FALA, VITÓRIA! - A VARIAÇÃO DO IMPERATIVO EM VITÓRIA/ES E

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FALA, VITÓRIA! - A VARIAÇÃO DO IMPERATIVO EM VITÓRIA/ES E SUA POSIÇÃO
NO CENÁRIO NACIONAL
Elaine Meireles Evangelista – UFES1
0 Introdução
Este artigo analisa, à luz da sociolingüística variacionista, a alternância no uso do imperativo
gramatical em entrevistas dos informantes do projeto “Português Falado na Cidade de Vitória”, da
Universidade Federal do Espírito Santo, no que diz respeito às formas contemporaneamente
associadas ao modo indicativo (fala/olha/deixa/diz) ou ao modo subjuntivo (fale/olhe/deixe/diga) em
enunciados afirmativos e negativos de diálogos da fala, em contexto exclusivo do pronome você.
Nosso principal objetivo é contribuir para o mapeamento do imperativo no Brasil, haja vista a
escassez de estudos sociolingüísticos no estado do Espírito Santo. A expectativa era a de que os dados
do projeto em questão evidenciassem alinhamento da fala de Vitória com a de outras partes da região
Sudeste, que privilegiam a forma contemporaneamente associada ao indicativo no contexto do
pronome você (fala/olha/deixa/diz).
Os estudos da variação do imperativo em algumas localidades brasileiras revelam o distanciamento
entre a norma gramatical e o uso do imperativo e observam que essa variação aponta para uma
mudança lingüística, tendo em vista que, diferentemente do registro da tradição gramatical, formas
imperativas associadas ao indicativo (fala/olha/deixa/dá/vem) ocorrem amplamente em contexto de
uso do pronome você. Exemplos da fala capixaba, abaixo, ilustram a variação já observada por
diversos outros pesquisadores com a análise da fala de outras localidades.
1.a) “Oh! tô avisando... depois não... FALE que eu não avisei”
1.b) “Depois não FALA que eu não avisei.”
O uso do imperativo não é marca de diferenças sociais, entretanto, o aspecto geográfico tem sido visto
como decisivo na alternância das formas do imperativo, ora mais associadas ao indicativo
(fala/olha/deixa/dá/vem), ora mais associadas ao subjuntivo (fale/olhe/deixe/dê/venha). Esse recorte
geográfico é um fato atestado por pesquisas já realizadas por Scherre et al. (1998); Sampaio (2001);
Cardoso (2004); Lima (2005); Jesus (2006); Scherre (2003, 2004). Os resultados dessas pesquisas
associam, predominantemente, a forma subjuntiva à região Nordeste e a forma indicativa às regiões
Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Além disso, revelam que há uma grande variação do imperativo em
diálogos falados, enquanto na escrita sem diálogo a tendência é a predominância do subjuntivo, o que
segundo Scherre et al. (1998) se deve a uma questão sintática, pois esta forma garantiria uma
interpretação adequada do imperativo. Já na escrita com a presença de diálogos há uma grande
variação do imperativo, como evidenciam os estudos feitos em peças teatrais por Sampaio (2004) e em
revistas em quadrinhos por Scherre (2003; 2004; 2008) e Andrade, Melo & Scherre (2007), por
exemplo.
1 Fundamentação teórica e metodológica
O aparato teórico a ser utilizado serão os pressupostos da Teoria da Variação Lingüística de base
laboviana, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 com os estudos pioneiros de Weinreich;
Labov; e Herzog (1968) e de Willian Labov (1975).
1
Bolsista da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Espírito Santo - FAPES
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A Sociolingüística Variacionista coloca o estudo da linguagem no contexto social, considerando que a
relação entre língua e sociedade é intrínseca, de modo que não pode ser questionada, pois a história da
humanidade se construiu sobre e a partir de um sistema de comunicação oral. Sendo a língua uma
instituição social, não pode ser estudada fora do contexto em que é utilizada como meio de
comunicação e sem que se considere as variações ali ocorridas. Os estudos de Willian Labov na Ilha
de Martha’s Vineyard nos Estados Unidos, em 1963, contribuíram para evidenciar a importância da
influência de fatores sociais para o entendimento do processo de variação e das mudanças linguísticas.
