O Círculo das Virtudes - Cibernética aplicada à - Facom-UFBA

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O Círculo das Virtudes
CIBERNÉTICA APLICADA À COMUNICAÇÃO
Marcelo Bolshaw Gomes1
Os livros estão caros porque existem poucos leitores e existem poucos leitores
porque os livros são caros; estou doente porque não tenho qualidade de vida e não
tenho auto-estima porque estou doente; os biscoitos não vendem porque são velhos e
estão velhos porque não foram vendidos - a vida é cheia de Círculos Viciosos, isto é: de
ciclos de recorrência em que os fatores causais se condicionam mutuamente
impedindo o desenvolvimento ou o funcionamento regular do sistema em questão. Em
contrapartida, também existem os Círculos Virtuosos, ou ciclos de excelência, em que
os fatores causais se retroalimentam determinando uma crescente otimização do
sistema: muitos leitores = livros baratos = mais leitores; qualidade de vida = saúde =
auto-estima; biscoitos fresquinhos = boas vendas = novos biscoitos fresquinhos.
Então, essa é a questão central de que me coloco (tanto do ponto de vista
teórico como do existencial) há algum tempo: como transformar os ciclos viciosos em
ciclos virtuosos? E mais: como e porque a ordem dos fatores causais altera o resultado
do sistema? Quais os fatores da excelência comuns a um 'sistema ótimo' e a uma vida
criativa? É possível estabelecer uma nova teoria cibernética centrada na idéia de
desenvolvimento pessoal?
1
Mestre em ciências Sociais e professor de Comunicação Social da UFRN.
2
O presente texto, O Ciclo das Virtudes, é ainda um passo muito pequeno na
resposta dessas perguntas. Ele pretende, sobretudo, dar continuidade ao projeto
iniciado no Encantador de Serpentes2, aplicando agora o estudo cibernético dos ciclos
de auto-reforço3 ao universo da comunicação, tanto do ponto de vista teórico,
semiótico, como do ponto de vista prático, jornalístico. Pois será, como se verá no
final, através dessa re-união da teoria da comunicação com a prática jornalística que
poderemos responder, mesmo que parcialmente, às questões mais gerais enunciadas.
Porém, antes de mais nada, há dois pontos que preciso corrigir em relação a
meus trabalhos anteriores, principalmente em relação ao livro Um mapa, uma bússola Hipertexto, Complexidade e Eneagrama (GOMES, 2001). O primeiro seria um certo
psicologismo, em parte decorrente da análise muito centrada no 'Eneagrama da
Personalidade'. Realmente, tomada a primeira parte do livro, mais centrada no
pensamento pós-moderno de Michel Foucault que na classificação individual dos egos,
se deduziria uma síntese um pouco diferente da apresentada na conclusão do
trabalho. O segundo equívoco cometido foi um 'erro de escala', em parte resultante do
primeiro ponto, foi o erro de subtrair toda uma dimensão objetiva, simétrica ao
psicologismo, e assim confundir-me na definição dos macro-ciclos e do uso do
eneagrama como modelo de investigação do ruído em uma ótica mais abrangente.
2
O Encantador de Serpentes. Natal, 1999. <http://www.angelfire.com/mb/oencantador/>
A Cibernética já reconhecia dois tipos de 'feedbacks' ou retroalimentações eletromecânicas: as de autoregulação (em que um esforço é equilibrado pelo seu inverso, assim: ‘quanto mais x, menos y; quanto menos
x, mais y’) e as de auto-reforço (de onde mais tarde surgem a teoria do caos e dos sistemas complexos). No
primeiro caso não faltam exemplos: a mão invisível entre a oferta e a procura de Adam Smith, o controle
mútuo das instituições americanas, o equilíbrio das bicicletas, o próprio zig-zag do timão dos barcos que deu
nome a cibernética. A Cibernética, na verdade, aperfeiçoou a noção de auto-regulação do funcionalismo (T.
Parson, R. Merton) que a considerava como uma sincronia das partes (as instituições) em relação ao todo (a
sociedade). Wiener deu uma dimensão histórica à ‘homeostase’ e inseriu a categoria de ruído no lugar da
‘disfunção’ do sistema. Hoje, a auto-regulação é uma relação dialética entre o passado e o presente, entre
história e sociedade, em que as ações passadas determinam a situação atual que, por sua vez, determina a
memória que temos dos fatos. Em contrapartida, os retornos de auto-reforço e de crescimento exponencial
(epidemias, desequilíbrio dos sistemas ambientais, doenças) não foram muito desenvolvidos pela Cibernética.
Foi o estudo dos sistemas complexos que compreendeu a ‘retroalimentação cibernética de auto-reforço’ uma
relação dialética entre o futuro (o virtual) e o presente (o atual): “o que penso determina o que sou e o que sou
determina o que vou ser”. Wiener reconhecia três versões de auto-reforço: o ‘efeito popularidade’ ou a
tendência de uma causa ganhar apoio simplesmente devido ao número crescente dos que aderem a ela; a
‘profecia’ ou a maldição que se auto-realiza, na qual ‘os temores originalmente infundados levam a ações que
fazem os temores se tornarem verdadeiros’; os ‘círculos viciosos’ em que fatores causais opostos e
complementares se realimentam ao infinito.
3
3
Melhor explicando: o Eneagrama, ou estrela de nove pontas, é uma mandala,
que, segundo místico armênio G. Gurdjieff e seus seguidores (OUSPENSKY, 1980),
explicaria tanto o funcionamento do homem como o do universo. Esse diagrama
simbólico, visto como um sistema de compulsões dos vícios e virtudes do ego, foi
retomado por Cláudio Naranjo (NARANJO, 1996), tornando-se uma tipologia
psicológica de Nove Tipos de Personalidade (ANEXO I).
No meu livro, o objetivo não era apenas o de apresentar criticamente as
diferentes interpretações esotéricas e psicológicas do Eneagrama, mas principalmente
de extrair delas elementos significativos para uma reconstrução do símbolo dentro do
universo da cultura contemporâneo e da teoria da complexidade. Assim, retomando as
idéias de outro célebre discípulo de Gurdjieff (BENNETT, 1999) e as recolocando em
um contexto científico contemporâneo, o livro desenvolve a noção do Eneagrama
como um modelo de sistema complexo capaz medir ruído e auto-organização,
associando os fatores dinâmico e sincrônico aos aspectos objetivo e subjetivos.
PRIMEIRO MODELO DE BÚSSOLA COMPLEXA
8, 9 e 1
COGNITIVO NATUREZA
SER
2, 3 e 4
SEMIÓTICO
CULTURA
PRESENTE
5, 6 e 7
SOCIAL
SOCIEDADE
HISTÓRIA
Como exemplo de uma possível aplicação deste modelo, também defini neste
trabalho uma 'Grande Bússola Complexa' - um mecanismo de contagem do tempo,
soma e inversão do relógio e do cronômetro, capaz de medir o ruído em processos de
recepção. A Bússola, então, seria um grande eneagrama-síntese, formado por três
eneagramas secundários: o Cognitivo, o Semiótico e o Social.
4
Ou seja: esses três fatores de um grande ciclo principal, referentes aos tempos
biológico (8, 9 e 1), presente (2, 3 e 4) e histórico (5, 6 e 7), teriam uma autonomia que
nos permitia representá-los como ciclos em si, ou eneagramas secundários. Agora, nos
parece mais lógico, aliás, seguindo o modelo foucaultiano que já tínhamos adotado
(GOMES, 2000), subdividir as relações sociais em relações de produção, de
comunicação e de poder. Assim, nosso primeiro reparo é a substituição do 'eneagrama
cognitivo individual' por um 'Eneagrama das condições de produção'. Esse enfoque
mais econômico e dentro de um sistema de cognição coletiva corrige 'o psicologismo'
de minha primeira formulação e a compatibiliza com os modelos sociológicos mais
tradicionais, como o marxista ou o weberiano, que postulam a separação metodológica
dos aspectos materiais dos imateriais.
