2013/1S – EP33D – Matemática Discreta – Avaliação 01 Data: 10/07/2013 Início: 13h00min – Duração: 03 aulas (2h30min) OBSERVAÇÕES: (i) a prova é individual; (ii) qualquer forma de consulta não autorizada acarretará no recolhimento imediato da prova e atribuição de nota zero; (iii) questões incompletas serão desconsideradas; (iv) a interpretação das questões, o respeito à notação matemática/rigor científico e a claridade/organização na exposição fazem parte da avaliação; (v) formulários, quando permitidos, serão anexados à prova e avaliados; Nome: GABARITO Nota: Problema 01 – [0,50] Qual é a negação das seguintes proposições? “Existe um político honesto.” “Todos os brasileiros comem churrasco.” Resolução: As negações aqui referem-se às negações das proposições ∃xP (x) e ∀xP (x). Assim, se P : “Existe um político honesto.”, ¬P pode ser dada por “Não existe um político honesto.”, ou “Todos os políticos não são honestos.” ou, ainda, “Todos os políticos são desonestos.”. Note que “Existe um político desonesto.” não é a negação (complementar lógica) de P . Agora, se Q: “Todos os brasileiros comem churrasco.”, ¬Q é dada por “Existe um brasileiro que não come churrasco.” ou “Nem todos os brasileiros comem churrasco.”. Note que “Brasileiros não comem churrasco.” não é a negação de Q. Problema 02 – [0,75] Demonstre a equivalência lógica que representa a propriedade distributiva da disjunção sobre a conjunção: p ∨ (q ∧ r) ≡ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r). Resolução: A demonstração da equivalência lôgica pode ser feita pela construção da tabela-verdade das duas proposições: p V V V V F F F F q V V F F V V F F r q ∧ r p ∨ (q ∧ r) p ∨ q p ∨ r (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) V V V V V V F F V V V V V F V V V V F F V V V V V V V V V V F F F V F F V F F F V F F F F F F F Como as duas proposições, P : p ∨ (q ∧ r) e Q: (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) assumem valores lógicos idênticos para todas as configurações das variáveis lógicas p, q e r (isto é, as duas colunas são iguais), P ≡ Q. Problema 03 – [0,75] Mostre que a demonstração por contraposição é um argumento válido: (p → q) ⊢ (¬q → ¬p). Resolução: A verificação de que um argumento é válido pode ser dada pela tabela-verdade: p V V F F q P : p → q ¬q ¬p Q: ¬q → ¬p V V F F V F F V F F V V F V V F V V V V Vemos que toda vez que a premissa P assume o valor lógico V , a conclusão Q é também verdadeira. Assim, P ⊢ Q é um argumento válido. 1 Problema 04 – [1,00] Demonstre que há um par de números inteiros consecutivos, tal que um desses números inteiros é um quadrado perfeito e o outro, um cubo perfeito. Resolução: Esta é uma demonstração de existência construtiva, pois encontraremos um exemplo de dois inteiros consecutivos tal que um deles seja um quadrado perfeito e o outro, um cubo perfeito. Os primeiros quadrados perfeitos são 1 = 12, 4 = 22 e 9 = 32, enquanto que os primeiros cubos perfeitos são 1 = 13, 8 = 23, 27 = 33. Assim, verificamos diretamente que 8 e 9 são dois números inteiros consecutivos, sendo 8 um cubo perfeito e 9 um quadrado perfeito. Problema 05 – [1,00] Demonstre, por contradição, que “se 3n + 2 é ímpar, então n é ímpar.”