Samantha Cardoso Rebelo Portela - texto

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INTRODUÇÃO
A idéia de fazer uma pesquisa sobre a produção e o consumo do forró em Salvador, iniciase em 2001, impulsionada pelo trabalho como consultora de marketing na única casa de
shows de forró da cidade, o Coliseu. As atividades desempenhadas incluem planejamento e
execução das estratégias de comunicação, seleção de bandas, idealização da formatação
dos eventos, treinamento dos funcionários, busca de patrocínio e parceiros, entre outras.
Enquanto realizava atividades na referida casa de eventos, a empresa administradora do
Coliseu do Forró, crescia, expandia-se para outros setores no mercado soteropolitano,
relacionados com eventos de Axé Music e Pagode. Esta experiência profissional
apresentou uma nova realidade, extremamente rica, possibilitando visualizar a dimensão e
a complexidade do mercado de eventos juvenis.
O forró em si desperta maior atenção, por vários motivos. Primeiramente, pela necessidade
em entender o funcionamento e o público do Coliseu, a fim de fazê-lo prosperar,
concretizando, pois, forte relação entre o objeto e a pesquisadora. Outro, tão importante
quanto o primeiro, constitui-se a partir da percepção da capacidade do ritmo em agregar
indivíduos e solidificar relações interpessoais. Isto se deve a alta freqüência dos jovens nos
eventos no Coliseu, na capital baiana, onde a Axé Music reina, mesmo nos dois finais de
semana anteriores ao carnaval. Além disto, o amor com que os músicos soteropolitanos, na
maioria bem jovens, falam do trabalho e de ídolos, como Luiz Gonzaga, Jackson do
Pandeiro e Dominguinhos, solidificam a hipótese da força do forró em Salvador. Assim
como: a adoração do público em shows assistidos, a exemplo de Dominguinhos, em 2005 e
em 2008, no Coliseu; bem como shows de bandas soteropolitanas, como a Estakazero; e a
descoberta de termos derivantes do etmo forró, como forrozeiro, identificando quem canta,
toca ou aprecia.
A busca possibilita perceber que a suposta adoração do Forró Eletrônico e do Universitário
aumenta a admiração pelo Forró Pé-de-Serra. E mais, que a eclosão destes novos formatos
se inicia ainda por Luiz Gonzaga, em 1970, na incorporação de novos instrumentos ao
Forró. Quanto ao Forró de Luiz Gonzaga, adota-se a nomenclatura Pé-de-Serra, terminação
influenciada por artistas e empresários locais entrevistados. O termo ―Tradicional‖ e ainda
outros como ―Autêntico‖ são rejeitados, em função de questionamentos da pesquisadora,
acerca do que seja realmente tradicional ou autêntico nesta música.
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Os novos forrós propostos e estudados são o Universitário e o Eletrônico, por serem os
mais presentes em Salvador. Mas, não é ignorada a existência de outras variações, como o
vanerão, surgido em 1997 (CORDEIRO, 2002: 37). Esta variante é uma tentativa de unir o
vanerão gaúcho com o forró, cujo trabalho emblemático é da banda cearense, Brasas do
Forró. O estilo é ainda mais acelerado que o Forró Eletrônico, sendo citado pelas bandas,
apenas, como referência ao que elas denominaram ser ―mais para frente‖. Em conversas
informais com jovens do interior do estado e de sergipanos, descobre-se que o Forró
Eletrônico e o vanerão são muito mais presentes do que o Forró Universitário nestas
cidades. No entanto, como o foco da pesquisa são as bandas de Salvador, o vanerão é
apenas citado.
A busca por obras afins demonstra a dificuldade em definir, rotular e qualificar os novos
forrós, já que cada região do país adota uma postura diferente perante tais formatos.
Citando o músico Léo Macedo, vocalista da banda Estakazero:
Jovens do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais valorizam o forró pé-deserra, o mais tradicional. De Sergipe pra cima, o forró estilizado (comercial),
mais mecânico, é muito valorizado. Já na Bahia, a galera é dividida, ouve-se dos
dois estilos [...] (CARVALHO, 2008).
Além do que, em uma mesma região, a compreensão do que seja forró, também é difusa:
―A dubiedade do termo, cujo entendimento se modifica com o passar dos anos, e que pode
ter significados distintos, mesmo entre indivíduos contemporâneos, torna extremamente
difícil qualquer tentativa taxionômica‖ (CORDEIRO, 2002:108).
Assim, o trabalho almeja descrever os novos forrós, claramente predominantes na cidade, a
convivência destes com o Forró Pé-de-Serra, e não rotulações e definições estáticas do que
seria cada um. Os três estilos, assim como em Raimundo Cordeiro (2002) e Márcio
Madeira (2002), são, em determinados trechos da dissertação, apresentados por siglas com
suas iniciais: FU para Forró Universitário, FE para Forró Eletrônico e FPS para Forró Péde-Serra.
Além da pesquisa realizada em diversas obras sobre o assunto, vários dados e informações
são coletados no decorrer dos sete anos de atividade profissional. As entrevistas com os
músicos, dentre eles Dominguinhos, Alcymar Monteiro, Coroneto (Trio Nordestino) e
Cicicnho de Assis, são essenciais para entender o universo forrozeiro em Salvador, por
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forneceram dados valiosos, além do que, pelo fato de muitas terem sido realizadas em
locais e momentos de descontração, rendem comentários complementares, como escutar o
mestre Dominguinhos aconselhando Cicinho de Assis a seguir carreira solo. Apesar da
observação constante, fez-se necessário a obtenção de, ao menos, alguns dados
quantitativos a fim de mensurar o perfil do público do forró em Salvador. Para tanto, foram
aplicados 28 questionários com freqüentadores da única casa de forró na cidade, que tem o
gênero presente em todos os meses do ano, como atração principal.
No primeiro capítulo, é apresentado o surgimento da palavra forró e as acepções do termo
enquanto baile e ritmo. Percorre-se o caminho a partir do Baião para chegar ao Forró.
Ainda neste capítulo, são sucintamente descritos a vida e o trabalho de Luiz Gonzaga. Em
seguida, comenta-se a década de 1970, por ser fundamental para solidificação do ritmo.
No segundo capítulo, a atenção volta-se para os novos forrós: o eletrônico e o universitário,
as histórias e os posicionamentos da década de 1990 ao ano de 2008.
O terceiro capítulo foca a chegada dos novos formatos a Salvador, a caracterização dos
músicos e das bandas, assim como a evolução do Forró, a partir da década de 1990 na
cidade; a sua comercialização e também descrição das 16 bandas e artistas pesquisados na
cidade.
O quarto capítulo aborda a casa de forró Coliseu, buscando esmiuçar detalhes de
funcionamento a fim de explicar onde é que os jovens dançam forró na cidade, além de
apresentar dados de uma pequena amostra do público do Coliseu, obtida através de
questionários (em anexo).
Nas considerações finais e complementares, comentários, a partir das entrevistas, da
relação entre o Forró Eletrônico e a Axé-Music e por último, a descrição da temporada de
forró 2008, em Salvador.
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1
DA ORIGEM DO TERMO À DÉCADA DE 1970
1.1 O TERMO
Há duas vertentes que explicam a origem do forró. A primeira – adotada pela Enciclopédia
da Música Brasileira (1998: 301) – entende o termo como derivação do etmo africano,
forrobodó que, de acordo com o Dicionário Aurélio, significa ―arrasta-pé (1), 2. farra,
troça, 3. confusão, desordem, v. rolo (16). [F. red: forró.] (FERREIRA, 1999: 932)‖. Já a
segunda vertente defende forró como resultante de for all, expressão introduzida no Brasil
no início do século XX, época em que – devido à construção da ferrovia Great Western –
engenheiros britânicos instalados em Pernambuco promovem bailes ao som da sanfona e
da zabumba e afixam placas indicativas de ‗acesso para todos‘ (for all).
De acordo com Alberto Ikeda (1990: 10), há registro na imprensa pernambucana do uso de
forrobodó, pelo menos desde 1882. Na Enciclopédia da Música Brasileira (1998: 301)
encontra-se a idéia da origem pelo forrobodó, pois consta que o uso do termo data da
metade do século XIX, antecedente a for all. Ao que parece, a idéia do for all reflete a
forte influência européia sobre o modelo musical brasileiro até os anos 20 do século
passado: ―O grupo rural, os ‗coronéis‘ (como eram chamados os senhores das grandes
propriedades rurais, os latifúndios), moradores no campo ou nas grandes casas das cidades
– fruto do ciclo do café ou da borracha-, elegem a música européia como de sua
preferência (SUZIGAN, 1990: 16)‖.
1.2 UM BAILE
A primeira vertente etimológica do termo forró designa local apropriado para se dançar
(RAMALHO, 2000: 132). Sobre esta acepção, Alberto Ikeda (1990: 10) afirma: ―Da
mesma forma que o samba e o maxixe, o forró inicialmente designava a reunião dançante
(baile, festa) e o local da dança, passando posteriormente a caracterizar a dança e um
gênero musical específico‖.
Antecedente às migrações nordestinas da década de 1940, o uso do termo forró restringiase apenas ao Nordeste; com o deslocamento de nordestinos, passa, então, a disseminar-se
para o Centro-sul brasileiro. Segundo José Tinhorão (2005: 215):
11
Surgidos durante a segunda metade da década de 1950, quando a migração de
nordestinos para o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília tinham chegado ao seu
auge, na esteira da eufórica construção da nova capital e da correria imobiliária
paralela à explosão industrial na região Centro-Sul, os forrós constituíram um
curioso exemplo de acomodação de interesses e expectativas culturais no
âmbito das camadas mais humildes daquelas três cidades.
Os nordestinos oriundos da zona rural, migrantes em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília,
em sua maioria, trabalhadores da construção civil, juntamente com ―[...] tiradores de coco
da zona litorânea [...], com negros vindos da área do batuque rural [...]‖, goianos violeiros
e de mineiros com diferentes características culturais, são os primeiros responsáveis pela
urbanização de ritmos nordestinos e também pelo início dos forrós no sudeste
(TINHORÃO, 2005: 218). Com o aumento da população de migrantes nestas cidades, fazse necessário a criação de espaços que comportem este tipo de baile. Assim, em diversas
letras de músicas das décadas de 1940 e 1950 é possível identificar o uso do termo forró
como designativo de baile, festa de entretenimento (IKEDA, 1990: 11):
Forró em Limoeiro1
Edgar Ferreira.
Intérprete: Jackson do Pandeiro
Copacabana 5.155, outubro de 1953
Eu fui pra Limoeiro
E gostei do forró de lá.
Eu vi um caboclo brejeiro
Tocando a sanfona, entrei no fuá.
No meio do forró houve um tereré
Disse o Mano Zé, agüenta o pagode
Todo mundo pode, gritou o Teixeira
Quem não tem peixeira briga no pé.
Foi quando eu vi a Dona Zezé
A mulher que é, diz que topa parada
De saia amarrada fazer cocó
E dizer: eu brigo com cabra canalha
Puxou da navalha e entrou no forró.
Eu que sou do morro, não choro, não corro,
Não peço socorro quando há chuá
Gosto de sambar na ponta da faca
Sou nego de raça e não quero apanhar.
1
Letra extraída de: Raimundo Cordeiro (2002: 11).
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O primeiro local caracterizado como um forró nordestino, no Sudeste, Forró do Xavier –,
data da segunda metade da década de 1950 e ocorre em Botafogo, no Rio de Janeiro. Em
São Paulo, por sua vez, a pioneira é a casa do sanfoneiro Pedro Sertanejo, criada em 1962
(CORDEIRO, 2002: 29). A partir daí, no eixo Rio-São Paulo, multiplicam-se os forrós. Em
1974, apenas na capital paulista, existem mais de cinqüenta casas específicas
(TINHORÃO, 2005: 219 - 221). Em 1980, o sucesso dos forrós alcança a classe média
como exótica novidade e opção de lazer (Ibid.: 222).
1.3 O RITMO: DO BAIÃO AO FORRÓ
A palavra forró é utilizada com acepção musical, aproximadamente entre o final da década
de 1960 e o início da seguinte. De acordo com o músico José Domingos de Moraes – o
Dominguinhos2 – naquele período, Luiz Gonzaga, principal disseminador do forró, altera a
batida da zabumba, produzindo um ritmo mais suingado do que o Baião. Além das
alterações no âmbito do texto musical, Gonzagão introduz o termo forró em suas letras.
Segundo Alberto Ikeda (1990: 11):
O forró como gênero musical somente começa a aparecer nos discos pela
década de 60, sendo que na década seguinte aparece em grande número,
naturalmente em função da consagração do termo a nível nacional a partir
daquela época, via profusão dos forrós nas grandes cidades do Sudeste.
1.3.1 BAIÃO
Sílvio Romero apud Maria Giffoni (1964: 66) afirma que o Baião é resultante da mistura
do ―[...] Maracatu africano, das danças selvagens e do Fado Português‖. Para José
Tinhorão (1991: 219), o ritmo origina-se a partir de formas diferenciadas de tocar lundus
na zona rural nordestina.
O Baião possui duas fases. A primeira ocorre de 1842 a 1946, sendo presente da Bahia ao
Maranhão (GIFFONI, 1964: 65). A segunda, denominada de ―Baião Moderno‖, inicia-se a
partir da parceria Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. De acordo com José Tinhorão
2
José Domingos de Moraes nasceu em Garanhuns, Pernambuco, em 1941.
(http://www.dominguinhos.art.br/release.php) acesso em 27/02/2008. Dominguinhos é considerado o
principal sucessor de Luiz Gonzaga.
Entrevista realizada no dia 08 de março de 2008, na casa de shows Coliseu, devidamente apresentada no
capítulo IV.
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(1991: 219), por volta de 1945, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga transformam o Baião,
até então um gênero rural, em música popular urbana:
Embora durante um século ou mais o Baião existisse no Nordeste, foram estas
duas figuras que o fizeram atravessar fronteiras, atingindo a Europa, sendo
exibido nos Estados Unidos e invadindo o Brasil. Nas boates paulistanas em
1950, tocava-se à proporção de 10 baiões para qualquer outro gênero musical
(GIFFONI, 1964: 66).
Esta segunda fase, cujo marco é a composição Baião, inicia-se em outubro de 1946: ―A
composição [Baião] de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira lançou um novo ritmo na
praça, que logo viraria mania nacional, dos bailes das periferias aos salões mais grã-finos
(GIFFONI, 1964: 82)‖. O conjunto Quatro Ases e um Coringa realiza a primeira gravação
da música Baião.
Na década de 1940 ocorrem 19 gravações do ritmo. As letras trazem, com freqüência,
representações da natureza, como ―[...] beija-flor, bem-te-vi, boi, burrinho, sapo,
canarinho, rouxinol e sabiá [...]‖, além de sentimentos como a saudade ―[...] o amor, a
vingança, a despedida, o abandono, a fé, o sofrimento, o sonho, o lamento, a alegria e a
felicidade (VIEIRA, 2000: 44-46).
O sucesso obtido por Luiz Gonzaga resulta não apenas da qualidade musical, este elemento
se coaduna à conjuntura existente quando surge o Baião. Durval Albuquerque (2003: 157)
acredita que isto se deva a dois fatores principais: ―[...] por um lado, de um código de gosto
que valorizava as músicas dançantes, as de natureza lúdica e, por outro, atendia ao
consumo crescente de signos nordestinos e regionais como signos da nacionalidade‖. O
autor também credita o sucesso do Baião às migrações nordestinas para o Rio de Janeiro,
São Paulo e Brasília:
Mas seu maior sucesso se dá entre os migrantes nordestinos, pois se conecta
com a saudade do lugar de origem, com o medo da cidade grande e, ao mesmo
tempo, com o orgulho de estar enfrentando-a, com seus valores de origem rural
como a religiosidade e a importância dos laços familiares.
O Baião teve 1.057 gravações, no período de 1950 a 1955 (VIEIRA, 2000, 44) e expandese para o circuito internacional. José Tinhorão (1991: 223) atribui tal expansão, sobretudo,
14
à falta de complexidade para execução. Em comparação ao samba, isto simplifica a
atividade de músicos estrangeiros3.
1.3.2 O FORRÓ
O Forró é um desdobramento do Baião. Márcio Madeira (2002: 3) e diversos músicos
entrevistados, como Cicinho de Assis4 e Dominguinhos, afirmam ser este menos acelerado
que o primeiro. Raimundo Cordeiro (2002: 14) sinaliza: ―Entre os músicos, forró pode
também significar um padrão rítmico específico, com mais ‗molho‘, usado principalmente
pelos zambubeiros, parece traduzir a maior liberdade rítmica presente no forró em relação
ao Baião‖. A zabumba é o principal instrumento dos músicos forrozeiros, sendo
responsável pela batida nas canções; no Baião, esta responsabilidade recai sobre o
acordeon.
O Baião entra em declínio em 1957 (CORDEIRO, 2002: 25), devido às influências
musicais estrangeiras, da Bossa Nova, da Jovem Guarda e de outros ritmos introduzidos no
Brasil. Sulamita Vieira (2000: 44-45) complementa:
Se, ao longo da segunda metade da década de 40, a música do Nordeste,
personificada por Gonzaga e seus parceiros, conseguira se estabelecer no
cenário fonográfico nacional, no final da década de 50, ela entraria em declínio,
devido, em parte, ao frenesi causado na juventude brasileira pelo advento do
rock in roll (CORDEIRO, 2002: 26).
Após o declínio do Baião, Luiz Gonzaga cria o Forró na tentativa de permanecer em
evidência.. De acordo com Márcio Madeira (2002: 22): ―O que Luiz Gonzaga fez, apenas,
3
Luiz Gonzaga, em entrevista fornecida ao jornal Pasquim, de número 111, também afirma que o Baião é um
ritmo fácil, assim o considera o ritmo brasileiro de maior destaque internacional.
(―O Pasquim foi o primeiro e mais influente jornal de oposição à ditadura militar no Brasil.[...] De uma
tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada, o semanário atingiu a marca de mais
de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 70, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado
editorial brasileiro‖). Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Pasquim, acesso em 19 de abr de 2008.
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De acordo com o release oficial do músico: ―Hoje em dia, Cicinho de Assis, como é conhecido no cenário
musical, adquiriu uma bagagem profissional muito extensa e respeitada. No seu currículo constam grandes
nomes da música brasileira com quem já trabalhou, dividindo palco e gravando discos, tais como: Milton
Nascimento, Daniela Mercury, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Arnaldo Antunes, Elba Ramalho, Jorge
Mautner, Oswaldinho do Acordeom, Leonardo, Dominguinhos, seu padrinho, o Ministro da Cultura, Gilberto
Gil, com quem participou da gravação dos CDs ―Gilberto Gil e as Canções de ‖Eu, Tu, Eles― (2000),
―Esperando na Janela‖ (2000), ―Gil e Milton‖ (2000), ―São João Vivo‖ (2001), ―Kaya N‘Gan Daya‖ (2002),
―Kaya N‘Gan Daya – Ao Vivo‖ (2003)‖.
A entrevista com Cicinho de Assis foi realizada no dia 08 de março, no restaurante Grande Sertão, em
Salvador.
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mas, muito inteligentemente, foi propor à mídia uma nova música, ou um novo nome, na
tentativa de manter-se em evidência na época (já na segunda metade do século passado).
Assim, criou um ritmo novo, o forró, derivado do Baião‖.
O Forró engloba o Baião e ―em nossos dias, o termo abrange a versão atualizada dos vários
estilos de danças do sertão nordestino (RAMALHO, 2000: 132)‖. Alberto Ikeda (1990: 10)
afirma:
[...] no começo do século (passado) falava-se nas ―canções nortistas‖ referindose aos vários gêneros musicais nordestinos; posteriormente tudo passou a ser
―Baião‖, na fase áurea desse gênero; chegando-se aos últimos vinte anos onde
tudo era ―forró‖, seja na realidade xote, Baião, xaxado, coco, embolada e o
próprio forró, naturalmente.
Apesar da recorrente generalização, musicalmente não se pode afirmar que o Forró
substitui o Baião. Ambos continuam sendo gêneros musicais diferenciados. Sobre a
aproximação destes gêneros e utilização do nome forró em relação a baião, Márcio
Madeira (2002: 29) afirma:
O que se deve entender é que não se pretende substituir o baião pelo forró, nem
poderia. Ou afirmar, que baião é forró e vice-versa. Mas deve-se ter em mente
que tanto os instrumentos, como as letras das músicas, o contexto em que era
pensada e desenvolvida essa música por Luiz Gonzaga, entre outras coisas, era
muito similar. [...] Na verdade a expressão Forró Pé-de-Serra parece dar nome
não apenas a um estilo de forró, mas uma maneira de tocar Baião, xote, xaxado,
marcha.
1.4 O PRINCIPAL DISSEMINADOR DO FORRÓ PÉ-DE-SERRA (FPS)
O pernambucano Luiz Gonzaga, principal disseminador do forró, nasce em Exu, aos 13 de
dezembro de 1912. Com apenas treze anos, Luiz Gonzaga já anima festas em companhia
de seu pai, Januário, ainda em Exu. Foi um adolescente apaixonado por Lampião, o
Capitão Virgulino Ferreira (1898 – 1938), quem lhe inspira as indumentárias com as quais
se apresenta anos depois em público.
Chega ao Rio de Janeiro em maio de 1939, egresso do serviço militar. Suas primeiras
tentativas musicais na cidade são em bares da região do Mangue, quando ainda não
cantava gêneros relacionados com o Nordeste (ECHEVERRIA 2006: 23, 28, 40, 46).
16
A primeira apresentação em rádios ocorre em 1940, num programa de calouros – atrações
muito populares à época – na Rádio Tupi. Neste, como numa série deles, não obtém êxito
tocando polcas, valsas e outros sucessos do período. Assim, muda de trajetória artística ao
ser desafiado e estimulado por estudantes universitários a tocar algo nordestino: Luiz
Gonzaga aceita o desafio e obtém grande sucesso. Já com esta característica, apresenta-se
com a canção Vira e Mexe no programa radiofônico de Ari Barroso, atingindo nota
máxima (ECHEVERRIA 2006: 46 - 50).
Aos 05 de março de 1941, registra a primeira participação em disco como sanfoneiro, na
faixa A viagem de Ginésio, pela RCA Victor (Ibid.: 50). No mesmo ano, consegue o
primeiro trabalho efetivo como músico, na Samba Dancing (casa de shows). Em 1945,
começa a gravar como vocalista já é seu 25º disco (Ibid.: 56).
Diversos artistas fazem sucesso com o forró disseminado por Gonzagão. Entre eles:
Jackson do Pandeiro, Carmélia Alves, Marinês, Abdias, Anastácia, Dominguinhos,
Osvaldinho do Acordeon, Pedro Sertanejo, Clemilda, Cézar do Acordeon, Trio Nordestino,
Trio Juazeiro, Os Três do Nordeste, Zé Calixto e Sivuca (SILVA, 2003: 90). Estes artistas
têm em comum, em especial, o fato de que: ―Suas músicas trazem linguagem tipicamente
rural e enfoque a um universo saudosista, nostálgico [...] refaz o ambiente social e familiar
deixado pelo migrante nordestino que veio tentar uma nova vida nas terras do Sul e do
Sudeste (SILVA, 2003: 90-91)‖. Assim, além das mazelas sertanejas há, nas canções
interpretadas, o cultivo do saudosismo pela terra, por amores, além da participação em
eventos locais, dentre os quais se destaca as festas juninas. Segundo Expedito Silva (2003:
91):
As canções desse gênero forró, que chamamos de tradicional, não retratam
apenas a seca e o sofrimento do povo do Nordeste, mas também falam de coisas
positivas relacionadas ao povo nordestino, como a alegria, as festas e a
criatividade artística e cultural. A linguagem rítmica expressa o corpo e a alma
do artista que cresceu ouvindo os gemidos dos aboios, o improviso dos
repentistas, sem esquecer a sensualidade, o gingado e a coreografia que a
música popular nordestina tem.
