UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ ÁREA DE AGRÁRIAS CURSO DE AGRONOMIA RICARDO BAROSSI LUDWIG ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES TÉCNICAS AGRÔNOMICAS DESENVOLVIDAS NA EMPRESA SOLLO SUL LTDA ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO PATO BRANCO 2012 UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE AGRONOMIA RICARDO BAROSSI LUDWIG ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES TÉCNICAS AGRÔNOMICAS DESENVOLVIDAS NA EMPRESA SOLLO SUL LTDA ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO PATO BRANCO 2012 RICARDO BAROSSI LUDWIG ACOMPANHAMENTO DE ATIVIDADES TÉCNICAS AGRÔNOMICAS DESENVOLVIDAS NA EMPRESA SOLLO SUL LTDA Relatório de Estágio Curricular Supervisionado, Área de Assistência Técnica apresentado ao Curso de Agronomia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Pato Branco, como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro Agrônomo. Orientadora: Profª. Dra. Marlene de Lurdes Ferronato PATO BRANCO 2012 AGRADECIMENTOS A Deus por nos proteger dos locais insalubres que a profissão requer e que infelizmente não é mais reconhecida para a classe. Ao Engenheiro Agrônomo, José Pedro Franco, que colaborou muito ao meu conhecimento prático. Passou o seu exemplo de profissionalismo, competência, honestidade, uma grande pessoa. Ao Engenheiro Agrônomo, Roberto Marcante, egresso da Universidade Tecnológica Federal do Paraná que me proporcionou realizar estágio na empresa. Ao Engenheiro Agrônomo, André Iopp, egresso da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que sempre procurou ajudar da melhor forma possível. A Professora Doutora Marlene de Lurdes Ferronato, pela orientação do estágio e pela visita ao local de estágio. A Professora Doutora Marta Helena Dias, pela visita ao local de estágio. A Universidade Tecnológica Federal do Paraná que forneceu toda a infraestrutura necessária à graduação em Agronomia. LISTA DE SIGLAS EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária PR Unidade da Federação – Paraná MRI Manejo de Resistência de Insetos MIP Manejo Integrado de Pragas OGM Organismo geneticamente modificado ha Hectare alq Alqueire CTC Capacidade de Troca de Cátions. CTNBIO Conselho Técnico Nacional em Biossegurança 2 M Metro quadrado. SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 8 2.0 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................................................. 9 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................47 8 1.0 INTRODUÇÃO A relevância da região sudoeste do Paraná ocorre pelo significativo percentual na participação total na produção de grãos paranaense. Nesta região, verifica-se heterogeneidade entre os produtores, variando entre produtores pequenos, médios e grandes, sendo predominantemente composta pelos dois primeiros. Verificam-se na região aumentos significativos na produção por área, devido a novas tecnologias oferecidas ao setor e à conscientização do agricultor. O fato das propriedades não serem de grande porte, exige cada vez mais investimentos para alcançar boas produtividades, de modo a utilizar o sistema agrícola da forma mais intensiva possível. Fica claro como a agricultura é dependente do agronegócio, tanto para compra e escoamento dos produtos do agricultor quanto para a formação e manutenção dos cultivos. Uma empresa hoje como o Moinho Iguaçu, situada na região mencionada e ponto de realização do estágio, proporciona avanços no escoamento da produção do campo, possibilitando a venda de commodities para os principais mercados no mundo todo. A Sollo Sul surgiu em 1991 com o objetivo de buscar junto aos seus fornecedores e repassar aos seus clientes soluções inovadoras para o aumento e melhoria da produção agrícola visando a redução de custos para tal, tornando-se um elo entre as partes. Iniciou suas atividades de forma modesta, manteve-se com crescimento constante e hoje conta com filiais localizadas em Verê, Realeza, Capanema, Sede progresso, Laranjeiras do sul, Quedas do Iguaçu e Renascença, além de Ituporanga – SC. Sua atuação abrange 700 mil hectares de área plantada com diversas culturas. Conta também com unidades de recepção e armazenamento de grãos. Atualmente, conta com 10 lojas localizadas em pontos estratégicos. Conta com 41 engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas que abrangem cerca de 40 municípios. Na filial em Pato Branco, as principais atividades realizadas pela empresa são: o comércio de sementes de cereais; o comércio de produtos químicos (fungicidas, herbicidas, inseticidas, entre outros); acompanhamento técnico de lavouras. A empresa fornece a opção de venda de insumos em troca de sacos de soja, a ser estipulado antes da safra. Já o recebimento de grãos e o seu devido 9 processamento de armazenamento e secagem é terceirizado, para que posteriormente haja transporte até Paranaguá para a exportação. As culturas que serão visualizadas serão os cultivos de Trigo, Aveia, e a implantação da cultura do Milho. O supervisor de estágio será o Engenheiro Agrônomo José Pedro Franco, com grande e reconhecida atuação na região. Durante o estágio supervisionado nos deparamos com muitas oportunidade: conhecer melhor a dinâmica do agronegócio, conhecer melhor o agricultor, além oportunidades de emprego, pois neste local circundam representantes das mais variadas empresas do setor. 2.0 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS O estágio está sendo realizado na empresa Sollo Sul LTDA, filial de Pato Branco - PR, situada no Sudoeste do Paraná. O estágio teve início no dia 16 de Julho de 2012, sendo supervisionado pelo Engenheiro Agrônomo José Pedro Franco e orientado pela professora Dra. Marlene Ferronato. A unidade de Pato Branco atua na comercialização de insumos agrícolas. Os principais insumos comercializados são fertilizantes, sementes e defensivos químicos (fungicidas, herbicidas e pesticidas). A unidade de Pato Branco tem grande amplitude em suas atividades, até o momento as cidades acompanhadas além de Pato Branco foram: Vitorino, Itapejara, Mariópolis, Campoerê Figura 1 - Filial da Sollo Sul em Pato Branco. 