O consumo consciente de embalagens sustentáveis The conscientious consumption of sustainable packings OLIVEIRA, Lorena Gomes Ribeiro Graduanda em Design de Produto – Universidade do Estado de Minas Gerais -UEMG MORAES, Maria Flávia Vanucci de Orientadora MSc – UEMG – Campus de Belo Horizonte Palavras-chaves: embalagem, sustentabilidade, consumo. Diversos fabricantes de embalagens estão adequando a sua produção, à medida que as questões ambientais alcançam proporções maiores, buscando processos e produtos mais sustentáveis. Um importante incentivo a essa produção a favor do meio ambiente, é boa aceitação e preferência de muitos consumidores em relação a produtos que possuam algum quesito sustentável. A observância de um crescente consumo consciente de produtos e embalagens sustentáveis deu-se através da conclusão da primeira etapa de uma pesquisa de iniciação científica. Pode-se observar também certa deficiência na forma em que algumas informações são representadas nas embalagens consequentemente na maneira em que são passadas ao consumidor. Este artigo aborda aspectos referentes ao consumo de embalagens sustentáveis, destacando vantagens e dificuldades encontradas tanto pelo fabricante quanto pelo consumidor. Key- words: packing, sustenability, consumption Diverse manufacturers of packings are adjusting their production, according to the growing importance of environmental issues, searching for more sustainable processes and products. An important incentive to this production in behalf of the environment, is good acceptance and preference of many consumers in relation to the products that possess some sustainable question. The observance of an increasing conscientious consumption of products and sustainable packaging was given as the conclusion of the first stage of an undergraduate program research. Some information are represented in the packaging, and consequently in the way that they are transmitted to consumers. This article approaches shows aspects referring to the consumption of sustainable packaging, and evidence advantages and difficulties for both manufacturer and consumer. 1. Introdução O designer tem um papel relevante na escolha e aplicação dos materiais empregados em produtos de produção em série. Pode-se considerar o mesmo em relação à escolha das fontes energéticas necessárias ao funcionamento do produto durante o uso. Ainda menos incisiva vem a ser a intervenção do designer nas fases produtivas ou de distribuição do produto. No entanto, dentro do seu âmbito de competência o designer pode proporcionar muitas alternativas de baixo impacto ambiental (MANZINI & VEZZOLI, 2005). A alteração no meio ambiente ou em algum de seus componentes por determinada ação ou atividade resulta no impacto ambiental. O ecossistema vem sendo atingido de diversas maneiras, entre os principais agentes de destruição estão queimadas e desmatamentos ( Figura 1) em áreas de preservação; emissão de clorofluorcarbono1 (CFC); aumento da temperatura terrestre – efeito estufa; esgotamento de recursos naturais de fontes não renováveis; entre outras conseqüências das ações humanas. Figura 1: Madeira ilegal apreendida pelo IBAMA na Serra do Cipó- MG. Fonte: Autora (2007) O atual padrão de consumo de produtos industrializados, destacando aqueles que necessitam de embalagens sejam elas primárias, secundárias e/ou terciárias, tem resultado em mais uma forma de degradação ambiental. A embalagem é na sociedade contemporânea um importante componente da atividade econômica dos países industrializados, pois, de acordo com MESTRINER (2004) o consumo deste item é utilizado como um dos parâmetros para aferir o nível de atividade da economia. Apesar de todos os benefícios em conservação, praticidade, armazenamento e transporte trazidos pelas embalagens, elas estão associadas ao impacto ambiental através da formação de um grande volume de resíduos sólidos urbanos e do uso desordenado de matérias primas. De acordo com DATAMARK (2002) o setor de embalagens é um dos principais responsáveis pelo aumento do volume de lixo, e se destaca também pelo volume que representa no consumo de diversas matériasprimas, fatores que colocam o setor em uma em situação conflitante com os princípios de desenvolvimento sustentável: "Satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades" (ONU, 1987). Outro problema relacionado ao lixo, consequentemente também às embalagens, é a contaminação das águas subterrâneas e o aumento das enchentes, devido ao descarte desse lixo em locais inadequados. Os lençóis freáticos estão sujeitos à contaminação devido à infiltração do chorume2, e as enchentes tornam-se cada vez mais freqüentes devido ao acúmulo de lixo nas bocas-de-lobo que impedem o escoamento eficiente das chuvas. 