1 CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ EDUARDO MENDONÇA DE ARAÚJO A CONSTRUÇÃO DAS PERSONAGENS FEMININAS EM DESONRA, DE J.M. COETZEE SANTO ANDRÉ 2012 2 EDUARDO MENDONÇA DE ARAÚJO A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM FEMININA EM DESONRA, DE J.M. COETZEE Relatório Final apresentado ao Programa de Incentivo à Iniciação Científica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Centro Universitário Fundação Santo André Orientadora: Profa. Me. Irene Scótolo de Oliveira SANTO ANDRÉ 2012 3 SUMÁRIO I. Introdução 04 II. Atividades Desenvolvidas 05 III. Método e Material Utilizado 06 IV. Resultados obtidos 09 V. Possíveis alterações no plano de atividades 13 VI. Considerações Finais 14 VII. Referências Bibliográficas 15 VIII. Bibliografia 17 4 I – INTRODUÇÃO O estudo da Literatura permite expandir o repertório de conhecimentos, avaliar outras culturas e desenvolver uma visão crítica a respeito delas. Acreditando nisto é que se tem conduzido este projeto, analisando à luz dos Estudos Multiculturais e Análise Crítica do Discurso o processo de construção das personagens femininas na obra literária Desonra, do escritor J. M. Coetzee. O romance, publicado em 1999, revela a luta de grupos na África do Sul no período do pós-apartheid, apresentando problemas do mundo contemporâneo, tais como situações inerentes à condição humana, racismo e mudanças socioculturais. As personagens foco da pesquisa estão inseridas neste contexto, sofrendo opressão, desigualdade e preconceito. Ao mesmo tempo, elas mostram-se capazes de construir suas subjetividades em uma sociedade consolidada sobre os valores da cultura patriarcal e colonialista, firmando-se como sujeitos dignos de respeito e capazes de tomarem suas próprias decisões. As teorias da Análise Crítica do Discurso auxiliam-nos neste estudo ao mostrar que o discurso é uma prática social de construção de textos e o texto é a manifestação verbal do discurso, que é lido ou ouvido, que é constituído por outros textos e que sofre influência de diversos discursos. O autor que pronuncia o texto é o responsável pelo agrupamento das partes (textos e discursos), é quem centraliza e ordena as ideias dando unidade ao discurso sob a forma de texto. Para esta construção é utilizada a linguagem na interação entre os indivíduos. Deste modo, o sujeito e seu discurso devem ser entendidos em seus processos histórico-sociais. Da mesma maneira, os sentidos do discurso são determinados pelas posições ideológicas advindas dos processos histórico-sociais em que a fala é produzida/reproduzida. Desta forma, este projeto de iniciação cientifica objetiva entender o conjunto de situações em que se passa a história do romance Desonra para melhor entender os discursos contidos nele e refletir quanto às questões do gênero e à busca do sujeito feminino por sua emancipação na sociedade. 5 II – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades desenvolvidas desde o início do projeto ocorreram conforme previsto no cronograma. A primeira fase do projeto se dedicou a releitura atenta da obra Desonra, coletando-se passagens importantes para demonstrar a construção das personagens femininas e a presença de discursos preconceituosos ao longo do texto. Em um segundo momento, foi preciso um estudo mais aprofundado dos fatores históricos sul-africanos, em especial do regime de apartheid e do período pós-apartheid, por se tratar de um pano de fundo importante no enredo da obra e a fim de compreender a História e as relações sociais que se dão atualmente na África do Sul. Após, realizou-se a leitura de trabalhos acadêmicos, livros e textos indicados pela professora orientadora sobre Estudos Culturais, Multiculturalismo, Literatura Sul-Africana, Identidade e Análise Crítica do Discurso, a fim de detectar informações relevantes para o estudo em questão. Destas leituras descritas acima foram feitos fichamentos, relatórios e seleção de citações a fim de organizar material com vistas à obtenção de resultados a serem apresentados ao término da pesquisa. Os meses de setembro e outubro foram destinados a elaboração do painel para apresentação do projeto de pesquisa no Simpósio de Atividades de Pesquisa e Extensão (SAPEX) que ocorreu no dia 10 de novembro. Em novembro iniciou-se o processo de finalização do projeto, com a redação e revisão deste relatório final. 