DIABETES MELLITUS VERSUS FIBROSE CÍSTICA Fernando Luiz de Melo Sales¹,Maria Shirley Expósito Tenório Luna² Everaldo Silva de Freitas ³ 1,2 Aluno do Curso de Especialização em Perícia Oficial em Saúde do Centro Universitário de Lins - Unilins, Lins-SP, Brasil. 3 Docente do Curso de Especialização em Perícia Oficial em Saúde do Centro Universitário de Lins - Unilins, Lins-SP, Brasil. sobre os proventos de aposentadoria e de pensão. Por que essa doença foi contemplada entre outras mais comuns, na faixa etária dos aposentados? Seu reconhecimento como fator de isenção ocorreu pela aprovação de um projeto de lei ordinária. Enquanto isso, muitos projetos, sugerindo a inclusão de Diabetes Mellitus tramitam sem aprovação. Desta forma, sugere-se a criação e adoção de um protocolo, usando como exemplo o Diabetes Mellitus, para correta seleção das candidatas ao rol das doenças de isenção do Imposto de Renda. Para melhor compreensão serão analisados os trâmites desse tipo de projeto no poder legislativo, além das características da Fibrose Cística e do Diabetes Mellitus, com abordagem de ponto de vista médico-social. Resumo O objetivo inicial desta publicação é esclarecer o processo de inclusão de uma doença em lei para isenção de imposto de renda nos rendimentos recebidos como proventos de aposentadoria ou de pensão. Ao mesmo tempo em que, tenta entender o porquê da prioridade concedida à inclusão de Fibrose Cística, em detrimento de outras doenças com perfil mais adequado ao benefício e mais prevalentes socialmente. O tema em estudo, cria um argumento para reforçar a defesa da inclusão do Diabetes Mellitus tipo 1 e tipo 2, com justificativa para a escolha desta patologia, fundamentada em dados epidemiológicos de saúde pública e de custos sociais. É importante ressaltar, o estabelecimento de diretrizes médicas, para seleção dos casos com maior vulnerabilidade clínica e maior onerosidade para o cidadão. Se por meio desta atuação, ficar demonstrada a utilidade pública da participação médica, para subsidiar a elaboração de projetos relacionados ao assunto, estará alcançada a finalidade primordial do presente estudo. Metodologia 2.1 Base jurídica O Brasil adotou o modelo de Estado Democrático de Direito. Assim, é possível afirmar que o titular do poder político é o próprio povo, que decidiu viabilizar a tomada de decisões através de um modelo de representatividade. Os poderes que detém clara representatividade social são o poder executivo e o poder legislativo, com conexão direta aos eventos eleitorais, tornando-os atores principais do processo legislativo. Notase a importância fundamental de compreender este processo de edição de leis, pois o poder Palavras chaves – Isenção de Imposto de Renda, Adoção de Critérios Médicos. Introdução A escolha da temática foi suscitada pela presença da Fibrose Cística como doença listada no rol das isentas de imposto de renda 1 público só pode atuar conforme previsão legal. O poder executivo pode atuar no início do processo legislativo, pela sua legitimidade de iniciativa, ou ao final do processo, através da sanção ou veto. O poder legislativo se organiza de maneira bicameral, sendo composto pelo Senado Federal e pela Câmara de Deputados. O objetivo do presente trabalho delimita a explanação à elaboração das leis ordinárias, tipo utilizado para isenção de imposto de renda. A iniciativa de lei cabe a qualquer membro do poder legislativo, ao presidente da república, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos próprios cidadãos (Art. 60, §2, da CF/88). O foco do trabalho será a sua hipótese mais comum, qual seja propositura por meio dos próprios parlamentares. A discussão e votação do projeto de lei proposta será iniciada na casa a qual pertencer o parlamentar que o propuser. Deste