III Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG I Salão de Extensão & I Mostra Científica http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao ISSN 2318-8014 ESPORTES E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O FUTEBOL ITALIANO DURANTE O PERÍODO FASCISTA Vinicius Vettorazzi Somacal a Orientador: Prof. Marcos Paulo dos Reis Quadros a) Acadêmico do curso de Relações Internacionais na Faculdade América Latina (FAL) Informações de Submissão [email protected] Rua Os Dezoito do Forte, 2366 - Caxias do Sul - RS - CEP: 95020-472 Palavras-chave: Futebol. Fascismo. Política externa italiana. Resumo O presente artigo faz uma análise sobre a instrumentalização do futebol como uma importante ferramenta política que atua tanto no cenário doméstico quanto externamente, movido por paixões, interesses e ideologias. Nesse sentido, evidencia como isso é possível através do estudo de caso da Itália no período fascista, demonstrando em que medida o futebol se tornou parte importante da política interna e externa de Benito Mussolini, que por motivos ideológicos, não mediu esforços para promover a ascensão desse esporte no país. Visto que um dos sintomas da importância do esporte durante o fascismo é a vitória do país nas Copas do Mundo de 1934 e 1938, procuramos analisar mais detidamente esses dois eventos. Além disso, buscou-se identificar os elementos centrais da ideologia fascista, e o modo como essa ideologia condicionou a política externa italiana durante o período. Finalmente, apresentamos os resultados que comprovam o impacto em dois importantes aspectos: internamente, no que tange a expansão da propaganda nacionalista por parte do regime; e externamente, na promoção do soft power italiano. 1 INTRODUÇÃO Atualmente, o esporte é tratado como um dos fenômenos sócio-culturais mais importantes (TUBINO, 1993), e que merece bastante atenção no âmbito internacional. Movimentando expressivas quantias de dinheiro no mundo todo, o esporte ganha espaço no terreno das discussões cientificas. Sendo assim, é visto como um instrumento político e ideológico, desde que líderes como Hitler e Mussolini perceberam que os esportes poderiam se tornar um poderoso instrumento de propaganda política. (IDEM, 1993) Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1519 Uma característica unanime é de que todos os regimes totalitários doutrinaram muito bem seus súditos com suportes propagandísticos atrativos, mas Mussolini foi um precursor na era moderna. E, entre todos esses atrativos, o futebol sempre foi a ferramenta campeã dos regimes não democráticos, sejam de direita ou de esquerda. (MARTOLIO, 2014, p. 25) Considerando que foram muitos os fatos históricos que ocorreram no Sistema Internacional envolvendo o futebol, optou-se por centrar a análise no regime fascista de Benito Mussolini, por ser um dos casos mais emblemáticos, além de ter sido um dos primeiros onde o esporte foi utilizado como propaganda de um regime, e um time foi utilizado como símbolo de uma nação. Cria-se assim uma relação entre o futebol e o nacionalismo, que posteriormente seria utilizado por outros ditadores. Após isso, será efetivamente demonstrada a relação entre os esportes, em especial o futebol, com o fascismo. O foco não se dará apenas nas conquistas das Copas do Mundo de Futebol de 1934 e 1938, mas sim em toda a construção do futebol dentro do país, de que forma isso ocorreu, as normas implantadas e os resultados obtidos, além de um mapeamento do ambiente político do país naquela época, analisando sua doutrina, suas práticas de política doméstica e seu comportamento no cenário internacional. Partindo do pressuposto que o futebol praticado por uma seleção por muitas vezes é reflexo da situação do país, avaliaremos a hipótese de que o futebol italiano teria representado a política imperialista do Duce, que buscava a glória em campos estrangeiros, com homens que queriam honrar sua pátria, sem dispensar o uso da força para conquistar tais objetivos. Nesse sentido, traz-se para o debate a hipótese de que o Duce não mediu esforços para fazer desse esporte um dos tentáculos de sua política, no sentido de controlar a população internamente, e de promover sua ideologia e o regime externamente. 