1 Gás que ao atingir a camada de ozônio destrói as moléculas que a formam (O3) resultando na destruição desta camada da atmosfera. 2 Líquido gerado no interior de uma grande acumulação de resíduos. A fim de minimizar e controlar essa degradação, torna-se “necessário aplicar novas possibilidades tecnológicas ou produtivas específicas levando em conta a promoção de novos critérios de qualidade que sejam ao mesmo tempo sustentáveis para o ambiente, socialmente aceitáveis e culturalmente atraentes” (MANZINI & VEZZOLI, 2005). 2. Metodologia e processos Propôs-se para o desenvolvimento dessa pesquisa um estudo exploratório-descritivo. De acordo com MARCONI & LAKATOS (2003), pesquisas deste tipo têm tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema de modo a torná-lo explícito, facilitando o aprimoramento de idéias. Envolve levantamento bibliográfico e análises de exemplos que estimulem a compreensão. Portanto, essa pesquisa foi dividida em duas etapas. A primeira diz respeito à coleta de dados em fontes secundárias, ou seja, em artigos científicos, livros, teses, dissertações, normas e demais documentos e publicações relevantes relacionadas ao universo do estudo proposto. A segunda etapa consiste na articulação das informações levantadas na etapa anteriores e na elaboração desse artigo. 3. Desenvolvimento O emprego de alguma solução mitigadora bem como outras mudanças que ocorreram nas embalagens ao longo do tempo pode ser avaliado sob o ponto de vista do design através da análise do Ciclo de Vida do Produto – ACV. A abordagem do Ciclo de Vida tem sido usada para identificar os aspectos e impactos ambientais que ocorrem durante o ciclo de vida completo do produto – desde a extração da matéria-prima, fabricação, uso e descarte – auxiliando assim a definir as diretrizes do projeto de melhorias ambientais. É importante considerar todos os estágios do ciclo de vida das embalagens, bem como conhecer como estas podem afetar o meio ambiente nos diferentes estágios. Pesquisadores evidenciam que qualquer melhoria efetuada em um determinado estágio do processo fabril ou na estrutura da embalagem, não deve prejudicar o meio ambiente, mesmo que involuntariamente, em outros estágios (MMA, 2005). Diversos fabricantes de embalagens estão se adequando à medida que as questões ambientais alcançam proporções maiores, buscando uma produção (processos e produtos) mais sustentável. O sistema responsável por tal adequação é a ISO 14000 que oferece uma norma internacional para Gestão Ambiental, disponibilizando diretrizes para projetar, desenvolver e planejar essa gestão ambiental. Especificamente tratando-se de rotulagem ambiental a ISO disponibiliza a série de normas 14020, a criação desta série esteve relacionada à necessidade de normatizar a relação entre produtos e consumidores. A norma ISO 14020 é direcionada a todos os programas de rotulagem ambiental que, segundo CEMPRE (2006), estão divididos em: • • • Rotulagem Tipo I – Programas de Selo Verde Rotulagem Tipo II – Auto-declarações ambientais Rotulagem Tipo III – Inclui avaliações de Ciclo de Vida A Rotulagem Tipo II - NBR ISO 14021“especifica os requisitos para auto-declarações ambientais, incluindo textos, símbolos e gráficos, no que se refere aos produtos. Ela descreve ainda, termos selecionados usados comumente em declarações ambientais e fornece qualificações para seu uso. Esta Norma também descreve uma metodologia de avaliação e verificação geral para auto-declarações ambientais e métodos específicos de avaliação e verificação para as declarações selecionadas nesta Norma” (CEMPRE, 2006). Conforme CEMPRE (2006), a tendência no Brasil é a utilização cada vez mais ampla das auto-declarações ambientais buscando oferecer informações precisas, relevantes e de fácil entendimento para o consumidor. Tratando-se das embalagens, as auto-declarações têm se destacado no cenário brasileiro, consolidando-se como a melhor interface com o consumidor. Figura 2: Símbolos mais comuns utilizados nas embalagens. Fonte: CEMPRE (2006). Sendo a embalagem o veículo de informações mais imediato entre consumidor e produto, segundo MEDEIROS (2002) a procedência de um produto pode ser aferida pelo consumidor através da verificação da embalagem do produto, a qual deverá apresentar de forma clara e explícita os dados correspondentes à legalidade, em todos os sentidos, do produto adquirido. Dessa forma, a embalagem sustentável deve conter em seu rótulo, de forma clara e verídica, informações selos ou símbolos padronizados- que favoreçam a identificação imediata dos atributos deste produto permitindo que o consumidor após aferir tais informações possa