dia mundial da dpoc

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SAÚDE
dossier Especial
artigos DE
Este suplemento faz parte integrante do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias Grande Porto de 14 de novembro de 2012 e não pode ser vendido separadamente
Carlos Robalo Cordeiro;
Artur Teles de Araújo;
J. Rosado Pinto;
António Jorge Ferreira;
José Caminha;
Luís Rocha;
Cecília Longo;
Sofia Tello Furtado;
Isabel Saraiva;
José Belo Vieira
dia mundial
da dpoc
A doença pulmonar obstrutiva crónica
APOIO
Especial dpoc
DIA MUNDIAL DA DPOC
É actualmente reconhecido o enorme impacto das
doenças crónicas não transmissíveis, ocupando as
de âmbito respiratório, nos países desenvolvidos,
o segundo lugar nas causas de mortalidade
por doença, a este facto não sendo alheio o
envelhecimento da população e a ainda elevada
prevalência dos hábitos tabágicos nestes países
Carlos Robalo Cordeiro
Presidente da Sociedade
Portuguesa de Pneumologia
Ficha técnica
DOSSIER SAÚDE é uma edição da Unidade de Soluções Comerciais Multimedia da Controlinveste Media | Edição Lara
Loureiro | Coordenação de Arte Sofia Sousa | Textos rAQUEL bOTELHO | Publicidade Luís Barradas
(Diretor Comercial), Paulo Brunheim | Paginação Departamento de Produção de Publicidade Sul
A
Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é
Seguramente que algumas experiências piloto de
uma das mais importantes causas respiratórias
sucesso, locais e regionais, podem servir como modelo para a implementação desta Rede.
crónicas de mortalidade e de diminuição da
qualidade de vida.
Acresce que foi recentemente constituído o PrograAfectando, segundo os dados mais recentes, cerma Nacional para as Doenças Respiratórias (PNDR),
ca de 14% da população portuguesa, a DPOC está na
no âmbito da Direcção Geral da Saúde, saudando-se
origem, anualmente, de quase 8.000 internamentos, de
aliás a iniciativa de incluir estas doenças, finalmente,
uma mortalidade aproximada de 3000 doentes e de uma
nos eixos estratégicos nucleares da saúde em Portudespesa de saúde, em custos directos e indirectos, exgal, contribuindo assim para melhorar as condições de
tremamente relevante.
acessibilidade, de assistência, de
É uma doença crónica de freacompanhamento e de tratamenquência crescente, que se instala de
to dos doentes do foro respiratório.
forma relativamente silenciosa em
Alicerçado em quatro alíneas,
«Muito se tem dito
indivíduos com acentuados hábitos
representando áreas de influência
e escrito sobre a
tabágicos, devendo ser considerabem identificadas, como a Doenda a sua existência na presença de
ça Pulmonar Obstrutiva Crónica,
necessidade da
tosse mais frequente, habitualmena Asma Brônquica, a Síndrome de
criação de uma
te com produção de expectoração,
Apneia do Sono e uma vertente de
bem como de maior cansaço e falta
patologias menos frequentes, mas
Rede Nacional
de ar, nomeadamente na presença
de alta diferenciação, que inclui a
de Espirometria,
de uma história de exposição inalaHipertensão Pulmonar, a Patologia
não tendo no
tória a factores de risco para o seu
Intersticial e a Fibrose Quística, este
desenvolvimento.
programa é uma oportunidade para
entanto havido,
Para a sua identificação, é esenfrentar, sistematizadamente, a doaté ao momento,
sencial a realização de um teste da
ença respiratória, como um problefunção respiratória, a Espirometria.
ma prioritário de saúde em Portugal.
uma coincidência
É um teste simples, de fácil reCom esta nova realidade, a Sode interesses e
ciedade Portuguesa de Pneumoloalização, de interpretação imediata,
constituindo também a forma mais
gia (SPP) promoveu a criação de um
de vontades que
objectiva de detecção precoce desGabinete de Monitorização da Doconcorram em sintonia ença Respiratória (GARE), no senta patologia, por vezes ainda sem
uma sintomatologia muito evidentido de contribuir para aumentar, de
para alcançar, em
te e eventualmente ainda em fase
forma consistente e reflectida, o cotempo útil, esse
passível de resposta ao tratamento.
nhecimento da doença respiratória
entre nós.
Com efeito, sendo a DPOC uma
desiderato»
doença progressiva habitualmente
Neste sentido, o primeiro proevoluindo para insuficiência respijecto que a nova estrutura vai deratória com importante limitação
senvolver será, precisamente, um
funcional, só um diagnóstico em fases precoces e a
“Estudo Custo-Eficácia da Rede Nacional de Espiimplementação das respectivas medidas terapêuticas,
rometria”.
poderá evitar esta fatalidade evolutiva.
