santos_ncc_tcc_sjc.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
CAMPUS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
FACULDADE DE ODONTOLOGIA
NÍDIA CRISTINA CASTRO DOS SANTOS
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: anatomia,
dinâmica e disfunções temporomandibulares.
2010
NÍDIA CRISTINA CASTRO DOS SANTOS
ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: anatomia,
dinâmica e disfunções temporomandibulares.
Monografia apresentada à Faculdade de Odontologia de São José dos
Campos, UNESP - Univ Estadual Paulista, como parte das exigências
para obtenção do grau de CIRURGIÃO-DENTISTA.
Orientador: Prof. Dra. Simone Helena Gonçalves Oliveira
São José dos Campos
2010
Apresentação gráfica e normalização de acordo com:
Alvarez S, Coelho DCAG, Couto RAO, Durante APM. Guia prático para
normalização de Trabalhos Acadêmicos da FOSJC. São José dos
Campos: FOSJC/UNESP; 2008
S59a
Santos, Nídia Cristina Castro dos.
Articulação temporomandibular: anatomia,dinâmica e disfunções
temporomandibulares / Nídia Cristina Castro dos Santos . __ São José dos
Campos: [s.n.], 2010.
53f. : il.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Odontologia
de São Jose dos Campos, Universidade Estadual Paulista, 2010.
Orientador: Profa. Simone Helena Gonçalves Oliveira
1. Articulação temporomandibular. 2. Movimentos mandibulares. 3.
Disfunção temporomandibular I. Oliveira, Simone Helena Gonçalves. II.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Odontologia de São José dos
Campos. IV. Título
D723
Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – UNESP
AUTORIZAÇÃO
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho,
por qualquer meio convencional ou eletrônico, desde que citada a
fonte.
São José dos Campos, 6 de Outubro de 2010.
Assinatura :
E-mail:
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Simone Helena Gonçalves Oliveira (Orientadora)
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos
UNESP - Univ Estadual Paulista
Profa. Dra. Marianne Spalding
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos
UNESP - Univ Estadual Paulista
Profa. Dra. Samira Esteves Afonso Camargo
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos
UNESP- Univ Estadual Paulista
São José dos Campos, 06 de Outubro de 2010.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Mary das Graças Castro Santos e
Claudio Pereira dos Santos, pelo amor, fé e dedicação.
Ao meu filho, Bernardo dos Santos d`Ávila, pela
motivação, carinho e compreensão.
À minha avó, Maria Christina Close, pelo exemplo de
vida.
Ao meu namorado, João Gustavo Di Salvio Teixeira,
pelo amor e amizade que compartilhamos.
À minha irmã, Beatriz Castro dos Santos, pelos
momentos de alegria.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
na pessoa do diretor da Faculdade de Odontologia de São
José dos Campos, Prof. José Roberto Rodrigues e do vicediretor Prof. Carlos Augusto Pavanelli.
Aos docentes do curso de Graduação em Odontologia.
À Profa. Dra. Simone Helena Gonçalves Oliveira, pela
paciência e dedicação.
À Profa. Dra. Suely Carvalho Mutti Naressi, pelo carinho e
orientação.
Ao Prof. Dr. Nelson Luiz de Macedo, pela atenção e
amizade.
Ao Prof. Dr. Wagner de Oliveira, pelo ensino e motivação.
“Science is nothing but perception.”
Platão
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................9
LISTA DE FIGURAS.......................................................................10
LISTA DE QUADROS E TABELAS..............................................11
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS......................................12
1 INTRODUÇÃO..............................................................................13
2 PROPOSIÇÃO...............................................................................15
3 REVISÃO DE LITERATURA.....................................................16
3.1 Anatomia......................................................................................16
3.1.1 Bases ósseas...............................................................................15
3.1.1.1 Fossa mandibular.....................................................................17
3.1.1.2 Eminência articular.................................................................18
3.1.1.3 Processo retroarticular.............................................................20
3.1.1.4 Cabeça da mandíbula.............................................................21
3.1.2 Revestimento das faces articulares.............................................22
3.1.3 Disco articular............................................................................23
3.1.4 Cápsula articular.......................................................................24
3.1.5
Líquido Sinovial......................................................................25
3.1.6 Ligamento temporomandibular................................................26
3.1.7
Ligamentos acessórios............................................................27
3.1.8 Vasos e Nervos.........................................................................28
3.1.9 Dentes e Periodonto.................................................................29
3.1.10 Componentes Musculares......................................................34
3.2 Movimentos mandibulares.........................................................33
3.3 Disfunção Temporomandibular.................................................39
4 DISCUSSÃO...................................................................................51
5 CONCLUSÃO................................................................................53
6 REFERÊNCIAS.............................................................................54
ABSTRACT.......................................................................................58
Santos NC. Articulação temporomandibular: anatomia, dinâmica e
disfunções temporomandibulares [monografia]. São José dos Campos:
Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, UNESP – Univ
Estadual Paulista; 2010.
RESUMO
O presente estudo reuniu alguns dos mais relevantes trabalhos já
realizados a respeito da articulação temporomandibular, apresentando
descrições de sua anatomia e dinâmica, e relacionando-as com os
principais aspectos das disfunções articulares. A literatura reconhece
que a articulação temporomandibular, responsável pelos movimentos
mandibulares, é compreendida pela base do crânio e osso da
mandíbula. Sua anatomia e dinâmica são de grande importância para a
compreensão das funções do sistema estomatognático, bem como para
o estudo das disfunções temporomandibulares. Os elementos que
compõem esta articulação sinovial e sua característica de
bilateralidade conferem à ATM grande importância perante o
esqueleto cefálico, capacidade de realização de amplos movimentos e
alta complexidade em seu funcionamento. É aceito que a sobrecarga
de uma de suas estruturas anatômicas ou de outros componentes do
sistema estomatognático leva às disfunções temporomandibulares.
Estas disfunções possuem diferentes etiologias, abrangendo desde má
oclusão a estresse emocional, e diversas formas de tratamento, os
quais são relacionados neste estudo.
Palavras-chave: Articulação temporomandibular.
mandibulares. Disfunção temporomandibular.
Movimentos
Santos NC. Temporomandibular Joint. São José dos Campos: School
of Dentistry of São José dos Campos. UNESP – Univ Estadual
Paulista; 2010.
