Grande Hotel grandes mistérios O REGISTO constante de mortes misteriosas, prostituição, venda de drogas pesadas e imundícies são, entre outros, os problemas que caracterizam o dia-a-dia do Grande Hotel, um edifício degradado localizado na Ponta-Gêa, um dos mais luxuosos bairros da Cidade da Beira. Residem naquele “antro” 836 famílias que alegam falta de condições para abandonarem o local, mesmo reconhecendo que algumas delas são chefiadas por pessoas relativamente bem remuneradas na Função Pública. Maputo, Quarta-Feira, 5 de Novembro de 2008:: Notícias O “caso” Grande Hotel é um problema antigo, conhecido na cidade da Beira e reportado várias vezes. As autoridades locais asseguraram que não há condições para melhorar aquele edifício, apelando às famílias, que teimosamente ali vivem, para abandoná-lo. A Associação Muçulmana de Sofala já se solidarizou, construindo algumas casas na zona da Munhava, que albergaram dezenas de famílias. Sabe-se, no entanto, que o número de famílias a viver no Grande Hotel, tende a crescer. Parte dos beneficiários das casas da Munhava somente recebeu as chaves, mas não vive lá, preferindo arrendá-las para continuar no Grande Hotel. Uma outra parte ocupou as casas naquele bairro, mas mantêm as “flats” do Grande Hotel, arrendando-as a preços que variam de 100 a 250 meticais/mês. O Grande Hotel tem “capacidade” para 400 famílias, mas residem mais de 800, entre elas estudantes universitários provenientes de outras regiões do País e que não têm parentes naquela urbe, oficiais da PRM, e trabalhadores da Função Pública. Até as suas caves foram ocupadas! Muitas casas de banho viraram quartos. Pessoas de má fé têm retirado o corrimão para alimentar o negócio de sucata. Sabido que o edifício não possui corrente eléctrica, muita gente já caiu das escadas, principalmente os bêbados. Há o registo de três óbitos no passado mês de Outubro. Em relação às mortes, algumas permanecem misteriosas. Muitos casos nem são reportados à Polícia, pese embora o edifício tenha uma estrutura montada (chefe de unidade, quarteirão, entre outros), nos seus quatro pisos e igual número blocos. Às vezes só encontramos logo de manhã uma pessoa morta, sem sabermos o que teria acontecido. Neste mês (Outubro) tivemos dois casos. Algumas desses mortos vinham embriagados, porque não temos corrimão nas escadas pois o ferro foi retirado para a sucata - disse o chefe da Unidade Comunal no Grande Hotel, João Gonçalves. PARTIR VARANDAS PARA VENDER AS PEDRAS Os problemas não param por aqui. Algumas paredes de varandas do Grande Hotel já não existem, porque oportunistas destruíram-nas retirando pedra para vender a privados que posteriormente usam na construção: Por vezes nós, moradores, é que somos culpados dos problemas que se vivem aqui. Já imaginou, senhor jornalista, partir a sua própria varanda para levar a pedra e depois ir vender aos montinhos? Fica muito complicado gerir este tipo de caso disse o Secretário do quarteirão sete, Orlando Joaquim Grande que reconheceu que este facto poderá ter repercussões dramáticas nos próximos tempos. Num dia destes, uma parede vai cair na cabeça de alguém, tudo por causa de brincadeiras de mau gosto. FECALISMO: UMA “CULTURA” O fecalismo a céu aberto é um problema já bicudo no Grande Hotel. Já se tornou “cultura”. Tudo porque, em princípio, não existe um sistema de abastecimento de água naquele local, muito menos sanitário. As pessoas fazem as necessidades maiores nos plásticos e à noite lançam pelas janelas. Outros preferem fazê-lo na praia e/ou nas áreas próximas do edifício. A minha casa era um quarto, sala e casa de banho, mas porque a família é grande preferi destruir a casa de banho onde passei a dormir. Por isso, nas noites defecamos nos plásticos e deitamos pela janela. Isto é assim mesmo meu irmão, não há maneira. A vida está difícil - referiu Orlando Grande. E foi dizendo que devido a este comportamento, no tempo chuvoso tem havido registo de muitos casos de doenças diarréicas no Grande Hotel. Agora a situação está cada vez pior, porque a Polícia tem feito patrulha na praia e tem castigado quem for encontrado a fazer necessidades. Por isso, defecar nos plásticos tem sido a solução. Um dos ex-moradores alfaiate naquele antigo hotel, Ibraimo Nica, reconheceu que o problema do fecalismo é grave naquele edifício, daí que tenha opinado para que se encontre uma solução imediata para as pessoas que continuam a viver no local. Meu filho, eu vivi muitos anos aqui. Em 2004 beneficiei do apoio da Associação Muçulmana e passei a morar nas casas construídas na zona de Munhava. Só que não consegui resolver o problema por completo porque a casa que me atribuíram é pequena. Por isso os meus dois filhos mais velhos continuam aqui, na cave. Eu só venho porque o meu trabalho é aqui, sou o alfaiate no Grande Hotel e a minha máquina fica bem guardadinha aqui mesmo. Nica disse que tem sido difícil conviver com esta situação. Às vezes estou a atender os meus clientes e de repente alguém lança dejectos e suja o indivíduo. Isto não é nada bom. PROSTITUIÇÃO, DROGAS E ÁLCOOL À MISTURA Maputo, Sexta-Feira, 31 de Outubro de 2008:: Notícias O Grande Hotel parece pequeno, mas os seus problemas são tantos que merecem uma intervenção urgente. Algumas pessoas aproveitam-se da escuridão e imundície do edifício para vender droga pesada e fomentar a prostituição. Pessoas há que sobem ao terraço para se prostituírem. É por essa razão que nós temos procurado fazer uma fiscalização rígida. Todo o indivíduo que não é morador não pode subir de qualquer maneira. Mas isso não é suficiente, porque os moradores são os que facilitam o esquema, agravado pela venda e consumo de nipa (bebida de fabrico caseiro) e drogas pesadas. Sabemos disso, mas é difícil neutralizar as pessoas porque é tudo feito com sigilo - afirmou Orlando Grande, secretário do quarteirão. Não é só isso que aflige no Grande Hotel, pois o edifício tem sido utilizado para albergar gatunos. Vezes há em que os moradores descobrem bens alheios naquele prédio, supostamente produto de roubo noutros bairros. O secretário acredita que a maior parte dos ladrões que se servem do terraço do Grande Hotel para guardarem produtos de proveniência duvidosa, não residem naquele edifício. Não são daqui, entram de madrugada, por isso que é difícil controlá-los. Mas certamente que há residentes que podem muito bem facilitar a sua entrada. Temos a certeza, de que para os casos de prostituição, alguns fomentadores são as nossas próprias filhas e/ou esposas. Fica complicado controlar isto tudo. VIOLAÇÃO DE MENORES O registo de muitos casos de violação de menores é outro problema que apoquenta os moradores do Grande Hotel, que admitem que o consumo de bebidas alcoólicas de fabrico caseiro e de drogas podem ser as principais causas. O Gabinete de Atendimento de Mulher e Criança vítimas de violência doméstica junto do Ministério do Interior, na cidade da Beira, já reportou vários casos do género ocorridos neste local. A maior parte deles acontece mesmo de dia e os moradores afirmam que não se pode deixar uma criança de qualquer maneira. POLÍCIA APEDREJADA Maputo, Sexta-Feira, 31 de Outubro de 2008:: Notícias Os problemas de que enferma o Grande Hotel são sobejamente conhecidos pela Polícia mas os agentes que se atrevem em fazer patrulha à volta do edifício são frequentemente apedrejados. Meu filho, aqui não se brinca. Os polícias que tentam fazer patrulhas mas são apedrejados. Pessoas de má fé organizam-se e lançam pedras contra eles, sem que sejam vistos. Por isso, a PRM já não aparece aqui e as coisas estão cada vez piores - concluiu o secretário do quarteirão, Orlando Grande. Eduardo Sixpence