SUMÁRIO RESUMO .....................................................................................................................................2 ABSTRACT..................................................................................................................................3 I - INTRODUÇÃO ........................................................................................................................4 II - RELATO DE CASO ...............................................................................................................7 III- DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 16 IV- CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 22 REFERÊNCIA ........................................................................................................................... 24 RESUMO A pneumonia redonda é uma forma atípica de infecção pulmonar, sendo rara em adultos correspondendo a menos de 1% dos casos de pneumonia. Não há estatísticas para pacientes pediátricos. Contudo é uma infecção bacteriana, geralmente pneumocócica, que ocorre frequentemente antes dos 8 anos de idade. A pneumonia associada à varicela não é a complicação mais comum de infecção primária em crianças, porém há fatores de risco para o seu desenvolvimento nas mesmas com varicela primária que incluem corticoterapia prolongada por período superior a dez dias, imunodeficiência congênita ou adquirida, relacionada à imunidade celular. Este relato de caso, descreve uma criança que desenvolveu varicela primária e apresentou complicações, necessitando de cuidados intensivos prolongados. Palavras-chave: Pneumonia. Pneumonia Redonda. Varicela 2 ABSTRACT Round pneumonia is an atypical form of pulmonary infection in adults is rare accounting for less than 1% of cases of pneumonia. There are no statistics for pediatric patients. However, it is a bacterial infection, pneumonia generally, which often occurs before the age of 8 years. The varicella-associated pneumonia is the most common complication of primary infection in children, but there are risk factors for its development with the same primary varicella including prolonged corticosteroid therapy for more than ten days, congenital or acquired immunodeficiency, related to immunity cell. This case report describes a child who developed primary varicella and had complications requiring prolonged intensive care. Keywords: Pneumonia. Round Pneumonia. Varicella 3 I - INTRODUÇÃO Neste RELATO DE CASO temos como objetivos realizar uma breve revisão de literatura sobre as complicações da varicela e descrever o caso de uma criança que desenvolveu pneumonia após infecção primária por varicela e apresentou complicações, necessitando de cuidados específicos. A pneumonia redonda é uma apresentação rara das pneumonias, forma atípica de infecção pulmonar, assim como a sua apresentação radiológica, sendo rara em adultos correspondendo a menos de 1% dos casos de pneumonia, não há estatísticas para pacientes pediátricos, contudo é uma infecção bacteriana, geralmente pneumocócica, que ocorre mais frequentemente antes dos 8 anos de idade. Sua manifestação é como lesão redonda, o que leva ao crivo da melhor investigação diagnóstica, em virtude da necessidade da diferenciação com as inúmeras possibilidades de doenças torácicas, uma vez que a imagem apresenta-se compatível com massa intratorácica, e a possibilidade de diagnósticos como carcinoma bronco gênico, teratomas ou mesmo falsos tumores são primarias. Os sintomas respiratórios, como tosse, dispneia, uso de musculatura acessória à respiração, comumente indicam o diagnóstico de pneumonia em crianças, porém muitas vezes, esses sintomas respiratórios estão ausentes inicialmente, dificultando, porém não excluindo o diagnóstico. Uma vez que, o relato de tosse e sintomas respiratórios, muitas vezes está ausentes na apresentação inicial, o que dificulta o diagnóstico, a história e o exame físico orientam a investigação diagnóstica e a conduta terapêutica inicial. Partindo sempre do tratamento empírico. Contudo, é