ABSTRACT
This study gathered some of the most relevant researches already
undertaken regarding the Temporomandibular Joint, presenting
descriptions of its anatomy and dynamics, and relating them to the main
aspects of joint dysfunctions. Literature recognizes that the
Temporomandibular Joint, responsible for lower jaw movements,
comprehends the skull base and the jaw bone. Its anatomy and dynamics
are of great importance in order to understand the functions of
Stomatognathic System as well as to study Temporomandibular Joint
Dysfunction. The elements that compose this synovial joint and the
bilateral characteristic confer eminent importance to the ATM before the
skeleton head, the ability to perform broad movements and high
complexity in its operation. It is accepted that the overload of one
anatomical structure from the TMJ or other components of the
Stomatognathic System leads to Temporomandibular Joint Dysfunctions.
These disorders have different etiologies, ranging from malocclusion to
emotional stress, and various forms of treatment, which are related in this
study.
Keywords: Temporomandibular Joint.
Temporomandibular Joint Dysfunction.
Lower
jaw
movements.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Bases ósseas da ATM........................................ 17
Figura 2 -
Revestimento das superfícies articulares
em diferentes densidades...................................... 21
Figura 3 -
Disco articular da ATM....................................... 23
Figura 4 -
Fixação do disco articular da ATM .................... 23
Figura 5 -
Fixação do disco com a cabeça superior do
músculo pterigóideo lateral.................................. 24
Figura 6 -
Coxim retrodiscal................................................. 25
Figura 7 -
Articulação em função mostrando o
deslocamento antero-posterior do disco
articular............................................................... 26
Figura 8 -
Cápsula da ATM................................................ 27
Figura 9 -
Ligamento temporomandibular.......................... 29
Figura 10 -
Ligamento estilomandibular e
esfenomandibular................................................ 31
Figura 11 -
Componentes do SE............................................ 42
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATM = Articulação Temporomandibular
DTM = Disfunção Temporomandibular
DTMs = Disfunções Temporomandibulares
SE = Sistema Estomatognático
SNC = Sistema Nervoso Central
SNS = Sistema Nervoso Simpático
1 INTRODUÇÃO
A Articulação Temporomandibular (ATM) é a articulação
que permite a movimentação do osso da mandíbula em relação ao
crânio. Movimentos realizados para abertura e fechamento da boca,
por exemplo, são dependentes desta articulação. Deste modo, funções
vitais como a mastigação, a deglutição e a fonação são possíveis
devido ao conjunto de elementos que constituem a ATM.
A ATM é uma articulação sinovial. Articulação sinovial
tem por definição a presença da sinóvia ou líquido sinovial. Este
possibilita à articulação a realização de amplos movimentos em
diferentes eixos. A composição anatômica da articulação sinovial é
feita invariavelmente por: peças ósseas, cartilagem articular, cápsula
articular e cavidade articular. As duas últimas relacionam-se com o
líquido sinovial produzindo-o e contendo-o, respectivamente. Outros
elementos que estão eventualmente presentes em uma articulação
sinovial são o disco ou o menisco articular e os ligamentos extra e
intracapsulares. Na ATM, ambos estão presentes: o disco articular, o
ligamento temporomandibular e os ligamentos acessórios (Rizzolo;
Madeira, 2006).
14
Outra característica particular da ATM é ser uma
articulação bilateral. O osso da mandíbula, único, possui duas
extremidades que se articulam com dois ossos homólogos, o osso
temporal do lado direito e do lado esquerdo do crânio. Assim, a ATM
possui duas articulações que atuam concomitantemente, com os
mesmos movimentos ou não, dependendo da finalidade de seu
funcionamento.
Os elementos presentes na ATM, bem como os demais
componentes do Sistema Estomatognático (SE), possuem uma íntima
ligação fisiológica e esta ligação é mediada pelo Sistema Nervoso
Central (SNC). Isto significa que qualquer modificação ocorrida em
um dos componentes do SE terá uma resposta do SNC, o que, por sua
vez, levará a uma modificação em outro componente do SE (Oliveira,
2002).
A resposta gerada em função da ATM ou sobre a ATM
chamamos de Disfunção Temporomandibular (DTM). DTMs são um
conjunto de resultados do mau funcionamento do SE decorrentes de
diferentes fatores etiológicos, predisponentes e perpetuantes.
Trata-se, portanto, de um assunto multidisciplinar, com
diversas vertentes e diferentes abordagens. O objetivo deste trabalho
foi reunir alguns dos mais relevantes trabalhos que precederam este
estudo e apresenta-los em três capítulos: Anatomia, Movimentos
mandibulares e Disfunção Temporomandibular.
2 PROPOSIÇÃO
Este trabalho tem como proposição a reunião de
informações obtidas em livros e pesquisas que precederam este estudo
a respeito da ATM e das disfunções que ocorrem quando há falta de
harmonia no SE.
Primeiramente
serão
apresentados
os
componentes
anatômicos da ATM, bem como sua descrição e posicionamento em
relação aos demais elementos constituintes da face e do crânio. O
segundo capítulo será dedicado à descrição dos movimentos
mandibulares, enfatizando a participação de músculos e articulação.
Posteriormente serão relacionadas as DTMs mais prevalentes na
população,
suas
possíveis
etiologias
e
algumas
abordagens
terapêuticas que têm sido utilizadas por profissionais da Odontologia
na tentativa de reduzir a sintomatologia ou remover a causa de DTMs.
3 REVISÃO DE LITERATURA
A elaboração desta revisão de literatura teve como
objetivo abordar alguns dos mais relevantes trabalhos que precederam
este estudo, os quais serão apresentados em três tópicos que versarão
sobre a anatomia, a dinâmica e as disfunções referentes à Articulação
Temporomandibular.
3.1 Anatomia
3.1.1 Bases ósseas
As bases ósseas que compõem o sistema estomatognático
são o crânio e a mandíbula. As faces articulares ósseas que fazem
parte da articulação temporomandibular (ATM) são a fossa
mandibular e a vertente posterior da eminência articular, situados no
osso temporal, constituinte do neurocrânio, e a vertente anterior da
cabeça da mandíbula, um dos ossos que constitui o viscerocrânio
(Rizzolo; Madeira, 2006) (Figura 1).
