BRICOLAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: O USO DE PARÓDIAS DE MÚSICAS NO ENSINO DE TABELA PERIÓDICA Rogério Galvão NEVES1 - [email protected] Milena Cristina Ramos da SILVA1 - [email protected] Fernando Santana RODRIGUES1 - [email protected] Jacqueline Ferreira MARGALHO1 - [email protected] Ana Alice Pimentel MARINHO1- [email protected] Jorge Raimundo da Trindade SOUZA2 - [email protected] 1 Universidade Federal do Pará (UFPA) Universidade Federal do Pará / Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemáticas 2 Resumo: Muitos alunos se perguntam o porquê de estudar Química e como essa ciência será útil em suas vidas. Além disso, muitas pessoas possuem concepções equivocadas e negativas sobre esta ciência, pensando que o ensino de Química se baseia somente em decorar fórmulas e símbolos químicos, o que propicia a construção de uma imagem dessa importante ciência como algo ruim. Pensando nesse aspecto, o presente trabalho, fazendo uso da bricolagem, termo que se refere a algo que o sujeito mesmo produz, apresenta uma alternativa ao ensino de Química, de modo a torná-la mais interessante e significativo para o aluno, não deixando de lado os conceitos químicos, mas dando um aspecto mais útil ao aprendizado de Química. O objetivo deste trabalho é analisar o uso da música na forma de paródia no ensino de Química, utilizando os conteúdos inerentes ao contexto de ensino e aprendizagem de conceitos referentes a tabela periódica. Como metodologia foi utilizada em primeiro momento uma avaliação do conteúdo de tabela periódica, revisão bibliográfica, a composição de uma paródia extraindo a melodia de uma canção conhecida pelos alunos e a aplicação em sala de aula, finalizando com a aplicação de um questionário avaliativo com perguntas abertas, fechadas e mistas. Os resultados apontam que esta metodologia proporciona a aprendizagem efetiva dos alunos envolvidos, maior afinidade pela disciplina de Química, aumento na atenção dos estudantes durante as aulas, possibilidade de trabalho em grupo entre os estudantes, a interdisciplinaridade e uma alternativa lúdica ao processo de ensinar. Palavras-Chave: Ensino de Química. Paródia. Música. INTRODUÇÃO O ensino de Química no nível médio, ao longo dos anos vem tornando-se um tanto “enfadonho”, cansativo e complicado na visão dos alunos. Essa dificuldade está historicamente relacionada à forma como a disciplina é aplicada em sala de aula. Em muitas ocasiões não é abordado a historicidade de determinado conteúdo e o uso da experimentação, o que facilitaria o processo de ensino e aprendizagem. Segundo Zanon e Maldaner (2007, p. 9): São exemplos de limitações apontadas, desde então, no Ensino de Química praticado na Educação Básica: a carência de experimentação e de relações com o cotidiano, a descontextualização, a linearidade e a fragmentação dos conteúdos, a desconsideração da História da Química, entre outras. A busca de novas metodologias de ensino é uma alternativa para preencher as precariedades no ensino, concomitantemente colabora para a extinção destas perspectivas negativas que os alunos possuem a respeito da Química. A ludicidade é uma proposta de ensino que está pautada na utilização de jogos, músicas e danças com a finalidade de ensinar e educar, fazendo uso da interação e diversão. Segundo Furtado (2008): A natureza da pedagogia apresentada por Platão não era apenas teórica. Ele pretendia demonstrar que a educação seria uma forma de permitir que o indivíduo atingisse a plenitude humana, na vida coletiva ou no Estado. Assim, ele entendia que os primeiros anos de formação da criança deveriam ser ocupados por jogos educativos 262 e sugeria jogos lúdicos em vez de exercícios pesados para não prejudicar o corpo das crianças em seu desenvolvimento normal, para que fossem habituadas a compreenderem e descobrirem as tendências naturais de cada um. Chamar a atenção e fazer com que os alunos se interessem nas aulas é apenas um dos objetivos da ludicidade. Propiciar uma melhor forma de