A outra correção é que a 'Grande Bússola Complexa' deveria medir o grande
ciclo formado pelos fatores: a esfera inorgânica (aspecto fixo: não havendo sub-ciclo,
não eneagrama secundário); a esfera orgânica (com um sub-ciclo semelhante à síntese
do eneagrama gurdjieffiano); e, finalmente, a esfera social (este sim, formado pela
síntese de três eneagramas secundários: econômico, cultural e político).
MODELO ATUAL DE BÚSSOLA COMPLEXA
INORGÂNICO
EXTERIOR/FÍSICO (8) - INTERIOR/QUÍMICO (9)
ORGÂNICO
SOCIAL
HIDROFESRA (2) - ATMOSFERA (3) - BIOESFERA (4)
ECONÔMICO (5) - CULTURAL (6) - POLÍTICO (7)
Comparando os dois modelos, se perceberá que, no primeiro, realmente cometi
um erro de escala, identificando o sub-ciclo social como a idéia de um grande
5
eneagrama geral e não apenas como um de seus fatores dinâmicos, como no novo
modelo. Este, além de admitir e detalhar a existência de fatores não-sociais na Bússola
Complexa, também valoriza e compreende a idéia de um fator não cíclico: a esfera
inorgânica. E esse foi o segundo erro: uma bússola complexa total do grande ciclo
'Sociedade/Vida orgânica/Esfera inorgânica', devido a existência de um fator fixo e
um ciclo elíptico, não é bem representado pelo círculo eneagramático.
Ou seja: o Eneagrama como modelo de complexidade é ainda uma
simplificação redutora para os macro-ciclos reais. Seria necessário substituir o círculo
de um único centro por uma elipse com dois vórtices, uma para a organização e outro
para o ruído. Essa troca do círculo pela elipse, representa uma distinção entre o ruído
subjetivo (a rotação centrífuga) e o ruído objetivo (representado no eneagrama pelo
ponto 6,666... e na elipse pelo segundo vórtice).
Essas duas correções simétricas (o psicologismo e o erro de escala/exclusão de
fatores não-sociais), no entanto, podem levar a crer que em uma certa
'universalização' do eneagrama como modelo complexo e que seu método definisse
não apenas os ciclos de todos os universos, mas também a própria hierarquia entre
esses universos cíclicos. Porém, essa não é a realidade. O Eneagrama é um modelo
indicado apenas para medir processos circulares (com um único ponto de chegada e
partida) fracionados em três fases e em três níveis dinâmicos. Ele não admite fatores
fixos, nem ciclos elípticos e, portanto, é um modelo matemático ideal que contrasta
com os ciclos reais e com o ruído. Isso, não significa o Eneagrama que seja o único
modelo ou que sua estrutura seja absoluta.
Porém, o fato é que existem também alguns ciclos artificiais idealizados dentro
de uma 'circularidade perfeita' - a Semiótica, por exemplo - em que a aplicação do
modelo do Eneagrama é bastante interessante.
6
O ENEAGRAMA SEMIÓTICO
Para utilizar o Eneagrama como modelo deve-se observar o movimento
circular externo de um determinado acontecimento em três etapas sucessivas. O
Eneagrama pressupõe uma certa circularidade ou a retroalimentação de fatores
causais. Digamos que o fator A alimenta B que alimenta C que novamente alimenta A.
(A-B-C-A) Quando os fatores causais resultarem em uma concentração de energia do
sistema dizemos que eles giram para dentro, no sentido horário (A>B>C>A), então há
um Círculo Virtuoso; em contrapartida, quando os fatores causais se retroalimentarem
de forma a provocarem expansão e a crescente perda de energia do sistema, girando
para fora no sentido anti-horário (A>C>B>A), tanto pode haver um Círculo Vicioso
como um Círculo Criativo.
Assim, no Eneagrama Semiótico, duas rotações possíveis: a centrípeta, em que
o campo afetivo e a subjetividade do narrador (2, 3 e 4) colaboram para interpretação
crítica (5, 6 e 7) dos acontecimentos narrados (8, 9 e 1); e a centrífuga, em que os fatos
(1, 9 e 8) são interpretados dentro de uma sistema de valores (7, 6 e 5) e se
dramatizam (4, 3 e 2) na forma de preconceitos e/ou de preceitos de conduta. Ou
ainda: há uma rotação em que ciência (9) e a arte (3) se somam em uma nova política
(6) e outra, em que as racionalidades científica e política (9 e 6) antecedem o fazer
artístico (3); há um movimento rodando no sentido em que a referência e o
significante organizam um significado e um movimento girando no sentido em que o
objeto é significado antes de ser sentido.
7
Pela teoria do eneagrama deve-se observar, além desse movimento externo de
um determinado acontecimento em três etapas sucessivas, os movimentos internos aos
sistemas circulares através da divisão da unidade pelo número 9. O resultado é a
dízima periódica 1428571... correspondendo aos pontos internos do Eneagrama. Dessa
forma, cada fração representa um dos pontos secundários do eneagrama e também o
movimento entre eles, tanto no sentido horário quanto no anti-horário.
OBJETIVIDADE
9-3-6-9 é Virtuoso
SUBJETIVIDADE 1-7-5-8-2-4-1 é Virtuoso
9-6-3-9 é Vicioso e/ou Criativo
1-4-2-8-5-7-1 é Vicioso e/ou Criativo
De modo que, além dos ciclos Virtuoso e Vicioso de 3 fatores exteriores e
objetivos, o modelo do Eneagrama apresenta ainda a possibilidade de representação
dos elementos subjetivos de diferentes agentes em cada ponto do processo, tanto no
sentido horário como no anti-horário. No Eneagrama Semiótico, o ciclo virtuoso
subjetivo (1-7-5-8-2-4-1) de uma mensagem seria assim:

Círculo Virtuoso - Algo, uma coisa, um fato (O QUE/1) é comunicado por alguém (QUEM/7),
por algum motivo (PORQUE/5), em determinado contexto (ONDE E QUANDO/8), para outras
pessoas (PARA QUEM/2) através de um meio ou canal (COMO/4). Então, reconstruímos o
fato subjetivamente sem ruído (O QUE/1).
Já no ciclo subjetivo anti-horário (1-4-2-8-5-7-1) duas opções concomitantes são
possíveis, o círculo vicioso e a mudança:

Círculo Vicioso - O fato (O QUE/1) descrito ideologicamente (COMO/4) e em função de um
público determinado (PARA QUEM/2) torna-se mais arbitrário (ONDE E QUANDO/8) e
dogmático (PORQUE/5), ocultando a identidade do emissor (QUEM/7) e sua relação com o
fato (O QUE/1).

Círculo Criativo - Um fato (O QUE/1) descrito poeticamente (COMO/4) apela para os
sentimentos do público (PARA QUEM/2) para além de seu contexto imediato (ONDE E
QUANDO/8) e de seu código e de seus costumes (PORQUE/5), estabelecendo uma nova forma
de ver (QUEM/7) o acontecimento descrito (O QUE/1).
8
É claro que, na prática, a realidade se constitui simultaneamente de tendências
centrípetas e centrifugas. Também é importante compreender que nem sempre
fatores restritivos e entrópicos são maléficos e fatores sinérgicos, benéficos. Ao
contrário, muitas vezes a tendência à conservação de energia de um sistema é
reacionária em relação às mudanças, enquanto os fatores caóticos e o ruído
demandam uma desorganização necessária ao crescimento.
