SAÚDE dossier Especial artigos DE Este suplemento faz parte integrante do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias Grande Porto de 14 de novembro de 2012 e não pode ser vendido separadamente Carlos Robalo Cordeiro; Artur Teles de Araújo; J. Rosado Pinto; António Jorge Ferreira; José Caminha; Luís Rocha; Cecília Longo; Sofia Tello Furtado; Isabel Saraiva; José Belo Vieira dia mundial da dpoc A doença pulmonar obstrutiva crónica APOIO Especial dpoc DIA MUNDIAL DA DPOC É actualmente reconhecido o enorme impacto das doenças crónicas não transmissíveis, ocupando as de âmbito respiratório, nos países desenvolvidos, o segundo lugar nas causas de mortalidade por doença, a este facto não sendo alheio o envelhecimento da população e a ainda elevada prevalência dos hábitos tabágicos nestes países Carlos Robalo Cordeiro Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia Ficha técnica DOSSIER SAÚDE é uma edição da Unidade de Soluções Comerciais Multimedia da Controlinveste Media | Edição Lara Loureiro | Coordenação de Arte Sofia Sousa | Textos rAQUEL bOTELHO | Publicidade Luís Barradas (Diretor Comercial), Paulo Brunheim | Paginação Departamento de Produção de Publicidade Sul A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é Seguramente que algumas experiências piloto de uma das mais importantes causas respiratórias sucesso, locais e regionais, podem servir como modelo para a implementação desta Rede. crónicas de mortalidade e de diminuição da qualidade de vida. Acresce que foi recentemente constituído o PrograAfectando, segundo os dados mais recentes, cerma Nacional para as Doenças Respiratórias (PNDR), ca de 14% da população portuguesa, a DPOC está na no âmbito da Direcção Geral da Saúde, saudando-se origem, anualmente, de quase 8.000 internamentos, de aliás a iniciativa de incluir estas doenças, finalmente, uma mortalidade aproximada de 3000 doentes e de uma nos eixos estratégicos nucleares da saúde em Portudespesa de saúde, em custos directos e indirectos, exgal, contribuindo assim para melhorar as condições de tremamente relevante. acessibilidade, de assistência, de É uma doença crónica de freacompanhamento e de tratamenquência crescente, que se instala de to dos doentes do foro respiratório. forma relativamente silenciosa em Alicerçado em quatro alíneas, «Muito se tem dito indivíduos com acentuados hábitos representando áreas de influência e escrito sobre a tabágicos, devendo ser considerabem identificadas, como a Doenda a sua existência na presença de ça Pulmonar Obstrutiva Crónica, necessidade da tosse mais frequente, habitualmena Asma Brônquica, a Síndrome de criação de uma te com produção de expectoração, Apneia do Sono e uma vertente de bem como de maior cansaço e falta patologias menos frequentes, mas Rede Nacional de ar, nomeadamente na presença de alta diferenciação, que inclui a de Espirometria, de uma história de exposição inalaHipertensão Pulmonar, a Patologia não tendo no tória a factores de risco para o seu Intersticial e a Fibrose Quística, este desenvolvimento. programa é uma oportunidade para entanto havido, Para a sua identificação, é esenfrentar, sistematizadamente, a doaté ao momento, sencial a realização de um teste da ença respiratória, como um problefunção respiratória, a Espirometria. ma prioritário de saúde em Portugal. uma coincidência É um teste simples, de fácil reCom esta nova realidade, a Sode interesses e ciedade Portuguesa de Pneumoloalização, de interpretação imediata, constituindo também a forma mais gia (SPP) promoveu a criação de um de vontades que objectiva de detecção precoce desGabinete de Monitorização da Doconcorram em sintonia ença Respiratória (GARE), no senta patologia, por vezes ainda sem uma sintomatologia muito evidentido de contribuir para aumentar, de para alcançar, em te e eventualmente ainda em fase forma consistente e reflectida, o cotempo útil, esse passível de resposta ao tratamento. nhecimento da doença respiratória entre nós. Com efeito, sendo a DPOC uma desiderato» doença progressiva habitualmente Neste sentido, o primeiro proevoluindo para insuficiência respijecto que a nova estrutura vai deratória com importante limitação senvolver será, precisamente, um funcional, só um diagnóstico em fases precoces e a “Estudo Custo-Eficácia da Rede Nacional de Espiimplementação das respectivas medidas terapêuticas, rometria”. poderá evitar esta fatalidade evolutiva. Encaramos, aliás, a existência deste gabinete numa Muito se tem dito e escrito, aliás, sobre a necesperspectiva de íntima cooperação estratégica com o residade da criação de uma Rede Nacional de Espiroferido PNDR, que se assume assim como um desígnio vital para a melhoria da condição respiratória da popumetria, não tendo no entanto havido, até ao momenlação portuguesa. to, uma coincidência de interesses e de vontades que concorram em sintonia para alcançar, em tempo útil, É então num ambiente de redobrada esperança que esse desiderato. a SPP assinala mais um Dia Mundial da DPOC. • 03 Especial dpoc A Fundação Portuguesa do Pulmão Atingindo a DPOC cerca de 800 000 portugueses, com grande impacto na qualidade de vida dos doentes e enormes custos, esta doença é obrigatoriamente uma