A Teoria Sociolingüística nasceu da tentativa de se compreender essa relação, ocupando-se da
observação e análise de fatores estruturais e sociais que influenciam nas formas distintas de uso da
língua. Essa teoria considera a heterogeneidade inerente a todas as línguas naturais e tem como
objetivo sistematizar essa heterogeneidade, considerando que esta não é aleatória, pois as escolhas que
o falante faz são aquelas dentro das possibilidades e regras permitidas pelo próprio sistema. Para tanto
utiliza um modelo teórico-metodológico que tem como ferramenta métodos probabilísticos que tratam
das variações, sendo por isso também denominada de Sociolinguística Quantitativa. O papel da
sociolingüística é correlacionar às variações que ocorrem na expressão verbal com as diferenças
sociais, considerando que tanto no domínio linguístico quanto no social os fenômenos são estruturados
e regulares. Isto é, as variações não são resultados aleatórios de usos arbitrários da língua, e sim um
uso sistemático e regular dessa propriedade inerente aos sistemas linguísticos que é a variação.
(WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968; LABOV, 1975; SANKOFF, 1988b; LABOV, 2008).
Neste artigo, para tratamento quantitativo dos dados foram submetidos ao tratamento estatístico dos
programas Varbrul, em especial do Goldvarb X (Pintzuk, 1988; Sankoff, 1988; Sankof, Tagliamonte
& Smith, 2005; Mollica & Braga, 2003; Tagliamonte; 2006; Guy & Zilles, 2007). Esse programa
fornece, por meio de frequências e pesos relativos, a relevância estatística dos resultados obtidos.
2 Análise
Analisamos 34 células do referido projeto “O Português falado na cidade de Vitória”, que faz parte do
Núcleo de Pesquisa em Lingüística do Espírito Santo (NUPLES). Este projeto, de orientação
variacionista, iniciou-se em 2002, com o objetivo de gravar a fala espontânea de informantes nascidos
em Vitória, divididos segundo as variáveis relativas ao sexo do informante, à sua idade e à sua
escolaridade. O registro sistemático da linguagem oral usada em Vitória veio suprir uma necessidade
dos estudos de natureza sociolingüística no Espírito Santo, uma vez que não havia nenhum registro
dessa ordem no estado.
Além disso, as propagandas veiculadas em dois grandes jornais impressos, o jornal A Gazeta e o jornal
A Tribuna – escrita de forma não-dialógica- revelaram uso predominante de imperativo associado ao
subjuntivo. Ressaltamos que o uso do imperativo gramatical associado ao indicativo na escrita nãodialógica verifica-se apenas quando em presença de âncoras discursivas, nos termos de Scherre
(2007).
Nesta pesquisa investigamos a variação do imperativo gramatical no português brasileiro, a análise foi
feita em função da variável dependente o uso do imperativo associadas à forma indicativa e à forma
subjuntiva em contexto de pronome você numa perspectiva sincrônica da fala e de textos de
propagandas. Nossa hipótese era a de que na fala dialógica em enunciados afirmativos predominasse o
uso da forma associada ao indicativo, o que contraria a tradição gramatical que não considera o uso do
imperativo na forma indicativa em contextos de pronome você. Em enunciados negativos esperávamos
que houvesse um predomínio do uso da forma associada ao subjuntivo. Já nos dados de escrita nossa
expectativa era a de que o uso da forma associada ao subjuntivo fosse mais recorrente preservando a
tradição gramatical, isso porque o uso dessa forma garantiria a interpretação correta do imperativo,
sendo, portanto, uma questão de ordem sintática (SCHERRE et al., 1998).
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Os grupos de fatores analisados na fala foram sexo, faixa etária, escolaridade, discurso direto ou
reportado, sujeito expresso ou presença de vocativo; marcador discursivo e polaridade da estrutura.
Nas 34 entrevistas codificamos e analisamos 266 dados, sendo 260 associados à forma indicativa e
somente 06 associados à forma subjuntiva, conforme mostra a tabela 01.
Tabela 1 - Distribuição dos dados em relação à freqüência de uso do modo imperativo associado à
forma indicativa e à forma subjuntiva. (Rodada com todos os dados).