primordial o estudo radiológico do tórax em crianças com toxemia e febre, sem sinais localizatórios, para determinação diagnóstica, o controle e respaldo ao tratamento, assim com acompanhamento para cura. A pneumonia representa uma grande busca nos atendimentos de emergência, ocupando o segundo lugar entre as causas de procura, conforme o estudo das causas de pneumonia em um pronto socorro de pediatria, 4 realizado por um período de um ano, onde foram observados 3.375 casos,o que representa 15% dos atendimentos. A varicela é uma doença desenvolvida a partir de uma infecção viral primária aguda, pelo vírus varicella-zoster (VVZ), um vírus RNA da família Herpetoviridae, altamente contagiosa, caracterizada por surgimento de exantema de aspecto máculo-papular e distribuição centrípeta que, após algumas horas, torna-se vesicular, evolui rapidamente para pústulas e posteriormente forma crostas, em 3 a 4 dias. Pode ocorrer febre moderada e sintomas sistêmicos. Doença sazonal, que geralmente causa epidemias na primavera e no inverno. A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diversas formas evolutivas, acompanhadas de prurido. Em crianças, geralmente, é uma doença benigna e auto-limitada, contudo apesar da conotação benigna, ela não está isenta de complicações, principalmente quando acomete crianças imunocomprometidas ou neonatos. E as complicações mais frequentes são as do sistema nervoso central, a infecção bacteriana de pele e a pneumonite. A taxa de mortalidade para as crianças associada à varicela é menor do que 2/100.000 casos, sendo o risco para adultos de 10 a 20 vezes maior. A morbidade como complicação a esses pacientes pode manifestar-se como doença prolongada com surgimento contínuo de novas lesões e manutenção de febre por semanas. As lesões de pele podem ser maiores e ter conteúdo hemorrágico, e o número de lesões, nos casos sem complicações, varia de 250 a 500. Há maior probabilidade de envolvimento visceral, sendo a pneumonite a complicação mais comum. A contagiosidade da varicela é alta, sendo que cerca de 90% dos contatos domiciliares correm o risco de desenvolver a doença, fato este que torna fundamental o isolamento do paciente quando em ambiente hospitalar Através desta breve revisão, podemos observar que a varicela é uma doença que merece atenção, devido às possíveis complicações graves associadas. A maioria dos artigos publicados sobre o assunto refere-se a pacientes adultos, contudo, são admissíveis à pediatria, e há uma série de 5 casos que retratam evoluções complicadas em indivíduos previamente hígidos ou imunossuprimidos, demonstrando que se trata de uma doença incomum e grave. A ocorrência de pneumonia complica o curso da varicela em 5% a 50% dos casos adultos e a síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) ocorre em cerca de 20% dos casos de pneumonia por varicela. O caso objeto deste relato teve quadro condizente com os achados da literatura pesquisada. 6 II - RELATO DE CASO F.R.F.S., criança do gênero masculino, três anos e seis meses, pardo, natural e procedente de São Paulo. Foi levado ao serviço de saúde pela mãe, para atendimento médico. Referia que o infante apresentava-se com diagnóstico de varicela há cinco dias e iniciou quadro de febre, (38,7ºC a 39,4ºC) há três dias, que melhorava com paracetamol. Associavam-se ao quadro os sintomas de tosse produtiva e congestão nasal habituais, e dispneia que piorara nas últimas 24 horas. Procurou o pronto socorro pediátrico do Hospital e Maternidade Santa Marina, onde foi medicado com sintomáticos e nebulização, mantido em observação para avaliação da melhora do quadro inicial. Posteriormente com melhora insatisfatória da dispneia, foram realizados exames laboratoriais e radiografia do tórax. Foi solicitada internação devido ao quadro respiratório, enquanto aguardava o resultado dos exames solicitados. Como antecedentes fisiológicos: Criança nascida de parto normal, hospitalar, a termo (39 s), chorou ao nascer, APGAR 9/10. Peso ao nascer : 2970g; Estatura: 46cm; PC: 34cm; Alta pós-parto: 48hs de vida. Desenvolvimento neuropsicomotor adequado. Aleitamento materno exclusivo até o quinto mês do nascimento. Vacinação completa (conferida no cartão). Antecedentes patológicos: Mãe nega doenças, internações ou cirurgias prévias. 