10 O quadro de funcionários é formado por uma série de profissionais capacitados sendo supervisionados pelo gerente da unidade Roberto Marcante. Fazem parte da unidade: Auxiliares de Escritório e Faturamento, Operador de Caixa, Controlador de Depósito e agrônomos e técnicos agrícolas responsáveis pela assistência dos clientes no campo. Esses últimos ainda são responsáveis por assessorar os produtores em regulagens de maquinário, tratamento de sementes e orientação quanto à aplicação dos principais defensivos químicos existentes no mercado. Figura 2 - José Pedro Franco, supervisor de estágio em conversa com produtor. Durante esse período de início do estágio, primeiras 100 horas, foram observadas principalmente lavouras de trigo a qual demanda maiores cuidados já que os grãos são comercializados e o investimento na cultura é alto. Há na região trigos em diferentes estádios de desenvolvimento, o que leve a perceber que alguns agricultores mesmo com assistência técnica, plantam fora do zoneamento agroclimático da cultura, ponto inicial e fundamental para rendimentos adequados, que leva em conta a ocorrência de geadas, excesso de chuvas na colheita, coeficiente fototermal, pluviosidade. Dessa forma visualizamos trigos em diferentes estágios. Acompanhamos na região as adubações de cobertura com nitrogênio em muitas propriedades. Geralmente com uréia que contém 45% de N, no entanto exige umidade no solo para ser liberada, há riscos de volatilização na ausência de 11 umidade ou lixiviação com muitas chuvas. Outros produtores vêm optando por outras formas de adubação nitrogenada em cobertura como as com sulfato de amônio, que contém 20% de N, menor concentração, porém menos sujeita a volatilização. Observamos que a cultura do azevém (Lollium spp) se comporta como grande hospedeiro e como fonte de inoculo de doenças da cultura do trigo (Triticum aestivum), como giberela, manchas e carvões, além de doenças radiculares. Figura 3 - Sintomas do complexo de manchas do trigo em lavoura de azevém, hospedeiro de várias doenças. O azevém é também hospedeiro do fungo que causa o mal-do-pé, Gaeumannomyces graminis, var tritici, uma podridão radicular importante nas culturas de centeio, cevada, trigo e triticale. Em lavouras destes cereais de inverno, com alta população de azevém a eficiência da rotação de culturas no controle da doença é comprometida. Neste caso as plantas de azevém não são mortas, apresentam algumas raízes negras suficiente para manter o inóculo no solo. 12 Figura 4 - Planta de azevém hospedeira do mal-do-pé. Na filial da Sollo Sul em Pato Branco há um pequeno laboratório para diagnóstico de doenças, conta com um computador junto a um aparelho chamado Digi® lab , fornecido pela empresa BASF. É muito útil na detecção de doenças aumento a imagem permitindo a melhor identificação dos patógenos. Em dias chuvosos, quando a assistência técnica prefere não sair é um ótimo instrumento. ® Figura 5 - Aparelho “Digilab ”, útil na identificação de patógenos. A seguir algumas imagens de patógenos em plantas coletadas a campo: - Carvão em azevém. Como a cultura possui ressemeadura natural e não há interesses na comercialização, exceto como cobertura de solo, os produtores não 13 realizam tratamentos fitossanitários, uma doença que é considerada extinta do trigo, apenas pelo fato de nesta cultura serem realizados tratamentos de sementes, algo muito eficiente contra este patógeno. Figura 6 – Carvão (Ustilago spp.) em azevém. -Giberela em trigo plantado muito cedo, fora de zoneamento climático e sem cuidados, resultado: infestação por várias doenças. Pode-se visualizar os esporodóquios de Giberela zeae e coloração salmão tipica do patógeno. Figura 7 – Giberela (Giberala zeae) em espigueta de trigo. 14 Figura 8 – Inflorescência de trigo infestado por patógenos. A falta do tratamento de sementes na cultura do trigo é um grande problema, pois exige do agricultor medidas de controle químico já no ínicio do estabelecimento da cultura. Alguns produtores investem muito pouco na cultura e ao presenciar uma situação de alta incidência de doenças chegam até mesmo a abanor a cultura. Esta passa a se comportar com um inóculo de doenças para outras plantas vizinhas. Figura 9 - Complexo de Manchas no trigo. 15 Figura 10 - Ferrugem do colmo (Puccinia spp.) em Aveia, na Figura pode se observar as pústulas, uma elevação da epiderme que posteriormente é rompida liberando seus uredósporos que infectarão novas plantas. Outro grande problema é falta de controle da soja que fica no campo após a colheita. Mesmo previsto em lei o vazio sanitário para soja e com multas no caso de descumprimento, verifica-se pouco cumprimento da norma, com muitas plantas de soja voluntárias. Figura 11 - Medida de controle Legislativo: na região do Sudoeste do Paraná os produtores tem mostrado resistência em seguir as normas. O maior prejudicado é o próprio agricultor que mantem os patógenos biotróficos, aqueles que somente se desenvolvem em tecido vivo, necessitando 16 maiores pulverizações na próxima safra devido ao sobrevivimento do fungo em soja voluntária. No período entre 4 a 18 de agosto, as principais atividades desenvolvidas na Sollo Sul foram: a coleta de solo para análise laboratorial e interpretação; assistência ao plantio do milho; manejo de doenças do trigo no estádio de floração, dessecação das culturas de cobertura para o plantio do milho. A coleta de solo para análise laboratorial é um passo importante para se obter boas produtividades ao final da safra, deve ser feito com cautela de forma homogênea para não subestimar ou superestimas os valores. Coleta de solo inadequada ocasiona uma tradução da análise incorreta mostrando números irreais nos teores de nutrientes e pH do solo da gleba onde foi retirada esta amostra. As áreas de cultivo são extensas e apenas 500 g de solo vai ser uma representação da fertilidade em toda a sua extensão. Em 1 ha de terra temos 10.000 m² ou 1.000.000 dm²; em 10 ha teremos 10.000.000 dm². A camada amostrada para as culturas anuais geralmente são entrono de 0-10 cm, assim teremos 10.000.000 dm³ que serão representados por uma amostra de solo de 0,5 dm³ e da qual será analisada 0,05 dm³. Daí a dificuldade de mensurar de forma correta a fertilidade do solo. Para o sistema de plantio direto é ainda mais difícil proceder a amostragem do que o sistema convencional, devido a permanência das linhas de adubação, de resíduos de culturas na superfície, e das aplicações de adubos e corretivos contribuem para agravar o problema. A coleta de amostra de solo pode ser feita em qualquer época do ano. Para culturas anuais, as amostragens devem ser realizadas de 3 a 6 meses antes do plantio; no caso de pastagens, 2 a 3 meses antes do maior desenvolvimento vegetativo; em culturas perenes, as amostras devem ser retiradas após a colheita. 