Variável Dependente
Número de Ocorrências/ Total
Porcentagem
Forma associada ao indicativo
260/266
97%
Forma associada ao subjuntivo
6/266
3%
O percentual da freqüência associada à forma indicativa é muito significativo, pois mostra a quase
invariância do fenômeno analisado na fala de Vitória. Esse resultado deve-se a influência das dos
fatores sociais e lingüísticos que podem motivar ou condicionar esse uso.
Na análise dos dados, a primeira rodada mostrou que alguns fatores são fatores de real efeito
categórico, ou seja, favorecem o uso da forma associada ao indicativo. Os grupos de fatores de real
efeito categórico que foram desconsiderados marcadores discursivos e dupla negação; porém outros
grupos de fatores de real efeito categórico foram amalgamados para que se produzisse uma rodada de
pesos relativos, que ao efetuar cruzamentos entre os grupos de fatores seleciona os que mostram
significância. Após as amalgamações, o resultado ficou assim:
TABELA 2 - Distribuição dos dados em relação à freqüência de uso do modo imperativo associado à
forma indicativa e à forma subjuntiva. (Rodada com dados amalgamados em contextos variáveis)
Variável Dependente
Número de Ocorrências/ total Porcentagem
Forma associada ao indicativo 233/239
97%
Forma associada ao subjuntivo 6/239
3%
O único grupo que apresentou resultado significativo foi o de polaridade da estrutura, esse fator
permite que confirmemos a tradição gramatical que prevê nas estruturas negativas apenas o uso do
imperativo associado ao subjuntivo; em estruturas afirmativas em contexto de tu utiliza-se o
imperativo no indicativo e em contexto de você o imperativo no subjuntivo. A freqüência de 98% do
imperativo na forma indicativa em construções afirmativas e de 82% do imperativo na forma
subjuntiva em construções negativas. Isso mostra que a polaridade negativa com peso relativo de
0.083 desfavorece o uso da forma indicativa.
TABELA 3 - Uso do modo imperativo na forma associada ao indicativo em função do teste da
previsão da gramática normativa com relação à polaridade da estrutura – dados da fala de Vitória - ES.
(rodada com fatores amalgamados e dados de contexto de efeito categórico eliminados)
Fatores
Frequência da forma indicativa
Pesos relativos selecionados
Estruturas afirmativas 224/228 = 98%
0.529
Estruturas negativas
9/11 = 82%
0.083
Total
233/239 = 97%
O nível de significância desse grupo de fator foi de 0.021. Mesmo considerando que na cidade Vitória
não há registro do uso do pronome tu, ocorrendo apenas você ou cê, dados confirmados pela pesquisa
de Calmom (2008 no prelo), pois em pesquisa em dados do Rio de Janeiro, Sampaio (2001) verificou
que a estrutura negativa indica um expressivo desfavorecimento do imperativo associado á forma
indicativa com peso reativo de 0.12, isso no Rio de Janeiro em que o uso do imperativo indicativo é
muito recorrente tanto em contexto de sujeito tu quanto em contexto de sujeito você. Esses resultados
atestam as hipóteses levantadas por Scherre et alii (1998) de que o uso do imperativo indicativo
poderia levar ao preenchimento da posição de sujeito em determinados contextos discursivos, essa
possibilidade faria com que a estrutura deixasse de ser imperativa; e também de que a relação entre o
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uso da forma imperativa e os pronomes tu e você já não é percebido na língua falada (SCHERRE,
2004).
Retornando ao fator de dupla negação (negação pré e pós-verbal), foi retirada dos dados por apresentar
100% de favorecimento do imperativo na forma indicativa nos dados analisados. É importante lembrar
que apesar da pesquisa apresentar apenas um dado:
2) “Oh, se vem assaltar, NÃO REAGE NÃO”
Essa ocorrência indica que a hipótese de Scherre (2004) de que as estruturas de negação pós-verbal e
de dupla negação favorecem o imperativo indicativo, sendo interpretado pela autora como um
“fenômeno na linha dos processos de mitigação da língua” (2004, p. 9).