6 III – MÉTODO E MATERIAL UTILIZADO Esta pesquisa foi analisada à luz dos Estudos Multiculturais, da Análise Crítica do Discurso, da AD de orientação francesa e das Teorias Literárias, entremeando-se as ideias contidas nestes textos teóricos e o discurso presente na obra Desonra. Embasaram a pesquisa os principais fundamentos da Análise Crítica do Discurso, como a abordagem dos problemas sociais, as relações de poder contidas nos discursos, o modo como o discurso realiza um trabalho ideológico e como constitui a sociedade e a cultura. Percebe-se também nestes fundamentos que o discurso é histórico e uma forma de ação social. O enquadre teórico-metodológico escolhido para o desenvolvimento deste trabalho, focaliza o discurso como parte das práticas sociais, como um modo de ação historicamente situado. Tal concepção considera que, por um lado, nas sociedades existem estruturas que organizam a produção discursiva e que, por outro, cada formulação nova é uma ação sobre tais estruturas, que pode tanto contribuir para a continuidade quanto para a transformação de formas recorrentes de ação. O multiculturalismo histórico também contribuiu com a análise da obra, na medida em que seus pressupostos teóricos abarcam características da “modernidade tardia”1 (Hall, 1997), momento em que se concentram as discussões sobre a influência dos discursos na constituição de identidades dos sujeitos sociais. Por último, a análise crítica explanatória dos modos pelos quais representações particulares das personagens femininas presentes na obra em questão são permeadas pela relação entre discurso, ideologia e poder, que podem demonstrar projetos de dominação, mas também apontam, em alguns momentos, para a possibilidade de subversão, via discurso, relações de poder assimétricas. Partiu-se do entendimento de que há uma dialética entre discurso e sociedade. Em outros termos, a estrutura social molda os discursos, mas estes são 1 Fase de desenvolvimento das instituições modernas, marcada pela radicalização dos traços básicos da modernidade: separação de tempo e espaço, mecanismos de desencaixe e flexibilidade institucional. Em vários aspectos, as instituições modernas apresentam certas descontinuidades em relação a culturas e modos de vida pré-modernos em decorrência de seu dinamismo, do grau de interferência nos hábitos e costumes tradicionais e de seu impacto global.(Giddens, , 2002 apud Resende & Ramalho (2006, p.30). 7 também constitutivos da estrutura social. Portanto, a relação entre sociedade e linguagem não é externa, e sim interna. Deste modo, o uso da linguagem não pode ser considerado como uma atividade puramente individual, mas como forma de prática social. Isso implica entender o discurso como um modo de ação, uma maneira de agir sobre o mundo, sobre o outro e, especialmente, como um modo de representação. A linguagem é um modo de interação e produção social. Na visão de Bakhtin (2002), a linguagem é polifônica, ou seja, todos os discursos são parte de uma cadeia dialógica, na qual respondem a discursos anteriores e antecipam discursos posteriores de variadas formas. Segundo ele, a interação é uma operação que retoma vozes anteriores e antecipa vozes posteriores da cadeia de interação verbal, viabilizando a análise de contradições sociais e lutas pelo poder. Foucault (2003) desenvolveu o princípio da “linguagem como espaço de luta hegemônica”, no qual destaca a face constitutiva do discurso, concebendo a linguagem como uma prática que constitui o social, os objetos e os sujeitos sociais. O filósofo defende a ideia de regulação social sobre as formações discursivas, ou seja, existe um sistema de regras sobre o que pode e deve ser dito a partir de uma posição dada em uma conjuntura determinada. O autor defende a existência de práticas discursivas disciplinadoras que “fabricam indivíduos ajustados às necessidades do poder”. Norman Fairclough, linguista britânico, cunhou o termo Análise Crítica do Discurso em 1985. Fairclough (1989) propõe a conscientização