
et al. (2001), poderiam explicar, em parte, o baixo percentual de trabalhadores
encontrados com contaminação de
organofosforados em Vargem Bonita.
No que se refere ao conhecimento
das faixas dos rótulos dos produtos utiHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Avaliação do conhecimento do rótulo dos inseticidas por agricultores em uma área agrícola do Distrito Federal
lizados nas lavouras, 64% dos entrevistados indicou que estas significavam
perigo, sendo que os produtos de faixa
vermelha e amarela eram os que causavam maiores receios. A associação feita pela maioria dos agricultores entre a
cor da faixa e a toxicidade dos inseticidas está de acordo com a legislação,
onde faixa vermelha indica produto altamente tóxico e verde produtos pouco
tóxicos (Ministério da Agricultura e do
Abastecimento, 1998).
Na avaliação do conhecimento dos
termos técnicos presentes nos rótulos
dos inseticidas, nenhum dos entrevistados conhecia o significado dos termos
“organofosforado e piretróide”, que indicam a classe do inseticida ou
“deltametrina,
metamidofós,
imidacloprid”, que indicam o ingrediente ativo do produto. Para a pergunta
“o Sr. acha que os inseticidas Tamaronâ
e Hamidopâ são iguais?”, 18% disseram
que eram iguais, sendo que isto ocorria
porque tinham o mesmo cheiro, 35%
disseram que eram diferentes e 47% não
sabiam.
O conhecimento da classe de um
inseticida e do ingrediente ativo é importante para que: a) os agricultores
possam entender as publicações a ele
dirigidas ou os testes de inseticidas, onde
os inseticidas são referidos pelo ingrediente ativo (Bortoli & Castellane, 1994;
Villas Bôas et al., 1997); b) no caso onde
existam dois ou mais produtos de marcas comerciais diferentes, porém com o
mesmo ingrediente ativo, os agricultores possam escolher aquele que apresente melhor preço; c) possam ser executados programas de manejo de resistência a inseticidas, onde é recomendado o
uso em rotação de inseticidas de classes
diferentes (IRAC-BR, s.d.).
O manejo de resistência a inseticidas é hoje uma das maiores preocupações das indústrias que comercializam
este produtos. Por isso foi criado em
maio de 1997, no Brasil, o IRAC-BR
(Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas), compostos de profissionais da área fitossanitária de 11 empresas, dois consultores e representantes do Ministério da Agricultura. Este
grupo foi criado para “ajudar os agricultores a manejar problemas de resistência de pragas a inseticidas”. Para isto,
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
um dos principais procedimentos, quando se faz múltiplas aplicações por ano,
é alternar produtos de classe diferente
(IRAC-BR, s.d.). Esta proposta de manejo de resistência de inseticidas também está presente em diversas publicações científicas ou publicações que visam atender os produtores (Castelo
Branco, 2000; França et al., 2000; Villas
Bôas et al., 1997) e, em alguns casos,
há até exemplos de rotações que podem
ser utilizadas tomando como base a classe de inseticidas e/ou ingredientes ativos (Castelo Branco & França, 2000).
Como as pessoas que lidam diretamente com inseticidas no Núcleo Rural da
Vargem Bonita desconhecem o que seja
“classe de inseticida” ou “ingrediente
ativo”, é bem provável que estas indicações não possam ser utilizadas por
elas. Programas de racionalização de uso
de inseticidas em hortaliças ou publicações contendo informações sobre controle químico ou manejo de resistência
a inseticidas em hortaliças visando atingir agricultores desta região, e talvez de
outras, para serem realmente efetivos,
deverão incorporar um treinamento prévio, adequado ao nível educacional da
população, para que seja viabilizado o
entendimento das informações contidas
nos rótulos dos inseticidas por parte dos
usuários.
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Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e
consorciado
Néstor A. Heredia Z.1; Maria do Carmo Vieira1; Martin Weismann2; André L.F. Lourenção2
UFMS, C. Postal 533, 79804-970 Dourados-MS, E-mail: nheredia @ceud.ufms.br; 1Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. 2
Alunos da UFMS
RESUMO
ABSTRACT
Foram estudadas a cebolinha ‘Todo Ano’ e a salsa ‘Lisa’, em
cultivos solteiro e consorciado, arranjadas no delineamento experimental de blocos casualizados, com três tratamentos e oito repetições. A propagação da cebolinha foi por mudas e a da salsa por
sementes. Na colheita, feita aos 90 dias após o início da propagação,
nas duas espécies, foram avaliadas a altura das plantas, diâmetro
das touceiras e produções de massas fresca e seca das plantas. Também foram avaliados diâmetro e número de perfilhos das plantas de
cebolinha e a altura do corte das plantas de salsa. As médias de altura das plantas da cebolinha (33,50 cm) e da salsa (27,11 cm), do
diâmetro dos perfilhos da cebolinha (0,42 cm) e da altura do corte
nas plantas da salsa (6,41 cm) não apresentaram efeito dos tratamentos. As maiores médias do diâmetro das touceiras foram obtidas
nas plantas sob cultivo solteiro, com diferenças de 6,13 cm na
cebolinha e de 2,85 cm na salsa, em relação àquelas sob consórcio.
As plantas da cebolinha consorciadas com a salsa tiveram aumento
significativo de 0,54 milhões de perfilhos ha-1 em relação àquelas
sob cultivo solteiro. As produções médias das plantas da cebolinha e
da salsa sob cultivo solteiro tiveram, respectivamente, mais 1,32 e
2,42 t ha-1 de massa fresca e 0,20 e 0,24 t ha-1 de massa seca em
relação àquelas sob consórcio. As razões de área equivalente para o
consórcio cebolinha e salsa foram de 1,41 e 1,50 ao considerar as
produtividades de massas frescas e secas, respectivamente. A renda
bruta total mostrou que o consórcio cebolinha-salsa foi melhor, com
aumentos por hectare de 25,06% (R$ 7.830,00) e de 74,93% (R$
16.740,00), quando relacionado com a renda da cebolinha ou da salsa em cultivo solteiro, respectivamente.
