Género e Desejo. Da biologia à cultura1 Fernanda Henriques Universidade de Évora À memória de Simone de Beauvoir L’être qui parle en première personne, homme et femme, n’est pas de la création mais de l’esprit qui vient en leur rencontre. Cet esprit demeurera en l’humain le temps qu’il dise « Je ». Le temps qu’il dise « Tu ». Puis il traversera la mort. Incrée ne peut mourir. Marie Balmary Interpretando o título De inócua aparência, o nome desta comunicação é, contudo, assaz controverso. Desde logo o conceito de género é uma designação altamente problemática, não cobrindo um campo semântico pacífico, nem sendo pacífica a sua inclusão no âmbito dos Estudos sobre as Mulheres. Pelo contrário, é alvo das mais intrincadas controvérsias epistemológicas e ideológicas. Para algumas perspectivas é uma categoria fundamental de análise; para outras é um instrumento útil em algumas circunstâncias, mas, mesmo assim, usado com muitas limitações e reservas; para outras, ainda, não tem qualquer alcance real, podendo até ser escamoteador de uma autêntica investigação feminista2. E que dizer do vocábulo desejo? Que conceito está a convocar? Tem a ver com o sentido genérico de necessidade ou necessidades? Está pensado no horizonte da psicanálise, ligado, portanto, ao inconsciente e aos sinais que este emite no corpo e no espírito? É antes recortado de um plano erótico ou estritamente sexual? 1 Comunicação proferida no Encontro de Bio-ética realizado na Universidade de Évora, em 8 de Maio de 2004 e publicado em Cadernos de bioética. 2 Os textos habitualmente referenciados para caracterização do conceito de género são: Joan W. SCOTT, “Gender: a useful category of historical analysis” in Joan W. Scott, Gender and the Politics of History, New York, Columbia University Press, 1988, pp. 28-50; Gisela BOCK, “História, História das Mulheres, HIstória do Género”, Penélope, nº 4 (1989), pp. 157-187. Para ver a articulação do conceito de género com as diferentes correntes feministas ver também: Mª Luísa Ribeiro FERREIRA, “Reflexões sobre o conceito de Género” in Mª Luísa Ribeiro Ferreira org.), Pensar no feminino, Lisboa, Colibri, 2001, pp, 47-58; Sillvia TUBERT (ed.), Del sexo al género, Madrid, Cátedra, 2003. 1 Por seu lado, o subtítulo – da biologia à cultura – também tem os seus problemas. A uma primeira leitura pode interpretar-se como querendo remeter para um percurso de desenvolvimento que, a partir de uma base biológica, se culturaliza. A ser assim, há, pelo menos, duas consequências imediatas possíveis e ambas problemáticas: 1. por um lado, pode sugerir uma separação intrínseca entre o biológico e o cultural, que remete para uma posição não só polémica, como insustentável; 2. por outro, pode sustentar a tese de que, a haver diferença no desejo de homens e de mulheres, ela radicaria no contexto cultural e não no sexo que, como sabemos bem, não é uma posição líquida, havendo mesmo quem defenda exactamente o contrário como verdadeiro. Resta ainda considerar uma objecção epistemológica de fundo: será legítimo a uma pessoa de filosofia ocupar-se com um tema desta natureza? Elisabeth Badinter, no prefácio do seu livro L’amour en plus. Histoire de l’amour maternel – XVII, XX siècle3, referindo-se às críticas de que foi alvo, identifica como ponto comum exactamente o facto de a acusarem de ter ”ultrapassado de forma intolerável” os limites da filosofia como saber especializado, por se ter dedicado ao estudo e à desconstrução da ideia de instinto maternal. Neste contexto, cabe perguntar se a perspectiva filosófica tem legitimidade para se ocupar de um tema de fronteira como este que procura pensar a relação entre sexo e desejo. Com todos estes constrangimentos, como aceitar, então, o título proposto? No que respeita à objecção epistemológica de fundo, faço minhas as palavras de Elisabeth Badinter para quem a criticou: Mas, de facto, quais são os limites da filosofia? E para que serve esse discurso, especializado em nada e que se mistura em tudo, se não serve exactamente para voltar a questionar as verdades aceites e para analisar todos os sistemas de pensamento?4 Quanto às outras objecções, devo declarar que tomei conscientemente o título no quadro da sua polissemia e aporeticidade, tanto mais que o tema que ele convoca se recorta do campo dos indecidíveis teóricos e que, enquanto tal, à maneira das ideias reguladoras de que falava Kant, apenas nos pode servir de guia 3 4 Paris, Flammarion, 1980. Ibidem, p. 11. 