tratamento orto-cirúrgico de classe iii relato de caso clínico ortho

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TRATAMENTO ORTO-CIRÚRGICO DE CLASSE III –
RELATO DE CASO CLÍNICO
TRATAMENTO ORTO-CIRÚRGICO DE CLASSE III
RELATO DE CASO CLÍNICO
ORTHO-SURGICAL CLASS III TREATMENT
CLINICAL CASE RELATE
Hugo COSTA E COSTA *
Antonio José Duarte FERREIRA JUNIOR **
Silvan CORREA ***
Clóvis MARZOLA ****
________________________________________
* Aluno do Curso de graduação em Odontologia da Universidade CEUMA (São Luís-MA).
** Professor de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) e do Instituto Florence de Ensino (São Luís-MA). Especialista, Mestre em Cirurgia
e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais. Especialista em Ciências Básicas e da Saúde.
Doutor em Implantodontia. Membro titular da Academia Tiradentes de Odontologia.
Membro dos Serviços de Cirurgia e Traumatologia dos Hospitais São Domingos, UDI e
Centro Médico Maranhense (São Luís-MA). Mérito Odontológico Clóvis Marzola da Câmara
Brasileira de Cultura
*** Professor de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais da Universidade Uniceuma (São LuísMA) e do Instituto Florence de Ensino (São Luís-MA). Especialista e Mestre em
Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais. Doutorando em Cirurgia. Membro titular da Academia
Tiradentes de Odontologia. Membro dos Serviços de Cirurgia e Traumatologia dos
Hospitais São Domingos, UDI e Centro Médico Maranhense (São Luís-MA). Mérito
Odontológico Clóvis Marzola da Câmara Brasileira de Cultura
**** Professor Titular de Cirurgia Aposentado da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP.
Professor do Curso de Especialização da APCD Regional de Bauru. Membro Efetivo da
Associação Hospitalar de Bauru – Hospital de Base. Membro Titular Fundador do Colégio
Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco maxilo facial. Presidente da Academia
Tiradentes de Odontologia. Diretor e Editor da Revista de Odontologia da ATO. Membro
Titular da Academia Brasileira de Odontologia. Membro Titular da Câmara Brasileira de
Cultura. Mérito Odontológico Clóvis Marzola da Câmara Brasileira de Cultura.
COSTA E COSTA, H.; FERREIRA JÚNIOR, A. J. D.; CORREA, S.; MARZOLA, C. Tratamento orto-cirúrgico de classe III –
Relato de caso clínico. Rev. Odont. (ATO), Bauru, SP., v. 16, n. 8, p. 897-908, ago., 2016.
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TRATAMENTO ORTO-CIRÚRGICO DE CLASSE III –
RELATO DE CASO CLÍNICO
RESUMO
A maloclusão de Classe III é relatada como uma desarmonia
esquelética facial quando há um hiperdesenvolvimento das maxilas, fazendo com
que haja aparência que a mandíbula se faz projetada anteriormente. Quando bem
indicado, o tratamento orto cirúrgico torna-se abordagem ideal para o tratamento
desta discrepância em adultos. Neste trabalho aborda-se relato de caso clínico,
visando demostrar que as modificações esqueléticas neste tratamento buscam
harmonia dos maxilares e, posteriormente dentária, em uma relação oclusal estável,
seguido de uma linha média adequada e, por conseguinte demonstrar que as
alterações faciais visam melhorar a estética, no perfil, no sorriso, vedamento labial
passivo e relação do lábio inferior com superior adequado. Posteriormente
comprovar que nas alterações esqueléticas, pode-se obter equilíbrio entre as bases
ósseas e uma melhor relação dos três terços da face.
SUMMARY
The Class III malocclusion is reported as a facial skeletal disharmony in
which there is an underdevelopment of the maxilla, so that there is the appearance
that makes the mandible is projected above. When properly indicated, the ortho
surgical treatment becomes the ideal approach for treating this discrepancy in adult
patients. In this work we aim to address a case report, which aims to demonstrate
that skeletal changes that treatment seeking harmony jaws, and later tooth in a
stable occlusal relationship, followed by an average appropriate line therefore
demonstrate that facial changes aim to improve the aesthetics, in profile, smiling, lip
seal liabilities and lower lip relationship with appropriate university. Later comprises
that the skeletal changes, you can achieve a balance between bone bases and a
better ratio of two-thirds of the face.
Unitermos – Cirurgia ortognática; Classe III; Discrepância esquelética.
