LOCALIZAÇÃO E ACESSIBILIDADE DAS MICRORREGIÕES DE ITUIUTABA E FRUTAL, TRIÂNGULO MINEIRO: A IMPORTÂNCIA DAS RODOVIAS PARA A DINÂMICA TRIANGULINA Luciana Domingues Chaves Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET (Geografia – FACIP/UFU). E-mail: [email protected] Mariana Forlini Marchini Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET (Geografia – FACIP/UFU). E-mail: [email protected] Vitor Koiti Miyazaki Professor do Curso de Geografia – FACIP/UFU. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO Este artigo apresenta parte dos resultados obtidos pelos levantamentos realizados no âmbito do Projeto de Pesquisa “Diagnóstico sócio-econômico e ambiental da Região do Pontal do Triângulo Mineiro”, desenvolvido pelo Programa de Educação Tutorial – PET do curso de graduação em Geografia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal – FACIP da Universidade Federal de Uberlândia - UFU. O projeto tem como objetivo analisar os aspectos sociais, econômicos e físicos da área compreendida pelas microrregiões geográficas de Ituiutaba e Frutal. Assim, para o desenvolvimento da pesquisa foram organizados dois eixos temáticos principais para nortear os levantamentos: 1) Conteúdos sócio-econômicos; 2) Conteúdos sobre a dinâmica da natureza e ação antrópica no meio. A área de estudo delimitada por este projeto compreende as cidades das duas microrregiões geográficas citadas, localizadas na mesorregião do Triângulo Mineiro, na parte oeste, denominada Pontal. Essas cidades são: Cachoeira Dourada, Capinópolis, Gurinhatã, Ipiaçu, Ituiutaba, Santa Vitória, Campina Verde, Comendador Gomes, Fronteira, Frutal, Itapagipe, Iturama, Pirajuba, Planura e São Francisco de Sales. Para a realização desta pesquisa, foram realizados levantamentos a partir de pesquisas em fontes como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Instituto de Geociências Aplicadas - IGA, Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais DER/MG, Departamento Nacional de Infra-Estrutura e Transportes - DNIT, homepages de Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 Prefeituras Municipais, além do Google Maps e do Guia Rodoviário Quatro Rodas e outras que eventualmente serviram de subsídio à pesquisa. Visando contribuir para este projeto, este texto contemplou o sub-eixo “localização geográfica e acessibilidade”, que realizou levantamentos sobre aspectos da localização geográfica e dimensão territorial dos municípios englobados pela pesquisa, além de uma análise da malha rodoviária regional e das possibilidades de ligação e interação entre as cidades. Nesse sentido, na primeira parte do texto, apresentamos uma breve caracterização histórica e espacial do recorte territorial desta pesquisa. Em seguida, focamos nos resultados dos levantamentos realizados no que se refere à estrutura rodoviária, suas potencialidades, bem como as distâncias e condições das vias que interligam as cidades das duas microrregiões analisadas. Por fim, a partir dos resultados dos levantamentos e das análises realizadas, pontuamos algumas considerações e as conclusões mais relevantes. BREVE HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA O estado de Minas Gerais tomou destaque no cenário nacional a partir do período marcado pela mineração, principalmente a partir da extração do ouro no século XVIII. Porém, cabe ressaltar que esta atividade não predominou em todo o estado, uma vez que Minas Gerais possui suas especificidades intra-regionais. O ouro explorado na porção sul e leste do território fez com que essas regiões progredissem significativamente e atraíssem populações de diversas regiões do país. Paralelamente ao ciclo do ouro, várias outras atividades foram sendo desenvolvidas, tornando estas regiões do estado ainda mais dinâmicas e desenvolvidas. Por outro lado, a porção oeste do estado, longe dos mananciais auríferos, encontrava-se fora dessa dinâmica. Porém, os estoques de ouro não