Análise Aplicada do Comportamento (ABA)1 Cíntia Guilhardi (Gradual, USP) Claudia Romano (Gradual, PUC-SP) Leila Bagaiolo (Gradual, USP) O presente texto pretende demonstrar como a Análise Aplicada do Comportamento pode contribuir, de forma teórica e prática, para a inclusão escolar de crianças diagnosticadas com Autismo. Para tanto, inicialmente apresentaremos a visão skinneriana de educação, e logo em seguida, discutiremos como essa visão permeia o Modelo de Inclusão escolar da Gradual. Destacaremos como a Intervenção Comportamental Individualizada participa desse modelo e contribui para uma inclusão efetiva. Também enfatizaremos qual o papel do analista do comportamento em cada passo do planejamento da inclusão e as parcerias que precisam ser estabelecidas para garantir um trabalho completo. Ao final, questionamos o termo inclusão dentro desse modelo prático e dessa abordagem teórica. O objeto de estudo da Análise do Comportamento O Behaviorismo Radical, tal como proposto por Skinner, marcou a Psicologia a partir de meados da década de 30. Os conceitos e metodologias de estudo postulados por Skinner são pesquisados e discutidos até os dias de hoje, dentre eles estão: condicionamento operante, a filosofia do sujeito único, a taxa de resposta como variável dependente, a freqüência acumulada de respostas2 etc. Propôs que o estudo do comportamento se transformasse numa Psicologia científica, com controle e experimentação de variáveis, constituindo a Análise Experimental do Comportamento. A nova abordagem experimental desenvolvida por Skinner, para se estudar o comportamento, foi apresentada no seu livro O Comportamento dos Organismos, publicado em 1938. Skinner apresentou o comportamento como seu objeto de estudo, entendendo-o como produto da história da espécie (filogenética), da história individual (ontogenética) e da história cultural. Salientou, ainda, que, para entendermos sobre o comportamento humano devemos olhar o papel exercido pelo ambiente3 (que teve sua Capítulo 21 (pág. 278-296) do Livro “Transtorno do Espectro do Autismo” organizado por José Salomão Schwartzman e Ceres Alves de Araújo (2011) – Editora MEMNON. 2 Esses conceitos serão definidos ao longo do texto. 3 Ambiente, para Skinner se refere a todo o mundo físico, que pode ocorrer dentro (eventos internos) ou fora da pele (eventos externos) de cada indivíduo, incluindo, neste último, os eventos sociais. 1 primeira grande contribuição na evolução e seleção das espécies) na história de cada indivíduo (Skiner 2000/19534). A fim de fazer uma análise do comportamento científica, Skinner definiu o comportamento (unidade de análise) como a relação entre eventos antecedentes, conseqüentes e as próprias ações dos indivíduos (no linguajar técnico, ações devem ser denominadas de respostas). O comportamento, assim definido, foi denominado de comportamento operante5; operante no sentido de que a resposta do indivíduo opera no ambiente e este, por sua vez, retroage sobre as mesmas respostas. No comportamento operante, a ênfase é dada às conseqüências ambientais do comportamento, que podem alterar a probabilidade futura de ocorrência do mesmo. A partir da definição acima descrita, nos últimos sessenta anos, a Análise do Comportamento, através de muitas pesquisas, tem ensinado muito sobre como o ambiente influencia o comportamento em muitas questões de nossa sociedade. Vamos detalhar os efeitos dos conceitos e metodologias, daí derivados, na Educação e, em última análise, no trabalho educacional de indivíduos diagnosticados dentro do espectro do Autismo. A visão de Educação na Análise do Comportamento Nos anos 50, Skinner anunciou a necessidade de se aplicar e estender os princípios da Análise Experimental do Comportamento na sociedade, ou seja, aplicar os dados e conceitos provindos das pesquisas de laboratório na resolução de problemas sociais. Esse campo de atuação denominou-se Análise Aplicada do Comportamento (ABA), anunciando que os avanços dessa ciência também poderiam contribuir com reflexões sobre esta questão, bem como contribuir com uma verdadeira Tecnologia de Educação: “A Análise Experimental do Comportamento é também relevante para a educação” (Skinner, 19726/1968, p.31). Uma das principais reflexões derivadas da Análise do Comportamento para a educação é que esta precisa ser analisada tanto como uma instituição social (levando-se em conta os determinantes culturais), quanto devem ser considerados todos os comportamentos das pessoas envolvidas no sistema educacional e as variáveis de 4 A primeira data citada é referente à edição consultada e a segunda data refere-se à primeira publicação. Skinner referendou este tipo de comportamento para diferenciá-lo do comportamento estudado até então pelos fisiologistas que era o comportamento reflexo. 5 controle desses comportamentos (determinantes ontogenéticos). Dentro da análise cultural de educação analisa-se a mesma como uma das agências reguladoras do funcionamento social e que, como tal, planeja e manipula variáveis particulares que afetam o comportamento de ensinar e de aprender em um grupo, ou seja, os comportamentos de EDUCAR E SER EDUCADO: “Compete explicitamente à instituição educacional a tarefa de garantir ao aluno uma formação que lhe propicie o acesso aos conhecimentos socialmente acumulados e a aquisição dos comportamentos de autogoverno, capacitando-o a atuar sob novas contingências e a agir com sucesso em relação ao mundo, em um tempo futuro” (Zanotto, 2004, p. 36). Quanto à análise ontogenética temos que, se o objeto de estudo da Análise do Comportamento é o “comportamento”, nos interessa entender o comportamento de pessoas neste contexto, da agência educacional em específico (tanto de quem está aprendendo, quanto de quem está ensinando), e como estes eventos ocorrem, ou seja, quais as variáveis que determinam o comportamento de pessoas no contexto educacional. Tanto esta análise cultural quanto ontogenética de educação, aqui exposta, contrapõe uma visão de educação que deposita nos personagens deste cenário (os representantes do corpo docente e do corpo discente) a única responsabilidade do sucesso ou fracasso do processo educacional. Portanto, as características inerentes e intrínsecas que interferem de forma positiva ou negativa no processo de ensinar e aprender, não podem ser motivo de culpabilização dos personagens desse cenário. A Análise do Comportamento busca analisar, com profissionais apoiados por uma metodologia sistemática, científica e pautada no sujeito único, como manipular variáveis nos níveis ontogenético e cultural que auxiliem na CONSTRUÇÃO de um processo educacional em que cada indivíduo possa aprender a despeito de quaisquer idiossincrasias (características pessoais). Destacamos algumas definições que Skinner elaborou sobre a Educação em alguns dos seus livros: Em Ciência e Comportamento Humano, temos que: “A educação é o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para outros em algum tempo futuro.” (Skinner, 2000/1953, p. 437). Os comportamentos relacionados aos conteúdos acadêmicos, aos valores de convivência social e de identidade (tanto individual quanto social) modelados pela escola só terão continuidade/valor se prepararem os indivíduos para as contingências fora dela. Em 1972, em Tecnologia do ensino temos que: “O ensino é um arranjo de contingências sob as quais o aluno aprende. Ensinar é o ato de facilitar a aprendizagem; quem é ensinado aprende mais rapidamente do que quem não é... (Tudo o que hoje se