Indústria Farmacêutica Eli Lilly e os Conflitos dos Canais de Marketing. Nome Sidney Lino de Oliveira Faculdade Faculdade Batista de Minas Gerais Puc Minas/MG E-mail [email protected] Telefone 31-9951-1072 Fax 31-3444-3737 Breve CV Mestre em Administração; MBA Executivo Internacional – ênfase em Marketing (FGV/BH); Especialista em Pedagogia Empresarial (UEMG); Bacharel em Administração (PUC/MG). Nome Josmária Lima Ribeiro de Oliveira Faculdade Puc Minas/MG E-mail [email protected] Telefone 31-9619-6337 Fax 31-3444-3737 Breve CV Mestre em Administração pela UFLA/MG; Bacharel em Ciências Contábeis pela UFMG. Resumo Os canais de marketing são constituídos por um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo. Cada organização que constitui os canais de marketing busca a maximização do seu lucro e em virtude desta intenção muitos conflitos são gerados entre os agentes dos canais. Para gerenciar estes conflitos, o líder do canal necessita compreender a origem destes e minimizar os atritos gerados para que o canal exerça com eficácia e eficiência as metas da indústria. O objetivo deste artigo consiste em identificar os conflitos dos canais de marketing de uma indústria farmacêutica multinacional. Para tanto, apresenta-se um estudo de caso, na filial brasileira da indústria farmacêutica Eli Lilly. Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas e pesquisa a dados secundários. Como resultado foram identificados sete conflitos entre os agentes dos canais de marketing da indústria farmacêutica. As características dos conflitos consistiram em intracanal, multicanal e paralelo. Entre as causas que sucederam os conflitos apresenta-se a escassez de recursos, o domínio, a política de descontos, os objetivos concorrentes e a fidelização de clientes. Palavras-chave Indústria farmacêutica, canais de marketing, conflitos. Abstract Marketing channels are constituted by interdependent organizations in the process of making available a product or service for its use or consumption. Each organization that constitutes the marketing channels searches to maximize its profit, and in virtue of this intention many conflicts are generated among the channel agents. To manage these conflicts, the channel leader needs to understand the origin of the conflict and to minimize the generated clashes so that the channels exert with effectiveness and efficiency the goals of the industry. The objective of this paper consists in identifying the conflicts of marketing channels in multinational pharmaceutical industry. This case of study happened in a Brazilian office of the pharmaceutical industry, Eli Lilly. For data collection it was utilized half-structuralized interviews and search secondary data of other developed research. As a result, identified seven conflicts were among the marketing channel agents of the pharmaceutical industry. The conflicts characterized into 7 channels: intra, multi and parallel. Among the causes that resulted into the conflicts are: scarcity of resources, domain, competing politics of discountings, adversary´s objectives and customers retention. 1 Introdução A tendência da indústria farmacêutica consiste em promover uma integração entre os segmentos de diagnóstico, medicamentos, planos e serviços que dão assistência a pacientes portadores de uma doença específica. A indústria farmacêutica tem assumido um papel de liderança no processo, flexibilizando e adaptando a condução dos negócios e o tratamento dos pacientes. A empresa Eli Lilly, uma das líderes mundiais da indústria farmacêutica, desenvolve vários medicamentos e está presente em 158 países. Seu faturamento mundial em 2002 foi de US$ 11,1 bilhões, com R$ 369,7 milhões no Brasil, onde está instalada desde 1944. Os canais de marketing apresentam interatividade por ser um sistema constituído de empresas e retratar um modelo dinâmico, pois a cada instante surgem novas instituições de atacado e varejo e novos sistemas de canais. Entre os canais de marketing existem conflitos. A maioria deles tem sua origem no momento em que o membro de um canal vê seu parceiro como adversário ou oponente, sendo assim, as partes interdependentes em níveis diferentes do mesmo canal tentam bloquear umas às outras. Este trabalho tem o objetivo de propiciar por meio de um estudo de caso descritivo e exploratório, a evidenciação dos conflitos dos canais de marketing da indústria farmacêutica Eli Lilly, atuante no Brasil. Para tanto, o artigo apresentará os princípios teóricos que conduziram a análise da pesquisa, a metodologia utilizada, a estrutura dos canais de marketing da Eli Lilly, e os conflitos identificados nos canais de marketing da indústria farmacêutica. 2 2.1 Referencial Teórico Canais de marketing Os fabricantes, em sua maioria, não vendem seus produtos diretamente para os consumidores finais. Entre eles podem existir vários intermediários realizando diversas funções. Para Kotler (2000), esses intermediários constituem um canal de marketing, também chamado de canal comercial ou canal de distribuição. Segundo Coughlan et al. (2002: 20) “...um canal de marketing é um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo”. Para Rosenbloom (2001:296), “um canal de marketing, também chamado de canal de distribuição, é a rede de organizações que cria utilidades de tempo, lugar e posse para consumidores e usuários empresariais”. E Iacobucci (2001: 290) afirma que “um canal é constituído de entidades múltiplas (empresas, agentes, pessoas) interdependentes, mas que podem ou não ter todos os mesmos incentivos para operar da maneira desejada”. Os canais escolhidos afetam as outras decisões de marketing, pois estão entre as decisões essenciais que os gerentes precisam lidar. A partir da análise da interligação entre os membros do canal, percebe-se que o preço estabelecido pela empresa e as decisões referentes à divulgação sofrem vinculação entre os membros. As decisões sobre os canais de marketing da empresa envolvem compromissos relativamente de longo prazo com outras empresas, o que envolve uma necessidade