FACULDADE DE PARÁ DE MINAS – FAPAM Curso de Pedagogia Lêda Cristina Martins Barcelos AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Pará de Minas 2015 Lêda Cristina Martins Barcelos AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Monografia apresentada à Coordenação de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do curso de Pedagogia. Orientadora: Maria Aparecida Duarte Lima Pará de Minas 2015 D587t Barcelos, Lêda Cristina Martins. Avaliação da aprendizagem escolar / Lêda Cristina Martins Barcelos. – Pará de Minas, 2015. 42 fls. ; 30 cm. Orientadora: Maria Aparecida Duarte Lima. Monografia (Conclusão de curso) – Faculdade de Pará de Minas, 2015. 1. Pedagogia. Avaliação da aprendizagem. Escola. Pará de Minas 42 f. Lêda Cristina Martins Barcelos ‘ Lêda Cristina Martins Barcelos AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Monografia apresentada à Coordenação de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pedagogia. Aprovada em ____/____/____ _______________________________________________ Maria Aparecida Duarte Lima _______________________________________________ _______________________________________________ Dedico o presente trabalho aos meus amados pais e à minha família, meus primeiros incentivadores nos caminhos do saber, pelo apoio incondicional ao longo desta magnífica caminhada, muitas vezes árdua, mas sem dúvida gratificante. “Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender”. Augusto Cury RESUMO O presente trabalho tem o objetivo de discorrer sobre o tema Avaliação da Aprendizagem Escolar, através de pesquisa bibliográfica em livros de vários autores, para melhor compreender o mesmo. A avaliação da aprendizagem, apesar de ser regularmente discutida ainda se apresenta problemática em nossas escolas. Deste modo, a avaliação é um processo que deve ser avaliado, isto é, deve ser considerado o que está sendo feito em detrimento do que já foi realizado, o que se pode bem como o que não deve ser feito para melhorar a sua aplicação no meio escolar. Essa avaliação possibilita verificar com melhor eficiência o desenvolvimento da aprendizagem do aluno. Torna-se necessário ter um pouco de informação do processo histórico do planejamento e da avaliação no Brasil para que haja um desenvolvimento satisfatório deste trabalho despertando o interesse pelo assunto dentro do meio acadêmico e científico. Devem-se analisar os principais tipos de avaliação, os processos utilizados atualmente como métodos de avaliação nas escolas, assim como a prática avaliativa diante do fracasso escolar e da evasão de alunos. Por fim, menciona-se a importância do erro para a construção do conhecimento e a real importância da avaliação para a aprendizagem escolar. Palavras-chave: Avaliação. Aprendizagem. Histórico. Processos de avaliação. Prática avaliativa. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 8 2 AVALIAÇÃO: PROCESSO HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO NO BRASIL ...........11 3 PRINCIPAIS TIPOS DE AVALIAÇÃO ................................................................ 17 3.1 Diagnóstica .................................................................................................... 17 3.2 Formativa ....................................................................................................... 18 3.3 Classificatória ou somativa ............................................................................ 19 4 DISCUTINDO A AVALIAÇÃO NOS DIAS ATUAIS ............................................ 22 4.1 Instrumentos de Avaliação ........................................................................... 28 4.2Provas ............................................................................................................. 28 4.3Trabalhos em grupo ........................................................................................ 28 4.4Autoavaliação .................................................................................................. 29 4.5Debates ........................................................................................................... 29 4.6Observações ................................................................................................... 29 4.7 Prática Avaliativa, fracasso e a evasão escolar ......................................... 30 4.8 Importância do erro para a construção do conhecimento......................... 36 5 CONCLUSÃO ........................................................................................... .......... 38 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 40 8 1 INTRODUÇÃO Há muito se discute sobre a avaliação da aprendizagem nos diversos âmbitos sociais e principalmente nos meios escolares, por considerá-la um fator de extrema importância no processo de ensino. O sistema educacional no Brasil está caracterizado por apresentar baixos índices de conclusão do ensino básico, altos índices de evasão e repetência e acentuadas desigualdades sociais e educacionais em todas as regiões do nosso país. Essa baixa qualidade que se encontra presente em todo processo educacional principalmente na educação pública, encontra-se atrelada à ineficiência da administração pública, da administração escolar, ao uso insuficiente e inadequado, dos recursos financeiros e administrativos, e, sobretudo, às inadequadas estratégias avaliativas do desempenho de alunos e professores. Torna-se necessário ressaltar que novas políticas públicas para a educação, assim como novos métodos de avaliação da aprendizagem escolar, e recursos didáticos devem ser urgentemente elaboradas de maneira apropriada, a fim de que se possa reverter o quadro que se tornou permanente nas escolas de modo geral. Observa-se que para tanto, inexistem aos seus formuladores informações precisas, padronizadas e metódicas acerca do desempenho do sistema educacional no país. Na realidade, não existe uma cultura de avaliação da aprendizagem na educação brasileira e tampouco o envolvimento efetivo e afetivo da família, da sociedade, da própria escola, destacando-se, ainda, a absoluta ausência do Estado com o seu dever para com a Educação com o intuito de aperfeiçoar o sistema educacional. Na realidade, muitas escolas continuam dominadas por uma concepção pedagógica tradicional, onde se apresenta uma enorme quantidade de informação, geralmente tendo como base o programa do próprio livro didático, que não forma proposições significativas para crianças e adolescentes que apresentam sérias dificuldades para aprender a ler e calcular, pois parte do material utilizado não lhes apresenta o menor significado. O tema avaliação da aprendizagem escolar foi escolhido para essa pesquisa, em decorrência das informações adquiridas nos anos de estudos no Curso de Pedagogia na Faculdade de Pará de Minas. Estes estudos tornaram-se instigadores 9 para compreender que uma avaliação bem elaborada se torna uma ferramenta essencial para melhoria do processo de ensino e da aprendizagem dos alunos assim como dos professores, que me permitiu compreender a importância dessa prática no âmbito escolar, tendo em vista que já houve um tempo em que se acreditava que as avaliações tinham o objetivo único de aprovar ou reprovar os candidatos. Infelizmente muitos educadores ainda permanecem com esse pensamento, sem que sejam promovidas mudanças no sentido de se aperfeiçoar o diagnóstico da avaliação e de suas funções dentro da escola. O interesse em pesquisar sobre esse tema ganhou forças no primeiro semestre do ano de 2015 ao estudar a disciplina Avaliação da Aprendizagem em uma leitura sugerida pela professora para estudos e debates em sala de aula. A resultante destas análises culminou em uma nova visão do processo avaliativo e despertou o interesse pela avaliação escolar transformando-a no foco para essa pesquisa. Aprofundando um pouco mais os conhecimentos sobre avaliação, sobretudo, nas experiências de estágio supervisionado pude perceber as enormes dificuldades apresentadas pelas crianças que são submetidas a estas práticas educativas sem nenhum objetivo de aprendizagem definido. Sendo proposto que o conteúdo fosse decorado para ser reproduzido nas provas, fazendo com que os alunos conseguissem notas altas, mas sem retenção do necessário conhecimento. Foi possível observar a frustração de alguns alunos, onde os mesmos atribuíam seus fracassos a si próprios, diante da errônea interpretação de suas capacidades de aprender. Condicionados às ideias vigentes alimentavam o conceito de que o professor era o dono do saber e, ninguém mais. Em nenhum momento foi cogitada a ideia de que o professor, a escola, ou o sistema de educação pudessem ter sua parcela de culpa diante do fracasso escolar de seus alunos. Dada a importância deste tema “Avaliação da Aprendizagem Escolar”, objeto