economia do japão: da ascensão à estagnação nos anos 90

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Curso de Ciências Econômicas
ECONOMIA DO JAPÃO: DA ASCENSÃO À
ESTAGNAÇÃO NOS ANOS 90
Mori Itiro
São Paulo
2007
2
Mori Itiro
ECONOMIA DO JAPÃO: DA ASCENSÃO À ESTAGNAÇÃO
NOS ANOS 90
Trabalho apresentado ao Centro de Ciências
Sociais e Aplicadas, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como exigência parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências
Econômicas.
Orientador: Prof. Paulo Rogério Scarano
São Paulo
2007
3
SUMÁRIO
Lista de figuras ............................................................................................................. 4
Lista de tabelas ............................................................................................................. 4
Introdução ..................................................................................................................... 5
1 A Chegada do Godzilla ............................................................................................. 7
1.1 Gaiatsu: O Germe da Destruição ........................................................................ 8
2 NIKKO, NIKKO, NIKKO: Não vejo, não escuto, não sinto .................................. 15
2.1 Fascismo e segunda guerra mundial: os interesses da realização do capital .... 21
3 Coke, Walkman and Beatles: O Japão no Post-War ............................................... 29
3.1 Abrindo mentes ................................................................................................ 30
3.2 A ocupação ....................................................................................................... 31
3.3 A Guerra da Coréia........................................................................................... 34
3.4 O modelo japonês ............................................................................................. 36
4 O lutador caiu? O Japão dos anos (19)90 ................................................................ 43
Considerações Finais .................................................................................................. 47
Bibliografia ................................................................................................................. 48
4
Lista de figuras
Figura 1 - Balança comercial norte-americana (% do PIB) ....................................... 41
Figura 2 - Evolução da produtividade ........................................................................ 41
Lista de tabelas
Tabela 1 - Reservas de ouro do banco do Japão e do governo japonês (em milhões de
ienes correntes) ......................................................................................................................... 20
5
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo traçar a evolução histórica da ascensão da economia
japonesa. A economia japonesa atualmente é a segunda maior do mundo, atrás apenas dos
Estados Unidos, sendo um importante parceiro comercial do Brasil (logo após os Estados
Unidos, a União Européia e a China).
A economia japonesa entre os anos 60 e os anos 90 foi objeto de estudo de muitos
autores como Morishima (1989), Burstein (1995) e Emmott (1989). Neste breve estudo, o
trabalho resgatará a história da restauração do período Meiji, para a posterior compreensão de
como o período nazi-fascista influenciou o Japão, como este reagiu a tal influência e qual a
resposta da potência hegemônica (Estados Unidos) a essa aventura militar. Analisar-se-á
também a reconstrução do país no período da Guerra Fria e como o Japão se reestruturou
industrialmente no segundo pós-guerra. Por fim, discutir-se-á a estagnação da economia
japonesa nos anos 1990.
No primeiro capítulo, sobre a restauração Meiji, faz-se uma analogia ao Godzilla por
causa da resposta norte-americana ao isolacionismo japonês da era Tokugawa, frente aos
interesses norte-americanos na região. No segundo capítulo, discute-se como a vinculação ao
Eixo, na II Guerra Mundial, adveio das necessidades do Japão de expandir seus mercados, do
mesmo modo que as velhas potencias européias, dada a crescente capacidade ociosa após a
maturação industrial. Com a derrota, o Japão sofreu com a ocupação norte-americana através
das forças de ocupação (SCAP). Este assunto será tratado no terceiro capítulo, em que se
discorrerá como o Japão se reestruturou frente a um novo mundo, em que a moeda
internacional é o dólar e diante do desmantelamento dos Zaibatsus. Por fim, o quarto capítulo
tratará dos impasses aos quais o modelo japonês chegou, que conduziram à
6
desregulamentação do setor financeiro e a um movimento especulativo, cujo estouro da bolha
resultou em um longo período de estagnação econômica nos anos 90.
Este breve estudo sobre a economia japonesa utilizou dados fornecidos pelo Instituto
de Estatística do Japão (STAT), do Banco do Japão (BOJ) para complementar e corroborar a
pesquisa bibliográfica, de caráter histórico-econômico.
Com esta visão geral sobre a economia japonesa, conclui-se esta introdução, cujo
propósito foi elucidar o objetivo geral do trabalho e os objetivos específicos de cada capítulo e,
a partir destes, permitir uma maior compreensão sobre os fatores que contribuíram para a
ascensão da economia japonesa, bem como os novos desafios que esta nação terá que
enfrentar para afastar definitivamente o estado de estagnação ao qual chegou nos anos 90.
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1 A CHEGADA DO GODZILLA
Numa fria manhã para o verão japonês, os cidadãos de Edo (Tóquio) mal podiam
acreditar no que as águas quentes de Kuro Chivo traziam. Um imenso “réptil” negro de 2.500
toneladas, expelindo muito vapor, e que “consumira” nada menos que 300 homens em sua
fúria para chegar a seu objetivo, a baía de Tóquio.
A chegada do navio do comandante Matthews Calbraith Perry e sua esquadra, em 3
de junho de 1853, representava não apenas o fim do isolamento de Tóquio, por 250 anos, mas
o nascimento de uma era que tardara para chegar justamente onde o sol nascia.
As conseqüências do ideário de FillMore representariam não apenas a abertura de um
país nos confins do extremo oriente, mas a pedra fundamental da América do Século XX. Em
linhas gerais a carta que Perry carregava estabelecia dois caminhos, o primeiro deles, o não
reconhecimento entre as nações e por conseqüência uma guerra para o reconhecimento,
representando a antiga concepção Metrópole-Colônia. A escolha alternativa, por sua vez,
“impunha” um acordo de nações amigas e a abertura do mercado japonês (via dois portos) aos
mercantes de bandeira americana, representando o novo, o jeito americano de negociar.
A nomeação de Perry para a reabertura do Japão era fundamental para a consolidação
da política comercial triangular americana e a nomeação em si representava um ponto de
inflexão na história da ciência política ocidental. Perry se destacara entre os possíveis
candidatos na visão do presidente FillMore pelos seus estudos avançados sobre o extremo
oriente, o que, em si, poderia passar desapercebido, porém representava um grande avanço
nas ciências políticas dentro da mentalidade de que era a primeira vez que uma potência
“branca” mandaria um representante alinhado não ao ideário de Washington mas ao de
Tóquio. Pode parecer pouco em um estudo econômico, mas representou o fato de se abrir ou
8
não o Japão, de se iniciar um tratado de paz ou uma guerra, e FillMore acertara cimentando o
futuro da próxima superpotência (EUA).
Washington impôs um ano de prazo (fevereiro de 1854) para Tóquio se “alinhar” às
nações amigas ou se iniciar uma guerra, caso a opção fosse pela doutrina confuciana de
isolamento. Por fim, decidiu-se pelo acordo que seria selado com a abertura do mercado
japonês à marinha mercante americana, em troca do conhecimento técnico da fotografia
litográfica, do telégrafo, de livros de engenharia e do exercício militar na baía de Tóquio dos
quatro navios da incursão de Perry (Susquehanna, Mississippi, Plymouth e Saratoga) como
demonstração da superioridade ocidental frente à Pequim.
O Susquehanna era o navio-guia da “esquadra” que Perry comandou com seus 300
homens,
metaforicamente
o
Godzilla,
pesando
aproximadamente
2.450
toneladas
representando o que havia de mais moderno em design e tecnologia naval ao custo
aproximado de 25 000 libras (USD 2 500 000 em valores de 2003).
1.1 Gaiatsu: O Germe da Destruição
Cuius regio, ejus Religio.
A religião do Rei é a religião dos súditos.
A Era Tokugawa (1616-1868) pode ser descrita como um período de isolamento, em
que o Japão se fechou para as influências ocidentais de cunho político-religioso e determinou
a expulsão de qualquer embarcação ou estrangeiro, resguardado poucas exceções. Segundo
Brandão (1998, p. 28), as forças do “Xogum” eram compostas por 80.000 hatamotos
(soldados fortemente armados) que serviam para estabelecer a “paz” interna a qualquer
eventual conflito. Desse modo, o período Tokugawa corresponde ao fortalecimento da
unidade nacional japonesa ao impor uma capital (Tóquio), que deveria abrigar a família de
todos os Xoguns. A conseqüência foi a formação de um centro comercial e cultural “nacional”,
9
além da necessidade de interligação de todo o país, cuja segurança pelo fluxo de mercadorias
e mercadores inter-feudos era de responsabilidade dos 80.000 hatamotos.
A paz prolongada favorecera o surgimento de uma próspera classe mercante e de
uma economia monetizada (arroz e ouro como meios de troca). A capital, por sua vez, em
pleno século XVIII, contava com uma população superior a um milhão de habitantes.
Nas últimas décadas do período Tokugawa (1850-68), Edo era já tão grande quanto
Londres, com uma população superior a um milhão de habitantes. Osaka e Kyoto
tinham, respectivamente 300 000 e 200 000 habitantes, Nagoya e Kanazawa quase
100 000 habitantes cada uma. (MORISHIMA, 1989, p. 90).
Naquele período, para se viver nas cidades, que se encontravam dentro de feudos, era
necessário pagar taxas para os senhores feudais. De maneira semelhante, o mercante que
desejasse deter um determinado monopólio também deveria pagar taxas para tanto.
Os samurais são os senhores entre as quatro classes! Eles podem esmagar quem não
se comporta como é devido... (BRANDÃO, 1998, p. 28).
A relação entre os samurais e as cidades se deu pela “instituição Tokugawa”, que
impôs que, em tempos de paz, seria eliminada a “razão social” do samurai, que transitaria
para a cidade como comerciante ou mercador.
