“Avaliação da implantação do diagnóstico laboratorial de tuberculose no município de Goiânia - GO” por Ruy de Souza Junior Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Elizabeth Artmann Rio de Janeiro, junho de 2012. 1 Esta dissertação, intitulada “Avaliação da implantação do diagnóstico laboratorial de tuberculose no município de Goiânia - GO” apresentada por Ruy de Souza Junior foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof.ª Dr.ª Maria Angélica dos Santos Spinelli Prof.ª Dr.ª Marly Marques da Cruz Prof.ª Dr.ª Elizabeth Artmann – Orientadora Dissertação defendida e aprovada em 28 de junho de 2012. 2 Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública S729 Souza Júnior, Ruy de Avaliação da implantação do diagnóstico laboratorial de tuberculose no município de Goiânia GO. / Ruy de Souza Júnior. -- 2013. 82 f. : tab. ; graf. Orientador: Artmann, Elizabeth Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2013 1. Avaliação. 2. Tuberculose-diagnóstico. 3. Análise Bacteriológica. 4. Epidemiologia. I. Título. CDD - 22.ed. – 616.995098173 3 À minha esposa, Rosangela pelo estímulo para a realização desse trabalho. 4 “Sê senhor de sua vontade e escravo de sua consciência”. Aristóteles 5 SUMÁRIO ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES .......................................................................................... 7 RESUMO ......................................................................................................................... 8 ABSTRACT ..................................................................................................................... 9 SIGLAS e ABREVIATURAS ....................................................................................... 10 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12 A Tuberculose ............................................................................................................ 12 A Tuberculose no mundo ........................................................................................... 14 A Tuberculose no Brasil ............................................................................................. 15 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 18 PRESSUPOSTO DA AVALIAÇÃO ............................................................................. 20 CONTEXTUALIZAÇÃO .............................................................................................. 20 Baciloscopia ............................................................................................................... 20 Descentralização ......................................................................................................... 23 Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública ................................................. 25 Dados epidemiológicos .............................................................................................. 26 MODELO TEÓRICO DA AVALIAÇÃO ..................................................................... 30 Avaliação .................................................................................................................... 30 Modelo Lógico ........................................................................................................... 33 PERGUNTA AVALIATIVA ......................................................................................... 37 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 37 Objetivos Específicos ................................................................................................. 37 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................................... 38 Laboratório Clínico .................................................................................................... 38 Desenho da avaliação ................................................................................................. 39 Conformidade ............................................................................................................. 40 Qualidade técnica ....................................................................................................... 43 ASPECTOS ÉTICOS DA AVALIAÇÃO...................................................................... 49 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 50 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ...................................................................... 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 67 APÊNDICES .................................................................................................................. 71 Apêndice 1 Questionário ...................................................................................... 71 Apêndice 2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................................. 78 Apêndice 3 Termo de Anuência da Instituição Pesquisada.................................. 79 Apêndice 4 Declaração de Anuência da Secretaria Municipal de Saúde ............. 80 Apêndice 5 Ficha de transferência........................................................................ 81 Apêndice 6 Ficha para Busca de Abandono de Tratamento ................................. 82 Apêndice 7 Carta Alerta ....................................................................................... 83 Apêndice 8 Instruções para o Fluxo de Amostras e Resultados da Baciloscopia 83 6 ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Figuras Figura 1 – SISLAB ......................................................................................................... 25 Figura 2 - Modelo Lógico dos Programas de Tuberculose ............................................ 35 Figura 3 - Modelo Lógico do diagnóstico Laboratorial da Tuberculose em Goiânia .... 36 Gráficos Gráfico 1 - Incidência de P+ e T. Formas, Goiânia 2005 - 2010 ................................... 27 Gráfico 2 - Casos Novos de Tuberculose em TDO por distrito sanitário,...................... 28 Gráfico 3 - Cura e Abandono dos Casos Novos Pulmonares Positivos ......................... 28 Gráfico 4 - Coeficiente de Mortalidade de Tuberculose por 100.00 hab, ...................... 29 Gráfico 5 - SR examinados por Distrito Sanitário, Goiânia 2005 - 2010 ....................... 30 Tabelas Tabela 1 - Critérios de Pontuação Dimensão Conformidade ......................................... 42 Tabela 2 - Critérios de Pontuação Dimensão Qualidade Técnica .................................. 47 Tabela 3 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose em Goiânia ................................................................................ 48 Tabela 4 - Graus de Implantação da Rede de Diagnóstico de ........................................ 49 Tabela 5 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Infraestrutura e Insumos....................................... 53 Tabela 6 - Matriz de Julgamento da Implantaçao da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Procedimentos Técnicos ...................................... 57 Tabela 7 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Recursos Humanos ............................................... 59 Tabela 8 - Pontuação Final das Unidades e do Município ............................................. 60 7 RESUMO A tuberculose continua a causar mortes no mundo todo, apesar de o bacilo causador ter sido descoberto por Robert Koch há 130 anos e de haver tratamento e cura para a doença. O diagnóstico tradicional é feito pela baciloscopia, o método mais rápido e de menor custo, que pode ser executado em condições básicas de biossegurança. Para o diagnóstico de tuberculose também pode ser realizado um exame de cultura, que é mais sensível, mas exige condições mais avançadas de biossegurança, além de ter um custo maior e ser mais demorado. Esse trabalho avaliou o diagnóstico da tuberculose no município de Goiânia, a partir da estruturação dessa ação pelo programa municipal de controle da tuberculose e pelos postos de saúde que realizam a baciloscopia. O estudo foi transversal, de caso único com múltiplas unidades de análise, de caráter normativo, verificando-se a implantação e cumprimento das recomendações do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública e das normas técnicas para realização dos exames. Foi realizada a aplicação de um questionário semiestruturado em visitas aos postos de saúde. Para essa avaliação foram visitados três dos cinco postos de saúde do município que realizam a baciloscopia. Em cada um foi realizada uma entrevista com o profissional de saúde responsável pelo laboratório e pela realização da baciloscopia. Na entrevista, feita com o questionário semiestruturado, foram avaliadas a infraestrutura, os recursos humanos e os aspectos técnicos da realização do exame. Foram definidos critérios de pontuação para cada item avaliado, de modo que a somatória final dos pontos indicou primeiramente a implantação do diagnóstico de tuberculose em cada unidade entrevistada e, a partir daí, no município de Goiânia. O resultado encontrado foi que o sistema de diagnóstico de tuberculose está parcialmente implantado nos três postos de saúde entrevistados e, por conseguinte, no município de Goiânia. Foram feiras recomendações no sentido de contribuir para uma melhora significativa do sistema de diagnóstico de tuberculose do município Palavras chave: avaliação, diagnóstico, baciloscopia, tuberculose, Goiânia. 8 ABSTRACT Tuberculosis continues to cause deaths worldwide, although the bacillus that causes have been discovered by Robert Koch 130 years ago and there are treatment and cure for the disease. The traditional diagnosis is made by the smear, the quickest and lowest cost, which can run on basic biosecurity conditions. For the diagnosis of tuberculosis can also be made an examination of culture, which is more sensitive, but requires more advanced conditions of biosafety, besides having a higher cost and take longer. This study aims to evaluate the diagnosis of tuberculosis in the city of Goiânia, studying the structure of this action by the municipal program for tuberculosis control and the clinics that perform smear. We designed a cross-sectional study of a single case with multiple units of analysis, normative, verifying the implementation and compliance with the recommendations of the National Tuberculosis Control, the General Coordination of Public Health Laboratories and technical standards to achieve the examinations. Was performed applying a semi-structured visits to health centers. For this evaluation were visited three of the five health centers in the city that perform smear. In each interview was conducted with a healthcare professional responsible for the laboratory and by sputum smear microscopy. In the interview, made with semi-structured questionnaire, were assessed in infrastructure, human resources and technical aspects of the examination. Scoring criteria were defined for each item evaluated, so that the final sum of the points indicated the implementation of the first diagnosis of tuberculosis in each unit interviewed and, thereafter, in Goiânia. The result found was that the system of diagnosis of tuberculosis is partially implemented in the three health posts interviewed and, therefore, in Goiânia. Recommendations were made in order to contribute to a significant improvement of the system for diagnosis of tuberculosis in the city Keywords: assessment, diagnosis, smear, tuberculosis, Goiânia. 9 SIGLAS e ABREVIATURAS AIDS Síndrome de Imunodeficiência Adquirida ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária BAAR Bacilo álcool-ácido resistente CAIS Centro de Assistência Integral a Saúde CDC Centers for Disease Control and Prevention CGLAB Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública CIAMS Centro Integrado de Assistência Médico-Sanitária CONDATA Companhia de Processamento de Dados do Município de Goiânia CRDT Centro de Referência em Diagnóstico e Tratamento DAD Divisão de Apoio ao Diagnóstico DDT Divisão de Doenças Transmissíveis DOTS Directly Observed Terapy Short Course EPI Equipamento de Proteção Individual HIV Vírus da Imunodeficiência Humana INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia ISO International Organization for Standardization LACEN Laboratório Central de Saúde Pública MNT Micobactérias Não-Tuberculosas MNTB Manual Nacional de Vigilância Laboratorial de Tuberculose e Outras Micobactérias MS Ministério da Saúde NOBs Normas Operacionais Básicas OMS Organização Mundial de Saúde ONU Organização das Nações Unidas PCT Programa de Controle da Tuberculose de Goiânia PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose POP Procedimento Operacional Padrão RDC Resolução da Diretoria Colegiada SIM Sistema de Informação de Mortalidade 10 SR Sintomático respiratório SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação SMS Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia SUS Sistema Único de Saúde TB Tuberculose TDO Tratamento Diretamente Observado 11 INTRODUÇÃO A Tuberculose A TB (tuberculose) é uma das doenças mais antigas da história da humanidade. O agente causador da tuberculose é um bacilo denominado bacilo de Koch, em homenagem ao cientista que o identificou. Apesar de Robert Koch ter identificado apenas uma bactéria de crescimento lento (Micobacterium tuberculosis), outras cinco espécies são apontadas como causadoras da TB, constituindo um complexo chamado complexo M. tuberculosis (SOUZA, 2006). A transmissão da TB é direta, de pessoa a pessoa, portanto, a aglomeração de pessoas é o principal fator de transmissão. O doente expele, ao falar, espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso e podem ser aspiradas por outro indivíduo, contaminando-o. A má alimentação, a falta de higiene, o tabagismo e o alcoolismo favorecem o estabelecimento da doença, bem como qualquer outro fator que gere baixa resistência orgânica (BVS, 2007). Alguns pacientes não exibem nenhum indício da doença, outros apresentam sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns meses (ou anos). Contudo, na maioria dos infectados, os sinais e sintomas mais frequentemente descritos são tosse seca contínua no início, depois com presença de secreção por mais de três semanas, transformando-se, na maioria das vezes, em uma tosse com pus ou sangue; cansaço excessivo; febre baixa geralmente à tarde; sudorese noturna; falta de apetite; palidez; emagrecimento acentuado; rouquidão; fraqueza e prostração. Os casos graves apresentam dificuldade na respiração, eliminação de grande quantidade de sangue, colapso do pulmão e acumulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão) - se houver comprometimento dessa membrana, pode ocorrer dor torácica (BVS, 2007). Além da forma mais conhecida da doença, a pulmonar, o bacilo pode afetar outras áreas do organismo, como a laringe, ossos, pele, gânglios linfáticos, intestinos, rins e sistema nervoso (BRASIL, 2010). Existe também a tuberculose miliar, que consiste num alastramento da infecção a diversas partes do organismo, por via sanguínea. A denominação miliar é vinculada ao aspecto radiológico do pulmão, que apresenta inúmeras pequenas lesões, 12 com aspecto de pequenos grãos. É uma forma grave de doença e ocorre em 1% dos casos de TB em pacientes soronegativos para o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e em até 10% dos casos em pacientes HIV soropositivos, em fase avançada de imunossupressão. Este tipo de tuberculose pode atingir as meninges (membranas que revestem a espinal medula e o encéfalo) causando infecções graves denominadas de "meningite tuberculosa". A apresentação clínica clássica é a aguda, mais comum em crianças e adultos jovens. Os sintomas são febre, astenia e emagrecimento, que em associação com tosse ocorrem em 80% dos casos. O exame físico mostra hepatomegalia (35% dos casos), alterações do sistema nervoso central (30% dos casos) e alterações cutâneas do tipo eritemato-máculo-papulo-vesiculosas (BRASIL 2010). Após a infecção pelo M. tuberculosis, transcorrem, em média, 4 a 12 semanas para a detecção das lesões primárias. A probabilidade de o indivíduo vir a ser infectado e de que essa infecção evolua para a doença depende de múltiplas causas, destacando-se as condições socioeconômicas e algumas condições clínicas, como diabetes melitus, silicose, uso prolongado de corticosteroides ou outros imunossupressores, neoplasias, uso de drogas e infecção pelo HIV. A evolução do quadro clínico dependerá da forma de infecção: primo-infecção ou reinfecção exógena (MOURÃO, s/d). O tratamento a base de antibióticos é 100% eficaz, no entanto, não pode haver abandono. A cura leva seis meses, mas muitas vezes o paciente acaba desistindo do tratamento antes do final regulamentar, seja por falta de esclarecimento adequado, seja pelas dificuldades em comparecer ao serviço de saúde para tomada e/ou retirada dos medicamentos (custo do transporte, localização geográfica do serviço, dificuldade de marcar consultas de acompanhamento, etc.). Para evitar o abandono do tratamento é importante que o paciente seja acompanhado por equipes com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e visitadores devidamente preparados (BVS, 2007). Com o surgimento da AIDS (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) em 1981, observou-se, tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento, um crescente número de casos notificados de tuberculose em pessoas infectadas pelo HIV. A associação dessas duas enfermidades constitui um sério problema de saúde pública, levando ao aumento da morbidade e da mortalidade pela TB em muitos países. 