UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Curso de Ciências Econômicas ECONOMIA DO JAPÃO: DA ASCENSÃO À ESTAGNAÇÃO NOS ANOS 90 Mori Itiro São Paulo 2007 2 Mori Itiro ECONOMIA DO JAPÃO: DA ASCENSÃO À ESTAGNAÇÃO NOS ANOS 90 Trabalho apresentado ao Centro de Ciências Sociais e Aplicadas, da Universidade Presbiteriana Mackenzie como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientador: Prof. Paulo Rogério Scarano São Paulo 2007 3 SUMÁRIO Lista de figuras ............................................................................................................. 4 Lista de tabelas ............................................................................................................. 4 Introdução ..................................................................................................................... 5 1 A Chegada do Godzilla ............................................................................................. 7 1.1 Gaiatsu: O Germe da Destruição ........................................................................ 8 2 NIKKO, NIKKO, NIKKO: Não vejo, não escuto, não sinto .................................. 15 2.1 Fascismo e segunda guerra mundial: os interesses da realização do capital .... 21 3 Coke, Walkman and Beatles: O Japão no Post-War ............................................... 29 3.1 Abrindo mentes ................................................................................................ 30 3.2 A ocupação ....................................................................................................... 31 3.3 A Guerra da Coréia........................................................................................... 34 3.4 O modelo japonês ............................................................................................. 36 4 O lutador caiu? O Japão dos anos (19)90 ................................................................ 43 Considerações Finais .................................................................................................. 47 Bibliografia ................................................................................................................. 48 4 Lista de figuras Figura 1 - Balança comercial norte-americana (% do PIB) ....................................... 41 Figura 2 - Evolução da produtividade ........................................................................ 41 Lista de tabelas Tabela 1 - Reservas de ouro do banco do Japão e do governo japonês (em milhões de ienes correntes) ......................................................................................................................... 20 5 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo traçar a evolução histórica da ascensão da economia japonesa. A economia japonesa atualmente é a segunda maior do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, sendo um importante parceiro comercial do Brasil (logo após os Estados Unidos, a União Européia e a China). A economia japonesa entre os anos 60 e os anos 90 foi objeto de estudo de muitos autores como Morishima (1989), Burstein (1995) e Emmott (1989). Neste breve estudo, o trabalho resgatará a história da restauração do período Meiji, para a posterior compreensão de como o período nazi-fascista influenciou o Japão, como este reagiu a tal influência e qual a resposta da potência hegemônica (Estados Unidos) a essa aventura militar. Analisar-se-á também a reconstrução do país no período da Guerra Fria e como o Japão se reestruturou industrialmente no segundo pós-guerra. Por fim, discutir-se-á a estagnação da economia japonesa nos anos 1990. No primeiro capítulo, sobre a restauração Meiji, faz-se uma analogia ao Godzilla por causa da resposta norte-americana ao isolacionismo japonês da era Tokugawa, frente aos interesses norte-americanos na região. No segundo capítulo, discute-se como a vinculação ao Eixo, na II Guerra Mundial, adveio das necessidades do Japão de expandir seus mercados, do mesmo modo que as velhas potencias européias, dada a crescente capacidade ociosa após a maturação industrial. Com a derrota, o Japão sofreu com a ocupação norte-americana através das forças de ocupação (SCAP). Este assunto será tratado no terceiro capítulo, em que se discorrerá como o Japão se reestruturou frente a um novo mundo, em que a moeda internacional é o dólar e diante do desmantelamento dos Zaibatsus. Por fim, o quarto capítulo tratará dos impasses aos quais o modelo japonês chegou, que conduziram à 6 desregulamentação do setor financeiro e a um movimento especulativo, cujo estouro da bolha resultou em um longo período de estagnação econômica nos anos 90. Este breve estudo sobre a economia japonesa utilizou dados fornecidos pelo Instituto de Estatística do Japão (STAT), do Banco do Japão (BOJ) para complementar e corroborar a pesquisa bibliográfica, de caráter histórico-econômico. Com esta visão geral sobre a economia japonesa, conclui-se esta introdução, cujo propósito foi elucidar o objetivo geral do trabalho e os objetivos específicos de cada capítulo e, a partir destes, permitir uma maior compreensão sobre os fatores que contribuíram para a ascensão da economia japonesa, bem como os novos desafios que esta nação terá que enfrentar para afastar definitivamente o estado de estagnação ao qual chegou nos anos 90. 7 1 A CHEGADA DO GODZILLA Numa fria manhã para o verão japonês, os cidadãos de Edo (Tóquio) mal podiam acreditar no que as águas quentes de Kuro Chivo traziam. Um imenso “réptil” negro de 2.500 toneladas, expelindo muito vapor, e que “consumira” nada menos que 300 homens em sua fúria para chegar a seu objetivo, a baía de Tóquio. A chegada do navio do comandante Matthews Calbraith Perry e sua esquadra, em 3 de junho de 1853, representava não apenas o fim do isolamento de Tóquio, por 250 anos, mas o nascimento de uma era que tardara para chegar justamente onde o sol nascia. As conseqüências do ideário de FillMore representariam não apenas a abertura de um país nos confins do extremo oriente, mas a pedra fundamental da América do Século XX. Em linhas gerais a carta que Perry carregava estabelecia dois caminhos, o primeiro deles, o não reconhecimento entre as nações e por conseqüência uma guerra para o reconhecimento, representando a antiga concepção Metrópole-Colônia. A escolha alternativa, por sua vez, “impunha” um acordo de nações amigas e a abertura do mercado japonês (via dois portos) aos mercantes de bandeira americana, representando o novo, o jeito americano de negociar. A nomeação de Perry para a reabertura do Japão era fundamental para a consolidação da política comercial triangular americana e a nomeação em si representava um ponto de inflexão na história da ciência política ocidental. Perry se destacara entre os possíveis candidatos na visão do presidente FillMore pelos seus estudos avançados sobre o extremo oriente, o que, em si, poderia passar desapercebido, porém representava um grande avanço nas ciências políticas dentro da mentalidade de que era a primeira vez que uma potência “branca” mandaria um representante alinhado não ao ideário de Washington mas ao de Tóquio. Pode parecer pouco em um estudo econômico, mas representou o fato de se abrir ou 8 não o Japão, de se iniciar um tratado de paz ou uma guerra, e FillMore acertara cimentando o futuro da próxima superpotência (EUA). Washington impôs um ano de prazo (fevereiro de 1854) para Tóquio se “alinhar” às nações amigas ou se iniciar uma guerra, caso a opção fosse pela doutrina confuciana de isolamento. Por fim, decidiu-se pelo acordo que seria selado com a abertura do mercado japonês à marinha mercante americana, em troca do conhecimento técnico da fotografia litográfica, do telégrafo, de livros de engenharia e do exercício militar na baía de Tóquio dos quatro navios da incursão de Perry (Susquehanna, Mississippi, Plymouth e Saratoga) como demonstração da superioridade ocidental frente à Pequim. O Susquehanna era o navio-guia da “esquadra” que Perry comandou com seus 300 homens, metaforicamente o Godzilla, pesando aproximadamente 2.450 toneladas representando o que havia de mais moderno em design e tecnologia naval ao custo aproximado de 25 000 libras (USD 2 500 000 em valores de 2003). 1.1 Gaiatsu: O Germe da Destruição Cuius regio, ejus Religio. A religião do Rei é a religião dos súditos. A Era Tokugawa (1616-1868) pode ser descrita como um período de isolamento, em que o Japão se fechou para as influências ocidentais de cunho político-religioso e determinou a expulsão de qualquer embarcação ou estrangeiro, resguardado poucas exceções. Segundo Brandão (1998, p. 28), as forças do “Xogum” eram compostas por 80.000 hatamotos (soldados fortemente armados) que serviam para estabelecer a “paz” interna a qualquer eventual conflito. Desse modo, o período Tokugawa corresponde ao fortalecimento da unidade nacional japonesa ao impor uma capital (Tóquio), que deveria abrigar a família de todos os Xoguns. A conseqüência foi a formação de um centro comercial e cultural “nacional”, 9 além da necessidade de interligação de todo o país, cuja segurança pelo fluxo de mercadorias e mercadores inter-feudos era de responsabilidade dos 80.000 hatamotos. A paz prolongada favorecera o surgimento de uma próspera classe mercante e de uma economia monetizada (arroz e ouro como meios de troca). A capital, por sua vez, em pleno século XVIII, contava com uma população superior a um milhão de habitantes. Nas últimas décadas do período Tokugawa (1850-68), Edo era já tão grande quanto Londres, com uma população superior a um milhão de habitantes. Osaka e Kyoto tinham, respectivamente 300 000 e 200 000 habitantes, Nagoya e Kanazawa quase 100 000 habitantes cada uma. (MORISHIMA, 1989, p. 90). Naquele período, para se viver nas cidades, que se encontravam