17
1
3
2
4
Figura 1 – Bases ósseas da ATM - (1) Fossa mandibular (2) Eminência articular
(3) Processo retroarticular (4) Cabeça da madíbula
18
3.1.1.1 Fossa mandibular
A fossa mandibular é uma escavação elíptica transversal
que está presente na parte escamosa do osso temporal e recebe este
nome por articular-se com a cabeça da mandíbula. Ela é delimitada
anteriormente pela eminência articular, posteriormente pela fissura
petrotimpânica,
medialmente
pela
espinha
do
esfenóide,
e
lateralmente pelos turbérculos zigomáticos anterior e posterior
(Rizzolo; Madeira, 2006).
3.1.1.2 Eminência articular
Ainda na parte escamosa do temporal observamos a
eminência articular, que é uma saliência óssea paralela à fossa
mandibular. Podemos descrevê-la como um relevo transversal com
uma vertente anterior e uma posterior. Sua vertente posterior inclinase em direção à fossa mandibular (Rizzolo; Madeira, 2006).
3.1.1.3 Processo retroarticular
19
O côndilo também se relaciona com o osso temporal no
processo retroarticular. Este acidente anatômico, localizado atrás da
fossa mandibular e à frente do poro acústico externo, limita os
movimentos realizados pelo côndilo na direção posterior (Rizzolo;
Madeira, 2006).
3.1.1.4 Cabeça da mandíbula
Sob uma vista lateral da mandíbula, podemos observar
que na parte superior do ramo da mandíbula encontramos dois
processos: um mais posterior, o processo condilar, e um mais anterior,
o processo coronóide. Eles são separados pela incisura da mandíbula
que forma uma borda côncava. O processo condilar é composto por
um estreitamento chamado colo da mandíbula e uma saliência robusta,
a cabeça da mandíbula.
A cabeça da mandíbula, ou côndilo, é uma estrutura
convexa nos sentidos ântero-posterior e látero-lateral, porém
acentuadamente no sentido ântero-posterior
(Rizzolo; Madeira,
2006).
A fossa mandibular, a eminência e o processo
retroarticular atuam como trilhos nas relações intermaxilares e nos
movimentos mandibulares. Estas estruturas compõem o denominado
determinante fixo da oclusão (Anderson; Schulte; Arnold, 1987).
20
Estas três superfícies ósseas, fossa mandibular, eminência
articular e cabeça da mandíbula, participam da articulação
temporomandibular (ATM), que é responsável pelos movimentos
mandibulares juntamente com os músculos da mastigação.
3.1.2 Revestimento das faces articulares
As faces articulares da ATM são recobertas por tecido
conjuntivo denso modelado e não por cartilagem hialina, como nas
outras articulações sinoviais.
O tecido conjuntivo que reveste a cabeça da mandíbula
possui fibras colágenas orientadas paralelamente à superfície
(Blackwood, 1976), e fibroblastos com aspecto de condrócitos
(fibrocondrócitos) (Katchburian; Arana, 1999). Abaixo desta camada,
há uma zona proliferativa com células mesenquimais indiferenciadas.
Subjacente encontra-se a zona de cartilagem fibrosa e a superfície
óssea (Oliveira, 2002). As células mesenquimais podem se diferenciar
em fibroblastos, que podem produzir fibras colágenas ou cartilagíneas
de acordo com a necessidade do organismo frente a uma disfunção
temporomandibular.
A fossa articular é revestida por tecido conjuntivo denso
com fibras colágenas dispostas paralelamente à superfície óssea
(Blackwood, 1976). Apresenta zona proliferativa descontínua e
fibrocartilagem delgada que reveste o tecido ósseo (Oliveira, 2002).
21
A nutrição das fibras colágenas é realizada pelo líquido
sinovial, e a nutrição da fibrocartilagem, pelos vasos presentes no
tecido ósseo.
Nas áreas funcionalmente mais importantes, ou seja, nos
locais de maior impacto da articulação, a cartilagem fibrosa se torna
mais espessa. Estes locais correspondem à vertente anterior da cabeça
da mandíbula e à vertente posterior da eminência articular. Nas
demais áreas, a cartilagem é mais delgada, especialmente no fundo da
fossa mandibular (Rizzolo; Madeira, 2006) (Figura 2).
Figura 2 - Revestimento das superfícies articulares em diferentes densidades.
Posteriormente ao disco encontra-se a zona bilaminar. A
lâmina superior, vascularizada e inervada, é formada por tecido
colágeno elástico e tem a função de nutrir a membrana sinovial. A
lâmina inferior possui fibras colágenas (tecido conjuntivo denso) que
se unem à cápsula e se inserem no colo do côndilo (Tencate, 1998).
Sua atuação é como a de um ligamento.
22
3.1.3 Disco articular
As faces articulares da ATM são discrepantes. Assim, é
necessário que o disco articular se coloque entre elas para que o
movimento da mandíbula seja suave (Rizzolo; Madeira, 2002). O
disco infradiscal (Oliveira, 2002). Sem o disco articular, ou com má
função dele, a ATM não trabalha adequadamente.
O disco é uma placa fibrocartilaginosa que se situa sobre
a cabeça da mandíbula, como se fosse um boné. A porção central do
disco é mais delgada que a porção anterior e posterior, podendo ser
comparado com uma lente bicôncava. A extensão anterior do boné
corresponde à parte anterior do disco, esta excede os limites do
côndilo e se coloca em contato com a eminência articular (Rizzolo;
Madeira, 2006) (Figura 3).
23
Figura 3 - Disco articular da ATM.
O disco não se prende em nenhuma área do temporal,
mas se insere fortemente na cabeça da mandíbula por meio de um
tecido ligamentoso nos pólos medial e lateral. A inserção desses
ligamentos faz com que o disco acompanhe a cabeça da mandíbula
durante os movimentos de translação, mas permitem movimentos de
rotação sem que o disco se mova (Oliveira, 2002) (Figura 4).
Figura 4 - Fixação do disco articular da ATM.
24
O disco articular divide-se em três regiões denominadas
bandas: anterior, central e porterior. A banda anterior, com
aproximadamente 2 mm de espessura (Schroeder, 1991), é formada
por tecido conjuntivo denso com fibras colágenas tipo I e II
fortemente compactadas e entrelaçadas em diversas direções (Mills;
Fiandaca; Scapino, 1994). A banda central possui cerca de 1 mm de
espessura, e a posterior, 3 mm de espessura (Figura 5).
Anteriormente, além de se fusionar com a cápsula
articular, o disco mantém contato com fibras da cabeça superior do
músculo pterigóideo lateral (Rizzolo; Madeira, 2006).
Figura 5 - Fixação do disco com o a cabeça superior do músculo pterigóideo lateral.
