BREVE ANÁLISE DE CASO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA SOUZA, Elson Santos de1 - CP Grupo de Trabalho - Psicopedagogia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente estudo apresentará as principais informações levantadas em acompanhamento psicopedagógico clínico, realizado em 2012, de uma criança de 04 anos, sexo masculino. O texto é uma síntese do relatório final desenvolvido no estágio de Psicopedagogia Clínica. O objetivo principal foi identificar quais elementos seriam motivadores para a dificuldade de aprendizagem apresentada pelo sujeito desta pesquisa. As etapas de investigação foram: enquadramento feito com os pais e a professora, hora do jogo, três testes projetivos, três provas operatórias e duas provas pedagógicas, além da anamnese e a devolutiva. O setor de assistência social foi o primeiro a mediar o contato com a criança, oferecendo importantes considerações sobre a realidade do menino. Durante os atendimentos foram elaboradas hipóteses diagnósticas sobre os prováveis fatores responsáveis pelo lento desenvolvimento. Para fundamentar a investigação utilizaram-se a observação direta, realizada não apenas nos atendimentos em que eram aplicados os testes e/ou provas, mas durante sua permanência em sala de aula, observando sua relação com a professora e os colegas, no intervalo e na hora do almoço, e levantamento bibliográfico específico como as seguintes referências: A Inteligência Aprisionada, de Alicia Fernández; e Análise microgenética da oficina criativa: projeto de modelagem em argila, de Cristina Allessandrini. Após discutir todas as informações obtidas confrontando com a literatura disponível, foi feita a devolutiva apresentando-a aos pais, à professora e à assistente social, enfatizando sobre a necessidade de uso de alguns recursos pedagógicos que estimulem o desenvolvimento de W. A. Em síntese, constatou-se que a maneira como a criança é tratada pela família constitui um fator significativo que acarreta atraso em seu desenvolvimento cognitivo. Palavras-chave: Psicopedagogia Clínica. Aprendizagem. Recursos Pedagógicos. 1 Pós - graduado em Psicopedagogia Institucional e Clínica, pela Faculdade Amadeus (FAMA). Graduado em Artes - Habilitação em Artes Visuais Licenciatura, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Professor dos Ensinos Fundamental Maior e Médio da rede particular de ensino, Colégio Purificação Ltda (CP). Endereço eletrônico: [email protected]. 29600 Introdução O presente estudo é parte do relatório final do estágio em Psicopedagogia Clínica, da Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica, e constituiu-se como um dos prérequisitos para obtenção do grau de especialista na área. Ele apresentará as principais informações levantadas desde o enquadramento até o momento da devolutiva sobre o caso pesquisado. O sujeito em discussão é um menino de 04 anos identificado pelas iniciais W. A., acompanhado em oito encontros dentro dos quais constam o enquadramento, a hora do jogo, a aplicação de três provas projetivas, três provas operatórias, duas provas pedagógicas, a anamnese e a devolutiva. Valendo-se do princípio norteador da Psicopedagogia como área de conhecimento que “se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda [...]”, para descobrir “[...] como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e previni-las” (BOSSA, 2000, p. 21), o objetivo principal proposto foi, então, descobrir quais os fatores responsáveis para as dificuldades de aprendizagem presentes na criança. Os objetivos específicos serão investigados por meio da aplicação das provas, anamnese realizada com os responsáveis, a professora e a assistente social e a observação direta sobre as atitudes da criança durante os testes, em sala de aula, durante o intervalo e na hora do almoço, sempre na instituição. Os procedimentos de investigação correspondem à observação direta e às intervenções psicopedagógicas fundamentando os dados obtidos com o que discute autores como Fernández (1991) e Allessandrini (2003). Esta que aborda o processo de criação da criança minuciosamente, ao que denomina de análise microgenética, associando o ato de fazer com processos relacionados às relações intrapessoal, interpessoal, com o objeto e com a tarefa. Aquela elabora um discurso defendendo que a capacidade intelectual está presente em diversos indivíduos e que o aprisionamento da inteligência impede, por sua vez, o desenvolvimento da subjetividade. Apresentação do caso O caso apresentado é referente a um menino de 04 anos, para o qual serão utilizadas as iniciais W. A. e que estuda na instituição Marilda Leite, localizada no bairro Cirurgia, em Aracaju, Sergipe. O