SÉCULO XXI – O QUE É ARTE HOJE?

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SÉCULO XXI – O QUE É ARTE HOJE? Objetivos Apresentar o panorama das artes nos dias de hoje, partindo da body art até a computer art, quando novos paradigmas são estabelecidos. Tópicos 1. 2. 3. 4. O q ue é arte hoje ? Bod y A rt e Bod y M od ification – o corp o com o tela Grafites e cong êneres : a cid ad e com o s up orte Com p uter A rt – arte s em es p aço 1 . O que é arte hoje? Uma das maiores revoluções da humanidade nos últimos 20 anos se deu por intermédio dos computadores. A informática saiu das empresas (e de seus grandes, pesados e lentos mainframes de vários andares de tamanho) e entrou na vida cotidiana, invadindo os lares e nos últimos anos sofrendo mais uma metamorfose – inserindo­se de forma portátil na sociedade (com handhelds, celulares, MP3 Players, por exemplo). Entretanto, também tivemos outras revoluções. Uma delas – provavelmente tão importante quanto a informática ou mais – é de cunho social, e é tão complexa que não pode ser definida em poucas palavras. Talvez pudéssemos arriscar uma simplificação dizendo que a principal característica da sociedade do novo milênio é a d ivers id ad e – seja ela de caráter sexual, social, político ou religioso. Radicalismos sempre existiram e sempre existirão, mas em toda a história da humanidade não se tem registro de um período tão rico em diferenças, na diversidade de opções de todos os tipos para todos os caminhos. Isso nos levará a uma enxurrada de conceitos cada vez mais discutidos hoje (que vão de idéias novas como copyleft e manipulação de células­tronco a temas mais antigos com nova roupagem, como marketing pessoal e a idéia de “agregar valor” às coisas, por exemplo), mas ainda pouco estudados devido ao seu caráter de novidade. Vivemos em tempos fluidos: conceitos surgem e desaparecem, e a rapidez com que isso ocorre hoje nos leva a achar que não há nenhum critério nisso. Será mesmo que não? Todo caminho tem um começo: não é tão difícil assim entender como chegamos até aqui. Esta última aula tem como objetivo iniciar um mapeamento desse território da nova arte do século XXI – mas não fecha caminhos, apenas propõe novas investigações.
2 . Body Art e Body Modification – o corpo como tela O conceito de enfeitar o corpo é bastante antigo: múmias egípcias e pré­colombianas revelam vestígios de roupas outrora luxuosas, jóias e até pinturas corporais. Tatuagens em henna não são uma invenção recente: o povo hebreu do tempo de Cristo já conhecia (e dominava) essa técnica. Do mesmo modo, as tatuagens permanentes em tinta são milenares, e eram conhecidas por diversos povos em várias partes do mundo: as famosas tatuagens “tribais” de hoje em dia têm muito pouco de realmente tribal; são, em grande parte, estilizações de temas e motivos semelhantes aos utilizados por alguns povos da Polinésia. Assim como as tatuagens, as perfurações de diversas partes do corpo para colocação de jóias ou objetos de enfeite de vários tipos (procedimento conhecido como piercing) foram se tornando cada vez mais comuns entre pessoas de todos os jeitos e de todas as idades. Já não é mais incomum encontrar vovôs e vovós ostentando orgulhosos tatuagens bem transadas (esqueçam as antigas tatuagens malfeitas de marinheiros). Mas, dentro do grupo de pessoas que tatuam e perfuram o corpo, há um outro grupo que levou esses procedimentos ao nível da arte: são os body artists. Artistas que procuram explorar seus corpos e levá­los ao limite – valendo­se, em alguns casos, de procedimentos radicais de modificação de partes do corpo. Como, por exemplo, a artista plástica paulistana Priscilla Davanzo, que, além de tatuar grande parte da superfície de seu corpo com manchas de vaca (e dois versos de autoria do artista plástico Leonílson nas costas), fez queimar a pele das omoplatas para simbolizar as asas arrancadas de um anjo. Parte do processo de tatuagem de Priscilla foi documentada no vídeo Geotomia, dirigido por Marcelo Garcia em 2000. Um exemplo ainda mais radical é o do americano Erik Sprague, também conhecido como o Homem­Lagarto. Sprague decidiu se transformar numa criatura inspirada no personagem Lagarto, das histórias em quadrinhos do Homem­Aranha. Aos 28 anos, Erik calcula que já tenha passado por mais de 400 horas de tatuagem – faltando ainda 200 para completar o processo. Um dos casos mais recentes e interessantes de arte no corpo é o da escritora norte­americana Shelley Jackson. Em seu site, Ineradicable Stain (que poderíamos traduzir como Mancha Indelével), Jackson faz um manifesto­proposta para a construção de uma obra literário­corporal coletiva. Ela escreveu um conto que jamais será publicado em nenhuma mídia, mas cujas 2095 palavras que o compõem serão tatuadas cada uma em uma pessoa diferente que se oferecer como voluntária para o processo.