Na porção posterior, a ligação entre disco e cápsula é
intermediada pelo coxim retrodiscal, uma camada bem vascularizada
e inervada de tecido conjuntivo frouxo, com fibras elásticas, e também
fonte de fluido sinovial, por ser recoberta por membrana sinovial
(Oliveira, 2002) (Figura 6).
25
Figura 6 - Coxim retrodiscal.
As fibras periféricas do disco articular estão dispostas de
maneira concêntrica, enquanto as fibras centrais têm disposição
ântero-posterior. As primeiras previnem o achatamento e o
alargamento das suas dimensões, e as demais facilitam o deslizamento
ântero-posterior do disco (Rizzolo; Madeira, 2006) (Figura 7).
26
Figura 7 - Articulação em função mostrando o deslocamento ântero-posterior do
disco articular. (Fonte: Netter FH. Atlas de Anatomia Humana. 2ª. Edição. Porto
Alegre: Editora Artmed; 1997.)
3.1.4 Cápsula articular
A ATM é circundada por uma cápsula de tecido
conjuntivo denso. Esta permite amplos movimentos da mandíbula e
veda hermeticamente a articulação. A cápsula prende-se acima nos
limites da face articular do temporal, descrevendo um círculo, e
abaixo, no colo da mandíbula, sendo mais baixa posteriormente do
que anteriormente (Rizzolo; Madeira, 2006).
27
A cápsula é composta por uma membrana interna
(membrana sinovial) e uma externa (membrana fibrosa) (Griffin;
Sharp, 1960).
A membrana sinovial reveste a cápsula articular
internamente nos compartimentos supradiscal e infradiscal, e estendese em cima e embaixo do coxim retrodiscal. Tem por função produzir
o líquido sinovial (Bhaskar, 1991; Provenza, 1988; Tencate; 1998).
A membrana fibrosa compõe a parte externa da cápsula
conferindo-lhe resistência. Nesta membrana está inserido o ligamento
lateral ou temporomandibular (Figura 8).
Figura 8 - Cápsula da ATM.
A cápsula articular é bem inervada, com inervação
sensitiva incluindo principalmente a proprioceptiva. Relaciona-se com
os nervos aurículo temporal, massetérico e temporal profundo
posterior (Rizzolo; Madeira, 2006).
28
A cápsula também é bastante vascularizada. Estende-se até a
periferia do disco articular e à membrana sinovial. Recebe suprimento
sanguíneo da artéria temporal superficial e da artéria timpânica
anterior, para os tecidos retrodiscais (Rizzolo; Madeira, 2006).
3.1.6
Líquido Sinovial
Produzido pela membrana sinovial que reveste a cápsula
internamente, é um líquido viscoso nutritivo e lubrificante. A sinóvia
consiste em uma solução aquosa de sais retirados do sangue, glicose e
pequenas quantidades de proteína que penetra e nutre as
fibrocartilagens.
Também
possui
ácido
hialurônico,
que
dá
viscosidade ao líquido, diminuindo a fricção e facilitando os
movimentos (Rizzolo; Madeira, 2006). O líquido sinovial é um
eficiente lubrificante das articulações, reduzindo a erosão, e é também
responsável pela nutrição das superfícies não vascularizadas (Oliveira,
2002).
29
3.1.6 Ligamento temporomandibular
O ligamento temporomandibular é o único ligamento
verdadeiro da ATM. Cobre quase toda a superfície lateral da cápsula e
é contínuo a ela.
Acima se insere em uma longa linha no processo
zigomático do temporal e na eminência articular até as imediações do
processo retroarticular. Suas fibras então convergem para baixo e para
trás para inserirem-se abaixo do colo da mandíbula em uma pequena
área logo abaixo da inserção do disco articular, formando um
triângulo e deixando descoberta uma pequena porção da cápsula
(Rizzolo; Madeira, 2006) (Figura 9).
Figura 9: Ligamento temporomandibular.
Possui uma porção de fibras oblíquas superficiais e uma
porção horizontal de fibras profundas. As fibras oblíquas agem como
estabilizadoras na translação, e as fibras horizontais limitam os
30
movimentos retrusivos da mandíbula para evitar a compressão de
estruturas localizadas atrás do côndilo da mandíbula.
Atua,
portanto,
estabelecendo
o
movimento-limite
posterior da cabeça da mandíbula e do disco, principalmente em
desdentados posteriores, nos quais faltam intercuspidação de dentes
para ancoragem da posição condilar.
É formado por tecido conjuntivo colagenoso, nãoelástico,
não-contrátil.
Assim,
age
de
forma
passiva,
não
movimentando a ATM como uma ação muscular faria (Rizzolo;
Madeira, 2006).
3.1.8
Ligamentos acessórios
São ligamentos que dão suporte ligamentoso adicional à
ATM, apesar de estarem distantes dela e não terem influência sobre
seus movimentos. Eles são o ligamento esfenomandibular, que vai da
espinha do esfenóide à língula da mandíbula, e o ligamento
estilomandibular, que vai do processo estilóide ao ângulo da
mandíbula (Rizzolo; Madeira, 2006) (Figura 10).
31
Figura 10 - Ligamentos estilomandibular e esfenomandibular.
3.1.8 Vasos e Nervos
A vascularização da ATM é proveniente de ramos que se
originam da artéria maxilar e da artéria temporal superficial, que, por
sua vez, se originam da artéria carótida externa.
Estes ramos são: artéria auricular profunda, meníngea
média, temporal posterior, auricular posterior e occipital (Rizzolo;
Madeira, 2006).
A inervação da ATM é proveniente do nervo trigêmio. Os
principais ramos são: auriculotemporal, massetérico, temporal
profundo e pterigóideos (Rizzolo; Madeira, 2006).
32
3.1.9 Dentes e Periodonto
Os dentes recebem e transmitem ao periodonto as forças
provenientes da mastigação. Na membrana periodontal encontram-se
terminais nervosos, chamados proprioceptores, que são responsáveis
por transmitir a sensação de localização espacial. Estes terminais são
extremamente sensíveis e de alta velocidade de transmissão. Cada
informação aferente dos proprioceptores pode gerar uma resposta
eferente do Sistema Nervoso Central (SNC) (Oliveira, 2002).
3.1.11 Componentes Musculares
Os músculos são responsáveis pela motricidade da
mandíbula. Toda a informação eferente do SNC é transmitida a eles e
a compreensão de suas funções é fundamental para o entendimento
dos processos fisiológicos e fisiopatológicos que ocorrem com a ATM
(Oliveira, 2002).