prioridade para a Fundação Portuguesa do Pulmão A cresce que é uma doença em que os fatores comportamentais, especialmente o fumo de tabaco, são os maiores responsáveis pelo seu aparecimento. Igualmente o ignorar de sintomas como a tosse e expetoração persistentes e a dispneia (cansaço para esforços moderados ou pequenos) são razões para que a doença vá progredindo inexoravelmente . Estas razões levam à necessidade da Fundação ter apostado na prevenção da doença, através de um grande empenhamento na luta contra o Artur Teles de Araújo Presidente da Federação Portuguesa do Pulmão tabagismo, sobretudo nos jovens, e na sensibilização e diagnóstico precoce através da realização de milhares de rastreios por todo o País e de aconselhamento na sua página na internet (www.fundacaoportuguesadopulmao.org) e no facebook. Saliente-se que nos rastreios temos procurado que se faça não só a recolha de sintomas como exames espirométricos. Estes elementos são analisados por um médico, os rastreados são aconselhados e encaminhados para o médico de família quando tal se justifique. • A DPOC e a Aliança OMS-GARD O ano de 2011 foi importante para o reconhecimento das Doenças Respiratórias Crónicas (DRC) como pertencentes ao grupo das grandes patologias à escala mundial A 04 reunião durante a Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre Doenças não Transmissíveis, em Nova Iorque, e as recomendações do Conselho da União Europeia sobre “prevenção, diagnóstico precoce e tratamento das DRC das crianças”, foram significativas. A nível nacional a “Declaração para uma vida melhor-abordagem das doenças crónicas através da prevenção” e a criação do Programa Nacional das Doenças Respiratórias (PNDR), coordenados pela Direção Geral da Saúde (DGS), foram também relevantes. Estes documentos e programas têm como referência a Aliança da Organização Mundial de Saúde (OMS) GARD (Global Alliance against Chronic Respiratory Diseases). Apresentada em 2006, em Pequim, reúne organizações, instituições e agências governamentais e não governamentais, a nível internacional e nacional, sob a égide da OMS, que trabalham na vigilância, prevenção e controle das DRC. Estima-se que existam cerca J. Rosado Pinto Coordenador da Imunoalergologia do Hospital da Luz Coordenador Nacional e membro do Grupo de Planeamento da Aliança OMS-GARD de 210 milhões de doentes com DPOC, tendo falecido em 2005 cerca de três milhões. Prevê-se que em 2030 a DPOC seja a terceira causa de morte a nível mundial. Em Portugal as DRC atingem cerca de 40% da população e a DPOC 14,2% em pessoas com mais de 40 anos, sendo o tabagismo o mais importante fator de risco. O internamento e a mortalidade estão presentemente estabilizados, mas é imprescindível a continuação de uma estratégia comum centrada nas instituições oficiais (PNDR­‑DGS) e apoiada a nível mundial na OMS, para que a visão da Aliança GARD (Um mundo onde todos podem respirar livremente) permaneça como indispensável referente.• Evolução da doença e mais-valias do tratamento precoce T 06 em repercussões extrapulmonares importantes e é prevenível e tratável. É, na atualidade, a quarta principal causa de morte prevendo-se que seja a terceira em 2030 logo a seguir às doenças cardíacas isquémicas e às doenças cerebrovasculares. Em Portugal tem uma prevalência por volta dos 6% com predomínio no sexo masculino, em idades entre os 35-69 anos, ou seja, teremos em Portugal cerca de 600 mil doentes com DPOC e destes cerca de 90% distribuídos pelos estádios I e II. Admite-se que no nosso país haja uma prevalência muito superior à oficialmente estabelecida e também é sabido uma elevada prevalência em não fumadores (9,2%). Existem orientações internacionais para a DPOC e desde a sua primeira publicação, em 2001, tem havido várias atualizações. No presente há um sistema de classificação multidimensional que se traduz num tratamento mais individualizado, ou seja, conclui-se que a limitação do fluxo aéreo não constitui, por si só, uma medida precisa da gravidade/atividade da doença. A análise dos sintomas (dispneia, capacidade de exercício, frequência das exacerbações e as comorbilidades), aliado à determinação do fluxo aéreo, permite-nos a tal classificação multidimensional com alterações significativas em relação Abel Afonso Chefe de Serviço de Pneumologia «A terapêutica adequada e precoce melhora e estabiliza o quadro clínico» à avaliação diagnóstica/classificação e à abordagem terapêutica bem como a das comorbilidades. Os sintomas da doença (tosse, expetoração, dispneia) são precoces, porém, não valorizáveis pelo doente, tornam-se mais evidentes após a quarta/quinta década de vida. Os sintomas aparecem lentamente e agravam-se de forma gradual, essencialmente se o fumador persistiu nos seus hábitos tabágicos e se também não for introduzida qualquer terapêutica. As lesões das vias aéreas que causam a dificuldade respiratória são irreversíveis, o mesmo é dizer que não há cura definitiva para a DPOC, razão pela qual o diagnóstico e a terapêutica, numa fase precoce sejam fundamentais, não só para a redução dos sintomas mas também para a redução do risco, isto é prevenir a progressão da doença para um estádio mais grave. Prevenir e