Teorema fundamental da proporcionalidade Sadao Massago Maio de 2010 a Fevereiro de 2014 Sumário 1 Preliminares 1 2 Teorema Fundamental da proporcionalidade 1 Referências Bibliográcas 6 Neste texto, o Teorema fundamental da proporcionalidade será demonstrado. 1 Preliminares Uma das propriedades dos números reais a ser utilizado é Propriedade 1.1 (Arquimediana dos números reais). Dado um número real, existe um número natural maior que ele. A propriedade arquimediana é equivalente a dizer que,para todo número real n tal que n1 < ε. Também vamos precisar do teorema de Tales. ε > 0, existe um número natural Teorema 1.2 (Tales) . Se três retas paralelas determina (dois) segmentos congruentes a uma reta concorrente, então determina (dois) segmentos congruentes em qualquer das retas concorrentes. Signicado. r1 , r2 e r3 três retas paralelas entre si. Suponha que s seja concorrentes A1 , A2 e A3 são pontos de intersecções de s com r1 , r2 e r3 respectivamente de modo que A1 A2 = A2 A3 . Neste caso, para qualquer reta t cruzando r1 , r2 e r3 em B1 , B2 e B3 respectivamente, tem-se que B1 B2 = B2 B3 . Sejam a estas retas e 2 Teorema Fundamental da proporcionalidade Uma consequência do Teorema de Tales é Proposição 2.1 . (Corolário do Teorema de Tales) Se um conjunto das retas paralelas deter- minam segmentos congruentes numa reta concorrente, então determina segmentos congruentes em qualquer das retas concorrentes. Signicado. ri com i = 0, . . . , n as retas paralelas. Se s1 é uma reta concorrente a estas na qual os pontos Ai determinado como intersecção com ri são igualmente espaçados, então para toda reta concorrente s2 , os pontos Bi determinados como intersecção com ri também são Sejam igualmente espaçados. 1 Demonstração. Consideremos as retas paralelas r0 , r1 , . . . , rn que cortam a reta s1 nos pontos Pi respectivamente, determinando segmentos congruentes, isto é, Pi Pi+1 = Pi+1 Pi+2 para i = 0, . . . , n − 2. Se s2 for reta concorrente a r0 , será concorrente a todos ri . Consideremos o ponto de intersecção Qi de s2 com ri (Figura 1). s1 r0 ri s2 Q0 P0 Qi Pi Qn rn Pn Figura 1: O corolário do Teorema de Tales Para cada de Tales, por sobre i = 0, . . . , n − 2, Pi Pi+1 = Pi+1 Pi+2 implica que Qi Qi+1 = Qi+1 Qi+2 pelo Teorema ri , ri+1 e ri+2 serem retas paralelas. Logo, ri determinam segmentos congruentes s2 . Proposição 2.2. em n Dado um número inteiro positivo n, qualquer segmento AB pode ser dividido partes iguais. Demonstração. Seja AB um segmento e n > 0 um número inteiro. Considere C fora da reta A e B . Na semirreta de origem em A determinado pelos pontos A e C , P0 = A, P1 = C e Pi ordenados sobre a semi reta com espaçamento AC , para determinada pelo considere pontos i = 0, . . . , n (Figura 2). Pn Pi P1 = D B = Qn P0 = A = Q0 Q1 Qi Figura 2: Dividindo o segmento 2 AB paralelas a Pn B pelos pontos Pi , e sejam Qi a intersecção desta reta com AB . Como ri não pode cruzar a reta rn e Pi estão no mesmo lado de A relativamente a rn , Qi também estarão. Da mesma forma, Qi estarão no mesmo lado de B relativamente a reta r0 passando por A. Desta forma, Qi estão sobre AB . Como Pi são igualmente espaçados, Qi também serão igualmente espaçados pelo corolário Passando retas ri o prolongamento de do Teorema de Tales (Proposição 2.1). {ai } {bi } são ditos proporcionais se existir um numero λ tal a que bi = λai para todo i. Quando a divisão é permitida, é equivalente a dizer que i = λ para bi todo i. Tal λ é denominado de razão da proporcionalidade. Dois conjunto dos números Denição 2.3. e Dois triângulos são ditos semelhantes quando os ângulos correspondentes são congruentes e os lados correspondentes são proporcionais. Signicado. 