2 na reflexão, conduzindo-nos no aprofundamento do que está em causa, mas não permitindo chegar a uma conclusão transparente e de aceitação universal. Deste modo, por ser um indecidível, só é susceptível de uma abordagem no interior da circularidade hermenêutica em que os pontos de partida condicionam as explicitações, as crenças determinam as conclusões e todo o processo se move no quadro de um não-saber constitutivo e insuperável. Mas por essa razão, também, é importante o compromisso de quem analisa, a explicitação dos contextos em que se move e das premissas de que parte. É o que farei a seguir. Quadro de leitura da questão Partirei do lema clássico de Simone de Beauvoir “on ne naît pas femme: on le devient” e procurarei interpretá-lo à sua sombra, mas alargando essa afirmação à humanidade no seu todo, de homens e de mulheres, retomando o dito de Beauvoir na seguinte paráfrase: “não nascemos humanos: tornamo-nos humanos”. Tal perspectiva, a que, sobretudo, o século XVIII com a descoberta de crianças selvagens deu uma ressonância fundamental, já pode, contudo, ser recolhida num dos textos fundadores da nossa cultura, o Génesis, pelo menos em duas situações determinantes, a saber: tomar a narrativa da saída do paraíso como significando a humanização do ser humano e a sua passagem a um estado de maturidade, e, por outro lado, interpretando a narrativa do assassínio de Abel e o imperativo “não matarás” como a transposição das relações humanas para o plano ético, instaurando uma ruptura irreversível com o plano natural. No entanto, esta posição de partida não significa a defesa de um ponto de vista totalmente construtivista ou culturalista que pressupusesse que o ser humano, homem ou mulher, seria apenas um efeito da acção da história e da cultura, um seu mero epifenómeno descorporizado, que fosse uma pura construção das práticas discursivas, à maneira de algumas posições pós-modernas. Também não supõe que o tornar-se humano da humanidade signifique a ideia de um sujeito concebido como uma cidadela autónoma, transcendental, absolutamente constituinte do sentido do ser e do seu próprio sentido, no horizonte do projecto das Luzes. Supõe antes que a subjectividade humana é uma subjectividade incarnada e situada, e que, por isso, o corpo humano é, em si mesmo, um corpo-sujeito, para falar como Paul Ricoeur5, isto é, um corpo vivido por uma subjectividade que, embora o experiencie individualmente, todavia, o constitui com os outros e no meio dos outros. Dito de outro modo, a subjectividade nunca é uma 5 Cf., Paul RICOEUR, Le Volontaire et l’Involontaire, Paris Aubier, 1950. 3 experiência individual da existência, razão pela qual é, simultaneamente, constituinte e constituída6. Nessa medida, ser homem ou ser mulher é, desde sempre, uma experiência socialmente construída e individualmente vivida que, por esse motivo, terá marcas sociais e culturais, mas, também, formas individuais de as experimentar e integrar, pelo que haverá semelhanças e diferenças entre os desejos dos homens e das mulheres em função, quer da sua inserção histórica, quer, sobretudo, em função da realidade específica de cada ser humano, tomado enquanto pessoa individual. Este ponto de vista é, aliás, defendido por muita gente que, embora parta do dualismo homem-mulher como uma diferença estruturante, todavia, não aceita as posições que apenas dão voz à natureza, estabelecendo, no fundo, uma analogia de continuidade total entre o reino animal e o humano. Insere-se nesta perspectiva, por exemplo, a afirmação do ginecologista Miguel Oliveira e Silva que diz sobre isto o seguinte: […] os homens da ciência, com a biologia obviamente à cabeça, permanecem prisioneiros de uma concepção de causalidade final que privilegia a associação de dois fenómenos como relação de causa a efeito, como se da múltipla interacção de hormonas, neuro-transmissores, metabolitos e células neuronais não resultasse no organismo humano algo de diferente do que se passa no organismo animal7. A comunicação do referido ginecologista a que esta citação se reporta, cujo significativo título era Hormonas, Afectos e Razão, colocando-se, embora, no ponto de vista de que no princípio era a dualidade e não a unidade, e pleiteando, por isso, pela diferença como determinação ontológica, todavia, chama a atenção para aspectos que nos permitem pensar que aquilo que constitui a mais valia do humano – que é, simultaneamente, a sua especificidade e a sua fragilidade – faz com que não haja legitimidade para pensar nem a existência sexuada, nem a formação da subjectividade como epifenómenos. Nesse quadro, e para a questão que aqui nos