duraram para sempre. Após o esgotamento e decadência desta atividade em algumas regiões, as pessoas que dependiam direta ou indiretamente do ciclo do ouro passaram a procurar novas áreas para se instalarem e desenvolverem suas atividades. É a partir deste momento que entra em cena a região do Triângulo Mineiro por meio da expansão da atividade agropecuária e a intensificação do povoamento do interior do Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 país. Para facilitar este processo de expansão em direção ao interior, se fazia necessária a abertura de estradas para a passagem e ocupação dos sertanejos e seus gados. Ao mesmo tempo, foram surgindo e desenvolvendo vários núcleos urbanos como importantes pontos de apoio para o processo de ocupação em direção ao interior. O município de Frutal, por exemplo, foi rota obrigatória para a entrada do gado nos sertões do Triângulo Mineiro e Goiás. Já Ituiutaba, por sua vez, foi rota de passagem dos sertanejos que seguiam em direção ao Mato Grosso e sudoeste goiano. Mas foi somente durante o governo militar e o lançamento dos Planos Nacionais de Desenvolvimento – PNDs que o oeste mineiro, antes isolado do restante das áreas em desenvolvimento do país, passa a ser integrado com a abertura de rodovias. Estas vias foram primordiais para o escoamento do “ouro branco”, denominação dada ao arroz, que foi a principal cultura agrícola da década de 1970 no Pontal do Triângulo Mineiro. Após o arrefecimento da cultura de arroz nessa região, a estrutura rodoviária da região continua desempenhando importante papel, não só para a circulação intra-regional, mas também para o transporte em nível nacional, como no caso do escoamento da produção de grãos do centro-oeste para o Porto de Santos. Sabe-se que as áreas de Cerrado são as últimas fronteiras para o desenvolvimento do agronegócio, ainda mais o Triângulo Mineiro, compreendido por uma geologia favorável, tanto na questão do tipo de solo (latossolos) quanto no avançado estágio denudacional (áreas extensas e planas). Além disso, atualmente a atividade canavieira vem ganhando cada vez mais espaço na economia regional e a malha rodoviária tem sido fundamental para o escoamento dessa produção, seja ela na cana-de-açúcar in natura ou de seus produtos derivados. Além de geograficamente privilegiado, por estar próximo e por se limitar a sul com São Paulo, a oeste com o Mato Grosso do Sul e a noroeste com Goiás, o Triângulo Mineiro se destaca por contar com várias rodovias que garantem o transpote e circulação de mercadorias tanto na região quanto entre os diferentes pontos do país. Rios de maior porte como o Rio Grande e Paranaiba estabelecem a divisa entre o estado de Minas Gerais com São Paulo e Goiás. Com grande potencial de instalação de hidroelétricas, há várias usinas desse tipo na região, impossibilitando assim o uso desses cursos d’água como hidrovias, devido ao desnível gerado pelos reservatórios e a ausência de eclusas. Este aspecto reforça ainda mais a importância do transporte rodoviário para a região. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 Apesar deste breve relato contemplar aspectos da região do Triângulo Mineiro como um todo, ressalta-se que o foco desta pesquisa se centra apenas nas microrregiões de Ituiutaba e Frutal, que polarizam uma população estimada de 174.131 e 136.376 habitantes respectivamente, segundo Oliveira e Felismino (2010). Contudo, para compreender a dinâmica destas duas microrregiões, foi necessário enfocar também o Triângulo Mineiro como um todo, principalmente considerando-se a questão da circulação e das rodovias. Em linhas gerais, a implantação das rodovias no Triângulo Mineiro vieram na intenção de ligarem as áreas do sul/sudeste com restante do país, principalmente após a década de 1960 e a construção de Brasília. DESENVOLVIMENTO: explorando alguns resultados Antes de iniciar a análise dos levantamentos realizados no âmbito das