A Importância ético-política do fortalecimento das Associações Organizativas da Categoria Profissional em cenários contemporâneos Jussara Maria Rosa Mendes – [email protected] 1 Regina Célia Tamaso Mioto – [email protected] 2 Vera Maria Ribeiro Nogueira – [email protected] Eixo temático 1. Palavras-chave – Sujeitos Políticos, representação de interesses, Serviço Social, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 1-INTRODUÇÃO Os cenários atuais estão marcados pelas profundas alterações nos aspectos econômicos, com desdobramentos nas inter-relações globais-locais, no mundo do trabalho e nos processos de exclusão social. A integração entre os países e entre os mercados e os processos produtivos vem ocupando as preocupações dos governantes, com a intensificação do trânsito, além das fronteiras 1 Mestre e Doutora em Serviço Social pela PUC_SP. Professora do Curso de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Atual Presidente da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social- ABEPSS. [email protected] . XVIIISeminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La cuestión Social y la formación proifesional en Trabajo Social en el contexto de las nuevas relaciones de poder y la dive rsidad latinoamericana. San José, Costa Rica, 2004. 2 Mestre em Educaçãol e Doutora em Saúde Mental pela UNICAMP- SP. Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina – Coordenadora Nacional da Pós -graduação da ABEPSS. [email protected] Florianópolis, Brasil, XVIIISeminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La cuestión Social y la formación proifesional en Trabajo Social en el contexto de las nuevas relaciones de poder y la diversidad latinoamericana. San José, Costa Rica, 2004. 3 Mestre em Serviço Social pela PUC-SP e Doutora em Enfermagem pela UFSC - Brasil Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenadora Nacional da Graduação da ABEPSS – [email protected], Florianópolis, Brasil. XVIII Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La cuestión Social y la formación proifesional en Trabajo Social en el contexto de las nuevas relaciones de poder y la diversidad latinoamericana. San José, Costa Rica, 2004. www.ts.ucr.ac.cr nacionais, dos trabalhadores e a população desempregada. Tais processos vêm exigindo, dos assistentes sociais, a produção de conhecimentos que favoreçam ações inovadoras e eficazes que propiciem respostas compatíveis com o ideal de democracia radical, justiça e igualdade social. Nessa perspectiva, é que as organizações políticas da categoria profissional têm um papel relevante no sentido de fortalecer a profissão na busca de tal ideal. A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, enquanto entidade nacional que congrega as Unidades de Ensino de Serviço Social, desde a década de 1980 tem encaminhado e orientado os debates sobre a inserção crítica e propositiva dos assistentes sociais, contrapondo-se à ótica mercantil e individualista que tem prevalecido nos projetos societários atuais. Através destes debates foi construído, coletivamente, com o Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social, um projeto ético-político que tem direcionado a produção de conhecimentos, a formação e a ação profissional. Tal projeto baliza a agenda da ABEPSS na busca de fortalecer seus objetivos institucionais, entre os quais se destacam a afirmação das diretrizes curriculares construídas com base no projeto ético-político profissional e a articulação de docentes e pesquisadores favorecendo o debate sistemático sobre o conhecimento produzido e o trabalho profissional. É sobre a trajetória e os desafios enfrentados por essa entidade que versa o presente artigo e com ele pretende-se contribuir para o debate sobre a organização política do Serviço Social no continente latino-americano. Nessa perspectiva é que se apresenta a ABEPSS, seus objetivos e sua estrutura, bem como sua trajetória e a construção do projeto ético-político que se expressa o âmbito da formação profissional através das diretrizes curriculares. Pauta-se também os desafios presentes para a efetivação do projeto ético-político. 