Encaramos, aliás, a existência deste gabinete numa
Muito se tem dito e escrito, aliás, sobre a necesperspectiva de íntima cooperação estratégica com o residade da criação de uma Rede Nacional de Espiroferido PNDR, que se assume assim como um desígnio
vital para a melhoria da condição respiratória da popumetria, não tendo no entanto havido, até ao momenlação portuguesa.
to, uma coincidência de interesses e de vontades que
concorram em sintonia para alcançar, em tempo útil,
É então num ambiente de redobrada esperança que
esse desiderato.
a SPP assinala mais um Dia Mundial da DPOC. •
03
Especial dpoc
A Fundação
Portuguesa do Pulmão
Atingindo a DPOC cerca
de 800 000 portugueses,
com grande impacto na
qualidade de vida dos
doentes e enormes
custos, esta doença é
obrigatoriamente uma
prioridade para
a Fundação Portuguesa
do Pulmão
A
cresce que é uma doença em que os fatores comportamentais,
especialmente o fumo
de tabaco, são os maiores responsáveis pelo seu aparecimento. Igualmente o ignorar de sintomas como a tosse e expetoração
persistentes e a dispneia (cansaço para esforços moderados ou
pequenos) são razões para que
a doença vá progredindo inexoravelmente . Estas razões levam
à necessidade da Fundação ter
apostado na prevenção da doença, através de um grande empenhamento na luta contra o
Artur Teles de Araújo
Presidente da Federação
Portuguesa do Pulmão
tabagismo, sobretudo nos jovens,
e na sensibilização e diagnóstico
precoce através da realização de
milhares de rastreios por todo o
País e de aconselhamento na sua
página na internet (www.fundacaoportuguesadopulmao.org) e no
facebook.
Saliente-se que nos rastreios
temos procurado que se faça não
só a recolha de sintomas como
exames espirométricos. Estes elementos são analisados por um
médico, os rastreados são aconselhados e encaminhados para o
médico de família quando tal se
justifique. •
A DPOC e a Aliança OMS-GARD
O ano de 2011 foi importante para o reconhecimento das Doenças
Respiratórias Crónicas (DRC) como pertencentes ao grupo das grandes
patologias à escala mundial
A
04
reunião durante a Assembleia Mundial das Nações
Unidas sobre Doenças
não Transmissíveis, em
Nova Iorque, e as recomendações
do Conselho da União Europeia sobre “prevenção, diagnóstico precoce e tratamento das DRC das crianças”, foram significativas.
A nível nacional a “Declaração
para uma vida melhor-abordagem
das doenças crónicas através da
prevenção” e a criação do Programa
Nacional das Doenças Respiratórias
(PNDR), coordenados pela Direção
Geral da Saúde (DGS), foram também relevantes. Estes documentos
e programas têm como referência a
Aliança da Organização Mundial de
Saúde (OMS) GARD (Global Alliance against Chronic Respiratory Diseases). Apresentada em 2006, em
Pequim, reúne organizações, instituições e agências governamentais e não governamentais, a nível
internacional e nacional, sob a égide da OMS, que trabalham na vigilância, prevenção e controle das
DRC. Estima-se que existam cerca
J. Rosado Pinto
Coordenador da
Imunoalergologia do
Hospital da Luz
Coordenador Nacional
e membro do Grupo
de Planeamento da
Aliança OMS-GARD
de 210 milhões de doentes com
DPOC, tendo falecido em 2005
cerca de três milhões. Prevê-se
que em 2030 a DPOC seja a terceira causa de morte a nível mundial.
Em Portugal as DRC atingem cerca
de 40% da população e a DPOC
14,2% em pessoas com mais de 40
anos, sendo o tabagismo o mais importante fator de risco. O internamento e a mortalidade estão presentemente estabilizados, mas é imprescindível a continuação de uma
estratégia comum centrada nas
instituições oficiais (PNDR­‑DGS) e
apoiada a nível mundial na OMS,
para que a visão da Aliança GARD
(Um mundo onde todos podem respirar livremente) permaneça como
indispensável referente.•
Evolução da doença e mais-valias do
tratamento precoce
T
06
em repercussões extrapulmonares importantes e é
prevenível e tratável. É, na
atualidade, a quarta principal causa de morte prevendo-se
que seja a terceira em 2030 logo
a seguir às doenças cardíacas isquémicas e às doenças cerebrovasculares.
Em Portugal tem uma prevalência por volta dos 6% com predomínio no sexo masculino, em idades
entre os 35-69 anos, ou seja, teremos em Portugal cerca de 600 mil
doentes com DPOC e destes cerca
de 90% distribuídos pelos estádios
I e II. Admite-se que no nosso país
haja uma prevalência muito superior à oficialmente estabelecida e
também é sabido uma elevada prevalência em não fumadores (9,2%).
Existem orientações internacionais para a DPOC e desde a sua
primeira publicação, em 2001, tem
havido várias atualizações. No presente há um sistema de classificação multidimensional que se traduz
num tratamento mais individualizado, ou seja, conclui-se que a limitação do fluxo aéreo não constitui,
por si só, uma medida precisa da
gravidade/atividade da doença. A
análise dos sintomas (dispneia, capacidade de exercício, frequência
das exacerbações e as comorbilidades), aliado à determinação do
fluxo aéreo, permite-nos a tal classificação multidimensional com alterações significativas em relação
Abel Afonso
Chefe de Serviço
de Pneumologia
«A terapêutica
adequada e precoce
melhora e estabiliza
o quadro clínico»
à avaliação diagnóstica/classificação e à abordagem terapêutica
bem como a das comorbilidades.
Os sintomas da doença (tosse,
expetoração, dispneia) são precoces, porém, não valorizáveis pelo
doente, tornam-se mais evidentes após a quarta/quinta década
de vida.
Os sintomas aparecem lentamente e agravam-se de forma gradual, essencialmente se o fumador
persistiu nos seus hábitos tabágicos e se também não for introduzida qualquer terapêutica.