ELEMENTO FUNÇÃO DA LINGUAGEM
ADVÉRBIO
1 CONTATO
FÁTICA
O QUE
2 RECEPTOR
APELATIVA
PARA QUEM
SIGNIFICANTE (Imagem)
-
POÉTICA
COMO
3
-
4 MENSAGEM
5
CÓDIGO
METALINGÜÍSTICA
PORQUE
6
-
SIGNIFICADO (Conceito)
-
7 LOCUTOR
EMOTIVA
QUEM
8 CONTEXTO
REFERENCIAL
ONDE E QUANDO
OBJETO DE REFERÊNCIA
-
9
-
Nesse contexto, chamo de Círculo Virtuoso todos os ciclos centrípetos que se
aperfeiçoam, que busca a excelência, dentro de determinadas regras e situações dadas,
e de Círculo Vicioso (ou Círculo das Paixões) aqueles ciclos que não se desenvolvem
dentro das condições determinadas e que permanecem em condição estacionária. Os
Círculos Criativos, ou auto-poéticos, são os ciclos que, ao invés de simplesmente aceitar
ou negar as condições pré-estabelecidas, as modificam, instituindo assim uma nova
ordem a partir do ruído.
Mas deixemos este terceiro ciclo por hora. O importante agora, mais do que
nos deter na aplicação do eneagrama à teoria semiótica, é observar como utilizar essas
informações nas práticas jornalísticas e, sobretudo, nas possibilidades voltadas para o
ensino de comunicação social.
9
O ENEAGRAMA JORNALÍSTICO
Em O Encantador de Serpentes defini a diferenciação metodológica entre
pauta/ciência (objetividade), reportagem/arte (subjetividade) e edição/interatividade
(intersubjetividade). Segundo essa distinção, o discurso comunicacional, tanto do
ponto de vista do seu processo industrial de produção como na elaboração coletiva de
seu texto, se constitui de três etapas distintas simultâneas e seqüenciais ao mesmo
tempo: a produção, a reportagem e a edição. A produção corresponde à objetividade
científica necessária ao planejamento das pautas; a reportagem, à arte dialógica da
entrevista e a transmissão presencial da subjetividade; e, finalmente, a edição
corresponde à vontade e ao jogo político em seus diferentes aspectos.
Pode-se, então, pensar - a partir desses fatores e utilizando as informações e os
conceitos da teoria semiótica - em uma aplicação prática e específica do Eneagrama à
mídia e ao processo industrial de produção de informação.
As empresas de comunicação (agências, produtoras e veículos) são
organizações de produto diário (assim como os bancos e as padarias) porque têm um
‘dead-line’, ou seja, uma linha de produção de atividade seqüenciais que trabalha
'contra o relógio', em que os bens produzidos têm uma hora certa para estarem
finalizados e concluídos. Antes do advento da informática, as empresas de produto
diário seguiam o modelo do jornal impresso, da organização fabril taylorista e de sua
produção escalonada em série (as atividades seqüenciais) em oposição às atividades de
manutenção (atividades paralelas do organograma).
Antigamente, os jornalistas eram forjados na contramão da linha de
montagem. A carreira começava vendendo jornal; alguns passavam a gráficos
trabalhando nas máquinas; os atentos chegavam aos tipos; sabendo-se bem português,
passava-se para revisão; aprendendo-se datilografia, tornava-se mecanógrafo;
começava então o aprendizado dos conteúdos até um dia se estar preparado para a
reportagem, o copydesck e edição.
10
Porém, com a chegada das tecnologias audiovisuais e em rede houve mudanças
estruturais na produção industrial da subjetividade4. Ganhamos tempo e qualidade de
vida, mas perdemos aquele aprendizado do tempo regressivo que permitia apreender
o texto em tempo real e o jornalismo como estilo de vida. Aos poucos, como a
reportagem passou a ser transmitida ao vivo, o perfil dos profissionais se modificou
bastante. O modelo da televisão também modificou bastante a forma de organização
das funções jornalísticas tradicionais dentro de uma redação. Esta mudança na
organização do trabalho se deu em dois eixos:
A) Funcionalizar
a
estrutura
vertical
da
redação
em
três
poderes
interdependentes, representado por três eneagramas secundários referentes
aos processos de direção de redação, chefia de reportagem, edição geral.
Chefe de Reportagem
Gerente de processo avalia e administra os meios.
Editor-chefe
Gerente de produto avalia e administra os resultados ou fins.
Diretor de Redação (ou de Gerencia e avalia pessoas e princípios, supervisiona a Reportagem e a
Jornalismo)
Edição, e dirige a produção de pautas.
B) Ganhar tempo horizontalmente (com pauta, reportagem e edição simultâneas
ou multi-seqüenciais na linha de produção) representado pelo grande
Eneagrama a seguir.
4
Cito três principais: a) A informação deixou de ser aferida pelo espaço que ocupa, mas pelo tempo que dura.
O modelo de organização da mídia passou a ser a empresa de televisão e não mais o jornal impresso, houve
uma brutal diminuição e diversificação das atividades seqüenciais da linha de produção. b) A tercerização da
produção. Essa diminuição técnica da linha de montagem exige do profissional de comunicação domine os
diversos aspectos técnicos que envolvem a produção, conhecendo funções que antes eram executadas apenas
por especialistas, tais como câmera, operador de VT, editor e diretor de imagem, sonoplastia e iluminação. As
novas tecnologias não apenas tendem diminuir a especialização técnica, mas, sobretudo, a transformação dos
profissionais de comunicação de empregados assalariados em pequenos empreendedores independentes, que
vendem seus serviços às empresas. c) O aparecimento da internet acrescenta a questão da interatividade (o
acesso do consumidor aos meios de produção de informação) e da segmentação da audiência em diferentes
grupos de interesse. No caso do ensino de jornalismo, a publicação de páginas na web em provedores de
hospedagem gratuita, praticamente elimina todos os custos, equipamentos e técnicos necessários pelo
jornalismo impresso e televisivo, permitindo um acesso simples, fácil e de grande visibilidade.
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ENEAGRAMA DA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA
A pauta (ponto 1) é o texto de planejamento preliminar na organização do processo de
comunicação e deve antecipar os principais pontos da reportagem (ponto 4), imaginando
como apresentá-los (ponto 7). Aqui a objetividade deve ser detalhada com clareza e
imparcialidade e as informações essenciais aparecem na forma do 'lead' (o que, quem,
como, porque, onde e quando). Quando, ao invés de girar no sentido horário, o PúblicoAlvo (ponto 9) e suas exigências editoriais e mercadológicas formatam diretamente a
Edição (ponto 6) em detrimento da experiência viva da Entrevista (ponto 3), temos um
processo de comunicação mais dedutivo que indutivo, que tanto pode levar ao
aparecimento de ciclos viciosos e procedimentos recorrentes como à renovação das
próprias regras e exigências. No ciclo centrífugo, ao invés de rodar para uma lado mais
descritivo e apelativo (1-2), recortando um fato e sua relevância subjetiva, a produção de
mensagens se torna mais artificial ditatorial e distante do campo afetivo. A passagem do
Público-Alvo ao Produto (9-8) representa uma censura prévia a todos os aspectos
considerados nocivos e uma adequação apriori do aspecto subjetivo ao fator mercadológico.
A Apuração (ponto 2). Senso de oportunidade, intuição, seletividade e capacidade de
escolha de ênfase emocional de alguns aspectos sobre outros. O que chamamos de apuração
não se limita à conferência da pauta. Aqui um dos itens do 'lead' é escolhido como 'gancho'
e um aspecto do fato é ressaltado em relação a outros. Nesse ponto, mantemos a atenção na
Reportagem (ponto 4), mas deslocamos nossa imaginação do aspecto formal da pauta, para
analisá-los do ponto de vista de sua realização prática (ponto 8). Tanto o ponto 1 como o 2
colocam o campo racional em terceiro lugar, porém enquanto o número 1 corresponde à
introversão do campo físico, o número 2 representa o emocional extrovertido. Entre os dois
pontos há uma passagem entre a interiorização do exterior (ponto 1) para a exteriorização
do interior (ponto 2). Do 'O que' (função fática) para o 'Para Quem' (função apelativa).