O forró, disseminado por Luiz Gonzaga e seus seguidores, torna-se conhecido como pé-deserra, por sua vez, considerado original, portanto, representativo de uma tradição. Márcio
Madeira (2002: 28) aventa a possibilidade da origem do termo – pé-de-serra – dever-se ao
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xote composto por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, denominado ―No Meu Pé-deserra‖, em 1946. Sobre a utilização do termo, Madeira complementa:
A expressão Forró Pé-de-Serra representa atualmente, além de tudo, status. Para
o grupo musical que se denomina adepto dessa ―linha‖, é como se se
apresentasse como um seguidor do trabalho de Luiz Gonzaga, e que respeita a
cultura do nordeste e do seu país, ―rejeita‖ portanto, as influências
internacionais e adere ao que trataremos mais adiante de cultura nacional
[...] Mesmo sendo resultado de fusões com a música do meio urbano, o Forró
Pé-de-Serra (FPS) torna-se sinônimo de música tradicional e genuína do meio
rural nordestino [...] (MADEIRA: 2002)
O Forró Pé-de-Serra, a base para novos estilos de forró, no que tange à inserção na
indústria fonográfica: ―[...] já se tratava de uma reformulação que pôs em novos padrões,
principalmente para se adequar à indústria fonográfica, suas fontes originárias de criação,
ou seja, a música ouvida nas festas do sertão, para as quais não havia nem autoria, nem
letra fixada (ALFONSI, 2007: 35)‖.
Para Adriana Fernandes (2004: 2) a inserção da música de Gonzaga na indústria cultural,
inicia-se ainda com o Baião: ―Influenciado pelos padrões estéticos estabelecidos e
amplamente aceitos na música da época através da mídia, Gonzaga irá ‗criar‘ o Baião,
como uma novidade no cenário nacional em termos de música dançante‖. Ressalta ainda:
―Hoje entre nós, podemos perceber que Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro fizeram um
tipo de música na sua época que embora propagada e reverenciada como ―de raiz‖ já
estava ligada à indústria cultural (Ibid.:5)‖.
Apesar destas ressalvas, diversos autores, pesquisadores e artistas nomeiam o Forró Pé-deSerra promovido por Luiz Gonzaga, como ―original‖ ou ―tradicional‖.
Os instrumentos – caracterizadores do FPS e responsáveis pela performance musical de
Luiz Gonzaga e seus seguidores – são: sanfona, zabumba e triângulo. Em função destes
três instrumentos, o forró, inicialmente, é tocado por um trio de músicos. Assim se origina
a expressão trio de forró, que remete aos primórdios do gênero musical: ―O trio de forró
parece atender às necessidades de uma época, na tentativa de satisfazer, como foi dito, as
demandas sociais (MADEIRA, 2002: 60)‖. Cicinho de Assis e Dominguinhos5 afirmam
que sem sanfona, zabumba e triângulo não há forró.
5
Entrevistas realizadas com os artistas no dia 08 de março de 2008, na casa de shows Coliseu.
18
Alguns outros instrumentos – como flauta – podem ser incorporados ao trio (CORDEIRO,
2002: 56). No decorrer da carreira, o próprio Luiz Gonzaga incorpora novos instrumentos
às apresentações em palcos, modernizando o Forró. No entanto, mesmo já sendo gravado
em estúdio com outros instrumentos, o forró continua apresentado nos palcos em trio. A
evolução do gênero de acordo com as novidades rítmicas não é restrita ao Forró, visto que
também ocorre com o samba e outros ritmos. Em Augusto Campos (1968: 53) encontra-se
a seguinte declaração de Caetano Veloso6:
Só a retomada da linha evolutiva pode nos dar uma organicidade para selecionar
e ter um julgamento de criação. Dizer que samba só se faz com frigideira,
tamborim e um violão sem sétimas e nonas não resolve o problema. Paulinho da
Viola me falou há alguns dias da sua necessidade de incluir contrabaixo e
bateria em seus discos. Tenho certeza de que, se puder levar essa necessidade de
fato, ele terá contrabaixo e terá samba, assim como João Gilberto tem
contrabaixo, violino, trompa, sétimas, nonas e tem samba. Aliás João Gilberto
para mim é exatamente o momento em que isto aconteceu: a informação da
modernidade musical utilizada na recriação, na renovação, no dar-um-passo-àfrente, da música popular brasileira [...].
Márcio Madeira (2002: 41) menciona que incorporações ao Forró ocorrem: ―[...] a partir do
show [de Luiz Gonzaga] feito no Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, em 1972, influenciado
pelos líderes do movimento Tropicália. Nessa retomada o Forró sofre modificações,
principalmente na instrumentação utilizada nas apresentações ao vivo‖. De acordo com o
autor, desde então, passam a ser utilizados instrumentos elétricos, como guitarra, baixo e
teclado, por Luiz Gonzaga. Mas, zabumba, sanfona e triângulo continuam em
preponderante destaque.
Luiz Gonzaga falece em 02 de agosto de 1989, ―[...] em conseqüência de um Câncer da
próstata, osteoporose avançada e problemas respiratórios‖ (ECHEVERRIA, 2006: 19).
Apesar de sua morte, o forró permanece vivo. Não apenas as canções de Gonzaga
continuam sendo exaustivamente tocadas pelo Brasil, como nasceram novos e brilhantes
seguidores.
Para o músico Cicinho de Assis, a banda de Forró Pé-de-Serra atual conta
fundamentalmente com: zabumba, triângulo, sanfona, baixo, guitarra, bateria e pandeiro.
Cicinho afirma que as incorporações ocorrem para atender exigências do público atual,
acostumado com modernas tecnologias instrumentais. Em entrevista sobre as necessidades
6
R.C.B., nº 7 – maio de 66.
19
atuais do gênero, Cicinho afirma: ―Porque chega num palco pra tocar, por exemplo, tem
uma banda Calcinha Preta, um Magníficos, sei lá, entra com aquele som grande, pesado,
você entra com a zabumba, o triângulo e a sanfona, seu som vai ficar miudinho‖.
Outro artista entrevistado7, Coroneto, integrante do cinqüentenário grupo Trio Nordestino8
(atualmente o Trio Nordestino é composto por descentes dos primeiros formadores do
conjunto: Luiz Mário, Beto Sousa e Coroneto) afirmou que o grupo se apresenta nos dias
atuais com sanfona, triângulo, contrabaixo, bateria, guitarra, percussão, e duas backing
vocals. O Trio compartilha da mesma opinião exposta por Cicinho de Assis sobre a
inclusão de novos instrumentos nas suas apresentações:
Porque você vai fazer um show, aí tem Calcinha Preta, por exemplo, com um
milhão de instrumentos. Aí você vai tocar só os três. Pô! Você tocar para poucas
pessoas é uma coisa, para milhares é outra. Tudo na vida evolui. O carro de
trinta anos atrás não tem nada a ver com o carro de hoje em dia.
O forró é remodelado; não se estagna e continua fazendo sucesso e garantindo uma faixa
do público, a cada geração, a partir das reformulações que incorpora ao longo da história.
Também como o samba, influencia músicos notórios, a exemplo de Chico Sciense e Raul
Seixas. O gênero tem intenso prestígio no universo da música brasileira. Portanto, alguns
grupos se apoderarem do termo como símbolo de qualidade, de brasilidade, mesmo não
possuindo consideráveis semelhanças com o original, como o caso de novas músicas e de
novas bandas de Forró Eletrônico.
O Forró Pé-de-Serra evolui nos passos da música brasileira. Atualmente é reconhecido por
apresentar como integrante preferencial o vocalista, que, muitas vezes, toca sanfona,
acompanhado por mais dois artistas em destaque: um com triângulo e outro com zabumba.
Este trio forma a linha de frente da banda. Os músicos com outros instrumentos ficam
atrás, em segundo plano. É composto predominantemente por homens; nestas formações a
presença feminina é basante incomum. O figurino é composto por elementos que
7
Entrevista realizada no dia 10 de maio de 2008, no restaurante soteropolitano Grande Sertão.
O Trio Nordestino formado, originalmente, pelos baianos Evaldo dos Santos (Coroné), Lindolfo Mendes
arbosa (Lindú) e José Pedro Cerqueira (Cobrinha), em 1958, tendo participado de trabalhos de Luiz Gonzaga,
Elba Ramalho, Dominguinhos e Alceu Valença, entre outros. O Trio chega ao Rio de Janeiro, onde consolida
carreira, em 1962. No início de 1970, surge o primeiro sucesso: Procurando Tú que ―ficou 90 dias nas
paradas de sucesso vendendo mais de 1.000.000 de discos, ficando atrás apenas do Rei Roberto Carlos‖ 8.
Em função do sucesso obtido pelo Trio, diversos outros grupos adotam a nomenclatura Trio, como Trio Pé
Quente, Trio Araripe e Trio Forró Lunar. Disponível em www.trionordestino.com.br
8
20
caricaturam o imaginário sobre o nordestino, como sandálias de couro e blusas
quadriculadas.
Umas das canções mais famosas de Luiz Gonzaga, Asa Branca (assinada por Luiz
Gonzaga e Humberto Teixeira), de 1947, ―[...] adquiriu status de canção nacional pela
popularidade adquirida através das apresentações de Luiz Gonzaga, e também em razão
das contínuas reinterpretações, por novas gerações de artistas (RAMALHO, 2000: 73)‖.
No texto da canção é possível identificar temáticas comuns ao Forró Pé-de-Serra: a seca, a
alegria da festa junina, o uso de um linguajar próprio do homem interiorano. Tais temas
são cantados por novos grupos forrozeiros, apesar de muitos estarem distantes da realidade
descrita:
Asa Branca
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Intérprete: Luiz Gonzaga
RCA Victor - 1947
Quando oiei a terra ardendo
Qua fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, uai
Por que tamanha judiação.
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão.
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração.
Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão.
Quando o verde dos teus oio
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração.
Alguns artistas que podem ser classificados atualmente como forrozeiros pé-de-serra de
sucesso nacional são: Flávio José, Alcymar Monteiro, Zelito Miranda, Targino Godim e
21
Dominguinhos. Este, juntamente com o Trio Nordestino, são os artistas mais antigos do
Forró Pé-de-Serra e permanecem nas paradas de sucesso, fazendo turnês nacionais e
internacionais. Segue a letra da canção ―Lhe esperando na janela‖, integrante no filme ―Eu,
Tu, Eles‖9, que também contribuiu para destacar o Forró Pé-de-Serra já em 2000.
Esperando Na Janela
Composição: Targino Gondim, Manuca,
Raimundinho Do Acordeon
Intérprete: Targino Gondim
Ainda me lembro do seu caminhar
Seu jeito de olhar eu me lembro bem
Fico querendo sentir o seu cheiro
É da daquele jeito que ela tem
O tempo todo eu fico feito tonto
Sempre procurando mais ela não vem
E esse aperto no fundo do peito
Desses que o sujeito não pode agüentar
E esse aperto aumenta o meu desejo
E eu nao vejo a hora de poder lhe falar
Por isso eu vou na casa dela
Falar do meu amor pra ela vai
Tá me esperando na janela
Não sei se vou me segurar
Por isso eu vou na casa dela
Falar do meu amor pra ela vai
Tá me esperando na janela
Não sei se vou me segurar
1.4
O FORRÓ E A DÉCADA DE 1970
O forró sofre as primeiras alterações, incorporando novos instrumentos, a partir de 1972.
Regina Echeverria (2006: 87) diz que Gilberto Gil e Caetano Veloso ―ressuscitaram‖ o
forró no tropicalismo, movimento musical surgido na cidade de São Paulo, no fim da
década de 1960, ―[...] por iniciativa de compositores baianos herdeiros da repercussão da
bossa nova carioca nos meios universitários de Salvador [...] (TINHORÃO, 1991: 248)‖.
9
Direção de Andrucha Waddington, roteiro de Elena Soarez. Música de Gilberto Gil.
22
Tais acontecimentos permitem a alguns pesquisadores e artistas datarem a década de 1970
como o marco do Forró Universitário. No entanto, o estilo ganha repercussão apenas duas
décadas depois, em 1990.
Sobre esta periodização, Elba Braga Ramalho (2004), por exemplo, afirma: ―Citem-se, por
exemplo, na década de 1970, a vertente universitária com Alceu Valença, Gonzaguinha,
Elba Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, entre outros que, impregnados de
matrizes oriundas do forró tradicional, introduzem padrões da música urbana‖. O músico
Alcymar Monteiro10 também considera que no período acontece a primeira versão
universitária, conferindo a Gilberto Gil grande responsabilidade por esta renovação do
forró: ―Gilberto Gil já deu um ar de tropicália no forró, de modernidade na interpretação,
usou aquelas gírias, que creio eu que ele levou dos terreiros daqui de candomblé. Coisas
dos negros, das lavadeiras‖. O pesquisador Expedito Silva (2003: 103) apresenta a mesma
opinião: ―O Forró Universitário surgiu a partir de 1975 (primeira fase) [...]‖.
Já o artista Dominguinhos11, considerado o sucessor de Luiz Gonzaga, não concorda com a
nomenclatura ―universitário‖ para o forró de 1970: ―O público do Gil e da Gal, naquela
época de Caetano, que eram universitários, mas era o mesmo forró de antes. Não tinha
forró. Ninguém ligava pra isso não, a música nordestina era muito sofrida. Era Gonzaga na
proa e a gente seguindo ele, os trios‖. De acordo com esta segunda proposta, os músicos
que tocam forró na capital baiana também não concordam com o fato, a exemplo dos
artistas Verlando Gomes (banda Flor Serena) e Léo Macêdo (banda Estakazero).
Todavia, haja vista as discordâncias, inconteste é que a década de 1970 marca o
renascimento do prestígio conferido à música de Luiz Gonzaga. Sobre o período, Alberto
Ikeda (1990: 10) considera:
Ao mesmo tempo, foi moda a presença da música de forró (até como reação à
invasão das discothèques) nos ambientes mais intelectualizados, como se viu
nas promoções de noites de forró até nos centros das universidades. Também
programas de TV surgiram como ―Sua Majestade o Forró‖ na TV Rio (Rio de
Janeiro, 1975) ou os programas levados ao ar pela TV Gazeta de S. Paulo.
Expedito Silva traz (2003: 96) o seguinte sobre a época:
10
11
Entrevista realizada no dia 16 de março de 2007, na casa de shows Coliseu.
Entrevista realizada com o artista no dia 08 de março de 2008, na casa de shows Coliseu.
23
Além desses artistas [Jackson do Pandeiro (que cantava coco e rojão),
Ludujero, Claudete Soares (“Princesinha do Baião”), Jair Alves (“Barão do
Baião”) e Zé Gonzaga (Príncipe do Baião)], que ajudaram Luiz Gonzaga a
reerguer o Baião em ritmo de forró, Gilberto Gil e Gal Costa – que eram do
Movimento Tropicalista, e faziam grande sucesso naquela época – foram
responsáveis pela volta de Luiz Gonzaga, convidando-o para participar de
shows e programas de rádio e televisão. Ao receber o apoio desses artistas,
Gonzaga começou a adaptar o Baião, foi mudando a batida do zabumba e
utilizando uma linguagem e um ritmo que passou a se chamar forró.
24
CAPÍTULO II
2 OS NOVOS FORRÓS
2.1 FORRÓ ELETRÔNICO – FE
O Forró Eletrônico materializa a extrema modernização e remodelagem do ritmo para as
novas exigências do mercado fonográfico. O formato une o Forró Pé-de-Serra com
modernos recursos tecnológicos disponíveis e sofre influência, sobremodo, da Axé-music e
da Lambada. Elba Braga Ramalho (2004) afirma que o Forró Eletrônico (FE) apresenta
alterações instrumentais inovadoras, incluindo sintetizadores e características eletrônicas,
além da: ―[...] inclusão de dançarinos que, sob um ritmo mais acelerado, desenvolvem, de
modo eletrizante, uma rica coreografia revestida de muita sensualidade‖. De acordo com
Daniela Alfonsi (2007: 106), no Forró Eletrônico, o trio – sanfona, triângulo e zabumba –
pode ser substituído pelo teclado. Outros instrumentos utilizados pelo FE, segundo a autora
são: ―[...] baixo e guitarra elétricos, bateria, percussão e metais, tais como o saxofone e o
trompete‖.
Ana Cláudia Peres apud Raimundo Cordeiro (2002: 94) traz:
O velho forró dos tempos do Rei do Baião ganha cara nova e troca os três moços
de chapéu com camisa estampada por bandas; a zabumba, pela bateria; o
triângulo, pela guitarra. Para alguns, é o fim do forró, já que a originalidade –
característica prima – perde-se com a fusão dos ritmos. Para outros, o forró
precisa de uma versão moderna. Afinal, até Luiz Gonzaga passou por isso quando
abandonou o tradicional fole de oito baixos de seu pai pela sanfona de 120.
Alguns artistas não consideram FE como forró. Dominguinhos, por exemplo, acredita que as
bandas somente adotaram esta designação devido ao uso da sanfona nos shows. Ele afirma
que12: ―O [forró] eletrônico é um tipo de música que eles não acharam um nome, que não é
Forró, não é Baião, é uma coisa que eles inventaram, e pode cantar como quiser, fica meio
sambado, um bocado de coisa‖.
No jornal soteropolitano A Tarde, do dia 11 de abril de 2008, encontra-se opinião similar
sobre o FE, proferida pelo forrozeiro baiano Adelmário Coelho:
Tem bandas que fazem um bom trabalho, com boa qualidade, mas não
representam a bandeira cultural do forró, é um outro formato, uma outra
linguagem. Eu não vejo como forró, quando se fala da cultura tradicional, é um
12
Entrevista realizada com o artista no dia 08 de março de 2008, na casa de shows Coliseu.
25
segmento que se ancorou no forró, mas não tem nada a ver com a verdadeira
cultura
2.1.1 A AXÉ-MUSIC E O FORRÓ
Segundo Goli Guerreiro (2000: 133), a Axé-music nasce na Bahia na década de 1980. O
estilo une ―[...] recursos do equipamento eletrônico dos estúdios de gravação‖, como o
sampler, ―[...] um computador que armazena e reproduz sons por processo digital, por meio
de tambores eletrônicos denominados pads‖, como também instrumentos típicos daquela
década, a exemplo da guitarra, do baixo e do teclado, à base rítmica do samba-reggae, ―[...]
produzindo uma espécie de samba-reggae pop/eletrônico‖, através da fusão do ritmo
percussivo dos blocos afros com a música pop carnavalesca baiana. Esta fusão aproxima os
jovens das classes média e alta da música dos blocos afros, antes quase ignorados por estes
consumidores.
É sob a inspiração da Axé-music que surge o Forró Eletrônico na década de 1990, em
Fortaleza. O ritmo une um estilo musical antigo, o Forró Pé-de-Serra, a instrumentos
modernos, além de incorporar diversos recursos eletrônicos.
A Axé-music influencia o Forró Eletrônico não apenas na incorporação de novos recursos e
instrumentos eletrônicos, como também no formato dos shows, com palcos recheados por
dançarinas com vestimentas sensuais e danças com coreografias ricas e extravagantes.
Assim como a Axé-music, o FE resulta na aproximação de jovens das classes médias e altas
com estilos mais antigos e outrora por eles rejeitados. Desse modo, a juventude,
consumidora significativa de produtos musicais, tem com o forró e o afro através destas
novas misturas eletrônicas. Além disto, a Axé-music e o Forró Eletrônico fazem com que
produções regionalizadas se expandam para os mercados nacionais e internacionais. No caso
da Axé-music, o fenômeno influencia a procura pelos ensaios de blocos afros em Salvador,
como Olodum e Ara Ketu. Já o Forró Eletrônico proporciona aos jovens o contato mais
próximo com músicas de Luiz Gonzaga e seus seguidores, como Trio Nordestino e
Dominguinhos.
26
Apesar de não classificar o FE como Forró, Dominguinhos considera que o estilo contribui
com a divulgação do Forró Pé-de-Serra: ―Mas, é muito benéfico, eu acho, que eles fazem
uma propaganda muito grande e isso ajuda a gente também‖.
As críticas recebidas pelos dois estilos assemelham-se: ―O sucesso comercial da axé-music
causou grande polêmica e o estilo foi inúmeras vezes acusado de ser uma arte menor, banal,
vulgar, etc‖ (GUERREIRO: 2001;134).
2.1.2 A LAMBADA E O FORRÓ
A Lambada é um gênero musical do estado do Pará, surgido na década de 1970, resulta de
alterações ocorridas no merengue caribenho e no carimbó paraense:
Transformados os antigos batuques de escravos e negros em carimbós destinados
à diversão da gente humilde da periferia urbana do Pará, seria natural que neles se
refletissem todas as vertentes culturais a que esse seu público tradicionalmente
estivera exposto. E, entre elas, uma que durante mais de um século não deixaria de
insinuar-se, por razões geo-histórico-sociais locais, seria da influência dos ritmos
aparentados dos negros do Caribe (TINHORÃO, 1991: 282-283).
No final da década de 1980, o ritmo obtém repercussão internacional, sendo que em 1990, a
indústria cinematográfica de Hollywood lança seis filmes sobre a Lambada. Raimundo
Cordeiro (2002, 87) conclui: ―Assim, é possível que a formação de um novo público
dançante adepto da Lambada tenha motivado o surgimento de um forró mais acelerado do
que o forró tradicional‖. Desde o período, a Lambada apresenta inclusões elétricas diversas:
Transformada em mais um dos ritmos nos bailes de carimbó, a partir da década de
80 animados com o som das ―aparelhagens‖ (cerca de 300 conjuntos de caixas
acústicas, amplificadores e equalizadores, apenas em Belém), a Lambada,
beneficiada pela popularidade do próprio carimbo desde meados dos anos 70 no
eixo Rio – São Paulo, acabaria transformando-se, ao lado da música nordestina de
forró, em gênero obrigatório dos bailes de periferia por todo país (TINHORÃO:
1991, 289).
A Lambada – a partir do carimbó – e o forró – a partir do Baião nordestino – têm origens em
comunidades humildes, sendo muito tocados nos bailes das periferias brasileiras
(TINHORÃO: 1991, 278). Os dois ritmos são trabalhados a fim de serem enquadrados na
indústria cultural visando a despontarem nacionalmente: ―A história da explosão da
Lambada paraense no verão europeu de 1989 como ritmo da moda em todo o mundo serve
27
para demonstrar, de maneira exemplar, o grau de manipulação que a indústria da música
popular atingia na última década do século XX‖ (TINHORÃO: 1991, 278).
Além da Lambada ter influência decisiva para a forma de se dançar o Forró Eletrônico,
Raimundo Cordeiro (2002, 66) destaca a influência na instrumentação utilizada pelo Forró
Eletrônico, especialmente pelo uso do saxofone: ―Isto talvez seja um indício da influência
exercida sobre este segundo tipo de forró [o eletrônico] por estilos musicais do norte, como a
Lambada e o carimbó, presentes nesta capital em épocas anteriores, período que se inicia no
final da década de 1970 e se estende por toda a década de 1980‖.
2.1.3 O FORRÓ ELETRÔNICO, A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA
BRASILEIRA E O BREGA
O Forró Eletrônico surge após expansão da indústria fonográfica brasileira, que, de acordo
com Márcia Dias (2000, 55-57), deve-se a alguns fatores, como: ―[...] a consolidação da
música popular brasileira e, conseqüentemente, o seu mercado‖; a ―[...] chegada definitiva
do LP, no início dos 70 [...], a contribuição que as trilhas sonoras de novelas trouxeram para
o setor fonográfico, sendo mesmo a elas creditado o crescimento do mercado nos anos 70‖, o
que permite ―[...] restringir gastos e otimizar investimentos‖.
A expansão da indústria fonográfica brasileira culmina em 1979, quando atinge o número
recorde de 64.104 milhões de unidades vendidas, sendo 40.624 milhões de álbuns com
canções nacionais (DIAS: 2000, 77). Estes números são especialmente alimentados pelo
consumo da juventude brasileira. Assim, Raimundo Cordeiro (2002: 93) afirma que na
segunda metade da década de 1980 ocorre a consolidação do mercado da música direcionado
à juventude.
Outro fator citado por Márcia Dias, quanto aos anos de 1970 e pertinente à compreensão do
Forró Eletrônico, é a renovação do mercado de canções românticas, provocada pelo
movimento da Jovem Guarda, preponderantemente influenciado pelo conjunto inglês The
Beatles. A Jovem Guarda fez do artista Roberto Carlos um sucesso de vendas. De acordo
com Dias: ―Esse segmento de mercado [canções românticas] explorava, igualmente, canções
românticas consideradas popularescas e/ou próximas ao gênero sertanejo, que mais tarde
viria a ser chamado de brega”.
28
José Tinhorão (2005: 223) comenta a influência do brega e de outros ritmos que modificam
o repertório nas casas onde ocorrem bailes de forró, como pertinente à modificação no forró:
[...] a ampliação do repertório da música tocados nos bailes com a progressiva
substituição do trio básico de sanfona, zabumba e triângulo pela música
eletroeletrônica de teclados e guitarras exigida pelo chamado estilo brega,
representado ao tempo por artistas de grande popularidade como Waldick Soriano,
Arnoldo Batista e Reginaldo Bessa. Diversificação de repertório logo seguida, por
sinal, com o advento, na década de 1990, dos ritmos importados da dance music,
do funk, do heavy metal e da techno music, que conduziriam o antigo som dos
nordestinos à novidade do Forró Eletrônico, que para parecer mais moderno
ganharia o nome de new-forró.