A classe samurai era representada por 400.000 famílias que eram a polícia e o
judiciário da Era Tokugawa, abaixo apenas do Xogum, que, por sua vez, respondia apenas ao
Tenno (Imperador), que por ser filho de deuses não deveria intervir, em demasia, em assuntos
mundanos, isolando-se em Kyoto (região do Kansai), em conformidade com o confucionismo
e a contra-ideologia da china como centro do universo, tendo apenas os deuses como
superiores, segundo (MORISHIMA, p. 94-95, 1989).
Junto com a “Era Tokugawa” nasceram, também, os germes de sua destruição, pois
ao propor uma sociedade de paz isolacionista, transformou as suas bases de sustentação
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(samurais e monopólio da tecnologia bélica ocidental) em mercadores e comerciantes, que,
por fim, acabariam por demandar a abertura e o fim do feudalismo.
O setor agrícola, que anteriormente era auto-suficiente, foi sendo esvaziado.
Concomitantemente ocorreu o crescimento de uma classe dominante urbana improdutiva, o
que implicava pesada tributação e empobrecia os agricultores. Os agricultores empobrecidos
eram forçados a migrar rumo aos centros urbanos, para ofertar mão-de-obra àqueles que
conseguiram alguma prosperidade através da comercialização e exploração agrícola, numa
ampla base comercial, que os tornavam ainda mais opulentos, o que, por sua vez, fortalecia
seus direitos a terra, em contraste com os senhores feudais que haviam as conseguido via
concessões imperiais (MORISHIMA, 1989, p. 96). O que reforça a queda da segunda base de
sustentação dos Tokugawa, que era o monopólio das armas e da tecnologia ocidental (via
Kagoshima), com a abertura comercial, pressionada por comerciantes e consolidada por
estrangeiros. O “Godzilla” exposto na primeira seção deste capítulo foi apenas a gota d’água
que fizera transbordar o copo. Assim, Perry ao exigir o acordo de abertura para navios
americanos, nada mais representou que os interesses da classe guerreira e agora burguesa do
Japão.
Notemos que existe uma inversão de valores, visto que a transição feudo-capitalista
da Europa Ocidental consistiu num conflito entre a classe burguesa emergente e os senhores
feudais enquanto que no Japão houve apenas uma troca figurativa da espada pelo capital, o
que nos ajuda a compreender a quase inexistência de conflitos relatos, salvo raros eventos
mais correlacionados a impostos do que a “direito social”.
Os russos lançaram a mão não só às águas piscatórias do Norte, como a portos
coreanos, como o Porto Lazarew, e mesmo a Tsuxima. Chegaram a passar o inverno
com a sua esquadra e os seus amigos e vícios em Nagasaki... deitando assim a mão à
ponte terrestre para o Império Insular. (BRANDÃO, 1998, p. 31)
11
Assim temos que a causa fundamental da “Restauração” e não “Revolução” Meiji
aqui defendida, foi a erosão do feudalismo através do aumento do comércio, o que por sua vez,
se deveu ao estabelecimento da paz e da ordem. Em conjunto com a intromissão estrangeira,
essa erosão criou problemas que seriam equalizados com a restauração-intervenção do Tenno
aos interesses da “nova” classe burguesa que era a “velha” classe dos senhores feudais (266
senhores feudais) e dos novos comerciantes-mercadores (os velhos samurais), segundo
Brandão (1998, p. 30).
2.3 – RESTAURAÇÃO MEIJI.
O fim da era Tokugawa representou a ascensão de uma nova ordem social, como
visto anteriormente, em que o samurai e os senhores feudais se transformaram em
comerciantes-mercadores, enquanto outros simplesmente se contentaram com a renda que o
Estado lhes deu em troca de suas terras e de seus títulos sociais.
Segundo JANEIRA (1985, p. 34) o Japão se lançara num programa de
ocidentalização, cuidadosamente pensado e planejado, com o objetivo de ser uma potencia
industrial. A era Tokugawa, especialmente no século XIX havia sido uma época de intensa
transformação ideológica, e hoje está estabelecido que, apesar da predominante estrutura
feudal, a experiência Tokugawa lançou as bases em que se assentaram as reformas Meiji.
As reformas consistiram no estabelecimento de um sistema educacional, na
instituição do exército e da marinha, além das modernizações financeiras e judiciais.
A reforma financeira-institucional instituiu uma moeda nacional, o “YEN”, ou
escrito como “en” que tem como significado “trabalhar fora”, que representa que a economia
caminhava para a modernização de seu numerário, anteriormente baseado no arroz e ouro
para o papel moeda.
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O financiamento do Estado se dá apoiado na profunda reforma institucional em que
os senhores feudais entregam as suas terras em troca do correspondente a 50% do que
recebiam dos servos em moeda nacional (vistos que estes recebiam ½ da colheita), sendo 6%
em moeda corrente e o restante em títulos do governo e os territórios feudais elevados a
condição de Prefeituras.
Os servos, por sua vez, foram elevados a proprietários das terras em que trabalhavam,
mas em troca passaram a pagar um tributo da 1/3 parte da produção, pagável apenas em
moeda nacional e não mais em arroz ou ouro, o que garantiria o fornecimento urbano de
alimentos e a sua demanda com o florescimento das cidades e da renda proveniente de um
funcionalismo público assalariado e da nova burguesia ascendente que era a antiga classe
oligárquica agregada aos samurais que agora se transformaram em mercadores e comerciantes.
Segundo MAURO (1976, p. 230), entre 1880 e 1914, graças à reforma, a agricultura
registra um aumento de 70% na sua produção, sendo o arroz em 40% e o trigo em 100%.
O fato da obrigatoriedade dos senhores feudais deterem uma casa representativa em
Tóquio na era Tokugawa incentivara que estas famílias se transferissem definitivamente para
a capital e importantes centros urbanos regionais como Osaka formando núcleos em que se
acumulava a renda nacional que viabilizaria a formação dos bancos e núcleos industriais
necessários para a viabilização da primeira revolução industrial (têxteis/alimentos
industrializados).
Segundo MAURO (1976, p. 230) a reforma agrária teve como conseqüência muito
favorável ao desenvolvimento econômico a redistribuição da renda. Além disso, 80% das
receitas do Estado eram provenientes do setor primário da economia no período
compreendido entre 1868 e 1900.
A reforma agrária, por si, eliminou minifúndios inviáveis, devido a sua pequena
escala para uma economia capitalista, liberando mão de obra para a indústria e o comércio. A
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riqueza gerada para seus antigos proprietários, agora concentrados em centros urbanos, foi
captada e canalizada para a industrialização e a formação do sistema de crédito nacional
privado para pequenos e médios investimentos que seriam balizados pelo crédito estatal para
grandes investimentos de base.
Segundo Janeira (1985, p. 35), a reforma educacional consistiu: na adoção do ensino
primário/fundamental obrigatório, num país em que 40% da população sabiam escrever e; na
abertura das universidades e das repartições públicas a técnicos estrangeiros além do envio de
estudantes a universidades européias.
Segundo MAURO (1976, p. 230), em 1875, havia 527 técnicos estrangeiros
empregados na administração pública, dos quais 205 conselheiros técnicos, 144 instrutores,
69 administradores e altos funcionários e 36 operários qualificados. Escolas profissionais e de
ensino itinerantes são formadas como forma de convidar os industriais à modernização.
Para as forças armadas, foi adotado o modelo prussiano para o exército e o anglicano
para a marinha. As reformas, perduraram de 1868 a 1878, sem grandes agitações sociais, em
comparação aos países europeus.
A formação de capital no período de 1880 a 1900 corresponde a uma média de
23,5% do PIB, que foi, em grande parte, financiada pela emissão de títulos e realizada por
uma política de exportação via desvalorização (de 100%, no período) do yen frente ao dólar
americano. A indústria têxtil respondia por 60% das exportações japonesas da época, segundo
Janeira (1985, p. 36-7). A indústria crescia a uma taxa média de 7,5% ao ano no período de
1890 e 1914.
Ao contrário da China e da Índia, o capital estrangeiro teve pouca importância no
desenvolvimento industrial, sendo apenas utilizado para a formação de técnicos japoneses no
exterior e a emergência de um Japão potência facilitara a produção de armamentos segundo
Janeira (1985, p. 38).
14
A educação foi considerada o primeiro requisito para triunfar na nova ordem social, e
a Universidade era a porta de entrada do prestígio social para a classe média, em uma
sociedade que rapidamente se alfabetizava.
No quesito legal o imperador proclamou a constituição em 1889 estabelecendo um
país de Monarquia parlamentarista sob uma base política alemã em um modelo inglês em que
os shizokus e kazokus (antigos senhores feudais) legislariam no país.
A rápida ascensão econômico-política dos shizokus se deu através dos Zaibatsus, que
produziam e monopolizavam o mercado interno. Tal estrutura era coerente com a doutrina
confucionista e com fundamentação gaiatsu de Ásia para os asiáticos. Estabeleceu-se um
modelo parlamentarista, em que o Tenno “apenas” dirigiria o executivo aos interesses
mundanos. A expansão sobre a Ásia, com a derrota da China em 1894 e a anexação de
Taiwan, viabilizava os retornos dos Zaibatsus e concretizava a aliança militar-política com a
Inglaterra, que legitimaria o braço armado japonês sobre a Ásia (Coréia e Manchúria).
[...] a indústria pesada é implantada no país ao mesmo tempo em que é construída
uma ampla rede de estradas de ferro, promovendo um rápido crescimento
econômico, que combinado com os pesados investimentos militares, transformará o
país, que acaba adotando uma política agressiva e expansionista, aos moldes dos
países imperialistas ocidentais da época. (MELO; VICENTE; PACHECO, 2005, p.
