Percepção Ambiental: Um Estudo de Caso - São Thomé das Letras1 Renan Akio Kamimura 10º Módulo do curso de Engenharia Florestal - UFLA Rua Dona Emerenciana, Nº 53. Centro - Lavras - MG [email protected] Alexandre Carvalho de Andrade (Co - orientador) Mestre em Geografia – UNESP – Rio Claro [email protected] Marco Aurélio Leite Fontes (Orientador) Professor DCF – UFLA [email protected] Áreas para avaliação: g) Preservação e sustentabilidade do ambiente RESUMO Estamos perdendo o brilho de inspiração de nossa bandeira. Nossas florestas, águas, recursos minerais estão se perdendo perante a atual problemática ambiental, confrontantes ao inadequado manejo e falta de valorização dos mesmos. Fatos que comprovam uma nova relação Homem X Meio Ambiente. Neste contexto, em particular no município de São Thomé das Letras, Minas Gerais; com expressiva participação no cenário nacional na produção de quartzitos (genericamente conhecido de ‘Pedra de São Thomé’) para fins ornamentais e de revestimento, é que o presente trabalho buscou retratar através de um estudo preliminar e exploratório, a percepção ambiental de seus moradores através de um questionário semiestruturado com posterior abertura estimulando uma justificativa do entrevistado. O estudo comprovou uma opaca barreira conceitual e prática junto à percepção ambiental 1 Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Florestais – UFLA Novembro de 2008 demonstrando a necessidade de práticas informativas integrando o Meio-ambiente perante sua problemática. Palavras chave: Percepção ambiental, São Thomé das Letras, recursos naturais, mineração, quartzito INTRODUÇÃO Não se sabe desde quais tempos, mas está explícito o uso dos recursos naturais comprovando uma estreita relação de nossos remotos antepassados com a natureza, usufruindo de seus recursos hídricos, da flora e posteriormente da fauna entre outros que somente foi permitida perante um perfeito equilíbrio do sistema, ao longo do tempo, também conhecido como Meio-ambiente. E tamanhas são as necessidades atuais que nos presenteiam junto a uma situação de irracionalidade e conflito de uso dos mesmos. Junto ao utópico progresso de parte da sociedade vieram à tona movimentos expressivos no mundo de cunho ambiental e social (o econômico sempre foi o primeiro a se discutir e pela mesma parte da sociedade que se ‘desenvolvia’) se rebelando a minorar tamanha injúria a fim de não estreitar e romper tal relação, sendo assim decretada num movimento ocorrido no Brasil como um expressivo recado: “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento” (A Carta da Terra, 1992) Ainda mais cientes da problemática ambiental, temos o desafio junto à obrigação como tomadores de decisão e formadores da opinião, estender a correta informação para toda sociedade promovendo a percepção e interpretação sobre o atual cenário num plano global ao regional. Junto à magnitude de nosso meio, e tamanha modificação por nossos usos e hábitos nos traz a necessidade de investigação e melhor compreender a que perspectiva evolui tal relação. Assim com o presente trabalho avaliou-se a percepção dos moradores do município de São Thomé das Letras sobre o estado de seu ambiente natural e seus possíveis impactos, a fim de retratar a relação população x Meio-ambiente local através de um levantamento preliminar e exploratório junto a alguns indicadores ambientais. 2 OBJETIVO GERAL O presente estudo teve como objetivo avaliar a percepção dos moradores do município de São Thomé das Letras sobre o estado de seu ambiente natural e seus possíveis impactos. Como objetivo complementar desejou-se estimular o entrevistado a refletir sobre a paisagem local junto à discussão do tema. CARACTERIZAÇÃO ÁREA DE ESTUDO O município de São Thomé das Letras (STL) está localizado na região sul de Minas Gerais entre as coordenadas 45º 40’ a 45º 52’ longitude Oeste e 21º 39’ a 21º 52’ latitude Sul. Possui área de 36900 hectares, sua limitação se dá pelos municípios de Luminárias ao norte, Cruzília a leste, Baependi ao sul, Três Corações e Conceição do Rio Verde a oeste (IEF, 2007) e tem uma população de 6617 habitantes (IBGE 