13 Nem todas as pessoas com tuberculose desenvolvem a doença, visto que pessoas com o sistema imunológico eficiente podem ter se infectado com o bacilo, mas não manifestar a doença por toda a vida. O impacto da epidemia de AIDS sobre a tuberculose se deve ao fato de que o vírus HIV compromete o sistema imunológico do indivíduo, favorecendo a multiplicação do bacilo de Koch e o surgimento da doença, seja por exposição primária ou secundária, seja por reativação da infecção latente. O risco cumulativo de reativação da TB em indivíduos HIV negativos é de 5 a 8% durante toda a vida, enquanto que nos indivíduos HIV positivos esse risco chega a 30% (CORBETT E.L; 2003). Com a reativação da tuberculose favorecida, ocorre um maior número de casos de tuberculose extrapulmonar (FITZGERALD, 1999). Assim, a interação entre o vírus HIV e o bacilo de Koch é bidirecional e sinérgica, pois o HIV promove a progressão da infecção latente pelo bacilo da tuberculose e o M. tuberculosis aumenta a replicação do HIV, acelerando a evolução natural da infecção (SANTOS, 2009, APUD ROSAS-TARACO, 2006). No caso da coinfecção TB/HIV, ainda há que se preocupar com a estruturação e localização geográfica dos estabelecimentos da rede de saúde dos estados e municípios, pois o atendimento em locais separados dos pacientes com TB e com HIV encarece e dificulta o tratamento (JAMAL, L.F; 2007). Importante lembrar também que a tuberculose tem sido diagnosticada 10 vezes mais em mulheres grávidas com HIV do que em grávidas sem o HIV e que o risco de transmissão vertical do HIV é 2,5 vezes maior nas mães que tem TB do que nas que não tem o vírus (WHO policy on collaborative TB/HIV activities; 2012). A Tuberculose no mundo O número absoluto de casos de tuberculose vem caindo desde 2006 e a incidência desde 2002, mas a tuberculose continua sendo um importante problema de saúde mundial, exigindo o desenvolvimento de estratégias para o seu controle considerando aspectos humanitários, econômicos e de saúde pública, bastando para confirmar isso verificar os dados do Global Tuberculosis Control: Report 2011 (WHO, 2011), que mostra que em 2010 foram estimados 8.8 milhões de casos novos de tuberculose no mundo, com 1,1 milhão de mortes em pacientes HIV negativos e mais 350.000 mortes em pacientes HIV positivos. 14 Pessoas idosas, minorias étnicas e imigrantes estrangeiros são os mais atingidos nos países desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento, o predomínio é da população economicamente ativa (de 15 a 54 anos), pessoas privadas de liberdade (detentos), em situação de rua (moradores de rua), as pessoas mais pobres e as menos escolarizadas. Os homens adoecem duas vezes mais do que as mulheres (BRASIL, 2010). Em 1993, a OMS declarou a tuberculose uma emergência mundial e passou a recomendar a adoção da estratégia DOTS (Directly Observed Terapy Short Course) como resposta global para o controle da doença. Esta estratégia pode ser entendida como um conjunto de boas práticas para o controle da tuberculose e fundamenta-se em cinco componentes (BRASIL, 2010): 1- Compromisso político com fortalecimento de recursos humanos e garantia de recursos financeiros, elaboração de planos de ação (com definição de atividades, metas, prazos e responsabilidades) e mobilização social; 2- Diagnóstico de casos por meio de exames bacteriológicos de qualidade; 3- Tratamento padronizado com a supervisão da tomada da medicação e apoio ao paciente; 4- Fornecimento e gestão eficaz de medicamentos; 5- Sistema de monitoramento e avaliação ágil que possibilite o monitoramento dos casos, desde a notificação até o encerramento. Como se percebe, do ponto de vista técnico, a estratégia parte da identificação do paciente com tuberculose, para a qual é imprescindível o diagnóstico laboratorial (componente nº dois) e a partir desse desencadeia-se a necessidade de cumprimento dos demais componentes. A Tuberculose no Brasil O Brasil é um dos 22 países priorizados pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que representam 82% da carga mundial de TB. Em 2010, o Brasil notificou 71.790 casos novos, correspondendo a um coeficiente de incidência de 15 37,6/100.000 hab. Destes, 40.930 casos novos foram bacilíferos (casos com baciloscopia de escarro positiva, que transmitem o bacilo), apresentando um coeficiente de incidência de 21,4/100.000 hab. Estes indicadores (SINAN, Sistema de Informação de Agravos de Notificação) colocam o Brasil na 17ª posição em relação ao número de casos e na 22º posição em relação ao coeficiente de incidência (WHO 2011). No Brasil, os bolsões de pobreza, a deterioração dos serviços públicos de saúde e a epidemia de AIDS dificultam seu controle. Para um controle mais efetivo da doença seria necessário um grande incremento nos indicadores socioeconômicos da população brasileira, solucionando-se ou abrandando-se a falta de saneamento básico, melhorando o nível educacional e a renda da população. Como essas são ações de cunho político e na maioria das vezes de longo prazo, a cura dos casos bacilíferos continua sendo a melhor estratégia de prevenção da doença. Em geral, a fonte de infecção é o indivíduo com a forma pulmonar da doença que elimina bacilos para o exterior. Calcula-se que durante um ano, numa comunidade, um indivíduo bacilífero pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas (MOURÃO, s/d). Em 2003, o MS (Ministério da Saúde) do Brasil declarou o controle da tuberculose como uma prioridade nacional. O país tinha então cerca de 65 milhões de infectados e aproximadamente 80 mil doentes novos a cada ano; a incidência era de 44/100.000 habitantes, com cerca de cinco mil óbitos por ano e 70% dos casos estavam em 315 municípios, que foram considerados prioritários para o combate à doença. Em 2009 o PNCT modificou os critérios de priorização dos municípios em relação à tuberculose. Os municípios incluídos foram as capitais de estado, os municípios com população igual ou superior a 100.000 habitantes, os municípios com taxa de incidência de tuberculose (todas as formas) superior a 80% da taxa nacional (de acordo com o SINAN) e os municípios com taxa de mortalidade superior a taxa nacional (de acordo com o SIM). Com esses novos critérios o número de municípios prioritários passou a ser de 181 e a relação foi publicada em 07 de outubro de 2011, na nota técnica nº 15. O Brasil é signatário da Declaração do Milênio, que foi aprovada pelos países membros da ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro de 2000 e que estabeleceu um compromisso com a sustentabilidade do planeta. No sexto objetivo, 16 todos se comprometeram a combater a tuberculose, o HIV/AIDS, a malária e outras doenças. No plano de ação de controle da TB no Brasil, estão contempladas todas as estratégias da iniciativa da OMS, com metas bem definidas de redução do número de casos e da aceleração do ritmo de queda da incidência. Estima-se chegar a 2015 com 45 mil casos novos anuais (WHO, 2006). As principais metas globais e indicadores para o controle da TB foram desenvolvidos na perspectiva das metas do desenvolvimento do milênio, bem como no STOP TB Partnership e na Assembleia Mundial da Saúde. Foram consideradas metas de impacto reduzir, até o ano de 2015, a incidência para 25,9/100.000 hab. (no Brasil, em 2010 foi de 37,6/100.000 hab.) e a taxa de prevalência e de mortalidade à metade em relação a 1990, quando foi de 3,6/100.000 hab. (Sistema de Informações de Mortalidade, SIM). Em 2010 essa taxa foi de 2,4/100.000 hab. (SIM). Além disso, espera-se que até 2050 a incidência global de TB ativa seja menor que 1/100.000 habitantes por ano (WHO, 2009). As metas definidas pelo PNCT (Programa Nacional de Controle da Tuberculose), em consonância com a OMS são manter a detecção anual de pelo menos 70% dos casos estimados de TB, tratar corretamente 100% dos casos de tuberculose diagnosticados e curar pelo menos 85% dos mesmos, manter o abandono de tratamento em percentuais considerados aceitáveis (5%), expandir o tratamento supervisionado (quando o paciente toma a medicação assistido por um profissional de saúde ou alguém de sua família ou comunidade) para 100% das unidades de saúde dos municípios prioritários, e pelo menos para 80% dos bacilíferos destes municípios até 2007. Também são metas manter registro atualizado dos casos diagnosticados e 100% do resultado de tratamento, aumentar em 100% o número de sintomáticos respiratórios examinados (2004/2007) e disponibilizar teste anti-HIV para 100% dos adultos com TB. É estabelecido que diagnosticar e tratar correta e prontamente os casos de TB pulmonar são as principais medidas para o controle da doença. Esforços devem ser realizados no sentido de encontrar precocemente o paciente e oferecer o tratamento adequado, interrompendo a cadeia de transmissão da doença (BRASIL 2010). Nesse âmbito, não é suficiente capacitar os profissionais de saúde para identificação do 17 paciente SR (sintomático respiratório) se a rede laboratorial não propiciar os resultados dos exames de forma oportuna e com qualidade. Dessa maneira, foi implantada no país, segundo as recomendações da OMS, a estratégia DOTS, que privilegia no seu segundo componente o diagnóstico laboratorial da tuberculose e dele dependem os componentes seguintes da estratégia. O diagnóstico laboratorial tem os objetivos de detectar os casos de tuberculose pulmonar, monitorar a evolução do tratamento e documentar a cura por meio do exame microscópico do escarro – baciloscopia (BRASIL, 2008). JUSTIFICATIVA Para o diagnóstico laboratorial da tuberculose, a baciloscopia ou Pesquisa de BAAR (bacilo álcool-ácido resistente, um característica do bacilo de Koch que permite sua identificação nesse exame) é o método mais importante, rápido e de baixo custo para o diagnóstico, controle do tratamento e vigilância de resistência aos tuberculostáticos. Por ser um método simples e seguro, deve ser realizado por todo laboratório público de saúde e pelos laboratórios privados tecnicamente habilitados. A pesquisa de BAAR pelo método de Ziehl-Nielsen é a técnica mais utilizada no Brasil (MOURÃO, s/d). Segundo estimativa da OMS, cerca de 1% da população seria composta de SR (sintomáticos respiratórios). Como a população de Goiânia foi estimada em 1.302.001 habitantes no censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), seriam cerca de 13.000 SR no município. São preconizadas duas baciloscopias de diagnóstico por paciente, o que representaria um total aproximado de 26.000 baciloscopias para diagnóstico a serem realizadas se todos os suspeitos fossem identificados. Os serviços de saúde de Goiânia encontraram 2018 sintomáticos respiratórios em 2010, o que significa apenas 30% da estimativa da OMS. A meta de identificação de sintomáticos respiratórios estipulada pelo próprio PCT (Programa de Controle da Tuberculose de Goiânia) para 2010 era de 3900 casos, o que significa que foram encontrados apenas 51,7% da sua própria meta. 18 Não seria realista esperar a detecção de todos os casos suspeitos, mesmo porque esse número é uma estimativa definida pela OMS e sujeita as variações que ocorrem devido às diferenças socioeconômicas e culturais de cada localidade, mas mesmo com essas considerações a identificação de sintomáticos respiratórios é baixa em relação ao total esperado. A partir desses dados e relacionando-os com as metas estabelecidas pela OMS, percebe-se a necessidade de avaliar a efetivação das estratégias preconizadas pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose. Esse trabalho se propõe a realizar essa avaliação com relação ao diagnóstico laboratorial da tuberculose em Goiânia. Algumas questões se apresentam, dentre elas, a estruturação da rede municipal de laboratórios para realização de baciloscopias, a supervisão exercida sobre essa rede e como vem sendo feito o controle de qualidade dos laboratórios participantes. Nesse trabalho procuraremos evidências que nos levem a caracterizar a rede municipal de diagnóstico de tuberculose, procurando mostrar se ela está adequadamente estabelecida para o atendimento da demanda esperada, cumprindo as diretrizes estabelecidas pelo PNCT. Esclarecemos que quando falamos “rede de diagnóstico de tuberculose”, incluímos também as baciloscopias de controle de tratamento, que devem ser realizadas mensalmente e são feitas nos mesmos locais que as baciloscopias de diagnóstico. A proposta do presente trabalho, a ser realizado com a colaboração do PCT, e da diretoria dos postos de saúde analisados, é que os dados levantados sejam de utilidade no sentido de identificar se o problema da baixa quantidade de baciloscopias realizadas no município é devido à rede laboratorial. Caso seja, esse trabalho procurará sugerir as soluções para promover as mudanças necessárias e/ou ampliar as ações mais efetivas para o diagnóstico laboratorial da tuberculose no município. Caso fique caracterizado que a rede laboratorial está adequadamente implantada, o PCT poderá se dedicar a identificação da causa do problema em outras áreas, como por exemplo, no treinamento dos funcionários dos postos de saúde para identificação dos sintomáticos respiratórios. 