Ainda segundo José Tinhorão (2005: 224), na década de 1990 ocorre também a adaptação do
forró no sudeste, tanto em relação ao estilo quanto ao uso de instrumentos, ao gosto da classe
média ―– inclusive com a ratificação pelo gosto internacional desde o lançamento, em 1991,
do CD Forró etc., parte da série Brazil Classics, produzida pelo músico norte-americano
David Byrne -, a ascensão social do forró pôde efetivar-se com toda a estridência
eletroeletrônica‖. Tinhorão (2005: 224-225) considera 1995 como marcante para o forró
expandir-se como recurso de entretenimento também da média; deixa de atender apenas ao
restrito público amante da zabumba, sobretudo de classe baixa, mas também àquele que
caracteriza como mais moderno ―[...] bandas como Mastruz com Leite, Limão com Mel e
Magníficos. Todas, é claro, preocupadas em acrescentar ao som dos instrumentos regionais
básicos os do saxofone, guitarra e bateria da música de consumo internacional‖.
2.1.4 A ELETRIFICAÇÃO E A JUVENTUDE
O processo de modernização rítmica que culmina na inserção das nomenclaturas elétrico e
eletrônico, no início da década de 1980, é proporcionado por diversas modificações
tecnológicas musicais. De acordo com Richard Moore13, naquele período, a música se une à
tecnologia eletrônica, alcançando, pois, ―um sucesso comercial sem precedente‖. Além disto,
o autor aponta que o período se caracteriza pela proliferação de ―[...] bandas feitas
inteiramente de sintetizadores e seqüênciadores [...]‖.
13
://www.musica.ufmg.br/~gilberto/ATAM.PDF
29
Assim, a nomenclatura elétrico denomina o forró no mundo pop, em que os instrumentos
baixo, bateria e guitarra são típicos (CORDEIRO, 2002: 102). No FE, a agregação destes
instrumentos é preenchida em especial pelo teclado eletrônico. Márcio Madeira (2002, 31)
justifica a nomenclatura Elétrico para o forró destas bandas, em função do:
[...] uso de instrumentos elétricos, ou ‗plugados‘, quer dizer, a amplificação do
som [...] Eletrônico porque faz uso de instrumentos como o teclado, que por
possuir um banco de memória com timbres (samplers) de vários instrumentos,
muitas vezes ‗substitui‘ o timbre da sanfona e de outros instrumentos.
Tais recursos elétricos aproximam o gênero da juventude daquela época, além das novas
bandas utilizarem no seu repertório canções nacionais e internacionais da década de 1990.
Uma distância de quase 40 anos motiva transformações no forró enquanto gênero musical. A
juventude de 1990 não vivencia a realidade Gonzaguiana, ao invés, afasta-se dela, não só na
temática, mas também na influência de novas tecnologias musicais e novos ritmos, como a
Lambada, que de acordo com Raimundo Cordeiro (2002, 84), está presente desde o final da
década de 1970 na vida do jovem de Fortaleza, local onde surge o FE. Assim, o ―velho‖ para
estes jovens acaba por ser algo extremamente ―novo‖, difícil de ser aceito e
tecnologicamente distinto das suas expectativas auditivas. Raimundo Cordeiro (2002, 100)
considera:
A exposição constante do jovem de Fortaleza ao forró dos anos 90, como estamos
chamando, pode levá-lo a considerar este como o único modelo aprendido e
vivenciado do gênero, rejeitando, quando lhe é dada oportunidade de ouvir, o
forró tradicional da década de 1940/50, seja pela qualidade técnica da gravação
(no caso do material fonografado) seja pelo som característico do conjunto
instrumental, seja pelo timbre dos vocais que repetem o refrão, seja porque este
forró não se adapta ao seu modo de dançar [...].
É mais fácil para o jovem em 1990 aceitar um forró próximo às letras que seus ouvidos estão
acostumados, como a música romântica, ou a brega e a Lambada. Nesse sentido, Theodor
Adorno (1986:142) alude: ―Qualquer fórmula rítmica que esteja fora de moda, não importa
quão quente ela seja em si mesma, é considerada ridícula e, por isso, categoricamente
rejeitada ou apreciada com a presunçosa sensação de que as modas agora familiares ao
ouvinte, são superiores‖.
2.1.5 AS BANDAS
30
Os grupos do início da década de 1990, diferente de Luiz Gonzaga, não representam o
estereótipo do sertanejo. No entanto, mesmo com figurino distinto das indumentárias que
caracterizam os trios de forró iniciais – gibões, chapeis, perneiras de couro utilizadas por
vaqueiros – apresentam, nas letras das canções, elementos significantes do imaginário
nordestino, como se observa em alguns textos interpretados pela banda Mastruz com Leite14:
Aboio para Ninar Morena
Luiz Fidéliz
Intérprete: banda Mastruz com Leite
Álbum: Em Todo Canto do Mundo tem Cearense
SomZoom Studio, 1996
Morena pare de chorar
Morena o que é que tu tem?
Morena, pare de chorar
Morena, se tu não parar
Morena eu vou chorar também
Morena, pare de chorar
Morena, minha morena
Morena, um dia eu vou voltar
Morena, pare de chorar
Morena, vale eu te amar
Valeu o boi, valeu a pena
Morena, pare de chorar
Morena, pra que desespero
Morena, eu vou me desquitar
Morena, pare de chorar
Morena, se o boi passar
Passa o cavalo e o vaqueiro
Baião de Dois
Luiz Fidéliz
Intérprete: banda Mastruz com Leite
Álbum: Solando para você cantar e dançar.
SomZoom Studio, 1998
A gente bem que podia
Se juntar de vez
Compartilharemos o nosso sertão
Acordar ouvindo
O chocalho da rêz
A gente bem que podia
14
http://www.mastruz.com.br/, acesso em 25/02/2008
31
Se juntar de vez
Tá de manhã no curral
Tomar um leite mais puro
Cantar varrendo o muro
O nosso quintal
Colher tomate, cebola
Banho de açucar com sal
De noite um bom baião de dois
Pra que deixar pra depois
Se a gente pode se amar
A referida banda surge em novembro de 1990. É pioneira na modalidade forró eletrônico e,
em curto período, alcança sucesso nacionalmente. A estrutura empresarial da Somzoom
Gravações e Edições Musicais LTDA, em Fortaleza (CE), encarrega-se de difundir a banda e
o ritmo pelo Brasil. Como aparato instrumental a banda conta com ―[...] guitarra elétrica,
baixo, bateria, teclado eletrônico, sanfona e metais (saxofone, trompete e outros)
(ALFONSI: 2007, 36)‖. Segundo Maria Lima (2007: 3), o objetivo da Somzoom em relação
ao surgimento da banda é ―[...] apresentar uma nova estética para o forró tradicional e como
evolução do próprio forró; comercial: a partir da perspectiva da música-mercadoria enquanto
produto de consumo [...]‖. Com a consagração da Mastruz com Leite, o ritmo passa a ser
tocado por outros grupos, consolidando o movimento do new-forró.
A Somzoom funda uma rádio via satélite cujo ―carro-chefe‖ é o forró: ―Diante desse projeto
comercial, o formato de filiação à rede, com conteúdo de forró, origina-se no Brasil. Assim,
o ritmo forró é atrelado a uma transmissão via satélite, procedimento semelhante ao que as
emissoras Jovem Pan e Transamérica efetivam com o dance music (Lima, 2007: 6-9)‖. A
empresa é comandada por Emanoel Gurgel que além da Mastruz e da rádio possui também
outras bandas de forró eletrônico: Cavalo de Pau, Mel com Terra, Catuaba com Amendoim e
Forró Rabo de Saia.
As cifras astronômicas das vendas podem ser exemplificadas com o caso de Emanoel Gurgel
que recebe, a partir de 1993, cerca de US$ 150 mil com o sucesso da música ―Meu vaqueiro,
meu peão‘‘, composta por Rita de Cássia, primeira faixa do segundo CD gravado pela banda
Mastruz com Leite.
Desde 1990 ocorre a proliferação de grupos musicais que fazem sucesso e motivam artistas e
empresários a formarem novos grupos. De acordo com Ana Pessoa (1998:2), ―A decisão de
32
apostar no forró se deve a dois fenômenos. O primeiro é o sucesso do gênero no eixo Rio—
São Paulo em danceterias de classe média. O segundo é a nova vitalidade do ritmo no
Nordeste do país‖. Aponta ainda outro fator importante para o sucesso do forró eletrônico: a
performance vocal dos grupos é acompanhada de uma performance coreográfica: a música
rege ―uma coreografia sensual‖. Nesse sentido, o movimento do forró eletrônico preenche
uma lacuna deixada no país desde o final da moda da Lambada.
[...] existe o fato de que é um tipo de música que vem acompanhada de uma
coreografia sensual, algo que está meio em falta no mercado brasileiro desde que
a Lambada saiu de moda. Como se sabe, turistas em férias em Porto Seguro e
outros paraísos tropicais adoram trocar umbigadas com as nativas, e estava
faltando uma trilha sonora adequada para essa prática (PESSOA; 1982: 2).
Os primeiros nomes de Forró Eletrônico que despontam, além de Mastruz com Leite, são:
Magníficos (Paraíba), Calcinha Preta (Sergipe – venda de 100 mil cópia no primeiro disco
lançado15), Limão com Mel (Ceará), Caviar com Rapadura (Ceará), Mulheres Perdidas,
pertencente aos empresários da banda Calcinha Preta, e Raio da Silibrina (Sergipe).
Nas apresentações de forró eletrônico, os cenários são ricos e há diversos recursos visuais:
luzes cênicas, corpo de baile com mais de oito componentes com corpos esculturais, que
desenvolvem coreografias teatrais e substituem, periodicamente, as indumentárias sensuais
do figurino. Além disso, a banda musical é composta por diversos músicos e uma média de
quatro vocalistas que tanto se revezam ao longo do espetáculo como cantam em conjunto.
Andréa Pinheiro e Flávio Pávia (2007:3) afirmam que Emanuel Gurgel opta por bandas com
grande número de músicos e dançarinos para manter o ritmo acelerado durante todo o
espetáculo, haja vista julgar que os intervalos desanimam o público e arrefecem as festas.
Para viabilizar a longa jornada adotada de quatro ou cinco horas de show, sem interrupção,
Gurgel forma um grupo maior que possibilite o revezamento no decorrer do espetáculo.
Outras bandas seguem o mesmo procedimento: formam equipes artísticas numerosas. A
banda Caviar com Rapadura, por exemplo, possui 14 componentes e oito bailarinos16; a
Limão com Mel conta com três vocalistas, duas backing vocals, sete músicos e oito
bailarinos17. Por sua vez, Calcinha Preta e Magníficos possuem quatro vocalistas.
15
http://www.bandacalcinhapreta.com.br/v2/portuguese/navigation/content/homepage/, acesso em 11/01/2008.
http://www.imusica.com.br/artista.aspx?id=1242&bio=1, acesso em 11/01/2008.
17
http://www.limaocommel.com.br/modules.php?name=Content&pa=showpage&pid=140, acesso em
05/02/2008.
16
33
Em geral as letras das canções interpretadas pelas bandas de FE não são de autoria dos
membros dos grupos, inclusive muitos dos intérpretes responsáveis pela gravação de Cds em
estúdio (com exceção dos vocalistas principais) não são os mesmos das apresentações no
palco. Outra característica destas bandas é o fato de não destacar os componentes, fator que
os torna facilmente substituíveis. Os encartes dos CDs, por exemplo, não apresentam
fotografias ou imagens dos integrantes, pois as estratégias de marketing promovem o nome
da banda e não o dos músicos, assim como são escolhidos vocalistas com vozes comuns ao
FE, para facilitar eventuais substituições.
No FE é significativa a presença de cantoras, em contraposição ao forró até então: a
predominância do canto masculino (MADEIRA: 2002, 43-46; 53-54):
Ainda sobre o FE, a presença de figuras femininas assumindo a liderança desses
conjuntos musicais, é em boa parte, ou na maioria das vezes, uma tentativa de
utilizar a imagem feminina para atrair a atenção de um maior público. A maneira
sensual de cantar, com suspiros, gemidos e a predominância da voz grave,
procuram ganhar a atenção dos ouvintes, até mesmo pelo conteúdo das letras das
músicas.
Quanto às principais características instrumentais, no FE, a bateria é o condutor do ritmo e
não a zabumba; o saxofone é muito presente, assim como há o uso de guitarras e
sintetizadores. Apesar da zabumba, da sanfona e do triângulo continuarem nas bandas, eles
não são mais preponderantes.
Com o passar dos anos, as letras do forró eletrônico fazem crescente uso do romantismo
brega e aumentam o apelo do duplo sentido, relembrando as letras do Forró Malícia,
conhecido também como Forró Escrachado, Pornoforró e Forró Sem-vergonha, estilo
difundido por músicos como Sandro Becker e Genival Lacerda18, com letras de duplo
sentido:
O Gato Tico19
Intérprete: Genival Lacerda
Tico-Tico é um gato
Que a Maria quer bem
Não da, não vende, nem troca
18
Cantor e compositor nascido em 1931, em Campina Grande/ Paraíba, já gravou 70 discos e participou de três
filmes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Genival_Lacerda, acesso em 10/01/2008.
Sua música mais famosa foi Severina Xique-Xique, em 1975: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/genivallacerda.asp, acesso em 28/02/2008
19
http://letras.terra.com.br/genival-lacerda/600520/, acesso em 28/02/2008.
34
E não empresta a ninguém
O tico tem um defeito
Que nem da pra consertar
O defeito do tico
É que é danado pra miar
Tico mia na sala, Tico mia no chão
Tico mia na cozinha, encostado no fogão
Tico mia no tapete, Tico mia no sofá
Tico mia na cama, toda hora sem parar
Tico mia na colo, Tico mia no chão
Tico mia sentado, em frente à televisão
Tico mia na cadeira, e na hora de deitar
Tico mia na cama, toda hora sem parar
O Forró Malícia surge entre a década 70 e 80, como tentativa forrozeira de sobrevivência em
meio à forte presença da música internacional, sobretudo das músicas norte-americanas de
discoteca no Brasil. Daniela Alfonsi (2007:36) complementa:
O forró ganhou, em diferentes momentos, algumas denominações, tais como péde-serra, raiz, romântico, forrónerão, eletrônico, estilizado, de plástico, cearense,
oxente-music, universitário, forreggae, forró malícia, lambaforró. Cada termo
refere-se a uma maneira de dar sentido à prática e relacioná-la a um fazer musical
específico. Assim, por exemplo, o forró malícia, também chamado de semvergonha, é caracterizado por suas letras com ―duplo sentido‖, que fazem
referência velada, sobretudo, a atos sexuais: "Na hora do jantar / eu como nabo,
Dinha" (Bilhete pra Comadre Dinha, de Clemilda) e também: ―Essa minha
namorada é assim mesmo / Enquanto eu não dou capim canela ela não dorme"
(Capim Canela, de Pintacuia) ou ainda a letra de Pagode Russo, de Luiz Gonzaga,
que diz: "Vem cá cossaco / Cossaco dança agora / Na dança do cossaco / não ficá
cossaco fora" (ALFONSI, 2007: 36).
As bandas do Forró Eletrônico formadas a partir do final da década de 1990 resgatam o
erotismo e o apelo sexual do pornoforró, utilizando expressões usais dos jovens da época.
Segue trecho musical cantado pela banda Garotões do Forró, formada em 2006, no Rio
Grande do Norte20: ―Toma gostosa lapada na rachada/ você pede que eu te dou lapada na
rachada/ e ai tá gostoso lapada da rachada/ toma, toma, toma, toma/ Vi uma menina linda a
danada enlouqueceu a macharada ficou doida quando ela apareceu‖.
Assim, na década de 2000, continuam surgindo bandas de Forró Eletrônico, oriundas, em
especial, do Ceará e o do Rio Grande do Norte. A Garotões conta com um anão, que se
20
Apresentou-se em 2007 como uma das atrações principais do São João de Amargosa – cidade do interior
baiano, onde ocorre há mais de 10 anos o São João, recebendo neste ano cerca de 70 mil turistas, de acordo
com Alexandre Liberato (empresário, sócio da maior festa particular da região: Forró do PiuPiu).
35
fantasia de bebê e dança durante a apresentação. Faz parte também destas novas bandas, a
Cavaleiros do Forró, do Rio Grande do Norte, formada em novembro de 2001 e a banda
Aviões do Forró, criada em agosto de 2002, no Ceará, com dois vocalistas, um homem e
uma mulher. Esta, ao contrário do que é comum em bandas de Forró Eletrônico, não conta
com corpo escultural. O quarto CD da Aviões vende 700.000 cópias e em maio de 2008, a
banda fez turnê pelos Estados Unidos.
Na década de 2000, outra banda de destaque é Saia Rodada, do Rio Grande do Norte.
Formada em 2001, é empresariada pela mesma produtora da banda Calypso: a Luan
Promoções e Eventos. Esta, por sua vez, surge em 1999, em Belém do Pará e fica entre o
limiar do forró eletrônico e outras definições, como ritmo calipso, tecnobrega, brega
paraense ou novo brega: ―Seu nome foi inspirado no ritmo tocado no sul do Caribe, que, no
Pará, adquire uma cadência próxima ao Ska, mixando o iê-iê-iê da Jovem Guarda, rock, folk,
country, Lambada e ritmos de raiz paraense‖ 21. Hermano Vianna (2007) traz o seguinte: ―Os
músicos locais já nem chamam o que fazem de brega, dizem que é ‗calipso‘, música mais
sofisticada‖.
As semelhanças da Calypso com o forró eletrônico ocorrem em função da época em que foi
criada, da grande equipe de trabalho, composta por 47 profissionais, sendo cinco bailarinos,
uma vocalista, Joelma, um guitarrista, seu marido, Chimbinha, do figurino sensual e das
letras das músicas22, que também apelam para o romantismo brega:
Feito Tatuagem23
Composição: Adilson Ribeiro
Intérprete: Banda Calypso
Álbum: Banda Calypso Volume 1 - 1999
Tanto tempo se passou
Mas você em mim ficou
Como uma tatuagem
Pra lembrar o que passou
Mas você onde andará?
Será que me esqueceu?
Onde você estará?
Ou será que já morreu?
21
http://www.dicionariompb.com.br/detalhe.asp?nome=Banda+Calypso&tabela=T_FORM_E&qdetalhe=his,
acesso em 12/12/2007.
22
http://www.bandacalypso.com.br/, acesso em 03/03/2008.
23
http://vagalume.uol.com.br/banda-calypso/feito-tatuagem.html, acesso em 28/01/2008.
36
Ligue pra dizer
Que o seu amor ainda é meu
Ligue pra dizer
Que é impossível me esquecer
Algumas músicas são compostas pelos mesmos profissionais do forró eletrônico. Hermano
Vianna (2007) sobre encontro com a banda Calypso traz: ―Os compositores estão presentes.
Não compõe apenas para a Calypso, mas também para a Calcinha Preta e várias outras
bandas que fazem o Brasil popular de hoje cantar e dançar‖.
No site oficial da banda, há informações que revelam seu sucesso fonográfico: ―Em 8 anos
de carreira já vendeu 8 milhões de cópias entre CD‘s e DVD‘s.‖
Segue notícia ilustrativa publicada na primeira página do Jornal A Tarde do dia 06 de junho
de 2008, relacionando a Calypso com o forró, como normalmente acontece: ―Em ritmo de
forró. Começa hoje a maratona de forró. A 16ª edição do Arraiá da Capitã reúne Calypso,
Magníficos, Flávio José, Cavalo Doido e Calcinha Preta, dentre outros, no Parque de
Exposições‖.
O forró eletrônico é um espetáculo que explora o erotismo e leva o público a uma esfera
distante da realidade cotidiana. Antonio Rubim (2005: 13) afirma que:
O espetáculo remete também à esfera do sensacional, do surpreendente, do
excepcional, do extraordinário. Daquilo que se contrapõe e supera o ordinário, o
dia-a-dia, o naturalizado. A instalação no âmbito do extraordinário potencializa a
atenção e o caráter público do ato ou evento espetacular. A ruptura da vida
ordinária é produzida pelo acionamento de inúmeros expedientes, em geral, de
modo intencional, mas, em alguns horizontes, até mesmo de maneira não prevista.
De acordo com Rubim, nossa sociedade tem tendência ao espetacular, a chamar e disputar a
atenção das audiências (RUBIM, 2005, p. 22). O show espetacular do Forró Eletrônico é
inovado pelas bandas que desesperadamente tentam, cada vez mais, chamar a atenção do seu
público, haja vista as apresentações serem o foco de interesse dos empresários desde que o
avanço da pirataria fonográfica no Brasil, fê-los perder milhões com a venda de discos.
Atualmente, o CD não é mais a principal fonte de renda da Somzoom, pois há alguns anos
ganha mais dinheiro com as festas. Para Gurgel, o CD serve ―[...] basicamente de peça
37
promocional da empresa‘‘ (PINHEIRO e PAIVA, 2007: 7), pois acredita que quanto mais
disseminar as músicas mais gente comparece aos espetáculos.
O FE possui muitos fãs. Mas, em contrapartida, também é descriminado por ser, em
comparação a outros estilos de forró, considerado musicalmente pobre. Nas entrevistas
realizadas com músicos mais tradicionalistas ou do movimento universitário, são
perceptíveis referências pejorativas ao gênero, como a expressão forró de plástico. Sobre
esta discriminação, Hermano Vianna (2007) reflete: ―Um dia, quando um cantor chique fizer
uma versão, todo mundo vai achar bacana. Mas é preciso tempo: o popular muito popular só
se torna elogiável quando sua popularidade é coisa do passado, não é mesmo?‖.
Teixeira Coelho (1986: 17) também trata do assunto ao se referir a passagem do jazz, de
música discriminada à música consumida pela alta sociedade:
A respeito, deve-se lembrar que freqüentemente, na história, a passagem de um
produto cultural de uma categoria inferior para outra superior é apenas questão de
tempo. É o caso do jazz, que saiu dos bordéis e favelas negras para as platéias
brancas dos teatros municipais da vida.
2.2
FORRÓ UNIVERSITÁRIO – FU
Na segunda metade da década de 1990, Expedito Silva (2003: 104) comenta que ocorre a
explosão do Forró Universitário, agora mesclando ―[...] elementos do Forró tradicional com
fórmulas-padrão de reggae, rock, jazz, salsa, entre outras (RAMALHO, 2004)‖.
Diferentemente do Forró Eletrônico, o universitário apresenta alterações instrumentais
menos radicais. Em geral, as bandas acrescentam apenas a bateria e/ou a percussão, o que já
era realizado por artistas seguidores do forró pé-de-serra. Para Daniela Alfonsi (2007: 106),
a sanfona, a zabumba e o triângulo são essências aos admiradores do Forró Universitário.
De acordo com Daniela Alfonsi (2007:39), a nomenclatura universitário origina-se no fato
das primeiras festas na capital paulista terem acontecido em faculdades, ou em outros locais,
mas organizadas por universitários da classe média paulistana. A autora comenta ainda que:
―[...] tal público era formado, de maneira geral, por alunos da USP e PUC-SP e por um
conjunto de escolas privadas conhecido como colégios do grupo, do qual fazem parte, dentre
38
outros, o Colégio Equipe, Logos, Oswald de Andrade e Vera Cruz‖. Ressalta também que os
meios de comunicação ajudam a fixar a nomenclatura universitário:
Os meios de comunicação de massa (jornais, televisão, revistas) ajudaram a
divulgar o rótulo universitário ao noticiar ―a mais nova moda‖. Assim, além de
distinguir um estilo musical diferente daquele executado pelas bandas nordestinas
do forró eletrônico, o termo universitário designou também uma forma de lazer
relacionada a um público jovem e de classe média, em contraposição aos bailes de
forró das grandes cidades freqüentados por pessoas das camadas populares
(ALFONSI, 2007: 39).
Alfonsi (2007: 46) traz interessante comparação entre o FE e o FU, em consideração ao
Forró Pé-de-Serra:
O forró eletrônico opera a partir do que é considerado mais ou menos ―animado‖,
enquanto o universitário, em ambos os esquemas apresentados, seleciona a partir
do que é tido como mais ou menos ―raiz‖, isto é, fiel à origem. Desse modo, a
própria origem assume significados distintos: para o primeiro é um ponto de
partida para a história de evolução do forró; para o segundo é a forma a ser
resgatada e seguida.