4ABC e 4DEF de ter AB DE = BC EF = ∠A = ∠D, ∠B = ∠E são semelhantes se, e ∠C = ∠F , além AC . DF A razão das medidas entre os lados correspondentes num triângulo semelhante é denominado de razão da semelhança. Exercício 2.4. Mostre que a razão entre dois lados de um triângulo é igual a razão entre dois lados correspondentes do triângulo semelhante a ele. Signicado. 4ABC e 4DEF são semelhantes então AB AC = DE AB , DF BC = DE BC e EF AC = EF . DF O teorema fundamental da proporcionalidade caracteriza os triângulos semelhantes. Teorema 2.5 (fundamental da proporcionalidade). Dois triângulos tem ângulos corresponden- tes congruentes se, e somente se, tem os lados correspondentes proporcionais. Signicado. 4ABC AB DE = BC EF = e 4DEF tem ∠A = ∠D, ∠B = ∠E e ∠C = ∠F se, e somente se, AC . DF Demonstração. ( =⇒ ) Se provarmos que a razão entre um par de lados correspondentes é igual a razão entre outro par de lados correspondentes, podemos concluir que a razão entre qualquer dos lados correspondentes são iguais. 0 0 0 Considere 4ABC e 4A B C com ângulos correspondentes congruentes. Se eles tiverem um lado igual, serão congruentes por ALA e terão todos lados congruentes e os triângulos são semelhantes com razão de semelhança 1. Agora consideremos o caso de ter lados não congruentes. Sem perda de generalidade, podemos supor que A0 B 0 < AB . Então podemos 0 0 0 construir 4ADE congruente a 4A B C sobreposta a 4ABC . Para isso, considere D sobre AB tal que AD = A0 B 0 e E sobre AC tal que AE = A0 C 0 , o que garante a congruência de 4ADE com 4A0 B 0 C 0 por LAL. Como ângulos correspondentes entre 4ABC ângulos correspondentes formado pela intersecção a 4ADE são iguais, ∠ADE = ∠B de AB com DE e BC . Logo, DE é e que são paralelo BC . Assim, podemos considerar o caso 4ABC e 4ADE com D sobre AB e DE paralelo a BC AD na qual queremos mostrar que = AE . AB AC Inicialmente, consideremos os pontos A = P0 , P1 , . . . , Pn−1 , Pn = B de forma que Pi dividam AB o segmento AB em n partes iguais, isto é, Pi Pi+1 = para i = 0, . . . , n − 1 (Figura 3). n Como D está em AB , estará em algum segmento Pkn Pkn +1 de modo que APkn ≤ AD < AB APkn +1 . Como Pi são igualmente espaçados, APi = i · AB e temos kn · ≤ AD < (kn + 1) · AB . n n n AD kn +1 AD kn kn kn 1 kn 1 Dividindo por AB , temos ≤ AB < n = n + n . Subtraindo n , temos 0 ≤ AB − n < n . n AD kn 1 Assim, − n < n para todo n > 0. AB 3 P0 = A P1 Pk n D E Pkn +1 B = Pn C Figura 3: Dividindo o lado AB AC . Traçaremos as retas ri paralelas Pi e consideremos os pontos Qi obtidas como intersecção de ri com o prolongamento do lado AC . É fácil ver que Q0 = A e Qn = C . Para i = 1, . . . , n − 1, como ri não podem cruzar nem r0 e nem o rn , Pi estar entre eles implica que Qi também estarão entre eles e consequentemente, Qi estão no segmento AC . Como ri são paralelas e determinam segmentos congruentes sobre AB , também determinará segmentos congruentes sobre AC (Figura 4) pelo corolário do Teorema de Tales (PropoAgora precisamos vericar o que acontece no lado a BC (e logo a DE também) pelos pontos sição 2.1). P0 = A = Q0 r0 r1 Pk n D rkn rkn +1 rn Q1 P1 Qkn E Pkn +1 Qkn +1 B = Pn C = Qn Figura 4: As retas paralelas passando por E deverá car AE kn 1 entre Qkn e Qnk +1 . De forma análoga ao caso feito pelo D e Pi , temos que − n < n para AC AD AE AE kn kn AE AD kn AE kn todo n > 0. Assim, temos que − = − + − ≤ − + − < n n n n AB AC AC AC AC AB AD AE 1 + n1 = n2 para todo n > 0. Então AD = AE , pois caso contrário, − AC < n2 implicaria n AB AC AB Como DE é paralelo a ri , ele não poderá cruzar rkn nem o rnk +1 Pi de forma que que n< 2 AD AE , signicando que existe um número real maior que qualquer número inteiro, AB − AC 4 contradizendo a propriedade arquimediana dos números reais (Propriedade 1.1). 