17 Figura 12 - Amostragem de solo para o plantio do Milho. Após recebido os resultados das análises de solo, é o momento para interpretar as análises. Figura 13 - Análise de Solo de Produtor de Pato Branco – PR. 18 É essencial a correção da acidez do solo através da calagem. No Paraná a necessidade de calagem baseia-se no valor da porcentagem de saturação por bases (V%). A recomendação é aplicada em solos que apresentam V% menor que 50% procurando atingir 65%. A fórmula a ser aplicada é a seguinte (baseada nos valores em cmolc/dm³ da análise acima): NC (t/ha) = (V2-V1) x T x f / 100. NC significa necessidade de calcário em t/ha; T = capacidade de troca de cátions. V2 = 65% (valor que buscamos) V1 = valor V na análise. Pode ser calculada, também, V = 100 x S/T f = 100/PRNT (foi incluído o fator "f" para calcular diretamente a correção do PRNT) Assim podemos calcular, mesmo a análise fornecendo os valores prontos. É importante saber daonde os valores tem origem: Soma de bases (S) S= K + Ca + Mg + Na = 0,38 + 3,88 + 2,02= 6,28 cmolc/dm3 CTC efetiva (t) = S + Al: 6,28 + 0,20= 6,48 cmolc/dm3 Porcentagem de saturação por Al (m%) = 100 x Al / t = 100 x 0,20/6,48= 3,08% CTC a pH 7,0 (T) = S + (H+Al)= 6,28 +(0,20+7.56)=14.04 cmolc/dm3 Porcentagem de Saturação por Bases da CTC a pH 7,0 (V%)= 100 x S /T= 100 x 0,447= 44,7% Porcentagem de Saturação por Ácidos da CTC a pH 7,0 (M%) = 100 – V= 100 – 44,7 = 55,3% Por fim, temos a fórmula com os dados: NC (t/ha) = (V2-V1) x T x f / 100= 65-44,7 x 14.04/100 = 2,85 ton/ha. Portanto, a recomendação de calagem para este local ficou em 2,85 ton/ha, porém a recomendação para a região é a de acrescentar 20% no resultado, ficando em 3,4 ton/ha de cálcario. De acordo com os técnicos da empresa, na última década o clima tem se caracterizado como atípico a cada ano. Este inverno foi marcado pela ausência de 19 geadas nos meses de junho e julho, e por temperaturas acima dos 25° C já no início de agosto. Assim, vários produtores estavam dispostos a iniciar o plantio do milho já no início de agosto, mesmo com o posicionamento contrário da assistência técnica. No entanto, a volta de alguns dias com temperaturas baixas e posteriormente falta de chuva e umidade no solo levaram os produtores a cancelarem seus planos. Neste momento, dia 21 de agosto, a espera de chuva é o estopim para o plantio. Uma chuva abaixo de 8 mm é esperada para segunda-feira. Um grande problema para esta cultura é quando no momento do plantio a quantidade limitada de água no solo que ocasiona emergência em períodos diferentes, desfavorecendo as plantas que emergem em seguida. Para o milho a perda de algumas sementes germinadas ocasiona grande prejuízo devido a falta de capacidade da cultura em compensar as sementes perdidas, diferente da cultura da soja que quando em menor densidade de plantas ramifica-se compensando esta perda. Contudo para alcançar o sucesso pretendido com a cultura do milho é necessária a dessecação correta da cultura de inverno pertencente ao esquema de rotação de culturas. O sistema plantio direto está ancorado num eficiente planejamento das culturas em rotação e de sua consequente produção de biomassa. As culturas escolhidas, de interesse comercial ou simplesmente para cobertura de solo, devem contemplar aspectos referentes ao manejo da fertilidade do solo, pragas, doenças e plantas daninhas e propiciar rentabilidade a propriedade rural . Os resíduos vegetais em quantidades superiores a 4 t/ha, reduzem a densidade das plantas daninhas, atrasam sua emergência e diminuem a evaporação da água. Isto possibilita melhorar a eficiência do controle químico, bem como, reduzir a área efetivamente controlada e as quantidades usadas de herbicidas (Bianchi, 1997). A assistência técnica da Sollo Sul recomenda a dessecação da cultura de inverno para o plantio de milho com antecedência de 30 dias, tanto para azevém quanto para aveia. Esse período visa facilitar o plantio na palhada seca e evitar problemas com alelopatia, principalmente a deixada pela azevém. 20 Figura 14 - Ótima cobertura de solo - Aveia preta utilizada como cobertura de solo no inverno já dessecada para o plantio do milho, buscando atender a recomendação de antecedência de 30 dias. Os produtos utilizados para dessecação são a base do ingrediente ativo glifosato, muito eficiente na dessecação. Todavia, é frequente a falta de cuidado de alguns agricultores na região, aplicando este herbicida em dias com vento, ocasionando a deriva. O trigo, por sua vez, também é extremamente sensível ao glifosato, herbicida sistêmico, sendo afetado em alguns casos de deriva. As perdas podem ser muito altas com a fitotoxicidade do herbicida visualizadas em algumas regiões. 21 Figura 15 - Fitotoxicidade de glifosato utilizado na dessecação de aveia por deriva em propriedade vizinha. Para garantir uma boa plantabilidade do milho os técnicos da empresa calam o produto na chegada ao armazém para saber o formato da semente, pois de acordo com o local da espiga se obtém uma semente de dimensões diferenciadas. Esta informação é de extrema importância para se saber qual o disco e qual anel devem ser utilizados no momento do plantio. As sementes de milho são classificadas pelos produtores de acordo com sua espessura, largura e comprimento. Como se vê na Figura 16 - Diferentes dimensões de sementes em uma mesma espiga, é necessário a padronização para a comercialização. 22 Figura 17 - Na Sollo Sul utilizam-se calador para saber o formato da semente, pois mesmo informando a peneira na embalagem, é frequente a desuniformidade de sementes em um mesmo lote. Aproximadamente 70% dos investimentos de uma lavoura de milho são aplicados no momento do plantio. Além disso, é neste momento que o principal componente de rendimento da cultura do milho – população de plantas – é definido. Portanto, a escolha de discos e anéis corretos para a peneira das sementes diminui o número de falhas e duplas, melhorando a qualidade do plantio. O disco recomendado é uma sugestão para o início da regulagem da plantadeira por ocasião do plantio. Condições físicas das plantadeiras e dos discos de plantio, regulagens, tratamento de sementes, uso de grafite e a velocidade de plantio irão influenciar a sugestão de disco. A sugestão de disco requer uso do anel correto juntamente com o disco de plantio, que também são influenciados pelos itens já descritos. Siga as recomendações do fabricante quanto ao uso de talco ou grafite. A velocidade de plantio ideal é de 4,0 a 6,0 Km/h. Esta recomendação é válida para todos os tipos de plantadeiras. Sugestão de disco e anel: Na sacaria, na parte superior, existe uma série de informações sobre a semente contida na embalagem. Entre elas você encontra os itens que indicam: a dimensão do furo (mm); se o anel deve ser liso (0); anel frisado de 1 milímetro (1); anel frisado de 2 milímetros (2); disco com rampa marca Apollo; ou disco liso (L). Em qualquer circunstância, o disco deve possuir 28 furos. 