de parceria constante (Kotler, 2000). Para Corey e Raymond (1991), um sistema de distribuição é um recurso externo muito importante, pois representa um compromisso corporativo significativo com diversas empresas independentes e com os mercados específicos que elas atendem. A partir dos quatro P’s, ou seja, produto, preço, promoção e praça, expressos por McCarthy (1996), observa-se que as aplicações de canais de marketing, também chamadas de praça, ponto de venda ou distribuição, juntamente com os outros três P’s do composto de marketing (produto, preço e promoção) necessitam ser desenvolvidas e harmonizadas para atender às demandas dos mercados-alvo da organização. Rosenbloom (2001) considera que, dependendo das circunstâncias envolvidas, os canais marketing podem desempenhar um papel crucial nos esforços da empresa para competir com sucesso no mercado. Os canais de marketing são importantes como integrantes do composto mercadológico. Segundo Bucklin (1966), a luta para manter espaço nas prateleiras dos distribuidores, é um dos desafios comuns no gerenciamento de canais de marketing para todos os tipos de empresas, grandes e pequenas. Os maiores desafios enfrentados no gerenciamento do composto mercadológico estão nos seus canais, os quais podem ser percebidos até mesmo em empresas com grande força em produtos, preço e promoção. Para que o produto chegue ao consumidor, é preciso acrescentar as utilidades de tempo, lugar e posse. Somente dessa forma o produto estará pronto do ponto de vista da satisfação das necessidades dos clientes. São os canais de marketing que atuam como responsáveis por colocar o produto onde o consumidor deseja. Para Rosenbloom (2001:296), “...utilidades de tempo, lugar e posse são condições que possibilitam que consumidores e organizações disponham de produtos para usar quando e onde os quiserem.” Kotler (2000) afirma que os fabricantes obtêm diversas vantagens com a utilização de intermediários: 1) muitos fabricantes não dispõem de recursos financeiros para comercializar seus produtos diretamente; 2) em alguns casos, a comercialização direta simplesmente não é viável; e 3) os fabricantes que estabelecem seus próprios canais podem obter um retorno maior, investindo mais em seu negócio principal, pois se uma empresa obtém um retorno de 20% sobre a fabricação e apenas 10% sobre o varejo, não tem sentido pensar em estabelecer um varejo próprio. De acordo com Churchill (2000), as tarefas ou funções objetivam tornar o canal mais eficiente e eficaz podem ser divididas em três categorias: transacionais, logísticas e de facilitação, sendo executadas por produtores ou por vários intermediários, de acordo com a estratégia do canal. Portanto, as principais funções dos canais de distribuição são: (1) transacionais (compra e venda de produtos de vários fabricantes para gerar trocas, podendo tornar os canais mais eficientes); (2) logísticas (movimentação e a combinação de bens em quantidades que os tornem fáceis de comprar) e (3) facilitação (financiamento de transações, graduação de produtos; e coleta de informações de marketing, tornando mais fáceis os processos de compra e venda). Produtores e intermediários podem trabalhar juntos para criar valor para seus clientes por meio de previsões de vendas, análises competitivas e relatórios sobre as condições do mercado, para descobrir o que os clientes desejam. O canal de vendas e o de facilitação são geralmente necessários para criar utilidades de tempo, lugar e posse. No entanto, é comum descrever e ilustrar os canais de marketing somente em termos do canal de vendas, porque ele envolve as funções de compra, venda e transferência de propriedade, no qual surgem quase todas as questões estratégicas de marketing (Rosenbloom, 2002). Exemplificando, um laboratório, ao montar seu canal de vendas, enfrenta questões de estratégia de marketing, tais como: 1) identificar e selecionar médicos potenciais para o medicamento ou fármaco; 2) convencer os médicos a prescrevelo – em especial depois que eles deixam de possuir patente, pois entram outros medicamentos no mercado, concorrendo diretamente com o medicamento; 3) motivar os distribuidores a fazer um trabalho eficaz de promoção e venda dos fármacos; 4) certificar- se de que os distribuidores prestam um bom serviço de entrega. Além disso, o laboratório também precisa preocupar-se com outras questões, por exemplo, seu relacionamento continuado com as farmácias independentes, futuros níveis esperados de estoques, informação aos balconistas. Em contraste, os esforços do laboratório para conseguir transporte, armazenagem e seguro, apesar de importantes, não são considerados normalmente questões estratégicas de marketing. Para Rosenbloom (2001) os canais de marketing podem variar de dois níveis com relação à extensão, pois, produtor ou fabricante vendem diretamente a consumidores (distribuição direta), até mais de dez níveis, nos quais podem existir mais de oito instituições intermediárias entre produtor e consumidores. O que Rosenbloom (2001) denomina como canal de dois níveis, Kotler (2000: 512) define como “(...) um canal de nível zero (também chamado canal de marketing direto) consiste em um fabricante que vende diretamente para o consumidor final”. Os melhores exemplos desse tipo de canal são as vendas feitas de porta a porta, reuniões domiciliares com demonstrações (reuniões de vendas), mala direta, telemarketing, vendas pela televisão, vendas pela internet e lojas do próprio fabricante. O fabricante e o consumidor final fazem parte de todos os canais. O número de níveis intermediários é utilizado para designar a extensão de um canal. “Um canal de um nível conta com um único intermediário de vendas, como um varejista. Um canal de dois níveis conta com dois intermediários”, segundo Kotler (2000: 512). Por exemplo, produtos como hormônios de crescimento que têm alto valor agregado e necessitam de acompanhamento de um profissional de saúde, com freqüência exigem canais curtos devido ao alto grau de suporte técnico necessário, o qual só pode