de estudo deste trabalho, essa pesquisa será estruturada em três capítulos, da seguinte forma: O primeiro capítulo será uma breve apresentação da história da educação e seus avanços até os dias atuais. No segundo capítulo, a abordagem se destina a analisar os três tipos principais de características. avaliação (formativa, diagnóstica e classificatória) e suas 10 No decorrer do capítulo, serão discutidos também os instrumentos utilizados no processo de avaliação: provas, trabalho em grupo, auto avaliação, debates dentre outros, como também a forma como os professores podem utilizar esses recursos para acompanhar o desenvolvimento dos seus alunos dentro da sala de aula. O terceiro capítulo tem como proposta evidenciar a prática avaliativa dentro da sala de aula atualmente, e, sua relação com o fracasso escolar e a evasão de alunos. Esse assunto vem sendo pesquisado por vários autores entre eles: Jussara Maria Lerch Hoffmann, Cipriano Carlos Luckesi, (complete o nome) Perrenoud, Juan Manuel Álvares Méndez, Vasco Pedro Moretto entre outros. Estudos estes que nos apontam a necessidade de uma reflexão sobre o sistema de avaliação e a forma como a mesma vem sendo utilizada para favorecer uma aprendizagem significativa. Dentre os pensamentos dos autores citados destaco a ideia de Hoffman, (1998), pois segundo ela, “em termos de aprendizagem, sucesso e fracasso parecem ser invenção da escola”. Ela considera que a individualidade do aluno é negada em razão dos parâmetros avaliativos, e que para ser mediadora, a avaliação depende do acompanhamento individual do aluno pelo professor. Em outro momento dentro do mesmo capítulo será analisada a importância do erro para a construção do conhecimento e o papel do professor avaliador como mediador desse processo. 11 2 PROCESSO HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO NO BRASIL É correto afirmar que um povo depende da sua cultura para sobreviver como nação e estes saberes são transmitidos através de gerações, seja pela fala, pela escrita, pelos mitos, pela história e também através dos usos e costumes. Já nos primórdios da existência humana, havia formas pré-determinadas de avaliar. Nos tempos primitivos a avaliação, nada mais era do que um treinamento individual e de todo o grupo por uma questão de sobrevivência já demonstrando a importância da transmissão do conhecimento e da cultura de um povo. No Brasil, as primeiras escolas foram criadas pelos Jesuítas e foram denominadas Escolas Elementares de ler e escrever destinadas aos filhos dos índios objetivando torná-los “pacíficos” para o trabalho e filhos dos colonos. Segundo a autora Maria Lúcia de Arruda Aranha (2014) “a educação podia se estender além da escola elementar de ler e escrever”, privilegiando apenas os filhos dos colonos. Com o decorrer dos tempos o Brasil somente veio apresentar um contexto histórico melhor direcionado à educação a partir do período compreendido entre 1889 a 1930, isto é, quando foi instalada a Primeira República uma vez que os produtores agrícolas, já naquele tempo, se alternavam no poder, estabelecendo-se deste modo, uma política protecionista daqueles que eram mais abastados e, como consequência obtinham o sucesso escolar e melhor desempenho em suas vidas profissionais. Na segunda metade do século XX, já sob a imposição do sistema capitalista, surge no Brasil o planejamento orientado para o desenvolvimento econômico o que veio influenciar sobremaneira também o setor educacional. A partir de então, com as inovações econômicas e sociais, o mercado de trabalho passou a exigir mão-de-obra que fosse qualificada para os trabalhos desenvolvidos pelas indústrias e pelo comércio. Foi por este motivo que o governo se viu obrigado a estender o acesso escolar à população de baixa renda o que veio interferir na função social da escola, ou seja, o governo foi obrigado a proporcionar a formação educacional e profissional do povo com a finalidade única de preencher as 12 carências de produção do capital com mão de obra um pouco mais especializada. Somente diante desta necessidade foi que o currículo e o sistema de avaliação da aprendizagem foram remodelados com o intuito de garantir uma educação escolar de acordo com as novas exigências do mercado de trabalho. Observa-se que esta oportunidade de escolarização das camadas sociais menos favorecidas somente se deu em razão dos interesses de uma sociedade capitalista, estabelecendo-se de vez a exclusão escolar no sistema educacional brasileiro, principalmente no que se refere às práticas pedagógicas que se tornaram especificamente conservadoras e elitistas e que se mantêm até a presente data. A educação nas escolas brasileiras até a década de 1930 era orientada por uma pedagogia humanística, tradicional e religiosa. Estabeleceu-se, então, uma escola tradicional, com estrutura nos preceitos determinados pelos jesuítas, mas, para somente ensinar aos filhos da elite nacional, ou seja, aos futuros políticos e administradores do país, o que equivale dizer aos proprietários da produção agrícola e industrial. Neste momento, a ideia de educação transforma-se em uma maneira de educar fundamentada em um único professor que introduzia conceitos préestabelecidos e verdades que se firmaram como absolutas e que não deviam ser contestadas. Nas escolas brasileiras a educação àquela época assumiu a pedagogia jesuítica que ficou conhecida como a “Pedagogia dos Exames”. Era assim denominada, tendo em vista o rigor com que se apresentavam os procedimentos avaliativos. Deste modo, a pedagogia adotava o processo avaliativo classificatório que era realizado “[...] como medida do conhecimento [...]”, de acordo com (FERNANDES, 2000, p. 22). Portanto, tratava-se de um sistema de notas que foi introduzido na escola com a função exclusiva de medir o conhecimento repassado pelo professor de maneira tradicional, isto é, de decoração do conteúdo e de sua memorização. Estabeleceu-se, então, que se o aluno não atingisse a média estabelecida pela escola seria punido com a reprovação, resultando numa forma disciplinadora de condutas sociais, mais uma vez, adotando-se o critério da exclusão social escolar. 13 Somente na década de 1920 foi que chegaram ao Brasil, dois movimentos relevantes para a formação educacional no país. O primeiro foi o Movimento da Escola Nova, que teve sua origem na Inglaterra e foi difundido por toda a Europa e Estado Unidos, sendo o seu promovedor no Brasil o educador Anísio Teixeira. O outro movimento tratava-se da Pedagogia Libertária tendo como um de seus protagonistas também Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Cecília Meireles, inspirados em John Dewey, segundo lição de Lourenço Filho, (1978), que tinha o propósito de atender aos desejos e as necessidades do povo de baixa renda brasileira que vivia na zona urbana. As ideias inovadoras de Anísio Teixeira que se destacaram sobre a Pedagogia Libertária, envolveram inúmeros educadores dando lugar a um movimento intelectual em prol de uma escola que fosse nova, laica e gratuita para todos sem distinções. Assim nasceu o “otimismo pedagógico” brasileiro que culminou no movimento dos pioneiros que eram favoráveis à escola pública, um movimento de intelectuais da educação, nas primeiras décadas do século XX, em defesa de uma escola pública em absoluta contraposição ao tradicionalista sistema de ensino que havia sido implantado pelos jesuítas. Essa tendência pedagógica se apresenta no País em duas versões: a Renovada Progressista, na forma difundida pelos pioneiros da educação nova, e renovada não diretiva, orientada para o desenvolvimento pessoal e às relações interpessoais. Essa concepção compreende a escola como formadora de atitudes, por isso a transmissão de conteúdos é secundarizada em detrimento da vivência de experiências que contribuam para formar a personalidade do aluno. Vale ressaltar que a contribuição da teoria rogeriana para os processos vivenciados nos espaços educativos brasileiros reflete no trabalho de psicólogos e orientadores educacionais. (LIBÂNEO, 1993, p. 35) Esta nova proposta tem seu foco direcionado ao aluno e ao processo de desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente. No que se refere à educação Renovada não diretiva, a mesma teve sua origem nas ideias psicológicas de Carl Rogers que dava maior importância ao autodesenvolvimento como uma forma para a realização pessoal, para a formação 14 do aluno em todos os aspectos não somente do conhecimento, mas, também da sua formação como pessoa. A partir da Escola Nova a educação se direcionou para a espontaneidade e para a criatividade do aluno, introduzindo novos métodos relegando ao passado as práticas pedagógicas que eram adotadas pela escola tradicional católica. Já no processo avaliativo “[...] surge a escala de conceitos