2 A ITÁLIA DURANTE O PERÍODO FASCISTA O fascismo1 como ideologia, de acordo com Cazetta (2011) surge em um momento instável na Europa, causado pelo risco de uma revolução social. As condições nos campos e 1 Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998), esse termo é utilizado com três significados diferentes: O primeiro faz referência ao núcleo histórico original, constituído pelo Fascismo italiano; o segundo está ligado à dimensão internacional que o Fascismo alcançou, quando o nacional-socialismo se consolidou na Alemanha com tais características ideológicas, tais critérios organizativos e finalidades políticas, que levou os contemporâneos a estabelecerem uma analogia essencial entre o Fascismo italiano e o que foi chamado de Fascismo alemão; e o terceiro, estende o termo a todos os movimentos ou regimes que compartilham com aquele que foi definido Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1520 nas fábricas, que geravam uma intensiva exploração da mão-de-obra, tornavam o ambiente perfeito para a expansão de partidos com ideologia de esquerda no pós Primeira Guerra Mundial. Paxton (2004) reforça a situação turbulenta vivida na Europa nesse período. Com a inflação fora de controle, a população, que esperava do governo soluções econômicas para a crise vivida, acabou ―sendo jogada para a incerteza‖ (PAXTON, 2004, p.30). Esse movimento, com a ideologia de direita radical e outros grupos antiliberais, surge como uma resposta ao perigo, na verdade à realidade da revolução social e do poder operário em geral, e à Revolução de Outubro e ao leninismo em particular. Sem esses, não teria havido fascismo algum, pois embora os demagógicos ultradireitistas tivessem sido politicamente barulhentos e agressivos em vários países europeus desde o fim do século XIX, quase sempre haviam sido mantidos sob controle antes de 1914 (HOBSBAWN, 1988 apud CAZETTA, 2011, p.24). De acordo com Paxton (2004), o fascismo surge oficialmente no dia 23 de março de 1919, em Milão. Nesse dia, algumas pessoas, incluindo veteranos de guerra, sindicalistas que apoiavam a guerra e outros simpatizantes reuniram-se para declarar guerra ao socialismo, por ele se opor ao nacionalismo. Surge assim o movimento Fasci di Combattimento, que depois viria a se tornar o Partito Nazionale Fascista, comandado por Benito Amilcare Andrea Mussolini. Em 29 de outubro de 1922, ocorre a Marcha sobre Roma, marco da chegada de Mussolini ao poder. O líder do movimento fascista partiu de Napoli em direção a capital Milão, onde tomou posse como primeiro-ministro. A data ficou conhecida como marcha, porque, apesar de Mussolini ter chegado a Milão em um trem noturno, seus partidários e simpatizantes fascistas de fato marcharam rumo a capital do País para celebrar a conquista do poder pelo PNF (PELLEGRINI, 2012). Nesse momento, o Rei Vittorio Emanuele III, que estava preocupado com a situação no parlamento, onde os líderes políticos pareciam relutantes ou incapazes de formar um governo estável (POLLARD, 2004, p.28), encarregou Benito Mussolini de constituir um novo governo, fato que marca a ascensão do fascismo ao controle da Itália. Como resume Collier, o caos do pós guerra, os temores pelo bolchevismo, a ascensão e a queda de seis governadores em três anos haviam contribuído para auxiliá-lo; explicavam a razão de encontrar-se ele às onze horas e quinze minutos de 30 de outubro de 1922 diante como "Fascismo histórico", de um certo núcleo de características ideológicas e/ou critérios de organização e/ou finalidades políticas. Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1521 do pequeno Rei, como o sexagésimo primeiro-ministo, no Palácio do Quirinal. (COLLIER, 1971, p.78) Paxton (2004) afirma que Benito Mussolini seguidamente declarava que ele era a própria definição do fascismo, e foi provavelmente o primeiro líder contemporâneo que rejeitou um programa forma de governo, substituindo-o pela liderança inspiradora e pela ação por si só. Apenas em 1932, depois de dez anos no poder, Mussolini escreve um artigo com o intuito de expor o que é realmente o fascismo. Vejamos, portanto, alguns pontos abaixo que esclarecem o pensamento do Duce. De acordo com Mussolini (1933), o fascismo não acredita na possibilidade de paz perpétua. A Guerra por si só aumenta as energias humanas ao máximo de sua tensão e define a nobreza dos povos que têm a coragem de se enfrentar. Todos os outros exercícios são substitutos que nunca colocam homens face a face consigo mesmo diante da alternativa de vida ou morte. Assim, todas as doutrinas que postulam a paz a todo custo são incompatíveis com o Fascismo. Em resumo, o fascismo carrega essa atitude antipacifista na vida do indivíduo (Idem, 1933). O desejo dos fascistas é que o Estado seja forte e orgânico, com base em amplo apoio popular. Todas as forças políticas, econômicas e espirituais da nação, além de instituições corporativas, sociais e educacionais, estariam englobadas dentro do Estado. Ele afirma também que quando milhões de indivíduos reconhecem sua autoridade, sentem sua ação e estão prontos pra servir, esse Estado não passa a ser tirânico, e não possui nenhuma relação com os Estados déspotas. (MUSSOLINI, 1933) O fascismo, então, expressa a vontade de exercer o poder e comandar o Estado. Ele afirma que o espírito