A INCLUSÃO SOCIAL DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ATENDIDOS PELO CENTRO DE HABILITAÇÃO ANA CORDEIRO. Antonio Francisco Soares – Professor Assistente da UESPI e concludente da Especialização em Educação Especial pela UESPI ([email protected]); Antonia da Cunha Ribeiro – Pedagoga e concludente da Especialização em Educação Especial pela UESPI ([email protected]) RESUMO Quando se fala em educação especial ou em pessoas com necessidades especiais vem logo à mente a idéia de uma pessoa com deficiência física. Quando se fala em acessibilidade, pensa-se na pessoa com deficiência física. Quando se fala em inclusão social de pessoas com deficiência, novamente pensa-se na pessoa com deficiência física. Muitos pensam que a simples construção de rampas já é acessibilidade e inclusão, o que não é verdade. O processo de inclusão é lento e leva em consideração vários fatores. A rampa é apenas um detalhe diante de tantas mudanças que se precisa efetuar e de tantas barreiras que se precisa ultrapassar. A inclusão social exige muito mais que mudança arquitetônica, exige mudança de atitude da sociedade como um todo e de cada um em particular. Este estudo teve como objetivo analisar a contribuição do Centro de Habilitação Ana Cordeiro (CHAC) no processo de inclusão social de pessoas com deficiência intelectual. O CHAC trabalha com a profissionalização de jovens e adultos com deficiência intelectual maiores de 15 anos e a inclusão no mercado de trabalho. Neste trabalho as expressões “deficiência mental” e “deficiência intelectual” aparecem como sinônimo devido às fontes bibliográficas pesquisadas terem sido editadas antes da nova nomenclatura. A inclusão do aluno com deficiência intelectual na escola regular contribui para a sua inclusão social, porém a escola precisa também preparar esse educando para a vida profissional. Atualmente temos que defender a inclusão escolar e social de todos os alunos, independente de ter deficiência ou não. Em nosso estudo constatamos que o CHAC tem contribuído para que isso ocorra oferecendo capacitação profissional em diferentes áreas profissionais e encaminhando-os para o mercado de trabalho. Isso é feito através de convênios e contatos com as empresas. Palavras-chave: Inclusão social. Deficiência intelectual. Deficiência mental. Introdução Existe uma verdadeira confusão de conceitos em relação à deficiência intelectual, uns chamam atraso mental, deficiência mental, outros conduta atrasada, déficit intelectual ou ainda usam outros termos muito discriminatórios. Porém a expressão recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU) é “deficiência intelectual”. Neste trabalho as expressões “deficiência mental” e “deficiência intelectual” aparecem como sinônimo devido às fontes bibliográficas pesquisadas terem sido editadas antes da nova nomenclatura. A pessoa com deficiência intelectual tem a capacidade de se relacionar, pode ser carinhosa e pode aprender uma profissão. No entanto muitas pessoas com deficiência intelectual ainda são muito descriminadas e ficam fora do convívio social. Muitas escolas 2 têm certa resistência em relação à inclusão de alunos com deficiência intelectual. As empresas também apresentam certa resistência em contratar pessoas com deficiência intelectual por não conhecerem o potencial que essas pessoas possuem. Porém aos poucos o mercado de trabalho está abrindo as portas para pessoas com deficiência, inclusive para aqueles com deficiência intelectual. Mas, afinal o que vem a ser deficiência intelectual? É a limitação em pelo menos duas das seguintes habilidades: comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. O termo substituiu ‘deficiência mental’ em 2004, por recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU), para evitar confusões com ‘doença mental’, que é um estado patológico de pessoas que têm o intelecto igual da média, mas que, por algum problema, acabam temporariamente sem usá-lo em sua capacidade plena (RODRIGUES 2009:93). Existem alunos com deficiência intelectual capazes de realizar atividades como: ler, escrever, mesmo que seja com ajuda de outra pessoa. Nem sempre esses alunos são rejeitados pelos colegas, eles são muito queridos pela maioria. No entanto muitos professores sentem dificuldade em lidar com alunos com deficiência intelectual por não ter conhecimento do problema. Se uma das limitações do aluno