acompanhamento psicopedagógico clínico foi realizado por meio de 29601 enquadramento, intervenções, anamnese e devolutiva. Além disso, algumas observações fizeram-se presentes a fim de enriquecer a fundamentação. Isso foi essencial para obter uma resposta para as hipóteses levantadas no decorrer dos atendimentos. Por meio da anamnese a professora reforçou que o garoto tem uma capacidade acima do esperado de aprender de forma lúdica. Por outro lado, apresentou como queixa as dificuldades na fala sendo preciso conviver com ele para entendê-lo. De acordo com ela, o garoto manifestava comportamento explosivo quando queria algo e chorava, demonstrava dificuldade para escrever sozinho, aprendia mais ouvindo do que vendo e não saia da sala para fazer qualquer atividade com estranhos e tinha uma relação afetiva muito próxima com a irmã mais nova um ano, sendo que esta mostrava um cuidado grande com ele. Além disso, ela considerou que a criança parecia ter menos idade ao comparar sua estatura com a de outras de mesma idade, situação que, provavelmente, provocaria sua exclusão das brincadeiras pelos colegas maiores. Partindo destes aspectos iniciais levantados, percebeu-se que: Estes dados, junto com a análise dos cadernos da criança e, se possível, somados à informação da escola, irão permitir-nos elucidar em alguns casos, se se trata de um problema de aprendizagem ou de um problema escolar, bem como verificar a mútua correlação entre eles (PAÍN, 1985, p. 49). Ao contrário da professora, a mãe queixou-se informando o seguinte: quando o garoto quer algo grita bastante e somente fica mais calmo depois de conseguir o que deseja, a convivência com outras crianças não é amistosa, quando fica nervoso nada verbaliza, o uso da mamadeira e o banho só ocorrem na presença dela, apresenta dificuldades na fala, come pouco e é franzino. Somada a esses fatores, a evolução psicomotora foi desenvolvida cedo, não engatinhou, não ficou em cercado e começou a andar sozinho segurando nos móveis com cerca de um ano. No histórico clínico constam estes problemas: bronquite, alergias, virose infantil, internações, cirurgia e problemas de visão. Além do mais, a criança passou pelos especialistas, como: neurologista, cardiologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, neonatologista, fisioterapeuta, ortopedista, nutricionista e endocrinologista. O relato feito pela mãe permitiu que se construísse o primeiro sistema de hipóteses: a falta de limites é o elemento motivador das dificuldades na fala e de seu processo de aprendizagem. Sobre a fala, verificou-se que este seria um ponto a ser analisado com atenção, posto que promove discussões amplas. A maneira como a criança articula as primeiras palavras tem uma forte ligação com o seu comportamento. 29602 As técnicas aplicadas foram: a hora do jogo; as provas projetivas, como família educativa, par educativo e desenho em episódios; as provas operatórias, como conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos, conservação de massas e seriação de bastonetes; e provas pedagógicas de matemática e de português. O objetivo da hora do jogo é que, com a ajuda das observações feitas durante a técnica, o profissional analise as respostas verbais e gráficas do sujeito buscando levantar hipóteses da significação do modo de aprender do sujeito deste estudo. A mobilidade entre inteligência e desejo, de elaboração de esquemas simbólicos, perceber a modalidade de aprendizagem que se apresenta, observar a capacidade criativa do menino, identificando o grau que ele demonstra para imaginar, refletir e argumentar são alguns exemplos dos dados levantados nas intervenções. O par educativo investiga a relação com os objetos de aprendizagem, ou seja, com quem ensina e de quem aprende. Já a família educativa tem como finalidade descobrir a representação que a criança faz do que os membros do grupo familiar sabem e do modelo de aprendizagem que eles possuem e transmitem. O desenho em episódios delimita a permanência da identidade psíquica a partir da qualidade dos afetos expressados em relação com o tema escolhido, a articulação dos aspectos sociais e relacionais, a organização do raciocínio, a estabilidade das referências internas através dos sistemas e dos movimentos de identificação utilizados. A conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos verificará o nível de desenvolvimento cognitivo da criança e de suas funções lógicas. A conservação de massas avalia a noção de conservação de quantidades descontínuas. Já a seriação de bastonetes avalia a capacidade de seriação e lógica do indivíduo. A prova pedagógica de matemática verificará o desenvolvimento cognitivo, demonstrando