O Forró Pé-de-Serra e o Forró Universitário se assemelham. Este fato se justifica por que o
segundo surge como tentativa de resgatar o primeiro. Os adeptos do Forró Universitário
defendem que o estilo é muito similar à música de Luiz Gonzaga e aderem ao forró
apresentado na década de 1950. Todavia, apresentam elementos distintivos, sobretudo
indumentárias que caracterizam os artistas – o Universitário utiliza camisas floridas e
coloridas, enquanto o Pé-de-Serra usa emblemas do sertão, como o chapéu de couro e o
gibão. Há também distinção na linguagem com que compõem as letras: o FPS utiliza
variante linguística mais consoante com regiões rurais. Quanto a este aspecto, Cicinho de
Assis24 afirma que o atual Forró Pé-de-Serra, em comparação ao Universitário, ―é mais
matuto, aquele linguajar mais matuto‖. Além disso, as faixas etárias são diferenciadas, no
Forró Pé-de-Serra os músicos possuem idades, predominantemente, acima de 30 anos,
enquanto no Forró Universitário as idades concentram-se nos 25 anos, em média. Outra
diferença se refere à apresentação das bandas: o FU não é apresentado em trio, como
também o vocalista não exerce a função de sanfoneiro:
Já com os adeptos do ‗movimento de forró universitário‘, percebe-se uma atitude
de ‗soldados‘ na luta pela busca do ‗forró tradicional‘. Todavia, permitem-se uma
24
Entrevista realizada com o artista no dia 08 de março de 2008, na casa de shows Coliseu.
39
enxurrada de contradições, ao começar pela própria formação que não é do ‗trio
de forró tradicional‘ como querem e admitem ser.
A heresia de que o cantor não é o sanfoneiro também é posta de lado, deixando
esse papel para um vocalista, que, geralmente, dotado de uma aparência física
natural do ‗modelos de propaganda‘ ou ‗galãs de novela‘, com roupas da moda,
cumprem o papel a que se propõe. É comum entre essas bandas de FU, a presença
de um sanfoneiro de maior idade que os outros integrantes, e geralmente,
nordestino (MADEIRA, 2002: 49).
Márcio Madeira (2002: 4) classifica este forró como sudestino, pelo fato de originar-se em
São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, em contraposição ao Forró Pé-de-Serra e
Eletrônico, cujo os berços é o Nordeste. Daniela Alfonsi (2007: 40) também faz referência
ao termo sudestino, mas como uma resposta a visão de que universitário seria uma
nomenclatura preconceituosa, por englobar apenas este público, excluindo os demais e os
freqüentadores deste novo forró não são apenas universitários.
Como nomes nacionais inicialmente representantes deste estilo, cita-se ―[...] a Banda
Falamansa, a Banda Mafuá, o Trio Virgulino, o Trio Sabiá, o Trio Rastapé, Forróçacana,
Forrozão, Mestre Ambrósio, Cascabulho, Querosene Jacaré, entre outros (SILVA, 2003:
104)‖. Outra banda que tem conseguido destaque nacional é a Circuladô de Fulô, criada
também em São Paulo, em 2000, em cujo instrumental se destaca guitarra, triângulo,
percussão, violão e sanfona.
Expedito Silva afirma que estas bandas voltam a destacar o trio principal do forró
tradicional: a sanfona, a zabumba e o triângulo. Quanto ao início do movimento em São
Paulo, o autor diz: ―Esse movimento, em São Paulo, teve início nas dependências de uma
ONG que leva o nome de Espaço Cultural Projeto Equilíbrio‖. Daniela Alfonsi (2007: 50)
também apresenta o espaço como reconhecido por ter iniciado ―[...] o modo de se organizar
festas posteriormente chamadas de forró universitário‖. Sobre este espaço, Expedito Silva
(2003, 106) descreve: ―O forró universitário também deve o seu nascimento pela iniciativa
de uma roqueira paulista conhecida por Lu Brandão, que é mãe de dois grandes músicos:
Branco Melo, integrante do grupo de rock Titãs, e Paulinho, conhecido pelo nome de Primo
Preto por defender a música black no Brasil‖. De acordo com Silva, Lu Brandão é,
juntamente, com o dono da casa, professor Vagner, onde se inicia o Projeto Equilíbrio,
responsável pela consolidação do forró universitário. Em Silva (2003, 106), encontra-se
depoimento de Lu Brandão: ―O surgimento do forró universitário aconteceu entre 1996 ou
40
1997, sendo eu a primeira a incentivar esse segmento de forró e a expandi-lo através da
mídia, desde o rádio, televisão, jornais e revistas, etc‖.
Segundo José Tinhorão (2005, 225), no início do século XXI, os jovens da classe média
paulistana começam a freqüentar casas de shows movimentadas pelo som do forró
atualizado. Localizadas na Zona Leste, as casas Moinho Santo Antonio, Radícula São Luís,
Galpão 16, KVA, Remeleixo, Gostoso Demais e o próprio Projeto Equilíbrio atraem público
de áreas nobres da cidade. O artigo de Mônica Loureiro (2001), complementa:
[...] a invasão do forró no Sudeste/Sul não pode mais ser encarada como modismo.
Os bailes já fazem parte dos roteiros dos jornais, saindo dos subúrbios e se
espalhando pela cidade. A juventude bem-nascida não só adotou o "rela-buxo" dos
salões como também resolveu ocupar o palco. O número de grupos formados por
forrozeiros que não ultrapassam a média dos 25 anos de idade é cada vez maior.
Em São Paulo, o Falamansa tornou-se um fenômeno de vendas; no Rio, o
Forróçacana é o mais requisitado para shows.
O forró universitário regrava, em especial, músicas de Luiz Gonzaga, de Jackson do
Pandeiro e de João Vale. Além dos tradicionais forrozeiros, o FU utiliza versões de reggae
da Música Popular Brasileira (MPB), como também cria novas canções. Quanto maior o
número de músicas próprias, mais respeitada é pelo público.
As músicas próprias são inspiradas no forró tradicional, no samba, na música caipira e em
estilos regionais. Preferem uma aproximação com o folclore e não com a música do mundo
pop:
A idéia de ―raiz‖, central na definição do que venha a ser forró para esse padrão
estético, define também as preferências musicais desses forrozeiros. Prefere-se o
som acústico ao amplificado, os instrumentos de corda (violão, viola caipira,
cavaquinho) aos metais, a percussão feita com a zabumba, o pandeiro, o surdo à
batida pop da bateria (ALFONSI, 2007: 125).
É uma expressão muito comum entre os jovens do FU e os adeptos do reggae a gíria roots.
De acordo com Daniela Alfonsi (2007:71):
O uso da palavra inglesa significando raízes tornou-se uma gíria entre os
forrozeiros. Dessa maneira, caracteriza-se uma festa, uma música, uma banda,
uma maneira de dançar, uma forma de se vestir e até uma pessoa como ―roots‖.
―Aquele cara é muito roots‖ quer dizer, no contexto dos bailes, que ele freqüenta
o forró há muito tempo, é ―das antigas‖. Já, ―aquela música é roots‖ trata-se ou de
uma gravação antiga, de meados da década de 1940 ou 1950, ou que sua forma de
execução remete-se a esse período.
41
Assim, para os jovens do FU, quanto mais roots melhor. Nesta intenção de voltar-se para o
original, para o roots, ocorrem eventos singulares na cidade de São Paulo. O mais
diferenciado é o Forró Secreto. Recebe tal nomenclatura por não ser divulgado e ser
freqüentado apenas por convidados, ou indicados por quem já é freqüentador. É proibido
divulgar ou comentar com pessoas que não integram este círculo fechado, onde será o
próximo evento de Forró Secreto. Nas festas, escutam-se execuções de músicas das décadas
de 1940 e 1950, especialmente.
Quando as bandas criam novas músicas, Expedito Silva (2003, 104) apresenta o seguinte:
―Conforme afirmam os integrantes das principais bandas, as composições geralmente visam
ao entretenimento, contribuindo para que as pessoas se sintam bem‖. O site da banda
Falamansa25 traz ― "Segue a vida", sexto trabalho do grupo que sintetiza o projeto musical da
banda: aliando as ideologias a mensagens positivas de alegria, amor e fé, conscientização
social e ambiental. Como sucede com as letras do FU, em geral. Para ilustrar, segue a letra
do grupo Falamansa:
Rindo à Toa
Álbum: MTV ao Vivo
2005
Tô numa boa
Tô aqui de novo
Daqui não saio
Daqui não me movo
Tenho certeza
Esse é o meu lugar
Ah Ah!...
Tô numa boa
Tô ficando esperto
Já não pergunto
Se isso tudo é certo
Uso esse tempo prá recomeçar
Ah Ah!...
Doeu, doeu, agora não dói
Não dói, não dói
Chorei, chorei
25
http://www.falamansa.art.br/default1.asp, acesso em 01/03/2008.
42
Agora não choro mais...
Toda mágoa que passei
É motivo prá comemorar
Pois se não sofresse assim
Não tinha razões prá cantar...
Há Há Há Há Há!
Mas eu tô rindo à toa
Não que a vida
Esteja assim tão boa
Mas um sorriso ajuda a melhorar
Ah Ah!...
E cantando assim
Parece que o tempo voa
Quanto mais triste
Mais bonito soa
Eu agradeço por poder cantar
Lalaiá Laiá Laiá Iê!...
Avisa
Falamansa
Quero ver quem segura essa barra
Até a hora que eu voltar
Vou sair pra preencher um vazio no peito
Tô meio sem jeito de falar
Quero ver se eu cair agora
Quem é que vai me levantar
Já pedi ao sol,
Já pedi ao mar
Já pedi à lua
Às estrelas do céu já pedi
Quase tudo que consegui
Eu ganhei da rua
Deixo na mão de quem quiser
Deixo na mão de quem quiser
Deixo na mão de quem quiser
É que eu não sou um ator
E se eu sinto dor
Tenho que chorar
Avisa, avisa, avisa , avisa
Avisa
Se o sol brilhar de novo no horizonte. Avisa
E pode ter certeza que eu tô lá pra ver. Avisa
Se a liberdade te trair e precisar de alguém. Avisa
43
Ou se tudo correr bem e não precisar. Avisa
Parece até que o vento traz o sentimento. Avisa
Ele nem faz questão de nos avisar. Avisa
Pro vento que traz sofrimento
Que sopre pra outro lugar. Avisa
Pro vento que traz amor
Não vejo a hora de você chegar.
O FU também é influenciado pela Lambada. No site Forró Brasil26, o forrozeiro
Dominguinhos fez a seguinte declaração a respeito das bandas universitárias: ―A maioria
destes grupos se formou após a febre da Lambada e a música que eles fazem é chamada de
lambaforró. A dança também se modificou, assimilando passos da Lambada (principalmente
os giros)‖.
O público do forró universitário dança em pares mistos com os corpos bem próximos,
alternado esses momentos com pequenas coreografias de giros e rodopios. A dança é
novidade. Esta é ensinada em escolas de dança, tanto no sudeste quanto no nordeste. De
acordo com Daniela Alfonsi (2007: 116):
O forró universitário tornou-se conhecido por ter criado um jeito específico de
dançar o forró, diferente do modo com que freqüentadores das casas de forró
eletrônico dançam. Assim, a maneira de dançar o forró universitário, segundo seus
freqüentadores, é considerado algo novo, inventado, ao contrário da música, que
teve de ter suas origens resgatadas, na concepção nativa.
Os movimentos são realizados a partir dos corpos juntos, intercalando-se as
pernas. O tronco acompanha o movimento dos quadris, que balançam de acordo
com o ritmo da música: quanto mais lenta, mais acentuado é o movimento e mais
caloroso, o ―chamego‖. A posição das mãos e braços pode variar em cada
parceiro, em cada música e até mesmo em cada passo, mas em geral o homem
abraça a mulher na altura da cintura; e a mulher, a nuca do parceiro. O tronco do
homem inclina-se mais do que o da mulher, como se ele estivesse por cima dela.
Os rostos, na maior parte do tempo, permanecem colados.
Assim como no forró eletrônico, os grupos musicais são compostos predominantemente por
músicos jovens. No entanto, as bandas são bem menores e não possuem corpo de baile. A
formação dos grupos é quase totalmente masculina.
Não se sabe ao certo onde o Forró Universitário nasceu: se em Caraíva, no extremo Sul
baiano, ou em Itaúnas, no Espírito Santo. Mas é certo que o movimento ganha força no
26
http://www.forrobrasil.com/es/curiosidades_2.cfm?curiosidade=16http://www.forrobrasil.com/es/curiosidades_
2.cfm?curiosidade=16.
44
estado de São Paulo, onde se originam as principais bandas, como a Falamansa. Banda que
marca, a partir de 2000, a ascensão do forró universitário no Brasil. A Falamansa é composta
por três estudantes paulistas e um sanfoneiro nordestino. No início desta década, o forró
universitário destaca-se na mídia nacional, daí se solidifica como ritmo brasileiro. Daniela
Alfonsi (2005:12) faz a seguinte afirmação sobre este período do forró universitário:
Quando o Forró universitário atingiu uma grande exposição nos meios de
comunicação de massa, principalmente na televisão, o número de bandas
aumentou consideravelmente, sobretudo aquilo que se denomina ―bandas de
garagem‖, formada por jovens amadores que têm prazer em tocar, fenômeno
freqüente entre as bandas de rock ou conjuntos de pagode, por exemplo. Esse
período (entre os anos 2000 e 2001) marcou o boom da prática, tanto em São
Paulo quanto nas cidades do interior e nas outras capitais do sudeste brasileiro.
Para muitos forrozeiros, o boom do forró universitário contribui com a renovação de
elementos e de público do forró tradicional. Por ser o estilo de Gonzagão que os atuais
jovens forrozeiros universitários utilizam, mesclado com outros ritmos – como o pop, o
reggae e a Axé-music – consideram o forró universitário muito próximo do que acreditam
ser tradicional, ―de raiz‖.
A cidade Itaúnas continua sendo referência para os jovens forrozeiros. Trata-se de uma vila
de pescadores, no Município de Conceição da Barra, no extremo Norte do Espírito Santo. É
reconhecida tanto por suas dunas quanto pelo forró. Desde 2000, abriga o Festival Nacional
de Forró, entre os meses de junho e julho. Este Festival é composto por pequenos festivais
que ocorrem em locais distintos, como: Circuito Nacional de Forró, na Praça da Igreja, em
Junho; Festival Nacional de Forró de Itaúnas, no Bar Forró, em julho, quando também
acontece o Encontro Nacional de Forró, no Buraco do Tatu.27 O site Forró de Itaúnas28
explica que a tradição forrozeira na cidade começa em 1989, no Bar Forró de Itaúnas onde se
apresenta o sanfoneiro Luiz Geraldino e destaca o seguinte:
O forró pé-de-serra agradou o público paulista a princípio, que levou a moda
como sendo o forró universitário. Os visitantes começaram a vir, atraídos pelo
forró e/ou pelas belezas naturais locais. O boca-a-boca sempre foi a maior mídia
do forró e o movimento cresceu muito, freqüentado por um público composto em
sua grande maioria por estudantes universitários, o ―Bar do Forró‖ , como é
carinhosamente conhecido, vem se destacando pelo forró tocado e dançado em
suas dependências, sempre animado ao som da sanfona, zabumba e do triângulo.
O que era antes sinônimo de confusão passou a ser visto como ícone de
sensualidade, de forma que o jeito novo de dançar disseminado por Itaúnas vem
27
28
http://www.turismocapixaba.com.br/itaunas.htm, acesso em 25/02/2008.
http://forrodeitaunas.com/Forro/, acesso em 17/03/2008.
45
fazendo cada vez mais adeptos, revelando cada vez mais novos talentos e
resgatando grandes nomes da nossa música.
Na sexta edição do Festival Nacional do Forró de Itaúnas, Daniela Alfonsi (2007: 103)
aponta a existência de 24 bandas concorrentes. Todas com figurinos semelhantes entre si
que, por sua vez, assemelham-se aos trajes utilizados por freqüentadores destes bailes nas
cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Belo Horizonte e Brasília; cidades originárias
da maior parte dos turistas presentes no evento: ―[...] os homens com camisas de estampa
colorias ou camisetas com a figura de mestres do forró, como Jackson do Pandeiro; calças
largas e sandálias de couro. As mulheres com saias ou vestidos rodados e floridos, flores
ornamentando os cabelos e sandálias rasteiras nos pés‖.
Apesar do formato universitário contribuir significativamente para o fortalecimento do forró
no cenário nacional, e ter conservado as mesmas características dos idos da década de 1990,
a nomenclatura universitário não é irrestritamente aceita entre os jovens forrozeiros. As
restrições devem-se, sobretudo, por acreditarem que o movimento universitário ao tornar-se
produto da indústria cultural, perde sua essência. Não refletem sobre a apropriação que a
indústria cultural fez do ritmo já no período de Luiz Gonzaga. De acordo com Adorno e
Horkheimer (1986:115): ―Os talentos já pertencem à indústria cultural muito antes de serem
apresentados por ela: de outro modo não se integrariam tão fervorosamente‖. Hermano
Vianna (2006) reflete: ―[...] a sanfona, o triângulo e a zambumba - considerados a essência
do forró "de raiz", ou o verdadeiro forró (mesmo tendo sido definido por Luís Gonzaga, em
momento já adiantado do Século XX, e usar um instrumento como o acordeão, tão
alienígena no Brasil quanto o sintetizador)‖.
Os componentes das bandas universitárias assumem atitude de defesa do forró considerado
como tradicional, aquele por eles considerada como herança de Luiz Gonzaga. Esta
característica é citada por Daniela Alfonsi (2007) e Márcio Madeira (2008: 49) sobre,
respectivamente, as bandas de FU em São Paulo (capital) e em Fortaleza.
Em alguns locais, como a famosa casa paulistana Canto da Ema29, inaugurada em 2000, os
jovens, paradoxalmente, dançam o que é caracterizado como Forró Universitário, em pares
bem próximos, alternando pequenas coreografias de giros e rodopios, muitas vezes ao som
29
A casa funciona na Avenida Brigadeiro Faria Lima, Pinheiros, na cidade de São Paulo. É um dos emblemas
nacionais do forró universitário. A visita foi realizada ao local no dia 01 de fevereiro de 2006.
46
de jovens músicos, mas se auto-afirmam tradicionais e, até mesmo, são contrários ao
movimento universitário, achando-o contaminado pela mídia e longe do tradicionalismo que
admiram. Paulinho Rosa, o proprietário da casa e empresário do forró há mais de uma
década, afirma que bandas universitárias não são as preferidas do público, e sim, os trios de
forró (inspirados no Trio Nordestino)30.
Nos dias atuais, a maior referência de forró universitário é ainda a banda Falamansa.
Paradoxalmente, após atingir o sucesso, é rejeitada por diversos jovens forrozeiros que
acham a banda muito exposta e contaminada pela mídia, por isto acreditam que tenha
perdido a identidade com o forró. Sobre isto, Daniela Alfonsi (2007: 41) reflete:
A música executada pela banda que, no início de sua formação – quando eram
apenas mais uma banda dentre outras – agradava aos ouvidos desses forrozeiros
incomodados, passou a ser considerada de qualidade ruim, sem técnica e sem
virtuosismo. Não era mais o verdadeiro forró, realizado antes de alcançar o
sucesso. Outras bandas formadas no rastro do Falamansa também passaram a ser
ignoradas e rebaixadas no quesito qualidade musical. A ordem do dia era voltar-se
ao forró puro, sem misturas de instrumentos musicais e de outros gêneros, como o
reggae e o pop rock nacional.
O Forró Universitário é o caminho seguido para a aproximação de jovens do início da
década de 2000 com o Forró Pé-de-Serra. O Forró Universitário apresenta a possibilidade de
vivenciar o trio de forró de modo atualizada para a geração. A juventude deseja o forró
original de Luiz Gonzaga, talvez ignorando as ressalvas em torno do termo tradicional à
música do artista. As demandas relativas ao gênero promovem a realização de eventos em
São Paulo sob o título de Forró das Antigas (ALFONSI, 2007: 71). Paradoxo, já que estes
mesmos jovens não se importam muito com Luiz Gonzaga e somente passam a admirar o
artista a partir de um novo modo de se fazer forró, incentivado, divulgado e consolidado pela
indústria cultural e por agentes completamente diferentes daqueles que originam as cantigas
sertanejas e o modo de se fazer festa no sertão brasileiro. Tais reflexões encontram-se no
texto de Hugo Ribeiro (2006: 554), ao analisar a folclorização do folclore:
Palavras como proteger, resgatar ou restaurar, estão quase sempre associadas aos
textos folclóricos. Uma das principais preocupações desses agentes está
relacionada com a perda identitária causada pela influência nociva das culturas
industrializadas – baseadas em laços mercantilísticos – nas culturas ditas rurais,
ou tradicionais. Todavia, essa ânsia por preservar, proteger e resgatar práticas
culturais está quase sempre associada ou promovida por agentes culturais
estranhos àquelas práticas, numa clara ação de cima para baixo. Ou seja, continua
30
http://www.trionordestino.com.br/historia.php, acesso em 10/01/2008.
47
havendo uma influência da ―alta cultura‖ na cultura popular, porém, se uma era
velada, atuando no âmbito ideológico, a outra é assumida, e atua principalmente
nos comportamentos e produtos culturais.
Estas afirmações também se coadunam com Teixeira Coelho (1986: 6) ao identificar que a
música de massa não é produzida por quem a consome e sim pela elite que produz e divulga
estilo.
48
CAPÍTULO III
3
FORRÓ ELETRÔNICO E UNIVERSITÁRIO EM SALVADOR
3.1
FORRÓ ELETRÔNICO EM SALVADOR
De acordo com entrevista realizada com o músico Verlano Gomes31, vocalista e
empresário da banda Flor Serena, o Forró Eletrônico em Salvador, ―começa em 1993,
com a banda Mastruz com Leite, trazida pelo empresário de Cruz das Almas, Paulo
Tear‖. Segundo Gomes, a banda toca em um trio elétrico na tradicional lavagem do
Senhor do Bonfim. Naquele ano, o novo formato do forró não agrada ao público: a
banda é vaiada. No entanto, Paulo Tear insiste e traz outras bandas de Forró Eletrônico
para Salvador, como a Cavalo de Pau, Calcinha Preta, Magníficos e a própria Mastruz
com Leite.
Inicialmente rejeitado pelos soteropolitanos, o FE passa a atrair crescente público, ainda
na década de 1990. As festas com FE acontecem em casas de shows da época, de meado
de maio até o São João. As principais casas onde ocorrem tais eventos são: Lagoa Mar
(hoje em dia é o Bar do Boteco), Estação da Cerveja (onde atualmente funciona o bar
Ponte Aérea), Mamagaya (no local, desde 2006, funciona a casa de shows Malagueta),
Costa Verde Tennis Clube e posteriormente no Banana‘s Beer (desde o final de 2004, os
proprietários modificam-lhe o nome para Coliseu). Essas casas funcionam na orla de
Salvador, em Patamares, Piatã e Corsário. Além das festas citadas, acontecem, também
no período junino, festas na Associação Atlética do Banco do Brasil, localizada na rua
Deputado Paulo Jackson, no bairro de Piatã, com Forró Pé-de-Serra e Eletrônico, até
então, organizado pela instituição com o intuito de arrecadar fundos para construção do
ginásio do clube.
Alguns jovens ainda procuram o Uauá, pequena, humilde e rústica casa de forró
localizada no bairro de Itapoan, até então freqüentada predominantemente por pessoas
da terceira idade. Ir ao Uauá era um passeio vivenciado pela juventude como algo
31
Entrevista realizada no dia 29 de janeiro de 2008. Verlano Gomes nasceu em 1972, na cidade de Ipirá,
no sertão baiano. Começa a carreira com 14 anos. Mantém, desde os 16, emprego no Banco do Brasil. No
edntanto, em 2000, dedica-se exclusivamente a seguir apenas a carreira musical e investir na formação da
própria banda, uma das preferidas da juventude baiana. Parte significativa do repertório da Flor Serena
são autorias de Verlano.
49
exótico32 e sazonal, por ocasião das festas juninas. Alberto Ikeda (1990, 11) observa:
―Embora o público dos forrós seja predominantemente de jovens e pessoas de meia
idade, é comum a freqüência de indivíduos mais idosos, notadamente nas casas
localizadas nos bairros mais populares‖.