optar com consciência e segurança pelo produto. Entretanto, alguns fabricantes utilizam a rotulagem ambiental como forma de promoção inadequada de seus produtos, uma vez que expõem em suas embalagens informações, como “biodegradável” ou “ecologicamente correto”, feitas sem veracidade, enganando o consumidor que pensa estar comprando um produto “sustentável”. Um dado alarmante é citado pelo CEMPRE em uma pesquisa realizada pelo INMETRO – Insituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (1997). A pesquisa mostra que de 12 produtos que se autodeclaravam biodegradáveis, somente dois passaram no teste, isto é, todos os demais utilizavam inadequadamente o marketing ambiental para se promoverem, confundindo o consumidor. Os rótulos ambientais possuem caráter informativo, as atribuições ecológicas verídicas contidas nas embalagens somadas ao preço e a qualidade do produto, resultam em um produto diferenciado e mais competitivo. Além disso, KOHLRAUSCH (2003) apud BAENA (2001) destaca potenciais reflexos para adoção de um selo ambiental, no caso do Brasil, estes potenciais aplicam-se nas auto-declarações: • • • • • melhora a competitividade dos produtos em relação aos concorrentes; amplia o mercado para novos produtos desenvolvidos a partir do uso sustentável dos recursos naturais; possibilita a obtenção de preços diferenciados; promove a atração de investimentos em razão da melhor imagem; promove o desenvolvimento de tecnologias próprias e a conseqüente comercialização de serviços ambientais. Outro aspecto positivo é a preferência da sociedade por produtos sustentáveis, o que estimula as indústrias e os fabricantes a modificarem voluntariamente seus processos produtivos e promoverem o desenvolvimento de tecnologias próprias. Segundo pesquisa do Instituto AKATU, no Brasil, 46% da população lê com atenção os rótulos de produtos antes de decidir a compra e cerca de 70% dos consumidores brasileiros “estão dispostos a pagar a mais por um produto ou serviço de empresa que realiza projetos em favor do meio ambiente, ou que destina parte dos lucros a obras sociais, ou combate o trabalho infantil ou produz alimento que não contém agrotóxico”. Desta forma, o consumidor consciente reconhece e valoriza o papel determinante que possui no processo de consumo, isto é, utiliza seu poder aquisitivo em favor de desenvolvimento sustentável, através da escolha de produtos com características ambientais desejáveis (KOHLRAUSCH, 2003). 3.1 Selos verdes no Brasil Conforme CEMPRE (2006) no Brasil não há relatos de programas de selo verde que tenham ganhado relevância em cenários nacionais ou mesmo internacionais – exceto no caso do setor de papel e celulose e suas florestas de replantio com a adoção do selo FSC - Forest Stewardship Council. O selo FSC Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) (Figura 3) atesta que o insumo florestal utilizado num produto provém de uma floresta manejada de formas ecologicamente, socialmente e economicamente corretas, cumprimento todas as leis vigentes. Figura 3: Selo FSC. Fonte: RIPASA (2007). Destaca-se o caso do Brasil, que em 2005, segundo a revista VEJA (2005), possuía apenas 20% das 3.000 madeireiras respeitando as leis ambientais e trabalhistas do país, e dessas apenas quinze (0,5% do total) exerciam sua atividade com padrão de excelência, ou seja, possuíam o selo FSC. Entretanto, existe um programa de rotulagem ambiental que está em fase de implantação sob coordenação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Programa Brasileiro de Qualidade Ambiental. O Rótulo Qualidade ABNT Ambiental é simbolizado por um beija-flor, o colibri, (Figura4) e tem como objetivo, segundo ABNT informar ao consumidor a respeito de produtos que se encontram no mercado e que não agridam tanto o meio ambiente, assim como, incentivar os fabricantes a desenvolverem produtos dentro desta linha. O programa visa também, conforme CEMPRE (1997) harmonizar metodologias, evitando rivalidades entre produtos de diferentes estados e regiões do País. Este selo é baseado em critérios mínimos de desempenho ambiental que deverão ser melhorados continuamente através da conscientização de empresários e consumidores Figura 4: Selo Qualidade Ambiental –ABNT. Fonte: ABNT (2007). O selo qualidade ambiental segue os princípios da ISO 14000 e segundo KOHLRAUSCH (2003) ainda está voltado para o comércio internacional, porém o selo pode servir como estímulo ao consumidor interno, a fim de que ele comece a buscar produtos rotulados e, consequentemente pressionar os produtores a adotarem programas de rotulagem. 3. 