7 Antecedentes familiares: Mãe e pai hígidos, sem histórico de doenças crônicas ou degenerativas. Nega casos de HAS, DM, câncer, pneumopatias ou cardiopatias em família materna; desconhece casos em família paterna. Hábitos de vida e condições socioeconômicas: Reside em casa de alvenaria, cinco cômodos, no total quatro pessoas, água tratada, rede de esgoto e energia elétrica. Nega tabagismo em casa. Relata ter carpete e cortinas de pano. No exame físico de admissão, o infante apresentava adequação de peso e de estatura para a idade (Peso: 15,6 Kg), em regular estado geral, descorado (+/4+), acianótico, anictérico, desidratado (+/4+), taquipneico (32 irpm), respiração rítmica e regular, sem evidencia de uso de musculatura acessória da respiração, taquicárdico (FC: 128bpm), febril (38,7 °C), perfusão periférica diminuída (t.e.c. = 3 segundos). Tórax.: A inspeção demonstra tórax atípico, normolineo, simétrico, com alteração tegumentar evidenciando lesões em crostas, difusas, esparsas, mais evidentes em dorso. A ausculta respiratória: murmúrio vesicular audível, com crepitações grossas difusas. A ausculta cardíaca: ritmo cardíaco regular, dois tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros ou extrassístoles. Abdômen: atípico, algo distendido, timpânico, depressível, peristalse presente e normal, indolor a palpação, sem visceromegalias. 8 Extremidades: perfusão diminuída (três segundos), sem edemas, pulsos periféricos presentes e filiformes. Vias aéreas: edema e hiperemia em cornetos, discreta rinorréia, ausência de lesões em orofaringe, sem hiperemia ou placas de pus. Genitália: masculina, sem alterações.; Neurológico: vigil, amedrontado, interagindo bem com o examinador, reflexos adequados a idade. O raio-X do tórax de frente e perfil evidenciou área de opacidade moderada, circular com diâmetro de aproximadamente 6 cm x 5 cm, com cavitação central, em lobo inferior direito, sem derrame pleural. (Figura 1). Figura 1 Tomografia do dia da internação: (Figura 2) 9 Cortes de 8mm, realizado com contraste Iodado. Figura 2 Opinião do radiologista: “Exame tomográfico do tórax apresenta grande imagem cavitada (6,9 cm céfalo-caudal x 6,0 cm transversal x 5,9 cm anteroposterior) em lobo inferior direito do pulmão contendo material de conteúdo espesso/denso (pus?). A descrição é compatível com presença de abscesso pulmonar a depender de correlação clínica adequada” Os exames laboratoriais (hemograma, PCR, bioquímica renal, eletrólitos), culturas nos quadros abaixo. Quadro 1. Hemogramas de acompanhamento do dia 20.10.2010 a 31.10.2010 He. Hb Ht leucitos Eos Met Mel Bast Seg Lin Mon Plaq 20/10/10 3,49 8,9 29 15500 0 0 0 4 76 15 5 368000 22/10/10 3,8 10 30 13900 1 0 0 1 78 16 1 533000 31/10/10 3,91 10,3 34 9800 2 0 0 2 70 19 7 399000 Quadro 2. PCRs, bioquímicas e Ionogramas de acompanhamento do dia 20.10.2010 à 31.10.2010 10 Na+ K+ Ca+ P Glicemia Creat BUN PCR 20/10/10 147 4,13 8,9 4,41 73 0,3 12 48 22/10/10 139 3,7 9,2 5,11 92 0,2 8 72 31/10/10 142 3,9 10,7 4,7 86 0,3 15 8 Quadro 3. Culturas de acompanhamento do dia 20.10.2010 a 31.10.2010 Data Material Microorganismos 20/10/10 Pesq. VSR Negativo 20/10/10 Hemocultura Negativo 22/10/10 Secreção traqueal Negativo 22/10/10 Hemocultura Negativo Foi internada em 20/10/2010, iniciado tratamento empírico para pneumonia com penicilina cristalina na dose de 200.000U/kg/dia endovenosa. Ultrassom de tórax do terceiro dia da internação: (Figura 3) 11 Exame dirigido para hemitórax direito. Figura 3 Laudo do ultrassom: “Pele, tecido celular subcutâneo e planos musculares sem alterações nas regiões avaliadas. Ausência de derrame pleural significativo. Grande coleção intrapulmonar no terço inferior à direita, com líquido espesso e finos septos de permeio, além de focos gasosos na porção superior (paciente sentado), com fluxo