Jorge de Lima Introdução Jorge Mateus de Lima nasceu em 23 de abril de 1895, em União dos Palmares, Alagoas. Estreou na literatura em 1914, ainda fortemente influenciado pelo Parnasianismo, com XlV alexandrinos, o que lhe valeu mais tarde o título de Príncipe dos Poetas Alagoanos. Em 1926, já formado em Medicina, ingressou na vida política, elegendo-se deputado estadual pelo Partido Republicano; em 1930, por motivos políticos, foi obrigado a abandonar Alagoas, indo viver no Rio de Janeiro. Em 1946, com a redemocratização do país, elegeu-se vereador do Rio de Janeiro pela UDN. Faleceu em 15 de novembro de 1953. A exemplo de Murilo Mendes, Jorge de Lima também trilhou caminhos curiosos na literatura brasileira: do parnasianismo de XIV alexandrinos evoluiu para a poesia social e a poesia de caráter religioso. Sua poesia social apresenta belas composições, de coloração regional, em que ele usa sua memória de menino branco, marcado pela infância repleta de imagens dos engenhos e de negros trabalhando em regime de escravidão: "A filha de Pai João tinha um peito de Turina para os filhos de Ioiô mamar: Quando o peito secou a filha de Pai João Também secou agarrada num Ferro de engomar. A pele do Pai João ficou na ponta Dos chicotes. A força de Pai João ficou no cabo Da enxada e da foice. A mulher de Pai João o branco A roubou para fazer mucamas." ("Pai João") Em certos momentos aborda uma temática mais ampla- a denúncia das desigualdades sociais -, atingindo maravilhosa expressão poética através de hábil jogo de palavras: "Mulher proletária - única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, 0 operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário:' ("Mulher proletária") A partir de Tempo e eternidade, Jorge de Lima volta-se para a "restauração da Poesia em Cristo", em trabalho conjunto com Murilo Mendes. Nessa obra observase a luta entre o material e o espiritual, temática que também aparece em A túnica inconsútil, em Mira coeli e em Invenção de Orfeu, poema épico em dez cantos, escrito à moda de Camões e Dante.