padrões estéticos e transtornos alimentares

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ISSN 1646-6977
Documento produzido em 20.07.2014
PADRÕES ESTÉTICOS E TRANSTORNOS ALIMENTARES
2011
Nara Saade de Andrade
Psicóloga graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais
Charlisson Mendes Gonçalves
Mestrando em Psicologia pela PUC-Minas. Psicólogo graduado pelo
Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Brasil)
Stela Maris Bretas
Psicóloga, Mestre em Processos Psicossociais e Docente no
Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Brasil)
E-mail de contato:
[email protected]
RESUMO
Este artigo aborda algumas questões culturais que transformaram o padrão estético em
diferentes períodos históricos. Com exigências muito bem definidas, os padrões estéticos podem
vir a se transformar em transtornos alimentares, desencadeando: anorexia, bulimia, obesidade. O
objetivo desta pesquisa é fornecer material teórico e auxiliar no fomento de espaços de discussão
para lidar com os problemas de saúde que surgem.
Palavras-chave: Padrões estéticos, transtornos alimentares, problemas de saúde.
PADRÕES ESTÉTICOS E SUA HISTÓRIA
De acordo com Busse (2004) o padrão estético de beleza se altera conforme a cultura de
cada povo e muitos destes acabam tornando-se estranhos, às demais culturas. Um exemplo seria a
preferência do povo maia por pessoas com estrabismo; para cultura brasileira isso não se
enquadra como padrão de beleza.
Nara Saade de Andrade, Charlisson Mendes Gonçalves, Stela
Maris Bretas
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Neste sentido e buscando compreender esta perspectiva, procurou-se fazer um percurso
histórico. Assim, observou-se que na Idade Média, o padrão de beleza estava associado a uma
imagem feminina, relatada nas cantigas de amor. Estas diziam da mulher branca e pura, com
corpo virginal e delicado, rosto liso, traços regulares, quadris arrebitados, boca vermelha e
cabelos lisos. (ROUSSO, 2000 apud BUSSE, 2004).
Já no século XIII, ocorreu uma mudança na estética feminina, um gosto pré-romântico
pela graça e pela simplicidade (VASCONCELOS, SUDO, e SUDO, 2004). O padrão de beleza
feminino estava relacionado às santas medievais, que ingeriam apenas a eucaristia, considerada
de profundo significado espiritual, refletindo assim no auto-sacrifício, os níveis extremos de
magreza (LILES, 1999 apud BUSSE, 2004).
Com o Renascimento, a concepção de belo muda os corpos gordos tinham sua beleza
admirada e retratada, em quadros e em ilustrações. As medidas clássicas são retomadas; o corpo
feminino deviria ser farto, com seios grandes, quadril largo, representando a fertilidade
(GARRINI, 2007).
Com o passar do tempo, estrutura-se o movimento romântico e o padrão de beleza
feminino altera-se novamente. Agora, belas são as mulheres puras, pálidas, com cabelos longos e
escuros. Busse (2004) afirma que muitas mulheres chegavam a desmaiar na busca por este
padrão de beleza.
Neste percurso histórico, já no século XIX surge a mulher burguesa, bem alimentada,
roliça, com costas gordas, ombros caídos, cintura grossa, coxas redondas, celulites e seios
generosos. Entretanto, outro padrão de beleza aparece neste período. Liles (1999 apud BUSSE,
2004) relembra que as anoréxicas santas e místicas, com uma imagem fragilizada de mulheres
dependentes do homem, também faziam parte desse período.
Prosseguindo, no século XX, a primeira década é marcada por um prolongamento do
século anterior. O que antes era vergonhoso passou a ser respeitado, verdadeiro motivo de
orgulho para as pessoas; o corpo “bem feito”, “sarado”, “trabalhado” representa o triunfo sobre a
natureza (GARRINI, 2007).
Garrini (2007)
lembra
que, na década de 1940, com a segunda guerra mundial, os
costumes mudam, as mulheres são magras, os cabelos soltos ganham todas as cores e caem sobre
o rosto e a beleza torna-se sinônimo de saúde.
Em seus escritos, Busse (2004) recorda que nos anos 1950 as mulheres eram elegantes,
valorizavam-se os papéis de esposa e mãe, com silhuetas longas, cintura fina, seios altos e
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redondos. Assim, segundo o autor, há uma mistura de sedução com ingenuidade, o que permite o
aparecimento de mitos como Marilyn Monroe e Brigite Bardot.
Prosseguindo, em 1960 surge o movimento hippie, cultuando a liberdade e a natureza.
Nestes, foram iniciados o culto ao corpo, com seios soltos sob as blusas, regimes de
emagrecimento e exercícios de musculação (BUSSE, 2004).