Os músculos da mastigação podem ser subdivididos em
abaixadores (cabeça inferior e superior do pterigóideo lateral,
digástrico, e os relacionados à fixação e elevação do osso hióide) e
elevadores da mandíbula (masseter, pterigóideo medial, temporal)
(Rizzolo; Madeira, 2006).
33
3.2 Movimentos Mandibulares
3.2.1
Elevação da Mandíbula
São considerados músculos elevadores da mandíbula os
músculos masseter, pterigóideo medial, temporal.
O músculo masseter está intimamente relacionado à
função de mastigação. A disposição de suas fibras faz com que seja
um dos principais músculos relacionados à potência mastigatória.
Possui uma porção profunda e uma superficial. Sua origem encontrase na borda inferior e medial do osso zigomático (porção profunda) e
do arco zigomático (porção superficial), e sua inserção na
tuberosidade massetérica localizada nos 2/3 inferiores da face lateral
do ramos da mandíbula, criando uma inclinação póstero-anterior. O
feixe profundo do músculo masseter tem uma inclinação tem
disposição mais verticalizada, enquanto o feixe superficial, mais
robusto, tem inclinação póstero-anterior (Rizzolo; Madeira, 2006).
Quando este músculo se contrai, a mandíbula é elevada para cima e
para frente, fazendo com que o côndilo assuma uma posição de
máxima capacidade de absorção de forças em relação ao disco e à
fossa articular (Oliveira, 2002). A inserção do músculo masseter
ocorre posteriormente ao segundo molar, o que é bastante relevante
quando analisamos a articulação durante a mastigação, sendo o fulcro
34
mantido no côndilo. Portanto, esta seria uma alavanca de 3º grau, com
o fulcro interposto entre a potência e a interferência, ideal para o bom
funcionamento da ATM.
O músculo pterigóideo medial tem sua origem na fossa
pterigóidea localizada no processo pterigóide, e sua inserção na
tuberosidade pterigóidea localizada nos 2/3 o ângulo interno da
mandíbula. A disposição de seus feixes é similar ao do músculo
masseter, entretanto sua inserção localiza-se mais medialmente,
originando um componente de forças de baixo para cima e de lateral
para medial, proporcionando uma estabilização ainda maior do
côndilo de trabalho durante a mastigação (Rizzolo; Madeira, 2006).
O músculo temporal tem origem no osso temporal (linha
temporal inferior) e na superfície medial da fáscia temporal. Sua
inserção está no processo coronóide (crista temporal) e na borda
anterior do ramos da mandíbula (Rizzolo; Madeira, 2006). Possui
feixe anterior, médio e posterior, formando um leque que recobre o
osso temporal. Sua fáscia, fibrosa, bem definida e aderida ao músculo,
faz com que a forma do músculo seja mantida quando este se contrai,
permitindo adequada função. Principalmente devido ao feixe
posterior, a contração do músculo temporal gera um movimento de
retropropulsão da mandíbula, direcionando-a para cima e para trás. As
porções anterior e média são basicamente elevadoras da mandíbula
sem o componente retrusor.
35
3.2.2 Protrusão e Lateralidade da Mandíbula
O músculo pterigóideo lateral possui duas cabeças com o
direcionamento de suas fibras no sentido horizontal. São os únicos
músculos da mastigação que relacionam-se diretamente com a
articulação temporomandibular. Possuem origens em locais distintos,
cabeça superior na superfície infratemporal da asa maior do esfenóide
e a cabeça inferior na face lateral da lâmina lateral do processo
pterigóide. Ambas as cabeças vão em direção à fóvea pterigóidea no
côndilo mandibular onde tem sua inserção. Algumas fibras da cabeça
superior se inserem na margem anterior do disco e da cápsula articular
(Mahan et al., 1999; Rizzolo; Madeira, 2006).
A contração bilateral destes músculos traz o mento para
frente realizando a protrusão da mandíbula. Quando este movimento
ocorre, os dentes são tirados da posição de oclusão central abaixandose ligeiramente a mandíbula. Então, esta é projetada para frente, com
o côndilo e o disco saindo da fossa mandibular e deslizando-se sobre a
vertente posterior da eminência articular (Rizzolo; Madeira, 2006). Os
músculos pterigóideos laterais são os responsáveis pela protrusão
simétrica da mandíbula. Entretanto, os músculos elevadores atuam
como coadjuvantes desse movimento, com o objetivo de manter a
mandíbula elevada enquanto ela se desloca para frente. O músculo
masseter contribui para a projeção anterior da mandíbula. Os feixes
anteriores do músculo temporal contraem-se na abertura máxima, e
seus feixes posteriores contraem-se na retrusão da mandíbula. O
36
músculo pterigóideo medial age em conjunto com o masseter na
protrusão da mandíbula.
O feixe do músculo pterigóideo lateral que se insere no
disco articular proporciona a ele uma estabilização durante os
movimentos de protrusão e retrusão da mandíbula. Acredita-se que o
músculo pterigóideo lateral traciona não só o côndilo, como também o
disco articular durante os movimentos de protrusão e retrusão da
mandíbula (Rizzolo; Madeira, 2006).
A lateralidade da mandíbula pode também ser chamada
de movimento de protrusão assimétrico. Durante a contração do
músculo pterigóideo lateral direito temos a lateralidade do lado
esquerdo e vice-versa. Um dos côndilos sai da fossa articular,
deslizando-se sobre a vertente posterior da eminência articular, sob a
contração unilateral do músculo pterigóideo lateral, enquanto o
côndilo do lado oposto rotaciona e se move em um percurso menor
para o mesmo lado do movimento (movimento de Bennett). Ao
retornar para a posição de repouso, o côndilo percorre a mesma via
sob a ação do músculo digástrico e das fibras posteriores do músculo
temporal.
3.2.3 Abaixamento da Mandíbula
O movimento de abaixamento da mandíbula só é
realizado quando temos a ação de dois ou mais músculos. Para que o
37
movimento se efetue temos a ação do músculo pterigóideo lateral
(protrusor da mandíbula) e de músculos retrusores da mandíbula, com
a ação bastante intensa do músculo digástrico. Se estes músculos
estivessem situados no mesmo plano horizontal teríamos a anulação
do movimento, porém estão localizados em planos bastante diferentes,
assim os músculos pterigóideos laterais puxam os côndilos
mandibulares para frente e o digástrico puxa o mento para trás
realizando uma rotação e consequentemente a abertura da boca
(Rizzolo; Madeira, 2006).