ensina deve ter sido aprendido, pelo menos uma vez, por alguém que não foi ensinado, mas graças à educação já não é preciso esperar por estes eventos raros)” (Skinner, 1972/1968, p. 4). A educação complementa o ensino “acidental”, aquele que não é programado e que pode acontecer a todo o momento em que interagimos com o ambiente. A educação se baseia em criar comportamentos novos no repertório das pessoas e isso implica em planejamento. Para atingir esse conceito do que é educar, os analistas do comportamento consideram que existe um formato, um método de como ensinar, intitulado por Skinner como Instrução Programada. O método de ensino da Análise do Comportamento - Instrução Programada: Abaixo resumimos o que o analista do comportamento toma como referência na tarefa de planejar o ensino de forma coerente com os princípios teóricos que tem sobre comportamento e sobre educação: 1) Planejar que o aprender seja mantido por conseqüências que reforçam esse comportamento positivamente: Reforçar positivamente um comportamento significa conseqüenciar o comportamento de modo que se aumente a probabilidade do mesmo ocorrer no futuro, por agregar um valor ao comportamento em questão7 (Skinner, 2000/1953, p. 72). O efeito de reforçar positivamente o aprender contrapõe-se às contingências de ensino comumente observadas nas escolas: o ensino por fuga-esquiva. Nesse caso, as conseqüências que o aprender produzem são reforços (uma vez que o comportamento de aprender continua ocorrendo), mas, neste caso, reforços negativos. Negativos no sentido de que o aluno se comporta para eliminar uma condição aversiva; o 7 Todos os comportamentos (com exceção dos comportamentos reflexos), de todos os indivíduos, são emitidos porque produzem conseqüências ambientais reforçadoras (e por isso exercem uma função no ambiente), que retroagem em suas ações, a despeito do grau de consciência que temos (ou não) das conseqüências que mantêm nosso comportamento. aluno faz para não levar bronca, para não tirar notas baixas, para se livrar de uma determinada tarefa. 2) Apenas reforçando o aprender positivamente, poderemos tornar a aprendizagem o próprio benefício per si (reforçamento natural8), mesmo que no início e durante a intermediação do processo de ensinar/aprender o reforçamento seja arbitrário (elogios, pontos, notas, etc.). 3) Disponibilizar ao aluno feedback imediato, de modo que a consequenciação (reforço positivo) disponibilizado ao aluno ocorra imediatamente após a emissão do comportamento de aluno (por exemplo, disponibilizar um feedback ao aluno, em relação ao seu desempenho, logo após ter terminado um problema de álgebra). Este princípio básico da Instrução Programada serve como suporte para manter o interesse do aluno reforçando contingentemente seu desempenho. Segundo Keller (1983/1979), durante o aprendizado através da Instrução Programada, “o aluno passa pelo programa na sua própria velocidade, respondendo abertamente a cada item, com confirmação ou correção imediata de tudo o que faz” (p.180). 4) Comparar cada aluno com ele mesmo: A filosofia do sujeito único, provinda da Análise Experimental do Comportamento, permitiu que uma nova metodologia de estudo científico para o comportamento (entendido como a estímulos antecedentes, resposta e estímulos conseqüentes) fosse construída. Segundo essa metodologia, a taxa de respostas (ou qualquer outra dimensão da resposta como intensidade, duração, variabilidade) passou a ser estudada como variável dependente e os estímulos antecedentes e conseqüentes passaram as ser estudados como variáveis independentes (aquelas manipulados pelo experimentador). Assim sendo, o sujeito é usado como seu próprio controle; as mudanças comportamentais que ocorrem (depois da manipulação de variáveis) devem ser comparadas com os padrões comportamentais previamente observados para aquele sujeito. A filosofia do sujeito único contrapõe-se ao modelo de estudo das ciências naturais que compara grupo de sujeitos entre si. No âmbito escolar, ao analisar o comportamento do aluno, o desempenho do mesmo deve ser comparado sempre com ele mesmo. O comportamento do aluno 8 Entende-se por reforçamento natural o efeito de aprender por aprender; aprender pelos efeitos que isso produz no aluno (“saber mais” e/ou utilizar o que foi aprendido em suas vivências cotidianas, de modo a melhorar a qualidade de suas relações na sociedade). deve ser observado e analisado levando-se em conta a sua história de aprendizagem específica e individual nas contingências de aprendizagem planejadas pela instituição de ensino. Assim, o parâmetro do desempenho do aluno não deve ser comparado com o grupo, mas com ele mesmo. 5) Orientar e auxiliar o aluno a compor suas respostas passando por todos os passos (pré-requisitos) necessários para compor um comportamento complexo. Antes de avançar ele precisa ser apresentado para aquele ponto até compreender tudo sobre ele (exigência de domínio pleno de pré-requisitos): “Qualquer coisa a ser aprendida tem seus pré-requisitos – todas as outras coisas que o aluno tem que saber primeiro. Um programa de ensino efetivo garantirá que antes de ter que aprender algo, o aluno já terá aprendido tudo o mais que ele tem que saber” (Sidman, 1995, p. 291). 6) Apresentar os conteúdos em uma ordem de complexidade crescente, preocupando-se em manter o comportamento adquirido a cada estágio novo: “É papel do professor arranjar o material em uma seqüência de passos relacionados, cada passo sucessivo utilizando o que já foi aprendido. Resulta daí que os alunos que realmente têm os pré-requisitos para cada passo caminharão sem quaisquer erros” (Sidman, 1995, p. 291). 7) Expor o aluno ao material para o qual ele está preparado. Logo, o material deve ser adequado para a aprendizagem daquele aluno particular; para tanto, todo o material utilizado para ensinar, de forma geral, deveria sofrer uma adaptação tanto quanto necessária para aumentar as chances de compreensão do aluno em cada pré-requisito e/ou conteúdo a ser abordado. Utilizações de procedimentos como hierarquia de dicas e fragmentação de tarefas 9 podem surtir efeitos positivos na aprendizagem. 8) Além de planejar o ensino, é importante monitorar o desempenho do aluno constantemente, de modo a avaliar se os procedimentos escolhidos estão auxiliando o aluno a progredir ou se o professor deve planejar outra forma de ensinar e avaliar. 9) Programar uma aprendizagem sem erros. Todos os oito passos acima levariam ao planejamento do ensino que minimizaria o erro. É preciso reforçar positivamente apenas o acerto; logo, quanto mais acertos são produzidos, mais 9 Procedimentos que serão detalhados adiante. condições são criadas para que o comportamento do aluno aumente em freqüência e intensidade (ou seja, aumento o valor reforçador do estudar). “Aprendizagem sem erros é uma área de pesquisa grande e ativa e ainda há muito por ser descoberto sobre suas possibilidades e limitações. Sua relevância aqui é seu potencial para remover os últimos vestígios de coerção do processo educacional .... Um efeito colateral positivo indiscutivelmente seria um abrandamento do problema dos desistentes; alunos bem-sucedidos raramente fogem da escola. Um segundo efeito colateral positivo seria uma mudança de ênfase das escolas na ´disciplina´ para uma ênfase renovada na educação” (Sidman, 1995, p. 292). A Instrução Programada, tal como especificada nos nove tópicos acima, é um método altamente beneficiado com a conjugação a uma tecnologia especial; para tanto, Skinner idealizou que essa metodologia fosse aplicada aos alunos, em momentos préprogramados compatíveis com as dinâmicas tanto individuais quanto de grupo, em “máquinas de ensinar” (Skinner, 1972/1968). Esses equipamentos hoje são representados pelos computadores, que têm sido utilizados em escala crescente em vários países. Essa tecnologia aliada a um corpo docente, preparado para esse uso e para os debates/questionamentos e aprendizagem em grupo (tanto em ambiente planejado como no ambiente natural), tem as seguintes vantagens: 1) É possível ter um acompanhamento mais fidedigno da aprendizagem do aluno (registro mais eficaz enquanto o aluno está trabalhando neste ambiente de tecnologia, já que o computador pode registrar as respostas imediatamente e com pequenas margens de erros). 