. Resolução: Uma demonstração por contradição consiste em verificar que a negação da proposição resulta em uma contradição (um absurdo). Assuma, portanto, que se 3n + 2 é ímpar, então n é par. Pela definição, se um número k é ímpar, então existe um inteiro m tal que k = 2m + 1. Assim, se 3n + 2 é ímpar, existe um m inteiro tal que 3n + 2 = 2m + 1 ⇒ 3n = 2m − 1 = 2(m − 1) + 1 ⇒ 3n = 2l + 1 em que l = m − 1 é um inteiro. Assim, se 3n + 2 é ímpar, 3n é ímpar. Mas note que 3 = 2 + 1 é ímpar e o produto de um número ímpar j = 2a + 1 por um par t = 2b é sempre par j.t = (2a + 1)(2b) = 4ab + 2b = 2(2ab + 2) = 2s. (s = 2ab + 2) Assim, se n for par, 3n deve ser par, o que contraria a hipótese de 3n + 2 ser ímpar. Portanto, dado que 3n + 2 é ímpar, n deve ser ímpar. Problema 06 – [1,50] Demonstre que as seguintes sentenças sobre o número inteiro n são equivalentes: “n é par”, “n2 é par” e “n + 1 é ímpar”. Resolução: A equivalência entre três proposições p1, p2 e p3 pode ser demonstrada verificando-se p1 → p2, p2 → p3 e p3 → p1. Nesse caso, fazemos • p1: “n é par” ou, equivalentemente, ∃k ∈ Z, n = 2k; • p2: “n2 é par” ou, equivalentemente, ∃j ∈ Z, n2 = 2j; • p3: “n + 1 é ímpar” ou, equivalentemente, ∃i ∈ Z, n + 1 = 2i + 1. Demonstremos agora, por demonstração direta, as condicionais que definem a equivalência lógica entre as proposições: • p1 → p2: Se n = 2k, então n2 = (2k)2 = 4k 2 = 2(2k 2). Como 2k 2 = j é um inteiro, está demonstrado que p1 → p2. • p2 → p3: Seja n2 = 2j. Como n não pode ser ±1 (pois (±1)2 = 1 é ímpar), considere a fatoração (n + 1)(n − 1) = n2 − 1 = 2j − 1 = 2(j − 1) + 1 = 2s + 1 em que s = j − 1 é um inteiro. Vemos que (n + 1)(n − 1) é um número ímpar. Uma vez que o produto de dois números pares é par, assim como o produto de um ímpar por um par, é necessário que ambos n + 1 e n − 1 sejam ímpares. Assim, n + 1 é ímpar e p2 → p3. • p3 → p1: Se n + 1 = 2i + 1 é direto que n = 2i, isto é, n é par e, portanto, p3 → p1. Assim, como p1 → p2 → p3 → p1, todas as proposições são equivalentes. 2 Problema 07 – [1,50] Considere P (n) como a proposição de que 13 + 23 + 33 + + n3 = número inteiro positivo n. Demonstre, por indução, ∀nP (n). n(n + 1) 2 2 para qualquer a) Mostre que P (1) é verdadeira, completando o passo base da demonstração. b) Enuncie a hipótese indutiva e complete o passo indutivo da demonstração. c) Explique por que esses passos mostram que a fórmula é verdadeira sempre que n for um inteiro positivo. Resolução: (a) O passo base consiste em verificar a veracidade de P (1). Como 13 = 1 = verdadeira. 1(1 + 1) 2 2 = 12 = 1, vemos que P (1) é (b) A hipótese indutiva é a seguinte: P (n) é verdadeira, ou seja, a soma dos cubos dos primeiros n inteiros positivos é dada por (n(n + 1)/2)2. O passo indutivo consiste em verificar que P (n) → P (n + 1). Para isso, considersmos P (n): 13 + 23 + 33 + + n3 = n(n + 1) 2 2 e somamos em ambos os lados da igualdade o termo (n + 1)3. Assim, manipulando o termo da direita, encontramos: n(n + 1) 2 + (n + 1)3 2 n2(n + 1)2 4(n + 1)(n + 1)2 = + 4 4 2 (n + 4n + 4)(n + 1)2 = 4 (n + 2)2(n + 1)2 (n + 1)(n + 2) 2 = = 4 2 13 + 23 + 33 + + n3 + (n + 1)3 = que é exatamente a expressão P (n + 1). Logo, P (n) → P (n + 1) e o passo indutivo está completado. (c) O passo indutivo demonstra que P (n) → P (n + 1), ou seja, que se a proposição é válida para o número inteiro n, então será válida para o próximo número inteiro n + 1. Como a demonstração é independente do valor de n, temos agora se a proposição é válida para n + 1, também será para (n + 1) + 1 = n + 2, e assim por diante. Uma vez que fomos capazes de verificá-la diretamente para n = 1, sabemos será válida para n = 2 e, então, para n = 3 e, então, para n = 4 ... Ou seja, para todos os números inteiros positivos n. Problema 08 – [2,00] Seja fn = fn−1 + fn−2 o n-ésimo número de Fibonacci para n > 2, com f0 = 0 e f1 = 1. a) Mostre que fn+1 fn−1 − fn2 = (−1)n quando n é um número inteiro positivo. b) Mostre que se A = 1 1 fn+1 fn n , então A = quando n for um número inteiro positivo. 