A MODA COMO FORMA DE EXPRESSÃO: UMA ABORDAGEM

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Nº 1, volume 1, artigo nº 31, Outubro 2016
ISSN: 2526-2777
A MODA COMO FORMA DE EXPRESSÃO: UMA
ABORDAGEM SOBRE OS ELEMENTOS LINGUÍSTICOS
PRESENTES NAS PEÇAS DOS VESTUÁRIOS DOS
INDIVÍDUOS OU GRUPOS SOCIAIS
Luana Espírito Santo Barbosa¹
Geucineia de Souza Pencinato²
Janete Araci do Espírito Santo³
Bianka Pires André4
¹UNIFLU- Centro Universitário Fluminense,[email protected]
²UENF-Universidade Estadual do Norte Fluminense Darci Ribeiro, [email protected]
³UENF-Universidade Estadual do Norte Fluminense Darci Ribeiro, [email protected]
4
UENF-Universidade Estadual do Norte Fluminense Darci Ribeiro, [email protected]
Resumo: Este trabalho propõe uma reflexão acerca do uso da vestimenta como
ferramenta de comunicação, a partir da análise semiótica das tendências da moda e
a expressão dos elementos presentes nas peças dos vestuários dos indivíduos ou
grupos sociais. Pretende-se, ainda, fazer uma abordagem sobre os elementos da
linguística, que são considerados signos com valores simbólicos e ideológicos.
Considerando que signo é tudo aquilo que está no lugar de alguma coisa,
representando-a, entende-se que a vestimenta é composta de signos não verbais
que expressam atos de comunicação, utilizando uma linguagem não verbal que
transmite uma mensagem possível de ser apreendida, através da interpretação dos
elementos presentes. É evidente que os indivíduos expressam suas ideologias a
partir da sua indumentária, e como a moda é linguagem, todos reconhecem e se
identificam com seus semelhantes, assim como todos os que não o são, também. O
vestuário pode ser compreendido como uma junção entre arte e técnica, que
constitui um conjunto de peças utilizado pelo indivíduo no ato de vestir. Tais peças
vão surgindo a cada estação, passando por um processo de mutação, que
comunicam através de signos e novos significados em uma linguagem visual.
Nesse contexto, pode-se perceber que o vestuário é uma ferramenta utilizada pelos
seus usuários como forma de manifestação, o que só é possível, porque a moda é
uma forma de linguagem.
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Palavras-chave: Moda, Comunicação, Signos, Linguagem não-verbal.
Introdução
A moda, como meio de comunicação e como instrumento de construção de uma
identidade, serve tanto ao indivíduo quanto a um grupo social. De acordo com
Barnard (2003), a indumentária é um dos fatores que tornam as sociedades
possíveis, visto que ela ajuda a comunicar a posição dos indivíduos. Por exemplo:
reconhece-se imediatamente um mendigo, um juiz, um varredor de rua ou um militar
por suas roupas, e todos sabem como se comportar diante de cada um deles.
Dessa forma, a moda só pode ser compreendida dentro de um contexto
cultural, como relata Joffily (1991), “o movimento de atualização, no caso em estudo
da roupa, ao qual chamamos de moda, é consequência de questões culturais,
condicionadas pela época, pelo pensamento vivo da sociedade, por seus mitos e
sua produção intelectual”, o que leva diversos escritores a utilizarem diferentes
áreas do conhecimento humano – sociologia, psicologia, semiótica – para tratar o
fenômeno moda de uma forma inovadora e séria.
Dentro desse movimento das identidades relacionais e posição social, o
vestuário pode ser entendido como indumentária, pois esse é o termo utilizado para
se referir ao conjunto de artefatos utilizado pelo homem para cobrir seu corpo
(NOROGRANDO, 2011). E, por meio deles encontram-se elementos que fazem a
mediação de tais relações e localizam os indivíduos no tempo e no espaço, também
dentro de um dos movimentos da moda.
Revisão da literatura
Ferdinand de Saussure, o fundador da linguística moderna, trouxe novos caminhos
para a linguística, graças ao seu estudo sobre a língua e a fala.
Para o autor, “língua é um sistema de signos convencionais usados pelos
membros de uma mesma comunidade”, ou seja, língua é um conjunto organizado de
elementos representativos convencionalizados e utilizados por um grupo social.
Assim, entende-se que “língua + fala” resulta na linguagem.
Saussurre (1996) aborda outro aspecto da linguística que é o signo, o
resultado de significante mais significado.