ocupa, remete-nos, necessariamente, para a consideração de que os desejos devem ser vistos principialmente como humanos e não primariamente como sexuados. Ou seja, com esta diferenciação entre principial e primário quero chamar a atenção para que a relação entre humanidade e culturalidade é de tal ordem que a procura de uma causalidade directa entre uma determinação biológica, seja ela o sexo ou outra, e qualquer vivência subjectiva corresponde a uma 6 Sonia KRUKS, num artigo sobre Simone de Beauvoir, defende que esta era a posição da filósofa que, embora dizendo o contrário, se tinha demarcado desde muito cedo da posição sartreana sobre a subjectividade: cf., “Genre et subjectivité: Simone de Beauvoir et le feminisme contemporaine “, Nouvelles Questions Féministes, nº1(14) (1993), pp. 3-28. 7 Miguel O. SILVA, “Hormonas, afectos e razão” in Mª Luísa Ribeiro Ferreira org.), Pensar no feminino, Lisboa, Colibri, 2001, pp. 23-27, p. 24. 4 ponto de vista que não tem em conta a complexidade da realidade em análise e, no fundo, releva mais do hábito de pensar de certa maneira do que de uma reflexão aberta e desassombrada sobre a problemática. O psiquiatra francês, Alain Braconnier, anda às voltas com a mesma dificuldade não em relação aos desejos, mas no que respeita às emoções. No seu livro Le sexe des èmotions8 e com base na sua experiência clínica, o autor questiona-se sobre as razões que levam, por exemplo, as mulheres a chorar e os homens a encolerizar-se e desenvolve todo um conjunto de reflexões que colocam o acento na aprendizagem de si e de ser como o factor que mais determina a forma diferente como os homens e as mulheres se expressam emocionalmente. O que o move, como profissional, é criar condições para o real entendimento entre homens e mulheres, nomeadamente, no contexto familiar e, como reconhece que a compreensão de outra pessoa é uma tarefa que ultrapassa largamente a dimensão puramente intelectual, dedica-se a tentar compreender o processo de formação e de expressão das emoções em homens e mulheres, para afinar a sua eficácia como terapeuta. Na Introdução a Le sexe des émotions, o autor aceita que há diferenças afectivas entre os dois sexos, mas apressa-se a acrescentar que tais diferenças “se diferenciam menos pela natureza do que eles experimentam do que pelo sentido aparente, pela significação escondida ou pela expressão que os seus sentimentos tomam”9. É esta convicção que o leva a dizer um pouco mais à frente, na mesma página: Desde há muito tempo que tínhamos por adquirido que as mulheres eram mais emotivas do que os homens. É isto verdade? De facto, a principal diferença não reside aí. As recentes pesquisas em psicologia concordam todas no facto seguinte: as mulheres exprimem mais facilmente aquilo que sentem e compreendem mais o que o outro sente. Portanto, elas não são mais emotivas, mas comunicam melhor as suas emoções do que os homens. Para ele, embora as diferenças emocionais entre os sexos se possam pensar com base nas diferenças do metabolismo cerebral respectivo, não é claro se o cérebro é sexuado desde o nascimento ou se se sexualiza progressivamente. O que lhe parece evidente, pelo contrário, é o facto de que: 8 9 Paris, Odile Jacob, 1996. Ibidem, p. 12. 5 Desde a mais tenra idade, aprendemos a emocionar-nos de modo diferente. Para lá da genética, é a educação, no sentido lato do termo, que favorece o desenvolvimento das diferenças.10 Dentro desta sua interpretação, acrescenta algo que é particularmente relevante para consolidar a perspectiva em que me coloco: A igualdade entre os sexos choca-se com algo muito mais forte do que o direito. Ela tropeça naquilo que nos constitui mais fundamentalmente, no facto de que somos homem ou mulher. Ela esbarra sobre diferenças efectivas, reais ou imaginadas. As emoções que nos opõem enraízam-se bem longe no passado. Elas são em muito o fruto de uma história milenária. A nossa imaginação está povoada de fantasmas.11 Assim sendo, o que aparece como tarefa de rigor para responder aos desafios lançados pelo título desta comunicação é a realização de um trabalho que ajude a identificar e a desconstruir os fantasmas que povoam a nossa imaginação acerca do que é ser homem ou mulher. Nesse horizonte, proponho-me continuar esta reflexão abordando dois temas: • em primeiro lugar, debater a questão da identidade ou da diferença na perspectiva das contribuições dos Estudos sobre as Mulheres e dos Estudos de Género; • num segundo momento, situar-me naquilo que, a meu ver, é o desejo humano por antonomásia – o desejo de reconhecimento. Temas e problemas em causa: a questão da identidade e da diferença e o binómio natureza/cultura Do que foi desenvolvido anteriormente, facilmente se aceita que questionarmo-nos acerca da relação possível entre os desejos humanos e a determinação sexual nos situa no cerne do problema 10 11 Ibidem, p. 13. Ibidem, p. 15. 