10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Módulo 2 Purificação do Tolueno contendo Ácido Benzóico – Regime Transiente. O exemplo do módulo 2 refere-se ao regime transiente do problema do módulo 1. Imaginemos a seguinte situação: Uma indústria química deseja purificar o tolueno, conforme exemplo da aula anterior. O início do processo é a preparação do sistema para a partida da operação contínua. Esta etapa ocorre através da adição de um volume V1 de tolueno conhecido no tanque de separação. Após isto, adiciona-se um volume V2 de água. Após o volume V2 de água ser atingido, o sistema é agitado vigorosamente e inicia-se a adição de uma corrente R (m3 de tolueno/s) a uma concentração c (kg de ácido benzóico/m3 de tolueno) e uma corrente de S (m3 de água/s), isenta de ácido benzóico. Uma corrente R(m3/s) de tolueno deixa o sistema com uma concentração x (kg ácido benzóico/m3 de tolueno), que varia com o tempo, e uma corrente S (m3 de água/s) com uma concentração y (kg ácido benzóico/m3 de água) também sai do sistema. Pede-se para determinar a variação das concentrações x e y em função do tempo e para analisar o resultado obtido. Solução: A solução do problema propriamente dito se inicia a partir do momento em que o volume V2 da água foi completado. A partir deste momento uma agitação vigorosa é iniciada e duas fases em equilíbrio são formadas. No entanto, o que acontece antes disso é fundamental na determinação das condições iniciais. No instante inicial tem-se então uma concentração x0 para a fase orgânica e uma concentração y0 para a fase aquosa, que podem ser obtidos diretamente de um balanço de massa: Estado 1 – Tanque com volume V1 de tolueno. V1,c 1 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Figura 2.1. Representação do estado 1 anterior ao início da operação. Estado 2 – Tanque com volume V1 de tolueno e volume V2 de água. V1,x0 c V2,y0 c Figura 2.2. Representação do estado 2 anterior ao início da operação. Nas duas situações, as quantidades de ácido permanecem as mesmas, pois o ácido foi adicionado com o tolueno, enquanto a água estava isenta de ácido. As quantidades são então relacionadas da seguinte maneira para que seja possível calcular as concentrações iniciais: Quantidade de ácido no Estado 1: kg ácido benzóico Estado 1 V1(m3 tolueno ).c m3 tolueno V1.c (kg ácido benzóico ) Quantidade de ácido no Estado 2: kg ácido benzóico V2 (m3 água ).y0 kg ácido benzóico Estado 2 V1(m3 tolueno ).x 0 m3 tolueno m3 água Estado 2 V1.x 0 V2 .y0 (kg ácido benzóico ) Como as quantidades são iguais: V1.c V1.x 0 V2.y0 Lembrando ainda da Lei de Henry do módulo 1 (y=m.x), tem-se que y0=m.x0. Portanto: x0 V1.c m.V1.c y0 V1 m.V2 V1 m.V2 Os valores x0 e y0 são condições iniciais da resolução do nosso problema. Após esta condição inicial iniciam-se as correntes R e S. A partir de então estuda-se a operação contínua do tanque extrator, através de um outro equacionamento referente a esta etapa. 2 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Voltando ao módulo 1 recordamos que o esquema do sistema pode ser dado pela Figura 2.3. R, c R, x Fase Orgânica V1 Fase Aquosa V2 S, y S Figura 2.3. Esquema representativo da extração do ácido benzóico do tolueno Assim sendo as variáveis de interesse são: Quantidade de água que entra em - S (m3 água/h) Quantidade de tolueno que entra em - R (m3 tolueno/h) Quantidade de água que entra em + - S (m3 água/h) Quantidade de tolueno que entra em + - R (m3 tolueno/h) Concentração de ácido benzóico no tolueno – x (kg ácido benzóico/m3 tolueno) Concentração de ácido benzóico na água – y (kg ácido benzóico/m3 água) Concentração de ácido benzóico na corrente de tolueno a ser purificada – c (kg ácido benzóico/m3 tolueno) Mais uma vez aplica-se a equação geral do balanço para estudar o sistema, ou seja: ENTRADA SAÍDA GERAÇÃO ACÚMULO Resta então escrever cada um dos termos utilizando as variáveis que dispomos, ou sugerindo outra variável que dê o sentido apropriado. Para tanto algumas hipóteses são feitas: 1. A agitação é vigorosa e o equilíbrio entre as fases é obtido instantaneamente, caso contrário teria de ser avaliada a transferência entre as fases e o sistema deveria ser tratado como duas partes para fim de balanço. Ou seja, a transferência de massa