Bunching onion and parsley yield and gross income in monocropping and inter-cropping system
Palavras-chave: Allium fistulosum, Petroselinum crispum, arranjo
de plantas, produtividade, retorno econômico.
‘Todo ano’ bunching onion and ‘Lisa’ parsley were studied in
mono and inter-cropping system arranged in a randomized complete
block experimental design with three treatments and eight
replications. Bunching onion was propagated by cuttings and parsley
by seeds. Both crops were harvested 90 days after the beginning of
propagation. Plant height, copse diameter and dried and fresh mass
yield were evaluated. Also diameter and number of shoots of
bunching onion plants and height of parsley plants were evaluated.
Averages of bunching onion (33.50 cm) and parsley (27.11 cm)
height, of bunching onion shoot diameters (0.42 cm) and of cut height
of parsley (6.41 cm) plants were not affected by treatments. The
greatest average of copse diameter was obtained in plants under
mono-cropping system, with differences of 6.13 cm for bunching
onion and 2.85 cm for parsley in relation to those under inter-cropping
system. Bunching onion plants inter-cropped with parsley had
significant increase of 0.54 millions of shoots ha-1 in relation to those
under mono-cropping system. Average yield of bunching onion and
parsley plants under mono-cropping system presented an increase
of 1.32 and 2.42 t ha-1 of fresh mass and of 0.20 and 0.24 t ha-1 of
dried mass, respectively, in relation to those in inter-cropping system.
Land equivalent ratios for bunching onion and parsley inter-cropping
system were 1.41 and 1.50 considering dried and fresh mass yield,
respectively. Total gross income showed that bunching onion intercropped was better with increases of 25.06% (R$ 7,830.00) and
74.93% (R$ 16.740.00) per hectare when related with gross income
of bunching onion or parsley in mono-cropping system, respectively.
Keywords: Allium fistulosum, Petroselinum crispum, plant
arrangements, yield, income.
(Recebido para publicação em 17 de maio de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
A
cebolinha comum (Allium
fistulosum, L.), originária da
Sibéria, e a cebolinha (Allium
schoenoprasum), originária da Europa
continental, são condimentos, muito
apreciados pela população e cultivadas
em quase todos os lares brasileiros. A
planta é considerada perene, apresenta
folhas cilíndricas e fistulosas, com 0,30
a 0,50 m de altura, coloração verde-escura, tendendo para o glauco em A.
fistulosum; produz pequeno bulbo
cônico, envolvido por uma película
rósea, com perfilhamento e formação de
578
touceira. As cultivares mais conhecidas
são Todo Ano, Futonegui e Hossonegui
(Embrater, 1980; Cotia, 1987; Ferreira
et al., 1993; Makishima, 1993;
Filgueira, 2000). Embora a planta de
cebolinha suporte frios prolongados e
existam cultivares que resistam bem ao
calor, tendo poucas restrições para o seu
plantio em qualquer época do ano, a faixa de temperatura ideal para o cultivo
fica entre 8 e 22oC, ou seja, em condições amenas. Portanto, o perfilhamento
é maior nos plantios de fevereiro a julho nas regiões produtoras do Brasil
(Cotia, 1987; Makishima, 1993;
Filgueira, 2000). A colheita da cebolinha
inicia-se entre 55 e 60 dias após o plantio ou entre 85 e 100 dias após a semeadura, quando as folhas atingem de 0,20
a 0,40 m de altura.
A salsa (Petroselinum crispum) é
uma das espécies de hortaliças que não
atinge sua importância pelo volume ou
valor de comercialização mas pela utilização comercial como condimento. A
planta produz mais em solos areno-argilosos, com alto teor de matéria orgânica, boa fertilidade e pH entre 5,8 e 6,8.
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado
A primeira colheita é feita entre 50 e 90
dias após a semeadura, quando as plantas atingirem cerca de 10 a 15 cm de
altura.
Tanto na cebolinha como na salsa, o
rebrotamento é aproveitado para novos
cortes, podendo um cultivo ser explorado por dois a três anos, principalmente
quando são conduzidos em condições de
clima ameno. Na comercialização para
consumo ao natural, elas aparecem sós
ou formando um conjunto popularmente chamado de cheiro-verde. Nos últimos anos, a cebolinha tem sido cultivada para o abastecimento de
agroindústrias de conserva (Ferreira et
al., 1993).
A associação/consorciação de culturas é um sistema de cultivo utilizado há
séculos pelos agricultores (Müeller et
al., 1998) e é praticado amplamente nas
regiões tropicais (Srinivasan & Ahlawat,
1990), sobretudo por pequenos agricultores. Isto porque, ao utilizarem nível
tecnológico mais baixo, procuram
maximizar os lucros (Vieira, 1989), buscando melhor aproveitamento dos
insumos e da mão-de-obra, geralmente
da própria família, em capinas, aplicações de defensivos e outros tratos culturais (Vieira, 1989; Caetano et al.,
1999). Paschoal (1994) cita que o cultivo intercalar de salsão com repolho tem
ajudado a repelir borboletas cujas lagartas danificam as folhas.