aprendizagem, de modo que os mesmos possam entender determinado conteúdo e instigá-los a ir além do que é proposto em sala de aula é uma maneira dinâmica e criativa de trabalho docente. Com isso, uma das alternativas lúdicas de ensino pode ser a paródia de músicas. Segundo Gainza (1988): Em todo processo educativo confundem-se dois aspectos necessários e complementares: por um lado, a noção de desenvolvimento ou crescimento (o conceito atual de educação está intimamente ligado à ideia de desenvolvimento); por outro, a noção de alegria, de prazer, num sentido muito amplo. Educar-se na música é crescer plenamente e com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver tampouco é educar. (GAINZA, 1988, p. 95). O espírito pedagógico é curioso, criativo, inquieto. É uma linha que avança vibrante, mas que move e ondula porque aspira a explorar até o último resquício do homem e da música. Não repete simplesmente o que o livro diz, mas o recria a cada momento. (GAINZA, 1988, p. 96). O uso de paródias de músicas abordando conceitos químicos é uma metodologia inovadora, onde os alunos sentem-se motivados e incentivados a aprender determinados conteúdos que os mesmos sentem dificuldades. Tais dificuldades podem ser tratadas com o uso de metodologias inovadoras de ensino, como a música. De acordo com Ferreira (2002), “a música pode nos auxiliar no ensino de uma determinada disciplina, na medida em que, ela abre possibilidades para um segundo caminho que não é o verbal” (p. 13), essa possibilidade de ensino pode transformar o modo de pensar do aluno a respeito da disciplina Química e também despertar seu senso crítico. Como afirmam Almeida e Silva (1998), “corremos o risco de ficarmos falando e lendo sozinhos reclamando participação e espírito crítico nas nossas salas de aula, enquanto ‘eles’ estarão vendo televisão, imersos em sons, walkmans, imagens e videogames” (p. 102). Tornar a aula mais atrativa e interessante é um dos objetivos do uso da paródia musical, isso contribui para uma aprendizagem significativa. Segundo Barreiro (1990): Diferentemente do livro didático e outros recursos, os quais se presume que o professor tem o maior conhecimento (o que implica uma relação de desequilíbrio entre os dois interlocutores, alunos e professor) a música permite fazer surgir em classe uma relação pedagógica distinta, igualitária e mais construtiva. Conseguir extrair a capacidade de pensar, agir, criar e refletir é um dos objetivos que devem estar na lista de atividades de todo docente. Atribuir obstáculos é algo que tem dificultado nesta linha de raciocínio de qualquer professor. Buscar inovação no modo de ensinarpode mudar este quadro pejorativo da educação e principalmente no ensino de Química. OBJETIVO Analisar o uso da música em forma de paródia no ensino de Química, utilizando os conteúdos inerentes ao contexto de ensino e aprendizagem de conceitos referentes a tabela periódica. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido com 30 alunos da 1ª série do Ensino Médio da escola Estadual Maria Helena Valente Tavares, localizada no município de Ananindeua-PA. Em um primeiro momento foi ministrada uma aula sobre o conteúdo de Tabela Periódica com duração de 30 minutos 263 (Figura1), onde foram apresentados aos alunos os elementos químicos, bem como a disposição deles na Tabela Periódica e algumas de suas características. Em um segundo momento foi construído um questionário avaliativo conceitual que foi aplicado após a aula com informações pertinentes ao conteúdo abordado durante a mesma (Figura 2). Em um terceiro momento foi composta uma paródia, com a melodia de uma música conhecida, relacionada a Tabela Periódica que foi apresentado aos alunos como um instrumento para uma melhor aprendizagem do conteúdo (Figura 3 e Quadro 1). Ao final foi aplicado um último questionário (Figura 4), mas com foco voltado mais para opinião do aluno, quanto ao uso do instrumento, com isso foi feita uma análise para a geração de um possível resultado. Figura 2. Primeiro momento Figura 1. Segundo momento Fonte: Arquivo pessoal. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 3. Terceiro momento Figura 4. Último momento Fonte: Arquivo pessoal. Fonte: Arquivo pessoal. 264 Quadro 1. Paródia composta para apresentar aos alunos Autor: Rogério Galvão Neves Observação: Anime significa qualquer animação produzida no Japão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados dos questionários conceitual e avaliativo da paródia aplicados em sala de aula foram colocados nos gráficos abaixo para melhor visualização das análises dos resultados. De acordo com o gráfico1 do questionário conceitual mostrado acima, obteve-se um resultado favorável com uma porcentagem de acertos considerável, comparado a porcentagem de erros e questões em branco. 265 Nº DE ALUNOS Gráfico 1. Avaliação do questionário conceitual. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 67,9% 57,1% 64,3% 57,1% 53,6% 42,9% 64,3% 50% 42,9% 39,3% 35,7% 35,7% 35,7% Acertos Erros Branco 28,6% 10,7% 0% 1 3,5% 2 3,5% 3 4 7,2% 0% 5 6 0% 7 QUESTIONÁRIO CONCEITUAL O Gráfico 2 avalia a opinião dos alunos a respeito da aula concernente ao conteúdo de tabela periódica, abordado na primeira questão. Gráfico2. Mostrando a opinião dos alunos a respeito da aula. 53,6% 16 42,9% Nº DE ALUNOS 14 12 10 8 6 4 2 0 0% RUIM 3,5% REGULAR BOM EXCELENTE QUESTÃO 1 No gráfico 2 acima, observou-se que a maioria dos alunos gostaram da metodologia utilizada na aula, o que é verificado com uma porcentagem entre bom e excelente de 42,9% e 53,6% respectivamente. O Gráfico 3 mostra a opinião dos alunos quanto ao instrumento utilizado em sala de aula. 266 Gráfico 3. Referente a opinião dos alunos quanto ao instrumento utilizado 30 92,8% 96,4% 92,8% 92,8% Nº DE ALUNOS 25 20 15 Sim Não 10 5 7,2% 7,2% 3,6% 7,2% 0 2 3 4 5 AVALIAÇÃO DO INSTRUMENTO Em relação ao gráfico 3, obteve-se um resultado significativo quanto à aceitação do instrumento utilizado e pode ser comprovado de acordo com as porcentagens demonstradas acima. Comprovando assim como afirma Barreiro (1990), que diz que a música faz surgir em classe uma relação pedagógica distinta, igualitária e mais construtiva. Possibilitando assim, uma aprendizagem mais significativa e proveitosa. CONCLUSÃO A pesquisa revelou que a aplicação da paródia, chamou a atenção dos estudantes por ser divertida e por estimular a interação e socialização entre o aluno e o professor, bem como entre os alunos. Percebeu-se certa dificuldade do discente ao conteúdo proposto apenas em um momento do questionário conceitual, pois houve, ainda, a necessidade de consultar novamente a Tabela Periódica. Os alunos investigados mostraram interesse pela atividade de ensino lúdica desenvolvida, pela forma como foi abordado o conteúdo e pelo fato deste conteúdo ser relacionado com a música, o que tornou o aprendizado bem mais significativo e motivador. Portanto, conclui-se que o uso da música no ensino de Química, aplicado didaticamente de modo correto e sistemático, pode tornar-se um instrumento útil para os processos de ensino e aprendizagem de química, tanto para os alunos como para os professores. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. J. P. M.; SILVA, H.C. (Orgs.). Linguagens, leituras e ensino de ciências. Campinas: Mercado das Letras, 1998. BARREIRO, C. M. Lascanciones como refuerzo de lãs cuatro destrezas, Bello, P. A. Feria, etal. Didáctica de lãs segundas lengua. Estrategias y recursos básicos. Madrid; Santillena, 1990. FERREIRA, M. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2002. FURTADO, J. G. Jogos no Ensino de Química: Uma proposta de jogo para o ensino de segurança em laboratórios químicos. Monografia de Graduação. Universidade de Brasília. 2008. 267 GAINZA, Violeta. H. Estudos de Psicopedagogia Musical. Summus, São Paulo: Novas buscas em educação, 1988. 140p. ZANON, Lenir Basso; MALDANER, Otavio Aloisio (Ed.). Fundamentos e Propostas de Ensino de Química para a Educação Básica no Brasil. Ijuí: Unijuí, 2007. ENSINO DA QUÍMICA (ENQUI) 268