modo, se proposto por um senador, o debate se iniciará no Senado Federal. Antes de qualquer votação, o projeto deverá ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça, para avaliação de sua compatibilidade com o texto da Carta Magna. Os regimentos internos de cada casa legislativa prevêem ainda a criação de várias comissões, a quem submetem análise dos projetos, sendo, contudo, todas compostas pelos próprios parlamentares. Durante a votação, poderão ser propostas ainda emendas, por outros integrantes do legislativo. Cada Casa deverá votar o projeto com as emendas já propostas. No exemplo citado, caso aprovado o projeto pelo Senado Federal, houver proposta de emenda na Câmara de Deputados, o projeto deverá retornar ao Senado, para que este trecho seja novamente votado (art. 65 da CF/88). [10] A lei ordinária exige o quórum de maioria simples para sua aprovação. Tendo sido aprovado o projeto nas duas casas, o texto seguirá para o presidente da República, que poderá sancioná-lo ou vetá-lo no prazo de 15 dias.[17] Este é o procedimento previsto na Carta Magna, o qual é detalhado nos Regimentos Internos da Câmara dos Deputados [13] e do Senado Federal [14]. O mais interessante é que, independentemente do tema versado no projeto de lei, não há obrigatoriedade de oitiva de especialistas ou mesmo da sociedade civil organizada, através de associações ou outras formas de organização. Há possibilidade de consulta pública, com manifestação de convidados dos parlamentares, ou de juntada de pesquisas ao próprio projeto de lei, mas não há vinculação alguma ao caminho a ser adotado pelo ordenamento normativo.[10] A lei 9250/95, em seu art. 30, § 2º, incluiu o texto: Na relação das moléstias a que se refere o inciso XIV do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992, fica incluída a fibrose cística (mucoviscidose). 2.2 Fibrose Cística 2.2.1 Conceito: doença genética de transmissão autossômica recessiva, com várias mutações descritas, sendo a mais comum,a perda da fenilalanina, na posição 508 da CFTR. Mais frequente em caucasianos 1:2. 500, em negros 1:17.000 e em orientais 1:90.000.[12] 2.2.2 Quadro clínico: as manifestações clínicas dependem do genótipo e resultam dos fenômenos obstrutivos provocados pelas secreções muito espessas. Apresenta doença pulmonar obstrutiva supurativa crônica, insuficiência pancreática exócrina, com consequente má absorção e desnutrição, presença de elevada concentração de eletrólitos no suor. O inicio dos sintomas varia de acordo com o tipo da mutação, nos casos mais graves, pode ser de 0 a 2 anos - com íleo meconial e esteatorréia; de 2 a 12 anos - com má absorção e pneumonias; após 12 anos DPOC, pancreatite, cirrose biliar, diabetes e azoospermia. 2.2.3 Diagnóstico: teste de triagem neonatal positivo ou irmão com fibrose cística ou características fenotípicas (doenças características) terá que ser confirmado com dosagem de cloro no suor > 60mEq/l ou identificação de 2 mutações para FC.[12] 2 2.2.4 Prognóstico: até alguns anos atrás os pacientes sobreviviam até adolescência. O diagnóstico mais precoce e a instituição de melhores regimes terapêuticos aumentaram a sobrevida desses pacientes para média de 32 anos. Até o momento ainda não foi encontrada a cura para a doença. O tratamento inclue: fisioterapia respiratória, prática de atividade física, uso de dornase alfa n, antibiótico inalatório e sistêmico, enzimas pancreáticas, vitaminas ADEKs e dieta suplementar. O transplante de pulmão é uma opção para pacientes adultos.