dentro de feudos, era necessário pagar taxas para os senhores feudais. De maneira semelhante, o mercante que desejasse deter um determinado monopólio também deveria pagar taxas para tanto. Os samurais são os senhores entre as quatro classes! Eles podem esmagar quem não se comporta como é devido... (BRANDÃO, 1998, p. 28). A relação entre os samurais e as cidades se deu pela “instituição Tokugawa”, que impôs que, em tempos de paz, seria eliminada a “razão social” do samurai, que transitaria para a cidade como comerciante ou mercador. A classe samurai era representada por 400.000 famílias que eram a polícia e o judiciário da Era Tokugawa, abaixo apenas do Xogum, que, por sua vez, respondia apenas ao Tenno (Imperador), que por ser filho de deuses não deveria intervir, em demasia, em assuntos mundanos, isolando-se em Kyoto (região do Kansai), em conformidade com o confucionismo e a contra-ideologia da china como centro do universo, tendo apenas os deuses como superiores, segundo (MORISHIMA, p. 94-95, 1989). Junto com a “Era Tokugawa” nasceram, também, os germes de sua destruição, pois ao propor uma sociedade de paz isolacionista, transformou as suas bases de sustentação 10 (samurais e monopólio da tecnologia bélica ocidental) em mercadores e comerciantes, que, por fim, acabariam por demandar a abertura e o fim do feudalismo. O setor agrícola, que anteriormente era auto-suficiente, foi sendo esvaziado. Concomitantemente ocorreu o crescimento de uma classe dominante urbana improdutiva, o que implicava pesada tributação e empobrecia os agricultores. Os agricultores empobrecidos eram forçados a migrar rumo aos centros urbanos, para ofertar mão-de-obra àqueles que conseguiram alguma prosperidade através da comercialização e exploração agrícola, numa ampla base comercial, que os tornavam ainda mais opulentos, o que, por sua vez, fortalecia seus direitos a terra, em contraste com os senhores feudais que haviam as conseguido via concessões imperiais (MORISHIMA, 1989, p. 96). O que reforça a queda da segunda base de sustentação dos Tokugawa, que era o monopólio das armas e da tecnologia ocidental (via Kagoshima), com a abertura comercial, pressionada por comerciantes e consolidada por estrangeiros. O “Godzilla” exposto na primeira seção deste capítulo foi apenas a gota d’água que fizera transbordar o copo. Assim, Perry ao exigir o acordo de abertura para navios americanos, nada mais representou que os interesses da classe guerreira e agora burguesa do Japão. Notemos que existe uma inversão de valores, visto que a transição feudo-capitalista da Europa Ocidental consistiu num conflito entre a classe burguesa emergente e os senhores feudais enquanto que no Japão houve apenas uma troca figurativa da espada pelo capital, o que nos ajuda a compreender a quase inexistência de conflitos relatos, salvo raros eventos mais correlacionados a impostos do que a “direito social”. Os russos lançaram a mão não só às águas piscatórias do Norte, como a portos coreanos, como o Porto Lazarew, e mesmo a Tsuxima. Chegaram a passar o inverno com a sua esquadra e os seus amigos e vícios em Nagasaki... deitando assim a mão à ponte terrestre para o Império Insular. (BRANDÃO, 1998, p. 31) 11 Assim temos que a causa fundamental da “Restauração” e não “Revolução” Meiji aqui defendida, foi a erosão do feudalismo através do aumento do comércio, o que por sua vez, se deveu ao estabelecimento da paz e da ordem. Em conjunto com a intromissão estrangeira, essa erosão criou problemas que seriam equalizados com a restauração-intervenção do Tenno aos interesses da “nova” classe burguesa que era a “velha” classe dos senhores feudais (266 senhores feudais) e dos novos comerciantes-mercadores (os velhos samurais), segundo Brandão (1998, p. 30). 2.3 – RESTAURAÇÃO MEIJI. O fim da era Tokugawa representou a ascensão de uma nova ordem social, como visto anteriormente, em que o samurai e os senhores feudais se transformaram em comerciantes-mercadores, enquanto outros simplesmente se contentaram com a renda que o Estado lhes deu em troca de suas terras e de seus títulos sociais. Segundo JANEIRA (1985, p. 34) o Japão se lançara num programa de ocidentalização, cuidadosamente pensado e planejado, com o objetivo de ser uma potencia industrial. A era Tokugawa, especialmente no século XIX havia sido uma época de intensa transformação ideológica, e hoje está estabelecido que, apesar da predominante estrutura feudal, a experiência Tokugawa lançou as bases em que se assentaram as reformas Meiji. As reformas consistiram no estabelecimento de um sistema educacional, na instituição do exército e da marinha, além das modernizações financeiras e judiciais. A reforma financeira-institucional instituiu uma moeda nacional, o “YEN”, ou escrito como “en” que tem como significado “trabalhar fora”, que representa que a economia caminhava para a modernização de seu numerário, anteriormente baseado no arroz e ouro para o papel moeda. 12 O financiamento do Estado se dá apoiado na profunda reforma institucional em que os senhores feudais entregam as suas terras em troca do correspondente a 50% do que recebiam dos servos em moeda nacional (vistos que estes recebiam ½ da colheita), sendo 6% em moeda corrente e o restante em títulos do governo e os territórios feudais elevados a condição de Prefeituras. Os servos, por sua vez, foram elevados a proprietários das terras em que trabalhavam, mas em troca passaram a pagar um tributo da 1/3 parte da produção, pagável apenas em moeda nacional e não mais em arroz ou ouro, o que garantiria o fornecimento urbano de alimentos e a sua demanda com o florescimento das cidades e da renda proveniente de um funcionalismo público assalariado e da nova burguesia ascendente que era a antiga classe oligárquica agregada aos samurais que agora se transformaram em mercadores e comerciantes. Segundo MAURO (1976, p. 230), entre 1880 e 1914, graças à reforma, a agricultura registra um aumento de 70% na sua produção, sendo o arroz em 40% e o trigo em 100%. O fato da obrigatoriedade dos senhores feudais deterem uma casa representativa em Tóquio na era Tokugawa incentivara que estas famílias se transferissem definitivamente para a capital e importantes centros urbanos regionais como Osaka formando núcleos em que se acumulava a renda nacional que viabilizaria a formação dos bancos e núcleos industriais necessários para a viabilização da primeira revolução industrial (têxteis/alimentos industrializados). Segundo MAURO (1976, p. 230) a reforma agrária teve como conseqüência muito favorável ao desenvolvimento econômico a redistribuição da renda. Além disso, 80% das receitas do Estado eram provenientes do setor primário da economia no período compreendido entre 1868 e 1900. A reforma agrária, por si, eliminou minifúndios inviáveis, devido a sua pequena escala para uma economia capitalista, liberando mão de obra para a indústria e o comércio. A 13 riqueza gerada para seus antigos proprietários, agora concentrados em centros urbanos, foi captada e canalizada para a industrialização e a formação do sistema de crédito nacional privado para pequenos e médios investimentos que seriam balizados pelo crédito estatal para grandes investimentos de base. Segundo Janeira (1985, p. 35), a reforma educacional consistiu: na adoção do ensino primário/fundamental obrigatório, num país em que 40% da população sabiam escrever e; na abertura das universidades e das repartições públicas a técnicos estrangeiros além do envio de estudantes a universidades européias. Segundo MAURO (1976, p. 230), em 1875, havia 527 técnicos estrangeiros empregados na administração pública, dos quais 205 conselheiros técnicos, 144 instrutores, 69 administradores e altos funcionários e 36 operários qualificados. Escolas profissionais e de ensino itinerantes são formadas como forma de convidar os industriais à modernização. Para as forças armadas, foi adotado o modelo prussiano para o exército e o anglicano para a marinha. As reformas, perduraram de 1868 a 1878, sem grandes agitações sociais, em comparação aos países europeus. A formação de capital no período de 1880 a 1900 corresponde a uma média de 23,5% do PIB, que foi, em grande parte, financiada pela emissão de títulos e realizada por uma política de exportação via desvalorização (de 100%, no período) do yen frente ao dólar americano. A indústria têxtil respondia por 60% das exportações japonesas da época, segundo Janeira (1985, p. 36-7). A indústria crescia a uma taxa média de 7,5% ao ano no período de 1890 e 1914. Ao contrário da China e da Índia, o capital estrangeiro teve pouca importância no desenvolvimento industrial, sendo apenas utilizado para a formação de técnicos japoneses no exterior e a emergência de um Japão potência facilitara a produção de armamentos segundo Janeira (1985, p. 38). 14 A educação foi considerada o primeiro requisito para triunfar na nova ordem social, e a Universidade era a porta de entrada do prestígio social para a classe média, em uma sociedade que rapidamente se alfabetizava. No quesito legal o imperador proclamou a constituição em 1889 estabelecendo um país de Monarquia parlamentarista sob uma base política alemã em um modelo inglês em que os shizokus e kazokus (antigos senhores feudais) legislariam no país. A rápida ascensão econômico-política dos shizokus se deu através dos Zaibatsus, que produziam e monopolizavam o mercado interno. Tal estrutura era coerente com a doutrina confucionista e com fundamentação gaiatsu de Ásia para os asiáticos. Estabeleceu-se um modelo parlamentarista, em que o Tenno “apenas” dirigiria o executivo aos interesses mundanos. A expansão sobre a Ásia, com a derrota da China em 1894 e a anexação de Taiwan, viabilizava os retornos dos Zaibatsus e concretizava a aliança militar-política com a Inglaterra, que legitimaria o braço armado japonês sobre a Ásia (Coréia e Manchúria). [...] a indústria pesada é implantada no país ao mesmo tempo em que é construída uma ampla rede de estradas de ferro, promovendo um rápido crescimento econômico, que combinado com os pesados investimentos militares, transformará o país, que acaba adotando uma política agressiva e expansionista, aos moldes dos países imperialistas ocidentais da época. (MELO; VICENTE; PACHECO, 2005, p. 126) A restauração Meiji (1868-1912) atendeu aos interesses da antiga classe guerreira (samurais) e de sua intelligentizia (senhores feudais) e atingiu seu auge com a formação dos Zaibatsus e a sua decadência com a aliança anglo-japonesa na expansão sobre a Rússia na Guerra Sino-Japonesa. Com a Morte do Tenno (1912), abre-se espaço para o período fascista japonês, pois o Imperador passaria a figura meramente representativa, em um sistema parlamentarista governado pelos interesses dos Zaibatsus. 