é rápida não sendo um empecilho; 2. Os termos de entrada e saída dizem respeito a mesma vazão de tolueno R, ou seja, o tolueno é considerado completamente imiscível com a água, sendo a justificativa do R e S serem constantes se comparadas entrada e saída. A concentração c também é constante e a água é isenta de ácido benzóico; 3. O termo de geração é igual a zero. Tal fato deve-se a inexistência de transformações químicas dentro do sistema, as quais poderiam ser responsáveis por gerar ou consumir ácido benzóico; 3 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A 4. A densidade das fases permanece constante, ou seja, o ácido benzóico tem uma pequena participação na densidade de cada fase, participação esta que pode ser desprezada, facilitando os cálculos; 5. O equilíbrio de fases pode ser descrito pela Lei de Henry, com o coeficiente de distribuição valendo 1/8. A solução deverá ser feita em um tempo arbitrário () que, entretanto, não pode ser nem o instante inicial (que corresponde a condição inicial do problema), nem um tempo infinito, que é um caso limite da nossa solução. O balanço de massa deverá ser feito em um intervalo de tempo pequeno, de forma tal que deseja-se conhecer as quantidades de água, tolueno e ácido benzóico que entraram no sistema durante o intervalo de tempo e +. O balanço de massa do ácido benzóico tem seqüência analisando todos os termos: ENTRADA: A entrada de ácido benzóico ocorre somente através da corrente de tolueno, uma vez que a água está isenta do ácido. A quantidade de ácido benzóico que entra no intervalo entre e + será dada a seguir, considera-se aqui que as variáveis R e c são constantes com o tempo: m3 tolueno R s kg ácido benzóico .c m3 tolueno .s R.c. (kg ácido benzóico ) SAÍDA: A quantidade de ácido benzóico que sai no intervalo entre e + na corrente orgânica é calculada da seguinte maneira: Em , a concentração de ácido benzóico no tolueno é x=x(); Em +, a concentração de ácido benzóico no tolueno é x’=x(+); A quantidade total de ácido que deixa o sistema através da corrente orgânica é dada por: R.x.d Apesar de não sermos ainda nesta altura capazes de resolver a integral por não sabermos como a concentração varia com o tempo, seria muito interessante relacionar a concentração x no instante , com a concentração x no instante +. Como poderíamos fazer isso? 4 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Se utilizarmos um intervalo do tipo bem pequeno, podemos utilizar o teorema de Taylor. Da matemática sabe-se que o Teorema de Taylor para uma única variável independente pode ser dado por: f x f x 0 f ' x 0 . x x0 1 .f " x 0 . x x 0 2 .... 2! Um detalhe interessante deste teorema é que o valor de f(x) em um ponto x próximo de x0 é dado único e exclusivamente em função do ponto x0. Em outras palavras, se sei o valor de uma função em um ponto x 0 qualquer, bem como suas derivadas neste ponto, posso então relacionar ao valor da função em um ponto x próximo de x0. Voltando ao nosso problema, consideremos o ponto x0 como sendo , o ponto x como sendo +, o valor de f(x0) como sendo x() e o valor de f(x) como sendo x(+) = x Mostre que: x x x '. x" 2 . .... 2! ou x x dx 1 d2x 2 . . . .... d 2! d2 5 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Graficamente, a integral acima é conforme a figura abaixo: R.x|+ Área = quantidade de ácido que deixa o tanque pela corrente orgânica R.x| + Figura 2.4. Representação da vazão de saída de ácido benzóico com o tempo, cuja integral representa a saída no intervalo . Apesar de não sabermos como R.x varia com o tempo, se consideramos um intervalo de tempo bem pequeno, poderemos considerar esta variação como sendo linear. Isto tanto mais é verdade quanto menor o intervalo de tempo em questão. Desta forma a área é dada por: R.x|+ Área = (base maior + base menor)*(h/2) R.x| + Figura 2.5. Representação da vazão de saída de ácido benzóico com o tempo, cuja integral representa a saída no intervalo infinitesimal. 