23 Figura 18 - Ajuste de discos e anéis de semeadora. É importante salientar que aproximadamente 80% do milho plantado em nível comercial são transgênicos, ou seja, plantas que sofreram alterações em seu DNA por técnicas de engenharia genética. É impressionante como esta tecnologia chegou rápido aos produtores, considerando que a liberação destes organismos geneticamente modificados teve inicio a partir de 2005, atualmente domina o mercado. As culturas GM encontradas no mercado atualmente, foram desenvolvidas utilizando-se uma (ou mais) das seguintes características básicas: resistência aos danos causado por insetos, resistência a infecções virais e tolerância a certos herbicidas. Todos os genes usados para modificar as culturas derivam de microorganismos. Através de apuradas técnicas de laboratório, um gene de Bacillus Thuringiensis Berliner (Bt) foi introduzido em plantas de milho, dando origem ao milho geneticamente modificado, conferindo alto padrão de resistência da planta a algumas espécies de Lepidópteros-pragas (ARMSTRONG et al. 1995). Paralelamente a liberação destas sementes geneticamente modificadas o governou lançou diversas exigências para o plantio, como a norma de coexistência com o objetivo de conciliar o milho convencional e o transgênico. Os Requerimentos de Distância de Isolamento são mandatórios para o plantio de qualquer híbrido geneticamente modificado, quer sejam híbridos modificados para a proteção contra insetos ou para a tolerância a herbicidas. Os Requerimentos de Coexistência são necessários para a proteção do direito do produtor vizinho de plantar híbridos 24 convencionais (não transgênicos). De acordo com a Resolução Normativa número 4 da CTNBio (Conselho Técnico Nacional de Biossegurança), os produtores são obrigados a manter um mínimo de 100 metros de distância de isolamento entre o milho Bt e a lavoura convencional vizinha. Estes 100 metros podem ser plantados com qualquer cultura desde que não seja milho geneticamente modificado. Esta distância pode ser reduzida para 20 metros se 10 linhas de milho não geneticamente modificado, plantado na mesma data e de mesmo porte do híbrido geneticamente modificado for plantado na bordadura da lavoura. Em ambos os casos, os grãos colhidos na área de milho convencional deverão ser considerados como milho geneticamente modificado. Além desta exigência por parte do governo com a implantação de áreas sem milho geneticamente modificado, há exigência dos produtores de sementes para que o agricultor plante as áreas de refúgio. O Refúgio é uma lavoura de milho ou parte de uma lavoura de milho plantada com híbridos que não contenham a proteína Bt. Se apenas híbridos com a tecnologia Bt forem plantados na lavoura, os poucos insetos que desenvolverem resistência a essa proteína e sobreviverem, poderão cruzar com outros insetos resistentes, transmitindo a resistência para seus descendentes. Por isto, os pesquisadores consideram que a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de populações de insetos resistentes ao milho Bt é combinar lavouras de milho Bt com áreas plantadas com híbridos convencionais, isto é, sem a proteína Bt. Estas áreas devem ser plantadas na mesma época e com híbridos de mesmo ciclo. Desta maneira, os poucos possíveis insetos resistentes que sobreviverem na lavoura Bt irão cruzar com insetos suscetíveis presentes na lavoura de milho convencional. A progênie (descendentes destes insetos) será suscetível e, assim, poderá ser controlada com plantios futuros de milho Bt (Pioneer, 2012). 25 Figura 19 - Esquema de área de refúgio, com objetivo de evitar a resistência de insetos a tecnologia Bt (Pioneer, 2012). Requerimentos de Manejo de Resistência de Insetos – Refúgio: Os programas de Manejo de Resistência possuem cinco requerimentos principais: 1. Tamanho da área de Refúgio: O tamanho da área destinada ao Refúgio deve ser, no mínimo, 10% da área total de milho plantada na fazenda. 2. Proximidade do Refúgio: O Refúgio deve ser plantado, no máximo, a uma distância de 800 metros da lavoura de milho Bt. Cada produtor é responsável por obedecer aos requerimentos do Refúgio. Uma lavoura vizinha localizada a uma distância superior a 800 metros não pode ser utilizada como Refúgio 3. Uso de inseticidas: O Refúgio não deve ser pulverizado com inseticidas biológicos que contenham o Bacillus thuringiensis. Inseticidas químicos podem ser utilizados para o controle de pragas, caso necessário. 4. Manejo do Refúgio: O Refúgio deve ser plantado na mesma época que o milho Bt e com híbridos de ciclo semelhante. 5. Monitoramento da lavoura: Monitorar a lavoura e informar o responsável técnico sobre qualquer situação inesperada que você observar com relação à lavoura de milho Bt. Produtores que plantarem híbridos de milho Bt devem, obrigatoriamente, respeitar estes Requerimentos de Manejo de Resistência. Para a cultura do trigo a situação não é muito favorável. Verificam-se neste momento que os melhores trigos são os plantados em maio, fora do zoneamento, pois agora em agosto estão na fase de enchimento de grão e devido a um período aproximado de 15 dias sem chuva, apresentam boa sanidade. Resta saber se não 26 haverá problemas com chuvas na colheita o que afeta muito a qualidade do grão. Os trigos mais novos, em perfilhamento, sofrem com a falta de água e junto a isso a impossibilidade de aplicação de nitrogênio via uréia, que requer umidade no solo para ser eficiente e não volatilizar. Algumas lavouras com cultivares suscetíveis ao vírus do mosaico transmitido pelo solo estão doentes com dificuldades de desenvolvimento O potencial de danos na produtividade é superior a 50% devido à redução tanto do peso de grãos como do número de perfilhos. A doença ocorre nos EUA, Argentina, Brasil, Inglaterra e Japão. Os sintomas de SBWM aparecem como manchas irregulares no campo com as plantas se apresentando cloróticas. Porém, estes sintomas podem ser confundidos com outras viroses, ou mesmo com outros fatores bióticos ou abióticos. Em condições de baixa umidade as manchas ocorrem em áreas mais baixas e úmidas da lavoura, e em condições de alta umidade em qualquer área. A umidade afeta a disseminação do vetor Polymyxa graminis. Após a infecção verifica-se que as plantas possuem um porte reduzido e as folhas apresentam sintomas de mosaico irregular ou de estrias. Algumas estirpes virais produzem rosetas e perfilhos mais curtos, deixando as plantas compactadas e com excesso de perfilhos. A característica mais importante para o diagnóstico de SWBMV é a ausência de sintomas em folhas que emergem sob temperaturas acima de 20 °C (DALBOSCO, MARISA, 2002). Figura 20 - Vírus do mosaico SBWM, transmitido pelo solo, ocasionando perdas de rendimento e cultivares suscetíveis. 