2007). Através das imagens de satélite (Figuras 1 e 2) podemos comprovar a evolução da paisagem de São Thomé das Letras e região. Foram usadas imagens do satélite LANDSAT TM nos anos de 1987 e 2001 para uma comparação temporal e também um breve comentário a inconsistência da existência de atividades mineradoras (em branco) em proximidade a uma Unidade de Conservação mesmo que de uso sustentável, pouco efetiva, mas porém em total acordo com a legislação que exclui Áreas de Proteção Ambiental (APA) da existência de zonas de amortecimento. Figura 1 Fonte: INPE Figura 2 Fonte: INPE 3 “O pólo de São Thomé das Letras responde por 60 % da extração estadual de quartzitos, concentrando a quase totalidade das exportações do Estado e desdobrando 2,5 milhões de m2/ano em produtos comerciais diversos” (Minas Ambiente, 2002). Vale comentar o uso indevido dos recursos vindos da extração de quartzito como citado por Minas ambiente (2002) na qual “A geração de resíduo (estéril) é bastante significativa, representando aproximadamente 93% do total da rocha desmontada. Portanto, a parcela aproveitável (minério útil) é muito baixa”. Comprova-se assim um conjunto de fatores que aceleram o processo de degradação e impactos visuais na paisagem da cidade como visto nas Figuras 3 e 4. Figura 3 - Indevido planejamento urbano, confrontando mineração e crescimento urbano. Fonte: Arquivo pessoal. 4 Figura 4 - Áreas de lavras do quartzito e suas ‘montanhas’ de rejeitos. Fonte: Arquivo pessoal. METODOLOGIA Como primeiro passo de um estudo Piovesan (1995) define “pesquisa exploratória na qualidade de parte integrante da pesquisa principal, como o estudo preliminar realizado com a finalidade de melhor adequar o instrumento de medida à realidade que se pretende conhecer (...) sendo esse procedimento metodológico, denominado pesquisa exploratória, apresenta natureza qualitativa e contextual”. A obtenção de dados e informações do presente estudo ocorreu através de uma investigação exploratória junto a um questionário semi-estruturado com uma posterior abertura de algumas perguntas, buscando justificar as respostas dos entrevistados. Foram entrevistadas 112 pessoas durante os dias 13 a 18 de Outubro de 2008. Os horários das entrevistas foram aleatórios variando de 6:30 as 19:00 horas. Também foram distribuídos 36 questionários aos alunos da Escola Municipal José Cristiano Alves totalizando assim 148 entrevistados. Na abordagem ao entrevistado, buscou-se um ‘bate-papo’ para melhor captar informações de maneira indireta e não encarado como um simples questionamento, mas sim um diálogo amistoso. Também foram considerados como informações complementares conversas extra entrevistas com os moradores locais e observação simples do entrevistador. RESULTADOS Quando questionados em relação à conservação da zona rural, os entrevistados demonstraram uma baixa percepção perante o Meio-ambiente, onde 63% deles relataram adequada conservação da zona rural de São Thomé das Letras, sendo que as poucas justificativas destacaram principalmente sobre o estado das estradas rurais, diminuição de queimadas e desmatamentos. Numa baixa freqüência, respostas relacionadas diretamente sobre aspectos bióticos como florestas, cerrados, campos, rios, cachoeiras, vegetação e fauna do município. Os 30% dos entrevistados que comentaram sobre a má conservação da zona rural se justificaram principalmente queixando do estado de conservação das estradas rurais do município e também com pouca ocorrência de relatos bióticos considerando assim certa opacidade na percepção ambiental dos mesmos. Apenas 7% dos entrevistados não responderam, reforçando a dificuldade na leitura da paisagem local (Figura 5). 