1 0 fn fn−1 Resolução: Primeiramente, observemos que f2 = f1 + f0 = 1. (a) A relação pode ser facilmente verificada para n = 1 (passo base): f2 f0 − f12 = 1.0 − 1 = −1 = (−1)1. Podemos agora assumir que a relação é válida para n e dela derivar a relação para n + 1. Ou seja, suponha fn+1 fn−1 − fn2 = (−1)n. 3 Agora, manipulemos o termo da esquerda com n→ n + 1, utilizando a definição dos números de Fibonacci para observar que fn+2 = fn+1 + fn e que fn+1 = fn + fn−1. Assim, temos 2 fn+2 fn − fn+1 = = = = = = (fn+1 + fn)fn − fn+1(fn + fn−1) fn+1 fn + fn2 − fn+1 fn − fn+1 fn−1 fn2 − fn+1 fn−1 −(fn+1 fn−1 − fn2) −(−1)n (−1)n+1. Assim, se a relação é válida para n, é válida pra n + 1. Como verificamos no passo base que a relação é verdadeira para n = 1, então a mesma é verdadeira para todo número inteiro positivo. (b) Utilizaremos a construção recursiva de An por An+1 = A.An em que A = A1 é a matriz dada. Note que 1 A = f2 f1 f1 f0 1 1 . = 1 0 Assim, basta demonstrarmos que, para todo n > 1, An+1 = A.An. Fazendo o produto e rearranjando os termos, verificamos facilmente esse resultado: A.An = 1 1 1 0 fn+1 fn fn fn−1 # " f(n+1)+1 f(n+1) fn+1 + fn fn + fn−1 fn+2 fn+1 = = An+1 = = fn+1 fn f(n+1) f(n+1)−1 fn+1 fn em que, pela definição dos números de Fibonacci, fn+2 = fn+1 + fn fn+1 = fn + fn−1 e foram utilizados. Problema 09 – [0,5] Decida se cada um dos inteiros abaixo é congruente a 5 módulo 17. a) 80 c) −29 b) 103 d) −122 Resolução: Dizemos que a é congruente a b módulo m se m divide (a − b) ou, analogamente, se a mod m = b mod m, isto é, se o resto das divisões de a e b por m forem iguais. Observe que 5 mod 17 = 5.Assim: (a) Como 80 − 5 = 75 e 17 ∤ 75, pois não existe inteiro m tal que 17.m = 75, vemos que 80 5(mod 17). Analogamente, temos 80 mod 17 = 12 5. (b) Como 103 − 5 = 98 e 17 ∤ 98, pois não existe inteiro m tal que 17.m = 98, vemos que 103 5(mod 17). Analogamente, temos 103 mod 17 = 1 5. (c) Como −29 − 5 = −34 e 17|−34, pois −34 = 17.(−2), vemos que −29 ≡ 5(mod 17). Analogamente, −29 mod 17 = 5, pois −29 = 17.(−2) + 5. (d) Como −122 − 5 = −127 e 17 ∤ −127, pois não existe inteiro m tal que 17.m = −127, vemos que −122 5 (mod 17). Analogamente, −122 mod 17 = 14 5 (pois −122 = 17.(−8) + 14). 4 Problema 10 – [0,5] Decodifique a seguinte mensagem, codificada pelo algoritmo de Júlio César, em que A = 1, B = 2, , Z = 0 e f (p) = (p + 3) mod 26: P H L R J D Q K R ! S R Q W R A função decodificadora (inversa) de f é f −1(p) = (p − 3) mod 26. Assim, podemos construir a seguinte tabela: A p = f −1(w) 1 w = f (p) 4 D B 2 5 E C 3 6 F D 4 7 G E 5 8 H F 6 9 I G 7 10 J H I J K 8 9 10 11 11 12 13 14 K L M N L 12 15 O M 13 16 P N 14 17 Q O 15 18 R P 16 19 S Q 17 20 T R 18 21 U S 19 22 V T 20 23 W U 21 24 X J 10 7 G D 4 1 A Q 17 14 N K 11 8 H R ! 18 15 O ! Logo, a mensagem é: P H L R w 16 8 12 18 f −1(w) 13 5 9 15 M E I O S 19 16 P R 18 15 O Q 17 14 N 5 W 23 20 T R 18 15 O V 22 25 Y W 23 0 Z X 24 1 A Y 25 2 B Z 0 3 C