O empresário Ward Portela33 enfatiza que de 1993 a 2001, os blocos de carnaval
realizam, a partir da segunda quinzena de maio, diversos eventos, entre os quais as
festas do bloco Cheiro de Amor, Eu Vou, CocoBambú e A Barca (do mesmo grupo do
Cheiro de Amor). Ocorrem em especial no Hotel Quatro Rodas (atual Hotel Sofitel
Quatro Rodas) e na praça Tereza Batista, no Pelourinho. Portela ressalta que o sucesso
destes eventos deve-se ao pouco número de faculdades e universidades no interior do
estado, então os jovens interioranos que continuam os estudos mudam-se para Salvador,
onde o forró lhes possibilita resgatar as origens rurais. Tal procedimento remete às
migrações nordestinas para o sudeste na década de 1950: grandes grupos, fugidos da
decadência, das poucas oportunidades de trabalho e da opressão de poderosos
proprietários e políticos donos de terras na região, retiram-se da terra natal. Nesse
sentido, Márcio Madeira (2002, 19) considera: ―Um baile de forró no meio urbano
‗substitui‘ o contexto rural, o ambiente geográfico do sertão, mesmo que
figurativamente. Qualquer necessidade de analogia com o ambiente rural do sertão
nordestino pode ser feita por meio do forró (baile)‖.
Ward Portela e Verlano Gomes afirmam que na década de 1990 as bandas de forró que
se formam em Salvador são influenciadas pela música country, grande sucesso da
época, pela Lambada e também pela música brega. Portela e Verlano dizem que
Reginaldo Rossi34 faz grande sucesso entre a juventude da classe média
Segundo Portela, a organização destas festas declina quando os blocos carnavalescos
perdem o que denomina de ―social‖, ou seja, suas redes de contato. De acordo com o
32
Experiências próprias da pesquisadora, que freqüentava a casa ocasionalmente, em 1996, com colegas
dos Colégios particulares Sartre e Antônio Vieira, além de relato do empresário Ward Portela.
33
Empresário do entretenimento desde 1993. Sócio da produtora de eventos Coliseu Eventos e Turismo,
proprietária da única casa de forró soteropolitana, desde 2000, da casa de shows Malagueta e de uma
empresa de bar itinerante. Entrevista realizada em 29/11/2007.
34
Cantor e compositor, nasceu em Recife (PE), no dia 14 de fevereiro de 1944. É conhecido como o "Rei
do brega". http://pt.wikipedia.org/wiki/Reginaldo_Rossi, acesso em 25 de fevereiro de 2008.
50
empresário, essas redes são desfeitas a partir da centralização da venda dos abadás pela
empresa Central do Carnaval.
Para a juventude, outro pólo festivo junino são as festas fechadas, realizadas no interior
do estado, a partir de 1993, por produtoras de Salvador. As mais antigas acontecem em
Amargosa, Cruz das Almas, Senhor do Bonfim, Ibicuí e Euclides da Cunha; cada uma
possui um nome e uma campanha de marketing: Amargosa – Forró do Piu Piu; Cruz das
Almas – Forró do Bosque e Forró do Lago; Senhor do Bonfim – Forró do Sfrega;
Euclides da Cunha – Forró do Sapo e Ibicuí – Tico Mia. Os ingressos são vendidos em
várias cidades interioranas e, principalmente, em Salvador. Os jovens da capital
compram, cerca de dois meses e meio antes, uma camisa que lhes garante o direito a
churrasco, a bebidas e a um dia de festa em uma fazenda. Cada ano uma cidade é
―escolhida‖ como a principal, a que recebe o maior número de jovens da classe média
de Salvador. Entre os fatores que determinam a relevância anual da festa estão as
atrações e o dia em que ocorre o feriado junino, propiciando viagens longas ou curtas.
Em paralelo às festas, outras empresas organizam excursões a serem vendidas ao jovem
soteropolitano, com transporte e acomodação, em casas previamente alugadas ou em
escolas cedidas pela Prefeitura local. Além da festa particular, estes turistas vivenciam a
rotina das cidades onde estão hospedados: acordam por volta das 11 horas da manhã,
almoçam em restaurantes, bebem quase a tarde toda nos bares da praça, jogam dominó,
conversam com os amigos e fazem novas amizades. Recolhem-se no início da noite,
quando tomam e descansam até o momento principal: o show noturno na praça. Cada
turista gasta em média 50 reais por dia, de acordo com Ward Portela e Alexandre
Liberato35.
Os shows na praça são de bandas de Forró Pé-de-Serra (geralmente abrem ou encerram
a noite) Universitário ou Eletrônico. Já nas festas particulares, sempre há grandes
atrações do Forró Eletrônico nacional e da Axé-music. Como exemplo, cita-se a festa de
Amargosa (município localizado no Vale do Jiquiriçá, a 240 km da capital),
denominada Piu Piu. Esta festa ocorre desde 1996, no Hotel Fazenda Colibri, e é uma
35
É conhecido como Alexandre Bógus. Sócio da produtora Pequena Notável, sócia de Claudinha Leite.
Atualmente é a produtora de Vixe Mainha, Alexandre Peixe e vende shows de diversas bandas e artistas
em Salvador, como: Nando Reis e Aviões do Forró. Realiza diversos eventos no Brasil, a exemplo do
bloco UAU, criado em 2001, atuante nas principais micaretas do Brasil.
51
das preferidas dos jovens soteropolitanos. Em 200736, a festa acontece em 23 de junho,
iniciando às 13 horas e a animação deve-se às presenças de Asa de Águia (Axé-music),
Alexandre Peixe (Axé-music), Tio Barnabé (Forró Universitário) e Magníficos (Forró
Eletrônico). A entrada custa 90 reais na pista e 180 no camarote. De acordo com
Alexandre Liberato (Bógus)37, um dos sócios do evento, aproximadamente 7.000
pessoas animam o Piu Piu 2007.
3.2
FORRÓ UNIVERSITÁRIO E ELETRÔNICO O ANO INTEIRO
Até a explosão nacional do Forró Universitário, em 2000, as festas forrozeiras
freqüentadas por jovens em Salvador se relacionam às comemorações juninas, nos
meses de maio e junho.
Em abril de 2000, é realizada, pela produtora Dinamus38, a primeira grande festa de
Forró Universitário na cidade, com um público formado, aproximadamente, por 60.000
pessoas, no
Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador
(área do Parque:
450.000 m2),
localizado na
39
Avenida Paralela . A atração da festa é a banda Falamansa.
A partir deste evento na cidade, com Falamansa, da repercussão do Forró Universitário
e Eletrônico na mídia nacional e do consolidado relacionamento dos jovens baianos
com o São João, as empresas de entretenimento da cidade se voltam para o ritmo:
percebem como podia ser rentável em outras épocas e não apenas na junina. A partir de
então, o número de eventos direcionados para o forró cresce ano após ano, nos maiores
espaços da capital, como no desativado parque aquático Wet‘n Wild, a casa Espetáculo,
o próprio Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, as boates Bahia Café Hall,
Satélite e Fashion (atual Club Madre). Surgem inúmeras bandas locais, formadas
também por jovens, a Estakazero, Tio Barnabé e Flor Serena, que agradam ao público e
incentivam outros jovens a formarem mais bandas.
36
A pesquisadora estava trabalhando na cidade, como comentarista do São João, na transmissão ao vivo
da TV Educativa da Bahia.
37
Entrevista realizada no dia da festa.
38
A produtora funciona na Av. Tancredo Neves, no edifício Multiplus, em Salvador.
39
http://www.seagri.ba.gov.br/parqueexpo.asp, acesso em 08/01/2008.
52
Exemplo da importância do forró na cidade ocorre no dia 07 de outubro de 2007, no
Wet‘n Wild40. Na ocasião, ocorre o lançamento do primeiro Cd de uma banda da Axémusic denominada como Voa Dois. A produtora da banda é a empresa PentaEventos.
Para o lançamento deste CD, como estratégia para atrair o público, é contratada uma
banda forrozeira adorada pelos soteropolitanos: Aviões do Forró (Fortaleza/CE).
Estima-se que mais de 20.000 pessoas comparecem ao evento41.
Atualmente a AABB aluga seu espaço para que produtoras, como a PentaEventos,
realizem forró, levando grandes atrações como Flávio José e Adelmário Coelho e
gerando altas cifras: receitas de 50.000 reais (aproximadamente), oriundas das vendas
de ingresso, de acordo com Ward Portela. A temporada de forró da AABB é iniciada
geralmente no mês de março e não mais em maio.
Aos 20 de abril de 2008, ocorre jogo de futebol no estádio Antônio Barradas, entre
Bahia e Vitória, os times mais tradicionais do estado. O Bahia ganha de quatro a um.
Circulando após o jogo pela orla de Salvador, são encontrados três grupos de jovens
comemorando a vitória em postos de gasolina onde existem lojas de conveniência.
Todos os grupos escutam forró, sendo que em um a música é executada pelos jovens
que possuíam zabumba e sanfona. Outra relação entre o forró e as mais tradicionais
torcidas do futebol baiano, acontece também em abril de 2008. A torcida tricolor se
apropria de partes da música Chupa que é de Uva, da banda Aviões do Forró, como
provocação ao adversário: ao ganharem as partidas os torcedores tricolores comemoram
com ―Chupa que é de uva‖42, trecho retirado do refrão da música com tal título
(composição de Alexandre Avião, Richardson Maia e Marujo): ―Na sua boca eu viro
fruta/ Chupa que é de uva.‖
Na maior festa baiana, o carnaval de Salvador, o forró também tem espaço. Em 2006 é
realizado, pela Flor Serena, com apoio da casa de shows Coliseu, o Beco do Forró, em
um privilegiado espaço do bairro de Ondina, entre dois camarotes: o da rádio Itapoan
FM e do Salvador Praia Hotel. No final do beco, é montado um pequeno palco onde a
40
O parque fica localizado na Avenida Paralela. Está desativado já há alguns anos, sendo constantemente
utilizado para realização de eventos.
41
http://www.blocotrazamassa.com.br/sel_noticia.php?id_not=70, acesso em 01 de dez. 2007.
42
http://letras.terra.com.br/avioes-do-forro-musicas/1186715/. Acesso em 02 de maio de 2008.
53
banda Flor Serena43 toca entre as passagens dos trios. Vale salientar que os foliões nas
laterais dos camarotes, de onde era possível visualizar o palco, dançam o Forró e não as
músicas tocadas no interior destes, geralmente Axé-music, ritmo emblemático da
música baiana em outros estados e países.
Os shows de Forró Eletrônico nacionais na cidade atraem número tão significante de
pessoas que sempre são realizados nos maiores espaços para eventos da cidade: o
Parque de Exposições e o Wet‘n Wild.
Para grande festa anual de Forró Universitário do Brasil, em julho, na cidade de Itaúnas
(Espírito Santo), são organizadas excursões com ônibus cheios de jovens
soteropolitanos. A procura por este evento tem aumentado tanto que Verlando Gomes,
vocalista da banda Flor Serena, está planejando organizar um evento semelhante ao de
Dunas, no Litoral Norte baiano em 200844.
3.3
AS BANDAS DE FORRÓ EM SALVADOR
3.3.1 CLASSIFICAÇÕES
A presença dos três estilos forrozeiros analisados, Pé-de-Serra, Universitário e
Eletrônico, em Salvador, é inconteste. No entanto, a classificação das bandas não é
objetiva, pois na estrutura dos espetáculos, mesclam FPS, FE e FU, em uma mesma
apresentação. Citando Raimundo Cordeiro (2002: 104): ―Assim, quem quer que se
proponha estudar um gênero musical, presente numa sociedade complexa, enfrentará
certas dificuldades taxionômicas, decorrentes da mistura de influências aportadas no
gênero musical investigado‖.
Além das alternâncias de estilos em um mesmo espetáculo, as bandas de Salvador
quando se apresentam no interior do estado – onde o público e, conseqüentemente, as
prefeituras contratantes exigem shows mais dinâmicos e com mais recursos visuais –
alteram a estrutura. De acordo com Ward Portela, Jânio Almícar, Verlano Gomes, Léo
43
A banda existe há mais de cinco anos, possui dois CD‘s com letras próprias e é uma das líderes do
movimento universitário na cidade.
44
Entrevista realizada com o cantor e compositor no dia 20 de setembro de 2007.
54
Macêdo e Kiko Luz45, as bandas utilizam esta estratégia a fim de agradar os diferentes
públicos e garantir os contratos. Por conta da demanda de novidades, alguns artistas
baianos criam novas classificações a fim de fugirem das rotulações ou serem
reconhecidos como únicos, utilizando nomenclaturas como Forró Pé-de-Serra atual,
Forróxé, ou preferindo se denominarem apenas como forrozeiros.
O jornalista Marcos Casé, em matéria divulgada no jornal A Tarde, em 30 de maio de
2006, comenta sobre a dinâmica das bandas de forró em Salvador:
E, assim como a Axé Music, a variedade é grande. Há desde as atrações que
primam pelo forró mais puro, chamado de pé-de-serra, com os trios de
triângulo, sanfona e zabumba e dos seguidores de Gonzagão, até o forró tido
como moderno, das grandes bandas, como Magníficos, Calcinha Preta,
Mulheres Perdidas, Colher de Pau, entre outros. Existem, ainda, aqueles que
preferem um forró cheio de influências ecléticas e fazem um som misturado
com estilos que aparentemente não combinam como o afoxé e o reggae, a
exemplo do grupo Tio Barnabé.
Em exibições televisas é comum o entrevistador ou apresentador questionar integrantes
sobre a classificação da banda. Um exemplo ocorre no jornal Bahia Meio Dia, de 11 de
abril de 2008, da Rede Bahia de Televisão (Canal 11, transmissora da Rede Globo), no
qual a repórter Patrícia Nobre faz tal questionamento à banda Acarajé com Camarão.
Assim, a trivialidade da pergunta remete a uma resposta trivial e também midiática: a
banda se rotula como tradicional. No entanto, canta e toca atualidades.
Aparentemente, os forrozeiros de Salvador se apropriam de diferentes estilos,
decorrentes da evolução do forró, utilizado-os em seus shows, tendo sempre o cuidado
de explorar mais um estilo do que outro, a fim de serem reconhecidos de acordo com o
preponderante. Entre as escolhas predomina quase sempre o Forró Pé-de-Serra.
As bandas, durante as entrevistas demonstram muita preocupação ao se classificarem,
sendo enfáticas nas rotulações. No entanto, ocorrem muitas contradições entre o rótulo
proferido e a performance - ―[...] ato de interpretar, por meio da voz, do corpo, do
figurino e dos instrumentos, uma peça musical em uma execução de palco, em um
show‖ (ALFONSI, 2007: 104).
45
Jânio Amílcar é empresário, sócio de Ward Portela. Verlano Gomes é vocalista e proprietário da banda
Flor Serena, Léo Macedo é vocalista e sócio da Estakazero. Kiko Luz é ex-integrante da Estakazero,
sendo agora sócio da Sob Poeira.
55
3.3.2
COMERCIALIZAÇÃO
Os forrozeiros soteropolitanos utilizam como principal veículo de divulgação dos shows
o site de relacionamento Orkut46 e panfletos distribuídos, essencialmente, em portas de
faculdades, bares, restaurantes, barracas de praia e próximos a grandes eventos em
realização. Alguns artistas forrozeiros possuem sítios eletrônicos próprios, como Flor
Serena, Estakazero, Colher de Pau, Tenison Del Rey, Del Feliz e Tio Barnabé. Segue
exemplos dos comunicados feitos por alguns deles no Orkut:
“FORROZEIROS E FORROZEIRAS!!
Vim divulgar mais um show da ZÉ DE SAIA!!
ZÉ DE SAIA
CANGAIA DE JEGUE
Dia 15 (terça-feira) a partir das 21hs
Local: Rock It
Ingressos: 8 reais com nosso pré-convite
Apareça pra dançar um forró animado com a gente!!‖
“ATENÇÃO FORROZEIROS E FORROZEIRAS...
A banda Zé de Saia vai tocar essa Sexta-feira
no Coliseu do Forró (a melhor casa de forró da cidade)
Então anote aí:
Zé de Saia e Forró Massapê
Onde: Coliseu
Quando: Sexta (28/03)
Hora: 22:30h
E o melhor eu nem falei ainda, vc pega com a galera da banda
um pré-convite e só paga 5 reais pra entrar...Meu amigo, 5 reais pra ver a Zé de Saia é uma
BAGATELA!!
APROVEITE!!‖
O lucro das bandas é proveniente dos shows e não da comercialização de CD‘s. Estes
são produzidos para divulgar as bandas, como os CD‘s entregues às produtoras de
eventos, às rádios soteropolitanas e também para o público em geral. Uma ferramenta
bastante utilizada é comercializar os Cd‘s a preços módicos durante os shows: ―Os
discos, para seus autores e produtores, são vistos apenas como meio de divulgação‖
(VIANNA, 2006). Bandas e artistas de forró de Salvador realizam, preponderantemente,
gravações independentes, em estúdios próprios ou alugados, e se responsabilizam pela
distribuição. Vender CD‘s a preços bem razoáveis é estratégia utilizada pela Estakazero,
Flor Serena, Colher de Pau, Tio Barnabé, entre outras. Nos eventos, um CD custa entre
46
―O Orkut (ou orkut) é uma rede social filiada ao Google, criada em 24 de Janeiro de 2004 com o
objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos. Seu nome é originado
no projetista chefe, Orkut Büyükkokten, engenheiro turco do Google. Tais sistemas, como esse adotado
pelo projetista, também são chamados de rede social. É a rede social com maior participação de
brasileiros, com mais de 23 milhões de usuários‖. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Orkut. Acesso em:
10 de fev. 2008.
56
cinco e oito reais, sendo, às vezes, vendido junto com o ingresso dos shows: na compra
do ingresso a um custo variável entre 12 e 20 reais, o Cd é grátis.
O processo de produção do forró em Salvador – assim como Fortaleza e em outras
cidades – tem agora uma série de envolvidos, com poder e retorno financeiro
semelhantes entre si. As gravadoras não exercem mais o papel preponderante na cadeia
produtiva fonográfica. De acordo com Hermano Vianna (2006):
[...] o dinheiro e o poder são divididos entre muitos parceiros diferentes: o
músico, o produtor, os intermediários, a fábrica caseira de CDs, os
distribuidores para camelôs, os camelôs, os programas de rádio, os donos
das aparelhagens, os DJs. Os sucessos são produzidos pela atuação conjunta
de todos esses empreendedores, quase todos eles informais.
Os músicos não têm mais gravadoras nem o custo de prensar os discos,
imprimir as capas ou distribuir os produtos - esse custo todo fica por conta
das fábricas caseira de CDs, dos camelôs e de seus sistemas não-oficiais de
indústria e comércio. E muitas vezes seus grandes sucessos são metamídia:
as músicas elogiam DJs, programas de rádio (como o Mexe Pará) e de TV,
aparelhagens (como são chamadas as equipes de som que animam as festas
paraenses).
De acordo com Márcia Dias (2000: 132), há registros antigos da produção fonográfica
brasileira independente. A autora afirma que não há um consenso de quando a produção
fonográfica brasileira independente se inicia, mas informa:
As informações sistematizadas sobre as iniciativas de produção fonográfica
que acontecem fora do circuito das majors Brasil datam do início dos anos
60. No entanto, é possível encontrar na literatura, informação histórica
esparsa, fragmentada, que deixa entrever a participação das indies
[independentes] desde os primórdios da produção fonográfica local.
O crescimento da produção independente ocorre com o avanço tecnológico, que além de
oferecer novas possibilidades também reduz os custos de produção, fazendo com que
artistas com menos recursos gravem álbuns: ―Assim, observa-se a redução do preço da
montagem de um estúdio, dos serviços oferecidos por este (preço da hora-estúdio e do
número de horas utilizadas nas gravações; custo de materiais e insumos) e de outros
custos de produção, tais como o número de músicos envolvidos (DIAS, 2000: 127)‖.
O novo forró, iniciado na década de 1990, é fomentado pela produção fonográfica
independente, assim como ocorre com o punk e o rock dos anos 1980 na Inglaterra
(DIAS, 2000: 128). É através da produção independente que as bandas chegam aos
meios de comunicação. Quando os fenômenos da pirataria e da produção independente
57
ainda não estavam consolidados, os artistas que trabalham com gravação e distribuição
independentes encontram mais obstáculos para chegar às lojas oficiais e atingir o
público. Hoje isto não é mais preocupação. Márcia Dias (2000: 135) relata que uma das
dificuldades dos artistas iniciantes nos anos 1980 era penetrar nas majors, o que motiva
a produção das indies (gravadoras independentes). Com o avanço da produção
independente, as majors tentam novas alternativas para se manterem em funcionamento.
As dificuldades que encontram se devem tanto a produção e a distribuição
independente, como também, em razão do avanço da pirataria.
As lojas de CD‘s perderam a força e muitas mal conseguem se manter. Exemplo é o
novo centro de compra organizada de Salvador: o Salvador Shopping. Neste
empreendimento, localizado na Avenida Tancredo Neves, inaugurado no dia 22 de maio
de 2007, com 153 mil metros quadrados de área construída47, não há nenhuma loja
específica para venda de CD‘s.
Expedito Silva (2003: 58) afirma sobre este contexto e as bandas de forró: ―Grandes
nomes surgiram através do CD independente, tais como: as bandas Mastruz com Leite,
Cavalo de Pau, Limão com Mel, Magníficos (que depois assinou contrato com a Sony),
e Frank Aguiar (que assinou contrato com a Abril Music‖. O forró em Salvador é um
exemplo da nova comercialização musical do Brasil, comentada por Hermano Vianna
(2006):
Citei esses três exemplos - do tecnobrega paraense, do forró amazonense e
do lambadão matogrossense - para mostrar como as músicas mais populares
do Brasil contemporâneo - as que realmente colocam o povo para dançar nas
festas mais animadas e que são cantadas nas ruas das grandes cidades do
país - não são as mais tocadas no rádio, não aparecem em programas de
televisão, não são lançadas pelas grandes gravadoras. Seus sucessos são
geralmente desprezados pelos críticos que escrevem nos grandes jornais.
Seus artistas não são convidados para os milhares de debates e seminários
que discutem "cultura popular". É como se fossem populares demais para
serem autenticamente populares.
Poderia citar muitos outros gêneros musicais que sobrevivem também nessa
estranha zona de penumbra (a que junta sucesso de massa com invisibilidade
na mídia oficial de massa), como o funk carioca (que, apesar de seu sucesso
momentâneo fora das favelas, continua ignorado pelas gravadoras e pela
maioria das rádios e das TVs), o vaneirão pop gaúcho, as novas vertentes da
música baiana (o arrocha e o samba duro [...] por exemplo), a maioria das
duplas sertanejas de Goiás e Mato Grosso do Sul - e tantas outros.
47
http://www.salvadorshopping.com.br/shop_dados.asp. Acesso em 02 de abr de 2008.
58
3.4 OS ARTISTAS E AS BANDAS DE FORRÓ NA CAPITAL
A seguir são apresentadas 16 bandas, de acordo com o destaque que possuem em
Salvador48.
3.4.1
ADELMÁRIO COELHO
Adelmário Coelho é o forrozeiro baiano como maior projeção nacional. Gravou 14
álbuns musicais e um DVD ao vivo. De acordo com a página eletrônica oficial49, são
600.000 cópias de discos vendidos, além de uma média de 100 shows por ano, em quase
15 anos de carreira.
Segundo Tissiana Berengüer50, responsável pela empresa que realiza a comunicação de
Adelmário, o músico prefere ser classificado apenas como ―forrozeiro‖, sem outras
adjetivações. No jornal A Tarde, de 11 de abril de 2008, Adelmário é assim descrito:
―TRADICIONAL– [...] Adelmário Coelho, representante do autêntico estilo arrasta pé
na Bahia [...]‖. No entanto, o show do músico conta com corpo de baile cujas bailarinas
utilizam roupas sensuais. Além disso, de acordo com Tissiana, o espetáculo também é
composto por instrumentos típicos do Forró Eletrônico, como saxofone, trompete e
trombone e ainda sanfona, zabumba, triângulo, baixo, bateria, guitarra e duas backing
vocals. O figurino de Adelmário também é híbrido: constantemente utiliza chapéu de
couro, com roupas típicas do figurino eletrônico: blusas de malha e calças jeans bem
justas ao corpo.
3.4.2 BANDA ESTAKAZERO
Referente ao estilo da banda Estakazero, de acordo com Léo Macedo, vocalista e
empresário da banda, trata-se de Forró Universitário. Os instrumentos utilizados são:
sanfona, zabumba, triângulo, contrabaixo, violão, guitarra e efeitos metais. Léo funda a
banda, a partir da experiência como vocalista da Colher de Pau: quando deixa esta
banda, inicia carreira solo e logo forma nova banda forrozeira, em 2001.