[12] mulheres, 70% possuem 20 a 30 anos de idade, a maioria refere sair pouco de casa e manter sua doença em segredo. A renda familiar média varia entre 1 a 3 salários mínimos. Em relação à situação profissional: 50% dos pacientes estão inseridos no mercado de trabalho, 30% não trabalham ou nunca trabalharam e outros já estão aposentados ou em auxílio-doença. Dos que estão em atividades muitos revelam dificuldade em se manter no trabalho por conta da necessidade do tratamento. O nível de escolaridade é 60% nível médio e 30% nível superior.[16] A Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose (ACAM/RJ), frente ao trabalho desenvolvido com os portadores e familiares de Fibrose Cística do Estado do Rio de Janeiro, por uma equipe multiprofissional, possui um total de 200 pacientes cadastrados. A maior parte do grupo corresponde a crianças (52%) em idade entre zero e 12 anos; adolescentes (17%) e adultos, (31%). Dos associados, cerca de 10% se encontra abaixo da linha da miséria, com uma renda per capita de até ¼ do salário mínimo e cerca de 18% se encontra na linha da pobreza até ½ salário mínimo per capita. Ainda nesta pesquisa, foi constatado um índice significativo de desemprego e atividade laborativa informal, acarretando dificuldades na adesão ao tratamento. Pode-se destacar a dificuldade de acesso a benefícios assistenciais, em especial o Benefício de Prestação Continuada (BPC Benefício disponibilizado pela Assistência Social), esbarra-se na interpretação da lei sobre a questão da deficiência e da incapacidade para a vida e para o trabalho. Outro benefício possível, porém moroso e burocrático para sua aquisição, consiste na liberação do "Passe livre", que possibilita a gratuidade no transporte público para acesso ao tratamento.[6] A liberação de medicamentos e dieta suplementar em Farmácias do Governo (Secretaria Estadual de Saúde) é uma medida de grande suporte social visto que as medicações indicadas são de uso contínuo e de custo elevado, no entanto existem constantes interrupções no fornecimento, o que compromete a qualidade do tratamento. 2.2.5 Pesquisas: Os mais recentes progressos nas estratégias de tratamento estão focados na identificação de compostos que potencializem a atividade da CFTR, restaurando sua regulação endógena - o transporte de íons. Alguns compostos estão sendo avaliados em estágios II e III de ensaios clínicos com resultados encorajadores. Portanto, o panorama da pesquisa, levando em conta os avanços científicos e tecnológicos com o fim de gerar novas terapias genéticas e não genéticas direcionadas para a correção do defeito básico da FC é vasto e promissor.[4] 2.2.6 Contexto social: A criação de centros de tratamentos para pacientes com FC tem sido a forma mais viável de oferecer tratamento especializado. A equipe do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, fez um estudo com 47 pacientes acima de 16 anos de idade, durante 5 anos, correlacionando as características clínicas do grupo com a gravidade funcional pulmonar da doença, destes, 8 pacientes foram a óbito e 39 pacientes concluíram o estudo. Em relação às questões sociais: idade mediana era 22,3 anos; 97,4% eram de cor branca; 66,7% eram estudantes,10% estavam empregados;( 2 ) 5,1% estava desempregado e (1)2,6% estava aposentado.[7] O aumento da expectativa de vida vem trazendo à tona vários problemas sociais associados a vida dos pacientes e suas famílias. Em centros de assistência, como no Ambulatório de Fibrose Cística da Policlínica Piquet Carneiro da UERJ, o serviço social mostra pelos dados obtidos que 51% são 3 2.2.7 Fibrose Cística- a doença no adulto. Além das complicações respiratórias e má absorção usuais na infância, no adulto a doença hepática e do trato biliar podem estar presente, até na sua forma mais severa. Comum também a presença de diabetes clínico ou intolerância à glicose. A doença sinusal também é frequente. Os homens podem ser estéreis por azoospermia, obstrutiva na altura do deferente e as mulheres podem ser menos férteis, pela viscosidade aumentada