ser prestado pelo fabricante. Além disso, a extensão também pode ser afetada pelo porte do fabricante, por sua capacidade financeira e por seu desejo de controle. Para Frazier e Antia (1995), em geral, fabricantes maiores e economicamente fortes possuem maior capacidade para eliminar intermediários e usar estruturas de canal mais curtas. Também é mais provável que os fabricantes que desejam exercer um alto grau de controle sobre a distribuição de seus produtos usem estruturas de canal mais curtas, pois, quanto mais curto o canal, mais alto o grau de controle. Projetar um sistema de canal requer analisar as necessidades do cliente, estabelecer os objetivos do canal e identificar e avaliar as principais alternativas de canal. Após definir seu mercado-alvo e o posicionamento desejado, uma empresa deve identificar suas opções de canal, de acordo com Kotler (2000) e Iacobucci (2001). Rosenbloom (2002) afirma que a estrutura do canal de marketing tem três dimensões básicas, sendo elas: extensão do canal, ou seja, o número de níveis de um canal de marketing; intensidade em vários níveis, que se refere ao número de intermediários em cada nível do canal de marketing; e, finalmente, os tipos de intermediários envolvidos, que são as diferentes espécies de instituições intermediárias que podem ser usadas nos vários níveis do canal. Kotler (2000) apresenta três elementos como opção de canal, sendo eles: os tipos de intermediários de negócios disponíveis, o número de intermediários necessário, e as condições e responsabilidades de cada membro do canal. 2.2 Conflito Os canais de marketing não são estáticos, pois a cada instante surgem novas instituições de atacado e varejo e novos sistemas de canais. Para Kotler (2000:529) “independente da qualidade do projeto e do gerenciamento dos canais, sempre haverá algum conflito, porque nem sempre os interesses das empresas participantes coincidem”. Coughlan et al. (2002:196) consideram que o conflito de canal é um estado de oposição ou discordância entre as organizações que compreendem um canal de marketing. A palavra conflito deriva do latim confligere, que significa desavença, choque. De forma geral, o conflito quase invariavelmente é visto como algo a ser evitado, um sinal de problemas. Coughlan et al. (2002) confirma Rosenbloom (2001), o qual afirma que o conflito em canais de marketing é usualmente definido como um comportamento prejudicial ao alcance de metas por um ou mais membros do canal. Essas definições são complementadas por Rosenbloom (2002:115) em sua afirmação: “no contexto do canal de marketing diz-se que existe conflito quando um membro do canal percebe que as ações de outro membro estão impedindo a realização de suas metas”. No entanto, Coughlan et al. (2002) consideram que essas interpretações cotidianas de conflito devem ser desconsideradas, por expressarem uma visão parcial e porque o conflito entre as organizações do canal deve assumir uma postura mais neutra. E, afirma que um certo grau de conflito é interessante para que o canal de marketing aumente o seu desempenho, pois um canal não deve ser harmonioso demais. Dessa forma, ao invés de manter os membros afastados e prejudicar o relacionamento, o conflito até certo grau e dentro de algumas formas fortalece e aperfeiçoa um canal. O conflito tem sua origem no momento em que o membro de um canal vê seu parceiro como adversário ou oponente (Coughlan et al., 2002). As partes interdependentes em níveis diferentes do mesmo canal tentam bloquear umas às outras, e, contrapondo a isso, a competição apresenta-se como um comportamento em que o membro do canal trabalha para atingir um objetivo, que é controlado por terceiros. As organizações possuem uma interdependência fundamental para a existência do canal e possuem pouco tempo disponível para a resolução desses conflitos, segundo Coughlan et al. (2002), elas concentram-se na resolução de apenas alguns dos conflitos de cada vez. E, muitas vezes, os conflitos deixados de lado são os que envolvem as parcerias do canal. A seguir são apresentados quatro tipos de grau de conflito definidos pelos autores: 1) Latente - o conflito apresenta um nível baixo de influência e, por isso, os membros do canal não o percebem por completo. Surge quando as condições são certas para gerar controvérsia, mas a organização não percebe. 2) Percebido - um membro de canal sente que há algum tipo de oposição: oposição de pontos de vista, de percepções, de sentimentos, de interesses ou de intenções. O conflito percebido é cognitivo, ou seja, sem emoção e mental. É uma situação de disputa. 3) Sentido - existem emoções envolvidas, é um conflito afetivo. Os participantes consideram seu canal conflitante porque os membros das organizações vivenciam emoções negativas: tensão, ansiedade, raiva, frustração e hostilidade. Quando o conflito atinge esse nível, os membros da organização personificam e depois caluniam as empresas e as considerações econômicas desaparecem quando os antagonistas consideram atributos humanos e motivos pessoais às organizações de canal. 4) Manifesto - visível porque se expressa no comportamento. Ele pode chegar a casos extremos, se um lado tentar sabotar o outro ou se vingar, tentando fazer com que o outro não atinja seus objetivos. Quando um fabricante estrutura um canal formado por atacadistas e varejistas, ele espera cooperação do canal, para que haja maiores lucros a cada membro do canal. Porém, podem ocorrer alguns tipos de conflito, como: vertical, horizontal e multicanal. Para Kotler (2000, p. 530-532) “o conflito vertical significa conflito entre diferentes níveis do mesmo canal. (...) o conflito horizontal significa o conflito entre membros do mesmo nível de um canal (...) o conflito multicanal existe quando o fabricante forma dois ou mais canais que vendem para o mesmo mercado”. 