imperialista dele é uma demonstração de sua vitalidade. Esse imperialismo, segundo ele, implica em disciplina, coordenação de esforços, senso de dever e um espírito de auto sacrifício. (IDEM, 1933) Se em um primeiro momento, os fascistas procuraram eliminar os opositores através da repressão e da perseguição, e concluíram que a adesão devido a isso não seria a desejada, eles optaram por uma estratégia de ―conquista que atingisse o emocional das pessoas e que garantisse uma adesão pelo coração e pela mente‖ (DA ROSA, 2009, p.622). Ao mesmo tempo buscou construir um ―novo homem‖, que fosse um cidadão integrado no sistema, que assumisse os papéis sociais destinados a ele e que, acima de tudo, idolatrasse o Fascismo e seu líder. Dessa forma, o regime continuaria com seu projeto nacional fascista, de adesão e defesa da nação (IDEM, 2009). Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1522 Através da síntese de virilidade, violência, combate e luta, esperava-se que o novo italiano regenerasse a nação espiritualmente e fisicamente, completando assim a unificação "moral" que os fascistas acusaram o estado liberal de não conseguir alcançar. A Primeira Guerra foi um evento crucial na evolução do "novo homem‖. Como apenas aqueles que tinham enfrentado a morte poderia compreender o significado do sacrifício, ele foi totalmente apropriado para que a sociedade fascista existisse em um estado de permanente de guerra, onde batalhas foram aplicadas a questões nacionais. (MARTIN, 2004). Inicialmente, a educação física era apenas um instrumento de formação moral e física, longe do espírito competitivo, especialmente no período do primeiro programa fascista voltado a esse objetivo, o Opera Nazionale Balilla, que começa a mudar a partir de 1930, quando o Fascismo inicia sua política de expansão territorial, que se agrava em 1935, quando a Itália invadiu a Etiópia. Essa política começa a mudar também pela indicação de Achille Starace para secretário do Partido Nacional Fascista, cargo mais importante na hierarquia do partido depois de Mussolini. Mais do que nunca, o Fascismo necessitava de heróis e campeões que associassem suas vitórias às conquistas territoriais do governo de Mussolini. Assim, era necessário empreender uma política educativa mais competitiva, onde os jovens fossem estimulados a superarem a si e aos outros. (DA ROSA, 2009). 2.1 Política externa facista Primeiramente, é necessário lembrar que pautas da política externa italiana culminaram em sua saída do Partido Socialista, conforme comentamos acima. Vemos, portanto, que se trata de um ímpeto de agressividade da política externa do Duce, inerente em sua personalidade. Bertonha (2007) nos apresenta a política externa italiana em dois momentos: primeiramente, nos anos 20, onde o grande objetivo do Duce era o de consolidar o próprio poder e domínio na Itália, ao passo em que buscavam apoio e amizade no exterior. A política externa era, portanto, menos agressiva do que aquela que viria a seguir, abdicando à propaganda ideológica de forma tão densa no exterior, sendo mais difundida a propaganda dirigida aos italianos e seus filhos. Ainda segundo ele, não podemos dizer que essa política de promoção italiana no exterior não existia, mas que apenas estava se desenvolvendo. Já nos anos 30, essa situação se transforma, e o esforço para a difusão do fascismo cresceu de maneira significativa, atingindo inúmeros países. É intensificado o uso de artifício como o rádio, com o objeto de atingir as populações estrangeiras, e a transformação da Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1523 política cultural de defensiva (preservação e divulgação dos valores italianos no mundo) a ofensiva (instrumento de política externa e da geopolítica). Além do rádio, que era um método inovador de propaganda, o cinema também exerceu importante influência para a política externa dessa época (IDEM, 2007). Para Beneduzi (2011), as ações promovidas pelo regime traziam consigo sempre a promoção de uma Itália moderna, com potência tecnológica e cultural. Sempre com grandes demonstrações da grandiosidade nacional, o governo fascista apostava na transformação da questão nacional em uma problemática marcada pelo ideário político e pela ideologia do regime. Dentro da estrutura governamental, a propaganda, que visava projeção internacional do país, ganhava cada vez mais força. Em 1928, é criado o Escritório de Imprensa do Ministero degli Affari Esteri e o Escritório de Imprensa do chefe de governo, que deu lugar em 1934 ao Subsecretariado de Imprensa e Propaganda. Mais desenvolvido, em junho de 1935 surgiu o Ministério de Imprensa e Propaganda e em janeiro de 1937, quando nasce o principal órgão da estrutura de propaganda e de divulgação da cultura fascista dentro