2) O feedback pode ser programado para ser liberado contingente ao comportamentos-alvo de cada aluno, individualmente; assim, em muitos momentos importantes de aquisição de repertórios com conteúdos específicos, o aluno não precisa esperar para receber seu feedback junto com a classe inteira, formada por indivíduos com ritmos e necessidades diferentes. ”Mesmo em uma classe pequena, o professor geralmente sabe que está indo muito devagar para alguns alunos e muito depressa para outro. Aqueles que poderiam ir mais depressa sofrem, e aqueles que deveriam ir mais devagar são mal ensinados e desnecessariamente castigados pelas críticas e insucessos” (Skinner, 1972/1968, p. 29). 3) Juntamente com outros recursos/materiais didáticos (como livros, filmes, revistas, etc) o computador agrega interatividade. 4) Não abre mão do (a) professor(a): “A professora tem uma tarefa mais importante do que a de dizer certo ou errado... Os recursos só virão melhorar estas relações insubstituíveis... Se os progressos conseguidos recentemente no controle do comportamento podem dar à criança uma genuína competência na leitura, na escrita, na ortografia e na aritmética, então a professora pode começar a funcionar, não no lugar de uma máquina barata, mas através dos contatos intelectuais, culturais e emocionais daquele tipo todo especial que testemunham a sua natureza de ser humano.” (Skinner, 1972/1968, p. 25). Até este ponto foi discutida teoricamente a visão da educação na perspectiva skinneriana, tanto num nível ontogenético quanto cultural. Cabe, então, apresentar ao leitor como o analista do comportamento intervêm nas contingências educacionais de modo a possibilitar o ensino de habilidades educacionais para indivíduos com Autismo e, em última análise, possibilitar a Inclusão Escolar. Entendendo as dificuldades do Autismo: O diagnóstico de Autismo não será aqui detalhado, pois ele está sendo amplamente discutido nos demais capítulos desse livro pelos devidos especialistas. Porém, é relevante destacar uma dificuldade, intrínseca ao diagnóstico do autismo, que interfere diretamente nas contingências de ensino que serão explicitadas a seguir. Uma vez que comportamento operante é mantido por variáveis ambientais (estímulos antecedentes e conseqüentes) é preciso olhar para essa unidade de análise no trabalho com a população com diagnóstico de Autismo. Dentro do escopo teórico que orienta este trabalho, considera-se que as conseqüências ou estímulos reforçadores do comportamento podem ser de três tipos, conforme descrito por Skinner (2000/1953): - Reforçadores Primários: Funcionam para toda a espécie, garantindo a sobrevivência da mesma. (Ex: itens comestíveis, de forma geral); - Reforçadores Condicionados: Estímulos do ambiente adquirem função reforçadora quando pareados10 com os reforçadores primários, ou seja, são todos aqueles estímulos ambientais como objetos (ex: mamadeira, brinquedos, decoração do ambiente físico), estímulos sonoros (voz dos familiares, propriedades sonoras da língua materna, músicas, etc), estimulações sensoriais (carinhos, movimentos com o próprio corpo, 10 Entende-se por estímulos pareados aqueles estímulos que aparecem simultaneamente no ambiente ou muito próximos. posição do corpo) que aparecem junto com os reforços primários; a figura materna (podendo ser representada por outra pessoa que não a própria mãe exatamente, tanto em função complementar como substitutiva) que em todo o momento realiza todos os cuidados com o bebê, desde os primeiros momentos de vida, adquire um forte valor condicionado por estar pareada com todos os cuidados que garantem a sobrevivência. - Reforçadores Generalizados: São estímulos que, por sua vez, foram pareados com muitos outros reforçadores secundários; pode-se dizer que a atenção social e o afeto são dois potenciais reforçadores generalizados para a espécie humana. Assim sendo, os reforçadores condicionados e os generalizados são, com freqüência, produtos de contingências naturais: poder-se-ia dizer que desde o nosso nascimento somos expostos a uma história de ampliação de reforçadores (num linguajar comum, poderíamos dizer somo expostos a uma história de ampliação de interesses e motivação) tão particular e tão importante para o nosso desenvolvimento, em nossa sociedade. Em se tratando de nossas crianças autistas, poderíamos dizer que as mesmas têm uma tendência a não ser tão sensíveis a essa história de pareamento ou de ampliação de reforçadores em suas vidas. Em outras palavras, por mais que elogios, carinhos, brinquedos apareçam junto com os reforçadores primários na história das crianças autistas, muitos estímulos do ambiente não se tornam estímulos reforçadores para as mesmas. Tal insensibilidade11 acarreta, necessariamente, em padrões comportamentais restritos, bem como seus interesses se tornam restritos. Para reverter essa dificuldade tão importante, ela deve ser planejada uma intervenção comportamental com crianças autistas (dentro dos limites e possibilidades individuais de cada criança, obviamente). O Modelo de Inclusão da Gradual12: como analisar e planejar a inclusão escolar de alunos autistas Utilizar os princípios e metodologias da Instrução Programada na educação em geral (indivíduos com desenvolvimento típico) é, sem dúvida, uma tarefa difícil. Em se tratando de um aluno com diagnóstico de autismo, essa missão é mais desafiadora. O analista do comportamento, além de planejar as conseqüências imediatas ao comportamento desse aluno, tem que identificar quais conseqüências cumprirão o efeito de reforçar o aprender dele. Isso porque, provavelmente, os reforços secundários e 11 12 Tal insensibilidade pode ocorre de forma diferenciada para cada criança com diagnóstico de autismo. Gradual é um Grupo de Intervenção Comportamental, do qual as autoras participam. generalizados (elogios e atenção disponibilizados no ambiente escolar), não funcionarão como conseqüências reforçadoras para ele. Vamos pensar num exemplo prático: uma sala de aula com crianças em idade préescolar (3 anos, por exemplo), que são instruídas pela professora a desenhar, utilizandose, para tanto, giz e papel. Imaginemos agora, nessa sala de aula, uma criança diagnosticada com autismo, que, idealmente, deveria seguir as mesmas instruções das demais crianças. Como poderíamos analisar tal comportamento e que procedimentos deveríamos propor a fim de aumentar as possibilidades do aluno se engajar nesta atividade? Antes de propor qualquer intervenção, temos que avaliar o repertório comportamental desse aluno: quais são os possíveis reforçadores ou objetos de interesse dessa criança? Essa criança segue instruções simples, quais? Essa criança senta-se à mesa espontaneamente? Como