6 geral da natureza humana e, dentro deste, na questão da identidade e da diferença entre as duas formas, feminina e masculina, em que a natureza humana, morfologicamente, se corporiza. No fundo, preocupa-nos a questão da identidade e, ao mesmo tempo, preocupa-nos saber como é que, nessa identidade, se organiza o biológico e o cultural. No quadro específico da questão das mulheres, essa preocupação recorta-se de uma amalgama de pensamento constituído e de representações estratificadas que retiram toda a frescura ao questionar, tornando a reflexão pouco aberta a uma análise realmente capaz de aceitar desconstruir hábitos adquiridos de ideias feitas e que são estruturantes do nosso olhar. Proponho, por isso, que façamos um exercício de ascese, escutando a introdução do livro que Simone de Beauvoir escreveu, há quase 60 anos, sobre este assunto: Hesitei muito tempo em escrever um livro sobre a mulher. O tema é irritante, principalmente para as mulheres. E não é novo […]. No entanto, ainda se fala dela. E não parece que as volumosas tolices lançadas neste último século tenham realmente esclarecido a questão. Aliás, haverá um problema? E qual é ele? Haverá mesmo mulheres? Sem dúvida a teoria do “eterno feminino” ainda tem adeptos; diz-se “Até na Rússia elas permanecem mulheres.” Mas outras pessoas igualmente bem informadas – e por vezes as mesmas – suspiram: “A mulher está a perder-se, a mulher já está perdida. Já não se sabe se ainda existem mulheres […].” […] Mas antes de mais que é uma mulher? […] os conhecedores decretam: “não são mulheres”, embora tenham um útero como as outras. Toda a gente reconhece que há fêmeas na espécie humana; constituem hoje, como outrora, mais ou menos metade da humanidade; e contudo dizem-nos que a feminilidade “corre perigo”; e exortam-nas: “Sejam mulheres”, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres”. Todo o ser humano do sexo feminino não é, portanto, necessariamente, mulher; cumpre-lhe participar dessa realidade misteriosa e ameaçada que é a feminilidade. Será esta segregada pelos ovários? Ou estará cristalizada no fundo de um céu platónico? Bastará um saiote de folhos para fazê-la descer à terra? Embora certas mulheres se esforcem por encarná-lo zelosamente, o modelo nunca foi registado. […] Se hoje já não há feminilidade é porque nunca houve. Significará isso que a palavra “mulher” não tenha conteúdo algum? […] Se a função da fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusamos também explicá-la pelo “eterno feminino”, e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há 7 mulheres na Terra, teremos de formular a pergunta: que é uma mulher? O próprio enunciado do problema sugere-me uma primeira resposta. É significativo que eu enuncie esse problema. Um homem não teria a ideia de escrever um livro sobre a situação singular que ocupam os machos na humanidade. […] Um homem nunca começa por se apresentar como um indivíduo de determinado sexo: que seja homem é natural. […] O homem representa ao mesmo tempo o positivo e o neutro, a ponto de dizermos “o homem” para designar os seres humanos, tendo-se assimilado ao sentido singular do vocábulo vir o sentido geral da palavra homo. A mulher aparece como o negativo, de modo que toda a determinação lhe é imputada como limitação sem reciprocidade12. Eu diria que, na sua essência, o fundo questionante deste texto se mantém inalterável. Atente-se, por exemplo, no chamado “eterno feminino”: não é dessa referência que se alimentam as revistas de massas que se dirigem quer a homens quer a mulheres? Não é o mito do “eterno feminino” ligado à beleza estereotipada, à permanente juventude, a um certo tipo de erotismo e de sensualidade, que subjaz às mensagens dessas revistas, mesmo quando se arrogam defensoras de princípios de modernidade ou de libertação? E quanto ao tema de haver uma essência feminina, não é essa a perspectiva que alimenta o mais profundo do nosso pensar de tal modo que a qualquer falha cometida por uma determinada mulher sobrevém habitualmente o comentário – mulheres! -, como se elas fossem todas iguais – um colectivo – ao contrário dos homens que são sempre diferenciados e responsabilizados individualmente? Também no que