3 Metodologia Esta pesquisa foi desenvolvida por meio de um estudo de caso explicativo. O estudo de caso explanatório (causal) pode ser complementado por estudo de caso descritivo ou exploratório. Para Martins e Lintz (2000) “o estudo de caso possibilita a penetração na realidade social, não conseguida plenamente pela análise e pela avaliação quantitativa”. No entanto, não são permitidas generalizações, segundo Yin (1994). A unidade de análise, segundo Pozzebon e Freitas (1997), “pode ser composta por indivíduos, grupos ou organizações, ou ainda por projetos, sistemas ou processos decisórios específicos”. O estudo de caso apresentado foi realizado a partir do contato estabelecido com a indústria farmacêutica Eli Lilly do Brasil Ltda. A pesquisa caracterizou-se como exploratória, pois é um assunto revelador que confirma as definições de Malhotra (2001) e Cooper e Schindler (2003). Para Malhotra (2001:106), a pesquisa exploratória pode ser usada para formular um problema ou defini-lo com maior precisão entre outros fatores. A pesquisa exploratória permitiu a utilização de dados primários e dados secundários (Malhotra, 2001). Os primários são gerados pelo pesquisador para a finalidade de solucionar o problema em estudo, já os secundários são dados coletados anteriormente para outros objetivos que não o em estudo. Os dados secundários podem ser localizados de forma mais econômica e rápida, de acordo com Malhotra (2001). Cooper e Schindler (2003:132) argumentam que “o primeiro passo em um estudo exploratório é a busca de literatura secundária, ou seja, estudos feitos por terceiros, com seus próprios objetivos, representam dados secundários”. Os dados secundários são divididos, segundo Malhotra (2001) em: 1) Dados internos, gerados na instituição em que está sendo realizada a pesquisa; e 2) Dados externos, gerados por fontes externas à instituição pesquisada. Os dados secundários foram coletados por meio de dados internos da indústria farmacêutica Eli Lilly constituídos de material explicativo e apresentações, e dados externos – materiais publicados e dados disponíveis na internet. O instrumento de pesquisa utilizado para a realização das entrevistas com Milton Luís, o gerente nacional de vendas da Eli Lilly, foi o questionário semi-estruturado. O questionário semi-estruturado é formado por questões abertas previamente padronizadas, cujas respostas tomam forma a partir do entrevistado. A entrevista semi-estruturada, para Triviños (1987: 138), é um dos “instrumentos mais decisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado o investigador qualitativo”. Alencar (2000) afirma que “a vantagem deste tipo de questionário é permitir que o entrevistado manifeste suas opiniões, seus pontos de vista e seus argumentos”. Quanto à análise da entrevista, a metodologia consistiu na análise de conteúdo. Esta é definida por Bardin (1977) como um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Marconi e Lakatos (1999) consideram que a técnica de análise de conteúdo permite a análise do conteúdo de livros, revistas, jornais, discursos, e documentos pessoais como discursos e diários entre outros. Babbie (1999:71) expressa que “análise de conteúdo tem a vantagem de fornecer um exame sistemático de materiais em geral avaliados de forma mais impressionística”. E ainda, a análise de conteúdo é uma técnica que visa a uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do comportamento simbólico. 4 Estudo de Caso A empresa Eli Lilly é associada à Interfarma, Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa, que representa 26 indústrias farmacêuticas internacionais de pesquisa com presença no Brasil. A Eli Lilly foi fundada em 1876 e está no Brasil desde 1944. A matriz da empresa, que atua em 179 países, é em Indianápolis, no estado de Indiana, nos Estados Unidos da América. A empresa no Brasil, faturou no ano de 2002, o total de R$ 369,7 milhões. A Eli Lilly disponibilizou material interno para pesquisa e permitiu que o gerente nacional de vendas fosse entrevistado para a realização deste trabalho. 4.1 Canais de marketing A Eli Lilly utiliza vários intermediários para vender seus produtos aos consumidores finais. Estes intermediários fazem parte de um ou vários canais de marketing, podendo exercer diversas funções. Geralmente, o fabricante de produtos farmacêuticos tem uma força de vendas, com funcionários próprios ou terceirizados, que visitam médicos, hospitais, distribuidores e empresas de plano de saúde (Eolo et al., 2003). Os remédios podem passar pelas mãos de distribuidores independentes em seu caminho até alcançar uma farmácia varejista ou uma farmácia de hospital. O médico desempenha um papel importante ao receitar um produto farmacêutico que o paciente utiliza regularmente. Nos casos em que o plano de saúde do paciente inclui cobertura de remédios, o pagamento pode não acontecer diretamente do paciente para a farmácia, mas do plano de saúde para a farmácia. Considerando a definição de Coughlan et al. (2002) e Rosenbloom (2001), são apresentados, a seguir, os canais de marketing da Eli Lilly Brasil. Para todos os canais, considera-se que o laboratório e o paciente, pontos extremos do canal, estão inseridos em todos os canais, segundo definição de Kotler (2000). Portanto, esta pesquisa descreverá apenas os intermediários dos canais de marketing. Para a definição do nível do canal, utilizou-se o conceito empregado por Kotler (2000), ao invés da definição de Rosenbloom (2001), por ficar mais evidente o número de intermediários do canal. Quadro 1: Canais de marketing da Eli Lilly 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Intermediário(s) Nível do Canal Distribuidor > Farmácia Distribuidor > Rede de Farmácia Distribuidor > Delivery Distribuidor > Cooperativa Distribuidor > Hospital Distribuidor > Farmácia do Plano de Saúde Distribuidor > Governo Farmácia Rede de Farmácia Delivery Hospital Governo Farmácia do Plano de Saúde AmiVida Farmácia Internet 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 O atacado, como canal de marketing da Eli Lilly, limita-se basicamente, a empresas denominadas distribuidoras de medicamentos. Essas empresas são atravessadoras de mercadorias, ou seja, são empresas intermediárias que permitem a comercialização com o