essa criança se comunica (gestos, sons, utiliza o adulto como ferramenta)? Que habilidades pré-requisito estão consistentes em seu repertório (contato visual, imitações motoras, identificação de objetos funcionais)? Essa criança tem controle dos esfíncteres bem estabelecido? Para responder às questões acima descritas, contamos, principalmente, com dados provindos de técnicas comportamentais de observação e registro do comportamento da criança em diferentes situações. Observamos essa criança: em determinados momentos da rotina doméstica, na escola (e/ou outros ambientes freqüentados por ela), e em ambientes passíveis de controle de variáveis (geralmente ocorrem em sessões realizadas no consultório), propícios para testar-se diretamente como a criança se comporta perante instruções e estímulos e ou passíveis de utilização de testes comportamentais padronizados (ABLA – Avaliação de Habilidades Básicas de Aprendizagem, desenvolvido por Kerr, Meyerson e Flora, 1977; ABBLS – Avaliação de Habilidades Básicas de Aprendizagem, desenvolvida por Partington e Sundberg, 1998 etc). Com os dados e registros provindos da avaliação dos repertórios da criança, identificam-se os comportamentos-alvo da intervenção; tanto aqueles comportamentos que estão em excesso em seu repertório ou comportamentos disruptivos (já que prejudicam a interação da criança com o ambiente social e dificultam a aprendizagem de novos comportamentos), quanto àqueles comportamentos que queremos maximizar (contato visual, atenção compartilhada, brincar, pré-acadêmicos, acadêmicos, sociais, verbais e aqueles observados em atividades de vida diária). Voltaremos ao exemplo hipotético13 da nossa criança diagnosticada com autismo. Suponhamos que ela tenha sido avaliada e que nessa avaliação observamos que a criança: Comportamentos da área social: A criança, quando não direcionada por um adulto, escolhe espontaneamente assistir à televisão (desenho); A criança brinca apenas com legos, encaixando-os uns sobre os outros, sempre os empilhando numa determinada seqüência de cores; A criança passou 50% do período observado em atividades autoestimulatórias (estralar dedos e olhar as mãos), sendo que em 30% desse tempo o comportamento auto-estimulatório ocorreu em momentos de transição de atividades na escola e em casa. Em situações típicas de demanda, ou seja, quando a criança era direcionada para um ambiente estruturado de maneira a solicitar respostas específicas da criança (como sentar-se à mesa e diante de um livro apontar para uma figura frente à instrução “cadê o avião?”) a mesma emitia comportamentos de fuga-esquiva, tais como empurrava a mesa, chorava e jogava-se ao chão. Esses comportamentos foram observados na sala de avaliação e na sala de aula da escola. Comportamentos Verbais: A criança não pede por alimentos, nem por atividades; ela mesma dá conta de pegar e fazer o que quer, sem a intermediação de terceiros. A criança emite muitos sons, reconhecíveis como sons da língua portuguesa. Notou-se um aumento significativo de sons durante o banho. Comportamentos pré-acadêmicos/pré-requisito: Estabelece contato visual (orientação social) quando chamada por um adulto familiar, se não engajada numa atividade reforçadora ou autoestimulatória; Não partilha atenção com objetos e adultos concomitantemente e não monitora a atenção do adulto em relação ao objeto (atenção compartilhada); 13 Fala-se em exemplo hipotético, pois não estamos retratando a história de uma criança em especial; mas ilustra uma realidade comumente observada nas crianças que atendemos na Gradual. Não identifica cores, mas identifica alguns objetos familiares (ou seja, sabe pegar um copo no armário diante a instrução “pegue o copo”); Segue instruções simples, que envolvem atividades da rotina, tais como “leve o prato a pia”, “apague a luz”, “mande um beijo”. Imita de maneira generalizada movimentos apresentados pelo seu personagem de TV preferido, bem como movimentos apresentados por um adulto. Voltamos então a nossa questão inicial: como poderemos ajudar essa criança, com o repertório comportamental acima descrito a sentar-se numa mesa, na sala de aula, e pintar? O analista do comportamento pode ajudar de duas maneiras: 1) planejando contingências de aprendizagem num ambiente individualizado e protegido (intervenção comportamental individualizada em consultório) e 2) planejando o manejo de contingências no ambiente natural (inclusão na escola). Planejando contingências de aprendizagem num ambiente individualizado e protegido: - O que ensinar: A partir dos dados provindos dessa avaliação comportamental, precisamos, agora, delinear o que ensinar (currículo comportamental) e como (procedimentos) para nossa criança do exemplo acima. Considerando que o comportamento de sentar-se à mesa e de desenhar é um comportamento complexo, precisamos analisá-lo em unidades comportamentais mais simples (fragmentação da tarefa). Feito isso, analisaremos quais pré-requisitos deverão ser desenvolvidos no repertório dessa criança. Essa análise pode ser visualizada no quadro abaixo. A coluna da direita, nos apresenta os comportamentos do âmbito pré-acadêmico que seriam trabalhados no currículo da criança aqui exemplificada. Tabela 1. Habilidades pré-acadêmicas ou pré-requisitos a ser desenvolvido numa criança diagnosticada com autismo a partir dos dados provindos da avaliação comportamental. Fragmentação do comportamento Comportamentos já Comportamentos a serem de sentar-se à mesa e pintar em desenvolvidos no maximizados no repertório da unidades comportamentais mais repertório da criança criança exemplificada simples. Contato Visual anteriormente Sim, pelo menos com Contato visual de maneira Contato ocular com estímulos do adultos familiares. generalizada. Sim, parcialmente. Ampliar ambiente (papel, giz) os reforçadores da criança (ou os estímulos para os quais ela se atenta). Imitação motora Sim, de maneira __ generalizada. Seguimento de Instruções (ficar sob Sim, para atividades da Seguir instruções controle de estímulos auditivos) rotina doméstica. generalizada. Sentar-se à mesa Não, a criança foge se Sentar-se à mesa de maneira situações como esta. Habilidades Motoras Fina (pegar Comportamento não giz e desenhar) avaliado, pois a criança Habilidades Motoras Fina não sentou-se à mesa. Obviamente outros comportamentos entrariam nesse currículo, como o brincar e comportamentos verbais (como pedidos, nomeação, repetição de sons etc), a fim de garantir um desenvolvimento comportamental pleno da criança e a minimização dos comportamentos disruptivos. Mas não explicitamos essas outras habilidades aqui porque queremos focar as habilidades diretamente ligadas ao pré-acadêmico e acadêmico. - Como ensinar: O currículo comportamental, que é desenvolvido pelo analista do comportamento, é composto por programas. Cada programa, que também é desenvolvido pelo analista do comportamento, descreve o procedimento de ensino a ser executado a fim de maximizar um comportamento-alvo específico. O seguimento ou a aplicação do programa com os indivíduos autistas pode ser executado por um aplicador especialmente treinado para tanto. Tanto o currículo, quanto cada programa do mesmo, são individualizados e específicos para cada criança, sempre respeitando as peculiaridades de seu repertório comportamental. Cada programa, além de descrever o procedimento de ensino que o aplicador deve aplicar, requer uma tecnologia de registro específico. O registro garante o controle do aplicador sob o que está