23-25). O Evangelho nos fala como Jesus se compadecia, da comoção interior que sentia diante da dor humana. Jesus se fez famoso pela atenção aos enfermos. “Feita a travessia, chegaram a Genesaré e atracaram. Assim que saltaram da barca, logo o reconheceram. Percorrendo toda aquela região, começaram a transportar em macas os enfermos para lugares onde ouviam dizer que Jesus estaria. E onde quer que entrasse, fosse em aldeias ou em povoados ou nas cidades, punham os doentes nas ruas e lhe pediam que os deixasse tocar ao menos na ponta do seu manto. E todos que o tocavam ficavam curados” (Mc 6,53-56). A exemplo de Jesus, a Igreja, a comunidade cristã teve sempre e deve continuar tendo em grande estima os doentes. Os padres e diáconos da comunidade devem estar atentos para conhecer os enfermos que há nela e visitá-los. Mas isso não é só obrigação dos ministros ordenados. Toda a comunidade pode e deve visitá-los e atendê-los, tanto de forma espontânea como organizadamente. Muitas comunidades cristãs organizam sua assistência aos doentes, formando uma equipe de pessoas que, sob a direção dos responsáveis da comunidade, oferecem-lhe o serviço e atenção aos enfermos, serviço a que se sentem especialmente chamadas. A visita aos doentes não se justifica somente pelo “apostolado” que através dela possa se fazer ao enfermo e à sua família. A visita se justifica, antes de tudo, porque, é: um ato humano de solidariedade, de atenção, de carinho, de ajuda humana. Tanto é assim, que Jesus citou a visita aos enfermos entre aquelas questões pelas quais seremos ajuizados, no juízo final: “porque estive enfermo e (não) me visitaste” (Mt 25,36 e 43). A reunião de oração junto ao enfermo É um modo de fazer visita ao enfermo. Quando este o deseja, a comunidade cristã, representada pela equipe de visitadores de enfermos, o encarregado da Palavra, o sacerdote, ou o diácono, se reúnem na casa do doente e, junto dele, fazem oração. Pode tratar-se de uma oração muito breve, ou de uma celebração da palavra, de acordo com as circunstâncias. É importante que sejam convidados para a reunião os familiares e vizinhos. Sempre, tudo isso, quando e como as circunstâncias o permitirem. O sacramento da reconciliação Sempre que o enfermo o desejar, aqueles que cuidam dele, devem avisar o sacerdote e pedirlhe que acolha a confissão sacramental do doente. Pode-se fazer isto por ocasião da visita do sacerdote, ou antes de receber a eucaristia, se o enfermo a solicita. Para haver confissão auricular, é preciso que tenha condições de discrição, em função do sigilo. A comunhão do enfermo Uma comunidade cristã responsável não pode consentir que o doente, por estar prostrado na cama e não poder ir à Igreja, fique marginalizado quanto à celebração e recepção da Eucaristia. Deve-se fazer o possível para que se ofereça, generosamente, aos enfermos a possibilidade de comungar, e para que aqueles que o desejam o solicitem confiadamente sem medo de incomodar. Para que isto seja assim, é necessário quase sempre que se estabeleça a equipe de leigos que possa atender esta necessidade sem sobrecarregar o sacerdote. O ideal é que, os doentes pudessem receber a comunhão, no mínimo, uma vez por semana, preferencialmente no sábado à tarde ou no domingo. É um costume que pertence às mais antigas tradições da Igreja procurar que, no tempo pascal, se leve a comunhão aos enfermos, isso seria o mínimo do mínimo. Em qualquer caso a Igreja dá as máximas facilidades para que se cumpra este dever pastoral, permitindo que a eucaristia possa ser levada aos enfermos a qualquer hora do dia, eximindo os doentes de qualquer entrave por causa do jejum eucarístico, e permitindo que se celebre,se for o caso (isso é raro!), a eucaristia na casa do doente, observando sempre as normas gerais e as oportunas adaptações a lugares e circunstâncias. A unção dos enfermos A respeito deste Sacramento, quase todos carregamos uma má informação. É preciso fazer um esforço