a alegoria da caverna e o mito de eco - PUC-Rio

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Departamento de Filosofia
A ALEGORIA DA CAVERNA E O MITO DE ECO
Aluno: Luís Paulo Pinho Bueno de Carvalho
Orientadora: Luisa Severo Buarque de Holanda
Introdução
A alegoria da caverna é a passagem mais famosa da obra platônica e provavelmente a
que mais provocou interpretações no decorrer da história da filosofia. Apesar de se tratar de
uma imagem, e possuir uma série de elementos que contribuem para o enriquecimento do seu
teor filosófico, ela se caracteriza por sua natureza alegórica, o que torna cada componente da
imagética um tanto enigmático, exigindo, portanto, interpretações cuidadosas, que devem
considerar o contexto em que surgem, a totalidade da obra a que pertencem, outras obras
platônicas e para outros textos da tradição grega com os quais Platão pode estar dialogando.
O foco central da pesquisa foi o trecho 515b-c do sétimo livro da República, que apesar
de ser pequeno, é um excerto importante da chamada “Alegoria da Caverna”, visto que a
personagem Sócrates narra a relação entre os prisioneiros e os ecos produzidos pelas vozes
dos carregadores que passam por detrás deles, levando objetos cujas sombras são projetadas
na parede à sua frente, e por conseguinte, os cativos fazem uma falsa relação de causa e efeito
entre os ecos e as sombras, ambas localizadas no fundo da caverna. De acordo com a
compreensão de quem são os prisioneiros, os carregadores por detrás deles, em que consiste
os objetos e suas respectivas sombras, e qual o papel do eco ouvido pelos cativos, formamos
diferentes interpretações da alegoria como um todo.
A questão do eco possui grande relevância em relação à “ciência da caverna”, ou seja, o
que os prisioneiros entendem por ciência, e tem repercussões, portanto, sobre a própria
compreensão platônica do que seja a verdadeira ciência e a verdadeira filosofia.
Objetivos
A pesquisa consistiu em uma análise do trecho 515b-c, presente no sétimo livro da
República, tomando como base um elemento pouco examinado, de modo geral, pela tradição
de interpretação da obra, a saber: a presença do Eco (diretamente relacionado ao famoso mito
grego) como elemento gerador do engano dos cativos platônicos. Apesar de se tratar de uma
pequena passagem, ela se revela de grande relevância, pois a análise e a interpretação de cada
elemento dela concorre decisivamente para a compreensão da Alegoria como um todo. A
análise aqui proposta centralizou-se na figura de Eco. O nosso objetivo foi construir uma
interpretação da Alegoria que a contextualizasse em relação ao mito de Eco e valorizasse,
portanto, os elementos ligados à escuta. Esse último tema, por sua vez, nos remeteu ao
filósofo pré-socrático Heráclito. Fundando nossa pesquisa sobre a tríade ‘Alegoria da
Caverna/Mito de Eco/Fragmentos heraclíticos’, pudemos formular uma interpretação própria
da célebre passagem platônica.
Metodologia
O método de análise levou em consideração os múltiplos aspectos do texto platônico.
Por se tratar de um trecho curto, ele pode ser analisado detidamente, contextualizado na obra e
comparado com outros textos da tradição grega anterior a Platão que podiam, de algum modo,
estar presentes ali.
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O ponto de partida, foi o “Mito de Eco” pois a figura de eco, presente textualmente no
trecho em questão, orienta o conteúdo do discurso socrático e uma provável relação entre a
ciência dos prisioneiros e a capacidade de repetição daquilo que se ouve. Considerando a
figura e a história de Eco presentes na tradição grega, portanto, sondaram-se possíveis
consequências filosóficas dos elementos literários disposto pelo autor na imagética da
Alegoria da Caverna.
A pesquisa literária e mitológica formou uma base consistente para a pesquisa
filosófica, que consistiu em leitura, análise e interpretação do texto platônico.
Em seguida, passamos para a comparação entre os elementos auditivos do trecho
platônico, ligados à figura mítica de Eco, e certos fragmentos de Heráclito que desenvolvem a
questão da escuta. Esse tema é muito caro ao filósofo pré-socrático, porque sua concepção de
sabedoria está fundada sobre uma certa capacidade auditiva - de auscultação do Logos.
Investigando a hipótese de uma boa e uma má escuta estarem presentes no horizonte
platônico, sob as figuras de Heráclito e Eco, respectivamente, nossa metodologia consistiu em
realizar uma seleção e um entrecruzamento comparativo de textos.
Conclusões
Após a pesquisa bibliográfica dos textos propostos, somados a algumas obras de
referência sobre mitologia de autoria de Junito de Souza Brandão, constataram-se
semelhanças e conexões entre as fontes, o que contribuiu para enriquecer e ampliar os
horizontes interpretativos do trecho em questão, e consequentemente, trazer implicações para
a filosofia platônica em geral. A pesquisa cumpriu o papel de levantar hipóteses
interpretativas e endossar a tese de que os elementos auditivos presentes na alegoria platônica
possuem uma finalidade, e não estão por mero acaso. O presente trabalho, portanto,
possivelmente estimulará novas pesquisas e análise sobre o trecho proposto.
Referências
1- BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega, vol. I. 26.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
2- . Mitologia grega, vol. II. 23.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
3- . Dicionário mítico-etimológico da mitologia grega. 2ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
4- PLATÃO. A República. J.Guinsburg (org. e trad.). Coleção textos. 1ªedição. São Paulo:
Pespectiva, 2010.
5. A República. Maria Helena da Rocha Pereira (org.). Coleção textos clássicos.
14ªEdição. Lisboa: CalousteGulbenkian, 2014.
6. A República. Ana Lia Amaral de Almeida Prado (trad.). 1ªedição. Editora Martins
Fontes, 2014.
7. Filebo. Fernando Muniz (trad.). Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola,
2012.
8- PRÉ-SOCRÁTICOS. Osfilósofos pré-socráticos. Gerd A. BORNHEIM, (org.). 16ª
edição. São Paulo: Editora Cultrix, 2011.
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