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Unidade - 01
ENTENDENDO A MISSÃO DE DEUS (MISSIO DEI)
Apresentação da Unidade
Nessa unidade veremos o que é a missão Deus a partir do projeto harmônico que Deus
fez para o ser humano desfrutar e cuidar de sua criação, o chamado Jardim do Éden.
Objetivos da Unidade
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta unidade, você seja capaz de:
1. Identificar as dimensões da missão de Deus;
2. Descobrir os propósitos da criação do ser humano e meio-ambiente;
3. Perceber a centralidade dos relacionamentos na missão de Deus.
Introdução
Você tem uma definição clara e precisa do que significa a missão de Deus, ou conforme
é muito utilizado em latim, missio Dei? Normalmente as pessoas não sabem qual o
significado disso.
Lembro-me de estar ministrado uma aula de pós-graduação e ao falar de missio Dei
um pastor, com cerca de 25 anos de prática pastoral, teve a coragem de dizer na frente
de seus colegas que não havia ouvido esse termo.
É fundamental entender o que significa a missão de Deus. Por quê? Porque é a missão
de Deus que determina a missão do povo de Deus no Antigo Testamento, de Jesus, da
igreja e, consequentemente, a nossa missão hoje. Isso porque nem tudo o que é feito
em nome da missão é de fato a missão de Deus.
Como podemos definir a missão de Deus?
É o chamado de Deus ao seu povo para promover (em Jesus Cristo) a
restauração completa das relações e condições da vida do ser humano e
da criação, de tal forma que permita a alegria da vida abundante no
presente, como uma antecipação do Reino de Deus e sua Justiça, e da
vida eterna quando se completa o estabelecimento definitivo do Reino
de Deus (Jorge Barro).
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Para entender a missão de Deus é necessário começar pelo princípio de tudo: a criação
no Jardim do Éden. Ali encontramos o estado original - o ambiente harmônico - de tudo
quanto Deus fez e viu que era bom. Esse ambiente era marcado por três dimensões de
relacionamentos.
Dimensão 1: Relacionamento harmônico de Deus com o ser humano
O Jardim do Éden, “na direção do Oriente” (Gn 2:8), era o ambiente harmônico que
Deus fizera para sua criação: colocou nele o homem e a mulher, toda sorte de árvores
agradáveis, a árvore da vida, a árvore do conhecimento do bem e do mal, um rio que
regava o jardim e se dividia em quatro braços: o Pisom, Giom, Tigre e o Eufrates.
Nesses rios se encontravam ouro, bdélio (possivelmente pérola) e a pedra de ônix
(sardônia).
Após Deus ter criado cada coisa, Ele mesmo viu que havia ficado bom. Mas algo ainda
precisa ser criado: aquele que seria a sua imagem e semelhança: o ser humano.
Gênesis 1:26-31 diz:
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Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os
animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem
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rente ao chão”. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;
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Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e
homem e mulher os criou.
multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar,
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sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”. Disse
Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem
sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de
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alimento para vocês. E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem
em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a
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todas as criaturas que se movem rente ao chão”. E assim foi. E Deus viu tudo o
que havia feito, e tudo havia ficado muito bom. Passaram-se a tarde e a manhã;
esse foi o sexto dia (Gn 1:26-31).
Diante de tantas riquezas naturais, Adão e Eva tinham uma responsabilidade clara:
“cultivar e guardar” (Gn 2:15). E isso era algo agradável de se fazer e não um peso.
Havia nesse jardim voz comando, ordem e lei: “mas não coma da árvore do
conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você
morrerá” (Gn 2:17). Essa era uma prova de que havia governo no jardim e que o ser
humano não era a medida de todas as coisas. Desde o princípio fica clara a relação
entre o Criador-criatura nesse ambiente e para que esse estado harmônico existisse e
se mantivesse, era necessária a obediência desse casal, pois caso contrário, a
desobediência teria uma trágica consequência: a morte! (Gn 2:17).
Assim, o ser humano foi criado “à imagem do seu Criador” (Cl 3:10). “O Senhor Deus
colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo” (Gn 2:15). O
relacionamento entre Deus o ser humano era de liberdade e intimidade. O ser humano
recebe a liberdade de:
•
•
•
•
•
Cuidar e cultivar o jardim do Éden (2:15);
Comer livremente de qualquer árvore do jardim (Gn 2:16);
Dar nomes a todos os animais do campo e todas as aves do céu (Gn
2:19-20);
Dar o nome de Eva (a mãe de toda a humanidade) (Gn 3:20);
Serem férteis e multiplicarem-se (Gn 1:28).
Imagine como devem ter sido esses momentos de dar nomes aos animais e aves:
“o Senhor Deus trouxe os animais ao homem para
ver como este lhes chamaria; e o nome que o
homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu
nome. Assim o homem deu nomes a todos os
rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os
animais selvagens. Todavia não se encontrou para o
homem alguém que o auxiliasse e lhe
correspondesse” (Gn 2:19-20).
Imagine Deus perguntando a Adão: “Adão, que nome você daria a esse animal?”
Esse homem era então um jardineiro e um agricultor, que devia cuidar e cultivar do
jardim. Apenas uma recomendação foi feita: “não coma da árvore do conhecimento do
bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gn 2:17).