3.2.4 Posição de repouso
A posição de repouso da mandíbula, os músculos
mandibulares estão em contração mínima, contraídos apenas o
suficiente para manter a postura. Os dentes superiores e inferiores não
estão em contato e o espaço entre eles é chamado espaço livre ou
interoclusal. Há certos fatores que podem interferir na constância
desta posição como, por exemplo, a dor, o estresse físico e emocional
e a postura (Rizzolo; Madeira, 2006). A posição de repouso é
importante para o descanso muscular e alívio das estruturas de suporte
dental. A partir da posição de repouso, a mandíbula pode ser elevada
até o contato máximo dos dentes inferiores com os superiores. Ela
fica, assim, na chamada posição de oclusão central, que é a posição de
maior número de contatos entre os dentes. É despendido esforço para
38
manter os maxilares fechados nessa posição por algum tempo, pois os
músculos elevadores da mandíbula devem permanecer contraídos.
3.3 Disfunção Temporomandibular
A Disfunção Temporomandibular (DTM) consiste em
problemas clínicos articulares e musculares que ocorrem na região
orofacial. Devido à sua localização e ao envolvimento com os
músculos da mastigação, o diagnóstico e tratamento destas desordens
são de responsabilidade do cirurgião-dentista (Carlsson; Magnusson,
1999).
3.3.1
Sinais e Sintomas de DTM
Sinais, ou sintomas objetivos, são identificados pelo
profissional durante o exame clínico, e sintomas, ou sintomas
subjetivos, são relatados pelo paciente durante a anamnese.
Os principais sintomas que levam o paciente a procurar
ajuda profissional são: dor na região da ATM; ruído articular; dor na
face; dor de ouvido; dor de cabeça; dor ou dificuldade ao mastigar;
dor muscular, entre outros. Cerca de 80% da população apresentam
39
sinais de DTM, entretanto apenas 30% relatam sintomas (Solberg;
Woo; Houston, 1979).
A apresentação de sinais e sintomas pode ser dividida de
acordo com a necessidade de tratamento. Em pacientes com sinais e
sintomas de moderados a graves, que procuram tratamento
independentemente de outro problema de saúde bucal, existe a
necessidade ativa de tratamento. Sinais leves de DTM, que não
provocam consciência de sua presença, ou com sintomas menores ou
flutuantes, são de necessidade passiva. Estes pacientes devem ser
observados, pois podem evoluir para necessidade ativa de tratamento.
E sem necessidade de tratamento são pacientes que não apresentam
nenhum tipo de sinal ou sintoma (Kutilla, 1999).
3.3.2
Epidemiologia
Os pacientes que mais procuram tratamento para DTM
são do sexo feminino e possuem entre 20 e 30 anos de idade.
Entretanto, homens e mulheres apresentam igualmente sinais e
sintomas de DTM (Benoliel; Sharav, 1998).
As razões pelas quais pacientes do sexo feminino
procuram
profissionais
frente
a
sintomas
de
disfunção
temporomandibular ainda são bastante discutidas. Acredita-se que
diferenças psicossociais, comportamentais e hormonais levem as
mulheres a procurarem por tratamento. Alguns autores explicam que
40
devido às mulheres serem mais preocupadas com a saúde procuram
por tratamento médico-odontológico com maior frequência. Outros
acreditam que as mulheres são mais sensíveis aos sintomas devido a
condições hormonais. As pesquisas mais recentes são direcionadas às
condições hormonais (Oliveira, 1999).
Sendo o estresse um fator agravante da DTM, pacientes
na 3ª e 4ª décadas de vida se mostram mais susceptíveis às disfunções
devido a seu estilo de vida. Pesquisas mostram que após a 4ª década
há uma queda bastante considerável no número de pacientes com
DTM. Alguns autores interpretam que esta redução se dá a autoresolução da doença; outros interpretam que pacientes na 3ª idade
preocupam-se mais com outras doenças que julgam mais graves do
que a DTM. Indivíduos na faixa de 90 anos apresentam nenhum ou
raros sinais e sintomas de disfunção e dificuldades mastigatórias,
independentemente das condições dentárias (Carlson, 1999).
3.3.3
Etiologia
Embora seja um dos assuntos mais estudados na
Odontologia, a etiologia das DTMs ainda é bastante controversa. Por
não se tratar de um exemplo clássico de causa-efeito, há dificuldade
no diagnóstico da DTM, sendo ainda, na maioria das vezes, uma
doença de etiologias múltiplas e tratamento interdisciplinar, com
abordagens terapêuticas personalizadas (Oliveira, 2002).
41
O estresse e a má oclusão têm se mostrado características
frequentes em pacientes que apresentam DTM (Okeson, 1995).
Entretanto, estas características também são bastante comuns entre
populações que não apresentam DTM, o que tende a desassociar má
oclusão e estresse de DTM.
Acredita-se que a má-oclusão aumente a atividade
muscular,
devido
a
reflexos
proprioceptivos
causados
por
microtrauma ou por instabilidade ortopédica (Gremillion, 1995;
Okeson, 1998; Weinberg, 1988).
O estresse aumenta a atividade muscular por diferentes
mecanismos. Na presença de estresse há liberação hormonal que gera
reações orgânicas sistêmicas, também relacionadas com os músculos
da cabeça e do pescoço (Dufour, 1983; McNeill, 1997). A partir de
pesquisas de psiconeuroimunologia, assume-se a hipótese de que o
estresse pode causar a supressão do Sistema Imunológico, que por sua
vez influencia o Sistema Nervoso Central (SNC), proporcionando um
circuito entre estes sistemas (Auvenshine, 1997). O SNC não
diferencia fatores anatômicos de psicológicos, reagindo a ambos os
estímulos
com
a
liberação
de
mediadores
químicos
e
neurotransmissores de uma única forma. O estresse pode aumentar
excessivamente a ativação do Sistema Nervoso Simpático (SNS),
contribuindo para a intensificação da dor (Carlson, 1993). Desta
forma, a dor muscular não seria causada pela hiperatividade muscular.
Seria na verdade uma dor reflexa, causada por modificações
vasculares, neurais, estruturais ou químicas, como resultado ou em
associação à sobreatividade generalizada de SNS.