a criatividade e a coordenação motora. Em contrapartida, a prova pedagógica de português observará a conduta do sujeito numa expressão global em que se está pondo em foco o nível pedagógico, porém estarão juntos o seu funcionamento cognitivo e suas emoções. Avaliação psicopedagógica O processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação. A partir desta linha de pensamento, atribui-se à educação quatro funções independentes. Função mantenedora da educação: a 29603 continuidade da espécie humana ocorre através da aprendizagem de normas que regem a ação possível; Função socializadora da educação: o indivíduo como ser social, como parte do grupo quando se submete ao mesmo conjunto de normas; Função repressora da educação: instrumento de controle que tem por objetivo conservar e reproduzir as limitações que o poder destina a cada classe ou grupo social, segundo o seu papel socioeconômico. Não é reconhecida como repressora na medida em que, através dela, o sujeito torna-se depositário de um conjunto de normas que passa a assumir como sendo sua própria ideologia; Função transformadora da educação: revelação, por parte de grupos, de formas peculiares de expressão revolucionária a partir de mobilizações primariamente emotivas advindas das contradições do sistema. Para que um educador realize sua prática educacional é necessário que ele esteja voltado para a transformação de forma consciente e reflexiva. Sua ação deve estar marcada por uma decisão clara, explícita do que faz e para onde está levando os resultados de seu ato. Neste sentido, o que a escola avalia no processo de ensino e aprendizagem? O que o professor avalia? Como avalia? Que tipo de avaliação é feita? Como são elaboradas as provas? Que aprendizado o aluno teve com a absorção do conteúdo? Houve ensino? Houve aprendizado? No aspecto da dimensão cognitiva é considerado o desenvolvimento da criança no pensar e no agir observados nas habilidades para resolução de situações do cotidiano e relacionados ao conhecimento linguístico e lógico matemático. Percebe-se a importância do uso das diferentes formas de linguagem, como a oral, escrita e corporal e também a presença de habilidades sensoriais como leitura de imagens e percepção dos sentidos. A dimensão cognitiva é um aspecto relevante no processo de aprendizagem do indivíduo. Quando se trata de uma criança constata-se que a inserção social e a sua formação de maneira reflexiva sobre a realidade que a cerca leva à produção de conhecimento. De acordo com Nascimento (2009), os recursos cognitivos são necessários para se pensar a alteridade, as contradições e as mudanças constantes de um mundo onde os esquemas de aprendizagem são cada vez mais complexos. Nos testes operatórios realizados foi possível averiguar que a ideia central está relacionada à maneira como a criança se apropriou de suas capacidades de refletir e lógica para realizar a atividade proposta. No que diz respeito à conservação de massa, ficou claro haver dificuldades na apropriação do objeto e transformá-lo a partir das orientações realizadas nas etapas da intervenção psicopedagógica. Com relação às diferenças de cores e ao tamanho 29604 das massas W. A. demonstrou fazer as distinções. Contudo, ao dividir a massa em cinco partes iguais o menino criou bolinhas de tamanhos diferentes e em vários momentos se dispersou. Na prova de seriação, o desempenho da criança após as orientações para a tarefa não ocorreu conforme esperado. O menino demonstrou incapacidade de seguir as regras estipuladas. Realizou, portanto, a prática que chegou ao resultado distante do que era esperado. Diante das intervenções realizadas, ficou claro o que novamente Nascimento (2009) discute sobre a avaliação do nível cognitivo do indivíduo que pode ser feita partindo dos graus de compreensão, de reconhecimento e de explicação que são verificados. As tentativas de entender, de explicar e de executar as práticas ocorreram sem a busca de soluções mais eficazes para os problemas colocados ao aluno. O que ocorreu não se aproxima, por exemplo, das discussões feitas pela Epistemologia Genética onde assimilação e acomodação apresentam-se como critérios que “andam” juntos no processo de aprendizagem ideal. O vínculo entre o sujeito e a tarefa é defendido por Allessandrini (2003) ao ressaltar a importância de se assumir a responsabilidade para resolver determinadas tarefas como lhe são apresentadas. Através dos testes operatórios, observou-se que não ocorreu conservação. Em síntese, ficou comprovado que a criança não atingiu o nível operatório nesse domínio. No aspecto da dimensão afetiva, considera-se a construção da autoestima, revelada através das atitudes