varejo, principalmente aqueles em que não há um interesse direto da indústria farmacêutica. A pesquisa evidenciou que 80% dos negócios realizados pela Eli Lilly ainda estão concentrados nos atacadistas. O setor varejista é constituído de agentes que operam diretamente em contato com o comprador final. A forma de estruturação desses canais de varejo descrita neste artigo constitui variações que permitem uma grande diversificação na forma de atuação no mercado consumidor de medicamentos no Brasil. Entre os agentes do varejo apresentam-se as farmácias, os hospitais, o governo e o programa AmiVida. Esse último canal é exclusivo da Eli Lilly, enquanto os demais realizam transações com outras indústrias farmacêuticas. A farmácia independente é uma forma de varejo presente principalmente em cidade do interior. Esse canal é a gênese das demais formas de varejo. Dificilmente esse canal compra diretamente da indústria farmacêutica devido ao volume e à pulverização dos locais instalados, por isso, as farmácias compram dos atacadistas, ou seja, dos distribuidores da indústria farmacêutica. No decorrer da pesquisa, foi possível identificar que a forte concorrência, margens reduzidas e inadimplência são alguns dos males que afetam a saúde das farmácias no Brasil. A entrada dos genéricos também trouxe impacto para as farmácias independentes, pois os genéricos reduziram o preço dos medicamentos e isto provocou a queda da rentabilidade da farmácia e dos laboratórios. A questão dos genéricos apresentou esse resultado porque para se ter o mesmo faturamento anterior, faz-se necessário vender um número maior de unidades. As grandes redes de farmácia e drogarias representam 25% do movimento do varejo e estas compram diretamente da indústria. Percebeu-se que os supermercados são um outro tipo de canal que pretende atuar no varejo do setor farmacêutico brasileiro. Em geral, os supermercados locam uma área fora do espaço externo delimitado pelos caixas do supermercado para uma rede de drogarias ou mesmo para uma farmácia independente explorar a venda de medicamentos no local. Mas, o modelo adotado pelos hipermercados no momento, tem sido a criação de farmácias próprias, instaladas depois das caixas registradoras do supermercado. A intenção da rede de supermercados é abrir novos estabelecimentos com farmácias que pertençam ao próprio supermercado. As deliveries, também chamadas, no mercado, de farmácias de descontos, são fruto da estratégia do varejo para atender os clientes com conveniência de tempo e lugar para aquisição de produtos. Isso fez com que os próprios representantes dos laboratórios fizessem propaganda junto aos médicos dessas farmácias e proliferassem no setor farmacêutico. Sua aceitabilidade foi consolidada junto ao setor farmacêutico devido à parceria de informações dos principais médicos prescritores, ou seja, aqueles que proporcionam maior número de receitas médicas dos medicamentos do laboratório, além de informarem diretamente as vendas às empresas de auditoria que são exigidas pelo setor farmacêutico. Devido ao volume cada vez maior de produtos comercializados, as deliveries estão conseguindo comprar diretamente dos laboratórios, mas podem, em determinados produtos, comprar do atacadista, devido às condições de prazo de entrega e pagamento que esse possa oferecer. As cooperativas de farmácias são constituídas por farmácias independentes que estão se unindo para conseguir posicionamento no mercado e sobrevivência mediante à grande competitividade do setor do varejo farmacêutico. Para a Eli Lilly, uma parte representativa das cooperativas está fidelizada aos distribuidores, que propiciam negócios até mais interessantes que uma venda direta via laboratório. No Brasil, existem farmácias que comercializam medicamentos por meio do uso da internet. Porém, esse tipo de farmácia não atua na venda de medicamentos controlados, produtos que não podem ser vendidos via internet por determinação da Agência Nacional da Vigilância Sanitária e conforme a Portaria 344/98 da Secretaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde. Na busca de atuar com medicamentos controlados, as farmácias da internet necessitam ter uma loja física para que possa reter a receita médica, conforme a legislação brasileira em vigor. Um outro canal utilizado pela Eli Lilly é o canal hospital. Nesse canal, a Eli Lilly atua tanto vendendo diretamente para os hospitais, como por meio de atacadistas. Atualmente existem cerca de 8 mil hospitais no Brasil, o que o coloca em terceiro lugar no ranking dos países com mais centros médicos, considerando o território e a população. A participação do governo é representativa para o setor farmacêutico. A Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) discute a ampliação do acesso da população a medicamentos. Para os representantes da indústria, o preço dos remédios não é o único problema de saúde pública do Brasil e está longe de ser o mais grave, pois a barreira que impede o acesso das pessoas a medicamentos é a renda, não o preço dos remédios. Apesar dos conflitos ocorridos na última década entre o governo e a indústria farmacêutica, a Eli Lilly mantém-se presente na utilização deste canal, o qual é representativo no seu faturamento. O AmiVida é um canal que representa com exclusividade os medicamentos da Eli Lilly, que, apesar de estar com o nome diretamente vinculado ao laboratório, seu serviço é feito totalmente por meio de empresas terceirizadas, a fim de se enquadrar na legislação brasileira em vigor, pois a indústria farmacêutica não pode vender seus medicamentos diretamente ao paciente. O objetivo desse canal é que seja evitado o abandono da terapia recomendada pelo médico, o que ocorre com freqüência. Portanto, o AmiVida busca fidelizar o paciente ao laboratório por meio da facilidade de compra e do preço reduzido. O Prozac, ao preço de R$ 100 nas farmácias é entregue na casa do paciente cadastrado no AmiVida por R$ 79, custa apenas R$ 10 a mais que o preço do seu genérico. Para fazer o cadastro dos pacientes, a Eli Lilly utiliza os seus representantes comerciais, que visitam mensalmente os médicos. Junto com o material promocional dos medicamentos, são distribuídos adesivos com um número telefônico para ligação gratuita – 0800, que são repassados pelos médicos aos pacientes. 