15 2 NIKKO, NIKKO, NIKKO: NÃO VEJO, NÃO ESCUTO, NÃO SINTO Uma das diferenças vitais entre o comunismo moderno e o fascismo moderno é que o comunismo é uma revolução baseada numa filosofia, enquanto que o fascismo é uma filosofia baseada numa revolução. Jones (1938, p.73). A aliança russo-chinesa assinalada após a derrota chinesa frente ao Japão, em 1895, ao custo de Taiwan e parte da Coréia, tinha como intuito transformar a Coréia em um país independente influenciado diretamente por Moscou que por sua vez ergueria uma barreira à entrada do Japão na Ásia continental. A simultânea presença nipo-russa no país recém independente produziu a guerra entre russos e japoneses com a morte da rainha e do embaixador japonês sob comando da inteligência russa, causando a guerra sino-japonesa de 1904-5, em que o império czarista fora derrotado, configurando-se a ascendência do império do sol nascente sobre a península, assegurando o status de potência local. Em 1910 a Coréia fora formalmente anexada ao Japão, tornando-se uma colônia e centro estratégico para a expansão a posteriori em direção a Sibéria (Leste da Rússia) e a Manchúria (Norte da China), segundo VIZENTINI (2003, p.2). Segundo Yamashiro (1997, p. 268), com a morte de Meiji Tenno, em julho de 1912, após 45 anos de reinado, sobe ao trono o príncipe Yoshihito. No contexto internacional, assistia-se à unificação alemã, a formação da aliança tríplice (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) sob liderança de Bismack e, após sua queda, a crescente política expansionista adotada pelo Kaiser Guilherme II, causando uma corrida armamentista na Europa com a assinatura da entente entre a Inglaterra, França e Rússia. Segundo Yamashiro (1997, p. 269), a expansão da influência da Áustria-Hungria sobre as pretensões de uma nação serva culminaram com o assassinato do príncipe 16 Ferdinando da Áustria por um sérvio, que mobilizou o imediato apoio dos países da entente (Inglaterra, França e Rússia), contra a tríplice aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália). Enquanto isso, no Oriente, sob o julgo dos japoneses e constituindo a fronteira de expansão para o capitalismo japonês no continente asiático, a Coréia fazia fronteira direta com a China mergulhada em uma guerra civil. A Rússia, convertida em União Soviética, recuperara seu status de potência e apoiava os movimentos nacionalistas coreanos e comunistas chineses, além do estabelecimento de guerrilhas esquerdistas na fronteira com a Rússia, que, segundo Vizentini (2003, p.3), se desenvolveriam posteriormente na Guerra da Coréia, um símbolo da Guerra Fria na Ásia. Segundo Yamashiro (1997, p. 269), o Japão entra oficialmente em guerra, em função do compromisso assumido com a Inglaterra, pelo tratado militar-político posterior a guerra Sino-japonesa. Em “atendimento” aos interesses “não-japoneses”, o exército nipônico ocupa a base alemã de Ching-Tao na China e as ilhas alemãs no Pacífico aumentando sua influência militar-econômica sobre a Ásia. No quesito econômico, o governo dirige o processo de industrialização a fim de se substituir os artigos importados, principalmente da Alemanha, como produtos químicos, medicamentos, tintas e adubos. Ocorre, ainda, uma rápida expansão das tecelagens, devido à incapacidade dos ingleses suprirem o extremo oriente e o Pacífico. Na Ásia, o governo de Tóquio promove a expansão da indústria pesada, com a construção da siderúrgica Anshan, na Manchúria (China), pertencente à Estrada de ferro sul-manchuriana, de propriedade japonesa. Minas de carvão exploradas com novas técnicas, mecanização e eletrificação em amplas áreas industriais aumentam a produtividade. Segundo Yamashiro (1997, p. 275), o capital necessário provem de grupos como os Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo, Yasuda e Daiichi. Segundo MAURO (1976, p. 325) as necessidades dos aliados transformam o Japão em um grande fornecedor de produtos manufaturados, ainda que privado do mercado das 17 potências centrais. O rompimento dos laços comerciais da Alemanha com o Pacífico e o Extremo Oriente levam o mercado chinês a ser aberto para o Japão. A Indochina francesa e a Índia pediram à indústria nipônica os produtos que a Europa não podia mais lhe fornecer. A indústria metalúrgica se encarregara de fornecer material bélico para a Rússia a partir de 1915. As exportações japonesas chegaram a atingir o continente americano: o Chile, o Peru, que eram antes, clientes da Alemanha, viram chegar mercadorias nipônicas. Em 1917-1918, quando a indústria norte-americana foi mobilizada para as necessidades bélicas, os produtos japoneses forneciam a Califórnia e o Oregon. As conseqüências econômicas e políticas da primeira guerra mundial foram muito boas para o Japão que viu o seu território imperial passar de 144 mil quilômetros quadrados para 257,6 mil quilômetros quadrados. A população aumentou cerca de sete milhões. As receitas dos Estado que eram em 1872 de 153,5 bilhões de ienes atingiram em 1917, pela cobrança de taxas alfandegárias a cifra dos 674 milhões de ienes a valores de 2005. A marinha mercante passara de 15 mil toneladas em 1893 para duas milhões de toneladas em 1919. As exportações japonesas passaram de 692 bilhões de ienes em 1914 para 1,106 trilhões ao término da guerra (1919) segundo BRANDÂO (1998, p. 58). O valor da produção industrial crescera de 14 bilhões de ienes (valores de 2005) em 1913 para 33,175 bilhões de ienes, segundo MAURO (1976, p. 326), ao passo que o número de operários passou de um milhão em 1913 para 2,1 milhões em 1927. Neste ano coexistiam mais de 300 mil mineiros, 400 mil trabalhadores em transportes e comunicação e 1,8 milhões de free lancers, somando uma massa de 4,7 milhões de trabalhadores sendo 1,5 milhão mulheres, tendo o número de fábricas oficiais passado de 15 mil para 54 mil estabelecimentos, segundo YAMASHIRO (1997, p. 276). O término da primeira guerra mundial aconteceria em novembro de 1918, com a vitória dos aliados e a assinatura do tratado de Versalhes, na França em que a Alemanha seria 18 severamente penalizada como forma de impedir a emersão de uma nova Alemanha imperialista. O tratado de Versalhes visando manter a Paz mundial e evitar um ressurgimento do poderio militar germânico, impõem a devolução da Alsácia-Lorena e o reconhecimento da ocupação japonesa das colônias alemãs na China e nas ilhas do Pacífico bem como o encaminhamento da proposta do presidente Wilson para a criação da Liga das Nações composta de cinco membros (Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão), segundo YAMASHIRO (1997, p. 270). O tratado de Versalhes se desdobraria com a assinatura do Plano Dawes em 1924 que financiaria a “dívida da culpa da guerra” em parcelas anuais do montante de USD 340,9 bilhões (em valores de 2005), porém este assinalava o fim dos impasses que a França defendia impor a assumir o devido montante em dívidas com a França que a utilizaria como renda para pagar as suas dívidas com Washington conjuntamente com os aliados europeus, porém alinhava Berlim e sua economia a economia européia visto que esta assumiria um passivo em relação a Europa, enquanto que o acordo firmara que os alemães pagariam parcelas “fixas”, e financiadas por Washington para pagamento com a Europa que firmaria o dólar como moeda internacional na Alemanha e moeda alavancadora das mercadorias alemão-americanas na Europa, ou seja a Alemanha sob o Plano Dawes era a porta de entrada do capital norteamericano na Europa industrial (Alemanha-França e Inglaterra) que os franceses tiveram que aceitar como forma da dívida de culpa da GUERRA. Observemos que o valor concordado entre os Americanos e Franceses apesar de inferior ao desejado pelos franceses era equivalente ao dobro da economia japonesa na época de USD 160 bilhões ou a metade do PIB americano da época de USD 776 bilhões no ano de 1919, ou ainda a ¾ da economia alemã na época segundo HOBSBAWN (2005, p. 103) e tabela anexo. 