acontecendo com a criança. O registro do desempenho da criança ao longo do tempo permite observar as mudanças no mesmo ao longo das sessões e analisar se o procedimento de ensino está sendo efetivo (comparação do indivíduo com ele mesmo). Além disso, o registro permite que diferentes aplicadores14 acompanhem o desempenho do indivíduo em questão, dando continuidade aos procedimentos das intervenções anteriores. Para o ensino de cada programa utilizamos procedimentos testados e referendados pela abordagem comportamental. Discorreremos sobre alguns deles: O primeiro procedimento, que embasa toda a prática comportamental descrita neste capítulo, é o reforçamento. Por exemplo, se queremos aumentar o contato visual de uma criança (como a acima descrita) podemos disponibilizar, após a emissão de cada contato visual da criança, um evento supostamente reforçador a mesma (no nosso caso, hipotetizamos que o acesso ao desenho da televisão pode funcionar como um estímulo reforçador). Se em circunstâncias posteriores for observado um aumento na freqüência do contato visual, pode-se dizer que esse comportamento de estabelecer o contato visual está sendo reforçado e que a conseqüência usada (o DVD) está desempenhando a função de estímulo reforçador para aquela resposta da criança. Skinner (1953/1994) explicita melhor essa idéia: “A única maneira de dizer se um dado evento é reforçador ou não para um dado organismo sob dadas condições é fazer um teste direto. Observamos a freqüência de uma resposta selecionada, depois tornamos um evento a ela contingente e observamos qualquer mudança na freqüência. Se houver mudança, classificamos o evento como reforçador para o organismo sob as condições existentes...”. (Skinner, 1994, p. 81) Um segundo procedimento, comumente utilizado na intervenção comportamental, é o procedimento de pareamento de estímulos. Esse procedimento visa ampliar o número e a qualidade dos estímulos reforçadores do indivíduo15. Na prática, ele consiste em parear estímulos ambientais que já funcionam como estímulos reforçadores para o indivíduo com estímulos novos, que ainda são “irrelevantes” para o mesmo. Por exemplo, suponhamos que nossa criança tenha maximizado seu contato visual após ter sido reforçada com a apresentação do desenho da televisão. Assim sendo, cada vez que disponibilizarmos o desenho como reforçador, apresentaremos, 14 Nota-se aqui que a intervenção comportamental é realizada por mais de um aplicador (pelo menos idealmente). Conforme discutiremos adiante, isso já é uma programação da generalização. 15 Conforme discutido anteriormente, este procedimento é de extrema importância no tratamento de crianças autistas que apresentaram uma baixa sensibilidade na história de pareamento de reforçadores. concomitantemente outros estímulos, tais como elogios, brinquedos etc. Este é o procedimento de pareamento de estímulos. Um terceiro procedimento a ser citado é o da modelagem, que consiste em reforçar pequenas respostas que se aproximam topograficamente (ou em sua forma) da resposta desejada (Catania, 1999). Por exemplo, conforme já descrito, a nossa criança diagnosticada com autismo não emite pedidos, como por exemplo o uso da palavra “dá”. Se formos esperar que a criança emita o “dá”, em sua forma final, para, então, disponibilizar uma possível conseqüência reforçadora, poderemos esperar por muito tempo. Em função dessa “espera”, podemos ir reforçando “tentativas” ou aproximações da resposta “dá”. Podemos reforçar apenas a emissão do som “a”, de forma que os sons emitidos pela criança fiquem cada vez mais próximos de “dá”. Podemos ainda utilizar o procedimento de tentativa discreta. Esse procedimento envolve 4 passos sucessivos: 1) instrução, 2) resposta da criança, 3) consequenciação (reforço positivo) e 4) intervalo entre tentativas (Catania, 1999, p. 424). Esse procedimento é freqüentemente usado no ensino de programas préacadêmicos, verbais e acadêmicos em ambiente estruturado. A instrução varia de acordo com o comportamento que está sendo ensinado em cada programa: pode ser um movimento que a criança tem que imitar, ou um pedido (por exemplo: “por favor, pegue a bola”), ou a apresentação de um numeral impresso, por exemplo. Para garantir que a aprendizagem ocorra minimizando a probabilidade de erros e que haja um alto nível de reforçamento positivo (conforme já discutimos anteriormente) podemos programar hierarquia de dicas de respostas para o comportamento que queremos desenvolver (Maurice, Green e Foxx, 2001). O aplicador apresenta uma tarefa e ajuda a criança a realizá-la, a partir de dicas variam que acordo com a criança e com o comportamento ensinado. A dica pode ser dada pelo movimento do aplicador de forma física, gestual, verbal ou com a utilização de outros estímulos visuais (imagens, figuras, símbolos, objetos). As dicas fornecidas passam das mais intrusivas para as menos intrusivas, de forma que a ajuda apresentada pelo aplicador é retirada gradualmente e a independência da criança em emitir os comportamentos é promovida.. Ainda em relação à intervenção individualizada, o analista do comportamento precisa planejar mudanças no esquema de reforçamento adotado: a princípio, libera-se conseqüência reforçadora de forma contingente à resposta emitida pela criança em cada tentativa discreta (esquema de reforçamento contínuo); mas, à medida que o comportamento já está estabelecido no repertório da criança e precisa ser mantido, aumentamos o número de respostas requeridas para que a conseqüência seja liberada (esquema de reforçamento intermitente). Essa mudança de esquemas de reforçamento é fundamental para a generalização e manutenção dos comportamentos em outros contextos sociais, já que as pessoas na sociedade comumente reforçam os comportamentos umas das outras apenas de maneira intermitente. O analista do comportamento planeja a realização das sessões de atendimento em mais de um local (por exemplo: no consultório, em um parque) de forma que comportamentos ensinados em um contexto possam também ocorrer em outros contextos. O analista do comportamento também planeja com os familiares e outras pessoas, situações cotidianas nas quais a criança deve ser encorajada a emitir as respostas ensinadas durante as sessões de intervenção comportamental. Se a criança aprendeu a imitar o comportamento do aplicador de bater palmas, ela deverá ser encorajada a imitar esse comportamento emitido por outras pessoas em momentos de “cantar parabéns” de festas de aniversário, em outras situações de comemoração, durante a música tocada na escola etc. Por fim, pode-se dizer que além da instalação e maximização de repertório adaptativo, é fundamental que tais comportamentos ocorram no ambiente natural da criança (em casa, na escola etc). Para que isso aconteça é necessário planejar a generalização dos repertórios aprendidos na intervenção individual para outros contextos. Agindo assim, a criança poderá efetivamente se integrar na sociedade. A generalização, de acordo com Baer, Wolf e Risley (1968) deve ser programada levandose em conta quatro aspectos: (1) programar para que comportamentos aprendidos pela criança com o aplicador venham a ser emitidos em outros ambientes, (2) para que os comportamentos aprendidos venham a ser emitidos na relação com outras pessoas, (3) para que a criança venha a emitir comportamentos que não foram diretamente ensinados na intervenção, mas aprendidos em seu ambiente natural e (4) que os comportamentos sejam mantidos ao longo do tempo. Existem