PRONUNCIAMENTO DO DEPUTADO DANIEL ALMEIDA - PCdoB Ba, NA SESSÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS DO DIA 27 DE MAIO DE 2003, EM HOMENAGEM AO DIA DO GEÓGRAFO. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, em homenagem ao dia do geógrafo, que é comemorado no dia 29 de maio, gostaria de destacar algumas particularidades da Ciência Geográfica, uma das primeiras disciplinas acadêmicas da história da humanidade. O estudo da Geografia, disciplina que era lecionada na Grécia antiga sob a designação de "história natural" ou "filosofia natural", tornou possível aos gregos, já no século IV antes de Cristo, observar o nosso planeta como um todo. Aristóteles, por exemplo, foi o primeiro cientista a conceituar a Terra como uma esfera, com base tanto em estudos filosóficos como em observações astronômicas. Já outro grego, Strabo, que viveu entre 63 antes de Cristo e 24 depois de Cristo e viajou por quase todo o mundo conhecido de sua época, produziu uma obra de 17 volumes, intitulada "Geográfica", onde descreveu suas viagens e experiências vividas nos mais diferentes lugares, como a Galícia, a Bretanha e a Índia, passando também pelo Mar Negro e a Etiópia. Tanto empenho em conhecer e descrever diferentes culturas e paisagens acabou por lhe render o título de "pai da geografia regional". Mais tarde, após o colapso do Império Romano, os grandes continuadores do trabalho dos gregos, na construção da ciência geográfica, foram os árabes, responsáveis pela criação de um sofisticado sistema de classificação climática. Um árabe de nome curioso, Ibn Battuta, chegou à importante conclusão de que, ao contrário do que havia afirmado antes Aristóteles, as regiões quentes do Mundo eram perfeitamente habitáveis. Mas foi só no século XV, com o advento das grandes navegações espanholas, que a ciência geográfica recuperou a importância que havia conquistado com os gregos. Os feitos de Cristóvão Colombo e Bartolomeu Dias reacenderam o interesse do mundo conhecido pela descrição geográfica e o mapeamento. Nessa mesma época, o português Fernão de Magalhães, com sua viagem de circunavegação do globo terrestre, deu ao mundo a prova definita de que a Terra é redonda. Daí por diante, a ciência geográfica só ganhou em importância, não só pelo suporte científico oferecido a aventureiros e 2 desbravadores, mas também pelo seu rápido avanço e desdobramento em novos campos de pesquisa e conhecimento. A Geografia Social, por exemplo, firmou-se como nova e fascinante área de estudos e pesquisas a partir de nomes como Goethe, Kant e Montesquieu, os pioneiros no estudo da relação entre os seres humanos e o meio ambiente. Com o tempo, outros campos de atuação foram consolidando-se entre os geógrafos, como a geografia antropológica e a geografia política. Importante é ressaltar o surgimento, por volta do século XIX, da escola alemã de Geografia, que, ao desenvolver suas teorias sobre o “determinismo geográfico”, sustentava a tese de que o Homem seria produto do meio, ou seja, que o clima condicionaria, ou melhor, “determinaria” o grau de desenvolvimento, tanto intelectual como físico e econômico, dos seres humanos e, mesmo, de sociedades inteiras. Seria por influência do clima, acreditavam os alemães, que, nas zonas temperadas, as sociedades humanas alcançavam graus de desenvolvimento mais avançados que em zonas tropicais. Nos anos trinta do século passado, em contrapartida ao determinismo geográfico alemão, a escola francesa de Geografia desenvolveu o “possibilismo”, que reconhecia a capacidade das pessoas de alcançar o desenvolvimento econômico e social a partir das escolhas feitas, ante as possibilidades que o meio físico é capaz de oferecer. A questão da liberdade de um povo diante das oportunidades que se lhes apresentavam acabou sendo, no entanto, o ponto de partida para o desenvolvimento, a partir dos anos 60, da chamada “Geografia Crítica”, que surgiu quase ao mesmo tempo na França e nos Estados Unidos e ganhou força nos países latino-americanos, especialmente no Brasil, no início dos anos 70. O Brasil, por suposto, tem sido pródigo em doar aos meios científicos nacional e internacional grandes nomes da Geografia. Um deles, o baiano Milton Santos, falecido no ano de 2001, advogado de formação e, como gostava de autointitular-se, “geógrafo por opção”, consagrou-se como um dos maiores expoentes da Geografia Humana no Brasil e no mundo. Neto de escravos por parte de pai, esse filho de professores do ensino básico concluiu o currículo do curso primário com oito anos de idade. Aos dez anos, já falava francês. De Brotas de Macaúbas, sua cidade natal, mudou-se para Salvador, onde custeou os estudos do ensino médio com as aulas de Geografia que dava aos alunos de sua 3 própria escola. Formado em Direito, não chegou a exercer a profissão, pois prestou concurso público para professor secundário e foi lecionar Geografia em Ilhéus. Militante político, usou o exílio de treze anos que lhe foi imposto pela ditadura militar para estudar e ensinar Geografia em universidades da Europa, África e das Américas. Conhecido, respeitado e consagrado internacionalmente como um dos grandes expoentes da Geografia mundial, publicou dezenas, senão centenas de livros e artigos relacionados à Geografia Humana, pois o desenvolvimento pleno do potencial dos seres humanos foi o que motivou sua trajetória acadêmica, do começo ao fim. Na área da Geografia Física, se é que hoje, em um mundo globalizado, onde fica cada vez mais difícil estabelecer limites entre as disciplinas acadêmicas, ainda se pode falar em compartimentação das ciências e do conhecimento, destacamos no Brasil o geógrafo Aziz Ab'Saber, professor titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Hoje ligado ao Instituto de Ensinos Avançados da USP, o Professor Ab'Saber destacou-se nos meios acadêmicos geográficos nacional e internacional, não só pelo volume de obras publicadas, mas também pelas pesquisas e trabalhos que lhe permitiram, a partir da observação da natureza, teorizar e propor soluções estratégicas para a preservação dos nossos ecossistemas, evitando, assim, sua destruição. Fora da Universidade de São Paulo, Ab'Saber presidiu o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo e é membro dos mais atuantes na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC. Além disso, com base na convicção de que o adequado tratamento da questão ambiental no País passa, necessariamente, pela inclusão social, dedica boa parte de seu tempo à promoção de eventos relacionados à educação e ao lazer para a população carente da periferia de São Paulo. Poderíamos, Senhor Presidente, seguir exaltando outros tantos e grande nomes da Geografia no Brasil, como Manoel Correia de Andrade, Carlos Walter Porto Gonçalves, Ruy Moreira, Maria Auxiliadora Silva, Sílvio Bandeira, Pedro Vasconcelos, e tantos outros responsáveis pelo enorme impulso que a Ciência Geográfica ganhou, nas últimas décadas, em nosso País. Mas preferimos deixar aqui nossa mensagem de incentivo e felicitação a todos os geógrafos 4 brasileiros que, na sua labuta diária nas escolas, nas universidades, em centros de pesquisa e nas empresas onde trabalham, usam seus conhecimentos para o exercício da cidadania e pela construção de um País melhor, mais justo e mais humano. Quero assim, em nome de todos esses brilhantes profissionais da geografia, saudar os colegas da Universidade Católica, o Diretório Acadêmico Dinaelza Coqueiro, e todos os professores e membros do Departamento de Geografia da UCSal, em fim todos os geógrafos da Bahia e do Brasil. Muito obrigado. Era o que tinha a dizer. Daniel Almeida Deputado Federal PCdoB Ba.