com deficiência intelectual é a falta de concentração, então o professor deve procurar formas práticas de introduzir o aluno no assunto a ser trabalhado para manter o aluno atento. O uso da tecnologia é uma ferramenta que vem contribuindo para melhorar o aprendizado dessas pessoas. O mercado hoje oferece muitos recursos que ajudam o professor na execução de suas atividades, mas o professor pode começar com recursos simples como recorte e colagem, por exemplo. O importante é não deixar o aluno com deficiência ficar isolado, sem participar do assunto trabalhado com os demais alunos. Um pouco de história Durante muito tempo as pessoas com deficiência sofreram preconceitos e rejeição até pelos familiares e pessoas próximas. Os estudos na área da saúde e na área da educação, bem como campanhas desenvolvidas em várias partes do mundo muito têm contribuído para amenizar toda essa problemática. No entanto muito ainda precisa ser feito. Na Idade Antiga houve até sacrifício de crianças com deficiência, em algumas civilizações. 3 ..., a história assinala, desde a Idade Antiga, as políticas extremas de exclusão de crianças deficientes. Em Esparta, na antiga Grécia, essas crianças eram abandonadas nas montanhas, em Roma foram atiradas nos rios. Os registros históricos comprovam que vem de longo tempo a resistência à aceitação social das pessoas com deficiência e demonstram como as suas vidas eram ameaçadas (CARDOSO, 2006:15). Na Idade Média a discriminação continuou. Ao longo da Idade Média, nos países europeus, os ditos deficientes eram associados à imagem do diabo e aos atos de feitiçaria, eram então perseguidos e mortos, pois faziam parte de uma mesma categoria: a dos excluídos. Então, deviam ser afastados do convívio social ou, mesmo, sacrificados (CARDOSO, 2006: 16). No entanto, com o avanço dos estudos na área da saúde e da educação, nos últimos séculos, essas pessoas foram vistas com outros olhos. Hoje já podemos contar com a inclusão escolar e social das pessoas com deficiência. Foi justamente com o avanço dos estudos na área da saúde que surgiram as escolas especiais, onde muitos educadores desenvolveram estudos e buscaram formas de inclusão social das pessoas com deficiência. Muitas Associações e ONGs desempenharam um papel importantíssimo no acolhimento e inclusão social de pessoas com deficiência e suas famílias, como por exemplo, a ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE), as ASSOCIAÇÕES DE CEGOS, ASSOCIAÇÕES DE SURDOS, ASSICIAÇÃO DAS MÃES DOS AUTISTAS (AMA), dentre outras. No final do século XX inicia-se no mundo todo campanhas pela inclusão escolar das pessoas com deficiência. Foi justamente nesse período que houve uma expansão da educação especial no Brasil, mas a escola comum não deu conta dessa tarefa como nos relata Carneiro. No Brasil, a expansão da educação especial, verificada principalmente na segunda metade do século XX, embora inegavelmente tenha ampliado as oportunidades educacionais a criança que não seriam absorvidas pela rede regulares de ensino, incorporou uma população identificada como portadora de déficit na aprendizagem, na sua grande maioria proveniente das classes subalternas. Assim, tal expansão se constitui em mais um elemento no processo de seletividade social promovido pele escola pública no Brasil. A partir da década de 60, a exclusão maciça de alunos nas redes públicas já nas séries iniciais, seja pela evasão ou pela ou pela reprovação, ou ainda pela falta de oportunidade de acesso, encontrava mais do que nunca respaldo técnico cientifico, pois aqueles alunos que fracassavam na escola eram vistos como portadores de algum tipo de problema que não competia mais à escola comum resolver (CARNEIRO, 2006:150). 4 Paralelo a tudo isso as instituições específicas de educação especial continuaram desempenhando seu papel de inclusão social. Após tudo isso surge leis e documentos recomendando a inclusão escolar de pessoas com necessidades educacionais especiais. No Brasil, por exemplo, a LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996, dedica um capítulo à Educação Especial. É interessante lembrar que em nenhum momento esta lei diz ser obrigatório matricular pessoas com deficiência em escola regular. Veja o que diz o artigo 58 e seus parágrafos 1º e 2º: Art. 58. Entende-se por educação especial, para efeito desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. Diante