e fora da Itália: o Ministero della Cultura Popolare (BERTONHA, 2007). Seguindo no âmbito da política externa, Beneduzi (2011) diz que os fascistas apostaram na recuperação do vínculo pátrio como uma maneira de se aproximar de massas de italianos que vivia no exterior. Portanto, além da propaganda, outro importante instrumento da política externa italiana foram os fasci all’estero, que eram núcleos do Partido Nacional Fascista implantados no exterior, que visavam atingir as coletividades italianas emigradas, e assim difundir a ideologia fascista. Essa política, segundo Bertonha (1998), estava paralela à do Estado e buscava a transmissão da política totalitária a esses italianos, e após isso utilizálos como meio de difundir a ideologia fascista nos países onde viviam. Um importante episódio de sua política externa foi o conflito da Abissínia. Em outubro de 1935 ocorre a invasão do Império Etíope (ou Abissínia) pela Itália fascista, objetivo há muito anunciado por Mussolini. A guerra prolongou-se por sete meses até à conquista de Adis Abeba, em Maio de 1936. Ignorando os seus compromissos internacionais, Mussolini justificou a invasão dizendo que era direito da Itália defender as fronteiras das suas colônias dos alegados ataques da vizinha Abissínia, quando na verdade o que acontecia era o inverso, e por outro, o direito de expansão do império italiano, argumentando com o excedente demográfico do seu país e as necessidades de expansão econômica. Como consequência da bem sucedida batalha, um forte espirito nacionalista agita o povo italiano, e Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1524 Mussolini se torna mais popular nesse momento do que e, qualquer outro período do regime (POLLARD, 1998). Notamos que A ideologia fascista aplicada na política externa era nada além de um catecismo bem definido; foi bastante uma combinação solta e mudando de preconceitos e ressentimentos históricos que foram exacerbadas pela sua personalidade vulcânica e contraditória. (BURGWYN, 1997, p.xvii) Dessa forma, a política externa de Mussolini muitas vezes revelou incoerência e improvisação. Ela oscilou entre uma avaliação realista do equilíbrio de forças no Sistema Internacional e lampejos de paixão desencadeados pela ambição e medo. O futebol também fez parte da política externa desse período. Martolio (2014) propõe que Benito Mussolini possivelmente foi o primeiro líder a usar o futebol não somente na implantação de políticas populares, mas também foi o primeiro a perceber que a Copa do Mundo de Futebol, organizada pela FIFA, seria uma grande forma de propaganda para seu governo perante a comunidade internacional. Vejamos, portanto, de que forma isso ocorreu. 3 O FUTEBOL NO REGIME FASCISTA O desenvolvimento do futebol na Itália foi muito semelhante ao que aconteceu em outros países europeus, de acordo com Napolitano (2009). Levado por britânicos, rapidamente se tornou popular entre os burgueses. O esporte cresceu e se tornou popular, se tornando a obsessão nacional. A ascensão da popularidade do futebol na Itália se dá no mesmo período em que o movimento fascista está tomando forma e Mussolini chegando ao poder. Os fascistas, portanto tentaram tornar o esporte parte de uma comunidade idealizada e nacionalista. Inicialmente, devemos situar qual era a posição que o Estado possuía com relação aos esportes. Devido a característica do regime fascista, A atividade desportiva, sob o fascismo, foi regulamentada pelo Estado e era uma forma de controlar cidadãos durante seu tempo de lazer, na sua vida privada e nas suas relações sociais. Controlar o esporte permitiu que o regime estudasse e manipulasse jovens e suas habilidades. Ao mesmo tempo, o esporte era um meio de promoção e difusão da ideologia fascista, domesticamente e no exterior (TEJA, 1998, p.147). Neto (2005) lembra que o futebol dividia espaço com outros esportes considerados de guerra, como a volata, a ginástica, a natação, a esgrima, o pugilismo e o tiro. O Mundial de Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1525 Futebol de 1930 no Uruguai teve uma grande repercussão entre os italianos, ao mesmo tempo em que a volata, esporte que misturava rúgbi e futebol, caía no esquecimento. Com isso, o governo do Duce percebeu a dimensão do futebol e de como ele representava a coragem e o espírito combativo, ideias fortemente difundidas pelo regime. Falando especificamente sobre o futebol, Martolio (2014) afirma que o primeiro passo dado por Mussolini no sentido de controle é dado em 1926, quando redigiu a carta que lhe outorgou ―o controle do futebol no país‖: Mussolini passou a indicar os presidentes da Federação Italiana, a estruturar os torneios e, logo, profissionalizou o futebol transformando-o em objeto de desejo de muitos