O aumento da produtividade por
unidade de área é uma das razões mais
importantes para se cultivar duas ou
mais culturas no sistema de
consorciação, que no caso de ser feito
com hortaliças permite melhor aproveitamento da terra e de outros recursos
disponíveis, resultando em maior rendimento econômico (Silva, 1983;
Sullivan, 1998). Em estudo realizado
por Tolentino Júnior (2001), em Dourados, sobre a produção da mandioquinhasalsa ‘Amarela de Carandaí’ consorciada com alface ‘Grand Rapids’ e beterraba ‘Tal Top Early Wonder’, concluiuse que as plantas das três espécies apresentaram produtividade superior em
monocultivo, em todos os componentes avaliados. Considerando-se a produção total de raízes e a de raízes
comercializáveis respectivamente, a razão de área equivalente para o consórHortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
cio mandioquinha-beterraba foi de 1,07
e 0,87 e para mandioquinha-alface foi
1,3 e 1,1.
Na literatura não foram encontrados
relatos sobre o consórcio cebolinha e
salsa. Com o presente trabalho estudouse a produtividade e o retorno econômico da cebolinha e da salsa, conduzidas
em cultivo solteiro ou consorciadas.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido na horta
da UFMS, em Dourados, entre 29/8/01 e
27/11/01, em Latossolo Vermelho
distroférrico, de textura argilosa, com as
seguintes características químicas: 5,5 de
pH em CaCl2; 34,0 g dm-3 de M.O; 36,0
mg dm-3 de P; 6,6; 56,0 e 22,6 mmolc dm3
de K, Ca e Mg, respectivamente. O clima da região, segundo a classificação de
Köppen (Mato Grosso do Sul, 1990) é
Mesotérmico Úmido; do tipo Cwa, com
temperaturas e precipitações médias anuais variando de 20 a 24oC e 1250 a 1500
mm, respectivamente.
Foram estudadas a cebolinha Todo
Ano e a salsa Lisa, cada uma em cultivo
solteiro e consorciado, compondo três
tratamentos, arranjados no delineamento
experimental de blocos casualizados,
com oito repetições. A análise estatística foi realizada isoladamente para cada
espécie, utilizando dois tratamentos
(cultivo solteiro e consorciado) e oito
repetições. As parcelas tiveram área total de 3,0 m2 (1,5 m de largura x 2,0 m
de comprimento) e a área útil de 2,16
m2 (1,08 m de largura x 2,0 m de comprimento). A parcela da cebolinha, tanto em cultivo solteiro como no consorciado, tinha cinco linhas (21,6 cm entre
linhas) com vinte plantas por linha (10
cm entre plantas), perfazendo população de 330.000 plantas ha-1. A parcela
da salsa tinha quatro linhas, tanto em
cultivo solteiro (27 cm entre linhas)
como no consorciado (21,6 cm entre linhas), com 40 plantas por linha (5 cm
entre plantas), perfazendo população de
528.000 plantas ha-1. No cultivo consorciado, as cinco linhas da cebolinha foram alternadas com as quatro linhas da
salsa.
A propagação da cebolinha foi por
mudas e a da salsa por sementes. As
mudas foram preparadas no dia anteri-
or ao do plantio. Posteriormente, foram
separados os perfilhos e feita a toilette
do material propagativo com a separação e eliminação das raízes. Também
foram realizados cortes na parte foliar,
para deixar aproximadamente 5 cm de
pseudocaule e eliminação das bainhas
secas. O plantio consistiu no enterrio
vertical das mudas, deixando-se ao descoberto aproximadamente 3 cm do
pseudocaule. As irrigações foram feitas
por aspersão com o intuito de manter o
solo “sempre úmido” (após observações
subjetivas) e que induziu a turnos de
rega a cada dois dias. O controle das
plantas infestantes foi feito com auxílio
de enxadas nas entrelinhas e com
arranquio manual dentro das linhas.
Na colheita, feita aos 90 dias após o
início da propagação, mediante o corte
das touceiras das plantas, rente ao solo
para a cebolinha e imediatamente acima das brotações novas para a salsa,
foram avaliadas a altura das plantas, diâmetro das touceiras e produções de
massas frescas e secas das plantas. Também foram avaliados diâmetro e número de perfilhos das plantas de cebolinha
e a altura do corte das plantas de salsa.
Os dados foram submetidos à análise de
variância, utilizando o teste F a 5% de
probabilidade.
O consórcio foi avaliado utilizando
a expressão da razão de área equivalente (RAE) proposto por Caetano (1999),
a saber: RAE = Cc. Cs-1 + Sc. Ss-1, onde,
respectivamente, Cc e Sc correspondem
a produções da cebolinha e da salsa em
consorciação e Cs e Ss correspondem a
produções da cebolinha e da salsa em
cultivo solteiro. A validação do consórcio foi realizada mediante a determinação da renda bruta. Para isso, foram
comprados cinco maços de cebolinha e
de salsa, em dois locais de venda no
varejo, e determinadas as massas frescas (variação de 56,1 a 81,0 g e média
de 63,6 g para a cebolinha e de 63,1 a
67,4 g e média de 64,9 g para a salsa).
Os custos dos maços no varejo variaram de R$ 0,40 a R$ 0,50 mas, segundo
os vendedores, o preço pago aos produtores foi de R$ 0,25 por maço de
cebolinha ou de salsa. Posteriormente,
efetuaram-se as conversões por hectare
para número de maços e renda bruta, por
cultivo e total, para o produtor.
579
N. A. Herediaz, et al.
Tabela 1. Produção da cebolinha Todo Ano em cultivo solteiro e consorciado com salsa. Dourados, UFMS, 2001.
Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade.
Tabela 2. Produção da salsa Lisa em cultivo solteiro e consorciado com cebolinha. Dourados, UFMS, 2001.
Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem pelo teste F, a 5% de probabilidade.
Tabela 3. Renda bruta do produtor, considerando a produção de massa fresca da cebolinha Todo Ano e da salsa Lisa em cultivo solteiro e
consorciado. Dourados, UFMS, 2001.