19 PRESSUPOSTO DA AVALIAÇÃO O estabelecimento de normas nos processos laboratoriais é vital para a realização correta e com qualidade dos exames. Além disso, as metas e fluxos de trabalho elaborados pelos programas de tuberculose nos níveis federal e municipal devem ser coesos, levando ao alcance do objetivo principal da luta contra a tuberculose, que é a diminuição da incidência no país. O desconhecimento ou a impossibilidade de estruturar as ações programáticas, no caso específico desse trabalho, as relacionadas ao diagnóstico, dificulta o controle da doença e permite que o doente não identificado e, portanto não diagnosticado, continue alimentando a cadeia de transmissão da doença. Vários problemas podem contribuir para a baixa quantidade de baciloscopias realizadas. Pelos números apresentados anteriormente, vê-se que o número de SR encontrado é baixo, o que implica forçosamente em baixo número de suspeitos identificados e examinados. Uma das causas para essa baixa solicitação pode ser a qualidade do atendimento laboratorial, caso a rede municipal de laboratórios para diagnóstico da tuberculose apresente alguma deficiência, como, por exemplo, uma baixa quantidade de laboratórios realizando os exames ou se sua distribuição geográfica for irregular, ou ainda se o prazo para entrega dos laudos for muito grande. Esses fatores desestimulam ao médico fazer a solicitação do exame e, ao doente, a realização do mesmo. Forma-se assim um círculo vicioso em que o serviço não solicita muitos exames porque não terá resposta adequada e os laboratórios não se estruturam melhor porque tem baixa quantidade de exames a realizar. CONTEXTUALIZAÇÃO Baciloscopia Esclarecimentos técnicos sobre a baciloscopia (BRASIL, 2010; BRASIL 2008) são importantes para que sejam entendidos os pontos considerados relevantes na realização do diagnóstico e que serão avaliados nesse trabalho. A baciloscopia do 20 escarro tem sensibilidade de cerca de 60%, mas se executada corretamente em todas as suas fases, essa sensibilidade pode chegar a 80%. Esse é um aspecto muito importante do ponto de vista epidemiológico, já que os casos bacilíferos são os responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão (BRASIL, 2010). A baciloscopia deve ser solicitada aos pacientes que apresentem critérios de definição de SR, suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independentemente do tempo de tosse e suspeita clínica de TB extrapulmonar (exame em materiais biológicos diversos) (BRASIL, 2010). A baciloscopia de escarro para diagnóstico deve ser realizada, no mínimo, em duas amostras: uma, por ocasião da primeira consulta, e a outra, independentemente do resultado da primeira, deve ser coletada na manhã do dia seguinte, preferencialmente ao despertar. Nos casos em que há indícios clínicos e radiológicos de suspeita de TB e as duas amostras de diagnóstico apresentem resultado negativo, podem ser solicitadas amostras adicionais ou outros exames (BRASIL, 2008; BRASIL, 2010). A baciloscopia ainda deve ser realizada mensalmente durante todo o tratamento. Se positiva no segundo mês, é indicativa de resistência às drogas usadas no tratamento. Nesses casos é preconizada a realização de cultura e teste de sensibilidade para avaliação da necessidade de mudança de esquema terapêutico. A fase inicial do exame, que compreende coleta, conservação e transporte da amostra, é de responsabilidade da unidade de saúde, que deverá seguir as seguintes orientações: Qualidade e quantidade da amostra - Uma boa amostra de escarro é a que provém da árvore brônquica, obtida após esforço de tosse, e não a que se obtém da faringe ou por aspiração de secreções nasais, nem tampouco a que contém somente saliva. O volume ideal é de 5 ml a 10 ml. Pacientes pobres em escarro podem fazer a indução do mesmo a partir da nebulização com solução salina hipertônica (NaCl 3%). Recipiente - O material deve ser coletado em potes plásticos com as seguintes características: descartáveis, com boca larga (50 mm de diâmetro), transparente, com tampa de rosca, altura de 40 mm, capacidade de 35 ml a 50 ml. A identificação (nome do paciente e data da coleta) deve ser feita no corpo do pote e 21 nunca na tampa, utilizando-se, para tal, esparadrapo, fita crepe ou caneta com tinta indelével. Local da coleta - As amostras devem ser coletadas em local aberto, de preferência ao ar livre ou em sala bem arejada em condições adequadas de biossegurança. Momento da coleta e número de amostras - O diagnóstico deve ser feito a partir de, pelo menos, duas amostras de escarro, sendo a primeira geralmente coletada no momento da consulta, para aproveitar a presença do doente. A segunda amostra deve ser coletada no dia seguinte, preferencialmente ao despertar. Esta geralmente é abundante, porque provém das secreções acumuladas na árvore brônquica durante a noite. Orientação ao paciente - A unidade de saúde deve ter pessoal capacitado para fornecer informações claras e simples ao paciente quanto à coleta do escarro, devendo proceder da seguinte forma: a) Entregar o recipiente ao paciente, verificando se a tampa do pote fecha bem e se já está devidamente identificado (nome do paciente e a data da coleta no corpo do pote). b) Orientar o paciente quanto ao procedimento de coleta: ao despertar pela manhã, lavar bem a boca, inspirar profundamente, prender a respiração por um instante e escarrar após forçar a tosse. Repetir essa operação até obter três eliminações de escarro, evitando que esse escorra pela parede externa do pote. c) Informar que o pote deve ser tampado e colocado em um saco plástico com a tampa para cima, cuidando para que permaneça nessa posição. d) Orientar o paciente a lavar as mãos. Conservação e transporte - As amostras clínicas devem ser enviadas e processadas no laboratório imediatamente após a coleta. Na impossibilidade de envio imediato da amostra para o laboratório ou unidade de saúde, esta poderá ser conservada em temperatura ambiente por 24 horas ou em geladeira por no máximo 7 dias. 22 Para aquelas coletadas fora da unidade de saúde, esta deverá recebê-la a qualquer hora de seu período de funcionamento e conservá-las de maneira correta até o seu processamento. Para o transporte de amostras devem-se considerar três condições importantes: refrigeração, proteção contra a luz solar e acondicionamento adequado para que não haja risco de derramamento. Para transportar potes de escarro de uma unidade de saúde para outra, recomenda-se a utilização de caixas térmicas com gelo reciclável ou cubos de gelo dentro de um saco plástico. As requisições dos exames devem ser enviadas junto com o material, fora do recipiente de transporte. Depois de a lâmina ser corada, o material orgânico que fica no fundo da lâmina aparece corado de azul e os bacilos aparecem como pequenos pontos vermelhos, contrastando com a coloração do fundo. Além da baciloscopia, outros exames podem ser realizados para diagnosticar a tuberculose, mas com sérias limitações referentes ao tempo de realização e complexidade dos procedimentos e também relativas à indicação clínica para sua realização e às exigências de equipamentos e procedimentos médicos mais complexos. Exemplos de outros exames são a cultura (cujo tempo para execução é muito longo), a prova tuberculínica ou PPD (que apresenta dificuldades de interpretação e interferências no resultado por conta de outras patologias), o estudo dos líquidos pleural, pericárdico ou do líquor (que exigem procedimentos médicos para a coleta) e o estudo anatomopatológicos (ou biópsia, também exigindo procedimentos médicos para coleta e interpretação do exame e mais utilizado para tuberculose extrapulmonar). Descentralização Desde a década de noventa há no Brasil um processo de mudanças profundas no sistema de saúde pública com a criação do SUS – Sistema Único de Saúde – que tem entre seus princípios a universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência e a igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. 23 Esse novo modelo de sistema de saúde, organizado de forma regionalizada e hierarquizada, sob comando único em cada esfera de governo, segundo as diretrizes da descentralização administrativa e operacional, do atendimento integral à saúde e da participação da comunidade, visando ao controle social, se concretiza somente através do estabelecimento de relações interinstitucionais, intergovernos e interserviços (VIANA, 1995). Observada na distância do tempo, a implantação do SUS enfrenta descompassos gerenciais. Primeiro, as pressões, sempre maiores, por reforma do Estado que minimize custos afetam a proposta de atendimento universal do sistema. Depois, a difícil convivência entre o princípio da descentralização com o conceito de rede, aqui entendida não só como ligação entre esferas diferenciadas de gestão, mas o modo pelo qual o acesso a um direito é exercido em rede, desde o planejamento. Por outro lado, decisões operacionais sobre a saúde foram descentralizadas, mas o repasse das verbas para efetivar tais decisões não foi (TREVISAN, 2007). Dessa forma, na década de 1990, o governo federal editou sucessivas Normas Operacionais Básicas (NOBs) – portarias ministeriais –a fim de instruir e regular a nova organização do sistema, cujos conteúdos abrangem: definição das formas de transferência de recursos interinstâncias de governo; definição das modalidades de pagamento dos serviços de saúde; instrução do processo de descentralização e de construção de uma rede de serviços capaz de operar com racionalidade sistêmica; definição dos tipos de assistência (básica e de média e alta complexidade) na oferta e definição do modelo de atenção, que articula ações de promoção, prevenção, cura e recuperação (LEVCOVITZ ET al., 2001). De pronto não se pode assegurar que as políticas de descentralização no setor da saúde desencadeiem um círculo virtuoso, pois se sabe que as partilhas regionais e locais giram em torno de recursos reconhecidamente escassos. Dessa forma, mantem-se as desigualdades de representação e de poder, o que pode intensificar o jogo predatório nas relações entre os entes da Federação nas políticas sociais. Portanto, a Federação não pode prescindir de poderosos recursos reguladores, que devem abarcar estratégias, instrumentos e mecanismos claros de accountability (VIANA, 2002). Não nos cabe nesse trabalho discutir em profundidade as vantagens e desvantagens da descentralização, pois tal assunto, por si só, seria objeto de um estudo 24 muito amplo. Cumpre-nos aqui informar que o município de Goiânia segue as diretrizes nacionais da descentralização de serviços e é habilitado como município de Gestão Plena do Sistema Municipal e, portanto, responsável pela gestão dos seus serviços de saúde. Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública O Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública foi instituído pela Portaria 2.031 de 23 de setembro de 2004, do Ministério da Saúde. Foram estabelecidas quatro redes de laboratórios que são organizadas por agravo ou por programa, de forma hierarquizada por grau de complexidade das atividades relacionadas à vigilância em saúde. São elas as redes de laboratórios de vigilância epidemiológica, de vigilância ambiental, de vigilância sanitária e de atenção à saúde. As sub-redes foram estabelecidas com centros colaboradores, laboratórios de referência nacionais, laboratórios de referência regionais, laboratórios de referência estaduais, laboratórios de referência municipal, laboratórios locais e de fronteira. Essa formação está ilustrada abaixo: Figura 1 – SISLAB 25 No caso da tuberculose, o Laboratório de Referência Nacional é o Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da FIOCRUZ, na cidade do Rio de Janeiro. Não foram definidas referências regionais e os laboratórios de referência estadual são os LACEN (Laboratório Central de Saúde Pública), presentes nos 27 estados da federação. Cabe explicar que os LACEN são referências estaduais não só para tuberculose, mas para todos os agravos de saúde pública. A organização da rede estadual é própria de cada estado, podendo haver um laboratório de referência para os municípios em cada regional de saúde ou em municípios com maior população. Os laboratórios visitados para a realização desse trabalho estão administrativamente sob responsabilidade das unidades de saúde onde estão inseridos, e estão tecnicamente sob responsabilidade do CRDT (Centro de Referência em Diagnóstico e Tratamento), que é o laboratório de referência municipal de Goiânia. Este, por sua vez, está tecnicamente vinculado ao LACEN, que é o laboratório de referência estadual. Dados epidemiológicos Apresentamos alguns dados epidemiológicos goianienses a seguir para ilustrar a situação da tuberculose no município A incidência de tuberculose em Goiânia está abaixo da média nacional. Discute-se nesse trabalho exatamente se essa incidência representa a realidade do município, pois como foi demonstrado acima, a quantidade de SR examinados é baixa em relação ao esperado. No gráfico 1 está demonstrada a incidência de casos novos de tuberculose pulmonar positiva (P+) e todas as formas no município. 26 Gráfico 1 - Incidência de P+ e T. Formas, GoiÂnia 2005 – 2010 Fonte: SINAN/DDT/D.E./SMS O tratamento diretamente observado (TDO) foi realizado em 40,8% dos casos diagnosticados em 2010 contra 52,4 % em 2009, ainda distante da meta do PNCT, que é tratar pelo menos 80% dos pacientes através do TDO e também abaixo da meta do próprio município (65%). Esse é um dado importante por mostrar a realização do tratamento no município, visto que o diagnóstico deve forçosamente levar o paciente a um tratamento de qualidade, notadamente o tratamento diretamente observado, conforme recomendado pela OMS e pelo PNCT. Essa forma de tratamento tem levado a maiores índices de cura e menor abandono. Abaixo, no gráfico 2, está demonstrado o TDO por distrito sanitário. 27 Gráfico 2 - Casos Novos de Tuberculose em TDO por distrito sanitário, Goiânia, 2005 – 2010 Fonte: SINAN/DDT/D.E./SMS A meta de cura de tuberculose estipulada pela OMS é de pelo menos 85% e a de abandono de tratamento é de 5%. Vê-se no gráfico 3 que o município, apesar de ter poucos casos diagnosticados, não consegue atingir nenhuma das duas metas propostas. Gráfico 3 - Cura e Abandono dos Casos Novos Pulmonares Positivos Goiânia 2005 – 2010 Fonte: SINAN/DDT/D.E./SMS 28 O coeficiente de mortalidade em Goiânia (gráfico 4) está abaixo da média nacional , já que essa foi de 2,4/100.00 hab em 2010 (SIM) e aquela foi de 0,3 /100.000 hab em 2010, tendo ocorrido uma queda em relação a 2009 (1,2/1000.000 hab). Lembramos que a tuberculose é uma doença de fácil diagnóstico e com tratamento eficaz e gratuito, o que deveria fazer com que esses índices de mortalidade se circunscrevessem aos casos com complicações, como resistência aos medicamentos ou coinfecções com o HIV, por exemplo. Lembramos também que quando um paciente morre por tuberculose, mas é HIV positivo, a causa da morte considerada é o HIV. Gráfico 4 - Coeficiente de Mortalidade de Tuberculose por 100.00 hab, Goiânia, 2005 – 2010 Fonte: SINAN/DDT/D.E./SMS Por fim, ilustrando o dado apresentado na justificativa, apresentamos a quantidade de SR identificados por distrito sanitário em Goiânia (gráfico 5). Para o ano de 2010 a meta de identificação de sintomáticos respiratórios era de 3900, mas foram identificados 2018, representando 51,7% do objetivo, de acordo com o gráfico abaixo, por distrito sanitário. Houve uma queda expressiva em relação a 2009, quando o percentual de sintomáticos identificados foi de 73,9%. 29 Gráfico 5 - SR examinados por Distrito Sanitário, Goiânia 2005 - 2010 Fonte: SINAN/DDT/D.E./SMS MODELO TEÓRICO DA AVALIAÇÃO Avaliação A avaliação não surgiu de um momento para outro, mas é o resultado do desenvolvimento de um processo de construção e reconstrução que envolve e no qual interagem inúmeras influências (GUBA E LINCOLN, 1989). Ainda não foi formulado um conceito definitivo de avaliação. Há uma diversidade de conceitos, de terminologias, pluralidade metodológica e multiplicidade de questões consideradas pertinentes. Os diversos autores da área trabalham com concepções que apresentam algumas diferenças entre si. Alkin (2004) desenvolveu uma classificação das teorias de avaliação na qual estabelece que o campo da avaliação foi originado de duas necessidades: 1ª) de prestação de contas (accountability) e controle dos programas com o objetivo da melhoria dos programas e da sociedade e 2ª) a investigação social, que surge pela preocupação com o uso de métodos sistemáticos e justificáveis para determinação da accountability. Da investigação social derivam os modelos de avaliação: a avaliação 30 como pesquisa, guiada por métodos (ênfase no desenho metodológico bem realizado de estudos experimentais e quase experimentais), a avaliação fundamentada no valor (a principal função do avaliador é o julgamento de valor) e a avaliação fundamentada no uso (a avaliação deve atender as necessidades dos interessados no programa). O principal uso da avaliação é a melhoria dos objetos avaliados, o que difere pesquisa de avaliação, já que, segundo Worthen (2004), o objetivo da pesquisa é aumentar os conhecimentos em uma determinada área. O conceito de avaliação da Fundação Kellogg (1988) reflete esse fundamento da avaliação: “Evaluation is not to prove, is to improve”. Contandriopoulos (2006) diz que: “avaliar é uma atividade que consiste fundamentalmente em aplicar um julgamento de valor a uma intervenção, através de um dispositivo capaz de fornecer informações cientificamente válidas e socialmente legítimas sobre ela ou qualquer um dos seus componentes, permitindo aos diferentes atores envolvidos, que podem ter campos de julgamento diferentes, se posicionarem e construírem (individual ou coletivamente) um julgamento capaz de ser traduzido em ação”. Para Patton (2004): “avaliação é a coleta sistemática de dados sobre atividades, características e efeitos de programas para uso de interessados, de forma a reduzir incertezas, melhorar a efetividade e tomar decisões com respeito ao que aquele programa está fazendo, quais são seus resultados e como pode ser ajustado”. Scriven (1967) diz que “avaliar é um processo sistemático de fazer perguntas sobre o mérito e a relevância de um objeto”. Ele também definiu dois tipos de