As lesões das vias aéreas que
causam a dificuldade respiratória
são irreversíveis, o mesmo é dizer que não há cura definitiva para
a DPOC, razão pela qual o diagnóstico e a terapêutica, numa fase
precoce sejam fundamentais, não
só para a redução dos sintomas
mas também para a redução do
risco, isto é prevenir a progressão
da doença para um estádio mais
grave. Prevenir e tratar as agudizações e reduzir a mortalidade.
A terapêutica adequada e precoce melhora e estabiliza o quadro
clínico. A intervenção médica nos
múltiplos aspetos, não farmacológicos e farmacológicos, visa melhorar os sintomas e a qualidade
de vida dos doentes. Os sintomas
mais comuns e iniciais são a tosse e a expetoração, normalmente
atribuídos ao tabaco e portanto não
valorizáveis; posteriormente iniciase a falta de ar com o esforço e,
com o evoluir do tempo, esta falta de ar surge com pequenas atividades como por exemplo: tomar
banho ou vestir-se e calçar­‑se ou
barbear-se.
Em conclusão, a gravidade da
DPOC baseia-se no nível dos sintomas, na intensidade das anomalias
funcionais e na presença de complicações como perda de peso, a
disfunção músculo-esquelética e
o risco agravado para enfarte do
miocárdio, a angina de peito, a osteoporose, a infeção respiratória, a
depressão e a diabetes. É portanto
fácil concluir que quanto mais precoce e mais atempado for o diagnóstico e o tratamento, melhor
prognóstico, e obviamente, menos
complicações teremos. •
O reconhecimento da
relação potencial entre
exposições ocupacionais
e doença respiratória
recua pelo menos até
o século XV. Sobretudo
a partir do Século XVII
– com a publicação por
Ramazzini da obra De
Morbis Artificum Diatriba,
começam a estabelecerse sistematicamente
vários nexos de
causalidade entre
profissão e doença
A
evidência disponível
atualmente e que relaciona exposição profissional com asma ocupacional é bastante substancial; contudo, vários estudos internacionais
demonstram também que aproximadamente 15% dos casos de
doença pulmonar obstrutiva crónica
(DPOC) são efetivamente relacionados
com o trabalho e que mesmo novos
agentes utilizados em várias práticas
profissionais podem causar DPOC.
Há dados crescentes, em diversos países com grandes estudos
baseados em populações, sugerindo que uma proporção considerável dos casos de DPOC na sociedade pode ser atribuída ao trabalho e a
exposição a poeiras, gases nocivos/
vapores e fumos.
António Jorge Ferreira
Serviço de Pneumologia –
Centro Hospitalar
Universitário de Coimbra
Faculdade de Medicina
de Coimbra
Num estudo com 9823 indivíduos com idades entre os 30-75 anos,
escolhidos aleatoriamente na população dos EUA, 693 (7,1%) foram identificados como tendo DPOC. Com
base na análise das indústrias e ocupações de todos os indivíduos, e tendo em conta fatores de viés potenciais
como o tabagismo, idade, sexo e nível
socioeconómico, os autores estimaram que, nos não fumadores, a proporção de DPOC relacionada com o
trabalho era de 31% (Hnizdo E. e col.).
Entre as principais profissões de
risco, citam-se as atividades na área
da construção, das indústrias extrativas, do couro, da borracha, do plástico, do têxtil, dos produtos alimentícios,
da pintura em spray, da soldadura, do
trabalho com quartzo, da exposição a
poeiras de madeira e o contacto com
solventes.
Embora o tabagismo e a exposição ocupacional pareçam causar
a maior parte do risco atribuível populacional da DPOC, outras influências são potencialmente importantes, nomeadamente as genéticas;
assim, trabalhadores expostos aos
mesmos riscos podem ter comportamentos futuros completamente distintos quanto ao eventual desenvolvimento da DPOC.
No que toca à vigilância dos trabalhadores a ser levada a cabo pelos Serviços de Saúde e Segurança
no Trabalho (e nomeadamente através da especialidade de Medicina do
Trabalho), é sugerida a monitorização
«Entre as principais profissões de risco, citam-se
as atividades na área da construção, indústrias
extrativas, do couro, da borracha, do plástico, do têxtil,
dos produtos alimentícios, da pintura em spray, da
soldadura, do trabalho com quartzo, da exposição a
poeiras de madeira e do contacto com solventes»
anual por espirometria dos trabalhadores com risco acrescido da DPOC,
valorizando sempre descidas superiores a 100-150 ml no volume expiratório
forçado no primeiro segundo em duas
espirometrias realizadas com um ano
de intervalo (Fishwick D. e col.).
Em Portugal, o reconhecimento e
a atribuição de incapacidades resultantes de doença profissional, bem
como as prestações relacionadas, são
da responsabilidade do Centro Nacional de Proteção contra os Riscos Profissionais. Considera­‑se doença profissional (entre outras situações) a que
se encontra incluída na Lista de Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º 76/2007), de que esteja afetado um trabalhador que tenha estado
exposto ao respetivo risco pela natureza da indústria, atividade ou condições, ambiente e técnicas do trabalho habitual.