tratar as agudizações e reduzir a mortalidade. A terapêutica adequada e precoce melhora e estabiliza o quadro clínico. A intervenção médica nos múltiplos aspetos, não farmacológicos e farmacológicos, visa melhorar os sintomas e a qualidade de vida dos doentes. Os sintomas mais comuns e iniciais são a tosse e a expetoração, normalmente atribuídos ao tabaco e portanto não valorizáveis; posteriormente iniciase a falta de ar com o esforço e, com o evoluir do tempo, esta falta de ar surge com pequenas atividades como por exemplo: tomar banho ou vestir-se e calçar­‑se ou barbear-se. Em conclusão, a gravidade da DPOC baseia-se no nível dos sintomas, na intensidade das anomalias funcionais e na presença de complicações como perda de peso, a disfunção músculo-esquelética e o risco agravado para enfarte do miocárdio, a angina de peito, a osteoporose, a infeção respiratória, a depressão e a diabetes. É portanto fácil concluir que quanto mais precoce e mais atempado for o diagnóstico e o tratamento, melhor prognóstico, e obviamente, menos complicações teremos. • O reconhecimento da relação potencial entre exposições ocupacionais e doença respiratória recua pelo menos até o século XV. Sobretudo a partir do Século XVII – com a publicação por Ramazzini da obra De Morbis Artificum Diatriba, começam a estabelecerse sistematicamente vários nexos de causalidade entre profissão e doença A evidência disponível atualmente e que relaciona exposição profissional com asma ocupacional é bastante substancial; contudo, vários estudos internacionais demonstram também que aproximadamente 15% dos casos de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) são efetivamente relacionados com o trabalho e que mesmo novos agentes utilizados em várias práticas profissionais podem causar DPOC. Há dados crescentes, em diversos países com grandes estudos baseados em populações, sugerindo que uma proporção considerável dos casos de DPOC na sociedade pode ser atribuída ao trabalho e a exposição a poeiras, gases nocivos/ vapores e fumos. António Jorge Ferreira Serviço de Pneumologia – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra Faculdade de Medicina de Coimbra Num estudo com 9823 indivíduos com idades entre os 30-75 anos, escolhidos aleatoriamente na população dos EUA, 693 (7,1%) foram identificados como tendo DPOC. Com base na análise das indústrias e ocupações de todos os indivíduos, e tendo em conta fatores de viés potenciais como o tabagismo, idade, sexo e nível socioeconómico, os autores estimaram que, nos não fumadores, a proporção de DPOC relacionada com o trabalho era de 31% (Hnizdo E. e col.). Entre as principais profissões de risco, citam-se as atividades na área da construção, das indústrias extrativas, do couro, da borracha, do plástico, do têxtil, dos produtos alimentícios, da pintura em spray, da soldadura, do trabalho com quartzo, da exposição a poeiras de madeira e o contacto com solventes. Embora o tabagismo e a exposição ocupacional pareçam causar a maior parte do risco atribuível populacional da DPOC, outras influências são potencialmente importantes, nomeadamente as genéticas; assim, trabalhadores expostos aos mesmos riscos podem ter comportamentos futuros completamente distintos quanto ao eventual desenvolvimento da DPOC. No que toca à vigilância dos trabalhadores a ser levada a cabo pelos Serviços de Saúde e Segurança no Trabalho (e nomeadamente através da especialidade de Medicina do Trabalho), é sugerida a monitorização «Entre as principais profissões de risco, citam-se as atividades na área da construção, indústrias extrativas, do couro, da borracha, do plástico, do têxtil, dos produtos alimentícios, da pintura em spray, da soldadura, do trabalho com quartzo, da exposição a poeiras de madeira e do contacto com solventes» anual por espirometria dos trabalhadores com risco acrescido da DPOC, valorizando sempre descidas superiores a 100-150 ml no volume expiratório forçado no primeiro segundo em duas espirometrias realizadas com um ano de intervalo (Fishwick D. e col.). Em Portugal, o reconhecimento e a atribuição de incapacidades resultantes de doença profissional, bem como as prestações relacionadas, são da responsabilidade do Centro Nacional de Proteção contra os Riscos Profissionais. Considera­‑se doença profissional (entre outras situações) a que se encontra incluída na Lista de Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º 76/2007), de que esteja afetado um trabalhador que tenha estado exposto ao respetivo risco pela natureza da indústria, atividade ou condições, ambiente e técnicas do trabalho habitual. Na vertente preventiva, nomeadamente no que toca à prevenção primária, a existência desejável de vigilância contínua nos locais de trabalho, consignada pelo Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho (Lei n.