Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA GRADUAÇÃO ADMINISTRAÇÃO E PROCESSOS GERENCIAIS MARINGÁ-PR 2010 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação de Ensino: Viviane Marques Goi Coordenação de Curso: Reginaldo Aparecido Carneiro Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação Comercial: Juliano Mario da Silva Capa e Editoração: Luiz Fernando Rokubuiti, Fernando Henrique Mendes e Ronei Guilherme Neves Chiarandi Supervisão de Material: Nalva Aparecida da Rosa Moura Revisão Textual e Normas: Edson Dias dos Santos, Erica Coimbra, Hérica Pichur, Janaína Bicudo Kikuchi e Lilian Maia Borges Testa Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimação - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maringá - Paraná - www.cesumar.br NEAD - Núcleo de Educação a Distância - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a distância: C397 Introdução à psicologia/ Alexandra Arnold Rodrigues. Ma- ringá - PR, 2010. 83 p. “Curso de Graduação em Administração e processos Ge renciais - EaD”. 1. Administração. 2. Psicologia. I.Título. CDD - 22 ed. 150 CIP - NBR 12899 - AACR/2 “As imagens utilizadas nesta apostila foram obtidas a partir dos sites contratados através da empresa LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ. Animation Factory; Purestockx; Photoobjects; Clipart e Ablestock”. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues APRESENTAÇÃO Olá, alunos, como estão? Prontos para uma nova empreitada? Sou a professora Alexandra Arnold Rodrigues e fiz esse livro “Introdução à Psicologia” para que todos pudessem conhecer mais profundamente essa ciência. Isso permitirá que vocês façam novas descobertas: que saibam como se dá a constituição dos homens e como utilizar a psicologia no meio organizacional. Dito isso, é com muito prazer que apresento a vocês essa breve exposição a respeito do conteúdo de nosso livro. Para tanto, caminharei junto com vocês pelos capítulos. Vou demonstrar, passo a passo, como estudá-los. Vocês irão gostar! Observem que a nossa primeira unidade, “PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA”, vai apresentar um esboço da história da psicologia. Com isso, vocês conhecerão o processo que deu o status de ciência para esta área do conhecimento, garantindo sua autonomia em relação a filosofia e fisiologia. Vocês conhecerão algumas teorias que auxiliaram na consolidação do processo industrial no século XVIII e, em seguida, terão acesso as três grandes correntes da psicologia: • O Behaviorismo ou comportamental. • A Gestalt ou estudo da forma. • A Psicanálise. Vocês perceberão que cada linha teórica tem um objeto de estudo específico: comportamento, percepção, inconsciente, respectivamente. Para investigá-los, cada corrente da psicologia criou métodos e técnicas diferenciadas, como vocês verão ao longo do capítulo. Será primordial que saibam identificar os benefícios que cada corrente pode propiciar às organizações. Por isso, depois de ler a Unidade I, complemente seus conhecimentos com as dicas de leitura abaixo. Dica I: Vejam as explicações rápidas de Valéria Labat, sobre a psicanálise nas organizações em: http://www.lumiarprojetos.com. br/Texto.aspx?id=134 Outros dois artigos científicos que podem dar ótimas contribuições para nosso estudo sobre psicanálise são: • “Algumas contribuições teóricas do referencial psicanalítico para as pesquisas sobre organizações” de Ana Magnólia Bezerra Mendes (UNB), em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v7nspe/a10v7esp.pdf. • “Psicologia do trabalho e Psicanálise: Uma Possibilidade de Compreensão do Sofrimento Psíquico” de Daniele Almeida Duarte, Mariana Devito Castro e Francisco Hashimoto, em: http://www.assis.unesp.br/encontrosdepsicologia/ANAIS_ DO_XIX_ENCONTRO/112_DANIELE_ALMEIDA_DUARTE.pdf Dica II: Para conhecer a aplicação da Gestalt nas organizações, um ótimo artigo é: “Gestalt das Organizações” de Márcia Carvalhal e Marcello Chamusca. Em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1585-1.pdf INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 5 Dica III: Sobre o Behaviorismo, um artigo interessante para ler é: “A Contribuição Behaviorista para a Administração publicado 20/02/2008 por José Carlos de Souza Colares em: http://www.webartigos.com/articles/4340/1/A-Contribuicao-BehavioristaPara-A-Administracao/pagina1.html#ixzz0x9c2NlkA. Leia também: “O Behaviorismo na Teoria das Organizações” de Fernando C. Prestes Motta. Publicado na revista Administração de Empresas, n.10, vol. 2. Rio de Janeiro. jul/set. de 1970. Acesso ao artigo pelo link: http://www16.fgv.br/rae/ artigos/2625.pdf Muito bem alunos, vamos agora para a Unidade II, “A PSICOLOGIA NO MUNDO DO TRABALHO”. Esta unidade vai percorrer os meandros da psicologia do trabalho em suas três faces: • Psicologia Industrial; voltada à produtividade mecanicista e a adequação dos homens aos cargos, como “peças” da engrenagem. A psicologia deste período dançou conforme o ritmo de Taylor e Fayol. • Psicologia Organizacional; embalada pelos estudos de Elton Maio sobre as Relações humanas, entendidas como um fator de produtividade e motivação. Abre assim, amplo espaço para a psicologia social que se concentrou em trabalhos de liderança, dinâmicas de grupo, administração de conflitos etc. • Psicologia do trabalho; resgata a possibilidade de dar significados simbólicos ao trabalho, para consolidar a identidade do trabalhador e gerar saúde mental. São frutos deste momento as análises institucionais, a primazia de trabalhos com equipes e gestão participativa, atuação interdisciplinar (sociólogos, médicos, administradores), foco na (re)construção da cultura organizacional etc. Nosso grande referencial para está “última” ou atual fase da psicologia é Christophe Dejours. Esse autor vem instrumentalizando diversas discussões a respeito da saúde mental do trabalhador, o que gera uma busca pela tão falada qualidade de vida no trabalho. Atualmente, melhorias nesse âmbito têm sido anunciadas por diversas empresas e a psicologia do trabalho tende a lidar com esse novo imperativo. Para saber mais sobre Dejours e sua teorização a respeito do mundo do trabalho, peço que façam uma pesquisa. Proponho que encontrem e conheçam algum dos textos dele antes de iniciar a leitura deste capítulo, o que acham da ideia? Não será difícil encontrar algo sobre sua história e em qualquer biblioteca ele é uma referência indispensável! Vamos lá? Percebam que na nossa última unidade, o capítulo V, eu retomo essa questão para falar sobre uma parceria que vem dando certo: administração e psicologia. Por isso, as leituras de Dejours serão de grande valia. Finalizado a Unidade II, não se esqueçam de ler o texto-fonte indicado na leitura complementar: “Psicologia do Trabalho em Três Faces” de Jader dos Reis Sampaio. Este texto se encontra no livro “Psicologia do Trabalho e Gestão de Recursos Humanos: Estudos Contemporâneos”, organizado por GOULART e SAMPAIO (1998). Vejam que é um livro repleto de artigos interessantíssimos para quem quer conhecer mais a área de Rh. Contudo, devemos perceber que qualquer gestor tem obrigação de conhecer um pouco sobre os recursos humanos. Ora, os gestores de todas as áreas, por vezes, acabam lidando com pessoas, não é? Agora vamos percorrer as explicações da Unidade III, “UMA VISÃO HOLÍSTICA DO HOMEM”. Nesta unidade, eu tento mostrar que muitas de nossas atuações profissionais são mediadas pela visão de homem e de mundo que nós temos. Isso determina ações competentes e éticas! Por isso, vocês verão que trabalhar com pessoas exige considerar todos os fatores que influenciam a constituição dos homens: 6 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância • Vínculos afetivos. Relações com pais, irmãos, família em geral, amigos de trabalho, de estudo, vizinhos etc. Todos deixam suas marcas na nossa identidade e ajudam a constituir o que somos. Se seu colega de trabalho faz um elogio pelo relatório que entregou, você tem parâmetros do quanto é competente. É no contato com os outros que nos constituímos como seres únicos. • Momento histórico. As características históricas tendem a afetar diretamente nosso modo de ver e fazer as coisas. Os avanços tecnológicos de hoje são facilmente absorvidas pelas novas gerações, contudo, as pessoas mais velhas têm maiores dificuldades em assimilar tanta novidade. Metaforicamente, enquanto a nova geração valoriza o “fast food” (comida rápida), pessoas de duas gerações anteriores valorizavam o tempo de preparação, realização e digestão da comida. Se hoje cada um come sozinho, na hora que pode e o que encontrar; antigamente o horário da refeição era sagrado, era momento de confraternizar e unir a família. Percebem as diferenças? Reflitam sobre as influências do atual momento histórico na sua constituição enquanto ser humano. • História de vida. Este fator é mais fácil pra vocês perceberem, não é? Cada pessoa tem uma história única: cada conflito, dificuldade, desejo, sonho, dor etc. Agora reflitam um pouco sobre suas histórias de vida. • Constituição biológica ou genética. Bom, sabemos o quanto herdamos traços de nossos descendentes e que isso está impresso em nossa pele, em nosso corpo. As possíveis doenças que possamos vir a ter e as nossas limitações corporais. O funcionamento do corpo como um todo é marcado por essa herança. Entretanto, veremos que o corpo responde também as fragilidades e lacunas psíquicas. • Psiquismo. É nele que estão contidos todos os nossos pensamentos e elementos simbólico-valorativos que constituem nossa individualidade, nosso modo de ver as coisas e lidar com elas. Após ler esse livro, vocês terão novos elementos psíquicos disponíveis para lidar com o mundo, no caso, com o mundo do trabalho. • Meio ambiente. Os estímulos do meio são indispensáveis para a constituição do homem desde sua infância: falar com ela, ter contato com cores, pegar coisas e desbravar o mundo. O processo de maturação ou desenvolvimento físico também depende de uma boa nutrição oferecida pelo meio. E de forma mais ampla, a dinâmica e a estrutura social em que o homem está inserido, também constitui seu ser e determina atitudes ou comportamentos diante de situações específicas. • Cultura. A cultura é, em parte, a soma desses elementos e é fator primordial para compreender um grupo de pessoas, sejam elas de um país, de uma cidade, região ou empresa. Uma família tem uma cultura própria que a diferencia de outra família, por exemplo. Vocês perceberão que estes diversos elementos singularizam os homens, os diferenciam. Isso permite que duas pessoas em uma mesma situação e lugar tenham reações completamente contrárias. Mesmo que essas pessoas sejam irmãos gêmeos! Pensem: quantas vezes vocês veem irmãos que destoam completamente em suas atitudes? Quantas situações conflitivas vocês já viram ocorrer em grupos extremamente coesos? Ora, se somos todos diferentes uns dos outros, o conflito será inevitável quando essas diferenças aparecem nas relações, não? Imaginem os inúmeros conflitos cotidianos que uma organização sustenta. Para os gestores, é ferramenta indispensável conhecer um pouco sobre essas diferenças individuais para melhor administrar esses conflitos. Observem que, nesta unidade, depois de observarmos essas diferenciações, passaremos a uma definição do conceito de personalidade. Vocês conseguiriam me dizer o que é personalidade? Já ouviram alguém dizer “aquela pessoa tem personalidade forte”? Será que podemos falar de “personalidade forte”? Veremos que justamente essas pessoas são aquelas que têm uma maior coerência entre o que pensam e o que sentem com relação aos seus atos. Agora nos cabe fazer outra pergunta: Vocês acreditam que existe diferença entre personalidade e identidade? E qual seria ela? Já ouviram falar que o trabalho constitui e consolida a identidade do trabalhador? INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 7 O que acham de ler essa unidade e depois tentarem me responder essas perguntas? Descubram também, nesta unidade, as características típicas de cada fase de desenvolvimento humano a partir da teoria de Erikson e entendam como se consolida uma cultura. Só entendendo o que é cultura é que saberemos identificar e analisar conflitos subjacentes a cultura organizacional. Esse é o primeiro passo para planejar mudanças organizacionais sem fragilizar a cultura. Passemos agora a Unidade IV, “OS GRANDES TEMAS DA PSICOLOGIA”. Vocês teriam alguma ideia do que seriam esses temas centrais da psicologia? Trata-se de algo geral para todas as áreas da psicologia. Um campo de estudo que se tornou consenso: os processos mentais! Nossa unidade apresentará a vocês conceitos como a atenção, memória, inteligência, motivação, percepção. Uma boa compreensão desses temas permite ao gestor repensar o ambiente e a estrutura organizacional, de modo a minimizar o impacto sobre a saúde do trabalhador. Permite, ainda, maximizar a qualidade da comunicação interna da empresa e viabiliza a mobilização da motivação dos colaboradores. Áreas do conhecimento como a ergonomia e a criação de equipamentos de segurança são uma resposta das empresas a esses processos humanos que serão vistos por vocês na Unidade IV. As propagandas também são elaboradas em cima dessa compreensão sobre as sensações, percepções e motivação dos consumidores, apelam neste sentido para a memória e a atenção do “ouvinte”. Por isso, gestores de Marketing também costumam ir a fundo no estudo desses elementos psíquicos. Ficaram curiosos? Leiam a unidade e tentem responder: • É eficiente um carro de som alardeando repetidamente o seu novo produto pelos bairros da cidade? • A cor dos móveis, parede ou do ambiente de trabalho como um todo, influencia na produtividade? • A inteligência é um dom que uns tem e outros não? • Todos os homens só se motivam a trabalhar se for para receber dinheiro? Por isso, quanto mais dinheiro, mais trabalho? • As pessoas tendem a memorizar melhor as coisas se mais de um tipo de estímulo sensório for apresentado? • Tudo o que passa pelos nossos cinco sentidos são percebidos? • O que te chama mais atenção: um anúncio de próteses dentárias ou uma reportagem sobre “empresas que deram certo”? As respostas vocês encontrarão ao final do livro, não vale colar. Se já conseguem dar as respostas depois de ler a unidade, é sinal que aprenderam bem como funcionam os processos mentais dos homens. Depois disso, será hora de aplicar esses conceitos ou, ao menos, de analisar os ambientes de trabalho que você conhece e detectar alguns problemas. Aceitam o desafio?! Um ótimo artigo sobre comunicação interna é “5 ações para melhorar a comunicação da sua empresa, em: http://www. administradores.com.br/informe-se/artigos/5-acoes-para-melhorar-a-comunicacao-da-sua-empresa/29892/ Ou ainda “A comunicação interna das Organizações sociais” de Marcio Zeppelini, em: http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/marcio_zeppelini_comunicacao.pdf 8 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Algo que cabe muito bem para aprender os conceitos desta unidade e entender sua utilidade no ambiente de trabalho é a teoria dos 5S, vocês conhecem? Conheça esta teoria por meio dos seguintes vídeos: http://www.youtube.com/watch?v=fd3nfG8rMcQ&feature=related e http://www.youtube.com/watch?v=wag1oz12TtY&feature=related Depois de ler esses breves artigos e de assistir esses vídeos recomendados, vocês podem passar para a próxima unidade. Observem que na Unidade V, temos um fecho para nossa disciplina, numa tentativa de pontuar a posição que a psicologia assume dentro das organizações. Uma delas é diante das possibilidades de mudança ou de desenvolvimento organizacional. Será que as mudanças organizacionais são processos fáceis? Sabemos que não. Mudar algo que está cristalizado há algum tempo exige tato e uma boa escuta. Exige ainda uma análise organizacional. Só com esse diagnóstico e com cautela é que poderemos caminhar rumo às mudanças. Mas, lembrem-se: uma mudança efetiva depende da adesão dos envolvidos. Por isso, um processo de comunicação eficaz, treinamentos e discussões a respeito das mudanças de comportamento, são pertinentes nestas situações. Na Unidade V, “O HOMEM NAS ORGANIZAÇÕES”, vocês terão acesso ao conceito de aprendizagem. Já se perguntaram como aprendemos as coisas? E como será que ocorre a aprendizagem de novos conhecimentos no ambiente de trabalho? As constantes inovações tecnológicas vêm exigindo uma educação continuada dos colaboradores e algumas empresas vêm criando espaços de ensino atrelados a estrutura da organização, algo hoje chamado de “ensino coorporativo”. De forma geral, veremos nesta unidade que o processo de aprendizagem gera mudanças de atitude e consequentemente, mudança de comportamento. Outro ponto considerado nesta unidade diz respeito ao desempenho de papeis na organização. Pensem em quantos papeis sociais vocês desempenham no dia a dia de nossa cultura: aquela que é mãe também desempenha em algum momento o papel de filha; se é professora, às vezes, também é aluna ao longo dos cursos que faz para aperfeiçoar-se; se é funcionária de um estabelecimento, pode ser cliente de outro; por vezes cumpre papel de amiga, às vezes de mulher etc. Agora, pensem em quantos e quais são as delimitações de papeis desempenhados por um trabalhador numa cultura organizacional. Pensaram? Muita coisa não? Entregar relatório, fazer avaliação subordinados, preparar treinamento, fechar cotações etc. Há sempre uma lista de responsabilidades e atribuições de cada colaborador que geralmente ficam registradas na descrição de cargos. Para orientar melhor o desempenho da função ou papel na organização, basta que conheçamos o conceito de “cliente”. No caso, vocês perceberão que cliente não é só o aquele que compra produtos e serviços de nossa empresa, mas sim todos aqueles que recebem o benefício do “papel” organizacional desempenhado. Agora é hora de aprofundar esses conceitos e sanar qualquer dúvida ou curiosidade que tenha surgido nessas primeiras páginas de orientação. Aproveitem as dicas, sugestões de leitura e exercícios ao longo do livro, eles ajudarão a fortalecer o que aprenderam. Sigam em frente e não se preocupem, pois vamos nos reencontrar ao final do livro para algumas exposições finais. Façam um bom proveito e mãos à obra! INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 9 SUMÁRIO UNIDADE I PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA O QUE É A PSICOLOGIA...................................................................................................................................... 16 A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA...........................................................................................................................17 BEHAVIORISMO, GESTALT E PSICANÁLISE: PRESSUPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES.................................... 19 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA A ADMINISTRAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS.............................................................................................................................................. 24 UNIDADE II A PSICOLOGIA NO MUNDO DO TRABALHO PSICOLOGIA INDUSTRIAL: OS PRIMÓRDIOS DO VÍNCULO PSICOLOGIA-ADMINISTRAÇÃO...................... 29 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL: A TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS..................................................... 30 PSICOLOGIA DO TRABALHO: UM RESGATE DOS SIGNIFICADOS DO TRABALHO HUMANO..................... 32 AS PRÁTICAS DOS PSICÓLOGOS DO TRABALHO........................................................................................... 33 UNIDADE III UMA VISÃO HOLÍSTICA DO HOMEM HOMEM, UM SER BIO-PSICO-SOCIAL............................................................................................................... 37 MATRIZES DA PERSONALIDADE........................................................................................................................ 40 CULTURA: UMA PRODUÇÃO HUMANA.............................................................................................................. 42 UNIDADE IV OS GRANDES TEMAS DA PSICOLOGIA SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES.............................................................................................................................51 ATENÇÃO E MEMÓRIA......................................................................................................................................... 56 INTELIGÊNCIA....................................................................................................................................................... 57 EMOÇÕES............................................................................................................................................................. 58 MOTIVAÇÃO.......................................................................................................................................................... 59 PRINCIPAIS TEORIAS MOTIVACIONAIS............................................................................................................. 60 UNIDADE V O HOMEM NAS ORGANIZAÇÕES APRENDIZAGEM, ATITUDES E MUDANÇA DE COMPORTAMENTO................................................................ 65 ADEQUAÇÃO AOS PAPÉIS ORGANIZACIONAIS................................................................................................ 69 TENSÃO ENTRE INTERESSES INDIVIDUAIS X ORGANIZACIONAIS............................................................... 70 SAÚDE MENTAL NO TRABALHO: UMA PREOCUPAÇÃO ESTRATÉGICA DAS ORGANIZAÇÕES.................. 72 CONCLUSÃO......................................................................................................................................................... 76 REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................... 83 UNIDADE I PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues Objetivos de Aprendizagem • Conhecer a ciência psicológica, sua origem, fundamentos que a norteia e seus vários campos de aplicação. • Identificar e assimilar a importância da psicologia para os homens, a partir de sua amplitude e das diversas contribuições que têm dado às instituições sociais e às outras ciências. • Valorizar esta ciência enquanto força propulsora e solidificadora das relações humanas seja dentro das organizações ou no cotidiano. Portanto, reconhecê-la como um valioso auxílio/amparo aos profissionais da administração. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Definição do termo “psicologia” • Bases filosóficas da Psicologia • Escolas e correntes que constituíram e constituem a ciência psicológica • Alguns campos de estudo e contribuições à Administração • Característica interdisciplinar da Psicologia Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ INTRODUÇÃO Olá alunos! Sejam bem-vindos à disciplina de Introdução à Psicologia. Introduzir a psicologia às outras áreas do conhecimento, não é uma tarefa fácil. Anos de estudos precisam ser resumidos em apenas algumas páginas. Entretanto, a missão aqui é de fornecer as bases teóricas centrais que possam servir de amparo a todo administrador e gestor que prima por valorizar as pessoas. Para começar, vale pontuar que a maior contribuição da psicologia no campo da administração vem sendo a tentativa de reatar a grande cisão construída ao longo da história entre o homem que produz e o homem que sente. Trata-se de resgatar a totalidade e complexidade do homem, o que veremos na Unidade III. Por isso, hoje se fala tanto em humanização do trabalho. São inúmeras as situações que nos afligem no dia a dia. Marcas de um viver que busca, incessantemente, a tão desejada felicidade, mas que para tanto, tem de se defrontar com sólidas barreiras sociais, com os conflitos e com as dores das inevitáveis perdas inerentes à existência humana. Esse homem que sente, também trabalha. Ao entrar no ambiente de trabalho, esse homem não irá retirar de si e guardar em uma caixinha os seus sentimentos, emoções, desejos, sofrimentos etc. para que fiquem do lado de fora da porta da organização: Carlos, confuso e desanimado, teve de deixar a noiva, grávida no Brasil, e ir para os Estados Unidos trabalhar; Yamada sofre por ter perdido sua casa e sua mãe durante os tremores de terra na China; Júlia implementou um novo projeto na empresa que trabalhava, teve enorme sucesso, entretanto, não foi reconhecida e sua colega de trabalho recebeu os benefícios do processo. Rafael... Daiane... Pedro... Michele.... Somos todos personagens dessa enorme trama da vida. Casos como os citados acima nos acometem cotidianamente. Vale questionarmos: quais serão as consequências de tais fatalidades para a produtividade destes homens no ambiente de trabalho? Qual é o papel das organizações e gestores diante de tais situações particulares? Punir ou amparar? É em meio a estes contextos, de sofrimentos, angústias e questionamentos sobre o homem, que a ciência psicológica se edifica. Para tanto, a psicologia empreita pesquisas e análises a respeito da complexa natureza humana. Ela surge, então, visando dar respostas, e até soluções, a todo este desamparo e a esta fragilidade humana. Esta primeira unidade introduz o conceito de psicologia e resgata um pouco da sua história. Explicita que a Psicologia tem suas raízes na filosofia, surgindo da necessidade que o homem teve de pensar-se e explicar-se a INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 15 si próprio. Portanto, seu fundamento é a reflexão sobre o homem. Pontuam-se, ainda, nesta unidade, as múltiplas faces da Psicologia, seus desdobramentos em vários campos de estudos, bem como a sua solidificação enquanto ciência. Algo que também veremos é a estreita relação que a psicologia tem com inúmeras ciências, graças a sua amplitude e por isso acaba assumindo uma função de respaldo e complemento diante de outros campos de estudo. Neste sentido, a Administração e os sub-campos afins só tendem a se beneficiar desta característica da Psicologia. Ao longo da Unidade I, vocês perceberão a influência e o suporte da psicologia à administração, seja em suas teorias Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ ou na sua aplicação. Então, vamos lá. O QUE É A PSICOLOGIA? A definição etimológica do termo “psicologia” constitui-se em uma junção de dois vocábulos gregos: “psyché” (alma, espírito, mente) e “logos” (estudo, razão, compreensão). Ou seja, “psico-logia” seria o estudo ou a compreensão da alma. A “alma” humana foi objeto de estudo dos filósofos gregos por muitos séculos e era entendida como uma realidade metafísica. Mas, o que seria “símbolo da psicologia – letra grega “psi”.”