Que vida agradável: cheia de liberdade, profunda intimidade com Deus, o trabalho de
cuidar e cultivar o jardim, pois caso contrário a vida seria um tédio. Quem pensa que o
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trabalho é fruto da queda está profundamente enganado. O trabalho é bênção de
Deus para Adão e Eva. O fruto da queda é o suor no rosto: “Com o suor do seu rosto
você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é
pó e ao pó voltará” (Gn 3:19). A criatura, imagem e semelhança de Deus, goza de
comunhão e intimidade. A relação entre o Criador-criatura era de perfeita harmonia.
Miguel Ângelo, O Pecado Original
Contudo, a entrada do pecado no mundo afetou diretamente a relação entre Deus e o
ser humano. Note bem: é isso que o pecado sempre faz: afeta relações e
relacionamentos. Adão e Eva andavam em plena liberdade no jardim e a presença de
Deus implicava comunhão e nunca intimidação. Mas o cenário mudou:
“Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo
jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus
entre as árvores do jardim” (Gn 3:8).
Antes, quando eles ouviam os passos do Senhor Deus que andava no jardim,
certamente corriam em sua direção para dizer algo, como por exemplo, que tinham
colocado um nome em um novo peixe e animal que conheceram. Agora, correm em
direção oposta: em vez da companhia de Deus, buscam um esconderijo, como se fora
possível fugir da presença do Soberano. O relacionamento de intimidade com Deus foi
quebrado.
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Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você?” 10 E ele
respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por
isso me escondi”. 11 E Deus perguntou: “Quem lhe disse que você estava nu? Você
comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer?” (Gn 3:9-11).
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A nudez de Adão e Eva era
símbolo da intimidade deles
para com Deus. Na verdade,
como eles foram criados assim,
e sempre viveram nus, nem
percebiam, pois aquele era o
modo natural de serem. Adão e
Eva não tinham tido até então
problema ou vergonha com a
nudez. O pecado tem a
capacidade de transformar
coisas puras em impuras, coisas
limpas em sujas, intimidade em
intimidação. E a pergunta
implacável veio: “Quem lhe disse
que você estava nu?” Resposta: a consciência! Deus era amigo, agora se transforma
em punidor e carrasco. “Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer?” Ao
perguntar, “onde estás?”, Deus estava dizendo: “o que vocês fizeram com a boa vida
que lhes dei?” “O que vocês fizeram de suas vidas?”
E a tragédia anunciada - “no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gn
2:17) - de fato aconteceu:
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O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher. 22 Então
disse o Senhor Deus: “Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o
bem e o mal. Não se deve, pois, permitir que ele também tome do fruto da árvore
da vida e o coma, e viva para sempre”. 23 Por isso o Senhor Deus o mandou embora
do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. 24 Depois de expulsar o
homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que
se movia, guardando o caminho para a árvore da vida (Gn 2:21-24).
O relato é muito triste: “o
Senhor Deus o mandou embora
do jardim do Éden”. Aqui o
relacionamento de Deus com o
ser humano foi quebrado
porque o ser humano escolheu
ser senhor de sua vida e de sua
história. Se Deus fez “roupas de
pele e com elas vestiu Adão e
sua mulher” é porque algum
animal foi sacrificado. Isto é o
pecado exige: sacrifício! Esse foi
o primeiro sacrifício na Bíblia!
Assim, o relacionamento entre o ser humano e Deus fora quebrado. Mas isso foi
apenas o início de duas consequências trágicas. O pecado quase nunca é ato separado
– ele traz consequências dinâmicas.
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Dimensão 2: Relacionamento harmônico com o Próximo
O relacionamento de Adão para com Deus ia muito bem. Mas algo faltava: alguém que
lhe correspondesse. Possivelmente Deus viu que o semblante de Adão revelava certa
insatisfação. Imagine Deus observando Adão, vendo seu semblante, e pensa: “falta
algo nisso”. A solidão de Adão não estava sendo boa para ele. Vem o veredito da parte
de Deus: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe
corresponda” (Gn 2:18). Deus se preocupou com duas coisas:
1. Adão precisava de ajuda no cuidado e cultivo do jardim;
2. Adão precisa de uma correspondência, outro ser humano.
Ao voltar da anestesia geral para
que de sua costela a mulher fosse
formada, “o Senhor Deus fez uma
mulher e a trouxe a ele”. “Adão
acorda Adão. Acorde para você ver
uma coisa, acorde”, talvez tenha
dito Deus. Adão ainda meio zonzo,
e quando vê a mulher explode de
alegria: “Esta, sim, é osso dos
meus ossos e carne da minha
carne!” (Gn 2:22).
Tanto o homem como a mulher foram criados à imagem de Deus – imago Dei - “Criou
Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
(Gn 1:27). Esta criação surge com a bênção de Deus: “Deus os abençoou, e lhes disse:
Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os
peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela
terra” (Gn 1:28). É um casal abençoado!
Este casal recebe de Deus coisas boas:
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Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e
produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão
de alimento para vocês. 30 E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem
em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a
todas as criaturas que se movem rente ao chão”. E assim foi (Gn 1:29-30).
Juntos possuem o privilégio de encher a terra e dominar as coisas criadas. A tarefa
deles é ter filhos e filhas e cuidar do ecossistema. Note bem: juntos! E para Deus,
“tudo havia ficado muito bom” (Gn 1:31).
Precisamos pensar e repensar a respeito da relação homem-mulher conforme esse
modelo bíblico e não a partir dos modelos culturais a nós impostos. Isto porque os
modelos culturais trazem implicações para a formação da família e do casamento. O
que a Bíblia tem a nos ensinar sobre a relação homem-mulher?
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