º 102/2009) deve conduzir à melhoria das condições laborais, nomeadamente pela eliminação de substâncias nocivas, melhoria dos sistemas de ventilação e vigilância dos níveis de exposição dos agentes potencialmente nocivos, reduzindo, assim, significativamente o risco de desenvolvimento de doença profissional. • Especial dpoc Especial dpoc DPOC e doenças profissionais A DPOC é uma doença caracterizada por limitação do fluxo aéreo persistente, geralmente progressiva, associada a uma resposta inflamatória crónica anormal das vias respiratórias e pulmão a partículas ou gases nocivos 07 Quer saber como? Preste atenção a si próprio e veja se tem tosse e expetoração, nem que seja só de manhã, mas na maior parte dos dias. Se achar que sim, pense se isso já acontece não só este ano mas também no anterior. Se também sabe que quando se constipa fica muito afetado a nível dos brônquios e se fuma, estará tudo mais explicado. Deve ter bronquite crónica M as noutros casos não há nem tosse, nem expetoração, mas as escadas passam a ser mais difíceis de subir. E a pouco e pouco até calçar os sapatos é uma maratona! Nesse caso é mais provável que o problema seja um enfisema. E se fuma também estará tudo mais explicado. Está na altura de ir ao médico, porque pode ter enfisema. Mas só o médico pode assegurar que é disso que se trata: Bronquite crónica (doença dos brônquios) ou Enfisema (doença do pulmão). Mas cuidado, porque se não se previne e não se trata começamos a não conseguir fazer o que sempre fazíamos, seja isso carregar as compras, subir escadas sem dificuldade, andar mais depressa ou até vestir a roupa de manhã. Isto é, tudo fica pior porque queremos respirar e o “ar não chega”, sentimos “gatinhos” e ficamos anormalmente cansados. Significa que há situação mais grave, em que o ar que queremos respirar entra mal e sai pior....como José Caminha Médico Pneumologista Prof. Auxiliar do Inst.de Ciências Biomédicas Abel Salazar Coordenador da Unidade de Pneumologia do HPP Boavista Assistente Hospitalar Graduado de Cuidados Intensivos no Hospital de S. António «Se em alguns casos a DPOC é uma doença com a qual se tem que viver o resto da vida, convém salientar que os sintomas podem ser tratados de imediato» se tudo estivesse obstruído, estreito, ou seja “meio tapado”. E nessa altura quando for data de aniversário e as velas do bolo tiverem que ser apagadas de um só sopro...podemos não conseguir. Antes que a situação fique tão anormal, o melhor é ir ao seu médico e contar a história. E tão importante como a radiografia o seu médico vai pedir que faça uma prova funcional respiratória. Com isso é possível medir a sua capacidade pulmonar, quer em respiração calma quer em respirações mais extremas, para se ter uma ideia “a que distância devem estar as velas para que as consiga apagar”. Caso não tenha folgo normal, significa que tem uma bronquite crónica ou enfisema mas neste caso mais graves, porque já com obstrução. E então passa a ter DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica), na verdade uma fase mais avançada da bronquite crónica e do enfisema. Se em alguns casos a DPOC é uma doença com a qual se tem que viver o resto da vida, convém salientar que os sintomas podem ser tratados de imediato, principalmente se a doença é identificada precocemente. Há um leque de opções de tratamento que melhoram os sintomas e a qualidade de vida. A DPOC é possível de evitar e o tratamento pode restituir melhor qualidade à vida. • Tenha em atenção que: A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença prevenível e tratável; O fator de risco mais frequente em todo o mundo é o tabagismo; A DPOC é a segunda causa de internamento hospitalar por doença respiratória; 08 O fumador tem quatro vezes mais probabilidade de ter DPOC (bronquite crónica e/ou enfisema). DPOC e cancro do pulmão Luís Rocha Diretor do Serviço de Pneumologia do IPO Porto A DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) é uma doença crónica, caracterizada por uma obstrução dos brônquios, destruição dos alvéolos e perda da função respiratória, que ocorre de uma forma progressiva O consumo de tabaco é o principal fator de risco para o desenvolvimento da DPOC, embora algumas exposições profissionais, como os fumos químicos, poeiras orgânicas e inorgânicas, a poluição atmosférica, a exposição passiva ao fumo do tabaco e fatores genéticos, também possam contribuir para o seu aparecimento. Os sintomas mais frequentes da DPOC são a tosse e expetoração crónicas, a falta de ar e o cansaço fácil, que normalmente surgem de forma gradual e progressiva. Estima-se que a DPOC afete cerca de 5,3% da população portuguesa, sendo uma das principais causas de perda de qualidade de vida, de morbilidade e de mortalidade. Os doentes com DPOC devem fazer tratamentos para diminuir os sintomas, que englobam medicamentos para reduzir a falta de ar, o cansaço, a tosse e a expetoração, e programas de exercício físico. No entanto, dado que o tabagismo é a principal causa da DPOC, há evidência científica que demonstra que deixar de fumar é a única forma de contrariar a evolução natural da DPOC. Por outro lado, a cessação tabágica é a medida que tem melhor relação custo/benefício. Para além da DPOC, o tabagismo, quer ativo quer passivo, é responsável por cerca de 90% dos casos de cancro do pulmão (CP). Embora outros agentes com potencial carcinogéneo, por vezes até presentes em ambiente laboral (como os asbestos, rádon, nitrogénio, gás de mostarda, plutónio, berílio, arsénio, cádmio, entre outros), possam estar também envolvidos no aparecimento de CP, sabemos