19 A quantia que a Alemanha teria de pagar permaneceu vaga, como um compromisso entre a posição dos EUA, que propunham fixar os pagamentos da Alemanha segundo a capacidade de pagar do país, e a dos outros aliados - sobretudo os franceses - que insistiam em recuperar todos os custos da guerra. HOBSBAWN (2005, p.103). Em 1921-2 é realizada a Conferência Naval de desarmamento de Washington, em que se decide limitar as proporções das unidades principais das esquadras inglesas, americanas, japonesas, italianas e francesas, na mesma conferencia se discutem a questão do Extremo Oriente e do Pacífico, como já visto anteriormente ao início do segundo capítulo, regiões de interesse norte-americanos devido ao comércio triangular, que se denominará de tratado das nove potências concordam em respeitar a soberania chinesa e os territórios adquiridos durante a primeira guerra mundial, como estabelecer a abertura dos portos chineses a essas nove nações (os países pertencentes a liga das nações, mais a China, Bélgica, Holanda e Portugal) numa clara evidencia para o engessamento do expansionismo japonês sobre a Ásia e o pacífico. A assinatura de um armistício em separado entre a Alemanha e a Rússia servem de argumento para que a Liga das Nações envie tropas para a ocupação da Sibéria em nome do socorro as tropas checas cercadas pelos revolucionários russos na região em questão. A ocupação nipônica é rapidamente expulsa pelas tropas bolcheviques, mas o expansionismo japonês preocupa a Liga das Nações delineando o cenário da segunda guerra mundial tanto na Europa com as pesadas restrições à Alemanha, como o ofuscacionismo italiano e a contenção dos interesses japoneses sobre a Ásia e o Pacífico, por parte dos Estados Unidos, Inglaterra e França, segundo YAMASHIRO (1997, p. 270). No plano político nacional o país sofre pressões de democratização em franca expansão mundial, visto que a alternativa restante era o socialismo-russo, que exigem maior representatividade na câmara dos Pares. Takahashi Hara é o primeiro cidadão civil a chefiar o cargo de primeiro ministro, num curto período de 1918 a 1921. 20 O Japão passa por reformulações constitucionais em 1925 que instituem o Sufrágio Universal e torna lei o direito a voto aos cidadãos com mais de 25 anos e que podem se candidatar com mais de 30 anos desde que paguem a taxa de 3 ienes a real coroa anualmente (aproximadamente 1850 ienes, em valores de 2005). Segundo YAMASHIRO (1997, p. 274). E seguindo a mesma linha da democratização se instauram leis de segurança que visam impedir a introdução da ideologia comunista que na verdade essa lei serviu para sufocar todos os movimentos liberais, esquerdistas ou simplesmente democráticos, sob o pretexto de extremismo, segundo YAMASHIRO (1997, p. 275). No plano econômico após a rápida expansão ocasionada pela guerra e monopólios temporários adquiridos pela escassez de mercadorias européias e americanas levam a perdas de mercados causando uma queda acentuada na bolsa de Tóquio, em que numerosos bancos vão a falência elevando as taxas de desemprego que encontram ressonância nas doutrinas comunistas que levaram a repressão policial das reuniões proibidas do Partido Comunista e da instituição da Lei de segurança nacional com o falecimento do Taisho Tennô em dezembro de 1926 levando o país ao fascismo. Tabela 1 - Reservas de ouro do banco do Japão e do governo japonês (em milhões de ienes correntes) Data No Japão No exterior Total Dez 129 213 342 1116 1062 2178 1914 Dez 1920 Fonte: Mauro, F.; História da Economia Mundial de 1790-1970, p.327. 21 2.1 Fascismo e segunda guerra mundial: os interesses da realização do capital Dá-nos a estranha sensação de viver num país onde, individualmente, todos são cordiais e onde nossas relações pessoais são as melhores possíveis, porém, onde coletivamente, está-se sempre consciente de uma profunda desconfiança e animosidade contra a nossa nação (EUA). Joseph C. Grew (1944, p.56). Segundo JANEIRA (1985, p. 42), a primeira grande guerra mundial não só aumentou a importância internacional do Japão, mas ainda estimulou a sua economia a uma escala antes não atingida; não só alargou a sua exportação aos mercados tradicionais da China e aos Estados Unidos como abriu novos mercados como a Índia e o Sudeste Asiático. As encomendas de munições e navios auxiliaram o desenvolvimento do seu poder militar. Têxteis, seda crua, tecidos de algodão, eram os principais produtos da sua exportação. Com o falecimento do imperador Taisho, em 1926, somadas a crise econômica instalada pelo Crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, e a ascensão das doutrinas russas contaminadas pelo estreito da Coréia lastreadas pela Lei da Seguridade Nacional que tinham como intuito inicial conter a propagação da ideologia comunista levaram os fascista ao poder em nome da unidade nacional contra os interesses sinos-americanos. Fiquei surpreso, depois de nossa recepção para comemorar o quatro de julho, ao verificar que todos os bombons da nossa mesa de buffet traziam a legenda “Moscou, Made in URSS”. Soube que os soviets estão inundando o Extremo Oriente com esses bambos de preço inferior ao equivalente em açúcar. Joseph C. Grew (1944, p.49). A Crise de 1929 em Nova Iorque leva a suspensão do pagamento das dívidas da Alemanha em reparação a Guerra, porém causam um reverso sobre a economia, em que 90% das transações financeiras deixam de existir e levam a quebra do sistema então vigente e instaurado pela primeira guerra de que os EUA financiariam a Alemanha e esta serviria de “casa de importação” dos interesses americanos na Europa industrial como forma de reparar a 22 guerra, mas que deixara de existir com a crise de (19)29, segundo HOBSBAWN (2005, p. 104-5). Os custos de reparação da guerra somadas a crise da classe média européia (abrupto aumento das taxas de desemprego) levam ao desdobramentos da segunda guerra mundial iniciada esta pela primeira. Nada menos que 22% da força de trabalho britânica e belga, 24% da sueca, 27% da americana, 29% da austríaca, 31 % da norueguesa, 32% da dinamarquesa e nada menos que 44% da alemã não tinha emprego, o que revela elevadas taxas de desemprego e além de serem a população economicamente ativa destes países eram a base fundamental do eleitorado além de constituírem a base fundamental da renda das famílias nesses países levando a emersão os partidos sociais que instituiriam a posteriori o Estado do Bem Estar Social na Europa, mas que alavancaram idéias nazi-fascistas pela Europa somadas as doutrinas moscovitas que proliferavam a largos passos representando um real perigo à expansão do capital americano, segundo HOBSBAWN (2005, p. 97). Tampouco deixaram os políticos de notar que até 85% dos membros do Partido Comunista Alemão, que cresceu quase tão rápido quanto o Partido Nazista nos anos da Depressão e mais rápido nos últimos meses antes da ascensão de Hitler ao poder, estavam desempregados (Weber, 1969, vol. I, p. 243). Por HOBSBAWN (2005, p.98). Em defesa as economias nacionais os Estados europeus adotam medidas isolacionistas fragmentando o capitalismo globalizada de até então e o abandono do padrãoouro então vigente como forma de tornar a taxa de câmbio uma máquina exportadora o que viria na verdade a agravar a crise visto que o comércio internacional também se interrompe num cenário de irrealização do capital. Numa época em que o comércio mundial caiu 60% em quatro anos (1929-32), os Estados se viram erguendo barreiras cada vez mais altas para proteger seus mercados e moedas nacionais contra os furacões econômicos mundiais, sabendo muito bem que isso significava o desmantelamento do sistema mundial de comércio 23 multilateral sobre o qual, acreditavam, devia repousar a prosperidade do mundo. Por HOBSBAWN (2005, p.98). Segundo HOBSBAWN (2005, p. 100-1) o trauma da Grande Depressão foi realçado pelo fato de que um país que rompera clamorosamente com o capitalismo pareceu imune a ela: a União Soviética. Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultra-rápida e maciça sob seus novos Planos Qüinqüenais. De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou, no mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manufaturados do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía de 59% para 52% do total do mundo. E mais, não havia desemprego. Essas conquistas impressionaram mais os observadores estrangeiros de todas as ideologias, incluindo um pequeno, mas influente fluxo de turistas sócio-econômicos em Moscou em 1930-5, que o visível primitivismo e ineficiência da economia soviética, ou a implacabilidade e brutalidade da coletivização e repressão em massa de Stalin. Pois o que eles tentavam compreender não era o fenômeno da URSS em si, mas o colapso de seu próprio sistema econômico, a profundidade do fracasso do capitalismo ocidental como conseqüência da quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. A Rússia que havia ao contrário dos Estados Unidos emergido de guerra civil, em 1921, com a renda nacional equivalendo a 1/3 do nível de 1913. Sua indústria, ameaçada de paralisação pela falta de aço, carvão e máquinas, fabricava menos de 115 das mercadorias produzidas antes da Guerra Mundial; as minas de carvão, menos de 1/10, e as fundições de ferro, apenas a quadragésima parte de sua produção normal, havendo a produção de aço despencado de 4,2 milhões de toneladas para 183.000, isto é, 1/3 do que havia sido antes da guerra. As ferrovias estavam completamente destruídas, a agricultura, arrasada, as aldeias, despovoadas e, em fins de 1921, o número de famintos elevou-se a 36 milhões, o que fez o 24 canibalismo reaparecer. E um comércio exterior que caíra de 2,9 bilhões de rublos para 30 milhões agora representava um modelo ao capitalismo cambaleante de Wall Street, segundo BANDEIRA (2006, 88-89). Stalin compreendia que a economia mundial não era apenas um conjunto de economias nacionais que realizavam trocas entre si, mas um complexo sistema de economias que se especializavam de acordo com o sistema internacional da divisão do trabalho e que esta poderia ter se rompido com a crise de 29, porém o movimento contra-revolucionário iniciado na Alemanha e a posteriori no Japão levaram Stalin a constatar que a corrente não se desintegrara, recuou do comunismo militar ou comunismo de guerra, instaurado durante os anos da guerra civil, e restabeleceu o funcionamento da economia de mercado, com a adoção da NEP (Novaia Ekonomitcheskaia Politika), embrionado a partir de 1922, não como tática, devido às dificuldades momentâneas, porém como estratégia de desenvolvimento das forças produtivas, necessária ao socialismo, pois concebia o capitalismo de Estado como capitalismo privado, permitido pelo Estado, e não como a propriedade e a operação das empresas pelo Estado, segundo BANDEIRA (2006, p. 89), que levaram a economia a transpor a crise de 29. Sobre a crise de realização instaurada sobre a economia da URSS, Trotsky ponderou por volta de 1935, lembravam que as forças produtivas, criadas pelo capitalismo, não podiam adaptar-se à moldura nacional e só podiam ser coordenadas e harmonizadas (combatidas), de forma socialista, em um plano internacional (expansão internacional – globalização comunista). Essas crises, ele acrescentou, representavam "alguma coisa de infinitamente mais grave que as moléstias infantis ou de crescimento constituíam “severas advertências” do mercado internacional, ao qual a União Soviética estava subordinada e ligada e do que não podia separar-se. Conforme previa, seu prolongado isolamento levaria inevitavelmente não a um comunismo nacional, mas à restauração do capitalismo. 