jovens. Além disso, Agostino (2002) lembra outros aspectos importantes da Carta de Viarregio, como a fixação de normas para atletas estrangeiros, a definição do status de jogador, entre outras questões relativas ao universo do jogo. O Estado fascista reconheceu o apelo de massa que o futebol possuía, por causa de sua capacidade de catalisar as energias tanto do indivíduo e do coletivo, bem como para desenvolver nos jogadores elementos como virilidade, disciplina e respeito à autoridade do treinador (WYNN, 2007). Nesse momento, Mussolini engajava ativamente a enculturação do Nuovo Italiano na sua população (IDEM, 2007). O futebol era uma oportunidade evidente para o regime expressar sua visão da sociedade orgânica, em que os indivíduos foram despersonalizados e suas necessidades incorporadas às da massa coletiva que foi governado por uma figura líder. Embora pertencente a essa unidade orgânica, cada indivíduo era crucial para sua função, que demandava um preparo físico e psicológico para o cumprimento de suas funções (MARTIN, 2004). A ideologia fascista foi fundada sobre a crença na luta física individual e do sacrifício como um meio para realizar objetivos coletivos. Essa ideia foi enraizada no Nuovo Italiano, no princípio de "crer, obedecer e lutar‖. Esse perfil exigia, entre outras características, aptidão física, trabalho duro, disciplina e habilidade intelectual. Na década de 1930, com as vitórias nas Copas do Mundo de 1934 e 1938, além da vitória na modalidade do futebol nas Olimpíadas de 1936, o regime fascista queria demonstrar ao mundo que havia criado o Nuovo Italiano, forte, inteligente, disciplinado, obediente e, acima de tudo, vitorioso em suas batalhas (WYNN, 2007). Sem dúvidas, um aspecto vital do esporte sob o fascismo era o seu poder de virilizar não apenas os envolvidos, mas também, em nível simbólico, os "novos italianos" como um todo (IDEM, 2007). Apesar do retrato do novo italiano como um combatente heroico, que luta em nome do regime, Martin (2004) explica que muitos dos Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1526 melhores jogadores da seleção italiana da época vieram de fora da Itália, o que de certa forma minou o orgulho nacionalista nos jogadores italianos "puros". A mística do Novo Homem Italiano evidentemente refletiu nos futebolistas fascistas, que ao demostrar heroísmo, sacrifício e compromisso com a causa da equipe, serviam de exemplos para as massas em dois níveis: primeiramente, através da apresentação da importância da aptidão física e mental do indivíduo e em segundo lugar, mostrando como isso deve ser orientado para beneficiar o todo. O futebol proporcionou oportunidades de combate imaginários e reais, especialmente no momento em que as competições internacionais para clubes e países assumiram significados que iam além da mera competição (MARTIN, 2004). O regime decidiu que os atletas italianos deveriam participar nas competições e alcançar os resultados necessários para demonstrar a sua superioridade sobre os adversários. Esta mudança de direção seguiu a política imperialista fascista. Com o regime forte e relativamente popular, os esportes eram então uma ferramenta para sua promoção no exterior, demonstrando os métodos de treinamento de atletas italianos, sua capacidade de esforço atlético, e da superioridade de sua raça. A medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, ou no Tour de France tornava-se tão importante quanto um ato diplomático, na medida em que para comemorar a vitória significava celebrar a Itália e o fascismo (TEJA, 1998). À medida que a relação entre o fascismo e os esportes se estreitava, as equipes começavam a ser vistas cada vez mais como representantes do regime, mais até do que a nação. Marcello Gallian, jornalista italiano, escrevia que quando a Itália jogava, os atletas eram representantes do esquadrão fascista, mesmo em campos estrangeiros. Era também uma indicação da crescente militarização do esporte, que havia sido imposto pelo alto escalão do PNF. (MARTIN, 2004). As vitórias tornaram-se cada vez mais importantes para o regime, visto que, diplomaticamente, as equipes enfrentavam o aumento da atividade anti-fascista ao competir no exterior, ao passo que as relações exteriores italianas começaram a deteriorar-se (IDEM, 2004). Se por um lado o regime já tinha investido de forma maciça na organização do futebol, visto como uma forma a promover e estimular a ideia de identidade fascista italiana, era necessário a mobilização de lazer das massas e o crescimento da massa que acompanhasse o futebol. Embora esse fenômeno não fosse novo, o que eram inicialmente pequenos grupos de interesse resultaram em dezenas de milhares de apoiadores, e como consequência, a promoção Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1527 do jogo e sua construção de estádios em toda a península, que complementou o programa fascista de educação física (IDEM, 2004). O esporte torna-se então um novo método de penetrar e educar as massas, tanto fisicamente quanto espiritualmente, contribuindo assim para o regime se inserir de maneira definitiva na vida da nação, até que se tornou indispensável. O autor ressalta que foram diversos os motivos que levaram o Estado a investir no esporte no país, que vai da necessidade de atividades de lazer para a massa, até uma intervenção radical no sistema de ensino (IDEM, 2004). 