do exposto, podemos afirmar que tanto a inclusão escolar como a inclusão social são necessárias e uma leva à outra ou ambas estão interligadas, mas para isso tornase urgente a preparação não só das escolas (questão arquitetônica), mas de toda a comunidade escolar, desde o agente de portaria, passando pelo professor, gestores e demais alunos e pais de alunos. Outro detalhe que não deve ser esquecido quando se fala em inclusão escolar é a necessidade de uma equipe multidisciplinar ou de uma equipe de apoio conforme as necessidades apresentadas pelos alunos. Os alunos com deficiência intelectual: características básicas Muitas vezes as pessoas discriminam e sem perceber que estão discriminando, às vezes o fazem pensando que estão protegendo a pessoa. Assim a discriminação vai se propagando cada vez mais em relação às pessoas com deficiência. A discriminação contribui para modificar a própria conduta, os hábitos aprendidos, o nível de rendimento e a qualidade da execução em diferentes áreas, tanto escolar como na vida diária. 5 Os progressos em neuropsicologia substituem os rótulos qualitativos (idiota, imbecil, débil) ou quantitativos (QI 0-20, 20-50, 50-75, por exemplo) e a psicopedagogia propõe critérios de avaliação e classificação baseados em desempenhos observados nas diversas situações. Mais recentemente, a psicanálise vem contribuindo à produção de relações familiares e sociais capazes de qualificar a deficiência no campo das deversidades humanas, propondo um sistema de estimulação de bebês e produção de vínculos de saúde nas relações familiares e sociais (CECCIM, 2006:30). Por isso é necessário incluir a deficiência intelectual nas seções das necessidades educativas especiais de caráter permanente, ainda que o desafio do professor consista em tratar de mudar para melhor sua capacidade de aprendizagem e sua forma de agir no meio social. O diagnóstico precoce evita transtornos desagradáveis e facilita a estimulação, melhorando o aprendizado e a adaptação aos diferentes ambientes em que a pessoa precisa passar durante a vida. Mas, quais são realmente as características de uma pessoa com deficiência intelectual? Como distinguir um aluno com deficiência intelectual daquele preguiço que não se esforça para aprender? Qual a faixa etária atingida pela deficiência intelectual? ..., a definição proposta em 1992, na nova versão do manual de definição e classificação da American Association on Mental Retardation, que diz: A deficiência mental refere-se a limitações substanciais no desenvolvimento corrente. Caracteriza-se por um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, que ocorre juntamente com limitações associadas em duas ou mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas possíveis: comunicação, cuidado pessoal, vida doméstica, habilidades sociais, utilização da comunidade, autogoverno, saúde e segurança, habilidades acadêmicas funcionais, lazer e trabalho. A deficiência mental manifesta-se antes dos 18 anos (FIERRO, 2004:195). Se a inteligência se caracteriza em termo de aprendizagem, de conhecimento, isso significa que o aluno com deficiência intelectual é mais lento e menos eficiente em aprender e processar conhecimento. Mas não é por esse motivo que ele deva ser afastado dos demais alunos. Pelo contrário, o professor deve estimular a convivência e a ajuda mútua entre os alunos, independente de ter deficiência intelectual ou não. O atraso no desenvolvimento cognitivo é visto como característica própria da criança que desencadeará lentidão ou mesmo incapacidade para aprendizagem. A literatura tradicional sobre as classificações de deficiência mental contribui para esta visão que os professores e a sociedade em geral tem sobre o deficiente mental. Pessatti (1992) mostra que os níveis de QI constituem-se nos critérios de classificação dos deficientes mentais. Essas classificações expressam uma visão psicrométrica da deficiência e aponta prognósticos desanimadores. O foco do 6 problema é colocado no aluno, no seu desempenho, consolidado o atraso cognitivo como característica individual contribuindo para uma baixa expectativa dos professores em relação a estes alunos (Carneiro, 2006 p. 140141). Alunos com deficiência intelectual têm dificuldades para desenvolver comportamento relativo a si mesmo, como cuidar do seu próprio corpo. A deficiência intelectual se caracteriza