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A Entrevista (ponto 3) é o coração da notícia. Por isso, para muito, ela é considera uma
arte e não uma técnica (CREMILDA, 1986). Porém, para além da arte da simples conversa,
da dialógica clínica de grandes pensadores como Platão e Freud, ou do mero encontro entre
entrevistador e entrevistado, a entrevista comunicacional encerra uma terceira presença:
uma audiência de receptores. Por isso ela nos remete diretamente ligada às idéias de
Público-Alvo (ponto 9) e Edição (ponto 6). No sentido horário, a entrevista é o momento
em que a produção da Imagem e do Significante da mensagem antecede a sua interpretação
mental pela edição. No sentido anti-horário, temos tanto as entrevistas pré-editadas, em que
tudo é previsível, representando ou círculos viciosos como também as entrevistas mais
interativas, em que o público participa efetivamente e em tempo real das perguntas e das
reações dos interlocutores da entrevista.
A Reportagem se configura quando, no momento seguinte, o esforço emocional do
repórter (ponto 2) se combina ao planejamento do pauteiro (ponto 1). Os pontos 4 e 5
marcam a confecção do texto propriamente a partir da interpretação emocional e mental da
entrevista. A reportagem e o ponto 4 representam o emocional introvertido com o aspecto
mental como função secundária. Tanto o ponto 5 como o 4 são introvertidos e colocam o
aspecto físico em terceiro lugar, mas a prioridade entre o sensível e o inteligível se
invertem. Seguindo o modelo traçado pelo Eneagrama Semiótica, podemos dizer que o
ponto 4 é estruturado a partir da função poética da linguagem assim como o ponto 5
representa a função metalingüística.
O Redator. Como dissemos acima: tanto o ponto 4 como o 5 são introvertidos e colocam
o aspecto físico em terceiro lugar, mas a prioridade entre os campos afetivo e mental se
invertem, cristalizando idéias e conceitos. No ponto 5 o aspecto mental ocupa o primeiro
lugar, representando a atividade de 'copydesck', isto é, de reescrever a reportagem com
mais distanciamento. Para tanto, é preciso recorrer simultaneamente aos princípios de um
Projeto editorial (ponto 7) e como também de sua aplicação prática, do seu resultado como
Produto final (ponto 8) do processo de comunicação. No sentido horário de rotação, a
reportagem antecede à redação; a metáfora, à metomínia; o drama, à observação. Já no
sentido anti-horário, seja em um círculo vicioso ou em círculo criativo, é o fator mental que
estrutura a experiência afetiva. Nos ciclos de sentido horário, a Mensagem é anterior ao
Código, nos de sentido anti-horário, o 'Porquê' antecede o 'Como'.
A Edição (ponto 6) é uma interpretação das Entrevistas (ponto 3) voltada para um
determinado Público-Alvo (ponto 9). Podemos incluir tanto a edição de textos (por script
ou procedimentos de legenda e titulação) como a edição de imagens (na tv), na
diagramação gráfica e agora no webdesign. Trata-se sempre, não apenas da organização da
sintaxe visual da informação, mas, sobretudo, de sua formatação às preferências e gostos de
uma determinada audiência. No sentido, anti-horário, quando a edição antecede a entrevista
podemos pensar que a produção do conteúdo e do significado da mensagem é anterior a
produção do seu Significante e de suas Imagens, isto tanto na perpetuação dos preconceitos
culturais e ideológicos (círculos viciosos) como na reinvenção de novas formas de ver e de
compreender (círculos criativos).
O Projeto editorial (ponto 7) é plano geral que normatiza e orienta tanto a redação diária
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(ponto 5) como a produção de pautas (ponto 1). Tomando o sentido horário, também
poderíamos falar aqui do diagrama do 'espelho' ou ainda, o que seria ainda mais lógico do
ponto de vista da produção industrial de mensagens, do ´Estágio do Estúdio´, em que o
apresentador ancora as matérias em um telejornal. Reforça essa idéia, o fato de, no
Eneagrama Semiótico, este ponto corresponder ao Locutor e à Função Emotiva. Já no
sentido anti-horário, teríamos aqui a idéia de manipulação. Tanto o ponto 8 como o 7
colocam o campo afetivo em terceiro lugar, mas a prioridade entre o aspecto físico e o ideal
se invertem, levando a uma virtualização cada vez mais distante da situação restritiva já
estruturada. Como se no ponto 8 houvesse uma censura ou uma seleção subjetiva de fatos e
aspectos válidos e no ponto 7 se produzisse uma mensagem levando em conta apenas essa
seleção e/ou criando outros temas e assuntos de forma a esconder a situação.
O Produto (ponto 8) Aqui a redação (ponto 5) do texto se soma à seletividade e à apuração
(ponto 2) imediata dos acontecimentos. É como dissemos: tanto o ponto 7 como o 8
colocam o campo afetivo em terceiro lugar, mas a prioridade entre o aspecto físico e o ideal
se invertem, levando a uma materialização do projeto. No sentido horário, podemos
associar este ponto à direção de imagem e à mesa de corte; no sentido anti-horário, ele
representa a antecipada contextualização - o Onde e Quando, a função referencial da
semiótica - do fato e do Público-Alvo (ponto 9). E essa contextualização tanto pode
funcionar como uma censura, em um círculo vicioso, como uma seleção estratégica de
cobertura, no caso de círculo criativo.
Público-Alvo (ponto 9) encontro final dos trabalhos de Edição (ponto 6) e de Entrevista
(ponto 3) e recomeço de outro ciclo comunicacional. Nunca é demais repetir que, seguindo
a mesma lógica do Eneagrama Semiótico, quando giramos num sentido horário,
construímos a mensagem a partir da experiência rica, do significante e da imagem do objeto
de referência; quando giramos no sentido inverso, então, construímos a mensagem a partir
do significado e do conceito desse objeto - seja do ponto de vista ideológico e recorrente,
seja do ponto de vista singular e inovador. No Eneagrama da Comunicação, o mesmo
ocorre, não só com os fatores horizontais de produção, entrevista e edição, mas também
com a estrutura vertical formado pelo diretor de redação (9), chefe de reportagem (3) e
Editor-Chefe (6) - sendo que cada um desses pontos comportaria ainda um eneagrama
secundário.
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ENEAGRAMA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL
E como o ensino de comunicação social se tornou um conjunto de teorias sem
prática e, em contrapartida, o jornalismo, uma prática sem teoria? É que, ao invés de
girar no sentido horário - em que a prática (e o aspecto artístico do ponto 3)
antecederia à teoria (e aos aspectos político e científico dos pontos 6 e 9) - o
Eneagrama da Comunicação Social faz um ciclo vicioso, em que esses três fatores
lutam entre si. Poderia-se mesmo dizer que o Eneagrama Semiótico, visto no começo
deste texto, está dissociado do Eneagrama Jornalístico, descrito há pouco, devido a
este círculo vicioso mais geral da Comunicação Social e à perpetuação desse contexto
dissociador. Como, então, alterar a rotação desse Eneagrama maior e fazer com que
os fatores causais (e eneagramas secundários) se completem de modo construtivo?
CIÊNCIA
ARTE
POLÍTICA
OBJETO
SUBJETO
MÉTODO
INFORMAÇÃO
OPINIÃO
INTERPRETAÇÃO
REFERÊNCIA
SIGNIFICANTE
SIGNIFICADO
Essa distinção dos três fatores (ciência, arte e política) complexos (simultâneas
e sucessivas ao mesmo tempo) opera em vários níveis da comunicação: pode-se vê-lo
nas etapas de aprendizado do texto jornalístico (primeiro aprender a escrever com
imparcialidade, depois re-aprender a dar sua opinião e, finalmente, adaptar seu texto
a diferentes públicos); no ensino de técnicas específicas de cada mídia (o jornalismo
impresso como base, o texto audiovisual como exercício artístico e a mídia digital
como síntese) ou ainda na nova linha de montagem da comunicação em escala
industrial, nas funções de produção, reportagem e edição. De forma que a mente
científica, a alma artística e a vontade de poder antes se somam do que se distinguem
15
no comunicador. E, é claro: há produtores sensíveis, repórteres com iniciativa,
editores que pensam. O importante nessa tríplice diferenciação foi que ela estabeleceu
fatores para construção de um modelo complexo para pensar Comunicação Social.