para superá-la. Antes do Concílio Vaticano II, chamava-se este Sacramento de “Extrema Unção”, porque nos havíamos acostumado a administrá-lo só quando o doente estava em perigo de morte, no momento extremo, quando entrava em agonia. Isso fez com que muitas famílias, quando tinham um enfermo em casa, evitassem chamar o sacerdote, porque isso parecia indicar ao doente que ia morrer já, com a correspondente má impressão psicológica; assim, o sacerdote era chamado quando o enfermo entrava em agonia e perdia o conhecimento. Desta forma, o sacramento, que foi feito para ajudar o doente a superar e/ou conviver com a enfermidade, e fazer um ato de fé, de esperança e de amor a Deus, ficava sem efeito. Era o sacramento do despacho. O lamentável é que ainda há muitas pessoas que continuam agindo desta maneira. Também há pessoas que, neste ponto, têm preconceitos animistas ou supersticiosos. Quando um enfermo entra em agonia difícil e prolongada há quem pense que “seu espírito não consegue morrer” porque precisa antes cumprir o requisito de ser “ungido”, e chamam o sacerdote para isso, para que “ungido” o agonizante, este possa morrer. Tudo isso não tem nada a ver com o que a Igreja pensa do que é o Sacramento da Unção dos Enfermos. Para atender ao doente que se aproxima do momento da morte, a Igreja tem outro sacramento que é a eucaristia, o “Viático”, que, como seu nome indica, é algo que se dá para a viagem, para a passagem que o enfermo vai fazer deste mundo para o Pai. Fique, pois, claro: o sacramento da Unção dos Enfermos não é para ajudar a morrer, mas para ajudar a viver a enfermidade; enquanto que, para acompanhar a passagem pela morte, há o Viático. Não há dúvida de que a enfermidade é uma situação muito especial dentro da vida humana. A enfermidade pode supor uma ruptura total com a vida normal. A doença pode lançar a pessoa em total protração, pode colocar a pessoa, que foi muito forte e capaz, em uma situação na qual tenha de depender totalmente dos demais, mesmo para as coisas mais elementares, pode fazê-la sofrer indizíveis dores físicas, pode acarretar-lhe grande debilidade e prostração psíquica, desânimo, desesperança, sentimento de inutilidade etc. A Unção dos Enfermos é o Sacramento que a Igreja tem para ajudar o cristão, precisamente nessa situação humana tão específica que é a enfermidade. Por exemplo: um jovem de 18 anos, que teve um acidente em que se quebraram vários ossos, de forma que sua convalescença vai consistir em ficar de cama durante seis meses em total imobilidade e total dependência de outros. Esse jovem vai passar por uma situação de enfermidade como a descrevemos antes: vai ficar prostrado, dependente dos demais, sentindo-se inútil, provavelmente com dores físicas, talvez com sentimento de inutilidade, em uma situação que supõe ruptura total com o que era normalmente sua vida...Esse jovem vai passar uns meses de verdadeira situação de “enfermidade”. Para esse jovem vale a Unção dos Enfermos. Os cristãos de sua família se reunirão com ele e com o sacerdote e, em uma celebração no ambiente familiar, celebrarão este Sacramento, pelo qual o Senhor lhe concederá a graça necessária para superar com mais energia cristã essa situação penosa que é a enfermidade. E tudo isso é assim embora a enfermidade deste jovem não seja, em absoluto, perigo de morte. Podem saber desde o princípio que sua vida não corre perigo, mas vai permanecer por esses seis meses em “situação de enfermo”. Para conviver e superar essa situação existe também o sacramento da Unção dos Enfermos, não para prepará-lo para morrer. De tudo o que estamos dizendo pode-se deduzir o grande erro que cometem que, por preconceitos e falta de informação, fazem com que o enfermo viva sua enfermidade sem o sacramento próprio da situação de enfermidade e ele entra em agonia, então chamam o sacerdote, quando o sacramento de que então necessita é outro: o Viático. A esta confusão de idéias se deve também o