. uma realidade metafísica? Seria uma realidade fora do alcance dos sentidos, não passível de apreensão por meio da experiência – não podia ser vista ou tocada. Nós, seres humanos, teríamos acesso apenas às manifestações da alma, como por exemplo: o acesso às emoções, ao pensar, às percepções etc. E hoje, o que estuda a psicologia? Para responder a esta questão, vamos resgatar um pouco da sua história. Para os povos primitivos, as condutas e a natureza humana eram entendidas por meio do sobrenatural: maus espíritos, fúria dos deuses etc. Os filósofos gregos foram os primeiros a explicar as manifestações da natureza (inclusive o comportamento e a matéria humana) por meio de elementos naturais: a água, o fogo, o ar etc. Os famosos filósofos Sócrates e Platão, também trouxeram vários questionamentos psicológicos ao cerne da filosofia da época. O primeiro apontava a razão como um elemento “limite”, que separava o homem dos animais. Já Platão, procurava delimitar um “lugar” no corpo humano para a razão/alma. Este lugar, definido por ele, seria a cabeça e a medula espinhal seria o que ligaria a mente ao corpo. Aristóteles, discípulo de Platão, estudou as diferenças entre a razão, percepção e sensação, o que se ousou considerar um “primeiro tratado da psicologia”. Apesar de todas estas bases lançadas na Grécia à construção da psicologia, durante a Idade Média, novos paradigmas se impuseram devido à preponderância e hegemonia do cristianismo. Isto influenciou e permeou 16 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância o desenvolvimento da psicologia daquele período, que foi delimitada pelo conhecimento religioso: o único conhecimento validado na época. Neste contexto, figuras como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino marcam presença com suas teorias que serviram de suportes à igreja católica. A partir deles a racionalidade ganha o status de manifestação divina no homem. Devemos nos atentar para o fato de a psicologia ter pertencido ao campo da filosofia por todo este tempo e apenas Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ mais adiante começaremos a entrar em contato com uma psicologia científica. Vejamos: Com o Renascimento e as ideias Iluministas – marco na Idade Moderna – consolidam-se inúmeras ciências, em contraposição aos dogmas religiosos de outrora. Este período anunciou uma nova forma de organização social e econômica: o capitalismo. E ainda trouxe uma visão de homem antropológica, ou seja, o homem colocado no centro do conhecimento e do interesse social. A possibilidade do desenvolvimento e o enorme avanço das ciências e dos conhecimentos culminaram no que denominamos Revolução Industrial. Calcado nesta situação de mudanças e novos valores, o filósofo francês René Descartes deixou suas contribuições às ciências naturais e à psicologia. Descartes ficou conhecido pelo dualismo que instaurou na compreensão do ser-homem: dissociou o corpo da mente/alma. Ao corpo cabia um funcionamento similar às máquinas. Seus movimentos seriam “previsíveis, a partir do conhecimento de suas “peças” e relações entre elas” (BRAGHIROLLI et al, 1998). Enquanto que à mente cabia o conhecer, o raciocinar, o querer. Estes elementos estariam então, no campo da filosofia e por ser a mente uma entidade sem localização, seria imensurável e não observável. Suas ideias deixaram um legado enorme nos valores ocidentais e legitimaram teorias científicas de diversas áreas. Sua influência na administração clássica é inegável. Inclusive as relações patrão-empregado nas grandes fábricas da revolução industrial foram profundamente marcadas por esta leitura do homem. Ou seja, a cisão derivada dessa teoria entre o homem que produz e o homem que sente e pensa, passou a se reproduzir na divisão social do trabalho. A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA A partir de todas as mudanças socioeconômicas e culturais, cada vez mais, a verdade sobre o mundo, antes ditada pela igreja, ganha os palcos científicos. Da mesma forma, vê-se solidificar as bases para uma nova psicologia, agora científica. O estudo da alma foi abandonado e as verdades absolutas impostas pelo cristianismo foram agora entregues à observação, experimentação, mensuração e verificação em prol da ciência. A psicologia passa então a se preocupar com os fenômenos psíquicos, passíveis de comprovação e submissão às regras científicas da corrente positivista. A pergunta que, possivelmente, os filósofos e antigos teóricos fariam é: como enquadrar a INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 17 mente neste tipo de comprovação? A resposta estava no avanço da fisiologia, neuroanatomia e neurofisiologia. É nesses campos de estudo que a psicologia encontra um sustento científico e consolida a psicofísica. Podemos citar como referência ao estudo da psicofísica, Fechner e Weber em 1860, que estabeleceram a relação entre estímulo e sensação. Sua importância concentra-se no fato de, pela primeira vez, ser possível medir um fenômeno psicológico, garantindo assim o status de ciência para a psicologia (BOCK et al, 1997). A Psicometria (do grego psyké, alma e metron, medida, medição) teve seus primórdios datados deste período. Essa área da psicologia veio dar os fundamentos para validação, padronização e fidedignidade aos testes psicológicos. Galton, precursor dessa área da psicologia associou diversos aspectos físicos (tamanhos, número de repetições movimento, força, rapidez nas respostas etc.) com elementos psíquicos (capacidade mental, sentimentos etc.). Por isso, serviu ideologicamente ao recrutamento de soldados na primeira guerra mundial e marcou a introdução da psicologia nas indústrias. Vale pontuar que a psicologia acabou por se consolidar como ciência independente, “oficialmente”, em 1879 com a criação do primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Wilhelm Wundt foi seu criador e ficou conhecido como o fundador do estruturalismo porque buscava compreender os estados da consciência a partir de estruturas do sistema nervoso central. Neste processo, a mente perdeu a autonomia e passou a ser explicável e dependente do sistema nervoso. Em contraposição, surge a psicologia funcional, criado por William James que se focou no funcionamento e nas funções da mente em detrimento de sua estrutura, ou seja, “o que fazem os homens e por que fazem?” (BOCK et al, 1997). Para eles, as funções dos processos mentais seriam de adaptação do homem ao meio externo. Seria simplesmente uma forma de garantir a sobrevivência humana. Abrindo um parêntese, essas escolas não lhes lembram as compreensões estruturalistas e funcionalistas da administração? Pois então, seus fundamentos são muito próximos, o que muda são os objetos de estudo, em um trata-se do homem e no outro, das organizações. Observem que muitas escolas, teorias e conceituações da psicologia tendem a aparecer na administração e vice-versa. É importante ressaltar também, que ambas as escolas ofereceram fundamentos à psicologia industrial – primórdios da utilização da psicologia no mundo do trabalho – que visava o melhor ajustamento/adaptação do funcionário ao cargo, ao meio. Veremos isso melhor na Unidade II. Outra escola a se dar destaque é a associacionista, sendo Edward L. Thorndike seu mais importante representante. Ele estruturou a primeira teoria da aprendizagem na psicologia, baseada no método de associação. Esta teoria está na base dos sistemas de benefícios e salário das empresas e ainda hoje é tomada como protótipo da relação administrativa: empregador-empregado. Para Thorndike, toda vez que um comportamento é recompensado após sua emissão, ele tende a se repetir. Se ao contrário, o comportamento for castigado, ele tende a cessar. Ela denominou este sistema de “Lei do efeito”. A aprendizagem se dá com a associação destas situações (recompensadas ou punidas) a outras semelhantes, ou 18 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância seja, ocorre uma generalização do comportamento de acordo com a similaridade da situação atual com a situação inicial. Um exemplo: o aluno sabe que ao atingir as metas propostas na disciplina de um professor pode ser bonificado com boas notas, passar de ano e ganhar o reconhecimento dos colegas e da instituição. Generalizando esta situação a outras similares, este rapaz entenderá que numa empresa, se atingir as metas propostas pela gerência, poderá receber bonificações e reconhecimento profissional. Através da associação – de situações em que metas devem ser cumpridas – ele aprendeu a repetir comportamentos que culminam em bonificação. A severa crítica feita a esta leitura, inclusive dentro da administração, é resultado da compreensão do homem como um ser passivo diante de seus atos e de sua história de vida. Sustenta também a visão da administração clássica (ver na Unidade II) do “homem preguiçoso”, que só trabalha movido a recompensas materiais. Para finalizar, é importante observar que estas três escolas psicológicas, com suas respectivas teorias, não existem mais nos dias de hoje, pois foram substituídas, no século XX, por outras teorias que veremos na sequência. Entretanto, a essência destas ideias mantém-se viva ainda nos dias de hoje, seja nas teorias que as sucederam que embasam a profissão do psicólogo atualmente ou na “psicologia do senso comum”, usadas no cotidiano das pessoas em geral. BEHAVIORISMO, GESTALT E PSICANÁLISE: PRESSUPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES Como vimos, a psicologia foi, por muito tempo, propriedade de várias ciências: filosofia, fisiologia, sociologia, antropologia etc. e, enquanto ciência independente é extremamente recente. Portanto, inacabada. Apesar do status de ciência, ela não consiste em uma unidade, já que logo se ramificou, trazendo uma riqueza (e às vezes até uma confusão) conceitual. Apresenta-nos assim, um vasto campo de conhecimento ainda a ser explorado e construído. Devemos observar este fenômeno de amplitude da ciência psicológica como um reflexo da complexidade, das contradições e das singularidades inerentes à natureza humana: objeto de estudo da psicologia de modo geral. Mas, o que estuda hoje a psicologia? De forma mais específica, é possível delimitar como objeto de estudo da psicologia, tanto o comportamento humano como os processos mentais. É possível, ainda, pontuar outro objeto de estudo: as psicopatologias, ou seja, comportamentos desviantes e inadaptáveis ao meio. Cada uma das teorias da psicologia elenca e foca-se em um destes objetos e o estuda com uma metodologia própria, específica. Três dessas teorias, voltadas, inicialmente, à clínica e hoje adaptadas à administração e a outras áreas de atuação mais sociais, são: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Agora conheceremos um pouco de cada uma delas. - Behaviorismo: O Behaviorismo foi criado por John B. Watson nos Estados Unidos. Influenciado pelos ares das ciências naturais. Propôs como objeto de estudo o comportamento (behavior, em inglês) e a relação que este mantém com o meio INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 19 ambiente. A escolha por este objeto dava a “consistência que os psicólogos da época vinham buscando. Um objeto observável, mensurável, que podia ser reproduzido em diferentes condições e diferentes sujeitos” (BOCK et al, 1997, p.41). Um dos pressupostos básicos desta teoria é de que o homem se constitui nas associações estabelecidas durante sua vida (ou aprendizagens, como postulou Thorndike), entre estímulos do meio (S) e respostas ou manifestações comportamentais (R). Caberia à psicologia prever e controlar estas respostas. Ao ambiente coube um papel primordial na formação da personalidade, assim houve um abandono da ideia de instinto e uma negação da influência da hereditariedade sobre o comportamento (resposta). O russo Ivan P. Pavlov trouxe uma grande contribuição ao behaviorismo com sua teoria sobre reflexo condicionado. Ele descobriu que os comportamentos-reflexos, do tipo involuntário e inato (incondicionados), resultantes de um estímulo externo (como o comportamento de sucção do bebê ao seio da mãe), poderiam ser manipulados e condicionados a um novo estímulo, que pouco ou nada tinham a ver com o original. Um exemplo: o comportamento reflexo do cachorro de salivar ao lhe ser apresentado um estímulo externo como a “carne”. Se, o estímulo da carne for associado, aparelhado, a um estímulo neutro como o soar de um sino certo número de vezes, a resposta de salivar poderá ocorrer, por condicionamento, só com a apresentação do estímulo de soar o sino. REFLITA Este exemplo do condicionamento de Pavlov lhe lembra alguma situação do seu cotidiano? Não seria desta forma que as propagandas funcionam, na maioria das vezes? Você consegue identificar condicionamentos deste tipo no ambiente de trabalho? B. F. Skinner foi um dos sucessores de Watson, sua teoria conhecida como análise experimental do comportamento se baseou na formulação do condicionamento operante. Diferente do condicionamento (denominado respondente) que vimos anteriormente, o condicionamento operante abrange uma grande parte da atividade humana. Ela consistiria em comportamentos ou respostas que levam a um estímulo reforçador, ou seja, nossas ações sobre o mundo se dão em consequência dos resultados delas. Dois conceitos importantes, inclusive para a administração, são os de reforço positivo (aquele apresentado para fortalecer o comportamento) e negativo (instala-se um comportamento para evitar o estímulo desagradável). No primeiro caso, podemos exemplificar com a bonificação recebida após o alcance da meta estabelecida e no segundo caso, podemos citar o colaborador que trabalha sem intervalo para evitar ter de trabalhar no feriado. Outros dois métodos podem ser pontuados. Eles visam “extinguir” um comportamento indesejado ou inadequado: a ausência ou suspensão do reforço, que extingue o comportamento a longo prazo, ou a punição, impingindo um estímulo aversivo para desestimular a emissão do comportamento. Mas, o próprio Skinner pondera sobre a ineficácia da punição já que este só funciona na presença do agente punidor, portanto, tem efeitos temporários e “subprodutos” indesejáveis. Nas organizações, por exemplo, “suspensões, demissões, perdas de regalias constituem exemplos típicos de punições. Os administradores sabem que estas formas de obter comportamentos ‘não asseguram aumento de produtividade, são desagradáveis de aplicar e 20 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância contribuem para reduzir sentimentos de cooperação e aumentar a insatisfação” (FIORELLI, 2004, p. 40). O ideal seria, de fato, valer-se de reforços positivos para alterar os comportamentos inadequados – exemplo, ao invés de punir atrasos, bonificar presenças e frequência. Enfim, esta teoria tem um grande campo de aplicação na educação, consequentemente, tem importante contribuição nos treinamentos de empresas, influi na construção do clima e cultura organizacional, bem como tem constante presença nas situações que demandam mudanças comportamentais. Esta teoria por ter aplicações práticas e de curto prazo recebeu e recebe grande adesão, inclusive presta um interessante auxílio às empresas: “para os behavioristas da administração, são fundamentais o estudo dos aspectos ligados ao processo de tomada de decisões e o exame das diferentes formas de autoridade” (BERGAMINI, 2006, p. 41) Entretanto, a grande crítica dirigida a esta corrente de pensamento é de que: “o estímulo é uma forma de energia física que pode ser manipulada e controlada em laboratório. Na situação social, entretanto, as dimensões do estímulo não podem ser especificadas de um modo comparável (...) não podemos predizer, satisfatoriamente, por que não se pode identificar previamente a resposta, a natureza do reforço para o indivíduo” (BERGAMINI, 2006, p. 40). “ASSISTA AO FILME”: Laranja Mecânica, dirigido por Stanley Kubrick. Trata-se de um filme de 1971 que retrata basicamente um protagonista, líder de uma gangue de delinquentes que, após roubar, estuprar e matar, é preso pela polícia e é usado como cobaia, num experimento de condicionamento respondente, visando eliminar seus impulsos maldosos e violentos. Resultado: vira uma “laranja mecânica”, um ser orgânico que age mecanicamente. É um ótimo filme para o questionamento quanto à possibilidade de mudança de comportamento efetiva por meio do condicionamento. Veremos o que realmente possibilita a mudança de comportamento na Unidade IV. Segundo esta perspectiva, não se pode estudar cientificamente os pensamentos, desejos e sentimentos que acompanham os comportamentos. Algo que outras correntes da psicologia se encarregaram. Vamos conferir. - Gestalt: A Gestalt ou psicologia da forma (ou ainda configuração, como a difícil tradução desta palavra alemã indica) foi um movimento de origem alemã, que se desenvolveu nos Estados Unidos. Seus principais representantes: Wertheimer, Koeler e Koffka vieram romper com o pensamento mecanicista e associacionista que vigorava na psicologia. Este movimento surgiu em oposição aos estruturalistas e behavioristas apesar de elencar, igualmente, o comportamento como objeto de estudo. Sua crítica a estas duas escolas concentrou-se na concepção que elas utilizavam, para entender o comportamento, a relação de causa e efeito – estímulo e resposta. Para os gestaltistas, não é apenas o estímulo o responsável pelo comportamento, mas ele somado a percepção. Ou seja, é a maneira como percebemos o estímulo que desencadeará nosso comportamento e não o estímulo em si. Outras críticas insurgidas neste movimento são de que estas escolas que a antecederam colocavam o indivíduo numa posição de “registrador” passivo dos estímulos do ambiente, bem como se focavam no estudo de comportamentos INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 21 isolados, eliminando a complexidade, a totalidade (Gestalt) que acarreta o comportamento. Assim, para a Gestalt, o conhecimento das partes só tem significado dentro e em relações ao todo a que pertencem. Foram inúmeros os estudos a respeito da percepção visual com imagens em jogos de “figura-fundo”, de “tendência ao fechamento”, proximidade e simetria ou regularidade das formas etc. Quando tratarmos do tema percepção na Unidade IV, estes fenômenos ficarão mais claros. A administração vem valendo-se de muitos conceitos básicos produzidos por esta corrente na projeção, lançamento e apresentação ao mercado de novos produtos. Sua contribuição se dá em especial na comunicação organizacional, interna e externa, e no Marketing. - Psicanálise: A última corrente que trataremos neste item é a psicanálise, criada pelo ousado médico vienense, Sigmund Freud. Sua teoria, apesar de muito conhecida é igualmente mal compreendida. O desenvolvimento da psicanálise se deu muito independente da psicologia, que na época preocupava-se com a experiência da consciência. Freud propôs o método interpretativo para o estudo do inconsciente, o lado “obscuro” da consciência. Para ele, todo comportamento seria a expressão da “São clássicas as imagens que falseiam nossa percepção visual graças aos jogos de formas, tão estudado pelos gestaltistas, e é amplo o seu uso na publicidade”. personalidade dos indivíduos e teria uma motivação inconsciente – instintos, emoções energizariam o comportamento humano. A importância de conhecer a psicanálise fundamenta-se no fato de que com Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ ela, a preocupação da psicologia se deslocou da simples observação do comportamento aparente para uma busca de seu possível significado ou sentido oculto – manifestado nos sintomas, por meio de palavras, atos ou produções imaginárias como os sonhos, delírios ou associações livres (BOCK, 1997). Se um colaborador está chorando em sua sala, nem sempre os elementos do meio são capazes de nos dar uma compreensão correta do que está se passando com ele. Assim como o erro de um colaborador pode estar fundamentado em diversas motivações inconscientes ou até pode ser uma característica inerente à sua personalidade (não conseguir fazer ou lidar com certo tipo de trabalho), independentemente do meio. Vale à pena situar que esta abordagem, de forma pioneira, atentou para a importância da infância e da sexualidade na formação da personalidade. Freud também pressupôs algumas divisões simbólicas e até didáticas da mente, 22 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância algumas delas, possivelmente, você já tenha ouvido falar: a separação em consciência (receptor de informações do mundo externo e interno, responsável, essencialmente, pela percepção), pré-consciência (guardião de algumas lembranças e memórias acessíveis à consciência com certo esforço) e inconsciente (conteúdos não acessíveis à consciência, regido por leis próprias tendo por base as fantasias). A outra divisão da mente que Freud propôs partiu de uma reformulação teórica (como tantas outras que fez ao longo de sua produção) e resultou nas instâncias psíquicas do id, ego e superego. O id seria o reservatório da energia psíquica, em que se encontrariam as pulsões que movem o homem, sendo totalmente inconsciente. Já o ego, regido pela realidade, seria em sua maior parte consciente, apesar de também apresentar uma parte inconsciente (defesas psíquicas). Ele é o mediador da busca por satisfação, considerando as condições objetivas da realidade. Suas funções básicas são as da percepção, do pensamento, dos sentimentos e memória (BOCK et al, 1997). O superego é o representante psíquico das exigências culturais e sociais, ou seja, ele constitui-se das proibições, limites, a autoridade internalizada. Portanto, assume o papel da moral, responsabilizando-se pela construção de ideais a partir dos modelos externos. Freud propõe que os sintomas e certas atitudes dos homens são resultados de mecanismos inconscientes de defesa do ego. Inconscientes porque ocorre independente de nossa vontade e sem a nossa percepção. Os sintomas resultam do recalque/repressão de situações muito dolorosas ou constrangedoras que o indivíduo, devido à idade ou a um momento frágil da vida, não pôde dar conta de elaborar, de enfrentar. O recalcamento seria a “defesa-base” para tentar proteger o aparelho psíquico e impossibilitaria o acesso de seu conteúdo à consciência. Além do recalcamento, podemos citar defesas como a projeção (remeter a outro indivíduo características nossas); racionalização (construções racionais para justificar atitudes); formação reativa (adoção de uma atitude oposta ao seu verdadeiro desejo) etc. Não cabe agora discorrer sobre os diversos mecanismos, entretanto, esses três são os mais visíveis no ambiente de trabalho. O gestor, ao ser capaz de identificar tais atitudes nos colaboradores pode, através de um feedback, auxiliar o indivíduo a “re-observar” e “re-avaliar” suas atitudes. Aos moldes dos objetivos da terapia psicanalítica, que seria de levar o paciente ao auto-conhecimento para descobrir e reviver o que foi esquecido, bem como para lidar com a realidade e os conflitos inerentes a ela. Esta visão profunda dos indivíduos é extremamente necessária para os responsáveis pelos departamentos de pessoal dentro das organizações. É por ela que conseguimos considerar os vários determinantes da personalidade e do comportamento dos indivíduos. Por vezes, um funcionário considerado “problema” não mudará alguns elementos da sua personalidade com um treinamento, com punição ou com o descanso proporcionado pelas suas férias. Não adianta tratar “sintomas” ignorando suas causas. Portanto, um bom administrador deve ter em mãos esta “ferramenta” que permite enxergar a dimensão constitutiva de seus colaboradores. Saímos da ideia de estímulo-resposta e passamos a lidar com algo muito mais complexo: as inúmeras variáveis que afetariam o comportamento humano. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 23 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA A ADMINISTRAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM OUTRAS CIÊNCIAS De forma geral, a ciência psicológica permite ao profissional da área de administração, a explicação dos mecanismos e processos envolvidos em determinados comportamentos, assim como permite preveni-los e modificá-los. Portanto, tem um papel fundamental dentro das organizações já que seu alicerce são as pessoas que colaboram com ela. Assim, “a Psicologia, enquanto ciência do comportamento, é um instrumento à disposição do Administrador como apoio nessa busca de contínuo aumento da eficiência dos processos e da melhoria da Qualidade de Vida” (FIORELLI, 2004, p. 24). Obviamente, isto somado à promoção de ganhos na produtividade. A atuação dos psicólogos dentro das organizações vai desde um trabalho com indivíduos e/ou com as suas relações de vínculos nos grupos até na relação dos indivíduos com sistemas (e até com equipamentos de trabalho). Age levando em conta os diversos fatores estruturais e socioculturais que permeiam a vida dos colaboradores, utiliza inúmeros instrumentos e técnicas, bem como a observação e escuta treinada sobre os problemas/conflitos. Portanto, abrange as mais variadas áreas e atividades dentro das organizações, o que abordaremos melhor na Unidade II. Hoje, ignorar a potencialidade da psicologia enquanto auxílio nas organizações culmina em desgastes emocionais e custos desnecessários aos administradores. É importante observar que muitas das formulações básicas de várias escolas da administração foram calcadas em teorias psicológicas como, por exemplo, as teorias de motivação, de dinâmica de grupo, de Relações humanas etc. As contribuições mais significativas à administração estão nos métodos de observação e experimental. O método de observação (pesquisa e quantificação dos dados) possibilita “conhecer quais as necessidades do trabalhador que não estão sendo atendidas naquele momento” (BERGAMINI, 2006, p. 25), quais são suas motivações e os conflitos emergentes (e latentes) na organização. É de grande valia também às pesquisas de mercado, na coleta de opiniões dos consumidores. Este método em parceria com o experimental permite predizer comportamentos relativos a certas situações, ainda Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ que com grandes limitações já que nem todo comportamento humano é suscetível de investigações e nem todas as variáveis que atuam sob o comportamento são manipuláveis e conhecidas. Na próxima unidade, conheceremos a utilização desse método por Elton Mayo. Outra abordagem da administração influenciada pela psicologia, em especial a social, foi a dos Sistemas Abertos. Trouxe a ideia de “homem funcional” que se posiciona dentro das organizações e é construído a partir de comportamentos inter-relacionados. O protótipo desta teoria está nos sistemas de desempenho de função que pressupõe que dentro de um sistema social a pessoa vai agir de algumas maneiras específicas, pois está sob a exigência e 24 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância expectativa de outros indivíduos que se beneficiam dos resultados. Ampliaremos esta compreensão na Unidade V, no item: “adequação aos papeis organizacionais”. No âmbito da psicologia social “aplicada” à administração, temos Kurt Lewin que deixou enorme contribuição para os estudos de grupo e liderança, tendo dirigido importantes experimentos na área de desenvolvimento organizacional. Não teria também a psicanálise, trazido a sua contribuição? Ora, nada mais em voga na gestão de pessoas do que a valorização da singularidade dos indivíduos e da sua história pessoal, em que cada palavra ou símbolo tem um significado particular para cada um. Tem-se aí a importância de enxergar cada funcionário como único, o que veremos na Unidade III. Os grandes nomes para a administração desta abordagem são: Cristophe Dejours, com sua teoria da “psicodinâmica do trabalho” pautado na saúde mental dos trabalhadores (entre outros diversos estudos); e José Bleger, que propõe uma intervenção psico-política através da “análise institucional” para desvelar o funcionamento e os conflitos “ocultos” na dinâmica interna das organizações. Por fim, podemos identificar a psicologia aplicada à administração com a denominação de “Desenvolvimento Organizacional” que estaria na base dos planejamentos e implementações de mudanças. Seriam as mudanças organizacionais determinantes nas alterações de comportamento. Situações de mudanças exigem um trabalho de “prevenção”, preparação e de amparo aos colaboradores – algo que cabe necessariamente ao psicólogo organizacional. A Unidade IV se encarregará de demonstrar como isto funciona. CONSIDERAÇÕES FINAIS São incontáveis as contribuições deixadas pela psicologia, de forma que não cabe a nós numerá-las exaustivamente agora, já que não é este nosso objetivo. Ao longo do curso, possivelmente, vocês terão contato com vários outros autores e teorias. Para finalizar esta unidade de apresentação da ciência psicológica, devemos situar e valorizar a abertura que ela possibilitou à interdisciplinariedade e à crescente cooperação entre vários campos científicos. Profissionais como o orientador educacional, o assistente social, o pedagogo, o enfermeiro entre outros, têm na psicologia um importante instrumento de trabalho. São diversos os campos da psicologia que se sobrepõem a outros campos de estudo servindo-se deles, mas também contribuindo com eles. Só para entendermos o que significa isto, vejamos algumas de suas áreas de abrangência e constatemos a amplitude desta ciência: Psicologia Ambiental; Psicologia Aplicada; Psicologia Clínica; Psicologia da Forma (Psicologia da Gestalt); Psicologia da Saúde; Psicologia do Desenvolvimento; Psicologia dos Grupos; Psicologia do Trabalho; Psicologia Econômica; Psicologia Educacional; Psicologia Esportiva; Psicologia Experimental; Psicologia Forense; Psicologia Hospitalar; Psicologia Jurídica; Psicologia Metafísica; Psicologia Política; Psicologia Social; Psicometria; Sexologia; TCC - Terapia Cognitiva Comportamental; Psicoterapia Corporal; etc. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 25 Esta característica transdisciplinar da psicologia se revela na íntima relação que possui com a Filosofia, Biologia e as Ciências Sociais. Veremos na Unidade III um pouco desta relação que a psicologia guarda com as ciências sociais, o que será de grande valia para entender o homem enquanto um ser que precisa produzir e que assim constrói continuamente a sociedade. Um livro muito conhecido entre os psicólogos que dá importantes parâmetros e delimitações a respeito das diversas áreas da psicologia é BOCK, Anna Maria Bahia (et al). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995. Leitura fácil e essencial! ATIVIDADE DE AUTOESTUDO I. CAÇA PALAVRAS: a) Desde seus primórdios a psicologia esteve sob o domínio da _________. Foi ela que esteve preocupada, durante muito tempo, em estudar e conhecer o homem. b) Para René Descartes, o corpo e a mente são duas instâncias separadas, cada qual com seu funcionamento. Ao corpo-máquina cabia ser estudado para controle de seus movimentos visando à eficácia. Esta teoria ajudou a justificar a divisão social do trabalho e sustentou as teorias clássicas da administração. Ela pautava-se na mesma lógica da __________, que se fundamentava na medição das funções corporais para definir aspectos psíquicos. c) Para a teoria Behaviorista, controlar o comportamento dos indivíduos é algo possível e depende do controle dos estímulos do meio. Mas, alguns estímulos tendem a ser mais adequados que outros para conseguir tal controle. No ambiente organizacional, entende-se que o ideal é utilizar o reforço __________ no lugar da punição para alterar um comportamento inadequado. d) Através da psicanálise, da relevância que esta dá ao simbólico e ao ____________, diversos estudos foram feitos sobre personalidade, saúde mental do trabalhador e análise de demandas latentes e conflitos institucionais. Sua contribuição à área de Recursos Humanos é imprescindível. C I T A P J A O C L A I O R F E P T I F E G D Q O E I N C O N S C I E N T E E F B P S I C O M E T R I A U A U I B P U N N F L U A P I E T E A J O P L U A P C E F I L O S O F I A S I N A B V C A I C A U T L A O U P O L O N B T I A L I II. A psicologia pode ser considerada uma ciência interdisciplinar, tendo íntima relação com inúmeros campos de estudo, inclusive com a administração. Escolha um dos autores ou teorias citadas no item das contribuições da psicologia à administração e faça uma pesquisa breve sobre como utilizar tal contribuição em uma organização. 26 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância UNIDADE II A PSICOLOGIA NO MUNDO DO TRABALHO Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues Objetivos de Aprendizagem • Conhecer o caminho percorrido pela psicologia no mundo do trabalho ao longo da história e perceber a íntima relação desse processo com as mudanças socioeconômicas. • Definir as três fases da psicologia do trabalho, diferenciando suas características. • Identificar as atividades realizadas pelo psicólogo do trabalho hoje, comparando-as com as atividades dos outros períodos. • Entender a importância dos avanços da ciência psicológica para as organizações, enumerando as contribuições que respaldam a sua prática no âmbito da administração. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Psicologia industrial e seu caráter utilitarista • Psicologia Organizacional, fruto da Teoria das Relações Humanas • Psicologia do Trabalho, saúde mental e o simbólico • No Brasil, práticas não delimitadas. Coexistem práticas dos três períodos, sendo preponderantes as da Psicologia Industrial INTRODUÇÃO Qual terá sido a porta de entrada para a psicologia nas organizações? Aos psicólogos cabem apenas as contratações, demissões e treinamentos dentro das empresas? Por que a psicologia do trabalho está diretamente relacionada ao departamento de pessoal? Essas e outras questões são centrais na tentativa de compreender e refletir sobre a inserção da psicologia no mundo do trabalho e esse será o nosso objetivo na unidade II. Para isso, uma importante área da psicologia a ser considerada e conhecida, pelos gestores e administradores de empresas, é a psicologia do trabalho. Não devemos deixar de mencionar que é deste ramo da ciência psicológica (que presta serviços às organizações), que se consolidaram as maiores contribuições voltadas à administração. Como Sampaio (1998) pontua, há uma grande proximidade entre o desenvolvimento das práticas de gestão e o desenvolvimento da Psicologia do Trabalho. Para aprofundar, Jader Sampaio (1998), em seu conhecido texto “Psicologia do trabalho em três faces”, faz um esclarecedor resgate da história da psicologia no mundo do trabalho. Assim, identifica e analisa as suas três faces: Psicologia Industrial, Psicologia Organizacional e Psicologia do Trabalho. Por compreender a relevância deste resgate, essa unidade de nossa apostila vem propor um passeio pelo texto de Sampaio e os convida a refletir sobre o uso das potencialidades da psicologia na administração já que, apesar dos avanços, sua prática, muitas vezes, Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ é ainda limitada a antigas técnicas da era industrial. PSICOLOGIA INDUSTRIAL: OS PRIMÓRDIOS DO VÍNCULO PSICOLOGIA-ADMINISTRAÇÃO Se, por um lado, a Psicologia do Trabalho se beneficia e agrega os desenvolvimentos das múltiplas áreas da Psicologia, por outro, se acha balizada pela evolução da Administração e pelas demandas que esta disciplina lhe faz. A Administração, por sua vez, não é fruto de uma sequência não histórica de descobertas de técnicas de gestão (agrupadas em escolas), mas se acha delimitada pelas mudanças socioeconômicas e pelos impactos destas nas diversas organizações (SAMPAIO, 1998, p.20). Esta leitura, proposta por Sampaio, aponta uma via de mão dupla que liga a psicologia à administração e anuncia uma relação de troca, de influência, mútua e contínua. Os primórdios do vínculo Psicologia-Administração datam do período da Revolução Industrial. É nesse período que a Psicologia se firma nesta área, ao instrumentalizar alguns dos pressupostos do taylorismo – Escola clássica da Administração. Esta primeira “face” da psicologia costumou-se denominar de Psicologia Industrial. As técnicas da Psicologia, neste período, buscavam viabilizar um maior controle sobre o trabalhador e sobre sua forma de trabalhar, um controle sobre o “como fazer”, em prol do aumento da produtividade. Por isso, a lógica da produção em série acolheu teorias Funcionalistas e Behavioristas que primavam pela medição de movimentos, INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 29 pela compreensão e pelo controle dos comportamentos dos indivíduos por meio da manipulação do ambiente. Segundo Sampaio (1998), nesta época, surgiu diversos estudos em psicologia que mediram o índice de produtividade em função do esforço despedido e que aderiram os princípios da “lei da fadiga”. Sendo assim, buscaram “determinar “cientificamente” o limite do esforço para medir as quotas de produção dos empregados” (p. 21). Podemos dizer então que a psicologia ficou a serviço da prescrição e do controle da execução do trabalho. Ainda neste período, ganham espaço a psicometria e os testes psicológicos. Por meio deles viabilizou-se a “instrução” dos trabalhadores sobre os métodos mais eficientes e os movimentos mais econômicos a serem empregados e respaldou-se a seleção dos “melhores homens” para os trabalhos/cargos. Sendo assim, estas técnicas estiveram a serviço do ajustamento e da adequação dos trabalhadores ao cargo. Devemos enfatizar que as práticas da Psicologia Industrial deram as bases aos processos de recrutamento e seleção de pessoal, de avaliação de cargos, de treinamento e ergonomia que com o tempo foram aprimorados. PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL: A TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS Os primeiros passos para – o que alguns consideraram – a evolução da Psicologia Industrial, se deram nos anos XX, a partir de estudos centrados na análise das condições de trabalho x aumento produtividade (SAMPAIO, 1998). Em específico, os estudos de Hawthorne (Bairro da cidade de Chicago), realizados por Elton Maio, em 1924, Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ na Western Eletric Company. Precursor da Teoria das Relações Humanas, Elton Maio elaborou e supervisionou uma série de experimentos que visavam avaliar o efeito das condições do ambiente (luminosidade, temperatura, ventilação etc.) na produtividade dos trabalhadores. Entretanto, Elton Maio se deparou com significativos aumentos de produtividade apenas nos grupos que tinham experienciado mudanças nas condições sociais. A atenção dada pelos pesquisadores e pela alta administração da indústria aos trabalhadores tornou-se um fator motivacional. Posteriormente, concluiu que não se tratava de fatores ambientais ou remuneração, mas sim do desejo dos operários em satisfazer suas necessidades de companheirismo e cooperação no trabalho. A partir da compreensão de que os fatores humanos influenciavam na produtividade, estimularam-se questionamentos e novos estudos sobre a satisfação humana e desenvolvimento de pessoal no trabalho. Esta mudança, junto a diversas outras que se sucederiam, deu as bases à Psicologia Organizacional – segunda face da psicologia no âmbito do trabalho. É importante pontuar que Sampaio (1998) discorda da ideia de evolução da psicologia nessa área, pois apesar 30 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância da Teoria das Relações Humanas vir preencher um “lapso teórico da administração clássica”, não fez propostas substanciais para os processos de produção. Sendo assim, esta teoria foi logo incorporada pela teoria clássica, sem trazer alternativas de mudanças estruturais às empresas. No quadro que segue, visualizaremos melhor estas mudanças: Psicologia Industrial Atua nos postos de trabalho e não se envolve com a estrutura organizacional. Teoria das Relações Humanas Psicologia Organizacional Discussões sobre a estrutura organizacional. Adesão a teorias Estruturalistas e Sistêmicas. Visão de “homem econômico”: preguiçoso. Faz o mínimo de trabalho pelo máximo de recompensa. Movido pelo dinheiro. Visão de um homem que tem necessidades sociais, de autoestima e de autorrealização. Independente da remuneração. Maximizar o ajuste das pessoas ao cargo. Meras peças ajustáveis à engrenagem da produtividade. Saúde do trabalhador equivale ao seu grau de ajuste e eficiência do trabalho. Torna-se patológico cindir os conflitos (internos e externos) e os afetos ambiente de trabalho. O cargo deve também ajustar-se ao trabalhador, não só este ajustar-se ao cargo. Nesta segunda face – da Psicologia Organizacional – as preocupações dos psicólogos passaram a centrar-se nos incentivos não-financeiros e dar espaço às possibilidades de motivação pelas relações com a liderança e supervisão (SAMPAIO, 1998). Ainda de acordo com o autor, surgem preocupações com as relações interpessoais, com as atitudes dos empregados, com a moral no trabalho e inclusive com a avaliação de executivos. Discussões sobre as relações homem-máquina ganham espaço, ocorrem também a inserção de entrevistas e aconselhamentos psicológicos no ambiente de trabalho (SAMPAIO, 1998). Enfim, surgem inquietações com práticas punitivas e discriminatórias que pudessem ferir a integridade e os valores individuais do trabalhador. Inclusive, com o tempo, estas inquietações e discussões ganharam um respaldo legislativo no que se refere aos direitos dos trabalhadores. Será importante pontuar os estudos, os ganhos e as mudanças dessa fase que trouxeram importantes transformações ao ambiente, às práticas e à dinâmica organizacional como um todo. Segundo Sampaio (1998), seriam elas: - Estudos sobre motivação, comunicação e comportamento de grupo. - Técnicas de Psicodrama e a teoria da sociometria de Moreno. - Estudo da dinâmica de grupos e das lideranças feita por Kurt Lewin. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 31 - Consolidação da ergonomia com a análise e projeções de ambientes de trabalho, equipamentos e tecnologias que levassem em consideração as características humanas, ou seja, suas capacidade e limitações. - Novas práticas de gestão: gestão de qualidade total; cultura de aprendizagem; trabalho em equipes; célula de produção; produção Just-in-tiMestranda - Estudos do comportamento do consumidor. - Proposta de mudança planejada nas organizações, conhecida como Desenvolvimento Organizacional (D.O.). Além da compreensão que o D.O. está atrelado ao Desenvolvimento Gerencial. - Treinamentos voltados ao desenvolvimento pessoal e interpessoal. - Construção de uma “arquitetura social” (ou Cultura Organizacional), administrando valores, normas e significados compartilhados pelos trabalhadores. Foco na criação, comprometimento e institucionalização dos valores. Apesar destas contribuições e dos anos de consolidação destas práticas, inúmeras críticas são feitas à Psicologia Organizacional. Sampaio pontua que autores situam esta segunda face da psicologia do trabalho sobre uma orientação tecnocrática, em que prevalece uma ausência de interesse no simbólico. É com essas críticas que a terceira face – a psicologia do Trabalho – ganha espaço, como resultado da consciência do caráter instrumental das Psicologias Industrial e Organizacional. PSICOLOGIA DO TRABALHO: UM RESGATE DOS SIGNIFICADOS DO TRABALHO HUMANO O ponto central da Psicologia do Trabalho são os estudos e compreensões do trabalho humano em todos os seus significados e manifestações. Ou seja, um resgate da compreensão do homem que trabalha. Nossa próxima unidade ampliará esta visão proposta e procurada pela Psicologia do Trabalho. Estas mudanças acompanharam a mobilização das teorias Administrativas que, nos anos 70, passam a se tornar menos prescritivas e assumem “um caráter mais descritivo, explicativo e crítico” (SAMPAIO, 1998, p. 26). Surge a Escola Contingencialista que ao focar seus estudos nos efeitos do ambiente e da tecnologia, ou seja, na compreensão dos fenômenos na produção a partir do contexto da organização (cenário de condicionantes externas), deixa de lado a produção de técnicas para o aumento da lucratividade. O objetivo é a compreensão do funcionamento e suas consequências. Vemos hoje, ganhar adesão na administração, estudos que envolvem a convergência entre Sociologia do Trabalho, Administração e Psicologia do Trabalho. Sampaio (1998, p.27) pontua: “O que antes era visto como funções ou sistemas das organizações, agora é concebido como políticas. Isso significa que o que era concebido como algo fixo e indispensável agora é concebido como resultado de ações de grupos de atores sociais nas organizações. Passam a ser consideradas as questões do poder, conflito e seus regulamentos.” Neste âmbito, estudos da Psicologia do Trabalho visam a conhecer os impactos das novas “tecnologias gerenciais” sobre o comportamento e psiquismo do trabalhador. Tecnologias como gestão participativa, a reengenharia, gestão por competências etc. 32 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Ainda dentro da Psicologia do Trabalho, ganha espaço a Análise Institucional, que propõe uma indagação pelo viés da psicanálise, da dinâmica e dos relacionamentos humanos estabelecidos nas organizações. Por esse referencial, a psicanálise ganha um espaço de intervenção social, que extravasa os limites da clínica. Além disso, temos as contribuições de Dejours, estudando o sofrimento humano, especialmente, no ambiente de trabalho e sua intervenção pautada no modelo de pesquisa-ação (SAMPAIO, 1998). O autor cita ainda Cooper, com os estudos sobre o estresse laboral e seu uso no suporte para mudanças organizacionais. Enfim, vemos que cada vez mais os estudos e práticas da psicologia, mas também da administração por meio desta amálgama, vêm dando lugar para a concepção do homem – trabalhador como um ser desejante. O objetivo é, principalmente, a saúde e bem-estar do trabalhador. Qualidade de vida passa a ser preocupação e palavra corrente no vocabulário de gestores de recursos humanos, psicólogos e até administradores. Vale entender que hoje se busca profissionais que ajudem a organização a pensar, mas também a repensá-la de forma contínua. Seja pensar a estrutura, sua dinâmica, as relações estabelecidas, ou pensar este conjunto – a cultura organizacional – que soma os aspectos simbólicos que sustentam a instituição como um todo. Sampaio (1998) pontua que outra das características da Psicologia do Trabalho é a valorização da interdisciplinaridade, já que permite a integração de conhecimentos e a melhoria no trato com conflitos e problemas estruturais. Além, é claro, de viabilizar importantes inovações. AS PRÁTICAS DOS PSICÓLOGOS DO TRABALHO Para finalizar esta explanação histórica do vínculo “psicologia-administração”, vale ponderar que Sampaio (1998) deixa explícito o fato não haver uma clara distinção das práticas dos psicólogos no Brasil. Ou seja, dificilmente estes profissionais se denominariam psicólogos organizacionais ou do trabalho (psicologia industrial caiu em desuso), isto porque os profissionais tendem a mesclar instrumentos e práticas das duas primeiras “faces” com as da Psicologia do Trabalho. No texto “psicologia do trabalho em três faces”, Sampaio faz ainda uma listagem das diversas práticas dos psicólogos referentes à seleção e colocação de pessoal; planejamento de recursos humanos; treinamento de pessoal; desenvolvimento de recursos humanos; avaliação de desempenho; saúde mental no trabalho; planos de cargos e salários; condições de trabalho; mudança e análise das organizações; ensino e pesquisa; gerência. Mas, apesar de todo este espaço de atuação, os profissionais de psicologia no Brasil ainda restringem suas práticas “no tripé clássico da psicologia industrial (recrutamento, seleção e treinamento)” (SAMPAIO, 1998). O que é uma pena, pois não usufruímos o bastante das potencialidades deste campo de estudo e de aplicação. Como esta unidade se baseou no texto de Jader dos Reis Sampaio, é indispensável lê-lo: “Psicologia do Trabalho em Três Faces”. In: Psicologia do trabalho e Gestão de Recursos Humanos: Estudos Contemporâneos. GOULART, I. B. & SAMPAIO, J. dos R. (Org.