que o fator causal mais prevalente é o consumo de tabaco. Apesar de existir suscetibilidade individual de cada fumador às substâncias químicas presentes no tabaco, devido a mecanismos genéticos ainda não completamente conhecidos, sabe-se que o tabagismo origina várias alterações celulares, o que aumenta muito o risco de Especial dpoc Especial dpoc Quer saber se tem Bronquite Crónica? É fácil! «O cancro do pulmão é, muitas vezes, o último capítulo do doente que já apresenta DPOC» desenvolvimento de DPOC e de CP. O risco destas doenças aumenta com a carga tabágica de cada fumador, sendo maior para aqueles que fumam mais anos e maior número de cigarros. O CP é, muitas vezes, o último capítulo do doente que já apresenta DPOC, pois estes doentes têm um risco aumentado de CP quando comparados com fumadores com igual carga tabágica mas com função respiratória normal. Muitas vezes o CP não apresenta quaisquer sinais ou sintomas até atingir uma fase avançada da doença, o que leva a que apenas cerca de 20% dos casos sejam diagnosticados numa fase inicial, com indicação cirúrgica na altura do diagnóstico. Nos restantes casos de CP mais avançados, a quimioterapia e a radioterapia podem ter um papel no controlo da doença. Em Portugal são diagnosticados, anualmente, mais de três mil novos casos de CP, dos quais mais de metade acaba por falecer em menos de um ano, ou seja, a taxa de mortalidade é praticamente igual à taxa de incidência de CP, devido ao diagnóstico da doença em fase tardia e eficácia limitada das terapêuticas disponíveis, apesar dos avanços ocorridos nos últimos anos. Por isso, é importante estar alerta face a eventuais alterações do organismo, principalmente se é uma pessoa fumadora ou ex-fumadora: tosse ou rouquidão persistentes, que se agravam com o tempo; expetoração com sangue; dor no peito persistente e não justificável por outras causas; falta de ar agravada; fadiga, fraqueza e perda de peso sem causa aparente são motivos que devem levar à procura de aconselhamento médico. A DPOC e o CP têm em comum a exposição ao fumo do tabaco, sendo por isso duas doenças preveníveis. No entanto, com a prevalência de hábitos tabágicos a que assistimos ainda atualmente, a DPOC e o CP permanecerão dominantes nos próximos cinquenta anos. A mais importante intervenção para diminuir o risco de CP é a cessação tabágica. Deixar de fumar é a medida que reduz, de forma significativa, a probabilidade de aparecimento da DPOC e do CP. Em conclusão, a estreita relação destas duas doenças com o tabaco torna o abandono dos hábitos tabágicos a melhor arma para a sociedade. • 09 num mundo em mudança climática Nos últimos cinquenta anos as atividades humanas libertaram na atmosfera quantidades significativas de gases com efeito de estufa (GEE) que afetaram o clima global no planeta. Os efeitos das mudanças climáticas são perniciosos e também afetam a saúde, pois condicionam alterações nos determinantes básicos F enómenos meteorológicos extremos são cada vez mais frequentes e variados. As notícias de ondas de calor, de períodos de seca prolongada ou de precipitação intensa fazem já parte do nosso dia a dia, levando, entre outros, a um potencial aumento do número de mortes associadas a calor intenso, a agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares, a um incremento das doenças relacionadas com fenómenos de poluição atmosférica e a migração de vetores de doenças infeciosas. Ora a carga de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) atual é enorme. Segundo as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de sessenta e cinco milhões de pessoas sofrem de doença moderada a grave e mais de três milhões de pessoas morreram com DPOC em 2005, o que corresponde a 5% das mortes a nível mundial. Em 2002, a DPOC era a quinta causa de morte, mas com uma previsão de aumento superior a 30% do número de mortes por DPOC nos próximos 10 anos, tornando-se em 2030 10 Cecília Longo Chefe de Serviço de Pneumologia do Hospital Fernando da Fonseca, EPE Presidente da Associação Chama Saúde Curso Doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, UL,UT, UNL na terceira causa de morte mundial, o que torna premente a instituição de medidas concertadas para fazer frente a este desafio. Classicamente, a prevenção da DPOC passa pela redução dos principais fatores modificáveis, como o fumo do tabaco, as exposições ocupa­cionais a químicos e fumos, a poluição do ar (exterior e/ou interior) e pela identificação dos fatores de risco individuais, nomeadamente « De um modo global, podemos dizer que o que é bom para o clima é bom para a saúde.» os fatores de agravamento da doença (ex.: infecções respiratórias e comorbilidades). Ora no contexto atual, os meios de combate desta doença têm de ser globais, nacionais e individuais, baseados num desenvolvimento sustentável com um mix de medidas de mitigação e de adaptação climática. Inverter ou limitar o aquecimento global a um máximo de 2ºC, através duma geoestratégia política global com investimentos em inovação e desenvolvimento de medidas centradas em tecnologias de baixo teor de carbono para substituição das tecnologias dependentes dos combustíveis fósseis, irá contribuir