1 OS ESTADOS UNIDOS NA DÉCADA DE 1920: rumo ao abismo A CRISE DE 1929 Coke, Jazz, Ford, Aspirin, United Fruit, Lee, Singer, Dollar. A economia mundial começava a sentir a presença norte-americana no início do século XX. Os impressionantes avanços tecnológicos da época lançaram as principais potências capitalistas numa intensa disputa por mercados consumidores de seus produtos industrializados e fornecedores de matérias-primas. Os Estados Unidos, uma das bases da Segunda Revolução Industrial, transformaram a América Central em sua principal área de influência, controlando a economia e a política dos países da região, da mesma maneira que a Europa transformou a África e a Ásia em suas áreas de exploração imperialista. Na década de 1920, os Estados Unidos estavam “embriagados pelo elixir da prosperidade”, passando de maior devedor do planeta antes da guerra, para o maior credor depois da guerra. Entusiasmado pela prosperidade do país, o presidente Herbert Hoover disse: “Com a ajuda de Deus, logo iremos alcançar o dia em que a pobreza será banida da nação”. A família média americana vivia melhor, comia melhor, vestia-se melhor e usufruía mais da sociedade de consumo do que qualquer família média de outra parte do mundo. Eufóricos, os norte-americanos consumiam freneticamente relógios de pulso, geladeiras, latas de ervilhas, aparelhos de barbear, enceradeiras e tudo mais que o dinheiro e o crediário pudessem comprar. Enquanto na Europa a média era de um carro para 84 pessoas, nos Estados Unidos era de um para cada 06 pessoas. Tal entusiasmo contagiou a Bolsa de Valores de Nova York, fazendo ações das empresas norte-americanas crescerem em ritmo alucinante. John Raskob, líder do Partido Democrático, escreveu um artigo intitulado Todos devem ser ricos: “Se um homem economizar 15 dólares por semana e investir em boas ações comuns, ao final de 20 anos ele terá pelo menos 80 mil dólares e um rendimento dos investimentos de cerca de 400 dólares ao mês. Ele estará rico”. Em valores da época, este “feliz” investidor, seria realmente rico. E talvez estivesse até mais rico. O valor das ações subia cada vez mais rapidamente. No início de 1928, o valor de uma ação da Radio Corporation of America (RCA)1 custava 85 dólares; em setembro de 1929, seu valor havia subido para 505 dólares. Muitos acreditavam ter encontrado a receita de ganhar dinheiro sem trabalho. Barbeiros, engraxates, banqueiros e homens de negócios, todos apostavam suas economias no mercado de ações e todos ganhavam. Mas, até quando? O lucro fácil também atraía capitais de outras partes do mundo. Na Alemanha, no início de 1929, o Banco Central perdera cerca de 41 milhões de dólares de investidores que haviam migrado para a Bolsa de Nova York. O banco, desesperado para atrair capitais, oferecera taxas de juros cada vez maiores a quem mantivesse seu investimento. Os juros altos haviam inibido os empréstimos para as atividades produtivas, provocando recessão e aumento do desemprego. A QUEBRA DA BOLSA Enquanto isso, os norte-americanos, eufóricos, não percebiam as consequências do que ocorria com seus vizinhos e principais compradores. Em setembro de 1929, a compra de ações começou lentamente a diminuir. Cresceram os rumores de que o auge econômico estava a ponto de terminar. Muitos se apressaram em vender suas ações antes que os preços caíssem mais e mais. Na última semana de outubro, o mercado entrou em colapso. Os corretores estavam desesperados. Uma quantidade enorme de ordens de venda de ações convergiu para o mercado. Alguns corretores choravam, enquanto outros olhavam estupefatos imensas fortunas se dissolverem. Eles gritavam até ficar roucos, tentando atrair a atenção de pelo menos um comprador. Era o crack da Bolsa. 1 Empresa norte-americana de produtos eletrônicos (principalmente aparelhos de rádio), fundada em 1919, logo após a Primeira Guerra Mundial, e que em 1986 foi incorporada ao conglomerado francês Technicolor SA. 2 Piada da época: quando alguém pedia um quarto em um hotel, o recepcionista perguntava: “Para dormir ou para pular?” Os suicídios nem foram tantos, mas a imagem de executivos pulando dos arranha-céus tornara-se o símbolo do desespero norte-americano com a quebra da Bolsa. O estrago no bolso dos investidores foi assustador. Preocupado com o desâmino geral, o prefeito de Nova York pediu aos proprietários de cinemas que só exibissem filmes otimistas. À época era difícil prever a crise. Durante a década de 1920, era comum que no noticiário alguém assegurasse ao povo que a economia estava ótima. A euforia cegava os olhos. Antes da quebra, o desemprego já vinha crescendo, atingindo 4 milhões de pessoas. A produção de aço, importante indicador econômico, caía lentamente enquanto as ações subiam vertiginosamente. Os investidores não percebiam que a febre de dinheiro fácil não tinha bases sólidas, que as fábricas e as fazendas declinavam enquanto suas ações se valorizavam. Que a produção não encontrava mais compradores, transformando-se em superprodução. A forte concentração de capitais nas mãos de poucos ajudara a desencadear a crise. A riqueza do país e a renda nacional, antes da quebra da Bolsa, eram sem dúvida impressionantes, mas com uma péssima distribuição. Cerca de 24 mil famílias no topo da pirâmide social receberam