Uniterms - Orthognathic surgery; Class III; Skeletal discrepancy.
INTRODUÇÃO
O tratamento orto cirúrgico contribuiu para tornar mais viável a
reabilitação dos pacientes portadores das deformidades dento-esqueléticas, onde a
ortodontia convencional não conseguiu produzir resultados funcionais e estéticos
desejáveis. Ao alterar-se a posição dos maxilares, o tamanho e a forma dos tecidos
moles circunjacentes externamente e internamente são afetados diretamente,
incluindo a via aérea faríngea (HONG; PARK; KIM et al., 2011 e BALAKRISHNA;
REDDY; KASHYAP et al., 2014).
As deformidades dento faciais associadas às alterações de bases
ósseas podem levar a um binômio funcional e estético, podendo levar a diversas
anormalidades, como a mal oclusão, respiração bucal, apneia obstrutiva do sono,
além da desarmonia facial em norma frontal e de perfil, sendo assim, um desafio ao
Ortodontista (ZHOU; HAGG; RABIE, 2001; MARZOLA, 2008; LIMA; FARRET;
ARAÚJO, 2009 e SILVA; SOUZA, 2009).
Em pacientes adultos, portadores de Classe III, onde se observa
discrepância entre as bases ósseas, principalmente em casos que a estética facial
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RELATO DE CASO CLÍNICO
está bem comprometida, consistindo na queixa principal.
Esta maloclusão
apresenta uma etiologia bastante complexa. Os fatores determinantes são diversos,
mas apresentam-se intimamente associados entre si. O principal fator etiológico em
que a literatura reporta seria a estimulação pela matriz óssea. Deve-se lançar mão
do tratamento ortodôntico combinado à cirurgia ortognática, propiciando tanto no
aspecto funcional, para obtenção da oclusão normal e, aos aspectos psicossociais
alusivos à deficiência (ANDREWS, 1972; ZHOU; HAGG; RABIE, 2001; SHELL;
WOODS, 2003; NICODEMO; PEREIRA; FERREIRA, 2007; MARZOLA, 2008;
LIMA; FARRET; ARAÚJO, 2009; SILVA; SOUZA, 2009; HONG; PARK; KIM et al.,
2011; ALVES, 2014 e BALAKRISHNA; REDDY; KASHYAP et al., 2014).
Esta correlação entre a classe III e a respiração bucal, já descrita, é
esclarecida durante a fase de crescimento, podendo acentuar o padrão de
crescimento predeterminado, uma vez que as maxilas sofrem atresia pela posição
mais inferior da língua, deixando de exercer a pressão basilar para o avanço maxilar
normal (ANDREWS, 1972 e MARTINS; BASTOS; THOMAZ et al., 2014).
A cirurgia ortognática, tem sua indicação mais precisa quando o
paciente apresenta alterações em bases ósseas, sendo tal situação levado grande
dificuldade quando se realiza ortodontia clínica convencional. Dentre as demais
alterações pode-se efetuar nos pacientes Classe I, Classe II e Classe III, tratamento
de assimetria, o retrognatismo, prognatismo, com o objetivo de corrigir sua estética e
função como mastigação, fonética e respiração (MARZOLA, 2008;
JEDRZDRZEJEWSKI; SMEKTAŁA; SPORNIAK-TUTAK et al., 2015 e MAGROFILHO; GOIATO; OLIVEIRA et al., 2015).
Ao se tratar pacientes com deformidade maxilo facial necessita-se de
uma equipe multidisciplinar, coordenada por um Cirurgião Buco-Maxilo-Facial e um
Ortodontista, para que os resultados a serem obtidos sejam previsíveis dentro do
que foi planejado. Sendo assim, durante a elaboração do plano de tratamento
destes pacientes, deve-se ter o entendimento de que a cirurgia perfaz ao invés de
proscrever a necessidade da terapia ortodôntica (LAUREANO FILHO; CARVALHO;
GOMES et al., 2002).
Em vista do que foi descrito acima, objetiva-se desenvolver e relatar
caso clínico orto-cirúrgico de um paciente com deformidade esquelética Classe III de
Angle, visando a reabilitação funcional do aparelho estomatognático e perfil facial
mais aceitável ao indivíduo.
REVISTA DA LITERATURA
A literatura cita Willian Bell como sendo o grande precursor das
cirurgias combinadas tendo relatado fundamentos clínicos, biológicos, estéticos e
biomecânicos que podiam alcançar objetivos difíceis de serem atingidos com
cirurgias de um só arco como a adequada função dos maxilares, a ótima estética
facial, além da estabilidade em longo prazo (MOGUEL; DIAZ; ARAUJO, 2002).