em substituição as notas, num enfoque apenas qualitativo” (FERNANDES, 2002, p. 26), considerandose com maior ênfase as atitudes, o esforço e o êxito do aluno ao realizar suas tarefas escolares, tendo assim a oportunidade de expressar por si só, os conhecimentos que foram adquiridos. A partir de então as tecnologias educacionais que eram praticadas na Europa foram adotadas no Brasil e, observou-se que o conhecimento sobre as mesmas aperfeiçoava o desenvolvimento do trabalho na escola reduzindo os custos e o tempo de permanência do aluno na mesma, influenciando significativamente na redução dos altos índices de evasão e repetência que ocorriam naquela época. De acordo com Saviani (2007), o fracasso da Escola Nova abriu as portas para a entrada da Escola Tecnicista no cenário educacional brasileiro, no entanto, esse evento é favorecido pelo golpe militar ocorrido em 31 de março da década de 1964. A partir deste momento, implantou-se no Brasil o modelo tecnicista de educação que foi firmado através de duas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou seja, a LDB nº 5.540/68 que protagonizou a Reforma do Ensino Superior e a LDB nº 5.692/71, que instituiu a Reforma do ensino de 1º e 2º graus, correspondentes ao Ensino Fundamental da atualidade. Estas duas leis editadas sob o regime militar no país culminaram no isolamento absoluto do professor para que este não fosse capaz de formar opiniões em seus alunos. Instalou-se a ditadura militar e com esta veio junto a censura sobre qualquer forma de expressão e para todos que representassem uma “ameaça” à mencionada ditadura que teve sua origem nos Estados Unidos da América com a desculpa da sua guerra fria com a extinta Rússia, avassalando a maioria dos países latino-americanos, e, não somente o Brasil, o que proporcionou um atraso vertiginoso no processo educacional do país. 15 A educação brasileira ficou à mercê de um ensino extremamente programado por pessoas alheias aos conhecimentos didáticos e pedagógicos, e, absolutamente distantes da realidade social e escolar, onde os livros “didáticos” eram formulados e direcionados para um planejamento já pré-estabelecido, impedindo o professor de inovar, de criar e realizar o seu plano de aula, sendo ao mesmo imposto a cópia do que lhe era determinado e obrigado a repassar para seus alunos. A avaliação escolar passa a ser o ponto central deste processo educativo que tão somente aferia se o aluno aprendeu ou atingiu a meta que foi estabelecida por aquele governo, nada mais sendo relevante para a aprendizagem, tornou-se uma escola avaliativa apenas de notas e não do aprendizado do aluno. Essa Escola Tecnicista primava por um ensino condicionado, ou seja, de estímulo e resposta baseado na teoria de Skinner, onde ao aluno cabia tão somente marcar a resposta correta sem questionar os fundamentos da mesma, valorizando assim o uso de atividade avaliativa com questões objetivas. A Pedagogia Libertadora que se iniciou na década de 1950 sob uma visão democrática da cultura colocou-se anti-autoritarista, em favor da educação para todos, valorizando a experiência vivida pelo educando e instituiu um método de alfabetização para adultos onde o conteúdo da aprendizagem se encontra na realidade das práticas vivenciadas pelos alunos. Com esta nova ideia de educação e diante da preocupação com a reflexão e a valorização do diálogo acerca dos conteúdos a serem ministrados em sala de aula as avaliações da aprendizagem, por fim, ganham uma nova postura dentro da gestão escolar. O foco então se direciona para a subjetividade do aluno e para o processo de ensino-aprendizagem. Passa-se a tratar o conhecimento levando-se em conta o contexto social onde o educando se encontra inserido e as avaliações passam a ter atribuições mais específicas, isto é, são direcionadas ao fim a que se destinam, tais como a diagnóstica, a contínua, a formativa e/ou somativa, porém, sem a intenção de classificar, mas que a mesma seja significativa para a vida do educando. Para a tendência pedagógica crítico-social dos conteúdos a escola deve adotar um sistema onde a apreensão dos conteúdos escolares deve encontrar a sua essência no cotidiano da vida dos educandos. No entanto, a intervenção do 16 professor torna-se um fator preponderante para que este aproxime o aluno da disciplina a ser estudada, valorizando-o e transmitindo-lhe autoconfiança na sua capacidade de aprendizado, de transformação e de progresso pessoal. Trata-se do pensamento de resgate, através de uma educação de qualidade, onde são estabelecidos novos parâmetros para a transformação de toda a sociedade, em todos os sentidos. É a promoção da igualdade de oportunidades sociais dentro do setor educacional, onde o professor é o protagonista do seu próprio conhecimento, onde o mesmo deve dominar a disciplina que leciona. Nesse sentido, deve ser feita a avaliação do trabalho escolar com a finalidade de comprovar que o aluno obteve progresso na apreensão dos conteúdos. Objetiva-se com a avaliação, verificar se realmente o educando é capaz de assimilar a teoria e a prática, isto é, os conteúdos que lhes foram apresentados e as realidades sociais vivenciadas. Em avaliação, o modelo da padronização, da generalização volta com força total. A ênfase nas respostas prontas e no pensamento objetivo, embora aparentemente mais flexível, é uma tônica que já podemos perceber na prática avaliativa das escolas com ensino basicamente tecnológico. (FERNANDES, 2002, p.31) Este tipo de avaliação ganhou força nos anos de 1990 quando foi introduzida uma nova concepção de planejamento, ou seja, o planejamento baseado no Gerenciamento de Qualidade Total, primeiramente implantado em empresas, logo após no setor educacional chegando a atingir todo o serviço público. Há, então, neste período a retomada do modelo tradicionalista da avaliação no que pertine à estruturação das provas. Deste modo, as questões prontas e objetivas sofrem uma reformulação dentro das escolas, sobrepondo à classificação em prejuízo de uma real aprendizagem. Já no presente século XXI, as avaliações externas, também chamadas de avaliação em larga escala, influenciam o processo classificatório nas instituições. A avaliação externa fornece dados para o redirecionamento de políticas públicas e metas escolares. Os testes são realizados de forma padronizada e são 17 seletivos com o propósito de avaliar o desempenho das escolas, dos professores, certificar e selecionar alunos. Segundo o pesquisador português Domingos Fernandes, especialista em avaliação escolar, as escolas da atualidade estão treinando os alunos para as avaliações externas ( Prova Brasil, ENEM, vestibulares, concursos). Contribuindo com a cultura de avaliação classificatória nas escolas. No próximo capítulo será abordado com mais detalhes os principais tipos de avaliação utilizados nos dias atuais. 3 PRINCIPAIS TIPOS DE AVALIAÇÃO Esse tema é amplo, e permeia todo trabalho educacional, impulsionando, a prática pedagógica e a relação entre todos os envolvidos na ação educativa. Para melhor compreendê-lo se faz necessário distinguir as três modalidades básicas de avaliação: classificatória, diagnóstica e formativa bem como sua aplicação em sala de aula. 3.1 Avaliação Classificatória 18 A avaliação classificatória está relacionada com a ideia de medir os conhecimentos e o rendimento dos alunos. Tem como finalidade verificar a aprendizagem atribuindo notas e conceitos por meio de provas, testes e questionários. Aprova ou reprova os alunos ao final de um semestre ou de um ano letivo. Estabelece um padrão de rendimento sem levar em consideração a individualidade do aprendiz. O professor tem um papel fundamental nesse processo, pois cabe a ele fazer, aplicar e corrigir as provas. O futuro escolar dos alunos depende dele. Como o educador possui o poder arbitrário de classificar, em definitivo, sem tribunal de apelação, um educando possui também a chave que impede consciente ou inconscientemente o processo de crescimento para a liberdade e autonomia e para o processo de conhecimento. Aquele que aprende aprendeu. O que não aprendeu, fica como está. (LUCKESI, 1994, p. 113). Essa modalidade de avaliação não contribui para que as crianças superem as dificuldades na aprendizagem ao contrário pode até contribuir para o surgimento de problemas psicológicos (traumas, depressão, baixa autoestima). Esse tipo avaliação tem a função de classificar o rendimento dos alunos no final de um período em que são avaliados os resultados alcançados de acordo com os objetivos do professor e o aluno é classificado por meio de boletins cujo resultado é representado pelos termos aprovado ou reprovado. Segundo Hoffmann (2014), a avaliação classificatória tende a considerar o aprender como se fosse um objeto palpável, concreto. “Mas esse aprender/objeto não revela o aluno em processo de desenvolvimento, porque para revelá-lo é preciso entrar em relação com a pessoa aprendiz.” A avaliação classificatória tira da criança o prazer de aprender, de descobrir, de criar, de questionar. Para a autora números e conceitos são superficiais e genéricos. O equívoco da escola, decorrente das práticas classificatórias, está em transformar a aprendizagem em necessária, obrigatória, em aprender sempre para alguma coisa: aprender para ir para o primeiro ano, ler para aprender, aprender para fazer a prova, para tirar uma nota boa, para passar de ano, para ter uma profissão. Muitas vezes também, pais e professores transformam o aprender em competição: aprender para ser melhor que os outros, para vencer na vida. (HOFFMANN, 2014, p. 35) 19 Para que a avaliação seja concretizada como formativa e mediadoras e faz necessário entende-la não como um objeto para detectar se as crianças aprenderam ou não, mas sim como uma ferramenta que auxilie o aluno a construir seu próprio conhecimento. Porque todas as crianças aprendem quando tem oportunidades. 