do muco cervical. Há alguns casos de gestações bem sucedidas. Adultos jovens podem ter dificuldade em aceitar a manutenção do tratamento. A escolha do trabalho tem que ser orientada,para evitar exposição a agentes químicos, agentes agressivos pulmonares ou trabalhos pesados. no nosso enfoque. No DM tipo 1,há deficiência insulínica por destruição das células Beta pancreáticas, de origem autoimune ou não, em jovens tem instalação rápida ou em adultos instalação insidiosa. No DM tipo 2, há uma síndrome envolvendo múltiplos fatores genéticos e ambientais, associado ao excesso de gordura corporal e vida sedentária, com aparecimento mais frequente após os 40 anos. 2.3.2: Epidemiologia: O número de indivíduos diabéticos está aumentando em virtude do crescimento e envelhecimento populacional, da maior urbanização, da crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como da maior sobrevida de pacientes com DM. Uma epidemia de diabete mellitus está em curso. No Brasil, no final da década de 1980,estimou-se a prevalência de DM de 7,7% na população adulta ,dados mais recente apontam para taxas mais elevadas como 13,5% em São Carlos-SP [3] e de 15% em Ribeirão Preto- SP.[11] Na população com idade de 60 a 69 anos a prevalência aumenta para 17,9%. [3] Sua natureza crônica, a gravidade das complicações e os meios necessários para controlá-las tornam o DM uma doença muito onerosa não só para os indivíduos afetados e suas famílias, mas também para o sistema de saúde (SUS). Os custos não são só econômicos tem também um custo intangível de dor, ansiedade, perda de qualidade de vida e insegurança. Além disso, os custos sociais com perda da produtividade no âmbito do trabalho, que parecem ser até superiores do que os gastos com assistência a saúde.[2] 2.3.3 Quadro clínico e diagnóstico: a sintomatologia clássica suspeita de diabetes é dependente da hiperglicemia: aumento de diurese, sede excessiva, aumento de apetite e perda de peso. No diabetes de instalação súbita, mais comum na criança e no adolescente, o quadro pode iniciar de forma muito grave com ceto-acidose e coma. Na sua instalação mais insidiosa, associada a fatores como ganho de peso, resistência à insulina - a síndrome metabólica, acompanhada de hipertensão e dislipidemia, pode anteceder o aparecimento do diabetes. Desde 1997, são 3 os critérios diagnósticos do diabetes: sintomas 2.2.8 Estudos na área: Grupo Brasileiro de Estudos de Fibrose Cística,na publicação recente dos Registros do Ano 2010 – totalizou 1.555 pacientes; sendo 79,7% tem menos de 18 anos e 20,35% tem 18 anos ou mais. Em relação à etnia 72,5% são brancos; 21,3% são mestiços; 5,9% são negros e 0,3% são asiáticos. Distribuídos, em ordem decrescente, por estado de origem; 36,2% de São Paulo; 15,5% do Rio Grande do Sul; 15% da Bahia; 7,9% de Minas Gerais; 6,7% de Santa Catarina. Quanto às condições para diagnóstico: sintomas respiratórios persistentes 65,7%; esteatorréia ou má absorção 39,5%; déficit crescimento/ desnutrição 42%; triagem neonatal 10,1%; íleo meconial 8,3%%; história familiar 8,2% e, outras condições. Pacientes com mais de 18 anos- nº total 286 – 114 (39,9%) tem emprego. [15] 2.3 Diabetes mellitus 2.3.1 Conceito: o Diabete Mellitus (DM) inclui um conjunto de transtornos metabólicos, que resultam em hiperglicemia crônica resultante da diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação da insulina e/ou da deficiência de sua secreção. [2] Classificação baseada na etiologia: Diabetes tipo 1, Diabetes tipo 2, outros tipos específicos de diabetes e diabetes gestacional. Esses dois últimos grupos não se enquadram 4 clínicos e glicemia casual >200mg/dl; glicemia de jejum>126mg/dl; glicemia após sobrecarga de 75g de glicose >200mg/dl. [1] retiniana difusa, incluindo a macular e o