Na vertente preventiva, nomeadamente no que toca à prevenção primária, a existência desejável de vigilância
contínua nos locais de trabalho, consignada pelo Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho (Lei n.º 102/2009) deve conduzir
à melhoria das condições laborais, nomeadamente pela eliminação de substâncias nocivas, melhoria dos sistemas
de ventilação e vigilância dos níveis
de exposição dos agentes potencialmente nocivos, reduzindo,
assim, significativamente
o risco de desenvolvimento de doença
profissional. •
Especial dpoc
Especial dpoc
DPOC e doenças
profissionais
A DPOC é uma doença
caracterizada por
limitação do fluxo
aéreo persistente,
geralmente progressiva,
associada a uma
resposta inflamatória
crónica anormal das vias
respiratórias e pulmão
a partículas ou gases
nocivos
07
Quer saber como? Preste atenção a si próprio e veja se tem tosse e expetoração,
nem que seja só de manhã, mas na maior parte dos dias. Se achar que sim, pense
se isso já acontece não só este ano mas também no anterior. Se também sabe
que quando se constipa fica muito afetado a nível dos brônquios e se fuma, estará
tudo mais explicado. Deve ter bronquite crónica
M
as noutros casos não
há nem tosse, nem expetoração, mas as escadas passam a ser
mais difíceis de subir. E a pouco e
pouco até calçar os sapatos é uma
maratona! Nesse caso é mais provável que o problema seja um enfisema. E se fuma também estará tudo
mais explicado. Está na altura de ir
ao médico, porque pode ter enfisema. Mas só o médico pode assegurar que é disso que se trata: Bronquite crónica (doença dos brônquios)
ou Enfisema (doença do pulmão).
Mas cuidado, porque se não se
previne e não se trata começamos
a não conseguir fazer o que sempre
fazíamos, seja isso carregar as compras, subir escadas sem dificuldade,
andar mais depressa ou até vestir
a roupa de manhã. Isto é, tudo fica
pior porque queremos respirar e o
“ar não chega”, sentimos “gatinhos”
e ficamos anormalmente cansados.
Significa que há situação mais
grave, em que o ar que queremos
respirar entra mal e sai pior....como
José Caminha
Médico Pneumologista
Prof. Auxiliar do Inst.de Ciências
Biomédicas Abel Salazar
Coordenador da Unidade de
Pneumologia do HPP Boavista
Assistente Hospitalar Graduado de Cuidados Intensivos no
Hospital de S. António
«Se em alguns
casos a DPOC é uma
doença com a qual
se tem que viver o
resto da vida, convém
salientar que os
sintomas podem ser
tratados de imediato»
se tudo estivesse obstruído, estreito,
ou seja “meio tapado”. E nessa altura
quando for data de aniversário e as velas do bolo tiverem que ser apagadas
de um só sopro...podemos não conseguir. Antes que a situação fique tão
anormal, o melhor é ir ao seu médico
e contar a história. E tão importante
como a radiografia o seu médico vai
pedir que faça uma prova funcional
respiratória. Com isso é possível medir
a sua capacidade pulmonar, quer em
respiração calma quer em respirações
mais extremas, para se ter uma ideia
“a que distância devem estar as velas
para que as consiga apagar”.
Caso não tenha folgo normal,
significa que tem uma bronquite
crónica ou enfisema mas neste caso
mais graves, porque já com obstrução. E então passa a ter DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica),
na verdade uma fase mais avançada
da bronquite crónica e do enfisema.
Se em alguns casos a DPOC é
uma doença com a qual se tem que
viver o resto da vida, convém salientar que os sintomas podem ser tratados de imediato, principalmente
se a doença é identificada precocemente. Há um leque de opções de
tratamento que melhoram os sintomas e a qualidade de vida.
A DPOC é possível de evitar e
o tratamento pode restituir melhor
qualidade à vida. •
Tenha em
atenção que:
 A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma
doença prevenível e tratável;
 O fator de risco mais frequente em todo o mundo é
o tabagismo;
 A DPOC é a segunda causa de internamento hospitalar por doença respiratória;
08
 O fumador tem quatro
vezes mais probabilidade
de ter DPOC (bronquite
crónica e/ou enfisema).
DPOC e cancro do pulmão
Luís Rocha
Diretor do Serviço
de Pneumologia
do IPO Porto
A DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) é uma
doença crónica, caracterizada por uma obstrução dos
brônquios, destruição dos alvéolos e perda da função
respiratória, que ocorre de uma forma progressiva
O
consumo de tabaco é o
principal fator de risco
para o desenvolvimento
da DPOC, embora algumas exposições profissionais, como
os fumos químicos, poeiras orgânicas e inorgânicas, a poluição atmosférica, a exposição passiva ao fumo
do tabaco e fatores genéticos, também possam contribuir para o seu
aparecimento. Os sintomas mais frequentes da DPOC são a tosse e expetoração crónicas, a falta de ar e o
cansaço fácil, que normalmente surgem de forma gradual e progressiva.
Estima-se que a DPOC afete cerca de 5,3% da população portuguesa, sendo uma das principais causas
de perda de qualidade de vida, de
morbilidade e de mortalidade.
Os doentes com DPOC devem fazer tratamentos para diminuir os sintomas, que englobam medicamentos
para reduzir a falta de ar, o cansaço, a
tosse e a expetoração, e programas
de exercício físico. No entanto, dado
que o tabagismo é a principal causa
da DPOC, há evidência científica que
demonstra que deixar de fumar é a
única forma de contrariar a evolução
natural da DPOC. Por outro lado, a
cessação tabágica é a medida que
tem melhor relação custo/benefício.
Para além da DPOC, o tabagismo,
quer ativo quer passivo, é responsável
por cerca de 90% dos casos de cancro do pulmão (CP). Embora outros
agentes com potencial carcinogéneo,
por vezes até presentes em ambiente
laboral (como os asbestos, rádon, nitrogénio, gás de mostarda, plutónio,
berílio, arsénio, cádmio, entre outros),
possam estar também envolvidos no
aparecimento de CP, sabemos que o
fator causal mais prevalente é o consumo de tabaco.