48
Os dados foram coletados através de questionários respondidos por integrantes das bandas por
intermédio de entrevistas realizadas com os músicos, pesquisas em sítios eletrônicos, jornais eletrônicos e
impressos.
49
http://www.adelmariocoelho.com.br/
50
Entrevista realizada com a empresária no dia 25 de março de 2008.
59
Até o início de 2008, a Estakazero já havia gravado quatro cd´s e um DVD. Segue
notícia ilustrativa sobre a banda, divulgada no jornal A Tarde: ―Ainda na área do Forró
Pé-de-Serra, o público do Inté Raiá poderá ver o grupo baiano Estakazero, que às
sextas-feiras realiza ensaio no Bahia Café Hall, sempre com convidados
especiais‖(CARVALHO, 2008).
Em entrevista realizada no estúdio da banda, em uma casa no Jardim Apipema, bairro
de classe média, onde também está o escritório da Estakazero, Léo afirma que a banda
conta com estrutura administrativa e de marketing: além de ser contratada para festas,
realiza os próprios eventos, sendo, inclusive, a primeira banda de forró em Salvador a
tomar esta iniciativa, adotada posteriormente por outras, como a Colher de Pau, a Flor
Serena e a Arrocha o Nó.
O primeiro evento foi o Luau da Estakazero, realizado em 2002, em uma barraca na
Praia do Flamengo. O público dançava, de fato, em cima da areia. Com o sucesso do
evento,a festa passa a um local maior, ainda na praia. Posteriormente, o projeto é
abrigado na antiga boate Satélite. Segundo Léo, a escolha do local deve-se a dois
fatores: a boa estrutura externa, onde monta o palco, além da boate interna. O vocalista
e empresário diz que estes eventos são estratégias para atrair o público no verão ―[...] na
atmosfera em volta do Forró Universitário, que relaciona o estilo com praias‖. As
músicas da Estakazero constantemente estão no contexto praieiro, com luas, menções ao
litoral e amores juvenis. Segue uma das letras de maior sucesso da banda:
Lua Minha51
Composição: Kuque Malino
Intérprete: banda Estakazero
Álbum: Lua Minha 2005
Cheguei, chovia
Eu não sabia tinha alguém a esperar
Olhei, sorria
Sorriso doce que faz apaixonar
Em menos de um segundo a minha vida mudou
Até sei quem fui
51
http://www.estakazero.com.br/letras/estakazero_luaminha.doc, acesso em 27/03/2008.
60
Porem não sei mais quem sou
Se ela me quiser, tenho certeza,
não vou mais a lugar algum
Mistura exata de anjo com mulher
Um olhar que mata mais assim quem não quer
A beleza nata que transforma um deus em sujeito comum
Lua minha
Que ilumina as noites do litoral
Lua minha
Te ter todinha num eclipse total
Lua minha
Te ver crescente, nova, cheia de amor
Lua minha...
Serei minguante quando você se for.
3.4.3 BANDA TIO BARNABÉ
A banda Tio Barnabé é formada no verão de 2004. Nas apresentações utiliza sanfona,
zabumba, triângulo, baixo e percussão. De acordo com o site oficial 52, os componentes
possuem entre 22 e 27 anos. Os proprietários da banda são o vocalista, Marcos Leandro
Fatel da Silva, os empresários Ivan e Paulo, da Pida Eventos, produtora que além de
realizar espetáculos tem um programa sobre festas juvenis na TV Itapoan, nas manhãs
de sábado. A produtora Pequena Notável também é proprietária, com 40% da banda. De
acordo com Alexandre Liberatto - Bógus, a Tio Barnabé é Forró Universitário e a
produtora se interessa pela banda em função da ascensão do forró em Salvador. A Tio
Barnabé tem destaque no cenário baiano especialmente em função dos contatos dos
empresários das duas produtoras. Ambas conseguem fechar contratos para tocar em
grandes eventos, como as festas fechadas nas cidades do interior baiano, eventos no
Parque de Exposições e no Parque Aquático Wet´n Wild. O repertório da Tio Barnabé
utiliza diversas músicas da Axé Music, sendo por isto, denominada por muitos como
―Barnaxé‖.
3.4.4 BANDA COLHER DE PAU
É criada em 1995 e reconhecida como a primeira banda de Forró Universitário de
Salvador. No percurso, teve diversas formações; atualmente possui dois vocalistas, um
52
http://www.tiobarnabe.com.br/, acesso em 03 de fev. 2008.
61
sanfoneiro, um guitarrista, um contrabaixista, um baterista, um tecladista e um
saxofonista. Gravou nove cd‘s, sendo o último lançado em janeiro de 2008. Sobre o
início da carreira, o site53 traz:
A intenção inicial era apenas se divertir, pois sendo universitários de várias
áreas, a música não era uma atividade profissional para eles. [...] Com o
número de propostas aumentando, a profissionalização tornou-se inevitável.
Foi assim que, em 1997, resolveram gravar o seu primeiro CD. No início foi
difícil encontrar apoio para a idéia de gravar um CD de forró em plena ―terra
do axé‖, mas conhecendo a força do trabalho, a persistência e o talento
daqueles jovens, o poderoso mercado da axé-music resolveu adotá-los como
a primeira banda de forró de Salvador. Hoje o forró na Bahia é uma
realidade e o pioneirismo da Colher de Pau coloca a banda em destaque no
cenário musical do estado.
Quanto à performance, aponta:
Nos shows, a Colher de Pau tem um repertório eclético, navegando com a
mesma qualidade musical por todas as vertentes do forró, desde o tradicional
pé-de-serra, passeando pelo vanerão, pelo forró romântico, indo até a
novidade que é a Colher Elétrica, onde o público curte o ―forróxé‖, o que
torna as apresentações alegres, românticas e divertidas, agradando ao
público.
A referência ao forroxé se faz pertinente, pois, assim como a Tio Barnabé, o repertório
da Colher de Pau é repleto de músicas da Axé Music.
3.4.5 BANDA FLOR SERENA
Segundo Verlano Gomes, vocalista e empresário da banda, a Flor Serena é fundada em
2000 e trata-se de Forró Pé-de-Serra. Quando realiza shows no interior, não usa corpo
de baile, mas bonecos Mamulengos e acrescenta instrumentos como bateria. Os
instrumentos sempre presentes nos shows são sanfona, zabumba, triângulo, percussão,
violão e baixo. Segundo o sanfoneiro da banda, Valmir Souza, ele e Verlano são os
mais velhos do grupo, ambos com 34 anos, os demais possuem entre 23 e 28. Com
exceção do vocalista e do sanfoneiro, os demais integrantes exercem atividades
variadas, a exemplo de Adriano Reseimberg que trabalha em um cartório
soteropolitano. Adriano, residente no Condomínio Costa e Silva, no bairro de Brotas,
53
http://www.bandacolherdepau.com.br/banda.htm. Acesso em 29 de fev de 2008.
62
proprietário de um carro modelo Peuget 2006, ano 2000, afirma não ser possível viver
apenas de ganhos oriundos da banda.
A Flor Serena faz em média 16 shows por mês, entre a capital e interior. Na época
identificada pelos forrozeiros como junina – meado de maio até São João, 24 de junho –
aumenta para 28. A banda realiza temporadas de eventos, em especial no verão. De
novembro de 2007 a janeiro de 2008, fez temporada com shows todas as sextas em
bares do bairro do Rio Vermelho, Santa Maria e Pinta, onde recebe artistas convidados.
O bar fica no largo do famoso acarajé de Dinha, muito freqüentado por soteropolitanos
e turistas, sobretudo no verão.
Flor Serena já gravou dois Cd‘s, contendo músicas autorais e regravações. As primeiras
geralmente tematizam a vida no campo e as festas juninas:
Flor Serena
Composição: Verlando Gomes, Sky e Marcelo Barcellar
Álbum: Flor Serena
Flor serena meu amor, eu colhi em Salvador
É tão doce feito mel
No azul de Gezebel, no bico de um beija-flor
Violão de Menestrel
Manhãzinha na janela, cheiro de chuva na terra
Sol de final de verão
No cabelo da morena, uma linda Flor Serena
Meu jardim meu coração
Noite clara de fogueira, no céu a mais bela estrela
Flor serena quer brincar
Tem viola e sanfoneiro, cantador e zabumbeiro
Flor Serena namorar
Manhãzinha na janela, cheiro de chuva na terra
Sol de final de verão
No cabelo da morena, uma linda Flor Serena
Meu jardim meu coração
Novo dia, nova história, Flor Serena vai embora
Mil jardins pra enfeitar
Quero estar sempre ao seu lado, Flor Serena do cerrado
Com o sol a te regar
63
3.4.6 FORROZÃO DU KARAI
Tem como sócios a Sou Praieiro Produções e Eventos e a rádio Piatã FM. A produtora é
responsável pela temporada de forró 2008 na Associação Atlética do Banco do Brasil,
iniciada no dia 11 de abril de 2008. Assim, apesar da criação recente, a banda apresentase em todas as noites de uma das mais tradicionais temporadas de forró de Salvador. Em
função de um dos sócios ser uma rádio, também está constantemente presente na
programação da rádio popular com maior audiência na cidade: ―A briga pela audiência
está fervendo em Salvador, segundo os resultados obtidos pela última pesquisa do
Instituto Ibope. A popular/eclética Piatã FM 94.3 continua na liderança, posto que
ocupa há 12 anos, mantendo a sua marca expressiva‖54.
Igor Moreno, 18 anos, nascido em Macaúbas/BA, sanfoneiro da banda, afirma que além
da sanfona, a Forrozão Du Karai tem bateria, trompete, guitarra, baixo, teclado,
percussão e saxofone. Na comunidade da banda, na página de relacionamentos Orkut,
há foto de divulgação com quatro bailarinas vestidas com figurino sexy, caricaturadas
como colegiais, em função da micro saia xadrez e da mini-blusa branca. No centro da
foto estão os dois vocalistas, um homem e uma mulher.
O empresário Ward Portela comenta que estratégia semelhante é utilizada por bandas de
pagode fora da Bahia: colocam nos seus CD‘s números de contato de Salvador e outras
cidades. Anteriormente, são feitos contatos com produtora das cidades para representar
legalmente a banda. Funciona como um ―selo‖ autenticando o valor da banda com o
nome da cidade que é reconhecida como produtora de Axé Music e de pagode. Assim, a
Forrozão Du Karai coloca no seu CD o ―selo‖ de Fortaleza, reconhecida como uma das
cidades que mais produz Forró Eletrônico de sucesso, já que na capa do CD
promocional da banda há números para contatos tanto em Salvador quanto em
Fortaleza, permitindo, pois, às apresentações serem vendidas em ambas as cidades.
3.4.7 FORROZÃO CAVALO DOIDO
54
http://www.tudoradio.com/modules.php?name=News&file=article&sid=829, acesso em 30 de jan. de
2008.
64
Fundada em abril de 2007, é propriedade de sócios de uma das maiores agências de
publicidade de Salvador, a Propeg, e do comediante, radialista e músico Renato
Fechine. A Cavalo participa de algumas edições da AABB como sócia, recebendo em
contra partida, porcentagem das vendas da bilheteria e fornece chamadas televisas na
TV BA (retransmissora da Globo). Em função de desentendimentos ocorridos entre a
banda e a produtora Sou Praieiro, a Cavalo Doido participa de apenas um show no mês
de maio, findando a parceria para realização desta temporada.
De acordo com o site oficial55:
[...] traz em seu repertório, além de composições próprias, os principais hits
do momento, incluindo também releituras de antigos sucessos do
cancioneiro popular, bem com badalada da Axé music. Graças ao apoio
maciço que recebeu da mídia, o CAVALO DOIDO hoje é uma das bandas
mais tocadas nas FM`s espalhadas por toda Bahia.
O produtor da banda, Marcos Moura, sinaliza que é composta por bateria, percussão,
trio de naipe, guitarra, baixo, teclado e sanfona. Moura prefere não enquadrar a banda
em nenhum dos estilos – Forró Pé-de-Serra, Universitário ou Eletrônico – afirmando se
tratar de ― [...] uma banda estilo Saia Rodada [FE], mais para frente.‖
3.4.8 VIRGÍLIO
O músico Virgílio canta há mais de vinte anos. Antes da carreira forrozeira, canta em
trios elétricos no carnaval soteropolitano, como Top 69, Papaléguas e Tiete Vips.
Virgílio possui penetração na mídia e constantemente aparece em jornais locais,
divulgando seus shows. Apesar de ter muitos fãs em Salvador, seu maior sucesso é no
interior, em cidades como Senhor do Bonfim. Vírgilo considera-se autêntico Forró Péde-Serra e também é reconhecido assim pelo público. Nas apresentações não há corpo
de baile, utiliza-se de músicos que tocam sanfona, zabumba, triângulo, guitarra e baixo.
3.4.9 QUININHO DE VALENTE
O músico Quininho de Valente começa carreira em 1990. A banda é composta por
sanfona, zabumba, triângulo, bateria, guitarra, contrabaixo, teclados e duas backing
55
http://www.bandacavalodoido.com.br/. Acesso em 01 de maio de 2008.
65
vocals. Nos shows no interior acrescenta instrumentos de sopro e corpo de baile.
Joaquim de Almeida, o Quininho, afirma que canta Forró Pé-de-Serra. Os músicos que
o acompanham têm em média 28 anos, sendo graduados ou graduandos em Dança e
Música, na maioria. Fazem aproximadamente quatro shows por mês, sendo que na
época junina o número chega a vinte.
3.4.10 BANDA FORRÓ BOM TODO
Formada em 2003. Nas apresentações a Banda conta com sanfona, zabumba, bateria,
triângulo, baixo e guitarra. Os integrantes possuem entre 22 e 33 anos, sendo que dois
são graduados em Música, os demais cursam Engenharia Elétrica, Enfermagem, Música
e Comunicação Social. Todos possuem outras atividades profissionais. Abdon Leone,
33 anos, por exemplo, é professor de Música. Abdon afirma que a banda não possui
corpo de baile, não acrescenta instrumentos em shows no interior, realiza em média
quatro shows por mês e na época junina doze. Ressalta ainda que a banda toca Forró Péde-Serra.
3.4.11 20XOTE E UM GALOPE
Formada no final de 2003. Sempre utiliza zabumba, triângulo, efeitos metais, sanfona,
percussão, baixo e duas violas. Não se classifica como nenhum dos estilos apresentados.
Os músicos afirmam que fazem forró dendê: mistura do forró com samba de roda,
músicas consideradas pela banda fora do circuito pop. A banda não possui sítio
eletrônico, mas conta com duas comunidades no site de relacionamento Orkut, com o
total de 543 participantes. Na página criada pela banda, no Orkut,56 há a seguinte
definição: ―Banda de Forró Pé-de-Serra, com influências de raízes nordestinas, um mix
de forró com um toque de DENDÊ da Bahia. Uma mistura que vai desde o Reggae feito
na Bahia até o Samba de Roda, criado no recôncavo baiano‖.
Um dos diferenciais é que nos shows, antes de subir ao palco, a banda passeia pela
platéia, jogando pipoca e cantando músicas do candomblé. Os componentes possuem
entre 28 e 35 anos e são estudantes de cursos universitários: música, biologia e
56
http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=720615676941371086. Acesso em 20 de dezembro de 2007.
66
economia. Thiago Meok, integrante do grupo, afirma que a 20Xote e um Galope realiza
entre 7 e 8 shows por mês, sendo que na época junina chegam a tocar em 20 eventos.
3.4.12 MEU TIO DEDO
Inicia carreira em 2006. O grupo é composto por nove jovens com idades entre 20 e 22
anos. Em entrevista realizada com Ângelo Daltro, 20 anos, estudante do curso de
Publicidade e Propaganda da UNIFACS, afirma que a banda é composta por guitarra,
percuteria (percussão e bateria), zabumba, baixo, violão, triângulo, sanfona e efeitos.
Ângelo confirma que quase todos os componentes são estudantes, assim como ele.
Além disso, trabalham com outras atividades: um administra o lava jato do pai e outro
trabalha em um banco.
A banda gravou dois CD´s que mesclam músicas próprias e regravações e um DVD.
Eles se classificam como Forró Universitário, mas lhes desagrada o principal ícone
deste estilo: a banda Falamansa. Ângelo afirma que a Meu tio dedo está lançando um
estilo novo na cidade, tendo como inspiração a banda Circuladô de Fulô. Questionado
sobre o que seria este novo estilo, já que a Circuladô caracteriza-se como FU, Daltro diz
que sua banda é mais para frente57.
De acordo com Ângelo, antes da banda de forró, os jovens montaram uma banda de axé,
denominada como Vira Lata. A Vira Lata começa a fazer shows forrozeiros na época de
São João, há dois anos. Mas, depois do período junino, os componentes resolvem não
voltar mais para o axé e continuar com o forró, por questões de identificação e também
comercialização. Para Ângelo, em Salvador, o forró é mais rentável para pequenas
bandas. Ward Portela concorda com o fato dizendo que o jovem soteropolitano não
freqüenta apresentações de bandas de axé desconhecidas. E para ser conhecida, há a
necessidade de grandes investimentos.
3.4.13 FORRÓ MASSAPÊ
57
Termo comumente utilizado pelos forrozeiros em Salvador, para identificar bandas de FU ou FPS que
tocam de forma mais rápida e animada, sendo propicia à dança com coreografias.
67
A Forró Massapê, formada em outubro de 2002, apresenta-se com contrabaixo, violão,
cavaquinho, zabumba, triângulo e uma interessante peculiaridade: a banda é composta
também por violino, sendo a única dentre as estudadas a apresentar este instrumento.
Os componentes possuem idades entre 22 e 26 anos, sendo formados em Música,
Fisioterapia, Geografia, Educação Física e Administração. Todos possuem outras
atividades profissionais. A banda não possui corpo de baile, mas acrescenta ―parte
percussiva‖ nos shows interioranos. Alessandro Porto, conhecido como Calango, 25
anos, geógrafo, professor de Música e integrante da Massapé, afirma que a banda toca
Forró Universitário e realiza em média 10 shows por mês, sendo que na época junina
faz vinte.
3.4.14 JÓ MIRANDA
Jó Miranda inicia carreira em 2008. Toca com sanfona, zabumba, triângulo,
contrabaixo, guitarra e bateria. Os músicos da banda possuem entre 26 e 30 anos,
segundo grau completo e apenas o zabumbeiro tem outra atividade profissional.
Questionado sobre o estilo, responde: ―Se é que existe outro tipo de forró, sou do pé-deserra‖. Não possui corpo de baile e realiza aproximadamente cinco shows por mês.
3.4.15 BANDA SIRI COM CÂIMBRA
Formada em 2005, realiza entre cinco e oito shows por mês, é composta por teclado,
bateria, ―percussões diversas‖, guitarra e contrabaixo. Os músicos possuem entre 19 e
25 anos, são formados em Música e possuem outras atividades profissionais. Não
apresenta corpo de baile. O integrante Dimas Queiroz afirma que a banda toca Forró
Eletrônico, tendo sido a única, dentre as pesquisadas, a realizar tal afirmação.
3.4.16 ARROCHA O NÓ
A banda Arrocha o Nó, dos empresários Victor e Guto Melo, é formada em 1998. Nas
apresentações usam zabumba, triângulo, bateria, guitarra, baixo, sanfona e saxofone,
não há alterações para shows interioranos, pois sempre utiliza corpo de baile. Os
68
integrantes possuem em média 25 anos, fazem cerca de seis shows por mês e trinta na
época junina. Apesar dos instrumentos e do corpo de baile, Victor diz que a banda toca
Forró Pé-de-Serra.
3.5
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS BANDAS SOTEROPOLITANAS
Das dezesseis bandas e artistas entrevistados, apenas um dos representantes afirma
tratar-se de uma banda de Forró Eletrônico, a Siri com Câimbra, mesmo algumas outras
apresentando todas as características para isto, como A Colher De Pau, a Forrozão
Cavalo Doido e a Forrozão du Karai.
Das pesquisadas, sete bandas se reconhecem como Forró Pé-de-Serra. Cinco preferem o
rótulo de Forró Universitário. Três entrevistados não aceitam os rótulos, escolhendo
outras nomenclaturas: forrozeiro (Adelmário Coelho), Forró Dendê (20Xote e um
Galope) e forró para frente (Forrozão Cavalo Doido).
Todas utilizam sanfona e baixo. Todavia, três não usam zabumba e quatro dispensam o
triângulo. O trio sanfona, zabumba e triângulo é presente em onze bandas. A guitarra
está presente na composição de onze. O teclado é usado por cinco e o saxofone por
quatro delas. Estes instrumentos são característicos do Forró Eletrônico, no entanto,
apenas a Siri com Câimbra utiliza o rótulo Forró Eletrônico.
A bateria é utilizada por nove bandas, seis utilizam percussão e uma percuteria.
68,75 % (11 bandas) foram formadas depois de 2000. E, em todas, a faixa etária
predominantemente está em volta dos 25 anos, não havendo nenhum integrante com
mais de 35.
69
CAPÍTULO IV
4
A CASA DE FORRÓ EM SALVADOR
Além dos eventos realizados por diversas produtoras ao longo do ano na cidade, Salvador
possui uma casa de shows que apresenta forró em todos meses, sendo o ponto de encontro
dos forrozeiros. O Coliseu funciona, normalmente, às sextas-feiras e sábados.
A casa pertence à produtora Coliseu Eventos e Turismo, que também é proprietária da casa
de shows Malagueta, e de uma empresa de bar itinerante, o Bar da Praça. Funciona no
bairro Stiep, rua Doutor José Peroba, no edifício Metrópolis, onde também estão
localizadas outras produtoras, como Eva (responsável pela banda e bloco Eva), a produtora
de Adelmário Coelho, Dinamus Eventos, a Fábrica da música, a É o Tchan, a Maianga,
entre outras. Os sócios da produtora são Ward Portela (geógrafo, 36 anos) e Jânio Amílcar
(curso superior de geografia e tecnológico em gestão de eventos incompletos, 35 anos).
Os sócios se conhecem em 1998, no curso de geografia na Universidade Católica do
Salvador. Ambos trabalham com eventos há quase uma década e resolvem firmar uma
parceria experimental. A primeira festa que organizam juntos é o Forró das Dez na casa
Banana´s Beer, onde desde 2004 funciona o Coliseu. O Forró das Dez acontecia aos
sábados. Segundo Ward e Jânio o primeiro evento é bem sucedido e os dois começam a
lucrar desde então. Os empresários relatam que o período é de sacrifícios: conciliam a
organização de excursões juvenis, o novo negócio e os estudos com os empregos que
possuíam à época.
A produtora de eventos cresce a partir da ascensão obtida com o Coliseu, o que permite
outros investimentos empresariais. No entanto, mesmo com a abertura de mais dois
empreendimentos, de acordo com Ward Portela: ―O Coliseu é o principal foco da
empresa‖.
A casa Malagueta está localizada no Corsário, na orla soteropolitana, tem capacidade para
1.500 pessoas. O ingresso custa 10 reais até às 22 horas, após, passa a 15 reais. Possui um
camarote reservado para convidados vips e pessoas que pagam mais 10 reais além do
70
ingresso. A produtora assume a casa – que funciona toda sexta-feira com shows de pagode
– em setembro de 2006. Aos sábados e domingos congrega eventos com ritmos variados,
especialmente reggae, rock e, em época junina, o forró. Em 2007, as festas forrozeiras
acontecem às sextas-feiras, com as bandas Filé de Mulher (FE) e 20Xotear (FPS),
chamadas de ―Forró da Cinderela‖, nas quais mulheres não pagam até às 22 horas. A
temporada estende-se de abril a junho.
O Bar da Praça tem estrutura itinerante. Em diversos eventos na cidade é responsável por
todo o serviço de bar, assim atuou nos ensaios semanais da banda Vixe Mainha nos anos de
2006 e 2007, no Alto do Andu; em 2008, no Museu do Ritmo58, nos ensaios da Vixe
Mainha (quintas-feiras), da banda Voa Dois (sextas-feiras), da Timbalada (domingos), e da
banda Harmonia do Samba (segundas-feiras) (realiza o bar em todos os eventos do
Museu); além de explorar o bar de produções forrozeiras, como o Forró do Sapo (Euclides
da Cunha – 2006), Forró do Sfrega (Bonfim -2004), e em blocos carnavalescos de
Salvador nos anos de 2003, 2004, 2005 e 2007 (bloco EVA, Cheiro, Papa, Beijo, Harém,
entre outros). No carnaval de 2008, o bar operou no Museu du Ritmo e no camarote Oásis,
na Avenida Sete de Setembro (circuito Osmar).