respeita àquilo que Simone de Beauvoir diz acerca da imagem social do masculino, não há, no plano das mentalidades, alterações substanciais. Hoje, como no seu tempo, nenhum homem pensaria ser necessário apresentar-se fosse onde fosse como sendo um indivíduo de determinado sexo. Esta questão, aliás, sempre me causou a maior perplexidade, na medida em que, por um lado, é a mulher que, tradicionalmente, é vista e simbolizada como objecto sexual ou como ligada a uma natureza de que não consegue libertar-se – como se só ela fosse sexuada ou como se só nela pesasse a variável sexo; no entanto, sempre que na cultura ocidental se teorizou sobre a questão sexual, toda a teorização foi feita a partir do masculino, como se apenas houvesse um sexo. Ou 12 Simone de Beauvoir, Le deuxième sexe (1949). Versão portuguesa de Sérgio Milliet: O segundo sexo, Amadora, Livraria Bertrand, 1975, pp. 9-12. 8 seja, o masculino é o sexo, mas os homens são vistos e simbolizados como se o sexo não fosse para eles um factor determinante ou determinador. Contudo, embora a essência do fundo questionante do texto se mantenha inalterável, ao mesmo tempo, quer na realidade social, quer nas construções ou nos debates teóricos, a mudança é completamente abissal, porque o século vinte, fundamentalmente a partir dos anos 60, trouxe para a ribalta das discussões a problemática dos direitos das mulheres e, pelo menos a partir daí, o desenvolvimento social, no que respeita às relações entre os sexos, alterou-se substancialmente. Tal paradoxo releva apenas do facto de que os tempos da realidade objectiva e os da realidade subjectiva não são equivalentes – a incorporação real em nós e nas estruturas da nossa subjectividade daquilo que fora de nós se vai transformando e consolidando, corresponde sempre a um longo caminho a percorrer; tratando-se de algo que toca no essencial do nosso ser, como seja a configuração da nossa natureza e da nossa identidade, tal caminho não só se alonga como também se bifurca e se torna sinuoso, na exacta medida em que mexe nos nossos fantasmas e seguranças ancestrais. Mas, como parece ter dito ou pensado Galileu, a terra continua a mover-se… e esse seu movimento, na questão vertente, tem-se pautado pelo questionamento do que tinha sido ancestralmente aceite como sendo a identidade feminina e a identidade masculina. Perderam-se as certezas e as noções acabadas e completas e instaurou-se o difícil caminho da busca comum de novas perspectivas que, embora possam ser perturbadoras dos velhos hábitos de pensar, têm, contudo, como finalidade última traçar uma concepção mais digna do que é, afinal, ser-se humano. No que diz respeito ao tema da masculinidade, são os anos 70 que vêem emergir os primeiros estudos científicos relevantes, no âmbito do mundo cultural dos USA. Tais trabalhos empenham-se em denunciar o ideal universalista de masculinidade e a pôr a nu as suas contradições e a sua dimensão ideológica. Na sequência, a implantação dos Men’s Studies coloca no centro da análise o carácter de plasticidade da vida e da identidade humana. Nessa medida, põem a tónica no construtivismo social em detrimento da biologia, e repetem, por um lado, a tese de Simone de Beauvoir no plano masculino, defendendo que também não se nasce homem, e, por outro, como consequência, destroem a ideia de que apenas haja um modelo único para se ser homem. 9 No início dos anos 90, Elisabeth Badinter publica um livro controverso sobre o tema da masculinidade13. Com o título XY, através do qual faz apelo ao par cromossómico determinador do sexo, esta obra considera o homem e a identidade masculina como artefactos. Do seu ponto de vista, os movimentos das mulheres e os questionamentos radicais a que submeteram a estrutura patriarcal da sociedade ocidental puseram em causa a lendária e universal crença da superioridade dos homens sobre as mulheres e, ao fazê-lo, obrigaram os homens a repensar-se fora dos quadros onde se tinham acantonado concebendo-se “como o(s) representante(s) mais realizado(s) da humanidade”, concepção essa que permitiu que “o homem (vir) se visse a si mesmo como universal (homo)”14. Este texto, que como já referi, suscitou muitas polémicas, tem, apesar de tudo, a grande vantagem de colocar na mira da análise uma forma oposta à forma corrente de ver os problemas. E fá-lo por duas vias convergentes: 1. por um lado, ao indicar que se pode sobreviver sem o cromossoma y, mas não se pode sobreviver sem o cromossoma x, faz do feminino a estrutura matricial e a forma humana primordial e, portanto, inverte