positivamente para a saúde. Medidas centradas no sector energético, dos transportes, da agricultura e da floresta visam o aumento da eficiência energética e a captura de carbono, e contribuem assim para diminuição dos GEE, originando ganhos na saúde respiratória importantes. De um modo global, podemos dizer que o que é bom para o clima é bom para a saúde. O sector da saúde, empenhado no controlo da DPOC, desenvolveu, a nível global, programas/planos de vigilância sob a égide da Organização Mundial da Saúde. A nível nacional têm sido implementados pela DireçãoGeral da Saúde, em estreita colaboração com a Sociedade Portuguesa de Pneumologia e o SNS. A responsabilização individual no controlo da saúde respiratória e na evicção da DPOC passa pela adoção de estilos de vida saudáveis, com prática de exercício físico e diminuição da pegada individual de carbono e em caso de doença no conhecimento da mesma e na adesão à terapêutica. A estratégia da prevenção da DPOC é complexa e multifatorial, dependendo de intervenções quer a nível individual, local, regional, nacional e global e ainda da combinação de políticas públicas, e de mudanças culturais individuais. • Especial dpoc Especial dpoc Desafio da prevenção 11 DPOC? Sofia Tello Furtado Directora do Serviço de Pneumologia do Hospital Beatriz Angelo Pneumologista do Hospital da Luz A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) caracteriza-se pela obstrução persistente das vias aéreas, condicionando sintomas respiratórios crónicos (tosse, produção de expectoração e falta de ar) Como se faz o diagnóstico O doente com sintomas respiratórios deve procurar um médico, o qual, através da história clínica e do exame físico, vai suspeitar da doença. A confirmação do diagnóstico é fornecida através da realização de um exame simples, chamado espirometria, em que o doente sopra para um aparelho que mede o volume de ar inspirado e expirado num determinado período de tempo. realização das actividades do quotidiano. Nos doentes com DPOC, principalmente nas fases mais avançadas, a realização de pequenas acções (por ex: tomar banho, trocar de roupa, conduzir) são suficientes para provocar dificuldade respiratória, além de gerarem grande angústia. Desta forma, é fundamental que o doente aprenda a conviver com a sua falta de ar, diminuindo as restrições por ela impostas. Como é a evolução da DPOC? A doença tende a ser progressiva, principalmente se o doente não parar de fumar, porém, a velocidade de progressão é variável para cada doente. Nas fases avançadas da doença, devido à dificuldade respiratória, as atividades básicas do quotidiano podem tornar-se cada vez mais difíceis; as agudizações e internamentos passam a ser frequentes e surge dificuldade para manter a oxigenação do sangue. O doente com DPOC deve: • Alimentar-se de forma variada e equilibrada; • Beber bastante água, pois fluidifica a expectoração e facilita a sua eliminação; • Praticar uma actividade física regular, melhorando a força muscular, a função pulmonar e a sensação de bem-estar (por ex: caminhada diária de 30-45 min); • Evitar ambientes com fumo, poeiras e substâncias químicas irritantes (Por ex: lareiras, perfumes mais intensos, sprays para o cabelo, produtos de limpeza doméstica); • Submeter-se a uma avaliação médica periódica; • Tomar os medicamentos sempre à hora e na dose indicada pelo médico. A terapêutica inalatória deve ser cuidadosamente administrada de forma a garantir a sua eficácia; • Saber reconhecer os sinais de agudização e ter um plano de actuação Pode tratar-se? O tratamento dos pacientes com DPOC baseia-se em: - Cessação tabágica - Vacinação anual contra a gripe - Manutenção do calibre das vias aéreas (uso de broncodilatadores) -Tratamento das agudizações (antibióticos, corticóides, broncodilatadores, oxigénio). -Programa de Reabilitação Respiratória Pulmonar 12 DPOC: quantos somos? Que cuidados o doente com DPOC deve ter no dia-a-dia? A tendência do paciente com DPOC é, em função dos sintomas e do avançar da idade, levar uma vida mais sedentária Como resultado desta inactividade gradual diminui também progressivamente a tolerância ao esforço, ficando cada vez mais inapto para a previamente estabelecido com o seu médico assistente. Situações mais graves Nestes casos é preciso uma organização do dia-a-dia de forma a contornar a limitação que a dificuldade respiratória condiciona, eliminando atividades desnecessárias e organizando o espaço em que vive e trabalha, bem como o tempo gasto nas atividades do quotidiano: • Organizar as actividades a realizar (alternar actividades mais pesadas fisicamente com as mais leves); • Eliminar actividades desnecessárias (usar um roupão de banho em vez de se secar com toalha, usar sapatos sem atacadores); • Fazer períodos de repouso ao longo do dia; • Organizar o local de trabalho e a casa, de forma a que os objectos permaneçam em sítios acessíveis (a uma altura entre a anca e a altura do ombro); Conclusão A DPOC é uma doença respiratória crónica, progressiva associada a significativa diminuição na qualidade de vida e mortalidade. O diagnóstico precoce, o acompanhamento médico adequado, a cessação tabágica e a adaptação dos hábitos quotidianos são a melhor