sobre os efeitos sociais de textos, chamando a atenção para as relações assimétricas de poder, parcialmente sustentadas pelos discursos. Para o linguista: A ideologia é mais efetiva quando sua ação é menos visível. Se alguém se torna consciente de que um determinado aspecto do senso comum sustenta desigualdades de poder em detrimento de si próprio, aquele aspecto deixa de ser senso comum e pode perder a potencialidade de sustentar desigualdades de poder, isto é, de funcionar ideologicamente. (tradução nossa)- (1989, p.85). Resende (2006) ressalta que 8 A representação de um discurso não é uma mera questão gramatical, ao contrário, é um processo ideológico cuja relevância deve ser considerada. Analisar em textos quais vozes são representadas em discurso direto, quais são representadas em discurso indireto e quais as consequências disso para a valorização ou depreciação do que foi dito e daqueles(as) que pronunciaram os discursos relatados no texto pode lançar luz sobre questões de poder no uso da linguagem. (RESENDE, 2006, p.67). De grande importância para os estudos discursivos são discussões a respeito do aspecto constitutivo dos discursos, a interdependência das práticas discursivas e a natureza discursiva do poder e da mudança social. Em outras palavras, interessam-nos quais as práticas discursivas dentro de uma sociedade e o relacionamento existente entre elas, assim como a relação entre o discursivo e o não-discursivo (Foucault, 2003). Os estudos desenvolvidos por Fairclough contribuem tanto para a conscientização sobre os efeitos sociais de textos A contribuição dos estudos desenvolvidos por Fairclough está na possibilidade de uma conscientização tanto sobre os efeitos sociais dos textos, como para as mudanças sociais que superassem relações assimétricas de poder sustentadas por discursos. De acordo com essa abordagem, A ideologia é mais efetiva quando sua ação é menos vivível. Se alguém se torna consciente de que um determinado aspecto do senso comum sustenta desigualdades de poder em detrimento de si próprio, aquele aspecto deixa de ser senso comum e pode perder a potencialidade de sustentar desigualdades de poder, (FAIRCLOUGH, 1989, p. 85). IV – RESULTADOS OBTIDOS isto é, de funcionar ideologicamente 9 Desde o início do trabalho de pesquisa, as leituras trouxeram muitas informações e debates sobre posições ideológicas, dominação, exclusão social e preconceito nos discursos. O estudo das teorias da Análise Crítica do Discurso possibilitou perceber mais claramente como funciona o processo de inserção de posições ideológicas dentro dos textos orais e escritos, que por serem práticas sociais estão sempre carregadas das ideologias dos sujeitos que a produzem. Por este motivo, é preciso levar em consideração os processos histórico-sociais em que o sujeito e seu discurso estão inseridos. Assim, a leitura que havia sido feita sobre a História da África do Sul e do apartheid facilitaram a compreensão da dominação, exclusão social e revolta das personagens negras do romance Desonra e do discurso presente na obra. Essa sociedade, descrita com tanto realismo na obra de Coetzee, apesar do término do regime de segregação racial, ainda está inserida em uma série de conflitos nas ordens social, econômica e cultural, o que provoca uma inquietação nos seres humanos. E isto traz à Desonra personagens com diferentes histórias e múltiplos discursos para serem analisados. Por exemplo, quando a personagem David afirma que o filho negro que Lucy espera “[...] não passa de um verme no útero de sua filha, uma semente enfiada na mulher não por amor, mas por ódio, misturada caoticamente, com a intenção de sujá-la, de marcá-la, como urina de cachorro” (COETZEE, 2000, p. 224). Revelando uma prática discriminatória visível, cuja base mental consiste em modelo tendencioso de interação enraizado em preconceito e ideologia racista. Pressupõe representações mentais socialmente compartilhadas e negativamente orientadas historicamente. Thompson (1998, p. 45) sugere que “ao interpretar as formas simbólicas, os indivíduos as incorporam na própria compreensão que têm de si mesmos e dos outros, as usam como veículos para reflexão