os tradicionais modos de pensar o humano a partir do masculino; 2. por outro, colocando a construção da identidade masculina como uma sucessiva e sistemática recusa do feminino, reitera a ideia de que o feminino é a referência principial e, ao mesmo tempo, denuncia o carácter eminentemente frágil da identidade masculina, uma vez que a sua definição é feita por negação do feminino. Independentemente da adesão que se possa fazer às teses que atravessam esta obra de Badinter, tem de se lhe reconhecer o mérito de ter questionado a abordagem clássica de considerar o masculino como a referência e o feminino como a derivação, pondo em relevo que se pode e se deve pensar as relações entre o feminino e o masculino de outra maneira e a partir de outros paradigmas. A sua posição acerca da relação entre as identidades feminina e masculina, nesta obra, é, essencialmente, ambígua, na medida em que, por um lado, supõe a diferença, uma vez que defende que a identidade masculina se constrói por negação sucessiva do que é feminino, mas, por outro, preconiza a aproximação e a semelhança porque não só parte da presença da bi-sexualidade em ambos os sexos, como também defende que aos homens compete a tarefa de se trabalharem no sentido de construírem a sua identidade dando corpo ao feminino e ao masculino que os habita. 13 14 Elisabeth Badinter, XY. De l’identité masculine, Paris, Odile Jacob, 1993. Ibidem, p. 19. 10 No que respeita à identidade feminina, ou, como diz Simone de Beauvoir o que é, afinal, uma mulher?, os chamados Women’s Studies, olhados no conjunto da sua extensão e amplitude, dão respostas extremamente divergentes, em função dos princípios hermenêuticos de que partem, havendo muitas categorizações das diferentes perspectivas que procuram configurar a natureza feminina. Por exemplo, algumas autoras propõem uma divisão dos feminismos em dois grandes grupos: o feminismo ginocêntrico15 − defendendo as diferenças constitutivas entre homens e mulheres e considerando as mulheres como alfobres de valores próprios e superiores aos valores das instituições tradicionais dominadas pelos homens −, e o humanismo que considera o género como acidental preconizando que a humanidade tem de se concentrar nas actividades que distinguem os seres humanos do resto da natureza. Outras autoras propõem uma categorização mais especificadora ou baseada em outros princípios de interpretação. tal é o caso de Judith Evans que classifica os feminismos em cinco categorias: liberal, radical, socialista, cultural e pós-moderno; os três primeiros são defensores da semelhança entre os sexos e os dois últimos sustentam a sua diferença. Mais interessante para o que nos importa aqui parece-me ser a proposta de análise da ecofeminista, Ynestra King, que avalia e categoriza as correntes feministas tendo em atenção o modo como se posicionam acerca da relação entre a natureza e a cultura, no seio da identidade feminina. Nesta perspectiva, organiza as diferentes escolas do pensamento feminista de acordo com três grandes pontos de vista: 1. o feminismo liberal e o socialista que encaram a natureza em termos de dominação e de racionalização; 2. os feminismos radicais que ou integram totalmente ou rejeitam totalmente a relação com a natureza na compreensão da identidade feminina; 3. os ecofeminismos que procuram relacionar dialecticamente natureza e cultura no seio da identidade feminina. O primeiro grupo defende a igualdade de base entre os sexos, considerando que as diferenças que homens e mulheres apresentam não são mais que o resultado da acção da cultura. Esta era, por exemplo, a posição da primeira grande pensadora feminista, Mary Walstonecraft, que gritou, contra Rousseau, que se deveria dar às raparigas uma educação equivalente à dos rapazes, porque a limitada e discriminadora educação que as raparigas recebiam era a única 15 Cf. Rosi BRAIDOTI e outras, Mulher, Ambiente e Desenvolvimento sustentável (1994). (Versão portuguesa), Lisboa, Piaget, 2000. 