2. ABEPSS: OBJETIVOS, ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) é uma entidade civil de natureza científica, de âmbito nacional, sem www.ts.ucr.ac.cr 2 fins lucrativos. É constituída por Unidades de Ensino de Serviço Social do setor público e privado, por sócios institucionais colaboradores e por sócios individuais. Tem como missão estimular e incentivar a pesquisa em Serviço Social, formular e implementar uma política de formação profissional que expresse a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, articulando a graduação e a pós-graduação. São finalidades da ABEPSS: I propor e dinamizar uma política de formação em Serviço Social que expresse a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, articulando a graduação e pós-graduação; II - estimular o intercâmbio e a colaboração em nível nacional e internacional entre as Unidades de Ensino, grupos de pesquisa, pesquisadores e entidades representativas da categoria dos assistentes sociais; III - contribuir para aperfeiçoar a formação profissional do assistente social na perspectiva de atender as exigências regionais e o projeto ético-político profissional, em nível nacional regional e local; IV - representar e defender os interesses da área de Serviço Social, junto às agências de fomento no que se refere ao ensino, pesquisa e extensão; V - apoiar as iniciativas de criação de Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no país; VI – apoiar as iniciativas de criação de Programas de Pós-Graduação em Serviço Social no país; VII - acompanhar o processo de autorização e reconhecimento dos cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação; VIII - fomentar e estimular a formação e consolidação de grupos de pesquisa nas universidades e/ou outras instituições voltadas para pesquisa; IX - promover a publicação da produção acadêmica gerada no âmbito do Serviço Social; X - divulgar cadastro de pesquisadores e de pesquisas em Serviço Social, já produzidas ou em processo de produção no Brasil; XI – promover eventos acadêmico-científicos de produção de conhecimento na área do Serviço Social. XII – atuar no sentido de fortalecer a concepção de formação profissional com amplo processo que abrange formação acadêmica, pesquisa, capacitação continuada e prática organizativa e profissional; XIII – manter atualizadas as subáreas de conhecimento e especialidades em Serviço Social junto aos órgãos de fomento, adequando-as aos eixos temáticos de pesquisa. www.ts.ucr.ac.cr 3 Conforme estatuto aprovado na Assembléia de dezembro de 1998, a ABEPSS é estruturada em uma diretoria executiva nacional e 6 diretorias regionais, conforme indica o mapa abaixo. As duas instâncias (nacional e regional) contam, além dos cargos tradicionais (presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário) com as Coordenações de Graduação e Pós-Graduação, Representação discente e de supervisores. O órgão máximo de deliberação é a Assembléia, que deve acontecer ordinariamente a cada 2 anos. Podem votar na Assembléia os delegados indicados pelas Unidades de Ensino e os sócios individuais. Sua estrutura pode ser visualizada no organograma abaixo www.ts.ucr.ac.cr 4 A estrutura da ABEPSS constitui o substrato para a existência de uma organização calcada em diferentes instâncias de debates e articulações que culminam em eventos de nível nacional – assembléias - onde são tomadas e referendadas as decisões e encaminhamentos a serem efetuados pela entidade. A ABEPSS realiza também, anualmente, a sua OFICINA NACIONAL para discussão das questões relacionadas à formação profissional e ao encaminhamento político de suas decisões, dentro de uma agenda préestabelecida em oficinas anteriores ou na assembléia da entidade. Desta oficina participam todas as unidades de ensino (graduação e pós-graduação). Esta agenda antes de ser trabalhada na oficina nacional, é debatida nas OFICINAS LOCAIS e nas OFICINAS REGIONAIS, o que garante a ampla participação das unidades de ensino, de seus professores e de seus supervisores de campo. Esta dinâmica é que tem permitido, além da ampla participação, a legitimidade da conduta política da entidade. Além das oficinas a ABEPSS realiza a cada dois anos o Encontro Nacional de Pesquisadores, que é o evento mais importante de pesquisa na área do Serviço Social. Tem ainda o compromisso de efetuar publicações relacionadas à formação profissional e a temas pertinentes ao Serviço Social, www.ts.ucr.ac.cr 5 de manter estreitas relações com as unidades filiadas e com as demais entidades da categoria profissional. 