por uma baixa auto-estima, e tem grande instabilidade emocional. Por isso o professor deve ser além de professor, um pesquisador, aquele que procura formas alternativas de trabalho para não excluir ninguém das atividades desenvolvidas na sala de aula. O professor não deve se contentar com as aparências, ele deve atualizar-se constantemente, procurando saber das novas descobertas, dos estudos desenvolvidos por pesquisadores e das experiências adquiridas por outros professores. ... Estudos epidemiológicos revelam que mais da metade dos casos se devem a mais de um fator. Por outro lado, a deficiência mental muitas vezes decorre da interação e/ou da acumulação de vários fatores, biológicos ou psicossociais. Algumas causas, enfim, podem estar na origem da deficiência mental, mas também outros déficits ou transtornos, geralmente associados à deficiência mental nos casos de plurideficiência, que serão justamente os mais graves ou os mais difíceis de tratar, os de maior complexidade na intervenção profissional e na atividade escolar (FIERRO, 2004:201). Mesmo com as pesquisas apontando resultados favoráveis à aprendizagem de alunos com deficiência intelectual, ainda existe muitos professores que duvidam da possibilidade de escolarização desses alunos. O professor precisa saber como se dá o desenvolvimento em seus aspectos cognitivo e sócio-afetivo para poder desenvolver um bom trabalho e não temer ao lidar com manifestações comportamentais diferentes dos demais alunos. Como será a questão da autonomia da pessoa com deficiência mental? A pessoa com deficiência costuma ter uma grande dependência afetiva e comportamental com relação a outras pessoas. Tal dependência é a herdeira ou, mais do que isso, a forma duradoura do apego, um vínculo primordial nos primeiros anos da infância, vínculo este estabelecido antes de tudo com a mãe e depois com outras figuras adultas protetoras. (...). Os sujeitos com deficiência mental manifestam apegos de modos variados, geralmente em formas mais infantis que as correspondentes à sua idade cronológica. Assim, são mais dependentes em seu comportamento e em suas relações como também em seus afetos, nos diversos aspectos da vida e de sua conduta; e, além disso, na idade adulta, em grau superior a outras pessoas (FIERRO, 2004:199). 7 Com base nos estudos o que percebemos com relação a alunos com deficiência intelectual está bem associado a uma história de exclusão. São alunos marginalizados que na grande maioria a responsabilidade pelo número elevado de evasão e reprovação, recai sobre eles, por isso esses alunos são impedidos de freqüentar as escolas comuns, por serem considerados doentes e incapazes. A inclusão e os alunos com deficiência intelectual Quando falamos de deficiência intelectual, a primeira impressão que temos é de pessoas “anormais”, pessoas doentes. Mas não é bem assim, são pessoas com um potencial a ser desenvolvido e que para isso precisam ser incluídas na escola e na sociedade. A escola inclusiva deve ser aquela que atenda a diversidade de pessoas independente de qualquer tipo de diferença existente. Ela precisa trabalhar integrada à comunidade para que a sociedade abrace a causa como sua e não apenas da escola. A atenção à diversidade na escola e na sociedade pressupõe o reconhecimento do específico e do diverso e implica assumir que cada país deverá definir políticas pensadas desde sua própria realidade, relevantes e apropriadas a seu contexto, sua história e sua cultura (CAMACHO, 2006:11). Não se trata de comparar o desenvolvimento desses alunos, que possuem limites marcados biologicamente com o de sujeitos que trazem as possibilidades orgânicas integrais, sem comprometimento, dentro do padrão considerando normal. Porém os alunos com deficiência intelectual em sala de aula devem ser observados pelos educadores e acompanhados por alguém da área de saúde. Daí a necessidade dos Centros de Apoio ou de Habilitação, onde o aluno receba o apoio necessário no contra-turno da escola. A inclusão de alunos com necessidades especiais na escola regular, como caminho fundamental para se atingir a inclusão social, constitui uma meta, neste novo século, cada vez mais firme, nos diferentes sistemas educativos, nos quais se pretende educar alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular. Isto pressupõe que é o sistema educacional como um todo que assume a responsabilidade