um volume de investimentos três vezes maior que os 6 milhões de famílias mais pobres. O rendimento médio das famílias mais ricas era 630 vezes a média do rendimento das famílias da base da pirâmide social. Entre 1923 e 1929 os salários subiram 8% e os produtos industrializados, 72%. Para essas famílias pobres o crediário era a fórmula para adquirir ações ou bens de consumo. Os empréstimos bancários se tornaram a receita de muitos investidores para adquirir ações. Como havia muito dinheiro sobrando no país, acumulado por banqueiros e grandes industriais com as vendas para a Europa durante a Primeira Guerra, as taxas de juros baixaram. Esses investidores, correndo grandes riscos, pegavam dinheiro emprestado, compravam grandes lotes de ações e pagavam as prestações com os lucros da Bolsa. Quando teve início a crise da Bolsa, os bancos pediram seus créditos de volta. Os investidores tentaram vender as ações para saldar as dívidas. Como o volume de ações ofertadas diariamente era crescente, o seu valor reduzia-se na mesma proporção (Lei da Oferta e da Procura). Com o valor das ações despencando, eles não tinham como pagar os bancos, e os bancos não tinham como pagar seus clientes. Em 1929 existiam mais de 25 mil bancos no país, em 1933 estavam reduzidos a menos de 15 mil. No outdoor atrás da fila lê-se: “Os melhores padrões de vida do mundo” (acima) e “Não existe modo de viver como o americano”. Para o jornalista Jayme Brenner, esta foto, de uma fila de desempregados à espera de doações, seria “a irônica síntese dos Estados Unidos nos anos da crise. Analise os elementos da foto e pense o porque da afirmação do jornalista citado. 3 Em 1932, a música da moda era: Brother, can you spare a dime? (“Irmão, você pode me emprestar um trocado?”). Esse era o espírito de um país com cerca de 15 milhões de desempregados. Em 1932, um em cada quatro norte-americanos não tinha trabalho. A construção civil caiu 95%; a produção siderúrgica, 88%; 100 mil empresas faliram. Um em cada oito fazendeiros havia perdido suas propriedades. E, pior, tinha-se a nítida impressão de que a crise não iria ter fim, de que não existia um ponto de virada, um sinal sequer de alívio: era a Grande Depressão. Ocorriam saques em Deaborn (Michigan) e marchas de esfarrapados em Washington. Famílias se aninhavam, em busca de calor, junto aos incineradores dos edifícios municipais, enquanto outras procuravam restos de comida nos caminhões de lixo. Boa parte da população norte-americana responsabilizava o presidente Hoover e os republicanos pela crise. A política liberal do governo, de não interferir no mercado, teria sido para muitos a responsável pela depressão. Assim, em 1932, o democrata Franklin Delano Roosevelt venceu facilmente as eleições presidenciais. Investidor falido vendendo seu carro por apenas 100 dólares. Fila de desempregados a espera de “café da manhã” gratuito. O NEW DEAL Durante a campanha eleitoral, Roosevelt havia se comprometido a estabelecer um “Novo Ajuste” (New Deal) para o povo americano. Em seu discurso de posse declarou: “A única coisa a temer é o próprio medo”. E audaciosamente, contrariando as teorias ultraliberais que defendiam uma mínima intervenção estatal na economia, procurou empenhar o Estado na ajuda aos “de baixo”. Para resolver o problema do desemprego e reaquecer a economia, deu início a um enorme programa de obras públicas. A crise permitiu uma ruptura com os padrões da política econômica liberal. O New Deal estabeleceu um amplo programa de apoio aos desempregados. No primeiro trimestre do programa de garantia de trabalho, foram construídos e restaurados 400 mil quilômetros de estradas, 40 mil escolas foram colocadas em funcionamento e 50 mil professores foram contratados, construiu-se mais de 500 pequenos aeroportos, instalou-se mais de 3,5 milhões de metros de canalização de água e esgoto, além de praças e quadras esportivas por todo o país. Na habitação popular, uma agência estatal avalizava financiamentos imobiliários, viabilizando um grande programa que impulsionava a construção civil. O Estado financiou a representação de 2.700 peças teatrais. Contratou 2,7 milhões de jovens para trabalhar no controle da erosão do solo e no combate a incêndios florestais. A ideia era: o Estado gera empregos, as pessoas voltam lentamente a consumir, as fábricas e fazendas aumentam a produção, contratam mais mão-de-obra, mais pessoas são reintegradas ao sistema e o capitalismo voltaria a crescer. O “ciclo infernal da crise” seria substituído pelo “ciclo celestial de crescimento”. O consumo aumentou 50% depois de três anos de investimentos governamentais. No entanto, ainda havia 9 milhões de desempregados no país ao final da década de 1930. O problema do desemprego e do crescimento econômico só foi resolvido com a Segunda Guerra Mundial. Analise o gráfico abaixo e observe os resultados parciais alcançados pelo New Deal. 4 Texto extraído e adaptado dos livros: - A escrita da História de Flávio Campos e Renata Garcia Miranda, Volume Único. - História do Mundo Ocidental de Antonio Pedro, Lizânias de Souza Lima e Yone de Carvalho, Volume Único. - Imagens extraídas da internet, entrada em 11.março.2012. Profª ISABEL CRISTINA SIMONATO EEEM “Emílio Nemer” – Castelo – ES Blog: belsimonato.wordpress.com 11.março.2012