a arte sequencial em sala de aula para o desenvolvimento das

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A ARTE SEQUENCIAL EM SALA DE AULA PARA O
DESENVOLVIMENTO DAS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NO ENSINO
FUNDAMENTAL
Marcio Roberto da Silva Garcia 1 - PUCPR
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente trabalho é o relato de uma experiência realizada por dois anos no 3º ano em 2013,
do ensino fundamental, para formar leitores de histórias em quadrinhos tendo como aposta o
uso da Gibiteca. Ao longo desse processo os alunos foram acompanhados em variadas
atividades de leitura, foi analisado o conjunto de encaminhamentos metodológicos que
possibilitassem mudanças nessa postura. A opção pela Arte Sequencial – História em
quadrinhos – está relacionada aos recursos que a escola dispunha naquele momento e às
demandas de leitura que essas crianças apresentavam. Separamos a turma pelo esquema das
etapas de alfabetização propostas por FERRERO (1996) e ao final do trabalho criamos
atividades especificas, com o intuito de impulsionar a leitura e a escrita para cada nível. Para a
compreensão da linguagem das Histórias em Quadrinhos utilizamos como arcabouço teórico
EISNER (2012), VERGUEIRO (2010), RAMOS (2012), que possibilitaram melhor expandir
a utilização desta linguagem junto aos alunos. No processo, desde a construção da do espaço
de leitura dos quadrinhos até as atividades de alfabetização, verificou-se que atividade
extrapolou o conteúdo e se tornou uma prática social, considerando o desenvolvimento
humano dos alunos, mostrando que uma atividade não pode se prender apenas ao conteúdo,
mas sim a um sistema mais complexo. As Histórias em Quadrinhos podem ser lidas apenas
com imagens, servindo como convite para iniciarmos a leitura com os educandos que se
encontram no estágio pré-silábico. Ao mesmo tempo ela pode apresentar múltiplas variações
de releituras de gêneros textuais distintos e contemplar os leitores mais avançados,
simultaneamente, pela intertextualidade e interpretação criativa e sua complexidade.
Palavras-chave: Arte Sequencial. Formação de leitores. Educação.
1
Professor do Ensino Fundamental, Graduado em Relações Internacionais pela UniBrasil, Graduando em
Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), pesquisador de Iniciação Científica
(PIBIC) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected].
ISSN 2176-1396
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Introdução
A utilização de múltiplas linguagens no Ensino da língua materna tem grande
importância para o desenvolvimento tanto da escrita como na leitura e interpretação de textos
para os alunos das séries iniciais.
Como em todos os lugares, os alunos estão cercados de sons, movimentos, imagens
que transmitem informações a todo o momento os conectando com mundo. No espaço escolar
não é diferente, a sala de aula é um espaço de informações (a conversa com os colegas, as
imagens e ilustrações nas paredes, a fala do professor) contribuem para o aprendizado e
contam uma história.
O desafio de trabalhar as Múltiplas Linguagens é transformar ao que está ao redor do
aluno em algo interessante e significativo, e que os façam olhar além dos conteúdos.
Além da sala de aula, outro espaço onde as múltiplas linguagens estão presentes é o
campo virtual, cada vez mais cedo os alunos possuem um contato com a tecnologia, celulares,
tablets, computadores se popularizaram e também entraram na escola.
A inclusão da tecnologia é um dos motivos para também é importante para a
diversificação do trabalho pedagógico. Aplicativos “inteligentes” existem, para desenvolver
nossas crianças nessa intensa era tecnológica. Os smartphones e tablets e tornam-se utilizados
como meio educativo, sendo que em algumas escolas já possuem tablets. “Enquanto fazem,
sua tarefa, as crianças ouvem sua música favorita no mp3 e em CD, respondendo a
mensagens[...]” (VEEN & VRAKKEINH, (2009, p.32).
Crianças, brincam, dançam, desenham, elas são múltiplas, e porque não utilizar essas
multiplicidades dentro de sala de aula, o movimento acaba se tornando algo isolado para as
aulas de Educação Física, o desenho para a aula de Artes ou para a recriação. Não há uma
interação entre os conteúdos e as linguagens na escola.