de Educação e não uma parte dele, a Educação Especial (CARDOSO, 2006:25). No entanto, cabe aos Centros de Habilitação e não à escola a profissionalização e a inclusão no mercado de trabalho e por sua vez a inclusão social. Ainda é no Centro de 8 Habilitação onde ele vai encontrar pessoal capacitado para a profissionalização e a inclusão no mercado de trabalho. Partindo do princípio de que todo ser humano pode aprender, podemos afirmar que todos, ainda que não tenham condições físicas, mentais, sensoriais, neurológicos ou emocionais significativamente podem desenvolver suas inteligências e aprender uma profissão e/ou envolver-se em atividades esportivas e culturais. Na escola inclusiva existe lugar para todos, sem distinção. Porém muitos ainda confundem a integração com inclusão. Na escola integradora os alunos com necessidade especiais estão na mesma escola, porém não desenvolvem atividades com os demais. Metodologia do estudo Este estudo se caracterizou pela pesquisa qualitativa, envolvendo pesquisa bibliográfica e estudo de campo. Segundo Lakatos e Marconi (2001:44) a pesquisa bibliográfica pode ser considerada também como o primeiro passo de toda a pesquisa científica. Como instrumentos de coleta de dados utilizamos questionários para professores e conversas informais com as mães de alunos com deficiência intelectual incluídos ou em processo de inclusão social e no mercado de trabalho. Foram entregues questionários para oito professores, porém apenas 03 (três) professores devolveram os questionários respondidos, dificultando assim a nossa análise. Coincidência ou não, das mães que encontramos no CHAC apenas três nos concederam entrevista e muito nos ajudaram em nosso estudo. “A pesquisa de campo assim é denominada porque a coleta de dados é efetuada ‘em campo’, onde ocorrem espontaneamente os fenômenos, uma vez que não há interferência do pesquisador sobre eles” (ANDRADE, 2003:127). Nesse sentido a pesquisa de campo foi desenvolvida no Centro de Habilitação Ana Cordeiro (CHAC). O CHAC foi fundado em 26 de agosto de 1968 como escola especial, atendendo crianças, jovens e adultos. Hoje funciona apenas como Centro de Habilitação e tem como missão promover a educação inclusiva com formação geral e específica para o mercado de trabalho – Atendimento Educacional Especializado – AEE e atendimento sócio-terapêutico, a partir de uma proposta de atendimento multifuncional, com currículo flexível, a jovens e adultos a partir dos 15 anos de idade, de modo a ampliar suas 9 perspectivas educacionais, sociais, profissionais e melhoria da vida pessoal, familiar e coletiva. O Centro de Habilitação Ana Cordeiro (CHAC) está localizado na Rua Hermínio Conde s/n, Bairro Tabuleta, zona sul de Teresina – PI. Resultados e discussão: Em contato com a Coordenadora Pedagógica substituta, que nos forneceu material impresso, descobrimos as informações abaixo relacionadas: No CHAC são oferecidos os seguintes serviços: Sala de recursos multifuncionais; Atendimento terapêutico / sócio / educacional; Serviço Social; Psicologia; Neurologia; Clínica Médica; Psicopedagogia; Fonoaudiologia e Nutrição. O CHAC conta também com três salas de AEE (Atendimento Educacional Especializado) para atendimento a alunos com deficiência intelectual que estejam matriculados, preferencialmente, na rede pública de ensino regular. Nessas salas se realizam atendimentos educacionais especializados complementar à escolaridade. As oficinas pedagógicas representam um espaço concreto e funcional do aprender e do emancipar humano, trabalhando as noções de: Atividades da Vida Diária (AVD) e Horticultura. O espaço para a formação profissional tem como base a formação geral e específica do aluno numa perspectiva inclusiva, a partir de cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores. Para isso o CHAC conta com as seguintes oficinas permanentes: Marcenaria, Encadernação, Palhinha, Artes (pintura e artesanato) e Informática básica. Conta também com as oficinas rotativas: Embalagens, bijuterias, biscuit, tapeçaria e reciclagem. Contribuição do CHAC e seus professores no processo de inclusão O processo de inclusão é um processo lento e precisa de apoio e de pessoas preparadas para que realmente se efetive. Os centros de habilitação ou de apoio precisam de equipamento e de pessoal capacitado. Tudo isso foi constatado no Centro de Habilitação Ana