11 responsável pelo seu perfil de mulheres e não qualquer determinação sexual. O segundo grupo, o do feminismo radical, bifurca-se em duas posições reciprocamente excludentes – as feministas racionalistas, como é o caso de Simone de Beauvoir, que repudiam toda a ligação entre as mulheres e a natureza, e as feministas culturais que, pelo contrário, celebram a relação constitutiva entre as mulheres e a natureza, defendendo as diferenças absolutas entre homens e mulheres, ao mesmo tempo que valorizam a cultura e os valores femininos como sendo valores superiores. Virginia Woolf está na origem desta posição. Por fim, os ecofeminismos defendem que tem de se desconstruir o modo tradicional de pensar a relação entre natureza e cultura, considerando-as não como entidades separadas, mas, dialecticamente, inter-relacionadas. Para a temática da articulação entre género e desejo, são os designados feminismos culturais que, clara e inequivocamente, advogam a diferença radical entre os sexos, conceptualizando-os como alteridades insuperáveis. Nessa medida, sejam quais forem as especificidades com que se apresentem, acabam sempre por ter por base uma visão essencialista e dicotomizadora dos seres humanos. Além disso, esquecem, necessariamente, por esse princípio dicotómico de partida, outras determinações que marcam indelevelmente a experiência humana de ser homem ou de ser mulher, como é o caso, por exemplo, da cor da pele. Como, por outro lado, esta visão é acompanhada de uma sobrevalorização de tudo o que é feminino, propõe, no fundo, um novo tipo de relação hierárquica e, portanto, assimétrica, entre os sexos. Todas as outras posições, embora com algumas particularidades, acabam por defender a proximidade entre os sexos. É a esta perspectiva que me sinto vinculada, quer do ponto de vista das suas raízes ontológicas e dos seus pressupostos epistemológicos, quer também, das suas consequências e corolários nos planos da vivência das relações interpessoais e de cidadania. Feito todo este percurso de comentário e de reflexão, tem de se reconhecer que ele reitera o ponto de partida da análise de considerar que estamos a tratar com um indecidível teórico e de que o máximo que em verdade podemos dizer é que o desejo ou os desejos humanos, ainda que sejam vividos por um corpo sexuado são, igualmente, resultado de um processo histórico e cultural. A meu ver, só se pode avançar por uma decisão interpretativa acerca do que está em jogo no conceito de desejo. É o que vou fazer considerando que o desejo, afinal, tem a ver com a própria raiz da existência humana se a tomarmos, tal como faz Paul Ricoeur como desejo e esforço – desejo de ser e esforço de existir. Esta decisão desloca 12 o plano em que a questão tem estado a ser analisada, situando-a, inequivocamente, no plano ontológico, em cuja dimensão se terá de reconhecer que homens e mulheres habitam o mesmo desejo e desenvolvem o mesmo esforço para se afirmar como humanos. É esse esforço de afirmação da existência humana na sua humanidade que nos conduz ao tema hegeliano do reconhecimento que, para mim, protagoniza o desejo primordial e constituinte do humano enquanto tal e com cuja análise terminarei esta reflexão. O desejo instaurador do humano: o reconhecimento O texto mais interpelador para mim, no quadro da procura do que é um ser humano e como se instaura a sua humanidade, é, de facto, o clássico texto hegeliano da Fenomenologia do Espírito, conhecido como a dialéctica do senhor e do servo16. Nele, Hegel apresenta a génese da consciência de si, cuja emergência ocorre no interior de uma luta de morte, em que duas consciências se envolvem para obterem o reconhecimento mútuo. Trata-se, efectivamente de uma luta de morte, uma vez que essa luta apenas termina quando uma das consciências envolvidas se reconhecer vencida. O que é que está em causa nesta figura da dialéctica do Senhor e do Servo? De que é que ela pode ser metáfora? Paul Ricoeur, no contexto da sua análise do pensamento de Freud, mostrando o seu valor e os seus limites, propõe uma interpretação deste Capítulo da Phänomenologie des Geistes, explicitando que ela assenta “(...) na insuperabilidade da vida e do desejo(...)”17. Ou seja, põe em relevo a estrutura desejante da consciência, estrutura essa que explica, por um lado, a sua natureza cindida e inquieta, e, por outro, o seu carácter teleológico, isto é, a sua abertura ao desenvolvimento e ao futuro como possibilidade de realização. É nesse quadro que se vem perfilar o outro como sendo, a um tempo, obstáculo e possibilitação. O outro vai ser o lugar ou a referência onde cada consciência se procura a si própria e, também, aquilo que é necessário suprimir para que a afirmação de si possa acontecer. Por outras palavras, o desejo humano fundamental é o 16 HEGEL, Phänomenologie des Geistes. Tradução de Jean Hyppolite, Paris, Aubier-Montaigne, tomo I. Já trabalhei este texto em dois artigos anteriores, no contexto de outra temática: Fernanda HENRIQUES, “Dizer Deus – Outras metáforas” in Manuela Silva (coord.), Dizer Deus – Imagens e Linguagens, Lisboa, Gótica, 2003, pp. 67-90 ; Fernanda HENRIQUES, “Intertextualidades. Freud, Hegel e Husserl na constituição da teoria da consciência-texto de Paul RIcoeur”, in Homenagem a João Paisana. Phainomenon, nº5/6 (2002-2003), pp. 233-249. 