Apesar de existir suscetibilidade individual de cada fumador às
substâncias químicas presentes no
tabaco, devido a mecanismos genéticos ainda não completamente
conhecidos, sabe-se que o tabagismo origina várias alterações celulares, o que aumenta muito o risco de
Especial dpoc
Especial dpoc
Quer saber se tem Bronquite
Crónica? É fácil!
«O cancro do pulmão
é, muitas vezes,
o último capítulo
do doente que já
apresenta DPOC»
desenvolvimento de DPOC e de CP.
O risco destas doenças aumenta
com a carga tabágica de cada fumador, sendo maior para aqueles que
fumam mais anos e maior número
de cigarros. O CP é, muitas vezes,
o último capítulo do doente que já
apresenta DPOC, pois estes doentes têm um risco aumentado de CP
quando comparados com fumadores
com igual carga tabágica mas com
função respiratória normal.
Muitas vezes o CP não apresenta quaisquer sinais ou sintomas até
atingir uma fase avançada da doença, o que leva a que apenas cerca
de 20% dos casos sejam diagnosticados numa fase inicial, com indicação cirúrgica na altura do diagnóstico. Nos restantes casos de CP
mais avançados, a quimioterapia e
a radioterapia podem ter um papel
no controlo da doença. Em Portugal são diagnosticados, anualmente, mais de três mil novos casos de
CP, dos quais mais de metade acaba
por falecer em menos de um ano, ou
seja, a taxa de mortalidade é praticamente igual à taxa de incidência de
CP, devido ao diagnóstico da doença
em fase tardia e eficácia limitada das
terapêuticas disponíveis, apesar dos
avanços ocorridos nos últimos anos.
Por isso, é importante estar alerta
face a eventuais alterações do organismo, principalmente se é uma pessoa fumadora ou ex-fumadora: tosse ou rouquidão persistentes, que se
agravam com o tempo; expetoração
com sangue; dor no peito persistente
e não justificável por outras causas;
falta de ar agravada; fadiga, fraqueza e perda de peso sem causa aparente são motivos que devem levar à
procura de aconselhamento médico.
A DPOC e o CP têm em comum a
exposição ao fumo do tabaco, sendo
por isso duas doenças preveníveis.
No entanto, com a prevalência de hábitos tabágicos a que assistimos ainda atualmente, a DPOC e o CP permanecerão dominantes nos próximos
cinquenta anos. A mais importante intervenção para diminuir o risco de CP
é a cessação tabágica. Deixar de fumar é a medida que reduz, de forma
significativa, a probabilidade de aparecimento da DPOC e do CP.
Em conclusão, a estreita relação
destas duas doenças com o tabaco
torna o abandono dos hábitos tabágicos a melhor arma para a sociedade. •
09
num mundo em mudança climática
Nos últimos cinquenta anos as atividades humanas libertaram na atmosfera
quantidades significativas de gases com efeito de estufa (GEE) que afetaram o
clima global no planeta. Os efeitos das mudanças climáticas são perniciosos e
também afetam a saúde, pois condicionam alterações nos determinantes básicos
F
enómenos meteorológicos
extremos são cada vez
mais frequentes e variados.
As notícias de ondas de calor, de períodos de seca prolongada
ou de precipitação intensa fazem já
parte do nosso dia a dia, levando,
entre outros, a um potencial aumento do número de mortes associadas
a calor intenso, a agravamento de
doenças respiratórias e cardiovasculares, a um incremento das doenças relacionadas com fenómenos de
poluição atmosférica e a migração
de vetores de doenças infeciosas.
Ora a carga de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) atual
é enorme. Segundo as estimativas
da Organização Mundial de Saúde
(OMS), cerca de sessenta e cinco milhões de pessoas sofrem de doença moderada a grave e mais de três
milhões de pessoas morreram com
DPOC em 2005, o que corresponde a 5% das mortes a nível mundial.
Em 2002, a DPOC era a quinta causa de morte, mas com uma previsão
de aumento superior a 30% do número de mortes por DPOC nos próximos 10 anos, tornando-se em 2030
10
Cecília Longo
Chefe de Serviço de
Pneumologia do Hospital
Fernando da Fonseca, EPE
Presidente da Associação
Chama Saúde
Curso Doutoral em Alterações
Climáticas e Políticas de
Desenvolvimento Sustentável,
UL,UT, UNL
na terceira causa de morte mundial,
o que torna premente a instituição de
medidas concertadas para fazer frente
a este desafio.
Classicamente, a prevenção da
DPOC passa pela redução dos principais fatores modificáveis, como
o fumo do tabaco, as exposições
ocupa­cionais a químicos e fumos,
a poluição do ar (exterior e/ou interior) e pela identificação dos fatores
de risco individuais, nomeadamente
« De um modo
global, podemos
dizer que o que é
bom para o clima é
bom para a saúde.»
os fatores de agravamento da doença
(ex.: infecções respiratórias e comorbilidades). Ora no contexto atual, os
meios de combate desta doença têm
de ser globais, nacionais e individuais,
baseados num desenvolvimento sustentável com um mix de medidas de
mitigação e de adaptação climática.