42
Estudos mostram que outras características psicológicas, além
do estresse, demonstram ter correlação com pacientes que apresentam
DTM. Estas são: distúrbios psicossomáticos (demonstração de
problemas de ordem orgânica, como dores de cabeça, fraqueza,
calafrios, etc.) e distúrbios do sono (problemas como insônia e
pesadelos).
Considerando-se um modelo multifatorial para o Sistema
Estomatognático (SE), temos quatro elementos constituintes que
devem funcionar harmonicamente: dente, periodonto, músculos e
ATM. Estes elementos são considerados como elos de uma corrente, e
esta corrente se torna mais fraca na presença de um elo mais frágil
(Okeson, 1998) (Figura 11).
Figura 11 – Componentes do Sistema Estomatognático. (Fonte: Oliveira W.
Disfunções Temporomandibulares. São Paulo: Artes Mèdicas; 2002.)
Quadro 1 – Componentes de SE e DTMs.
Componente do SE
Seu mau funcionamento pode
gerar
Dente
dor; desgaste.
Periodonto
mobilidade dentária.
Músculo
contração protetora; dor
muscular local; miosite; dor
miofascial; mioespasmo.
ATM
mau posicionamento do disco
articular; inflamação dos
tecidos moles; processos
degenerativos.
43
Alguns fatores são considerados predisponentes e
perpetuantes para a DTM. Estes modificam a tolerância fisiológica e
estrutural do SE.
O equilíbrio craniocervical deve ser mantido o tempo
todo. A postura da cabeça para frente tem um relacionamento direto
com os músculos da cabeça e do pescoço, que influenciam a posição
mandibular e a oclusão, o que pode se manifestar como DTM. A
postura incorreta pode ser um fator desencadeante ou perpetuante da
DTM.
A alta prevalência de hábitos orais parafuncionais resulta
em contrações musculares que sobrecarregam os músculos e a ATM
(Hathaway, 1997). Pacientes com sinais e sintomas de DTM
apresentam mais hábitos parafuncionais em comparação com uma
população assintomática (Kliemann, 1997). Os hábitos parafuncionais
relacionados à DTM são a mastigação unilateral, o apertamento dos
dentes durante o dia, o apertamento dos dentes durante a noite, morder
a língua, morder os lábios, apoiar a mão na mandíbula e mascar
chicletes por longos períodos de tempo.
A hipermobilidade articular, um achado comum e
assintomático, caracteriza-se por movimentos articulares além dos
fisiológicos. Acredita-se que a hipermobilidade na ATM possa causar
um desequilíbrio entre as estruturas que a compõem, tornando o
indivíduo com hipermobilidade mais susceptível à DTM. Utiliza-se o
Índice de Beighton para mensurar a mobilidade articular. A presença
de hipermobilidade articular em três ou mais articulações define a
44
Síndrome da Hipermobilidade Articular. Neste caso, deduz-se que
todas as articulações sejam hipermóveis, inclusive a ATM.
3.3.4
Alterações Intra-articulares
As
principais
alterações
intra-articulares
são:
deslocamento de disco com redução, deslocamento de disco sem
redução, osteoartrite, osteoartrose, inflamação retrodiscal, capsulite e
sinovite.
3.3.4.1 Deslocamento de disco
O deslocamento de disco refere-se ao seu incorreto
posicionamento com as superfícies articulares. Razões funcionais e
traumáticas podem interferir no bom relacionamento das superfícies
articulares com o disco. Uma das causas importantes é a
hiperatividade muscular que ocorre devido ao bruxismo e o
apertamento de dentes. Durante a hiperatividade dos músculos
elevadores, a cabeça superior do músculo pterigóideo lateral mantémse contraído, tracionando o disco anterior e medialmente. Devido ao
tracionamento prolongado do disco, este pode desalojar-se ainda mais
anteriormente, fazendo com que o côndilo comprima sua borda
45
posterior, podendo provocar alterações degenerativas nesta área. O
processo pode evoluir e o disco ficar localizado à frente do côndilo,
caracterizando o deslocamento de disco (Oliveira, 2002).
No deslocamento de disco com redução, este se encontra
à frente do côndilo quando a mandíbula está em RC, mas recupera sua
posição normal quando o côndilo realiza movimentos de translação.
Neste momento há a geração de um som denominado ruído ou estalo
de redução. Quando a mandíbula volta para a posição de RC, e o disco
se desloca novamente à frente do côndilo, ocorre outro som,
denominado ruído recíproco. Este tipo de ruído é curto e seco, como
um estalo.
Os ruídos articulares são um dos sinais mais prevalentes
de DTM, sendo o estalo o mais prevalente entre pacientes e também
população aleatória. Os ruídos podem ser classificados de acordo com
a posição da mandíbula (início, meio, tardio), com o som (duro,
macio), com seu tipo (estalo, crepitação), e se ocorre durante a
abertura ou o fechamento da mandíbula, gerando 24 combinações
diferentes de ruídos. Os ruídos articulares não possuem etiologia bem
esclarecida, mas algumas possibilidades são consideradas, como
desestabilização entre disco e côndilo, deslocamento anterior ou
medial do disco, desvio na forma do disco, trauma envolvendo o
disco, e metabolismo do colágeno que compõe o disco (Wanman;
Agerberg, 1991).
O deslocamento de disco sem redução pode decorrer de
uma evolução do deslocamento de disco com redução, sendo um
deslocamento permanente do disco articular para uma posição ântero-
46
medial em relação ao côndilo. Neste caso, não há redução e, portanto,
não há ruídos articulares. O disco deslocado permanentemente à frente
do côndilo age como um obstáculo mecânico para a completa
translação sob a eminência articular. Como consequência, ocorre uma
importante limitação funcional, a incapacidade de abrir plenamente a
boca ou a deflexão da mandíbula para o lado afetado (Oliveira, 2002).
3.3.4.2
Osteoartrite e Osteoartrose
Osteoartrite e Osteoartrose são alterações degenerativas
que podem ocorrer na ATM. Estas alterações ocorrem principalmente
quando há deslocamento anterior de disco sem redução. Exames de
imagem mostram aplainamento da eminência articular e do côndilo,
redução do espaço articular súpero-posterior, remodelação do disco
articular e translação condilar reduzida. O deslocamento anterior do
disco sem redução gera forças compressivas e de cisalhamento. Esta
força aumentada pode induzir a deformação do disco, alterações
degenerativas
e
descaracterização
da
cartilagem
articular,
manifestando-se clinicamente como ruídos do tipo crepitação
(Oliveira, 2002). A osteoartrite caracteriza-se por apresentar
inflamação e, portanto, sintomatologia dolorosa.