5 Conservação da zona rural 7% Sim Não 30% NR 63% Figura 5 Quando questionados a respeito dos atrativos locais, grande maioria dos entrevistados comentaram sobre mais de um atrativo, sendo cachoeiras e grutas os atrativos mais registrados com 78% e 44% respectivamente. Em menor destaque outros atrativos também foram citados, tais como: paisagem local (18%); clima (4%); e pedras (5%). Quase não foram lembradas a flora e fauna locais demonstrando uma não integração do meio como um todo, e novamente retratando opacidade na percepção ambiental. Talvez devido aos usos e hábitos locais paralelo ao turismo ecológico em destaque na região, cachoeiras e grutas foram assim tão lembradas. (Figura 6) Atrativos de STL Outros Pedras Clima Paisagem Grutas Cachoeiras 0% 20% 40% 60% 80% 100% Figura 6 Perante a problemática ambiental local e global presenciamos uma baixa percepção, sendo que 48% dos entrevistados relataram que não são afetados por qualquer problema ambiental. Já 51% dos entrevistados afirmaram sensíveis a problemática e se justificaram pertinentemente sobre os vários impactos causados pela mineração como silicose, poeira levantada com a explosão das minas, barulho das mesmas, tráfego intenso de caminhões carregados com quartzito, impacto visual, rejeitos, poluição das águas dos rios entre outras. Outras justificativas, em menor freqüência, foram quanto a desmatamentos (queimadas e 6 cortes de árvores) e a respeito do lixo local, e ainda, em menor freqüência, sobre mudanças climáticas num contexto global. (Figura 7) Faz sua parte para ajudar o Meio-ambiente 19% Sim Não 81% Figura 7 Quando indagados sobre o dever de “ajudar” o Meio-ambiente, 81% dos entrevistados responderam em afirmativo e que fazem sua parte. As principais justificativas foram em relação à destinação do lixo pessoal, economia de água e luz e medidas conservacionistas tais como reflorestamento, não praticar queimadas e não desmatar. (Figura 8) Afetado por problemas ambientais 1% Sim Não 48% 51% NR Figura 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Tamanho descaso, quase não relatado foram práticas sociais, talvez devido à inexistência ou baixa efetividade como de projetos sociais e ambientais, tais como de educação ambiental. Refletindo em poucos comentários, sugestões ou reclamações mais explícitas dos entrevistados demonstrando uma deficiência perceptiva e crítica junto à necessidade de discutir e estimular a conscientização ambiental num contexto regional ao global, desproporcionando excludentes interpretações. Devido ao grande potencial de São Thomé das Letras como pólo turístico, tem-se a mineração como forte empecilho ao seu desenvolvimento, portanto, necessidade de maior rigor na fiscalização fazendo valer a legislação e reformulando algumas de suas premissas 7 muitas vezes defasadas. Há de se buscar meios para amenizar tal degradação a fim de melhor conciliar outras atividades alternativas como o turismo ecológico, artesanato entre outras. Mesmo como demonstrado no presente trabalho, muitas vezes práticas contraditórias a legislação sobre uso de nossos recursos naturais, no caso particular das atividades mineradoras em São Thomé das Letras, não é possível ou até mesmo viável a interrupção de tal atividade vista tamanha dependência econômica da população perante seus serviços. Há de se buscar adequações e orientações junto a Universidades entre outras instituições a fim de sustentar pesquisas e extensão para sustentabilidade local. Como alternativa, a efetivação duma cadeia de custódia e certificação florestal originando um produto final mais ecológico, social e legal, assim agregando valores ao seu potencial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A Carta da Terra – AGENDA XXI, 1992. Atlas das Unidades de Conservação de Minas Gerais. IEF/UFLA – Governo do Estado de Minas Gerais – PROMATA-MG. Abril/2006. IBGE - Cidades. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: Outubro 2008. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. <http://www.inpe.br> Acesso em: Outubro 2008. MINAS AMBIENTE. Controle ambiental na mineração de quartzito pedra São Thomé. Projeto Minas Ambiente. Editora Segrac Ltda. Belo Horizonte. 2002. (98 págs) PALMA, I. R. - Análise da Percepção Ambiental como Instrumento ao Planejamento da Educação Ambiental / Dissertação (Mestrado em Engenharia) – UFRGS - Porto Alegre, 2005. (67 págs) PIOVESAN A.; TEMPORINI E. R. - Pesquisa exploratória: procedimento metodológico para o estudo de fatores humanos no campo da saúde pública. Revista Saúde Pública vol. 29 N° 4 São Paulo – Agosto/1995. (10 págs) 8