As outras variáveis controladas, embora com resultados não estatisticamente significativos, não foram
retirados da análise quantitativa para o cálculo dos pesos relativos, uma vez que podem ser
linguisticamente significativo, podendo até indicar mudanças lingüísticas (SCHERRE & NARO,
2003). Apesar dos resultados indicarem que o fenômeno analisado é praticamente invariável, quase
uma “propriedade de input”, nos termos de Gy (2007). Isso porque a frequência do uso do imperativo
associado à forma indicativa na fala da cidade de Vitória é de 97%.
Ao controlarmos a variável marcador discursivo, isto é, verbo funcionando como marcador em troca
de turno de fala e como também para introduzir um novo assunto (JESUS, 2006). Nossa hipótese era a
de o uso desses verbos favorecia o imperativo indicativo. Embora tenhamos confirmado essa hipótese,
essa variável mostrou sem significância estatística, como podemos observar na tabela 4.
TABELA 4 - Uso do modo imperativo na forma associada ao indicativo em função do tipo de verbo –
marcador ou não marcador discursivo – dados da fala de Vitória - ES. (rodada com fatores
amalgamados e dados de contexto de efeito categórico eliminados)
Fatores
Frequência da forma indicativa
Marcador discursivo
Não marcador discursivo
Total
104/105 = 99%
129/ 134 = 96%
233/239 = 97%
Pesos relativos
Selecionados não selecionados
(nível 2)
(0,631)
(0,396)
Em relação aos resultados da variável faixa etária, estes se mostraram sem significância estatística,
mesmo depois de retirados os fatores categóricos e feitas as amalgamações, os pesos não apontam para
algo consistente. A freqüência de uso do imperativo associado à forma associada a foi de 98% na faixa
etária de 07 a 49 e de 93% na faixa etária acima de 50 anos.
Assim como também mostrou sem relevância a variável escolaridade, pois após rodada com fatores
amalgamados e dados de contexto de efeito categórico eliminados. Em todos os níveis de escolaridade
controlados a freqüência foi de 98%. Os pesos do nível 6 permitem mostrar que não há mesmo efeito
do grau de escolaridade, ficando assim: ensino fundamental 0.492; ensino médio 0.574 e ensino
superior 0.469. Ao controlarmos a variável escolaridade nosso objetivo era o de confirmar se quanto
maior o grau de escolaridade maior a probabilidade de utilizar a forma de acordo com a norma padrão.
Nossos resultados mostraram que isso não se confirmou, isso talvez se deva ao fato de segundo Votre
(2007) a escola atuar como preservadora das formas de prestígios, mas também de poder provocar
mudanças na fala das pessoas. Importa lembrar que a forma de prestígio nem sempre é a forma da
norma padrão, pois irá depender de fatores sociais, culturais e econômicos da comunidade de fala
pesquisada.
1150
Já na variável gênero (sexo), ainda que sem significância estatística, os resultados permitem
vislumbrar o efeito dessa variável, com o gênero feminino favorecendo relativamente o imperativo
associado á forma indicativa, conforme tabela 5.
TABELA 5 – Uso do imperativo na forma associada ao indicativo em função do gênero – dados da
fala de Vitória – ES. (rodada com fatores amalgamados e dados de contexto de efeito categórico
eliminados)
Fatores
Frequência da forma indicativa
Gênero feminino
Gênero masculino
Total
125/129 = 97%
108/110 = 98%
233/239 = 98%
Pesos relativos não selecionados
retirados do nível 2 e do nível 6
(0,473) (0,546)
(0,438) (0,461)
Isso confirma a tese defendida por Labov (2008) de que as mulheres tendem a ser mais sensíveis ao
padrão de prestígio e usam mais as formas inovadoras do que os homens. Labov (2008, p. 347) diz que
“esse comportamento das mulheres deve desempenhar um importante papel no mecanismo de
mudança linguística”, embora saliente que seria um erro gravíssimo estabelecer como principio geral
de que elas liderem o curso de mudança.