forma de controlar a evolução e os efeitos da doença. • «Nos casos mais graves é preciso uma organização do dia-a-dia de forma a contornar a limitação que a dificuldade respiratória condiciona, eliminando atividades desnecessárias e organizando o espaço em que vive e trabalha» Somos pouco conhecidos, a maioria de nós fumou muito, durante muito tempo. Em Portugal estima‑se que somos um milhão e meio, isto é cerca de 14,2%1 dos portugueses, na Europa cerca de treze milhões, a nível mundial sessenta e quatro milhões (segundo dados da Organização Munidal de Saúde) e em 2030 a DPOC será a terceira causa de morte N este milhão e meio os homens estão em maioria, com idades entre os 65 e os 79 anos, e vivemos mais em Lisboa e no Norte e menos no Alentejo. Protagonizamos um pouco invejável segundo lugar em matéria de internamentos por patologias respiratórias, cujos médicos especialistas pneumologistas e internos, em números 486, asseguram uma cobertura razoável do território do continente, de acordo, aliás, com as recomendações internacionais2. Do milhão e meio, 362 322 de nós estão sujeitos a outros tipos de terapêuticas, como sejam a aerossolterapia, a oxigenoterapia e a ventiloterapia. Somos oitocentas mil pessoas que carregam uma doença cujo nome é difícil de dizer, mais difícil de fixar e quase sempre impossível de entender para outros que não nós: DPOC – doença pulmonar obstrutiva crónica. E, no entanto, estas quatro letras abrangem um universo de situações, de experiências pessoais, de estilos de vida, que condicionaram e motivaram o aparecimento e o desenvolvimento da doença. Olhando de perto para a sigla DPOC encontramos o seu significado: DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA, isto é, os nossos pulmões e vias respiratórias sofrem e estão “fechados”, dificultando mais ou menos a respiração, consoante graus diferentes de dificuldade. Mas além de ser uma DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA também é CRÓNICA, o que significa que uma vez diagnosticada, e embora podendo ser tratada, não pode ser curada, ficando connosco para sempre. Viver com DPOC pode ser, e em muitos casos é, desafiante. As tarefas simples do quotidiano provocam grande fadiga e consomem níveis elevados de energia, afectando actividade física, vida social e profissional. A ansiedade é uma companhia frequente, o medo do agravamento da doença – as tão temidas exacerbações – está sempre presente, a dificuldade em subir escadas, de carregar pesos mesmo que pouco sentir, lembram em permanência que os nossos pulmões «Do milhão e meio, 362 322 de nós estão sujeitos a outros tipos de terapêuticas, como sejam a aerossolterapia, a oxigenoterapia e a ventiloterapia» estão em sofrimento e que a nossa saúde respiratória está danificada. A origem desta doença que atinge oitocentos mil portugueses prende-se com a exposição a fatores de risco, dos quais de longe o mais importante é o tabaco. Os sintomas de DPOC são familiares a todos nós: tosse persistente, dificuldade em respirar, fadiga... mas mesmo esta familiaridade não nos motiva a procurar ajuda junto do médico assistente, continuando meses Estudo "COPD prevalence in Portugal. The Burden of Obstructive Lung Disease study (Bold)”, Cristina Bárbara et al., “COPD prevalence in Portugal. The Burden of Obstructive Lung Disease study (BOLD)” Cristina Bárbara1, Fátima Rodrigues 2, Hermínia Dias 3, João Cardoso4, João Almeida5, Maria João Matos6, Paula Simão7, Moutinho Santos8, Reis Ferreira9 , António Gouveia10, Richard Hooper11, Anamika Jithoo11, Peter Burney 11. 1 Serviço de Pneumologia II, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal; 2 Serviço de Pneumologia II, Hospital Pulido Valente-Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Lisboa, Portugal; 3 Curso de Cardiopneumologia, Escola Superior de Tecnologias da Saúde, Lisboa, Portugal; 4 Serviço de Pneumologia, Hospital de Santa Marta, Lisboa, Portugal; 5 Serviço de Pneumologia, Hospital de S.João, Porto, Portugal; 6 Serviço de Pneumologia, Hospitais da Universidade de Coimbra Portugal; 7 Serviço de Pneumologia, Hospital Pedro Hispano, Porto, Portugal; 8 Serviço 1 isabel saraiva Vogal da Direção da RESPIRA Especial dpoc Especial dpoc O que é a ou anos tossindo e fumando, fumando e tossindo, até que um susto grande ou pequeno nos faz correr a pedir ajuda, esperando que não seja tarde e sobretudo que não seja grave. Quando nos informam e nos explicam que o primeiro e mais importante passo para o tratamento é deixar de fumar, uma multiplicidade de sentimentos que vão desde a perda (nunca mais fumar?) ao alívio (podia ser pior!) toma posse de nós. A partir daqui o que fazer? Aprender todos os dias a viver com DPOC. Mudar de estilo de vida. Praticar a prevenção seguindo as recomendações do nosso médico no que diz respeito à vacinação da gripe/pneumonia. Ter cuidado com as alterações climatéricas e evitar ambientes poluídos. Ler sobre a DPOC e saber que com ela vêm muitas vezes doenças cardiovasculares e osteoporose, o que significa uma vigilância acrescida e um reforço da nossa atenção. E também: colaborar e procurar informação e apoio junto da RESPIRA – Associação Portuguesa das Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas3, ajudando no caminho que queremos percorrer e no trabalho que estamos a fazer, da prevenção tabágica, do diagnóstico atempado da DPOC com a criação de uma rede nacional de Espirometria4, da equidade no acesso aos cuidados de saúde, cuja qualidade deve estar sempre assegurada. “Um mundo onde todos respirem livremente” é a visão do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias, e o mundo onde todos queremos viver. • de Pneumologia, Hospital dos Covões, Coimbra, Portugal; 9 Serviço de Pneumologia, Hospital da Força Aérea, Lisboa, Portugal; 10 Estatística, Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, Lisboa, Portugal; 11 NationalHeartand Lung Institute, Imperial College, London, United Kingdom, 2010, E-Communication Session, Budapest (Hall 3) Observatório Nacional das Doenças Respiratórias Crónicas, Relatório de 2012, “ A Sociedade, o Cidadão e as Doenças Respiratórias” 2 3 www.respira.pt 4 Meio de diagnóstico da DPOC rápido, indolor e fiável. 13 Em Portugal a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) atinge 5 a 6% dos adultos. Estima-se que um médico de família (MF) terá cerca de uma centena destes doentes. Relevante causa de morbilidade e mortalidade, é motivo de inúmeras consultas e de enorme consumo de medicamentos e de cuidados respiratórios domiciliários A prevenção primária, redução do risco, rastreio oportunístico e deteção precoce são tarefas capitais para a diminuição da incidência e morbilidade da DPOC. O médico de família encontra-se em situação privilegiada para as executar. Vigiando a saúde de todos os membros da família, é conhecedor dos hábitos e profissões e pode sinalizar fatores de risco. É o MF quem assiste aos primeiros sintomas sugestivos (tosse e expetoração frequentes, dispneia…). Compete-lhe requisição da espirometria de confirmação. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a possibilidade de retardar a evolução da DPOC. É o MF quem inicia o tratamento: educação com mudança de hábitos, farmacológico e não farmacológico. Algumas vezes partilha com pneumologista os quatro componentes da terapia: avaliação e monitorização da doença, redução dos fatores de risco, tratamento da DPOC estável, tratamento das exacerbações. Deste depende a introdução de oxigénio e ventiloterapia. O tabagismo é o principal fator de risco para DPOC, estando presente em mais de 90% dos doentes. Um médico de família terá entre 350 a 400 fumadores no seu ficheiro. Os familiares que com eles habitam multiplicam o universo de utentes afetado pelo fumo. Parar de fumar é a ação com melhor custo/eficácia para reduzir risco de DPOC e interromper a sua progressão. O MF deve avaliar o consumo de tabaco 14 José Belo Vieira Médico – Medicina Geral e Familiar Responsável da Consulta de Cessação Tabágica do ACES Odivelas Especial dpoc Especial dpoc DPOC e Médico de Família em todos os utentes. Compete-lhe ajudar a reduzir a iniciação ao consumo com intervenção oportunística nos contactos com utentes jovens. Nos fumadores deve promover a cessação tabágica. Pode realizar uma intervenção breve que necessita de poucos minutos. Se for necessário apoio intensivo, deve referenciar para consulta de cessação tabágica que disponha de médico (equipa) com competência específica. Em ex-fumadores compete ao MF fomentar a prevenção da recaída, acompanhando o utente. Nos conviventes com fumadores deve protegê-los, promovendo a evicção à exposição ao fumo do tabaco. O acompanhamento periódico do doente com DPOC é essencial para protelar o avanço da doença e perda de qualidade de vida. O MF deve considerar estes doentes como grupo vulnerável, programando vigilância médica cíclica. Doentes com DPOC grau III e IV devem usufruir de articulação de cuidados com consulta de pneumologia, no sentido de otimizar a intervenção e a efetividade terapêutica. A continuidade entre os dois níveis de cuidados é basilar para a qualidade do acompanhamento. Um dos principais fatores de insuficiente controlo da DPOC reside na má adesão terapêutica, dependente da vontade e capacidade do doente realizar o tratamento. No seu médico de família o doente sente‑se mais à vontade para expressar dúvidas ou receios (da forma correta de inalar, dos efeitos indesejáveis, do preço, etc.) O MF deve usar a confiança e empatia do seu doente para promover a educação terapêutica, elevando a adesão e a eficácia das terapias. Atuando de acordo com as recomendações GOLD (Global Iniciative for Obstructive Lung Disease) 2011, o MF está em posição favorecida para avaliar, ao longo do ano, o grau de compromisso da função pulmonar, a intensidade dos sintomas, a qualidade de vida/incapacidade e as exacerbações. Pode assim classificar a gravidade da doença e promover a adequação do tratamento. Pelas características do seu exercício (proximidade ao doente e à família, acessibilidade, continuidade,…) o médico de família pode, de forma ímpar, atuar em todas as fases de prevenção e controlo da DPOC. • «É também o MF que assiste aos primeiros sintomas, ainda inespecíficos mas sugestivos (tosse e expetoração frequentes, dispneia …). Compete-lhe avançar para a realização da espirometria que ajuda a confirmar a doença.» 15