refletidas na convivência diária e social, de valores como: carinho, respeito, solidariedade e amizade, por exemplo, elementos que contribuirão para a concepção das diferenças de temperamento, de intenções, de hábitos, de costumes e de cultura, assim como a compreensão de si mesmo e dos outros no grupo, consolidando o processo de construção e a autonomia de sua identidade. Afetividade e cognição são elementos que estão interligados de alguma forma, visto que para ocorrer a absorção de conhecimento é necessário haver estímulo ou motivação. “A afetividade é uma condição necessária à constituição da inteligência” (CORRÊA, 2008, p. 39). O produto obtido na hora do jogo e as três provas projetivas estabelecem o vínculo que a criança possui com a escola, a família e com ela própria. Ao analisar cada produto percebeuse como W. A. interpreta e estrutura as consignas fornecidas a partir de seu psiquismo. Os 29605 desenhos não estabelecem uma harmonia e coerência verificando uma possível falta de organização do pensamento ao projetar o que pensa no papel. Utilizou-se termo “possível” porque o desenho que corresponde à família educativa apresenta um rabisco circular que o próprio garoto mencionou ser uma “pedra”. Simbolicamente, a pedra poderia ser o motivo principal para a dificuldade de crescimento tanto cognitivo quanto físico. Diferente do que ocorreu nas provas operatórias, nas projetivas houve menos dispersão. A criança permaneceu concentrada em boa parte das tarefas. Ao contar as histórias, W. A. utilizava geralmente palavras com duas sílabas ou era monossilábico. Com relação ao nível de ortografia, redação e criatividade, pouco pôde ser avaliado, já que nos quatro desenhos os objetos, personagens ou letras não seguem uma coerência. No desenho em episódios os seis quadros foram trabalhados fora da ordem estabelecida em consigna, o que naquele instante sugeriu um egocentrismo por parte da criança ou sua falta de entendimento sobre a solicitação. A dimensão pedagógica está relacionada ao conteúdo, à metodologia, à dinâmica de sala de aula, às técnicas educacionais e às avaliações que fazem parte do processo de aprendizagem sistemático dentro do qual o sujeito está submetido. A Pedagogia contribui com as diversas abordagens para o processo de ensino e aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina. A Linguística é a área que atravessa todas as dimensões. Apresenta a compreensão da linguagem como um dos meios que caracteriza o tipicamente humano e cultural: a língua enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso à estrutura simbólica. Com relação às condições externas, é comum a criança com problema de aprendizagem apresentar algum déficit real do meio devido à confusão dos estímulos, à falta de ritmo, à pobreza ou carência dos mesmos e, em seu tratamento, se vê rapidamente favorecida mediante um material discriminado com clareza, fácil de manipular, diretamente associado à instrução de trabalho e de acordo com o ritmo apropriado para cada aquisição. As condições internas da aprendizagem fazem referência a três planos estreitamente interrelacionados. O primeiro é o corpo como infra-estrutura neurofisiológica ou organismo que favorece ou atrasa os processos cognitivos e que é mediador da ação. O segundo refere-se à condição cognitiva da aprendizagem, ou seja, à presença de estruturas capazes de organizar os 29606 estímulos do conhecimento. E por fim, o terceiro plano corresponde às condições internas da aprendizagem que estão ligadas à dinâmica de comportamento. A avaliação da capacidade lógica de W. A. para relacionar os números à quantidade de desenhos correspondentes apresentou resultados satisfatórios. Na prova pedagógica de português foi feito uso de um alfabeto móvel com figuras grandes, de papel e bem visíveis, tendo sido observadas algumas trocas de letras e para algumas letras o menino atribuía um nome diferente. Respectivamente, troca do B pelo Q e a Letra D chama-se azul. A devolutiva, primeiro feita com a assistente social e depois com os pais e a professora, apresentou que a criança tem um bom desenvolvimento apesar do seu histórico de prematuridade, mas com a atenção dada pela instituição e pelos pais vinha tendo avanços. W. A. apresentava, no nível cognitivo, dificuldade no estabelecimento de sequências, limites de concentração, só dando atenção devida a algo do seu interesse. Constatou-se pouco sucesso na socialização por conta da baixa e frágil estrutura física, diferente dos colegas da sua classe. Além disso, há falha nos limites e regras dadas pelos pais. A fala é infantilizada, pois teve início tardio e ainda é de difícil entendimento, sendo alimentada pelo