* Divisão da massa obtida no trabalho pelas médias de massa dos maços, sendo 63,6 g para cebolinha e 64,9 g para salsa. ** Considerouse R$ 0,25 o preço pago ao produtor por maço de cebolinha ou de salsa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Não houve diferença significativa
para as médias de altura das plantas de
cebolinha (33,50 cm) e de salsa (27,11
cm), do diâmetro dos perfilhos de
cebolinha (0,42 cm) e da altura do corte
nas plantas de salsa (6,41 cm) (Tabelas
1 e 2). Isso indica que as plantas apresentam taxas de crescimento e
morfologia bem características, com
padrão de resposta dependente do componente genético (Heredia Z., 1988). Os
resultados obtidos para altura de plantas indica que, provavelmente, não se
utilizaram as populações máximas combinadas que poderiam ter interferido na
expressão desse caráter, por isso, não
houve efeito da competição
interespecífica no consórcio. Por outro
580
lado, as médias do diâmetro das
touceiras de cebolinha e de salsa foram
influenciadas significativamente pelo
tipo de cultivo. As maiores médias foram obtidas nas plantas sob cultivo solteiro, com diferenças de 6,13 cm na
cebolinha e de 2,85 cm na salsa, em relação àquelas sob consórcio. Esses resultados mostram relação com a hipótese de Larcher (2000), sobre os sistemas ecológicos terem capacidade de
auto-regulação, com base no equilíbrio
das relações de interferência, ou seja, as
plantas de uma comunidade vegetal formada por espécies diferentes estão sujeitas a diversos tipos de interações. Na
maioria dos casos, a interação é notada
pela redução da produtividade das culturas (Silva, 1983).
As plantas de cebolinha consorciadas com a salsa tiveram aumento signi-
ficativo de 0,54 milhões de perfilhos ha1
em relação àquelas sob cultivo solteiro (Tabela 1). Isso pode ter relação com
a forma de interação em cultivos associados que pode promover aumentos na
produtividade, apesar de ser pouco comum, e que talvez seja causada pela
excreção de hormônios estimuladores de
crescimento; no entanto, esse estímulo
foi citado apenas para algumas variedades de arroz intercultivadas (Whatley &
Whatley, 1982).
As produções médias das plantas de
cebolinha e de salsa sob cultivo solteiro
tiveram, respectivamente, mais 1,32 e
2,42 t ha-1 de massa fresca e 0,20 e 0,24
t ha-1 de massa seca em relação àquelas
sob consórcio (Tabelas 1 e 2). Esses resultados vêm de encontro com a hipótese de que a partição dos fotoassimilados,
sobretudo, é função do genótipo e das
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Produção e renda bruta de cebolinha e de salsa em cultivo solteiro e consorciado
relações fonte-dreno, onde a eficiência
de conversão fotossintética, dentre outros fatores, pode ser alterada pelas condições de solo, clima e estádio fisiológico da cultura (EMBRAPA,1996;
Fancelli & Dourado Neto, 1996). Também podem indicar que as plantas solteiras tiveram melhor adaptabilidade,
normalmente relacionadas com a manutenção da eficiência na absorção ou no
uso da água, dos nutrientes e do CO2. A
menor produção das plantas de
cebolinha sob consórcio deve ter relação com a presença das plantas de salsa, que podem ter induzido perda da
capacidade produtiva devido à competição entre as raízes, que exploravam o
solo à mesma profundidade (Silva,
1983), ou porque as folhas responderam
diferencialmente à competição por luz
(Whatley & Whatley, 1982).
A RAE para o consórcio cebolinha
e salsa, considerando as produtividades
de massa fresca das culturas, foi de 1,41
(RAE = Cc/Cs + Sc/Ss = 6,63/7,95 +
3,38/5,8 = 1,41) e ao considerar a massa seca, a RAE foi de 1,5. Esses resultados mostram que o consórcio foi efetivo. Ao relacionar a renda bruta (Tabela
3), observou-se que para o produtor o
consórcio cebolinha-salsa foi melhor,
por ter induzido incrementos monetários por hectare de 25,06% (R$ 7830,00)
ou de 74,93% (R$ 16.740,00), quando
relacionado com a renda da cebolinha
ou da salsa em cultivo solteiro, respectivamente. Os valores obtidos para RAE
e para a renda bruta concordam com
Silva (1983) e Sullivan (1998), quando
citam que o aumento da produtividade
por unidade de área é uma das razões
mais importantes para se cultivar duas
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
ou mais culturas no sistema de
consorciação, porque permite melhor
aproveitamento do uso da terra e de outros recursos disponíveis, resultando em
maior rendimento econômico.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq, pelas bolsas concedidas
e à FUNDECT-MS, pelo apoio financeiro.
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Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a
geminivírus e tospovírus
Edinardo Ferraz1; Luciane V. Resende1,2#; Gaus S.A. Lima1,3; Maria Cristina L. Silva1; José Geraldo
Eugênio de França1; Deusdete José da Silva1
1
IPA. Av. Gal. San Martin, 1371, Bongi, 50761-000 Recife-PE; 2UFRPE, Av. Dom. Manoel de Medeiros S/N, Dois Irmãos, 52171-900
Recife-PE; 3CNPq/IPA. E-mail [email protected], [email protected]; #Autor para correspondência.