A estética facial é importante fator motivacional para a procura do
tratamento ortodôntico. Uma face dentro dos padrões estéticos proporciona bemestar psicológico e social2. Entretanto, o diagnóstico não se esgota na avaliação da
face. É necessário se entender como a oclusão se estabelece dentro de cada
Padrão para que um planejamento adequado seja realizado. Deve ser meta
terapêutica a associação entre face agradável e oclusão funcional (JOHNSTON;
HUNT; BURDEN et al., 2010).
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RELATO DE CASO CLÍNICO
Não existe uma regra milimétrica para definirmos o que é uma face
longa. Para isto devemos levar em consideração alguns fatores, como: proporções
entre os terços faciais, altura facial anteroinferior, presença de mordida aberta
esquelética, comprimento do lábio superior e inferior, tamanho da coroa clínica dos
incisivos centrais superiores e, principalmente, a relação lábio superior e incisivos
superiores no repouso e no sorriso espontâneo (SILVA FILHO; QUEIROZ;
HERKRATH et al., 2008 e ARNETT; MCLAUGHLIN, 2004). Em geral, uma
exposição dos incisivos centrais superiores de 2 a 5 mm no repouso do lábio
superior e, de 2 a 4 mm de gengiva inserida no sorriso espontâneo são
consideradas normais, contudo devemos ser capazes de identificar, por meio do
exame clínico e análise facial, se a quantidade de gengiva que o paciente mostra é
harmônica ou não para a sua face em particular e, juntamente com o paciente,
decidir ou não pelo tratamento ortodôntico-cirúrgico (CHEUNG; YIP; CHOW, 2008).
RELATO DE CASO CLÍNICO CIRÚRGICO
Paciente R. C. P., 27 anos de idade, melanoderma, natural de São
Luís-MA, procurou o serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial em
junho de 2014 com queixas estéticas e funcionais uma vez que possuía a mandíbula
grande e não conseguia realizar a mastigação normal pois seus dentes não
conseguiam ocluir uns com os outros. Na análise facial do paciente em perfil foi
observado que o paciente apresentava uma desproporção dos terços faciais,
caracterizada pelos seguintes pontos: o terço inferior mostrava-se maior que o terço
médio em altura; deficiência na região zigomática, onde a linha pupilar se
encontrava bem a frente do rebordo infraorbitário; ângulo naso-labial agudo;
deficiência na região paranasal; alteração da relação anteroposterior do lábio
superior, lábio inferior e pogônio mole, onde o lábio inferior se encontrava a frente do
superior; pogônio mole a frente do lábio superior; encurtamento do comprimento do
lábio superior; ângulo mentolabial obtuso; linha mento-pescoço bastante aumentada;
ângulo de convexidade facial obtuso; mento mole bastante projetado no sentido
anteroposterior (Figs. 1).
Figs. 1 – Aspecto frontal e perfil da face.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
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RELATO DE CASO CLÍNICO
Na relação inter-arcos foi observada, segundo a classificação de Angle
uma má oclusão classe III de canino direito bastante acentuada (+/- 3 mm) e o que
seria uma classe I tendendo a classe III nos caninos esquerdos (Fig. 2).
Fig. 2 – Visão intrabucal.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
A análise cefalométrica de perfil mostra a maxila retro posicionada, o
comprimento efetivo da mandíbula além do padrão de normalidade e a inclinação do
plano oclusal satisfatória (Figs. 3 e 4).
Fig. 3 – Tele radiografia perfil.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
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RELATO DE CASO CLÍNICO
Fig. 4 – Traçado cefalométrico.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
Baseado nos dados de diagnóstico foi proposto uma cirurgia
combinada de maxila e mandíbula, na qual foi feito um avanço da maxila e recuo da
mandíbula visando obter um melhor resultado estético e de estabilidade de
movimento.
O avanço da maxila foi realizado através de uma osteotomia Le Fort I.
Foi confeccionado um retalho mucoperiosteal de espessura total através de uma
incisão horizontal retilínea que se entendia da região de fundo de vestíbulo da região
de mesial de primeiro molar superior a mesial de primeiro molar superior
contralateral. Ao se descolar o retalho foi abordado à região de parede anterior do
seio maxilar, abertura piriforme, septo ósseo nasal e assoalho de fossa nasal.