Na análise dos dados da escrita foram considerados apenas os fatores polaridade da estrutura e
presença de âncoras discursivas: vocativos, pontos de interrogação, balões - símbolos que remetessem
a diálogos (SHERRE, 2007). Escolhemos apenas essas variáveis para fins de comparação com o
percentual encontrado na fala. O resultado evidencia que a escrita favorece a forma indicativa, isso se
deve ao fato de que a forma subjuntiva asseguraria leitura mais assertiva do imperativo, evitando
possíveis ambigüidades. Mesmo com a prevalência de ocorrências do imperativo subjuntivo na escrita,
sua frequência de 77% ainda é menor do que a da forma indicativa nos diálogos de fala 97%, sendo,
como já mencionado anteriormente, um fenômeno quase invariável na fala da cidade de Vitória.
TABELA 6 - Uso do modo imperativo – contexto discursivo do pronome você – nos dados de língua
falada e escrita de Vitória-ES
Fatores
Forma indicativa
Forma subjuntiva
Fala
97%
3%
Escrita
23%
77%
Os dados que apresentaram o imperativo associado à forma indicativa confirmam pesquisas já
realizadas por Scherre (2003; 2004; 2008) em revistas em quadrinhos, nas quais se constatou que o
uso do imperativo associado á forma indicativa é constatado somente quando da presença das ancoras
discursivas, como mostram os exemplos abaixo, em que temos a presença de um vocativo e de pontos
de interrogação, respectivamente:
3.a)“Me LEVA que eu vou, meu amor,nesta noite de magia, cantando com fé, este samba de paz.
Vamos a Penha, agradecer em romaria”. (Samba enredo da Escola de Samba Unidos de Juqutuquara
de 2009)
3.b)“Se LIGA nessa notícia!” (Coluna do caderno A Gazetinha, suplemento do jornal A Gazeta
direcionado às crianças)
3.c)“CUTUCA sorte que o celta vem!” (Propaganda do jornal A Tribuna relacionada ao sorteio de
um automóvel)
Um fato relevante é a estrutura negativa, que tanto na fala quanto na escrita desfavorecem a forma
indicativa. Entretanto, na escrita não encontramos nenhuma estrutura negativa com a forma indicativa,
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esse dado aponta que a construção negativa preserva a tradição gramatical quanto ao uso do
imperativo negativo, como no exemplo da escrita abaixo:
“NÃO COMPRE carro sem antes consultar a Vitoriawagem”. (Propaganda da Vitoriawagem
veiculada no jornal A Gazeta)
Considerações finais
A pesquisa apresentada neste artigo tinha como objetivo ampliar os estudos sociolingüísticos sobre a
variação do imperativo brasileiro. Os resultados desta pesquisa se aproximam dos resultados
encontrados na oralidade nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as quais apresentam percentuais
acima de 90% de uso do modo imperativo associado à forma indicativa e se afastam dos resultados da
região Nordeste.
TABELA 7 - Freqüência do uso do modo imperativo associado à forma indicativa – dados da fala de
Vitória/ES, Campo Grande/MS (LIMA, 2005), Brasília/DF (SCHERRE et alli, 1998), Rio de
Janeiro/RJ e Salvador/BA (SAMPAIO, 2001).
Localidade
Porcentagem
Vitória/ES
97%
Campo Grande/MS
94%
Brasília/DF
95%
Rio de Janeiro/ES
94%
Salvador/BA
28%
Esses dados confirmam os resultados de outras pesquisas sobre a variação do imperativo brasileiro, de
que o aspecto geográfico é decisivo na alternância do imperativo, não sofrendo influencia de marcas
sociais como outras alternâncias, como, por exemplo, concordância nominal. Foi possível verificar
mais uma vez que a relação entre o sujeito tu ou você não é o aspecto que interfira no uso do
imperativo, visto que na cidade Vitória inexiste o uso do tu e a predominância do uso do imperativo
indicativo se aproxima da frequência observada em localidades que o uso do tu é recorrente.
Os dados são quase categóricos apontando para uma mudança no uso do imperativo gramatical na fala
de Vitória, confirma que a variação não é aleatória, que por meio de análises que controlam fatores
linguísticos e extralingüísticos é possível atestar a regularidade da variação do imperativo. Talvez seja
possível investigar as nuances funcionais que interferem nessa quase invariância do imperativo na fala
capixaba.
Mais uma vez é necessário que os estudos em lingüística tenham sempre um olhar para o contexto
social em que se insere a língua, mesmo sabendo quanto complexo este se mostra, pois complexa
também é a língua.
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