4.2 Conflito Esta pesquisa propôs a identificação dos conflitos apresentados entre os canais de marketing da Eli Lilly. Para a definição desses conflitos, apresenta-se, para cada um: o tipo de conflito estabelecido, a causa do conflito, e a forma como a Eli Lilly os tem gerenciado. Algumas destas evidências são demonstradas de forma resumida no quadro 2. Foram identificados sete conflitos existentes nos canais de marketing da Eli Lilly. Quadro 2: Conflitos nos canais de marketing da Eli Lilly Número 1 2 3 Agente 1 Tipo Causa Eli Lilly Governo Intracanal Escassez de recursos Eli Lilly Atacado Intracanal Domínio territorial Eli Lilly Atacado Intracanal Domínio Rede de Multicanal (por Farmácias causa da Eli Lilly) Delivery Paralelo Descontos Maior fidelização do paciente Distribuidor Rede de 4 Agente 2 Farmácias 5 AmiVida Varejo Multicanal 6 Eli Lilly Farmácias Intracanal Domínio Expectativa de aumento do faturamento por causa dos genéricos Farmácias que 7 Eli Lilly também fazem Paralelo Objetivos concorrentes Manipulação 4.2.1 Eli Lilly e Governo O primeiro conflito tem como agente a Eli Lilly e o Governo, o relacionamento da Eli Lilly com o Governo apresenta um tipo de conflito intracanal. Tal caracterização resulta da estrutura estabelecida no canal, uma vez que o conflito intracanal ocorre entre os membros. A causa principal desse conflito baseia-se na escassez de recursos do Governo, que busca o menor dispêndio possível devido à sua limitação financeira para o investimento na área de saúde. O Governo tenta levar os médicos a não prescreverem medicamentos de marca, porque tenta apenas amenizar a crise dos pacientes. A Eli Lilly acompanha esta tendência do Governo há anos e tenta convence-lo de que é viável a prescrição do medicamento de marca da empresa, porque ele permite menos efeitos adversos para o paciente e isso compromete na diminuição de valores destinados à internação hospitalar. Um forte instrumento utilizado pela Eli Lilly são as pesquisas sobre farmacoeconomia que primam pelo estudo relacionado à efetividade do medicamento utilizado. Por meio desses estudos, percebe-se, de forma geral, que, se o remédio for melhor, menor serão os gastos com internação e o tempo de recuperação do paciente, mais rápida, proporcionando, assim, menores gastos ao Governo, pois o custo com internação mostra-se maior que o custo do medicamento, segundo pesquisa desenvolvida pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (2003). 4.2.2 Eli Lilly e Atacado O segundo conflito percebido, tem como agentes a Eli Lilly e o atacado, em um conflito intracanal. Há algum tempo o distribuidor conseguia o direito de exclusividade territorial. Com o avanço do número de concorrentes e o aumento das aglomerações urbanas, as divisões de território entre os distribuidores começaram a se tornar um conflito. Isso também ocorreu devido ao avanço estrutural de alguns distribuidores em detrimento de outros, fazendo com que, mesmo as entregas em outros estados que não fosse aquele em que o distribuidor tivesse sua matriz, fossem mais econômicas. Para evitar esse conflito, o gerente nacional de vendas da Eli Lilly afirma que eliminou a exclusividade territorial dos distribuidores. A partir de então, o próprio mercado é regulado por meio da concorrência. Outro conflito percebido entre esses dois agentes, Eli Lilly e atacado, é a comercialização realizada com clientes. A indústria farmacêutica tem negociado com clientes do varejo, que apresentam representatividade significativa em faturamento e que não causam grandes ônus, principalmente quanto à logística, ou seja, número de locais a ser entregue os medicamentos. Por esse motivo, as vendas feitas às cooperativas de farmácias ficam a cargo do atacado, pois, apesar de o local de compra ser único, os locais de entrega são variados. As cooperativas de farmácia unem-se para ter maior volume de compra e aumentar os descontos por volume e prazo para pagamento, mas cada cooperado (farmácia) localiza-se em cidades distantes ou pontos diferentes dentro da mesma cidade, o que faz com que haja maior custo. Por causa dessa caracterização, a Eli Lilly não realiza a comercialização, que é feita pelo distribuidor. Para notificar a preferência da Eli Lilly por determinados clientes, podese perceber o relacionamento com as redes de farmácias que realizam a comercialização diretamente com o líder do canal. As redes têm acesso porque, apesar de terem várias filiais, possuem um só depósito, o que facilita a entrega dos medicamentos. Para o gerente nacional de vendas, (...) As cooperativas de farmácia têm uma presença insignificante dentro do nosso negócio, até pelo fluxo de estoque, nem todos tem grandes depósitos pra estar armazenando produtos. E, geralmente, elas nos solicitam a entrega em cada loja, o que inviabiliza nosso negócio. (...) Na cooperativa de farmácias existe uma dificuldade de logística muito grande, porque a maioria delas têm pontos de venda muito diversificados. Por isso, não seria interessante para a empresa estar fazendo esse tipo de atuação. E, basicamente dentro do conhecimento que temos dos distribuidores, boa parte dessas cooperativas estão fidelizadas a esses distribuidores, que propiciam negócios até mais interessantes que uma venda direta via laboratório. Os agentes dos canais de marketing estão insatisfeitos com a atual situação. De um lado, tem-se a indústria, que é penalizada pelo controle dos preços devido à alta do dólar, já que a maior parte de sua matéria-prima é importada. Com isso, a Eli Lilly briga por menores descontos junto ao distribuidor. De outro, tem-se os distribuidores, que sofrem com assaltos e custos crescentes, sendo que alguns desses custos não há como controlar, como aumento de combustível, pedágio, dentre outros fatores do macro-ambiente de marketing. 