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. Aliás, este livro como um todo traz artigos interessantíssimos que valem a pena ser lidos. Então, mãos à obra e boa leitura! INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS Segundo Sampaio (1998), a Psicologia do Trabalho exige a interdisciplinaridade com as áreas da psicologia – psicologia diferencial, clínica, social e psicossociologia, psicometria, psicofisiologia; com a administração – de recursos humanos, das relações de trabalho, teoria das organizações, administração da produção, sóciotécnica; com a sociologia do trabalho; com a antropologia das organizações; com a filosofia; com a ergonomia; com a engenharia de produção e sanitária; com o direito trabalhista, com a medicina do trabalho, epidemiologia de saúde mental, psiquiatria; e com a economia. Somente no momento em que essa integração passa a ser possível no ambiente organizacional, que se ampliarão as possibilidades de humanização pelo trabalho – o que veremos na unidade que se segue. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO I. Vimos que, assim como nas teorias da administração, a psicologia traz inovações e evoluções marcadas pela história e pelas mudanças socioeconômicas que acompanham a sociedade. Para revisar e memorizar estas mudanças, monte um esquema pontuando as faces da psicologia do trabalho, citando pelo menos três características de cada face/fase. II. Devemos refletir sobre o fato de que as mudanças sempre provêm de uma demanda ou de uma exigência do meio. Assim, a mudança da Psicologia Industrial para a Psicologia Organizacional e desta para a Psicologia do Trabalho foi fruto de algumas situações que emergiram e exigiram reformulações da psicologia. Analise o conteúdo da nossa Unidade II e identifique quais foram estas demandas e situações que exigiram estas mudanças e as novas respostas, sejam elas na passagem à Psicologia Organizacional como à Psicologia do Trabalho. 34 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância UNIDADE III UMA VISÃO HOLÍSTICA DO HOMEM Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues Objetivos de Aprendizagem • Formular uma forma de conceber o homem que é essencial a diversas áreas de conhecimento, inclusive aos administradores de empresa. Uma visão que compreende o homem como uma totalidade. • Apreender como se dá a constituição da personalidade e as variáveis que a determinam. • Ampliar a concepção de psicologia para o âmbito do social. • Compreender a cultura como uma produção humana resultante da linguagem e da atividade humana, ou seja, do trabalho. • Ponderar a responsabilidade que todos os homens e instituições têm diante dos rumos que a cultura toma. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O que é a visão holística do homem • Quais as variáveis que influenciam a constituição do homem • Definição de personalidade e os oito estágios de sua formação segundo Erikson • Testes de personalidade • Processo de humanização pela socialização e produção da cultura • Responsabilidade social INTRODUÇÃO Depois de discorrermos sobre a ciência psicológica em si e de analisarmos sua relação com a administração, vamos falar um pouco deste homem que trabalha. Vimos que todas as vertentes da psicologia, por mais que destoem, discordem e constituam-se em teorias singulares, elas se complementam, enriquecem e solidificam o conhecimento a respeito do ser humano enquanto uma totalidade. Assim, a psicologia hoje nos permite falar em uma visão de homem complexa e “total”, o que iremos trabalhar nesta unidade. Vamos iniciá-la definindo o que seria esta totalidade humana e o quanto o meio contribui para esta constituição. Veremos o quanto “toda a psicologia é psicologia social”, já que, necessariamente, o homem é marcado pelo meio, sociedade e instituições em que vive ou grupos com que convive. Portanto, entender a inserção do homem na sociedade e as vicissitudes que decorrem sobre o psiquismo dele, também é uma preocupação da psicologia. Por isso, ainda nesta unidade, identificaremos alguns processos que culminam na constituição da identidade e na palavra de difícil definição: personalidade. Isto porque a multiplicidade de características que constituem cada ser humano gera diferenças fundamentais, o que culmina nos conflitos. Ora, administrar conflitos é uma preocupação dos gestores dentro das organizações e para isso, não podemos perder de vista que os conflitos são inevitáveis quando há interação entre os homens, independente de ocorrer ou não no ambiente de trabalho. Somos todos muito singulares. Para compreender melhor as relações que se estabelecem entre os homens, discutiremos também, o papel da linguagem e da atividade humana (trabalho) em um processo amplo e intenso que chamaremos de produção da cultura. Para tanto, veremos ao longo da Unidade III, como o “bicho-homem” conseguiu distinguir-se dos animais, humanizando-se através do processo de socialização. Faremos uma comparação entre a função cultural (na teoria) com a realidade cultural e social contemporânea. Enfim, questionaremos qual é o papel das organizações Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ em meio a este contexto de contrastes. HOMEM, UM SER BIO-PSICO-SOCIAL São inúmeras as visões de estudos científicos ou mesmo do senso comum, que propõe um homem nascido como que “pronto”, sendo sua constituição independente do meio. Ou seja, um homem regido por leis gerais e universais, como as da genética, que imbuem os homens de padronizadas características. Este homem pensado de forma estanque e desvinculado de um contexto é inviável, inexistente. Trata-se de uma leitura alienante que nada contribui na consolidação de nossa profissão. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 37 Apesar de Taylor ter trazido grandes contribuições à administração, algumas de suas formulações caíram neste engodo e tiveram de ser revisadas e reformuladas. Ele supôs que todas as pessoas seriam iguais e deveriam submeter-se a princípios genéricos quanto à forma e o tempo de trabalho (BERGAMINI, 2006). Inúmeros problemas resultam de visões que não consideram os aspectos individuais nem os diversos fatores que influem na constituição e diferenciação das pessoas entre si. Tomemos então como norteador uma visão holística do homem. Mas, o que seria isto? Para iniciar, compreendamos que a palavra grega “holos” indica todo. Neste sentido, holismo ou holística seriam termos que apontariam para a necessidade de uma leitura da totalidade das coisas, sejam elas organismos, processos ou sistemas. Eles não seriam explicáveis pela soma de suas partes, mas pela totalidade de seu conjunto. Ou seja, as partes só adquirem coerência explicativa se tomadas, consideradas, no todo. Esta visão lançou bases a teorias sistêmicas em vários campos do conhecimento, inclusive na administração. A teoria sistêmica pressupõe que os elementos de um sistema não podem ser significativamente descritos se separados da globalidade, pois há uma interdependência de suas partes. Pode-se falar que esta abordagem surgiu da necessidade da ciência de dar explicações complexas a respeito dos fatos aparentemente simples. A partir dela criticou-se a visão que se tem do mundo dividido em diferentes áreas do conhecimento, fechadas em si, com fronteiras solidamente definidas. Abriu-se assim, espaço à multidisciplinariedade no lidar com o mundo. Podemos dizer que é, embalada por esta multi e inter-disciplinariedade, que se concebe o homem como um ser holístico: multideterminado! Longe de ser simplesmente estruturado por fatores hereditários e biológicos, o homem conta, consideravelmente, com fatores ambientais e sociais, com o momento histórico em que vive e com sua história de vida para constituir-se. Pode-se dizer que, de forma dinâmica e dialética, este conjunto de fatores enlaça-se ao psiquismo e o constrói. Neste mesmo movimento, o psiquismo passa a permear e influenciar todos os outros fatores. É este conjunto de fatores que mobilizarão os diferentes comportamentos nos homens. Entendamos: esta é uma forma de imaginar e compreender o homem, não é uma abordagem específica de uma área da psicologia ou de uma ciência, é na verdade um valor pessoal que guia os estudos e ações voltadas ao ser humano. O profissional da administração deve buscar construir e solidificar esta visão – algo que iniciaremos nesta unidade. Agora, vamos destrinchar cada elemento que constitui este homem e entender estes elementos em sua interdependência com o todo. O objetivo é chegar a uma compreensão do conceito de personalidade – termo igualmente essencial ao administrador. Todos nós, ao nascermos, trazemos conosco toda uma matriz biológica e orgânica determinada inicialmente pela genética. Apresentamos uma série de comportamentos-reflexos inatos e instintivos que, de alguma forma, nos garante a sobrevivência e dá bases para o desenvolvimento psíquico e social. Entretanto, o ser humano – bebê – necessariamente precisará de um “outro” que o ampare como quesito incondicional para sua sobrevivência. É gritante a fragilidade que um bebê humano apresenta. 38 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Já neste momento, podemos observar que o homem só pode se constituir a partir de um vínculo, por meio de interações sociais. Aliás, há muito tempo a biologia pondera que os genes presentes no indivíduo, só se manifestam sob determinadas condições ambientais e estes primeiros vínculos familiares são “situações ambientais” fundamentais. Por exemplo, o desenvolvimento físico do bebê poderá ser extremamente prejudicado caso seja privado da estimulação de seus sentidos, privado de alimentação, saúde e inclusive, de relações sociais positivas que garantem estas reivindicações fisiológicas do bebê. Muitas teorias psicológicas ponderam que os primeiros vínculos afetivos que o bebê consolida serão referenciais a todas as posteriores relações que desenvolverá com outros indivíduos e com o mundo. Ou seja, se a relação familiar, e principalmente materna, for positiva, o bebê adquirirá auto-confiança e um importante senso de segurança. Isto marcará a personalidade do indivíduo ao longo de sua vida. É a família, ainda quem encaminhará a criança no mundo, ensinando-lhes as normas/costumes sócio-culturais, bem como a introduzirá nas suas novas relações: grupos de colegas, escola, amigos de futebol etc. Isto delimitará sua história de vida e passará a edificar o psiquismo da criança, que já vem tomando forma desde seu primeiro vínculo social e afetivo. Há assim, uma clara internalização dos modos de organização econômica, política e jurídica, característicos da sociedade, da cultura ou ainda das instituições ao qual o indivíduo faz parte. Tudo isto referente a um determinado período histórico. Vamos a alguns exemplos: Sabemos que a ideia que se tem hoje de adolescente difere e muito da concepção que se tinha de alguém nesta faixa etária durante a Idade Média. Provavelmente, era extremamente diferente e nem o conceito “adolescência” era concebível. Já aí, temos um exemplo claro da influência histórica na constituição do ser humano – algo que determina inclusive seus comportamentos. Imagine uma adolescente, de cabelos pintados de vermelho, calças rasgadas, inúmeros piercings, circulando em uma aldeia da Idade Média. No mínimo, ela seria tomada por bruxa. Outra situação a se pensar seria a de duas crianças, gêmeas, separadas na maternidade e criadas por famílias distintas em diferentes países. Muitos dos traços físicos e até alguns trejeitos, interessantemente, podem guardar marcas genéticas denunciando as bases biológicas. Mas, ambos têm suas peculiaridades, valores e línguas diferenciadas – marcas de história de vida distintas, meio social e a aquisição de culturas díspares. Consequentemente, herdeiros de psiquismos singulares. A mesma complexidade cabe na situação de dois irmãos de sangue. Ambos estudaram nas mesmas escolas, viveram com os pais e tiveram similares condições de desenvolvimento. Quando adultos um deles tornou-se um escritor famoso e casou-se com alguém excepcional e teve ótimos filhos e amigos. O outro se engajou na jogatina, perdendo muito dinheiro e afastando as pessoas de si. Como podemos explicar isto? Primeiro não se pode garantir que as condições de vida, o meio que os circundou foi o mesmo, aliás, cada um capta o meio de forma diferente. Depois devemos considerar que a estrutura biológica diferente propiciou, junto com a unicidade do psiquismo de cada um deles uma história de vida singular. Cada um com seus anseios, motivações e receios. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 39 Quais serão os fatores que influenciam as atitudes de dois indivíduos na seguinte situação: um deles assume um papel de gerência e isso o motiva, pois adora desafios, enquanto o outro não é capaz de dar ordens e de se organizar quando tem que assumir um cargo de liderança? Outro caso a se pensar, é o que pode estar mobilizando o recente comportamento de desdém e de agressividade de um funcionário que sempre foi exemplar e pontual com os prazos e amigável em suas relações de trabalho? “Curiosidade”: Segundo uma pesquisa (apresentada por Braguirolli et al no livro Psicologia Geral (1998, p. 166) – ver referência), mesmo irmãos tendem a ter uma estruturação genética diferente, pois “as combinações possíveis de genes são de tal ordem que um único casal poderia ter 2024 tipos diferentes de crianças, número superior ao total de seres humanos que jamais existiram.” Às vezes, para um dos garotos, uma frase de um colega de seu pai, escritor, que lhe sensibilizou em um momento significativo de sua vida, acabou consolidando um ideal para o menino. Vejam a quantidade de variáveis determinantes da personalidade nesta simples situação. Agora, imaginem incontáveis situações como esta ao longo de nossa vida?! Assim, chegamos à conclusão que o homem é um ser bio-psico-social. Sendo esta a nossa condição, fica claro que somos todos diferentes, graças a uma infinidade de variáveis que influenciam e compõe o nosso viver desde o nascimento. MATRIZES DA PERSONALIDADE Chegamos agora a um conceito que anuncia a influência de todos os fatores descritos até então e que marca esta diferenciação entre os indivíduos: a personalidade. Como poderíamos definir este conceito? O termo personalidade advém da palavra “persona” ou máscaras, que condiz aos personagens do teatro antigo. Ela vem hoje, dentro da psicologia, caracterizar um conjunto de comportamentos observáveis e costumeiros que, em situações comuns tendem a ser relativamente previsíveis. Assim, personalidade, tal qual o efeito de uma máscara, remete a impressão que os outros têm do indivíduo: das expressões afetivas, da aparência física, dos modos de se expressar, dos hábitos do indivíduo etc. Para aprofundar o entendimento acerca da personalidade, vamos, brevemente, acompanhar a proposta de Erikson (1997) que, estudando a psicologia do desenvolvimento, definiu oito estágios da vida humana. Para ele a forma como cada pessoa passa por estes estágios ao longo de seu desenvolvimento social e afetivo, determina os traços de sua personalidade – que é até certo ponto, flexível e mutável. Siga o esquema a seguir para conhecermos sua teoria: 40 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância ESTÁGIOS DA VIDA IDADE CONFLITOS TRAÇOS RESULTANTES À PERSONALIDADE PRIMEIRO 0 – 1 ano Confiança x Desconfiança Esperança. SEGUNDO 1 – 3 anos Autonomia x Vergonha e dúvida Vontade. TERCEIRO 4 – 5 anos Iniciativa x Culpa Propósitos. QUARTO 6 – 11 anos Atividade x Inferioridade Competência. QUINTO 12 – 18 anos Identidade x Confusão Sentimento de fidelidade a si. SEXTO 18 – 45 anos Intimidade x Isolamento Capacidade de amar. SÉTIMO 45 – 65 anos Produtividade x Estagnação Capacidade de cuidar. OITAVO Restante da vida Integridade x Desespero Sabedoria. Os três primeiros estágios correspondem as primeiras socializações, sendo os pais os principais responsáveis por atender as necessidades iniciais de vida, garantindo segurança à criança e a estimulando a movimentação e exploração dos ambientes. Sem culpá-la ou puni-la excessivamente para que não prevaleça na personalidade da criança características de insegurança, vergonha e falta de iniciativa. A quarta fase estrutura-se no relacionamento de aprendizagem escolar. A aprovação e o interesse pelas atividades e conquistas intelectuais são necessárias, à Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ criança, para instaurar propósitos ao invés de um sentimento de inferioridade. Já o quinto e o sexto estágio marcam, respectivamente, a possibilidade de consolidação da identidade e a possibilidade de estabelecer relações duradouras. Voltar-se apenas ao trabalho profissional ou artístico-criativo pode acarretar características de isolamento e dificuldade de relacionar-se com as pessoas. Nas últimas duas fases, trata-se de um momento de reflexão sobre a vida, no qual se usufrui das realizações pessoais conquistadas ao longo da vida, se lida com perdas e se aceita o que se é e o que já fez. Pessoas capazes de fazer este resgate e de se valorizar são marcadas pela habilidade de se dedicar a outras pessoas. Se isso não ocorre, a pessoa estagna, sente-se insatisfeita e inútil, sendo inclusive rígida e exigente consigo e com os outros à sua volta. Passam muito tempo pensando no que poderiam ter feito e não fizeram, vivenciando sentimentos de desespero. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 41 Será que um teste psicológico é suficiente para selecionar pessoas para um cargo dentro das organizações? É preciso que o psicólogo respeite e analise as situações e os limites para o uso dos testes. Eles devem ser adequadamente selecionados. Por isso, a importância dos gestores travarem parcerias com psicólogos comprometidos com a ética, que conheçam os valores da organização e primem por selecionar pessoas que possam compartilhar tais valores. Estas fases podem ser ótimas diretrizes na compreensão do homem, servem assim como um auxílio profissional e nos permite enunciar alguns aspectos gerais da personalidade apesar das singularidades que as constituem. Há ainda muitos psicólogos que se dedicaram a delimitar com mais precisão “tipos” de personalidade, entretanto, correram o risco de reduzir a complexa estruturação humana a alguns poucos elementos da personalidade. De qualquer forma, os psicólogos dispõem hoje de certos recursos instrumentais para avaliar alguns aspectos da personalidade, como: entrevistas, testes psicológicos, inventários fatoriais de personalidade, testes projetivos e situacionais. Seu uso é exclusivo e oficial dos psicólogos, que são devidamente orientados em sua formação para aplicá-los com rigor técnico e metodológico, além da sensibilidade desenvolvida para realizar as análises dos resultados obtidos. Algumas recomendações: uma relação amistosa e de intensa troca com profissionais da psicologia é extremamente enriquecedora para os gestores, pois oferece um bom suporte no gerenciamento de pessoas e no que diz respeito às relações interpessoais. Vale pontuar que as organizações que conseguem dar um tratamento individualizado aos colaboradores, levando em conta as distinções e singularidade de cada pessoa, só tendem a beneficiar-se. Pois, seus colaboradores terão possibilidade de consolidar sua auto-imagem e de incrementar sua auto-estima. Como consequência, atitudes positivas e seguras para com os outros e consigo acarreta uma melhoria no relacionamento interpessoal e intensifica o senso de coletividade. CULTURA: UMA PRODUÇÃO HUMANA A vida psíquica individual aparece integrada sempre, efetivamente, ao outro, como modelo, objeto [de amor], auxiliar ou adversário, e deste modo, a psicologia individual é ao mesmo tempo e desde o princípio psicologia social (FREUD, 1921). Neste trecho, Freud tem enorme sensibilidade ao anunciar o homem como um ser da dependência e do afeto, consequentemente, um ser social. Um ser construído nos vínculos sociais, mas também um ser que constrói tais vínculos. É com esta concepção que os psicólogos do trabalho vêm hoje procurando embasar suas práticas. Esta concepção permite consolidar a identidade do trabalhador a partir: - Do estabelecimento, no ambiente de trabalho, de sólidas relações sociais; 42 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância - Da atribuição de sentido, por ele e pelos outros indivíduos, ao seu trabalho; - Do fortalecimento do sentimento de pertença que se dá com a participação em equipes de trabalho, com o reconhecimento e valorização do trabalho realizado pelos superiores. Estes elementos são viáveis se quem os implementa na prática cotidiana das organizações, tenha uma boa compreensão do indivíduo e dos contextos sociais no qual ele se insere. Pois, os anseios e motivações de um gerente serão diferentes de um faxineiro, assim como será diferente até de outro gerente. Para atingi-los é preciso conhecê-los enquanto seres sociais, só assim estes valores serão efetiva e, compromissadamente, introduzidos na cultura da organização. Para dar suporte a esse trabalho, cabe aos administradores reconhecerem que a vida individual e os vínculos sociais são duas faces de uma mesma moeda. Por isso, não se compreende uma cultura organizacional sem entender minimamente o funcionamento individual das pessoas que constroem e mantêm tal cultura. O oposto também é verdadeiro. Também não se fazem planejamentos estratégicos sem conhecer os indivíduos que o colocarão em funcionamento e sem analisar o contexto em que este será inserido. A mesma lógica se aplica as mudanças internas, aos processos de desenvolvimento, à implementação de novas políticas ou de novos métodos de gestão. Bom, até o último item, vimos como se constituem as características individuais, mas ainda falta-nos uma leitura do “macro”, no qual os indivíduos se inserem – a cultura. Por isso, vamos desvendar um pouco mais das faces desta “moeda”: Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ Alexei Nikolaevich Leontiev, um psicólogo soviético que trouxe grandes contribuições à psicologia social, aponta algumas importantes considerações acerca do “homem-social” em seu belíssimo texto “o homem e a cultura” (1978). Ele pontua que o homem não nasce dotado das aquisições históricas da humanidade, mas é dotado de um aparato biológico capaz de fazer tal aquisição. Inicialmente, o bebê extremamente dependente, física e psiquicamente, é inserido no processo de socialização por meio da interação familiar. A partir daí o processo de socialização consistirá na apropriação da cultura, de toda uma realidade criada pelas gerações anteriores, através do aprendizado da linguagem. Seria esta, a primeira aquisição estruturante e humanizante do indivíduo. Depois, no contato com novos grupos sociais, as aquisições tornam-se mais complexas e diversificadas, é onde entra o trabalho como outro ponto chave da humanização do homem. Os animais, diferentemente dos homens, prendem-se a INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 43 um pensamento prático, muito pouco complexo ou elaborado. Tal qual um macaco, uma criança de bem pouca idade, usa de instrumentos para suprir determinadas necessidades ou alguns objetivos imediatos, sem precisar valer-se da linguagem para isto. Mas com o tempo, as crianças, assim como o homem adulto, passam a utilizar o pensamento verbal. Ou seja, o homem, além de usar instrumentos na sua atividade/trabalho para transformar a natureza conforme suas necessidades, é o único ser capaz de planejar sua ação. Uma ação que, aliás, é coletiva. Para viabilizar este planejamento, o homem construiu signos com significados compartilhados, o que constituiu um sistema importante de comunicação: a linguagem. Foi com a linguagem que a memorização consolidou-se e trouxe o que conhecemos como produção e transmissão de conhecimento. Mais uma característica que nos diferencia dos animais. Pois, estes não registram ou ensinam o que aprendem aos outros. Assim, a atividade humana e o manuseio de instrumentos têm embutidos em si um “saber-fazer” que se adquire com o processo de humanização. É enorme o legado deixado por tantas gerações, de forma que a criação de objetos e dos meios para fazê-los só tende a se desenvolver cada vez mais, com o acúmulo de conhecimento. O homem, por meio do processo de socialização, toma para si o conjunto de conhecimentos sistematizados e acumulados pela história de um determinado grupo social. Isto acarreta um importante sentimento de pertença – de pertencer a algum grupo e se saber amparado por ele. Assim, humanizado, o indivíduo torna-se agente de sua história e da história coletiva. Se conseguimos compreender este homem como um ser que é capaz de criar, agir e mudar a realidade com a qual ele interage, podemos pensar que um colaborador está constantemente transformando a organização. Por isso, é essencial abrir espaço para que este processo ocorra. Por meio dele, inúmeras inovações podem surgir e importantes mudanças podem ser efetivadas. Ele é agora um produto da cultura, mas é também produtor dela. Tem autonomia para transformar-se e transformar, junto com os outros, a realidade que o circunda: a natureza ou o mundo conforme suas necessidades. Portanto, é responsável pela construção da cultura. É a possibilidade de o homem produzir e, assim, participar na construção do cenário social a partir da aquisição da cultura, que permite integrar a sua identidade. Principalmente pelo sentimento de pertença que a aquisição cultural garante: “eu sou alguém no mundo e tenho um lugar e um papel social”. A cultura organizacional também tem esta função de respaldar os colaboradores, e por meio do trabalho, garantir a identidade do funcionário. Ao ser valorizado, ao se sentir pertencente da organização, o colaborador pode com orgulho anunciar: “eu trabalho na empresa X, faço a limpeza das salas. Sem minha participação seria inviável o trabalho de meus colegas”. 