47
3.3.4.3 Capsulite e Sinovite
Capsulite
primárias
decorrentes
e
Sinovite são
de
trauma,
condições
irritação
ou
inflamatórias
infecção
e,
frequentemente, estão relacionadas a outras DTMs. A capsulite é a
inflamação da cápsula articular e a sinovite, do líquido sinovial.
Clinicamente é praticamente impossível diferenciar capsulite e
sinovite (Okeson, 1998). Em ambas, há dor, limitação dos
movimentos, dor à palpação lateral da ATM e dor em função. Pode
também haver dor em repouso.
3.3.5 Alterações Musculares
As principais alterações musculares são: contração
protetora, dor muscular local, dor miofascial, miosite e mioespasmo.
3.3.5.1 Contração Protetora
Contração protetora é uma ação da musculatura com o
objetivo de proteger órgãos lesionados ou ameaçados de danos. Em
relação às áreas da ATM, a contração protetora pode ocorrer nos
músculos mastigatórios, da nuca e do pescoço. Diferentes eventos
48
podem levar à contração protetora, tais como modificação da
propriocepção, sobrefunção e principalmente trauma tecidual. Este
fenômeno é mediado pelo SNC (Oliveira, 2002).
3.3.5.2
Dor muscular local
A contração protetora, quando prolongada, pode levar à
dor muscular local. Uma característica desta disfunção é a presença de
alterações periféricas no tecido muscular, ou seja, manifestação
imediata de dor à palpação do músculo afetado. Um ciclo de
retroalimentação contração dor contração pode ser estabelecido,
levando à permanência da dor no SNC.
3.3.5.3 Dor miofascial
A dor miofascial refere-se a um efeito excitatório central
decorrente de alterações periféricas musculares (Travell JG, Simons
DG; 1983). Este fenômeno ocorre devido à presença de pontos gatilho
que causam dor referida. Pontos gatilho são definidos como pontos
sintomáticos diferentes do local de origem da dor. O paciente quase
sempre tem consciência apenas da dor referida e não da origem da dor
(Oliveira, 2002).
49
3.3.5.4
Mioespasmo
O mioespasmo é uma alteração involuntária sustentada
por mediação central (Gelb, 1977). É uma alteração em que o músculo
permanece contraído por alguns segundos, minutos, ou mesmo dias.
As causas que levam ao mioespasmo são alterações eletrolíticas do
músculo, fadiga e uso prolongado (Oliveira, 2002).
3.3.5.5 Miosite
A miosite é uma condição inflamatória, entretanto na
maioria dos casos trata-se de um processo asséptico. Está relacionada
mais à continuidade do que ao tempo de dor (Oliveira, 2002). Esta
disfunção apresenta tanto alterações periféricas quanto centrais. As
alterações periféricas provocam dor à palpação; há liberação de
neurotransmissores;
ocorre
uma
mudança
no
comportamento
fisiológico do SNC; há diminuição do limiar de percepção dos
estímulos periféricos; ocorre dor espontânea, mesmo em repouso
(Oliveira, 2002).
50
3.3.6 Tratamento
Devido ao caráter multifatorial da etiologia das DTMs, o
tratamento para disfunção deve ser multi ou interdisciplinar. No que
se refere à Odontologia, a abordagem sugerida consiste em
aconselhamentos,
analgésicos
e
controle
relaxantes
da
etiologia,
musculares,
farmacoterapia
fisioterapia,
relaxamento ou de estabilização e controles periódicos.
placa
com
de
4. DISCUSSÃO
A Articulação Temporomandibular tem sido estudada por
diferentes profissionais da saúde. Esta afirmativa se justifica devido à
complexidade de sua estrutura anatômica e à importância da ATM
perante as demais estruturas do Sistema Estomatognático.
Por ser uma articulação sinovial, a ATM é composta por
diversos elementos anatômicos, como, por exemplo, a cápsula
articular e o disco articular. Além da anatomia peculiar, a ATM possui
uma característica singular: é uma articulação bilateral. Estes fatores
levam à necessidade de um maior entendimento de sua anatomia e
dinâmica.
A
abaixadores
classificação
e
elevadores
dos
da
músculos
mandíbula
mandibulares
apresenta
em
algumas
contradições. Segundo Rizzolo e Madeira, a cabeça superior do
músculo pterigóideo lateral é classificada como músculo protrusor,
auxiliando no abaixamento da mandíbula. Já McNamara observou em
seu trabalho, por intermédio de eletromiografia, um antagonismo entre
a cabeça superior e a inferior do músculo pterigóide lateral,
classificando, portanto, a cabeça superior como elevadora da
mandíbula.
É ponto pacífico que deve haver um equilíbrio entre os
componentes do Sistema Estomatognático. Quando há uma alteração
52
em seus componentes, há uma resposta do Sistema Nervoso Central
que, por sua vez, provoca uma alteração em outro componente do SE.
Portanto, em se tratando de DTM, não só a ATM deve ser averiguada
durante o exame clínico, mas também músculos, dentes e periodonto.
Alterações diretamente ligadas a ATM podem ser de
origem intra-articular ou muscular. A anamnese e o exame clínico
serão decisivos para a diferenciação entre as disfunções, e para isso o
conhecimento do cirurgião-dentista é indispensável. O correto
diagnóstico leva a escolha do tratamento mais indicado para o
paciente, que só assim poderá ter sua queixa inicial solucionada.
A crescente preocupação da população com saúde e bemestar tem aumentado o número de pacientes que procuram por ajuda
profissional diante de dores orofaciais relacionadas à articulação. É
responsabilidade do profissional, conhecer a anatomia e a dinâmica da
ATM, diagnosticar corretamente a disfunção e realizar ou indicar o
tratamento mais apropriado.
5. CONCLUSÃO
Trata-se de um assunto complexo, extenso, intrigante e
fascinante. Portanto, se faz necessária a realização de trabalhos e
pesquisas abordando diferentes aspectos da ATM para um maior
esclarecimento do funcionamento da ATM em condições de
normalidade e na presença de DTM. Algumas sugestões de estudos
concernem a prevalência de DTM x cárie, DTM após tratamento
ortodôntico e distúrbios do sono como fatores predisponentes e
perpetuantes de DTM.
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