3- A TRAJETÓRIA DA ABEPSS, A CONSTRUÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS – surge na década de 1940, e oficialmente 1946, com a denominação de ABESS (Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social). Foi formada por um grupo de assistentes sociais sob liderança da Escola de Serviço Social de São Paulo, visando o estabelecimento de uma política de formação profissional, através da qual se pretendia dar unidade ao ensino de Serviço Social no Brasil. Além disso, desde seu nascimento encaminhou-se no sentido da articulação com outros países da América Latina, através do Secretariado Latino Americano da União Católica Internacional de Serviço Social. (SILVA, 1994). Durante duas décadas, ou um pouco mais, a então ABESS, sustentou um projeto de formação profissional, vinculado aos princípios cristãos e marcado pelo tecnicismo advindo da influencia norte americana, na perspectiva do fortalecimento da profissão no âmbito da sociedade brasileira e latinoamericana. Porém, se por um lado, no final da década de 1960 se verificava a consolidação da profissão e a existência de um projeto de formação profissional implementado ao longo do tempo, por outro, foram crescentes as manifestações sobre a necessidade de uma profunda revisão desse projeto considerando o papel do assistente social no contexto de uma sociedade cada vez mais excludente e desigual. Assim, na década de 1970, apesar da repressão dos regimes ditatoriais presentes em praticamente toda América Latina, o Serviço Social vive um período de grande efervescência política e intelectual. Nesse contexto, a ABESS mais uma vez protagoniza o debate sobre a formação do assistente social no Brasil, vinculando-o ao debate da conjuntura da sociedade brasileira sob uma perspectiva crítica embasada na teoria social marxiana. Esse movimento deu origem a redefinição do currículo mínimo para os cursos de Serviço Social, que foi aprovado pelo Conselho www.ts.ucr.ac.cr 6 Federal de Educação em 1982, e a afirmação da centralidade da produção do conhecimento para o desenvolvimento do Serviço Social. Tal afirmação se consolida com a criação do Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social (CEDEPSS) na década de 1980. Esse processo mostra o rompimento com uma concepção de formação profissional pautada na preparação de profissionais para o emprego, e pressupõe uma formação científica e técnica de profissionais capazes de não só atender as demandas do mercado de trabalho, mas de criar novas alternativas nos diferentes espaços ocupacionais. Assim se inicia a articulação de uma outra direção social para a formação profissional. A ABESS passa a entender que “um projeto de formação profissional supõe a discussão de um projeto profissional que configure uma proposta de intervenção capaz de responder as exigências históricas que vêm se colocando para o Serviço Social no Brasil a partir do que se denomina de classes populares”. (SILVA, 1994: 8-9). Nessa direção a ABESS encaminhou juntamente com o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social) o aprofundamento do debate em torno do projeto profissional nas suas múltiplas dimensões. Nesta configuração passa-se a entender o projeto profissional4 como uma estrutura dinâmica que se transforma a partir de modificações referentes ao quadro de necessidades sociais com as quais a profissão opera, das transformações sociais, econômicas, culturais que ocorrem nos diferentes momentos históricos e das alterações decorrentes do próprio processo de desenvolvimento da profissão. Isso significa dizer que a dimensão política lhe é inerente e está diretamente relacionado aos projetos societários presentes num determinado momento histórico. (NETTO,1999). Para Iamamoto (2001:20), o projeto profissional, implica na articulação entre a dimensão macro-societária que consiste no reconhecimento do terreno sócio-histórico sobre o qual a profissão se movimenta considerando seus limites e possibilidades e a 4 De acordo com Netto (1999: 95), o projeto profissional é construído coletivamente pela categoria profissional e representa a auto-imagem de uma profissão. Nesse projeto estão postos os objetivos, funções, os requisitos teóricos, práticos e institucionais para o exercício da profissão bem como a prescrição de normas para o comportamento dos profissionais e balizamentos para suas relações com as instituições, outras profissões, usuários. Tudo isso centrados em