25 A União Soviética não conseguiu propagar a revolução na Europa. E a Internacional Comunista, sem maior penetração entre o proletariado, potências industriais, voltou-se para os povos da Ásia, África e América Latina, capitalizando os ressentimentos nacionais contra a dominação econômica quer da Grã-Bretanha e da França quer dos Estados Unidos cujas políticas eram estigmatizadas como imperialistas. O aparente isolacionismo dos Estados Unidos, por outro lado, não constituiu mais que uma expressão do unilateralismo real, inerente à sua política exterior. A emersão da economia soviética a estrela internacional devido ao seu sucesso na erradicação do desemprego em um mundo enfermo deste, somadas a ascensão dos nazifascistas que adotam um híbrido entre defesa de um capitalismo nacional com políticas sociais como os planos Quadrienais “copiados” inicialmente por Hitler levam ao início dos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial, quando estes nazi-fascistas eram na verdade movimentos contra-revolucionários de frustração a interesses de Moscou. São eles arianos, da raça superior de Hitler, herdeiros seculares da cultura, ao passo que os africanos são descendentes diretos da caverna, sem cultura ou sangue superiores... (Jones, 1938, p.82). Segundo JONES (1938, p. 74) deve-se compreender que à vontade do povo germânico, em geral, não se limitará apenas à defesa passiva, mas, pelo contrário, preparar-se á para um ajuste final, ativo, com a França, numa luta mortal para a realização das idéias germânicas. A Alemanha vê, na aniquilação da França, o único meio de obter a internacionalização em todas as direções de sua suástica (a cruz que se fechou egoístamente). Nossa política externa somente se ajustará quando houver duzentos e cinqüenta milhões de alemães...(população européia na época). 26 O desenvolvimento alienado do ideário liberalista de origem francesa do conhecimento que geraria a “febre” de superioridade que resultaria no nacionalismo opressor como forma de justificar o necessário alinhamento interno para formar um corpo nacional grande o suficiente para a expansão econômica além-mar seria rapidamente deflagrado pela Alemanha, Itália e no Japão, exatamente os países que se industrializaram tardiamente e demandavam “espaço” no contexto internacional em um mundo já dividido sendo que as pretensões de Hitler e Mussolini produziram uma orgia de rearmamentos. Semeais argumentos de superioridade e ceifareis armamentos superiores da parte dos inimigos... Aquilo que semearmos ceifaremos... (Jones, 1938, p.83). A invasão pelo exército japonês da Manchúria, criando o Estado Manchú ao moldes que os EUA criaram o Panamá e com a defesa de que atendiam a interesses nacionais de defesa nacional contra investidas moscovitas e totalmente contra os acordos das Liga das Nações que não encontravam mais sustentação devido à retirada dos EUA e do Japão desta. Segundo BANDEIRA (2006, p. 94) com a crise instaurada no início de 1932, o Japão, sob o governo do primeiro-ministro Inukai Tsuyoshi, suspendeu a conversão das notas bancárias por ouro, proibiu sua exportação e terminou por abandonar esse padrão monetário. O desequilíbrio no seu balanço de pagamentos, a depreciação da libra esterlina, a desvantagem em alguns mercados no exterior e o temor que o conflito na Manchúria, ao longo da fronteira com a China, causou aos investidores concorreram para essa decisão somadas a queda abrupta dos preços internacionais (arroz e seda no caso japonês) e da guerra comercial instaurada levou a queda do governo “civil” pelas tropas militares fascistas em prol dos interesses nacionais fundamentada na legítima defesa (direito internacional) e contra os interesses moscovitas, embora ambos os argumentos sejam contra a expansão em um 27 movimento contra-revolucionário a Moscou, o que caracteriza por sua vez o fascismo segundo JONES (1938, p. 114). Como anteriormente argumentado que uma das diferenças fundamentais entre o comunismo moderno e o fascismo moderno é que o comunismo é uma revolução baseado numa filosofia enquanto que o fascismo é uma filosofia baseada numa revolução (JONES, 1938, p. 73) temos que a Itália, Alemanha e o Japão aproveitaram-se da filosofia desenvolvida aos comunistas sobre a necessidade de serem novos núcleos econômicos como os EUA desempenhavam por isso a adoção de Estados Nazi-fascistas como forma de contestação do poder americano e da emersão de um poder nacional baseada na raça superior que nada mais significava a defesa dos interesses nacionais através da guerra expansionista como Stalin mesmo havia concluído, já anteriormente argumentado, e que não faria sentido trocar a submissão a Washington pela submissão a Moscou, ao mesmo tempo que a “Internacional” comunista não encontra apoio nem na Alemanha nem no Japão que seriam as duas grandes “chaves” para a expansão da economia russa sobre a Eurásia. O Comunismo crê na fraternidade mundial e no internacionalismo. Ele é a fraternidade dos trabalhadores. Seu lema é: “Trabalhadores do mundo, uni-vos”. JONES(1938, p.104). Que sejam cem Pearl Harbors e dez dias D’s, a segunda guerra mundial representou apenas a retomada dos interesses dos EUA, Inglaterra e França sobre a Alemanha e o Japão, que por sua vez serviram no seu tempo, como bloqueios aos interesses moscovitas, que se deslocaram para a África, América Latina e China, economias onde o capitalismo não se encontrara tão enraizado e em que o Plano Marshall e a ocupação militar americana sobre o Japão representavam nada mais que uma nova página virada na história da guerra fria que nascera com a revolução bolchevique e se aprofundara durante a primeira guerra mundial, 28 onde havia duas ideologias dominantes em defesa do senso comum de serem a Roma do Mundo; Moscou vs Washington. 29 3 COKE, WALKMAN AND BEATLES: O JAPÃO NO POST-WAR Sentimos... que a filosofia social e política russa... continuará a se espalhar além das suas fronteiras nacionais, em áreas cujas condições favorecem sua aceitação e seu desenvolvimento... O meio mais eficaz de conter a disseminação da filosofia russa é evitar ou minorar as condições favoráveis ao seu desenvolvimento e demonstrar que o sistema de via que representa o ponto de vista anglo-americano pode oferecer o mesmo ou mais à massa do povo...SLOAN (1963, p. 281). O presente capítulo abordará como o Japão foi reconstruído após a II Guerra Mundial, mas para tanto se fará necessário o reconhecimento das particularidades do modelo que inspirou muitas empresas ao redor do mundo, que passaram a admirá-lo como uma forma mais enxuta de acumulação em relação ao fordismo e ao tayolorismo. Com o breve trecho abaixo, de De Gaulle, pronunciado em 18 de abril no verão de 1940, (segundo Schreiber, 1980), podemos compreender que o contexto internacional, mesmo durante a segunda guerra mundial já havia sofrido a sua metamorfose. Está guerra não está confinada ao infeliz território de nossa pátria. Esta guerra é uma guerra mundial... A França poderá, como a Inglaterra, utilizar sem limites a imensa indústria dos Estados Unidos [...] (SCHREIBER, 1950, p. 285). O mundo não seria mais o mesmo, não porque caíram as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, ou seja, as bombas não seriam a causa das mudanças, mas sim a conseqüência, porque o sistema capitalista já havia sofrido a sua mudança, as guerras não seriam mais definidas nos campos de batalha pelo sistema inglês, vis-à-vis, mas pelo poderio industrial de uma nação, as regras não seriam mais ditadas pela city, mas pela big apple. Assim nascia a nova ordem internacional, uma ordem ditada pelos vencedores (Washington, e, em menor escala, Londres). Estabelecia-se, assim, o “acordo” de Bretton Woods para regular o sistema monetário-financeiro internacional.. 