Através de um descolamento por tunelização no sentido anteroposterior a região de
processo pterigoideo do osso esfenoide foi abordada. A linha de osteotomia na
região da parede anterior do seio maxilar teve extensão da abertura piriforme até a
região de tuberosidade maxilar tendo um sentido anteroposterior e descendente e
sendo realizada com uma broca (nº 702) montada em peça de mão cirúrgica.
A osteotomia do septo ósseo nasal foi realizada com um cinzel para
septo ósseo com guarda em toda a extensão do mesmo no sentido anteroposterior.
A parede lateral da cavidade nasal foi osteotomizada com um cinzel reto em toda a
sua extensão no sentido anteroposterior. Em seguida foi realizada a disjunção do
processo pterigoideo do osso esfenoide do seu contato com a tuberosidade da
maxila e do osso palatino, com um cinzel curvo (tipo Obwegeser). Como próximo
passo foi realizado o downfracture da maxila com o auxilio de um fórceps de Rowe
até a sua completa movimentação. Toda a interferência óssea entre a maxila
abaixada e o seu remanescente ósseo (parte que se relaciona com o osso
zigomático) foram removidos. A goteira intermediária foi adaptada à mandíbula e
depois a maxila abaixada. O conjunto maxila-mandíbula foi levado a posição que
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RELATO DE CASO CLÍNICO
fora proposta pela cirurgia de modelo e traçado predictivo. A maxila foi fixada
através de fixação interna estável (F.I.E.) com 4 placas, 2 sendo em “L” e 2 do tipo
Le Fort, 16 parafusos de titânio do sistema 2.0 mm (MDT Biotechnology) na região
de pilar zigomático e abertura em ambos os lados. Em seguida após se confirmar à
estabilidade da fixação foi realizado a plicatura da base alar e sutura do septo
cartilaginoso.
O procedimento de sutura do retalho muco-periosteal foi
confeccionado usando a técnica V-Y com fio vicryl 4-0 (plástico ou cuticular) (Fig. 5).
Fig. 5 – Osteotomia da Maxila + FIE.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
O recuo mandibular foi realizado através osteotomia sagital da
mandíbula bilateral. Foi confeccionado retalho mucoperiostal de espessura total
através de incisão vertical retilínea seguindo a linha oblíqua externa no sentido
craniocaudal. Ao se descolar o retalho foi abordado à região da espinha mandibular,
retro molar, corpo mandibular referente ao segundo e primeiro molar inferiores. A
linha de osteotomia se estendeu na região da espinha mandibular até a região
basilar referente ao primeiro molar inferior, tendo um sentido póstero-anterior e
craniocaudal e, sendo realizada com uma broca (nº 702) montada em peça de mão
cirúrgica.
O separador de Smith foi utilizado para proporcionar máxima
movimentação entre os cotos. A goteira definitiva foi adaptada à mandíbula e levada
a maxila já fixada. O conjunto maxila-mandíbula foi então bloqueado com fio de aço
(Aciflex) nº 1. A mandíbula foi fixada através de F.I.E. com 4 placas em “I” e 12
parafusos de titânio do sistema 2.0mm (MDT - Biotechnology) utilizando-se de uma
técnica posicional (Fig. 6).
Em seguida, realizou a mentoplastia, consistindo numa incisão no
fundo de vestíbulo inferior na região mentual e, a linha de osteotomia se estendendo
até a base da mandíbula na região do forame mentual. O mento foi fixado através
de F.I.E. com 1 placa de mentoplastia com 5 parafusos de titânio do sistema 2.0mm
(MDT - Biotechnology) (Fig. 7), após se confirmar à estabilidade da fixação, foi
liberado o bloqueio maxilo-mandibular e a oclusão transoperatória fora confirmada.
O procedimento da sutura do retalho mucoperiosteal foi confeccionado usando a
técnica de pontos interrompidos simples com fio vicryl 4-0 (plástico ou cuticular).
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RELATO DE CASO CLÍNICO
Fig. 6 – Osteotomia Sagital da Mandíbula + FIE.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
Fig. 7 – Mentoplastia + FIE.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
Ao analisar o perfil no pós-operatório pode-se observar melhor
preenchimento da região paranasal, melhor relação do lábio superior/inferior e, o
pogônio mole e, por fim melhor relação do comprimento da linha mento-pescoço
(Fig. 8).
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Fig. 8 – Perfil facial no pós-operatório imediato.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
Com relação à oclusão o paciente apresentou após a cirurgia uma
relação oclusal estável, sendo indicado o retorno ao Ortodontista para finalização do
tratamento, posteriormente resultou em uma boa harmonia facial (Figs. 9 e 10).