126)
A restauração Meiji (1868-1912) atendeu aos interesses da antiga classe guerreira
(samurais) e de sua intelligentizia (senhores feudais) e atingiu seu auge com a formação dos
Zaibatsus e a sua decadência com a aliança anglo-japonesa na expansão sobre a Rússia na
Guerra Sino-Japonesa. Com a Morte do Tenno (1912), abre-se espaço para o período fascista
japonês, pois o Imperador passaria a figura meramente representativa, em um sistema
parlamentarista governado pelos interesses dos Zaibatsus.
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2 NIKKO, NIKKO, NIKKO: NÃO VEJO, NÃO ESCUTO, NÃO SINTO
Uma das diferenças vitais entre o comunismo moderno e o fascismo moderno é que
o comunismo é uma revolução baseada numa filosofia, enquanto que o fascismo é
uma filosofia baseada numa revolução. Jones (1938, p.73).
A aliança russo-chinesa assinalada após a derrota chinesa frente ao Japão, em 1895,
ao custo de Taiwan e parte da Coréia, tinha como intuito transformar a Coréia em um país
independente influenciado diretamente por Moscou que por sua vez ergueria uma barreira à
entrada do Japão na Ásia continental.
A simultânea presença nipo-russa no país recém independente produziu a guerra
entre russos e japoneses com a morte da rainha e do embaixador japonês sob comando da
inteligência russa, causando a guerra sino-japonesa de 1904-5, em que o império czarista fora
derrotado, configurando-se a ascendência do império do sol nascente sobre a península,
assegurando o status de potência local. Em 1910 a Coréia fora formalmente anexada ao Japão,
tornando-se uma colônia e centro estratégico para a expansão a posteriori em direção a
Sibéria (Leste da Rússia) e a Manchúria (Norte da China), segundo VIZENTINI (2003, p.2).
Segundo Yamashiro (1997, p. 268), com a morte de Meiji Tenno, em julho de 1912,
após 45 anos de reinado, sobe ao trono o príncipe Yoshihito.
No contexto internacional, assistia-se à unificação alemã, a formação da aliança
tríplice (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) sob liderança de Bismack e, após sua queda, a
crescente política expansionista adotada pelo Kaiser Guilherme II, causando uma corrida
armamentista na Europa com a assinatura da entente entre a Inglaterra, França e Rússia.
Segundo Yamashiro (1997, p. 269), a expansão da influência da Áustria-Hungria
sobre as pretensões de uma nação serva culminaram com o assassinato do príncipe
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Ferdinando da Áustria por um sérvio, que mobilizou o imediato apoio dos países da entente
(Inglaterra, França e Rússia), contra a tríplice aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália).
Enquanto isso, no Oriente, sob o julgo dos japoneses e constituindo a fronteira de
expansão para o capitalismo japonês no continente asiático, a Coréia fazia fronteira direta
com a China mergulhada em uma guerra civil. A Rússia, convertida em União Soviética,
recuperara seu status de potência e apoiava os movimentos nacionalistas coreanos e
comunistas chineses, além do estabelecimento de guerrilhas esquerdistas na fronteira com a
Rússia, que, segundo Vizentini (2003, p.3), se desenvolveriam posteriormente na Guerra da
Coréia, um símbolo da Guerra Fria na Ásia.
Segundo Yamashiro (1997, p. 269), o Japão entra oficialmente em guerra, em função
do compromisso assumido com a Inglaterra, pelo tratado militar-político posterior a guerra
Sino-japonesa. Em “atendimento” aos interesses “não-japoneses”, o exército nipônico ocupa a
base alemã de Ching-Tao na China e as ilhas alemãs no Pacífico aumentando sua influência
militar-econômica sobre a Ásia.
No quesito econômico, o governo dirige o processo de industrialização a fim de se
substituir os artigos importados, principalmente da Alemanha, como produtos químicos,
medicamentos, tintas e adubos. Ocorre, ainda, uma rápida expansão das tecelagens, devido à
incapacidade dos ingleses suprirem o extremo oriente e o Pacífico. Na Ásia, o governo de
Tóquio promove a expansão da indústria pesada, com a construção da siderúrgica Anshan, na
Manchúria (China), pertencente à Estrada de ferro sul-manchuriana, de propriedade japonesa.
Minas de carvão exploradas com novas técnicas, mecanização e eletrificação em amplas áreas
industriais aumentam a produtividade. Segundo Yamashiro (1997, p. 275), o capital
necessário provem de grupos como os Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo, Yasuda e Daiichi.
Segundo MAURO (1976, p. 325) as necessidades dos aliados transformam o Japão
em um grande fornecedor de produtos manufaturados, ainda que privado do mercado das
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potências centrais. O rompimento dos laços comerciais da Alemanha com o Pacífico e o
Extremo Oriente levam o mercado chinês a ser aberto para o Japão. A Indochina francesa e a
Índia pediram à indústria nipônica os produtos que a Europa não podia mais lhe fornecer. A
indústria metalúrgica se encarregara de fornecer material bélico para a Rússia a partir de 1915.
As exportações japonesas chegaram a atingir o continente americano: o Chile, o Peru, que
eram antes, clientes da Alemanha, viram chegar mercadorias nipônicas. Em 1917-1918,
quando a indústria norte-americana foi mobilizada para as necessidades bélicas, os produtos
japoneses forneciam a Califórnia e o Oregon.
As conseqüências econômicas e políticas da primeira guerra mundial foram muito
boas para o Japão que viu o seu território imperial passar de 144 mil quilômetros quadrados
para 257,6 mil quilômetros quadrados. A população aumentou cerca de sete milhões. As
receitas dos Estado que eram em 1872 de 153,5 bilhões de ienes atingiram em 1917, pela
cobrança de taxas alfandegárias a cifra dos 674 milhões de ienes a valores de 2005. A marinha
mercante passara de 15 mil toneladas em 1893 para duas milhões de toneladas em 1919. As
exportações japonesas passaram de 692 bilhões de ienes em 1914 para 1,106 trilhões ao
término da guerra (1919) segundo BRANDÂO (1998, p. 58).
O valor da produção industrial crescera de 14 bilhões de ienes (valores de 2005) em
1913 para 33,175 bilhões de ienes, segundo MAURO (1976, p. 326), ao passo que o número
de operários passou de um milhão em 1913 para 2,1 milhões em 1927. Neste ano coexistiam
mais de 300 mil mineiros, 400 mil trabalhadores em transportes e comunicação e 1,8 milhões
de free lancers, somando uma massa de 4,7 milhões de trabalhadores sendo 1,5 milhão
mulheres, tendo o número de fábricas oficiais passado de 15 mil para 54 mil estabelecimentos,
segundo YAMASHIRO (1997, p. 276).
O término da primeira guerra mundial aconteceria em novembro de 1918, com a
vitória dos aliados e a assinatura do tratado de Versalhes, na França em que a Alemanha seria
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severamente penalizada como forma de impedir a emersão de uma nova Alemanha
imperialista.
O tratado de Versalhes visando manter a Paz mundial e evitar um ressurgimento do
poderio militar germânico, impõem a devolução da Alsácia-Lorena e o reconhecimento da
ocupação japonesa das colônias alemãs na China e nas ilhas do Pacífico bem como o
encaminhamento da proposta do presidente Wilson para a criação da Liga das Nações
composta de cinco membros (Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão), segundo
YAMASHIRO (1997, p. 270).
O tratado de Versalhes se desdobraria com a assinatura do Plano Dawes em 1924 que
financiaria a “dívida da culpa da guerra” em parcelas anuais do montante de USD 340,9
bilhões (em valores de 2005), porém este assinalava o fim dos impasses que a França defendia
impor a assumir o devido montante em dívidas com a França que a utilizaria como renda para
pagar as suas dívidas com Washington conjuntamente com os aliados europeus, porém
alinhava Berlim e sua economia a economia européia visto que esta assumiria um passivo em
relação a Europa, enquanto que o acordo firmara que os alemães pagariam parcelas “fixas”, e
financiadas por Washington para pagamento com a Europa que firmaria o dólar como moeda
internacional na Alemanha e moeda alavancadora das mercadorias alemão-americanas na
Europa, ou seja a Alemanha sob o Plano Dawes era a porta de entrada do capital norteamericano na Europa industrial (Alemanha-França e Inglaterra) que os franceses tiveram que
aceitar como forma da dívida de culpa da GUERRA. Observemos que o valor concordado
entre os Americanos e Franceses apesar de inferior ao desejado pelos franceses era
equivalente ao dobro da economia japonesa na época de USD 160 bilhões ou a metade do PIB
americano da época de USD 776 bilhões no ano de 1919, ou ainda a ¾ da economia alemã na
época segundo HOBSBAWN (2005, p. 103) e tabela anexo.
19
A quantia que a Alemanha teria de pagar permaneceu vaga, como um compromisso
entre a posição dos EUA, que propunham fixar os pagamentos da Alemanha
segundo a capacidade de pagar do país, e a dos outros aliados - sobretudo os
franceses - que insistiam em recuperar todos os custos da guerra. HOBSBAWN
(2005, p.103).
Em 1921-2 é realizada a Conferência Naval de desarmamento de Washington, em
que se decide limitar as proporções das unidades principais das esquadras inglesas,
americanas, japonesas, italianas e francesas, na mesma conferencia se discutem a questão do
Extremo Oriente e do Pacífico, como já visto anteriormente ao início do segundo capítulo,
regiões de interesse norte-americanos devido ao comércio triangular, que se denominará de
tratado das nove potências concordam em respeitar a soberania chinesa e os territórios
adquiridos durante a primeira guerra mundial, como estabelecer a abertura dos portos chineses
a essas nove nações (os países pertencentes a liga das nações, mais a China, Bélgica, Holanda
e Portugal) numa clara evidencia para o engessamento do expansionismo japonês sobre a Ásia
e o pacífico.