Ele define significado como o valor,
sentido ou conteúdo semântico de um signo linguístico, e significante como imagem
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acústica ou manifestação fônica do signo. Assim, toda palavra que possui um
sentido é considerada um signo linguístico.
O signo “moda”, portanto, relaciona-se com dois dados de nossa memória:
uma imagem acústica, correspondente à lembrança de uma sequência de sons ao
exprimir a palavra que é o significante, e um conceito, um dado do conhecimento
humano sobre aquele universo, o significado.
O significado dos signos linguísticos é um conjunto complexo de informações
acumuladas ao longo da história das comunidades humanas. Isso quer dizer que
utilizar uma determinada palavra da nossa língua é, na verdade, fazer ecoar por
meio dela todo um processo histórico de formação de conceitos sobre a vida e sobre
o mundo (Patrícia Bilotti, 2013)1.
Dessa forma, o significado do signo moda, por exemplo, vai muito além do
conceito de “costume”. A palavra moda significa costume e provém do latim modus.
É composta de diversos estilos que podem ter sido influenciados sob vários
aspectos. Acompanha o vestuário e o tempo, que se integra ao simples uso das
roupas no dia-a-dia. É uma forma passageira e facilmente mutável de se comportar
e, sobretudo, de se vestir ou pentear.
Há muitos valores simbólicos e ideológicos que se podem associar a esse
signo (a moda é abordada como um fenômeno sociocultural que expressa os valores
da sociedade - usos, hábitos e costumes - em um determinado momento). Agregase a este signo “moda”, o estilismo e o design como elementos integrantes do
conceito moda, cada qual com os seus papéis bem definidos; há também valores
que só se conseguem definir na efetiva interlocução (imagine todo o conjunto de
sentidos que a palavra moda assume numa conversa no mundo esplendoroso e
único das celebridades. Vestidos deslumbrantes, costureiros famosos, tecidos e
aviamentos de ultima geração).
Remetendo às imagens vinculadas ao signo moda, descobrem-se o poder de
persuasão dos elementos significativos presentes neste signo, implicando na
necessidade de significar e no seu poder de transmitir as mensagens comunicativas
numa linguagem visual.
Entre os termos empregados para denominar tais objetos utilizados pelo
homem para se cobrir, os autores apropriam-se de termos que melhor lhes convêm.
1
http://uegsemiotica.blogspot.com.br/
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Para Barthes (2005, p.273),
(...) a relação entre traje e indumentária é uma relação semântica: a
significação do vestuário cresce à medida que se passa do traje à
indumentária; o traje é debilmente significativo, exprime mais do que
notifica; a indumentária ao contrário, é fortemente significante, constitui uma
relação intelectual, notificadora entre o usuário e seu grupo.
Barthes (2005, p.259) considera o vestuário um objeto ao mesmo tempo
histórico e sociológico. Partindo deste princípio, o vestuário é implicitamente
concebido como o significante particular de um significado geral que lhe é exterior,
como a época, o país ou a classe social. Sendo assim, é impossível separar a
história da moda da evolução da humanidade, pois a indumentária foi e sempre será
influenciada por valores da sociedade na qual ela está inserida.
Moda pode, também, ser considerada como modo de expressão simbólica
(BLUMER, 1969), reflexo da identidade social, socialização, cultura, status, idade,
ocupação ou papel social, personalidade, humor, e possivelmente, o estilo de
comunicação (GORDEN et al., 1985). As pessoas, mesmo não seguindo a moda,
estão comunicando algo de si, como uma característica da idade, ou por possuir
opiniões e crenças envelhecidas ou ainda de não aceitar padrões estabelecidos.
Os grupos sociais e suas manifestações
Dentre as várias manifestações da moda, podem-se perceber aquelas presentes nas
vestimentas dos indivíduos pertencentes às Tribos Urbanas. Estes grupos são
formados nas cidades, mais comumente nas metrópoles, os quais compartilham
hábitos, valores culturais, estilos musicais e/ou ideologias políticas semelhantes, e
são chamados pelos sociólogos de subculturas ou subsociedades. O sociólogo
Frances Michel Maffesoli (1988) criou para estes grupos, a expressão “tribo urbana”.
Estes bandos surgem com a necessidade dos jovens de se agruparem,
pertencerem a um grupo e criarem uma identidade. Caracterizando um fenômeno
juvenil dos grandes centros, cada grupo possui uma estrutura interna própria,
desenvolvendo
sua
“subcultura
social
urbana”
desde
hábitos,
condutas,
pensamentos, filosofia, vocabulário, preferências musicais, políticas, religiosas,
maneira de se vestir, dentre outros.