Cordeiro – CHAC. Quando indagados sobre a contribuição do CHAC e seus professores no processo de inclusão social os professores confirmaram a seriedade que é dada no desempenho dessa função. Veja os depoimentos quanto a contribuição dada: 10 Prof. A = “Apoiando e acompanhando o desenvolvimento de cada aluno incluso com apoio pedagógico nas salas de AEE e visitas dos professores dessas salas nas escolas em que os alunos estão incluídos bem como das assistentes social nas empresas onde há alunos incluídos no mercado de trabalho”. Prof. B = “Procuramos envolvê-los na sociedade e despertar nelas a autoestima”. Prof. C = “O CHAC tem a preocupação de implantar diversas oficinas com o intuito de preparar estes alunos para o mercado de trabalho e consequentemente ajudá-los na inclusão e integração destes na sociedade. Nós professores acompanhamos os alunos nas oficinas procurando ensiná-los as técnicas de maneiras prazerosa e simples”. Tudo isso se confirma pela fala das mães que se dizem contentes com o trabalho realizado no CHAC, através dos professores e pessoal de apoio. Segundo elas tudo ficou melhor depois que seus filhos passaram a freqüentar o CHAC. Mostrando, assim, a importância e necessidade da profissionalização das pessoas com deficiência para que a inclusão realmente se efetive. Participação da família no processo de inclusão social O papel da família é imprescindível no desenvolvimento dos filhos como um todo. Porém no caso de famílias de filhos com deficiência isso se complica: muitas mães superprotegem seus filhos, trazendo sérios problemas no desenvolvimento físico, social e afetivo. Veja o que dizem os professores sobre a participação da família nesse processo: Prof. A = “Ainda muito lenta”. Prof. B = “Ainda há necessidades de melhoramento nessa participação”. Prof. C = “Infelizmente a maioria ainda se mantém na postura de superprotetoras, também presas ao benefício que os filhos recebem, deixando de lado as oportunidades que aparecem para eles em relação a inclusão ao mercado de trabalho”. As poucas mães encontradas no CHAC confirmaram que o que fez com que elas mudassem de atitude foi a confiança no trabalho da equipe profissional do CHAC, porém algumas ainda sentem a necessidade de acompanhar os filhos e outras ainda permanecem na posição de superprotetoras. Obstáculos enfrentados pelos professores A vida é cheia de obstáculos, porém em determinados setores da sociedade parece que eles são maiores. Tudo que é novo traz mais dificuldades ainda, como é o caso da 11 inclusão escolar e social de pessoas com deficiência. Vejam quais foram os maiores obstáculos enfrentados pelos professores e como eles superaram tais obstáculos: Prof. A = “A insegurança dos colegas da escola comum”. Superação: “Acreditando nessa atual realidade e procurando me capacitar para ser capaz de enfrentá-los”. Prof. B = “Foi exatamente por defrontar com pessoas que a própria família consideram, digamos assim, ‘sem jeito’”. Superação: “Em primeiro lugar, o amor, tê-los como um ente querido que não tem culpa ou não entende porque está assim. Depois muita paciência com eles”. Prof.C = “As escolas e a sociedade não valorizam a capacidade e habilidade das pessoas com deficiência ou seja o não cumprimento das leis que garantem o acesso destas pessoas da rede regular de ensino bem como na sociedade”. Superação: “Continuando o trabalho no sentido de conscientizar o poder público e as pessoas de modo geral dos direitos das pessoas com deficiência”. Percebe-se nos depoimentos que os professores não se deixaram abater diante dos obstáculos, pelo contrário, eles buscaram e ainda buscam formas de superação. É, justamente, essa luta constante que contribui para que a inclusão social e escolar aconteça. Tudo isso precisa acontecer, na escola, na sociedade como um todo, mas essencialmente na família. Sem o apoio da família fica muito difícil superar os obstáculos, que muitas vezes são elas próprias que os constroem. A pessoa com deficiência intelectual e a inclusão social A inclusão escolar da pessoa com deficiência está assegurada por lei, mas eles querem muito além de escola: eles querem trabalhar, querem lazer, querem uma vida social ativa. O CHAC tem contribuído para que isso ocorra oferecendo capacitação profissional em diferentes áreas profissionais e encaminhando-os para o mercado de trabalho. Isso é feito através de convênios e