deslocamento tracional da retina. Critérios atuais, fruto de dois importantes estudos- DRS (Diabetic Retinopathy Study -1976 a 1979) e ETDRS (Early Treatment Diabetic Retinopathy- 1985 a 1997), classificam a retinopatia diabética em 5 categorias: sem retinopatia aparente; retinopatia diabética não proliferativa leve, moderada e grave; retinopatia diabética proliferativa. O tratamento da retinopatia diabética com fotocoagulação permanece como padrão ouro para o edema macular e a retinopatia. Em 2010, segundo parecer da SBRV (Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo) a fotografia do fundo do olho é foi considerada bom método para diagnóstico da retinopatia. Nefropatia diabética-é uma complicação crônica do diabetes, que está associada a importante aumento da mortalidade, principalmente relacionado a doença cardiovascular. É a principal causa de Insuficiência Renal Crônica em pacientes dialisados. A nefropatia diabética é classificada de acordo com valores de excreção urinária de albumina, em 3 fases: normoalbuminúria, microalbuminúria (nefropatia incipiente) e macroalbuminúria (nefropatia clínica ou proteinúria clínica).A microalbuminúria pode ser revertida com tratamento clínico. Diagnóstico da nefropatia: inicialmente medir albumina em amostra de urina casual, confirmar excluindo causas de albuminúria, medir albumina/creatinina em primeira urina da manhã, proteinúria 24 horas e clearence de creatinina. Classificação da doença renal diabética (DRD): DRD clínicaexcreção urinária de albumina>200 microg /min ou proteinúria maior que 500mg/24hs, hipertensão; DRD avançada – proteinúria progressiva, hipertensão grave, declínio na taxa de filtração; DRD terminal-uremia, síndrome nefrótica, necessidade de diálise.[18] Neuropatia diabética: é o distúrbio neurológico presente em pacientes diabéticos, excluindo-se outras causas de neuropatia. A prevalência chega a 50% com a evolução temporal da doença, embora o distúrbio neurológico possa ser precoce e o bom controle metabólico reduza a frequência e a intensidade da lesão neurológica. Clinicamente 2.3.4 Doenças macrovascular no paciente com diabetes: a doença arteriosclerótica afeta o diabético da mesma forma que a qualquer pessoa, no entanto é mais precoce, mais frequente e mais grave, podendo acometer a circulação coronariana, vascular periférica e sistema nervoso central. Embora o diabetes seja um distúrbio metabólico atualmente também é considerado uma doença vascular. Trata-se, portanto de uma síndrome dismetabólica cardiovascular. [5] A doença cardiovascular (DCV) é a maior causa de morbidade e mortalidade nestes pacientes. Em cerca de 25% dos casos a primeira manifestação de DCV é o infarto do miocárdio ou a morte súbita. O diabetes é pois um equivalente de DCV visto que confere alto risco para novo evento nos próximos dez anos. A doença arterial obstrutiva periférica caracteriza-se pela obstrução aterosclerótica progressiva das artérias dos membros inferiores. A avaliação funcional do paciente define a conduta: assintomático e claudicação intermitente - tratamento clínico; dor em repouso e lesão trófica-isquemia crítica (risco de perda do membro)-intervenção imediata: avaliação com imagem e revascularização. A associação com neuropatia diabética influencia fortemente a evolução das lesões mascarando a dor da isquemia crônica.[18] 2.3.5 Complicações crônicas: as alterações microvasculares são associadas especificamente ao diabetes. Retinopatia diabética – é uma das principais complicações e a principal causa de cegueira em pessoas com idade de 20 a 74 anos. Após 20 anos de doença, mais de 90% dos diabéticos tipo 1 e 60% do tipo 2 terão algum grau de retinopatia.O tempo de doença e o controle glicêmico são, respectivamente, os dois fatores mais importantes relacionados ao desenvolvimento e à gravidade da retinopatia. [18].A principal causa de baixa visual é o edema macular que pode ou não se associar a retinopatia proliferativa que leva a eventos com perda visual irreversível, como isquemia 5 se apresenta de 2 formas principaispolineuropatia sensório motora simétrica e neuropatia autonômica (cardiovascular, respiratória, digestiva e genito urinária).