avaliação: a somativa (normativa) e a formativa. A somativa é realizada para se definir o valor ou mérito de um programa em função de critérios objetivos, auxiliando os gestores a decidirem-se pela manutenção, ampliação ou encerramento do programa avaliado. A avaliação formativa seria uma avaliação de resultados intermediários conduzida durante 31 a implantação de um programa. Para Cronbach (1977), a avaliação formativa tem por objetivo apoiar o desenvolvimento do programa. Para Vasconcelos, a avaliação normativa avalia o cumprimento de normas, objetivos e critérios preestabelecidos como desejáveis ou como orientadores de uma intervenção, componente ou programa global de ações, como um desdobramento dos processos ou gestão administrativa convencionais das organizações. Para Cronbach, (apud WORTHEN, 2004), no entanto, a avaliação, apesar de baseada em ideais científicos, não é somente uma ciência, mas é, principalmente, uma atividade política inserida dentro de um sistema social e “insistente no uso da investigação disciplinada e sistemática”. A avaliação pode ter interesse para diversos grupos ou atores, sob diferentes pontos de vista e os objetivos desses atores podem ser conflitantes. Faz parte das obrigações do avaliador conduzir a avaliação da forma mais imparcial possível, procurando equacionar esses interesses, bem como procurar minimizar os efeitos que sua experiência profissional possa ter nos resultados do trabalho. Contandriopoulos (2000) estabelece que os objetivos de uma avaliação podem ser oficiais ou oficiosos, explícitos ou implícitos, consensuais ou conflitantes, aceito por todos os atores ou só por alguns e identifica quatro objetivos oficiais para as avaliações, que são auxiliar no planejamento e na elaboração de uma intervenção (objetivo estratégico); fornecer uma informação para melhorar uma intervenção no seu decorrer (objetivo formativo); determinar os efeitos de uma intervenção para decidir se ela deve ser mantida, transformada de forma importante ou interrompida (objetivo somativo) e, finalmente, contribuir para o progresso dos conhecimentos, para a elaboração teórica (objetivo fundamental). Além disso, a avaliação tende a se tornar “um processo de negociação entre os atores envolvidos na intervenção a ser avaliada” (CONTANDRIOPOULOS, 1997). O que se depreende é que a avaliação visa melhorar os programas estudados a partir de uma análise coerente e lógica, usando todas as técnicas e princípios relevantes da ciência, preocupando-se com todo o contexto da situação. Um ponto em comum entre os profissionais da área é que a avaliação deve produzir conhecimento que resulte em melhoria das intervenções estudadas e pode 32 trabalhar com uma grande variedade de dimensões e sub-dimensões, produzindo julgamentos sobre cobertura, acesso, efetividade, eficiência, qualidade, satisfação do usuário, etc. Para que a utilidade da avaliação seja assegurada, na sua elaboração devem ser contemplados os grupos ou atores que têm interesse no trabalho, pois é frequente que cada um tenha um ponto de vista diferente sobre a questão e, consequentemente, tenha necessidades diferentes. Deve ser traçada uma visão comum da intervenção a ser estudada e, a partir desse momento, pode-se elaborar uma avaliação que satisfaça as necessidades dos envolvidos, ensejando o comprometimento de cada um com a avaliação. Também deve ficar claro que a informação extraída de uma avaliação deve ser considerada uma ferramenta de negociação de interesses múltiplos e não uma verdade absoluta e que a avaliação deve ser feita com o maior rigor possível (CONTANDRIOPOULOS, 2000). Em consonância com os conceitos explicitados acima, procuramos realizar uma avaliação normativa, fundamentada no julgamento de valor pela aplicação de critérios e normas, avaliando a estruturação do serviço e os resultados obtidos, conformando-se uma avaliação voltada para o uso, atendo-se às necessidades dos atores envolvidos e do beneficiário final, o paciente. Modelo Lógico Existem várias formas de elaborar hipóteses e pressupostos de uma pesquisa antes de selecionar as variáveis que devem ser estudadas. Uma delas é a elaboração de um modelo teórico, também descrito como modelo lógico (FRIAS, 2005). O modelo lógico é uma maneira visual e sistemática de apresentar as relações entre intervenção e efeito. Ele deve incluir as relações entre os recursos necessários para operacionalizar o programa, as atividades planejadas e as mudanças ou resultados que o programa pretende alcançar. Ele representa a racionalidade da intervenção/programa e frequentemente é apresentado como fluxograma, um mapa ou uma tabela que explicita a sequencia de passos que conduzem aos efeitos esperados do programa (CDC, 1999). 33 A seguir está representado o modelo lógico do programa de tuberculose do CDC (Center for Diseases Control) adaptado em trabalho de Oliveira e Natal (2007), que mostra o amplo conjunto de necessidades e ações necessárias para a redução da incidência e mortalidade da tuberculose. No modelo encontramos como um dos produtos esperados um maior número de SR examinados, o que implica no diagnóstico laboratorial bem estruturado para responder à atividade de detecção de casos. Essas atividades implicam em condições estruturantes adequadas (estrutura física, recursos humanos, financeiros e protocolos estabelecidos) e resultam na diminuição da incidência e da mortalidade. Ou seja, o aumento no número de casos diagnosticados pode refletir também o bom desempenho das unidades de saúde no trabalho de identificação dos suspeitos e a existência de um bom fluxo de coleta e transporte de amostras. Para nos referirmos ao diagnóstico laboratorial de tuberculose bem estruturado, elaboramos o Modelo Lógico do Diagnóstico da Tuberculose no Município de Goiânia apresentado logo após o modelo de Oliveira e Natal. A partir das condições oferecidas em relação aos insumos necessários (materiais e local de coleta adequados, conhecimento dos procedimentos técnicos e recursos humanos em quantidade suficiente e capacitados), realizam-se atividades específicas para a realização dos exames diagnósticos e espera-se obter um número crescente de amostras em condições adequadas para realização da baciloscopia (incluindo as normas técnicas do controle de qualidade), resultando em uma quantidade maior de diagnósticos corretos, o que levará ao tratamento dos pacientes identificados e sua cura, interrompendo-se a cadeia de transmissão da tuberculose e reduzindo-se sua incidência e mortalidade. Todo o modelo é permeado pela capacitação de um número adequado de profissionais envolvidos em todas as fases das atividades realizadas. 34 Figura 2 - Modelo Lógico dos Programas de Tuberculose 35 Figura 3 - Modelo Lógico do diagnóstico Laboratorial da Tuberculose em Goiânia 36 Diagnóstico oportuno, nesse modelo, significa realização da coleta da primeira amostra no ato de identificação do SR, realização do exame conforme a técnica e normas de qualidade e entrega dos resultados dentro do prazo esperado. Importante lembrar que a busca ativa de SR não é parte do esquema de diagnóstico, devendo ser realizada pelas equipes de saúde da família e dos postos de saúde, mas sua realização é fundamental para desencadear as atividades previstas no modelo lógico, pois influenciará na quantidade de amostras a serem examinadas. PERGUNTA AVALIATIVA De acordo com as diretrizes do Manual de Vigilância Laboratorial de Tuberculose e Outras Micobactérias (MNTB), editado pelo MS, qual o grau de implantação da rede laboratorial de baciloscopias para tuberculose no município de Goiânia? OBJETIVO GERAL Avaliar o grau de implantação do diagnóstico e acompanhamento laboratorial da tuberculose no município de Goiânia. Objetivos Específicos Caracterizar a adequação das atividades laboratoriais relacionadas ao diagnóstico e acompanhamento da tuberculose. Avaliar a implantação do CQ do diagnóstico da tuberculose por baciloscopias nos laboratórios das unidades de saúde municipais. Verificar se foi implantada a rotina de busca dos pacientes faltosos e de comunicantes. 37 MATERIAIS E MÉTODOS Laboratório Clínico O diagnóstico das doenças é baseado em evidências epidemiologias, clínicas e laboratoriais. Como em muitos casos uma doença produz sintomas muito semelhantes aos de outras doenças com causas e tratamentos diferentes, o laboratório de análises clínicas tem um papel fundamental na elucidação do diagnóstico dos mais variados agravos de saúde. Por exemplo, para diferenciar a doença causada pelo M. tuberculosis da infecção pulmonar por espécies de MNT (micobactérias não tuberculosas), quando é necessária a realização de cultura. Outro exemplo, para diferenciar a leptospirose de outras doenças com sintomas semelhantes, como a dengue hemorrágica, hepatites e pneumonia (OBREGON, 2003). Além disso, os exames laboratoriais são vitais para determinar a gravidade de várias doenças ou monitorar seu curso, evidenciando a necessidade de instituição ou mudança de tratamento, como no caso dos pacientes diabéticos e dos portadores do vírus das hepatites ou do HIV. Também são importantes epidemiologicamente, pois a confirmação laboratorial de alguns agravos (dengue, por exemplo) enseja medidas de controle e prevenção. O laboratório clínico segue normas muito precisas e rígidas para que seja garantido um diagnóstico oportuno e de qualidade. Essas normas são estabelecidas pelos órgãos competentes da esfera federal da saúde, como o MS e a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e por órgãos de fiscalização e controle de qualidade, como os Conselhos de Biomedicina e de Farmácia, as normas ISO (International Organization for Standardization) 17025 e 15.189, NIT-DICLA 083 do INMETRO (Divisão de Credenciamento de Laboratórios e de Provedores de Ensaios de Proficiência do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC), da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC), etc. Seguir essas regulamentações é obrigatório para todos os laboratórios em território brasileiro para que seja alcançado um padrão de qualidade satisfatório na realização das atividades da área. As normas brasileiras são fruto de estudos dos órgãos 38 competentes em consonância com as normas estabelecidas pelos órgãos internacionais de saúde. Desenho da avaliação Um dos aspectos que permitem prover a integralidade da assistência em saúde no diagnóstico da tuberculose é ter disponível um serviço laboratorial de qualidade, bem estruturado e ágil. Imaz (2007) realizou um trabalho bastante objetivo e aprofundado em todos os laboratórios públicos argentinos que realizavam o diagnóstico de tuberculose através de um questionário estruturado com questões sobre a organização do sistema e sobre baciloscopias, culturas para TB e os resultados obtidos. Com a utilização de muitos itens esclarecedores e úteis no trabalho mencionado, nosso estudo foi desenhado englobando também as condições de estrutura física e de recursos humanos para obtenção dos resultados. Idealizamos uma avaliação normativa, por meio de um estudo de caso, transversal, executado com a realização de pesquisa documental e de entrevistas com profissionais dos laboratórios que realizam o diagnóstico de tuberculose com aplicação de um questionário (apêndice 1) semiestruturado, baseado na guia de avaliação de laboratórios locais aplicada pelo PNCT nas suas visitas de monitoramento e avaliação a estados e municípios. Foram atribuídos pontos para cada critério estipulado e as entrevistas foram gravadas e realizadas durante visita observacional aos locais estudados. Goiânia, por ser capital de estado, faz parte da relação de municípios prioritários para o controle da tuberculose no Brasil. Está dividida em sete distritos sanitários com 98 unidades básicas de saúde e 171 equipes de saúde da família Em Goiânia cinco unidades de saúde fazem baciloscopias: o CRDT (Centro de Referência em Diagnostico e Tratamento), que é o laboratório de referência municipal, o CIAMS (Centro Integrado de Assistência Médico-Sanitária) do bairro Novo Horizonte, o CIAMS do bairro Jardim América, o CAIS (Centro de Assistência Integral a Saúde) do bairro Novo Mundo e o CAIS do bairro Jardim Guanabara. Para condução do estudo, foram selecionadas por conveniência três dessas cinco unidades. Importante esclarecer que essas unidades não serão identificadas no estudo. 39 Devido à obrigatoriedade do cumprimento de normas bastante específicas no trabalho laboratorial, nesse estudo foram avaliadas as dimensões de conformidade (em relação à infraestrutura e insumos) e qualidade técnica (procedimentos técnicos e recursos humanos), verificando-se se os laboratórios seguem as normas mais importantes referentes ao diagnóstico da tuberculose. Conformidade A análise de conformidade é feita comparando-se o que encontramos ao analisar o objeto escolhido com as normas existentes para a execução do objeto, ou seja, o padrão ideal de execução dado por organizações que detenham o poder legal ou a expertise para elaborar tais padrões. Em consonância com o exposto, no trabalho Certificação de Qualidade em Equipamentos Médico-hospitalares no Brasil (Muhlen, S.S. 2001), o autor observa que: “a certificação de que um produto está em conformidade com determinada norma técnica é geralmente realizada por entidades estruturadas para tal fim, credenciadas e inspecionadas por um órgão central, gerenciador do sistema, em conformidade com critérios e procedimentos pré-estabelecidos”. Análises de conformidade são frequentes nos mais diversos ramos de atividade e obrigatórias para obtenção de certificados de qualidade como a série ISO, do INMETRO. Por exemplo, existe a Regra Específica para a Certificação de Equipamentos Eletromédicos NIE-DINQP 068, do INMETRO, publicada em 1998 e a resolução nº 444 da ANVISA, de 1999. Essas foram as normas orientadoras observadas no trabalho mencionado acima. A principal norma para controle de qualidade em laboratórios de ensaio e calibração é a norma ISO/IEC 17025:2005, baseada na ISO/IEC 9001:2000. Para o diagnóstico da tuberculose, nos seus aspectos técnicos, existe o MNTB, editado pelo MS, que será a referência nesse aspecto do trabalho. A conformidade analisada no presente trabalho será das condições de infraestrutura e fornecimento de insumos com as normas preconizadas de biossegurança e padrões de uso dos insumos necessários para a realização de baciloscopia. Muitas vezes é difícil fazer uma análise completa de todos os fatores que influenciam na consecução de um objeto pela quantidade de aspectos a serem analisados 40 ou por sua complexidade e, por isso, escolhem-se determinadas ações ou partes do objeto estudado que são mais relevantes e que influenciam de forma importante no resultado final esperado. Na dissertação “Avaliação da Conformidade de Práticas de Prevenção e Controle da Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica em um Hospital Público de Ensino”, a autora avaliou a ocorrência dos eventos a partir de indicadores clínicos processuais especialmente elaborados que foram a avaliação da adesão às medidas específicas de prevenção e controle da pneumonia associada à ventilação mecânica, avaliação da adesão à higiene bucal e a avaliação da adesão à higiene das mãos em alguns procedimentos específicos. (CABRAL DE MENEZES, IRS, 2009). Para avaliação dos componentes infraestrutura e insumos da dimensão conformidade foram escolhidos os seguintes itens: ambiente de coleta, potes para coleta da amostra, utilização de lâminas novas para confecção dos esfregaços, microscópios em boas condições, qualidade dos corantes utilizados na baciloscopia e geladeira para armazenamento e conservação de amostras. Descrevemos a seguir os critérios de pontuação para cada um deles. Quanto ao ambiente de coleta das amostras de escarro, o melhor é que ela seja realizada ao ar livre. Na impossibilidade disso, deverá haver uma sala de coleta que tenha janelas que possam ser abertas para o ambiente externo para que o fluxo de ar seja direcionado para fora. Para qualquer uma dessas condições, a unidade marca 5 pontos. Em qualquer desses casos, o local deve oferecer privacidade ao paciente. A privacidade é muito importante, pois sangue, urina e fezes são, no conceito da população, considerados “normais” no organismo, enquanto que o escarro é associado à ideia de “degradação orgânica” (São Paulo, 2006). Caso houvesse