Com base nessas idéias, na tríplice estrutura da ciência\arte\política, elaborei
um modelo de projeto pedagógico para cursos de comunicação 5. Ele partiu da
constatação de que o círculo vicioso da dissociação entre teoria da comunicação e
prática jornalística se reproduz devido a três sub-círculos viciosos secundários: a) o
conflito estrutural entre a mídia e a escola; b) a divisão vertical do currículo entre
disciplinas teóricas e técnicas; c) a separação pedagógica entre ensino e pesquisa.
Vejamos cada um desses pontos.
Escola x Mídia. A questão do estágio e a questão da obrigatoriedade de diploma para
o exercício da profissão são apenas duas pontas do Iceberg da grande contradição
entre o mercado profissional e a escola. Mas este abismo entre teoria e prática é
produzido pelo fato de tanto a escola como a mídia serem organizações produtoras de
subjetividade, porém funcionando com velocidades e objetivos diferentes: os
comunicadores vivem em tempo real, sua produção subjetiva é imediata e efêmera; os
professores e alunos vivem em um tempo histórico, sua produção subjetiva é uma
atualização da memória coletiva entre gerações. Por isso, a educação escolar está
sempre atrasada em relação à mídia, mas, por outro lado, não haveria mídia não fosse
a escola. E no âmago desse conflito estrutural: o Ensino de Comunicação6.
Currículo. Os professores de comunicação se dividiram entre 'os egressos do mercado'
e 'os egressos da academia', formando duas associações de pesquisa com enfoques
diferentes, e instituindo uma divisão marcante no próprio currículo dos cursos de
graduação entre as disciplinas científicas e as técnicas. Ou seja, em um modelo que
concentrava o tronco comum e o aprendizado científico nos primeiros semestres,
Disponível em: <http://www.angelfire.com/mb/oencantador/JOLA.htm>
Em resposta a este aspecto acreditamos que é necessário transformar o conflito entre mídia e escola em um
diálogo produtivo, invertendo o sentido do Eneagrama de Comunicação. E não se trata apenas apenas de
formação profissional mas, sobretudo, de reciclagem e pesquisa, dando mais ênfase ao desenvolvimento das
competências empreendedoras e à atualização tecnológica. Os cursos formariam (e re-qualificariam) assim
profissionais liberais com visão ampla de mercado e não simplesmente mão-de-obra para empresas de
comunicação.
5
6
16
deixando para o final do curso a o aprendizado técnico e a opção por uma das
diferentes habilitações que formam a comunicação social7.
A separação pedagógica entre ensino e pesquisa. E ainda: aprofundando e
institucionalizando este duplo conflito (da mídia x escola e do jornalismo x
comunicação) o modelo de organização acadêmica adotado pelas universidades
brasileiras (na verdade, imposto pelo convênio MEC/USAID) produz cursos de
graduação sem pesquisa (voltada apenas para formação profissional) e cursos de pósgraduação sem extensão (sem qualquer relação de troca direta com a mídia e com a
sociedade)8.
Esses três fatores causais (o conflito mídia/escola, o currículo e a separação da
formação jornalística da pesquisa acadêmica) da dissociação entre teoria e prática no
ensino de comunicação social são apenas breves exemplos de como se pode pensar
através de ciclos. Um estudo mais rigoroso do assunto ainda precisa ser empreendido.
Hoje, demonstrou-se aqui como modelo do Eneagrama permite, não apenas a uma
compreensão mais precisa do processo semiótico, mas, sobretudo, a aplicações
práticas como a organização das atividades em uma redação ou mesmo a elaboração
de uma proposta pedagógica para cursos de comunicação social (se tomarmos os
pontos como etapas sucessivas de um aprendizado do ofício jornalístico, combinando
os Eneagramas Semiótico e Jornalístico). Pode-se, a partir desse quadro, redefinir
uma nova proposta pedagógica para um curso de comunicação com oito semestres (+
um ano de especialização profissionalizante com estágio supervisionado referentes ao
ponto número 9) com três disciplinas (uma principal e duas com competências
associadas) - como se vê no ANEXO II.
7
Acredito, no entanto, que esse ponto já foi parcialmente corrigido pela maioria dos cursos de comunicação
brasileiros, satisfazendo as exigências prescritas nas Diretrizes Curriculares do MEC para os Cursos de
Comunicação Social de 1998, que afirmam que o “planejamento do Curso deve evitar cuidadosamente a
inadequada relação entre teoria e parte geral, e entre prática e parte voltada para a habilitação, que parecia
decorrer do currículo mínimo de 1984”. Atualmente, os estudantes de graduação em jornalismo, por exemplo,
cursam disciplinas tanto disciplinas técnicas quanto científicas do primeiro ao último semestre, ao contrário
do que acontecia no currículo anterior, em que as disciplinas específicas ficavam para os últimos semestres.
8
Defendo sobre esse ponto a criação de especializações profissionalizantes com estágio supervisionados
como acontece em Medicina. Assim, após acabar o curso de graduação em Comunicação Social, o egresso
deverá ainda se especializar em uma habilitação (jornalismo, publicidade, radialismo) e fazer um estágio em
uma empresa com supervisão da universidade. A medida, além de quebrar o paradigma (graduação sem
pesquisa/pós-graduação sem extensão) imposta pelo modelo MEC/USAID, permite que também se estreite
ainda mais o diálogo entre o mercado e a escola.
17
1
2
3
4
5
6
7
8
9
SEQÜÊNCIA
EXTERNA
COMPETÊNCIA
PRINCIPAL
RELAÇÕES
INTERNAS
COMPETÊNCIAS SECUNDÁRIAS
planejamento
Apuração
Entrevista
Reportagem
Redação
Edição
Projeto
Produto
Público-Alvo
fática
apelativa
arte
poética
metalingüística
política
emotiva
referencial
científica
4e7
4e8
6e9
2e1
7e8
9e3
5e1
5e2
3e6
poética e emotiva
poética e referencial
científica e política
apelativa e fática
emotiva e referencial
técnica e artística
metalingüística e fática
metalingüística e apelativa
artística e política
O leitor atento deverá ter observado no transcorrer de nossa exposição que,
além dos Círculos Virtuosos e Viciosos, também nos referimos aos Círculos Criativos
ou Auto-poéticos. Esses são os ciclos centrífugos que, ao invés de simplesmente negar
ou burlar as condições pré-estabelecidas, as modificam, instituindo assim uma nova
ordem a partir do ruído. O ciclo virtuoso é o aperfeiçoamento dentro de uma ordem;
o ciclo das paixões, uma entrega absoluta ao acaso. Os ciclos criativos são paixões
virtuosas, uma vez transformam toda situação. Já a diferença entre a Virtude e a
Criatividade seria semelhante a da habilidade técnica de um virtuose em relação ao
gênio criativo e pode ser facilmente visualizada no campo dos esportes e das artes 9:
enquanto o primeiro apresenta um desempenho insuperável, o último elabora o
repertório de padrões em que esse desempenho vai se desenvolver.
E seguindo essa lógica: o homem virtuoso não seria melhor que o homem
apaixonado. Seria apenas um homem que decidiu viver sua vida recorrente de forma
mais produtiva e obstinada. E o homem criativo seria aquele que faz com que suas
virtudes interajam com suas paixões, que faz desses sentidos opostos, fatores
complementares e não contrários irreconciliáveis.
9
Exemplos não faltam: Xuxa está para Pelé, assim como Angélica está para Ronaldinho. Como jogador de
futebol, podemos dizer que "o fenômeno" é muito superior tecnicamente ao "rei do futebol", mas foi Pelé que
'criou o modo' como o ponta-de-lança joga; como cantora, atriz e dançarina, a apresentadora Angélica é bem
superior à Xuxa, porém trata-se apenas de um clone aperfeiçoado da fórmula inventada pela primeira loura.
Também poderíamos falar dos guitarristas Jimi Hendrix e Robin Towers, entre milhões de outros exemplos
possíveis.