3.2 Avaliação diagnóstica A avaliação diagnóstica é feita no início do processo de ensino aprendizagem com a função de diagnosticar o conhecimento prévio dos alunos. Tendo como objetivo nortear o trabalho do professor, antecedendo a elaboração das aulas de mais uma unidade ou de um projeto. Ela é essencial, pois possibilita identificar um problema inicialmente tornando-o mais fácil de solucionar. Para que haja sucesso nesse tipo de avaliação o professor precisa conhecer o “nível atual de desempenho dos alunos, comparar essa informação com aquilo que é necessário ensinar no processo educativo e tomar decisões que possibilitem atingir os resultados esperados” Luckesi, (2009). Se o professor não conhece a situação atual de seus alunos ele terá dificuldades para elaborar e executar seu planejamento. São nesses momentos iniciais que o educador busca estratégias que vão garantir a aprendizagem dos educandos valorizando sempre os conhecimentos trazidos por eles em experiências adquiridas: antes ou fora da escola, no meio cultural e o contexto social em que estão inseridos. Essas informações prévias vão ajudar o professor a organizar melhor seu trabalho, tornando-o flexível com possíveis mudanças ao longo do processo a fim de sanar as dificuldades dos alunos, contribuindo para um melhor aprendizado. Esse diagnóstico não deve ser feito somente no início do ano letivo é uma prática que precisa se repetir a cada etapa. Para Sant’Anna, (1995), “esta avaliação deverá ocorrer no início de cada ciclo de estudos”. São pertinentes também “sempre que o professor propuser novos conteúdos ou novas sequências de situações didáticas.” Parâmetros Curriculares Nacionais. O professor usando ferramentas como observação, portfólios, questionários entre outros irá identificar os pontos fortes e fracos de cada um de seus alunos. Ele irá verificar as características de aprendizagem de cada aluno a fim 20 de determinar qual o tipo de trabalho mais apropriado para desenvolver voltado para aquelas características. Este tipo de avaliação é preventivo, pois, ao conhecer as dificuldades de seus alunos desde o início dos seus trabalhos, ou seja, do processo de educação, será possível antever as reais necessidades destes alunos, buscando sempre determinar quais são as causas destas dificuldades de aprendizagem. Desta forma, o professor e as escolas podem planejar intervenções iniciais, propondo procedimentos, como por exemplo, a fixação do conteúdo de maneira mais didática e de fácil compreensão para o aluno que apresente alguma dificuldade, levando-o a atingir graus mais elevados de conhecimento. Os resultados da avaliação diagnóstica servem para explorar, identificar, adaptar e predizer sobre as condições da aprendizagem dos alunos. 3.3 Avaliação Formativa A avaliação Formativa sinônimo de processual ou contínua é desenvolvida ao longo do ano letivo, com o propósito de mostrar ao professor e ao aluno os resultados das aprendizagens adquiridas durante as atividades realizadas em sala de aula: criações em atividades propostas, trabalhos em grupo, apresentações diversas, comentários/discussões, produções textuais entre outros. Esse método avaliativo requer do professor uma observação apurada dos seus alunos, permitindo-lhe acompanhar de perto a construção do conhecimento e identificar falhas, problemas e dificuldades, intervindo e mudando as estratégias para que os objetivos desejados sejam alcançados. O professor se torna o mediador do processo. Segundo Benigna Villas Boas, “isso faz toda a diferença porque é o elo entre o ensino e a aprendizagem e torna o docente responsável pelo processo” tornando mais fácil interpretar o que o aluno aprendeu o que precisa ser aprendido e o ritmo de aprendizagem dos mesmos de maneira que ajustes sejam feitos nas práticas pedagógicas, para que avanços favoreçam uma aprendizagem contínua. Essa modalidade de avaliação visa auxiliar o aluno em sua trajetória escolar. A nota não ocupa lugar de destaque, uma vez que a ação pedagógica do professor está voltada para a aprendizagem e a formação do aluno, buscando compreender como ele está elaborando seu conhecimento e quais dificuldades e progressos encontra nesse processo. Mediações são necessárias para saber o que, como, e se 21 o que os alunos estão aprendendo está de acordo com o que o professor está ensinando. Para Hoffmann, “a individualidade do aluno tem que ser respeitada, pois, cada um tem um ritmo, cada um tem o seu tempo e se o professor quer construir uma prática avaliativa que valorize a diversidade dos alunos é preciso que ele se envolva com os mesmos observando “o jeito de aprender, de ser e de conviver de cada um.” (Hoffmann, 2014). A avaliação formativa é a que confirma que as atividades estão sendo desenvolvidas conforme o planejado. “Aponta sucessos e fracassos e identifica áreas problemáticas, faz recomendações que possam tornar o programa ou o projeto mais eficiente.” Magda Raupp (2003). Não tem como objetivo classificar ou selecionar, aprovar ou reprovar e sim acompanhar o desenvolvimento dos alunos em todas as áreas do conhecimento. Segundo Hoffmann (2014), muitos professores conhecem o sentido da avaliação formativa teoricamente, (acompanhar o aluno durante o processo de formação), mas na prática “deduzem que se realizassem uma série de testes parciais ao longo de um período letivo, já estariam desenvolvendo um processo de avaliação formativa,” para a autora, acompanhar a aprendizagem do aluno não se “restringe ao uso de instrumentos formais em tempos predeterminados”. Mas se efetiva na ação mediadora que só é possível quando o educador está atento a evolução do educando observando-o na execução das atividades escolares, na interação com os outros e em seu comportamento frente a situações problema No cotidiano escolar estão presentes as três funções de avaliação vistas anteriormente, no entanto cada uma é utilizada no momento peculiar do processo ensino-aprendizagem: quando o professor analisa o conhecimento trazido pelos alunos em experiências anteriores está realizando a avaliação diagnóstica; quando está atento ao processo para corrigir e evitar falhas favorecendo o sucesso da aprendizagem está focando a avaliação formativa; na atribuição de notas ou conceitos no final de cada etapa e do ano letivo está presente a função mais conhecida da avaliação, a classificatória. Cabe ao professor ter uma visão clara da importância desses momentos avaliativos para o processo de aprendizagem bem como a forma mais adequada de usar cada tipo de avaliação. 22 23 4 DISCUTINDO A AVALIAÇÃO NOS DIAS ATUAIS Pode-se afirmar que a avaliação da aprendizagem escolar se tornou uma das atividades mais importantes da prática pedagógica, sendo de suma importância para direcionar os trabalhos dos professores e de orientadores, na medida em que estes preparam os seus trabalhos pedagógicos. É através da avaliação que alunos e professores podem aferir a qualidade do aprendizado bem como a qualidade dos métodos de ensino empregados, possibilitando verificar os pontos positivos de um e de outro e se realmente foram alcançados os objetivos que foram estabelecidos. O termo “avaliar” vem do latim e significa “dar valor.” Aprender, no entanto, significa superar obstáculos, dificuldades e erros. Os métodos de avaliação que são aplicados nos processos de ensino-aprendizagem influenciam diretamente nos resultados de tais processos. É por esta razão que se pode afirmar que a avaliação examina não somente os resultados que os alunos apresentam, mas, também aquilo que foi ensinado e como foi ensinado. Portanto, não se deve levar em conta que a avaliação seja um processo separado do processo de ensino-aprendizagem. O que se observa, entretanto, é que os professores, de modo geral, ao planejarem seus métodos didáticos costumam colocar as atividades de ensinoaprendizagem separadamente das atividades de avaliação, o que não condiz com a realidade do aluno quer seja social ou de aprendizado. O educador ao elaborar sua sequência didática de ensino mantém seu foco apenas nos conteúdos a serem ministrados, nas atividades e nos exercícios a serem aplicados, deixando de lado a necessária atenção que o mesmo deve dar às dificuldades que alguns de seus alunos possam apresentar, no intuito de compreender as prováveis causas daquelas e quais são as soluções possíveis para se estabelecer o efetivo aprendizado. 