periférico ao doppler, medindo 6,4 x 5,2 x 4,4 cm que correlacionado ao estudo tomográfico, sugere abscesso pulmonar.” Com quadro inalterado nas primeiras 24 horas, e dois dias do início da terapia, não houve melhora clínica do paciente, sendo então substituída a antibioticoterapia por ceftriaxone na dose de 100 mg/kg/dia, associado à oxacilina na dose 200 mg/kg/dia; Após a adequação terapêutica o infante evoluiu com remissão da febre, a princípio com espaçamento dos picos febris, seguida da melhora do estado geral já no segundo dia. E melhora radiológica no quarto dia de internação (Figura 4) 12 Figura 4 Ultrassom de tórax do sétimo dia da internação: (Exame realizado a beira do leito). (Figura 5) Figura 5 Laudo do ultrassom: “Pele, tecido celular subcutâneo e planos musculares sem alterações nas regiões avaliadas. Espaços pleurais virtuais. Boa mobilidade da cúpula diafragmática, de modo simétrico. Grande coleção intrapulmonar no terço inferior à direita, com líquido espesso, finos septos e focos gasosos de permeio, com discreto fluxo periférico ao doppler, com volume estimado 60 a 75 ml, sugestivo de abscesso pulmonar.” 13 As radiografias do tórax de frente, perfil e decúbito lateral evidenciaram área de opacidade moderada, circular com diâmetro de aproximadamente 6 cm x 5 cm, com cavitação central, em lobo inferior direito, com coleção liquefeita bem delimitada, sem derrame pleural. ( Figura 6). Figura 6 Ultrassom de tórax do último dia da internação: Exame realizado com paciente sentado, sendo o estudo dirigido para coleção conhecida em hemitórax direito. (Figura 7) Figura 7 Laudo do ultrassom: “Pele, tecido celular subcutâneo e planos musculares sem alterações nas regiões avaliadas. Espaços pleurais virtuais. Boa mobilidade da cúpula diafragmática. Grande coleção de conteúdo 14 hipoecoico (aspecto espesso) com pontos ecogênicos de permeio que devem corresponder a gás, mantendo contornos regulares de localização posterior, intrapulmonar à direita, em contato com parede torácica adjacente. Tal coleção apresenta as seguintes dimensões 6,9 x 5,5 x 4,0 e volume estimado 79,5 ml”. Opinião do ultrassonografista: “Controle de abscesso pulmonar á direita, correlacionar com exames prévios.” Durante o período de internação, foram realizadas avaliações multiprofissionais, na expectativa da punção, drenagem, ou condutas a serem adotadas, frente ao risco de pneumotórax evidente e da limitação técnica ao caso, optou-se pelo tratamento conservador (antibioticoterapia, inaloterapia e repouso realizados em domicílio) com acompanhamento rigoroso da evolução da paciente. A criança foi tratada por dez dias em regime de hospitalização, com seguimento domiciliar por 7 dias, com recuperação completa. A hemocultura não evidenciou crescimento de germes. 15 III- DISCUSSÃO Este caso relata um paciente portador de varicela, com apresentação clínica na fase de crostas, e manifestações de febre alta persistente, tosse produtiva, congestão nasal e dispneia. Segundo o Manual de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Ministério da Saúde, a varicela é uma infecção viral primária, aguda, altamente contagiosa, caracterizada por surgimento de exantema de aspecto máculopapular e distribuição centrípeta, que, após algumas horas, torna-se vesicular, evolui rapidamente para pústulas e, posteriormente, forma crostas, em 3 a 4 dias. Pode ocorrer febre moderada e sintomas sistêmicos. A principal característica clínica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diversas formas evolutivas, acompanhadas de prurido. Em crianças, geralmente, é uma doença benigna e auto-limitada. Em adolescentes e adultos, em geral, o quadro clínico é mais exuberante. A sinonímia de varicela é catapora. O agente etiológico é um vírus RNA Vírus varicella-zoster (VVZ), família Herpetoviridae, e o reservatório é homem. O modo de transmissão é pessoa a pessoa, através de contato direto ou de secreções respiratórias, ou seja, disseminação aérea de partículas virais/aerossóis e raramente através de contato com lesões de pele. Indiretamente