2 Selos verdes como estratégia de marketing Os estrategistas de marketing atentos às crescentes preocupações ambientais, começaram a adotar posturas mais pró-ativas em relação a suas estratégias, levando em conta não apenas os aspectos econômicos, mas também os aspectos sociais e ambientais. A partir de então, um novo nicho surgiu para o mercado de produtos ambientalmente adequados em ascensão: o marketing ambiental (KOHLRAUSCH, 2003). Os rótulos ambientais, que tem por objetivo passar informações claras e concisas a respeito de um determinado produto que contenha o rótulo, são utilizados como ferramenta para o marketing ambiental e institucional. Teoricamente, o rótulo ambiental é uma maneira de sensibilizar e conscientizar o consumidor para as causas ambientais (KOHLRAUSCH, 2003) ao mesmo tempo em que faz marketing positivo sobre as atividades da empresa. Entretanto, alguns fabricantes utilizam a rotulagem ambiental como forma de promoção inadequada de seus produtos, uma vez que expõem em suas embalagens informações, como “biodegradável” ou “ecologicamente correto”, feitas sem veracidade, confundindo o consumidor que pensa estar comprando um produto “sustentável”. Um dado alarmante é citado pelo CEMPRE em uma pesquisa realizada pelo INMETRO – Insituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (1997). A pesquisa mostra que de 12 produtos que se autodeclaravam biodegradáveis, somente dois passaram no teste, isto é, todos os demais utilizavam inadequadamente o marketing ambiental para se promoverem, confundindo o consumidor. Os consumidores atuais são mais exigentes, buscam qualidade, melhor oferta e após consumo conferem se o produto correspondeu as suas expectativas. Entretanto, atualmente o fator ambiental, ou seja, as questões relacionadas ao impacto do produto no meio ambiente representadas na embalagem pela rotulagem ambiental, têm sido cada vez mais levadas em conta pelo consumidor na hora de efetuar a compra. 4. Conclusão Consumir de maneira consciente “é satisfazer as necessidades individuais, porém mantendo e conservando a preservação do meio ambiente e a promoção do desenvolvimento humano” (KOHLRAUSCH, 2003). O consumidor consciente é aquele que busca informações para que possa optar pela melhor escolha de um produto ou serviço, tendo conhecimento sobre as questões ambientais relacionadas à produção, ao uso e ao descarte do produto. A embalagem sustentável deve conter em seu rótulo, de forma clara e verídica, informações -selos ou símbolos padronizados- que favoreçam a identificação imediata dos atributos deste produto permitindo que o consumidor após aferir tais informações possa optar com consciência e segurança pelo produto. Teoricamente, o rótulo ambiental é uma maneira de sensibilizar e conscientizar o consumidor para as causas ambientais (KOHLRAUSCH, 2003) ao mesmo tempo em que faz marketing positivo sobre as atividades da empresa. 5. Bibliografia ABNT- Certificação.Disponível em: http://www.abnt.org.br/certif_body.htm Acesso em: jan/07 CEMPRE- Fichas Técnicas. Disponível em: http://www.cempre.org.br/ Acesso em: jan/ 2007 ________ Rotulagem ambiental e o consumidor no mercado brasileiro de embalagens. Acesso em: jan/2007 DATAMARK. Dados de embalagens - matérias por peso (2002). Disponível em: www.datamark.com.br/newdatamark Acesso em: março/2006. INSTITUTO AKATU. Descobrindo o consumidor consciente. Disponível em www.akatu.com.br Acesso em: março /2006. ________Selos de qualidade Disponível em: http://www.akatu.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=104 . Acesso em: jan/2007 MANZINI, E. ,VEZZOLI, C.O desenvolvimento de produtos sustentáveis.Os requisitos ambientais dos produtos industriais. Ed. Universidade de São Paulo. 2005. MMA-MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. www.mma.gov Acesso: agosto/2006. Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: MEDEIROS, W. G. Design e globalização: o design de embalagem para alimentos no contexto da globalização. 2002. MESTRINER, F. Design de Embalagem – Curso Básico. São Paulo: Makron Books, 2004. ONU- Organização das Nações Unidas. Disponível em:http://www.onu-brasil.org.br/ Acesso em:set/2006 KOHLRAUSCH, Aline Knopp. A Rotulagem Ambiental no Auxílio à Formação de Consumidores Conscientes. 2003. 153f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de produção, UFSC,Florianópolis. KOHLRAUSCH (2003) apud BAENA, J. C. Reflexos dos programas de rotulagem ambiental sobre as exportações brasileiras para a União Européia. 2000. Dissertação Mestrado em Economia - Instituto de Ciências Humanas. Universidade de Brasília, Brasília. RIPASA- PROCEL. Disponível em: http://www.eletrobras.com.br/elb/main.asp? View={66C9B99CED42-41D3-BA9A-FEF8592AAD40 Acesso em: jan/2007 VEJA- Menos de 1% tem o selo verde. Leonardo Coutinho 07-11-2005.