18
ANEXO I: OS TIPOS ENEAGRAMÁTICOS.
Segundo Cláudio Naranjo, em algum ponto de nosso desenvolvimento, nos
fixamos em um dos nove pontos da circunferência e, a partir deste ponto, construímos
nossa personalidade. Cada ‘ponto de fixação’ corresponderia a uma ‘paixão’
dominante e a um tipo de personalidade. A cada ponto de fixação (ou recorrência
cognitiva), há uma paixão (ou motivação de deficiência) correspondente. Paixão e
fixação se retroalimentam, então, formando um tipo de personalidade do Eneagrama
e nos afastando de nossa essência, de nosso verdadeiro Ser.
Nessa lógica, durante o desenvolvimento humano haveria, em algum momento
traumático, uma perda, uma limitação, um fracasso no crescimento do potencial
pleno, uma fixação do ego em relação à circulação de energia psíquica. A
personalidade funciona como uma forma para perpetuar a inconsciência a partir de
‘um ponto cego’, em que a canalização energia se daria de forma desequilibrada, em
que “a percepção está cega da própria cegueira”. Assim, personalidade e
inconsciência também formam em um círculo vicioso: a personalidade condicionada
conduz à uma interferência específica no organismo biológico (reforçando o ponto de
fixação); essa interferência no organismo causa uma perda da experiência (da
totalidade) do Ser; e, finalmente, a perda da experiência de Ser alimenta à paixão
dominante e à perpetuação da personalidade condicionada.
Tipo Eneagramático
Ponto de Fixação ou recorrência
Paixão ou motivação de deficiência
1
Perfeccionista
A ordem
Raiva
2
Prestativo
O outro
Orgulho
3
Bem-sucedido
A imagem
Vaidade
4
Individualista
As formas
Inveja
5
Observador
O saber
Avareza
6
Questionador
A autoridade
Medo
7
Sonhador
A palavra
Gula
8
Confrontador
A justiça
Luxuria
9
Pacifista
O corpo
Preguiça
19
OS TIPOS ENEAGRAMÁTICOS
O Perfeccionista (tipo 1): tipo com preferência pelo centro motor (introvertido) que
negligencia o centro mental.
Fixação: É extremamente organizado e trabalhador, com padrões de exigência muito altos nas áreas de seu interesse. Sério e sincero, procura ser independente dos outros e evita que
os outros dependa dele. Estabelece uma fronteira clara em relação aos territórios físico e
mental, acreditando que é possível controlar todas situações através da organização. Paixão:
Demasiadamente centrado em valores morais, o ´tipo 6´ julga tudo e todos, muitas as vezes
com críticas destrutivas. Quando as coisas não saem segundo seus planos ou ordens,
explode em raiva irracional, por isso a 'Ira' foi o pecado capital escolhido para sua
caracterização.
Integração e estresse: O Perfeccionista oscila entre a inveja e a loquacidade. Quando sob
pressão, o '1 vai ao 4', incorporando seu vício (a inveja); quando criativo, o '1 vai ao 7',
incorporando sua habilidade loquaz.
O Prestativo (tipo 2): tipo com preferência pelo centro emocional (extrovertido) que
negligencia o centro mental.
Fixação: Identifica-se facilmente com os problemas e com desejos alheios, tendo
dificuldade de dizer 'não' quando se trata de ajudar alguém. Paixão: porém essa empatia
afetiva nunca é verdadeiramente desinteressada, ao contrário faz parte de uma estratégia de
manipulação que tenta fazer com os outros dependam de si. A pessoa só se doa para ser
aceito. Em compensação, cuidam tanto dos outros que se esquecem de si e não se atem as
suas próprias necessidades, desejos e anseios. Eles não precisam disso. E por isso o
'Orgulho' é sua característica principal.
Integração e estresse: O Prestativo oscila entre a luxúria e o bom gosto. Quando sob
pressão, o '2 vai ao 8', incorporando seu vício (a luxúria); quando criativo, o '2 vai ao 4',
incorporando sua virtude estética.
O Bem Sucedido (tipo 3): tipo com preferência pelo centro emocional (ambivalente) que
negligencia o próprio centro emocional.
Fixação: Assim tem facilidade em disfarçar seus sentimentos verdadeiros (raiva, medo,
ansiedade, etc.), usando várias máscaras (uma para cada ocasião). Por isso, também é
chamado de 'Camaleão'. Quer ser admirada a qualquer custo e vê tudo em função dessa
disputa neurótica pela admiração e pelo reconhecimento. Geralmente são pessoas exigentes,
preocupadas em alcançar suas metas/objetivos. Paixão: a 'Vaidade' ou capacidade
emocional de falsificar a verdade a partir de realidades relativas e subjetivas,
principalmente transferindo a responsabilidade de seus erros para os outros.
Integração e estresse: O Bem Sucedido oscila entre a preguiça e o dever. Quando sob
pressão, o '3 vai ao 9', incorporando seu vício (a preguiça); quando criativo, o '1 vai ao 6',
incorporando sua responsabilidade.
20
O Individualista (tipo 4): tipo com preferência pelo centro emocional (introvertido) que
negligencia o centro motor.
Fixação: Geralmente são pessoas muito sensíveis e com pouco contato com o mundo
exterior, identificando e explicando melhor as coisas através de símbolos. O ´tipo 4´ gosta
de ser especial, única e singular, cultivando gostos diferentes e estranhos; preza o status
social e tem carência de atenção; porém, ao mesmo tempo, que sente superior aos outros,
sofre devido ao isolamento. Paixão: Muito têm uma tendência à depressão e à melancolia.
Para eles, desejar é mais importante que possuir, pois tão logo conseguem o objeto de seus
desejos, normalmente sentem-se frustrados. Por isso, a 'Inveja' é seu pecado capital.
Integração e estresse: O Individualista oscila entre o orgulho e a organização. Quando sob
pressão, o '4 vai ao 2', incorporando seu vício (o orgulho); quando criativo, o '4 vai ao 1',
incorporando sua habilidade de planejar.
O Observador (tipo 5): tipo com preferência pelo centro mental (introvertido) que
negligencia o centro motor.
Fixação: São pessoas extremamente objetivas e racionais, mas que têm certa dificuldade em
relacionar-se com os outros. Pode ignorar facilmente as pessoas ao seu redor,
incomodando-as. Gostam de se isolar para solver o conhecimento aprendido e detestam
quando lhes usurpam o tempo ou a liberdade com detalhes ou tarefas pequenas. Paixão: a
Avareza. Porém, não se trata simplesmente de dinheiro, mas, sobretudo, de tempo e de
conhecimento. O ego do número cinco se recusa a dividir sua experiência de mundo, que
acredita ser mais racionalizada do que a da maioria.
Integração e estresse: O Observador oscila entre a gula (por bens, pessoas e principalmente
conhecimento) e a assertividade da ação. Quando sob pressão, o '5 vai ao 7', incorporando
seu vício (a gula); quando criativo, o '5 vai ao 8', incorporando sua determinação.
O Questionador (tipo 6): tipo com preferência pelo centro mental (ambivalente) que
negligencia o próprio centro mental.
Fixação: são pessoas que procuram ficar mentalmente ocupadas para não pensar. Daí serem
tanto muito questionadoras (os 'advogados do Diabo') como também intuitivas. Paixão: O
medo. Os 'número 6' são pessoas dependentes e inseguras, que precisam sempre de um
referencial (um chefe, uma instituição) como sustentação. Entre os mentais, são mais leais e
confiáveis em relação aos preceitos de seu grupo do que aos amigos individualmente.
Dividem-se em fóbicos (ou covardes assumidos) e contrafóbicos (aparentemente
destemidos), que podem chegar a extremos.
Integração e estresse: O Questionar oscila entre a vaidade e a realização. Quando sob
pressão, o '6 vai ao 3', incorporando seu vício (a vaidade); quando criativo, o '6 vai ao 9',
incorporando sua capacidade de realização.
21
O Sonhador (tipo 7): tipo com preferência pelo centro mental (extrovertido) que
negligencia o centro emocional.