fato de que há poucos enfermos que tenham a lucidez de pedir por si mesmos o Sacramento da Unção. Um bom cristão que tenha idéias claras deve pedir o Sacramento da Unção quando sabe que vai atravessar um período mais ou menos longo de “enfermidade”, embora esteja certo de que sua vida não corre perigo algum. Que sua vida corra mais ou menos perigo, não tem nada a ver para pedir ou não a Unção dos Enfermos. A unção não é para os que correm perigo de morte (por isso não pode ser administrada, por exemplo, aos soldados que estão na frente do combate, nem ao condenado à morte que vai ser executado), mas para os enfermos. Há uma exceção a tudo isso: a velhice. A idade avançada pode ser considerada uma situação de “enfermidade”. Embora o ancião esteja são e tenha vida mais ou menos normal, não há duvida que a situação de velhice tem muito em comum com a situação de enfermidade: dependência de outros, debilidade, incômodos...Por tudo isso, se costuma considerar que uma pessoa de idade avançada esteja passando, de alguma maneira, por uma situação semelhante à da enfermidade, e por isso se Sacramento da Unção dos Enfermos. costuma considerá-la indicada para o Cada dia mais se acostuma a celebrar comunitariamente a Unção dos Enfermos nas comunidades, e são muitos os anciãos e doentes que recebem o sacramento. O Viático É a comunhão que se dá ao enfermo prestes a morrer. É o sacramento que prepara a partida, é o alimento para o caminho, para “a viagem”, o “Viático”. Para administrar-se o Viático a Igreja prevê que se possa celebrar a eucaristia em casa, junto ao doente. A missa poderá ser própria “para administrar o Viático”. Depois da homilia, o enfermo fará a profissão de fé. O doente e os presentes podem comungar sob as duas espécies (Se viável). Para a comunhão do enfermo há uma fórmula própria. Contudo, isso hoje, de missa na casa/ quarto do enfermo, é muito raro, por motivos óbvios. Quando a administração do Viático se faz sem missa o rito é o mesmo da administração da comunhão ao enfermo, (se possível), acrescentando-se simplesmente a profissão de fé do enfermo (se possível) e usando a fórmula própria da comunhão. Na administração do Viático se pode dar a Indulgência Plenária. Também na Unção dos Enfermos, a juízo do Sacerdote. A entrega dos agonizantes a Deus A tradição cristã tem expressado sua piedade e caridade aos agonizantes com o que se tem, popularmente, chamado “encomendação da alma”, conjunto de orações e jaculatórias para ajudar o moribundo a superar a natural ansiedade do momento da morte, e superar a natural ansiedade do momento da morte, e suportar o momento com a maior paz e confiança em Deus que seja possível. Em todo caso, este ato piedoso não consiste necessariamente em repetir jaculatórias e fórmulas religiosas como se tivessem pode mágico. Antes, é preciso saber acomodar-se à situação concreta que se vive no momento, à situação do enfermo, seu nível de fé, seu estado psíquico, seu nível de consciência etc. Às vezes uma discreta presença carinhosa junto ao enfermo, religiosa e silenciosa, pode ser mais eficaz e mais gratificante para o enfermo. Há formas de fazer a “encomendação da alma” que não fazem angustiar o enfermo e a família. Portanto, cuidado! É uma hora melindrosa. É melhor não fazer, que fazer indevida e inoportunamente. Todos esses são atos e Sacramentos de que a Igreja dispõe para atender aos enfermos. É importante que os conheçam, tanto o enfermo como os familiares, para que não hesitem em solicitá-los quando deles necessitarem. Os responsáveis pela comunidade cristã e as equipes de assistência aos enfermos não se sentirão jamais incomodados (tomara!) quando se lhes pede um serviço: ao contrário, se sentirão felizes por prestá-lo. Que os sacerdotes, diáconos e agentes de pastoral da saúde e outros sejam solícitos, disponíveis, generosos, acolhedores, nestas situações, que são tão marcantes na vida do enfermo como – e muito mais- nas de seus familiares.