várias decisões que são tomadas pelo analista do comportamento que possibilitam a generalização dos comportamentos. Uma delas diz respeito ao rodízio de profissionais que atendem a criança, isso é importante para que a criança aprenda a se relacionar com mais e mais pessoas, entre elas os professores da escola. Além do rodízio dos profissionais é importante variar os estímulos apresentados para a criança, as instruções fornecidas à mesma, modificar o ambiente comportamental, tornando-os cada vez menos artificiais e mais da intervenção similares com o ambiente escolar e com o ambiente natural de forma geral. A questão da generalização estará sendo abordada nos próximos tópicos. Todos esses procedimentos da intervenção comportamental individualizada, visam, em última análise, preparar a criança para a inclusão escolar, tornando-a mais preparada (ou com mais pré-requisitos) para ser bem sucedida no ingresso à escola. Essa etapa é longa e muitas vezes antecede a procura de uma escola, já que um repertório adaptativo mínimo é uma das chaves do sucesso da inclusão. A fim de conduzir o leitor a compreender nosso Modelo de Inclusão, descreveremos qual é então o papel do analista do comportamento no planejamento da inclusão na escola, fora do ambiente protegido da intervenção individualizada. Quem planeja a inclusão no Modelo de Inclusão da Gradual? É o analista do comportamento quem conduz uma equipe e planeja a Inclusão Escolar num programa de intervenção com autismo na Gradual. Para tanto, ele precisa, do nosso ponto de vista, ser formado em Psicologia e ter especialização em Análise do Comportamento (experimental e/ou aplicada) com autismo. Assim sendo, ele possuirá um arcabouço teórico consistente, conhecerá os conceitos básicos da Análise do Comportamento e será um pesquisador da Área Aplicada ao autismo, e, por isso, terá condições de planejar e supervisionar a inclusão. Qual o papel do Analista do Comportamento no processo de Inclusão? Além de elaborar a intervenção e supervisionar o aplicador da mesma, faz parte do papel do analista na inclusão, se relacionar com: o acompanhante terapêutico, a escola e a família. Cada uma dessas relações será descrita abaixo. 1) O analista supervisionando o acompanhante terapêutico (AT) O analista do comportamento inicialmente precisa selecionar e orientar cada profissional ou para-profissional que vai atuar com o aluno. Para tanto, elegemos alguns critérios para essa escolha: disponibilidade para o treinamento e para atender a família, ser de uma área de conhecimento afim (de preferência pedagogia), sensibilidade e habilidades pessoais para atuar com pessoas com desenvolvimento atípico (gostar de brincar, ser paciente, saber trabalhar em equipe), ter uma visão de homem compatível com a filosofia da Análise do Comportamento. Além disso, respeitamos os critérios que a família julgar essenciais. Depois de selecionar, faz parte do papel do analista do comportamento o treinamento e supervisão do AT. Tal formação engloba o ensino de: como observar e coletar dados (preencher folha de registro que o analista do comportamento elabora), conceitos básicos da análise do comportamento, como aplicar técnicas comportamentais, noções básicas do diagnóstico de autismo e da intervenção medicamentosa (se houver), como intermediar as relações (entre familiares, professores, auxiliares, colegas e crianças em inclusão). 2) O analista em parceria com a escola Ainda para elaborar a Inclusão, o analista do comportamento elabora em conjunto com a escola (de preferência com a direção, coordenação e a professora de sala) um Currículo Adaptado. Esse Currículo Adaptado vai ser confeccionado levandose em conta o que a escola espera dos alunos daquela sala, naquela idade escolar, (Currículo Típico) e o que o analista do comportamento conhece do repertório da criança autista na intervenção individual (a partir de toda a avaliação constante e do estudo minucioso que o método comportamental permite). Da confluência desses dois interesses (currículo típico da escola e currículo adaptado, possível para aquele aluno), é que o analista do comportamento vai planejar a inclusão. Nos Quadros 1 e 216 exemplificamos duas possibilidades, dentre várias, de Currículo Adaptado. No Quadro 1, podemos visualizar a adaptação curricular de uma criança em processo de inclusão no 2º ano do Ensino Fundamental I, contemplando atividades da disciplina de Português, referente a um trimestre. Já no Quadro 2, apresenta-se um trecho de uma análise do repertório comportamental da criança, comparando-o com o repertório exigido nos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental I. Essa análise foi desenvolvida para decidir em qual ano a criança estaria melhor incluída. INSERIR QUADROS 1 e 2. 3) O analista em parceria com a família Além de firmar essa parceria com a escola e supervisionar o acompanhante terapêutico, o analista do comportamento, precisa envolver a família nesse processo de inclusão. 16 Vale lembrar que esse currículo é sempre elaborado individualmente, seria contra todos os princípios de análise do comportamento (discutidos no início do capítulo) usar o mesmo de uma criança para outra. Envolver a família é garantir que a mesma compreenda a filosofia do trabalho, saiba discutir cada procedimento que foi planejado, participe de alguma forma da coordenação da equipe (acompanhante terapêutico e aplicador da intervenção individualizada). Além disso, nesse Modelo de Inclusão, que é embasado fortemente numa nova filosofia sobre comportamento (conforme descrito inicialmente no capítulo), é fundamental que a família se identifique com a mesma. O segredo do sucesso muitas vezes é ter os pais observando de perto e administrando sua equipe. Por exemplo, a família pode dar o suporte na confecção do material, marcar reunião entre a equipe, fazer filmagens e computar dados para entregar ao analista do comportamento. Depois de explicitar todas as relações estabelecidas pelo analista do comportamento com a escola, a família e a equipe (aplicador de intervenção e acompanhante terapêutico) e de descrever seu papel em cada relação, vamos focar num dos papéis mais centrais e polêmicos nesse processo de Inclusão: O AT. Quem pode ser o AT da escola? Quanto ao acompanhante da escola (AT), nossa indicação, preferencialmente, é que ele seja um estagiário (a) ou profissional da área da pedagogia (uma vez que esse profissional tem uma formação específica favorável para atuar na escola e geralmente tem habilidades para se relacionar com os alunos). Na ausência desse perfil, podemos sim, treinar e orientar profissionais de áreas afins (Psicologia, Terapia Ocupacional, por exemplo) e até um membro da família ou cuidador (babá, enfermeiro). Temos segurança de delegar esse papel para um profissional de outra área ou um para-profissional, que não é analista do comportamento, se: tivermos o analista do comportamento desempenhando o papel de supervisor descrito acima, se tivermos muito bem descritos e escolhidos os procedimentos de ensino: “A técnica é um procedimento, um modo de proceder (…). Se sua descrição for precisa o suficiente, ela pode ser treinável e aplicável por qualquer pessoa”. (Banaco, 1999, p.79) Quando selecionar e treinar um acompanhante para a escola? Defendemos o papel do acompanhante na escola sempre que a criança tem dificuldades de generalizar comportamentos que estão sendo aprendidos em intervenção individualizada. Ou seja, sempre que o aluno diagnosticado com autismo apresentar