Fixação: São pessoas sempre entusiasmadas e alegres, mas que alimentam muitas ilusões e
fantasias. Na verdade, com essa 'inocência' o tipo número 7 evita entrar em contato com
qualquer eventual dor ou sofrimento, só observando o lado bom dos acontecimentos e da
vida. São, geralmente, oradores muito loquazes e manipuladores. Paixão: A gula, não
apenas de alimentos, mas de pessoas, informações e aventuras. Os 'número 7' têm gula de
qualquer coisa que lhe dê prazer. Fala demais, assim como tende a fazer tudo demais.
Integração e estresse: O Sonhador oscila entre a Ira e a objetividade. Quando sob pressão, o
'7 vai ao 1', incorporando seu vício (a ira); quando criativo, o '7 vai ao 5', incorporando a
habilidade da observação.
O Confrontador (tipo 8): tipo com preferência pelo centro motor (extrovertido) que
negligencia o centro emocional.
Fixação: Pessoas que vêm o mundo em relação à justiça e poder, e se consideram capazes
de dirimir e vingar suas injustiças. E muitas vezes cometem absurdos em nome dos
desprotegidos que pretendem defender. Paixão: Buscam o confronto como forma de impor
sua supremacia, muitas vezes por simples prazer. Gostam de conquistar mais e mais
territórios e de serem vistos como pessoas fortes, capazes de proteger aqueles que os
ajudarem. Nunca pedem perdão. A princípio, são sempre contrários a qualquer novidade.
Integração e estresse: O Confrontador oscila entre a avareza e a doação ao outro. Quando
sob pressão, o '8 vai ao 5', incorporando seu vício (a avareza): "O mundo não me merece!";
quando seguro e criativo, o '8 vai ao 2' e incorpora sua generosidade piedosa e capacidade
de se identificar com os sentimentos dos outros.
O Pacifista (tipo 9): tipo com preferência pelo centro motor (ambivalente) que negligencia
o próprio centro motor.
Fixação: Este tipo se caracteriza por evitar os conflitos a todo custo. Ao contrário dos
outros tipos motores (1 e 8) tem uma relação democrática em relação aos territórios físicos
e mentais, tanto invadindo como deixando invadir seus domínios. São pessoas que não
estabelecem fronteiras nem limites do espaço/tempo. Paixão: A Preguiça. Mas não a
simples preguiça do ócio em relação ao trabalho. Trata-se aqui de uma indolência mental,
de uma 'preguiça de ser', muitas vezes oculta sobre a capa de muitas atividades não
essenciais. O pecado do pacifista é postergar coisas importantes.
Integração e estresse: Demora a resolver, mas quando resolve, é de uma vez. Dificilmente
se irrita, mas quando acontece é pra valer. O Pacifista oscila entre o medo e o sucesso.
Quando sob pressão, o '9 vai ao 6', incorporando seu vício (O medo); quando criativo, o '9
vai ao 3', incorporando sua capacidade de realização profissional.
22
SUBTIPOS E OUTROS FATORES
Os tipos eneagramáticos são modelos ideais, generalizações abstratas de
pessoas concretas e singulares, de uma gama gigantesca de fatores e traços culturais
de várias épocas e locais. Mesmo com a subdivisão do centro instintivo e a constituição
de 27 subtipos, para dar conta da enorme diversidade dos temperamentos em um
único sistema, foi necessário complexificá-lo com mais fatores caracteriológicos.
Podemos apontar pelo menos três:
a) Os Subtipos Instintivos – Naranjo ressalta a importância da vida instintiva
sobre a formação das personalidades neuróticas e adiciona ao sistema do
Eneagrama a idéia de que, independentemente do eneatipo, somos marcados
por uma das três formas específicas de restrições instintivas que sofremos: a
sexual (Freud), a relacional (Lacan) e a sobrevivência (Marx). Instintos
desenvolvidos em relação ao Outro (e à natureza), aos outros (aos grupos) e ao
próprio a si mesmo como indivíduo diante da sociedade. Portanto, o terceiro
passo neste método de auto-conhecimento do Eneagrama, após perceber o
centro preferido e o negligenciado, consiste em descobrir qual dos instintos
básicos é predominante no centro motor de seu eneatipo, descobrindo assim
qual dos 27 subtipos forma sua personalidade.
Para Naranjo, o centro
instintivo é subdividido e constituído de três instintos básicos, que se
constituem sucessivamente na vida individual, demarcando fases diferentes de
desenvolvimento do corpo: o instinto de preservação, dos zero até os 7 anos; o
instinto social, dos sete aos quatorze; e o instinto sexual, dos 14 aos 2110.
“Quando um dos três instintos é ferido, sua utilização se torna, então, problemática, seja sob a forma de
uma preocupação desmedida, seja, ao contrário, sob a forma de uma negligência excessiva. Prudente ou
imprudente; sociável ou insociável; devasso ou celibatário. Segundo o sistema do Eneagrama, todas as
pessoas têm um desses instintos afetado. Além disso, a instalação correta de um dos instintos constitui a base
para a sadia implantação do instinto seguinte. Por isso, se um dos instintos não pôde desenvolver-se
convenientemente, é possível que ocorra o mesmo com os seguintes por uma espécie de efeito dominó. (...)
Assim sendo, três casos são possíveis. Quando o instinto de preservação foi perturbado, a pessoa manifesta as
preocupações decorrentes desse fato e pode também apresentar características ligadas ao instinto social e
sexual. Quando o instinto de preservação se instalou convenientemente, enquanto o instinto social não
conseguiu fazer isso, a pessoa vive as preocupações do”. instinto social e a ele acrescenta eventualmente as do
instinto sexual. Se tudo ocorreu bem até a implantação incorreta do instinto sexual, a pessoa mostra os traços
ligados apenas a esse último instinto.” (CHABRENIL, 1999 Pág. 32)
10
23
b) Os pontos de integração e estresse. Cada eneatipo apresenta uma relação interna
com outros dois segundo o movimento interno do eneagrama no sentido
horário (positivo) ou anti-horário (negativo).
c) As Asas, ou a fixação do ego em pontos entre dois tipos vizinhos. Enquanto a
idéia dos pontos de integração e estresse já existia no trabalho de Oscar Idazo;
alguns psicólogos da personalidade contemporâneos que trabalham com o
Sistema
do
Eneagrama
a
partir
das
idéias
de
Naranjo
também
acrescentaram/relativizaram a idéia de eneatipos absolutos, adicionando ou
mesmo
multiplicando
ainda
mais
fatores
caracteriológicos.
Para
os
responsáveis pela associação francesas de estudos sobre o Eneagrama 11, por
exemplo, “enquanto o tipo geralmente se consolida na infância seguindo um
modelo familiar, na adolescência, o ego tenta se rebelar contra esse padrão,
tentando se identificar com um dos dois tipos vizinhos. Então, os traços e
características de uma das asas se somam aos do tipo básico, mas continua
secundárias em relação a ele.” Ou seja: quando o tipo básico evolui para seus
aspectos positivos, a asa segue o movimento; quando o tipo se estressa, a asa
também.
Haveria, portanto, um total de 27 subtipos com 54 possibilidades de
combinação com os tipos vizinhos e 108 possíveis posições psicodinâmicas. Uma
verdadeira babel de traços e características cognitivas-tipológicas.
11
http://www.enneagramme.com
24
ANEXO II: UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA
A formação e o desenvolvimento do comunicador podem ser divididos em dois
eixos perpendiculares: o Eixo da Continuidade, representando a sucessão ordenada
das disciplinas técnicas de cada habilitação, e o Eixo da Simultaneidade,
correspondendo a um corte fotográfico de cada semestre, incluindo assim, além das
disciplinas específicas da habilitação, as demais disciplinas do tronco comum e de
conteúdo teórico, ético e cultural.
