Nassif, Luís. “A nova economia.” São Paulo: Folha de São Paulo, 12 de julho de 2000. FSP 12-07-00 A nova economia LUÍS NASSIF Um dos aspectos mais ricos e promissores da nova economia -nesse conceito englobando não apenas as novas tecnologias de Internet, mas o novo modelo social e empresarial- é o fim da compartimentalização e da ação isolada das empresas. Nos últimos tempos tem ocorrido uma revolução, não apenas tecnológica, mas nas formas de atuação da economia. Sinergia, parceria, capacidade de juntar empresas de diversos setores para gerar um negócio independente, tudo isso tem demonstrado o potencial enorme que se abre pela frente no país. Anos atrás o economista Albert Hirschmann estudou o efeito de tecnologias como o rádio de pilha em sociedades em desenvolvimento. E comprovou que os ganhos que proporcionaram foram muito maiores do que nas sociedades em que foram gerados -que já estavam integradas por outros meios de comunicação. O mesmo vai ocorrer, daqui para a frente, com a Internet e com os investimentos de risco que começam a aportar ao país. As diferenças entre a nova economia são da seguinte ordem: O Empreendedor Velha economia: era o capitão de indústria clássico, que conseguia acumular capital em alguma atividade momentaneamente rentável e utilizava para alavancar investimentos e continuar acumulando capital, em cima de uma empresa de capital fechado. Nova economia: será a pessoa capaz de juntar fatores e parceiros disponíveis em torno de um plano estratégico por meio da liderança, visão estratégica e capacidade de montar equações societárias ou participativas que acomodem todos os interesses. A Empresa Velha economia: empresas compartimentalizadas em seu setor. Ou seja, utilizando todas suas energias para produzir produtos específicos, desprezando ganhos de escala e sinergia. Nova economia: empresas multiuso, aproveitando vantagens comparativas ou departamentos específicos para fornecer serviços especializados para outras empresas. Caso típico são os intermediários (atacadistas ou empresas de comércio exterior), que estão se tornando empresas de logística, ou distribuidoras de energia elétrica, que passam a oferecer outras comodidades a seus assinantes, aproveitando sua estrutura de cobrança. A Especialização Velha economia: nos anos de economia fechada, as empresas brasileiras queriam produzir tudo o que consumiam. Com a abertura e o aumento da competitividade, resolveram terceirizar tudo o que não fosse estratégico e concentrar-se no foco do seu negócio. De um lado, essa prática conferiu objetividade ao seu trabalho, mas de outro limitou a mentalidade criadora do controlador. Nova economia: parcerias ou associações de diversas empresas, para gerar um novo negócio aproveitando as sinergias e vantagens comparativas de cada uma. Uma empresa de consultoria em saúde pode se associar a um desenvolvedor, por exemplo, para gerar um portal de saúde. Ou uma empresa de telefonia pode se associar a um provedor de conteúdo para desenvolver portais. O produto e a marca Velha economia: processos lentos de crescimento de empresas para, depois de completado o amadurecimento, produzir produtos de maior valor agregado, com o uso de marketing, design e consolidação de marca. Nova economia: possibilidade de se criar a marca e contratar os fornecedores, quadro só possível dentro de um ambiente em que os insumos e as informações já existam previamente. -------------------------------