79 Virologia como recurso interdisciplinar para o Ensino Médio Bruno GAVINHO1 Maria Isabel da SILVA2 Resumo: O tema virologia, pertencente ao eixo Saúde, é pouco abordado no ensino de Ciências e Biologia. Materiais didáticos apresentam o conteúdo de forma descontextualizada e apenas consideram os vírus sob o ponto de vista patológico. Assim como bactérias e fungos, esses micro-organismos não só contribuem de maneira significativa na ecologia, como também podemos utilizar suas características diferenciadas sob o ponto de vista educacional. Dessa forma, o presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre a abordagem do tema virologia no Ensino Fundamental e Médio, assim como sugestões e aplicações desse tema com outras disciplinas, visando a uma proposta interdisciplinar que permita ao aluno aprender o caráter indissociável do conhecimento. Palavras-chave: Virologia. Ensino Fundamental. Ensino Médio. Bruno Gavinho. Mestre em Microbiologia, Parasitologia e Patologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Ensino de Ciências e Biologia pelo Claretiano – Centro Universitário. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Ciências Biológicas pelo Claretiano - Centro Universitário. E-mail:<[email protected]>. 2 Maria Isabel da Silva. Ph.D. em Imunogenética Molecular pelo Centre D’immunologie de Marseille Luminy (CIML) da França. Doutora em Genética pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Fármacos e Medicamentos pela mesma instituição. Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 1 Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 80 Virology as an Interdisciplinary resource to the High School Bruno GAVINHO Maria Isabel da SILVA Abstract: Virology, a theme belonging to the Health sciences, is rarely addressed in the teaching of science and biology. Instructional materials offers the content in a decontextualized manner, considering only the pathological aspects. Like bacteria and fungi, viruses not only contribute significantly to ecology, but also offer their unique characteristics to educational analysis. This paper presents a literature review regarding the theme virology in elementary and high schools, as well as suggestions and applications of this subject with other disciplines, creating an interdisciplinary approach that allows the student to consider the inseparable character of Knowledge. Keywords: Virology. Elementary School. High School. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 81 1. INTRODUÇÃO A virologia é uma das subáreas mais promissoras da microbiologia. Iniciada há algumas décadas, ainda passa por um intenso período de realizações e descobertas, constituindo-se como alvo de estudo e investimento (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Como justificativas, podemos citar as doenças causadas por vírus, que fazem parte do cenário mundial moderno, como o vírus ebola, que despertou grande preocupação na costa oeste africana, os níveis de prevalência da SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida) e, considerando o Brasil, os vírus da família Flaviviridae (Dengue, Zika e Chikungunya), trazem grande preocupação para a Saúde Pública (ASSIS; PIMENTA; SCHALL, 2013). No entanto, o estudo dos vírus não deve abordar, estritamente, as doenças. Enquanto materiais didáticos há muito apontam benefícios da microbiologia na natureza e na sociedade, como o papel ecológico de fungos e bactérias na decomposição e reciclagem de alimentos, ou a produção de alimentos e sintéticos por espécies bacterianas, o mesmo não ocorre com os vírus. Além de serem abordados de maneira breve nos materiais didáticos, as menções envolvem apenas o potencial infeccioso. As contribuições ecológicas e genéticas desses micro-organismos são pouco consideradas do ponto de vista educacional (AZEVEDO; SODRÉ NETO, 2014). Mais do que a análise dessas espécies, a natureza e a estrutura única dos vírus oferecem uma inestimável oportunidade para abordar os mais diversos temas, não necessariamente ligados ao ensino de Ciências e Biologia. Os vírus são entidades dominantes da biosfera, tanto na abundância física quanto na diversidade genética. No mar, solo e em ambientes associados a animais, as partículas virais consistentemente sobrepujam o número de células por uma ou duas ordens de magnitude (KOONIN; DOLJA; KRUPOVIC, 2015). Novas e significativas