FIRP – Faculdades Integradas de Ribeirão Pires Disciplina: Economia Internacional I Professor – Carlos Roberto de Oliveira Material de apoio. ECONOMIA INTERNACIONAL “O beneficio maior do intercambio econômico entre as nações, mais do que o fato de ele possibilitar aos paises obterem produtos que eles mesmos não conseguiriam produzir, está no emprego mais eficiente das forças produtivas do mundo”. JOHN STUART MILL As relações econômicas internacionais nos últimos 500 anos têm crescido em volume e importância, tendo em vista o alto grau de envolvimento com que as nações têm participado da economia global. Mas o que leva duas ou mais economias comercializarem entre si? A resposta a essa questão pode ser dada em função de três razões preponderantes segundo Rossetti: 1) Os graus crescentes de especialização, que ampliam as possibilidades de trocas de bens de toda a natureza; 2) A busca incessante por economia de escala mais eficientes e competitivas; e. 3) A maior diversidade de produção e demanda que exige cadeias de suprimentos muito mais complexas e intensas. A frase de Stuart Mill no inicio do texto nos remete a outra questão, que se refere à forma pela qual são escolhidos os bens e serviços que farão parte do fluxo de mercadorias e serviços do comercio internacional. È preciso saber por que, por exemplo, o Brasil exporta produtos agrícolas e manufaturados enquanto importa maquinas e equipamentos pesados. A resposta a essa questão está na Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo, economista inglês do séc. XIX. Essa teoria parte do principio de que os paises que comercializam entre si aumentam o nível de bem estar social através da quantidade e diversidade de produtos colocados à disposição dos habitantes desses paises. Então quanto maior a eficiência produtiva maior será o nível de bem estar social dos paises ou economias envolvidas. Maior será o portfolio de bens e serviços disponíveis na economia aumentando assim as possibilidades de consumo e maximização da satisfação da população ou consumidor. Mais para tanto se faz necessário a especialização das economias envolvidas no processo de transação comercial para que as mesmas pratiquem ganhos competitivos significativos. Vamos montar um cenário simples imaginando, por exemplo, dois paises: Digamos o Brasil, que todos nós conhecemos minimamente seus aspectos econômicos e o Japão, que também conhecemos sua eficiência de gestão e avanço tecnológico. Vamos imaginar ainda, que esses dois paises se especializassem ou se dedicassem apenas à produção de produtos ao qual 1 obtivessem ganhos competitivos, numa situação onde houvesse o emprego de todos os fatores de produção. Considerando que o Brasil resolvesse produzir só e tão somente boi, para corte e abate ou aparelhos celulares empregando para tanto, todos os fatores de produção de sua economia e o Japão, usando também todos os seus fatores de produção, produzisse, apenas e tão somente, aparelhos de telefonia móvel (celulares) ou boi para corte e abate (carne). PRODUTO BRASIL JAPÃO Total 36.000 Ton. carne 24.000 Ton. carne VC Brasil = 12.000 72.000 Ap.celulares 96.000 Ap.celulares VC Japão = 24.000 Sabemos que é apenas um cenário hipotético, no entanto é possível perceber que pelas as características das economias o Brasil estabelece vantagens comparativas na produção de carne em 12.000 toneladas enquanto o Japão estabelece uma vantagem comparativa na produção de aparelhos celulares na ordem de 24.000 aparelhos. Entretanto, essas economias demandam ou querem consumir os dois bens (Carne e Celulares) e, para isso os fatores de produção devem ser deslocados para a fim de atender tal demanda. PRODUTO BRASIL JAPÃO Total 18.000 Ton. carne 12.000 Ton. carne 30.000 Ton. carne 36.000 Ap.celulares 48.000 Ap.celulares 84.000 Ap.celulares A fim de atender as expectativas de consumo, podemos observar que as economias perdem capacidade produtiva: O Brasil, que deixa de produzir 18.000 toneladas de carne para produzir 36.000 ap. celulares; O Japão deixa de produzir 48.000 aparelhos celulares para produzir 12.000 toneladas de carne. A economia encolheria ou seria afetada em sua eficiência em 6.000 toneladas de carne 12.000 aparelhos celulares. Por outro lado se esses paises se especializassem na produção dos bens nos quais levam vantagens, seriam capazes de ofertar uma maior quantidade de bens na economia, proporcionando maior nível de bem estar social. O Brasil produziria 36.000 toneladas de carne e nenhum (zero) celular. O Japão produziria 96.000 aparelhos celulares e nenhuma (zero) tonelada de carne, ou seja; PRODUTO BRASIL JAPÃO Total 36.000 Ton. carne zero 36.000 Ton. carne zero 96.000 Ap.celulares 96.000 Ap.celulares 2 Podemos observar que a especialização aumenta a capacidade produtiva das economias. A Teoria das Vantagens Comparativas está relacionada com os fatores produtivos que cada economia possui, de acordo com suas condições, de clima, recursos naturais, tecnologia entre outros. Nunca é demais salientar que um país não se especializa totalmente na produção de um determinado bem e nem produz ou consome apenas dois bens como no exemplo anterior, hoje mais