Haikai1 É uma pequena poesia com métrica e molde orientais

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Haikai
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É uma pequena poesia com métrica e molde orientais, surgida no século XVI, muito difundida
no Japão e vem se espalhando por todo o mundo durante este século. Possui uma longa história que
retoma a filosofia espiritualista e o simbolismo Taoísta dos místicos orientais e mestres Zen-budistas
que expressam muito de seus pensamentos na forma de mitos, símbolos, paradoxos e imagens
poéticas. Isto se deve à tentativa de transcender a limitação imposta pela linguagem usual e
pensamento linear e científico que trata a natureza e o próprio ser humano como máquina.
No Haikai, é necessário ter introspecção e análise mais profunda fazendo-se perceber e
descobrir curiosos e belos fatos naturais que de outra forma passariam despercebidos. O objetivo é
capturar a essência do local numa poesia contemplativa e descritiva com grande valorização nos
contrastes, na transformação e dinâmica, na cor, nas estações do ano, na união com a natureza, no
que é momentâneo versus o que é eterno (ruptura do contínuo) e no elemento de surpresa.
É uma forma extremamente concisa de poesia que "gira" em torno de uma série bem definida de
regras, mas nem sempre obedece a sua forma original, podendo ser adaptada para diversas
circunstâncias. Assim, existem poemas baseados em apenas algumas das características do Haikai:
Poesia de três linhas e 17 sílabas normalmente distribuídas na forma 5, 7 e 5 sílabas
respectivamente em cada linha.
Assim, como o "click" de uma máquina fotográfica, deve registrar ou indicar um momento,
sensação, impressão ou drama de um fato específico da natureza. É aproximadamente a
imagem de um "flash" ou resultado de um "insight" (=visualização/iluminação), cercado de
pureza, simplicidade e sinceridade.
Não costuma haver posicionamento do poeta, pois é preferencialmente uma descrição do
presente evitando comparações ou conceitos do tipo "isso é belo (ou feio), etc", evitando o
aparecimento das fraquezas do ser humano perante a natureza.
Mais que inspiração, é preciso meditação, esforço e principalmente percepção para a
composição de um verdadeiro Haikai.
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Retirado de: http://www.insite.com.br/rodrigo/poet/haikai.html
No despenhadeiro
Dia de Finados
a sombra da pedra
Formigas carregam
cai primeiro.
Pétalas que caem.
(Carlos Seabra)
(Jorge Lescano)
Outro outono
Início de outono --
no chão entre as folhas
no caminho vão sumindo
sonhos do verão.
as vozes dos amigos.
(Ricardo Silvestrin)
(Jorge Lescano)
Primeira folha de outono
Vento de inverno:
no chão começa
o gato de olho vazado
o meio do ano.
procura seu dono.
(Alice Ruiz)
(Edson Kenji Iura)
Fim do dia
Pintou estrelas no muro
porta aberta
e teve o céu ao
o sapo espia.
alcance das mãos.
(Alice Ruiz)
(Helena Kolody)
Pétalas de rosa
O ipê distraído
a contar-lhe uma história --
pinta de amarelo
sonho de mulher.
a grama do parque.
(Chris Herrmann)
(Jorge Fernando dos Santos)
Ah, mosca de inverno
Sob o sol se pondo
- questão de dia ou de hora
como alfinete no lago
seu último instante?
descansa a garça.
(Masuda Goga)
(Marcelo Santos Silverio)
Florada de ipês!
Meu pai também se alegrava
Em tarde como esta...
(Teruko Oda)
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