descobertas de espécies de vírus demonstram que a biologia ainda é uma área científica em que os mais sólidos conceitos podem se provar errôneos ou seriamente discordantes, mesmo tendo sido estabelecidos há mais de um século (CLAVERIE; ABERGEL, 2016). Assim como as bactérias, os vírus ocupam um Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 82 papel de destaque na História: sua influência é ativa, como se fossem narradores do processo histórico (UJVARI, 2012). Em uma comparação entre os micro-organismos mais pesquisados, os vírus despontam como os seres mais atípicos, seja pelo tamanho, estrutura ou diversidade (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012). Assim, essas características podem ser aproveitadas para uma abordagem de diversas disciplinas. Considerando a incidência e prevalência das doenças virais no país, assim como as formas de eliminação e prevenção, podemos utilizar a virologia como um instrumento interdisciplinar para abordar os mais variados conteúdos em história, sociologia, química, dentre outros. Muitas instituições atualmente baseiam seus planos de ensino através de um aprendizado interdisciplinar, produzindo oficinas de temas e conteúdos relacionados, que coletivamente levam a uma experiência pedagógica mais efetiva. Tais iniciativas prezam pela formação de cidadãos preparados para a resolução de problemas, que trabalham em equipe e valorizam a inovação (BONATTO et al., 2012). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) foram elaborados com o intuito de promover os princípios da reforma curricular e orientar os professores na busca de novas abordagens e metodologias, orientando-os na questão da contextualização e interdisciplinaridade, incentivando o raciocínio e a capacidade de aprender (BATISTA; CUNHA; CÂNDIDO, 2010). Isto revela uma carência na exploração de contextos históricos e científicos para o Ensino de Ciências, assim como a falta e interação entre as disciplinas básicas do currículo atual, sugerindo aos alunos que as ciências são formadas por conhecimentos isolados e de pouca aplicação. A interdisciplinaridade é um elo entre o entendimento das disciplinas nas suas mais variadas áreas. É importante pois abrange temáticas e conteúdos que permitem o desenvolvimento de recursos inovadores e dinâmicos que possibilitam a ampliação das aprendizagens (BONATTO et al., 2012). O presente trabalho busca estimular professores da Educação Básica a abordarem o tema virologia além do estrito potencial Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 83 patológico, reconhecendo a presença desses micro-organismos em eventos histórico-sociais e nas ciências aplicadas. 2. ABORDAGEM DO TEMA “VIROLOGIA” NO ENSINO MÉDIO De acordo com as experiências e exigências do atual período, preconiza-se abordagens no ensino de ciências que sejam didaticamente efetivas. Devido à importância dos vírus, espera-se que os materiais didáticos e professores da educação básica, em especial os de Biologia, abordem o tema virologia de maneira mais expressiva. Existe uma grande carência desse conteúdo no Ensino Médio, além de ser apresentado de forma não contextualizada com a realidade dos alunos (BATISTA; CUNHA; CÂNDIDO, 2010). Os professores têm um papel bastante relevante, devendo ser capazes de utilizar esse recurso para suscitar nos alunos experiências pedagógicas significativas, diversificadas e alinhadas com a sociedade em que estão inseridos, que são exigências do contexto educacional contemporâneo. A virologia ainda é uma ciência básica em expansão, e muitas descobertas ainda tentam revelar aspectos fundamentais dos vírus. O extenso conteúdo de virologia torna os métodos discursivos pouco atraentes para os alunos (ROSADAS, 2012). Não se pretende com isso afirmar que os alunos do Ensino Médio deveriam ser sobrecarregados com um excesso de informações sobre uma área tão vasta e complexa como a virologia. Mas não se pode dizer que tratar de um tema tão relevante socialmente e tão relacionado com novidades biotecnológicas amplamente citadas em meios de comunicação tradicionais e internet, a exemplo da transgenia, terapia gênica e produção de armas biológicas, dificulta a obtenção de um processo de aprendizagem mais significativo para esses estudantes (GOMES; BRANDÃO, 2013). Barbosa e Barbosa (2010, p. 135) discorrem sobre o estudo dos micro-organismos na Educação