A assinatura de um armistício em separado entre a Alemanha e a Rússia servem de
argumento para que a Liga das Nações envie tropas para a ocupação da Sibéria em nome do
socorro as tropas checas cercadas pelos revolucionários russos na região em questão.
A ocupação nipônica é rapidamente expulsa pelas tropas bolcheviques, mas o
expansionismo japonês preocupa a Liga das Nações delineando o cenário da segunda guerra
mundial tanto na Europa com as pesadas restrições à Alemanha, como o ofuscacionismo
italiano e a contenção dos interesses japoneses sobre a Ásia e o Pacífico, por parte dos
Estados Unidos, Inglaterra e França, segundo YAMASHIRO (1997, p. 270).
No plano político nacional o país sofre pressões de democratização em franca
expansão mundial, visto que a alternativa restante era o socialismo-russo, que exigem maior
representatividade na câmara dos Pares. Takahashi Hara é o primeiro cidadão civil a chefiar o
cargo de primeiro ministro, num curto período de 1918 a 1921.
20
O Japão passa por reformulações constitucionais em 1925 que instituem o Sufrágio
Universal e torna lei o direito a voto aos cidadãos com mais de 25 anos e que podem se
candidatar com mais de 30 anos desde que paguem a taxa de 3 ienes a real coroa anualmente
(aproximadamente 1850 ienes, em valores de 2005). Segundo YAMASHIRO (1997, p. 274).
E seguindo a mesma linha da democratização se instauram leis de segurança que
visam impedir a introdução da ideologia comunista que na verdade essa lei serviu para
sufocar todos os movimentos liberais, esquerdistas ou simplesmente democráticos, sob o
pretexto de extremismo, segundo YAMASHIRO (1997, p. 275).
No plano econômico após a rápida expansão ocasionada pela guerra e monopólios
temporários adquiridos pela escassez de mercadorias européias e americanas levam a perdas
de mercados causando uma queda acentuada na bolsa de Tóquio, em que numerosos bancos
vão a falência elevando as taxas de desemprego que encontram ressonância nas doutrinas
comunistas que levaram a repressão policial das reuniões proibidas do Partido Comunista e da
instituição da Lei de segurança nacional com o falecimento do Taisho Tennô em dezembro de
1926 levando o país ao fascismo.
Tabela 1 - Reservas de ouro do banco do Japão e do governo japonês (em milhões de ienes correntes)
Data
No Japão
No exterior
Total
Dez
129
213
342
1116
1062
2178
1914
Dez
1920
Fonte: Mauro, F.; História da Economia Mundial de 1790-1970, p.327.
21
2.1 Fascismo e segunda guerra mundial: os interesses da realização do capital
Dá-nos a estranha sensação de viver num país onde, individualmente, todos são
cordiais e onde nossas relações pessoais são as melhores possíveis, porém, onde
coletivamente, está-se sempre consciente de uma profunda desconfiança e
animosidade contra a nossa nação (EUA). Joseph C. Grew (1944, p.56).
Segundo JANEIRA (1985, p. 42), a primeira grande guerra mundial não só aumentou
a importância internacional do Japão, mas ainda estimulou a sua economia a uma escala antes
não atingida; não só alargou a sua exportação aos mercados tradicionais da China e aos
Estados Unidos como abriu novos mercados como a Índia e o Sudeste Asiático. As
encomendas de munições e navios auxiliaram o desenvolvimento do seu poder militar.
Têxteis, seda crua, tecidos de algodão, eram os principais produtos da sua exportação.
Com o falecimento do imperador Taisho, em 1926, somadas a crise econômica
instalada pelo Crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e a ascensão das doutrinas russas
contaminadas pelo estreito da Coréia lastreadas pela Lei da Seguridade Nacional que tinham
como intuito inicial conter a propagação da ideologia comunista levaram os fascista ao poder
em nome da unidade nacional contra os interesses sinos-americanos.
Fiquei surpreso, depois de nossa recepção para comemorar o quatro de julho, ao
verificar que todos os bombons da nossa mesa de buffet traziam a legenda “Moscou,
Made in URSS”. Soube que os soviets estão inundando o Extremo Oriente com
esses bambos de preço inferior ao equivalente em açúcar. Joseph C. Grew (1944,
p.49).
A Crise de 1929 em Nova Iorque leva a suspensão do pagamento das dívidas da
Alemanha em reparação a Guerra, porém causam um reverso sobre a economia, em que 90%
das transações financeiras deixam de existir e levam a quebra do sistema então vigente e
instaurado pela primeira guerra de que os EUA financiariam a Alemanha e esta serviria de
“casa de importação” dos interesses americanos na Europa industrial como forma de reparar a
22
guerra, mas que deixara de existir com a crise de (19)29, segundo HOBSBAWN (2005, p.
104-5).
Os custos de reparação da guerra somadas a crise da classe média européia (abrupto
aumento das taxas de desemprego) levam ao desdobramentos da segunda guerra mundial
iniciada esta pela primeira. Nada menos que 22% da força de trabalho britânica e belga, 24%
da sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31 % da norueguesa, 32% da dinamarquesa e
nada menos que 44% da alemã não tinha emprego, o que revela elevadas taxas de desemprego
e além de serem a população economicamente ativa destes países eram a base fundamental do
eleitorado além de constituírem a base fundamental da renda das famílias nesses países
levando a emersão os partidos sociais que instituiriam a posteriori o Estado do Bem Estar
Social na Europa, mas que alavancaram idéias nazi-fascistas pela Europa somadas as
doutrinas moscovitas que proliferavam a largos passos representando um real perigo à
expansão do capital americano, segundo HOBSBAWN (2005, p. 97).
Tampouco deixaram os políticos de notar que até 85% dos membros do Partido
Comunista Alemão, que cresceu quase tão rápido quanto o Partido Nazista nos anos
da Depressão e mais rápido nos últimos meses antes da ascensão de Hitler ao poder,
estavam desempregados (Weber, 1969, vol. I, p. 243). Por HOBSBAWN (2005,
p.98).
Em defesa as economias nacionais os Estados europeus adotam medidas
isolacionistas fragmentando o capitalismo globalizada de até então e o abandono do padrãoouro então vigente como forma de tornar a taxa de câmbio uma máquina exportadora o que
viria na verdade a agravar a crise visto que o comércio internacional também se interrompe
num cenário de irrealização do capital.
Numa época em que o comércio mundial caiu 60% em quatro anos (1929-32), os
Estados se viram erguendo barreiras cada vez mais altas para proteger seus
mercados e moedas nacionais contra os furacões econômicos mundiais, sabendo
muito bem que isso significava o desmantelamento do sistema mundial de comércio
23
multilateral sobre o qual, acreditavam, devia repousar a prosperidade do mundo. Por
HOBSBAWN (2005, p.98).
Segundo HOBSBAWN (2005, p. 100-1) o trauma da Grande Depressão foi realçado
pelo fato de que um país que rompera clamorosamente com o capitalismo pareceu imune a
ela: a União Soviética. Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal
ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultra-rápida e maciça sob seus
novos Planos Qüinqüenais. De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou, no
mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manufaturados do mundo em 1929 para 18%
em 1938, enquanto no mesmo período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía
de 59% para 52% do total do mundo. E mais, não havia desemprego. Essas conquistas
impressionaram mais os observadores estrangeiros de todas as ideologias, incluindo um
pequeno, mas influente fluxo de turistas sócio-econômicos em Moscou em 1930-5, que o
visível primitivismo e ineficiência da economia soviética, ou a implacabilidade e brutalidade
da coletivização e repressão em massa de Stalin. Pois o que eles tentavam compreender não
era o fenômeno da URSS em si, mas o colapso de seu próprio sistema econômico, a
profundidade do fracasso do capitalismo ocidental como conseqüência da quebra da bolsa de
Nova Iorque em 1929.
A Rússia que havia ao contrário dos Estados Unidos emergido de guerra civil, em
1921, com a renda nacional equivalendo a 1/3 do nível de 1913. Sua indústria, ameaçada de
paralisação pela falta de aço, carvão e máquinas, fabricava menos de 115 das mercadorias
produzidas antes da Guerra Mundial; as minas de carvão, menos de 1/10, e as fundições de
ferro, apenas a quadragésima parte de sua produção normal, havendo a produção de aço
despencado de 4,2 milhões de toneladas para 183.000, isto é, 1/3 do que havia sido antes da
guerra. As ferrovias estavam completamente destruídas, a agricultura, arrasada, as aldeias,
despovoadas e, em fins de 1921, o número de famintos elevou-se a 36 milhões, o que fez o
24
canibalismo reaparecer. E um comércio exterior que caíra de 2,9 bilhões de rublos para 30
milhões agora representava um modelo ao capitalismo cambaleante de Wall Street, segundo
BANDEIRA (2006, 88-89).
Stalin compreendia que a economia mundial não era apenas um conjunto de
economias nacionais que realizavam trocas entre si, mas um complexo sistema de economias
que se especializavam de acordo com o sistema internacional da divisão do trabalho e que esta
poderia ter se rompido com a crise de 29, porém o movimento contra-revolucionário iniciado
na Alemanha e a posteriori no Japão levaram Stalin a constatar que a corrente não se
desintegrara, recuou do comunismo militar ou comunismo de guerra, instaurado durante os
anos da guerra civil, e restabeleceu o funcionamento da economia de mercado, com a adoção
da NEP (Novaia Ekonomitcheskaia Politika), embrionado a partir de 1922, não como tática,
devido às dificuldades momentâneas, porém como estratégia de desenvolvimento das forças
produtivas, necessária ao socialismo, pois concebia o capitalismo de Estado como capitalismo
privado, permitido pelo Estado, e não como a propriedade e a operação das empresas pelo
Estado, segundo BANDEIRA (2006, p. 89), que levaram a economia a transpor a crise de 29.