O Eixo da Continuidade tem três momentos distintos: o aprendizado científico
da objetividade, o desenvolvimento artístico da subjetividade e, por último, a
combinação dos dois aspectos em um contexto intersubjetivo. Assim, o aprendiz de
jornalista (cuja principal competência é redigir) tem, em um primeiro momento, a
aprender a pensar cientificamente e redigir de forma objetiva, na terceira pessoa, nos
moldes do jornalismo informativo. Em um segundo momento, no entanto, ele deve,
para continuar seu desenvolvimento, re-aprender a ser opinativo e a escrever na
primeira pessoa, a reintegrar o aspecto afetivo de sua personalidade em seu texto.
Neste segundo momento, o estudante trabalhará preferencialmente com suportes
audiovisuais. E, finalmente, em um terceiro momento de aprendizado, o aluno deve,
em combinação com as necessidades impostas pelas crescentes tendências de
segmentação e interatividade, aprender a escrever na segunda pessoa, a trabalhar
com púbicos e objetivos específicos, através das tecnologias e suportes digitais.
O Eixo da Simultaneidade - Os conteúdos básicos são caracterizadores da
formação geral da área de Comunicação Social e de cada uma de suas habilitações são
previstos nas especificações curriculares do MEC12. Estes conhecimentos são assim
categorizados: conteúdos teórico-conceituais; conteúdos ético-políticos; conteúdos de
linguagens, técnicas e tecnologias midiáticas; conteúdos analíticos e informativos
sobre a atualidade.
12
Diretrizes Curriculares para área de Comunicação Social e suas Habilitações. Comissão de
Especialistas em Comunicação Social do MEC, 1998.
<http://www.angelfire.com/mb/oencantador/JOL3.htm/>
25
Conteúdos teórico-conceituais
Visam a desenvolver familiaridade com o uso de conceitos e um raciocínio conceitual, que permita aos
alunos apreender e lidar rigorosamente com teorias gerais e específicas, inclusive acionando-as quando
do processo de interpretação da realidade social e profissional. Essas disciplinas são as que seguem o
Eixo da continuidade e a ordem centrípeta do Eneagrama.
Conteúdos de linguagens, técnicas e tecnologias midiáticas
Devem assegurar ao estudante o domínio das linguagens, das técnicas e tecnologias tipicamente
empregadas nos processos e nas habilitações de comunicação, bem como assegurar uma reflexão
rigorosa sobre suas aplicações e processos. Também devem possibilitar a pesquisa e a experimentação
de inovações das linguagens, técnicas e tecnologias, visando a formação de um profissional versátil e em
sintonia com as tendências de acelerada mutabilidade dos sistemas e práticas de comunicação e suas
habilitações na contemporaneidade. Essas competências correspondem as disciplinas específicas de
cada habilitação. Na grade abaixo adotamos a habilitação de jornalismo como exemplo.
Conteúdos éticos e artísticos
Devem permitir ao estudante posicionar-se não apenas sobre o universo cultural e estético em que está
inserido, mas, principalmente, sobre a atuação dos profissionais da comunicação, sobre o exercício do
poder da comunicação, sobre os constrangimentos a que a comunicação pode ser submetida, sobre as
repercussões sociais que ela enseja e sobre as demandas e necessidades da sociedade contemporânea.
Como ética e sensibilidade andam sempre de mãos dadas, essas disciplinas estão organizadas na forma
de Oficinas de atividades práticas.
Conteúdos analíticos e informativos sobre a atualidade
Objetivam propiciar aos alunos um rico estoque de informações sobre variados aspectos da atualidade,
pois esta constitui a matéria prima essencial para os futuros profissionais da comunicação. Estas
informações devem, simultaneamente, assegurar a apreensão de interpretações consistentes da
realidade e possibilitar aos estudantes a realização de análises qualificadas acerca dos fatos e contextos
culturais, políticos, econômicos e sociais. Essas competências correspondem às disciplinas optativas,
que devem ser organizadas segundo critérios próprios de cada realidade e de cada curso em particular.
Estes conteúdos devem ser referidos tanto ao campo geral da Comunicação,
quanto à habilitação específica. Observa-se ainda que os quatro conjuntos de saberes
não são estanques e se inter-relacionam tanto por sua presença comum em problemas
práticos e profissionais como nas reflexões teóricas sobre a área. As perspectivas
críticas atravessam todas as categorias de conhecimentos, e ainda, o conhecimento de
linguagens não se restringe a suas interações com as tecnologias, mas dependem
também das questões interpretativas, analíticas e informativas da atualidade.
26
Ora, o que caracteriza a parte geral dessa proposta é sua referência simultânea
ao campo geral da Comunicação - incluindo aí reflexões teóricas, problematizações
críticas, conhecimento de atualidade - e as práticas e técnicas específicas das
linguagens e estruturas midiáticas. Ou seja, o aluno cursa disciplinas práticas e
técnicas desde o começo, articuladas com as disciplinas teóricas segundo uma
estratégia de desenvolvimento cognitivo. De forma que, na formulação específica
destes conteúdos, a proposta adota uma decidida e consistente perspectiva
humanística: as próprias tecnologias, com a dimensão transformadora que
adquiriram no século XX recebem tratamento que faz sua compreensão pelo
estudante ultrapassar os aspectos utilitários e alcançar as interações entre a
comunicação e a cultura, a política e a economia.
I SEMESTRE
Metodologia Científica
Específica: Pauta e planejamento
Oficina de texto
Optativa
III SEMESTRE
Comunicação e Arte
Específica: Técnicas de entrevista
Oficina de audiovisual
Optativa
V SEMESTRE
Teoria da Comunicação
Edição de jornalismo impresso
Oficina de Redação I
Optativa
VII SEMESTRE
Comunicação e Política
Jornalismo On Line
Oficina de Hipermídia
Optativa
II SEMESTRE
Psicologia da Comunicação
Específica: História do Jornalismo
Oficina de Criatividade
Optativa
IV SEMESTRE
Ética da Comunicação
Específica: Técnicas de reportagem
Oficina de Audiovisual II
Optativa
VI SEMESTRE
Sociologia da Comunicação
Edição de textos em audiovisual
Oficina de Redação II
Optativa
VIII SEMESTRE
Pesquisa em Comunicação Social
Pesquisa em Jornalismo
Oficina de Projeto Experimental
Optativa
ÚLTIMO ANO
Especialização profissional e estágio supervisionado
27
BIBLIOGRAFIA
BENNETT, J. G. O Eneagrama - um estudo pormenorizado do eneagrama usado
Gurdjieff para simbolizar o trabalho da consciência tanto na vida diária como nos
níveis esotéricos. São Paulo: Editora Pensamento, 1999. V. tb. os links The DuVersity e
Bennett Books.
CHABRENIL, P. & F. A Empresa e seus colaboradores - Usando o Eneagrama para
Otimizar Recursos. São Paulo: Editora Madras, 1999.
GOMES, M. B. O Hermeneuta - Uma introdução ao estudo de Si. Dissertação de
Mestrado em Ciências Sociais. Natal: UFRN, 1987.
Um Mapa, uma Bússola - Hipertexto, Complexidade e Eneagrama.
Rio de Janeiro: Editora Mileto, 2001. Os textos em questão também podem ser consultados
em: <http://members.tripod.com/coroa/eneagrama/>
Hipertexto e Complexidade. Natal, UFRN: 2000.
<http://orbita.starmedia.com/~complexidade/>
MEDINA, CREMILDA DE ARAÚJO. Entrevista - o diálogo possível. Série Princípios.
São Paulo: Editora Ática, 1986.
NARANJO, C. Os Nove Tipos de Personalidade - Um estudo do caráter humano
através do Eneagrama. Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1996.
OUSPENSKY, P. D. Fragmentos de um ensinamento desconhecido - Em busca do
milagroso. Coleção Ganesha. São Paulo: Editora Pensamento, 1980.
______________ Psicologia da Evolução Possível ao Homem. São Paulo: Editora
Pensamento, 1986.
PALMER, H. O Eneagrama: compreendendo a si mesmo e aos outros em sua vida. São
Paulo: Edições Paulinas, 1993.
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