30 3.1 Abrindo mentes Apesar do subtítulo as forças de ocupação tiveram nitidamente esta intenção, ao abaixar a brisa nuclear, segundo Schreiber (1980) a alma do Japão pede ao primeiro-ministro Suzuki que convoque para a noite de 9 de agosto de 1945, no abrigo subterrâneo do palácio imperial, todo o governo e o estado maior. A reunião começa às 23:30h, porém os generais resistem, dizendo que a hora da glória havia chegado ao Japão, pois era hora de os Estados Unidos enfrentare, um desembarque de soldados norte-americanos em solo japonês. A alma do Japão compreende que era necessário agir, pois os militares iriam até a última gota de sangue. Assim, mandou gravar a mensagem de capitulação que seria retransmitida por todas as rádios do país. As mudanças, apesar de muitas, não terminavam por aí. A assinatura de capitulação não era apenas a assinatura de rendição (2 de setembro de 1945), mas o reconhecimento que terminara o ideário de um capital nacional, de guerras segundo o modelo inglês vis-à-vis, para guerras comandadas a distância. Os soldados não estariam mais nas trincheiras, mas sim nas fábricas produzindo seus representantes industriais, comandadas pelo capital sem pátria. O imperador deixara de ser um deus vivo e passara a ser um pai que mostrava ao seu filho os melhores caminhos, já que não detinha nenhum poder executivo, aliás, não os detinha mais nem antes mesmo da guerra, nascia assim o American Way of Life planetário. Ao final da segunda guerra mundial, os Estados Unidos constituíam uma enorme potência industrial, econômica e militar.Sua produção industrial mais do que dobrou desde 1939. Produziam mais da metade do carvão no mundo, dois terços do petróleo, mais da metade da eletricidade, 95 milhões de toneladas de aço, 1,2 milhões de toneladas de borracha sintética. Além disso, segundo Beaud (1981), detinham 80% das reservas de ouro. 31 Na II Guerra Mundial, o Japão foi derrotado, não por ser uma nação composta de homenzinhos amarelos, franzinhos, gregários, sem espírito de iniciativa, como os seus aliados alemães os descreviam, como ressaltou Schreiber (1950, p. 280), mas por entrar em conflito com a nova evolução do próprio sistema capitalista, ou seja, não foi uma capitulação, mas um Take Over sistêmico. O novo período de paz mostrava-se estranho. Bombas não caíam mais, mas muitas cidades pareciam não ter mais nada a ser destruído. (MORITA, 1986 p. 50) 3.2 A ocupação O presente subcapítulo busca analisar porque uma superpotência como os Estados Unidos, rica em recursos naturais e que mantinha sob sua tutela outros países também ricos em recursos naturais, que poderiam ainda oferecer o seu mercado interno, foram ocupar um país longínquo, com trechos inteiros de suas principais cidades industriais que haviam se transformados em verdadeiros desertos carbonizados e uma população que mal podia subsistir. [...] por pura necessidade, as pessoas tinham se acostumado a misturar cevada e até batata com o pouco de arroz que conseguiam. A guerra tinha arruinado e desmoralizado a nação, e milhões de japoneses batalhavam naqueles últimos dias para manter um nível mínimo de sobrevivência. (MORITA, 1986, p. 57.) As forças de ocupação lideradas pelo general MacArthur tinham o objetivo de restaurar a economia japonesa depois de anos de severos esforços de guerra e simultaneamente desmantelar qualquer resquício do militarismo no Japão. Havia se criado uma economia dualista no Japão: a que servia aos militares e a economia voltada para o front interno, geralmente constituída por pequenas e médias empresas. Nesse contexto é de se esperar que os grandes conglomerados (Zaibatsu) e indústrias (novos zaibatsu) que serviam ao exército tivessem privilégios, como uma “ração” 32 maior a seus funcionários (MORISHIMA, 1982). Os salários chegavam a ser 1,27 vezes maior para as industrias ligadas ao governo. As forças de ocupação, dentro do seu objetivo de desmantelar os resquícios militares e de restaurar da economia japonesa se apoiaram em cinco frentes: o sufrágio feminino; uma educação liberal; o direito de organização dos trabalhadores; a abolição do governo autocrático; a democratização da economia. As forças de ocupação criaram o SCAP (Supreme Command for the Allied Powers), para promoverem o desmantelamento dos conglomerados japoneses, pois segundo nas palavras do General MacArthur: “[...] através da Comissão de Liquidação das Holding, proibia toda e qualquer forma de concentração de empresas, no sentido de proteção à liberdade e do comércio” (LIMA SOBRINHO, 1991, p. 159). O desmantelamento liderado pelo SCAP seguiu a Lei Sherman adotada nos EUA. A lei Sherman foi uma evolução das lei das Holdings inclusa no programa New Deal para evitar a formação de corporações, visto que a concentração do capital dentro dos Estados Unidos se agravara, pois não impedira o surgimento de Trusts, segundo Lima Sobrinho (1991, p. 159). O que fica aberto e vai de encontro com a nova ordem mundial digamos assim, seria a lei Webb-Tamanes, posterior a lei Sherman, seria que as empresas fora dos Estados Unidos teriam de comercializar diretamente com conglomerados, ou melhor com traders. A lei Webb-Tamames invoca que “nenhum dos preceitos das Leis Sherman, Clayton (anterior a Sherman) e da Comissão Federal Antitruste pode ser invocado nem para declarar ilegais as associações destinadas exclusivamente ao comércio exportador nem para anular os convênios 33 restritivos, concluídos por uma associação desse tipo, no curso de suas operações desde que não afete a exportações de nenhum competidor norte-americano”, segundo Lima Sobrinho (1991, p. 160). Para efeito de exemplo, não há muito que se questionar em termos econômicos os efeitos de uma negociação de um pequeno distribuidor de computadores, ou um vendedor num país devastado pela guerra, tanto o Japão como os países europeus, que detém uma moeda de duvidosa conversão, negociarem com a IBM, uma gigantesca empresa de computadores tendo o governo norte-americano como um de seus principais compradores além de um imenso mercado interno consumidor, podendo se dar ao luxo de considerar as exportações como mercados marginais, devo frisar que isto não ocorria apenas restrito ao mercado de computadores, mas também a outros setores como os automobilísticos, químicos dentre outros. Um caso verossímil foi o de Akio Morita, descrito em seu livro, Made in Japan, que ao tentar comunicar-se com a Bell Laboratories, foi lhe negado um agendamento de horário com o promotor da patente do transistor, que acabara de ser inventado, que pode ser contornado apenas com o contato de um Trader em Nova Iorque. Podemos compreender assim que o desmantelamento liderado pela SCAP, nada mais era do que uma extensão da política interna dos Estados Unidos, citados como exemplo a Lei Sherman e da Lei Clayton, e que pode ser compreendido como uma transposição do capitalismo das indústrias têxteis inglesas para o capitalismo de Wall Street. Os Estados Unidos contariam com a Lei Webb-Tamames que criaria um oligopólio para fornecimento de bens de capital e tecnologia aos demais países do globo, o que pode ser compreendido como uma ressurreição das políticas anglicanas de proibição às exportações de maquinários para a garantia de sua superioridade criada pela produtividade e monopólio da tecnologia, mas não haveria nada de novo neste contexto se não compreendermos que o sistema evoluíra, e gerara livros como o Desafio Mundial, de Jean Jacques Servan Schreiber, agora era de interesse vender as máquinas, mas as já utilizada pelos países vencedores, criando-se assim 34 participações acionárias e dependência de padrão, no caso os Estados Unidos, que a um dado preço, logo não a um preço real, alavancariam ou amortizariam a modernização no próprio, ou seja, o que antes era proibido se tornara uma alavanca para as indústrias de mais alta dinâmica de acumulação. Porém o Japão pouco avançara com determinadas restrições afinal o país sofria com a SCAP retrocesso no processo de acumulação de capital, pois a função desta era desmontar os conglomerados, mas as brisas atômicas mudariam novamente esta realidade. 3.3 A Guerra da Coréia. A Guerra da Coréia no meio da década de 50 ergueria novamente a máquina econômica japonesa, pois as metas e o próprio SCAP haviam sido abolidos, era necessário reerguer o Japão como porta-aviões não submergível para conter o socialismo na Ásia. Os antigos conglomerados japoneses eram especializados por setor e de propriedade das famílias que lhes emprestavam o nome. O Zaibatsu Mitsui, por exemplo, atuava principalmente nos setores de papel, corantes sintéticos, carvão e comércio exterior; o Mitsubishi, em segmentos da indústria pesada, o Sumitomo na metalurgia do cobre e do Alumínio. Por causa dessa setorização até a Segunda Guerra a competição industrial dos grandes grupos não era, em geral, travada de forma direta. A economia fora reorganizada, segundo Torres Filho (1995, p. 12), diante das políticas antitruste e de expropriação das famílias zaibatsu, impostas pelos Estados Unidos, e da política industrial adotada pelo próprio governo japonês. O governo militar promoveu, assim, a desconcentração do poder econômico em segmentos como o aço e papel. Em conseqüência, grandes empresas foram divididas em empresas menores com o intuito de criar, segundo os americanos “agentes atomizados”, preconizados nos manuais de microeconomia 35 como condição necessária para a existência da “concorrência perfeita”. Com isso, todos os grupos passaram a ter acesso a mercados que antes apresentavam grandes barreiras à entrada visto que o sistema se reorganizaria em torno dos City Banks, ou bancos que teriam acesso ao crédito do Governo japonês para coordenarem as políticas expansionistas de crédito ou não e a demanda inicial seria dada pelos esforços de guerra na península sul-coreana e o país receberia doações de alimentos para complementar a insuficiência de produção durante o período da guerra, porém daria apenas suporte na Guerra da Coréia e frente ao contexto adotaria a lei do Capital próprio, assim nascia o sistema de produção japonês conhecido internacionalmente e concebido da herança dos fascistas, uma resposta ao socialismo e um estilo de vida a lá American Way of Life O câmbio seria unificado em 360 ienes por dólar. A neutralidade japonesa nem sempre fora bem recebido, o simples fato de limitar-se a tirar proveito dessas lutas, vendendo mercadorias, mas fugindo sistematicamente a compromissos políticos ou até mesmo a atitudes de concordância, mantendo uma linha de impecável neutralidade. [...] se irritavam muitas vezes, de maneira mais ou menos clara, diante dessa passividade, que era a essência da política japonesa. Várias vezes os norteamericanos chegaram a perder a paciência, ouvindo em Tóquio, críticas à sua política asiática mesmo em círculos governamentais, enquanto os japoneses observavam atitudes de escrupulosa neutralidade, conservando relações pacíficas com o Vietnã do Norte ou com a Coréia do Norte e até mesmo com a China de Mao TséTung. (GUILLAIN, 1969, p. 218). Em 19 de abril de 1951 se deu a substituição do General MacArthur pelo General Matthew B. Ridway que teria como objetivo de levar adiante a reestruturação da economia japonesa até o tratado de Paz de São Francisco de 28 de abril de 1952. O tratado de paz de São Francisco teve como diretrizes o fim da SCAP e do reformismo, o comando das tropas passaria para o General Clark, nomeando-se um embaixador junto ao governo japonês. 