privacidade, mais 5 pontos seriam marcados. Os potes para coleta da amostra devem ser fornecidos pelo serviço (5 pontos) e estar de acordo com as recomendações do PNCT (5 pontos): ter boca larga (50 mm), transparentes, tampa de rosca, capacidade de conteúdo de 35 a 50 ml e identificados previamente na entrega ao paciente. A confecção dos esfregaços deve ser feita apenas com lâminas novas (10 pontos se sim, 0 pontos se não). O microscópio deve ser mantido em boas condições de uso, com as manutenções diárias devidamente realizadas (5 pontos). Os equipamentos do laboratório 41 devem ter manutenção preventiva contratada para evitar interrupções na rotina de realização dos exames. Assim, se houvesse manutenção preventiva para os microscópios, serão anotados mais 5 pontos. Se os corantes utilizados tinham registro no MS (Ministério da Saúde) ou se eram fabricados nas unidades com matérias-primas registradas, a unidade marcou 2 pontos. Se os corantes em uso estivessem dentro do prazo de validade e armazenados corretamente mais 2 pontos, totalizando 10 pontos. Além disso, os corantes em uso devem ser testados periodicamente para verificação da manutenção de suas características. Devido à importância desse controle para a qualidade do exame, a unidade marcou 6 pontos por sua realização. As amostras devem ser preparadas no mesmo dia da coleta. Caso isso não seja possível, devem ser refrigeradas. Portanto, cada laboratório deve ter uma geladeira destinada ao armazenamento e conservação de amostras (10 pontos se há geladeira, nenhum ponto se não há). A escala de pontuação dos requisitos de conformidade está condensada na tabela 1. Tabela 1 - Critérios de Pontuação Dimensão Conformidade Indicadores Coleta Potes de amostra Lâminas Novas Requisito Ar livre ou ambiente isolado Privacidade Fornecidos pelo posto Geladeira 5 Total 10 5 5 10 Adequados 5 Sim Não 10 0 Manutenção diária 5 Microscópios Manutenção preventiva Corantes Pontuação 10 10 5 Registro no MS 5 CQ Sim Não 5 10 0 10 10 42 Qualidade técnica Qualidade técnica nesse trabalho se define como “a adequação das ações ao conhecimento técnico-científico vigente” (VIERA DA SILVA, 2005), ou seja, analisaremos o cumprimento de algumas das exigências técnicas estabelecidas pelos órgãos competentes para a realização de exames e das atividades programáticas da tuberculose. A qualidade técnica será dividida em dois componentes, procedimentos técnicos e recursos humanos, havendo no questionário perguntas específicas para cada item. As variáveis pesquisadas constituem pontos básicos para o bom funcionamento laboratorial, abrangendo pontos conhecidos por todos os profissionais da área, previstos nas legislações ou nas normas de qualidade. Explicaremos a seguir os critérios de pontuação do componente procedimentos técnicos. A RDC nº 302 de 13 de outubro de 2005 da ANVISA, exige a elaboração de instruções para todas as técnicas implantadas no laboratório, chamados nas normas de qualidade de POP (Procedimento Operacional Padrão) e alguns manuais e normas escritas, contendo os procedimentos a serem feitos para a realização dessas atividades. Assim foi verificada a existência dos seguintes POP,: a) Manual de coleta, acondicionamento, conservação e transporte de amostras clínicas, contendo também os critérios para aceitação e rejeição de amostras. Esse manual é obrigatório em laboratórios de análise clínica, segundo as normas da RDC nº 302 da ANVISA e é utilizado para orientar os técnicos quanto à viabilidade da amostra coletada ou transportada até o laboratório (2 pontos). b) Instruções escritas de coleta para os pacientes. Como a segunda amostra é coletada em casa, o paciente deve receber as orientações impressas para possa solucionar dúvidas quanto aos procedimentos para obtenção de amostra satisfatória para o diagnóstico (1 ponto). c) Manuais de uso e manutenção dos equipamentos. Essas instruções devem estar disponíveis e devem ser claras para que todo profissional possa operá-los (1 ponto). 43 d) Manual de biossegurança contendo os procedimentos relativos à manipulação de material biológico específico de tuberculose (1 ponto). e) Manual de procedimentos em caso de acidentes com materiais que apresentem risco biológico (1 ponto). f) Manual das técnicas de baciloscopia (2 ponto). g) Livro de Registro de Baciloscopias devidamente preenchido (1 ponto). h) Normas escritas para os procedimentos de busca ativa dos pacientes que não buscarem os resultados ou abandonarem o tratamento e registro das buscas, além dos registros dos comunicantes e de suas buscas (1 ponto). Esse não é um procedimento a ser realizado pelo laboratório, mas devido a importância da atividade, esses documentos farão parte da pontuação da unidade. Quanto à biossegurança, medidas devem ser tomadas para prevenir o contágio dos profissionais que lidam com a coleta e com a amostra para o exame laboratorial, dos demais profissionais e dos usuários das unidades de saúde. Nesse quesito foram verificados três itens. O primeiro é se há EPI’s (equipamentos de proteção individual) disponíveis para todos os funcionários (máscaras N95, luvas descartáveis e jalecos de manga longa com punho sanfonado, 4 pontos para o conjunto). O segundo, se o esfregaço é preparado em sala que possa ser isolada do resto do laboratório durante o procedimento e tenha janelas que se abram para o lado de fora do edifício. Caso não haja, é aceitável que os procedimentos sejam executados em um horário que não haja outras pessoas na área onde as baciloscopias são preparadas, além do executante da técnica. Deverá haver na sala um bico de Bunsen para a confecção do esfregaço (3 pontos para o conjunto observado). Este é colocado entre o técnico e a lâmina na qual ele fará o esfregaço, permitindo que sua chama proteja o técnico da eventual formação de aerossóis que podem conter bacilos. O terceiro item é se o material contaminado é tratado antes do descarte. Se o tratamento era a autoclavação ou a descontaminação química com hipoclorito, a unidade marcou 3 pontos. Se o tratamento não era realizado, não marcou pontos. Quanto ao controle de qualidade, Zarate (2010) afirma que um laboratório de microbiologia clínica deve ter um controle de qualidade em todas as etapas do 44 processamento das amostras. No trabalho mencionado, Zarate e outros enviaram amostras liofilizadas com resultado conhecido para os laboratórios analisados e compraram os resultados obtidos nos laboratórios com o resultado esperado. Esse modelo de avaliação de qualidade é o ideal para uma avaliação mais profunda, mas implica em custos altos e prazos estendidos para sua realização. No caso da rede de diagnósticos de tuberculose, o controle de qualidade das baciloscopias é feito de acordo com as determinações da Portaria 2.031/2005: o laboratório nacional faz o controle de qualidade dos laboratórios estaduais, os estaduais são responsáveis pelos laboratórios de referência municipal e esses pelos laboratórios locais. Em relação à baciloscopia, o procedimento adotado é a releitura das lâminas de acordo com os critérios estabelecidos no MNTB. O controle de qualidade das baciloscopias do município de Goiânia é feito pelo CRDT. Este recebe e analisa as lâminas de baciloscopias dos laboratórios municipais para que seja feita uma comparação do resultado obtido nos laboratórios com o resultado obtido pelo CRDT. Além da concordância dos resultados, é feita uma avaliação da qualidade do esfregaço em relação a sua homogeneidade e coloração. Se o laboratório participava desse controle, marcou 10 pontos. Se não, não anotou pontos. Em relação à busca de abandonos: o tratamento regular da tuberculose dura seis meses e sua interrupção antes desse prazo pode comprometer a cura e levar à resistência aos medicamentos. Além disso, o paciente deve realizar baciloscopias de controle mensalmente para que possa ser constatada a eficiência do tratamento e ao final, ser realizada a alta por cura. Assim, se o paciente não comparecer ao serviço para a retirada ou tomada dos medicamentos, deve ser realizada a busca do paciente, ou seja, procurar o paciente para reconduzi-lo ao tratamento (10 pontos se realizado, 0 ponto se não). A busca de contatos dos pacientes com tuberculose é uma atividade indispensável para o controle da doença. Estima-se que cada paciente com tuberculose tenha em média quatro contatos, que são os indivíduos que convivem com o paciente e que podem ter sido infectados. O serviço deve inquirir sobre os possíveis comunicantes ao paciente e solicitar seu comparecimento ao serviço de saúde para consulta de avaliação (10 pontos se realizado, 0 ponto se não). 45 O prazo de entrega dos resultados das baciloscopias, conforme recomendado pelo MNTB é de 4 horas para exames de urgência e 24 horas para os exames de rotina. Um percentual maior do que 15% de resultados liberados em mais de 24 horas depois da recepção das amostras significa que o laboratório não está contribuindo de maneira satisfatória para a busca rápida das fontes de infecção na comunidade (BRASIL, 2008). Se o prazo fosse respeitado, a unidade marcou 10 pontos; caso contrário, não marcou pontos. Quanto ao componente recursos humanos da dimensão qualidade técnica, teremos os requisitos descritos a seguir. Nas atividades de diagnóstico as capacitações técnicas são fundamentais para o bom desempenho do profissional e devem ser realizadas pelos laboratórios de referência. Assim, cada unidade deve ter pelo menos um dos profissionais que realizam baciloscopias treinado pelo LACEN ou pelo CRDT. Esse profissional pode capacitar os demais e é referência na unidade. Nesse caso, a unidade marcou 10 pontos. Caso nenhum dos profissionais tenha sido capacitado, a unidade não recebe pontuação. Outra atividade importante é a orientação ao paciente sobre a coleta da amostra, cuja qualidade tem implicação direta no resultado do exame. Assim, deve haver pelo menos um profissional treinado na unidade para orientar o paciente quanto à coleta da 1ª e da 2ª amostras. Também é importante que não haja restrição de horário para a coleta ou entrega de amostras nas unidades. Se essas duas condições eram atendidas, a unidade teve mais 10 pontos anotados. Caso contrário, não marcou pontos. Outro item verificado no indicador recursos humanos é se há profissionais suficientes para atender a demanda de exames de acordo com o preconizado pelo PNCT, que estabelece que cada profissional pode realizar 20 baciloscopias a cada 4 horas de serviço (10 pontos se sim, 0 ponto se não). Cada item avaliado positivamente marcou o máximo de 10 pontos A pontuação por requisito da dimensão qualidade técnica está condensada na tabela 2. 46 Tabela 2 - Critérios de Pontuação Dimensão Qualidade Técnica Critérios de Pontuação - Dimensão Qualidade Técnica Componente Indicador Requisito Manual de Coleta Instruções escritas de coleta Manuais dos Equipamentos Manual de Biossegurança Manuais e POP Instruções Acidentes com Material Biológico ou químico Manual de Técnica de baciloscopia Livro de registro de baciloscopias Procedimentos Técnicos Normas escritas para busca de contatos ou abandonos EPI Biossegurança Sala de preparação do esfregaço Autoclavação da amostra CQ Participa do CQ Busca de Abandonos Realiza a atividade Busca de Contatos Realiza a atividade Recursos Humanos Entrega de resultados Prazo recomendado Capacitação Tem profissional capacitado Cobertura dos Turnos Há cobertura de todos os turnos Profissionais suficientes Há profissionais suficientes para a demanda Pontuação Sim 2 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 2 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 1 Não 0 Sim 4 Não 0 Adequada 3 Não Adequada 0 Sim 3 Não 0 Sim 10 Não 0 Sim 10 Não 0 Sim 10 Não 0 Sim 10 Não 0 Sim Não 10 0 Sim 10 Não 0 Sim 10 Não 0 Total Geral Total 10 60 10 10 10 10 10 10 10 30 10 47 O serviço laboratorial de qualidade não pode prescindir de nenhum dos componentes analisados e, por isso, foram atribuídos pesos a cada um deles, de modo que cada um tenha o mesmo valor na somatória final dos pontos. Assim os componentes infraestrutura e procedimentos técnicos terão peso 2 e o componente recursos humanos terá peso 4. Assim, cada componente terá valor máximo de 120 pontos. A proposta de pontuação está condensada esquematicamente na tabela 3. Tabela 3 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose em Goiânia Dimensão Conformidade Pontuação Fonte de Máxima Informação Ambiente de Coleta Adequado 10 Questionário/ Visita ao Local Potes Adequados 10 Infra-estrutura e Lâminas Novas 10 Insumos Microscópio Adequado 10 Questionário/ Visita ao Local Qualidade dos Corantes 10 Questionário/ Visita ao Local Geladeira p/ Amostras 10 Questionário/ Visita ao Local Manuais e Normas 10 Manuais e Normas Biossegurança 10 Controle de Qualidade 10 Busca de Abandonos 10 Busca de Contatos 10 Registro das Buscas Prazo de Entrega dos resultados 10 Verificação de laudos Capacitação dos funcionários 10 Certificados Cobertura de todos os turnos 10 Questionário Profissionais suficientes para a demanda 10 Questionário Componente Procedimentos Indicador Técnicos Qualidade técnica Recursos Humanos Questionário/ Visita ao Local Questionário/ Visita ao Local Questionário/ Visita ao Local Relatório do LACEN e do CRDT Registro das Buscas Na tabela 4 estão descritos os graus de implantação do sistema de diagnóstico de tuberculose no município. O componente analisado será considerado 48 satisfatório (totalmente implantado) se atingir o mínimo de 80% dos pontos possíveis. A implantação do diagnóstico em cada unidade será considerada satisfatória se a média de pontuação dos três componentes da matriz de avaliação atingir pelo menos 80% dos pontos possíveis e o sistema de diagnóstico do município será satisfatório se a média das unidades analisadas atingir 80%. Os graus de implantação serão: Tabela 4 - Graus de Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia Grau de Implantação % Não Implantado até 30 Incipiente 31 - 50 Parcialmente Implantado 51 - 79 Totalmente Implantado 80 – 100 ASPECTOS ÉTICOS DA AVALIAÇÃO A execução do projeto teve como base as determinações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que trata das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. A identidade dos participantes foi preservada e as entrevistas foram realizadas mediante termo de consentimento livre e esclarecido (apêndice 2) assinado previamente pelos profissionais e assinatura de termo de anuência da instituição (apêndice 3) por um de seus diretores. Nenhum tipo de risco foi oferecido aos participantes, bem como nenhum paciente foi identificado no processo. O estudo foi aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (apêndice 4). 