é transmitida através de objetos contaminados com secreções de vesículas e membranas mucosas de pacientes infectados. O período de incubação é entre 14 a 16 dias, podendo variar entre 10 a 20 dias após o contato. Pode ser mais curto em pacientes imunodeprimidos e mais longo após imunização passiva. Varia, o período de transmissibilidade, de 1 a 2 dias antes da erupção até 5 dias após o surgimento do primeiro grupo de vesículas. Enquanto houver vesículas, a infecção é possível. A suscetibilidade é universal. A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente, possa ocorrer um segundo episódio de varicela. Infecções subclínicas são raras. A imunidade passiva transferida para o feto pela mãe 16 que já teve varicela assegura, na maioria das vezes, proteção até 4 a 6 meses de vida extrauterina. Quanto às manifestações clínicas, o período prodrômico – tem início com febre baixa, cefaleia, anorexia e vômito, podendo durar de horas até três dias. Na infância, esses pródromos não costumam ocorrer, sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes, a varicela geralmente é benigna, com início repentino, apresentando febre moderada de dois a três dias, sintomas generalizados inespecíficos e uma erupção cutânea pápulo-vesicular que se inicia na face, couro cabeludo ou tronco (distribuição centrípeta). Período exantemático – as lesões comumente aparecem em surtos sucessivos de máculas que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas partes cobertas do corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas membranas mucosas da boca e das vias aéreas superiores. O aparecimento das lesões em surtos e a rápida evolução conferem ao exantema o polimorfismo regional característico da varicela: lesões em diversos estágios (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), em uma mesma região do corpo. Nos adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que nas crianças, apesar de ser bem menos frequente (cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns, podendo levar a óbito, principalmente devido à pneumonia primária. A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalisílico (AAS) durante a fase aguda. Essa síndrome caracteriza-se por um quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é o resultado de um comprometimento hepático agudo, seguido de 17 comprometimento cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de AAS por pacientes com varicela. Como complicações, podem ocorrer Infecção bacteriana secundária de pele: impetigo, abcesso, celulite, erisipela, causadas por S. aureus, Streptococcus pyogenes, que podem levar a quadros sistêmicos de sepse, com artrite, pneumonia, endocardite, encefalite ou meningite e glomerulonefrite. Pode ocorrer Síndrome de Reye, caracterizada por quadro neurológico de rápida progressão e disfunção hepática, associado ao uso de ácido acetilsalicílico, principalmente em crianças. Infecção fetal, durante a gestação, pode levar à embriopatia, com síndrome da varicela congênita (varicela neonatal que se expressa por meio de um ou mais dos seguintes sintomas: microoftalmia, catarata, atrofia óptica e do sistema nervoso central). Imunodeprimidos podem ter a forma de varicela disseminada, varicela hemorrágica. A nevralgia pósherpética é definida como dor persistente por quatro a seis semanas após a erupção cutânea. Sua incidência é claramente associada à idade, atingindo cerca de 40% dos indivíduos acima de 50 anos. É mais frequente em mulheres e após comprometimento do trigêmeo. Intervenção para tratamento: sintomático – antihistamínicos sistêmicos, para atenuar o prurido, e banhos de permanganato de potássio, na diluição de 1:40.000. Havendo infecção secundária, recomenda-se o uso de antibióticos sistêmicos. Varicela em crianças é uma doença benigna, que em geral não necessita de tratamento específico; tópico – compressas de permanganato de potássio (1:40.000) ou água boricada a 2%, várias vezes ao dia. Deve-se ter o cuidado de proteger os olhos quando da aplicação do permanganato; específico – Antivirais: aciclovir. Crianças – quando indicado, 20mg/kg/dose, VO, 4 vezes ao dia, dose máxima 800mg/dia, durante 5 dias. Adultos – (altas doses) - 800mg, VO, 5 vezes ao dia, durante 7 dias. Só tem efetividade quando iniciado nas primeiras 24 horas da doença, ficando a indicação a critério médico. Crianças imunocomprometidas devem fazer uso de aciclovir venoso ou em casos graves (adulto ou criança), na dosagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundido durante 1 hora, durante 7 a 14 dias. Seu uso está indicado, com restrições, m gestantes com complicações graves de varicela. Outros antivirais têm sido indicados. 18 A nevralgia pós-herpética (NPH) é uma complicação frequente (até 20%) da infecção pelo herpes zoster, que se caracteriza pela refratariedade ao tratamento. A terapia antiviral específica, iniciada em até 72 horas após o surgimento do rash, reduz a ocorrência da NPH. O uso de corticosteróides, na fase aguda da doença, não altera a incidência e a gravidade do NPH, porém reduz a neurite aguda, devendo ser adotado em pacientes sem imunocomprometimento. Uma vez instalada a NPH, o arsenal terapêutico é muito grande, porém não há uma droga eficaz para seu controle. São utilizados: creme de capsaicina, de 0,025% a 0,075%; lidocaína gel, a 5%; amitriptilina, em doses de 25 a 75mg, VO; carbamazepina, em doses de 100 a 400mg, VO; benzodiazepínicos. Rizotomia, termocoagulação e simpatectomia também têm sido empregadas. A varicela é uma doença benigna, mas altamente contagiosa que ocorre, principalmente, em menores de 15 anos de idade. É mais frequente no final do inverno e início da primavera. Indivíduos imunocomprometidos, quando adquirem varicela primária ou recorrente, possuem maior risco de doença grave. A taxa de ataque para síndrome de varicela congênita, em recémnascidos de mães com varicela no primeiro semestre de gravidez, é de 1,2%; quando a infecção ocorreu entre a 13ª a 20ª semanas de gestação, é de 2%. Recém-nascidos que adquirem varicela entre 5 a 10 dias de vida, cujas mães infectaram-se 5 dias antes do parto e 2 dias após o mesmo, estão mais expostos à varicela grave, com a letalidade podendo atingir 30%. A infecção intrauterina e a ocorrência de varicela antes dos 2 anos de idade estão relacionadas à ocorrência de zoster em idades mais jovens. Nota-se, quanto aos fatores de risco para varicela grave são: Período neonatal - RN no primeiro mês de vida, especialmente se a mãe é soronegativa; - Parto <28 semanas, porque a transmissão de anticorpos transplacentária ocorre após este período. 19 - Corticóides em doses equivalentes a 1 a 2mg/kg/dia de prednisolona por duas semanas; quando usado por <2 semanas, nestas doses, imediatamente precedente ou durante o período de incubação, também pode causar quadro grave, até fatal; -Imunodeficiência congênita ou adquirida, relacionada à imunidade celular. Segundo as Diretrizes de Atuação Médica para Pneumonias Bacterianas da Sociedade Brasileira de Pediatria (S.B.P.), a pneumonia é definida como um infiltrado pulmonar recente com evidência clínica que este infiltrado é de origem infecciosa. A presença de um infiltrado novo ou progressivo mais pelo menos dois de três achados clínicos (febre maior que 38 ºC, leucocitose ou leucopenia e secreção purulenta) representa a combinação mais acurada de critérios para iniciar terapia antibiótica. Em conformidade com o Consenso de 2009 da S.B.P. as pneumonias podem ser classificadas como de baixa ocorrência de germes multirresistentes (pneumonia adquirida na comunidade e pneumonia hospitalar precoce) e de alta ocorrência de germes multirresistentes (pneumonia hospitalar tardia, pneumonia associada à ventilação mecânica e pneumonia associada a cuidados de saúde). Em 2007, as Diretrizes Brasileiras em Pneumonia Adquirida na Comunidade em Pediatria relata que “(...) pneumonia adquirida na comunidade é uma das infecções do trato respiratório inferior. A história relatada pela mãe ou cuidador é semelhante ao da bronquite aguda, bronquiolite e outras afecções respiratórias. Há um processo