valores que legitimam socialmente a profissão. www.ts.ucr.ac.cr 7 dimensão profissional que compreende as respostas técnico-profissionais dos assistentes sociais que expressam como a realidade e as imposições macrosocietárias estão sendo apropriadas e redefinidas pela categoria profissional. Nesses termos a autora afirma que “a configuração social da profissão depende decisivamente das respostas dos agentes profissionais nesse contexto, articuladas em torno do projeto profissional de caráter ético-político”. O caráter ético político, segundo Ferreira (2000, p. 92), se constitui como um princípio básico do projeto profissional. Ele está ancorado na “liberdade como valor central, que se expressa no compromisso com a autonomia, a emancipação e a expansão dos indivíduos sociais”. Nesse sentido é clara a defesa da equidade e da justiça social que se realiza através da universalidade de acesso aos bens e serviços referentes às políticas sociais. Para a autora esses valores, no âmbito da prática profissional, se expressam na “defesa da qualidade dos serviços, na competência profissional, na viabilização dos direitos sociais e da cidadania, na luta pela radicalização da democracia, no aprimoramento intelectual dos profissionais”. Calcada nessa concepção de projeto profissional a ABESS direcionou mais uma vez o debate sobre a formação dos assistentes sociais no Brasil, através de uma discussão coletiva que envolveu todas as unidades de ensino filiadas. Tal discussão ocorreu no espaço de três anos (1994-1996) com a realização de oficinas locais, regionais e nacionais. Nesses espaços foram construídas as diretrizes curriculares, em consonância com o Código de Ética profissional de 1993 e com a atual lei de regulamentação da profissão. Tais diretrizes, aprovadas em assembléia geral extraordinária da ABESS em novembro de 1996, foram posteriormente, parcialmente chanceladas pelo Conselho Nacional de Educação – Ministério da Educação. Os pressupostos norteadores da concepção de formação profissional, que informa as diretrizes curriculares são os seguintes: O Serviço Social se particulariza nas relações sociais de produção e reprodução da vida social como uma profissão interventiva no âmbito da questão social, expressa pelas contradições do desenvolvimento do capitalismo monopolista. A relação do Serviço Social com a questão social - fundamento básico de sua existência é mediatizada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico- www.ts.ucr.ac.cr 8 metodológicos constitutivos de seu processo de trabalho. O agravamento da questão social em face das particularidades do processo de reestruturação produtiva no Brasil, nos marcos da ideologia neoliberal, determina uma inflexão no campo profissional do Serviço Social. Esta inflexão é resultante de novas requisições postas pelo reordenamento do capital e do trabalho, pela reforma do Estado e pelo movimento de organização das classes trabalhadoras, com amplas repercussões no mercado profissional de trabalho. O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas e lutas sociais. Nesse sentido as diretrizes curriculares focalizam a formação profissional em três dimensões que são: teórico-metodológica, éticopolítica e técnico-operativas. Estas dimensões estão dialeticamente articuladas e através delas se pretende formar um assistente social capaz de: apreender criticamente os processos sociais numa perspectiva de totalidade; analisar o movimento da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do desenvolvimento capitalista no Brasil e a inserção do Serviço Social nessas relações sociais; compreender o significado histórico da profissão e o seu desenvolvimento sócio-histórico nos cenários internacional e nacional ; identificar as demandas presentes na sociedade e desvelar as possibilidades de ação contidas na realidade; formular respostas profissionais para o enfrentamento da questão social considerando as articulações entre o público e o privado; compreender o trabalho profissional como trabalho socialmente determinado, trabalhador se reconhecendo como assalariado. (ABESS/CEDEPS, 1995; FERREIRA, 2000). A adesão coletiva dos assistentes sociais, docentes e não docentes, a este projeto permitiu que se avançasse ainda mais nas estratégias de garantia da indissociabilidade entre produção de conhecimento, formação e exercício profissional. Uma estratégia fundamental nessa direção foi a fusão da então ABESS e do até então CEDEPSS, em dezembro de 1998. A partir das modificações estatutárias necessárias surgiu a ABEPSS que temos hoje. A trajetória descrita, sem sombra de dúvida, só foi possível graças ao compromisso dos assistentes sociais brasileiros com a www.ts.ucr.ac.cr 9 organização coletiva que permitiu a ABEPSS em conjunto com outras organizações da categoria profissional, particularmente CFESS e ENESSO, enfrentar os desafios que se colocaram ao longo do caminho e que ainda estão presentes. 