Uma ferramenta que pode trabalhar algumas dessas linguagens dentro de uma
perspectiva multidisciplinar é a utilização linguagem da Arte Sequencial, que abordaremos
nesse estudo.
As Histórias em Quadrinhos
O tema se mostra relevante, pois as HQs ou a Arte Sequencial (EISNER, 2012) foi
uma das primeiras formas dos seres humanos se expressarem, através das pinturas nas
cavernas. No decorrer dos séculos e com o desenvolvimento da escrita e da tecnologia
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impressa, a Arte Sequencial evoluiu para as Histórias em Quadrinhos e o Cinema. (LUYTEN,
1984).
Mas sua origem tem na arte rupestre, com as pinturas nas cavernas mostrando o
cotidiano de seus habitantes, mas a História em Quadrinhos como conhecemos surgiram em
1895 por Richard Felton Outcault nos Estados Unidos, o primeiro personagem foi criado
Yellow Kid, esse personagem mostrava a cidade de Nova York naquela época, o personagem
vivia em cortiços e satirizava a sociedade americana. As histórias em quadrinhos foram
reconhecidas a partir de 1940, inicialmente com nos jornais dominicais e posteriormente com
a criação do Comic book. Ganharam espaço na mídia e com a criação das novelas gráficas as
HQs como meio de comunicação de massa, passando de uma leitura infantilizada ou marginal
a objeto de estudos.
As múltiplas linguagens da Arte Sequencial.
A linguagem da Arte Sequencial no âmbito escolar tem relevância nas séries iniciais,
assim que o aluno inicia sua alfabetização e cria os primeiros laços com a literatura. Para que
o aluno goste de ler, a leitura precisa ser prazerosa e ela deve fazer sentido. Tornar a leitura
algo significativo é a função da escola nos anos iniciais. Por meio do uso das linguagens
inseridas na Arte Sequencial esta significação pode ocorrer. Os quadrinhos são um gênero de
grande amplitude, abordam várias formas de linguagem. (RAMOS, 2012).
Podemos verificar que os alunos gostam de ler histórias em quadrinhos em sua grande
maioria, alguns gostam de desenhar e outros que não leem, pelo menos uma vez já tiveram
contato com as histórias, segundo Freire (2006, p. 30) “à escola, tem o dever de não só
respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela
saberes socialmente construídos na prática comunitária”.
Os quadrinhos são um material de fácil acesso. Além de ter um preço acessível, eles
podem auxiliar no desenvolvimento do hábito da leitura, já que os alunos podem começar sua
pratica de leitura com os quadrinhos e então seguir para revistas e livros. Com a leitura se
tornando um hábito os alunos enriquecem o seu vocabulário e suas produções escritas serão
beneficiadas por tal enriquecimento.
A leitura de quadrinhos em um primeiro momento pode parecer uma forma rápida de
apreensão de um conteúdo através das imagens e textos. Mas olhando com mais cuidado pode
se perceber uma forma mais complexa de leitura e de interpretação que colocam o leitor como
participante da narrativa, e isso se deve muito a estrutura criada pelo quadrinista. A cada
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mudança de quadro a leitura o autor pode levar o leitor a ter um tempo diferente para cada
quadro, olhar um quadro maior, leva o leitor a olhar com mais calma e prestar mais a atenção
à detalhes que o autor gostaria que o leitor parasse para ler. De alguma forma é a onde há uma
conversa entre leitor e autor e obra. “a inserção do outro, no discurso, por sua vez, implica
numa nova representação da fala/consciência do mesmo” (OLIVEIRA, 2014. p. 47).
Podemos fazer um comparativo com a criação de um poema ou um soneto, eles
possuem também uma estrutura básica, estrofes, parágrafos, rimas, ou seja, um tempo próprio
criado pelo autor. Com as HQs acontecem da mesma forma. Os quadrinhos também podem
estar dentro de outro paradigma, o da aprendizagem significativa, onde o aluno amplia e
reconfigura as ideias já existentes dentro da estrutura mental e as torna compatíveis com o que
foi apreendido. Torna os estudos algo que faz sentido é uma tarefa para ambos, educandos e
instituição, para estabelecer o que é definido por Ausubel. (1980).