A imagem da “super-mulher” que cuida excessivamente do visual e da aparência, surge
na década de 1980. Esta deveria ser alta, com seios elevados, pernas compridas, abdômen firme e
pele bronzeada, tornando-se, segundo Lannelongue (2000 apud BUSSE, 2004), um impiedoso
modelo para as gordinhas. Garrini (2007) ressalta ainda que as intervenções cirúrgicas,
tratamentos estéticos e dietas milagrosas, garantem a sensualidade feminina.
Nos anos 1990, as características da mulher mudam mais uma vez, os corpos magros,
quase irreais, das supermodelos viram ideal de beleza (GARRINI, 2007). “A atuação social sobre
o corpo e a forma de vê-lo, de conceituá-lo é a grande marca da cultura sobre a materialidade
humana” (BRANDINI, 2007, p. 03).
Lannelongue (2000 apud BUSSE, 2004) destaca que a globalização tornou-se importante,
pois desfez as fronteiras regionais, culturais além de difundir estereótipos instituindo um padrão.
Busse (2004, p.11) completa ao dizer que “Enfim, entramos em um novo século, onde a beleza
sintética e pré-fabricada, segundo cânones econômicos difundidos pela mídia, definem o que é
harmonia, regularidade e estética”.
Procurando compreender como estes padrões de beleza podem transformar-se em
problemas de saúde, procurar-se-á no próximo tópico explorar os transtornos alimentares.
TRANSTORNOS ALIMENTARES
As exigências da sociedade por corpos “perfeitos” colaboraram para o aumento dos
transtornos alimentares1, os quais se caracterizam por perturbações no comportamento alimentar.
Estes podem levar ao emagrecimento extremo (anorexia nervosa - devido à inadequada redução
da alimentação), à obesidade (devido à ingestão de grandes quantidades de comida), ou outros
problemas físicos (CORDÁS, s/d).
Ainda segundo o autor acima a anorexia nervosa se caracteriza pela intensa perda de peso
e por dietas extremamente rígidas buscando demasiadamente a magreza, provocando alterações
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Apesar de existirem outros transtornos alimentares, neste trabalho optou-se por enfatizar os transtornos alimentares
anorexia, bulimia e obesidade.
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hormonais e uma distorção grosseira da imagem corporal. Existem casos tanto em homens como
em mulheres, é o que Busse (2004) afirma ao dizer que mesmo se tratando de pacientes
extremamente magros, o que os norteiam é o intenso medo de engordar.
Alguns autores pesquisados (FLAERTY, 1990; CORDÁS, 1995 apud BUSSE, 2004)
compartilham a necessidade do tratamento hospitalar para pessoas com anorexia nervosa; porém
concordam que tal medida deva ser usada com cautela, apenas quando o paciente se encontrar em
condições físicas precárias. Os antidepressivos também são usados em larga escala no tratamento
de anorexia nervosa.
A bulimia, outro transtorno alimentar, se caracteriza por episódios bulímicos, que é a
grande ingestão de alimentos com sensação de perda de controle. As excessivas preocupações
com o peso e a imagem corporal levam o paciente a tentar controlar o peso com métodos
compensatórios impróprios como auto-indução de vômitos, uso de medicamentos (diuréticos,
inibidores de apetite, laxantes), dietas com baixas calorias além de exagerados exercícios físicos
(CORDÁS, s/d).
Na bulimia nervosa a hospitalização é bem menos frequente se comparada à anorexia. O
tratamento deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por: psiquiatra, psicólogo,
nutricionista e assistente social, podendo também ser usados antidepressivos e outras medicações
(BUSSE, 2004).
Outro transtorno alimentar que se desenvolve com muita freqüência nos dias de hoje é a
obesidade, buscando entender melhor o problema de saúde que leva à cirurgia bariátrica.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDINI, Valéria. Bela de Morrer, Chic de Doer, do Corpo Fabricado pela Moda: o
corpo como comunicação, cultura e consumo na moderna urbe, 2007. Disponível em:
<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/view/3508/2563>.
Acesso em 18 set. 2011.
BUSSE, Salvador. Anorexia, Bulimia e Obesidade. 1º Ed. São Paulo: Manole Ltda, 2004.
358 p.
CORDÁS, Táki. Transtornos Alimentares: classificação e diagnóstico. Disponível em:
<http://urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol31/n4/154.html>. Acesso em 18 abr. 2011.
GARRINI, Selma. Do Corpo Desmedido ao Corpo Ultramedido: reflexões sobre o corpo
feminino
e
suas
significações
na
mídia
impressa.
Disponível
em:
<http://www.intercom.org.br/papers/outros/hmidia2007/resumos/R0037-1.pdf>. Acesso em 18
set. 2011.
VASCONCELOS, Naumi A. de; SUDO, Iana; SUDO, Nara. Um peso na alma: o corpo
gordo e a mídia. Rev. Mal-Estar e Subj., Fortaleza, v. 4, n. 1, mar. 2004 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151861482004000100004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 set. 2011.
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