RESUMO
ABSTRACT
‘Redenção’ é uma cultivar de tomate para processamento industrial, resistente a geminivírus e tospovírus. Foi selecionada por seis
ciclos de seleção, a partir do cruzamento entre o acesso “LA 3473”
e a cultivar Viradoro. O acesso “LA 3473” é portador do gene TY-1
que confere tolerância ao Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV). A
cultivar Viradoro, contendo em sua genealogia IPA-5, possui o gene
Sw-5, oriundo da linhagem TSW-10, que confere resistência a
tospovírus. ‘Redenção’ foi selecionada empregando-se os métodos
bulk e seleção de plantas individuais com controle do pedigree. Apresenta formato de frutos alongados, com peso médio de 110 g, boa
firmeza, coloração de polpa vermelho intenso e uniforme. Em avaliações de campo apresentou produtividade média de 88,9 t/ha, valor
equivalente a híbridos e cultivares do mercado. Espera-se que com
essa nova cultivar, consolide-se a revitalização da cadeia
agroprocessadora do tomate na região do Sub-Médio São Francisco, considerada por suas características edafo-climáticas, como uma
das melhores regiões para cultivo do tomateiro no Brasil.
‘Redenção’: a new tomato cultivar for industry resistant to
tospovirus and geminivirus
Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, melhoramento genético, viroses, resistência.
Keywords: Lycopersicon esculentum, plant breeding, resistance,
viruses.
Redenção is a tomato cultivar for processing, resistant to
tospovirus and geminivirus. It is a result of a six cycle selection
from the cross between access LA 3473 and the cv. Viradoro. The
access LA 3473 has the gene TY-1 that confers tolerance to the Tomato
yellow leaf curly virus (TYLCV). The cultivar Viradoro is a cultivar
with IPA-5 background and has the Sw-5 gene that confers resistance
to tospovirus. Redenção was selected using the bulk and pedigree
selection method. It has elongated fruits, red intense color, firm and
uniform, with an average weight of 110 g. Under field exposition
showed an average yield of 88.9 t/ha equivalent to local hybrids and
commercial cultivars. The authors expect that this new cultivar
consolidate the revitalization of the tomato processing chain in the
Sub medium São Francisco River Region which is considered, due
to the climatic conditions, one of the most proper areas for tomato
cultivation in Brazil.
(Recebido para publicação em 8 de janeiro de 2002 e aceito em 19 de maio de 2003)
D
rásticas mudanças têm ocorrido na
cadeia agroindustrial do tomate em
Pernambuco, em decorrência de problemas estruturais nos setores de produção
e industrialização. A partir do início da
década de 90, observou-se uma acentuada redução da área cultivada, provocada
pela maior oferta de polpa no mercado e
por problemas fitossanitários como a traça-do-tomateiro, tospovírus, e ultimamente, mosca branca e geminivírus (Silva & Giordano, 2000; Melo, 2001).
Dentre os patógenos, o “vira-cabeça do tomateiro”, causado por
tospovírus, apresentava um quadro
epidemiológico bastante severo. Em
1997 as projeções de perdas foram da
ordem de 30% o que correspondia a
84.000 toneladas de frutos que, ao custo médio de US$ 60,00 a tonelada, atin582
gia o montante de perdas na ordem de
US$ 5.000.000. Em parceria com a
Embrapa-Hortaliças, em 1998, o IPA
lançou a cultivar Viradoro resistente ao
“vira-cabeça”. Os geminivírus, transmitidos pela mosca branca (Bemisia tabaci
e B. argentifolii), tornaram-se, então, os
principais fatores limitantes na produção de tomate na região, acarretando, em
algumas áreas, perdas de até 100% (Bezerra et al., 1997). Para os produtores
tornou-se necessário o aumento do número de aplicações de defensivos agrícolas, provocando a elevação nos custos de produção e uma maior contaminação ambiental.
Ações que reduzem a população do
vetor, por tratamento químico ou controle biológico, ou que decrescem a eficiência da transmissão, têm sido usadas
no controle desses patógenos. Entretanto, o uso de cultivares tolerantes ou resistentes é o mais promissor método de
controle dessas viroses.
Para contribuir com a recuperação
desse setor, de grande importância sócio-econômico, foi necessário um
redirecionamento do programa de melhoramento genético do IPA. A partir de
1997, foram feitas várias introduções,
com o objetivo de se identificar fontes
de resistência a isolados de geminivírus
de ocorrência no estado de Pernambuco.
Os primeiros estudos permitiram identificar doze genótipos promissores
(Resende et al., 1998). Alguns desses
genótipos foram selecionados como fonte de resistência e passaram a ser utilizados em programas de melhoramento.
Após cinco anos de pesquisa obteve-se
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Redenção: nova cultivar de tomate para a indústria resistente a geminivírus e tospovírus
Tabela 1. Incidência de plantas infectadas por geminivírus e tospovírus e produtividade de genótipos de tomateiro.Belém de São Francisco,
IPA, 2002.
1
dat – Dias após o transplantio. 2As Plantas foram inoculadas mecanicamente com um isolado de TSWV e com um isolado de GRSV. 3DNA
extraído de plantas cultivadas no campo, sob inoculação natural, foi utilizado como molde em reações de PCR contendo um par de
oligonucleotídeos específico para geminivírus.
uma cultivar para processamento industrial com resistência a geminivírus e
tospovírus.
Origem
A cultivar Redenção foi obtida após
seis ciclos de seleção, a partir do cruzamento entre o acesso LA 3473 e a cultivar Viradoro. Os métodos de melhoramento adotados no programa foram o
bulk e a seleção de plantas individuais
com controle de pedigree. As gerações
foram avançadas no período de 1999 a
2001, efetuando-se, paralelamente, a
seleção de materiais promissores, em
relação à resistência e a características
agronômicas. A cultivar Viradoro é
oriunda do cruzamento entre a linhagem
TSW-10 e a cultivar IPA-5 (Giordano
et al., 2000). “Viradoro” apresenta o
gene dominante Sw-5, que conferem
resistência ao tospovírus. O acesso LA
3473 consiste numa seleção dentro de
populações, proveniente do cruzamento entre L. chilense e L. esculentum com
posterior retrocruzamento para L.
esculentum. Esse acesso é portador do
gene TY-1 que confere tolerância ao
Tomato yellow leaf curl virus (TYLCV)
(Zamir, 1994) e foi cedido pelo “Rick
Tomato Genetics Resource Center”, da
Universidade da Califórnia, Davis. O
gene TY-1 também confere tolerância a
isolados bipartidos de geminivírus presentes no Brasil (Santana et al., 2000).