17 Cf. Paul RICOEUR, De l’interprétation. Essai sur Freud, Paris, Seuil, 1969, pp. 453-456. 13 desejo do outro porque só através dele pode atingir o seu si-mesmo e, por essa razão, a construção da identidade obriga a um confronto, a uma luta entre desejos com a mesma intencionalidade e, por esse motivo, de interesses opostos. A constituição do si-mesmo de cada consciência de si supõe, portanto, o reconhecimento como operação bilateral. É em função disto que a dialéctica do Senhor e do Servo é uma luta de morte entre duas consciências na busca da sua identidade, ao mesmo tempo que esta operação de génese para si mesma da consciência de si que ela representa é uma luta pela vida, travada no seio da vida e resolvida de acordo com a maneira como a vida se valora. À partida, há uma igualdade entre as consciências envolvidas, ou seja, qualquer das consciências que se implica na luta pelo reconhecimento de si, pode lutar até ser reconhecida pela outra consciência. Dito de outro modo, Senhor ou Servo é um ponto de chegada, um resultado, e não uma definição de partida. Tornar-se Senhor ou Servo decorre de uma escolha entre sobrevivência e liberdade. O que me interessa de todo este processo é relevar a sua estrutura originária, isto é, considerar que o desenvolvimento humano aqui metaforizado se dá através de um trabalho de conservação-superação da relação entre desejo e vida, porque o facto primordial da consciência é a sua dimensão pulsional-desejante. No fundo, trata-se de pôr em relevo a presença permanente e operante do desejo na formação da humanidade e, ao fazê-lo, realçar também que essa humanidade do humano se constitui num processo de reciprocidade que é, em última instância, uma operação de reconhecimento bilateral. Hegel não estava minimamente interessado na problemática da igualdade entre os sexos – aliás, a sua posição era a de acantonar a mulher a uma ligação determinante com a natureza; todavia, a simbólica do desenvolvimento humano que nos facultou permite-nos pensar que a verdade e a autenticidade das relações se estabelecem no contexto de uma dialéctica de horizontalidade e não no quadro de qualquer hierarquia pré-determinada. Nessa perspectiva, ou seja, no plano ontológico da determinação da vida e do viver, parece ser evidente que o desejo que a faz desenvolver é correspondente nos homens e nas mulheres. Negar esta equivalência só pode ser feito a partir do lugar ideológico do poder e nunca da perspectiva da vontade de sentido e de verdade que nos torna humanos, porventura demasiado humanos ou, quiçá, divinos18. 18 Encontrei um paralelismo desta minha leitura exploratória da metáfora hegeliana num texto de uma outra natureza, embora também constituído no interior de um confronto crítico com a psicanálise, e que chama igualmente a atenção para que a humanidade só se configura realmente quando há a possibilidade de um diálogo entre iguais. A obra é de uma psicanalista, Marie Balmary, tem como título La DIvine Origine. Dieu na pas crée l’homme (Paris, Grasset, 1993) e corporiza-se através de uma 14 Bibliografia de referência AAVV, Provenances de la Pensée. Femmes/Philosophie. Les Cahiers du Grif, Paris, Deuxtemps Tierce, 1992. AAVV, L’exercice du savoir et la différence des sexes, Paris, L’ Harmattan, 1990. AAVV, Invention du féminin, Paris, Éditions Campagne Première, 2002. 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A tónica do livro ou o seu móbil é chegar a encontrar resposta para a pergunta acerca da origem do humano, ou seja, aquilo que verdadeiramente faz de um indivíduo um ser humano. 15 HENRIQUES, Fernanda, “Dizer Deus-Outras Metáforas”, in Manuela Silva (coord.), Dizer Deus – Imagens e Linguagens, Lisboa, Gótica, 2003, pp. 67-90. HENRIQUES, Fernanda, “Intertextualidades. Freud, Hegel e Husserl na constituição da teoria da consciência-texto de Paul RIcoeur”, in Homenagem a João Paisana. Phainomenon, nº5/6 (2002-2003), pp. 233-249. IRIGARAY, Luce, Speculum. De l’autre femme, Paris, Minuit, 1974. IRIGARAY, Luce, Ce sexe qui n’en est pas un, Paris, Minuit, 1977. IRIGARAY, Luce, Éthique de la difference sexuelle, Paris, Minuit, 1984. JAGGAR, Alison e BORDO, Susan (eds.), Gender, Body, Knowledge (1988). Versão para português: Gênero, Corpo, Conhecimento, Rio de Janeiro, Rosa dos tempos, 1997. 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