do que nunca são produzidos e consumidos uma infinidade de bens e serviços na economia global. Segundo o economista Raul Prebish, economista da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e responsável pela elaboração de conceito de “deterioração das relações de troca” a Teoria das Vantagens Comparativas não devem ser seguida como justificativa para medidas de políticas econômicas, pois no mercado internacional, com o decorrer dos anos, o preço dos produtos agrícolas diminui o que não acontece com os produtos manufaturados, de tecnologia e maquinas e equipamentos. Com isso um país que se especializasse na agricultura e trocasse seus produtos por mercadorias industrializadas precisaria produzir cada vez mais, para trocar pela mesma quantidade de manufaturas. Numa situação onde fosse impossível aumentar a capacidade produtiva de produtos agrícolas, o país importaria quantidades cada vez menor de produtos industrializados, diminuindo o bem estar de sua população à longo prazo. A Teoria das Vantagens Comparativas deve ser utilizada como estratégia de política de produção de curto prazo para resolver problemas momentâneos. Sua utilização de forma permanente pode acarretar sérias distorções à economia, como por exemplo, o aumento da dependência externa dos paises agrícolas ocasionando graves conseqüências sociais. Quando um pais ou economia pode produzir uma unidade de um bem com menor quantidade de fatores de produção que outro, podemos dizer que o primeiro pais possui uma Vantagem Absoluta na produção desse bem. Fronteira de Possibilidades de Produção: Sabemos que toda economia possui recursos limitados (Lei da Escassez – Lembra?), há limites quanto ao que cada uma pode produzir, e existem sempre dilemas, pois, para produzir mais de um determinado bem, a economia deve sacrificar um pouco da produção do outro bem como vimos anteriormente com a produção de carne e celulares. A Fronteira de possibilidades de produção é determinada pelos limites dos recursos de cada economia. 3 Prod. Carne C Fronteira das possibilidades de produção D Prod. Celulares. As variações de produção vão se dá das diversas possibilidades ou combinações utilizadas na produção de Carne ou Celulares. BALANÇO DE PAGAMENTOS A partir do momento em que um país começa a comercializar com outros, surge a necessidade de se estabelecer um controle sobre o fluxo de bens, ou melhor, de recebimento e pagamento realizados nas relações comerciais internacionais. O gestor dessa economia deve orientar-se pela sensatez e estabelecer um relacionamento puramente comercial com outras nações, e como em uma empresa que compra e vende bens deve ter como fim primeiro a lucratividade ou o superávit comercial. Para realizar esse controle é utilizado o balanço de pagamentos, que nada mais é que o registro contábil de todas as transações de uma economia com outras em um determinado período de tempo. No balanço de pagamento são registradas todas as importações e exportações de mercadorias realizadas pelo país e o pagamento e recebimento de fretes, juros, royalties e outros. É registrado, também, o ingresso de capitais estrangeiros sob forma de empréstimos, investimentos e outros fluxos. As transações comerciais de um país com o resto do mundo envolve também a compra e venda de moedas estrangeiras internacionalmente aceitas. As empresas que desejam importar uma mercadoria qualquer precisam comprar moeda estrangeira – a moeda do país de origem da mercadoria – para adquirir o produto que deseja. Da mesma forma, o exportador que recebe o pagamento da venda de suas mercadorias no exterior em moeda estrangeira, precisa de moeda de seu país para remunerar os fatores de produção que emprega. Para tanto, o exportador obtém esses recursos com a venda das moedas ganhas com a venda das mercadorias ao exterior. O Banco Central do Brasil é o órgão responsável pela troca de moedas estrangeiras oriundas das exportações, por moeda nacional (Real). 4 A moeda estrangeira é chamada de divisa. Então dizemos que as transações comerciais entre os paises envolvem a compra e venda de divisas. PARTIDAS DOBRADAS: O critério adotado para lançamento das diversas transações comerciais entre paises, no Balanço de Pagamento é o sistema de partidas dobradas, ou seja, para cada lançamento a debito existira um lançamento a crédito e vice versa. Quando uma transação da origem a compra de divisas, é lançada do lado esquerdo à débito. Quando a transação envolve a venda de divisas, é lançada do lado direito, à crédito. Exemplo: Balanço de Pagamentos Débito Crédito Desembolso – importação Saída de divisas de qualquer natureza Recebimentos – exportação e entrada de divisas de qualquer natureza Para melhor compreendermos e simplificar nossa analise vamos desconsiderar as chamadas “contas caixa”, - que registram as exportações e importações de mercadorias também da seguinte forma: Para o registro a crédito das exportações, existe também um lançamento a débito na conta caixa e um lançamento a débito nas importações tem um lançamento a crédito nas contas caixa. Vamos nos ater apenas as chamadas contas operacionais do Balanço de pagamento. Estrutura do Balanço