49 RESULTADOS E DISCUSSÃO Fomos recebidos nas visitas pelos responsáveis pelo diagnóstico de tuberculose nos laboratórios de cada posto de saúde selecionado. As assinaturas dos entrevistados nos TCLE foram colhidas antes da entrevista, bem como a assinatura de um dos diretores da unidade. Foram entrevistados os profissionais responsáveis pelo laboratório e/ou pela realização da baciloscopia, todos de nível superior (bioquímicos ou biomédicos). As entrevistas foram gravadas e os profissionais responderam a todas as perguntas conforme seus conhecimentos e atuação profissional e conduziram o entrevistador aos funcionários que faziam os trabalhos de busca de paciente e de contatos para esclarecimento dos procedimentos, além de mostrar a estrutura física do posto de saúde, incluindo o próprio laboratório e os locais indicados para a coleta da amostra. Quanto aos aspectos gerenciais, a Divisão de Apoio ao Diagnóstico (DAD) e o PCT, juntamente com a administração dos distritos de saúde e das unidades de saúde, descentralizaram a baciloscopia de tuberculose para cinco unidades de saúde que já tinham laboratório e que aceitaram realizar as baciloscopias de outras unidades visando agilizar a realização dos exames. A DAD estabeleceu que os distritos fossem os responsáveis pelo transporte das amostras e os resultados seriam acessados e impressos pela unidade onde foram cadastrados e enviados aos distritos, de onde seriam encaminhados às unidades solicitantes. Para gerenciar apropriadamente o fluxo de pacientes da rede de diagnóstico e tratamento da tuberculose, a DAD elaborou fichas de transferência (apêndice 5) de pacientes para que o tratamento não seja interrompido quando ele muda de unidade de atendimento, fichas para investigação de abandonos de tratamento (apêndice 6) para que o distrito pudesse buscar o paciente se esse abandonasse o tratamento. Elaborou também uma carta de alerta (apêndice 7) para as unidades de saúde que tem contatos de pacientes com tuberculose que não foram examinados e instruiu as unidades sobre o fluxo de amostras e de resultados dos exames de baciloscopia (apêndice 8). Três unidades de saúde tiveram profissionais do laboratório entrevistados, com a aplicação do questionário. As respostas foram analisadas para aplicação dos 50 pontos relativos a cada questão, resultando na pontuação por componente e na pontuação total de cada unidade. Analisaremos a seguir cada indicador da matriz de julgamento, começando pelo componente Infraestrutura e Insumos. Quanto ao ambiente de coleta, em relação aos critérios mencionados anteriormente, foi observado que nas três unidades a coleta da amostra é realizada ao ar livre, mas que nenhuma delas tem área reservada para que o paciente não precise se preocupar com eventuais passantes ou curiosos. Cada unidade marcou cinco pontos dos dez pontos possíveis. Sobre os potes para coleta da amostra, a característica de boca larga do pote (50 mm de diâmetro) é para facilitar a coleta do material; a tampa de rosca permite a vedação do pote e sua abertura é mais fácil, sem riscos de derramamentos que podem acontecer quando se abre uma tampa de encaixe. Por fim, a necessidade de o material ser transparente se justifica pelo fato do profissional poder verificar se há amostra no pote sem precisar abri-lo. A unidade 1 não tinha o pote transparente no momento da visita e foi relatado que não há padrão nos potes recebidos pelas unidades, ou seja, nem sempre os potes recebidos estão em conformidade com as normas preconizadas. Como todas as três disponibilizam os potes para os pacientes, cada unidade marcou cinco pontos. Todas as unidades declararam só usar lâminas novas para confecção do esfregaço. Para a qualidade do resultado essa é uma providência fundamental, pois a fucsina fenicada, que é o corante que confere a cor vermelha ao bacilo, pode se precipitar em pequenos arranhões ou pode corar partículas de gordura de uma lâmina mal lavada, levando a um resultado falso positivo. As três unidades marcaram os dez pontos possíveis nesse item. O microscópio em boas condições de conservação é essencial para o bom desempenho do microscopista: se o microscópio não é bem cuidado e/ou não sofre manutenções regulares, pode ficar com as objetivas sujas ou danificadas e os mecanismos de movimentação da lâmina podem ficar prejudicados, dificultando a visualização do bacilo. As manutenções diárias são realizadas pelos profissionais dos laboratórios, visto que os microscópios estão em boas condições de uso, mas nenhuma 51 das três unidades tem manutenção preventiva disponível, o que determinou a perda dos pontos desse item e cada unidade marcou cinco pontos nesse indicador. Os corantes utilizados nos laboratórios são produzidos pelo CRDT, que os produz com matérias primas registrados no MS. Os corantes estavam armazenados corretamente e dentro do prazo de validade, mas nenhum dos laboratórios que os usam faz o controle de qualidade desses corantes. Isso é muito importante para avaliar não só a qualidade da produção, mas também para avaliar a conservação e o armazenamento nos laboratórios que os utilizam. Esse controle de qualidade pode ser feito de forma periódica com a confecção de esfregaços de amostras com resultado conhecido. Se a coloração for insatisfatória, o corante que apresentar problemas deverá ser substituído. Dessa maneira, cada laboratório marcou quatro pontos pelos corantes fabricados com matérias primas registradas no MS e pelo prazo de validade e armazenamento corretos, mas não marcaram pontos porque não realizavam o controle. Nas três unidades visitadas havia uma geladeira destinada à armazenagem de amostras. De acordo com a legislação, essa geladeira deve ser de uso exclusivo para esse fim, não podendo ser utilizada para armazenar kits de diagnóstico, vacinas ou qualquer produto. As unidades marcaram os dez pontos previstos nesse quesito. Os pontos obtidos na observação desse componente estão esquematizados na tabela 5. . 52 Tabela 5 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Infraestrutura e Insumos UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE3 INDICADOR P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % Ambiente de Coleta 5 10 50 5 10 50 5 10 50 Potes Adequados 5 10 50 5 10 50 5 10 50 Lâminas Novas 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Microscópio Adequado 5 10 50 5 10 50 5 10 50 Qualidade dos Corantes 4 10 40 4 10 40 4 10 40 Geladeira p/ Amostras 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Total x 2 78 120 65 78 120 65 78 120 65 Porcentagem da unidade 53 Conforme os critérios de pontuação, nenhuma das unidades atingiu a pontuação mínima para que o componente seja considerado satisfatório (75%) O componente Procedimentos Técnicos teve como primeiro item avaliado a existência de alguns dos manuais e POP (listados anteriormente) que são exigidos pela RDC nº 302/2005 (Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA). Apenas a unidade 1 apresentou alguns dos POP, os de coleta, armazenamento, conservação e transporte de amostras, instruções escritas para a coleta de amostras, procedimentos técnicos de baciloscopia, e o livro de baciloscopias preenchido. A unidade 2 tinha o livro de registro de baciloscopias preenchido e alegou que os demais POP estavam em elaboração e a unidade 3 também tinha o livro de registro de baciloscopias preenchido, mas não foi mencionado plano para confecção dos demais POP. Dessa maneira, a unidade 1 teve 6 pontos marcados, ficando as outras duas unidades com 1 ponto. O cumprimento das normas de biossegurança é fundamental para o trabalho dos profissionais de saúde, não só para os que trabalham no laboratório, mas para todos os funcionários e pacientes que em algum momento compartilham as instalações dos postos de saúde. No caso do M. tuberculosis a classificação de risco é observada em relação aos procedimentos executados e não apenas em relação à capacidade do bacilo de provocar a doença em indivíduos ou na comunidade. Após deliberação dos especialistas reunidos pela OMS e CDC (Center for Disease Control and Prevention), a baciloscopia foi classificada como procedimento de risco mínimo (WHO 2010), o que implica menores exigências na estrutura dos laboratórios e nos procedimentos operacionais. O primeiro item de biossegurança analisado não foi satisfatório porque é recomendável que os jalecos usados pelos profissionais tenham o punho sanfonado, de modo que as mangas não esbarrem nos materiais colocados em cima das bancadas, provocando acidentes. Isso não foi verificado em nenhum dos três. O local de preparação das lâminas é satisfatório nos três, havendo janelas nas salas para um adequado fluxo de ar e bico de Bunsen para a preparação dos esfregaços, o que significou a marcação de três pontos para cada unidade, mas no item descontaminação das amostras foi observado que a unidade 2 faz a autoclavação, como é recomendado pelas normas de biossegurança, a unidade 1 envia as amostras para o CRDT fazer a descontaminação e a unidade 3 simplesmente as descarta na pia. Assim a 54 unidade 2 marcou seis pontos nesse quesito, bem como a unidade 1, pois o transporte do material para descarte é permitido pelas normas de biossegurança. A unidade 3 marcou os três pontos pela área de confecção do esfregaço. O indicador controle de qualidade foi avaliado conforme estabelecido no segundo objetivo específico do trabalho. A realização do diagnóstico é fundamental, mas deve haver um sistema de verificação da qualidade dos exames que estão sendo realizados, pois resultados falso-positivos ou falso-negativos podem ter consequências complicadoras para os pacientes. Esse item foi considerado satisfatório nas três unidades, pois todas participam do sistema de controle de qualidade (SCQ) enviando as lâminas para os laboratórios de referência. Cabe ressaltar que foi avaliado, como objetivo do trabalho, apenas a participação no controle de qualidade externo realizado pelo laboratório competente: o CRDT em relação aos laboratórios municipais e o LACEN em relação ao CRDT. Mas é importante ressaltar que o SCQ tem três pilares, dos quais a participação em avaliações externas é um, mas é necessária a efetivação dos outros dois pilares: um processo de melhoria constante através de identificação e correção de erros e a implantação de rotinas de controle de qualidade interno, estabelecidas pelo próprio laboratório de acordo com sua capacidade e estrutura (Simsek H, 2011). Uma avaliação pontual pode refletir um acerto ou erro fortuito, de um momento de organização ou desorganização do laboratório, do bom ou mau funcionamento dos equipamentos (BRASIL, 2008). Portanto, o trabalho referente ao controle de qualidade deve ser estabelecido em rotinas periódicas e devidamente registradas. Nos indicadores busca de abandonos e busca de contatos, buscamos cumprir o terceiro objetivo desse trabalho e verificamos que as três unidades realizam essas atividades e mantém registro das buscas. Nas visitas às unidades fomos levados ao pessoal que realiza o trabalho e nos foi mostrada a metodologia utilizada e os registros. A unidade de saúde que atendeu o paciente é avisada sobre os contatos identificados ou sobre o abandono do tratamento e quando o paciente é assistido por uma equipe de saúde da família, essa fará a busca. Quando não há cobertura de equipes de saúde da família, a própria unidade entra em contato com o paciente. Ressaltamos a importância dessas atividades para o controle da tuberculose, pois são importantes para a interrupção da cadeia de transmissão do bacilo. Cada unidade marcou 10 pontos pela busca de abandonos e 10 pontos pela busca dos contatos. 55 O prazo de entrega dos resultados preconizado pelo PNCT é de 24 horas nos casos de exames de rotina e de 4 horas nos casos de urgência, sendo considerado normal que até 15% dos resultados saiam com atraso. Nas unidades 1 e 3 o prazo de liberação do resultado é de 48 horas ou mais, enquanto que na unidade 2 é de 24 a 48 horas. Nenhuma das três unidades marcou pontos nesse quesito. Quanto à entrega dos resultados, foi informado que algumas unidades de saúde recebem o resultado online, via CONDATA (Companhia de Processamento de Dados do Município de Goiânia), que administra o sistema informatizado da Prefeitura de Goiânia, mas outras não têm internet e o distrito sanitário ao qual ela pertence é que entrega os resultados nas unidades de saúde. Assim, resultado demora ainda mais para chegar aos postos de saúde. No componente procedimentos técnicos, a pontuação das unidades ficou como demonstrado na tabela 6. Conforme os critérios de pontuação, nenhuma das unidades atingiu a pontuação mínima para que o componente seja considerado satisfatório (75%) Na avaliação do componente recursos humanos, todas as três unidades contam com funcionários treinados pelo LACEN ou pela referência municipal, o CRDT. Isso confere a cada uma dez pontos, somados aos dez pontos obtidos com a presença de um profissional treinado para orientar o paciente em todo o período de funcionamento das unidades. Somam-se vinte pontos para cada uma. No entanto, foram detectados problemas na quantidade de funcionários para realização das baciloscopias, sendo que a unidade 3 suspendeu a realização do exame alegando que isso ocorre porque os funcionários tem que atender a todas as áreas do laboratório (hematologia, bioquímica, uranálise, parasitologia, microbiologia, coleta, liberação de resultados) e também aos exames de urgência que a unidade passou a realizar. 56 Tabela 6 - Matriz de Julgamento da Implantaçao da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Procedimentos Técnicos UNIDADE 1 INDICADOR UNIDADE 2 UNIDADE 3 P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % Manuais e Normas 6 10 60 1 10 10 1 10 10 Biossegurança 6 10 60 6 10 60 3 10 30 Controle de Qualidade 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Busca de Abandonos 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Busca de Contatos 10 10 100 10 10 100 10 10 100 0 10 0 0 10 0 0 10 0 84 120 70 74 120 62 68 120 57 Prazo de Entrega dos resultados Total x 2 57 Entretanto, quando verificamos o livro de registros de baciloscopias do laboratório constatamos que foram realizadas 199 baciloscopias de janeiro a setembro de 2011, o que resulta numa média de 22 baciloscopias/mês. Essa quantidade não pode ser considerada alta, mas a providência tomada para solucionar o alegado problema de excesso de trabalho foi a suspensão da realização de baciloscopias. Lembramos que o MNTB recomenda que um funcionário pode realizar a leitura de até 20 baciloscopias a cada 4 horas de trabalho. Ou seja, mesmo que a unidade não tenha um funcionário exclusivamente para a realização de baciloscopias, uma média de 22 baciloscopias por mês não deveria impactar a rotina de modo a causar a suspensão de sua realização. Na unidade 2, foi alegado que falta pelo menos um funcionário para a preparação das lâminas, o que não impede a realização do exame, mas atrasa o processamento. Na unidade 1 os exames são feitos normalmente, embora entregues em prazo superior ao recomendado e foi alegado que se houver aumento de demanda, o prazo de realização dos exames será ainda mais demorado. Curiosamente, nas entrevistas foi respondido que a quantidade de recursos humanos era satisfatória nas unidades 1 e 3, mas pelo exposto acima, vê-se que esse ponto de vista talvez deva ser reconsiderado. Um estudo dos fluxos de trabalho deve ser realizado nessas unidades para verificar se há falta de recursos humanos ou se uma reorganização das atribuições dos funcionários e/ou das atividades técnicas não seria suficiente para retomar a rotina onde a baciloscopia foi suspensa e para acelerar a liberação dos resultados. O resultado apurado para esse componente está demonstrado na tabela 7. 58 Tabela 7 - Matriz de Julgamento da Implantação da Rede de Diagnóstico de Tuberculose de Goiânia - Recursos Humanos UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE3 INDICADOR P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % P. Obtida P. Máxima % Capacitação dos funcionários 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Cobertura de todos os turnos 10 10 100 10 10 100 10 10 100 Profissionais suficientes para a demanda 0 10 0 0 10 0 0 10 0 Total x 4 80 120 67 80 120 67 80 120 67 Porcentagem da Unidade 59 Mais uma vez, conforme os critérios de pontuação, nenhuma das unidades atingiu a pontuação mínima para que o componente seja considerado satisfatório (75%). Fazendo a média das três unidades, teremos o resultado agregado de cada unidade e a média do município, definindo grau de implantação do diagnóstico de tuberculose em Goiânia, que está apresentado na tabela 8. Tabela 8 - Pontuação Final das Unidades e do Município INDICADORES Soma dos 3 componentes Total possível Porcentagem das Unidades MÉDIA MUNICÍPIO (%) UNIDADE 1 242 360 67 UNIDADE 2 232 360 64 65 UNIDADE 3 226 360 63 A pontuação das unidades verificada nas visitas e na avaliação do questionário, de acordo com os critérios estabelecidos, nos leva à conclusão de que o sistema de diagnóstico laboratorial de tuberculose em Goiânia está parcialmente implantado. Verificou-se que a avaliação da qualidade das baciloscopias está implantada, bem como as unidades tem um sistema de busca de pacientes faltosos e comunicantes, como idealizado nos objetivos específicos do trabalho. A suspensão da realização de baciloscopias já seria suficiente para demonstrar certa fragilidade no sistema de diagnóstico de tuberculose no município. Modificações na rotina laboratorial devem levar em consideração a capacidade de atendimento da demanda e devem ser feitas as adaptações necessárias na rotina laboratorial (redistribuição de tarefas entre os funcionários, por exemplo) para que o atendimento a todos os pacientes não fique prejudicado. Lembramos que a baciloscopia é o método mais rápido e de menor custo para o diagnóstico da tuberculose, mas existem outros meios para se realizar esse diagnóstico. Eles foram desenvolvidos na tentativa de obter melhor rendimento em relação à baciloscopia, principalmente em relação a sua baixa sensibilidade. 