modo como as pessoas do seu convívio conversam com ele. “As constantes da espécie estão garantidas, então, pela presença de estruturas gerais de elaboração cognitiva e semiótica, preparadas para possibilitar a integração do sujeito à cultura”, ou seja, com essas palavras Fernández (1991, p. 51) propõe que a criança simplesmente não herda, mas aprende os comportamentos das pessoas à sua volta. Como a escola oferece poucos recursos pedagógicos para as brincadeiras e em casa seu lazer se resume à televisão, enfatizou-se que é necessário que a criança participe de atividades lúdicas voltadas para o aspecto pedagógico como: uso do alfabeto móvel para reconhecimento de letras e fazendo relação com a palavra e desenhos, utilização de jogos de memória e jogos ou brincadeiras com regras. É importante dar continuidade ao atendimento com o profissional de psicopedagogia. Considerações finais A partir das observações e testes aplicados, além da anamnese realizada com os responsáveis e com a professora, tendo em vista também o que discute a literatura específica, foi possível identificar alguns fatores que seguem como prováveis motivadores para o lento desenvolvimento da aprendizagem de W. A.: a postura da mãe, as atitudes do pai, a relação 29607 com a irmã mais nova e a forma como a professora desconstrói o que o aluno leva de casa para a escola. Com relação à mãe ficou claro que seu papel na família é o mais ativo. Ao mesmo tempo em que ela trata a criança de 04 anos como “meu bebê”, os outros filhos também recebem a mesma denominação. Ela apresentou-se como uma mulher que toma as decisões dentro de casa e possui maior grau de escolaridade que o marido. Em síntese, ela exerce um grau de poder sobre todos na família. Por outro lado, o marido é mais simples em suas atitudes e recebe as decisões com passividade. Ele se relaciona com o filho mantendo bastante cuidado com a criança. A irmã de 03 anos tem uma relação de cuidado com ele, mas ao mesmo tempo algumas situações são criadas por ela, o que a coloca no papel de responsável sobre o irmão. Ela chega a ser autoritária com o garoto. Na verdade, essa não é a função da menina e sim dos pais. Sobre a professora, ela conseguiu identificar uma série de elementos que só colaboram para o lento desenvolvimento do menino. Em seu relato, o nascimento antes dos nove meses de gestação não é o principal fator, porém é como essa criança é concebida enquanto indivíduo que faz a diferença. Com relação ao seu desenvolvimento cognitivo foi possível constatar que a criança encontra-se em estágio silábico, pois reconhece os números de 1 até 9 e algumas letras do alfabeto. No âmbito afetivo-social, a partir das observações realizadas e das provas identificou-se bom relacionamento entre o menino e os colegas de sala. Em geral, ele costuma realizar as tarefas que são passadas pela professora. Com a família, o contato entre ele e as pessoas de seu convívio diário é amistoso. Conclui-se, então, que após ter entrado na escola, no início de 2012, W. A. passou a ter mais autonomia, visto que seu contato social tornou-se mais amplo. Antes estava envolvido somente pelas pessoas de sua casa. A fala e a escrita têm sofrido algumas modificações, ainda sutis, porém significativas se comparadas com a época em que ele não frequentava a escola. Sua motricidade não apresenta problemas: caminha, corre, pula e segura o lápis normalmente. A função da professora de corrigir determinadas atitudes da criança permitiu que se realizasse uma comparação entre ela e os pais que em casa deveriam atenuar o excesso de cuidados que, de certa forma, impossibilita W. A. de se desenvolver. Sem essa ruptura o menino terá ainda dificuldades de crescer fisicamente e no aspecto cognitivo. 29608 REFERÊNCIAS ALLESSANDRINI, C. D. Análise microgenética da oficina criativa: projeto de modelagem em argila. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. (Coleção Arteterapia) BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. CORRÊA, Patricia R. A dimensão afetiva do ser humano: contribuições a partir de Piaget. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Federal de São Carlos, Centro de Educação e Ciências Humanas, São Carlos, 2008. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. Tradução: Iara Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. NASCIMENTO, Ruben de Oliveira. Processos cognitivos como elementos fundamentais para uma educação crítica. Ciências & Cognição 2009; Vol. 14 (1): 265-282. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org>. Acesso em: 22 jun. 2012. PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Tradução: Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.