O processo de avaliação para resistência ao geminivírus e tospovírus ocorreu,
inicialmente, mediante infecção natural
em condições de campo e, posteriormente, por meio de inoculação artificial em
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
casa de vegetação, para tospovírus. Nessa avaliação, o material foi testado para
as duas espécies de tospovírus de maior
ocorrência no estado de Pernambuco:
Tomato Spotted Wilt Virus (TSWV) e
Groundnut Ring Spot Virus (GRSV)
(Lima et al., 2000). Para geminivírus, a
constatação da presença ou ausência de
partículas virais no último ciclo de seleção, se deu por PCR, utilizando-se um par
de oligonucleotídeos, universais, capaz de
direcionar a amplificação de uma região
específica do genoma dos geminivírus
(Rojas et al., 1994).
Em ensaios de campo, realizados nos
municípios de Belém de São Francisco,
Ibimirim e Petrolina, em duas épocas de
plantio, a cultivar Redenção apresentou
produtividade média de 88,9 e 84,5 t/ha;
74,5 e 73,7 t/ha e 88,2 e 85,7 t/ha respectivamente. Essas magnitudes de produtividade são bastante significativas quando
comparadas à produtividade alcançada nas
mesmas condições por outras cultivares,
inclusive híbridos (FERRAZ, E. comunicação pessoal em 2002)
Descrição
‘Redenção’ é cultivar de crescimento determinado, desenvolvida para
processamento industrial. Apresenta frutos com formato alongado, peso médio
de 110 g e número de lóculos variando
entre dois e três. Os frutos possuem boa
firmeza e coloração externa e polpa vermelha intensa e uniforme. A colheita
inicia-se em média de 100 a 110 dias
após a semeadura.
‘Redenção’ possui resistência a
geminivírus e tospovírus (Tabela 1). A
maturação de frutos é uniforme, possibilitando toda a colheita de uma única vez.
Com a oferta desta nova cultivar esperase que a tomaticultura no estado de
Pernambuco, tenha um novo impulso, pois
beneficiará, sobretudo, pequenos produtores, para os quais é inviável a aquisição
de sementes híbridas de alto custo. Com
isso a indústria terá matéria prima para
processamento, vez que a oferta maior do
tomate para processamento provém de
pequenos produtores.
Diante do exposto, verifica-se que
para a consolidação da revitalização da
cadeia agroprocessadora do tomate no
Vale do São Francisco, considerada pela
configuração dos seus recursos naturais,
como uma das melhores regiões de cultivo do tomateiro no Brasil, há necessidade de uma maior integração entre os
setores agrícola e industrial, que permita
a rápida e eficiente difusão da tecnologia
capaz de elevar a produtividade em bases sustentáveis, melhorar a qualidade da
matéria-prima e reduzir custos.
Disponibilidade de sementes
Pequenas quantidades de sementes
poderão ser solicitadas à Empresa
Pernambucana
de
Pesquisa
Agropecuária (IPA) em Recife (PE)
mediante solicitação pessoal, carta, fax
ou e-mail. Quantidades maiores poderão ser adquiridas em breve em lojas
especializadas na comercialização de
sementes ou produtos agropecuários.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Banco do
Nordeste/Fundeci, pelos recursos finan583
E. Ferraz, et al.
ceiros, ao “Rick Tomato Genetics
Resource Center”, ao Departamento de
Agricultura da província de Múrcia,
Espanha, na pessoa do Dr. José Luiz
Cenis, ao Dr. Wilson Roberto Maluf da
UFLA, ao IAC e à Embrapa Hortaliças
pela cessão de algumas fontes de resistência testadas na fase inicial do projeto.
LITERATURA CITADA
BEZERRA, I.C.; LIMA, M.F.; RIBEIRO, S.G.;
GIORDANO, L.B.; ÁVILA, A.C. Occurrence of
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GIORDANO, L.B.; ÁVILA, A.C; CHARCHAR,
J.M.; BOITEUX, L.S.; FERRAZ, E. ‘Viradoro: a
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584
LIMA, M.F.; ÁVILA, A.C.; RESENDE, R.O.;
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Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
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586
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Exemplos:
a) Periódico:
VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage. Journal
of the American Society for Horticulture Science, v. 97, n. 3,
p. 431-432, Mar.1972.
b) Livro:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
c) Capítulo de livro:
ULLSTRUP, A.J. Diseases of corn. In: SPRAGUE, G.F. (Ed.)
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. cap.3, p. 465-536.
d) Tese:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 p. Tese (Mestrado em
Fitopatologia), ESALQ, USP, Piracicaba.
e) Trabalhos apresentados em congressos (quando não
incluídos em periódicos):
HIROCE, R.; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;
FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,
J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,
Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
f) Trabalhos apresentados em congresso, publicados
em revista/CD-ROM:
REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três
modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20,
n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002.
g) Trabalhos apresentados em meio eletrônico:
g1) Periódico:
KELLY, R. Eletronic publishing at APS: Its not just online
journalism. HPS News Online, Los Angeles, nov. 1996.
DIsponível em <http://www.hps.org/hpsnews/19065.html>.
Acesso em 25 nov. 1998.
g2) Trabalhos apresentados em congresso:
SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em
<http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso
em 21 jan. 1997.