Muitas tribos urbanas surgiram dos movimentos de contracultura, por
exemplo, os hippies e os punks. Cada vez mais o número de tribos urbanas se
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multiplica nos grandes centros urbanos, enfatizando, com isso, a diversidade cultural
existente, desde os gostos musicais, preferências artísticas, políticas, da moda, de
forma que tais grupos compõem um modelo de sociedade distinta, donde, na
maioria dos casos, contrapondo-se à política e economia vigentes.
Entre as diversas categorias de tribos urbanas estão os hippies, os punks,
skatistas, punks, góticos, emos, skinheads, surfistas, grafiteiros, pagodeiros,
sertanejos, funkeiros, rappers, grunges, yuppies, playboys, patricinhas, mauricinhos,
metaleiros, rastafari, clubbers, plocs, dorks, cosplayers, andrógenos, playssons,
nerds e Drag Queens.
Entende-se com essa difusão que o estilo tem significados simbólicos como
diferenciação de classes e prestígio. De acordo com Lurie (1997), a comunicação
destes significados se dá, além da linguagem verbal, através da linguagem visual,
ou seja, através de uma linguagem não verbal.
Considerações finais
Pensar a comunicação nas relações sociais e na relação com a moda faz refletir
sobre questões históricas e estéticas, sobre desenvolvimento criativo e também
sobre suas significações com diferentes abrangências, no âmbito pessoal, social e
aos valores globalizados.
A relevância deste trabalho está em auxiliar no entendimento do fenômeno do
consumo de vestuário de moda e mostrar a sua importância para o jovem
contemporâneo como forma de expressão e interação social e desta forma auxiliar a
comunicação com este público.
O Design de Moda tem sido um assunto de grandes experimentações nos
últimos anos, tendo também grandes inovações. Porém, ainda há uma carência de
estudos e publicações que exploram a questão do vestuário como forma de
comunicação de uma forma considerável.
De acordo com Castilho e Garcia, “existem ainda poucas publicações que
considerem a questão do vestuário – que nos falam de moda ou de tantos outros
assuntos relacionados a ela – particularmente no Brasil e em outros países de língua
portuguesa. Para quem estuda o tema, essa carência representa uma grande
lacuna”. (2001, p.5).
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Ainda dentro dessa perspectiva, pode-se entender Bardin, quando afirma que
provar que os objetos da nossa vida cotidiana funcionam como linguagem; e que o
vestuário é um conjunto de textos projetados e articulados relacionando elementos
característicos do contemporâneo e interesse de mercado “é uma das análises de
conteúdo possíveis” (1977, p.47).
Grandes contribuições são trazidas à sociedade com a evolução da semiótica
e suas análises relacionadas às atividades humanas. Nos estudos mais atuais, sob
o enfoque da sociossemiótica, o signo “passa a ser estudado segundo as diferentes
escolhas dos sujeitos que se servem dele para criar sentidos, tanto para produzir
artefatos
e
eventos
comunicativos
como
para
interpretá-los.”
(LUCAS
e
DESCARDECI, 2008, p. 3). Essa abordagem busca entender tais comportamentos,
considerando a estética diante das representações sociais, por meio dos signos e
códigos estilísticos.
A moda e suas manifestações nas vestimentas desempenham um papel
fundamental na construção da linguagem. Percebe-se, na presente pesquisa, que o
aspecto subjetivo se constitui pelas informações transmitidas a partir de imagens e
elementos presentes, através dos signos não verbais de comunicação, os quais
formam códigos estilísticos, que são símbolos da linguagem estética vigente, usados
para atrair a atenção, expressar a personalidade dos sujeitos e manifestar seus
desejos ou protestar sobre alguma situação indesejada.
Dessa forma, pode-se concluir que as linguagens que se manifestam nas
indumentárias dos indivíduos ou grupos sociais possibilitam leituras semióticas
sobre a importância da comunicação em evidência, numa sociedade em que a
liberdade de se expressar evidencia o sentimento de segurança, a reconstrução do
sentido e a definição do poder que produzem os efeitos da persuasão e da sedução.
Desta forma pode-se ver a importância de ressaltar as possibilidades que
tanto profissionais ou pesquisadores de moda quanto estudiosos da semiótica têm
de dar continuidade a um projeto significativo no âmbito acadêmico.
Referências
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