Rockall é um pequeno rochedo desabitado com 27 metros de diâmetro, 23 de altura e uma superfície de 570 metros quadrados, no meio do Oceano Atlântico, entre a Islândia e a Irlanda. Pertence à Zona Econômica Exclusiva do Reino Unido desde 1997, depois de ter sido anexado por Londres em 1955. Mas a riqueza que esconde na profundidade das águas em seu redor, em hidrocarbonetos e minerais, é motivo suficiente para ser disputado por quatro nações. Reino Unido, Irlanda, Dinamarca e Islândia reclamam direitos sobre Rockall – Cada país conta com extenso relatório de razões históricas, geográficas e políticas para demandarem os direitos sobre uma rocha perdida no meio do mar. A disputa ainda promete levar muito tempo e render dividendos a muitos burocratas, mas pelo menos esperamos que não entrem em guerra por conta disso. Em 1854 o presidente dos EUA, Franklin Pierce, enviou uma carta ao Chefe Seattle com uma oferta não muito generosa de dinheiro para comprar as terras dos índios locais. Ainda que fosse generosa a oferta, o Chefe Seattle pareceu não compreender a lógica do presidente. Em sua carta de resposta, escreveu: “Mas como pode comprar ou vender o céu, a terra? Essa idéia é estranha para nós. Cada parte dessa terra é sagrada para o meu povo (...) Cada grão de areia da praia, cada névoa na floresta escura (...) O destino de vocês é um mistério para nós (...) O que vai acontecer quando os recantos secretos da floresta estiverem passados com o odor de inúmeros homens e a vista das colinas verdejantes se macular com os fios que falam? Será o fim da vida e o começo da sobrevivência. Quando o último pelevermelha sumir com a natureza selvagem, e sua lembrança for só a sombra de uma núvem sobre a planície, essas praias e florestas ainda estarão aqui? Terá sobrado algum espírito do meu povo?” O sábio indígena parecia antever as atrocidades que os homens fariam com a natureza de seu próprio país, incluindo a tal “terra” que gostariam de comprar. Mas se ele parecia preocupado apenas com os “fios que falam” e o fim das florestas selvagens, é porque não viveu para ver as grandes “selvas de asfalto” e tudo o mais que foi erguido nos lares sagrados dos índios que se foram – em sua maioria mortos brutalmente por não aceitarem as “ofertas” dos colonizadores americanos. Comparando-se as épocas, podemos dizer que ao menos nossa civilização evoluiu um pouco em relação à busca desenfreada por riquezas, ao menos ninguém mais se acha no direito de dizimar nações e inúmeros inocentes em guerras sem sentido, apenas para se abocanhar um pouco mais de terras e riquezas... Será mesmo? Bem, ao menos casos como o da invasão do Iraque não ocorrem mais sem o protesto permanente da mídia mundial... Talvez mesmo por isso os governantes tenham voltado os olhos para as reservas de riquezas enterradas no fundo dos oceanos – o fétido ouro negro que continua a dominar os desejos daqueles obssediados pela conquista de riquezas, que infelizmente ainda parece ser o caso da maioria dos chefes de governo. A lógica é simples: pode ser mais caro extrair petróleo do mar, mas pelo menos não é preciso invadir países e provocar tragédias diplomáticas, ou ainda que seja necessário algum confronto, será apenas entre militares em navios no meio do mar, longe da mídia. Mas, ainda que seja cara a tecnologia para cavar tão fundo no leito dos oceanos, mais caro ainda seria pesquisar procedimentos realmente seguros de extração, certificando-se que acidentes sejam raros e as medidas de contenção eficazes... Imaginava-se que a maioria das nações tenha gastado um pouco mais para se certificar que a natureza não seria ameaçada pela extração do ouro negro abaixo do mar, mas era a mais pura ilusão... Em 20 de Abril de 2010 uma plataforma de exploração de petróleo da British Petroleum (BP) no Golfo do México explodiu, causando 11 mortes de operadores e um vazamento direto para o oceano, que até este momento – cerca de dois meses depois – ainda não foi completamente controlado, e nem parece que vai ser tão cedo. A BP vem tentando conter o vazamento desesperadamente, mas seus engenheiros admitem que simplesmente não tinham a tecnologia necessária para conter um vazamento a tal profundidade (1,6 Km). A BP têm uma excelente razão para conter o vazamento o mais rápido possível: desde que a mídia passou a anunciar o que provavelmente será ou já é) o maior desastre ambiental da história dos EUA (e talvez do mundo), suas ações despencaram a valores de mais de uma década atrás, e certamente continuarão em queda livre. O atual presidente americano, Barack Obama, está furioso com o ocorrido, e atrás de “traseiros para chutar” entre os diretores da BP. A verdade, entretanto, é que ninguém sabe até onde irá esse desastre, o vazamento é uma ferida aberta nas águas do Golfo – o sangue negro não tem data para ser estancado. Ao que parece, tudo se resume a uma questão financeira na mente dos governantes e diretores de empresas como a BP: vamos explorar petróleo nas profundezas porque a tecnologia para extração custa menos do que uma guerra para invadir outros países; porém, não vamos gastar tanto assim com essa tecnologia, vamos gastar apenas o necessário para extrair, assim garantimos maior margem de lucro; se por acaso um dia uma plataforma explodir e vazar o petróleo a centenas de metros de profundidade, seja o que Deus quiser... A gente pensa em um jeito de resolver isso quando o custo da não-resolução passe a justificar o custo da resolução. Nós tendemos a pensar que os governantes e diretores de grandes empresas sejam homens e mulheres de grande capacidade e inteligência, que zelam pelo bem estar do mundo e das pessoas... Mas eles muitas vezes infelizmente são tão ou mais ignorantes que nós. Mesmo quando não são, sua obssessão por riquezas, influência do deus do consumo, acabam deixando-os cegos. Afinal, da mesma forma que nossa sociedade educa as pessoas a consumir o máximo possível, como se isso fosse fonte de felicidade, influencia os governos para que adquiram o máximo de riquezas e energia possível, como se este fosse o único caminho para o desenvolvimento de seus países. Estão todos cegos, mas ainda há tempo... Ainda há tempo para se abrir os olhos e reconhecer que todo o movimento ecológico das últimas décadas não surgiu em vão. Que ninguém sabe de onde exatamente vêm os jovens, mas sua tarefa de renovação é quase sempre mais do que evidente. Porque insistir em procurar o fétido ouro negro nas profundezas dos oceanos se os jovens cientistas, engenheiros e sociólogos nos trazem tantas opções e tecnologias mais promissoras? É que os jovens olham para o futuro, e os velhos ficam estagnados no passado – isso independe da idade. Infelizmente o espírito do povo do Chefe Seattle foi removido de nosso planeta. Não é que eles não merecessem aqui estar, somos nós que não merecemos mais a presença deles... Mas, seja lá onde estiverem, tomara que ainda consigam nos influenciar e iluminar com sua sabedoria. Tomara que aprendamos com eles há tempo. Tomara que decidamos viver, e não apenas sobreviver. A você que é jovem (de alma), suspeite... Suspeite de quem vai atrás de rochedos, e não de amor. Suspeite de quem quer conquistar terras, e não corações. Suspeite de quem muito fala sem lhe dar tempo de falar. Suspeite de quem quer pensar por você. Suspeite de quem dita regras, mas não as explica. E, a quem as quer explicadas, dizem que não há como explicar.