Inverter ou limitar o aquecimento global a um máximo de 2ºC, através duma geoestratégia política global
com investimentos em inovação e desenvolvimento de medidas centradas
em tecnologias de baixo teor de carbono para substituição das tecnologias
dependentes dos combustíveis fósseis, irá contribuir positivamente para
a saúde. Medidas centradas no sector
energético, dos transportes, da agricultura e da floresta visam o aumento
da eficiência energética e a captura de
carbono, e contribuem assim para diminuição dos GEE, originando ganhos
na saúde respiratória importantes. De
um modo global, podemos dizer que
o que é bom para o clima é bom para
a saúde.
O sector da saúde, empenhado
no controlo da DPOC, desenvolveu, a
nível global, programas/planos de vigilância sob a égide da Organização
Mundial da Saúde. A nível nacional
têm sido implementados pela DireçãoGeral da Saúde, em estreita colaboração com a Sociedade Portuguesa de
Pneumologia e o SNS.
A responsabilização individual no
controlo da saúde respiratória e na
evicção da DPOC passa pela adoção
de estilos de vida saudáveis, com prática de exercício físico e diminuição
da pegada individual de carbono e em
caso de doença no conhecimento da
mesma e na adesão à terapêutica.
A estratégia da prevenção da
DPOC é complexa e multifatorial, dependendo de intervenções quer a nível individual, local, regional, nacional
e global e ainda da combinação de políticas públicas, e de mudanças culturais individuais. •
Especial dpoc
Especial dpoc
Desafio da prevenção
11
DPOC?
Sofia Tello Furtado
Directora do Serviço
de Pneumologia do
Hospital Beatriz Angelo
Pneumologista do Hospital
da Luz
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) caracteriza-se pela
obstrução persistente das vias aéreas, condicionando sintomas
respiratórios crónicos (tosse, produção de expectoração e falta de ar)
Como se faz o diagnóstico
O doente com sintomas respiratórios deve procurar um médico, o qual,
através da história clínica e do exame
físico, vai suspeitar da doença. A confirmação do diagnóstico é fornecida
através da realização de um exame
simples, chamado espirometria, em
que o doente sopra para um aparelho
que mede o volume de ar inspirado
e expirado num determinado período de tempo.
realização das actividades do quotidiano. Nos doentes com DPOC, principalmente nas fases mais avançadas, a realização de pequenas acções
(por ex: tomar banho, trocar de roupa,
conduzir) são suficientes para provocar dificuldade respiratória, além de
gerarem grande angústia.
Desta forma, é fundamental que
o doente aprenda a conviver com a
sua falta de ar, diminuindo as restrições por ela impostas.
Como é a evolução da DPOC?
A doença tende a ser progressiva,
principalmente se o doente não parar de fumar, porém, a velocidade de
progressão é variável para cada doente. Nas fases avançadas da doença, devido à dificuldade respiratória,
as atividades básicas do quotidiano
podem tornar-se cada vez mais difíceis; as agudizações e internamentos
passam a ser frequentes e surge dificuldade para manter a oxigenação
do sangue.
O doente com DPOC deve:
• Alimentar-se de forma variada e
equilibrada;
• Beber bastante água, pois fluidifica a expectoração e facilita a sua
eliminação;
• Praticar uma actividade física regular, melhorando a força muscular, a
função pulmonar e a sensação de
bem-estar (por ex: caminhada diária
de 30-45 min);
• Evitar ambientes com fumo, poeiras e substâncias químicas irritantes (Por ex: lareiras, perfumes mais
intensos, sprays para o cabelo, produtos de limpeza doméstica);
• Submeter-se a uma avaliação médica periódica;
• Tomar os medicamentos sempre à
hora e na dose indicada pelo médico. A terapêutica inalatória deve
ser cuidadosamente administrada
de forma a garantir a sua eficácia;
• Saber reconhecer os sinais de agudização e ter um plano de actuação
Pode tratar-se?
O tratamento dos pacientes com
DPOC baseia-se em:
- Cessação tabágica
- Vacinação anual contra a gripe
- Manutenção do calibre das vias
aéreas (uso de broncodilatadores)
-Tratamento das agudizações (antibióticos, corticóides, broncodilatadores, oxigénio).
-Programa de Reabilitação Respiratória Pulmonar
12
DPOC: quantos somos?
Que cuidados o doente com
DPOC deve ter no dia-a-dia?
A tendência do paciente com DPOC
é, em função dos sintomas e do avançar da idade, levar uma vida mais sedentária
Como resultado desta inactividade gradual diminui também progressivamente a tolerância ao esforço, ficando cada vez mais inapto para a
previamente estabelecido com o
seu médico assistente.
Situações mais graves
Nestes casos é preciso uma organização do dia-a-dia de forma a contornar a limitação que a dificuldade
respiratória condiciona, eliminando
atividades desnecessárias e organizando o espaço em que vive e trabalha, bem como o tempo gasto nas
atividades do quotidiano:
• Organizar as actividades a realizar (alternar actividades mais pesadas fisicamente com as mais
leves);
• Eliminar actividades desnecessárias
(usar um roupão de banho em vez
de se secar com toalha, usar sapatos sem atacadores);
• Fazer períodos de repouso ao longo do dia;
• Organizar o local de trabalho e a
casa, de forma a que os objectos
permaneçam em sítios acessíveis
(a uma altura entre a anca e a altura do ombro);
Conclusão
A DPOC é uma doença respiratória crónica, progressiva associada a
significativa diminuição na qualidade
de vida e mortalidade. O diagnóstico
precoce, o acompanhamento médico adequado, a cessação tabágica
e a adaptação dos hábitos quotidianos são a melhor forma de controlar
a evolução e os efeitos da doença. •
«Nos casos mais graves é preciso uma
organização do dia-a-dia de forma a
contornar a limitação que a dificuldade
respiratória condiciona, eliminando atividades
desnecessárias e organizando o espaço em
que vive e trabalha»
Somos pouco conhecidos, a maioria de nós fumou
muito, durante muito tempo. Em Portugal estima‑se
que somos um milhão e meio, isto é cerca de 14,2%1
dos portugueses, na Europa cerca de treze milhões,
a nível mundial sessenta e quatro milhões (segundo
dados da Organização Munidal de Saúde) e em
2030 a DPOC será a terceira causa de morte
N
este milhão e meio os homens estão em maioria,
com idades entre os 65
e os 79 anos, e vivemos
mais em Lisboa e no Norte e menos
no Alentejo.