inflamatório que é a resposta do hospedeiro ao agente agressor. O quadro clínico é semelhante, independente do agente etiológico – tosse, febre e dificuldade respiratória. Devido às dificuldades da realização da radiografia de tórax e da interpretação do exame radiológico como atendimento primário, principalmente em crianças menores, é aceitável que os critérios clínicos sugeridos pela Organização Mundial de Saúde e pela Organização Pan-americana de Saúde sejam seguidos nesta diretriz. Na suspeita clínica de pneumonia, chamamos a atenção da 20 necessidade da maior utilização da radiografia de tórax, que pode confirmar o diagnóstico e melhorar a decisão de tratamento”. Em estudo que objetivou avaliar a importância da radiografia de tórax em crianças com febre sem sinais localizatórios e com leucocitose no hemograma, observou-se 19% de crianças com pneumonia sem propedêutica pulmonar. 21 IV- CONCLUSÃO A varicela é uma doença que merece sempre muita atenção, pela possibilidade de complicações graves associadas. Na presença de sintomas tipicamente relacionados aos quadros respiratórios, o diagnóstico de pneumonia é facilitado. Contudo, imagens radiológicas redondas em parênquima pulmonar de crianças não excluem nódulos pulmonares solitários, carcinoma bronco gênico, adenoma brônquico, carcinoma de células alveolares, tumores metastáticos, tumores benignos, mesotelioma histoplasmose, pleural, cisto pseudo-tumores broncogênico, pós cisto inflamatórios, hidático, cisto tuberculose, broncogênico, impactação mucóide, atelectasia redonda, atresia congênita de brônquio, infarto pulmonar, granuloma reumatóide, granulomatose de Wergener, aneurisma arteriovenoso pulmonar, varicosidade de veia pulmonar, hematoma intrapulmonar, gânglio linfático intrapulmonar, derrame pleural intralobar. O quadro de supressão do sistema imunológico provocado pelo vírus do herpes, primariamente expõe a criança a múltiplos fatores oportunistas, devendo ser adequadamente orientada a necessidade de rigor ao calendário vacinal, que além da imunização pretendida, certamente diminuiria a circulação do vírus na comunidade, e a limitação de agentes contactantes, uma vez que principal agente etiológico das pneumonias é o Streptococcus pneumoniae, embora outros, como Micoplasma pneumoniae, Clamidia pneumoniae, Legionela pneumophila, possam estar implicados em menor frequência. Outra medida que seria indicada como fator minimizador da contaminação, é a vacinação dos agentes de saúdes expostos ao vírus. No caso em questão, o tratamento foi dirigido empiricamente para o Streptococcus pneumoniae, tendo em vista que a pneumonia redonda tem sido, na literatura, relacionada a esta etiologia, embora a hemocultura não isolasse o agente. Outro aspecto interessante deste caso foi a ausência de sinais propedêuticos de consolidação pulmonar e de repercussão respiratória. Em estudo que objetivou avaliar a importância da radiografia de tórax em crianças 22 com febre sem sinais localizatórios e com leucocitose no hemograma, observou-se 19% de crianças com pneumonia sem propedêutica pulmonar. As principais manifestações clínicas são tosse, prostração e febre. O tratamento é essencialmente clínico, porém, a melhora do estado geral e da ausculta pulmonar ocorre em dez a 14 dias de tratamento e a resolução radiológica pode demorar oito semanas a seis meses. Naqueles casos em que a evolução após a antibioticoterapia não é satisfatória, cogita-se o tratamento cirúrgico. No caso relatado, pôde-se afastar esta hipótese diante da rápida melhora clínica e resolução radiológica . Conclui-se que, diante de imagem radiológica arredondada e associada a alterações laboratoriais compatíveis com quadro infeccioso, é razoável formular a hipótese de pneumonia redonda e aguardar a resposta clínica à antibioticoterapia, adiando procedimentos diagnósticos de maior complexidade e mais invasivos, mesmo porque o abscesso pulmonar e as neoplasias pulmonares são bem menos frequentes do que as pneumonias nas crianças. 