déficits em repertório acadêmico (leitura, escrita, matemática) ou pré-acadêmico (contato visual, identificação, seguimento de instrução, imitação), ou ainda déficits sociais (agressão, estereotipia, brincar) e verbais (iniciar diálogo, pedir, responder, nomear) que dificultam o entrosamento social e o aprendizado na escola. Quanto mais repertório comportamental a criança adquirir e quanto mais ela aprender a generalizar, menos a presença do acompanhante será necessária. Queremos dizer com isso que, dentro do Modelo de Inclusão da Gradual, o papel do AT deve ser cuidadosamente planejado para ser transitório, como uma fase necessária na adaptação e inclusão da criança, mas que precisa ser superada. O que faz o acompanhante na escola? O acompanhante será orientado a observar diretamente o comportamento, e a partir dessa observação fazer registro sistemático. Isso significa que serão elaboradas (pelo analista do comportamento) folhas de registro, para acompanhar a eficácia do material adaptado produzido e a evolução de comportamentos alvo frente aos procedimentos. O papel do acompanhante é registrar e sistematizar os dados em gráficos de aprendizagem. Ao analisar os gráficos, o analista do comportamento replaneja o currículo, reorienta a confecção de material adaptado e de procedimentos específicos (em parceria com a escola). Podemos visualizar dois diferentes exemplos práticos de folha de registro observando os Quadros 3 e 417. INSERIR QUADROS 3 e 4. Cabe também ao acompanhante, sob orientação do analista do comportamento, alterar contingências da escola (as relações específicas entre o aluno e seu ambiente 18) e consequentemente alterar padrões comportamentais do aluno (garantir aprendizagem). Alterar contingências é: 1) modificar eventos antecedentes (material e como apresentálo, além de procedimentos que envolvem dicas: verbais, escritas, auditivas, gestuais) para 2) conseguir que o aluno responda corretamente a esses eventos (oferecendo ou não ajuda para essa ação), e 3) consequenciar essa ação (disponibilizar reforçadores 17 Vale lembrar que essa folha de registro é sempre elaborado individualmente, seria contra todos os princípios de análise do comportamento (discutidos no início do capítulo) usar a mesma de uma criança para outra 18 Para a análise do comportamento ambiente pode ser todo evento que afeta a ação do indivíduo: pode ser outra pessoa, o próprio organismo do indivíduo, objetos e sons do ambiente. positivos que aumentem a chance do aluno continuar respondendo). Assim o aluno vai conseguir se comportar adequadamente, ou seja, se adaptar ao ambiente escolar e aprender. Mudamos eventos antecedentes de diversas formas: adaptando material, mudando a forma como o material é apresentado pela professora, disponibilizando dicas (textuais: palavras escritas, auditivas: falas, gestuais, físicas...) Exemplificaremos agora como se procede em cada uma dessas mudanças. - O material adaptado: o que é e como é elaborado? O ponto de partida para elaborar o material adaptado é o Currículo Adaptado. A partir dele, o analista do comportamento analisa todo material da escola: livro, apostilha, folhas de atividade, provas, caderno, o que é escrito na lousa, brinquedos, jogos, murais na parede da sala, programas apresentados no computador, equipamento audiovisual de forma geral e objetos que serão manipulados ou observados pelo aluno na escola, etc. Além disso, o analista sugere para o acompanhante como transformar cada um deles, para que se tornem em si motivadores e compatíveis com o nível de aprendizado desse aluno (conforme os princípios da Instrução Programada descritos no início do capítulo: aprendizagem sem erro, feedback imediato e reforçamento positivo). É fundamental ter um material adaptado que facilite a criança em inclusão motivar-se, ficar atenta e fazer os exercícios sem precisar de tanta ajuda intrusiva do acompanhante. Denominamos ajuda intrusiva sempre que a acompanhante precisa dar ajuda física (como por exemplo, pegar na mão da criança para ela desenhar). Tais ajudas intrusivas acabam expondo a criança em inclusão (pois a diferenciam demais das outras) e podem até causar dependência. Assim sendo, gerar independência e tornar o papel da AT menos intrusivo é um grande objetivo do material adaptado. Peguemos como exemplo uma criança diagnosticada com autismo com 5 anos de idade que tinha dificuldade de desenhar, ou seja, frente a uma folha de papel em branco (desenho livre) ela apenas riscava o papel. No currículo típico, o desenho livre era pedido para as crianças da sua sala diariamente e a professora distribuía uma folha de papel em branco para cada criança. Uma adaptação de material, que propomos nesse caso, foi preparar diferentes folhas para ser entregue para essa criança (com pontilhado, com metade do desenho já feito, com uso de formas para facilitar a produção do desenho). Essas dicas na folha foram programadas porque em intervenção individualizada já tinham sido testadas e funcionaram para a criança permanecer na atividade e conseguir produzir um desenho. Aos poucos (depois de avaliar o desempenho da criança através dos registros), essas dicas na folha foram sendo retiradas gradualmente, até que a criança aprendeu a desenhar frente a uma folha em branco. Outro exemplo ainda, de adaptação de material que pode ser feita é refazer o livro didático que a criança diagnosticada com autismo vai utilizar. Ela vai receber um livro com a mesma capa que as outras crianças, mas dentro de cada página, vamos alterando os exercícios de modo que ela consiga fazer os exercícios com a menor ajuda possível. Um exemplo de modificação de uma página de livro pode ser deixar mais espaço de linhas em branco para a criança responder ao exercício, outro pode ser deixar um exercício por página para limpar a folha de estimulação que distraia a criança, ou ainda acrescentar fotos ou figuras que façam sentido para a criança compreender um texto que não tinha imagens, e assim por diante. Ainda exemplificando o que é adaptar o material, podemos citar uma criança de 7 anos, diagnosticada com autismo, que estava em processo de inclusão numa sala de alfabetização, e não estava aprendendo a identificar as letras quando apareciam no livro. Essa criança tinha como fonte de motivação o uso de computador, principalmente usando jogos eletrônicos. Nossa proposta de adaptação foi escanear as páginas do livro didático (no qual as outras crianças da sala faziam exercício de alfabetização), levando os mesmos exercícios para o computador. Uma vez no computador, reformulamos as dicas que poderiam aparecer na tela, e que favoreceram a identificação das letras por parte dessa criança. Como reforçador (conseqüência imediata), a cada exercício feito, aparecia na tela o jogo preferido da criança e ela podia usufruir um tempo até aparecer outro exercício. Com esse último exemplo de material adaptado, destacamos o uso de um recurso tecnológico (computador) muito promissor para a educação e facilitador para o desenvolvimento da Instrução Programada (conforme descrevemos no início do capítulo). O uso do computador para a inclusão, sempre que possível (ou seja, sempre que os recursos materiais permitem) tem sido indicado como parte fundamental no nosso modelo de inclusão. - Uso de diferentes dicas antecedentes Outra mudança importante além da confecção de materiais é a disponiblilização no ambiente de: dicas visuais (quadro de rotina, cartolinas com palavras escritas, etc), dicas auditivas (vinhetas