24 As dificuldades e os erros dos alunos provêm fundamentalmente de como percebem o que é importante aprender, de suas formas de raciocinar, de falar, de escrever e, geralmente, de comunicar o conhecimento e de “emocionar-se” com ele, e de seus próprios valores. Muitas vezes não é fácil superar essas dificuldades. De fato, poderíamos afirmar que ensinar é ajudar os alunos a identificar as diferenças entre suas formas de fazer, de pensar, de falar, de sentir e de valorizar, e das que se promovem a partir da escola. (SANMARTÍ, 2009, p. 17) Os professores devem estar atentos primordialmente em conseguir que seus alunos ao executarem uma atividade escolar, ao escutarem as explicações que lhes são repassadas, em conseguir identificar as dificuldades que aqueles apresentam e ajudá-los a entendê-las e a superá-las. Não se trata somente de fazer bons planos de aula, boas atividades, bons exercícios, explicar bem os conteúdos, mas, sobretudo, de identificar, aceitar e superar os obstáculos junto com seus alunos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais definem a avaliação como: Elemento integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma; conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido e como; elemento de reflexão contínua para o professor sobre sua prática educativa; instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, p.84) Toda atividade de avaliação deve oferecer a possibilidade de que os próprios alunos possam reconhecer onde se encontra as suas dificuldades de aprendizagem, o mesmo valendo para o professor, o que irá permitir a superação ou amenização das mesmas. Segundo Méndez, o bom professor avalia para conhecer o aluno, e é por meio desse processo que se constatam as aprendizagens alcançadas por eles, como também a eficácia do trabalho pedagógico. Se a aprendizagem não foi o que se esperava, significa que o ensino também não cumpriu com sua finalidade. 25 Moretto (2001) afirma que a forma mecânica e sem muito significado com que a avaliação é cultivada nas escolas, tem angustiado os professores e estressado os alunos sem que nada seja feito para mudar essa situação. A escola utiliza (d)os resultados da avaliação para registro e documentação oficiais de aproveitamento; para grande parte dos pais o que importa é a nota obtida pelos filhos, se estiver na média, se dão por satisfeitos “pois pressupõe que a nota traduz a aprendizagem correspondente, o que nem sempre é verdade”. Cabe ao professor, buscar conhecimento e utilizar diferentes estratégias para tornar a avaliação uma importante ferramenta para construção do ensino e não instrumento para manter a disciplina na sala ou fazer o aluno estudar. Para Moretto, (2001) os períodos avaliativos devem ser um momento privilegiado de estudo e não um acerto de contas. A avaliação da aprendizagem é angustiante para muitos professores por não saber como transformá-la num processo que não seja mera cobrança de conteúdos aprendidos “de cor”, de forma mecânica e sem significado para o aluno. Angústia por ter que usar um instrumento tão valioso no processo educativo, como recurso de repressão, como meio de garantir que uma aula seja a termo com certo grau de interesse. (MORETTO, 2001, p. 93) Para saber se o ensino está sendo eficaz é necessário acompanhar o processo de aprendizagem; os progressos e as dificuldades dos alunos, esses fatores determinam o resultado do ensino. Segundo Marli André e Marta Maria Pontin Darse, “a avaliação é o que indica ter maior possibilidade de por em evidência os ganhos e as falhas, os avanços e as insuficiências de quem está sendo avaliado”. Sendo assim ela se torna uma ferramenta importante que auxilia o professor na busca da melhoria do seu ensino. Por meio da avaliação, o professor acompanha a aprendizagem e monitora seu trabalho como educador. Desta forma ele sabe quais atividades tiveram efeito positivo e quais mudanças são necessárias para melhorar seu trabalho. Desta forma a avaliação se torna uma investigação didática tendo em vista a aprendizagem dos alunos. Sendo um processo contínuo, não acontece em um momento isolado do trabalho pedagógico ela está presente no início, meio e fim do trabalho docente. O autor Juan Manuel Álvarez Méndez questiona o sentido da avaliação e a necessidade de compreender o “como fazê-la” antes de refletir “o porquê e para que 26 da mesma” segundo o autor, as respostas estão no sentido que damos ao conhecimento e a atitude dos professores diante dele: O conhecimento deve ser o referente teórico que dá sentido global ao processo de realizar uma avaliação [...] e quando a desligamos do conhecimento, nós a transformamos em uma ferramenta meramente instrumental que serve para tudo, embora realmente valha para muito pouco no campo da formação integral das pessoas que aprendem, seja no âmbito intelectual ou profissional, seja no plano da aprendizagem ou do ensino, seja no plano da implementação do currículo. (MÉNDEZ ,2002, p.29). Desta forma percebemos que a avaliação está ligada ao conhecimento. Quando utilizada sem significado, sem um propósito se torna um instrumento inútil no que diz respeito à aprendizagem. Para que se alcancem os objetivos esperados os professores em primeiro lugar, devem ter uma atenção especial com o planejamento de suas aulas e a escolha adequada dos instrumentos avaliativos que serão abordados no próximo capítulo. Quando o educador se esforça para conseguir os objetivos propostos, tanto ele como o aluno crescem de forma conjunta. No cotidiano escolar, na maior parte das vezes, os procedimentos de ensino são selecionados sem critérios definidos criticamente, sem que se reflita claramente sobre o sentido e o significado de cada um deles. (LUCKESI, 2001, p.155) Quando um educador não tem em mente os objetivos claros de sua proposta de ensino, se torna autoritário impondo suas condições e até chantageando a turma usando a avaliação como um meio para punir. Para Hoffmann (2014), “Práticas avaliativas autoritárias são minas espalhadas por nossas escolas”. Os alunos não conseguem interiorizar o conhecimento restando a memorização para se reproduzir em uma prova. Ainda segundo a autora (1991), a postura autoritária de muitos professores se dá pela experiência que os mesmos tiveram enquanto educandos onde a avaliação era vista como uma forma de “julgamento de resultados”. Percebe-se uma contradição entre o discurso e a prática dos professores, quando eles mesmos criticam a ação avaliativa como uma prática classificatória e fazem uso dela para esses fins. Segundo Cipriano Carlos Luckesi, os professores inconscientemente estão praticando o exame e dizendo que estão avaliando. Segundo o autor, o ato de 27 avaliar tem como principal objetivo diagnosticar uma experiência, promovendo a construção do conhecimento, “por isso, não é classificatória nem seletiva, ao contrário, é diagnóstica e inclusiva”, enquanto que o ato de examinar é classificatório e excludente por estar voltado para aprovação e reprovação dos discentes. Para Hoffmann, mudanças devem ser feitas na educação para que a avaliação seja conduzida numa perspectiva construtivista e libertadora, mas para tal se faz necessária: uma ação consensual nas escolas e universidades no sentido de revisão do significado político das exigências burocráticas dos sistemas municipais, estaduais e federal de educação. O modelo construtivista, sóciointeracionista, propõe mudanças no processo de ensino, na medida em que acredita que o aluno é um construtor do conhecimento e não um mero acumulador de informações. Aquela imagem de aluno passivo e de um professor que vai à frente da sala, falando o tempo todo para o aluno copiar faz parte do passado. A nova geração é composta de alunos ativos no processo. Em geral os atos e conduta dos professores, dão a entender que eles querem que os alunos sejam passivos, pois os ativos “dão trabalho” seja na disciplina comportamental, seja na disciplina intelectual. Usualmente, não se tem tido suficiente cuidado com a produtividade do educando. (LUCKESI, 2001, p.98) O professor tradicional se incomoda com essa nova postura