36 A assinatura do tratado de Paz terminou com a ocupação militar, porém se manterá a presença militar no Japão, cujo pagamento continuaria por conta do Estado japonês e as compras de armas seriam de origem obrigatória dos Estados Unidos. Assim o período de ocupação estadunidense contrariamente ao que se acreditava na Europa, que durou de 1945 a 1952, não acarretou na ocupação econômica através de homens de negócios dos Estados Unidos. Cabe o mérito desse fato, em parte, ao General MacArthur, que soube compreender que deveria permitir que o país do Sol Nascente se protegesse contra os planos do grande capital estadunidense, sob a pena de prejudicar as boas relações inicias entre os dois países, evitando a revolta do nacionalismo japonês que ainda não morrera o que colocaria o país na mão dos soviéticos... o resultado foi que até agora a participação estadunidense no capital da indústria nipônica não representa, segundo a avaliação de especialistas mais do que 2% Guillain, (1969, p. 144). O governo Yashida de outubro de 1948 a dezembro de 1954 conseguiu que embora ainda sob regime de ocupação militar uma lei que regulasse os investimentos estrangeiros no Japão segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos (Investment in Japan, 1956, pp. 1, 6 e 7). A entrada de capital no Japão seria permitido através de acordos de assistência tecnológica e empréstimos coligados. Quantitativamente, a maior proporção do capital que entraria na economia japonesa se daria, sob a forma de empréstimos públicos e através de transferências de informações técnicas e de know-how segundo Lima Sobrinho (1991). 3.4 O modelo japonês O sistema japonês de produção segundo Schreider (1968, p. 279) se diferencia do europeu e do anglo-americano nos seguintes quesitos: 37 1º No quesito de autofinanciamento. Enquanto que as empresas norte-americanas e, em grande medida, as européias procuram se financiar, por uma questão de eficácia econômica, a maior parte, senão a totalidade de seus investimentos dos seus próprios lucros (regulado pelo preço), no Japão ocorre o inverso: a maioria dos investimentos é financiada pelos créditos bancários. Esse sistema peculiar, segundo Schreider (1968, p. 280), vem de longe, na história japonesa. Pouco depois da restauração Meiji, em 1863, os estabelecimentos bancários passaram a desempenhar um papel motor na industrialização do país. A especialização das funções bancárias, tal como na França, é tipicamente desconhecida no Japão: o banco, em vez de especializar-se no simples financiamento, está associado à indústria, de que é freqüentemente um acionista majoritário ou minoritário importante originando a posteriori o termo zaitechs. Depois da guerra, foi em torno dos bancos que se reconstruíram os grandes conjuntos industriais, cuja base familiar fora destruída pela SCAp. Os cartéis e os trustes, que deixaram de possuir a contextura das participações interligadas de certas famílias, encontraram uma outra através das redes bancárias. Assim, os bancos japoneses exercem hoje uma função diretora e reguladora dos investimentos, dentro dos grupos industriais (Keiretsu), ao invés dos grupos exercerem sobre os bancos como nos Zaibatsus. A política de liquidez foi feita via racionamento de quantidades. O fornecimento de reservas não era automático, e sim condicionado à política de crédito do governo. O alongamento dos prazos era garantido tanto por meio da rolagem dos créditos de curto prazo nos bancos de cidades ou pela compra por estes títulos de longo prazo emitidos pelos long term credit banks. Ferreira (1995, p. 28) 38 Essa atividade dos bancos permitiu uma notável animação do mercado financeiro, mediante poupança individual1, depositada nos bancos sob a forma de depósitos a prazo e constituindo uma base sólida para a expansão do crédito que culminaria na bolha especulativa dos anos 80. Tais estruturas financeiras (política de liquidez foi feita via racionamento de quantidades) representaram uma particularidade ou um terceiro padrão segundo Ferreira (1995), não constituindo um obstáculo ao investimento e obtiveram até, com freqüência, resultados excepcionais. A formação bruta de capital representou no Japão entre 1956 e 1963, 34% do PIB contra 17% nos EUA, segundo Schreiber (1968, p. 280). A despeito do modelo alemão baseado nos mercados de créditos dominados pelas instituições financeiras que detêm influência na indústria e criam um modelo de negociação tripartidária, na medida em que não há uma interferência direta e sim negociada do Estado na alocação de recursos em contraste com o modelo japonês ou francês em que o Estado alonga ou mantêm a liquidez do mercado para a manutenção e alongamento dos prazos de empréstimos de curto prazo, sendo caracterizado como inflacionário no termo de inflar o crédito. No sistema baseado no crédito alemão tende a haver uma menor segmentação institucional, com predomínio dos bancos universais. O papel dos investidores institucionais é pequeno, especialmente em função do predomínio de sistemas previdenciários públicos, em regime de repartição simples. Por outro lado aparece um maior grau de relações de propriedade entre empresas e bancos em contraste com o modelo do modelo anglo-saxão baseado no mercado de capitais. Os recursos produtivos são alocados por meio de sistema de 1 Que atingiu no Japão a parcela excepcional de 20 a 22% das rendas pessoais nos anos 60 39 preços. O modelo de ajuste é liderado pelas empresas, pois o governo quando muito executa políticas compensatórias via bancos de fomento, segundo Ferreira (2005, p. 24-25). 2 º A imobilidade da mão-de-obra, sem ser tão rígida e total quanto a lenda a pretende, é não obstante, uma característica impressionante do Japão. O emprego permanente designa o fato da grande empresa nipônica recrutar seus empregados e quadros ainda muito jovens, comprometendo-se a completar sua educação e a formá-los profissionalmente, durante vários anos, a exigir-lhes um contrato vitalício e, por sua parte, comprometer-se a não os despedir sendo os salários associados ao tempo de serviço, segundo Schreiber (1968, p. 281). 3º Quanto a sua política de pesquisa, também o Japão se encontrou numa situação particular. Os anos de preparação para a guerra, depois a guerra e o período de ocupação foram responsáveis por um considerável atraso. Não só em relação aos EUA, mas a todos os países da Europa Ocidental. Foi, primeiramente, pela importação maciça de técnicas estrangeiras que os industriais japoneses empreenderam, após a guerra e a ocupação, a compensação do seu envelhecimento industrial. A utilização de patentes estrangeiras, sobretudo americanas, desempenhou um papel impulsionador durante um certo tempo, mas apresentou depressa os inconvenientes clássicos de padronização. A importação maciça das técnicas aperfeiçoadas no estrangeiro acabou por exercer um efeito nocivo sobre a pesquisa nacional. As firmas norte-americanas só vendiam as técnicas já ultrapassadas por suas próprias descobertas. O governo japonês e os próprios industriais tomaram consciência disso e deram então início a uma nova política, destinada a reconquistar, por meio da tecnologia japonesa, o mínimo de autonomia necessária ao futuro do seu desenvolvimento. 40 Depois de 1960, o governo japonês deu um forte impulso no sentido de encorajar a pesquisa fundamental e sacudir o que designou como a dependência tecnológica. As despesas do Estado para o desenvolvimento da ciência e da técnica foram multiplicadas por 5 e as das empresas privadas por 8. Esses novos esforços, sobretudo, puderam ser concentrados quase exclusivamente no setor civil, o que avantajou e acelerou imenso a recuperação do Japão. Os Estados Unidos consagram 8,9% do seu produto nacional aos gastos militares; a França, 5,2%; o Japão, somente 1%, segundo Schreiber (1968, p. 281). Atualmente, a percentagem de japoneses empenhados na pesquisa científica encontra-se em igualdade com a França e a Alemanha: 2,5 para 1.000 habitantes. E se considerarmos apenas os cientistas qualificados e os engenheiros, o Japão possui hoje, em proporção, duas vezes mais do que a França e a Alemanha. Mas ainda duas vezes menos do que os Estados Unidos. Não possuindo o Japão as dimensões e a riqueza para rivalizar em tudo com os Estados Unidos, concentrou o seu esforço em setores muito especializados: essencialmente, nas indústrias químicas e nas indústrias de construção elétrica e eletrônica - que absorvem mais de 50% dos créditos de pesquisa industrial. É por isso que, nesses setores, o Japão tornou-se um concorrente dos Estados Unidos e começa, inclusive, a exportar vigorosamente para o próprio mercado norte-americano produtos tecnicamente muito avançados, o que é um feito notável em menos de dez anos (1965). As grandes firmas nipônicas criam agora "sociedades de pesquisa" que têm por missão efetuar a investigação básica sem estarem ligadas aos problemas imediatos do mercado nem à pesquisa do lucro. Podem-se citar, em especial, o Instituto de Pesquisas Honda e o Instituto de Pesquisa Matsushita. Esses recentes esforços da pesquisa japonesa inscrevem-se nos últimos resultados registrados. O aumento das explorações no estrangeiro de patentes de inventos nipônicos 41 desenvolveu-se 500% em cinco anos, ao passo que, durante o mesmo período, o aumento de patentes estrangeiras aplicadas no Japão não passou de 50%. As diferenças em valor absoluto ainda são consideráveis, pelo que o governo e os industriais japoneses querem intensificar seus esforços no sentido de atingirem, em novos setores, a autonomia tecnológica – depois de terem dado provas de terem atingido-as no setor químico e da eletrônica segundo Schreiber (1968, p. 282-85). 