Básica: Quando adaptamos o exemplo das ilustrações científicas às aulas práticas de microbiologia, podemos observar atualmente o que diversos autores definem como crise no ensino de ciências, identificada como o reiterado fracasso Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 84 escolar nestas disciplinas e o afastamento dos jovens das carreiras científicas, diversos autores têm proposto que a educação em ciência (e aí surge a microbiologia) assuma a pesquisa como um princípio educativo, buscando aproximar os estudantes dos métodos e processos científicos, entre outros. Assim como em muitos temas, é nítido que a virologia é abordada estritamente do ponto de vista patológico. Tal visão, que embora reduza as causas biológicas em “defeitos” de uma máquina, o corpo, é com frequência observada nos temas da área da saúde. Segundo Brasil (1999), os conteúdos relacionados ao eixo Saúde devem ser ensinados além da mera descrição do processo biológico. Os conceitos acerca da virologia, que é uma disciplina de grande interesse para o desenvolvimento de pesquisas na área de Ciências Biológicas e da Saúde, devem ser bastante explorados pelos professores e livros didáticos para formar agentes transformadores de uma realidade. Gomes e Brandão (2013) analisaram o conteúdo de virologia dos títulos indicados pelo Guia de Livros Didáticos PNDL 2012 (Biologia), considerando os critérios histórico-culturais privilegiados por Vygotsky (1896-1934), necessários para a interação do aluno com seu professor e colegas. A maior parte dos livros falhou em mostrar aspectos necessários a uma compreensão completa da replicação e estrutura viral. Nenhum livro abordou o tema de forma contextualizada, nem considerou aspectos socioculturais. Os autores concluem que os materiais falham em trazer uma oportunidade interdisciplinar. Assis, Pimenta e Schall (2013) analisaram a temática “dengue” em exemplares didáticos do PNLD (Plano Nacional de Livros Didáticos) entre 2008 e 2011. Além da grande maioria das obras apresentarem erros conceituais sobre o vetor e o ciclo de transmissão, concluiu-se que algumas obras não distinguiram detalhes entre as viroses (vírus da dengue e febre amarela). Poucas obras conseguiram extrapolar a apresentação do conteúdo além da visão saúde/doença, desconsiderando-se aspectos sociais e históricos. Batista, Cunha e Cândido (2010) pesquisaram a abordagem do tema virologia nos livros didáticos das principais editoras da Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 85 cidade de Aracaju, Sergipe. Os autores analisaram a contextualização do tema, erros conceituais, valor pedagógico e se as doenças eram estudadas de acordo com a região. Concluíram que algumas obras apresentavam erros conceituais, como, por exemplo, o fato de os vírus serem parasitas obrigatórios e necessariamente causarem doença. Nenhuma das obras estimulou o conteúdo de forma interdisciplinar e complementar, como a importância da virologia na indústria e biotecnologia. Também não há destaque para a existência de vírus vegetais e animais, que podem prejudicar a indústria agropecuária de uma região, estimulando o interesse dos alunos. Prado, Teodoro e Khouri [s.d.] estudaram métodos alternativos para abordar o tema Microbiologia, assim como a virologia na educação básica. No caso dos vírus, sugeriu-se o uso de materiais e ferramentas para a construção de modelos que facilitem o aprendizado, como maquetes que representam o vírus da Imunodeficiência Adquirida Humana (HIV) e seu ciclo. Segundo Hiatt (1999), como exemplo de educação nas ciências da saúde, o Relatório Flexner, desenvolvido pelo educador Abraham Flexner, é um modelo mundialmente famoso. Ele é considerado uma das mais significativas reformas da educação médica do século XX, destacando-se pela introdução do método científico à escola médica na América do Norte. O relatório, no entanto, foi fortemente influenciado pelo contexto sócio-histórico positivista e reducionista do período, considerando a medicina uma profissão para as elites. Pagliosa e Da Ros (2008) afirmam que Flexner considerava que o estudo da medicina devia ser centrado na doença, de forma individual e concreta, pois é considerada um processo natural e biológico. Os pesquisadores afirmam que esse tipo de educação não apresentava aos alunos do ensino superior a discussão sobre o social e o coletivo, considerados pouco relevantes para a compreensão da saúde-doença. De acordo com Monteiro (2012), podemos concluir que o modelo biomédico de educação, inspirado por Flexner, considera o corpo como uma “máquina”: a doença é o mau funcionamento”, e a cura nada mais é do que um reparo. Ainda, essa visão dissocia o indivíduo e o contexto onde vivemos: o foco desse estudo é na cura individual, ignorando contextos sócio-históricos dos grupos. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 86 A ênfase no modelo biomédico, centrado na doença e no hospital, conduziu os programas educacionais médicos a uma visão reducionista. Ao adotar o modelo saúde-doença unicausal, biologicista, a proposta de Flexner reserva um pequeno espaço, se algum, para as dimensões social, psicológica e econômica da saúde e para a inclusão do amplo espectro da saúde, que vai muito além da medicina e seus médicos (PAGLIOSA; DA ROS, 2008, apud Monteiro, 2012). Embora o modelo de Flexner seja relacionado ao Ensino Superior, observamos um reflexo dessa visão ao estudarmos micro-organismos na Educação Básica: na maior parte dos casos, apenas a relação saúde-doença, sem maiores considerações ecológicas ou interdisciplinares. Com a intenção de utilizar uma ferramenta alternativa para o estudo da virologia, Rosadas (2012) desenvolveu um jogo em formato tabuleiro para desafiar estudantes do Ensino Superior. O material envolveu critérios obtidos em livros e artigos científicos relacionados aos vírus escolhidos. Essa técnica permite ao aluno a busca do próprio conhecimento, e não necessariamente os restringiu ao estudo patológico dos vírus. 3. APLICAÇÕES INTERDISCIPLINARES DA VIROLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Considerando as características dos vírus, as interações destes com diferentes populações de seres vivos, e a necessidade de transmitir conteúdos de forma integradora e interdisciplinar, a Tabela 1 indica sugestões de trabalho com virologia entre conteúdo da área da Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 87 Tabela 1. Sugestões para trabalho interdisciplinar no eixo ciências da natureza e suas tecnologias envolvendo o estudo dos vírus. TEMA Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) Origem da vida Biotecnologia INTERDISCIPLINARIDADE OBSERVAÇÕES Biologia Muitas doenças transmitidas pelo sexo não seguro possuem um agente viral, como o vírus da Imunodeficiência humana (HIV), e o Papilomavírus humano (HPV), a DST mais prevalente do mundo. Conhecer as formas de transmissão da doença e o ciclo de replicação dos vírus é essencial para um trabalho educativo na área. Biologia Muitos estudos indicam que os vírus estão dentre os primeiros seres vivos do planeta, e foram fundamentais no transporte de material genético entre as espécies, inclusive entre humanos. A virologia é uma forma de introduzir os alunos ao estudo da evolução e das primeiras formas de vida da Terra primitiva. Biologia A biotecnologia é uma das áreas de aplicação da biologia: a criação de vacinas e produtos biológicos em muitos casos envolve o uso de vetores virais. Para compreender melhor o potencial da área, é fundamental que o aluno conheça a estrutura viral e o ciclo de replicação viral. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 88 Automedicação Ligações químicas: ligações covalentes Ligações intermoleculares Biologia Considerado sério problema na área da saúde, a automedicação é um comportamento bastante difundido pela população. O uso indevido e não prescrito de medicamentos pode acarretar sérias complicações à saúde. O tema também possui forte relação com a virologia, porque os antibióticos, produtos que inibem ou destroem células bacterianas, não são efetivos contra vírus. Além disso, a maior parte das doenças respiratórias são de origem viral. Química Os vírus são acelulares: sua constituição é macromolecular. Estudar a estrutura viral é reconhecer a sua formação por ligações covalentes, em que diferentes átomos compartilham pares de elétrons para a formação das moléculas. Este é um tema fundamental na química, e integrálo com a virologia mostra ao aluno a aplicação do conteúdo. Química Além das ligações químicas, a virologia pode servir de base para o estudo das ligações intermoleculares. Por exemplo, para entrar na célula, os vírus se ligam à membrana plasmática através de pontes de hidrogênio. Mostra-se ao aluno uma aplicação do tema. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 89 Introdução à química orgânica Geometria Química Os primeiros estudos da química orgânica assumiam que substâncias orgânicas poderiam ser encontradas apenas em seres vivos. Somente anos mais tarde definimos a área como os estudos dos compostos formados pelo elemento carbono. Integrar esse tema à virologia cria um espaço para reflexão: “A química orgânica estuda somente substâncias presentes em seres vivos? O vírus possui carbono. Ele é vivo?”. Matemática O vírus é formado por uma estrutura molecular, o capsídeo. Seu formato é geométrico – constituído por arestas e ângulos. Estudar o formato viral na geometria permite ao professor executar o conteúdo de maneira criativa e elaborada. Na Tabela 2 estão listadas influências dos vírus em áreas relacionadas às Ciências Humanas e suas aplicações. Tabela 2. Sugestões para trabalho interdisciplinar no eixo ciências humanas e suas tecnologias envolvendo o estudo dos vírus. TEMA Extermínio de nativos ameríndios no século XVI INTERDISCIPLINARIDADE OBSERVAÇÕES História Geral e História do Brasil De acordo com Diamond (1999), o conflito entre espanhóis e astecas no século XVI resultou na morte de milhares de ameríndios, em grande parte pelo contato destes com doenças virais disseminadas pelos europeus, como a varíola. O contato dos portugueses com indígenas no Brasil também resultou num extermínio, em parte pelas doenças infecciosas, como a gripe. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 90 Independência dos países africanos no século XX Revolta da vacina História Geral Com o declínio do colonialismo, muitos países africanos encontraram uma oportunidade de independência. No entanto, o processo foi lento e gradativo, resultando em miséria, subdesenvolvimento e disseminação de doenças. De acordo com Ujvari (2012), devido à grande movimentação de populações durante o período de Independência, a manifestação do HIV tipo 2 matou um considerável número de indivíduos em GuinéBissau e Cabo Verde, sob domínio português. História do Brasil Para a erradicação da varíola no Brasil, o sanitarista Oswaldo Cruz convenceu o Congresso a iniciar a “Lei da Vacina Obrigatória”. Segundo Cukierman (2007), brigadas de policiais poderiam entrar nas residências e impor a vacina à população. A manifestação popular em 1904 contra a campanha governamental obrigatória para vacinação antivariólica teve apoio de estudantes e positivistas. Ocorreu em parte pela ignorância da população sobre a doença e sobre essa medida profilática. É possível trabalhar com a questão política brasileira do século XX e com as doenças virais e a falta de infraestrutura. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 91 Estereótipos e preconceitos de gêneros Geopolítica: produção de medicamentos e vacinas Sociologia Oportunidade de trabalhar com a conscientização dos alunos sobre DSTs e os preconceitos sexistas e de orientação sexual relacionados aos indivíduos infectados. Independentemente do sexo e da orientação sexual, todos são responsáveis pela transmissão dos vírus, como o HIV. Portanto, é necessário enfatizar a importância do sexo seguro em qualquer tipo de relação sexual. Geografia Consideração da capacidade e fatores necessários ao país para a produção de medicamentos e vacinas contra dengue, zika, chikungunya, HIV, dentre outros vírus. Há também a relação do Brasil com os países vizinhos quanto à distribuição das doenças virais. 4. CONCLUSÃO O presente trabalho demonstrou que os materiais didáticos do Ensino Médio possuem uma abordagem escassa do tema virologia. Basicamente, os vírus são apresentados apenas como agentes patogênicos, e, mesmo considerando apenas essa visão, alguns materiais ainda apresentam erros conceituais. Através da Educação, espera-se formar cidadãos que apliquem, ao máximo, experiências e conhecimentos na sociedade em que se encontram. Assim, a Educação Básica deve aproveitar mais a influência e a participação dos vírus em seus conteúdos, pois, independentemente do contexto social e cultural dos alunos, é importante conscientizá-los sobre o papel desses micro-organismos na ecologia, na saúde e nas ciências aplicadas. Saúde, Batatais, v. 5, n. 2, p. 79-93, jul./dez. 2016 92 REFERÊNCIAS ASSIS, S. S.; PIMENTA, D. N.; SCHALL, V. T. 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