e auto-reflexão”. A noção de “reflexividade” da vida moderna (Fairclough,1999; Giddens, 2002), diz respeito à revisão intensa, por parte dos atores sociais, da maioria dos aspectos da atividade social, à luz de novos conhecimentos gerados pelos sistemas especialistas. Fairclough afirma que em razão da relação entre o conhecimento e o monitoramento reflexivo da ação pelos sujeitos sociais, a reflexividade inerente à ação humana foi “externalizada” na modernidade, ou seja, as informações de que os 10 atores sociais se valem para a reflexividade vêm “de fora”, ou seja, de novas formas simbólicas veiculadas por diferentes mídias. Com base na noção de reflexividade, Giddens entende a constituição de identidade como uma construção reflexiva, a partir da qual as pessoas operam escolhas de estilos de vida, ao contrário das sociedades tradicionais, em que a tradição determina as escolhas. O conceito de reflexividade diz respeito à possibilidade de os sujeitos construírem ativamente suas auto-identidades, em construções reflexivas de sua atividade na vida social. Entretanto, segundo Fairclough (1999), as identidades sociais são construídas por meio de classificações mantidas pelos discursos. Sendo assim, por serem construídas discursivamente, as identidades também podem ser contestadas no discurso. Fairclough aponta para uma orientação em que há a possibilidade de mudança social. Na perspectiva teórica da Análise Crítica do Discurso, a vida social é organizada em torno de práticas, ações habituais da sociedade institucionalizada, traduzidas em ações materiais, em modos habituais de ação historicamente situados. O discurso é, então, uma prática, ou um “momento de prática social” (Fairclough, 1999). Em uma relação dialética, o discurso é tanto um elemento da prática social que constitui outros elementos sociais, como também é influenciado por eles. Desse modo, Uma prática particular traz consigo diferentes elementos de vida – tipos particulares de atividade, ligadas de maneiras particulares a condições materiais, temporais e espaciais específicas; pessoas particulares com experiências, conhecimentos e disposições particulares em relações sociais particulares; fontes semióticas particulares; e assim por diante. “Uma vez que esses diversos elementos da vida são trazidos juntos em uma prática específica, nós podemos chamá-los “momentos da prática” e ver cada momento como ‘internalizando” os outros sem ser redutível a eles. (FAIRCLOUGH, 1999, P. 21). A análise do relacionamento amoroso entre David Lurie e Melanie Isaacs é demonstrativa da internalização de momentos da prática no discurso, da interiorização das relações sociais e das ideologias no discurso. Melanie é uma mulher negra vítima da exploração do homem branco (David), em razão de uma visão estereotipada de mulher difundida ao longo da história. “Desde a colonização a mulher negra tornou-se objeto de realização dos desejos 11 sádicos e caprichos sensuais dos homens brancos, sendo muitas vezes violadas pelos europeus e exploradas sexualmente” (FREIRE, 1992, p. 108-109). Melanie é o estereótipo da mulher inferior, submissa e símbolo de objetivação, vítima da ideologia européia, cujo objetivo era “dominar os povos considerados inferiores à raça branca” (PEREIRA, 1978, p.. 15). Segundo Sant’Ana (1999, p. 57), o estereótipo tem por característica a tendência à padronização, à eliminação das qualidades individuais e das diferenças, com a ausência total do espírito crítico. Melanie “é pequena e magra, de cabelo curto e preto, maçãs do rosto largas, quase chinesas, olhos grandes e escuros. Sua roupa é sempre espalhafatosa” (COETZEE, 2000, p.18), “é inteligente até, mas não empenhada” (COETZEE, 2000, p.18), características estas, que fazem David acreditar na superioridade dele e na inferioridade e ingenuidade dela. A beleza exótica e a aparente ingenuidade de Melanie fazem com que os olhos do professor David Lurie, homem branco, de comportamento sedutor e manipulador, passe a observá-la e seduzi-la, uma vez que essa postura do professor “não é novidade: não há semestre em que ele não se apaixone por uma de suas crias” (COETZEE, 2000, p.19). Para David, Melanie não passa de