CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES NA REDUÇÃO DE COMPORTAMENTOS INADEQUADOS EM ALUNOS DO ENSINO REGULAR ATRAVÉS DE TREINAMENTO EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO. Silvia Aparecida Fornazari, Marcos Aníbal Tardin Torresani, Priscila de Cássia França, Rodrigo Feliciano Caputo,Thaís Ribeiro de Lima Xavier. Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO – Lins/SP. [email protected], [email protected], [email protected] RESUMO Capacitar os profissionais da Educação torna-se cada vez mais preciso à medida que estes revelam a necessidade de uma formação continuada e também de práticas efetivas que colaborem para sanar as dificuldades encontradas diariamente em sala de aula. Este estudo traz a preocupação com um instrumento que seja eficaz na capacitação do professor em análise funcional possibilitando que o mesmo possa utilizar técnicas de controle comportamental, instalando comportamentos adequados em seus alunos e reduzindo comportamentos considerados inadequados. O procedimento será dividido em dois momentos:Treinamento da professora nos conceitos e procedimentos da Análise do Comportamento Aplicada, através do instrumento informatizado (Fase 1 e 2) e; Sessões de treinamento, a serem realizadas com o objetivo de garantir o entendimento e utilização prática do conteúdo transmitido pelo software (Fase 2). Um sessão de encerramento também será conduzida. Os dados serão analisados através do software Etholog 2.25. Palavras-chave: Capacitação de Professores. Análise do Comportamento. Análise Funcional. Software. Ensino Regular. INTRODUÇÃO Este trabalho surgiu da discussão sobre a tese de doutorado Comportamentos Inadequados e Produtividade em Pessoas com Deficiência Mental ou Múltipla em Ambiente Educacional, defendida pela Dra. Silvia Aparecida Fornazari. O objetivo geral deste trabalho foi o de reduzir comportamentos inadequados e aumentar comportamentos adequados de trabalho em adolescentes e adultos com deficiência mental severa ou múltipla, em ambiente semi-estruturado e institucional. A possibilidade de aplicar o mesmo procedimento, adaptado ao ensino regular, revela uma ampliação dos benefícios obtidos em escola especial para o ensino regular, tão raro visto. No trabalho de Fornazari (2005), os profissionais que passaram pelo treinamento obtiveram sucesso na aprendizagem da Análise do Comportamento quando realizaram uma análise funcional efetiva, e demonstraram domínio na utilização do procedimento de reforçamento diferencial de comportamentos alternativos (DRA), visto que o objetivo de reduzir comportamentos inadequados e instalar adequados foi realizado. Vêem-se atualmente nos ambientes de sala de aula uma situação muito semelhante ao que Skinner já descrevia há algumas décadas: a ausência de reforçadores próximos aos alunos: “As escolas preparam os estudantes para um mundo excessivamente remoto” (SKINNER, 2002, p. 120). 2 Os comportamentos inadequados dos alunos servem, muitas vezes, para classificá-los como fracassados. Reduzir estes comportamentos, portanto, contribui para eliminar este rótulo. Todavia, este fato ainda tem a colaboração do professor, que não deixa de ser um participante ativo no processo educacional. A análise funcional é o instrumento necessário para se estabelecer controle comportamental. É um processo de avaliação que pode ser utilizado para construir planos de suporte comportamental efetivos, que compreendam três resultados considerados importantes: descrição operacional do comportamento indesejável; predição de horários e situações quando o comportamento indesejável pode ou não ocorrer através de uma série de rotinas diárias típicas; e a definição das funções ou reforços mantenedores que o comportamento indesejável produz para o indivíduo (O´NEILL, HORNER, ALBIN, STOREY e SPRAGUE, 1990, citados por Fornazari, 2005). Podemos observar quatro possíveis funções desse comportamento que são: atenção, fuga, obtenção de objetos ou situações, e sem função aparente. De acordo com Carr (1994, citado por Fornazari, 2005), também existem outras variáveis que influenciam no comportamento, como por exemplo, o uso de medicação. Após a realização da análise funcional podemos definir qual procedimento de modificação do comportamento trará melhores resultados aos indivíduos em questão. A utilização do procedimento de Reforçamento Diferencial vem sendo referida como um dos possíveis procedimentos a serem utilizados com resultados eficientes. Skinner (1972, p.13), citado por Fornazari (2005) em seu livro Tecnologia do Ensino, escreve que “é um grande choque passar de excitante prospecto de uma ciência progressista do ensino para o ramo da tecnologia mais diretamente ligado ao processo de aprendizagem – a Educação”. Analisando o trabalho em sala de aula, Skinner refere-se a alguns problemas como a ausência de estímulos reforçadores que mantenham o