6 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Sendo assim a área é dada por: dx d 2 x 2 ÁREA R. x . . ... R.x . d 2 d2 2 dx d 2 x 2 ÁREA R. x . . .... d 2 d2 4 Analogamente a quantidade de ácido que sai na fase aquosa é dada por: dy d 2 y 2 S. y . . .... d 2 d2 4 ACÚMULO: O acúmulo é dado pela variação da quantidade de ácido dentro de cada fase do misturador, no intervalo entre e +. Em a quantidade de ácido é dada por: Fase orgânica: kg ácido benzóico V1(m3 tolueno ).x m3 tolueno V1.x (kg ácido benzóico ) Fase Aquosa: kg ácido benzóico V2 (m3 água ).y m3 água V2 .y (kg ácido benzóico ) Em +, por um desenvolvimento do Teorema de Taylor, a quantidade de ácido é dada por: Fase orgânica: dx d 2 x 2 V1. x . . ..... d d2 2 (kg ácido benzóico ) Fase Aquosa: 7 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A dy d 2 y 2 V2 . y . . ..... d d2 2 (kg ácido benzóico ) O acúmulo então é dado pela diferença entre a quantidade de ácido dentro do tanque nos tempos + e . dy d 2 y 2 dx d 2 x 2 V2 . y . . ..... V2 .y V1. x . . ..... V1.x d d d2 2 d2 2 Que se reduz a: dy d 2 y dx d 2 x V2 . . ...... V1. . ...... d d2 2 d d2 2 Substituindo estas parcelas na equação global do balanço e lembrando-se que a geração é nula, tem-se que: ENTRADA-SAÍDA=ACÚMULO Ou seja: dx dx 2 dy dy 2 R.c. R. x . . .... S. y . . .... d 2 d 4 d 2 d 4 dy d2 y dx d2 x V2 . 2 . ...... V1. 2 . ...... d d 2 d d 2 Dividindo por : dx dx 2 dy dy 2 R.c R. x . . ... S. y . . ... d 2 d 4 d 2 d 4 dy d2 y dx d2 x V2 . 2 . ..... V1. 2 . ..... d d 2 d d 2 A equação acima é válida para um valor pequeno, inclusive para um valor de 0. Neste caso: R.c R.x S.y V2 . dy dx V1. d d 8 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Repare que os termos de 2a ordem e acima forma eliminados no limite de 0. Portanto, daqui por diante, apenas o primeiro termo da derivada da equação no Teorema de Taylor será considerado, visto que os outros são eliminados. Da relação de equilíbrio y=m.x tem-se que dy=m.dx. Portanto: R.c R.x S.m.x V2 .m. dx dx dx V1. R.c x.R S.m .V1 m.V2 d d d A solução da equação acima será apresentada a seguir de duas diferentes maneiras: 1. A equação diferencial pode ser resolvida por uma equação diferencial ordinária separável, chamando: z R.c x.R S.m dz dx.R S.m ou dx dz R S.m Obtém-se então que: z R S.m dz V1 m.V2 dz . ou d. V1 m.V2 d R S.m z Se a derivada for como a que segue: dy h( x) f x, y dx g( y) Então: hx .dx gy.dy Portanto: hx .dx gy.dy c cons tan te Onde c é a constante de integração: Integrando a equação acima deve-se chegar a: ln R.c R m.S.x ln k R m.S R m.S . ln k. R.c R m.S.x . V1 m.V2 V1 m.V2 9 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Logo: R m.S k. R.c R m.S.x exp . V1 m.V2 Onde k deverá ser determinado ela condição inicial, ou seja, quando =0: x0 V1.c V1 m.V2 Substituindo o valor de k encontrado na equação e isolando x, encontra-se a resposta do problema. 2. A equação diferencial pode também ser resolvida por fator de integração: R.c x.R S.m R S.m dx dx R.c .V1 m.V2 x. V1 m.V2 V1 m.V2 d d Sendo a equação é do tipo: dy Px .y Qx dx Esta equação é resolvida utilizando-se um fator de integração e compreende os seguintes passos: 1o. Determina-se o fator de integração: R x exp Px .dx 2o. Multiplica-se todos os termos da equação diferencial pelo fator integrante obtendo-se que: R x . dy d R x .y Qx .R x Px .y.R x dx dx Logo, integrando, obtém-se que: R x .y Qx .R x dx c 30. Isolando y: y Qx .R x dx R x c R x 10 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Utilizando agora este processo de resolução para a nossa equação, tem-se que: 1o. O fator integrante é: R m.S R m.S R exp d exp V1 m.V2 V1 m.V2 2o. Portanto: R m.S. R m.S. R.c x. exp . exp .d C V1 m.V2 V1 m.V2 V1 m.V2 3o. Obtém-se então x: R.c x x R m.S. V1 m.V2 .exp V1 m.V2 .d R m.S. exp V1 m.V2 C R m.S. exp V1 m.V2 R m.S. R.c C. exp R m.S V1 m.V2 Com a condição inicial, para =0: x x0 V1.c V1 m.V2 Ambas as equações são iguais. Ao se substituir a condição inicial em ambos os casos: x R.c R m.S. R.c V1.c . exp R m.S R m.S V1 m.V2 V1 m.V2 11 10 Semestre de 2000 Módulo 2 EQ-502/A Repare que quando , obtém-se: y R m.S . m.V1 .c m.R.c m.R.c . exp R m.S R m.S V1 m.V2 V1 m.V2 Como o equilíbrio é instantâneo então: x R.c R m.S Esta é a resposta do exercício do Módulo 1, com a concentração em regime permanente, como era de se esperar. Observa-se ainda que a condição inicial foi satisfeita, portanto: Para 0 x V1.c V1 m.V2 Aprendemos nesta aula que o Teorema de Taylor será de muita valia para resolver as equações diferenciais obtidas em nossos modelos. 12