[18] Queixas de dor nas pernas de difícil controle, dormência, desconforto, diminuição da sensibilidade nas pernas e pés. Os testes neurológicos básicos incluem avaliação de sensibilidade, pesquisa de reflexo tendinoso e medidas de pressão arterial e frequência cardíaca (deitado e em pé). O pé diabético é conceituado como infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos moles associados a alterações neurológicas e vários graus de doença arterial periférica.[2] A perda da sensibilidade protetora é o fator chave para o desenvolvimento de ulcerações e maior vulnerabilidade a traumas. A ulceração tem na infecção sua complicação mais frequente e em 85% precedem as amputações. de revascularização miocárdica ou colocação de stent coronariano; Amputação de membro inferior, incluindo o pé (exceto pododáctilos) e /ou revascularização de circulação periférica comprovada; Presença de retinopatia diabética não proliferativa moderada a grave ou retinopatia proliferativa com laudo oftalmológico baseado em foto ou comprovação de tratamento com laser; Presença de proteinúria igual ou superior a 500mg/24 horas com qualquer alteração de clearence de creatinina. Discussão e Conclusões Sem dúvida, a inclusão da Fibrose Cística, como doença para isentar do imposto de renda os proventos dos aposentados e pensionistas, desde 1995, não foi uma medida de impacto social; especialmente, porque há 17 anos, a previsão de sobrevida para seus portadores era muito limitada. Trata-se de uma doença grave, sem cura clínica até momento, cujo tratamento demanda cuidados médicos e fisioterapêuticos contínuos, uso de medicamentos e suplementação alimentar. Costuma acometer os indivíduos desde o nascimento. É altamente provável o comprometimento do desempenho escolar e ocupacional, dificultando o alcance de rendas tributáveis. Mesmo atualmente, é possível que seja muito reduzida sua utilidade. Apenas para complementar, há muitos projetos em tramitação no Senado e na Câmara sugerindo outras doenças para inclusão em lei: doenças raras, de abrangência segmentar dentro da nosologia citada, isoladas mas que pertencem a um grupo de similares, por exemplo, xeroderma pigmentoso, trombofilia, linfangioleiomiomatose pulmonar, epilepsia , doenças auto-imunes, lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia,enfisema, narcolepsia, etc ou até doenças que já foram aprovadas em projetos anteriores,como a própria fibrose cística, ou ainda, já englobadas na relação atual de forma sindrômica, como a doença de Alzheimer, Hipertensão Arterial Grave, a esclerose lateral amiotrófica. Resultados Diante da tendência atual, ao diagnóstico de diabetes com índices glicêmicos mais baixos e da possibilidade de erro diagnóstico baseados em simples exames laboratoriais anteriores, acredito que o enquadramento só deveria ser aprovado se houvesse um fator associado agravante ou comprovação da presença de uma das complicações crônicas do diabetes. Os casos, onde há cegueira, cardiopatia grave, paralisia grave e incapacitante, insuficiência renal grave, associados ao diabetes já estão incluídos em lei. De forma sequencial, como seria um guia sugestivo de enquadramento do diabético: Dados inespecíficos: Idade superior a 40 anos no diabetes tipo 1 e superior a 65 anos no diabetes tipo 2; história de diabetes há, no mínimo 5 anos, mais comum média de 10 anos; associação com