dos alunos, pois para acompanhar o “ritmo” deles é preciso mudar suas práticas, pois a cada ano, são alunos novos chegando às escolas, cheios de questionamentos, críticas e curiosidades, e as práticas usadas no ano anterior que deram muito certo com uma turma, já não surte efeito com a atual. O professor tem um desafio a superar. Para isso tem que ser flexível e se adequar à nova geração e às mudanças que surgem. De acordo com Vasco Pedro Moretto, na escola tradicional, o foco estava em treinar os alunos a acumular dados. As provas eram feitas sem consulta, onde eram cobrados nomes, fórmulas e definições. O melhor aluno era o que conseguia guardar mais dados. Muitas crianças pela falta de confiança em sua própria memória recorriam às “colas”. Nesse sentido, os alunos eram “meros acumuladores de dados” 28 A nova orientação para a educação é diferente. Os alunos podem até memorizar alguns conhecimentos básicos nas diferentes áreas do saber, mas essa memorização tem que ser significativa. O foco está na preparação das condições para que o aluno seja competente. Sendo assim, a função fundamental da escola atual é prepará-los para se tornarem gerentes das informações. A função do gerente é: detectar uma situação problema analisá-la e tomar uma decisão em busca de uma solução. Segundo Villas-Boas (1998, p. 21), “as práticas avaliativas podem, pois, servir à manutenção ou à transformação social. Ainda para a referida autora, a avaliação escolar não acontece em momentos isolados do trabalho pedagógico; ela o inicia, permeia todo o processo e o conclui.” Segundo Jussara Hoffmann, (1998), para muitos professores avaliar é sinônimo de testar e medir sendo muito difícil avaliar sem manter o vínculo obrigatório aos testes. Pois, para ela “o grande número de alunos com que eles trabalham dificulta a convivência, impossibilitando, algumas vezes, a própria identificação visual” sendo assim, os professores preferem atribuir-lhes notas nos testes porque esses dados e os resultados são de fácil comprovação. Na escola, podemos medir a frequência dos alunos, o número de trabalhos feitos, livros lidos entre outros. Infelizmente muitos professores acham que tudo pode ser medido, atribuindo notas de forma arbitrária sem preocupação com a aprendizagem. As discussões anteriores nos revelam que a avaliação é um processo que preocupam muitos professores, é um tema muito discutido, mas pouco se tem feito para mudar o significado dessa prática a fim de contribuir para melhorar o trabalho do educador. Emerge da necessária revisão no sistema educacional buscando favorecer mudanças significativas nos procedimentos avaliativos. 29 4.1 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO O termo avaliar é muito amplo, está “fundamentado em valores morais, em concepções de educação, de sociedade, de sujeito.” (Hoffmann, 2014). Desta forma não se deve apelidar por avaliação as provas, exercícios, testes, trabalhos em grupo, pesquisas, entre outros. Estes são instrumentos de avaliação, são recursos utilizados pelos professores, como fontes de informação sobre os processos de aprendizagem de seus alunos. O professor precisa diversificar e experimentar vários instrumentos para abranger todos os aspectos do aluno. A escolha dos instrumentos avaliativos deve seguir as orientações propostas no Projeto Político Pedagógico da escola. “O valor da avaliação não está no instrumento em si, mas no uso que se faça dele” (Méndez, 2002, p.98). Sendo a prática da avaliação um processo, se faz necessário a utilização não de um, mas de diversos instrumentos avaliativos para que os alunos tenham várias possibilidades de revelar sua aprendizagem por meio da avaliação. Discorreremos sobre os principais instrumentos avaliativos utilizados atualmente pelos professores, dentro da visão da pedagoga Ilza Martins Sant’Anna e a consultora Heloísa Cerri Ramos que construíram uma tabela reunindo os nove jeitos mais comuns de avaliar os estudantes. (Publicado na revista, Nova Escola, (2006). 30 De forma sucinta destacam-se alguns: 4.2 Provas: São perguntas que requerem do aluno a capacidade de estabelecer relações, analisar, resumir e julgar. Tem a função de averiguar a capacidade do aluno de identificar um problema central, formular ideias e redigi-las. As vantagens das provas é exatamente a liberdade que o aluno tem de expor suas ideias. Cabe ao professor um cuidado na elaboração. A prova deve conter poucas perguntas e o tempo para resolvê-la deve ser suficiente para o aluno sistematizar suas ideias. 4.3 Trabalhos em grupo: É uma atividade realizada coletivamente de natureza diversa (oral, escrita, corporal, etc.), sempre com a orientação do professor. Este deve estar atento quanto à participação e à contribuição de todos durante o trabalho com a intenção de facilitar a socialização, a troca e o espírito colaborativo. A interação que essa atividade proporciona facilita a aprendizagem e a heterogeneidade da turma, desta maneira se torna um elemento a favor do ensino. 4.4 Autoavaliação: Consiste em uma análise, que o próprio aluno faz de seu processo de aprendizagem que pode ser oral ou por escrito. A função desse instrumento de avaliação é fazer com que o aluno adquira capacidade de analisar o que já aprendeu. Para que esse procedimento seja um sucesso o professor deve fornecer ao aluno um roteiro com áreas sobre as quais ele gostaria que o aluno discorresse, além de propiciar um ambiente agradável e inspirar a confiança dos mesmos para que se sintam à vontade para falar. Ao tomar conhecimento das possíveis dificuldades que os alunos venham a apresentar o professor deve propor atividades para sanar tais dificuldades. 4.5 Debates: Nos debates os alunos expõem suas opiniões sobre um assunto polêmico previamente já definido pelo professor. Esses momentos são uma oportunidade para que o aluno aprenda a defender sua opinião, sua habilidade de argumentação, a oralidade, saber ouvir o colega. O professor deve estar atento avaliando todas estas questões, ele vai agir como mediador do processo dando a todos a chance de participar observando o tempo da fala de cada um e o cumprimento das regras combinadas. 31 4.6 Observações: Na observação o professor vai analisar o desempenho do aluno em momentos do cotidiano escolar ou em situações específicas, a fim de obter dados sobre as áreas cognitiva, afetiva e psicomotora.com tais informações o educador percebe como e quando o educando constrói o conhecimento, acompanhando de perto todas as etapas desse processo. É importante que o professor faça anotações na hora evitando julgamentos e generalizações considerando só os pontos fundamentais no processo de aprendizagem. Há várias outras formas de avaliar que podem ser usadas em sala de aula de acordo com a intenção do trabalho e as necessidades de cada turma. O professor não precisa estar preso a apenas um tipo de instrumento avaliativo ele pode utilizar vários instrumentos que vão permitir maior confiança nos resultados. Os mais usados no ensino fundamental são: fichas descritivas, portfólios, questionários, aplicação de testes entre outros já mencionados acima. 4.7 PRÁTICA AVALIATIVA, FRACASSO E A EVASÃO ESCOLAR Neste capítulo abordaremos a relação que há entre avaliação e fracasso escolar. Até que ponto uma contribui para o crescimento do outro levando à evasão do aluno. Subtende-se que a avaliação é uma oportunidade que o aluno tem de demonstrar o que aprendeu. Segundo Méndez (2002), é importante que haja clareza nas questões de provas, nos trabalhos, e nas tarefas para favorecer a compreensão do aluno para que o mesmo tenha condições de expor suas ideias de acordo com seus conhecimentos. “Quanto mais qualidade tiver a informação que é oferecida, mais poderá aumentar a qualidade da aprendizagem.” Com esses cuidados o professor acompanha o rendimento do aluno praticando a avaliação formativa e analisa aqueles que têm mais dificuldades, buscando soluções que possam garantir a aprendizagem a tempo para se recuperarem. O artigo 24, da Lei de diretrizes e Bases da e Educação Básica não está nas referências afirma que para se observar o rendimento escolar deve se observar alguns critérios entre eles “a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre as de eventuais provas finais.” Dessa forma as experiências vividas pelos alunos ao longo do processo são mais importantes que resultados de provas finais. 