4.2.3 Distribuidor e rede de farmácias O terceiro conflito ocorre com o distribuidor e as redes de farmácias. A comercialização direta da Eli Lilly com a Rede de Farmácias permite que os descontos concedidos para o distribuidor sejam próximos ao das redes de farmácia. As farmácias pressionam os distribuidores porque eles apresentam preço de alguns medicamentos para revenda muito próximo ao preço que as redes de farmácias oferecem ao varejo. Um exemplo apresentado na Eli Lilly, é o Prozac Durapac, que tem uma campanha especial somente para redes de farmácias e, com isso, elas conseguem vender para o consumidor final abaixo do preço de fábrica. É importante ressaltar que, nesse tipo de campanha, o próprio laboratório estipula para a rede qual a percentagem de desconto que ela deve conceder ao paciente, independente dos diferentes custos das diferentes redes de farmácia pelo Brasil. Com essa situação, os distribuidores acabam perdendo margem de lucratividade, por precisarem apresentar preços mais competitivos. A Eli Lilly não apresenta grande diferenciação de valor para os distribuidores que são muito importantes para a indústria. Percebe-se que a causa desse conflito é alicerçada no conflito de domínio. Esse tipo de conflito é considerado como multicanal porque se insere como duas possíveis formas de comercialização da Eli Lilly. 4.2.4 Redes de farmácia e farmácias delivery O quarto conflito consiste na competitividade entre as redes de farmácias e as deliveries que consiste em um caso de conflito paralelo. As redes de farmácias sempre foram um importante agente do canal de marketing da indústria farmacêutica, porém, com a consciência de sua grande importância, essas redes passaram a ter grande poder na negociação com o laboratório, pois, diferentemente do distribuidor, a rede alegava que tinha o contato direto com o consumidor final, além dos vários pontos de venda. Porém, criou-se um hiato, pois os medicamentos de alto custo e de uso contínuo tinham os mesmos descontos para o consumidor final em relação aos medicamentos com menor valor agregado. Nasceram, então, as farmácias deliveries que, com uma estrutura inovadora e, conseqüentemente, mais enxuta, se dispuseram a trabalhar com maior parceria junto à indústria farmacêutica. Além de ter os medicamentos com baixa rotatividade e alto valor agregado, também passaram a se dedicar a medicamentos de uso contínuo. Essa estrutura passou a satisfazer os desejos dos laboratórios, pois estes conseguiam ter seus medicamentos com preços bem competitivos aos dos genéricos, similares ou bonificados. Para este trabalho, consideram-se produtos similares aqueles com a mesma substância ativa do produto de marca, com divulgação junto à classe médica, porém sem os testes de bioequivalência e biodisponibilidade semelhantes aos produtos de marca. E, os bonificados são os produtos com a mesma substância ativa do produto de marca, sem divulgação junto à classe médica e sem os testes de bioequivalência e biodisponibilidade semelhantes aos produtos de marca, e que são trabalhados junto aos balconistas de farmácia, os quais ganham comissões do laboratório para a venda. A parceria entre a Eli Lilly e as deliveries cresceu de tal forma que a própria farmácia delivery confeccionou etiquetas alto-colantes com o nome dos medicamentos do laboratório e passou para os representantes da Eli Lilly, que por sua vez, entregaram aos médicos, falando que o medicamento poderia ser adquirido com a maior taxa de desconto no preço dos medicamentos do varejo na cidade. Além desse desconto, a farmácia delivery também oferecia um serviço de atendimento por meio de um telefone 0800, que permitia ligação gratuita; e também a comodidade para o paciente de receber o medicamento na própria casa ou local de trabalho. Em contrapartida, como o paciente precisava passar alguns dados para poder comprar o medicamento, inclusive o nome do médico, a delivery passou a fornecer aos laboratórios o nome dos médicos que prescreviam os medicamentos do laboratório, quase se assemelhando à auditoria Auditpharma, porém sem informar os medicamentos de outros laboratórios prescritos por esse médico. As redes de farmácia, após perceberem a perda do volume de vendas, em detrimento ao crescimento e proximidade dos laboratórios com as deliveries, passou a indagar aos laboratórios sobre a concessão às deliveries da mesma condição de negociação que elas tinham, pois o custo de manutenção dos vários pontos de venda das redes de farmácias eram superiores aos das farmácias deliveries. Porém, a indústria argumentou que o que se levava em análise para a concessão de descontos era a quantidade comprada. A partir de então, as redes de farmácia, começaram a ser mais flexíveis nas negociações e começaram a repassar os descontos recebidos, além de passarem a usar o seu poderio econômico, concedendo descontos consideráveis em uma grande quantidade de medicamentos. Portanto, a causa do conflito consiste na política de negociação resultante dos descontos cedidos pela indústria farmacêutica. 4.2.5 AmiVida e varejo O quinto conflito, firmado entre AmiVida e varejo, é um conflito multicanal que se apresenta nos canais de marketing da Eli Lilly e consiste na inserção do AmiVida como forma de varejo. No intuito de buscar maior fidelização do paciente com o produto da Eli Lilly, foi lançado o programa para o varejo. Este conflito ainda se mostra latente, devido a um número restrito de pacientes que ainda se mostram dispostos a cadastrarem nesse tipo de programa e também à restrição de sua área de atuação, sendo somente nas capitais e principais cidades do interior. Entretanto, à medida que esse tipo de programa aumente a base de clientes cadastros, é possível que o laboratório tenha que atuar mais diretamente no gerenciamento desse conflito. Atualmente, a divulgação do produto junto à classe médica é uma forma de gerenciamento utilizada pela Eli Lilly, forma de gerenciamento que utilizou o poder de especialista e não buscou amenizar o conflito entre o varejo. 