Sobre a crise de realização instaurada sobre a economia da URSS, Trotsky ponderou
por volta de 1935, lembravam que as forças produtivas, criadas pelo capitalismo, não podiam
adaptar-se à moldura nacional e só podiam ser coordenadas e harmonizadas (combatidas), de
forma socialista, em um plano internacional (expansão internacional – globalização
comunista). Essas crises, ele acrescentou, representavam "alguma coisa de infinitamente mais
grave que as moléstias infantis ou de crescimento constituíam “severas advertências” do
mercado internacional, ao qual a União Soviética estava subordinada e ligada e do que não
podia separar-se. Conforme previa, seu prolongado isolamento levaria inevitavelmente não a
um comunismo nacional, mas à restauração do capitalismo.
25
A União Soviética não conseguiu propagar a revolução na Europa. E a Internacional
Comunista, sem maior penetração entre o proletariado, potências industriais, voltou-se para os
povos da Ásia, África e América Latina, capitalizando os ressentimentos nacionais contra a
dominação econômica quer da Grã-Bretanha e da França quer dos Estados Unidos cujas
políticas eram estigmatizadas como imperialistas. O aparente isolacionismo dos Estados
Unidos, por outro lado, não constituiu mais que uma expressão do unilateralismo real,
inerente à sua política exterior.
A emersão da economia soviética a estrela internacional devido ao seu sucesso na
erradicação do desemprego em um mundo enfermo deste, somadas a ascensão dos nazifascistas que adotam um híbrido entre defesa de um capitalismo nacional com políticas sociais
como os planos Quadrienais “copiados” inicialmente por Hitler levam ao início dos
desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, quando estes nazi-fascistas eram na verdade
movimentos contra-revolucionários de frustração a interesses de Moscou.
São eles arianos, da raça superior de Hitler, herdeiros seculares da cultura, ao passo
que os africanos são descendentes diretos da caverna, sem cultura ou sangue
superiores... (Jones, 1938, p.82).
Segundo JONES (1938, p. 74) deve-se compreender que à vontade do povo germânico,
em geral, não se limitará apenas à defesa passiva, mas, pelo contrário, preparar-se á para um
ajuste final, ativo, com a França, numa luta mortal para a realização das idéias germânicas. A
Alemanha vê, na aniquilação da França, o único meio de obter a internacionalização em todas
as direções de sua suástica (a cruz que se fechou egoístamente). Nossa política externa
somente se ajustará quando houver duzentos e cinqüenta milhões de alemães...(população
européia na época).
26
O desenvolvimento alienado do ideário liberalista de origem francesa do
conhecimento que geraria a “febre” de superioridade que resultaria no nacionalismo opressor
como forma de justificar o necessário alinhamento interno para formar um corpo nacional
grande o suficiente para a expansão econômica além-mar seria rapidamente deflagrado pela
Alemanha, Itália e no Japão, exatamente os países que se industrializaram tardiamente e
demandavam “espaço” no contexto internacional em um mundo já dividido sendo que as
pretensões de Hitler e Mussolini produziram uma orgia de rearmamentos.
Semeais argumentos de superioridade e ceifareis armamentos superiores da parte
dos inimigos... Aquilo que semearmos ceifaremos... (Jones, 1938, p.83).
A invasão pelo exército japonês da Manchúria, criando o Estado Manchú ao moldes
que os EUA criaram o Panamá e com a defesa de que atendiam a interesses nacionais de
defesa nacional contra investidas moscovitas e totalmente contra os acordos das Liga das
Nações que não encontravam mais sustentação devido à retirada dos EUA e do Japão desta.
Segundo BANDEIRA (2006, p. 94) com a crise instaurada no início de 1932, o Japão,
sob o governo do primeiro-ministro Inukai Tsuyoshi, suspendeu a conversão das notas
bancárias por ouro, proibiu sua exportação e terminou por abandonar esse padrão monetário.
O desequilíbrio no seu balanço de pagamentos, a depreciação da libra esterlina, a
desvantagem em alguns mercados no exterior e o temor que o conflito na Manchúria, ao
longo da fronteira com a China, causou aos investidores concorreram para essa decisão
somadas a queda abrupta dos preços internacionais (arroz e seda no caso japonês) e da guerra
comercial instaurada levou a queda do governo “civil” pelas tropas militares fascistas em prol
dos interesses nacionais fundamentada na legítima defesa (direito internacional) e contra os
interesses moscovitas, embora ambos os argumentos sejam contra a expansão em um
27
movimento contra-revolucionário a Moscou, o que caracteriza por sua vez o fascismo
segundo JONES (1938, p. 114).
Como anteriormente argumentado que uma das diferenças fundamentais entre o
comunismo moderno e o fascismo moderno é que o comunismo é uma revolução baseado
numa filosofia enquanto que o fascismo é uma filosofia baseada numa revolução (JONES,
1938, p. 73) temos que a Itália, Alemanha e o Japão aproveitaram-se da filosofia desenvolvida
aos comunistas sobre a necessidade de serem novos núcleos econômicos como os EUA
desempenhavam por isso a adoção de Estados Nazi-fascistas como forma de contestação do
poder americano e da emersão de um poder nacional baseada na raça superior que nada mais
significava a defesa dos interesses nacionais através da guerra expansionista como Stalin
mesmo havia concluído, já anteriormente argumentado, e que não faria sentido trocar a
submissão a Washington pela submissão a Moscou, ao mesmo tempo que a “Internacional”
comunista não encontra apoio nem na Alemanha nem no Japão que seriam as duas grandes
“chaves” para a expansão da economia russa sobre a Eurásia.
O Comunismo crê na fraternidade mundial e no internacionalismo. Ele é a
fraternidade dos trabalhadores. Seu lema é: “Trabalhadores do mundo, uni-vos”.
JONES(1938, p.104).
Que sejam cem Pearl Harbors e dez dias D’s, a segunda guerra mundial representou
apenas a retomada dos interesses dos EUA, Inglaterra e França sobre a Alemanha e o Japão,
que por sua vez serviram no seu tempo, como bloqueios aos interesses moscovitas, que se
deslocaram para a África, América Latina e China, economias onde o capitalismo não se
encontrara tão enraizado e em que o Plano Marshall e a ocupação militar americana sobre o
Japão representavam nada mais que uma nova página virada na história da guerra fria que
nascera com a revolução bolchevique e se aprofundara durante a primeira guerra mundial,
28
onde havia duas ideologias dominantes em defesa do senso comum de serem a Roma do
Mundo; Moscou vs Washington.
29
3 COKE, WALKMAN AND BEATLES: O JAPÃO NO POST-WAR
Sentimos... que a filosofia social e política russa... continuará a se espalhar além das
suas fronteiras nacionais, em áreas cujas condições favorecem sua aceitação e seu
desenvolvimento... O meio mais eficaz de conter a disseminação da filosofia russa é
evitar ou minorar as condições favoráveis ao seu desenvolvimento e demonstrar que
o sistema de via que representa o ponto de vista anglo-americano pode oferecer o
mesmo ou mais à massa do povo...SLOAN (1963, p. 281).
O presente capítulo abordará como o Japão foi reconstruído após a II Guerra Mundial,
mas para tanto se fará necessário o reconhecimento das particularidades do modelo que
inspirou muitas empresas ao redor do mundo, que passaram a admirá-lo como uma forma
mais enxuta de acumulação em relação ao fordismo e ao tayolorismo.
Com o breve trecho abaixo, de De Gaulle, pronunciado em 18 de abril no verão de
1940,
(segundo Schreiber, 1980),
podemos compreender que o contexto internacional,
mesmo durante a segunda guerra mundial já havia sofrido a sua metamorfose.
Está guerra não está confinada ao infeliz território de nossa pátria. Esta guerra é uma
guerra mundial... A França poderá, como a Inglaterra, utilizar sem limites a imensa
indústria dos Estados Unidos [...] (SCHREIBER, 1950, p. 285).
O mundo não seria mais o mesmo, não porque caíram as bombas atômicas sobre
Hiroshima e Nagasaki, ou seja, as bombas não seriam a causa das mudanças, mas sim a
conseqüência, porque o sistema capitalista já havia sofrido a sua mudança, as guerras não
seriam mais definidas nos campos de batalha pelo sistema inglês, vis-à-vis, mas pelo poderio
industrial de uma nação, as regras não seriam mais ditadas pela city, mas pela big apple.
Assim nascia a nova ordem internacional, uma ordem ditada pelos vencedores
(Washington, e, em menor escala, Londres). Estabelecia-se, assim, o “acordo” de Bretton
Woods para regular o sistema monetário-financeiro internacional..
30
3.1 Abrindo mentes
Apesar do subtítulo as forças de ocupação tiveram nitidamente esta intenção, ao
abaixar a brisa nuclear, segundo Schreiber (1980) a alma do Japão pede ao primeiro-ministro
Suzuki que convoque para a noite de 9 de agosto de 1945, no abrigo subterrâneo do palácio
imperial, todo o governo e o estado maior.
A reunião começa às 23:30h, porém os generais resistem, dizendo que a hora da
glória havia chegado ao Japão, pois era hora de os Estados Unidos enfrentare, um
desembarque de soldados norte-americanos em solo japonês. A alma do Japão compreende
que era necessário agir, pois os militares iriam até a última gota de sangue. Assim, mandou
gravar a mensagem de capitulação que seria retransmitida por todas as rádios do país.