3 . Grafites e congêneres: a cidade como suporte Um pouco antes da body art chegar com força total ao Brasil, os artistas mais inquietos já procuravam maneiras diferentes de se expressar. Nos anos 1980, o Brasil ainda vivia o regime militar, e as artes plásticas ainda ficavam restritas às galerias e aos salões (com raras exceções, como Hélio Oiticica, mas que se confirmavam como exceções). Então, na calada da noite, as grandes cidades (Rio e São Paulo foram as mais visadas pela imprensa na hora de noticiar o fenômeno, mas aconteceu também em Belo Horizonte e em Salvador) começaram a ser “redecoradas” com pinturas em spray e estêncil. Figuras enigmáticas – como um gigantesco sapato de salto alto, um frango assado ou lábios vermelhos e molhados prontos para um beijo – começaram a despontar nos muros. Conforme explica Celso Gitahy em seu livro O Que é Graffiti, os grafites urbanos existem desde a Antigüidade, na forma de murais no Egito e em Roma – e, enquanto na terra dos Faraós os murais eram feitos exclusivamente para monumentos e túmulos, em Roma ela já tinha a característica pela qual é conhecida hoje: a de intervenção no espaço urbano. A palavra­chave aqui é intervenção. Os grafiteiros e demais artistas urbanos como Christo e Jeanne­Claude (que, antes de construir os portais laranja no Central Park no começo de 2005 já tinham uma grande trajetória histórica que envolvia “embrulhar” prédios e monumentos famosos do mundo inteiro em papel celofane) têm em comum o diálogo com a cidade de forma interativa, interferindo na paisagem a fim de provocar diferentes sensações nos passantes. Mas, atenção: é preciso não confundir grafite com pichação. As pichações – embora nem sempre possam ser consideradas atos de vandalismo, mas demarcações “tribais” de território – não constituem forma de expressão artística. Aqui, como na arte de modo geral, a intenção conta bastante. 4 . Computer Art – arte sem espaço Até agora nos referimos, nesta arte do século XXI, a intervenções concretas, ou seja, em espaços circunscritos e delimitados, como o corpo humano ou a cidade. Mas a invenção do computador pessoal e da Web possibilitou um movimento na direção oposta: a criação de um espaço virtual, não ligado ao espaço concreto ao nosso redor; um espaço cujos limites são definidos por variáveis matemáticas e características como largura de banda e capacidade de armazenamento de servidores (a qual independe do tamanho físico dos computadores). Por tudo isso, a computer art e a net art surgiram (e vêm se destacando cada vez mais) para explorar as novas possibilidades oferecidas por esse novo meio de comunicação. Desde os primeiros tempos da poesia visual ainda nos 1960, escritas por Erthos de Almeida (utilizando­se de programação para “esculpir” imagens com zeros e uns) até a net art e wap art (para celulares) de Giselle Beiguelman, a arte digital andou a largos passos. A arte feita no computador (e para o computador) pode ser dividida basicamente em dois tipos: a arte por procedimento e a arte por resultado. O primeiro caso abrange artistas­programadores, e dá mais ênfase ao código, ou seja, à programação. O nome mais importante dessa corrente no momento é o americano John Maeda. Em livros como M aed a@M ed ia e Creative Cod e, Maeda mostra vários de seus trabalhos nos últimos sete anos (desde 1998, embora sua carreira tenha começado nos anos 1980) e a influência de designers pré­computador, como Paul Rand, criador dos logotipos da IBM e da emissora norte­americana de televisão ABC. Maeda deixa bastante clara sua preferência por números (aliás, título de seu primeiro livro, Des ig n b y N um b ers ) e a importância da
programação no resultado final do trabalho. Para Maeda, algoritmos podem ser arte – a imagem resultante é conseqüência. Já artistas como a brasileira Gis elle Beig uelm an ( Veja no Glos s ário ) e o americano Mark Amerika têm uma visão diferente. Para eles, mais importante (e mais interessante) é discutir a plasticidade e a volatilidade da imagem. Imagem essa, diga­se de passagem, que pode ser copiada ad infinitum, ou seja, infinitamente: prova de que o texto clássico de Walter Benjamin, A Ob ra d e A rte na Era d e s ua R ep rod utib ilid ad e Técnica, ainda é atual, ou talvez seja mais atual do que em 1936, quando foi escrito. O ponto de interrogação no subtítulo acima não é um erro de digitação: afinal, como chegar a qualquer tipo de conclusão em se tratando de arte contemporânea? Não há como. Arte contemporânea significa quebrar regras; como dizia aquela antiga série de TV, “ir audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve”. Homem, mulher ou transgênero: afinal, as distinções de gênero também estão caindo por terra nestes tempos modernos. Tempos nos quais vivemos, e nos quais fazemos nossa arte. Esperamos que tenham gostado deste curso breve, porém intenso. Foi um prazer contar com vocês nesta caminhada pelos territórios da arte moderna e contemporânea. 4 .1 Glossário Gis elle Beig uelm an Para Giselle, a imagem digital ainda oferece uma outra característica que uma obra de arte convencional jamais poderá apresentar: a capacidade de trabalho colaborativo. Em seu recente projeto Egoscópio (2003), Giselle disponibilizou um site onde qualquer pessoa poderia entrar e digitar uma mensagem. Essa mensagem seria codificada em fonte Dingbats (fonte de símbolos, que torna a leitura convencional impossível) e exibida em três telões pela cidade de São Paulo. Mais do que o grafite, a arte digital permite que os próprios espectadores se tornem parte do espetáculo. 5 . Bibliografia ARCHER, Michael. A rte Contem p orânea – U m a H is tória Concis a. São Paulo: Martins Fontes, 2001. BEIGUELMAN, Giselle. O Livro Dep ois d o Livro. São Paulo: Peirópolis, 2003. GITAHY, Celso. O q ue é Graffiti. São Paulo: Brasiliense, 1999. JACKSON, Shelley. Sk in : A M ortal W ork of A rt. Disponível em http:/ / inerad icab les tain.com / s k in.htm l. Visitado em 13 de março de 2005.
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