3.1 Copa do Mundo e política externa Conforme Agostino (2002), os eventos esportivos eram utilizados para promover a aproximação com outros regimes, ampliando mecanismos tradicionais de diplomacia. Uma partida em 1933 entre os italianos da Juventus e o Marselha, da França, era um meio de se aproximar os dois países muito mais eficaz do que algum encaminhamento da Liga das Nações. Napolitano (2009) vê o uso das competições internacionais de futebol como uma imitação de sua política externa expansiva e imperialista, buscando sucesso no exterior para glorificar o fascismo italiano, bem como para incutir um espírito de nacionalismo e de orgulho nacional a nível doméstico. Apesar disso, por muitas vezes os clubes italianos sofriam repulsa quando jogavam além de suas fronteiras, por representarem o regime fascista em si. Era um reflexo da época, das tensões que o sistema internacional enfrentava. Em 1933, italianos e belgas se enfrentaram, e na ocasião, um grupo de antifascistas atacou diversos jornalistas italianos. Mesmo assim, o futebol continuava sendo uma referência de poder e diplomacia fascista (AGOSTINO, 2002). Talvez o principal passo para o alinhamento entre o futebol e Mussolini foi sua vontade de que a Itália sediasse a primeira Copa do Mundo. Mas, nos anos 1930, o Uruguai era o país ideal pelos títulos olímpicos de 1924 e 1928 e pela qualidade de seu jogo. Mussolini então ficou bravo e não enviou sua Seleção para o Mundial inaugural em Montevidéu. Na verdade, enviou três olheiros para aprender o jeito de fazer o torneio e recrutar oriundis2. Além de reforçar a sua Seleção, essa perda de jogadores enfraqueciam as seleções do Uruguai 2 O termo é um substantivo italiano que descreve um imigrante de ascendência nativa. Na Itália fascista, qualquer filho de italianos tinha dupla cidadania de forma automática e não precisava se submeter à naturalização (MARTOLIO, 2014). Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1528 e Argentina, as principais potências daquela época. Como prova disso, o Uruguai, campeão vigente, desistiu de competir (MARTOLIO, 2014). A vitória uruguaia em 1930 animou o Duce, pois seguindo essa lógica, haveria vantagens sendo o país anfitrião. Assim, a qualquer preço a Itália devia organizar o segundo Mundial, o primeiro a ser disputado na Europa. No Congresso da FIFA de 1932, em Estocolmo, primeiro dissuadiu os suecos que desejavam organizar o torneio e, numa tarefa mais árdua, convenceu a França, então sede da FIFA – que se muda para a Suíça nesse mesmo ano — e lar de seu presidente Jules Rimet, de entregar essa honra para a Itália. Aliás, nesse momento, de algum modo, ficou decretado que a terceira Copa voltaria a ser jogada na Europa e que ninguém a tiraria França (MARTOLIO, 2014). Rapidamente, a propaganda fascista articulou essa conquista com a comemoração dos dez anos do regime (AGOSTINO, 2002). É necessário levar em conta não apenas a participação italiana nas Copas de 1934 e 1938, mas também sua participação em outro grande evento esportivo: as Olimpíadas. Podemos destacar três edições dos jogos: 1928, realizada em Amsterdã; 1932, em Los Angeles, e 1936, que aconteceu em Berlin, na Alemanha que estava sendo comandada pelos nazistas. Foram 76 medalhas conquistadas nessas três edições, sendo 27 de ouro (TEJA e IMPIGLIA, 2003). Em 1928, a equipe conquistou a terceira colocação na modalidade do futebol. Caiu na semifinal para o campeão Uruguai, e na disputa pelo terceiro lugar, aplicou 11x3 na seleção do Egito. Na edição de 1936, uma equipe de estudantes universitários afirmou a supremacia italiana no futebol ao vencer o torneio de futebol olímpico, sendo esse a maior conquista amadora (MARTIN, 2004). Na final, uma vitória por 2x1 na forte seleção austríaca. Trinta e dois países se inscreveram na competição, e depois da fase eliminatória, dezesseis equipes participaram da fase final. Pela primeira vez, os jogos de qualificação foram organizados levando em consideração a geografia: doze dos dezesseis lugares foram alocados para a Europa; três para as Américas; e um para a Ásia e África. O número de fãs que viajaram de outros países para ver a Copa era maior do