microrregiões de Ituiutaba e Frutal, apresenta-se a seguir uma breve contextualização sobre as rodovias no país e em Minas Gerais. O processo de construção de rodovias no Brasil iniciou-se a partir da década de 1920 e se intensificou nas décadas de 1940 e 1950, quando ganhou impulso devido a fatores como a criação do Fundo Rodoviário Nacional, em 1946; a fundação da Petrobrás, em 1954; e a implantação da indústria automobilística nacional, em 1957. Este último impulso ocorreu durante o governo Juscelino Kubitschek que, além de implantar a indústria automobilística, transferiu a capital do país em 1960 do Rio de Janeiro para Brasília, o que acelerou a criação de um novo e ambicioso plano rodoviário para ligar a nova capital a várias regiões do país. Dessa forma, a construção de Brasília contribui para a expansão da malha rodoviária do país. Em Minas Gerais a criação de rodovias fundamentou-se na importância do escoamento e da circulação de mercadorias, facilitando desta forma a ligação econômica entre o estado mineiro com o restante do país. Hoje, o sistema rodoviário mineiro é o maior do país em extensão, de acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER/MG). A malha rodoviária do estado é composta por 34.176 quilômetros de estradas, sendo 25.417 sob jurisdição estadual, conhecidas como MGT’s e 8.760 sob Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 jurisdição federal, as BR’s. Vale ressaltar ainda que do total da malha rodoviária do estado, há uma parte significativa que ainda não possui pavimentação, principalmente no caso daquelas que se encontram sob jurisdição estadual, como mostra a tabela 1. No contexto de expansão da rede rodoviária mineira, ganhou destaque o Triângulo Mineiro, pois o mesmo expandiu-se economicamente muito rápido devido à pecuária extensiva e alta produção de grãos. Junto com este crescimento veio a necessidade da construção de uma malha rodoviária que possibilitasse o transporte de mercadorias, não apenas para esta região mineira, mas a todo território nacional. Tabela 1 – Rede rodoviária mineira - 2009 JURISDIÇÃO REDE RODOVIÁRIA EM KM PAVIMENTADA NÃO PAVIMENTADA Federais Delegadas Estadual (DER/MG) Estaduais Total Federal (DNIT) TOTAL GERAL TOTAL 2.252 403 2.655 15.644 7.118 22.762 17.896 7.521 25.417 8.141 618 8.760 26.037 8.139 34.176 Fonte: DNIT- Mar/2010 Segundo Guimarães (1990, apud OLIVEIRA, 2003), a evolução das rodovias no Triângulo Mineiro tem origem em 1912, com a Companhia Mineira de Auto Viação Intermunicipal. Aos poucos foram sendo construídas as rodovias em direção ao Pontal do Triângulo Mineiro, por meio da BR-71 (atual BR-365) ligando Ituiutaba a Uberlândia. A partir da ampliação da malha rodoviária, hoje os produtos da agroindústria, que são elementos decisivos na economia das microrregiões, podem ser escoados com uma facilidade muito maior através das rodovias. Atualmente, o Triângulo Mineiro possui importantes rodovias que servem não só para a circulação do contexto intra-regional, mas também (e principalmente) para o transporte e os deslocamentos em âmbito nacional. Como exemplos, podemos citar a BR-153 (Rodovia Transbrasiliana, que liga o Sul/Sudeste do país à Brasília e Norte/Nordeste), BR-365 (importante via de ligação do norte/leste de Minas Gerais a Mato Grosso/Mato Grosso do Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Sul), BR- 050 (ligando Brasília à São Paulo e ao Porto de Santos), entre outros. A figura 1 mostra estas e as demais rodovias que cortam as duas microrregiões analisadas. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Figura 1: Rodovias das Microrregiões Geográficas de Ituiutaba e Frutal. Org.: Miyazaki, 2010. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 No caso específico dessas duas microrregiões, as rodovias mais relevantes são a BR-365, interligando no sentido leste-oeste as cidades da Microrregião de Ituiutaba, e a MG-255/BR-497, que articulam os municípios da Microrregião de Frutal. Ressalta-se que além destas rodovias, a BR-153 tem papel fundamental para estabelecer a ligação entre essas duas microrregiões. Em linhas gerais, observa-se a configuração de dois grandes eixos no sentido leste-oeste: um, mais ao norte, na microrregião de Ituiutaba e outro ao sul, a oeste de Frutal. Vale ressaltar que estes dois eixos configuram-se também como importantes vias de ligação para outros estados, como no caso da BR-365 (ligando o sul/sudeste à Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás) e a MG-255/BR-497 (articulando o sul/sudeste ao Mato Grosso e Mato Grosso do Sul). Ainda observando o mapa, é possível verificar certa deficiência no que se refere à interligação entre esses dois eixos, devido à ausência de rodovias pavimentadas. A única via de ligação norte-sul pavimentada é a BR-153, bem a leste, dificultando a circulação entre os municípios localizados no extremo oeste do Pontal do Triângulo Mineiro. Para se deslocar de Carneirinho até Santa Vitória, por exemplo, cuja distância em linha reta é de aproximadamente 110 quilômetros, é preciso optar por percorrer 380 quilômetros de vias pavimentadas ou 255 quilômetros, caso o percurso contemple vias não pavimentadas. Esta dificuldade de acesso existente entre alguns centros urbanos fica evidente quando consideramos o estudo Região de Influência das Cidades – REGIC, realizado pelo IBGE (2007). Cidades como Iturama e Itapajipe, da Microrregião de Frutal, estão vinculadas à rede urbana de Uberaba, enquanto que Santa Vitória e Capinópolis, por exemplo, localizadas na Microrregião de Ituiutaba, fazem parte da rede polarizada por Uberlândia. Devido à grande distância percorrida em muitos percursos quando se opta por vias asfaltadas, muitas pessoas da região trafegam por estradas sem pavimentação, como no caso da BR-154, que liga Ituiutaba a Campina Verde. Recentemente, obras de construção e pavimentação da BR-364 (Rodovia São Paulo-Cuiabá) vêm sendo executadas, o que, após a conclusão, pode contribuir não só para a interligação do Centro-Oeste a São Paulo, como também a circulação na escala regional, mais especificamente das microrregiões analisadas. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 CONCLUSÃO O estudo realizado sobre as microrregiões de Ituiutaba e Frutal permitiu compreender a configuração da malha rodoviária regional, identificando as principais rodovias que cortam o Pontal do Triângulo Mineiro, bem como as distâncias entre as cidades e as possibilidades de ligação entre elas. As rodovias têm desempenhado importantes papéis para o escoamento da produção e circulação de pessoas, bens e mercadorias, tanto no âmbito regional quanto nacional. A infra-estrutura rodoviária e as possibilidades de ligação e circulação por ela proporcionada acabam influenciando nas relacões sociais, econômicas, políticas e espaciais, com impactos inclusive na configuração da rede urbana. Diante do exposto, destacamos que a realização dessa pesquisa contribuiu para o entendimento da dinâmica local e regional das duas microrregiões analisadas, fornecendo desde modo alguns fundamentos para estudos posteriores, principalmente no âmbito do Projeto “Diagnóstico sócio-econômico e ambiental da Região do Pontal do Triângulo Mineiro”, que ainda encontra-se em execução. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACELAR, W. K. de A. Os mitos do “Sertão” e do Triângulo Mineiro: as cidades de Estrela do Sul e de Uberlândia nas teias da modernidade.211f.Dissertação ( Mestrado)Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós Graduação em Geografia, Uberlândia (MG),2003. MENDONÇA, C. Transporte rodoviário: por que o Brasil depende tanto desse sistema. Pedagogia & Comunicação – Uol Educação. São Paulo. s.n. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/geografia/ult1701u50.jhtm>. Acesso em 31 jan. 2010. OLIVEIRA, B. 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