44 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Mas, devemos ainda nos fazer algumas perguntas. Um indivíduo que vive de trabalho informal e dificilmente consegue colocar comida na mesa tem sua identidade assegurada? Que papel social tem alguém desempregado? Qual é a possibilidade de humanização para crianças analfabetas e desnutridas do Nordeste ou até da periferia de grandes cidades como São Paulo? Estaria em jogo uma defasagem genética? Ou trata-se de personalidades marcadamente preguiçosas? Estas lendas já foram desmistificadas há muito tempo. Sabemos que nossa cultura, por mais que siga as regras da globalização, ao invés de distribuir, concentra as riquezas e, principalmente, a possibilidade de aquisição da cultura. As respostas a perguntas como estas, nos colocam diante das desigualdades sociais que fissuram nossa cultura e a impede de realizar sua função. Mas, qual seria a função da cultura? Freud (1981), no texto “Mal Estar na Cultura”, considerado uma das melhores obras do século XX, coloca o homem como um ser necessariamente do conflito e a cultura como uma construção humana que tem em seu bojo a função de amparar. Será que toda a cultura sustenta-se pelo estabelecimento de um pacto? Isso se daria também no caso de uma cultura organizacional? Talvez possamos pensar num pacto feito entre empregador-empregado. De forma que o funcionário garanta a realização de seus serviços e o uso de suas habilidades, respeitando algumas regras e valores compartilhados pela organização e, em troca, o empregador garante que os direitos deste trabalhador sejam garantidos. Este “micro” pacto também tem a função de amparo e garantiria um sentimento de pertença. Da mesma forma, burlar este pacto não se dá sem consequências punitivas. O conflito humano, a que Freud se refere, se instaura com as imposições sociais e com as consequentes renúncias de satisfação que temos de fazer em prol da civilização. Assim, o homem sacrifica seus instintos. Ele aprende a esperar para satisfazê-los ou ainda cede e os redireciona para outras situações mais elevadas socialmente. É o caso do menino que aprende que deve segurar a urina até chegar ao banheiro, por mais apurado que esteja. Ou do rapaz que teve de ouvir desaforos de um colega de trabalho mesmo não tendo culpa na situação – ele é capaz de evitar usar sua agressividade sobre o colega e discutir a situação. Pode ainda descontar os impulsos agressivos que o acometem em um jogo de basquete, por exemplo. Pensem: como seriam as relações dentro de uma organização se não aprendêssemos a controlar nossos impulsos, no decorrer de nossa vida? Possivelmente, seria inviável o funcionamento de qualquer instituição. Por isso, estas situações de renúncia dão base à civilização e anunciam uma troca ou um pacto social, que o indivíduo trava com a cultura. Este pacto pressupõe que o indivíduo ao tornar-se um ser social, internaliza um Estado de Direito que priorizaria o coletivo em detrimento das vantagens individuais. Em troca, os sujeitos teriam a garantia de que ninguém se tornaria vítima da violência extrema. As leis e a ética teriam assim a função de controle e evitariam atos cruéis entre seus membros. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 45 O pacto então primaria pela segurança dos indivíduos – seja pela sua pertença social como pela sua integridade física e psíquica. Os homens confiariam assim, nos dispositivos institucionais e no estabelecimento dos laços afetivos. Entretanto, a impunidade e o não reconhecimento da violência social, as quais inúmeros indivíduos estão submetidos hoje – sob a privação do acesso a aquisição cultural – culmina num fracasso deste pacto. Além desta violência os indivíduos se deparam com a impunidade de muitas autoridades, como é o caso de políticos corruptos. Assim, podemos concluir que muitos indivíduos não vêem motivos para renunciar ao desejo de matar alguém por dinheiro, por exemplo, pois pouco ou nada têm a perder: seus ganhos com o pacto social já estão perdidos. Considerando que, segundo Freud (1981), Eros e Ananké (Amor e necessidade/trabalho ou renúncia), são os fundamentos da cultura humana e que a cultura designa a síntese das produções e instituições que distanciam a vida dos homens da de seus antecessores animais e serve a dois fins: proteger o homem contra a natureza e regular as relações dos homens entre si, pode-se falar em uma perversão da cultura. A cultura, hoje, está ausente em sua função de amparo ao qual Freud se refere. Que fique entendido: as produções, sejam elas tecnológicas, científicas ou artísticas e as instituições, sejam elas privadas, governamentais ou não, são a base da cultura e igualmente têm a função de amparar os homens. Entretanto, hoje pouco se fala ou se faz neste sentido. Há um grande abismo entre as dificuldades sociais e a atuação institucional ou uso das produções de modo que viabilizem este amparo do qual Freud se refere. É em meio a estes contextos, de demandas sociais pesadas, que a humanidade busca reagir para encontrar soluções adequadas. Um interessante movimento que vem se preocupando com esta situação é o de Responsabilidade Social. Este movimento veio, inicialmente, de uma proposta da sociedade civil. Marcou e marca a atuação de muitas ONG’s e, a partir destas ações, conquistas importantes asseguraram mudanças sociais. Hoje, quem vem aderindo a esta ideia é a iniciativa privada, uma dentre as tantas instituições sociais. As empresas vêm, cada vez mais, assumindo suas responsabilidades diante da sociedade, reparando danos causados à natureza e à comunidades locais, além de estarem buscando parcerias com as ONGs. Assim, vêm dando suporte aos projetos ou iniciativas civis. Estas ações são sérias e devem estar sustentadas por bons planejamentos e pesquisas, que definem com prudência as necessidades sociais a serem supridas. Os programas de responsabilidade social coorporativa abrangem toda a cadeia produtiva: desde a extração da matéria-prima até os consumidores do produto. Um exemplo: uma madeireira com um programa de responsabilidade social de referência, prima pelo controle das áreas de reflorestamento, feito por uma empresa terceirizada. Fiscaliza, ainda, o uso de mão de obra infantil em empresas que lhe prestam serviços. Tem um programa de apoio e desenvolvimento dos seus colaboradores bem como uma ouvidoria eficiente para seus clientes. Além disto, faz parceria com uma ONG que oferece oficinas profissionalizantes de marcenaria na comunidade em que uma de suas filiais está instalada. Por fim, é a imagem da empresa que acaba fortalecendo-se e, inevitavelmente, um programa bem planejado, oferece retorno até aos seus acionistas. Pequenas e médias empresas têm maiores dificuldades para implementar um projeto deste porte, entretanto, há inúmeros casos de ações de responsabilidade social modestos, mas com 46 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância equivalentes resultados. Balanços sociais são divulgados à população e algumas instituições já vêm assumindo a função de regulamentar e controlar os resultados divulgados. Inclusive muitas empresas correm atrás de certificações e de selos. Acesse os links: Vale à pena conferir os sites a seguir, que dão exemplos destes tipos de programa: <http://www.ajudabrasil.com.br>. <http://www.andi.org.br/>. <http://www.abrinq.org.br/>. <http://www.fundacaotelefonica.org.br/>. <http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna/br/default.asp>. <http://www.institutocea.org.br/instituto/site/content/home/default.aspx>. <http://www.grupopaodeacucar.com.br>. <http://www.transparencia.org.br/index.html>. Acessados em 06/07/2009. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim, instituiu-se uma busca, dentre tantas outras, de dar “a cada um a possibilidade de participar enquanto criador em todas as manifestações da vida humana” (LEONTIEV, 1978, p.284). A longo prazo, estas e outras atitudes podem ter efeitos significativos e possibilitar que a cultura retome as rédeas da história, criando novos valores a serem adquiridos no processo de humanização. Não devemos esquecer o papel fundamental que as organizações têm diante deste compromisso, em especial, com seus colaboradores. Inclusive os trabalhadores são prioridades nas teorias de responsabilidade social corporativa. Não adianta fazer benfeitorias sociais e ignorar seu público interno, pois consolidará uma falsa imagem de instituição responsável! ATIVIDADE DE AUTOESTUDO I. Um desafio: pense em si como uma totalidade e descreva alguns elementos que foram ou são essenciais à constituição do que você é hoje. Lembre-se de citar fatos voltados a nossa condição biológica, social/cultural, histórica e psíquica. II. Vimos que a personalidade de cada indivíduo é constituída e regida por inúmeros fatores, ele é multideterminado. Retome proposta de Erikson sobre as oito fases da vida e escolha três delas. Descreva-as e crie exemplos que ilustrem cada um dos conflitos destas fases. III. Vimos que para o funcionamento de uma cultura é preciso que se estabeleça um pacto entre seus membros e isso geraria uma série de normas e regras que garantissem certa segurança. Como entendemos haver também uma cultura dentro das organizações, pontue cinco elementos que garantiriam o pacto entre trabalhadorempregador. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 47 UNIDADE IV OS GRANDES TEMAS DA PSICOLOGIA Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues Objetivos de Aprendizagem • Assimilar alguns aspectos básicos dos processos psíquicos de sensação, percepção, atenção, memória, inteligência, emoções e motivação. • Ser capaz de relacionar os elementos do psiquismo apresentados com o cotidiano de um ambiente de trabalho. • Entender que o estudo e a manipulação destes elementos do psiquismo são essenciais ao administrador para evitar ruídos de comunicação; para identificar conflitos; para criar métodos de adesão dos colaboradores aos novos programas; para planejar mudanças na estrutura física e na própria estratégia da organização de forma a levar em consideração as características dos colaboradores e o bem-estar deles. • Compreender que todos os processos psíquicos estão, necessariamente, influenciados pelas tendências inatas, pela maturação, pela história de vida e momento histórico. Mas, desenvolvem-se e consolidam-se como as conhecemos, principalmente, pela aprendizagem (aquisição cultural). Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conceituação e distinção dos conceitos de sensação e percepção • Caracterização do processo de atenção e memória • Definição de inteligência, aspectos básicos dos testes de inteligência e a influência socioeconômica • Bases teóricas do conceito de emoção • Concepção e teorias da motivação INTRODUÇÃO O tema desta unidade, os grandes processos psíquicos, tem fundamental importância para quem busca uma compreensão acerca do comportamento humano. Ele explora algumas funções mentais responsáveis pela aquisição cultural do qual tratamos na Unidade III. Compreender essas funções possibilita ao administrador adquirir aporte teórico e sensibilidade para gerenciar e auxiliar pessoas, sejam elas colegas de trabalho, colaboradores ou clientes. É importante compreender que todos os processos que estudaremos daqui por diante interligam-se e, quase que exclusivamente, funcionam simultaneamente. Mas, esmiuçaremos cada um deles de forma independente em favor de certa didática. Os primeiros processos trabalhados serão as sensações e percepções, pois são as primeiras e essenciais vias de entrada do mundo externo, que permitem aos homens estruturar o seu mundo interno. Na sequência, veremos as definições e alguns aspectos dos processos psíquicos de atenção, memória, inteligência e emoção. Por fim, entenderemos um pouco do conceito de motivação e teremos contato com algumas teorias que a embasa. Este último item será essencial para a leitura da Unidade V. SENSAÇÕES E PERCEPÇÕES Estes dois elementos do psiquismo são, basicamente, os meios que o indivíduo possui para conhecer e absorver as informações do mundo exterior. Seriam elas as atividades cognitivas mais fundamentais, pois dão suporte a todas as outras. Para iniciar, devemos caracterizar estes dois elementos: enquanto a sensação é difusa, correspondendo a receptividade corpórea dos estímulos (externos e internos), a percepção é responsável pela organização e interpretação destas informações recebidas – funcionando em um nível mais cognitivo. A percepção daria os significados às sensações recebidas tornando-a consciente. Trata-se de um processo de elaboração que funciona em consonância com a memória, pois interpreta o fato a partir de experiências passadas. Da mesma forma que estas interpretações-percepções são memorizadas pelo indivíduo. Pensem na importância desses processos no dia a dia organizacional? Como realizar um trabalho meticuloso ou mesmo mais abstrato sem estas entidades? Ou ainda, como receber e entender uma prescrição ou uma ordem vinda da gerência? Poderíamos citar inúmeras situações, mas a importância destas instâncias para a própria sobrevivência do indivíduo é indubitável. Ora, um simples exemplo seria: como comeríamos se não sentíssemos e percebêssemos a fome? Então, vamos aprofundar um pouco mais a nossa compreensão acerca destes fenômenos. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 51 Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ A apreensão que você está fazendo deste texto não seria uma forma de interpretação das suas sensações visuais? Lembrese que para captar estas informações e processá-las é preciso que você tenha uma experiência prévia, ou seja, que conheça as letras e as palavras ou pelo menos algo que se aproximem destes símbolos. Sensação As sensações são resultados da recepção de estímulos e culminam na formação de uma imagem mental na consciência. Geralmente as sensações associam-se quando próximas (no mesmo espaço físico) ou quando se sucedem no tempo. Um trabalhador, que manuseia uma britadeira em uma construção, associa as sensações táteis – de tremor do aparelho – com as sensações auditivas e por haver essa proximidade de tempo e localização, sabe que se trata de uma mesma fonte de estímulo. Outra importante característica é de que as sensações só se produzem conforme determinados fatores e/ou propriedades da consciência. Por exemplo, quando uma pessoa está doente sua consciência volta-se quase que integralmente à situação da doença e, por vezes, não é capaz de captar outros estímulos sensórios. Devemos observar que há níveis de afetabilidade dos estímulos sobre os indivíduos. Estes níveis são denominados limiares de sensação e correspondem a um limite de intensidade do estímulo necessário para produzir uma sensação. Os limiares variam de indivíduo para indivíduo, mas, de forma geral, correspondem a uma média. O limiar inferior delimita o mínimo de intensidade capaz de produzir uma sensação identificável pelo indivíduo. Uma pessoa que fala baixo pode não atingir o limiar de muitos colegas e não ser ouvida. Diferentemente, o estímulo que vai acima do limiar superior de sensação é identificável e pode danificar os mecanismos de recepção. Também é possível que, ao saturar os receptores pela tamanha intensidade do estímulo, ele não seja detectável. Danifica, mas não é perceptível. Por isso, é preciso cuidado redobrado nos ambientes de trabalho com funções que submetem os indivíduos a estímulos de baixa tolerância, devendo as organizações prezar pela saúde física de seus colaboradores, oferecendo equipamentos de proteção, treinando-os para manipulá-los e elaborando medidas de controle e recompensa para a frequência de uso, assim estimulando o uso. Estímulos muito agressivos ao corpo como odores ou manipulação de produtos químicos, barulhos de certos maquinários etc. podem causar danos irreversíveis à saúde. Muitas pessoas acabam não confrontando a situação, 52 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância às vezes, por necessitar do emprego ou por adquirir hábitos. Claro que por hábito ou costume, algumas pessoas têm seus limiares alterados de acordo com a profissão. É o caso do enólogo, que degusta os vinhos e atesta a qualidade deles – este profissional acaba por desenvolver e adequar seu limiar mínimo a uma maior sensibilidade gustativa. Haveria, assim, o desenvolvimento de uma sensibilidade seletiva a estímulos relacionados com a especialidade de cada profissional. Ou ainda, uma inibição sensorial a outros tipos de estímulos (FIORELLI, 2004). Todos os estímulos de que falamos até agora correspondem às sensações exteroceptivas. Ou seja, sensações que viabilizam o contato com o mundo externo por meio dos sentidos: tato, paladar, olfato, visão e audição. Mas, as sensações não se restringem a cooptação do mundo exterior por isso dividem-se ainda em proprioceptivas e interoceptivas. As sensações proprioceptivas resultam dos chamados sentidos vestibular e sinestésicos situados no cérebro, que identificam os movimentos do corpo no espaço e a sua posição em relação a outros corpos. Já as sensações interoceptivas são provindas dos órgãos internos e são menos precisas, portanto, mais difíceis de chegar à consciência. Estas sensações, geralmente, alertam para problemas de saúde ou o incomum funcionamento do organismo. Os três tipos de sensação: interocepção, exterocepção e propriocepção, ao serem processadas e interpretadas pela mente, constituem a percepção, ou seja, dão significado aos fenômenos do mundo interno, do mundo que o circunda e da posição que o indivíduo ocupa no espaço. Assim, a sensação constitui a base da percepção. Percepção Como um maestro, a percepção tem a função de organizar, reordenar e até sintetizar a atividade de seus músicos – no caso, das sensações – para que uma boa sinfonia seja possível. Com esta metáfora já é possível prever que o organismo não é passivo diante deste processo, a bem da verdade, o corpo a mando da percepção, concentra-se nos estímulos que lhes são mais significativos. Podemos dizer então que existe aí uma seletividade perceptiva, na qual vários fatores interferem. LEMBRE-SE: As informações organizacionais devem ser sempre muito claras, transparentes e confiáveis. Entretanto, mesmo que sigamos estas regras da comunicação, não conseguiremos impedir que a informação seja ignorada pelo colaborador. Sua seletividade perceptiva escolherá informações que compactuem com seus interesses pessoais. Aí cabe questionar: o que é do interesse desses funcionários que precisam receber a informação? Mais uma vez, a importância de conhecê-los. O fenômeno perceptivo compõe-se das tendências inatas, herdadas no nascimento, e consolida-se com a aprendizagem e o processo de maturação. Dentre estes elementos, o fator que mais influencia a percepção são as experiências passadas aprendidas pelo indivíduo, são por meio delas que se atribui significados às sensações. Estes significados, ou melhor, a forma que a percepção decodifica uma informação, geralmente, correspondem às crenças e valores pré-estruturados por experiências culturais e ambientais do passado ou ainda correspondem a motivos, emoções, expectativas e até pressuposições. Partindo da ideia de que as experiências passadas dos indivíduos são únicas, as percepções serão igualmente INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 53 pessoais e singulares. Cada um constrói sua realidade interna, subjetiva, criada pela mente. Assim, uma mesma situação é percebida de forma diferente por diferentes pessoas e determina, em termos, o comportamento delas. Por exemplo, uma funcionária acabou se emocionando com o discurso de despedida do colega de trabalho enquanto outra se irritou muito, pois interpretou como um falso drama, parecido com o que vivenciou com um colega que roubou seu antigo trabalho – cada uma teve uma percepção e vivência singular da situação (que pode ter sido condizente ou não com a realidade). Através da percepção, cada um tende a construir a realidade como “crê” ou como “quer” que ela seja. O risco é de cairmos em ilusões ou distorções perceptivas – o que dificulta o estabelecimento de vínculos no ambiente de trabalho e resulta em uma fonte de conflitos. Seriam elas interpretações falsas da realidade, das sensações. Experimenta-se o mundo diferente do que realmente é devido ao estado emocional ou às expectativas. Um exemplo dentro da organização seria a percepção de que “as pessoas das outras áreas cometem mais falhas de procedimentos: indicadores numéricos objetivos e bem compreendidos, análise de resultados em colegiado são instrumentos úteis para reduzir este efeito” (BERGAMINI, 2006, p.110). Os estereótipos correspondem a um tipo de ilusão perceptiva, em que o indivíduo influenciado por uma impressão padronizada de alguém em específico ou de um grupo de pessoas atribui a eles características generalizantes que não correspondem à realidade. O efeito halo seria outro tipo em que “características positivas ou negativas de um indivíduo encobre todas as demais características que ele tem” (BERGAMINI, 2006, p.110). Um último tipo de ilusão relevante seria a projeção, em que “o percebedor atribui à pessoa percebida suas próprias características pessoais” (BERGAMINI, 2006, p. 110). Vamos agora às leis básicas que guiam o estudo da percepção. Estas leis são fundamentais para pensar, elaborar e estruturar a comunicação interna e externa das organizações. As Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ condições básicas que estruturam a percepção são: as propriedades inerentes ao estímulo, os fenômenos de constância, organização, forma, mobilidade e profundidade perceptiva. As propriedades dos estímulos condizem a: - Intensidade e tamanho, quanto maiores mais perceptíveis serão; - Forma, quanto mais definida e delineada melhor será percebida; - Cor, quanto maior a quantidade de cor, melhor a percepção; - Mobilidade, se em movimento, mais atenção chamará. Quanto à repetição e frequência do estímulo, o risco é pecar no excesso. Pois, quanto maior a repetição, melhor a percepção, entretanto, corre-se o risco de saturar a percepção pela monotonia. Quando o estímulo permanece constante a sensibilidade decresce, causando uma adaptação sensorial e uma perda da atenção do indivíduo direcionada à percepção do estímulo. Os quadros de informações nas organizações são exemplos típicos de adaptação sensória, com o tempo tornam-se indiferenciados, indiscriminados pela percepção. 