Se analisarmos, o processo educativo faz parte de um sistema complexo e fortemente
marcado pelas variáveis pedagógicas e sociais, entendemos que esse não pode ser explorado
sem uma interação entre escola e vida, considerando assim o desenvolvimento humano, o
conhecimento e a cultura, pois o conhecimento sozinho não é possível se nos isolarmos de
nosso meio. (MORIN, 2013).
De acordo com as normas dos Planos Curriculares Nacionais (1998), para que uma
aprendizagem significativa possa acontecer é necessário investir em ações que potencializem
a disponibilidade do aluno para a aprendizagem.
Para o uso das Histórias em Quadrinhos em sala de aula pelos alunos, é necessário que
os professores tenham contato com esse gênero. Essa “alfabetização necessária”
(VERGUEIRO, 2010) deve partir do princípio que as histórias em quadrinhos são uma
linguagem autônoma, e seus elementos narrativos precisam ser entendidos, enquadramentos,
representação de fala e pensamento através dos diferentes tipos de balões, oralidade,
onomatopeia, cena narrativa e qual a função os quadrinhos (RAMOS, 2012) ratificando as
palavras de Eisner (2012, p.2):
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As histórias em Quadrinhos apresentam uma sobreposição de palavras e imagens, e,
assim, é preciso que o leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e
verbais. As regências da arte (por exemplo, perspectiva, simetria, pincelada) e as
regências da literatura (por exemplo, gramática, enredo, sintaxe) sobrepõem-se
mutuamente. A leitura da história em quadrinhos é um ato de percepção estética e de
esforço intelectual.
Prática realizada com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental
No ano de 2013 os alunos do 3º ano os alunos foram convidados para a montagem
coletiva de uma Gibiteca2, utilizamos as histórias em quadrinhos que estavam disponíveis na
escola. Para criarmos um diferencial, em um trabalho conjunto, montamos uma caixa para
deixarmos disponíveis as Histórias em quadrinhos em sala de aula para os alunos com tipos
de letra variados.
Os Gibis foram trazidos pelos alunos gradualmente, foi estabelecido um prazo e uma
premiação de três livros infantis para o aluno que colaborasse com o maior número de revistas
em quadrinhos, ela receberia três exemplares aleatórios da literatura infantil. Para isso oi
estabelecida uma regra: apenas as revistas em quadrinhos entrariam para a contagem, assim já
aproveitamos para falar sobre as características gráficas e de linguagem próprias das HQ’s e
em um mês a nossa Gibiteca estava cheia.
Com exemplares variados raros, comuns, antigos, novos, rasgados e bem cuidados, foi
o suficiente para começar o trabalho. A partir do dia seguinte as crianças tiveram 15 minutos
do seu tempo de aula reservados para ler os gibis da Gibiteca, esses momentos eram
concedidos de três a quatro vezes na semana, dependendo da programação dos eventos da
escola.
As reações a esses momentos de leitura variavam muito, no início as trocas de gibis
eram muito intensas, foi percebido que a leitura não estava acontecendo, mas que, apenas o
fato de folhear os gibis era muito importante para despertar a identificação das crianças com o
estilo e as personagens. Não convinha, por exemplo, neste momento fazer aquele trabalho
paralelo de apresentar a linguagem dos quadrinhos para os alunos, como organizar os quadros
das tirinhas em ordem, por exemplo, algo comum nas atividades de alfabetização, bem como
preencher os balões de uma tira.
O primeiro momento foi focando na leitura, percebida a importância de variar as
formas de leitura, em alguns momentos, combinávamos que por um dia não era permitido
trocar de revista, isso fez com que as crianças que apenas folheavam quadrinhos, sem ler e
2
Espaço dedicado a leitura, pesquisa e produção de histórias em quadrinhos.