Uma cópia da prova tipográfica do manuscrito será enviada
eletronicamente para o autor principal, que deverá fazer as possíveis e necessárias correções e devolvê-la em 48 horas. Correções extensivas do texto do manuscrito, cujo formato e conteúdo já foram aprovados para publicação, não são aceitáveis. Alterações, adições, deleções e edições implicarão novo exame do
manuscrito pela Comissão Editorial. Erros e omissões presentes
no texto da prova tipográfica corrigido e devolvido à Comissão
Editorial são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).
Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
author, second author and so on. Please refer to a recent issue
of HB for more details. The bibliographic references should
be done accordingly to the ABNT norms (NBR 6023, from
2002).
a) Journal:
VAN DER BERG, L.; LENTZ, C.P. Respiratory heat
production of vegetables during refrigerated storage. Journal
of the American Society for Horticultural Science, v. 97, n. 3,
p. 431-432, Mar. 1972.
b) Book:
ALEXOPOULOS, C.J. Introductory mycology. 3. ed. New
York: John Willey, 1979. 632 p.
c) Chapter:
ULLSTRUP, A.J. Disease of corn. In: SPRAGUE, G.J., (Ed.)
Corn and corn improvement. New York: Academic Press,
1955. p. 465-536.
d) Thesis:
SILVA, C. Herança da resistência à murcha de Phytophthora
em pimentão na fase juvenil. 1992. 72 p. Tesis (master in
phytopathology), ESALQ, USP, Piracicaba.
e) Articles from Scientific Events (when not published
in journals):
HIROCE, R; CARVALHO, A.M.; BATAGLIA, O.C.;
FURLANI, P.R.; FURLANI, A.M.C.; SANTOS, R.R.; GALLO,
J.R. Composição mineral de frutos tropicais na colheita. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 4., 1977,
Salvador. Anais... Salvador: SBF, 1977. p. 357-364.
f) Articles from scientific events, publised in refered
jornals:
REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três
modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20,
n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002.
g) Articles publised by eletronic means:
g1) Journal:
REIS, N. V. B. Comparação da evaporação externa com três
modelos de estufas. Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v.20,
n.2, julho 2002. Suplemento 2. CD-ROM. Trabalho apresentado no 42° Congresso Brasileiro de Olericultura, 2002.
g2) Articles from scientific events:
SILVA, R. W.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do
paradigma de qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em
<http://www.propesq.ufpe.br/anais/educ/ce04.htm>. Acesso
em 21 jan. 1997.
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Hortic. bras., v. 21, n. 3, jul.-set. 2003.
Simplesmente Gypsophila
Gypsophila paniculata, herbácea
perene ornamental, produz
inflorescências em forma de
panícula, com numerosas flores pequenas, cujo conjunto aparenta delicada transparência e notável leveza. Os ramos floridos são usados
isoladamente ou como componente em arranjos florais. A planta, originária da Ásia e Europa, pertence
à família Cariophyllaceae. O gênero Gypsophila inclui cerca de 125
espécies, sendo a espécie G.
paniculata a mais cultivada e
comercializada como flor de corte
anual. Para uso em paisagismo, recomenda-se as espécies G. pacifica, G. elegans (de portes maiores),
G. muralis e G. repens (rasteiras).
Destas, somente a G. elegans (flores brancas) e a G. pacifica (flores
rosas) são espécies anuais,
reproduzidas por sementes. As outras são perenes, rasteiras e extremamente rústicas. G. muralis, considerada invasora de solos arenosos e úmidos na Europa, tem as
pétalas rosas com estrias
avermelhadas. G. repens, com flores rosadas e porte mais baixo (<25
cm), é flor de altas altitudes, nativa
dos Alpes e Pireneus e utilizada na
composição de jardins rochosos. G.
paniculata, de 60-90 cm de altura,
é altamente ramificada com folhas
lineares de cor verde acinzentado.
Bristol Fairy é a mais cultivada e
comercializada no Brasil como flor
de corte, possu flor branca de diâmetro pequeno (5-7 mm) e pétalas
duplas. Outras cultivares: Perfecta
(pétalas duplas brancas grandes,
10-13 mm), Flamingo, Pink Fairy
e Red Sea (as três com pétalas
róseas), Golan, Gilboa, Arbel e
Tavor (as quatro com flores brancas de tamanhos diferentes). A produção de flores de Gypsophila é
afetada pela conjugação dos fatores ambientais: comprimento do
dia, temperatura e intensidade luminosa. É planta de dia longo e
necessita de mais que 13 h de luz.
No outono e inverno pode-se aumentar artificialmente o comprimento do dia com lâmpadas de
150-200 W a cada 3 m linear, durante até 8 horas adicionais de forma intermitente 1:2 (10 minutos de
“luz” para 20 minutos de “escuro”)
até o surgimento da cor nos botões
florais. Temperatura média superior a 15°C e alta intensidade luminosa contribuem em maior crescimento e maior produção de flores.
Uma combinação adequada de
temperatura e fotoperíodo é necessária para o crescimento vegetativo,
indução floral, elongação da haste
floral e iniciação floral e formação
floral e florescimento propriamente dito. Pode ser produzido em qualquer época do ano se não ocorrer
baixa temperatura. Temperatura
alta conjugadas com fotoperíodo de
dia longo podem antecipar o ciclo,
mas as flores não terão boa qualidade na apresentação. Como a
temperatura ótima para o desenvolvimento situa-se entre 15 e 20ºC,
temperaturas inferiores a 10ºC (e
dias curtos) favorecem a permanência das plantas em estado vegetativo.