4 - OS DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE E A IMPORTÂNCIA DAS ASSOCIAÇÕES ORGANIZATIVAS I Iamamoto (2001) ao debater as competências e atribuições dos assistentes sociais, que dão a base para o instituto legal da profissão no Brasil, reafirma que estas não podem ser debatidas desvinculadas dos processos sócio-históricos. Elas devem ser consideradas a luz das novas demandas configurações da sociedade contemporânea caracterizada pela “radicalização das desigualdades”, pela diversidade de disparidades, pela primazia do capital financeiro, pela recessão da economia mundial, com transformações significativas das relações Estado/Sociedade. Dessa forma tanto as demandas profissionais como o reordenamento do espaço profissional, estão intrinsecamente atrelados aos processos de reestruturação produtiva que envolve a desregulamentação do trabalho e a organização dos trabalhadores e marcado pelas lutas políticas travadas entre projetos societários antagônicos. Na mesma direção, Neto (1996: 117) afirmou que, na segunda metade da década de 1990 o Serviço Social estaria marcado pela “agudização da luta ideo-política” entre diferentes projetos profissionais e “dirigida pelas demandas profissionais imediatas” pressionadas pelas demandas do mercado de trabalho. As tendências de mudanças do espaço profissional estariam condicionadas pela redução da demanda de atividades, pelo imbricamento entre novas e tradicionais demandas dentro de um universo muito mais complexo e heterogêneo dos usuários. Para o autor o enfrentamento dessas questões se faria através da construção de novas competências e não pela perspectiva corporativa e sem ignorar as demandas do mercado. Porém as respostas a essas demandas seriam diferentes considerando os projetos profissionais coexistentes. Assim, o neoconservadorismo tenderia a incorporar as demandas www.ts.ucr.ac.cr 10 do mercado como determinantes da formação profissional e a direção social estratégica, construída no início dos anos 1990, conectaria as sinalizações do mercado à análise macrosocial, aos valores e objetivos da profissão. O primeiro tenderia a priorizar a referência “instrumental-operativa” enquanto que o segundo estaria pautado no investimento na pesquisa e na apropriação da teoria social moderna, fazendo com que se buscassem alternativas e se elegessem prioridades. Indica, ainda, que tais possibilidades serão configuradas “por tensões e conflitos na definição de papéis e atribuições com outras categorias sócio-profissionais”. Dentre as projeções realizadas por Netto (1996:124) para a profissão, no quadro das transformações societárias típicas do capitalismo tardio, as demandas do mercado de trabalho e a cultura profissional, está a indicação “da necessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sócio-político) para as questões que caem no seu âmbito de intervenção institucional”. Com isso sinaliza que “as possibilidades objetivas de ampliação e enriquecimento do espaço profissional [...] só serão convertidas em ganhos profissionais [...] se o Serviço Social puder antecipá-las”. Marcos indicadores da importância que tais questões tomaram no final da década de 1990 se expressam no processo de reflexão nacional coordenado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), a partir de problemas enfrentados por agentes fiscais e pelas Comissões de Fiscalização (COFI’s) para identificação das competências profissionais e na distinção de atribuições privativas do assistente social, bem como as Oficinas Nacionais de Formação Profissional, propostas pela Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social/Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABESS/ABEPSS), visando a implementação das novas diretrizes curriculares. Isso demonstra o caráter vital da organização política das