que em qualquer outro torneio de futebol anterior, incluindo 7.000 dos Países Baixos, 10.000 da Áustria e 10.000 da Suíça (MATSARIDIS e KIMAKAMIS, 2012). Cerca de 100.000 pôsteres, 300.000 cartões e um milhão de selos foram impressos para a Copa do Mundo como material de propaganda para a identificação da Itália com o fascismo. Em um dos cartazes promocionais, um jogador de futebol executa a saudação Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1529 fascista com um olhar para o futuro, com o ano de 1934 e transcrito abaixo o XII da era fascista, ou seja, 12 anos após a Marcha sobre Roma (IDEM, 2012). Figura 1 - Um dos cartazes da Copa do Mundo de 1934 Fonte: http://www.lavocedinewyork.com/Much-More-Than-The-Beautiful-Game-Soccer-and-Its-CulturalSocial-and-Political-Aspects/d/5644/ A pressão sobre a Squadra Azurra era muito grande. Eldik (2007) afirma que o mito que havia sido criado pelo regime resultou no fato de que a equipe se tornou obrigada a ganhar o torneio. Qualquer outro resultado significaria uma enorme perda de prestígio para os fascistas, tanto externamente quanto no campo doméstico. Na final, uma vitória novamente na prorrogação contra a seleção da Tchecoslováquia. O resultado de 2x13 nunca foi aceito pelos tchecos, que acusaram o árbitro da partida de manipular o resultado. (AGOSTINO, 2002). A seleção fazia a alegria dos 75 mil espectadores presente. Aclamado aos gritos de DU-CE, DU-CE, DU-CE, Mussolini compareceu ao estádio juntamente com todo o Ministério e fez questão de entregar o troféu da vitória ao capitão dos azurri. A vitória foi saudada como reflexo de uma Nação forte e preparada para enfrentar os inimigos, em um momento em que os planos governamentais se inclinavam cada vez mais para a invasão da Etiópia, que seria concretizada nos próximos meses. (AGOSTINO, 2002, p.62) A Copa do Mundo teve uma média de 23.000 espectadores, totalizando por volta de 400.000 fãs. Além do Duce, que levava toda a família para ver os jogos, a família real e muitos funcionários do governo acompanhavam as partidas. Os jornais não destacavam 3 Vale ressaltar que os dois gols italianos foram marcados por jogadores oriundis: Orsi e Guaita, dois argentinos recém-naturalizados, anotaram os gols. (GALEANO, 1995) Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1530 apenas o sucesso da equipe e da organização do torneio, mas também o retorno financeiro que a Copa trouxe ao país. (MATSARIDIS e KIMAKAMIS, 2012). A Copa do Mundo de 1938, realizada na França, foi cercada de tensões internacionais4. Devido ao rodízio de continentes que deveria ser respeitado na escolha da sede e que não aconteceu, a Argentina, que era a favorita para receber a Copa, liderou o boicote de outros oito países da América, sendo o continente representado apenas pelo Brasil e por Cuba. Internamente, a Europa igualmente possuía diversas tensões. A Espanha não conseguiu participar devido a Guerra Civil e a Áustria porque havia sido anexada pela Alemanha Nazista algumas semanas antes, e deixando de ser um país independente, não poderia participar (FRANCO, 2007). Agostino (2002) lembra que os italianos sofreram com as hostilidades dos torcedores franceses. Isso ocorreu devido ao fato de que as relações entre a Itália e a França eram cada vez mais delicadas. Os anfitriões da Copa eram os principais representantes do antifascismo europeu, e com as declarações de Mussolini dias antes do início da Copa, hostilizando o governo francês, a relação se tornava ainda pior. Novamente na final, a Itália enfrentou a seleção da Hungria. No campo político, o primeiro ministro húngaro buscava aproximação da Inglaterra e da França (FRANCO, 2007). Antes do início da partida, talvez o fato mais marcante: Segundo uma história muito citada, um pouco antes do início do jogo um telegrama chegara à concentração italiana enviada pelo próprio Mussolini. Sua mensagem tornou-se bem conhecida: Vencer ou Morrer. (AGOSTINO, 2002, p.65) Os italianos sobreviveram, devido a vitória de 4x2. Voltando a terra natal, os jogadores foram recebidos como verdadeiros heróis. Esse êxito esportivo novamente serviu para exaltar os valores do regime fascista (IDEM, 2002). Estas vitórias coincidiram com uma fase importante na história do regime fascista italiano, tendo em sua guerra imperial na Abissínia, sua participação na Guerra Civil Espanhola, sua aproximação com a Alemanha nazista, e o surgimento de leis raciais5. Ao 4 Cabe lembrar que a sede da FIFA foi estabelecida no ano de 1932, em Zurique, na Suiça, conhecida pelo seu posicionamento neutro. Essa era uma tentativa de colocar a organização acima dos divergentes interesses dos países (FRANCO, 2007) 5 Franco (2007) observa que essas leis, que entraram em vigor em novembro de 1938, tiveram uma pequena amostra em junho, quando a Itália eliminou o Brasil na seminal da Copa. Para a imprensa fascista, havia sido o ―triunfo da inteligência itálica contra a força bruta dos negros‖. Apesar disso, dois atletas negros estavam na seleção dos melhores da Copa, eleitos pela imprensa internacional: Leônidas da Silva, que também foi o artilheiro, e Domingos da Guia. Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1531 mesmo tempo, durante este período atingiu-se o auge nas políticas sociais totalitárias do regime, incluindo a exploração dos meios de comunicação e lazer para a plena penetração e controle da sociedade italiana (TOMLINSON e YOUNG, 2006). Logo após essa guerra simbólica, começaria a verdadeira guerra, em 1939, que se estenderia até o ano de 1945. Devido a isso, não houve edições em 1942 e nem em 1946, retomando o torneio apenas em 1950, no Brasil. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o que Napolitano (2009) afirma, ao analisarmos o período entre guerras, percebemos que o esporte passou de uma atividade de passatempo ou de lazer para ter um espaço importante em objetivos de política externa e como um modo para se praticar as relações diplomáticas. Programas esportivos internacionais bem-sucedidos foram vistos como vitais para os interesses nacionais, tanto para a criação de consentimento e prestígio de um sistema político nascente, ou no processo de diplomacia destinada a manter a paz. Nesses casos verificamos a utilização do soft power. A relação entre os países acaba se dando também através do futebol, evitando formas menos pacíficas de buscar seus objetivos, melhorando suas imagens no contexto internacional. Durante o regime fascista, notamos essa instrumentalização do esporte como propaganda do partido e do próprio Mussolini, que utilizou o futebol – porém sem esquecer-se de outros esportes – como uma ferramenta doméstica, para domínio das massas, e também externamente, como um braço de sua política externa. Sem qualquer padrão de comportamento diplomático e possuindo uma grande imaginação, não mediu esforços para perseguir os interesses italianos. Nota-se, portanto, que o Duce tinha uma grande habilidade no que tange a técnicas de propaganda, e sabia como identificar e explorar as fraquezas dos outros, conforme demonstrou Burgwyn (1997). Essa sua habilidade que o fez controlar os meios de comunicação e de propaganda, provando que o esporte poderia ser uma ferramenta importante e poderosa para promover os ideais fascistas, tornando o indivíduo parte de coletivo, além da promoção da força física e do vigor, preparação militar para uma política externa imperialista, visando a recuperação da grandeza do Império Romano. Em síntese, como Martin (2004) expõe, a ―aquisição‖ fascista do futebol foi, em geral, bem sucedida, pois contribuiu para o desenvolvimento de uma cultura de condicionamento Caxias do Sul – RS, de 15 a 17 de Setembro de 2015 III Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) 1532 físico entre a população. O futebol contribuiu também para o desenvolvimento da identidade nacional, através da intensificação das rivalidades, com os clubes que competiam na liga nacional. Concluímos que Mussolini e seu partido utilizaram dessas ferramentas também para a promoção ideológica do fascismo, no sentido desse ser um elemento capaz de criar o novo homem Italiano, forte, viril, que honrasse a pátria e que seria capaz de morrer por ela. Os êxitos no campo esportivo reforçavam essa visão, pois representava o regime fascista triunfando sobre outras nações ―inferiores‖. A Guerra estava presente também no campo ideológico. Observamos, portanto, a larga utilização do futebol pelo regime fascista. Muito esforço e dinheiro foi gasto, seja na construção de estádios ou para produzir a propaganda do regime. No sentido de promover sua ideologia para além das fronteiras italianas, para demonstrar a superioridade do regime, para educar a população e prepará-la para a guerra, ou simplesmente no esforço de distrair os cidadãos dos problemas habituais, o futebol esteve muito presente no cotidiano da Itália no período em que os fascistas a comandavam. Seja no regime fascista ou na atualidade, o futebol nunca foi apenas um jogo. 5 REFERÊNCIAS AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Mauad Editora Ltda, 2002. BENEDUZI, Luis Fernando. Uma aliança pela pátria: relação entre política expansionista fascista e italianidade na comunidade italiana do Rio Grande do Sul. Dimensões: Revista de História da Ufes, n. 26, p. 89-112, 2011. BERTONHA, João Fábio. Divulgando o Duce e o fascismo em terra brasileira: a propaganda italiana no Brasil, 1922-1943. Revista de História Regional, v. 5, n. 2, 2007. BURGWYN, H. James. 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