de Pagamento O Balanço de Pagamento é dividido em quatro partes. Nelas as transações comerciais são registradas de acordo com a sua natureza. A primeira parte do Balanço de Pagamento registra as importações e exportações de mercadorias e serviços e é chamada de Balança Comercial; Onde as importações são lançadas a débito, pois envolvem compra de divisas e as exportações são lançadas a credito, já que envolvem venda de divisas. Vamos compreender? Compras de divisas significam a saída de divisas. Venda de divisas significam a entrada de divisas. A segunda parte é a chamada Balança de Serviços. Descreve as Despesas e Receitas decorrentes do pagamento e recebimento de fretes, juros, prêmios de companhias de seguro, royalties entre outros. Os seus lançamentos continuam obedecendo aos mesmos critérios, ou seja, quando o país efetua pagamentos é necessário comprar divisas, sendo que essa operação é lançada a debito, caso contrário, é lançada a crédito. 5 A terceira parte é chamada de Transferências Unilaterais: registra transações sem contra partida. Como por exemplo, as remessas feitas por imigrantes as suas famílias no exterior, as doações de um país para outro em auxilio pela ocorrência de alguma catástrofe e as doações a fundo perdidas, entre outras. A Balança Comercial, a balança de Serviços e as Transferências Unilaterais, formam o Balanço de Transações Correntes que registram as operações com bens e serviços. As transações comerciais entre as nações não se limitam às compras e vendas de bens e serviços. Os investimentos internacionais também são contabilizados de tal forma que serão considerados entradas e saídas de divisas. Os empréstimos obtidos no exterior junto a entidades públicas ou privados também são considerados entradas de divisas, sem a saída de bens e serviços. Por outro lado, no caso dos empréstimos, estes quando contraídos no exterior devem ser amortizados, o que significa saída de divisas. No caso do investimento, a remessa de lucros para os paises de origem de tal investimento também significa saída de divisas. As situações onde há transações envolvendo a saída e entrada de divisas, mais não a entrada e saída de mercadorias são registradas no Balanço de Capitais. A Balança de Capitais: Nessa conta são registradas as operações que não envolve o fluxo de mercadorias e serviços entre as nações e sim a movimentação de capital. É a ultima parte do Balanço de Pagamentos. O critério de registro é o mesmo: a saída de divisas é lançada a débito e a entrada lançada a crédito. Essa é a melhor forma de apresentação do Balanço de Pagamentos, pois dessa forma torna-se muito mais fácil verificar qual a real situação de um país no comercio internacional. EXEMPLO: Considerando que o Brasil tenha realizado em um determinado período de tempo as seguintes operações de COMEX. Exportação = 20 bilhões Importações = 25 bilhões Transporte = 3 bilhões ( Recebidos por navios brasileiros) Fretes = 4 bilhões Juros = 1 bilhão Donativos = 1 bilhão A) Balança comercial Débito Importação = Saldo devedor Crédito 25 Exportação = 20 5 6 B) Balança de Serviços Débito Fretes = Juros = Saldo Devedor Crédito 4 1 3 Fretes = 2 C) Transferências Unilaterais Débito Crédito 1 Donativos = Saldo Credor 1 D) Balanço de Transações Corrente (A+B+C) Débito Importação = 25 Exportação = Fretes = Juros = 4 1 Crédito 20 3 1 24 6 Fretes = Donativos = Compras e pgtos = 30 Vendas e rec. = Saldo devedor Balanço de Transações Corrente (A+B+C) Débito Saldo devedor Crédito 6 A balança Comercial apresentou um saldo devedor (déficit) de 5 bilhões, a balança de serviços 2 bilhões e a transferências unilaterais apresentaram saldo credor (superavitário) de 1 bilhão perfazendo um saldo deficitário de 6 bilhões em Transações correntes. No caso de déficit nas transações correntes é necessário estabelecer o equilíbrio, e para se estabelecer o equilíbrio será necessário um credito na ordem de 6 bilhões. Como esse equilíbrio pode ser estabelecido? Os investimentos internacionais podem ser utilizados – Imaginemos que uma empresa Transnacional resolva estabelecer uma filial em território brasileiro: Investimento = 3 Bilhoes; Empresas brasileiras públicas e privadas tomem no exterior 2 bilhões emprestados: Empréstimos = 2 bilhões. E por ultimo o Governo brasileiro toma emprestado junto a organismos internacionais (FMI, Banco Mundial e outros) 1 bilhão, fechando assim o balanço de Pagamentos do Brasil. 7 BALANÇO DE CAPITAIS: Débito Saldo Credor = Crédito Ingresso de capital = Empréstimos = FMI = 3 2 1 6 Em resumo, o nosso Balanço de pagamentos tem os seguintes resultados: a) Balanço Comercial Saldo Devedor = 5 bilhões b) Balança de Serviços Saldo devedor = 2 bilhões. c) Transações Unilaterais Saldo Credor = 1 bilhão. d) Balanço de Transações Correntes Saldo devedor = 6 bilhões. e) Balança de Capital Saldo Credor = 6 bilhões. O equilíbrio do balanço de pagamentos é atingido em função de empréstimos e ingresso de capitais por meio de investimentos produtivo na economia, ou seja, o saldo devedor da balança de transações correntes é compensado pelo saldo credor da balança de capitais, no período considerado. Exercícios: 8 9