60 A cultura é uma das alternativas à baciloscopias, sendo considerada inclusive o padrão-ouro, pois permite o isolamento e crescimento do bacilo de Koch. Para efeito de comparação, para que a baciloscopia seja positiva estima-se que sejam necessários pelo menos cinco mil bacilos por mililitro de amostra, enquanto que são necessários cerca de 100 bacilos por mililitro para a positivação de uma cultura. Se executada com alta qualidade técnica, a cultura pode se positivar com uma quantidade de 10 a 100 bacilos por ml (BRASIL, 2008). No entanto, como o Mycobacterium tuberculosis é uma micobactéria de crescimento lento, essa positivação pode levar de 14 a 28 dias e nos casos de amostras paucibacilares (com poucos bacilos) podem ser necessárias ate oito semanas. O tempo necessário para liberação de um resultado negativo é de sessenta dias. Os aparelhos utilizados para automação das culturas reduziram o tempo para liberação dos resultados das culturas e testes de sensibilidade, mas tem um custo muito alto e exigem condições especiais de infraestrutura física (controle de temperatura ambiente, energia elétrica estável e constante). Além desse longo tempo para liberação de resultados e do maior custo, a realização de culturas exige uma infraestrutura maior também em termos de biossegurança, pois sua realização produz aerossóis que facilitam a disseminação do bacilo. Assim, é obrigatório o uso de cabines de segurança biológica, salas isoladas das demais áreas do laboratório, autoclavação de materiais contaminados na própria unidade e outros. Há no mercado testes moleculares para detecção do bacilo da tuberculose e de resistência aos medicamentos, mas a técnicas ainda não foram padronizadas. Há testes rápidos que detectam o bacilo e resistência a rifampicina e/ou isoniazida. Já foi demonstrada a sensibilidade e especificidade de um equipamento que detecta o bacilo e a resistência a rifampicina, um dos medicamentos básicos do tratamento, em pouco menos de duas horas. Mas esses equipamentos também exigem infraestrutura física diferenciada (energia elétrica estável e ambiente climatizado) e também são de alto custo. Cada uma dessas técnicas é utilizada no Brasil, ainda que com limitações decorrentes das exigências de estrutura física e de biossegurança. Para os grupos populacionais mais vulneráveis à tuberculose (população privada de liberdade, 61 população de rua, população indígena, profissionais de saúde, pessoas vivendo com HIV/AIDS e pessoas vivendo em instituições de longa permanência, como asilos e orfanatos) a cultura e o teste de sensibilidade às drogas do tratamento são recomendações vitais do PNCT. Um aspecto que chama a atenção é a baixa quantidade de SR encontrados pelos serviços de saúde em comparação com as estimativas da OMS, o que sugere que devem ser realizados esforços no sentido de aumentar a identificação de SR (realização da busca ativa) pelas unidades de saúde e equipes de saúde da família. Lembrando que “busca ativa é a atividade de saúde publica (conceito programático) orientada a identificar precocemente pessoas com tosse por tempo igual ou superior a três semanas (SR), consideradas com suspeita de tuberculose pulmonar, visando à descoberta dos casos baciliferos” (BRASIL, 2010). A necessidade de intensificação da busca ativa traz uma questão a ser trabalhada, que é o fato de que mesmo com uma quantidade pequena de realizações de exames em duas das unidades entrevistadas, o prazo de entrega dos resultados não é cumprido e há problemas na área de recursos humanos ou no gerenciamento das atividades do laboratório. Consequentemente, se as equipes de saúde da família e das unidades de saúde desenvolverem um trabalho mais intenso na busca ativa dos SR, esses problemas laboratoriais serão agravados e exigirão pronta resposta da direção das unidades para atendimento adequado à população. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Pudemos observar nos resultados acima que nenhuma das três unidades entrevistadas atingiu a pontuação mínima nos componentes estudados, sendo que a pontuação no componente Infraestrutura das três unidades ficou em 65%. No componente Procedimentos Técnicos a pontuação das unidades 1, 2 e 3 ficou respectivamente em 70%, 62% e 57% e no componente Recursos Humanos as três unidades fizeram 67%. A média da unidade 1 foi de 67%, a da unidade 2 foi 64% e a da unidade 3 foi 63%. 62 O grau de implantação foi dado pela média das três unidades, que ficou em 65%, caracterizando um nível de implantação parcial. O nível gerencial procurou organizar adequadamente sua realização, idealizando as normas para os fluxos de coleta e transporte de amostras e de entrega dos resultados, bem como a distribuição da realização dos exames entre os laboratórios das unidades de saúde. O PCT também elaborou instrumento para supervisionar o exame dos contatos dos pacientes com tuberculose e fichas para acompanhamento do TDO (ver apêndices). No entanto, vários problemas persistem para efetivação das estratégias e fluxos estabelecidos. Da análise dos pontos acima, visando à melhoria e agilidade do diagnóstico de tuberculose em Goiânia, sobressaem algumas recomendações, sendo para o PCT as seguintes: a- O PCT deve repactuar com a direção de cada unidade de saúde a realização de baciloscopias, ensejando através de um compromisso formal o comprometimento dessas com a realização dos exames necessários; b- O PCT deve pleitear na Secretaria Municipal de Saúde que todas as unidades tenham pelo menos um computador com internet para que possam receber os resultados em tempo oportuno. Isso não será uma melhoria apenas para a baciloscopia, mas para todo o fluxo de entrega de resultados dos exames realizados nos laboratórios. Também é necessário dar a devida importância ao resultado negativo da baciloscopia. Além da recomendação de liberação do laudo em 24 horas, também é recomendação do PNCT que um resultado positivo deve ser comunicado imediatamente ao local de atendimento do paciente para que a sua busca seja realizada e o tratamento seja instituído o mais brevemente possível. Entretanto, o resultado negativo também deve ser disponibilizado no prazo de 24 horas preconizado, pois diante da persistência dos sintomas, o médico assistente deve avaliar o resultado negativo e estudar a necessidade de solicitação de cultura ou a investigação de outras doenças. c- Deve ser analisada a implantação do GAL (Gerenciamento de Ambiente Laboratorial), programa elaborado e disponibilizado pelo MS que está sendo implantado em todos os estados do país. Além de fornecer diversas 63 informações de gestão laboratorial, o sistema também oferece os resultados online. O gestor estadual do sistema é o LACEN, que já tem o sistema implantado e é o responsável pelo treinamento dos funcionários dos municípios para sua utilização. Enquanto não se tem essa definição, levar ao conhecimento da CONDATA o modelo preconizado pela ANVISA (RDC nº 305 de 2005) para laudos de exames laboratoriais para adequação do modelo hoje utilizado. d- O PCT deve entrar em contato com a seção competente da SMS para estabelecer os padrões de compra dos insumos para baciloscopia (potes de coleta de amostras, lâminas), fazendo referência aos critérios de qualidade e quantidades necessárias para o período de compra. e- O PCT também deve fazer um trabalho em conjunto com a atenção básica para estimular a solicitação de exames de baciloscopia, trabalhando a questão da busca ativa de SR. Esse trabalho é importantíssimo, sendo o passo inicial da estratégia de combate à tuberculose, já que pelas próprias características das atividades realizadas, de cunho interno e quase sem contato com os pacientes, ao laboratório cabe a realização dos exames que são solicitados e não a solicitação de exames. f- O PCT deve permanecer vigilante quanto ao cumprimento das normas orientadoras do funcionamento do sistema de diagnóstico de tuberculose, supervisionando as unidades para detectar problemas e prevenir ocorrências futuras. O PCT realiza visitas periódicas às unidades de saúde e deve incluir, nas unidades que realizam o diagnóstico, uma visita ao laboratório para conferir a produção de exames, o livro de registro de baciloscopias e culturas, o tempo de liberação dos resultados e como está funcionando o fluxo de coleta, transporte e armazenamento de amostras e o fluxo de entrega dos resultados. Isso pode ser acordado com o CRDT, que é o laboratório de referência municipal, que tem entre suas competências fazer uma supervisão técnica aos laboratórios locais. Para as unidades de saúde, temos a seguinte recomendação: a- A gerência das unidades deve estar atenta e pronta para resolver os problemas administrativos decorrentes das eventuais mudanças na rotina do 64 atendimento laboratorial a fim de que a realização das baciloscopias não fique prejudicada. Se necessário, a unidade pode recorrer ao LACEN ou ao CRDT para que seja melhorado o fluxo de trabalho do laboratório. Para os laboratórios ficam as recomendações abaixo: a- Estabelecer programas internos de controle de qualidade, por exemplo, por meio da realização do controle dos corantes de forma periódica e da realização de provas internas de qualidade, como o duplo-cego. Nesse tipo de controle interno, são preparadas duas lâminas da mesma amostra, cuja identificação é desconhecida do microscopista para avaliação do resultado. Depois da leitura, espera-se que o resultado seja o mesmo. Todos os processos relacionados ao controle de qualidade devem ser documentados, inclusive a identificação dos problemas e as providências tomadas para suas correções. b- Elaborar os manuais e POPs faltantes, cuja existência é preconizada pelas normas de controle de qualidade. c- Adequar o prazo de entrega dos resultados positivos e negativos segundo as recomendações da CGLAB e PNCT. d- Elaborar os indicadores de trabalho. Nenhum dos 3 laboratórios visitados tem essa rotina estabelecida, que é uma importante ferramenta de gestão e parte do SCQ. Sendo realizado de forma contínua, permite a análise de desempenho do próprio laboratório e de algumas atividades do programa. Por exemplo, o indicador “porcentagem de amostras com aspecto de saliva” permite identificar unidades com problemas na orientação da coleta aos pacientes. Os indicadores que devem ser avaliados pelos laboratórios estão listados no MNTB. Essas são recomendações que, levadas à prática, configurariam uma melhora significativa do sistema de diagnóstico de tuberculose do município. A recomendação F para o PCT é, na realidade, uma visita de monitoramento e avaliação do PCT às unidades, nos moldes da visita de monitoramento e avaliação do PNCT aos estados, observando todos os detalhes do funcionamento do diagnóstico de tuberculose, verificando fluxos, registros, atendimento, prazos, etc. Em médio prazo, essa prática, se 65 transformada em rotina, provoca alterações no funcionamento das unidades que se tornam permanentes, estabilizando-se o funcionamento do sistema idealizado. Além disso, o nível central poderá resolver problemas locais durante a própria visita e conhecendo mais a fundo cada unidade, poderá se antecipar a problemas futuros e estabelecerá uma relação mais próxima e de mais confiança com diretores e funcionários. Por outro lado, é importante ressaltar que os laboratórios que realizam a baciloscopia não recusam amostras, ou seja, não há limitações formais na quantidade de exames que podem ser solicitados pelos profissionais da atenção básica. À medida que a solicitação de exames for aumentando, a exigência da capacidade laboratorial será também aumentada, demandando resposta dos diretores das unidades às limitações dos laboratórios. Como esses resultados poderão ser utilizados pelos níveis gerenciais para adequação dos itens em desacordo com as recomendações dos programas de tuberculose do MS e do município, espera-se que os atores envolvidos firmem entendimentos sobre a execução das tarefas a que se propõem, promovendo a melhoria do serviço estudado, cada um com suas atribuições definidas em comum acordo, estabelecendo-se os necessários fluxos de trabalho e de informação entre as partes. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALKIN MC, Evaluation roots: tracing theorists’ views and influences. Part 1 introduction. Thousand Oaks: Sage publications; 2004: 3 – 65. BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica; Manual de Vigilância Laboratorial da Tuberculose e Outras Micobactérias, 2008. 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Rio de Janeiro, MedBook, 2010. 70 APÊNDICES Apêndice 1 Questionário QUESTÕES RELATIVAS AOS LABORATÓRIOS DAS UNIDADES DE SAÚDE Número da unidade:______ Data: ________ Aplicado por: ___________________________ I - INDICADORES Período Analisado: _______________ Possui registros periódicos dos seguintes indicadores: ( ) Número de baciloscopias realizadas em 2010: _____________ ( ) Número de baciloscopias realizadas para diagnóstico pelo número de sintomáticos respiratórios esperado: ______________ ( ) Percentual de positividade da baciloscopia para diagnóstico pelo número de sintomático respiratório examinado em um determinado período: ______________ ( ) Percentual de baciloscopias liberadas no prazo de 24 horas: ______________ ( ) Percentual de amostras para diagnóstico com aspecto de saliva: ______________ ( ) Total de baciloscopias de controle realizadas: ______________ ( ) % de baciloscopias de controle entre o total de baciloscopias: ______________ ( ) Nenhum II – PLANEJAMENTO 2.1 – O laboratório ou a direção da unidade participaram da definição da rede de diagnóstico de tuberculose? ( ) Sim ( ) Não 2.2 – O LACEN ou o Laboratório de Referência Municipal oferece suporte técnico para as atividades do LL? ( ) Sim. ( ) Não Observações.: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ____________________________ 2.3 – O Laboratório Local recebeu visitas de monitoramento e avaliação do Laboratório de Referência Municipal nos últimos dois anos? ( ) Sim 71 ( ) Não III – INFRAESTRUTURA 3.1 - Há área física inadequada para a realização de exames? ( ) coleta de amostras ( ) registro de dados, liberação de resultados ( ) realização de esfregaço e coloração ( ) microscopia ( ) descarte de resíduos e material contaminado IV – RECURSOS HUMANOS 4.1 - Há recursos humanos suficientes para realização do diagnóstico de tuberculose? ( ) Sim ( ) Não Quantas pessoas estão envolvidas? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________ Se não são suficientes, como e quais atividades estão prejudicadas? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________ 4.2- Treinamento para baciloscopia: ( ) Todos que fazem baciloscopias foram treinados pelo LACEN ou pelo Laboratório de Referência Municipal (LRM) ( ) Há pelo menos um profissional treinado para realizar a baciloscopia em cada turno de trabalho. ( ) Os profissionais foram treinados por multiplicadores formados pelo LACEN ou LRM. ( ) Os profissionais não foram treinados pelo LACEN ou pelo LRM. ( ) Outros 4.3- Quanto ao atendimento ao paciente: ( ) Há pelo menos um profissional treinado para dar orientações sobre a coleta da mostra aos pacientes suspeitos de tuberculose em cada turno. ( ) Há turnos em que não há um profissional treinado para dar orientações sobre a coleta da amostra aos pacientes suspeitos de tuberculose. V – ORGANIZAÇÃO INTERNA E DOCUMENTAÇÃO 5.1- Possui impressos padronizados para: ( ) Solicitação de baciloscopia ( ) Solicitação de Cultura ( ) Solicitação de Teste de sensibilidade ( ) Laudo 5.2- O laudo segue as recomendações da RDC 302/2005, da ANVISA? ( ) Sim ( ) Não 72 5.3- Possui os seguintes Procedimentos Operacionais Padrão (POP) ou instruções documentadas, disponíveis, atualizadas e que mencionam especificamente a tuberculose: ( ) Coleta de amostra ( ) Acondicionamento de amostra ( ) Conservação de amostras ( ) Transporte de amostras ( ) Critérios para aceitação e rejeição de amostra ( ) Instruções escritas de coleta de escarro para serem entregues aos pacientes. ( ) Procedimentos de baciloscopia ( ) Procedimentos de operação, monitoramento, limpeza e manutenção dos equipamentos ( ) Caso de acidentes de trabalho ( ) Controle de qualidade de produção de reativos e meios ( ) Controle de qualidade de todos os procedimentos técnicos ( ) Livro de Baciloscopias devidamente preenchido. ( ) Normas escritas para a busca ativa dos pacientes faltosos ( ) Normas escritas para a busca ativa dos contatos ( ) Ficha para preenchimento das buscas realizadas. 