4.2.6 Eli Lilly e farmácias O sexto conflito existente posiciona-se entre a Eli Lilly e as farmácias, e apresenta características de conflito intracanal. As farmácias, quando da entrada dos genéricos, criaram uma expectativa do aumento do seu faturamento, pois acreditavam que, com a chegada dos genéricos; um maior número de pacientes teria acesso aos medicamentos. Porém, viu-se que a quantidade vendida em unidades permaneceu constante, porém o faturamento reduziu, pois esses medicamentos apresentavam menor valor agregado (Quaglio, 2002). A chegada dos genéricos não aumentou o acesso da população aos medicamentos em níveis desejados. Portanto, para se ter o mesmo faturamento anterior aos genéricos, o volume de unidades vendidas teve que ser aumentado consideravelmente. Para a solução desse conflito, a Eli Lilly tem utilizado o poder de especialista e gerenciado, por meio do aumento da promoção junto à classe médica. Na verdade, há muito tempo a indústria se afastou do varejo, concentrando seus esforços na visitação médica. 4.2.7 Eli Lilly e farmácias que também fazem manipulação O sétimo conflito envolve as farmácias que também fazem manipulação de medicamentos e a Eli Lilly. Existem farmácias que comercializam os produtos da Eli Lilly, mas também manipulam alguns desses medicamentos, como o antidepressivo Prozac, cujo princípio ativo é a fluoxetina. Esse conflito se dá quando o médico prescreve, além do nome do produto de marca, o nome genérico da substância ativa do medicamento. Quando o paciente chega na farmácia com essa receita, o balconista não só apresenta os genéricos, similares e bonificados, mas também a opção da manipulação do medicamento prescrito, que dentre as opções oferecidas costuma ser a mais barata. Esse conflito origina-se dos objetivos concorrentes entre o laboratório e as farmácias que fazem manipulação, por serem empresas independentes e, conseqüentemente, cada um dos agentes, laboratório ou farmácias de manipulação, tem seus objetivos de lucro. Para reagir a essa atitude, o laboratório apresenta questionamentos junto à classe médica sobre a qualidade do medicamento manipulado. Um dos questionamentos feitos é porque as farmácias não manipulam anticoncepcionais. A resposta quase sempre é que as farmácias de manipulação não apresentam know how e qualidade suficiente para a produção desse tipo de medicamento. Porém, se não há confiança total, na qual se pode notar visivelmente a não ação do medicamento na paciente (gravidez), porque expor o paciente a possíveis falhas em outros tipos de prescrição? 5 Conclusão Este artigo demonstrou, por meio de um estudo de caso, os conflitos percebidos entre os canais de marketing da indústria farmacêutica Eli Lilly, atuante no Brasil. A Eli Lilly é uma das líderes mundiais da indústria farmacêutica e desenvolve vários produtos farmacêuticos. A utilização dos canais de marketing é parte integrante de suas ações estratégicas no país. O desenvolvimento desta pesquisa permitiu identificar quais são os canais de marketing utilizados pela Eli Lilly. A estrutura dos canais de marketing é dividida entre atacado e varejo, pois, os produtos farmacêuticos, como remédios vendidos com receita, chegam ao usuário final de diversas maneiras. Tal fator sucede porque a Eli Lilly utiliza vários intermediários para vender seus produtos aos consumidores finais. A atividade do atacado limita-se basicamente a empresas denominadas distribuidoras de medicamentos que são atravessadoras de mercadorias e permitem a comercialização com o varejo, significando 80% dos negócios realizados pela Eli Lilly. O setor varejista é constituído de agentes que operam diretamente em contato com o comprador final, entre os agentes do varejo apresentam-se as farmácias, os hospitais, o governo e o programa AmiVida. Como resultado foram identificados sete conflitos que carecem da atenção da indústria para a execução do gerenciamento entre os agentes. Entre os conflitos foram identificados quatro conflitos do tipo intracanal, dois conflitos do tipo multicanal e dois conflitos do tipo paralelo. Observou-se que os canais de marketing modificam-se constantemente e não apresentam características de um sistema estático. Entre as causas que sucederam o conflito com a Eli Lilly e o Governo apresenta-se a escassez de recursos por parte do Governo. O segundo conflito entre Eli Lilly e Atacado apresenta como causa questões referentes ao domínio territorial e de comercialização. Entre os distribuidores e as redes de farmácia a causa evidente consistiu na política de descontos que favorece a um tipo de varejo, pois as redes de farmácia adquirem lotes de compra compatíveis aos lotes do atacado/distribuidor. O conflito percebido entre o AmiVida e o varejo consistiu na fidelização do cliente, pois por meio de um canal quase direto a indústria conquista clientes que fidelizam-se ao programa delivery e deixam de consumir no varejo. O sexto conflito foi causado pela expectativa das farmácias referente ao aumento do faturamento por causa dos genéricos. O sétimo conflito é causado pela disputa por objetivos concorrentes, pois as farmácias buscam manipular o produto para aumentar a margem de lucro e a indústria farmacêutica tenta evitar esta ação por meio da conscientização do risco assumido pela farmácia em produzir um medicamento com medidas erradas e comprometer a vida de pessoas. Todos os conflitos apresentados demonstram um grau de conflito percebido, ou seja, um membro de canal sente que há algum tipo de oposição, mas este é cognitivo, sem emoção e mental. Portanto, é uma situação de disputa. Apesar de serem evidentes, os conflitos apresentados não tendem a aumentar o grau de conflito para sentido ou manifesto, porque a indústria farmacêutica utiliza o poder para gerenciar os canais de marketing. A atuação perspicaz da indústria farmacêutica permite que os conflitos sejam utilizados para aumentar a concorrência entre os canais e garantir as vendas dos produtos. 6 Referências Bibliográficas BABBIE, Earl. 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