comportamento de estudar dos alunos, contudo também existe uma relevante ausência de reforçadores para que os professores se mantenham motivados e conseqüentemente se comportando no sentido de efetivamente ensinar seus alunos. Este estudo traz a preocupação com um instrumento que seja eficaz na capacitação do professor em análise funcional possibilitando que o mesmo possa utilizar técnicas de controle comportamental, instalando comportamentos adequados em seus alunos e reduzindo comportamentos considerados inadequados. Sendo assim, o software desenvolvido por Fornazari (2005), como instrumento de ensino para as professoras com as quais trabalhou em sua pesquisa de doutoramento, será utilizado. Modificações no conteúdo e apresentação das informações estão sendo realizadas, visando avaliar sua efetividade na aprendizagem do conteúdo pelo professor, bem como a transmissão desse conteúdo para a prática de sala de aula de ensino regular. Os resultados refletidos no comportamento dos alunos também serão avaliados. DESENVOLVIMENTO Objetivo geral: Capacitar a professora de uma sala de aula de uma escola regular pública a utilizar a Análise do Comportamento, visando reduzir os comportamentos inadequados apresentados por seus alunos e, consequentemente, estimular uma maior emissão de comportamentos adequados. Objetivos específicos: 3 - Produzir conhecimento científico tanto para a Análise do Comportamento como, principalmente, para a Educação. - Oferecer subsídios a fim de que os profissionais da educação sejam mais assertivos na sua relação com os alunos. - Propiciar através da adequação do conteúdo de um software a formação continuada de professores. MÉTODO Participantes: Alunos matriculados em uma sala de aula de escola regular de Ensino Fundamental. Também será participante desta pesquisa, o professor da sala de aula. Os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido deverão ser assinados pelos responsáveis pelos alunos e pelo professor. Local: O trabalho será desenvolvido em uma escola de Ensino Fundamental na cidade de Lins/SP. Material e Equipamentos: 1 filmadora, 3 fitas para filmadora 8mm, 1 vídeo cassete, 30 fitas para vídeo cassete, 1 televisão, 1 impressora jato de tinta, 1 microcomputador, Software Ensino à Professores (FORNAZARI, 2005), Softwares para registro e apresentação dos dados: Etholog 2.25 (OTTONI, 2000), Microsoft Excel e Word. Folhas de registro para análise qualitativa. Procedimento: O procedimento será dividido em dois momentos: 1. Treinamento da professora nos conceitos e procedimentos da Análise do Comportamento Aplicada, através do instrumento informatizado (Fase 1 e 2). 2. Sessões de treinamento, a serem realizadas com o objetivo de garantir o entendimento e utilização prática do conteúdo transmitido pelo software (Fase 2). Fase 1 – Preparação Nesta fase, serão realizadas filmagens da atuação das professoras em interação com os alunos em sala de aula, antes que qualquer intervenção seja efetuada. As filmagens serão iniciadas uma semana antes da aplicação do software e constituirão a linha de base. Fase 2 – Intervenção A Fase 2 contará da aplicação do software, sessões de treinamento e uma sessão de encerramento, com filmagens concomitantes da atuação das profissionais em sala de aula, verificando a influência do treinamento. O software trará os conceitos básicos essenciais para a execução do procedimento, incluindo situações cotidianas da vida de qualquer pessoa, assim como situações mais específicas de sala de aula. Através do software, as profissionais serão treinadas a realizar uma análise funcional adequada e através desta, aplicar corretamente o procedimento de DRA, com o objetivo de aprender a atuar no sentido de possibilitar a redução da emissão de comportamentos aberrantes e inadequados pelos alunos e, concomitantemente, aumentar a emissão de comportamentos adequados e de trabalho. Sessões de treinamento serão realizadas após a aplicação do software como suporte para a atuação das profissionais. 4 O Software Ensino à Professores O software desenvolvido para Fornazari (2005), foi elaborado em Delphi, e gerencia procedimentos de pré-teste, treino e teste, fornecendo conceitos e situações-problema, nas quais o aluno se comporta de forma inesperada, e é necessário um conhecimento específico para se poder agir utilizando a análise funcional e então, o procedimento de DRA, de acordo com cada situação. Em todas as etapas, a fase de pré-teste consiste na apresentação de 50% das questões construídas. O pré-teste apresenta informações em uma janela central que, ao ser clicada apresenta quatro alternativas de opções de escolha, sendo que apenas uma alternativa é a correta. O participante deve escolher uma alternativa que é armazenada no banco de dados do software. Esse procedimento é repetido de acordo com o número de apresentações programado para cada etapa, arbitrariamente