entidades profissionais para dar continuidade à oposição firme e sistemática ao trato que o Estado Brasileiro vem dando a educação, através de uma política mercantil, na qual a ótica do privado se sobrepõe ao público, e o mercado é o paradigma da formação profissional. Como afirma Behring (2000, p.102) a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação no Brasil, pode ter fortes repercussões www.ts.ucr.ac.cr 11 para a consolidação do projeto ético-político profissional. Esta lei, em perfeita harmonia com a opção política-econômica dos últimos governos, refuncionaliza a educação brasileira a partir da flexibilidade , no intuito de adequá-la a própria flexibilização do mercado de trabalho, privilegiando “um ensino pasteurizado, fragmentado, parcializado”. O longo trajeto de articulação entre as entidades organizativas da categoria vem mostrando, de forma inequívoca, a importância de ações políticas articuladas, onde cada uma das entidades se específica em seu campo de interesses e representação. No plano internacional, especialmente na América Latina, a atuação da ABEPSS tem sido marcada pela participação contínua e profícua no debate sobre as questões profissionais. No cenário atual essa presença se faz mais necessária no sentido de ampliar e sedimentar o debate sobre o tema, atendendo às atuais requisições derivadas dos processos de ajustes estruturais. Entende-se que os cenários, hoje, são identificados pelas profundas alterações nos aspectos econômicos, com desdobramentos nas inter-relações global-local, no mundo do trabalho e nos processos de exclusão. Estas preocupações integram a agenda da ABEPSS e de suas congêneres na América Latina e Caribe. Assim, uma das questões centrais e que justifica este Seminário será a reflexão sobre como vêm sendo respondidas as exigências colocadas às agências formadoras e organizativas da categoria profissional nessa nova configuração e em suas conseqüências na formação profissional. Outro aspecto que vem preocupando a ABEPSS é o próprio processo de sua inserção na ALAETS, sendo que na última assembléia, realizada em novembro de 2002, foi decidida a realização de um amplo debate entre as unidades de ensino sobre a os rumos das entidades acadêmicas na América Latina. Verificar o estado da arte sobre as dimensões acadêmicas e políticas que permeiam os processos de formação profissional do continente latino -americano pode contribuir para qualificar positivamente tanto a organização política quanto à formação profissional. Quais seriam os rumos éticos-políticos mais apropriados para a inserção das organizações políticas e acadêmicas do Serviço Social no debate maior que se aproxima, citando como paradigmática a proposição de Estandares globales de www.ts.ucr.ac.cr 12 cualificación para educación y capacitación em Travajo Social, em discussão sob a direção da Associação Internacional de Escolas de Serviço Social – AIETS e a Federação Internacional de Trabalhadores Sociais – FIT. Essa proposição, que se inicia em 2000 busca orientar e qualificar universalmente a educação para o Serviço Social a partir de temas chaves , dos papeis e os próprios objetivos do Serviço Social, favorecendo a construção de uma identidade profissional comum, que fosse reconhecida ainda que preservando particularidades regionais e nacionais. Tem-se como pressuposto que uma empreitada dessa natureza contempla uma dimensão ético-política, a qual deve ser debatida e construída a partir de posições relativamente consensuais sobre questões centrais que incidem sobre o exercício e a formação profissional. Nesse sentido, a participação da América Latina no processo de discussão mais global impõe uma Associação com densidade política forte, na qual as Unidades de Ensino se sintam representadas em seus anseios centrais, articulando e apoiando em seus espaços locais e regionais as mesmas proposições. Destaca-se, na busca do fortalecimento da participação da América Latina, uma associação que tenha competência para dar uma clara direção política, direção esta que exige ser construída a partir de fóruns públicos e democráticos, dado legitimidade e força política para a defesa dos ideais assumidos. 5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABESS/CEDEPSS. Relatório da Oficina Nacional para Implementação das Diretrizes Curriculares. 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