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começassem a se dedicar a leitura. Elas deixavam a pressa de lado e, deixando a ansiedade
para trocar de gibis, levando à outra estratégia importante: dobrar o tempo de leitura nos dias
mais agitados. Nesse caso, se aproveitavam apenas os minutos finais depois de ter atingido o
nível de concentração necessária para o ambiente de leitura, e também nos dias em que a
concentração estava muito propícia para a leitura produtiva.
Nesses dias, não foram indicados o término dos quinze minutos e geralmente a leitura
fluía sem que as crianças se dessem conta que esse tempo já havia esgotado. Essas práticas
preservaram a concentração das crianças e estimularam o envolvimento com a leitura em
quadrinhos.
No final do mês de setembro, foi dado início às práticas de oralidade, onde os
educandos tinham momentos para mostrar os seus gibis preferidos e contar para os colegas o
que mais havia lhe chamado atenção, em algumas situações um colega escolhia a um gibi para
o outro ler.
Além destas atividades, o trabalho que comtemplou os diferentes níveis de
alfabetização, o mostrou-se o maior desafio, para tentar sincronizar as necessidades do grupo
atendendo a diferentes níveis de aprendizagem. Um ótimo exemplo dessa tentativa foi
trabalho realizado com os personagens da Turma da Mônica.
O motivo, longe de ser um favoritismo, era a comemoração dos 50 anos da
personagem Mônica, que acontecera no mesmo ano. A comemoração favoreceu de diversas
maneiras, pois, estavam disponíveis materiais atualizados sobre o assunto em jornais e
revistas, possibilitando engatilhar atividades em sala de aula.
Todas as atividades pensadas para os alunos foram adaptadas para ir de acordo com a
proposta de rede municipal de ensino. Por exemplo, em uma das atividades, as crianças
classificadas como pré-silábicas, recebiam a atividade com os nomes das personagens
escritos. As crianças classificadas como silábicas a atividade em que os nomes das
personagens devem ser completados pelas vogais. E, por fim, as crianças classificadas como
silábico-alfabéticas e alfabéticas recebiam a atividade com os nomes das personagens
preenchidos apenas com a letra inicial.
Esta é uma atividade para colorir, recortar e colar igual para todos, com a diferença de
ser pensada para os diferentes níveis de alfabetização. Um trabalho que demanda
planejamento e que associá-los às histórias em quadrinhos significa vincular a uma proposta
pedagógica que forme leitores de histórias em quadrinhos.
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Finalizamos com a criação. Os alunos foram convidados a elaborar um roteiro para
uma história de quatro quadros. Os roteiros foram submetidos a uma votação, e a partir do
resultado cada criança ilustraria a sua maneira. Depois os trabalhos foram comparados, e as
crianças puderam ver a história ganhando diferentes traços.
Considerações Finais
O resultado desse trabalho é um estímulo à contemplação da individualidade e o
respeito às diferenças; dois apelos muito fortes atualmente na educação. Essa experiência
comprova o valor da intertextualidade na formação de leitores e o valor do espaço que pode se
dar a ela pelo uso dos quadrinhos como uma prática contínua em sala de aula. Isso pode
significar uma porta de entrada mais larga para os professores que desejam iniciar algum tipo
de trabalho com histórias em quadrinhos a partir da literatura, do cinema, de narrativas da
História, etc.
O reflexo das mudanças dos encaminhamentos metodológicos entre 2013 e 2014
também foram nosso objeto de estudo. Ou seja, a segunda turma criou várias histórias em
quadrinhos, enquanto a turma do ano anterior criou apenas uma. Isso mostra que a prática
pedagógica se reabilita como um novo objeto de estudo nas suas pequenas alterações,
anunciando novas propostas e resultados.
A utilização das Histórias em Quadrinhos como ferramenta de ensino aprendizagem
novamente trouxe resultados positivos, constatamos que os alunos sentiam-se estimulados
com o uso desta linguagem e conseguiram obter melhores resultados na disciplina de Língua
Portuguesa, além de percebemos uma maior interação entre os educandos, desde o processo
da coleta de quadrinhos para a Gibiteca, a sua manutenção, o cuidado com os materiais
compartilhados pela turma, demonstrando uma mudança na prática social dos alunos.
REFERÊNCIAS
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