23 REFERÊNCIA Veronesi, R. & Focaccia, R., 2001. Tratado de Infectologia. São Paulo: Editora Ateneu. Szpeiter N, Toledo PVM, Carvalho MTM et al - Varicela e Herpes Zoster, em: Lopes AC, Amato VC - Tratado de Clínica Médica. São Paulo: Roca; 2006;3854-3858. Jones AM, Thomas N, Wilkins EG - Outcome of varicella pneumonitis in immunocompetent adults requiring treatment in a high dependency unit. J Infect, 2001;43:135-139. Somekh E, Maharashak N, Shapira Y et al - Hospitalization for primary varicella-zoster virus infection and its complications in patients from Southern Israel. Infection, 2000;28:200-204. Gasparetto EL, Warszawiak D, Tazoniero P et al - Varicella pneumonia in immunocompetent adults: report of two cases, with emphasis on highresolution computed tomography findings. Braz J InfectDis, 2005;9:262-265. Von Mach MA, Kaes J, Omogbehin B et al - An update on interventional lung assist devices and their role in acute respiratory distress syndrome. Lung, 2006;184:169-175 Martinez Segura JM, Gutierrez Oliva A, Maravi Poma E et al Severechickenpox pneumonia. Rev ClinEsp 2003;203:591-594. Conti JA, Karetzky MS - Varicella pneumonia in the adult. N J Med, 1989;86:475-478. Paytubi C, Negredo E, FerrerS et al - Varicella pneumonia in the adult. Study of 9 cases.An Med Interna, 2001;18:312-316. Hepburn NC, Carley RH - Adult respiratory distress syndrome secondary to varicella infection in a young adult. J R Army Med Corps, 1989;135:8183. Shirai T, Sano K, Matsuyama S et al - Varicella pneumonia in a healthy adult presenting with severe respiratory failure. InternMed, 1996;35:315318. El-Daher N, Magnussen R, Betts RF - Varicella pneumonitis: clinical presentation and experience with acyclovir treatment in immunocompetents adults. Int J Infect Dis, 1998;2:147-151. 24 Baldacci ER, Sakane PT. Infecção pelo vírus varicela Zoster. In: Marcondes E, Vaz FAC, Ramos JLA, et al. Pediatria básica: pediatria clínica geral. 9ª ed. São Paulo: Sarvier; 2003. v.2. p.137-43. Feldman C, Berezin EN. Varicela Zóster. In: Focaccia R, editor. Veronesi: tratado de infectologia. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p.683-92. Brunell PA. Varicela. In: Wyngaarden JB, Smith Jr. LH, Bennett JC, editors. Cecil: tratado de medicina interna. 19ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1993. p.1879-82. Whitley RJ. Varicella-Zoster vírus. In: Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Mandell, Douglas, and Bennett’s principles and practice of infectious diseases. 6th ed. Philadelphia: Elsevier Churchill Livingstone; 2005. p.1780-6. Lee S, Ito N, Inagaki T, et al. Fulminant varicella infection complicated with acute respiratory distress syndrome, and disseminated intravascular coagulation in an immunocompetent young adult. Intern Med. 2004;43:1205-9. Roy-Escarda C, Vicente Tierno N, Reimundo Díaz-Fierroz M, et al. Neumoníavaricelosaenel adulto: estudio de 17 casos. Aten Primaria. 2005;36:284-5. Reis F, Kobayashi E, Maciel EP, et al. Ressonância magnética e características clínicas em adultos com doenças desmielinizantes monofásicas: encefalomielite aguda disseminada ou uma variante da esclerose múltipla? Arq. Neuro-Psiquiatr. 1999;57:853-9. www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0370410620050003 00007&lng=pt&nrm=isso www.saude.gov.br/bvs Gianvecchio R P, Munõz D, Gianvecchio V A P, Albieri L - Pneumonia redonda, uma apresentação radiológica rara. Estudo publicado na Rev. paul. pediatr. Vol.25 Nº2 São Paulo, June 2007, Print version issn 0103-0582, Santo A H. Tendência da mortalidade relacionada à varicela no Estado de São Paulo, Brasil, 1985 a 2004: estudo usando causas múltiplas de morte. Rev Panam Salud Publica. 2007;22(2):132–40. RUEDELL L M, DE OLIVEIRA P D, AZAMBUJA F - Complicações pulmonares e neurológicas da varicela em adulto jovem previamente hígido. 25 Estudo publicado na Revista Scientia Medica, Porto Alegre, Vol. 18, Nº 2, p. 98101, abr./jun. 2008 Lopes A J, Jansen U, Capone D, Neves D D, Jansen J M - Diagnóstico de falsos tumores do pulmão. Estudo publicado na Revista PULMÃO RJ . Vol.14 . Nº 1 . Jan-Fev-Mar, 2005 26