32 Para Hoffmann, um fato que contribui para o fracasso escolar é que os estudantes brasileiros não estão sendo “alfabetizados no tempo e com a competência que deveriam porque não se constituem para eles espaços efetivos de aprendizagem para que isso ocorra.” Infelizmente é comum encontrarmos nas escolas públicas brasileiras crianças com algum tipo de dificuldade na aprendizagem. Crianças que chegam ao final do ano letivo sem dominar as capacidades básicas esperadas ou não alcançaram a nota mínima necessária para aprovação e precisam passar pela recuperação e tirar uma boa nota para serem aprovados, aqueles que não conseguem são reprovados, e dessa forma a frustração contribui para desmotivar o aluno. Para Hoffmann, o aluno tem a sua aprendizagem analisada “em comparação a algum parâmetro ou expectativa de desempenho definido pela escola, pelo professor, pelo currículo estabelecido, etc.” Ou seja, o “não aprender” está relacionado com as expectativas de outras pessoas. Quando se fala em fracasso escolar, é fácil atribuir essa condição aos alunos oriundos de classe média baixa, com problemas familiares, histórico de atraso escolar, condutas inadequadas entre outros. Compreende-se que esses problemas são reais, a defasagem escolar também está associada ao histórico escolar e familiar dos alunos e essa bagagem influencia no aprendizado e no desempenho dos mesmos, deixando-os muitas vezes agressivos, desinteressados, desmotivados. Esses comportamentos indesejados “podem revelar a angústia em não acompanhar as atividades escolares, em não conseguir ler no ritmo de seus colegas, em estar fracassando frente às expectativas das famílias.” (Hoffmann, 2014). Ainda segundo a autora, a maior dificuldade das crianças está na leitura e na escrita. E o mais grave é que muitos professores não estão cientes disso “explicando o problema dos alunos apenas pelo lado familiar ou atitudinal e deixando de auxiliá-los a ler e a escrever como deveriam estar fazendo.” Essa afirmativa nos leva a refletir se o sistema escolar está engajado em promover condições necessárias para o aprendizado da criança. E, ainda, se as escolas estão preparadas para essa nova geração de crianças que não se enquadra nos perfis tradicionais desafiando muitos educadores a mudar sua postura profissional. 33 O que está sendo oferecido nas escolas está de fato, contribuindo para a construção do conhecimento dos alunos? Está oferecendo-lhes condições necessárias e experiências diversificadas para que desenvolvam a aprendizagem significativa capaz de torná-los cidadãos críticos e criativos? [...] um bom ensino contribui positivamente para tornar boa a aprendizagem e que uma boa atividade de ensino e aprendizagem torna boa a avaliação. Do mesmo modo, devemos reconhecer que uma boa avaliação torna boa a atividade de ensino e boa a atividade de aprendizagem. (MÉNDEZ, 2002, p.36) A aprendizagem, o ensino, assim como a avaliação devem ser orientados pelos currículos definidos por equipes pedagógicas. Deste modo percebe-se que a aprendizagem expressiva se dá quando há uma relação harmônica e equilibrada “entre cada um dos elementos que compõem o currículo total.” Não depende só do aluno. A escola, pais e professores fazem parte desse processo complexo. A avaliação para ser utilizada como ferramenta de construção do conhecimento, precisa ser desmitificada e deve ir além do processo de examinar o aluno. Essa prática exige do professor conhecimento do conteúdo de sua disciplina para que ele consiga fazer uma relação entre as respostas formuladas pelos alunos segundo suas hipóteses e a base científica do conhecimento. Em entrevista concedida e publicada no caderno do colégio Uirapuru, da cidade de Sorocaba o professor Cipriano Carlos Luckesi responde a seguinte pergunta: “Nossas escolas mais examinam que avaliam?” Em resposta, o autor diz que “a escola hoje ainda não avalia a aprendizagem do educando, mas sim o examina”, ou seja, o professor conhece a prática da avaliação, mas no dia a dia ele pratica o exame, deixando notório que a história da avaliação evoluiu, mas a prática ainda é a mesma. Em outra entrevista concedida à revista NOVA ESCOLA, 2006, o professor afirma que as causas de reprovação têm a ver com a ideologia de que, se o aluno não aprende é porque ele não quer estudar ou falta-lhe interesse. Para o autor, “muitas outras razões além do próprio aluno, podem conduzir ao fracasso escolar, como as políticas públicas que investem pouco no professor e no aluno, com baixos salários e problemas de infraestrutura” Portanto compreendemos que a educação possui aspectos internos e externos à escola que estão longe de serem mudados. Os fatores externos são a 34 falta de recursos e as condições precárias de ensino. Os fatores internos envolvem diretamente o educando com o educador. “O professor ensina uma coisa, o estudante entende outra; ensina de uma forma e solicita que seja colocada em prática de outra; ou não usa atividades inseridas no contexto dos alunos.” (Luckesi em entrevista concedida à revista NOVA ESCOLA, 2006). Outro problema apontado pelos professores, segundo Hoffmann, (1998), é o fato das turmas serem numerosas. Muitos professores justificam que é impossível acompanhar individualmente cada aluno. A autora reforça que a avaliação da aprendizagem tem por objetivo “observar cada aprendiz; analisar e compreender suas estratégias de aprendizagem; e tomar decisões pedagógicas favoráveis ao seu avanço”. Mesmo com esse agravante, o professor deve estabelecer uma relação diferente com cada estudante, cabe a ele provocar mudanças que favoreçam o aprendizado individual afetando diretamente o rendimento de sua turma, pois ninguém melhor que ele para conhecer seus alunos. O que um professor percebe num aluno, outro não percebe. Nesse sentido, o sucesso no ensinar está na ação mediadora, que ocorre a partir da análise qualitativa das aprendizagens, aquilo que o educador faz para favorecer a evolução dos conhecimentos do educando. Para Moretto, o real sucesso acontece quando o professor estabelece seus objetivos e os deixam claros para seus alunos, usando estratégias de ensino adequadas e conteúdos relevantes com o contexto em que estão inseridos. No tocante à prática avaliativa, o profissional competente é aquele que: utiliza diferentes instrumentos para avaliar, possui habilidade para elaborar bem as questões de prova, utiliza linguagem clara, administra valores culturais ligados à avaliação e criam condições para tranquilizar os alunos no momento da avaliação. “Ele não é culpado pelos resultados obtidos pelos alunos e sim responsável. Será culpado se não for comprometido.” (HOFFMANN, 1998) Para Regina Leite Garcia, (2000), quando a aprendizagem se resume em provas e notas, o educando passa a memorizar o conteúdo para reproduzir na prova “desaparecem o debate, a polêmica, as diferentes leituras do mesmo texto, o exercício da dúvida e do pensamento divergente, a pluralidade.” Desta maneira segundo a autora, a sala de aula deixa de ser um ambiente criativo para se tornar um simples espaço de reprodução das verdades do professor. O aluno que recebe as melhores notas é aquele que repete as ideias do professor enquanto que o “aluno- problema” é aquele que expõe suas ideias que podem ser 35 divergentes às verdades do professor. O aluno que tira 10 nas provas não quer dizer que aprendeu, ele pode ter só memorizado as questões, enquanto o outro que tirou menos pode saber muito mais que ele. O resultado da prova pouco dirá ao professor ou professora sobre o processo de aprendizagem de cada aluno; sobre as dificuldades que cada um enfrenta e do que sabe além do perguntado na prova; de sua capacidade de fazer sínteses, de comparar, de criticar, de criar, e, o que é mais importante, o que do que foi ensinado e aprendido contribuiu para que cada um dos alunos e alunas melhor compreendesse a sociedade em que vive a natureza de qual é parte e a si próprio enquanto ser da natureza e da cultura. (GARCIA, 2000, p.42) Segundo a autora, o fracasso escolar é um processo construído “desde o início da escolaridade”, e a causa para tal problema está: nos cursos de magistério e licenciaturas que não formam professores competentes, nas salas lotadas de alunos, na falta de recursos didáticos, falta de conforto, segurança e espaços adequados nas escolas, entre outros. Para Esteban, (2000), “A avaliação é uma prática de exclusão na medida em que vai selecionando o que pode e o que deve ser aceito na escola.” A escola tornou-se um espaço onde só os melhores qualificados merecem destaque, desmerecendo e rotulando como alunos “problema” aqueles que precisam de um incentivo maior. Toda atividade de avaliação deve oferecer a possibilidade de que os próprios alunos possam reconhecer onde se encontram as suas dificuldades de aprendizagem, o mesmo valendo para o professor o que irá permitir a superação ou amenização das mesmas. Deve-se ressaltar que a escola na atualidade ainda traz consigo muitos métodos arraigados da educação tradicional, mormente quanto à forma de avaliar, mesmo com todos os incrementos tecnológicos e em várias outras áreas do conhecimento, ainda assim, muitos professores têm a certeza de que são os detentores do saber absoluto fazendo uso errôneo de um autoritarismo já há muito decadente em suas salas de aula, e dentro desse tipo de comportamento, fazem da avaliação da aprendizagem escolar um meio para constranger, inibir, excluir e firmar esta autoridade perante seus alunos. 