Carga elevada tira poder de consumo e de investimento Sobre o rendimento bruto do brasileiro recaem 3% no patrimônio e 15% na renda. O Brasil não tem uma política tributária na qual seja possível sacrificar a arrecadação para impulsionar a expansão econômica. Segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Gilberto Luiz do Amaral, países emergentes como o Chile implantaram um sistema mais desenvolvimentista na classificação de seus impostos. Ao contrário do sistema brasileiro, proporcionalmente ao volume recolhido por todas as esferas de governo, os chilenos arrecadam menos no conjunto produção e salário (consumo) e mais sobre o patrimônio. "Esse sistema se aproxima mais dos Estados Unidos, que prima por tributar o patrimônio e a renda, e menos dos pares emergentes da América Latina", analisa o especialista. Amaral argumenta que os tributos permeiam todas as relações de custos e despesas da economia e que, desta forma, a carga tributária mais elevada tira o poder de consumo e do investimento privado. "Esse custo se confronta com a renda do brasileiro, que é baixa, limita seu poder de consumo e, conseqüentemente, não proporciona mais produção", ressalta. O presidente do IBPT lembra ainda que sobre o rendimento bruto do cidadão brasileiro recaem 3% no patrimônio, 15% na renda e 21,72% no consumo, num total de 39,72% anuais. "É mais fácil cobrar no consumo do que no patrimônio", diz. "Aqui no Brasil, o sistema tributário privilegia os que detêm renda e patrimônio em detrimento do restante da população". Maior informalidade Após analisar uma série de estudos publicados internacionalmente sobre o tema, o coordenador de projetos da FGV Projetos, Fernando Blumenschein, afirma que não existe consenso sobre os efeitos deletérios de uma elevada carga tributária no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, diz, é possível chegar à conclusão de que há um efeito negativo nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Aqui, explica, há uma relação direta entre o peso dos tributos e o aumento da informalidade - tanto no que diz respeito ao mercado de trabalho, quanto à evasão fiscal. Assim, quanto maior a cobrança, menor os ganhos de produção no País, pois a produtividade dos informais é menor. Além disso, o sistema tributário brasileiro apresenta um nível de distorção elevado, o que afeta a alocação eficiente de recursos. O economista argumenta ainda que parte considerável do que é arrecadado é transferido para programas sociais ou previdência. "Desta forma, o governo tem tirado recursos que poderiam ser aplicados em investimentos e os leva diretamente para o consumo". Blumenschein conclui que, mesmo com o nível atual de recursos da sociedade sendo remetidos ao governo, o País crescerá. "A grande pergunta é quanto o PIB poderia expandir se a carga fosse menor". Fábio Giambiagi, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concorda com o raciocínio e crava que a carga tributária é um dos ingredientes que está por trás do baixo crescimento do País nos últimos anos. 1 No entanto, na sua avaliação, é ilusório achar que é possível desfazer de uma vez o aumento da carga que houve nos últimos 15 anos. E explica: juntamente com esse aumento das alíquotas e, conseqüentemente, da arrecadação, subiu a relação do gasto público com o PIB. O salário mínimo, lembra, subiu 100% nos últimos anos e é um gasto rígido, ou seja, não há como reduzi-lo. "Não será possível, portanto, voltar aos níveis vistos em 1994". Mas, caso ocorra, será uma redução suave, diz Giambiagi, que aponta a decisão do Congresso Nacional sobre a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) como um termômetro do que ocorrerá nos próximos anos com a carga. "Se aprovarem a redução gradual do tributo, dos atuais 0,38%, poderá haver o início de uma redução. Se não, a carga se manterá estável, podendo até aumentar". Causa e efeito Os economistas podem divergir sobre a tese de que o maior peso dos impostos pode limitar o crescimento econômico, mas todos concordam que a menor necessidade do governo por recursos para honrar tanto o pagamento de juros da dívida como as contas assumidas poderia proporcionar a aplicação em áreas que verdadeiramente dessem impulso à expansão. João Sicsú, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sustenta que não é efetivamente o peso da carga que provoca o baixo crescimento econômico. "Se fosse isso, não teríamos expansões acima de 4% em 2000 e em 2004", diz. "Mas nosso problema é a falta de continuidade do crescimento e isso ocorre pelas variáveis macroeconômicas". Diferentemente de seus pares emergentes, principalmente os asiáticos, que mantêm juros primários baixos, câmbio desvalorizado e estável e gastos centrados na tríade infra-estrutura, tecnologia e educação, o Brasil continua arrecadando mais para pagar juros da sua dívida - R$ 160 bilhões em 2006. "Isso não faz país algum crescer", afirma o economista. Blumenschein complementa que o financiamento do déficit e os gastos para a manutenção da máquina pública demandam maior arrecadação, mas, ao mesmo tempo, fazem com que a capacidade de investimento público seja reduzida. "A questão é como se gasta a carga que foi arrecadada", completa Sicsú, ressaltando que os países nórdicos possuem carga tributária muito elevada e têm crescimento menor. No entanto, a relação entre esses dois fatores é inexistente porque essas economias já alcançaram o desenvolvimento e não precisam mais crescer tanto para distribuir riqueza, ao contrário dos emergentes e, principalmente, do Brasil. Fonte CAVALCANTI, Simone. Carga elevada tira poder de consumo e de investimento. Gazeta Mercantil, São Paulo, 21 fev. 2007. Disponível em: <http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2007/2/21/noticia.338 362>. Acesso em: 31 mar. 2007. 2