uma aventura machista, já que ela é só mais uma das muitas mulheres que seduziu e dominou. Entretanto, como sente-se atraído pela jovialidade e sensualidade da estudante, se aproveita do fato de ela ser negra e viver longe dos pais, acreditando na suposta ingenuidade dela. Chega o momento em que David a convida para passar a noite com ele: “fique aqui. Passe a noite comigo” (COETZEE, 2000, p. 23). Como instrumento de conquista, David diz: [ ] a beleza de uma mulher não é só dela. É parte do dote que ela traz ao mundo. Ela tem o dever de repartir com os outros (grifo nosso). (COETZEE, 2000, p.23). Na fala de David é possível verificar a ação da ideologia e a força de uma formação discursiva, a qual estabelece o que pode e deve ser dito em uma conjuntura dada. Seu discurso é demonstrativo de uma prática discursiva que naturaliza as práticas sociais e o comportamento dos sujeitos. Em outros termos, é natural que Melanie aceite repartir com ele toda a sua beleza, aceitando deitar-se com ele. 12 [ ] ele abraça-a, ela escapa do abraço e vai embora. (COETZEE, 2000, p.24). Percebe-se a dominação social e sua reprodução em práticas sociais cotidianas no trecho: "A brutalidade praticada contra Lucy revela toda a história colonial e uma história de exploração. David afirma que pode ter parecido pessoal, mas não era. Vem desde os ancestrais. Era a história falando por meio deles” (COETZEE, 2000, p. 178). Em que fica aparente a forma de construção de um dizer, cuja apreensão do real, oferece o sentido de processo, portanto de história revelando tensões no real presente. A memória transformada em cenário individual ou coletivo remete a marcos e situações privilegiadas que se recusam a morrer ou a ser esquecidas, que insistem em produzir e atribuir sentidos. A memória e seu registro discursivo permitem a compreensão do encontro e do arranjo de múltiplas formas de sociabilidade e de produção de sentidos V – POSSÍVEIS ALTERAÇÕES NO PLANO DE ATIVIDADES 13 Em comparação com o cronograma de execução do projeto inicial, a única alteração ocorrida foi a data para participação no SAPEX (Simpósio de Atividades de Pesquisa e Extensão), que passou do mês de outubro para novembro. VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS 14 O estudo das teorias da Análise do Discurso possibilitou perceber como funciona o processo de inserção de posições ideológicas dentro dos textos orais e escritos. Por este motivo, é preciso levar em consideração os processos históricosociais em que o sujeito e seu discurso estão inseridos. Assim, a leitura que havia sido feita sobre a História da África do Sul e do apartheid facilitaram a compreensão da dominação, exclusão social e revolta das personagens do romance Desonra e do discurso presente na obra. Esta sociedade, descrita com realismo na obra de Coetzee, apesar do término do regime de segregação racial, ainda está inserida em uma série de conflitos nas ordens social, econômica e cultural, o que provoca uma inquietação nos seres humanos. E isto traz à Desonra personagens com diferentes histórias e múltiplos discursos para serem analisados. Observou-se que o romance Desonra concede voz aos sujeitos normalmente marginalizados, trazendo por meio de seus discursos um ângulo diferente para a compreensão do período pós-apartheid e do processo de inserção dos negros e mulheres como sujeitos pensantes e ativos na sociedade. As personagens foco da pesquisa sofrem opressão, desigualdade e preconceito. Porém, ao mesmo tempo mostram-se capazes de construir suas subjetividades, firmando-se como indivíduos dignos de respeito e capazes de tomarem suas próprias decisões em uma sociedade consolidada sobre os valores da cultural patriarcal, machista e fortemente influenciada pela segregação racial. VII – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15 BAKHTIN, MIHAIL. Marxismo de filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2002. COETZEE, John Maxwell. Desonra. Tradução José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 FAIRCLOUGH, Norman. Discourse and social change. New York: Longman, 1999. FOUCAULT, Michel. A ordem do Discurso. 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