As mudanças, apesar de muitas, não terminavam por aí. A assinatura de capitulação
não era apenas a assinatura de rendição (2 de setembro de 1945), mas o reconhecimento que
terminara o ideário de um capital nacional, de guerras segundo o modelo inglês vis-à-vis, para
guerras comandadas a distância. Os soldados não estariam mais nas trincheiras, mas sim nas
fábricas produzindo seus representantes industriais, comandadas pelo capital sem pátria. O
imperador deixara de ser um deus vivo e passara a ser um pai que mostrava ao seu filho os
melhores caminhos, já que não detinha nenhum poder executivo, aliás, não os detinha mais
nem antes mesmo da guerra, nascia assim o American Way of Life planetário.
Ao final da segunda guerra mundial, os Estados Unidos constituíam uma enorme
potência industrial, econômica e militar.Sua produção industrial mais do que dobrou desde
1939. Produziam mais da metade do carvão no mundo, dois terços do petróleo, mais da
metade da eletricidade, 95 milhões de toneladas de aço, 1,2 milhões de toneladas de borracha
sintética. Além disso, segundo Beaud (1981), detinham 80% das reservas de ouro.
31
Na II Guerra Mundial, o Japão foi derrotado, não por ser uma nação composta de
homenzinhos amarelos, franzinhos, gregários, sem espírito de iniciativa, como os seus aliados
alemães os descreviam, como ressaltou Schreiber (1950, p. 280), mas por entrar em conflito
com a nova evolução do próprio sistema capitalista, ou seja, não foi uma capitulação, mas um
Take Over sistêmico.
O novo período de paz mostrava-se estranho. Bombas não caíam mais, mas muitas
cidades pareciam não ter mais nada a ser destruído. (MORITA, 1986 p. 50)
3.2 A ocupação
O presente subcapítulo busca analisar porque uma superpotência como os Estados
Unidos, rica em recursos naturais e que mantinha sob sua tutela outros países também ricos
em recursos naturais, que poderiam ainda oferecer o seu mercado interno, foram ocupar um
país longínquo, com trechos inteiros de suas principais cidades industriais que haviam se
transformados em verdadeiros desertos carbonizados e uma população que mal podia subsistir.
[...] por pura necessidade, as pessoas tinham se acostumado a misturar cevada e até
batata com o pouco de arroz que conseguiam. A guerra tinha arruinado e
desmoralizado a nação, e milhões de japoneses batalhavam naqueles últimos dias
para manter um nível mínimo de sobrevivência. (MORITA, 1986, p. 57.)
As forças de ocupação lideradas pelo general MacArthur tinham o objetivo de
restaurar a economia japonesa depois de anos de severos esforços de guerra e
simultaneamente desmantelar qualquer resquício do militarismo no Japão.
Havia se criado uma economia dualista no Japão: a que servia aos militares e a
economia voltada para o front interno, geralmente constituída por pequenas e médias
empresas. Nesse contexto é de se esperar que os grandes conglomerados (Zaibatsu) e
indústrias (novos zaibatsu) que serviam ao exército tivessem privilégios, como uma “ração”
32
maior a seus funcionários (MORISHIMA, 1982). Os salários chegavam a ser 1,27 vezes
maior para as industrias ligadas ao governo.
As forças de ocupação, dentro do seu objetivo de desmantelar os resquícios militares
e de restaurar da economia japonesa se apoiaram em cinco frentes:

o sufrágio feminino;

uma educação liberal;

o direito de organização dos trabalhadores;

a abolição do governo autocrático;

a democratização da economia.
As forças de ocupação criaram o SCAP (Supreme Command for the Allied Powers),
para promoverem o desmantelamento dos conglomerados japoneses, pois segundo nas
palavras do General MacArthur: “[...] através da Comissão de Liquidação das Holding,
proibia toda e qualquer forma de concentração de empresas, no sentido de proteção à
liberdade e do comércio” (LIMA SOBRINHO, 1991, p. 159).
O desmantelamento liderado pelo SCAP seguiu a Lei Sherman adotada nos EUA. A
lei Sherman foi uma evolução das lei das Holdings inclusa no programa New Deal para evitar
a formação de corporações, visto que a concentração do capital dentro dos Estados Unidos se
agravara, pois não impedira o surgimento de Trusts, segundo Lima Sobrinho (1991, p. 159).
O que fica aberto e vai de encontro com a nova ordem mundial digamos assim, seria
a lei Webb-Tamanes, posterior a lei Sherman, seria que as empresas fora dos Estados Unidos
teriam de comercializar diretamente com conglomerados, ou melhor com traders. A lei
Webb-Tamames invoca que “nenhum dos preceitos das Leis Sherman, Clayton (anterior a
Sherman) e da Comissão Federal Antitruste pode ser invocado nem para declarar ilegais as
associações destinadas exclusivamente ao comércio exportador nem para anular os convênios
33
restritivos, concluídos por uma associação desse tipo, no curso de suas operações desde que
não afete a exportações de nenhum competidor norte-americano”, segundo Lima Sobrinho
(1991, p. 160). Para efeito de exemplo, não há muito que se questionar em termos econômicos
os efeitos de uma negociação de um pequeno distribuidor de computadores, ou um vendedor
num país devastado pela guerra, tanto o Japão como os países europeus, que detém uma
moeda de duvidosa conversão, negociarem com a IBM, uma gigantesca empresa de
computadores tendo o governo norte-americano como um de seus principais compradores
além de um imenso mercado interno consumidor, podendo se dar ao luxo de considerar as
exportações como mercados marginais, devo frisar que isto não ocorria apenas restrito ao
mercado de computadores, mas também a outros setores como os automobilísticos, químicos
dentre outros. Um caso verossímil foi o de Akio Morita, descrito em seu livro, Made in Japan,
que ao tentar comunicar-se com a Bell Laboratories, foi lhe negado um agendamento de
horário com o promotor da patente do transistor, que acabara de ser inventado, que pode ser
contornado apenas com o contato de um Trader em Nova Iorque.
Podemos compreender assim que o desmantelamento liderado pela SCAP, nada mais
era do que uma extensão da política interna dos Estados Unidos, citados como exemplo a Lei
Sherman e da Lei Clayton, e que pode ser compreendido como uma transposição do
capitalismo das indústrias têxteis inglesas para o capitalismo de Wall Street. Os Estados
Unidos contariam com a Lei Webb-Tamames que criaria um oligopólio para fornecimento de
bens de capital e tecnologia aos demais países do globo, o que pode ser compreendido como
uma ressurreição das políticas anglicanas de proibição às exportações de maquinários para a
garantia de sua superioridade criada pela produtividade e monopólio da tecnologia, mas não
haveria nada de novo neste contexto se não compreendermos que o sistema evoluíra, e gerara
livros como o Desafio Mundial, de Jean Jacques Servan Schreiber, agora era de interesse
vender as máquinas, mas as já utilizada pelos países vencedores, criando-se assim
34
participações acionárias e dependência de padrão, no caso os Estados Unidos, que a um dado
preço, logo não a um preço real, alavancariam ou amortizariam a modernização no próprio, ou
seja, o que antes era proibido se tornara uma alavanca para as indústrias de mais alta dinâmica
de acumulação.
Porém o Japão pouco avançara com determinadas restrições afinal o país sofria com
a SCAP retrocesso no processo de acumulação de capital, pois a função desta era desmontar
os conglomerados, mas as brisas atômicas mudariam novamente esta realidade.
3.3 A Guerra da Coréia.
A Guerra da Coréia no meio da década de 50 ergueria novamente a máquina
econômica japonesa, pois as metas e o próprio SCAP haviam sido abolidos, era necessário
reerguer o Japão como porta-aviões não submergível para conter o socialismo na Ásia.
Os antigos conglomerados japoneses eram especializados por setor e de propriedade
das famílias que lhes emprestavam o nome. O Zaibatsu Mitsui, por exemplo, atuava
principalmente nos setores de papel, corantes sintéticos, carvão e comércio exterior; o
Mitsubishi, em segmentos da indústria pesada, o Sumitomo na metalurgia do cobre e do
Alumínio. Por causa dessa setorização até a Segunda Guerra a competição industrial dos
grandes grupos não era, em geral, travada de forma direta.
A economia fora reorganizada, segundo Torres Filho (1995, p. 12), diante das
políticas antitruste e de expropriação das famílias zaibatsu, impostas pelos Estados Unidos, e
da política industrial adotada pelo próprio governo japonês. O governo militar promoveu,
assim, a desconcentração do poder econômico em segmentos como o aço e papel. Em
conseqüência, grandes empresas foram divididas em empresas menores com o intuito de criar,
segundo os americanos “agentes atomizados”, preconizados nos manuais de microeconomia
35
como condição necessária para a existência da “concorrência perfeita”. Com isso, todos os
grupos passaram a ter acesso a mercados que antes apresentavam grandes barreiras à entrada
visto que o sistema se reorganizaria em torno dos City Banks, ou bancos que teriam acesso ao
crédito do Governo japonês para coordenarem as políticas expansionistas de crédito ou não e
a demanda inicial seria dada pelos esforços de guerra na península sul-coreana e o país
receberia doações de alimentos para complementar a insuficiência de produção durante o
período da guerra, porém daria apenas suporte na Guerra da Coréia e frente ao contexto
adotaria a lei do Capital próprio, assim nascia o sistema de produção japonês conhecido
internacionalmente e concebido da herança dos fascistas, uma resposta ao socialismo e um
estilo de vida a lá American Way of Life
O câmbio seria unificado em 360 ienes por dólar. A neutralidade japonesa nem
sempre fora bem recebido, o simples fato de limitar-se a tirar proveito dessas lutas, vendendo
mercadorias, mas fugindo sistematicamente a compromissos políticos ou até mesmo a atitudes
de concordância, mantendo uma linha de impecável neutralidade.