A casa de shows Coliseu é a principal fonte empírica deste trabalho. De acordo com o
sóciogerente Ward Portela, quando sua produtora assume a casa em 2000, o nome do local
é Banana‘s Beer e recebe um público composto por pessoas entre os 25 e 50 anos. O nome
da casa é modificado foi alterado em 2004 como estratégia de marketing. Segundo Portela,
a produtora investe muito em mídia para trabalhar uma marca que não lhe pertence.
O empresário afirma que no segundo ano de funcionamento, 2003, a faixa etária dos
clientes diminui: a casa é freqüentada predominantemente por pessoas da classe média,
entre 20 e 30 anos. Ward atribui esta mudança ao fortalecimento do Forró Universitário e
58
A casa pertence ao artista Carlinhos Brown. Funciona no antigo Mercado do Ouro em Salvador, no bairro
do Comércio, um dos mais antigos da cidade. Foi inaugurada em 2007. No carnaval daquele ano trouxe
diversas atrações nacionais, como Zélia Duncan, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Pitty, Daniela Mercury e
Babado Novo. É freqüentado, predominantemente, pela classe média soteropolitana. Cada evento apresenta
faixa etária diferenciada. Os ensaios do Vixe Mainha custaram 25 reais na pista e 50 reais no camarote, têm
um público, na maioria, com mais de 21 anos. Os ensaios do Voa Dois custavam os mesmos preços e os
freqüentadores possuíam entre 18 e 25 anos. Os ensaios da Timbalada custavam 40 reais na pista e 80 reais
no camarote. Harmonia do Samba custava 20 reais na pista e 40 no camarote. Ward Portela e Alexandre
Liberatto afirmam que aconteceram 41 eventos na temporada do verão de 2007, encerrada no carnaval de
2008.
71
Eletrônico na cidade. Os jovens procuram, por isso, mais eventos do gênero, ―invadindo‖
os forrós e ―expulsando‖ aqueles que não se identificavam com o público juvenil. Em
entrevista realizada, o músico Virgílio59 analisa a presença de juventude no forró: ―[...] os
jovens estão aderindo mais. Não conheciam, então depois que começou a tocar no rádio,
modernizando, trazendo nova roupagem, o jovem aderiu‖. O jovem mantém o forró em
evidência na cidade. Exemplo curioso é que, após a chegada da modernização do ritmo na
cidade e da conseqüente aderência da juventude, a antiga casa Uauá é fechada. De acordo
com Portela, isso ocorre aproximadamente dois anos após sua produtora ter assumido o
atual Coliseu. O empresário acredita que a casa, freqüentada por pessoas com mais de 50
anos, fecha por falta de público, enquanto o Coliseu, voltada para o público jovem,
continua gerando bons lucros.
A casa de shows Coliseu está localizada no bairro de Patamares, na orla. Sua capacidade
máxima é de 1.700 pessoas. Dispõe de uma pista de dança, em frente ao palco de altura
baixa, com iluminação cênica, e de aproximadamente 75 mesas com cadeiras, servidas por
cinco garçons. O espaço é todo coberto por telhado e não dispõe de área vip. Portela afirma
que ao assumir o local este não possuía área vip e nunca pensou em construir uma, como
fez no Malagueta, por acreditar não ser adequado à proposta forrozeira da casa.
O Coliseu terceiriza o som, composto por mesa de palco, mesa de controle das caixas de
som, pedestais para microfones, microfones e cabos. Além do aluguel dos equipamentos,
há a contratação de dois profissionais para operá-los. Este pacote custa 300 reais por dia.
Algumas bandas quando tocam na casa preferem levar seus próprios operadores de som.
Isto é uma prática comum na cidade, porque há uma crença de que os operadores de som
potencializam a atração principal dos shows enquanto minimizam os efeitos de bandas
secundárias.
A iluminação da casa é projetada pela arquiteta Liliane Lopes, contando com reguladores
que são operados pelo próprio Ward Portela, que confere grande importância este elemento
por acreditar que o forró precisa de iluminação mais escura do que o pagode e mais clara
que o reggae. Assim, ajusta a luz, pois crê que o excesso dela intimida a maioria dos
forrozeiros a dançarem. Além da iluminação cênica, realizada pelo profissional de apelido
59
Entrevista realizada no dia 20 de janeiro de 2007, no Coliseu.
72
Pastel, o palco recebe efeitos diversos de fumaça, emitidos por uma máquina específica,
alugada, juntamente com o equipamento de som.
O gerente do Coliseu é Sr. Carlos, 57 anos, morador do Costa Azul. Supervisiona tudo o
que acontece na casa. Hierarquicamente em seguida está o jovem Alessandro, 24 anos,
morador da Boca do Rio. Ele começa como barman e pouco depois, em função de sua
competência, torna-se responsável pelo sistema de bar da casa, composto por dois espaços.
Diferente de Carlos, que estar disponível exceto nas férias, Alessandro trabalha apenas às
sextas-feiras e sábados. A casa também possui uma cozinheira, uma ajudante de cozinha,
duas pessoas responsáveis pelos banheiros e pela limpeza durante os eventos, além de
cinco garçons e cinco barmen que trabalham também apenas sextas e sábados. Há também
o funcionário responsável pela manutenção e limpeza da casa que trabalha de segunda a
sexta. No escritório da produtora Claudia Lima é a secretária e Antônio Santana, o
economista, ambos trabalham de segunda a sexta.
O Coliseu conta com cinco banheiros femininos e um masculino. Possui também cozinha
industrial e camarim, localizado atrás do palco, composto por sala com sofá, espelho,
ventilador de teto e banheiro. Há também uma área externa ao camarim, separado do resto
da casa por portas com seguranças de prontidão. Esta área é muito utilizada pelos músicos
enquanto aguardam o horário das apresentações; ali bebem, comem, conversam entre si ou
com produtores, fãs e amigos que permanecem no local. Entre o camarim e o palco há um
corredor com porta de acesso exclusiva.
Em frente à casa, a partir das 21 horas, são montadas barraquinhas vendendo drinks a
preços populares. Estas barraquinhas são organizadas pelo Coliseu: Portela e Amílcar
reúnem-se com os barraqueiros para resolver problemas e propor melhorias. Afirmam que
são solicitados pelos próprios barraqueiros, que desejam manter a ordem e terem os lugares
garantidos. Entretanto, não recebem nenhum valor pelo serviço tampouco cobram taxa
pelo uso do local, já que se trata de área externa.
Há também um ponto de táxi, sempre com os mesmos motoristas, e ampla área dividida
em três estacionamentos. Estes também são completamente independentes da casa.
―Scooby‖, o responsável por um dos estacionamentos, afirma que a grande maioria do
73
público forrozeiro do Coliseu usa carro próprio, de familiares ou amigos. O público que
chega ao local em transporte coletivo é reduzido e aqueles que o fazem retornam,
predominantemente, de táxi.
Para a organização dos eventos semanais, os empresários trabalham todos os dias entre
reuniões e seleções de bandas. Semanalmente, o escritório da produtora recebe uma média
de três cd‘s de bandas forrozeiras em busca de oportunidades de trabalho. São alguns
nomes de bandas que já encaminharam Cd‘s (reprodução das capas em anexo): Forró
Boneca Cobiçada, Jó Miranda, Cheiro de Chuva e Animal Famito. As primeiras citadas
não são facilmente classificadas (entre FU, FPS e FE). Já a última é explicitamente FE: a
capa do Cd, com fundo vermelho, apresenta a fotografia dos componentes, três homens e
duas mulheres em poses sensuais. Estes CD‘s possuem uma média de 15 faixas. As
embalagens são envelopes de papelão, com cuidadosas resoluções gráficas.
Os empresários do Coliseu montam a grade dos shows dos eventos selecionando as bandas
mais conhecidas, aquelas que estão em evidência no momento e principalmente as que
atraem público por intermédio de cortesias distribuídas pela banda ou pelo número de
ingressos vendido na noite. Se a banda nunca tocou na casa e é pouco conhecida, encontra
dificuldades em ser selecionada para apresentar-se no Coliseu. Assim, para ter espaço no
Coliseu, a banda precisa ser conhecida, estar tocando nas rádios, ou ter uma boa
distribuição de Cd‘s promocionais, levando seu conteúdo ao público.
Em Salvador, assim como em diversas cidades brasileiras, é comum o uso do jabá nas
rádios: mecanismos de troca para que as canções de determinada banda sejam executadas
na programação. As permutas ocorrem mediante pagamento em espécie ou favores, por
exemplo, as bandas se apresentam gratuitamente em eventos realizados pelas emissoras.
Tanto os novos artistas quanto os tradicionais repudiam esse comércio ilegal,
porém, às vezes, realizam permuta, ou seja, quando uma rádio realiza algum show
por uma ocasião especial, ela os convida e eles se apresentam gratuitamente. Mas
afirmam que não é justo as emissoras se utilizarem desse artifício, cobrando para
divulgar o artista, pois tanto a rádio quanto a televisão precisam do artista, assim
como este necessita da mídia e dos meios de comunicação (SILVA: 2003, 64).
74
De acordo com reportagem da jornalista Luana Rocha (2008: 4), na revista da rádio
Metrópole, o preço do jabá nas rádios em Salvador varia entre 1.500 e 6.500 reais. Sobre o
jabá e o forró na cidade de São Paulo, Daniela Alfonsi (2007: 59) traz:
Para tocar em uma casa de show, a banda primeiro precisa tocar nas rádios, o
que implica na compra de um horário, o jabá. Assim, os empresários de bandas
conseguem garantir um esquema entre rádios e casas noturnas para as bandas
com que trabalha. O circuito fechado significa que a atuação de uma banda em
uma casa de show está condicionada à execução de suas músicas em alguma
rádio, preferencialmente as especializadas em forró, que em São Paulo resumese à Rádio Imprensa, Rádio Atual, Tropical FM e Nativa FM.
Salvador não possui rádios FMs especializadas em forró, mas as rádios com programação
popular tocam o ritmo, como a Itapoan, Nova Salvador, Piatã, Bahia FM e rádio Itaparica.
Na época do São João, o jabá pouco é utilizado, pois como o ritmo está em evidência é
espontaneamente solicitado pelos ouvintes.
É comum que as rádios comprem datas de shows de bandas e depois as revendam a um
preço mais alto. Existe um mercado em Salvador – fomentado por produtoras locais
representantes das bandas – que trabalha com compra e venda de shows de forró e também
de outros ritmos. Se alguém quiser realizar um evento com Aviões do Forró, ou Tio
Barnabé, por exemplo, precisa entrar em contato com a produtora Pequena Notável (a
mesma de bandas Babado Novo – encerrada em fevereiro, por ocasião da saída da
vocalista Claudia Leitte e Vixe Mainha). Em entrevista, Alexandre Liberatto informa que o
show da Aviões no estado varia ente 80 e 120 mil reais.
Para fazer uma apresentação em Salvador com Flávio José, é necessário comprar a data
com o empresário Mário Paim. Para eventos com Calcinha Preta é necessário negociar com
Guto, da Dinamus. Grandes artistas como Elba Ramalho, Fagner e Zé Ramalho são
comercializados na cidade pelo pioneiro no trabalho empresarial com forró em Salvador, o
produtor Paulo Tear. Além das atividades de vender os shows, os mesmos empresários
negociam a exposição das bandas nas rádios.
Por noite apresentam-se duas ou três bandas no Coliseu, sendo que estas são mescladas
entre Forró Eletrônico, Pé-de-Serra ou Universitário. Antes dos shows e entre um e outro
há som mecânico. Cada apresentação, em uma noite com dois shows, dura, em média,
75
uma hora e meia. Quando ocorrem três apresentações, em geral, a primeira ou a última
banda é menos conhecida do público, cobra o cachê mais baixo e tem um show de
aproximadamente uma hora. Portela diz que algumas bandas tocam de graça, almejando
conhecimento do público forrozeiro, em função do reconhecimento conferido à casa. Este
fato, bem como o reconhecimento da casa foi atestado por músicos como Virgílio, Léo
Macedo, Kiko Luz, Cicinho de Assis e Verlano Gomes.
As bandas mais conhecidas costumam exigir o horário das apresentações, de acordo com
outras apresentações que realizam no mesmo dia, na cidade, na Região Metropolitana ou
no interior do estado. Geralmente os músicos da cidade que tocam o FPS e o FU ao
chegarem na casa guardam seus instrumentos no camarim e vão circular, dançando e
conversando com amigos. As bandas do Forró Eletrônico são mais reservadas. Ao
chegarem, dirigem-se ao camarim ou à área externa, onde ficam até o início do show. As
bandas universitárias ou do Forró Pé-de-Serra locais raramente levam maquiadores. Já para
o FE, bandas como Melaço de Cana, Mulheres com M e Raio da Silibrina, dispõem sempre
de maquiadores e/ou produtores responsáveis pela arrumação das bandas antes de subirem
ao palco. Assim, justifica-se esta diferença pelo fato do FPS e do FU serem formados
predominantemente por homens enquanto que no FE há forte presença feminina.
Portela afirma que entre as bandas locais e habituais na casa, o cachê mais alto é pago à
banda Flor Serena, 1.200 reais. Há outras bandas mais caras na cidade, mas que tocam
apenas esporadicamente no Coliseu, como a Estakazero que chega a cobrar 12.000 reais, a
Tio Barnabé que cobra 6.000 na época do São João e a Filomena Bagaceira, com cachê de
3.000 reais. Com exceção desta última, as demais por diversas vezes tocaram no Coliseu.
Inclusive, Léo Macedo, empresário e vocalista da Estakazero, afirma que a banda começa
no Coliseu, de onde partem para carreira mais madura. O Coliseu realiza esporadicamente
shows com músicos e bandas mais conhecidas e mais caras, como as citadas e ainda
Alcymar Monteiro, Dominguinhos, Targino Godim, Zelito Miranda e Acarajé com
Camarão. Estas festas não são garantia de lucros, mas são benéficas para casa por colocá-la
em evidência e atrair um público que não é freqüentador habitual, mas que pode vir a ser,
atraídos por um show maior.
76
Quando há um evento diferenciado, o Coliseu utiliza propagandas em outdoor (três a
quatro, por evento, preferencialmente, localizados na Avenida Luiz Viana Filho –
conhecida como Paralela60), anúncios nas Rádios Piatã, Nova Salvador e Transamérica,
além de explorar a assessoria de impressa. Esta estratégia comunicacional é utilizada
periodicamente pela Coliseu. Todavia, em eventos de maior porte, é reforçada. São
realizadas, aproximadamente, cinco campanhas anuais em outdoor, tendo um custo médio
de 5.200 reais. As propagandas nas Rádios ocorrem semanalmente, sendo um
investimento, médio de 500 reais. Em eventos maiores, este custo aumenta para 700 reais.
Também são distribuídos panfletos nas portas de faculdades locais, nos principais bares,
como Barraquinhas do Imbuí, Sentollas, Amanda (ambos em Patamares), Caranguejo de
Sergipe (Pituba), Dinha do Acarajé (Rio Vermelho) e nos eventos realizados em Salvador.
A mão-de-obra da distribuição de panfletos custa 90 reais por dia e a impressão de 10.000
cópias, suficientes para uma semana, exige o investimento de 300 reais. A assessoria de
imprensa, desde março de 2008, é exercida pela empresa Laboratório de Notícias, tendo
um custo mensal de 1.500 reais.
O ingresso de cada noite custa, normalmente, 12 reais. Quando há um show diferenciado, a
casa cobra até 20 reais pela entrada. De acordo com Portela, cada freqüentador gasta, em
média, R$ 10 reais por noite, além do ingresso. Até às 23 horas, o público que possuir uma
―cortesia‖ pode entrar pagando cinco reais.
Estas cortesias são distribuídas entre três e quatro dias antes dos eventos, por equipe
especificamente contratada para realizar o serviço. Cada cortesia é assinada por estes
distribuidores e, após a contagem na urna, no final da festa, o Coliseu paga um real por
cortesia. Atualmente estas cortesias são entregues a Victor Santana, 21 anos, morador de
São Caetano, bairro periférico de Salvador, e para as bandas que farão shows na noite.
Victor e as bandas também possuem distribuidores que os ajudam em troca de entradas
gratuitas. Cada banda recebe 300 cortesias, enquanto Victor recebe 500. Uma banda coloca
60
Construída em 1971, interligando uma área praticamente desabitada da cidade. Possui 16 quilômetros de
extensão e é atualmente um dos principais pontos do crescimento imobiliário em Salvador. Em 2007, a
prefeitura soteropolitana autorizou 41 empreendimentos e imóveis no local. Ao longo da Paralela estão
algumas grandes Faculdades como a Jorge Amado e a Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). A
preferência
pelo
local
é
em
função
do
grande
fluxo
de
veículos.
Fonte:
http://ibahia.globo.com/plantao/noticia/default.asp?id_noticia=170049&id_secao=151> acesso em 30 de mar.
2008.
77
em média 50 pessoas através das cortesias na casa e Victor dificilmente leva menos do que
100 pessoas. Além de Victor, outros jovens, como Solón (formado em administração com
habilitação em marketing, trabalhou para o Coliseu, no período de 2003 a 2006.
Atualmente gerencia uma filial da empresa Finivest em Recife) e Clarisse (formada em
Relações Públicas, trabalha para a Penta Eventos) exerceram a função junto ao Coliseu.
Eles pararam em função do surgimento de melhores oportunidades profissionais, sendo que
além de trabalharem na casa e tinham outros trabalhos.
Victor começa a freqüentar o Coliseu em 2005, devido a colaboração no trabalho de
distribuir cortesias com Sólon, e solicita aos sócios Ward e Jânio oportunidade de trabalho.
Aos poucos, os empresários transferem as funções de Solón, que já estava saindo, por falta
de tempo para se dedicar à atividade, para Victor. Assim, passa a distribuir cortesias em
lojas nos shoppings e em empresas onde o quadro funcional é preenchido por jovens, como
call centers. Ele inicialmente conhece as pessoas via Web ou por meio de apresentações
pessoais, depois passa a entregar as cortesias, cujas solicitações, em sua página no Orkut,
são inúmeras. Victor é bem articulado, consegue, em função de estratégias de marketing e
convencimento, penetração nos diversos locais evolvidos com eventos em Salvador, como
Rádios e Produtoras. Também realiza eventos na casa, sob o seguinte regime: se a festa
causar prejuízo, a casa arca com os custos; caso seja lucrativa, custos e lucros são rateados
entre ele e a casa. Além de obter vantagem na contratação das bandas, podendo pagar um
valor diferenciado do mercado, por falar em nome do Coliseu. Com estes acordos, já
foram realizados cinco eventos.
Victor consegue prosperar financeiramente com este trabalho. Antes de iniciá-lo, ele
dormia em um colchão no chão e a casa onde mora com sua mãe, padrasto e irmão caçula,
tinha poucos eletrodomésticos. Atualmente possui computador, cama nova, DVD, máquina
de lavar roupas e som novos, precisando colocar grades em sua casa, temendo assaltos.
Além disto, cresceu socialmente, sendo mais respeitado pelos vizinhos e por agentes do
mercado de eventos em Salvador.
Desde a fundação, o Coliseu trabalha com distribuição de cortesias, inicialmente estas
eram gratuitas, no entanto, a partir de 2005, os empresários começam a cobrar dois reais
78
pela entrada. Em menos de seis meses, o valor aumenta 50%, três reais e, em 2007, quase
duplica, cinco reais. As cortesias geram uma receita, em média, de 800 reais por noite.
A principal bebida vendida no local é a cerveja. Como a casa pertence a uma produtora
com outros empreendimentos, há uma dinâmica na oferta de marcas do produto no local.
Em janeiro de 2008, a produtora firma contrato com a cervejaria Ambev para a casa
Malagueta. Mas, não o fez para o Coliseu e cada evento do Bar da Praça que realiza vende
uma cerveja diferenciada, em função dos contratos de patrocínio firmados entre os
realizadores dos eventos e as distribuidoras de bebida. Assim, o Bar é obrigado a comprar
de acordo com estes eventos, o que provoca sobras por festa. Para os eventos do Vixe
Mainha são compradas Skol, que não podem ser vendidas nos ensaios da Harmonia do
Samba, nos quais são vendidas Nova Schin, nem para os ensaios do Voa Dois, nos quais
são vendidas cervejas Sol. Assim, a produtora fica com produtos e, muitas vezes, escoa-os
nas festas do Coliseu. As cervejas compradas especificamente para a casa são Skol ou
Nova Schin, dependendo da cotação nos períodos de eventos. Independente da marca, a
cerveja custa R$ 2,50 para o público.
De instrumentos próprios, a casa possui apenas uma bateria que foi comprada porque
geralmente as bandas não a possuem, por ser grande e mais difícil de transportar. Assim,
ou a casa comprava ou arcava com custos de aluguel e transporte, então, por vantagem,
financeiramente, os empresários decidem pela compra já que a maioria das bandas usa o
instrumento. Este fato atesta, também, a importância da bateria nos shows de forró em
Salvador.
Os meses com a menor quantidade de público são dezembro e janeiro. Períodos em que os
soteropolitanos são atraídos por ensaios da axé-music e por festas de pagode, o que Ward
Portela denomina como festas de verão.
Os empresários comemoram oito anos à frente do local, realizando uma festa denominada
como ―Oito anos do Coliseu‖, no dia oito de março de 2008, com shows de Dominguinhos,
Flor Serena e Zé de Tonha. Na noite, a casa lota: são comercializados 1.630 ingressos. O
empresário de Dominguinhos, João Cícero, afirma que Dominguinhos realiza show mais
longo que o previsto, empolgado com a calorosa recepção do público.
79
A casa não possui músicos contratados, ao contrário do que ocorre em locais como O
Canto da Ema (SP). Sobre os eventos paulistanos Alberto Ikeda (1990, 11) afirma: ―Os
forrós mantém alguns músicos fixos contratados, pelo menos um trio contando ainda com
os sanfoneiros avulsos, que normalmente se apresentam em várias casas em uma mesma
noite [...]‖. Ward Portela afirma que nunca teve músicos fixos nas suas casas e que esta não
é uma prática comum na cidade. Para Portela, o soteropolitano gosta de variedade, por isto
há o investimento em contratações por fins de semana. Acredita que a repetição de bandas
cansa o público da cidade.
É inconteste que não se trata de um público indiferente. Ao contrário do que Alberto Ikeda
(1990: 11) descreve encontrar em São Paulo: ―A exceção das ‗estrelas‘ o músico de forró
(apesar de estar sobre o palco, sob as luzes, e de sempre ter seu nome destacado pelo
apresentador) tem atuação eminentemente funcional de serviço à dança, inexistindo mesmo
os tradicionais aplausos de entrada e saída [...]‖. No Coliseu, a maioria das bandas, ao
encerrarem as apresentações são aplaudidas, ao menos por aqueles que se localizam logo à
frente do palco. Se a atração é conhecida ou o show foi bom, o público vibra muito e
solicita inúmeras vezes o prolongamento da atração. O vínculo afetivo do público com as
bandas soteropolitanas pode ser mensurado pelo número de comunidades que possuem no
site de relacionamento Orkut. Até o dia 31 de março de 2008, a banda soteropolitana A
banda Estakazero possuía 45 comunidades ativas, somando 18.596 internautas. Tio
Barnabé possuía 25 comunidades relacionadas, somando 7.654 participantes. A banda Flor
Serena possuía quatro comunidades, com 1.269 participantes. A banda Colher de Pau
possuía três comunidades, com 1.074 participantes no total. A Filé de Mulher, quatro
comunidades, somando 525 internautas. A banda Acarajé com Camarão somava três
comunidades, com 750 fãs.
No dia 20 de abril de 2008, ocorre uma partida de futebol no estádio Antônio Barradas,
entre o Bahia e o Vitória, clássicos do estado. O Bahia ganha de quatro a um. Circulando
após o jogo pela orla de Salvador, foram encontrados três grupos de jovens comemorando
a vitória em postos de gasolina onde existem lojas de conveniência. Todos os grupos
escutavam forró, um, inclusive, executava as músicas por meios de voz, zabumba e
sanfona. Outra relação entre o forró e as mais tradicionais torcidas do futebol baiano
acontece em abril de 2008: a torcida do Bahia se apropria de partes da música ―Chupa que
80
é de Uva‖, da banda Aviões do Forró, como provocação ao adversário: ao ganharem as
partidas os torcedores tricolores comemoram com ―Chupa que é de uva‖61, trecho retirado
do refrão da música com tal título (composição de Alexandre Avião, Richardson Maia e
Marujo): ―Na sua boca eu viro fruta/ Chupa que é de uva.‖
Nos espetáculos que ocorrem no Coliseu, os jovens envolvem-se no evento, dançando e
interagindo com as apresentações. Deste modo, estabelecem relações sociais entre si, com
a banda e também com a casa. Já que a presença destes é o que sustenta os espetáculos,
estes são dependentes da aceitação dos jovens. As bandas são elos mercadológicos que
instauram relações sociais entre os participantes. De acordo com Debord (1997, 14): ―O
espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada
por imagens‖.