27 É muito importante identificar as plantas daninhas nos estádio iniciais, já que os herbicidas são mais eficientes nesses estádios. Os maiores problemas atuais são com a Buva (Conyza spp) com resistência múltipla à herbicidas e o azevém (Lollium multiflorum) resistente ao glifosato. Para controle da buva é preconizado aplicações no estágios iniciais com mistura de Roundup 5 L/alqueire e DMA 2,4D a 2,4L/alqueire, não obstante, em estádio avançado nada tem sido eficiente contra esta. Figura 21 - Buva (Conyza spp.) em estádio inicial, ideal para controle químico. Figura 22 - Leiteiro (Euphorbia heterophyilla) em estádio inicial, na mesma lavoura. 28 Figura 23 - Planta de Buva controlada com 2,4D + Glifosato. A falta de chuvas no mês de outubro levou alguns agricultores com costume em realizar o plantio em agosto, para viabilizar o plantio safrinha, a fazê-lo mesmo com a recomendação contrária da assistência técnica. Um agricultor a quem acompanhamos decidiu realizar o plantio dia 20 de outubro, mesmo sem previsões de chuva. O investimento na lavoura de milho é alto, muito superior ao de outra cultura como a soja. Este agricultor realizou o plantio em 30 alqueires de milho a um custo de R$ 500 saco, utilizou 3,3 sacos por alqueire totalizando um investimento somente com sementes em R$ 49.500,00. No entanto, não se importou com as previsões e este área encontra-se com problemas de emergência de plântulas com desuniformidade, pelo fato de talhões mais baixos acumularem mais água e outros menos. 29 Figura 24 - Falta de uniformidade de emergência de plantas de milho, podemos visualizar na Figura apenas uma plântula, as vizinhas ainda não germinaram, um grande problema. Para alcançar altos tetos de produtividade é necessária a maximização da exploração do ambiente, que acontece de forma mais efetiva quando há uniformidade entre plantas, proporcionando baixa competição intraespecífica. A uniformidade da arquitetura das plantas, principalmente em relação à altura, é conseguida com emergência rápida, completa e regular das plantas (PETR et al.,1988). Além do déficit hídrico outros fatores como contato com herbicidas, compactação e encrostamento do solo, tamanho da semente, profundidade de semeadura podem causar a desuniformidade da emergência das plantas e afetar o rendimento de grãos. As plantas de emergência atrasada podem apresentar menor crescimento da parte aérea e do sistema radicular, e assim, menor capacidade de competição quantitativa por água, luz e nutrientes. Provavelmente na área do agricultor relatado, far-se-á necessário a ressemeadura da cultura. A variação da competição intraespecífica também está relacionada à distribuição das plantas na área, através da variação do espaçamento entre linhas e da distância entre as plantas na linha de semeadura. SANGOI et al. (1997) demonstraram incremento em produtividade de grãos 30 pela redução do espaçamento entre as linhas de 100 cm para 50 cm em níveis de produtividade superiores a 12.000kg.ha-1 e população de 80.000 plantas.ha-1, demonstrando assim os efeitos positivos da melhor distribuição das plantas, concluindo sobre a resposta positiva da cultura com melhor distribuição de plantas. No entanto, a variação da distância entre plantas na linha de semeadura não tem se refletido em alterações no rendimento de grãos. RIZZARDI & PIRES (1996) em avaliações com uma a quatro plantas por cova, ou em sistemas mistos de distância entre plantas na linha de semeadura, não encontraram variação do rendimento de grãos. A melhor exploração do ambiente na cultura do milho também pode ser alcançada através do aumento da população de plantas (COX, 1996; RUSSEL, 1991). No Sul do Brasil, a maximização do rendimento de grãos tem sido conseguida com populações de 70.000 a 80.000 plantas.ha-1. Esses resultados apontam para a subutilização do ambiente que acontece mesmo em lavouras altamente tecnificadas, onde, em muitas situações, utiliza-se cerca 60.000 plantas.ha-1. Os híbridos modernos de milho têm apresentado melhor resposta ao incremento da população de plantas, especialmente devido ao ciclo curto, rápido crescimento inicial e a adequada arquitetura de planta. Na região a recomendação para um espaçamento de 50 cm é de 3,3 sacos por alqueire, cada saco vem com 60.000 sementes, com peso variável. Assim, podemos dizer que na região de Pato Branco – PR, a maioria dos agricultores utilizam uma população de 82.000 sementes.ha-1. A Dekalb, obtentora de diversos híbridos muito utilizados na região garante 90% de germinação de suas sementes na embalagem, a legislação de sementes exige, no mínimo, 85 %. A validade do teste de germinação é de 12 meses, após este prazo os sementeiros podem pedir reanálise deste teste prorrogando-o por mais 8 meses. Nos últimos anos, há uma tendência de mudança no espaçamento de plantio do milho. Há pouco tempo eram comuns espaçamentos de 90 e 80 cm entre linhas, ao passo que agora muitos produtores utilizam espaçamentos de 45, 50 cm entre linhas. Dessa forma as plantas são melhor distribuídas no solo, aproveitando melhor a água e nutrientes, além de melhorar a eficiência em captar luz, reduzindo a infestação com plantas daninhas. Contudo, espaçamento mais curtos propiciam um microclima favorável à doenças e dificultam a aplicação de fungicidas. No caso do milho plantado com cerca de 85.000 plantas.ha-1 com espaçamento de 45 ou 50 cm 31 faz-se necessário a escolha de um híbrido com alta resistência a doenças de colmo. No início do mês de setembro, os técnicos da Sollo Sul iniciaram a regulagem de máquinas alguns produtores deixando-as prontas para o plantio. Figura 25 - Regulagem de semeadora para o plantio do milho. A forma mais correta de regular a máquina é no campo, após escolher a densidade de plantas por hectare, escolha correta de discos e anéis e da adubação. No campo medimos com uma trena a distância de 10 metros a partir do centro do pneu dianteiro do trator a qual será percorrida com a semeadora pronta. É importante medir a largura da semeadora para obter a área percorrida em metros