[...] se irritavam muitas vezes, de maneira mais ou menos clara, diante dessa
passividade, que era a essência da política japonesa. Várias vezes os norteamericanos chegaram a perder a paciência, ouvindo em Tóquio, críticas à sua
política asiática mesmo em círculos governamentais, enquanto os japoneses
observavam atitudes de escrupulosa neutralidade, conservando relações pacíficas
com o Vietnã do Norte ou com a Coréia do Norte e até mesmo com a China de Mao
TséTung. (GUILLAIN, 1969, p. 218).
Em 19 de abril de 1951 se deu a substituição do General MacArthur pelo General
Matthew B. Ridway que teria como objetivo de levar adiante a reestruturação da economia
japonesa até o tratado de Paz de São Francisco de 28 de abril de 1952. O tratado de paz de
São Francisco teve como diretrizes o fim da SCAP e do reformismo, o comando das tropas
passaria para o General Clark, nomeando-se um embaixador junto ao governo japonês.
36
A assinatura do tratado de Paz terminou com a ocupação militar, porém se manterá a
presença militar no Japão, cujo pagamento continuaria por conta do Estado japonês e as
compras de armas seriam de origem obrigatória dos Estados Unidos.
Assim o período de ocupação estadunidense contrariamente ao que se acreditava na
Europa, que durou de 1945 a 1952, não acarretou na ocupação econômica através de homens
de negócios dos Estados Unidos. Cabe o mérito desse fato, em parte, ao General MacArthur,
que soube compreender que deveria permitir que o país do Sol Nascente se protegesse contra
os planos do grande capital estadunidense, sob a pena de prejudicar as boas relações inicias
entre os dois países, evitando a revolta do nacionalismo japonês que ainda não morrera o que
colocaria o país na mão dos soviéticos... o resultado foi que até agora a participação
estadunidense no capital da indústria nipônica não representa, segundo a avaliação de
especialistas mais do que 2% Guillain, (1969, p. 144).
O governo Yashida de outubro de 1948 a dezembro de 1954 conseguiu que embora
ainda sob regime de ocupação militar uma lei que regulasse os investimentos estrangeiros no
Japão segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos (Investment in Japan, 1956,
pp. 1, 6 e 7).
A entrada de capital no Japão seria permitido através de acordos de assistência
tecnológica e empréstimos coligados. Quantitativamente, a maior proporção do capital que
entraria na economia japonesa se daria, sob a forma de empréstimos públicos e através de
transferências de informações técnicas e de know-how segundo Lima Sobrinho (1991).
3.4 O modelo japonês
O sistema japonês de produção segundo Schreider (1968, p. 279) se diferencia do
europeu e do anglo-americano nos seguintes quesitos:
37
1º No quesito de autofinanciamento. Enquanto que as empresas norte-americanas e,
em grande medida, as européias procuram se financiar, por uma questão de eficácia
econômica, a maior parte, senão a totalidade de seus investimentos dos seus próprios lucros
(regulado pelo preço), no Japão ocorre o inverso: a maioria dos investimentos é financiada
pelos créditos bancários.
Esse sistema peculiar, segundo Schreider (1968, p. 280), vem de longe, na história
japonesa. Pouco depois da restauração Meiji, em 1863, os estabelecimentos bancários
passaram a desempenhar um papel motor na industrialização do país. A especialização das
funções bancárias, tal como na França, é tipicamente desconhecida no Japão: o banco, em vez
de especializar-se no simples financiamento, está associado à indústria, de que é
freqüentemente um acionista majoritário ou minoritário importante originando a posteriori o
termo zaitechs.
Depois da guerra, foi em torno dos bancos que se reconstruíram os grandes conjuntos
industriais, cuja base familiar fora destruída pela SCAp. Os cartéis e os trustes, que deixaram
de possuir a contextura das participações interligadas de certas famílias, encontraram uma
outra através das redes bancárias. Assim, os bancos japoneses exercem hoje uma função
diretora e reguladora dos investimentos, dentro dos grupos industriais (Keiretsu), ao invés dos
grupos exercerem sobre os bancos como nos Zaibatsus.
A política de liquidez foi feita via racionamento de quantidades. O fornecimento de
reservas não era automático, e sim condicionado à política de crédito do governo. O
alongamento dos prazos era garantido tanto por meio da rolagem dos créditos de
curto prazo nos bancos de cidades ou pela compra por estes títulos de longo prazo
emitidos pelos long term credit banks. Ferreira (1995, p. 28)
38
Essa atividade dos bancos permitiu uma notável animação do mercado financeiro,
mediante poupança individual1, depositada nos bancos sob a forma de depósitos a prazo e
constituindo uma base sólida para a expansão do crédito que culminaria na bolha especulativa
dos anos 80.
Tais estruturas financeiras (política de liquidez foi feita via racionamento de
quantidades) representaram uma particularidade ou um terceiro padrão segundo Ferreira
(1995), não constituindo um obstáculo ao investimento e obtiveram até, com freqüência,
resultados excepcionais. A formação bruta de capital representou no Japão entre 1956 e 1963,
34% do PIB contra 17% nos EUA, segundo Schreiber (1968, p. 280).
A despeito do modelo alemão baseado nos mercados de créditos dominados pelas
instituições financeiras que detêm influência na indústria e criam um modelo de negociação
tripartidária, na medida em que não há uma interferência direta e sim negociada do Estado na
alocação de recursos em contraste com o modelo japonês ou francês em que o Estado alonga
ou mantêm a liquidez do mercado para a manutenção e alongamento dos prazos de
empréstimos de curto prazo, sendo caracterizado como inflacionário no termo de inflar o
crédito.
No sistema baseado no crédito alemão tende a haver uma menor segmentação
institucional, com predomínio dos bancos universais. O papel dos investidores institucionais é
pequeno, especialmente em função do predomínio de sistemas previdenciários públicos, em
regime de repartição simples. Por outro lado aparece um maior grau de relações de
propriedade entre empresas e bancos em contraste com o modelo do modelo anglo-saxão
baseado no mercado de capitais. Os recursos produtivos são alocados por meio de sistema de
1
Que atingiu no Japão a parcela excepcional de 20 a 22% das rendas pessoais nos anos 60
39
preços. O modelo de ajuste é liderado pelas empresas, pois o governo quando muito executa
políticas compensatórias via bancos de fomento, segundo Ferreira (2005, p. 24-25).
2 º A imobilidade da mão-de-obra, sem ser tão rígida e total quanto a lenda a
pretende, é não obstante, uma característica impressionante do Japão.
O emprego permanente designa o fato da grande empresa nipônica recrutar seus
empregados e quadros ainda muito jovens, comprometendo-se a completar sua educação e a
formá-los profissionalmente, durante vários anos, a exigir-lhes um contrato vitalício e, por sua
parte, comprometer-se a não os despedir sendo os salários associados ao tempo de serviço,
segundo Schreiber (1968, p. 281).
3º Quanto a sua política de pesquisa, também o Japão se encontrou numa situação
particular. Os anos de preparação para a guerra, depois a guerra e o período de ocupação
foram responsáveis por um considerável atraso. Não só em relação aos EUA, mas a todos os
países da Europa Ocidental.
Foi, primeiramente, pela importação maciça de técnicas estrangeiras que os
industriais japoneses empreenderam, após a guerra e a ocupação, a compensação do seu
envelhecimento industrial. A utilização de patentes estrangeiras, sobretudo americanas,
desempenhou um papel impulsionador durante um certo tempo, mas apresentou depressa os
inconvenientes clássicos de padronização.
A importação maciça das técnicas aperfeiçoadas no estrangeiro acabou por exercer
um efeito nocivo sobre a pesquisa nacional. As firmas norte-americanas só vendiam as
técnicas já ultrapassadas por suas próprias descobertas. O governo japonês e os próprios
industriais tomaram consciência disso e deram então início a uma nova política, destinada a
reconquistar, por meio da tecnologia japonesa, o mínimo de autonomia necessária ao futuro
do seu desenvolvimento.
40
Depois de 1960, o governo japonês deu um forte impulso no sentido de encorajar a
pesquisa fundamental e sacudir o que designou como a dependência tecnológica. As despesas
do Estado para o desenvolvimento da ciência e da técnica foram multiplicadas por 5 e as das
empresas privadas por 8. Esses novos esforços, sobretudo, puderam ser concentrados quase
exclusivamente no setor civil, o que avantajou e acelerou imenso a recuperação do Japão. Os
Estados Unidos consagram 8,9% do seu produto nacional aos gastos militares; a França,
5,2%; o Japão, somente 1%, segundo Schreiber (1968, p. 281).
Atualmente, a percentagem de japoneses empenhados na pesquisa científica
encontra-se em igualdade com a França e a Alemanha: 2,5 para 1.000 habitantes. E se
considerarmos apenas os cientistas qualificados e os engenheiros, o Japão possui hoje, em
proporção, duas vezes mais do que a França e a Alemanha. Mas ainda duas vezes menos do
que os Estados Unidos.
Não possuindo o Japão as dimensões e a riqueza para rivalizar em tudo com os
Estados Unidos, concentrou o seu esforço em setores muito especializados: essencialmente,
nas indústrias químicas e nas indústrias de construção elétrica e eletrônica - que absorvem
mais de 50% dos créditos de pesquisa industrial. É por isso que, nesses setores, o Japão
tornou-se um concorrente dos Estados Unidos e começa, inclusive, a exportar vigorosamente
para o próprio mercado norte-americano produtos tecnicamente muito avançados, o que é um
feito notável em menos de dez anos (1965).
As grandes firmas nipônicas criam agora "sociedades de pesquisa" que têm por
missão efetuar a investigação básica sem estarem ligadas aos problemas imediatos do
mercado nem à pesquisa do lucro. Podem-se citar, em especial, o Instituto de Pesquisas
Honda e o Instituto de Pesquisa Matsushita.