Há distinções nítidas entre os jovens que freqüentam o Forró Universitário ou o Pé-deSerra e aquelas que costumam ir a eventos dos Forrós Eletrônicos. Uma das diferenças
pode ser percebida nos trajes adotados. O primeiro público costuma ficar na frente do
palco, caracteristicamente vestidos, sendo mulheres com saias rodadas, tops e sapatilhas,
enquanto os homens utilizam blusas coloridas folgadas e calças jeans, e dançam o show
todo. Alguns, inclusive, pertencem a grupos de dança de forró, como o Forró Online e o
extinto Forrezeando, que hoje é uma banda. Eles são despojados, têm estilo alternativo e
popular, utilizam roupas que facilitam a dança e se aproximam dos valores culturais
nordestinos, como tops, saias rodadas soltas, sapatilhas e sandálias rasteiras. Atribuem ao
movimento características ―de raiz‖, sendo um resgate ao forró ―autêntico e puro‖. Já o
público do Forró Eletrônico fica boa parte da noite sentado em locais dos quais nem é
possível visualizar os shows e traja roupas mais urbanas, como saltos bem altos e saias
justas.
Atualmente, assim como já aconteceu na cidade de São Paulo: ―O uso do pé-de-serra aos
poucos se sobrepôs ao universitário nos discursos dos produtores, materiais de divulgação
e apresentação das bandas. Algumas pessoas passaram a criticar ostensivamente a
expressão Forró Universitário, dentre elas Magno, produtor de festas e conjuntos musicais
61
http://letras.terra.com.br/avioes-do-forro-musicas/1186715/. Acesso em 02 de maio de 2008.
81
(ALFONSI, 2007: 41)‖. Em Salvador, não apenas a expressão Forró Universitário está em
desuso, como as bandas também não desejam mais serem assim identificadas.
As bandas soteropolitanas não conseguem sair de Salvador. De acordo com Ward Portela,
a capital baiana não vende forró e sim Axé Music. Por isto, acredita que a venda de um
produto – a axé music – impeça a venda de outro produto baiano, o forró. Assim, cabe ao
estados do Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba se consolidarem como
maiores vendedores de forró em âmbito nacional. É difícil uma banda da capital baiana
vender shows para outros estados. Adelmário Coelho é exceção. Todas as bandas
entrevistadas julgam que a casa de shows Coliseu é fundamental para existência do forró
em Salvador e todos a reconhecem como o reduto do ritmo na cidade. Seguem
depoimentos concedidos sobre a casa:
Virgílio: ―Está aí, a casa [Coliseu] bombando, na época que é, está com o público fiel,
vindo, porque o Coliseu é a casa de forró hoje da Bahia e o pessoal conhece, e vem para
dançar forró‖.
Coroneto (Trio Nordestino): ―A casa é reconhecida no Brasil todo como a casa de forró de
Salvador‖.
Abdon Leone (Forró Bomtodo): ―A casa tem uma proposta excelente e exerce um papel
importante na medida que acredita no forró e nas bandas locais‖.
Alessandro Porto (Forró Massapé): ―Única casa que se especializa o ano em um só estilo
musical. Importante para autenticação e afirmação de um ritmo, uma cultura de raiz
nordestina‖.
Almir Souza (Flor Serena): ―A melhor casa de show de Salvador‖.
Thiago Meoke (20xote um galope): ―Muito importante. Pioneira em divulgar novas
bandas‖.
82
Joaquim de Almeida (Quininho de Valente): ―Acho que o Coliseu é muito importante para
o forró. pois Salvador não tem muito espaço para os forrozeiros. Uma casa que divulga
somente o forró, com público frquente, casa cheia, significa muito‖.
Jó Miranda: ―Essa casa tem feito o que quase ninguém fez pelo forró aqui em Salvador,
então, só tenho a agradecer aos responsáveis‖.
Dimas Queiroz (Siri com Câimbra): ―Muito grande [a importância da casa], pois é uma
casa de show diferenciada‖.
4.4
AMOSTRA DO PÚBLICO DO COLISEU
Em diferentes eventos, são aplicados 28 questionários (em anexo) a fim de se obter uma
amostra do perfil do público freqüentador do Coliseu.
Dos entrevistados, apenas dois possuem menos de 21 anos (um declara possuir 17 e o outro
19). Quatro entrevistados afirmam possuir 21 anos; um, 22; três, 23; cinco, 24 anos; dois,
25 anos; dois, 27; dois 30; um, 33; dois, 35, um, 36; um, 42; um, 43 e um não declara a
idade. Assim, a faixa etária predominante da amostra localiza-se entre os 20 e 30 anos.
Dez pessoas afirmam possuir nível superior completo, seis cursam o terceiro grau, dez
possuem o segundo grau completo, um era pós-graduado e um não respondeu à questão.
Vinte e dois entrevistados nascem em Salvador. Cinco afirmam ser do interior baiano e um
não responde.
O estilo pé-de-serra é o preferido por 15 dos entrevistados. Quatro afirmam preferir o
Forró Eletrônico, três o Universitário e seis não têm preferência definida.
Vinte e quatro declaram-se freqüentadores assíduos de shows de forró e apenas quatro
afirmaram freqüentar esporadicamente. 17 afirmaram já terem ido várias vezes à casa de
shows, enquanto 11 entrevistados afirmaram que foram menos de três vezes ao Coliseu.
83
Questiona-se também se preferem São João ou Carnaval: 18 preferem o São João, seis
afirmam gostar igualmente das duas e apenas três pessoas declaram preferir o carnaval.

Assim, 57,14% da amostra possuem entre 21 e 30 anos, 7,14% menos de 22,
21,42% possui entre 33 e 43 anos.

35,71% têm nível superior, 35,71% possuem o segundo grau, apenas 21,42% é
formado por universitários e 3,57% possuía pós-graduação. 78,57% nascem em
Salvador, 17,85%, no interior do estado.

O Forró Pé-de-Serra tem preferência de 53,57%, 14,28% afirma preferir o Forró
Eletrônico e 10,71% declara preferir o universitário. 85,71% afirma ter o hábito de
freqüentar shows de forró e 14,28% não o fazem.

64,28% dos entrevistados declaram preferir festas juninas ao carnaval, que foi
preferência de apenas 10,71%. 21,42% afirmaram gostar igualmente de ambas.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo apresentado sobre o Forró em Salvador traz a trajetória do ritmo, desde a
utilização do termo forró, enquanto local para dança, até os eventos atuais, também assim
denominados.
O enfoque especial recai sobre o Forró Pé-de-Serra, o Forró Universitário e o Forró
Eletrônico, por serem os três formatos predominantes na cidade. O primeiro, inicialmente,
fez-se necessário por ser a referência para os novos forrós analisados: ―O centro
organizador das classificações, bem como das disputas que as envolvem, é o que se
considera como a forma musical original do gênero, denominada pé-de-serra. Assim, o
forró é classificado e valorizado positiva ou negativamente a partir da relação estabelecida
com tal origem (ALFONSI, 2007: 129)‖.
Conclui-se que o principal pólo produtor e distribuidor do Forró Eletrônico é Fortaleza,
cidade pioneira no estilo, seguida pelo Rio Grande do Norte. O Forró Universitário
origina-se em São Paulo, mas, a produção em âmbito nacional destes grupos é ínfima
quando comparada à produção do FE.
Foram percebidas semelhanças entre a evolução do Forró, a Lambada e a Axé-music, haja
vista os três ritmos se originarem de ritmos periféricos que são reformulados e tornam-se
presentes no mercado fonográfico brasileiro, atingindo não apenas a periferia, como
também a classe média. Considera-se que a penetração na classe média, tanto em 1950,
quanto em 1970 e em 1990, é fundamental para solidificação do forró no mercado
fonográfico brasileiro. Citando Daniela Alfonsi (2007: 133):
O forró e sua inserção em setores da classe média está ligada ao consumo
particular que estes fazem das formas populares de lazer em grandes centros
urbanos. A idéia lançada por T. J. Clark (2005) de que a classe média estabelece
o que é o popular a partir do controle e manipulação de um material fornecido
pelas classes baixas, processo tornado possível devido ao tipo de indústria de
lazer surgida no desenvolvimento capitalista [...]
Ao longo da pesquisa, percebe-se, de modo claro, que os Novos Forrós impulsionaram a
volta do Forró Pé-de-Serra, mas este é remodelado devido a novas influências do FE e do
FU. Em um movimento cíclico, percebe-se que, em Salvador, novas nomenclaturas entram
85
em declínio, apesar dos formatos estarem presentes predominantemente. Assim, o que se
nota na cidade é a produção de um forró influenciado pelos novos formatos, mas que se
recusa a adotar novas nomenclaturas. Percebe-se ainda que a nomenclatura Forró Pé-deSerra é mais atrativa para músicos e forrozeiros. Do forró tocado em Salvador, percebemse bandas e artistas querendo e recebendo novas nomenclaturas definitivas, especialmente
o forroxé, ou forró pé-de-serra atual
Salvador recebe bem os novos forrós, especialmente o FE. Assim, apesar de a cidade
abrigar inúmeras bandas, poucas atingem sucesso fora do estado. Percebe-se também que o
modelo de produção forrozeira da cidade é pouco atrativo para o momento atual do forró
nacional, cujo destaque recai sobre o FE.
É enfatizado a realidade vivenciada na capital, já que, ao longo da pesquisa, nota-se que o
interior do estado tem outra dinâmica: o Forró Eletrônico é extremamente forte, contando,
inclusive com bares com telões para a exposição de DVD‘s das bandas mais
representativas do estilo.Um DVD de Forró Universitário raramente é utilizado nas cidades
interioranas. Além do que, é comum os jovens destas localidades passarem horas bebendo
em volta de carros super equipados sonoramente, no máximo volume possível, tocando
Forró Eletrônico.
Alguns radialistas, como Beto Barbosa, da rádio Nova Salvador, afirmam que em 2007, o
Forró Eletrônico cresce muito na Bahia, sendo bastante solicitado pelos ouvintes assim
também como Alexandre Liberatto diz que as produtoras de Salvador se interessam pelo
produto forró, ressaltando que grandes e médias produtoras locais trabalham vendendo
shows de alguma banda ou empresariando algum grupo, com raras exceções.
FORRÓ ELETRÔNICO E A AXÉ-MUSIC EM 2008
Durante as entrevistas realizadas, alguns empresários, espontaneamente, expõem que o
Forró Eletrônico cresce e consegue espaços antes ocupados apenas pela Axé-music. Ward
Portela e Jânio Amílcar afirmam que, desde o ano passado, as bandas de Forró Eletrônico
nacionais estão fechando contratos com prefeituras do interior do estado, para o São João,
em conjunto com contratos de shows para Micaretas nas cidades. As Micaretas se
86
carcterizam por serem festas com trios elétricos, semelhantes ao carnaval, em épocas do
ano distintas do período momesco, nos interiores baianos. A primeira e maior Micareta da
Bahia ocorre na cidade de Feira de Santana:
Micareta de Feira é a primeira da História, foi criada em 1937 por um grupo de
feirenses inconformados pela não realização do Carnaval, impossibilitado por
fortes chuvas. Com o passar do tempo, a festa se tornou uma das maiores
manifestações populares do interior da Bahia e do Brasil. O nome deriva de uma
festa francesa, Mi-carême, e desde os anos 90 vem se espalhando por várias
capitais e cidades brasileiras, a partir do sucesso de sua realização em Feira de
Santana62.
Em 2008 se realiza entre os dias 17 e 20 de abril. Este ano, pela primeira vez, havia um
bloco de forró: Aviões do Forró. Algumas das atrações divulgadas como principais eram
também forrozeiras: Acarajé com Camarão, Saia Rodada, Cavaleiros do Forró e Karrasco
do Forró63.
Para Portela, Amílcar e Alexandre Liberatto, a Axé-music é um produto caro, por ser
produzido em um único estado e agradar multidões, o que incentiva os empresários a
cobrarem altos valores pelas contratações. De acordo com os três, os shows do estilo estão
entre os mais caros nacionalmente e isto abre espaço para contratação dos Forrós
Eletrônicos, mais baratos e que também agradam ao público.
As bandas de FE tocam muito Axé e, quando o fazem, dificilmente é possível distinguir se
tratarem de banda de Forró Eletrônico e não de Axé. Portela afirma que a diferença ocorre
na percussão: ―A percussão da Axé-music é muito mais marcada do que a percussão do
Forró Eletrônico. Mas esta diferença é pouco percebida, se o público está escutando e não
vendo os shows. Estes sim, são bem diferentes‖.
FORRÓ 2008 EM SALVADOR
Ward Portela e Jânio Amílcar afirmam que 2008 é o ano com maior concorrência entre as
casas de shows, desde 2001, na temporada junina. Segundo os empresários, diversas casas
que nunca investiram no forró, o estão fazendo nesta temporada.
62
63
http://www.micareta.com.br/afolia.htm. Acesso em 03 de maio de 2008.
http://www.feiradesantana.ba.gov.br/micareta/atracoes.htm. Acesso em 03 de maio de 2008.
87
A temporada da AABB sempre acontece às sextas-feiras. Em 2008, inicia-se a partir de 11
de abril, com shows de Flávio José, Forrozão Du Karai e Cavalo Doido. Em 18 de abril o
show foi de Mulheres Perdidas, Forrozão Du Karai e Cavalo Doido. Em 25, Cavalo de
Pau, Forrozão do Karai e Cavalo Doido. Como já apresentado no item anterior, as duas
últimas bandas possuem uma relação especial com a organização dos eventos AABB. São
atrações do mês de maio bandas com repercussão nacional: Magníficos, Adelmário Coelho
e Mastruz com Leite. Os ingressos para os forrós da AABB custam 20 reais. Há também a
opção de compra conjunta: pagando 50 reais a pessoa compra três dias seguidos.
As bandas Arrocha o Nó e Colher de Pau realizam um projeto na casa de shows
Espetáculo, nos dias 11 e 18 de abril. O espaço Espetáculo64, inaugurado em 2004,
funciona no antigo Clube do Bahia e é propriedade do clube, sendo administrado por uma
empresa especializada em eventos. O espaço dispõe de dois palcos e capacidade para
aproximadamente seis mil pessoas.
A temporada deveria se estender até o São João, mas se encerra em 25 de abril por
desentendimentos entre as duas bandas. Os ingressos custavam R$ 12,00, porém devido a
intensa distribuição de cortesias, a grande maioria do público pagava R$ 5,00 para entrar
na festa.
Para aqueles que preferem forró em ambiente mais sofisticado, os lugares juvenis mais
requintados estão produzindo temporada de forró. Em 2008, o Bahia Café Hall, localizado
na Avenida Luiz Viana Filho, com ambiente ao ar livre, faz temporada com a banda
Estakazero e convidados. Cobra R$ 20,00 pelo ingresso feminino e R$ 25,00 pelo
masculino, para quem comprar antes dos eventos, nos pontos de venda. Quem prefere ficar
no camarote, paga R$ 50,00 pelo ingresso. Esta temporada está sendo realizada pela
produtora Global.
A antiga boate Fashion Club, administrada pela produtora de eventos Diva, é reformada e
reabre em 25 de abril, com o nome de Club Madre. A casa faz temporada de forró com o
músico Tenison Del Rey, a banda Tio Barnabé e convidados. O ingresso feminino custa R$
64
http://www.esporteclubebahia.com.br/patrimonio/sededepraia.php?cod_categoria=4. Acesso em 02 de abr.
de 2008.
88
25,00 e o masculino R$ 30,00. A casa também trabalha com cortesias. Quem as possuir
entra pagando R$ 12,00, independente do sexo.
O PÚBLICO JUVENIL SOTEROPOLITANO E O SÃO JOÃO 2008
A produção do forró soteropolitano tem seu ápice no São João. São nos dias da festa junina
que bandas e empresários mais lucram. Os grupos musicais fazem sua agenda de shows, de
acordo com as solicitações das prefeituras interioranas, meses antes. A banda Estakazero,
por exemplo, em maio de 2008, já tem shows agendados para o São João de 2009 em
cidades do interior.
Os jovens da capital viajam com destino as cidades onde são realizadas, pelas produtoras
de eventos soteropolitanas, as festas em espaços fechados.
As propagandas das festas de forró no interior do estado iniciam-se ainda durante o
carnaval. São placas de outdoor localizadas no circuito Barra/Ondina e nas principais ruas
de acesso aos circuitos. A distribuição de panfletos também se intensifica. Assim como a
divulgação de excursões mais prolongadas e rápidas, denominadas de Bate-Volta. Nesta
modalidade, o cliente compra o ingresso da festa no interior (invariavelmente o ingresso
vem acompanhado de camisa com uso obrigatório durante o evento) e um lugar no ônibus
organizado por empresas de turismo que se encarregam de conduzi-lo à cidade e trazê-lo
de volta, logo após o evento.
No Forró do Bosque (21 e 23 de junho Cruz das Almas) tocam Trio Nordestino, Chiclete
com Banana, Aviões do Forró, DJ Malboro, Forrótear, Flávio José, Zezé di Camargo e
Luciano, Jammil, Cavalo Doido e Colher de Pau. No Forró do Sfrega, nos dias 22 e 23 de
junho, as atrações principais são: Aviões do Forró e Jammil (banda da Axé-music de
destaque nacional, muito aceita pelos paulistas).
Em Amargosa há o Forró do PiuPiu 2008. Também se apresentam Asa de Águia (Axémusic), Aviões do Forró (FE), Os Cumpadi (FPS) e o Forró do Miúdo (FPS e FE). Este
ano, a Pequena Notável, produtora responsável pelo evento, também organiza outra festa
na mesma cidade, em parceira com a produtora de eventos Diva. Será o Forró do Harém,
89
no dia 22 de junho, tendo como atrações Alexandre Peixe, Flávio José, banda Yow e Tio
Barnabé. Esse forró é uma continuação do trabalho realizado por estas produtoras em
parceria no carnaval de Salvador, no bloco Harém que desfila na quinta-feira de carnaval e
possui uma peculiaridade: a grande maioria das mulheres ganha o abadá. Para ganhar
precisa ser indicada por alguém e ser considerada pelos organizadores, como bonita. As
que não forem indicadas podem comprar na mão de terceiros, mas não no próprio bloco.
Os homens compram o abadá. Este tipo de comercialização diferenciada garante à marca
Harém a imagem de bloco de ―gente bonita‖. Isto faz com que os eventos com a marca
sejam sempre muito disputados pela juventude da classe média e alta de Salvador. Além do
Forró do PiuPiu e do Forró do Harém, a Pequena Notável fará também o Amargosa Light,
com atrações a serem confirmadas.
O sucesso obtido nas festas fechadas de forró no interior da Bahia aumenta o número de
novos eventos: o Forró do Namoral começa em 2006, na cidade de Jequié, custando 140
reais com bebida, comida e camisa inclusas; em Itapetinga ocorre, desde 2006, o Forró da
Vaca Loca, em 2008 as atrações serão a Banda Eva, Saia Roda, Falamansa, Limão com
Mel; o Forró do Galo ocorre desde 2006, em São Gonçalo dos Campos.
Os bailes de forró em Salvador e no interior são fonte de renda de diversos empresários e
artistas soteropolitanos Além destes, os organizadores de excursões também faturam
bastante com o período junino.
O GOVERNO E O SÃO JOÃO 2008
O ano de 2008 também marca o início do interesse comercial do Governo do Estado no
São João. No dia 30 de abril, em Salvador e no dia 06 de maio de 2008, em São Paulo é
lançado o projeto São João da Bahia. De acordo com o sítio eletrônico da Secretaria de
Turismo da Bahia – SETUR65, trata-se de uma ―[...] iniciativa que visa transformar os
tradicionais festejos juninos em um novo produto turístico de âmbito nacional [...]‖.
Ressalta ainda, na mesma página: ―[...] O investimento total do governo do Estado,
incluindo infra-estrutura, na festa ficará entre R$ 8 milhões a R$ 10 milhões, dos quais R$
3 milhões somente em publicidade e divulgação nacional do evento‖. O foco da campanha
65
http://www.setur.ba.gov.br/noticias.asp?id=799, acesso em 17 de maio de 2008.
90
são as cidades interioranas Ilhéus, Porto Seguro e a capital baiana. O site da SETUR afirma
que em junho tais cidades possuem a menor taxa de ocupação da rede hoteleira. As três
cidades não são atrativas para a juventude baiana passar o São João. Na página do projeto
(www.saojoaodabahia.com.br) há informações também sobre mais 19 cidades, além das
citadas.
O projeto também será vendido em Portugal, com o slogan: ―Quem gosta do São João do
Porto, vai amar o São João da Bahia‖ e na Argentina.
A agência de publicidade que atende à SETUR é a Leiaute Propaganda, presente em
Salvador e em Brasília. No material elaborado para apresentação do projeto, há os
seguintes dados:

Em 2007 foram movimentados mais de R$ 500 milhões em atividades
juninas, no interior baiano.

São envolvidos 417 municípios que realizam 1.600 shows, contabilizando
2.499 horas de forró na noite de São João (considerando apenas as bandas).

No período, ocorrem 1.700 viagens intermunicipais de ônibus por dia.

300.000 carros cruzam o estado.
A campanha para o projeto será divulgada em rede nacional, através de anúncios em sete
jornais, incluindo encarte especial com oito páginas; seis revistas (Veja, Época, Isto É,
Carta Capital, Viagem e Turismo, Caros Amigos); divulgação nos portais Hi-Mídia, Terra
e Uol; 138 inserções de trinta segundos na Rede Globo de Televisão e 156 na Music
Television do Brasil (MTV), além de 266 inserções em TVs fechadas.
Na Bahia, a campanha conta com divulgação de 982 inserções radiofônicas na capital e
12.899 no interior; comerciais em seis emissoras de televisão; anúncios nos jornais A
Tarde, Correio da Bahia e Tribuna da Bahia; 30 placas de outdoor na capital e 172 no
interior e divulgação nos sites A Tarde Online e Ibahia.
O tema do projeto é os 50 anos do Trio Nordestino, com a música ―Vem cair na
Brincadeira‖. Estão programados shows na Praça Castro Alves, em Salvador, no período
de 13 a 29 de junho.
91
Este projeto é o primeiro grande investimento governamental no São João baiano. Traz a
possibilidade de mudança para o São João da capital, que até o ano de 2007, pouco recebia
turistas, ao invés, era período de intensa evasão dos moradores locais. Exemplo disto é que
os projetos realizados por produtoras e casas de eventos na capital, incluindo o Coliseu,
ocorrem até o último final de semana antes do São João.
Ao fim da pesquisa, considera-se que o forró está em crescimento na cidade, em função da
alta concorrência entre as casas de shows, a partir de abril, além do projeto elaborado pelo
governo Estadual.
A pesquisa Produção e Consumo de Novos Forrós pretende trazer dados para dar
continuidade ao debate sobre a importância do Forró em Salvador, demonstrando que não
apenas a Axé-music atrai a juventude da capital.
92
ANEXOS
93
QUADRO COMPARATIVO 1
FORRÓ PÉ-DE-SERRA
FORRÓ UNIVERSITÁRIO
Emblemas do sertão
Camisas floridas e coloridas
Linguajar rural, matuto
Linguajar urbano e praieiro
Músicos acima dos 30 anos
Músicos com 25 anos
Apresentações em Trio com instrumentos
na frente
Apresentações sem o trio de instrumentos
em destaque
Vocalista é o sanfoneiro
Vocalista não é o sanfoneiro
94
PLANTA BAIXA COLISEU
95
REGISTRO FOTOGRÁFICO
Entrevista com Alcymar Monteiro
Entrevista com o Trio Nordestino
96
Dominguinhos no Coliseu
Entrevista com Dominguinhos
97
Ward Portela, Targino Gondim, Dominguinhos e Jânio Amílcar
Entrevista com Verlando Gomes
98
Show da Flor Serena no Coliseu
Colher de Pau no Coliseu
99
Coliseu
Coliseu
100
Coliseu
101
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