Protagonizamos um pouco invejável segundo lugar em matéria de
internamentos por patologias respiratórias, cujos médicos especialistas
pneumologistas e internos, em números 486, asseguram uma cobertura razoável do território do continente, de acordo, aliás, com as recomendações internacionais2.
Do milhão e meio, 362 322 de
nós estão sujeitos a outros tipos de
terapêuticas, como sejam a aerossolterapia, a oxigenoterapia e a ventiloterapia.
Somos oitocentas mil pessoas
que carregam uma doença cujo nome
é difícil de dizer, mais difícil de fixar e
quase sempre impossível de entender para outros que não nós: DPOC –
doença pulmonar obstrutiva crónica.
E, no entanto, estas quatro letras
abrangem um universo de situações,
de experiências pessoais, de estilos
de vida, que condicionaram e motivaram o aparecimento e o desenvolvimento da doença.
Olhando de perto para a sigla
DPOC encontramos o seu significado: DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA, isto é, os nossos pulmões e vias
respiratórias sofrem e estão “fechados”, dificultando mais ou menos a
respiração, consoante graus diferentes de dificuldade. Mas além de ser
uma DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA também é CRÓNICA, o que
significa que uma vez diagnosticada,
e embora podendo ser tratada, não
pode ser curada, ficando connosco
para sempre.
Viver com DPOC pode ser, e em
muitos casos é, desafiante. As tarefas simples do quotidiano provocam
grande fadiga e consomem níveis elevados de energia, afectando actividade física, vida social e profissional. A
ansiedade é uma companhia frequente, o medo do agravamento da doença – as tão temidas exacerbações –
está sempre presente, a dificuldade
em subir escadas, de carregar pesos
mesmo que pouco sentir, lembram em
permanência que os nossos pulmões
«Do milhão e meio,
362 322 de nós
estão sujeitos
a outros tipos
de terapêuticas,
como sejam a
aerossolterapia,
a oxigenoterapia
e a ventiloterapia»
estão em sofrimento e que a nossa
saúde respiratória está danificada.
A origem desta doença que atinge
oitocentos mil portugueses prende-se
com a exposição a fatores de risco,
dos quais de longe o mais importante é o tabaco.
Os sintomas de DPOC são familiares a todos nós: tosse persistente,
dificuldade em respirar, fadiga... mas
mesmo esta familiaridade não nos
motiva a procurar ajuda junto do médico assistente, continuando meses
Estudo "COPD prevalence in Portugal. The Burden of Obstructive Lung Disease study (Bold)”, Cristina Bárbara et al., “COPD
prevalence in Portugal. The Burden of Obstructive Lung Disease study (BOLD)” Cristina Bárbara1, Fátima Rodrigues 2, Hermínia
Dias 3, João Cardoso4, João Almeida5, Maria João Matos6, Paula Simão7, Moutinho Santos8, Reis Ferreira9 , António Gouveia10,
Richard Hooper11, Anamika Jithoo11, Peter Burney 11. 1 Serviço de Pneumologia II, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa,
Portugal; 2 Serviço de Pneumologia II, Hospital Pulido Valente-Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal; 3 Curso
de Cardiopneumologia, Escola Superior de Tecnologias da Saúde, Lisboa, Portugal; 4 Serviço de Pneumologia, Hospital de
Santa Marta, Lisboa, Portugal; 5 Serviço de Pneumologia, Hospital de S.João, Porto, Portugal; 6 Serviço de Pneumologia,
Hospitais da Universidade de Coimbra Portugal; 7 Serviço de Pneumologia, Hospital Pedro Hispano, Porto, Portugal; 8 Serviço
1
isabel saraiva
Vogal da Direção da RESPIRA
Especial dpoc
Especial dpoc
O que é a
ou anos tossindo e fumando, fumando e tossindo, até que um susto grande ou pequeno nos faz correr a pedir
ajuda, esperando que não seja tarde
e sobretudo que não seja grave.
Quando nos informam e nos explicam que o primeiro e mais importante passo para o tratamento é deixar de fumar, uma multiplicidade de
sentimentos que vão desde a perda
(nunca mais fumar?) ao alívio (podia
ser pior!) toma posse de nós.
A partir daqui o que fazer?
Aprender todos os dias a viver
com DPOC. Mudar de estilo de vida.
Praticar a prevenção seguindo as recomendações do nosso médico no
que diz respeito à vacinação da gripe/pneumonia. Ter cuidado com as
alterações climatéricas e evitar ambientes poluídos.
Ler sobre a DPOC e saber que
com ela vêm muitas vezes doenças
cardiovasculares e osteoporose, o
que significa uma vigilância acrescida e um reforço da nossa atenção.