5.4 - Possui mecanismos de cadastramento unívoco das amostras clínicas que garantam sua identificação e rastreabilidade durante toda a sua permanência no laboratório? ( ) Sim ( ) Não 5.5 - Qual sistema informatizado é utilizado? ( ) GAL ( ) SILTB ( ) LABTB ( ) Outro. Qual?........................................................................ ( ) Não possui sistema informatizado 5.6 – Envia o Informe Mensal de Resultados de Baciloscopia para a Vigilância Epidemiológica/PMCT? ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________ 5.7 – Utiliza e estão disponíveis no laboratório os seguintes manuais: ( ) MNTB ( ) Manual do Telelab 5.8 - Quanto à busca ativa de pacientes faltosos: ( ) O serviço realiza a busca ativa e registra o contato com o paciente ( ) O serviço realiza a busca ativa, mas não registra o contato com o paciente ( ) O serviço não realiza a busca ativa 73 5.9 – Quanto à busca ativa dos comunicantes: ( ) O serviço realiza a busca ativa e registra o contato com o comunicante ( ) O serviço realiza a busca ativa, mas não registra o contato com o comunicante ( ) O serviço não realiza a busca ativa VII – ASPECTOS TÉCNICOS 7.1 - A coleta das amostras de escarro é descentralizada? ( ) Sim ( ) Não 7.2 - Qual a freqüência de encaminhamento de amostras das unidades de saúde para o laboratório? ( ) diário ( ) 2 x por semana ( ) 3 x por semana ( ) quando há amostras, a unidade envia para o LL. ( ) não há fluxo de envio de amostras definido. 7.3- Se a freqüência não é diária, considera a freqüência adotada adequada para a demanda? ( ) Sim ( ) Não 7.4- O transporte da amostra: ( ) é feito de acordo com as normas de transporte de amostras do PCNT. ( ) não é feito de acordo com as normas de transporte de amostras do PCNT. Nesse caso, explique: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________ 7.5- Os potes para coleta da amostra: ( ) são fornecidos pelo posto e estão de acordo com as normas do PNCT. ( ) são fornecidos pelo posto, mas não estão de acordo com as normas do PNCT. ( ) não são fornecidos pelo posto. 7.6- As amostras coletadas em outras unidades: ( ) no recebimento, são inspecionadas por profissional do laboratório e devem estar de acordo com as normas do PNCT pra transporte de amostras. ( ) no recebimento, são inspecionadas por profissional da unidade de saúde capacitado para tal e devem estar de acordo com as normas do PNCT pra transporte de amostras. ( ) não são inspecionadas por profissional capacitado. ( ) não são inspecionadas. 7.7- Quanto a conservação das amostras: ( ) há uma geladeira de uso exclusivo para armazenamento de amostras biológicas. ( ) não há uma geladeira de uso exclusivo para armazenamento de amostras biológicas. 7.8- Quanto ao prazo de entrega dos resultados: 74 ( ) os laudos dos exames de rotina são entregues em 24h e os exames de urgência em 4h. ( ) os laudos dos exames de rotina são entregues em 48h e as urgências em 24h. ( ) os laudos dos exames são entregues com mais de 48 h. 7.9 – Quem é o responsável por retirar os resultados e encaminhar para a Unidade de Saúde? ( ) o paciente ( ) a Unidade de Saúde ( ) o laboratório ( ) Online ( ) Outro. Quem?______________ 7.10- As lâminas usadas para confecção do esfregaço: ( ) sempre são novas. ( ) algumas vezes são reaproveitadas. ( ) são reaproveitadas. 7.11- Quanto aos corantes: ( ) são adquiridos comercialmente e tem registro na ANVISA. ( ) são adquiridos comercialmente, mas não tem registro na ANVISA. ( ) são produzidos no próprio laboratório e as matérias-primas tem registro na ANVISA. ( ) são produzidos no próprio laboratório e as matérias-primas não tem registro na ANVISA. ( ) são fornecidos pelo Laboratório Central. 7.12 - O laboratório recebe as amostras em que período? ( ) manhã ( ) tarde ( ) integral, todos os dias de funcionamento 7.13 – Qual o tempo transcorrido entre o recebimento do material clínico e a liberação do resultado de baciloscopia? ( ) 1 a 4 horas ( ) Até 24 horas ( ) Entre 24 e 48 horas ( ) Acima de 48 horas 7.14 – Quem faz a entrega do material clínico ao laboratório? ( ) o paciente ( ) a Unidade de Saúde ( ) Outro. Quem?_________________________ 7.15 – Possui um sistema de controle de qualidade interno, devidamente registrado? ( ) Sim ( ) Não 7.16 – Participa de programa de controle externo da qualidade, mantendo os registros dos resultados? ( ) Sim ( ) Não 7.17- Quanto aos corantes: 75 ( ) é feito o controle de qualidade dos corantes. ( ) é feito o controle de qualidade dos corantes, mas não na freqüência recomendada. ( ) não é feito controle de qualidade dos corantes. III – Equipamentos e Insumos 8.1 - Possui os equipamentos abaixo para a realização da baciloscopia: ( ) Microscópio ( ) Geladeira ( ) Autoclave 8.2 – Utiliza bico de Bunsen para baciloscopia? ( ) Sim ( ) Não ( ) outro instrumento. Qual?___________________________________________ 8.3 - Possui manutenção preventiva dos microscópios e autoclaves? ( ) Sim ( ) Não ( ) Somente corretiva Obs.: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________ 8.4 - Possui os insumos armazenados corretamente? ( ) Sim ( ) Não 8.5 – Possui reagentes/soluções devidamente identificados, inclusive com data de validade? ( ) Sim ( ) Não IX – Biossegurança 9.1 – Possui normas/rotinas estabelecidas de biossegurança relacionados a: ( ) Limpeza e desinfecção de superfícies ( ) Casos de derramamento de produtos: químico ou biológico ( ) Tratamento de resíduos ( ) Descarte de material ( ) Uso do equipamento de proteção individual (EPI) ( ) Não possui 9.2- A amostra de escarro para baciloscopia: ( ) é coletada em sala com comunicação para o ambiente externo e condições de privacidade para o paciente. ( ) é coletada ao ar livre, em local que favoreça privacidade ao paciente. ( ) é coletada no banheiro da unidade 76 ( ) outra: ______________________________________________________________________ _______ 9.3 – Quanto aos EPI’s: ( ) Há EPI’s disponíveis para todos os funcionários. ( ) Há EPI’s disponíveis, mas não os recomendados. Explique:_____________________________________ ( ) Não há EPI’s disponíveis para todos os funcionários. 9.4- Quanto a preparação dos esfregaços: ( ) a preparação do esfregaço é feita em sala isolada dos outros ambientes e com janelas para o ambiente externo. ( ) a sala não é isolada e/ou não tem janelas para o ambiente externo. 9.5 – Realiza controle médico periódico da equipe de profissionais? ( ) Sim ( ) Não 9.6 – Realiza a descontaminação do material por meio de: ( ) Autoclavação ( ) Incineração ( ) Descontaminação Química ( ) Serviço terceirizado ( ) Não descontamina ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 77 Apêndice 2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O(a) Sr(a) está sendo convidado(a) para responder um questionário e participar de uma entrevista que será gravada. Sua participação é muito importante, mas não é obrigatória. Este estudo está sendo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP/FIOCRUZ – Rio de Janeiro, para avaliar a implantação do diagnóstico laboratorial da tuberculose no município de Goiânia. O(a) Sr(a) foi selecionado(a) por trabalhar na atividade do serviço laboratorial ou do atendimento aos pacientes desse programa. A qualquer momento o(a) Sr(a) poderá desistir de participar e retirar seu consentimento. A sua decisão de não participar não irá, de forma alguma, afetar sua atividade no serviço de saúde. Sua participação nesta entrevista consistirá em responder questões referentes à satisfação com a estrutura e o processo estabelecido para o serviço laboratorial na descentralização da baciloscopia como diagnóstico de tuberculose nas Unidades de Saúde do município de Goiânia. O Sr(a) não receberá nenhum benefício direto por sua participação, mas as informações fornecidas pelo Sr(a) contribuirão para a melhoria do serviço prestado pela sua unidade de saúde. Não há riscos previsíveis no que diz respeito a sua participação. As informações obtidas nessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Seu anonimato será preservado quando os dados forem divulgados. Os dados poderão ser utilizados em relatórios, artigos científicos, dissertação de mestrado. O(a) Sr(a) receberá uma cópia deste termo onde constam telefone e endereço do pesquisador principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. ______________________________ Ruy de Souza Júnior Coordenador do estudo SCS QD 04 BL A, Ed. Principal, 3º Andar CEP: 70304-000 Tel: 556132138286 Fax: 556132138249/8253 CEP – Comitê de Ética em Pesquisa Rua Leopoldo de Bulhões, 1480 Manguinhos – Rio de Janeiro - RJ CEP: 21041-210 Tel. 5521 2598-2525 Fax: 5521 2580-8194 Declaro que entendi os objetivos de minha participação no estudo e concordo em participar. ________________________,______de ________ de 2011. _______________________________ Profissional de Saúde _______________________________ Pesquisador de Campo 78 Apêndice 3 Termo de Anuência da Instituição Pesquisada TERMO DE ANUÊNCIA DA INSTITUIÇÃO PESQUISADA Declaro ter lido o projeto “Avaliação da Implantação do Diagnóstico Laboratorial da Tuberculose no Município de Goiânia”. Declaro, igualmente, que esta instituição apoiará o trabalho descrito neste projeto de pesquisa fornecendo informações documentais deste laboratório e possibilitando a participação dos profissionais de saúde de acordo com as condições éticas estabelecidas pelo Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE). _____________________________ Unidade de Saúde ____________________________ Local e Data ________________________________________________________ Assinatura e Carimbo da Diretoria da Instituição Pesquisada 79 Apêndice 4 Declaração de Anuência da Secretaria Municipal de Saúde 80 Apêndice 5 Ficha de transferência Da: Unidade de Saúde : ________________________________Goiânia – GO Para : Unidade de Saúde: __________________________________________ Nome do Paciente: __________________________________________________ Data do diagnostico : ___/____/____Data do inicio do tratamento: ____/ ___/ ____ Data da Transferência: ____/___/____ Peso : _______ Motivo da transferência:_______________________________________________ __________________________________________________________________ HISTÓRICO DO PACIENTE 1 – NO DIAGNÓSTICO: Forma Clínica: Pulmonar ( )Extra-pulmonar ( ) Pulmonar + Extra- pulmonar ( ) Se extra-pulmonar, qual: ______________________________________________ Baciloscopia :1º amostra ( ) 2º amostra ( ) Não realizada ( ) Cultura de escarro: Positivo ( ) Negativa ( ) Não realizado ( ) PPD: Não reator ( ) Reator fraco ( ) Reator forte ( ) Não realizado ( ) Baciloscopia de outro material : Positiva ( ) Negativa ( ) Não realizado ( ) Cultura de outro material: Positiva ( ) Negativa ( ) Não realizado ( ) RX: Suspeito ( ) Normal ( ) Outra patologia ( ) Não realizado ( ) Hispatológico : BAAR Positivo ( ) Sugestivo de Tb ( ) Não sugestivo de Tb ( ) Não realizado ( ) HIV : Positivo ( ) Negativo ( ) Não realizado ( ) Doenças associadas : ________________________________________________ 2 – ESQUEMA DE TRATAMENTO: • I ( ) IR ( ) II ( ) III ( ) - AUTO- ADMINISTRADO ( ) - SUPERVISONADO ( ) • Outro : ______________________________________________________ Especificar as drogas 3 – CONTROLE DE CONTATOS Nº de contatos registrados: ___________ Nº de contatos examinados: _________ 4 – CONTROLE DE TRATAMENTO Baciloscopias realizadas: • • No _________________ mês de tratamento No _________________ mês de tratamento Goiânia, _______ de ________________ de 200__ Resultado ( Resultado ( ) ) ______________________ Assinatura 81 Apêndice 6 Ficha para Busca de Abandono de Tratamento FICHA PARA BUSCA DE ABANDONO DE TRATAMENTO -TUBERCULOSE- Unidade de Saúde Notificante: ________________________________________________ Data da notificação: _________________________________________________________ Nome do Paciente: _________________________________________________________ Endereço:_____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ___ Data do Início de Tratamento: _________________________________________________ Forma Clínica: ____________________ Baciloscopia inicial:_______________________ Esquema Terapêutico:_______________________________________________________ Data do Abandono:_________________________________________________________ Obs.: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _________________________________________________________________ Visita Domiciliar:___________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Data da Visita:___________ Assinatura do Responsável pela visita: __________________________________________ 82 Apêndice 7 Carta Alerta SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÃNCIA EM SAÚDE DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA DIVISÃO DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS VIGILÂNCIA E AÇÕES DE CONTROLE DA TUBERCULOSE CARTA ALERTA TUBERCULOSE DISTRITO: UNIDADE: DATA: Sr. (a) Diretor (a), Os pacientes abaixo relacionados são portadores de Tuberculose, notificados em _____, que se encontram na sua unidade, os quais ainda possuem contatos registrados que não foram examinados. Solicitamos seu empenho no sentido de propiciar meios para sua equipe possa atender esta recomendação do Ministério da Saúde a contento. Ressaltamos que esta iniciativa foi necessária tendo em vista a baixa cobertura de contatos examinados em _____. Aguardamos retorno visando atualizar os dados da Tuberculose no SINANNET. Seq. Nome Contatos Registrados Contatos Examinados 01 02 03 04 05 06 07 Certos de podermos contar com a sua valiosa colaboração, agradecemos. Apêndice 8 Instruções para o Fluxo de Amostras e Resultados da Baciloscopia 83 SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE Diretoria de Atenção a Saúde Divisão de Apoio a Diagnósticos MEMO: _________/2006 Goiânia, 14 de Outubro de 2009. Da: Divisão de Apoio a Diagnóstico Para: Diretor(a) – Distritos/Cais/Ciams/Ubsf C/ SCL instalado. Prezados Senhores! Visando dinamizar o fluxo das amostras de escarro para pesquisa de BAAR, das Unidades de Saúde para os Laboratórios da SMS e consequentemente o imediato retorno dos resultados para as unidades. Solicitamos: A - Atenção especial no cadastro de pedidos no SCL (Sistema de Controle Laboratorial) da COMDATA no que diz respeito as seguintes informações. Nome completo do paciente Nome completo da mãe Data de Nascimento do paciente Endereço completo e telefone Unidade de Saúde de Origem. Tipo de Amostra( 1º amostra 142, 2ª amostra 143, 3ª amostra 144 e Controle 140) Nota: 1. Atenção especial no cadastro correto da Unidade de Origem da amostra uma vez que muitos resultados serão enviados para os Distritos e que esse encaminhe para as Unidades de Origem, 2. Atenção especial no cadastro do tipo de amostra. Ex. Quando for pedido baciloscopias de 1ª e 2ª , cadastrar respectivamente os códigos 142 e 143. Quando for pedido baciloscopias para controle cadastrar o código 140. B. Que ao receber amostras entregue pelo motorista, o funcionário da recepção deve efetuar o cadastro e anotar o número deste em 2 vias do mapa de controle que será apresentado pelo motorista, devolvendo a 1ª via e arquivando a 2ª. C. Que ao receber amostras entregue pelo paciente, o funcionário da recepção deve efetuar o cadastro, anotar o numero deste e o nome do paciente em um mapa ou caderno protocolo, para controle, e informar o numero do pedido ao paciente. D. Que realize a baciloscopia, digite e assine os resultado dentro de um prazo de 24 hora. Os resultados de amostras recebida por malote (motorista), devem ser impressos e colocados em pastas separadas por Distritos e entregue ao motorista do mesmo. E. Que, no caso da impossibilidade da realização da baciloscopia por dificuldades técnicas e ou administrativas, conservar as amostras em refrigerador, se necessário, e encaminhar num prazo máximo de 24 horas. F. Que, todas as baciloscopias solicitados por Unidade de Saúde sejam cadastradas no Laboratório ou posto de coleta da Unidade ou no Laboratório Distrital da Unidade solicitante e realizadas neste último , casos este distrito tenha Laboratório que realiza tal procedimento. Na expectativa de sucesso, agradecemos a atenção. Atenciosamente, 84