contatos com as empresas. Em conversas com as mães podemos perceber a satisfação das mesmas com a inclusão social de seus filhos através de diferentes atividades desenvolvidas no CHAC, mas o que mais emociona as mães é ver a possibilidade de seu filho se tornar independente, através da profissionalização e da inclusão social no mercado de trabalho. Apesar de algumas mães não acreditarem no potencial do filho, muitas estão satisfeitas com o trabalho desenvolvido pelo CHAC e demonstram confiança na ação dos professores. Outras afirmam que seus filhos melhoraram bastante sua auto-estima e o 12 convívio dentro de seus lares. Segundo elas seus filhos apresentam: “Satisfação e muito interesse”. “Acham que ainda podem acertar, mas precisam melhorar”. “Se sentem satisfeitas em contribuir para o progresso da empresa a ter oportunidade de mostrar suas habilidades”. Sugestões dos professores para melhorar o processo de inclusão Os profissionais que lidam com pessoas com deficiência acumulam experiências que não se encontra nos livros ou material especializado. Por isso para completar nosso estudo solicitamos dos professores sugestões para a melhoria do processo de inclusão social de pessoas com deficiência intelectual. Veja as sugestões dadas pelos professores do CHAC: Prof. A = “Que haja uma fiscalização mais intensa com relação a esse processo para se saber se a inclusão está de fato acontecendo”. Prof. B = “Todo um envolvimento da sociedade tanto empresas, famílias e escola. É preciso muitos esclarecimentos mesmo da parte médica, dos profissionais que cuidam ou sabem do intelecto para que haja uma compreensão de como lidar com essas pessoas que necessitam muito de um espaço na sociedade”. Prof. C = “Que intensifiquem o trabalho de conscientização e sensibilização para fazer valer o cumprimento das leis das pessoas com deficiência”. Observa-se que enquanto um professor está preocupado com fiscalização, com o legalismo, os outros estão preocupados com a conscientização. Tudo o que é novo causa medo, espanto, mas com insistência pode alcançar bons resultados. A conscientização também, como a inclusão, é um processo lento. Conclusão Durante muito tempo as pessoas com deficiência foram totalmente excluídas do convívio social. Com o avanço dos estudos na área da medicina e da educação surgiram as instituições que muito contribuíram para a socialização dessas pessoas. Porém elas ainda continuaram sendo marginalizadas. Após muitas lutas e campanhas em várias partes do mundo essa situação vem melhorando e hoje a inclusão escolar já está garantida em lei no Brasil. As pessoas com deficiência intelectual apresentam algumas limitações, mas com uma metodologia adequada podem aprender muitas coisas, adquirir uma profissão e 13 inserir-se no mercado de trabalho e em outras atividades sociais como esporte e lazer, por exemplo. A inclusão do aluno com deficiência intelectual na escola regular contribui para a sua inclusão social, porém a escola precisa também preparar esse educando para a vida profissional. Atualmente temos que defender a inclusão escolar e social de todos os alunos, independente de ser deficiente ou não. A pesquisa de campo mostrou o quanto uma pessoa com deficiência intelectual pode integrar-se no mercado de trabalho e ter uma vida social ativa. O CHAC tem grande importância na inclusão social de pessoas com deficiência intelectual. Mesmo aqueles que ainda não conseguiram uma vaga no mercado de trabalho estão se sentindo incluídos, participando das oficinas e demais atividades oferecidas pelo CHAC. As mães reconhecem a importância e necessidade de uma instituição como o CHAC em Teresina. REFERÊNICAS BAPTISTA, Claúdio Roberto; BEYER, Hugo Otto. et al.(org.). Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006. CAMACHO, Orlando Terré. Atenção à diversidade e educação especial. In: STOÄUS, Claus Dierter; MOSQUERA, Juan José mouriño (orgs.). Educação especial: em direção à educação inclusiva. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. CARDOSO, Marilene da Silva. Aspectos históricos da educação especial: da exclusão à inclusão – uma longa caminhada. In: STOÄUS, Claus Dierter; MOSQUERA, Juan José mouriño (orgs.). Educação especial: em direção à educação inclusiva. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. CARNEIRO, Maria S. Cardoso. 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