15 10 5 0 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 Exporta ções Im porta 1995 ções Figura 1 - Balança comercial norte-americana (% do PIB) Fonte: Kruegman/Obstfeld (2005, p.2). 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1975-85 1986-90 1991-95 Japão Inglaterra 1006-2000 2001-03 Alem anha Estaedos Unidos Figura 2 - Evolução da produtividade Fonte: Kruegman/Obstfeld (2005, p.2). Como podemos observar pelos dados fornecidos por Krugman (2005) e por Schreiber (1968), o primeiro no front externo e o segundo no front interno, o processo de crescimento da produtividade e acumulação de capital superiores aos norte-americanos não 42 somente no Japão levaram a uma desvalorização a uma desregulamentação nada suave do dólar com uma queda de 360 ienes para 203 ienes durante o primeiro choque do petróleo em 1973, que pode ser melhor compreendido pelo estudo dos zaitechs de Melin (1998), organizado por Tavares. Assim podemos compreender que o modo adotado pelo Japão somada a política norte-americana de déficits consecutivos levaram a desvalorização do dólar e a um crescimento relativamente alto no Japão no período do pós-guerra impulsionados externamente pelas Guerras conseqüentes da disputa entre Washington e Moscou e pelo sistema alternativo de acumulação de capital já explicado anteriormente, assim fica entreaberto os anos 19(80) para compreendermos o objetivo final deste trabalho que é a crise dos anos 19(90). 43 4 O LUTADOR CAIU? O JAPÃO DOS ANOS (19)90 De acordo com Schreiber (1968), Chancellor (2001) e Ferreira (1995), o autofinanciamento das empresas, utilizando a própria estrutura financeira (Zaitech 2 engenharia financeira) dos conglomerados do qual faziam parte, foi bem sucedido enquanto as autoridades financeiras concediam liquidez ao mercado. Tal recurso mostrou seus limites no início dos anos 90 diante do elevado grau de endividamento dos Estados da OCDE nos anos 70-80. A desregulamentação do mercado em 1984, segundo Chancellor (2001, p. 342), permitiu o acesso das empresas japonesas às praças internacionais, como a de Londres. As empresas japonesas suplementavam seus lucros com rendimentos ordinários derivados da Zaitech. O instrumento básico do endividamento eram empréstimos de curto prazo concedidos por bancos comerciais, mas havia garantias implícitas de que os créditos seriam renovados automaticamente com as autoridades financeiras do país através deste instrumento regulando o aumento ou manutenção da liquidez. Dessa forma, através do alongamento dos empréstimos de curto prazo das corporações, o sistema bancário assegurava o suporte financeiro de projetos de investimentos em longos prazos de maturação, segundo Levi (1997, p. 41). Assim, as operações implicaram um descasamento entre ativo e passivo de caráter essencialmente distinto daquele associado ao alongamento dos prazos de endividamento das empresas ocorrido durante o pós-guerra (LEVI, 1997, p. 46). Observa-se que o descasamento decorria da política de aceleração ou manutenção das taxas de crescimento propostas pelo 2 Em referência aos Zaibatsus. 44 governo num mundo keynesiano. A abundância de capital gerou uma bolha especulativa de ativos da ordem de 3,5 trilhões de dólares (CHANCELLOR, 2001, p. 374). A tendência à valorização da Bolsa de Tóquio teve início por volta de 1983, dado o impacto do processo de recuperação da economia mundial sob a liderança dos EUA, o qual contribuiu para elevar substancialmente o superávit comercial do Japão e aumentar o ritmo de crescimento econômico. A assinatura do acordo de Plaza em 1985 foi um ponto de inflexão na política americana do dólar, promovendo-se o soft landing (desvalorização do dólar), e criando as condições para que os agentes internacionalizados, especialmente as grandes corporações e os grandes bancos japoneses mantivessem seus ativos financeiros em aplicações denominadas em ienes e, ao mesmo tempo, se endividassem em dólares o que permitira o aquecimento do mercado, sendo os títulos emitidos a taxas de juros extremamente baixas, segundo Levi (1997, p. 48). Dessa forma, constituiu-se um mecanismo de alimentação do circuito especulativo envolvendo os mercados de capitais e ativos imobiliários. Esse processo tendeu a se perpetuar à medida que o aumento dos preços no mercado imobiliário elevava o valor dos ativos dados como garantia pelos empréstimos e o aumento das ações elevava o capital dos bancos potencializando sua capacidade de concessão de crédito (LEVI, 1997, p. 51). A substituição no Ministério das Finanças por Yasushi Mieno, cuja a missão pessoal atribuída pelo primeiro-ministro era furar a bolha (CHANCELLOR, 2001, p. 374), levando o mercado acionário declinar lentamente. As condições que viabilizaram o boom dos mercados acionários e imobiliários deixaram de existir (sistema de crédito inflado), refletindo uma intenção declarada de interromper o processo especulativo. As autoridades japonesas 45 reverteram à política monetária, elevando rapidamente a taxa oficial de redesconto 3 (LEVI, 1997, p. 55) e da migração do sistema de crédito inflado para o sistema de mercado de capitais, como apontado por Ferreira (1995, p.30). Houve perda de importância crescente do mercado de crédito a partir da necessidade de financiamento do Estado via títulos negociáveis e da emissão de títulos negociáveis pelas empresas (FERREIRA, 1995, p.32). Além disso, a necessidade de adaptação progressiva do sistema bancário às regras de adequação de capital do Bank of International Settlements (BIS) de padrões internacionais de garantias mínimas somou-se à orientação expedida pelo ministério das finanças aos bancos no sentido de limitarem o crédito ao setor imobiliário, obrigando essas instituições a reduzirem seu volume de empréstimos (LEVI, 1997, p. 55). Mais recentemente, o problema tem-se concentrado nas chamadas housing loan companhies, sete empresas especializadas no financiamento imobiliário, criadas pelos grandes bancos comerciais, no início dos anos 70 numa tentativa de explorar o então promissor mercado de financiamentos voltados aos imóveis. Inicialmente, essas instituições concentravam suas operações no financiamento a indivíduos com base em hipotecas, mas com a tendência de aumento dos preços das propriedades imobiliárias nos anos 80, voltaram-se quase exclusivamente ao segmento das empresas de construção, um segmento mais arriscado, porém altamente rentável na época. O preço das propriedades cresceu cerca de 30% ao ano, proporcionando elevados lucros. Mas sua trajetória descendente a partir dos anos 90, com o fim dos créditos a novos empreendimentos, erodiu a capacidade de pagamento dos tomadores. Isso conduziu as Housing Loan Companhies a uma situação de absoluta insolvência e, atualmente, até, mesmo 3 Contração de liquidez e de prazos. 46 o governo reconhece que a totalidade dos créditos fornecidos por essas instituições não deverá ser paga, admitindo quase 500 bilhões de dólares em créditos podres, sendo que o mercado estima que as perdas potenciais cheguem a algo em torno de um trilhão de dólares ou 10% dos ativos totais de todos os bancos por Levi (1997, p. 57). Assim pode-se compreender que conforme os bancos contabilizavam os créditos podres em suas carteiras, reduziam sua exposição ao risco e restringiam a concessão de empréstimos. Segundo Rubinstein, as próprias empresas “tentam restaurar seus balanços minimizando suas dívidas. Para deixar de ser devedoras, param de investir e tornam-se fornecedoras líquidas de capitais ao setor bancário”.A redução geral de investimentos criava, assim, um ambiente propício para a estagnação ao longo dos anos 90. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos acordos firmados entre o Japão e Estados Unidos, além do BIS, no final dos anos 80, a moeda japonesa passou por períodos de maior instabilidade e oscilação, alternando momentos de valorização e desvalorição cambial. Além disso, o mercado de ativos viveu momentos de euforia até o estouro da bolha imposto pelo Banco do Japão em 1991, que contribuiu para o surgimento de um processo deflacionário na economia japonesa, em vários anos da década de 90. A deflação foi combatida por uma política que zerava a taxa básica de juro. Contudo, segundo Uehara (2006, p.55), somente a partir de 2002 a economia começou a superar a estagnação. Uehara (2006, p.64) mostrou que a economia passou por um período de amortização dos créditos podres acumulados pelos bancos, da ordem de 43,2 trilhões de ienes (400 bilhões de dólares) em março de 2002 para 23,8 trilhões de ienes (200 bilhões de dólares) em 2004 e que, a medida que seja reduzida a relação receita-dívida das empresas, ocorrerá uma retomada dos investimentos por parte das mesmas e estas elevarão a demanda efetiva encerrando o ciclo de deflação e iniciando uma retomada do crescimento da economia japonesa, diminuindo os excedentes exportáveis, tantos em capital quanto em bens. 48 BIBLIOGRAFIA BEAUD, Michel; História do Capitalismo, 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. BLOOMBERG. Apresenta informações sobre a competição dos grandes players de televisores com o título: Toshiba, LG, other overseas Tv Brands join China’s price war. Disponível em: <http://quote.bloomberg.com/apps/news?pid=10000101&sid=azd_1_CQ17mg&refer=japan>. Acesso em 7 de setembro de 2003. 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