que cantem o que a criança precisa fazer, instrução verbal, etc), dicas gestuais (gestos que guiem as crianças) e dicas físicas (pegar na mão da criança para ela conseguir fazer um desenho, etc) para facilitar o aprendizado. Vale lembrar, que assim como fazemos na intervenção individualizada, usaremos essas dicas dentro de uma hierarquia (iniciando pela mais intrusiva e retirando gradualmente, para torná-la menos intrusiva, até que a criança responda de forma independente) Peguemos como exemplo uma criança de 10 anos, com diagnóstico de autismo, que tem muita dificuldade de focar a atenção na hora da chamada. Frente à fala da professora, a criança não responde quando ouve seu nome. Uma sugestão de adaptação de estimulação antecedente (chamada) foi disponibilizar para a criança o nome escrito (dica textual) de cada nome que a professora fala. Recebendo a tarja com o nome escrito ela foi conduzida a colocá-la num mural na parede onde se encontravam as fotos de cada criança. Esse procedimento de adaptação de estímulos antecedentes foi efetivo uma vez que essa criança era sensível às letras como fonte de motivação (adorava palavras escritas) e já tinha adquirido em intervenção o repertório de emparelhar nome das crianças com as fotos das mesmas. Assim sendo, ao fazer a chamada desse modo adaptado, além de prestar a atenção, a criança teve oportunidade de generalizar um repertório (emparelhar nomes com fotos) aprendido num contexto (intervenção) para outro contexto (escola). O uso de pistas visuais (desenhos, fotos e/ou palavras) para sinalizar a rotina da aula tem sido um recurso muito eficiente para gerar colaboração, atenção e comunicação da criança em inclusão no ambiente escolar. O quadro de rotina é um quadro de fotos/desenhos/imagens que prepara a criança para o uso de calendário/agenda. É individualizado, pois sinaliza as atividades do dia/ semana de uma criança específica. Ele tem os seguintes objetivos: oferecer previsão da seqüência de atividades do dia de aula e facilitar negociações com professor e acompanhante. Esse aprendizado da noção temporal diminui a ansiedade da criança frente ao que virá, caso ela não compreenda apenas o que a professora diz. E ao prever o dia, a criança pode aprender a negociar e pedir para mudar a ordem, ganhando mais controle sobre seu aprendizado. Essa negociação pode diminuir birras que poderiam ter a função de esquiva de uma atividade (ao invés de chorar quando chega uma atividade, a criança pode sinalizar pelas fotos que preferia mudar a ordem das tarefas no dia). Com isso, queremos dizer que esse quadro pode ser usado para ampliar a comunicação e a verbalização. Ele pode ser usado como dica para a criança aprender a falar sobre o que fez no seu dia. Existem várias possibilidades para sua confecção (colocar na parede num mural de velcro, imã, madeira...). O quadro de rotina da escola pode ser: diário ou semanal, pode ser composto por diferentes fotos (das atividades, das pessoas, do local, do material), pode conter palavras ou frases, pode incluir hora ou cores que sinalizem os diferentes períodos do dia (por exemplo, amarelo para as atividades de manhã, laranja para a tarde e azul para a noite), pode ser um quadro específico de uma atividade (por exemplo, pode ter fotos sucessivas de todos os exercícios que serão dados na aula de educação física, como: aquecimento, bola ao cesto, cambalhota) ou pode ser um quadro da rotina de diferentes atividades na ordem temporal do dia (chamada, português, matemática, intervalo, música, educação física, biblioteca). O formato escolhido vai depender do treino prévio que a criança já passou em intervenção individualizada, ou seja, se ela tem pré-requisitos para compreendê-lo de determinado tamanho e detalhamento. Quanto à forma de utilização (como usar) do quadro de rotina, também temos várias possibilidades (a depender das habilidades já adquiridas pela criança): o AT faz a montagem da rotina com a criança nomeando a ação que será feita imediatamente, ou o AT auxilia a criança repetir o som, ou ao final do dia o AT retoma o quadro repassando tudo que foi feito, ou o professor faz a rotina visual no início da aula com todas as crianças, após a chamadinha e já coloca todas as fotos, etc. Um outro recurso usado como dica, para a criança no processo da inclusão se adaptar, é o uso de músicas que descrevam a rotina ou orientem como a criança deve executar uma atividade. Para muitas crianças com diagnóstico de autismo, o estímulo auditivo musical é muito reforçador e controla o comportamento de atenção da criança (ou seja, ela fica mais atenta quando ouve uma música). Sugerimos muitas vezes a elaboração de vinhetas que o AT canta para a criança sinalizando o que ela deve fazer. Esse é um recurso que pode ser usado se o analista do comportamento supervisor avaliar que a criança tem os pré-requisitos necessários. Quanto tempo o AT precisa para desempenhar seu papel no Modelo de Inclusão da Gradual: Frente a todas essas atribuições que elencamos aqui para o papel do AT, nossa orientação é que ele fique com o aluno no período da aula (o que pode variar em cada caso) e tenha disponível, além desse período, algumas horas para: reunir-se com o profissional que faz a intervenção individualizada (para conhecer as especificidades de como seu aluno tem conseguido aprender), reunir-se com os pais, computar os dados coletados na escola (para apresentar gráficos de aprendizagem para o analista do comportamento), confeccionar o material adaptado. Para que o acompanhante tenha a disponibilidade de executar todas essas tarefas ele precisa de tempo e sua contratação (por mais de 4 horas diárias) precisa ser viável economicamente. Por isso, em alguns casos (como o de uma criança com diagnóstico de autismo, com muitos déficits comportamentais e que esteja numa sala de alfabetização) é interessante que o acompanhante seja um estudante. Temos um exemplo no qual a acompanhante de um aluno autista fica com ele 4 horas na escola e mais 4 em casa, para: sistematizar dados que coletou (para apresentar na supervisão), confeccionar material adaptado, reunir-se com quem aplica a intervenção (para trocar informações sobre quais as dicas que mais funcionam e os itens que mais reforçam positivamente os comportamentos daquela criança). E um modelo como esse tem sido muito eficaz para que a criança tenha uma inclusão efetiva, dentro dos moldes da análise do comportamento (que prioriza a cientificidade na sua prática). Considerações finais Para a Análise do Comportamento todos estariam incluídos uma vez que cada Sujeito é único, seu programa de ensino só pode ser efetivo se for individualizado e avaliado constantemente tendo o próprio sujeito como referência. Uma escola baseada nos princípios comportamentais não precisaria de nenhuma adaptação para receber qualquer tipo de deficiência já que todo material deveria ser adaptado para cada aluno. Uma mesma classe de alunos submetida aos mesmos procedimentos e atividades de ensino tende a manter (ou a acentuar) diferenças produzidas pelas desigualdades entre os alunos, sejam quais forem as razões delas. TRATAR TODOS COMO IGUAL É AUMENTAR AS DIFERENÇAS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baer, D. M., Wolf, M. M., & Risley, T. R. (1968). Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, 1, 91-97. Banaco, R. A. (1999). Técnicas Cognitivos-comportamentais e Análise Funcional. Em: Kerbauy, R.R.; Wielenska, R.C. (orgs). 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