0C0 A0 B 0 = AAC . Portanto AB (⇐=) Seja 4ABC e 4A0 B 0 C 0 com lados proporcionais. Se AB = A0 B 0 então dois triângulos são congruentes por ALA e logo tem ângulos correspondentes congruentes. Se estes lados não forem congruentes, podemos supor sem perda de generalidade que A0 B 0 < AB . Seja D um ponto sobre AB de forma que AD = A0 B 0 . Considere E sobre AC de forma que DE é paralelo a BC . 4ADE 4ABC tem ângulos correspondentes congruentes e pelo que já demonstramos, terá os lados correspondentes proporcionais. Como AD = A0 B 0 , a razão 0 0 0 de semelhança de 4ADE e 4A B C com o 4ABC é igual, o que implica que 4ADE e 4A0 B 0 C 0 são congruentes por LLL. Logo, 4A0 B 0 C 0 tem ângulos correspondentes congruentes com 4ADE Então e que por sua vez, tem os ângulos correspondentes congruentes com 4ABC . O teorema acima garante que os triângulos com ângulos correspondentes congruentes são semelhantes e os triângulos com lados correspondentes proporcionais também são semelhantes. O Teorema de Tales generalizada, também conhecido como Teorema da projeção paralela é um resultado equivalente ao Teorema fundamental da proporcionalidade. Teorema 2.6 (Tales generalizado). Dado três retas paralelas, eles determinam segmentos com a mesma proporção, independente da reta concorrente. Signicado. e s2 são as retas concorrentes à A1 A2 1 B2 . ri , determinando pontos de intersecção Ai e Bi com ri , então A A = B B2 B3 2 3 Sejam ri com i = 1, 2, 3 as retas paralelas. Se s1 Demonstração. Sejam r1 , r2 e r3 as retas paralelas e s1 e s2 são retas concorrentes a ri . Precisamos mostrar que os segmentos determinados por determinados sobre r1 , r2 e r3 s2 . Consideremos A1 , A2 A3 , e respectivamente. Também consideremos com as retas r1 , r2 e ri sobre s1 são proporcionais aos segmentos os pontos de intersecção de B1 , B2 e B3 , s1 com as retas os pontos de intersecção de s2 r3 respectivamente. A A B B Queremos provar que 1 2 = 1 2 . A2 A3 B2 B3 Sejam P e Q, os pontos sobre as retas r2 e r3 respectivamente, obtido pela intersecção com B1 . Então A1 A2 P B1 e A2 A3 QP são paralelogramos B P B B e consequentemente, A1 A2 = B1 P e A2 B3 = P Q. Logo, basta mostrar que 1 = 1 2 . Como PQ B2 B3 ∠B1 P B2 = ∠P QB3 por ser ângulos correspondentes formado por B1 Q e as retas paralelas r1 e r2 , temos que 4B1 P B2 e 4B1 QB3 tem ângulos congruentes (pois ∠B1 é comum) e pelo a reta paralela ao s1 passando pelo ponto teorema fundamental da proporcionalidade, tem lados proporcionais. (Figura 5). s1 r1 s2 A1 | P || B2 || Q B3 || A3 || r3 | || A2 || r2 B1 Figura 5: As retas paralelas determina segmentos proporcionais Logo, B1 P B1 Q = B1 B2 . Mas B1 B3 B1 Q = B1 P + P Q e 5 B1 B3 = B1 B2 + B2 B3 , tendo a igualdade B1 P B1 P +P Q = B1 B2 B1 B2 +B2 B3 ⇐⇒ B1 P +P Q B1 P = B1 B2 +B2 B3 B1 B2 ⇐⇒ 1 + PQ B1 P = 1+ B2 B3 B1 B2 ⇐⇒ PQ B1 P = B2 B3 B1 B2 ⇐⇒ B1 P PQ = Exercício 2.7 B1 B2 . B2 B3 (Teorema da projeção paralela) . Dado três retas paralelas, mostre que os seg- mentos determinados numa reta concorrente é proporcional aos segmentos determinados em qualquer outra transversal. Exercício 2.8. Dado um conjunto de retas paralelas, mostre que os segmentos determinados numa reta concorrente é proporcional aos segmentos determinados em qualquer outra transversal. Referências [1] Toyo, Takami, Kika-kogi (zen-pen) (Curso de geometria, parte 1 de 2), seção editoral da Universidade de Saneda, Japão, ano não especicado. [2] Moise, Edwin E. e Downs Jr, Floyd L., (tradução de Renate G. Watanabe), Geometria Moderna, Vol. 1 e 2, Edgard Blucher, 1971. [3] Euclides (versão latino de Commandino, F.; ilustração e adição de Simons, R.; revisão de Anibalfaro), Elementos de Geometria, edições cultura, 1944. [4] Rezende, Eliane Q. F. e Queiroz, Maria L. B de, Geometria Euclidiana plana e construções geométricas, Editora UNICAMP, 2000. [5] Greenberg, Martin J., Euclidean and non-euclidean geometries, W. H. Freeman and company, 1993. 6