na escolha das questões e aleatoriamente em sua apresentação. Há uma tela para cada questão e as opções não são ambíguas ou muito claras, no sentido de dar dicas sobre a resposta. A porcentagem de acertos não é apresentada ao participante, e nem estímulos indicativos de acerto ou erro, e ele passa obrigatoriamente pela fase de treino. Na fase de treino são apresentadas informações na janela central da tela que, ao ser clicada com o mouse, apresenta quatro alternativas de opções de escolha, e novamente apenas uma é correta. Após escolher uma das alternativas, caso o participante acerte, aparece um estímulo indicativo de acerto, caso contrário aparece um estímulo indicativo de erro. Esse procedimento é repetido utilizando todos os aspectos programados, até que a profissional obtenha um critério de 90% de acertos, quando passa para a fase de teste. Na fase de teste, são apresentadas novamente 50% das questões programadas, e assim como na fase de pré-teste, aparece uma informação na janela central, e quando o treinando clica com o mouse, seguem-se quatro alternativas nas janelas nos cantos da tela. As respostas não produzem estímulos indicativos de acerto ou erro. Caso o critério de 90% de acertos seja obtido, ele segue para a próxima etapa, caso contrário, volta à fase de treino e teste até chegar ao critério pré-estabelecido de 90% de acertos. Sessões de treinamento No mínimo duas sessões de treinamento estão programadas. Ocasiões em que as profissionais recebem orientações específicas sobre acontecimentos práticos de sua sala de aula. Essas sessões de treinamento ocorrem utilizando uma televisão e um vídeo cassete onde as fitas com as gravações da sala de aula podem ser assistidas e a atuação das profissionais pode ser discutida com a experimentadora tendo como base o procedimento aprendido. Um espaço para que as profissionais expressem seus sentimentos e necessidades também pode ser proporcionado. Sessão de encerramento Uma sessão de encerramento será conduzida com o objetivo de obter um retorno sobre a efetividade do procedimento proposto, dúvidas e sugestões das profissionais participantes. Procedimento de Coleta de Dados Os dados serão coletados através de uma filmadora colocada na sala de aula.. Além da análise dos dados, as fitas serão utilizadas para as sessões de treinamento 5 do profissional. As fitas serão assistidas ao lado de um computador que tem instalado o software Etholog 2.25 (OTTONI, 2000), que será utilizado para a quantificação dos dados. O software utilizado para o treinamento das professoras terá registros analisados e sua efetividade observada. As sessões de treinamento também serão transcritas para análise. O cálculo da porcentagem do acordo entre os observadores, para os registros realizados através do Etholog 2.25, será realizado através da fórmula: número de acordos dividido pelo número de acordos somado ao número de desacordos, multiplicado por 100. Procedimento de Análise dos Dados Os dados serão analisados intra e inter participantes através de gráficos e tabelas. As fitas transcritas e dados obtidos através do software utilizado para o treinamento serão analisados. CONCLUSÃO Este trabalho pretende trazer alguns benefícios à instituição e à área de conhecimento a qual se refere. Enquanto benefício à instituição, considera-se a informatização do treinamento um recurso barato, rápido e de fácil utilização, desde que com orientação. O software foi planejado visando abranger conteúdos diferenciados, de acordo com a necessidade apresentada, pois sua metodologia é para ser utilizada no trabalho diário com realidades diversas. Ainda assim, pode-se considerar que a redução de comportamentos inadequados facilitará o trabalho pedagógico da professora como também o da equipe escolar. Muitos benefícios também podem ser levantados com relação aos alunos. A redução da estigmatização, advinda da redução da emissão de comportamentos inadequados e aumento do repertório adequado, é o benefício primeiro. Desta forma, este projeto de pesquisa busca capacitar o professor a utilizar-se dos conceitos e procedimentos disponíveis na área da Análise do Comportamento, para trabalhar de forma a possibilitar a redução de comportamentos inadequados e aumento dos comportamentos adequados. Análise funcional e DRA serão os procedimentos principais a serem trabalhados no treinamento da professora. REFERÊNCIAS FORNAZARI, S. A. Comportamentos inadequados e produtividade em pessoas com deficiência mental ou múltipla em ambiente educacional. Tese de doutorado não publicada, Araraquara, SP, 2005. OTTONI, E. B. Etholog 2.2: A tool for the transcription and timing of behavior observation sessions. Behavior Research Methods, Instruments, & Computers. v. 3 n. 32, p. 446-449, 2000. SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1972. SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas: Papirus, 2002.