Esses recentes esforços da pesquisa japonesa inscrevem-se nos últimos resultados
registrados. O aumento das explorações no estrangeiro de patentes de inventos nipônicos
41
desenvolveu-se 500% em cinco anos, ao passo que, durante o mesmo período, o aumento de
patentes estrangeiras aplicadas no Japão não passou de 50%. As diferenças em valor absoluto
ainda são consideráveis, pelo que o governo e os industriais japoneses querem intensificar
seus esforços no sentido de atingirem, em novos setores, a autonomia tecnológica – depois de
terem dado provas de terem atingido-as no setor químico e da eletrônica segundo Schreiber
(1968, p. 282-85).
15
10
5
0
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
Exporta
ções
Im porta
1995
ções
Figura 1 - Balança comercial norte-americana (% do PIB)
Fonte: Kruegman/Obstfeld (2005, p.2).
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
1975-85
1986-90
1991-95
Japão
Inglaterra
1006-2000
2001-03
Alem anha
Estaedos Unidos
Figura 2 - Evolução da produtividade
Fonte: Kruegman/Obstfeld (2005, p.2).
Como podemos observar pelos dados fornecidos por Krugman (2005) e por
Schreiber (1968), o primeiro no front externo e o segundo no front interno, o processo de
crescimento da produtividade e acumulação de capital superiores aos norte-americanos não
42
somente no Japão levaram a uma desvalorização a uma desregulamentação nada suave do
dólar com uma queda de 360 ienes para 203 ienes durante o primeiro choque do petróleo em
1973, que pode ser melhor compreendido pelo estudo dos zaitechs de Melin (1998),
organizado por Tavares.
Assim podemos compreender que o modo adotado pelo Japão somada a política
norte-americana de déficits consecutivos levaram a desvalorização do dólar e a um
crescimento relativamente alto no Japão no período do pós-guerra impulsionados
externamente pelas Guerras conseqüentes da disputa entre Washington e Moscou e pelo
sistema alternativo de acumulação de capital já explicado anteriormente, assim fica
entreaberto os anos 19(80) para compreendermos o objetivo final deste trabalho que é a crise
dos anos 19(90).
43
4 O LUTADOR CAIU? O JAPÃO DOS ANOS (19)90
De acordo com Schreiber (1968), Chancellor (2001) e Ferreira (1995), o
autofinanciamento das empresas, utilizando a própria estrutura financeira (Zaitech 2 engenharia financeira) dos conglomerados do qual faziam parte, foi bem sucedido enquanto as
autoridades financeiras concediam liquidez ao mercado. Tal recurso mostrou seus limites no
início dos anos 90 diante do elevado grau de endividamento dos Estados da OCDE nos anos
70-80.
A desregulamentação do mercado em 1984, segundo Chancellor (2001, p. 342),
permitiu o acesso das empresas japonesas às praças internacionais, como a de Londres. As
empresas japonesas suplementavam seus lucros com rendimentos ordinários derivados da
Zaitech. O instrumento básico do endividamento eram empréstimos de curto prazo
concedidos por bancos comerciais, mas havia garantias implícitas de que os créditos seriam
renovados automaticamente com as autoridades financeiras do país através deste instrumento
regulando o aumento ou manutenção da liquidez. Dessa forma, através do alongamento dos
empréstimos de curto prazo das corporações, o sistema bancário assegurava o suporte
financeiro de projetos de investimentos em longos prazos de maturação, segundo Levi (1997,
p. 41).
Assim, as operações implicaram um descasamento entre ativo e passivo de caráter
essencialmente distinto daquele associado ao alongamento dos prazos de endividamento das
empresas ocorrido durante o pós-guerra (LEVI, 1997, p. 46). Observa-se que o descasamento
decorria da política de aceleração ou manutenção das taxas de crescimento propostas pelo
2
Em referência aos Zaibatsus.
44
governo num mundo keynesiano. A abundância de capital gerou uma bolha especulativa de
ativos da ordem de 3,5 trilhões de dólares (CHANCELLOR, 2001, p. 374). A tendência à
valorização da Bolsa de Tóquio teve início por volta de 1983, dado o impacto do processo de
recuperação da economia mundial sob a liderança dos EUA, o qual contribuiu para elevar
substancialmente o superávit comercial do Japão e aumentar o ritmo de crescimento
econômico.
A assinatura do acordo de Plaza em 1985 foi um ponto de inflexão na política
americana do dólar, promovendo-se o soft landing (desvalorização do dólar), e criando as
condições para que os agentes internacionalizados, especialmente as grandes corporações e os
grandes bancos japoneses mantivessem seus ativos financeiros em aplicações denominadas
em ienes e, ao mesmo tempo, se endividassem em dólares o que permitira o aquecimento do
mercado, sendo os títulos emitidos a taxas de juros extremamente baixas, segundo Levi (1997,
p. 48).
Dessa forma, constituiu-se um mecanismo de alimentação do circuito especulativo
envolvendo os mercados de capitais e ativos imobiliários. Esse processo tendeu a se perpetuar
à medida que o aumento dos preços no mercado imobiliário elevava o valor dos ativos dados
como garantia pelos empréstimos e o aumento das ações elevava o capital dos bancos
potencializando sua capacidade de concessão de crédito (LEVI, 1997, p. 51).
A substituição no Ministério das Finanças por Yasushi Mieno, cuja a missão pessoal
atribuída pelo primeiro-ministro era furar a bolha (CHANCELLOR, 2001, p. 374), levando o
mercado acionário declinar lentamente. As condições que viabilizaram o boom dos mercados
acionários e imobiliários deixaram de existir (sistema de crédito inflado), refletindo uma
intenção declarada de interromper o processo especulativo. As autoridades japonesas
45
reverteram à política monetária, elevando rapidamente a taxa oficial de redesconto 3 (LEVI,
1997, p. 55) e da migração do sistema de crédito inflado para o sistema de mercado de
capitais, como apontado por Ferreira (1995, p.30).
Houve perda de importância crescente do mercado de crédito a partir da necessidade
de financiamento do Estado via títulos negociáveis e da emissão de títulos
negociáveis pelas empresas (FERREIRA, 1995, p.32).
Além disso, a necessidade de adaptação progressiva do sistema bancário às regras de
adequação de capital do Bank of International Settlements (BIS) de padrões internacionais de
garantias mínimas somou-se à orientação expedida pelo ministério das finanças aos bancos no
sentido de limitarem o crédito ao setor imobiliário, obrigando essas instituições a reduzirem
seu volume de empréstimos (LEVI, 1997, p. 55). Mais recentemente, o problema tem-se
concentrado nas chamadas housing loan companhies, sete empresas especializadas no
financiamento imobiliário, criadas pelos grandes bancos comerciais, no início dos anos 70
numa tentativa de explorar o então promissor mercado de financiamentos voltados aos
imóveis.
Inicialmente, essas instituições concentravam suas operações no financiamento a
indivíduos com base em hipotecas, mas com a tendência de aumento dos preços das
propriedades imobiliárias nos anos 80, voltaram-se quase exclusivamente ao segmento das
empresas de construção, um segmento mais arriscado, porém altamente rentável na época. O
preço das propriedades cresceu cerca de 30% ao ano, proporcionando elevados lucros. Mas
sua trajetória descendente a partir dos anos 90, com o fim dos créditos a novos
empreendimentos, erodiu a capacidade de pagamento dos tomadores. Isso conduziu as
Housing Loan Companhies a uma situação de absoluta insolvência e, atualmente, até, mesmo
3
Contração de liquidez e de prazos.
46
o governo reconhece que a totalidade dos créditos fornecidos por essas instituições não deverá
ser paga, admitindo quase 500 bilhões de dólares em créditos podres, sendo que o mercado
estima que as perdas potenciais cheguem a algo em torno de um trilhão de dólares ou 10% dos
ativos totais de todos os bancos por Levi (1997, p. 57).
Assim pode-se compreender que conforme os bancos contabilizavam os créditos
podres em suas carteiras, reduziam sua exposição ao risco e restringiam a concessão de
empréstimos. Segundo Rubinstein, as próprias empresas “tentam restaurar seus balanços
minimizando suas dívidas. Para deixar de ser devedoras, param de investir e tornam-se
fornecedoras líquidas de capitais ao setor bancário”.A redução geral de investimentos criava,
assim, um ambiente propício para a estagnação ao longo dos anos 90.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos acordos firmados entre o Japão e Estados Unidos, além do BIS, no final
dos anos 80, a moeda japonesa passou por períodos de maior instabilidade e oscilação,
alternando momentos de valorização e desvalorição cambial. Além disso, o mercado de ativos
viveu momentos de euforia até o estouro da bolha imposto pelo Banco do Japão em 1991, que
contribuiu para o surgimento de um processo deflacionário na economia japonesa, em vários
anos da década de 90. A deflação foi combatida por uma política que zerava a taxa básica de
juro. Contudo, segundo Uehara (2006, p.55), somente a partir de 2002 a economia começou a
superar a estagnação.
Uehara (2006, p.64) mostrou que a economia passou por um período de amortização
dos créditos podres acumulados pelos bancos, da ordem de 43,2 trilhões de ienes (400 bilhões
de dólares) em março de 2002 para 23,8 trilhões de ienes (200 bilhões de dólares) em 2004 e
que, a medida que seja reduzida a relação receita-dívida das empresas, ocorrerá uma retomada
dos investimentos por parte das mesmas e estas elevarão a demanda efetiva encerrando o ciclo
de deflação e iniciando uma retomada do crescimento da economia japonesa, diminuindo os
excedentes exportáveis, tantos em capital quanto em bens.
48
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