54 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância O Fenômeno de constância perceptiva refere-se a “uma ilusão construída pelo cérebro, [que] permite admitir que os objetos possuam sempre as mesmas características (tamanho, cor, localização, peso etc.)” (FIORELLI, 2004, p. 66) independente das alterações ambientais que afetam a percepção do objeto. Por exemplo, sabemos que uma bola mantém seu tamanho mesmo quando é vista muito pequena, por localizar-se a uma grande distância dos nossos sentidos. Este fenômeno perceptivo é aprendido com o desenvolvimento e apreensão cultural. Ele é essencial ao homem na busca e manuseio dos objetos, portanto, essencial à sobrevivência humana. A tendência humana para a organização perceptiva, que já foi mencionada, funciona a partir de alguns princípios universais propostos pela Escola da Gestalt – vista na Unidade I: - Relação figura-fundo. Quando há uma percepção complexa tende-se a focar a parte mais organizada e definida. Esta se destaca como “figura” e o restante “fundo”. Por exemplo, a voz de um cantor seria a “figura” e a banda, “fundo” (ou o oposto, dependendo do interesse de quem percebe). - Princípio de agrupamento dos estímulos. Dá-se de acordo com a proximidade, semelhanças ou continuidade deles. Muito observado, dentro das organizações, na construção de tabelas (FIORELLI, 2004); - O princípio de fechamento. Consistiria no preenchimento das partes faltantes em um estímulo, buscando um “todo” coerente. Como a repetição de jingles publicitários que após um tempo divulga-se apenas parte dele e por este princípio de organização perceptiva, completamos a música em nossa mente, participando de forma ativa com a propaganda (BRAGHIROLLIi et al, 1998); - A mobilidade é outro fenômeno da percepção. É possível ter a percepção de um movimento aparente em objetos estáticos, por exemplo, se estamos em um carro parado e o carro ao lado dá marcha à ré, temos a percepção de estarmos em movimento; - A noção de profundidade. Este mecanismo dá a ideia de perspectiva e amplia, no indivíduo, a noção espacial e de elaboração de abstrações (FIORELLI, 2004). Em cima de toda esta compreensão sobre a percepção, devemos finalizar este item entendendo que a percepção tem um efeito determinante na harmonia dos relacionamentos e nos conflitos que se instauram no ambiente organizacional. Por vezes, elas constroem barreiras entre as pessoas ou entre o indivíduo e o mundo que o circunda. Assim, nas organizações, o ponto chave é trabalhar a percepção, aguçá-la, desenvolvê-la, o que pressupõe também auto perceber-se, conhecer-se. Outra coisa que deve ser considerada é a possibilidade de alterar valores pessoais e padrões de referências fragmentários e frágeis de coerência, culminando em mudanças de atitudes e de comportamento – algo que veremos adiante na Unidade V. OBSERVAÇÕES: Nas organizações muitos problemas imediatos tomam o papel de “figura” – gerando esquemas rígidos de pensamento em torno destes, enquanto os problemas reais e enraizados – que por isso passam despercebidos – tomam o “fundo” da situação (FIORELLI, 2004, p. 69). Dentro do marketing, trabalha-se muito com a articulação deste esquema de percepção: o desafio é tornar sua mercadoria a “figura” e as outras mercadorias, semelhantes ou concorrentes, “fundo”. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 55 ATENÇÃO E MEMÓRIA Atenção A atenção pode ser metaforicamente comparada ao feixe de luz de uma lanterna, foca-se em alguns estímulos. Ela pode ser caracterizada também pela seletividade, ao qual se fixa em alguns estímulos e descarta os outros. Assim, é possível dizer que a atenção “constitui o filtro fundamental dos estímulos para o funcionamento da percepção, da memória e do pensamento” (FIORELLI, 2004, p. 78). Existem fatores que influenciam a atenção. Alguns fatores são externos e interferem na permanência da atenção: intensidade, novidade e repetição. Outros fatores podem ser considerados internos ao indivíduo e consistem nas necessidades, motivações, objetivos, interesses, enfim, na personalidade do indivíduo. Dentro das organizações, o ideal para chamar atenção dos clientes internos e externos é “transformar um assunto em necessidade” (FIORELLI, 2004, p.79). Assim, ao estruturar um programa organizacional é preciso, Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ periodicamente, lançar conteúdos novos para manter a atenção – quanto mais ousados e originais, melhor. Memória A memória seria o registro de estímulos na mente e ficam armazenadas tais quais imagens ou ideias (significados). Pode-se dizer que é a partir da atenção e da percepção que a memória pode ser ativada. Entretanto, a memória dificilmente mantém o conteúdo inicial de registro, já que a mente tende a fazer arranjos, aumentar, distorcer o material, seja incorporando registros anteriores ou a perda dos registros com o tempo. É importante observar que estímulos agradáveis são mais facilmente retomados pela memória. Outra questão a se atentar é de que as ausências, falhas, na memória de uma situação podem acabar sendo preenchidas por fantasias – misturando lembrança da realidade com criação da mente. Independente disto, a lembrança é, com convicção, considerada realidade pelo indivíduo. A memória pode ainda fortalecer-se a partir de alguns fatores: - Ambiente favorável, que viabiliza a manutenção da atenção dos indivíduos, tende a aumentar a concentração, e consequentemente, a memorização das coisas; - Apresentação de um material em associação a outras ideias, assuntos e informações ou que exige o uso de mais de um dos sentidos – por exemplo, visão e audição – viabiliza o aproveitamento de vários aspectos da memória – é o caso da exploração dos recursos didáticos em treinamento para melhorar a apreensão dos participantes; - Forma como um conteúdo é organizado e a - Frequência de sua apresentação. 56 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância DICA: Disciplina e organização são fatores importantíssimos para lidar com o excesso de informações do dia a dia. Por meio delas damos maior atenção ao que é urgente e memorizamos mais facilmente o que precisamos. Algumas pessoas fazem listas de atividades, outras se adaptam melhor as agendas. Inclusive, existem softwares criados para organizações que disponibilizam uma agenda dinâmica e interativa para os colaboradores. Cabe a cada um descobrir quais os métodos que melhor auxilie na sua memorização e atenção. INTELIGÊNCIA Este conceito recebe muitas definições. Mas, de forma geral, corresponde à inter-relação e interdependência entre as capacidades de aprender, de resolver problemas novos e de pensar abstratamente. A inteligência é um dos aspectos do pensamento e compõe a vida mental de todos. As diferenças entre os indivíduos correspondem apenas a graus de variações. Mas, os graus de inteligência devem ser ponderados a partir dos diversos fatores que, necessariamente, a afetam como: a hereditariedade, o meio ambiente (sejam aspectos culturais ou socioeconômicos), a constituição física e seu desenvolvimento e a maturação. Muitos psicólogos focaram-se no estudo do conceito de inteligência e buscaram a mensuração deste fenômeno por meio de testes de inteligência. Eles foram motivados pelas ideias positivistas em voga ainda no início do século XX e pela necessidade de medir os progressos de programas de desenvolvimento educacional de alguns países. A psicometria citada na Unidade I e II, trazida por Francis Galton, foi a precursora dos testes na psicologia. Já Alfred Binet foi o primeiro a criar testes de inteligência voltados à avaliação de crianças. Neles media-se a “idade mental” da criança, que nem sempre correspondia à idade cronológica. A partir de uma média “ideal-normal” de desenvolvimento intelectual, esperado para cada idade, era feito a avaliação: crianças que se sobressaíam à média eram consideradas superdotadas, e as abaixo da média, atrasadas mentalmente. A partir destes testes iniciais outros se sucederam, todos baseados na fórmula matemática que media o QI (Quociente Intelectual). Alguns passaram a medir habilidades intelectuais específicas, como o raciocínio verbal, numérico, espacial, interpessoal, mecânica etc. Descobriu-se, enfim, uma infinidade de habilidades intelectuais que acabaram sendo de grande valia na orientação vocacional e nos processos de seleção de pessoal. Muitas críticas foram atribuídas aos testes, quanto à rotulação e classificação que recai sobre as crianças e a consequente indução do comportamento destas a partir do rótulo adquirido. Outra critica forte é a respeito do reducionismo das diversas dimensões da inteligência a alguns resultados numéricos que pouco expressam a totalidade da personalidade individual: levando a criação de uma distorção perceptiva do tipo Efeito Halo (visto anteriormente). Devemos colocar em evidência mais uma questão: será que todos que se submetem aos testes estão verdadeiramente motivados ou interessados em fazê-lo? Isso obviamente interfere no resultado. Outra situação que a psicologia, hoje, vem dando prioridade é para a história de vida do indivíduo avaliado. Em que situação ele se encontra? Quais conflitos ou dificuldades ele vem vivenciando? Pesquisas de clima e cultura organizacional INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 57 também têm este caráter – além de entender o contexto organizacional busca identificar elementos individuais que podem se trabalhados. Um atraso mental não corresponde a uma doença, mas a carências que podem ter diversas causas, como: herança genética; lesões geradas no nascimento; ingestão de drogas ou enfermidades da mãe gestante e disfunções endócrinas significativas (BRAGHIROLLI et al, 1998). Na sua concepção, é possível que estas pessoas tenham uma vida útil e produtiva? E o que é ter uma vida útil e produtiva? Para encerrar este item, vale a pena tomar conhecimento de que indivíduos provindos de famílias de status socioeconômicos mais elevados têm, predominantemente, resultados dentro da média de QI considerada normal ou superior. Isto se explica pelo fato de que estes indivíduos recebem “melhores oportunidades de desenvolvimento, tanto físico como emocional e intelectual. Além de uma alimentação mais rica e variada, seus pais são pessoas Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ mais instruídas, o que lhes proporcionam um meio familiar estimulante” (BRAGHROLLI, 1998, p. 149). EMOÇÕES As emoções são expressões afetivas marcadas por reações emocionais intensas e imediatas. Difere, assim, dos sentimentos que são mais brandos e duradouros. Geralmente, as emoções são acompanhadas de reações orgânicas que condizem a uma descarga da tensão proporcionada pela emoção. Assim, fogem ao nosso controle. Aliás, corresponde a ativação do sistema nervoso autônomo que envolve alterações glandulares, de pressão, do ritmo cardíaco, dos músculos, entre outros. Além das alterações fisiológicas, as emoções podem ser detectadas pela sua verbalização, já que por vezes atingem a consciência, ou pela linguagem corporal relativa à expressões faciais, gestos, postura corporal etc. De forma inata, algumas respostas emocionais são universais, mas “como”, “quando” e o “quanto” expressálas é algo aprendido e revelam muito sobre uma cultura. Assim, o desenvolvimento emocional, geralmente, é padronizado e regulado a partir de aspectos sociais e de determinados momentos históricos: cada cultura define as formas e as situações mais adequadas para expressar emoções, sendo estas aceitáveis pelo grupo de pertença. A cultura ocidental – muito marcada pelos pressupostos da ciência: objetividade, racionalidade e neutralidade – deixou profundas fissuras na forma como seus membros vivenciam o cotidiano. A prevalência e a valorização da razão suprimiram as experiências emocionais. Disto colhem-se frutos amargos como é o caso das doenças psicossomáticas, que compõe doenças orgânicas causadas por mecanismos psíquicos – no ambiente de trabalho é resultado do excesso de estresse. 58 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância É importante entender que ter controle sobre as emoções é necessário, mas não devemos negá-las. Valorizá-las é sinônimo de saúde mental. Chamaremos isto de maturidade emocional, algo característico da fase adulta (com significativas exceções). Difere assim da expressão emocional infantil ao qual se busca a atenção para si. Difere, também, da adolescência que é marcada por “altos e baixos”, próprios de quem busca solidificar uma identidade e vivencia um momento de espera e transição. Fiorelli aponta que a felicidade seria a emoção que mais interessa ao administrador, já que pessoas felizes “tomam decisões com maior facilidade; percebem o mundo mais seguro; mostram maior satisfação com a vida em geral; apresentam relacionamentos interpessoais mais promissores; contribuem para despertar esperança nas outras pessoas; são mais propensas a ajudar os outros” (2004, p.96). Como uma organização pode proporcionar a felicidade de seus funcionários? Alterando forma, quantidade ou frequência de remuneração? Será que o ditado popular deve-se alterar então para: a felicidade se compra? Fiquem atentos ao próximo item, talvez auxilie nesta reflexão. Antes de fecharmos, alguns aspectos da emoção ainda devem ser levados em consideração. As emoções, inicialmente, podem servir de auxílio ao desenvolvimento de uma atividade, tornando-a mais interessante, mas em excesso, prejudica o desempenho. Afeta e influencia, também, alguns fenômenos mentais como: sensação (altera limiares de sensação); percepção; memória (diminui em situações de tensão e medo e aumenta em momentos de êxtase e enamoramento); e a atenção seletiva. MOTIVAÇÃO Vamos falar, daquele “q” de insatisfação que continuamente visita nossa vida. Insatisfação esta necessária e salutar, pois nos move na procura por satisfação: seja a satisfação de necessidades fisiológicas básicas ou necessidades socialmente construídas e, portanto, estimadas e cobiçadas. Trata-se de uma busca individual e singular que alimenta o “eu”: corpo e psiquismo. Este item tratará de um fenômeno que remete à ideia de movimento: motivação! Palavra esta que tem a mesma raiz do conceito “emoção”: “movere”. Ambas, cada qual à sua maneira, surge para o indivíduo como um despertar, um sinal, que mobiliza a ação, o comportamento. Entretanto, emoção tem um caráter mais intenso e imediato como vimos anteriormente, enquanto a motivação tem uma intensidade variável, costuma ser prolongada e dirigida a um objetivo ou uma meta. Por vezes, as motivações estão encobertas no inconsciente, assim se a pessoa não se conhece age de forma quase cega. Motivação é, muitas vezes, considerada “sinônimo de forças psicológicas, desejos, impulsos, instintos, necessidades, vontades, intenção” (BRAGUIROLLI et al, 1998, p90). Mas, de forma geral está em oposição aos comportamentos conformistas ou reflexo-condicionados. Ela caracteriza na verdade uma tensão interna e não um marasmo ou apatia comportamental. É assim originada nas predisposições internas ao indivíduo (carências, anseios, faltas) e não tem relação com comportamentos induzidos por um agente externo que condicione o indivíduo, o premiando ou punindo, por INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 59 exemplo. Neste caso, o comportamento cessaria com a ausência do fator externo, pois não haveria qualquer tipo de iniciativa própria da parte do indivíduo sem os estímulos apresentados. PRINCIPAIS TEORIAS MOTIVACIONAIS Foram várias as teorias que surgiam tentando explicar e sistematizar o conceito de motivação. Ainda hoje não há uma teoria consensual que abarque, satisfatoriamente, todos os fatores e a dinâmica inerente a tal conceito. Mas, a variedade de teorias constitui um ótimo suporte para a aplicação e compreensão de ideia de motivação na situação de trabalho. Além do que, abriu brechas para uma leitura menos robótica do homem, anteriormente proposto pela administração científica, resgatando e (re)significando a ideia de trabalho para o homem. O primeiro grupo de teorias que veremos são aquelas que focam as necessidades internas como alavancas do processo motivacional. Seriam elas: a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow e a teoria dos dois fatores de Herzberg. A primeira é considerada um referencial, principalmente, nos estudos de teoria geral da administração. Para Maslow, haveria uma escala hierárquica, representada por uma pirâmide, que tem em sua base as necessidades básicas, fisiológicas (relativas à sobrevivência humana). Tem, por conseguinte, respectivamente, as necessidades de seguranças (proteção, estabilidade); as necessidades sociais (aceitação grupal, sentimento de pertença); as necessidades de estima/ auto-confiança e de auto-realização (que corresponderia ao autodesenvolvimento, criatividade). Neste modelo, a necessidade de cada nível hierárquico deve ser satisfeita para que o próximo nível, mais elevado, seja buscado e atingido pelo indivíduo. Diversos autores concordam que as necessidades fisiológicas constituem a base da motivação, sem a qual, outras motivações não se consolidariam. Concordam ainda que a auto-realização seria a maior das motivações humanas. Mas, muito se discute sobre os comportamentos que na prática contrariam esta lógica, como é o caso de: Pessoas de extraordinária capacidade de realização [que] abandonam carreiras brilhantes em troca de consideração e afeto: estacionam em nível intermediário na hierarquia de Maslow (...) artistas que suportam necessidades [fisiológicas] notáveis, na busca da auto-realização que a arte proporciona-lhes (FIORELLI, 2004, p.123). Assim, constata-se que, uma vez mais, valores sociais, individuais, constituição biológica e o momento histórico influenciam na constituição dos processos psíquicos e, no caso, influenciam a motivação do indivíduo. A outra teoria, de Herzberg, pressupõe, a partir de alguns estudos, a existência de dois tipos de fatores que afetam o comportamento dos homens: os higiênicos e os motivacionais. Os primeiros, provindos do mundo externo do indivíduo referem-se a salários e benefícios, segurança e relações interpessoais no trabalho e ambiente de trabalho adequado. Seria algo do âmbito da “obrigação” que a empresa tem de cumprir com relação a seus colaboradores. Não gera motivação o cumprimento deles, mas sua ausência leva a insatisfação. Os fatores motivacionais, do contrário, fariam parte do mundo interno dos indivíduos e consistiriam em valores 60 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância profissionais como reconhecimento, possibilidade de crescimento, desafio e responsabilidade, status etc. Estes sim, se supridos culminariam em motivação, do contrário, não haveria insatisfação. Algo bastante questionável. As críticas referentes à esta teoria dizem respeito à insuficiência metodológica e falta de confirmação prática. Outras teorias que ainda merecem destaque são aquelas que ponderam a importância de outros elementos além das necessidades na promoção da motivação. Entre eles estariam as teorias: teorias que visam enriquecer a tarefa; as teorias que visam o enriquecimento sóciotécnico (FIORELLI, 2004); a teoria da equidade, de Adams e a teoria da expectativa, de Vroom (MACEDO et al, 2003). A primeira delas preza pelo enriquecimento da tarefa como um determinante da motivação. Um mesmo cargo deve comportar diferentes habilidades, bem como deve haver certo grau de autonomia para decisão de procedimentos e programação da tarefa. O resultado da tarefa deve também ter um impacto nas outras pessoas (reconhecimento), bem como deve permitir ao indivíduo reconhecê-lo como produto de sua criação. A eficácia de sua atividade deve receber feedback (FIORELLI, 2004). As críticas a tal teoria focam-se no risco de sobrecarregar um indivíduo e nas limitações que alguns possuem para lidar com a liberdade de ação no trabalho, pois se habituaram a receber ordens. A segunda teoria propõe acrescer ao trabalho as atividades de grupo, visando satisfazer as necessidades sociais de reconhecimento pelo “outro”. A terceira, a teoria da equidade, corresponde ao sentimento de justiça e a tendência a comparar a quantidade e qualidade de nossa atividade e a remuneração consequente a esta, com a atividade e remuneração de outros colegas de trabalho. Estas comparações afetariam, significativamente, a motivação individual. A quarta e última pontua como fator motivacional, os aspectos de valência (valor ou importância do resultado); expectativa (previsão e esforço para resultado) e instrumentalidade (desempenho recompensado). MOSCOVICI, F. Novas Perspectivas de Motivação. In Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo. Rio de Janeiro, LTC – livros técnicos e científicos. Editora S.A. 1983. (P. 43 – 54). CHARVOV, B. H & MONTANA, P. J. Motivação: Teoria e Prática. In Administração. Cid Knipel Moreira (Trad.). 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. CONSIDERAÇÕES FINAIS É perceptível que todos os fenômenos mentais expostos nesta unidade estão extremamente interligados e, da mesma forma, todos são significativamente influenciados por uma série de fatores dos quais tratamos na Unidade III, ao conceber o homem em sua totalidade. Podemos nos valer do conhecimento destes vários aspectos constitutivos do indivíduo, bem como o da identificação dos fatores que influenciam os comportamentos e o funcionamento mental, para melhor utilizar o potencial dos colaboradores. Aproveitar ao máximo as habilidades destes. Entretanto, isto só se torna possível quando tomamos INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 61 como pressuposto idiossincrático, considerar e tratar os clientes internos e externos em suas singularidades. Para tanto, contamos com instrumentos de diagnóstico e planejamento estratégico que primam por detectar as necessidades, dificuldades e anseios de quem trabalha. Fatores estes que não são gerais, nem universais, mas particulares – marcados pela cultura, momento histórico, história de vida e, porque não dizer, pela cultura e clima organizacional?! DICA: Uma leitura interessante que amplia e explora o intercâmbio entre psicologia e administração, trazendo inúmeros exemplos dentro do campo empresarial é: FIORELLI, J. O. Psicologia para Administradores: integrando teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2004. – este livro já faz parte de nossa bibliografia básica, mas vale a pena destacá-lo. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO I. Qual dos fenômenos psíquicos apresentados nesta unidade é o mais elementar? E quais são suas principais funções? II. Crie um texto, discorrendo sobre o dia de um trabalhador. Nele devem constar todos os fenômenos discutidos nesta unidade. Não se esqueça de citar qual é o tipo de trabalho que ele realiza e descrever suas reações. 62 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância UNIDADE V O HOMEM NAS ORGANIZAÇÕES Professora Mestranda Alexandra Arnold Rodrigues Objetivos de Aprendizagem • Apreender aspectos gerais do conceito de aprendizagem. • Saber diferenciar comportamento de atitude e compreender que mudanças de comportamento só são possíveis com a mudança de atitude – sendo este um princípio básico para os treinamentos e desenvolvimento de pessoal. • Identificar a importância do conceito de “cliente” e valorizar a satisfação deste como garantia da boa execução de papéis organizacionais. • Entender que dentro do conflito de interesses entre indivíduos e organização, ceder é algo necessário e conciliação é algo vantajoso para ambos. • Ver a promoção da saúde mental como responsabilidade humana e social das organizações, além de um importante fator estratégico na redução de gastos e na manutenção do processo de produção. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O conceito de aprendizagem • Aprendizagem nas organizações: treinamento, desenvolvimento e ensino corporativo • Pressupostos que embasam as mudanças de comportamento • Pontos estratégicos para uma boa execução do papel organizacional • Situações de conciliação e conflito de interesses entre organização e indivíduos • Origens dos transtornos mentais e necessidade de promoção da saúde mental nas organizações INTRODUÇÃO Esta última unidade propõe inserir este homem do qual tratamos até agora, mais profundamente, no ambiente organizacional: Este homem que é objeto de estudo da(s) psicologia(s) e, portanto, é compreendido de diferentes formas; este homem que é, necessariamente, um ser social e que só tem sua identidade consolidada no processo de humanização (educação e trabalho); este homem que tem sua constituição e funcionamento psíquico influenciado por inúmeros fatores, inclusive pelas organizações no qual trabalha. Para tanto, devemos ter em mente, de forma clara, o que foi desenvolvido na Unidade III de que o trabalho é um dos alicerces da humanização, portanto, é fonte de satisfação. Entretanto, veremos adiante que inúmeros fatores estão, hoje, imbricados no processo de trabalho – a atividade humana acaba impondo excessos, restrições e muito sofrimento. Vocês encontrarão também alguns aspectos “chave” para o bom desempenho de papeis organizacionais e detectarão que, necessariamente, haverá conflitos entre organização e indivíduos, mas que é possível encontrar saídas. Ao final desta unidade, questiona-se qual é a responsabilidade que as organizações devem assumir com relação à saúde mental e a satisfação dos seus colaboradores. Não seriam elas possibilidades de ganhar vantagens competitivas? Além do quê, as organizações não têm vida própria: elas dependem das pessoas – valorizá-las Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ também é investir no funcionamento da sua empresa. APRENDIZAGEM, ATITUDES E MUDANÇA DE COMPORTAMENTO O homem é a espécie animal mais evoluída e, como tal, é a que possui o menor número de comportamentos inatos, fixos e invariáveis. Por isso, o homem é o animal mais dependente da aprendizagem para sobreviver (BRAGHIROLLI et al, 1998, p. 117). Como vimos, é a nossa capacidade de aprender que permite acumular conhecimentos produzidos pela humanidade e assim construir e manter uma cultura. Isso consolida um enorme legado às gerações posteriores que, igualmente, valem-se do aprendizado para apropriar-se do já construído e acrescentar suas contribuições. E como poderíamos definir o conceito de aprendizagem? INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 65 Em uma das definições propostas pela psicologia, a aprendizagem corresponderia ao “processo de organização das informações e de integração do material [adquirido] à estrutura cognitiva” (BOCK et al, 1997, p. 102). Na realidade, ela se estabelece pela atribuição de significado às aquisições do meio externo. A aprendizagem caracteriza-se, ainda, por gerar mudanças permanentes no comportamento a partir de experiência prática no mundo. Podemos falar de dois tipos diferentes de aprendizagem: a aprendizagem mecânica, no qual as informações adquiridas pouco ou nada se associam aos conceitos/conhecimentos que já integram a estrutura cognitiva; e a aprendizagem significativa, na qual novas informações e ideias relacionam-se com conceitos claros e disponíveis na mente, o que permite sua assimilação (BOCK et al, 1997). Aprendizagem no mundo do trabalho Hoje, se fala muito de processos de aprendizagem contínuos, ampliam-se os espaços de aprendizagem e ganham cada vez mais “voz e vez” as organizações neste meio. O ensino passa a fazer parte das estratégias empresariais de capacitação e retenção de talentos visando ganhar pontos no acirrado mercado competitivo. Isto tudo não é sem causa, dá-se devido a um momento importante da história humana que é marcado pela velocidade da produção do conhecimento e à sua consequente obsolescência. Este período, marcado pelo assustador desenvolvimento e incremento de novas tecnologias, é denominado por Rocha-Pinto et al (2003) como era do conhecimento. Segundo estes autores, esta nova era exigiu uma “mudança de paradigma na gestão empresarial, ou seja, a passagem de uma administração taylorista/fordista para uma gestão holística, mais flexível, e com forte impacto nas organizações” (p.98). Esta nova perspectiva de mudança, dentro das organizações, permitiu algumas mudanças: desde a informação que venceu as barreiras hierárquicas para assumir a forma de rede, até o relacionamento com o cliente, antes unilateral e via mercado que agora assume um caráter interativo e via redes pessoais (ROCHAPINTO et al, 2003). Prioriza-se a aplicação de um conhecimento estratégico em detrimento do operacional e concebe-se como finalidade da aprendizagem um “saber ser” em detrimento do costumeiro “saber fazer” (ROCHA-PINTO et al, 2003). Neste ínterim, os processos de treinamento e desenvolvimento de pessoal vêm ganhando novas conotações e sofrendo importantes revisões. Para compreender isto, vamos à definição dos termos treinamento e desenvolvimento. Treinamento nos dicionários da língua portuguesa remete à ideias como “adestramento” e “exercício” o que nos lembra do conceito de aprendizagem mecânica, entretanto, o treinamento tem sua utilidade ao primar por uma especificidade no conhecimento, restrito à tarefa ou ao cargo a desempenhar. Já o termo “desenvolvimento”, corresponderia à aprendizagem capaz de acarretar o crescimento integral do indivíduo preparado assim para solucionar novos problemas em diferentes situações. Sobe ao palco agora o processo conhecido por educação corporativa que tem alguns princípios como base, pontuados da seguinte forma por Rocha-Pinto et al (2003, p. 100): 66 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Princípios filosóficos (...). Mudança cultural, valorização do ser humano e visão sistêmica formam a essência da evolução dos processos de ensino/aprendizagem dessa educação. Princípios metodológicos (...). São eles: utilização de práticas que privilegiem a interação dos grupos, valorização das experiências profissionais e investimentos ao autodesenvolvimento (...). Os princípios empresariais (...) alinhamento com o planejamento estratégico, preocupação permanente com a cultura e a identidade organizacional e utilização de tecnologias de gestão diversificada. É possível pontuar e diferenciar três tipos de educação propiciados pelas organizações e que, possivelmente, se enquadram dentro da educação corporativa: a educação organizacional, educação pessoal e educação técnica. A educação organizacional consiste no fortalecimento da cultura organizacional e foca-se na realidade organizacional, ou seja, na origem e trajetória histórica, valores e missão, sistemas internos e estrutura física etc. Já a educação pessoal permite o desenvolvimento do indivíduo ao levá-lo a deparar-se com suas potencialidades e com a possibilidade de aprender a utilizá-las. Propicia ainda o encontro com as suas capacidades criativas e participativas (MACEDO et al, 2003). Haveria, ainda, a educação técnica que “tem por finalidade qualificar tecnicamente as pessoas, ensinando-lhes conceitos, valores e técnicas profissionais, bem como priorizando a realização das tarefas” (MACEDO et al, 2003, p.102). Enfim, os novos paradigmas e exigências do mercado mundial estão impondo a adesão das organizações a princípios e estratégias educacionais voltadas, prioritariamente, à alteração do “campo atitudinal” dos indivíduos. Vamos entender isto: Atitude O termo “atitude” foi amplamente explorado pela psicologia social e neste momento nos é de grande valia para compreender o processo de mudança de comportamento nas organizações, que será visto adiante. Primeiramente, vamos a definição do conceito. As atitudes são resultados de percepções do mundo externo (cognição/informação de algo) que carregam consigo afetos (e emoções) positivos ou negativos. Disto culmina o comportamento ou ação (favorável ou não) sobre o meio social (pessoa, objeto ou situação). Então, a atitude pressupõe a existência do tripé: cognição – afeto – comportamento. Todas interligadas e dotadas de certa coerência. Por exemplo, se tenho em mente a informação/ percepção de que meu chefe é um bom líder, terei como afeto certo respeito e me comportarei frente a ele com certa cautela e disposição – motivado a agradá-lo. Assim, as atitudes seriam resultados das aquisições culturais e da aprendizagem. Seria, enfim, consequência da possibilidade de significar do mundo. Em novas palavras: as atitudes correspondem às crenças, valores e opiniões de cada indivíduo. São, portanto, singulares e apesar de relativamente estáveis são passíveis de mudança (BOCK et al, 1997). INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 67 Mudança de comportamento Qualquer mudança de comportamento exige, antes, uma mudança de atitude. Uma mudança de valores e crenças. Este pressuposto está pautado na harmonia que existe no tripé de suporte das atitudes. Assim, a mudança de atitude é resultado de uma inconsistência ou alteração de um dos “pés” do tripé, o que acarreta a alteração dos outros dois “pés”. Vejamos: a alteração decorrente de uma briga com alguém de quem se gosta, um presente de alguém inesperado ou a ajuda de alguém que se pressupunha antipático – estes fatos resultam igualmente na alteração perceptivacognitiva, afetiva e de comportamento com respeito à pessoa nas situações correspondentes. Assim, as mudanças podem partir da alteração ou influência em um dos pés, já que os restantes provavelmente o acompanharam. Este tipo de comportamento é algo que vem sendo muito valorizado e considerado quase que sinônimo de sobrevivência dentro das organizações. Devemos considerar a tirania psíquica que é ter que viver sobre riscos e instabilidade constante – a mente e o corpo possivelmente, sempre em estado de alerta tende à exaustão. Como poderíamos conciliar as novas exigências do mercado mundial com as capacidades humanas? É neste contexto que entra o processo educacional que, ao “desenvolver” a potencialidade das pessoas, alavanca possibilidades de mudanças de referenciais e dos modelos de interpretação da realidade, ou seja, cria novas estruturas cognitivas. Em meio a este movimento, até as motivações dos indivíduos são redirecionadas (MACEDO et al, 2003). Segundo Macedo et al (2003), as organizações, hoje, estão voltadas a desenvolver nos seus colaboradores o “comportamento inovador” em detrimento ao comportamento alienado dos modelos empresariais burocráticos de outrora. Este comportamento, em consonância com as contínuas mudanças do mercado e com as exigências empresariais de flexibilidade, responsabilidade e colaboração, vem trazer a ideia de transgressão como um valor. Ou seja, o que vale é correr riscos e de forma desafiadora, ultrapassar os limites normativos impostos pela organização na busca de novidade e resultados. Para tanto, é preciso conhecer muito bem as regras e ter uma liberdade no pensar para que se possa “testar os limites”. No outro extremo, teríamos o comportamento alienado que se incorpora nas pessoas metódicas, presas a padrões técnicos e comportamentos preestabelecidos pela organização. Trabalha apenas pelo salário e portando objetiva unicamente disputar cargos de melhores remunerações, não são capazes, assim, de atribuir significados às suas atividade. Segundo Macedo et al (2003), este comportamento é resultado do padrão educacional voltado exclusivamente à especialização tecnológica e à promoção de competitividade (no lugar de incentivo de parcerias). Isso produz profissionais alienados da totalidade da organização, voltados para tarefas rotineiras e sem autonomia. Autores prevêem que as organizações que funcionam sob esta lógica, possuem curto tempo de vida. Devemos considerar também que certos incentivos ou reforços são essenciais para que uma atitude nova seja adotada. Macedo et al (2003), propõe a partir das ideias de Paulo Freire que o maior reforço possível é a 68 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância possibilidade de autonomia diante da aprendizagem. Isto se dá quando o líder ou educador propõe que, além da explicação verbal, haja a possibilidade realizar o trabalho na prática acompanhado de uma supervisão atenta. Desta prática deve surgir uma reflexão crítica realizada em parceria, situando as dificuldades encontradas e o esclarecimento de pontos obscuros. A próxima etapa seria a realização do trabalho sozinho para que se adquira “confiança e destreza” – a aprendizagem só se efetuará quando o indivíduo “recriar o conteúdo ensinado e também quando consegue atingir ou ultrapassar os resultados previstos” (MACEDO et al, 2003, p. 50). Pontuado isto, nos cabem apenas mais algumas observações acerca dos obstáculos que, por vezes, uma organização ou os próprios indivíduos colocam sobre os processos de desenvolvimento. Fiorelli (2004) situa que por parte das organizações elas constituem-se na: crença de que o indivíduo não é responsável por seu desenvolvimento e sim, a empresa (o que gera acomodação); desmotivação dos indivíduos que buscaram desenvolver-se e não foram reconhecidos ou não obtiveram apoio; falta de informações a respeito dos objetivos e metas da empresa, mal definidos e conflitantes gerando uma busca de desenvolvimento incoerente com pressupostos da organização; treinamentos voltados às funções, restringindo a percepção sobre a tarefa que o indivíduo executa e a ausência de modelos que inspirem os indivíduos a buscarem seu desenvolvimento. A seguir, nos depararemos com outra função do processo de desenvolvimento. ADEQUAÇÃO AOS PAPEIS ORGANIZACIONAIS Quando uma pessoa torna-se parceira de uma organização, ela inicialmente tem de deparar-se com a cultura desta organização, aprender a adequar-se e aos poucos encontrar o seu papel dentro deste grupo social. E, se os homens são singulares, as organizações também são. Cada organização compõe o que chamamos de cultura (uma “microcultura”). Nela existe um conjunto de valoreschaves que “vão nortear as formas de perceber, pensar, sentir e agir de todos em relação aos desafios internos e externos a organização” (ROCHA-PINTO et al, 2003, p.110). A cultura organizacional corresponde tanto a história e origem da empresa, os símbolos, costumes, regras, tabus, produtos e serviços criados pela empresa até aspectos mais simples da sua estrutura física. Isto tudo, “transparece na forma como as pessoas se relacionam, como confraternizam, na maneira como são tomadas as decisões, nos critérios mais valorizados para a progressão de carreira e no jargão ou linguagem costumeira utilizada pelos indivíduos” (ROCHA-PINTO et al, 2003, p.111). E é neste ambiente particular que o novo colaborador terá de adaptar-se, de constituir um sentimento de pertença e fortalecer uma identidade com o grupo e a cultura organizacional, mas isto só será viabilizado com a construção do papel que desempenhará. O papel organizacional, tal qual o papel que os indivíduos assumem na sociedade, corresponde a uma expectativa, ou seja, seria aquilo que os outros membros da cultura esperam que ele faça. Cumprindo o papel a ele designado, possivelmente, com o tempo, o indivíduo verá seus comportamentos, atitudes e visão de mundo se alterar com a INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 69 sua participação no todo. Como que inserido em um sistema, o indivíduo tende a ser influenciado e a influenciar as diversas partes que o compõe, como uma rede. Dentro das organizações podemos falar em três papéis básicos: do indivíduo (no caso, a organização é o meio para alcançar os próprios objetivos), do empresário (que tem os indivíduos como meios para chegar a resultados) e de quem recebe os benefícios/resultados das ações, que poderemos chamar de clientes – aqueles que recebem o benefício da ação (seja interno à organização ou externo). Cada papel exige diferentes tipos de comportamento e há uma interdependência dos papéis organizacionais, visando um mesmo objetivo: garantir um bom funcionamento da totalidade do “sistema”. Formam-se então redes de interação, estritamente necessárias para cumprir as exigências dos papéis organizacionais. Trata-se de uma via de mão dupla – aquele que realiza serviço ou entrega produto (fornecedor interno) e aquele que recebe o resultado da atividade (cliente interno). O segundo também influencia o primeiro, por algum tipo de feedback, mesmo sem contato físico ou visual (FIORELLI, 2004). Configura-se assim uma cadeia de interação (que alcança até o cliente externo) que determina, em maior ou menor grau, a produtividade e a qualidade dos serviços. Fiorelli (2004) atenta ao fato de que para desempenhar bem o papel organizacional é preciso ter claro quem é o “seu cliente”, ou seja, para quem estão voltados os resultados de sua ação. Segundo o autor, “tem importância fundamental o desenvolvimento de [uma] visão sistêmica dos processos em que as pessoas atuam, porque o cliente principal pode não ser o imediato”. (p. 153). Assim, um dos objetivos essenciais para um bom desempenho do papel organizacional é buscar captar a visão do “cliente”, para tanto é essencial que processos de educação contínuos sejam realizados e objetivem compreender e atender as exigências dos clientes. Treinar as percepções permite ao indivíduo dar-se conta, inclusive, das mudanças de exigência deste cliente. Segundo Fiorelli (2004), “encantar o “outro”, o cliente – [é] papel essencial, de todo indivíduo na Organização competitiva”, e continua, definindo as barreiras de comunicação como um empecilho para cumprir este papel: “identificá-las e neutralizá-las constitui passo fundamental para a excelência no exercício dos papéis destinados a cada um no palco organizacional” (p. 154). Para que tudo isso seja possível, todo um aparato de eficiência deve entrar em cena, sejam as habilidade e capacidades técnicas do qual o indivíduo dispõe ou o envolvimento e vivência afetiva que o liga ao exercício do seu papel organizacional. Somado a isto, o indivíduo deve estar aberto para se auto-conhecer. É só a partir do (re)conhecimento de nossas percepções, emoções, comportamentos e das suas respectivas consequências, que podemos nos responsabilizar por elas e construir um sentimento de alteridade. Isto porque, só ao desembaçar as lentes de nossa percepção é que os outros poderão ser verdadeiramente (apesar de nunca inteiramente) considerados. TENSÃO ENTRE INTERESSES INDIVIDUAIS x ORGANIZACIONAIS A pessoa tem consciência de suas necessidades e objetivos. Mas pode ser que ela considere impossível alcançálo num dado contexto organizacional e nesse caso é natural haver frustração e desmotivação. Assim o processo 70 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância educacional pode capacitar a pessoa a descobrir novos objetivos individuais (...) A integração entre o indivíduo e a organização é alcançada pela satisfação mútua de objetivos individuais e organizacionais. Assim sendo, os processos educacionais podem contribuir para a motivação das pessoas ensinando-lhes a descobrir formas criativas de realizar ao mesmo tempo os objetivos organizacionais e os seus objetivos pessoais (MACEDO et al, 2003, p.103). Falamos até aqui em mudanças de atitude, em adequação de papéis e em identificação com a cultura organizacional. Entretanto, todas estas mudanças e flexibilidades, nas quais o indivíduo tem de submeter-se para inserir-se em uma organização, possuem seus limites. É fácil pensar que as pessoas mudam e, portanto, devem adaptar-se ao meio. Mas, uma boa parte da personalidade dos indivíduos é inalcançável, já se encontra “rígida”. As mudanças alcançam, assim, apenas alguns dos aspectos Fonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ da personalidade. Isto quando as mudanças propostas são aceitas pelos indivíduos. Neste item, pensaremos na posição que as organizações podem tomar frente a isso. É de se esperar que uma solução viável seja a busca da adaptação das solicitações e exigências das organizações às características dos indivíduos que as compõem. Considera-se, assim, que a empresa deve propiciar condições para concretizar objetivos individuais e se não for o caso, a empresa vai acabar sufocando os interesses dos indivíduos de tal forma que anulará a possibilidade de desenvolvimento da identidade, aliás, “quanto maior for a compatibilidade entre os valores pessoais e a tarefa a ser desempenhada, mais forte será o compromisso profissional, o que dispensa controles estruturados” (MACEDO et al, 2003, p.107). Geralmente, os administradores se prendem muito aos objetivos organizacionais deixando quase que em último plano a preocupação com o atendimento dos objetivos pessoais de seus colaboradores. Em verdade, o administrador só tem a ganhar quando consegue conciliar estes dois objetivos. Ao priorizar as necessidades de seus funcionários abre as portas para uma parceria que culmina no atendimento dos objetivos da empresa. A complementaridade destes objetivos anuncia bons frutos. Do contrário, conflitos tentem a estourar com muita facilidade e a empresa torna-se “produtora em série” de danos à saúde do trabalhador. Segundo Bergamini (2006, p. 159): A empresa pode oferecer situações que, por serem tão refratárias às pessoas, desajustam e neurotizam seus contribuintes individuais. Contrariamente, ela pode também representar um forte instrumento que favorece o ajustamento e a satisfação daqueles que nela trabalham. Entretanto, a citação a seguir nos faz pensar que o ajustamento do indivíduo nem sempre equivale à sua satisfação, vejamos: INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 71 A personalidade ajustada é a que se adapta confortavelmente à sua sociedade. Isto não significa necessariamente que seja uma pessoa saudável e feliz. Pessoas saudáveis são as que se mantém em contato com o seu EU real, totalmente conscientes dos valores, necessidades, sentimentos e compromissos a que se ajustam. Pessoas saudáveis estão centradas no presente, são independentes e abertas, demonstram alguma forma de criatividade intelectual, são intelectualmente flexíveis e são aventureiros e espontâneos e emocionalmente comunicativos (MALINDA JO LEVIN, 1978 citado por BRAGHIROLLI et al, 1998, p.198). Conclui-se, então, que a compatibilidade entre satisfação e adaptação só é viável a partir de uma escolha consciente. O indivíduo seria então submetido, mas também se submeteria as regras propostas pelo meio. Pois, o indivíduo que sofre pode estar perfeitamente adaptado, respondendo às expectativas sociais e cumprindo com suas obrigações. SAÚDE MENTAL NO TRABALHO: UMA PREOCUPAÇÃO ESTRATÉGICA DAS ORGANIZAÇÕES O conceito de saúde mental é algo extremamente discutível e sempre gerou controvérsias entre os estudiosos. Muitos criticam a comparação de saúde mental ao de ajustamento ou conformação social. Saúde mental também não poderia corresponder à ausência de conflitos, de frustrações e ansiedades, mas sim à sua presença. Estes sentimentos são inerentes à constituição humana e em certo grau, são responsáveis por garantir a vivência e sobrevivência humana. Como assim, sobrevivência?! Ora, são todos elementos que despertam, no indivíduo, certa insatisfação e anunciam que algo não vai bem. A partir destes sinais o corpo é capaz de resistir ou reagir às adversidades, sejam elas internas ou externas. O que pesa e altera o funcionamento do psiquismo é a forma como lidamos com estes três elementos. A dificuldade é ainda maior, quando temos que lidar com situações ou ambientes que potencializam estes elementos. As organizações podem assumir esse papel de “potencializador” dos conflitos, frustrações e ansiedades. Por exemplo, um dos valores divulgados por uma empresa é a cooperação e o trabalho em equipe, mas, contraditoriamente, incentiva a competição, bonificando e reconhecendo os melhores vendedores de um mesmo estabelecimento. A vivência desta situação de conflito moral e de valores pode precipitar uma ansiedade generalizada que toma o indivíduo sob a forma de um perigo vago e desconhecido, mas que se sabe inevitável (BRAGHIROLLI et al, 1998). As frustrações são, em realidade, parte do cotidiano dos indivíduos de uma organização. Resultam da interrupção de um comportamento motivado. A potencialização disto se dá quando se refuta ao individuo a total responsabilidade pela falha ou fracasso daquilo que se objetivava alcançar. Isto gera comportamentos de inferioridade, inadequação e culpa excessiva – ainda mais quando o individuo costuma ser exigente com ele mesmo e acaba dando adesão cega a este processo. 72 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância De qualquer forma, os transtornos mentais (ou o comprometimento das atividades mentais superiores), são resultados da interação entre a história de vida do indivíduo e a sua estrutura psíquica. Mas: As condições externas devem ser entendidas como determinantes ou desencadeadoras da doença mental ou propiciadoras e promotoras da saúde mental, isto é, da possibilidade de realização pessoal do indivíduo em todos os aspectos de sua capacidade (BOCK et al, 1997, p. 298). Neste contexto, trazemos as ideias de Dejours (1996) que aponta as atuais mudanças de paradigmas do mercado como condição social crucial à saúde mental. Pois, apesar de acarretar benefícios ao homem pela produção cultural gerada, vem aos poucos colocando o homem na posição de vítima do trabalho. O equilíbrio psíquico dependeria, assim, da organização do trabalho, ou seja, da divisão das tarefas e da divisão hierárquica dos homens, que impõe certas sujeições ao homem. Isto sem contar as sobrecargas psíquicas e motoras. Dejours (1996) discute a importância das empresas começarem a reconhecer e se preocupar com suas “poluições psíquicas e societárias”. “[...] cresce, vertiginosamente, a terceirização, quarteirização e o contrato temporário em busca da flexibilização no uso do trabalho. Novas características foram incorporadas à função: qualificação e polifuncionalidade [...]” (pg.95). E ainda, exigese dos trabalhadores “[...] alta concentração, maior qualificação, capacidade de adaptação e respostas rápidas às demandas da produção [...]” devendo ainda estar “[...] motivados e satisfeitos, decididos e atuantes, identificados com os objetivos do capital e flexibilizados emocionalmente o que significa ser ‘maleável, fácil de manejar, domável, dócil, complacente, brando, suave, submisso’[...]” (BARRETO, 2000, p.101). Esta autora faz uma crítica ferrenha as condições impostas hoje aos trabalhadores que tem seu lado bom e ruim. Mas, não seriam estes fatos os maiores indicadores de transtornos mentais no trabalho? Para entender isto, vamos conhecer alguns transtornos mentais característicos do ambiente de trabalho. Seriam eles, inclusive, grandes geradores de custos à organização, e que são dificilmente identificáveis: “transtorno relacionado ao estresse; transtorno de estresse pós-traumático; transtorno depressivo; transtornos não orgânicos de sono; transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de álcool” (FIORELLI, 2004, p. 276). O estresse é resultado de pressões externas, como situações de mudança ou geradores de expectativas e conflitos internos. Desencadeia, além de reações comportamentais e emocionais, algumas reações físicas. Por exemplo, alguns tipos de “alergias” (sem fundamento orgânico), em partes específicas do corpo. O pós-traumático resulta de uma situação de susto. Desprevenido, o indivíduo não é capaz de reagir e elaborar a situação traumatizante que acaba por repercutir em sua vida durante certo período de tempo. Fiorelli (2004) pontua serem seus principais indicadores, a violência social e, na sequência, os acidentes de carro. Podemos citar também os casos de acidente de trabalho: perder um dedo em um maquinário ou cair de cima de um poste de rede elétrica, por exemplo. Ainda segundo Fiorrelli, os traumas trariam aos indivíduos dificuldade de reinserção nos grupos de convívio e na realização das atividades. Acarretaria também alteração dos limiares sensitivos e certos comprometimentos físicos. O autor pontua ser um desafio social reduzir estas ocorrências e atenuar seus efeitos, cabendo às organizações amparar os indivíduos, na medida do possível. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 73 Já a depressão seria um sentimento de incapacidade, impotência e culpa acompanhado do consequente isolamento, negativismo e perda de iniciativa. Muito diferente da tristeza, a depressão vem ganhado espaço no cenário médico e já é anunciada em algumas revistas como o “mal do século”. Os distúrbios do sono e o alcoolismo podem estar relacionados a outros transtornos e, possivelmente, têm íntima relação com o estilo de vida que, hoje, os indivíduos assumem, de euforia e consumismo. Estes transtornos que assolam nosso modo atual de viver vêm culminar numa tendência a medicalização-anestesia da sociedade. Dentro das organizações, administradores e psicólogos devem prezar pela promoção da saúde mental, enquadrando-a nas estratégias administrativas e nos programas de saúde e segurança no trabalho. Assim, tomaFonte: LEVENDULA IMAGEM DIGITAL LTDA - Rio de Janeiro - RJ se por meta propiciar o aumento da produtividade e da qualidade de vida no trabalho. As organizações devem ser capazes de identificar e antecipar as possíveis consequências das condições adversas de trabalho, geradoras ou desencadeadoras de “transtornos mentais”. Todas as ações dentro das organizações devem ser planejadas e contar com o auxílio de bons profissionais de várias áreas para prevenir e “neutralizar” os fatores que favorecem tais transtornos. Este tipo de atitude anuncia uma responsabilidade humana e social dos dirigentes das organizações. Anuncia, ainda, a aquisição de novas vantagens competitivas: O administrador deve conscientizar-se de que promover a saúde mental é economicamente mais rentável do que neutralizar ou reparar os efeitos dos transtornos mentais, cujos custos (em geral invisíveis), afetam todas as Organizações. O psicólogo organizacional é um profissional qualificado para contribuir com essa missão (FIORELLI, 2004, p.308). CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta unidade trouxe certos questionamentos necessários a respeito da interação do homem com o mundo do trabalho. Ponderou que tanto um como o outro deve ceder, em termos, assumindo certas mudanças de atitude. Assim, certas adequações são necessárias, o homem ao assumir seu papel que lhe cabe dentro das organizações deixa parte de seus desejos de lado em prol da garantia de segurança, remuneração justa, liberdade para apreender o mundo, possibilidade de enriquecer-se e desenvolver-se na realização criativa e autônoma de sua tarefa. Isso não nos lembra algo? Tal qual um protótipo do funcionamento da cultura, as organizações também têm a responsabilidade de amparar seus membros. Esta mensagem e o conteúdo desta apostila talvez tenham lhes garantido a aquisição de novas informações. A expectativa é que ela tenha conseguido mudar atitudes, garantindo novos tipos de comportamento 74 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância e ação a respeito da parceria psicologia e administração. ATIVIDADE DE AUTOESTUDO I. Cada vez mais, ouvimos falar de aprendizagem dentro do ambiente de trabalho. O texto desta unidade nos trouxe a ideia de que vivemos na era do conhecimento. Cite os três tipos de educação possíveis dentro da organização e explique-as. II. O que é atitude? Discuta sobre os três pés que a sustenta e como se dão as mudanças de atitude. III. Pense, que tipos de situações você mudaria na sociedade para promover a saúde mental? E dentro das organizações? INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 75 CONCLUSÃO Olá, novamente, alunos! É bom reencontrá-los na conclusão desse livro. Como se saíram com as leituras? Já conseguem me responder qual é a função da psicologia e que serventia ela tem para as organizações? Sabem pontuar qual o papel da psicologia do trabalho atualmente? E como podemos definir personalidade? O que significa a tal qualidade de vida e saúde mental do trabalhador? Observem essas perguntas e reflitam sobre o que mudou do que vocês sabiam antes para o que agora sabem sobre esses conceitos. É legal adquirir novos conhecimentos, não? Para fazer uma grande retomada, vamos esquematizar, de forma geral, as discussões centrais de cada capítulo. O que acham? • Unidade I: O que é psicologia e para que serve. • Unidade II: O papel da psicologia no mundo do trabalho ao longo da história. • Unidade III: Definição de cultura (produções e instituições humanas) e de individualidade (personalidade e identidade) e a relação entre ambas. • Unidade IV: Principais conceitos da psicologia referente a processos mentais e sua utilidade para a estrutura e cultura organizacional. • Unidade V: O desempenho de papeis organizacionais a partir de conceitos como aprendizagem, identificação do “cliente”, motivação e saúde mental no trabalho. Conseguiram lembrar? Vamos destrinchá-los a partir de alguns estudos de caso. O que acham? Estudo de caso I: Maria e Franciele assistiam a uma palestra motivacional oferecida pela empresa que trabalham. Depois de um exemplo dado pelo palestrante Maria se contorce em risos e sai da palestra contente. Entretanto, Franciele se sensibilizou com o exemplo e antes do fim da palestra corre ao banheiro para cair em prantos. As duas são grandes amigas, inclusive, moram juntas, saem juntas e são da mesma equipe de trabalho. Quais os conceitos aprendidos ao longo do nosso livro que pode nos ajudar a analisar este caso? Vamos começar pelas diferenças individuais como vimos na Unidade III? Ora, por mais que ambas tenham inúmeras afinidades e dividam muitas coisas, compartilhem gostos e vivam na mesma sociedade e cultura organizacional, elas têm visões de mundo diferenciadas. Têm histórias de vida particulares. Enquanto uma delas associou a fala do palestrante a uma desilusão que sofreu atualmente, a outra pode ter assimilado a fala a alguma lembrança cômica. Mais do que isso, podemos resgatar a noção de motivação (Unidade IV). Lembrem-se a que motivação não se cria, ela já está lá em cada indivíduo e de forma singular. Mesmo que duas pessoas queiram subir para um mesmo cargo, cada uma deseja e fantasia isso de forma diferente. Por isso, o que os gestores podem fazer é mobilizar a motivação existente em cada indivíduo, descobrindo o que os motiva. Uma palestra pode tocar apenas a motivação de alguns, assim como um recadinho no começo da manhã não tem serventia para aquele trabalhador que se motivaria, neste momento, apenas com uma promoção. Uma análise da cultura da empresa pode auxiliar 76 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância na avaliação dos elementos motivacionais latentes em cada equipe: por exemplo, a equipe alega na entrevista que há muita fofoca e competição na repartição e “isso desmotiva”. Aqui, vemos um elemento da Unidade V, os interesses da empresa que valoriza a competição, entram em conflito com os interesses individuais de cooperação e amistosidade entre colegas. Diante disto, o gestor pode mobilizar esse fator motivacional que se expressou na entrevista, criando estratégias de produtividade que primem pela cooperação ao invés da competição. A criação de metas coletivas mensais pode ser uma solução, de forma que todos devem contribuir para atingi-la. A tendência é que a própria equipe cobre de seus membros uma contribuição e acabe se autossupervisionando. Isso também solidifica a cultura dessa equipe e minimiza fofocas. Estudo de caso II: Rômulo é psicólogo em uma empresa e desde que entrou desempenha um mesmo papel: seleção de pessoas, descrição de cargo, entrevista de desligamento e treinamento aos novos funcionários. Tentando utilizar melhor seus conhecimentos, Rômulo oferece ao gestor da empresa uma entrevista semiaberta para ser aplicada na empresa toda no período de três meses para avaliar a cultura organizacional e em seguida propor mudanças. O gestor prontamente se negou e orientou para que continuasse com seu trabalho, pois não tinha tempo para “criar mais problemas”. Deste caso podemos tirar o quê, além do fato de Rômulo ficar desmotivado? Ora, como vimos na Unidade I e II, a psicologia do trabalho, principalmente no Brasil, ainda se restringe a aplicação de métodos convencionais do período industrial. As atuais análises organizacionais suscitam e desvendam os conflitos subjacentes ao funcionamento da cultura da organização: por exemplo, o quanto todos sabem sobre a história da empresa, sobre seu fundador? Por vezes, se cria inúmeros mitos pela falta de informação. Esse tipo de análise cabe ao psicólogo que também pode apresentar sugestões para mudanças, como por exemplo, uma cartilha “animada” que conta a história, apresenta as regras e valores da empresa. Inclusive, que contenha uma fala do fundador ou do proprietário da empresa, se apresentando e saldando seus colaboradores. De qualquer forma, esse tipo de técnica da psicologia do trabalho permite maiores diálogos e uma maior compreensão da empresa, as mudanças podem e até devem ser definidas em coletivo e por vezes, até os colaboradores podem e devem ser convidados a participar no processo decisório. Estudo de caso III: Agora vamos analisar a música “Caçador de Mim” de Milton Nascimento (Composição de Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão). “Por tanto amor Por tanta emoção A vida me fez assim Doce ou atroz Manso ou feroz Eu caçador de mim Preso a canções INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 77 Entregue a paixões Que nunca tiveram fim Vou me encontrar Longe do meu lugar Eu, caçador de mim Nada a temer senão o correr da luta Nada a fazer senão esquecer o medo Abrir o peito a força, numa procura Fugir às armadilhas da mata escura Longe se vai Sonhando demais Mas onde se chega assim Vou descobrir O que me faz sentir Eu, caçador de mim.” Essa música pode nos ajudar a compreender a Unidade III. Vocês conseguem me dizer qual a relação possível entre essa música e a unidade em questão? A ideia desta música é mostrar como a identidade de cada um de nós se constitui numa busca contínua. Vocês se lembram da teoria de Erickson, das fases da vida que constituem características da identidade? Pois bem, a identidade se forma nesse contínuo devir, “eu caçador de mim”, diante do “que me faz sentir”, do que “vou descobrir”, do que me mantém “sonhando demais”, das lutas, do medo, da procura cotidiana de nosso ser. O ambiente de trabalho não pode ficar alheio a essa “caça”, essa busca de identidade, e deve fornecer substratos para consolidar a identidade do trabalhador; essa é uma preocupação da psicologia atual como vimos na Unidade II. É preciso que as empresas permitam e estimulem o crescimento dos indivíduos, suas potencialidades e suas motivações devem ser respeitadas, gerando com isso qualidade de vida e saúde mental. Estudo de caso IV: Rogério trabalha em uma empresa de energia elétrica e é encarregado de trocar peças avariadas em postes na região central da cidade onde mora. Ao fim da tarde é obrigado a entregar um relatório ao seu gestor a respeito das condições encontradas em cada poste e das mudanças realizadas. Entretanto, Rogério não gosta de usar os EPI’s (Equipamentos de segurança) para subir nos postes e sempre burla as regras da empresa, alegando que tais equipamentos são desconfortáveis e pesados. Na hora de fazer o relatório, Rogério ainda se depara com uma sala improvisada, entre um banheiro e uma sala de reuniões. Reuniões que inclusive ocorrem sempre ao final da tarde. Além do mau cheiro e do barulho, o que mais incomoda Rogério é ter de usar o computador. Suas habilidades são restritas e o computador sempre trava. Há meses Rogério sobre com uma gastrite crônica e nada que o médico receita alivia suas dores. 78 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Como você definiria esse ambiente de trabalho? Você gostaria de estar no lugar do Rogério? Essa é uma pergunta que todos os gestores devem fazer ao pensar nas pessoas pelo o qual é responsável. Isso gera certa empatia e um pouco de sensibilidade para lidar com seus colaboradores. Para entender o caso IV, devemos recorrer à Unidade IV. Aqui vemos um ambiente de trabalho negligente com os processos mentais de seus trabalhadores. A sala que Rogério usa para elaborar os relatórios não facilita o desempenho de seu papel organizacional, como vimos na Unidade V. Trata-se de um ambiente que cria situações de estresse e que, no caso do uso de EPI`s, é omissa com as situações que envolvem risco de vida. E se essa sala ainda tivesse as paredes pintadas de laranja? Bom, está mais do que na hora dessa empresa resolver ouvir e olhar para seus colaboradores. Esse é o primeiro passo para diagnosticar problemas e averiguar a possibilidade de mudanças. A tecnologia hoje permite adequações e melhorias no ambiente de trabalho, EPI`s mais modernos podem ser uma solução para aos antigos materiais pesados e desajeitados. Os computadores também devem passar por renovações, acompanhar o ritmo do mercado com tecnologias ultrapassadas inviabiliza a qualidade nos serviços e produtos oferecidos. Quanto a gastrite de nosso amigo Rogério, que não responde a medicação, podemos recorrer a Unidade V. Precisamos perceber que certos agentes de estresse de nosso dia a dia afetam, de forma significativa, o nosso organismo. Rogério parece sofrer de uma doença psicossomática, ou seja, algo físico ou orgânico, mas que tem um fundamento psíquico. O ambiente de trabalho do Rogério pode ter ajudado na construção dessa doença. Bom, isso contraria toda a nova discussão sobre a saúde do trabalhador. Rogério, efetivamente, não tem qualidade de vida no trabalho, isso porque ele próprio reconhece as dificuldades do uso de EPI`s e o incômodo que sente ao realizar a última etapa de seu trabalho, fazer o relatório. Digo isso, porque vimos que qualidade de vida também é um construto subjetivo, no caso, Rogério poderia nos dizer e assegurar que tem qualidade de vida e sentir que esses fatores não o afetam. Mas, a sua realidade é diferente, certo? Aqui vocês repararão que as leituras de Dejours foram imprescindíveis. Reparou aquele que fez a “tarefa de casa”: estou falando da nossa pesquisa proposta lá no nosso Guia de orientação, no início do livro, lembram? INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 79 Estudo de caso V: Essa nossa imagem parece retratar bem um ambiente que não prima pela otimização dos processos mentais de seus funcionários, se é que podemos dizer assim. Algo que vimos na Unidade IV e que já observamos no estudo de caso IV. Para analisar essa imagem, retomem os conceitos de limiar de percepção, de atenção e memória. Agora pensem comigo, divisórias ajudam a aproveitar o espaço físico da empresa, não é? Contudo, se não há uma barreira acústica, a tendência é afetar o índice de concentração, aumentar as distorções perceptivas e eliminar a privacidade dos funcionários. Por isso, investir no espaço físico pode trazer grandes retornos, além de criar um clima organizacional favorável. É preciso observar também, que em bons lugares para se trabalhar, há gestores preocupados com os conflitos decorrentes de fofocas. Nesses lugares, a tendência é manter um bom processo de comunicação interna e externa, de forma a transmitir segurança aos colaboradores. Comunicações claras e simples, de fontes confiáveis, são receitas para o sucesso nas relações humanas. Estudo de caso VI: Fátima é nova na empresa x e foi contratada para auxiliar na implementação de um novo projeto na área de finanças. Contudo, vem sofrendo sucessivas represálias da coordenadora do projeto, Raquel. O gestor desta equipe percebeu a situação conflitiva e chamou toda a equipe para uma conversa. Mesmo sem ser rude, o gestor não soube lidar com a situação, expos as envolvidas no conflito. Conclusão, o gestor não conseguiu identificar a causa dessas discussões e a produtividade da nova colaboradora declinou cada vez mais, gerando sua demissão. 80 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância Na entrevista de desligamento, Fátima explica que teve dificuldades em definir sua função na equipe, que suas tarefas não eram claras e que Raquel sempre se sentia ameaçada com sua atuação profissional. Finaliza a entrevista alegando que seu trabalho foi sabotado por alguém da equipe e que esse foi o motivo do desligamento. Para entender esse caso, vale a pena retomar a Unidade V. Estamos falando aqui de um conflito de papeis e, consequentemente, de um baixo desempenho. Neste caso, é fundamental que o gestor saiba administrar conflitos, conhecer as possíveis técnicas para não cometer tais gafes. É também papel do gestor, identificar quem é o seu cliente interno. Vocês sabem dizer quem são eles? Não seriam Fátima e Raquel? Ora, sua função é orientá-las em seus papeis organizacionais e delimitar muito bem os cargos. Ou seja, o gestor também deve apresentar aos seus colaboradores quais os clientes internos que eles devem satisfazer. Se o cliente é o mesmo, é preciso definir metas cooperativas e as funções específicas para realizar a tarefa. Fátima poderia ser um ótimo talento perdido e tornouse um ônus a empresa, seja com relação ao gasto no processo seletivo e outros investimento ou com relação à imagem da empresa que ficou manchada. O discurso de Fátima, a respeito da empresa, carregará essa mancha. Imaginem então como seria se Fátima assumisse uma função já existente e acontecesse o mesmo conflito com Raquel? Poderíamos deduzir que o que o antigo funcionário fazia provavelmente não era o adequado ou o prescrito pela empresa, ele não tinha seu papel bem definido. Possivelmente foi demitido pela mesma razão. A questão é: até quando a empresa manterá essa rotatividade de funcionários sem averiguar as causas das demissões consecutivas? Rotatividade é indício de “sintoma” e merece atenção. Neste caso, podemos lembrar a “Lógica dos macacos”. Conhecem essa? Trata-se de um experimento, em que se colocou um grupo de macacos em um ambiente com uma escada e uma penca de bananas no alto dela. Quando um macaco tentava subir, a escada jorrava água gelada sobre todos os colegas. Assim, nenhum macaco poderia subir a escada sem que levasse uma surra dos colegas. Ninguém estava disposto a se molhar. Com o tempo, mais nenhum macaco subia as escadas. Diante disto, colocaram novos macacos na jaula do experimento e todos tentavam subir e apanhavam. Mesmo depois de toda a geração de macacos terem sido trocados, ninguém subia a escada, mas também não se sabia o motivo. Estudo de caso VII: Uma empresa telefônica brasileira foi comprada por uma multinacional. A proposta da nova empresa é de manter o quadro de funcionários. Contudo, todos precisarão se adaptar a modernos procedimentos de atendimento que funcionam por meio de trabalhos de equipe. Para isso, um programa de treinamento contínuo foi elaborado por uma psicóloga com dinâmicas para sensibilizar e refletir sobre a importância da equipe, além de toda uma cartilha informacional e experimentos práticos simulando o procedimento. Em médio prazo, a empresa pretende conquistar uma efetiva mudança de atitude desses colaboradores. Neste nosso último estudo de caso, devemos recorrer à Unidade V. As mudanças organizacionais sempre exigem mudanças de comportamento, mas como já vimos, um comportamento não muda se não houver mudança de atitude. Ou seja, é preciso haver mobilização do “tripé” básico da atitude: mudança de afeto ou de sentimento com relação a nova situação, mudança nas informações relativas a tal situação ou a criação de novos comportamentos. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância 81 Uma mudança em um desses aspectos leva a alterações nos outros dois elementos do tripé. No caso, a psicóloga elaborou um treinamento muito conciso: propõe manejar os afetos dos colaboradores por meio de dinâmicas de grupo; oferecer informações a respeito dos novos processos e estimular os comportamentos esperados para realizar o procedimento ao simular a prática com supervisão e orientações. Vocês são capazes de perceber que as chances de sucesso são altas? Para finalizar, pensem em quantas vezes mudamos de atitude diante de certas situações ou pessoas, após receber maiores informações sobre elas ou após se sensibilizar ou agir diante delas. Antes de finalizar, vamos às respostas das perguntas que fiz a vocês no guia de orientação: • É eficiente um carro de som alardeando repetidamente o seu novo produto pelos bairros da cidade? R: Muitas vezes não. A repetição de um estímulo pode causar uma adaptação e deixar de atingir o limiar de percepção. • A cor dos móveis, parede ou do ambiente de trabalho como um todo, influencia na produtividade? R: Sim. Alguns estímulos tendem a estressar os sentidos e atrapalhar a concentração. • A inteligência é um dom que uns tem e outros não? R: Não. Todos nos temos inteligência. Contudo, algumas pessoas possuem maior aptidão verbal, enquanto outras possuem maior aptidão numérica, por exemplo. Estas variabilidades da inteligência orientam os conhecidos testes vocacionais. • Todos os homens só se motivam a trabalhar se for para receber dinheiro? Por isso, quanto mais dinheiro, mais trabalho? R: Não. Os fatores motivacionais variam de homem para homem, dependem da história de vida de cada um e das necessidades atuais de cada indivíduo. • As pessoas tendem a memorizar melhor as coisas, se mais de um tipo de estímulo sensório for apresentado? R: Sim. Esse é o método apresentado pela pedagogia e pelas teorias da aprendizagem para otimizar o processo de ensino. • Tudo o que passa pelos nossos cinco sentidos são percebidos? R: Não. Nem sempre as sensações alcançam a percepção. As sensações são puramente orgânicas, enquanto a percepção corresponde a interpretação dessa informação. Imaginem um dia de trânsito caótico. Agora responda: quantas coisas são efetivamente percebidas por vocês? A nossa atenção, inclusive seleciona o que será percebido. • O que te chama mais atenção: um anúncio de próteses dentárias ou uma reportagem sobre “empresas que deram certo”? R: Para os futuros gestores, a segunda reportagem tende a atingir a atenção seletiva e ser prioridade na nossa percepção. Contudo, se vocês estiverem com problemas nos dentes, pode ser que a atenção se concentre no primeiro anúncio, não é? Espero que agora estejam munidos das informações necessárias para lidar de forma mais empática com as pessoas. Mais do que isso, espero que tenham sido tocados, afetivamente, pelo conteúdo desse livro ou por alguns dos exemplos apresentados. Só assim haverá uma mudança de atitude! Esse é um dos objetivos da aprendizagem, como vimos na Unidade V. Torço para que tenhamos feito um bom percurso até aqui. Mantenham-se firmes para dar sequência nos estudos. Boa continuidade a essa caminhada. Abraço e até a próxima! 82 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA | Educação a Distância REFERÊNCIAS BARRETO, M. M. S. Uma Jornada de Humilhações. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) – PUC de São Paulo, São Paulo, 2000. BERGAMINI, C. W. Psicologia Aplicada à Administração de Empresas: Psicologia do Comportamento Organizacional. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2006. BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 1997. BRAGHIROLLI, E. M. Psicologia Geral. 16 ed. rev. e atul. Porto Alegre: vozes, 1998. DEJOURS, C. Uma nova Visão do Sofrimento Humano. (p.149-179). In: J. CHANLAT. O indivíduo na Organização. São Paulo: Atlas, 1996. ERIKSON, E. H. O Ciclo de Vida Completo. Maria Adriana Veríssimo Veronese (Trad.). Porto Alegre: Artes médicas, 1992. FIORELLI, J. O. Psicologia para administradores: Integrando Teoria e Prática. (4 ed). São Paulo: Atlas, 2004. FREUD, S. (1923). El Malestar en la Cultura. In Obras Completas. (Vol. 2). 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