quadrados. Mede-se a distância entre a linha de uma ponta até a outra, acrescentando mais a metade do espaçamento de uma entrelinha em cada lado ou apenas multiplica-se o número de linhas da semeadora pelo espaçamento, assim temos a área quadrada do local, que com algumas contas poderá dar a estimativa por alqueire. Primeiramente, para saber se a quantidade de adubo em kg/ha está correto, percorremos os 10 metros com um saco na saída do adubo de preferência em 3 linhas e após os 10 metros pesamos cada uma das 3 amostragens e fazemos a média. Obtemos 140g de adubo por tubo nos 40m2(considerando a largura da semeadora de 4 metros) então por um regra de três faz a estimativa para 24200m2: 32 transforma-se para kg 140g/1000=0,14kg x 24200/40m2= 84,7 kg/ha. Para adubo verificamos que estava caindo 84,7 kg/ha ou 1,7 sacos por alqueire. A partir disso, podemos alterar as engrenagens da semeadora para aumentar ou reduzir esta quantidade. Para a semente a forma correta é ver quantas sementes estão caindo em determinados metros lineares, abrindo os sulcos por onde a semeadora passou. Figura 26 - Contagem de sementes nos sulcos, observando sementes duplas ou falhas. Sabemos que em um hectare com espaçamento de 50 cm são 20.000 metros lineares, dessa forma pode fazer as estimativas, para estar correto a população desejada(80.000 plantas) devem estar caindo 4 sementes em um metro, então medimos nesses 10 metros, devem estar caindo 40 sementes. Por esta ocasião devemos verificar se não estão caindo 2 sementes juntas. Os componentes de rendimentos mais usuais para a cultura do milho são o número de espiga por área, número de grãos por espiga e peso de grãos. Contudo, nesta cultura com sistema C4, com baixo ponto de compensação de CO 2, o tamanho da espiga pouco contribui para a definição da produção, quando há pequeno número de espigas por unidade de área. Portanto, o número de espigas é mais importante que o seu tamanho, para a produtividade da cultura. Por isso, deve se entender o 33 plantio como o ponta pé inicial de fundamental importância para atingir bom potencial de rendimento da cultura. A utilização de fertilizante nitrogenado é uma prática comum e responsável por aumentar os custos da produção agrícola, além de poder acarretar danos ao ambiente, já que parte do total aplicado é geralmente perdido. A eficiência de utilização dos fertilizantes nitrogenados é em média 50%, principalmente devido à ação da lixiviação, volatilização de amônia, desnitrificação, erosão e imobilização microbiana (REIS JUNIOR et al., 2010). Nos últimos anos, a tecnologia de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) se consolidou para a cultura da soja, a sua eficiência é indiscutível e conquistou os agricultores. A FBN consiste em inocular sementes de soja e outras culturas, com bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico a fim de estabelecer uma relação simbiótica entre planta e bactéria. A bactéria fornece o nitrogênio requerido pela cultura e em troca recebe da planta carboidratos, vitaminas e outras substâncias. No caso da soja, estas bactérias são do gênero Rhizobium, sendo a mais utilizada a Bradyrhizobium japonicum. Essas associações são de extrema importância pois reduz a utilização de adubos químicos que, em sua maior parte, são importados de outros países. Assim pode-se dizer que a FBN contribui para segurança alimentar do país, já que reduz a dependência de fertilizantes externos. O N fornecido pela FBN é menos propenso a lixiviação e volatilização já que ele é utilizado in situ, assim, a FBN mostra-se uma alternativa barata, limpa e sustentável para o fornecimento de N na agricultura comercial (HUERGO, 2006) Nesse sentido, muitos produtos vêm sendo testados para a cultura do milho. Contudo por tratar-se de uma gramínea os mecanismos, a eficiência e os microorganismos envolvidos na associação são distintos das leguminosas. Dentro das bactérias diazotróficas, capazes de fixar o N atmosférico há o gênero Azospirillum, capaz de associar-se com gramíneas. A eficiência desta inoculação ainda não está bem clara, já que a inoculação é dependente de outras interações com inseticidas, fungicidas e nutrientes, também aplicados na semente. Mesmo que a utilização agrícola de bactérias do gênero Azospirillum sp. não esteja consolidada no Brasil, ao considerar os conhecimentos atuais mais relevantes das bactérias do gênero e a sua interação com cereais, pode-se considerar um benefício a inoculação de sementes destas espécies. A literatura tem apontado diversos pontos positivos, desde o mais importante que é a redução da adubação nitrogenada, e 34 consequentemente, o custo de produção destas culturas até a maior resistência à seca e a maior resistência a pragas das plantas inoculadas. Figura 27 - Detalhe de diferenças de área superficial de sistema radicial de planta de milho não-inoculada (esquerda) e inoculada (direita) com Azospirillum brasilense. Figura: Mariangela Hungria No mês de outubro iniciaram os plantios de soja, contudo os trabalhos das empresas com produtos já iniciaram. O assistente de vendas da Basf-Sollo Sul montou um aquário com plantas de soja com tratamento de sementes ao lado de uma testemunha. Um trabalho muito interessante para verificar a eficiência desses produtos e notar a importância da pesquisa e da tecnologia na agricultura. 35 Figura 28 - Trabalho realizado na Sollo Sul com plantio de sementes de soja tratadas com o sistema AgCelence SOJA da BASF(lado direito) ao lado da testemunha sem tratamento(lado esquerdo) Primeiramente, os fungicidas são aplicados às plantas visando ao controle de doenças causadas por fungos e estramenópilas. Porém, alguns grupos de fungicidas mostram efeito adicional estimulante ou de redução do crescimento da planta tratada ou de fitotoxicidez. O efeito adicional estimulante em sua maior parte vem sendo relatado para as estrobilurinas. Os seguintes mecanismos bioquímicos estão envolvidos, de acordo com (Reis, 2010): a) Redução da respiração com aumento da Fotossíntese liquida pela alteração no ponto de compensação Fotossíntese versus respiração em favor da assimilação de CO2. b) Aumento da atividade da enzima nitrato-redutase na cultura. A enzima nitrato redutase é responsável pela produção de NO2-(nitrito) a partir de NO3(nitrato), gerando maior assimilação de Nitrogênio pela planta. Em um planta normal, quase todo o N se encontra em formas orgânicas, representadas, principalmente, por aminoácidos e proteínas. Para que o N seja incorporado aos compostos orgânicos, deve estar reduzido a NH3 (amônia) através de enzimas redutoras. 