Figs. 9 – Vista Frontal e Perfil fácil após tratamento cirúrgico.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
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Fig. 10 – Visão intrabucal após tratamento cirúrgico.
Fonte – Acervo particular do Prof. Dr. FERREIRA JR, A. J. D.
DISCUSSÃO
Antes do início do tratamento ortodôntico-cirúrgico, que se inicia com a
fase da ortodontia pré-operatória, é fundamental que haja um diálogo franco entre o
ortodontista e o cirurgião buco-maxilo-facial sobre as possibilidades terapêuticas de
cada profissional relacionadas com o paciente (CHEUNG; YIP; CHOW, 2008). Para
se obter um bom resultado estético com a cirurgia ortognática é essencial que a fase
ortodôntica pré-operatória tenha sido realizada, respeitando as limitações de cada
caso, da melhor forma possível. Operar casos em que ainda não foi possível corrigir
completamente, por algum motivo, as compensações dentárias quando existentes
e/ou, quando o alinhamento e nivelamento ortodôntico ainda não estão ideais,
poderão levar a um resultado estético facial pós-operatório aquém do que seria
possível (JEDRZDRZEJEWSKI; SMEKTAŁA; SPORNIAK-TUTAK et al., 2015 e
MAGRO-FILHO; GOIATO; OLIVEIRA et al., 2015).
Os pacientes classificados como Padrão Face Longa e Curta têm
discrepância de crescimento predominante no sentido vertical (LAUREANO FILHO;
CARVALHO; GOMES et al., 2002). São considerados Face Longa aqueles que
apresentam desproporção entre os terços faciais que tornem o selamento labial ou a
relação labial normal impossível.
Esta discrepância é marcante na face,
principalmente na visão frontal, não permitindo compensação postural.
As cirurgias ortognáticas combinadas estão indicadas para os casos de
má oclusão classe II e III, porém afirma-se que o procedimento combinado está
indicado somente quando a discrepância for maior que 10 mm (BALAKRISHNA;
REDDY; KASHYAP et al., 2014) enquanto se utiliza como padrão os valores
maiores que 12 mm (HONG; PARK; KIM et al., 2011).
No planejamento cirúrgico, foi estabelecida cirurgia somente em maxila
ou mandíbula. A mandíbula apresentava comprimento excessivo e ângulo goníaco
bastante aberto, contribuindo para o padrão facial vertical da paciente (ANDREWS,
1972; LIMA; FARRET; ARAÚJO, 2009; SILVA; SOUZA, 2009; HONG; PARK; KIM
et al., 2011; ALVES, 2014 e BALAKRISHNA; REDDY; KASHYAP et al., 2014).
COSTA E COSTA, H.; FERREIRA JÚNIOR, A. J. D.; CORREA, S.; MARZOLA, C. Tratamento orto-cirúrgico de classe III –
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RELATO DE CASO CLÍNICO
Devido a isso, portanto, estaria indicada cirurgia de recuo e rotação mandibular no
sentido anti-horário (LIMA; FARRET; ARAÚJO, 2009 e SILVA; SOUZA, 2009).
Mas a análise facial ressaltava grave deficiência anteroposterior do terço médio da
face com depressão na região infra orbital, pouca largura da base nasal e, também,
projeção labial superior, salientando a proeminência do nariz (HONG; PARK; KIM et
al., 2011).
Existe uma discordância entre os autores (MAGRO-FILHO; GOIATO;
OLIVEIRA et al., 2015 e JEDRZDRZEJEWSKI; SMEKTAŁA; SPORNIAK-TUTAK
et al., 2015) com relação a quantidade de casos de pacientes que necessitam de
cirurgia ortognática combinada, sendo o segundo defensor da opinião de que são
poucas as pessoas que se enquadram no perfil de pacientes a serem submetidos a
estes tipos de procedimento (JEDRZDRZEJEWSKI; SMEKTAŁA; SPORNIAKTUTAK et al., 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas informações obtidas da literatura e da situação clínica
exposta pode-se concluir que nos casos de deformidade esquelética Classe III a
cirurgia ortognática combinada deve ser indicada, uma vez que cirurgias de
segmentos isolados não obtêm os padrões funcionais-estéticos adequados, assim
como a estabilidade do procedimento como um todo.
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* De acordo com as normas da ABNT e, modificadas pela Revista de Odontologia da ATO.
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Relato de caso clínico. Rev. Odont. (ATO), Bauru, SP., v. 16, n. 8, p. 897-908, ago., 2016.
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