hipertensão, dislipidemia e obesidade. Dados específicos: presença obrigatória de pelo menos 01 complicação associada: Comprovação de lesão coronária em imagem (cateterismo, cintilografia ou outro exame de imagem) no caso de não haver indicação cirúrgica ou comprovação 6 Isto é compreensível, depois do que estudamos pela forma como os projetos de lei são elaborados e votados por pessoas na sua grande maioria, leigas na área de saúde. Enquanto isso, a inclusão do Diabetes Mellitus tipo 1 e tipo 2,aguarda aprovação visto que está presente em vários projetos, e veja como preenche bem critérios indispensáveis: Referências Bibliográficas [1]AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Guide to diagnosis and classification of diabetes mellitus and ofter categories of glucose intolerance. Diabetes Care. 1997; 20(Suppl); 215-25 [2]BANDEIRA, F.; GRAF, H.; GRIZ, L.; FARIA, M.; CASTRO, M.L.; et al. Endocrinologia e diabetes. 2 ed.Rio de janeiro;Medbook,2009. 1- Trata-se de uma doença crônica, incurável, tem abrangência social e demanda cuidados médicos continuados; 2- Cumpre a finalidade social da isenção propiciar conforto financeiro para manter o tratamento, que é oneroso; 3- Confere viabilidade econômica, se for feita seleção de casos - exigência de diabetes mellitus associado à presença de uma complicação grave ; 4- Pode propiciar uniformidade de padrão pericial pela comprovação médica documental da presença da complicação, visto que o simples diagnóstico clínico laboratorial do diabetes seria duvidoso e a definição da data inicial da isenção ficaria claramente configurada. [3]BOSI, P.L.; CARVALHO, A.M.; CONTRERA, D.; CASALE, G.; PEREIRA, M.A.; GRONNER, M.; DIOGO, T.M.; TORQUATO, M.T.C.G.; OISHI, J.; LEAL, A.M.O. Prevalência de diabetes mellitus e tolerância à glicose diminuída na população urbana de 30 a 79 anos da cidade de São Carlos. São Paulo. Arq.Bras.Endocrinol Metab.2009:53(6):726-32 [4]CABELLO, G.M.K. Avanços em Genética na Fibrose Cística. Rio de Janeiro. Revista HUPE vol.10.n.4 out/nov 2011 [5]FAGAN, T.C.; DEEDWANIA, P.C.The cardiovascular dysmetabolic syndrome. Am J Med. 1998;105(1A)775-825 Imprescindível a sensibilização do poder público para importância de consultar entidades médicas (Conselho Federal de Medicina, através de suas câmaras técnicas, Comissões de Médicos Peritos, Sociedades das Especialidades, etc), para conferir substrato aos trabalhos legislativos, evitando-se a elaboração de leis sem boa fundamentação na área de saúde. Ultrapassada a fase de consolidação dos projetos de lei a serem propostos, haverá seguimento ordinário do processo legislativo, com análise do mérito político e econômico das questões pelo poder legislativo. Se esta publicação tiver a chance de despertar questões sobre este tema estará aberta uma possibilidade de que se possa trabalhar de forma multidisciplinar com mais eficiência em busca de justiça social [6] GUARINO,R.C.; ANDRADE, T.; CUNHA , S.; VITAL,A.C.; OLIVEIRA,C.F.; CARVALHO, J. O trabalho da Associação Carioca de Assistência à Mucoviscidose do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.Revista HUPE vol 10,n 4,out/nov2011 [7]KANG, S.H.; PIOVESA, D.M.; HOFFMAN, C.F.; FRANCISCATTO, E.; MILLÁN, T.; LACERDA, C., VERONEZI, J.; COELHO, T.; BAGLIO, P.; XAVIER, R.; DALCIN, P.T.R. Características dos pacientes adolescentes e adultos com fibrose cística do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Rio Grande do Sul. Revista AMRIGS,48 jul/set2004. [8] BRASIL. Lei n.7.713 de 22 de dezembro de 1988. Lei n. 9.250 de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação de imposto de 7 imposto de renda e dá outras providências. Disponível em <www4.planalto.gov.br/legislação>. Acesso em 02 mai. 2013. 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