Entretanto, as respostas são varietais:
‘Golan’, ‘Gilboa’, ‘Arbel’ e ‘Tavor’
respondem a dias mais curtos que
‘Perfecta’ e ‘Bristol Fairy,’ sendo
também mais resistentes ao cultivo
a céu aberto. Durante um ano, com
as mesmas plantas, pode-se obter de
2 a 3 ciclos de produção de hastes
florais, sendo o primeiro obtido três
meses após o plantio, com rendimento em torno de 5 a 8 pacotes/
m²/ciclo. Em regiões sem problema
de temperatura baixa a duração do
ciclo é menor e poderá ser cultivado a céu aberto. A planta prefere solos bem drenados e alcalinos, com
pH entre 6,5-7,0. Essa preferência
por solos alcalinos deu origem ao
seu nome (Gypse significa rocha
sedimentar com presença de sulfato
de cálcio hidratado ou “pedra de
gesso”). As mudas podem ser obtidas por estacas, utilizando-se reguladores de crescimento e/ou por sementes. A produção por sementes
resulta em plantas com alta
desuniformidade e de custo elevado, pela dependência da importação.
A técnica da micropropagação é
mais vantajosa e permite a produção de mudas em escala comercial,
livres de doenças e pragas em curto
espaço de tempo. Podem ser obtidas por aprox. U$ 0,20/unidade,
conforme a região. No manejo póscolheita recomenda-se o uso de soluções conservativas e armazenagem sob temperatura amena (câmaras frias), já que a durabilidade
máxima da flor fresca é de duas
semanas. A produção de flores
constitui grande potencial em relação ao agribusiness brasileiro, graças à biodiversidade e à amplitude
de tipos de solo e de clima do Brasil, possibilitando boa diversificação de espécies. O mercado mundial de flores e plantas ornamentais encontra-se em plena expansão.
A Holanda é o maior produtor dominando as exportações;
comercializou em torno de U$ 1,7
bilhões em 1997 apresentando um
crescimento anual de cerca de 5%.
A União Européia é ao mesmo tempo, a maior produtora e a maior
consumidora de produtos deste setor. Em 1999, o grupo de flores de
corte continuava sendo o mais
comercializado (46,8% do total),
seguido pelas plantas vivas (39%),
as folhagens (7,8%) e os bulbos
(6,4%). Esses dados referem-se às
importações, onde Kênia participou
com 25%, Israel com 20%, Colômbia com 17%, Equador com 11%,
Zimbawe com 9% e outros países
com 18%. As exportações européias desses grupos de plantas ornamentais seguem esta mesma tendência, sendo que a Holanda é responsável por 89% do total exportado e seu maior cliente é a própria
União Européia (com 83%). Neste
contexto, a Gypsophila paniculata
garante 2,5-3,0% desse total. Em
1999, ela encontrava-se em 9° lugar no ranking das 10 flores mais
vendidas (com 43,6 mil Euros ou
2,88% do total) e em 2000, caiu
para a 10a posição (42,5 mil Euros
e 2,54% do total) tendo sido ultrapassada pela alstroemeria. Como o
forte mercado europeu sugere as
tendências atuais mundiais, mostrase interessante acompanhar a
flutuação
das
espécies
comercializadas. Entretanto, mesmo
se os europeus buscam novidades
constantemente, a Gypsophila continua tendo sua participação garantida como uma espécie “reserva de
capital” pois não é de cultivo tão
exigente (comparada com outras espécies) e supera modismos pela possibilidade de integrar-se perfeitamente em qualquer composição floral. No Brasil, a Gypsophila é considerada uma das principais flores
de corte, sendo apontada como o terceiro produto mais comercializado
na CEAGESP e continua na lista dos
dez mais vendidos no Veiling da
Holambra. De acordo com dados da
IBRAFLOR os Estados brasileiros
maiores produtores são Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que São Paulo
movimenta cerca de 70% da produção nacional de flores. No Rio Grande do Sul, nos meses com datas de
elevado consumo como o Dia das
Mães, dos Namorados e Finados,
alguns autores relatam que chegam
ao Estado mais de quinhentas toneladas de rosas e mosquitinhos. Levantamento feitos no Estado apontam que a área cultivada com flores
passou de 304 ha em 1996 para 609
em 2000. A produção estadual abastece 40% da demanda sendo o Estado auto-suficiente apenas em culturas como begônia, amor perfeito e
forração de jardins. Existem 561
produtores localizados em municípios como Santa Cruz do Sul, Litoral Norte e Vale do Caí (Pareci Novo,
Portão, São Sebastião e Capela de
Santana). Para 32% dos produtores
a floricultura é a única fonte de renda num setor que gera empregos
para 2,4 mil pessoas. Especificamente em Passo Fundo, no Planalto
Médio Gaúcho, as floriculturas importam flores, sobretudo de São Paulo, pois os produtores locais não
atendem à demanda, acarretando um
aumento do custo final do produto
ao consumidor. Como todo Rio
Grande do Sul, os produtores desta
região, interessados na cultura da
Gypsophila, ressentem as maiores
dificuldades no cultivo e produção
desta espécie principalmente pelo
difícil acesso a mudas de boa qualidade. Em função dessa demanda,
visando atender às necessidades regionais, o Laboratório de
Biotecnologia Vegetal da Universidade de Passo Fundo iniciou em
1996 um programa de produção de
mudas através da micropropagação.
Atualmente, este laboratório regional está produzindo em escala comercial cerca de 4.000 mudas/ano,
implicando em redução do custo ao
produtor e evitando a entrada de
mudas infestadas na região. Neste
número da Horticultura Brasileira temos a oportunidade de publicar um
artigo científico sobre a produção de
mudas de Gypsophila paniculata cv.
Bristol Fairy por meio da técnica de
micropropagação, onde o leitor poderá obter outras informações sobre
esta cultura tão interessante.
(Eunice O. Calvete & Cláudia
Petry; FAMV da Universidade
de Passo Fundo, RS; E-mail:
[email protected];
[email protected]).
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