36 c) Redução da produção de etileno, o que minimiza a senescência, aumentando a duração da área foliar verde, e a eficiência fotossintética. Com ajuda do engenheiro agrônomo, José Pedro Franco, elaboramos uma tabela com os custos totais para o cultivo do milho por Alqueire e a participação de cada insumo no custo total da lavoura, considerando uma lavoura de médio a alto padrão tecnológico: CUSTOS TOTAIS COM A CULTURA DO MILHO 1. Dessecação Pré-Plantio Roundup 5L DMA(2,4D) 2,5L Inseticida Nomult 2. Semente DKB 240 YG 3,3 sacos 3. Adubação 20 sacos 8:20:20 Cobertura Uréia 18 sacos 4. Limpa Prima Top 18L Assist 2 L 5. Fungicidas Opera 1,7L 6. Adubação Foliar Glutamin extra 6L 7. Custos das operações Plantio 1,7 hora Pulverizar 3OP. X 0,6 Hora TOTAL R$ 55 0,9% R$ 1,680 29% R$ 3,280 56% R$ 250 4,3% R$ 135 2,3% R$ 78 1,3% R$ 350 6% R$ 5,828 Notamos um custo elevado para implantar a cultura do milho, especialmente com sementes e adubação que juntos somam 85% dos gastos da implantação da cultura. Ao dividir o custo total da lavoura por um preço razoável do milho R$ 25 por saca, podemos dizer que é necessário colher 235 sacos/alqueire para seus custos, o restante é o lucro do agricultor. Considerando uma produtividade boa dos agricultores da região, cerca 460 sacos/alqueire, restam 225 sacos ou cerca de R$ 5000/alqueire. Em 20 de Setembro praticamente todos os clientes da Sollo Sul plantaram o milho, o atraso evidente ocorreu pela falta de previsões de chuva, no entanto, com algumas chuvas expressivas em setembro, tudo se normalizou e a cultura foi 37 implantada. Nos estádios iniciais da cultura deve-se atentar ao ataque de pragas, sabendo-se que a cultura tem baixa capacidade de compensar eventuais plantas perdidas pelo ataque de pragas. A cultura do milho é atacada por muitas pragas. São dividas e pragas das raízes, pragas dos colmos, pragas das folhas, pragas das espigas (Gallo, 2002): - Pragas das raízes: 1. Larva Alfinete (Diabrotica speciosa): besourinho de coloração verde com 5 a 6 mm de comprimento, de cabeça castanha, tendo em cada élitro três manchas amarelas. A fêmea faz a postura no solo, de onde eclodem as larvas de coloração branco-leitosa que, completamente desenvolvidas, medem cerca de 10 mm de comprimento. Suas larvas atacam a região de crescimento das raízes, causando a morte de plantas recém-germinadas. Quando atacam as raízes adventícias causam um crescimento irregular das plantas, que se tornam recurvadas. Esse sintoma é conhecido como “pescoço de ganso” ou “milho ajoelhado” e ocorre entre 1 e 2 meses da semeadura, sendo mais frequente em áreas irrigadas. A Monsanto acaba de conseguir liberação para mais um evento transgênico em milho, depois do lançamento sucessivo de tecnologias envolvendo engenharia genética, como o milho resistente a lagartas e herbicidas. Trata-se do milho resistente a larva alfinete, ou seja, uma semente com três tecnologias. A proteção às raízes é o principal objetivo, assim consegue-se manter um bom sistema radicular, fundamental em anos com estiagens. Figura 29 - Danos da larva-alfinete (Diabrotica spp.) ao sistema radicular do milho. (Figura de Purdue University e R.L. Croissant) 38 2. Angorá (Astylus variegatus): Os adultos alimentam-se de pólen, e suas larvas (também chamadas peludinhas) vivem no solo, sendo de coloração marrom escura com pelos esparsos pelo corpo. Os adultos medem em torno de 8 mm, tendo os élitros amarelos com pintas pretas. As larvas atacam as sementes antes e após a germinação, especialmente em anos secos, ocasionando falhas na cultura. Atualmente, esta praga está presente em diversas áreas na região, por se tratar de uma praga secundária e esporádica existem dificuldades de identificação. -Pragas dos Colmos: 1. Elasmo (Elasmopalpus lignosellus): as lagartas medem até 15 mm de comprimento, são muito ativas, polífaga, coloração verde-azulada, sendo a cabeça pequena e de coloração escura. Inicialmente, alimentam-se das folhas para, em seguida, localizar-se na parte inferior do colmo rente ao solo. O período larval é altamente influenciado pela temperatura e varia de 17 a 42 dias. Pode atacar as plantas de milho de até 30 cm altura, e pela destruição da gema apical, ocorre a morte da folha ainda enrolada, caracterizando a sintomatologia da praga, conhecida como “coração morto”. Os maiores prejuízos ocorrem nos primeiros 30 dias após a germinação das plantas. A praga prefere ambiente seco e solos arenosos. A irrigação pode reduzir a infestação. Vários parasitóides, vírus de poliedrose nuclear e os fungos Aspergillus flavus e Beauveria bassiana são relacionados como inimigos naturais de elasmo. 39 Figura 30 - Lagarta Elasmo: morte da plântula, fase de adulto (fêmea e macho) e larva (Embrapa, 2009) 2. Lagarta-rosca (Agrotis ípsilon): Mariposas com alto potencial biótico, com grande capacidade de postura, em média 1000 ovos por fêmea. As lagartas têm coloração cinza escuro, podem atingir até 45 mm de comprimento. Têm hábito noturno, durante o dia ficam enroladas. Com o milho com até 20 dias, seccionam as plantas rente ao solo. Em estádios mais avançados de desenvolvimento da planta, as lagartas podem abrir galerias na base do colmo, provocando o aparecimento de estrias nas folhas, semelhantes às causadas por deficiências minerais. Também pode levar ao sintoma de “coração morto” e ao perfilhamento da planta, que é improdutivo. 3. Percevejo-barriga-verde (Dichelops spp.): Sugam a seiva da base do colmo, causando o murchamento da planta e depois o secamento. Podem também provocar o perfilhamento do milho, o que torna a planta improdutiva. Prejuízos de até 30% na produção. A melhor forma de controle é via tratamento de sementes com inseticidas do grupo dos neonicotinóides. - Pragas das Folhas: 1. Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): Também conhecida como lagartamilitar. As mariposas põem de 1.500 a 2.000 ovos na página superior das folhas. Após três dias nascem as lagartinhas, que passam a alimentar-se, preferencialmente das folhas mais novas do milho, raspando-as. Nessa fase, atacam todas as folhas centrais, destruindo-as completamente. O período larval compreende cerca de 12 a 30 dias, no final a lagarta chega a medir 50 mm de comprimento. Devido ao canibalismo entre as lagartas deste gênero, é comum encontrar apenas uma lagarta desenvolvida por cartucho. É possível encontrar lagartas em diferentes 40 instares num mesmo cartucho, no entanto, separadas pelas lâminas das folhas. Ao fim deste período transformam-se em pupas de coloração avermelhada. O período pupal é de 8 dias no verão, 25 dias no inverno. A praga deixa grande quantidade de excreções na planta, sendo uma maneira de detectar a presença da praga. O período crítico ao seu ataque é a época próxima ao florescimento. Atualmente a praga tem se comportado de forma diferente, atacando no início, cortando plantas rente ao solo (semelhante à lagarta-rosca), quando ocorre seca acentuada. No final da cultural pode danificar a espiga (semelhante a lagarta-da-espiga). Uma forma de controle biológico da praga, visualizada no campo, é através do predador Tesourinha (Doru luteipes), caracterizando o controle biológico natural. Também há a opção de controle através de parasitoides de ovos, como o Trichogramma spp. e Telenomus sp. e ainda, parasitoides de lagartas pequenas como o Chelonus insularis e Campoletis flavicincta. Contudo, na cultura do milho não há como falar em pragas sem falar em biotecnologia. Após o conhecimento da estrutura do material genético – a molécula do DNA (ácido desoxirribonucleico) – e o correspondente código genético, iniciado a partir dos anos 70, a biotecnologia moderna, através de uma de suas vertentes, a Engenharia Genética, técnica de empregar genes em processos produtivos, com a finalidade de obter produtos úteis ao homem e ao meio ambiente. As técnicas e métodos atuais permitem os cientistas transferir genes de interesse com características desejadas. A grande evolução foi em ter genes de diferentes organismos em outro distinto. Não apenas de organismos sexualmente compatíveis, o que amplia a variedade de genes que podem ser utilizados. Antes considerado impossível. A biotecnologia agrícola faz uso da transgenia como uma ferramenta de pesquisa caracterizada pela transferência de genes de interesse agronômico e respectivas características desejadas entre um organismo doador, que pode ser uma planta, uma bactéria, um fungo, etc. e planta. Os híbridos mais plantados na região sudoeste do Paraná produzem duas proteínas com mecanismos de ação diferentes nos insetos, controlando especialmente a lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga e a lagarta-do-colmo. 41 No dia 25 de Setembro, próximo ao fim do estágio, acompanhamos uma geada inesperada em plena primavera. Muitas lavouras de milho foram danificadas, as mais precoces com menores chances de rebrotar e as mais tardias com mais chances de rebrotar. Os danos aos agricultores que anteciparam o plantio são enormes devido ao custo de implantação desta cultura. Os prejuízos só não foram maiores devido à falta de umidade no solo e de previsões de chuva no mês de agosto. Muitos agricultores estavam irritados no mês de agosto por não poder realizar o plantio do milho, porém ao ver os grandes estragos desta geada inesperada agradeceram a estiagem em agosto. Pode-se dizer que a natureza dá pistas quando algo não está em anormalidade. A seguir podemos ver Figuras de diferentes níveis de dano provocado pela geada em setembro. Figura 31 - Neste estádio da cultura do milho, de acordo com os Eng. Agrônomos da empresa, toda a lavoura é perdida. 42 Figura 32 - Situação de uma lavoura de milho perdida na Fazenda da Barra, nesta situação, as possibilidades de rebrotar são muito baixas, pois as folhas velhas mortas dificultam a saída das folhas novas. Figura 33 - Lavoura de milho com danos severos de geada com todas as folhas visíveis queimadas, no entanto, pode haver potencial para rebrotar. 43 Figura 34 – No estádio inicial do milho o dano da geada certamente não causará grandes prejuízos. E como previsto no plano de estágio, foi acompanhado a colheita do trigo nas últimas semanas de setembro, especialmente dos trigos plantados em maio. Estes estão se mostrando os melhores trigos da região por terem sofrido menos com as faltas de chuva e escapado da geada de setembro. A produtividade esperada é de 130 a 150 sacos/alqueire. O trigo deve ser colhido a partir de 18% de umidade. Contudo, possivelmente os trigos da região sofrerão com as chuvas na colheita, o que deprecia muito a qualidade e o valor pago ao agricultor. Figura 35 - Colheita do trigo, em 25 de setembro, plantado no mês de maio, em Vitorino – PR, expectativa de colheita de 150 sacos/alqueire. REFERÊNCIAS 44 Nunes, C. D. M.; Mittelmann, A. Doenças do azevém – Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2009. 40 p. Embrapa Clima Temperado. Documentos, 279 Vargas, L.; Roman, E. S. Características e manejo de azevém resistente ao glyphosate. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2006. 9 p. html. (Embrapa Trigo. Documentos Online, 59). Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do59.htm. Acesso em 23/08/2012 Walker, J. Take-all disease of gramineae. A review of recent work. Review of Plant Pathology, 54 (3): 113-144, 1975 ARMSTRONG, C. L. et al. Field evaluation of European corn borer control in progeny of 173 transgenic corn events expressing an insecticidal protein from Bacillus thuringiensis. Crop Science, Madison, v.35, p. 550-557. 1995. Pioneer, Guia do Milho 2012, Du Pont do Brasil S.A Divisão Pioneer Sementes. Oggi/G raphik - Prod. Gráf. e Eletr. Ltda, 2012. 29 p. BIANCHI, M.A. Manejo integrado de plantas daninhas no Rio Grande do Sul. Revista Plantio Direto, 41: 53-57, 1997. PETR, J., CERNY, V., HNUSKA, L. Yield formation in maize. New York: Elsevier, 1988. Cap. 4: Yield formation in the main field crops: p. 54-172. SANGOI, L. Arranjo de plantas e características agronômicas de genótipos de milho em dois níveis de fertilidade. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 25, n. 7, p. 945-953,1990. COX, W.J. Whole-plant physiological and yield responses of maize to plant density. Agronomy Journal, Madison, v. 88,p. 489-496, 1996. Embrapa Milho e Sorgo, Sistemas de Produção, Cultivo do Milho. Versão Eletrônica 5ª.ediçãoSet./2009, Disponível em: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Milho/CultivodoMilho_5ed/pr sementes.htm, acesso em 20/09/2012 GALLO, Domingos et al. Entomologia Agricola. Piracicaba, SP: FEALQ 2002. 470p. 45 REIS JUNIOR, F.B et al. Identificação de isolados de Azospirillum amazonense associado a Brachiaria sp. em diferentes épocas e condições de cultivo e produção de fitormônio pela bactéria. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.28, p.103113, 2004 HUERGO, L.F. Regulação do metabolismo do nitrogênio em Azospirillum brasilense. 2006. Tese (Doutorado Pós-Graduação em Ciências Bioquímica) - Ciências Bioquímica, Universidade federal do Paraná, Curitiba, 2006. 170 p