E também: colaborar e procurar
informação e apoio junto da RESPIRA
– Associação Portuguesa das Pessoas com DPOC e outras Doenças
Respiratórias Crónicas3, ajudando no
caminho que queremos percorrer e
no trabalho que estamos a fazer, da
prevenção tabágica, do diagnóstico
atempado da DPOC com a criação de
uma rede nacional de Espirometria4,
da equidade no acesso aos cuidados
de saúde, cuja qualidade deve estar
sempre assegurada.
“Um mundo onde todos respirem livremente” é a visão do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, e o mundo onde todos
queremos viver. •
de Pneumologia, Hospital dos Covões, Coimbra, Portugal; 9 Serviço de Pneumologia, Hospital da Força Aérea, Lisboa, Portugal; 10 Estatística, Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, Lisboa, Portugal; 11 NationalHeartand Lung Institute, Imperial
College, London, United Kingdom, 2010, E-Communication Session, Budapest (Hall 3)
Observatório Nacional das Doenças Respiratórias Crónicas, Relatório de 2012, “ A Sociedade, o Cidadão e as Doenças Respiratórias”
2
3
www.respira.pt
4
Meio de diagnóstico da DPOC rápido, indolor e fiável.
13
Em Portugal a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) atinge 5 a 6% dos
adultos. Estima-se que um médico de família (MF) terá cerca de uma
centena destes doentes. Relevante causa de morbilidade e mortalidade,
é motivo de inúmeras consultas e de enorme consumo de medicamentos
e de cuidados respiratórios domiciliários
A
prevenção primária, redução do risco, rastreio
oportunístico e deteção precoce são tarefas
capitais para a diminuição da incidência e
morbilidade da DPOC. O médico de família
encontra-se em situação privilegiada para as executar.
Vigiando a saúde de todos os membros da família, é
conhecedor dos hábitos e profissões e pode sinalizar
fatores de risco.
É o MF quem assiste aos primeiros sintomas sugestivos (tosse e expetoração frequentes, dispneia…).
Compete-lhe requisição da espirometria de confirmação. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a possibilidade de retardar a evolução da DPOC. É o MF
quem inicia o tratamento: educação com mudança de
hábitos, farmacológico e não farmacológico. Algumas
vezes partilha com pneumologista os quatro componentes da terapia: avaliação e monitorização da doença, redução dos fatores de risco, tratamento da DPOC
estável, tratamento das exacerbações. Deste depende
a introdução de oxigénio e ventiloterapia.
O tabagismo é o principal fator de risco para DPOC,
estando presente em mais de 90% dos doentes. Um
médico de família terá entre 350 a 400 fumadores no
seu ficheiro. Os familiares que com eles habitam multiplicam o universo de utentes afetado pelo fumo. Parar de fumar é a ação com melhor custo/eficácia para
reduzir risco de DPOC e interromper a sua progressão. O MF deve avaliar
o consumo de
tabaco
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José Belo Vieira
Médico – Medicina Geral
e Familiar
Responsável da Consulta
de Cessação Tabágica
do ACES Odivelas
Especial dpoc
Especial dpoc
DPOC e Médico
de Família
em todos os utentes. Compete-lhe ajudar a reduzir a
iniciação ao consumo com intervenção oportunística nos contactos com utentes jovens. Nos fumadores deve promover a cessação tabágica. Pode realizar uma intervenção breve que necessita de poucos
minutos. Se for necessário apoio intensivo, deve referenciar para consulta de cessação tabágica que disponha de médico (equipa) com competência específica.
Em ex-fumadores compete ao MF fomentar a prevenção da recaída, acompanhando o utente.
Nos conviventes com fumadores deve protegê-los,
promovendo a evicção à exposição ao fumo do tabaco. O acompanhamento periódico do doente com
DPOC é essencial para protelar o avanço da doença
e perda de qualidade de vida. O MF deve considerar
estes doentes como grupo vulnerável, programando
vigilância médica cíclica. Doentes com DPOC grau III
e IV devem usufruir de articulação de cuidados com
consulta de pneumologia, no sentido de otimizar a intervenção e a efetividade terapêutica. A continuidade
entre os dois níveis de cuidados é basilar para a qualidade do acompanhamento.
Um dos principais fatores de insuficiente controlo da DPOC reside na má adesão terapêutica, dependente da vontade e capacidade do doente realizar o
tratamento. No seu médico de família o doente sente‑se mais à vontade para expressar dúvidas ou receios
(da forma correta de inalar, dos efeitos indesejáveis,
do preço, etc.) O MF deve usar a confiança e empatia
do seu doente para promover a educação terapêutica,
elevando a adesão e a eficácia das terapias.
Atuando de acordo com as recomendações
GOLD (Global Iniciative for Obstructive Lung Disease) 2011, o MF está em posição favorecida
para avaliar, ao longo do ano, o grau de compromisso da função pulmonar, a intensidade dos
sintomas, a qualidade de vida/incapacidade e as
exacerbações. Pode assim classificar a gravidade
da doença e promover a adequação do tratamento.
Pelas características do seu exercício (proximidade
ao doente e à família, acessibilidade, continuidade,…)
o médico de família pode, de forma ímpar, atuar em
todas as fases de prevenção e controlo da DPOC. •
«É também o MF que assiste aos primeiros sintomas, ainda inespecíficos
mas sugestivos (tosse e expetoração frequentes, dispneia …). Compete-lhe
avançar para a realização da espirometria que ajuda a confirmar a doença.»
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