36 Pais, sistema de ensino, profissionais da educação, professores e alunos, todos têm suas atenções centradas na promoção, ou não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. O sistema de ensino está interessado nos percentuais de aprovação/reprovação do total dos educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio da ameaça; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e, para isso, servem-se dos mais variados expedientes. O nosso exercício pedagógico escolar é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem. (LUCKESI, 2003, p. 18) Os professores e a escola não se encontram cientes o bastante sobre os efeitos que a avaliação causa em crianças e adolescentes. Um dos principais malefícios causados pela mesma é o alto índice de reprovação que se estabeleceu nas escolas, o que de fato comprova que os tipos de avaliações que são regularmente usados pela maioria têm contribuído sobremaneira para o fracasso escolar assim como para a evasão escolar. 37 4.8 IMPORTÂNCIA DO ERRO PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 38 A profissão docente está centrada em ensinar o que é correto, não o que é errado. Partindo dessa afirmativa, o professor se vê responsável por identificar os erros dos alunos e puni-los. O próprio sistema de avaliação dá condições para essa prática. Os alunos são testados, e se ficam com notas baixas não passam para série seguinte, são retidos no mesmo ano letivo. Segundo Moretto, quando se reflete sobre o conceito de erro no contexto escolar, é evidente a vontade da comunidade escolar que ele seja erradicado. Mas, nem sempre buscam a razão do erro nem o utilizam para buscar o acerto. Pegamos como exemplo, um aluno quando pronuncia uma palavra errada, há uma lógica que prestigia sua linguagem. O contexto em que ele vive permite tal pronúncia. Tudo que parece erro de linguagem deve ser analisado no contexto em que a linguagem é utilizada, e a correção deve ser feita obedecendo às características do contexto. Para Hoffman (2014), apontar os “erros” dos alunos não é uma postura propriamente mediadora. Nem todas as “incorreções” apontadas são compreendidas pelos alunos. Pode-se indicar o que ele errou, mas não se garante que ele compreenda porque errou. A avaliação deve constituir uma oportunidade real de demonstrar o que os sujeitos sabem. Somente assim o professor poderá detectar a consistência do saber adquirido e a solidez sobre a qual vai construindo seu conhecimento [...] Evidenciar erros, e também penalizá-lo, não serve para esses propósitos; epistemologicamente, equivale a deter, e inclusive romper, a própria dinâmica do processo. (MÉNDEZ, 2002, p.82) Quando o professor faz as correções de provas, tarefas, exercícios e usa os resultados obtidos para confirmar ignorâncias não há aprendizagem. Mas, quando ele junto com o aluno busca refletir sobre os erros e acertos, a “avaliação convertese em atividade de aprendizagem estreitamente ligada à prática reflexiva e crítica.” Mendéz, (2002), desta maneira ambos são beneficiados uma vez que a avaliação é uma fonte de conhecimento. O erro deve ser visto como uma etapa normal que surge no processo dinâmico da aprendizagem. É com a ajuda do professor que o aluno vai transformar o erro num aprendizado que acontece todos os dias de formas, diferentes, com pessoas diferentes e em tempos diferentes, o educador precisa estar atento a essa questão. Essa interação próxima favorece uma convivência prazerosa de diálogo, o professor permite ao aluno se arriscar e errar e por meio do erro encontrar o acerto. 39 [...] entende-se que o erro é resultado do desconhecimento, revelador do não–saber do (a) aluno (a), portanto uma resposta com valor negativo. O erro deve ser substituído pelo acerto, que é associado ao saber, e se veiculado pela escola, [...] Saber e não-saber, acerto e erro, positivo e negativo, semelhança e diferença são entendidos como opostos e como excludentes [...] (ESTEBAN, 2000, p.15) Ainda segundo a autora, quando a prática da avaliação está em classificar as respostas dos alunos como certas ou erradas a diversidade não está sendo valorizada. O conhecimento que os alunos trazem consigo provenientes de experiências fora da escola é um conhecimento em processo de superação. As crianças vão aprimorando sua forma de pensar à medida que encontram novos desafios e situações que reformulam suas hipóteses. O professor como mediador do processo de construção de conhecimento deve estar atento a esses momentos de erros e usá-los para construção do conhecimento. 5 CONCLUSÃO 40 O presente trabalho teve como foco inicial analisar a avaliação escolar e o seu processo histórico, bem como as suas variadas formas, tais como a diagnóstica, a formativa, classificatória ou somativa e a sua aplicação nos dias atuais. Analisar os instrumentos de avaliação que são adotados no sistema educacional no Brasil, como provas, trabalho em grupo, autoavaliação, debate, observação e portifólio, entre outros. No decorrer do desenvolvimento deste trabalho várias descobertas foram feitas e contribuíram para ampliar meus conhecimentos como educadora. Observou-se que a prática avaliativa e o fracasso escolar, assim como a evasão escolar encontram-se intimamente ligadas, sendo necessária uma intervenção urgente no modo de avaliar, com a aplicação de novos métodos avaliativos que incluam, e, não excluam os educandos do meio escolar e social onde vivem. Durante as pesquisas que foram realizadas em vários autores foi possível perceber a complexidade do ato de avaliar e que a avaliação não deve somente buscar números, ou seja, as notas obtidas pelos alunos, mas, sim, se esses alunos foram capazes de apreender o conteúdo que foi ministrado. A contribuição do referencial teórico para a compreensão da avaliação como sendo um dos métodos para identificar as dificuldades dos alunos no início do ano letivo, ou o mais breve possível, antes de introduzir os conteúdos foi de suma importância para entender o processo da avaliação escolar e agregar conhecimentos sobre a mesma para colocá-los em prática no momento oportuno. Com a elaboração de todo o desenvolvimento desta pesquisa espera-se poder contribuir para a reflexão dos profissionais da educação sobre como praticar uma avaliação inovadora, buscando desempenhar com competência o papel de professor, tendo um novo entendimento sobre o verdadeiro sentido da mesma no processo de ensino aprendizagem mudando a concepção de que a nota é o mais importante. Acredita-se que o mesmo possa ser um meio para recomendar a todos os interessados a melhoria da prática da avaliação escolar tornando-a mais significativa e mais humanizante e eficiente para todos aqueles que estejam iniciando sua vida profissional e aos que já se encontram no desempenho de suas atividades. Neste sentido, pretende-se, ainda, alertar sobre o real papel da avaliação do desempenho escolar e que o mesmo não deve ser utilizado como um instrumento de exclusão social, e, sim, o contrário, que a mesma seja realizada de forma a exercitar 41 a verdadeira inclusão social escolar, e, que esta, não continue sendo uma consequência da prática pedagógica desvirtuada e adotada pela política educacional do país. Desvendar a complexa tarefa de avaliar a aprendizagem dos alunos, procurando novas formas de realizá-la de modo mais abrangente e eficaz, de tal forma que todos tenham acesso à escola e na mesma permaneçam com o devido sucesso em seu aprendizado. Espera-se que a pesquisa realizada possa ajudar a sanar as dificuldades evidenciadas pelo aluno e não ser apenas uma prática que construa barreiras entre aquele e o professor, tornando-se um momento de “acerto de contas”, e, entender que é com os erros que ocorre a evolução de todo profissional consciente do seu importante papel ao lidar com pessoas em formação. Fica evidenciado, também, que compete ao professor assumir uma postura coerente, atualizada e evolutiva para modificar esse paradigma promovendo uma melhoria significativa da educação de maneira igualitária, sem qualquer exceção. REFERÊNCIAL TEÓRICO 42 ARANHA, M. L. de A. História da Educação, 3. ed. São Paulo: Moderna, 2014. ÁLVARES MÉNDEZ, Juan Manoel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. (trad.) SCHWARTZHAUPT CHAVES, Magda. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. Biblioteca Virtual da FAPAM; GARCIA, Regina Leite. A avaliação e suas implicações no fracasso / sucesso. In: ESTEBAN, Maria Teresa (org.). 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